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MARCHA POR DEUS E PELA LIBERDADE EM SERGIPE (1964): PESQUISA DOCUMENTAL E VÍDEO DIDÁTICO* Autora: Mara Jane Santos Alves Graduanda em Museologia pela UFS Bolsista PICVOL (2015-2016) e-mail: [email protected] Orientadora: Professora Dra. Janaína Cardoso de Mello 1. INTRODUÇÃO Envoltos que estão os que compõem o país no cerne da arena política por vários motivos, destacamos a última eleição presidencial de outubro de 2014, com a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, como um episódio que fez eclodir uma carga de emoções diversas na opinião pública. Obviamente, embora com distintas lembranças envolvendo os 50 anos de instauração do militarismo, é possível afirmar que para além da pesada história envolvendo os 20 anos da ditadura no Brasil, chamou a atenção o número de cidadãos brasileiros solicitando a volta dos militares ao poder, sob diversas assertivas, nos protestos de rua de 2015. É interessante ver como os envolvidos, sejam pró ou sejam contra o atual governo, se utilizam de argumentos desde os mais consistentes até aqueles que mais se ausentam de fundamentos para debater a perspectiva de um novo impeachment presidencial. Ao longo dos anos alguns livros e autores tornaram-se clássicos na historiografia brasileira sobre o período militar, enquanto outros investiram em abordagens diferenciadas ou renovadas, dentre eles podem ser citados os trabalhos: “1964: A Conquista do Estado Ação Política, Poder e Golpe de Classe” de René Armand Dreifuss; “Os Senhores das Gerais — Os Novos Inconfidentes e o Golpe de 1964” de Heloisa Starling; “Combate nas Trevas” do historiador Jacob Gorender; os dois volumes “Brasil: de Getúlio a Castello — 1930-64” e “Brasil: De Castello a Tancredo: 1964- 1985” do brasilianista Thomas Skidmore; “Como Eles Agiam — Os Subterrâneos da Ditadura Militar: Espionagem e Polícia Política” de Carlos Fico; a tese de doutorado de Ronaldo Costa Couto, apresentada na Sorbonne “História Indiscreta da Ditadura e da

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MARCHA POR DEUS E PELA LIBERDADE EM SERGIPE (1964): PESQUISA

DOCUMENTAL E VÍDEO DIDÁTICO*

Autora: Mara Jane Santos Alves Graduanda em Museologia pela UFS

Bolsista PICVOL (2015-2016)

e-mail: [email protected]

Orientadora: Professora Dra. Janaína Cardoso de Mello

1. INTRODUÇÃO

Envoltos que estão os que compõem o país no cerne da arena política por vários

motivos, destacamos a última eleição presidencial de outubro de 2014, com a reeleição

da presidenta Dilma Rousseff, como um episódio que fez eclodir uma carga de emoções

diversas na opinião pública. Obviamente, embora com distintas lembranças envolvendo

os 50 anos de instauração do militarismo, é possível afirmar que para além da pesada

história envolvendo os 20 anos da ditadura no Brasil, chamou a atenção o número de

cidadãos brasileiros solicitando a volta dos militares ao poder, sob diversas assertivas,

nos protestos de rua de 2015. É interessante ver como os envolvidos, sejam pró ou

sejam contra o atual governo, se utilizam de argumentos desde os mais consistentes até

aqueles que mais se ausentam de fundamentos para debater a perspectiva de um novo

impeachment presidencial.

Ao longo dos anos alguns livros e autores tornaram-se clássicos na historiografia

brasileira sobre o período militar, enquanto outros investiram em abordagens

diferenciadas ou renovadas, dentre eles podem ser citados os trabalhos: “1964: A

Conquista do Estado — Ação Política, Poder e Golpe de Classe” de René Armand

Dreifuss; “Os Senhores das Gerais — Os Novos Inconfidentes e o Golpe de 1964” de

Heloisa Starling; “Combate nas Trevas” do historiador Jacob Gorender; os dois volumes

“Brasil: de Getúlio a Castello — 1930-64” e “Brasil: De Castello a Tancredo: 1964-

1985” do brasilianista Thomas Skidmore; “Como Eles Agiam — Os Subterrâneos da

Ditadura Militar: Espionagem e Polícia Política” de Carlos Fico; a tese de doutorado de

Ronaldo Costa Couto, apresentada na Sorbonne “História Indiscreta da Ditadura e da

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Abertura — Brasil: 1964-1985”. Todavia, tais reflexões parecem não ter criado raízes

em parcela significativa da população brasileira.

Entretanto é salutar observar o quanto é produtivo ver a população se

manifestando, independente do que possa apetecer aos demais. Contudo, como alguns

argumentos políticos utilizados pelo “povo nas ruas” diferem dos relatos analisados e

divulgados alhures pela historiografia brasileira sobre o tema, nos indagamos sobre o

quanto esses cidadãos conhecem deste momento histórico contemporâneo e da própria

história passada de seu país. Como as informações sobre os eventos políticos chegaram

aos mesmos? Como estas eram apropriadas e interpretadas na relação

produção/recepção de informação? Qual o papel desempenhado pela documentação

midiática produzida na década de 1960?

O projeto “Marcha por Deus e pela Liberdade em Sergipe (1964): Pesquisa

Documental e Vídeo Didático” pretende deixar materializada em um vídeo

documentário a experiência de revisitar a História contextualizando os períodos

aparentemente distintos, mas tão aproximados, e tendo o cuidado de não parecer

incipiente, uma vez que procura abranger estudantes de vários nichos educacionais. Para

tanto houve um cuidado acurado no que tange a pesquisa documental, algo já realizado

no projeto passado que deu corpo a este, diga-se, para que não resvalasse em mesmice

fugindo do propósito inicial, nos cercando de literaturas várias sobre a própria pesquisa

documental e a produção de vídeos didáticos, algo com muito pouca discussão, mas que

demanda uma atenção singular na contemporaneidade onde a internet se torna cada vez

mais um canal de conhecimento disperso. Além deste, é objetivo também do

supracitado projeto, a realização de exposições itinerantes nos municípios onde

ocorreram a Marcha a fim de apresentar o resultado do nosso trabalho à sociedade de

forma mais ampla.

As ideias em torno da Marcha por Deus e Pela Liberdade em Sergipe de 1964

parecem coligir com o momento político crucial que vimos recentemente e que vemos

tomar corpo na atual crise de representação relacionada às lideranças políticas

abrangendo ainda certo clamor social por um nostalgismo conservador, principalmente

no Congresso que, que para além de seu cargo político-civil carrega a pecha de defensor

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da família brasileira, utilizando-se da religião cristã, hodiernamente, evangélica, nos

atos legislativos.

Faz-se necessária ratificar que não há juízo de valor nestas palavras, apenas a

reprodução do que expõe os próprios agentes políticos defensores e seguidores desta

religião. É evidente que entre 1964 e 2015 muita coisa mudou, mas identificam-se

continuidades, porém com outra roupagem. Não queremos aqui colocar em discussão a

religiosidade dos atores, mas como os pensamentos destes são norteados por uma dada

ideologia e por consequência traduzem significados importantes para que se fomentem

movimentos e ações comportamentais na sociedade civil.

2. REVISITANDO 1964: HISTÓRICO SOBRE O QUE NÃO DEIXOU DE SER

O Ano de 1964 é um marco decisivo na história política do país. De uma hora

para outra vimos um cenário tido democrático vivenciar uma mudança significativa da

liberdade para a ditadura. Sob a égide do conservadorismo que visava coibir um

possível comunismo, o golpe militar implementou-se por aproximadamente 21 anos.

A ditadura brasileira nasce num período peculiar brasileiro. Como afirma o

cientista político Ibarê Dantas (1989), o Brasil tinha acabado de sair de um boom

desenvolvimentista e o governo JK (1955-1960) só pode ocorrer porque o suicídio de

Getúlio Vargas impediu o golpe militar em 1954.

O suicídio de Vargas – enfraquecido politicamente – é causado pelos ataques

inclementes feitos pelo Jornalista Carlos Lacerda, vulgo “o corvo”. Os ataques de

Lacerda culminaram com um atentado ao mesmo que vitimou o Major Vaz, oficial da

Aeronáutica que estava fazendo a segurança pessoal do jornalista. Após esse

acontecimento, a presidência do país ficou sob responsabilidade de governos

transitórios e a própria posse de João Goulart, que assumiu quando da deposição de

Jânio Quadros, envolveu um acordo que diminuiu seu poder, já que o país passou a ser

parlamentarista. Em 1963 cai o parlamentarismo e Jango tenta empreender uma

Reforma de Base em 1964 para que o país se tornasse mais justo, o que seria uma

premissa “revolucionária”. Todavia os setores alinhados à direita política se

concentraram contra as reformas e, em vários locais do país (inclusive em Sergipe)

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ocorreram as chamadas “Marchas com Deus, pela família e pela pátria” resultando nas

quedas de Goulart e todos os seus aliados. O governo estadual de Sergipe, sob o

comando de Seixas Dórea foi deposto, sendo o político sergipano preso junto com

Miguel Arraes, que viveu situação similar em Pernambuco. A partir de então, segundo

Dantas (2014) houve a contrarrevolução que levou à “tutela militar em Sergipe”.

Já o historiador Daniel Aarão Reis (2005) concebe o contexto desse processo

iniciado em fins de março e 1º de abril de 1964 como um movimento “civil-militar” que

derrubou o presidente João Goulart encerrando a experiência democrática iniciada em

1945 com o fim do Estado Novo.

No plano internacional a busca pela construção de um projeto de autonomia na

América Latina perpassou o período da Segunda Revolução Industrial, em fins do

século XIX, a Revolução Russa, as I e II Grandes Guerras Mundiais até a Revolução

Cubana de 1959. Diferentes iniciativas esboçavam projetos de um Estado fortalecido,

intervencionista, nacionalista como uma crítica ao capitalismo liberal. Entretanto, a

forte presença política e econômica dos Estados Unidos da América incentivam o

direcionamento para um desenvolvimento dependente e associado aos capitais

internacionais.

A renúncia de Jânio Quadros em 1961 e a nação à beira de uma guerra civil, em

função de ministros militares que se recusaram a aceitar a posse do vice-presidente João

Goulart, abriu caminho para questionamentos em vários segmentos sociais a respeito da

condução política presente e futura do país. As divisões das elites dominantes, o

protagonismo dos movimentos populares, a defesa da democracia e da ordem

constitucional permeavam a crise política em andamento. A proposta das reformas de

base (reforma agrária, reforma urbana, reforma bancária, reforma tributária, reforma

eleitoral, reforma do estatuto do capital estrangeiro, reforma universitária) foi

respondida nas eleições de 1962 com o recrudescimento do conservadorismo do PSD e

UDN para as cadeiras do Senado, Câmara Federal e governos estaduais. Mas em janeiro

de 1963 um plebiscito reestabelece plenos poderes presidenciais a João Goulart,

minando o parlamentarismo estabelecido como condição para sua posse.

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Entre avanços e recuos, pressões sociais e conspirações em curso, o primeiro e

único comício para avançar no plano das reformas de base, realizado no Rio de Janeiro,

em março de 1964, teve como reação imediata em São Paulo (e depois em várias outras

localidades do país) a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, culminando com a

crise na Marinha e a posterior deposição do presidente por generais militares, enquanto

Jango deixava o país sem resistência.

O livro “1964: o golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime

democrático e instituiu a ditadura no Brasil” de Jorge Ferreira e Angela de Castro

Gomes (2014) inicia suas reflexões em 24 de agosto de 1961, apresentando o cenário da

renúncia do então presidente Jânio Quadros que levou a uma grave crise política com a

Junta Militar recusando-se à posse do vice João Goulart e desencadeando uma intensa

reação radiofônica do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.

Superada a tensão inicial que prenunciava uma guerra civil no país, as negociações

políticas entre os ministros militares, congressistas e Jango resultaram no

estabelecimento do parlamentarismo como solução para a legalidade e manutenção do

processo democrático.

O anúncio do Comício na Central mexera com o imaginário de segmentos

políticos antagônicos antes mesmo de sua realização:

Para as esquerdas, o comício soava como a vitória da estratégia que

defendiam desde que Goulart tomara posse na presidência da

República. Ele selaria, publicamente, a formação de um governo

exclusivo das esquerdas, para viabilizar o “programa máximo”das

reformas de base, sob a liderança de integrantes da Frente de

Mobilização Popular, do Partido Comunista Brasileiro, do Comando

Geral dos Trabalhadores e do grupo político de Miguel Arraes. Para as

direitas e os conservadores de vários tons, o comício apontava para a

mesma direção, o que, sob esse outro ponto de vista, era algo

intolerável (FERREIRA; GOMES, 2014, p.249)

Era portanto o clímax de definição do governo de Jango. Para os empresários –

através de seu manifesto “Mensagem ao Povo Brasileiro” difundido em 11 de março de

1964 – o governo fracassara na política econômica e nas reformas sociais, estando

naquele momento na margem de uma subversão sindical. A mulher, a dona de casa, era

convocada pelos setores conservadores ora para homenagear o Exército como aconteceu

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em Recife, ora para defender a democracia como foi na Guanabara e em São Paulo. Era

um ambiente favorável aos militares conspiradores, por outro lado, a esquerda

pressionava para que o presidente rompesse com o PSD. Jango confiava na tradição da

legalidade das Forças Armadas. Os católicos estavam divididos, tanto que a Ação

Católica lançou um manifesto apoiando as Reformas de Base propostas por Jango,

enquanto grupos reacionários organizavam a Marcha da Família com Deus pela

Liberdade. Carlos Lacerda, ferrenho opositor, decretou ponto facultativo para o

funcionalismo público numa tentativa de esvaziar o comício que começou às 18h do dia

13 de março, na Central do Brasil e teve discursos de líderes sindicalistas, estudantis, da

UNE, do PTB, da ala radical do PSD, da SUPRA, de Seixas Dória (na época

governandor de Sergipe), de Miguel Arraes (governador de Pernambuco), de Leonel

Brizola e por fim, de João Goulart.

3- SOBRE A PESQUISA DOCUMENTAL

Tomando por base o contexto o supracitado, a partir das leituras realizadas

procuramos (re) conhecer os maneirismos da sociedade civil àquela época. É necessário

lembrar na atmosfera civil em vigência: o conservadorismo é tido como salvação do

país, o Congresso Nacional está cercado de representantes políticos pautando-se na

religião pra angariar o apoio da população contra uma possível implementação do

‘comunismo’.

Este discorrer histórico é fundamental para dar legitimidade ao intento deste

projeto no que se refere à pesquisa documental e a produção de um vídeo. Como a

pesquisa documental é algo tão aproximado de quem trabalha na busca de conhecimento

é comum haver um trato por vezes um descuido no sentido de encontrar, apresentar mas

não minuciar ocorrendo interpretações que resvalem em juízo de valor.

Na busca por informações em ambientes bem próximos a nós. Como existem

documentos da década de 1960 que para nós, civis, ainda são proibidos de serem

consultados, seria mais frutífero recorrer a fontes mais abrangentes de informações;

optou-se por recorrer às hemerotecas dos centros de informações do estado. A priori,

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recorremos a coleção de jornais do Arquivo Público do Estado de Sergipe (APES), já

que conta com o acervo não digitalizado do diário ‘A Gazeta de Sergipe’ e do semanário

‘Alavanca’. Concomitante, o acervo do IHGSE foram revisitados alguns exemplares

dos jornais “Defesa de Propriá” e “Correio de Sergipe”. Na hemeroteca da Biblioteca

Pública Epifânio Dória “A Semana”, semanário da cidade de Simão Dias. Foram

digitalizadas as matérias jornalísticas dos exemplares que tinham relação com o

contexto (golpe militar de 1964) e com o objeto da pesquisa (marcha da família),

catalogando-os para uso no posterior na elaboração do vídeo:

Objeto de Pesquisa:

I – Marcha Por Deus e Pela Liberdade em Aracaju

Gazeta de Sergipe, Aracaju, 28/04/1964 (APES)

Gazeta de Sergipe, Aracaju, 16/04/1964 (APES)

A matéria jornalística ressalta a participação da

“nata da sociedade”, de estudantes de todos os

colégios da capital para “comemorar a vitória da

democracia”. Atesta que também estiveram

presentes delegações do interior do estado. Contou

com a presença da Banda da Cidade de São

Cristóvão. O circuito envolveu a Praça Olímpio

Campos em frente à Catedral Metropolitana com

fiéis rezando pela “libertação do Brasil”

Anuncia que no dia 17, às 17h, será promovida na

cidade a Marcha com Deus pela Família e pela

Liberdade em Aquidabã. Deverá estar presente o

governador Celso de Carvalho, especialmente

convidado pelo prefeito do município.

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Organizar cada fragmento referente ao tema continua sendo fundamental para

que possamos dar prosseguimento ao arquivamento das informações precisas, para

vermos quais cidades poderemos visitar ao longo do período proposto, o que queremos

recolher de dados quando das entrevistas realizadas com os agentes encontrados durante

análises documentais; como encontrá-los e o que esperar a cada pergunta feita e, mais o

que fazer com cada resposta dada.

4- SOBRE O VÍDEO DIDÁTICO

No que se refere à produção do vídeo documentário, a decisão efetiva foi que o

mesmo seria abrangente para estudantes de vários níveis educacionais, ou seja, quanto

mais limpo, mais fácil e prazeroso de ser visto e compreendido. Mas como produzir um

vídeo didático sobre um conteúdo delicado, não comumente abrangente sem resvalar no

comum que figura entre a seriedade e o muito ‘descolado’?

É sabido que o vídeo didático é uma ferramenta educacional auxiliar no processo

de construção do aprendizado. Esta é utilizada há muito tempo, mas por incrível que

pareça há muito pouca literatura que se debruce sobre a temática neste aspecto mais

precisamente. Muitas existem sobre Audiovisual, Televisão, Multimídias, mas produção

de vídeos didáticos não. GOMES (2008: 477) afirma que e, mais que isso, propõe que

haja “cinco etapas na análise de produção de vídeos educacionais”, estes mais

precisamente seriam:

Conteúdos;

Aspectos técnicos;

Proposta pedagógica;

Material de acompanhamento e

Público a que se destina.

Todos esses cuidados seriam essenciais para que vídeo proposto que tem um

abrangente público alvo precisa se nortear para que todas as etapas de trabalho tenham

sustentação no final.

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A vídeo aula, que é uma modalidade de exposição de conteúdos de

forma sistematizada, merece uma atenção especial. O vídeo também

pode simular experiências na tentativa de incluir atividades

experimentais no currículo escolar durante as aulas por conta dos

professores que não veem empecilhos para a realização das mesmas,

seja pela falta de infraestrutura na instituição de ensino em que

trabalham ou até mesmo por ausência de tempo (BRASIL et alii,

2015).

No fragmento é perceptível que o vídeo didático tem objetivação de ser o ator

principal das aulas, na verdade, nem pode. Há um elenco de fatores primordiais que o

impede disto. Todavia, quando bem elaborado, um vídeo pode incorrer num processo

cíclico fundamental que de acordo com BRASIL et alii (2015), citando Moran: solicita

constantemente a imaginação e reinveste a afetividade com um papel de mediação

primordial no mundo, enquanto que a linguagem escrita desenvolve mais o rigor, a

organização, a abstração e a análise lógica.

5. CONCLUSÕES

Utilizando-se de autores diversos a guisa de complementação de estudos que

envolvem a memória, o patrimônio cultural, a etnografia e afins, pode-se ressaltar, no

presente artigo, que os participantes das marchas de 1964 dos municípios sergipanos

faziam parte de uma elite civil, religiosa e militar.

Percebe-se na atualidade a utilização de termos como ‘conservadorismo’,

‘reacionário’, ‘coxinha’, ‘família tradicional brasileira’ – independente do tom jocoso

dado em alguns casos – para os participantes das Marchas de 2015 mostram o quanto

ideologias conflitantes subsistem subterraneamente em uma sociedade democrática até

que situações de profunda tensão e embates ideológicos eclodir de forma pública. Tais

articulações podem ser apropriadas por outros grupos levando a situações desastrosas

como a de privação das liberdades política e do próprio direito de manutenção da vida.

As leituras sobre as práxis mais técnicas que o subtema do projeto carrega

permitem a interação complementar na construção, desconstrução, reconstrução e

concretização das ações de divulgação e reflexão crítica do conhecimento produzido

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pela pesquisa, partindo para a prática da teoria apreendida na área de conhecimento

comum aos envolvidos nas elaboração e concretização, a museológica.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fontes:

Gazeta de Sergipe, Aracaju, 28/04/1964 (APES)

Gazeta de Sergipe, Aracaju, 16/04/1964 (APES)

Bibliografia:

BRASIL, Robledo de Moraes; DALLA LANA, Regis; LIMA, Roberta Medianeira dos

Santos; PAGNONCELLI, Claudia; SANTOS, Maria Elena Silva; SILVA, Aline

Marques da, SOLNER, Tiago Barbosa. Elaboração de Vídeos Didáticos como uma

Ferramenta no Ensino-Aprendizagem de Química. Seminário PIBID – UNIFRA/ 2012.

Disponível em: www.unifra.br/eventos/seminariopibid2012/Trabalhos/3795.pdf, Acesso

em: 15 de outubro de 2015.

DANTAS, Ibarê. A Tutela Militar em Sergipe. 2ª Edição. São Cristóvão: Editora UFS,

2014.

FERREIRA, Jorge; GOMES, Angela de Castro. 1964: o golpe que derrubou um

presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

GOMES, Luís Fernando. Vídeos Didáticos: Uma Proposta de Critérios para Análise. In

Revista Brasileira de Estratégias Pedagógicas. V. 89, nº 223, p. 477-492, set./nov. 2008.

PIMENTEL, Alessandra. O Método da Análise Documental: Seu Uso Numa Pesquisa

Historiográfica. In Caderno de Pesquisa, n. 114, p. 179-195, novembro/2001.

REIS, Daniel Aarão. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar,

2005.

REZENDE, Maria José de. A ditadura militar no Brasil: repressão e pretensão de

legitimidade (1964-1984). Londrina: EDUEL, 2001.