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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
FACULDADE DE FARMCIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS
FARMACUTICAS
MARCIO ANDR DE PAULA
CARACTERIZAO FARMACOGNSTICA E ATIVIDADE
GASTROPROTETORA DO EXTRATO AQUOSO DAS FOLHAS DE
Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
GOINIA
2009
MARCIO ANDR DE PAULA
CARACTERIZAO FARMACOGNSTICA E
ATIVIDADE GASTROPROTETORA
DO EXTRATO AQUOSO DAS FOLHAS DE
Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
Dissertao apresentada ao Programa
de Ps-Graduao em Cincias
Farmacuticas da Faculdade de
Farmcia da Universidade Federal de
Gois, como requisito parcial para a
obteno do Ttulo de Mestre em
Cincias Farmacuticas.
rea de Concentrao: Frmacos e
Medicamentos
Orientador: Prof. Dr. Elson Alves Costa
GOINIA
2009
Deus, dono da vida, pelas bnos e
oportunidades concedidas.
AGRADECIMENTOS
Ao estimado professor Dr Elson Alves Costa, orientador desta dissertao, por toda
ateno dispensada, conhecimento e ensino, acadmico e de vida;
Ao querido professor Dr Jos Realino de Paula pela educao e presteza, ateno,
cordialidade e imensa contribuio, e pelo apoio na rea de farmacognosia e
fitoqumica;
s professoras Maria Tereza, Leonice, Patrcia e Eliana pela imensa colaborao;
Aos colegas Marquinhos, Helosa, Ndla, Pablinny, Tereza e Fbio, do laboratrio de
farmacologia de produtos naturais (LFPN);
Ao colega Ren do laboratrio de pesquisa de produtos naturais (LPPN), pela
imensa colaborao;
s colegas, da empresa Cifarma, especialmente Anna Heliza, Vitria, Alessandra,
Michele, Lvia, Luciene, Dr Leila e Carol, que, por muitas vezes, me apoiaram e
incentivaram;
minha me que, mesmo sem entender o que eu estava fazendo, sempre e
incondicionalmente me apoiou;
todas as pessoas da minha famlia que me incentivaram e apoiaram,
especialmente Neta e meu pai;
Universidade Federal de Gois pela oportunidade de participar de um programa
de ps-graduo pblico e de qualidade;
todos os professores, alunos e funcionrios do LPPN e ICB;
todos aqueles que de maneira direta ou indireta contriburam para a realizao
deste trabalho, os meus inestimveis agradecimentos
Somos todos um s. Acabo de perceber. Clulas de um corpo que no
vemos como os peixes no vem o mar.
Da nos invejamos, nos ferimos, nos odiamos. Tolice, no ? A clula cardaca odiar a pulmonar.
Cassie, Os trs
RESUMO
A Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent uma planta de pequeno porte pertencente famlia Ulmaceae, possui ramos muito flexveis, geralmente em forma de zigue-zague, compridos e armados de espinhos. As folhas so curto-pecioladas, ovado-oblongas ou ovadas e possui tamanhos que podem variar de 5-13 cm de comprimento e 3-7 cm de largura. O ch das folhas desta planta usado popularmente para dores no corpo, reumatismo, dores no peito, asma, clicas, m-digesto e como diurtico. Amostras das folhas foram coletadas em Campestre-GO, identificadas e uma exsicata depositada no Herbrio da UFG sob o n 40110. Foram realizadas anlises macro e microscpicas e parte do material botnico foi seco e triturado para a realizao dos testes de umidade, cinzas totais e insolveis em cido, triagem fitoqumica e obteno do extrato aquoso das folhas do esporo-de-galo (EAEG). O EAEG foi obtido por infuso a 3% do p das folhas. Camundongos Swiss (machos, adultos, pesando entre 25 35 g) foram pr-tratados oralmente com EAEG (70, 200 e 600 mg/kg), veculo (gua filtrada 10 mL/kg) e ranitidina (50 mg/kg), antes da induo das leses gstricas por indometacina (30 mg/kg s.c.), etanol 75% (v/v) e estresse por conteno e hipotermia. Os efeitos do extrato sobre o volume, pH e acidez total da secreo gstrica foram avaliados pelo mtodo da ligadura pilrica, sendo que os tratamentos foram realizados por via intraduodenal (i.d.). Avaliou-se tambm a influncia do EAEG no trnsito intestinal dos animais, com tratamentos prvios realizados por via oral. Na anlise macroscpica observou-se caractersticas comuns da espcie. Na anlise microscpica observou-se estruturas, tais como: tricomas tectores curtos e longos, unicelulares e pluricelulares, clulas epidrmicas de tamanhos variados, clulas contendo drusas, cristais prismticos e cistlitos. Na prospeco fitoqumica foi detectada a presena de mucilagem, cumarinas e flavonides. O rendimento do processo extrativo para obteno do EAEG foi de 20%. Nos modelos de lceras induzidas pelos diferentes agentes: indometacina, etanol e estresse nas doses de 70, 200 e 600 mg/kg, observou-se reduo do nmero de leses provocadas por esses agentes. Quando o EAEG foi administrado pela via intraduodenal, observou-se diminuio do volume, da acidez livre e total da secreo gstrica em camundongos com ligadura de piloro. Na avaliao da influncia do EAEG sobre o trnsito intestinal observou-se aumento somente com a dose de 600 mk/kg. Os resultados encontrados neste trabalho permitem sugerir que o EAEG contm princpios ativos gastroprotetores que no reduzem a motilidade intestinal podendo justificar o uso popular da planta para tratar gastrites e lceras. Palavras-chave: Plantas medicinais, Celtis, cumarinas, flavonides, mucilagens, gastroproteo.
ABSTRACT Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent is a small postage plant belonging to the Ulmaceae family, it has very flexible branches, usually in a crossed and overcoated form armed with spines. The leaves are short-petioled, ovals and have sizes that vary from 5-13 cm long and 3-7 cm wide. The tea obtained through it leaves is popularly used for body pain, rheumatism, chest pain, asthma, cramps, poor digestion, and as diuretic. Samples were collected in Campestre-GO, a exsiccates identified and deposited in the Herbarium of UFG under number 40110. It was performed macro and microscopic analysis and part of the botanical material was dried and ground to testing for moisture, total ash and acid insoluble ash, phytochemical screening and obtaining the aqueous extract of leaves of esporo-de-galo (EAEG). The EAEG was obtained by infusion of 3% of the powder of the leaves. Swiss mice (male adult, weighing between 25 to 35 g) were pre-treated orally with EAEG (70, 200 and 600 mg / kg), vehicle (water filtered 10 mL / kg) and ranitidine (50 mg / kg) before induction of gastric lesions by indomethacin (30 mg / kg sc), ethanol 75% (v / v) and by restraint stress and hypothermia. The effects of the extract on the volume, pH and total acidity of gastric secretion were evaluated by the method of pyloric ligation, and the treatments were performed by intraduodenal administration (id). It also assessed the influence of intestinal transit EAEG in animals with previous treatments made orally.. In macroscopic analysis were confirmed common characteristics of the species. In the microscopic analysis it was observed structures, such as: short and long trichomes, unicellular and pluricellular, epidermal cells of various sizes, cells containing druses, prismatic crystals and cystoliths. In phytochemical prospecting was detected the presence of mucilage and secondary metabolites as coumarins and flavonoids. The efficiency of the extraction process was 20%. In models of ulcers induced by different agents: indomethacin, ethanol and stress in doses of 70, 200 and 600 mg/kg, there was reduction in the number of injuries caused by these agents. When the EAEG was administered by intraduodenal route, there was reduction in the volume of total and free acidity of gastric secretion in mice with ligation of pylorus. In assessing the influence of EAEG on intestinal transit was observed increase only with the dose increased to 600 mg/kg. The results suggest that the EAEG contains active ingredients gastro protectors that do not reduce intestinal motility and may justify the popular use of the plant to gastritis and ulcers. Keywords: Medicinal plants, Celtis, coumarins, flavonoids, mucilages, gastro protection.
LISTA DE FIGURAS E QUADROS
FIGURA 1 rvore de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent (esporo-de-galo), zona rural
em Goinia-GO, fevereiro de 2007. PAULA, M. A. .............................. 30
FIGURA 2 Folhas e frutos de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent (esporo-de-galo),
zona rural em Goinia-GO, fevereiro de 2007. PAULA, M. A. ............. 30
FIGURA 3 Caractersticas morfolgicas das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.)
Sargent. .............................................................................................. .48
FIGURA 4 Seces paradrmicas das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent.... ............................................................................................................. 51 FIGURA 5 Seco transversal da regio internervural da folha de Celtis iguanaea
(Jacq.) Sargent. ................................................................................... 52
FIGURA 6 Seco transversal da nervura principal da folha de Celtis iguanaea
(Jacq.) Sargent. ................................................................................... 53
FIGURA 7 Seco transversal do caule jovem de Celtis iguanaea (Jacq.)
Sargent. ............................................................................................... 54
FIGURA 8 Efeito do extrato aquoso das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
(EAEG 70, 200 e 600/mgkg - v.o.) e da ranitidina (50 mg/kg v.o.)
sobre as leses gstricas induzidas por indometacina (30 mg/kg -
s.c.). ..................................................................................................... 57
FIGURA 9 Efeito do extrato aquoso das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
(EAEG 70, 200 e 600 mg/kg - v.o.) e da ranitidina (50 mg/kg v.o.)
sobre as leses gstricas induzidas por etanol (75% v/v - v.o.)........... 58
FIGURA 10 Efeito do extrato aquoso das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
(EAEG 70, 200 e 600/mg kg - v.o.) e da ranitidina (50 mg/kg v.o.)
sobre as leses gstricas induzidas por estresse. ............................... 59
FIGURA 11 Efeito do extrato aquoso das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
(EAEG 70, 200 e 600 mg/kg i.d.) e da ranitidina (50 mg/kg i.d.)
sobre a secreo cida gstrica de camundongos volume secretado
aps 4 horas da ligadura pilrica. ........................................................ 61
FIGURA 12 Efeito do extrato aquoso das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
(EAEG 70, 200 e 600 mg/kg i.d..) e da ranitidina (50 mg/kg i.d.)
sobre a secreo cida gstrica de camundongos - acidez livre (pH)
aps 4 horas da ligadura pilrica. ........................................................ 62
FIGURA 13 Efeito do extrato aquoso das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
(EAEG 70, 200 e 600 mg/kg i.d.) e da ranitidina (50 mg/kg i.d.)
sobre a secreo cida gstrica de camundongos - acidez total da
secreo aps 4 horas da ligadura pilrica. ......................................... 63
FIGURA 14 Efeito do extrato aquoso das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent
(EAEG 70, 200 e 600 mg/kg v.o.) sobre o trnsito intestinal............. 64
QUADRO 1 Principais classes de metablitos secundrios detectados nas amostras
de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent. ..................................................... 55
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Ficha padro de triagem farmacolgica. .............................................. 85 TABELA 2 Tabela de pontuao das leses gstricas. ......................................... 86 TABELA 3 ndice de leses gstricas induzidas por indometacina (30 mg/kg - s.c.)
em animais tratados previamente (60 min) com EAEG 70, 200 e 600
mg/kg, veculo (gua filtrada 10 mL/kg) ou ranitidina (50 mg/kg) pela via
oral. ...................................................................................................... 87
TABELA 4 ndice de leses gstricas induzidas por etanol (75% v/v - v.o.) em
animais tratados previamente (60 min) com EAEG 70, 200 e 600
mg/kg, veculo (gua filtrada 10 mL/kg) ou ranitidina (50 mg/kg) pela via
oral. ...................................................................................................... 87
TABELA 5 ndice de leses gstricas induzidas por estresse em animais tratados
previamente (60 min) com EAEG 70, 200 e 600 mg/kg, veculo (gua
filtrada 10 mL/kg) ou ranitidina (50 mg/kg) pela via oral ...................... 88
TABELA 6 Volume do contedo gstrico acumulado aps 4 horas de ligadura
pilrica em animais tratados com EAEG 70, 200 e 600 mg/kg, veculo
(gua filtrada 10 mL/kg) ou ranitidina (50 mg/kg) pela via i.d. .............. 88
TABELA 7 Acidez livre (pH) do contedo gstrico acumulado aps 4 horas de
ligadura pilrica em animais tratados com EAEG 70, 200 e 600 mg/kg,
veculo (gua filtrada 10 mL/kg) ou ranitidina (50 mg/kg) pela via
intraduodenal ........................................................................................ 89
TABELA 8 Acidez total (mEq[H+]/L) do contedo gstrico acumulado aps 4 horas
de ligadura pilrica em animais tratados com EAEG 70, 200 e 600
mg/kg, veculo (gua filtrada 10 mL/kg) ou ranitidina pela via
intraduodenal. ....................................................................................... 89
TABELA 9 Trnsito intestinal do marcador carvo ativado em animais tratados
previamente (60 min) com EAEG 70, 200 e 600 mg/kg ou veculo (gua
filtrada 10 mL/kg) pela via oral ............................................................. 90
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AINE Antiinflamatrio no-esteroidal
AMPc Adenosina monofosfato cclica
ANOVA Anlise de varincia
ATP Adenosina trifosfato
CCK-2 Receptor de colecistocinina e gastrina
CGRP Peptdeo relacionado ao gene da calcitonina
Co Colnquima
COBEA Colgio Brasileiro de Experimentao Animal
COX Ciclooxigenase
COX-1 Ciclooxigenase isoforma 1
COX-2 Ciclooxigenase isoforma 2
Cp Clulas ptreas
Cpr Cristais prismticos
Dr Drusa
DNA cido desoxirribonuclico
EAEG Extrato aquoso do esporo-de-galo
ECL Enterochromaffin-like cells (clulas tipo enterocromafins)
EP1 Receptor de prostaglandina subtipo 1
EP2 Receptor de prostaglandina subtipo 2
EP3 Receptor de prostaglandina subtipo 3
EP4 Receptor de prostaglandina subtipo 4
EPM Erro padro da mdia
ERO Espcies reativas de oxignio
Es Estmatos
Fi Fibras esclernquimticas
Fl Floema
FPA Formaldedo, cido propinico e etanol
GC Guanilato ciclase
GMPc Guanosina monofosfato cclica
GTP Guanosina trifosfato
H2 Receptor de histamina subtipo 2
H+/K+/ATPase Bomba de prtons
i.d. Intraduodenal
IP Receptor de prostaciclina
M1 Receptor muscarnico subtipo 1
M3 Receptor muscarnico subtipo 3
M5 Receptor muscarnico subtipo 5
mEq Miliequivalente
NO xido ntrico
NOS xido ntrico sintase
NP-SH Grupos sulfidrlicos no-proticos
p Significncia estatstica
PACAP Peptdeo ativador de adenilato ciclase pituitrio
PAF Fator de agregao plaquetria
PG Prostaglandina
PGE1 Prostaglandina E1
PGE2 Prostaglandina E2
PGI2 Prostaciclina (Prostaglandina I2)
PGR Receptor de prostaglandina
pH Potencial hidrogeninico
RNA cido ribonuclico
RPM Rotaes por minuto
SBCAL Sociedade Brasileira de Cincias em Animais de Laboratrio
s.c. Subcutnea
SNC Sistema nervoso central
SSTR1 Receptor de somatostatina subtipo 1
SSTR5 Receptor de somatostatina subtipo 5
TGI Trato gastrintestinal
Ttc Tricoma tector curto
Ttl Tricoma tector longo
TXA2 Tramboxano A2
V1 Volume inicial
Vf Volume final
Xi Xilema
SUMRIO
1 INTRODUO ....................................................................................................... 17
1.1 LCERA PPTICA ........................................................................................... 18
1.1.1 Etiologia ...................................................................................................... 18
1.1.2 Fatores agressores da mucosa gstrica ..................................................... 19
1.1.2.1 cido clordrico e pepsina .................................................................... 19
1.1.2.2 Anti-inflamatrios no esteroidais ........................................................ 19
1.1.2.3 Etanol ................................................................................................... 20
1.1.2.4 Estresse fisiolgico............................................................................... 20
1.1.2.5 Motilidade gastrintestinal ...................................................................... 21
1.1.2.6 Helicobacter pylori ................................................................................ 21
1.1.2.7 Tabagismo ........................................................................................... 22
1.1.3 Fatores protetores da mucosa gstrica ...................................................... 22
1.1.3.1 Prostaglandinas ................................................................................... 22
1.1.3.2 Circulao sangunea ........................................................................... 23
1.1.3.3 xido ntrico ......................................................................................... 23
1.1.3.4 Mucosa ................................................................................................. 24
1.2 SECREO CIDA GSTRICA ....................................................................... 25
1.2.1 Fatores estimulantes da secreo cida gstrica ....................................... 25
1.2.1.1 Gastrina ................................................................................................ 25
1.2.1.2 Histamina ............................................................................................. 26
1.2.1.3 Acetilcolina ........................................................................................... 26
1.2.2 Fatores inibidores da secreo cida gstrica............................................ 27
1.2.2.1 Somatostatina ...................................................................................... 27
1.2.2.2 Prostaglandinas ................................................................................... 27
1.3 MORFOLOGIA E OCORRNCIA DE Celtis iguanaea (Jacq) Sargent ............. 28
2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 31
2.1 OBJETIVOS GERAIS ....................................................................................... 31
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ............................................................................. 31
3. METODOLOGIA ................................................................................................... 32
3.1 MATERIAL BOTNICO .................................................................................... 32
3.2 REAGENTES, SOLUES E DROGAS .......................................................... 32
3.2.1 Reagentes .................................................................................................. 32
3.2.2 Solues ..................................................................................................... 32
3.2.3 Frmacos .................................................................................................... 32
3.3 ANIMAIS ........................................................................................................... 33
3.4 DESCRIO MORFO-ANATMICA ................................................................ 33
3.4.1 Descrio macroscpica ............................................................................ 33
3.4.2 Descrio microscpica .............................................................................. 34
3.5 OBTENO E PREPARAO DO EXTRATO ................................................ 35
3.6 MTODOS FITOQUMICOS............................................................................. 35
3.6.1 Determinao do teor de cinzas totais ....................................................... 35
3.6.2 Determinao do teor de cinzas insolveis em cido ................................. 35
3.6.3 Determinao do teor de gua ................................................................... 36
3.6.4 Prospeco fitoqumica .............................................................................. 36
3.6.4.1 Pesquisa de heterosdeos antraquinnicos .......................................... 36
3.6.4.2 Pesquisa de heterosdeos digitlicos ................................................... 37
3.6.4.2.1 Reao de Liebermann-Burchard .................................................. 37
3.6.4.2.2 Reao de Keller-Kiliani ................................................................. 37
3.6.4.2.3 Reao de caracterizao do ncleo esteride ............................. 38
3.6.4.2.4 Reao de Kedde (reao especfica para o anel lactnico) ......... 38
3.6.4.3 Pesquisa de heterosdeos flavonides ................................................. 38
3.6.4.3.1 Reao de Shinoda ....................................................................... 38
3.6.4.3.2 Reao oxalo-brica ...................................................................... 38
3.6.4.3.3 Reao com cido sulfrico concentrado ...................................... 39
3.6.4.3.4 Reao com hidrxidos alcalinos ................................................... 39
3.6.4.3.5 Reao com cloreto de alumnio .................................................... 39
3.6.4.3.6 Reao com cloreto frrico ............................................................ 39
3.6.4.4 Pesquisa de heterosdeos saponnicos ................................................. 39
3.6.4.5 Pesquisa de taninos .............................................................................. 40
3.6.4.5.1 Reao com gelatina ..................................................................... 40
3.6.4.5.2 Reao com alcalides .................................................................. 40
3.6.4.5.3 Reao com sais metlicos ........................................................... 40
3.6.4.5.4 Reao com hidrxidos alcalinos ................................................... 40
3.6.4.6 Pesquisa de alcalides .......................................................................... 41
3.6.4.7 Determinao do ndice de intumescncia (mucilagem) ....................... 42
3.7 AVALIAO DE ATIVIDADE FARMACOLGICA ........................................... 43
3.7.1 Teste geral de atividade farmacolgica (screening hipocrtico) ................. 43
3.7.2 Avaliao da atividade antiulcerognica do EAEG em modelos
experimentais de lcera gstrica ................................................................ 43
3.7.2.1 Leses gstricas induzidas por indometacina em camundongos ........ 43
3.7.2.2 Leses gstricas induzidas por etanol em camundongos .................... 44
3.7.2.3 Leses gstricas induzidas por estresse em camundongos ................ 44
3.7.3 Avaliao da atividade do EAEG na secreo cida gstrica .................... 45
3.7.3.1 Ligadura pilrica em camundongos para determinao de volume e
acidez livre e total da secreo gstrica .............................................. 45
3.7.4 Avaliao da atividade do EAEG na motilidade gastrintestinal em
camundongos ............................................................................................. 46
3.7.4.1 Trnsito intestinal ................................................................................. 46
3.8 ANLISE ESTATSTICA ................................................................................... 46
4 RESULTADOS ...................................................................................................... 47
4.1 PROCESSO EXTRATIVO ................................................................................ 47
4.2 DESCRIO MORFO-ANATMICA ................................................................ 47
4.2.1 Descrio macroscpica ............................................................................ 47
4.2.2 Descrio microscpica .............................................................................. 49
4.3 FARMACOGNOSIA E FITOQUMICA .............................................................. 55
4.3.1 Teor de cinzas totais e cinzas insolveis em cido .................................... 55
4.3.2 Teor de gua .............................................................................................. 55
4.3.3 Prospeco fitoqumica .............................................................................. 55
4.4 ATIVIDADE FARMACOLGICA DO EAEG ..................................................... 56
4.4.1 Atividades farmacolgicas gerais (screening hipocrtico) do EAEG .......... 56
4.4.2 Atividade antiulcerognica em modelos de lcera aguda .......................... 57
4.4.2.1 Efeito do EAEG na leso gstrica induzida por indometacina ............. 57
4.4.2.2 Efeito do EAEG na leso gstrica induzida por etanol ......................... 58
4.4.2.3 Efeito do EAEG na leso gstrica induzida por estresse ..................... 59
4.4.3 Atividade antisecretora cida gstrica do EAEG ........................................ 60
4.4.3.1 Efeito do EAEG na secreo gstrica em modelo de ligadura de piloro ..
............................................................................................................. 60
4.4.4 Atividade do EAEG na motilidade gastrointestinal ...................................... 64
4.4.4.1 Efeito do EAEG sobre o trnsito intestinal em camundongos .............. 64
5 DISCUSSO ......................................................................................................... 65
6 CONCLUSES ..................................................................................................... 73
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................... 74
ANEXOS ............................................................................................................... 85
APNDICE Tabelas de dados ........................................................................... 87
17
1 INTRODUO
A histria do desenvolvimento das sociedades humanas esteve sempre
intimamente ligada ao uso que os povos faziam dos recursos naturais ao seu dispor.
Entre eles, um dos recursos que mais contribuiu e continua a contribuir para a
sobrevivncia dos povos o conjunto de espcies vegetais que constitui a flora de
cada regio do globo terrestre. Foi desses recursos que os diferentes povos, pela
observao dos animais e pela experimentao, atravs do mtodo de tentativa e
erro, foram selecionando as plantas teis para suprir as mais diversas necessidades,
desde a alimentao ao seu uso como planta medicinal (HOLMSTEDT, 1995).
Em termos histricos podemos dizer que muitos dos frmacos usados na
medicina ocidental durante o sculo XX resultaram de estudos etnofarmacolgicos
efetuados inicialmente pelos mdicos e naturalistas, alguns dos quais integraram as
expedies cientficas que os europeus realizaram s diferentes regies geogrficas
do globo a partir do sculo XVI. Dos relatos do uso e das amostras de muitas drogas
utilizadas pelos povos indgenas, com que os europeus contactaram, resultou a
experimentao, o estudo e a incluso de muitas dessas drogas nas farmacopias
(COX, 1994).
Atualmente, a estratgia utilizada para a utilizao de plantas medicinais a
abordagem etnofarmacolgica, que consiste em combinar informaes adquiridas
junto a comunidades locais que fazem uso da flora medicinal com estudos
qumicos/farmacolgicos. Este mtodo permite a formulao de hipteses quanto s
atividades farmacolgicas e s substncias-alvos responsveis pelas aes
teraputicas relatadas pelas populaes usurias (ELISABETSKY; SETZER, 1985;
ELISABETSKY, 1987).
A considerao de conhecimentos populares acerca do uso de plantas
medicinais possibilitou a descoberta de alguns frmacos, dentre eles; atropina,
artemisina, colchicina, digoxina, efedrina, morfina, pilocarpina, quinina, reserpina,
taxol, vincristina e vinblastina (GILANI, 2005).
Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS, 1998), 65 a 80% da
populao mundial utilizam as plantas medicinais como primeira alternativa em
cuidados de sade. Contudo, poucas plantas, menos de 10%, tm estudos
cientficos que as validem quanto qualidade, eficcia e segurana (GARCIA, 2009).
No entanto, os estudos qumicos, farmacolgicos e toxicolgicos de plantas
18
medicinais tem crescido expressivamente, um exemplo importante foi a obteno do
oseltamivir, frmaco derivado a partir de modificao qumica do Anis estrelado.
Existem no mundo cerca de 250.000 a 300.000 espcies de plantas sendo
que o Brasil possui cerca de 20% da flora mundial e somente uma pequena parte
alvo de pesquisas cientficas (CALIXTO, 2005).
De acordo com a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA),
fitoterpico o medicamento obtido empregando-se exclusivamente matrias-primas
ativas vegetais. caracterizado pelo conhecimento da eficcia e dos riscos de seu
uso, assim como pela reprodutibilidade e constncia de sua qualidade. Existem 3
formas de registro para medicamentos fitoterpicos. O primeiro obedece um sistema
de pontuao para cada tipo de referncia biblogrfica dentro de uma lista
padronizada devendo atingir no mnimo 6 pontos, fitoterpicos j estudados em
outros pases. O segundo sitema de registro baseia-se na comprovao de
segurana de uso (toxicologia pr-clnica e clnica) e de eficcia teraputica
(farmacologia pr-clnica e clnica) do medicamento e o terceiro sistema onde o
registro feito a partir de levantamento bibliogrfico (etnofarmacolgico e de
utilizao, documentaes tecnicocientficas ou publicaes) que comprove
indicao de uso, ausncia de risco txico ao usurio e comprovao de uso seguro
por no mnimo 20 anos, fitoterpicos de uso tradicional. Os medicamentos
fitoterpicos, como todos os outros medicamentos, devem oferecer garantia de
qualidade, ter efeitos teraputicos comprovados, composio padronizada, eficcia e
segurana de uso para a populao (BRASIL, 2004).
1.1 LCERA PPTICA
1.1.1 Etiologia
A lcera pptica pode ser dividida de acordo com a sua localizao em lcera
gstrica e lcera duodenal e representa uma condio patolgica que afeta grande
parte da populao mundial e que apresenta diversos fatores de risco, tais como:
estresse, tabagismo, ingesto de bebidas alcolicas, deficincias nutricionais e uso
crnico de anti-inflamatrios no-esteroidais (AINEs) (ISHIHARA et al., 2008).
A fisiopatologia destas lceras multifatorial. o resultado de um
desequilbrio entre fatores de agresso (HCl, pepsina, Helicobacter pylori) e fatores
19
de proteo da mucosa (prostaglandinas, muco, bicarbonato, xido ntrico e outros)
(ARUN; ASHA, 2008) e da sua interao com os fatores exgenos (GOTTELAND et
al, 2002).
1.1.2 Fatores agressores da mucosa gstrica
1.1.2.1 cido clordrico e pepsina
O cido clordrico juntamente com a pepsina configuram-se como importantes
fatores de agresso da mucosa gstrica (ABDEL-SALAM et al., 2001). Contudo, a
presena do suco gstrico na luz do estmago, no o nico fator na patognese
da gastroenteropatia provocada por AINEs, por exemplo, mas um importante fator
de contribuio da cronicidade destas leses, interferindo com a homeostase e
inativao de fatores que so importantes na defesa e reparao da mucosa
gstrica (WALLACE, 2001).
Outras substncias endgenas, como a bile e enzimas pancreticas, tambm
participam do processo de injria da mucosa duodenal (ABDEL-SALAM et al., 2001).
1.1.2.2 Anti-inflamatrios no-esteroidais
Os anti-inflamatrios no-esteroidais (AINEs) so os principais agentes
relacionados lcera gstrica (HEEBA et al., 2009).
Aproximadamente 20% dos usurios de AINEs desenvolvem algum tipo de
lcera gstrica ou duodenal (WALLACE, 2001).
Os AINEs inibem a ciclooxigenase (COX) e consequentemente a produo de
prostaglandinas E2 (PGE2) e I2 (PGI2, prostaciclina) e reduzem a intrnseca
habilidade da mucosa gstrica em resistir a injria induzida por agressores
endgenos e exgenos (HEEBA et al., 2009).
Os AINEs reduzem o fluxo sanguneo e provocam leso da mucosa gstrica
atravs de diversos mecanismos incluindo a inibio da sntese de prostaglandinas
(PG), inibio da produo de muco e secreo de bicarbonato (retrodifuso de on
H+), reduo da hidrofobicidade da camada de muco, gerao de espcies reativas
de oxignio (ERO), peroxidao lipdica, infiltrao de leuccitos e induo de
apoptose (CHAN, 2001; HEEBA et al., 2009).
20
O uso de AINEs, especialmente os inibidores da ciclooxigenase 2 (COX-2),
permanece limitado pela capacidade desses agentes de provocar ulcerao
gastroduodenal (WALLACE, 2001; BLANDIZZI et al., 2009) e alteraes
cardiovasculares, principalmente atravs da diminuio da vasodilatao mediada
pela prostaciclina, agregao plaquetria mediada tambm pela prostaciclina e
tramboxano A2 (TXA2) e maior risco de desenvolvimento de aterosclerose (ARAJO
et al,, 2005).
1.1.2.3 Etanol
O uso excessivo de lcool etlico resulta em leso gstrica caracterizada por
edema de mucosa, hemorragias subepiteliais, exfoliao celular e infiltrao de
clulas inflamatrias. Estudos sobre a patognese da lcera gstrica induzida por
etanol sugerem que o evento inicial no processo so as alteraes no endotlio
vascular resultando em aumento da permeabilidade vascular, formao de edema e
alteraes epiteliais. Contudo os mecanismos pelos quais o etanol provoca leso
gstrica dependem da concentrao do etanol e no so totalmente conhecidos,
sendo que solues mais concentradas exibem efeito local e solues mais diludas
efeito central culminando no estmulo da liberao de HCl. Outros fatores tambm
esto implicados, dentre eles, produtos do metabolismo do cido araquidnico,
radicais livres derivados de oxignio e produtos liberados pelos mastcitos
(JAHOVIC et al., 2007).
O etanol provoca congesto capilar que precede a total estase do fluxo
sanguneo na rea da mucosa gstrica lesionada (ABDEL-SALAM et al., 2001),
provoca tambm aumento da permeabilidade da mucosa e liberao de produtos
vasoativos causando dano vascular e necrose das clulas da mucosa gstrica. As
ERO tm importante papel na patognese das leses gstricas provocadas por
etanol (ARUN; ASHA, 2008).
1.1.2.4 Estresse fisiolgico
Estresse fisiolgico denota o estado gerado pela percepo de estmulos que
provocam excitao emocional e, ao perturbarem a homeostasia, disparam um
processo de adaptao caracterizado, entre outras alteraes, pelo aumento de
21
secreo de adrenalina produzindo diversas manifestaes sistmicas, que podem
ser psicolgicas ou fisiolgicas. O termo estresse refere-se a uma resposta geral e
inespecfica do organismo a um agente ou a uma situao estressante (MARGIS et
al., 2003).
O estresse induz a peroxidao lipdica a partir do aumento dos nveis de
peroxidase lipdica. A conseqncia desse processo o aumento da gerao de
ERO ocasionando, consequentemente, dano oxidativo que considerado fator
comum na patogenia de diferentes modelos experimentais e clnicos de lcera
(SAIRAM et al., 2002).
Estudos revelam que a ativao de nervos sensores que atuam no trato
gastrointestinal (TGI) podem influenciar a funo secretora do estmago e tem um
importante papel no mecanismo de integridade da mucosa gstrica e citoproteo
por aumentar o fluxo sanguneo da mucosa via liberao de peptdeo relacionado ao
gene da calcitonina (CGRP) pelas terminaes nervosas aferentes (BRZOZOWSKI
et al., 2008).
1.1.2.5 Motilidade gastrintestinal
Dentre os vrios fatores responsveis pela regulao da motilidade
gastrintestinal esto a acetilcolina e a serotonina (JEONG et al., 2009). A serotonina
presente nos nervos entricos sintetizada no sistema nervoso entrico pelos
neurnios serotoninrgicos que constituem cerca de 2% de todos os neurnios
mesentricos (SIKANDER et al., 2009). A ativao intrnsica de subtipos de
receptores de serotonina, especialmente 5-HT3 e 5-HT4, em nervos aferentes pode
estimular o peristaltismo e a secreo cida gstrica contribuindo para a formao
de leso gstrica (JEONG et al., 2009).
1.1.2.6 Helicobacter pylori
A bactria Helicobacter pylori coloniza o estmago de mais da metade da
populao mundial e a infeco provocada, continua a ter um papel chave na
patognese de doenas gastroduodenais.
A colonizao do estmago por H. pylori resulta no desenvolvimento de
gastrite crnica nos indivduos infectados e em uma extenso de pacientes a gastrite
22
evolui para complicaes como lceras e neoplasias gstricas (KANDULSKI et al.,
2008).
Indivduos infectados com H. pylori e que utilizam AINEs tm uma diminuio
do fluxo sanguneo na mucosa duodenal , sendo que o fluxo da mucosa gstrica
permanece praticamente inalterado (CHAN, 2001).
A forte correlao entre a colonizao por H. pylori e a lcera gstrica est
bem estabelecida por um grande nmero de estudos. O resultado clnico da infeco
altamente varivel e depende do hospedeiro, fatores ambientais e virulncia da
bactria (KANDULSKI et al., 2008).
1.1.2.7 Tabagismo
Estudos epidemiolgicos indicam que o tabagismo est comumente
relacionado ao desenvolvimento de lcera gstrica, sendo o mesmo um altssimo
fator de risco para o desenvolvimento de cncer gstrico (GOTTELAND et al., 2002).
A lcera gstrica e duodenal mais prevalente em fumantes que em no
fumantes. O tabagismo provoca diminuio da secreo de bicarbonato, diminuio
da presso do esfago e esfncter pilrico e diminuio da cicatrizao de lceras
induzidas por medicamentos (PASUPATHI et al., 2009).
Tem sido demonstrado em estudos que o tabagismo diminui os efeitos
teraputicos dos antagonistas de receptores H2 (GOTTELAND et al., 2002;
PASUPATHI et al., 2009), estimula a secreo de pepsina, promove o refluxo de
contedo do duodeno para o estmago, aumenta a produo de radicais livres e
liberao de fator de agregao plaquetria (PAF). Tambm provoca diminuio de
fatores de proteo como o muco, prostaglandinas e fluxo sanguneo da mucosa
(GOTTELAND et al., 2002).
1.1.3 Fatores protetores da mucosa gstrica
1.1.3.1 Prostaglandinas
As prostaglandinas (PGs) representam o principal fator de proteo da
mucosa gstrica, so eicosanides derivados da COX-1 e COX-2 e esto envolvidos
em uma variedade de processos fisiolgicos e patolgicos no TGI.
23
As PGs esto presentes em todo TGI. Dentre elas, a PGE2 e a PGI2
(prostaciclina) so as produzidas em maior quantidade, mais conhecidas e com
maior variedade de aes (DING et al., 1997).
A PGI2 tem um importante papel na citoproteo e vasodilatao da mucosa
gstrica (WANG et al., 2005).
A produo de PGs pela ciclooxigenase na mucosa gstrica mantm uma
adequada circulao, estimula a produo de muco e secreo de bicarbonato. A
diminuio dos nveis de PGs, geralmente provocada por AINEs, provoca aumento
da secreo cida, possibilitando o surgimento de um quadro de lcera gstrica
(HEEBA et al., 2009).
Estudos farmacolgicos tm classificado os receptores de PGE2 em 4
subtipos, EP1, EP2, EP3 e EP4, presentes em todo TGI. No estmago o receptor EP1
est presente na camada muscular gstrica e os receptores EP3 e EP4 foram
encontrados em clulas do epitlio gstrico e clulas parietais (DING et al., 1997). O
receptor de PGI2 denominado de IP (WANG et al., 2005).
1.1.3.2 Circulao sangunea
Nos ltimos anos, tem sido destacadas evidncias experimentais que
enfatizam o papel do fluxo sanguneo e em particular da microcirculao na
patognese da leso gstrica. O fluxo sanguneo adequado participa do processo de
proteo da mucosa e a sua diminuio compromete essa proteo (ABDEL-SALAM
et al., 2001).
O fluxo sanguneo da mucosa contribui para a manuteno da integridade da
mucosa gstrica. O estmago pode tolerar altos nveis de acidez, se houver um
adequado fluxo sanguneo para remover o excesso de on hidrognio (CHAN, 2001).
1.1.3.3 xido ntrico
O xido ntrico (NO) um mediador qumico que apresenta diversas funes.
Ele gerado a partir da L-arginina pela xido ntrico sintase (NOS). O NO
considerado o 2 principal fator de defesa da mucosa gstrica e participa do
processo de regulao da secreo cida gstrica e modulao da integridade da
mucosa gstrica (HEEBA et al., 2009).
24
O NO est diretamente envolvido na regulao do fluxo sanguneo gstrico e
na microcirculao, o mesmo provoca relaxamento do msculo liso dos vasos
sanguneos. Isso ocorre atravs do aumento da [Ca 2+] que favorece a formao do
complexo Ca2+-calmodulina que provoca ativao da NOS que por sua vez aumenta
os nveis de NO no citoplasma da clula endotelial. O aumento de NO provoca
ativao da guanilato ciclase (GC) que converte o trifosfato de guanosina (GTP) em
guanosina monofosfato cclica (GMPc) provocando relaxamento da clula (OLINDA
et al., 2008).
O NO tem um importante papel regulatrio na resposta fisiolgica. No TGI,
doadores de NO provocam diminuio da secreo gstrica por um mecanismo de
distenso (HASEBE et al., 2005).
O NO um dos principais fatores envolvidos na regulao do fluxo gstrico e
da microcirculao gstrica por promover relaxamento da musculatura lisa dos vasos
sanguneos (OLINDA et al., 2008).
1.1.3.4 Mucosa
A habilidade do estmago e duodeno em resistir injria induzida por
enzimas e cido clordrico, alm de outros agentes irritantes referida como
mecanismo de defesa da mucosa.
A secreo de muco e bicarbonato, a vasodilatao da mucosa e a rpida
regenerao do epitlio esto entre os componentes de defesa da mucosa que so
fortemente regulados pelas PGs (WALLACE; FIORUCCI, 2003).
O muco uma substncia viscosa e elstica, no homegnea, formada por
biopolmeros, que reveste a mucosa do estmago, bem como de todo TGI (LAI et al.,
2009).
O muco uma barreira semipermevel que reveste e protege a maior parte
da superfcie do tecido endotelial do TGI (CONE, 2009).
A funo do muco varia entre os diferentes organismos, dentre elas, a
proteo contra patgenos, toxinas, substncias irritantes e pequenas partculas
provenientes do ambiente externo. Tambm auxilia no transporte de substncias do
estmago para o clon, servindo como um lubrificante durante o peristaltismo e
minimizando a frico entre os rgos (LAI et al., 2009).
25
1.2 SECREO CIDA GSTRICA
A secreo cida gstrica influenciada por fatores nervosos e hormonais. O
processo fisiolgico controlado por um nmero de segundos mensageiros cujas
vias so ativadas como resultado da ligao de gastrina, acetilcolina e histamina
receptores especficos sobre a superfcie basolateral das clulas parietais. O efeito
estimulatrio da acetilcolina e gastrina mediado por um aumento do clcio
citoslico, enquanto o da histamina mediado pela ativao da adenilatociclase e
formao de adenosina monofosfato cclica (cAMP). A potenciao entre histamina e
gastrina ou acetilcolina reflete na interao pelo receptor entre as vias distintas bem
como a habilidade da acetilcolina e gastrina em liberar histamina das clulas tipo
enterocromafins enterochromaffin-like cells (ECL). A ltima etapa na secreo
cida gstrica, contudo, a estimulao da bomba de prtons (H+, K+-ATPase) para
secretar os ons hidrognio (H+) no lmen gstrico em troca do on potssio (K+) e o
transporte ativo do on Cl- para canalculos nas clulas que se comunicam com a luz
das glndulas gstricas e, deste modo, com o prprio estmago. A secreo das
clulas parietais uma soluo isotnica de HCl. A enzima H+, K+-ATPase
permanece em repouso na membrana dos tbulos citoplasmticos, nas
microvilosidades dos canalculos secretrios e, aps estmulo das clulas parietais,
ocorre uma fuso das vesculas citoplasmticas com as microvilosidades dos
canalculos secretrios promovendo a secreo de H+ em troca do on K+
(SAVARINO et al., 2009).
1.2.1 Fatores estimulantes da secreo cida gstri ca
1.2.1.1 Gastrina
A gastrina o principal regulador fisiolgico da secreo cida gstrica
(SAVARINO et al., 2009; CHAKRAVORTY et al., 2009). A gastrina um hormnio
peptdico produzido e secretado pelas clulas G, localizadas no antro gstrico,
durante a alimentao, cuja secreo regulada por mecanismos de feedback
envolvendo a secreo gstrica (ROBERTSON et al., 2009).
As clulas G so moduladas pela somatostatina que provocam diminuio da
secreo de gastrina (KIDD et al., 2007).
26
Os receptores de gastrina esto presentes nas clulas parietais, so ativados
pela gastrina juntamente com a histamina e acetilcolina que tambm possuem
receptores nas clulas parietais. Essas ligaes aos receptores especficos de cada
substncia ativam a secreo gstrica (CHAKRAVORTY et al., 2009).
A gastrina, alm de estimular diretamente as clulas parietais, tambm
estimulam as clulas ECL a liberar histamina. A gastrina estimula os receptores de
colecistocinina e gastrina (CCK2) presentes nas clulas parietais e nos receptores
para gastrina das clulas ECL (SAVARINO et al., 2009), estimula a secreo cida
gstrica e a proliferao de clulas da mucosa gstrica (ISHIHARA et al., 2008).
1.2.1.2 Histamina
A histamina, uma amina biognica formada a partir da histidina pela histidina
descarboxilase, age como mediador bioqumico de uma srie de reaes de clulas
e tecidos em resposta inflamao e ao de antgenos. A histamina uma das
responsveis pela modulao de clulas epiteliais, do msculo liso e da funo do
sistema imunolgico. No estmago a histamina liberada pelas clulas ECL,
localizadas nas glndulas oxnticas, e ativam os receptores H2 das clulas parietais
como parte do processo de regulao da secreo cida gstrica (ANCHA et al.,
2007; KIDD et al., 2007).
Alguns moduladores neurais interferem na liberao de histamina pelas
clulas ECL. Acetilcolina, dopamina, gastrina e peptdeo ativador de adenilato
ciclase pituitrio (PACAP) so estimulantes das clulas ECL. O CGRP e a galamina,
um bloqueador neuromuscular, so substncias inibidoras das clulas ECL (KIDD et
al., 2007).
1.2.1.3 Acetilcolina
O estmago contm neurnios colinrgicos que inervam e estimulam as
clulas parietais. Essa estimulao feita pela acetilcolina (FURNESS, 2000).
Os receptores muscarnicos de acetilcolina consistem em 5 subgrupos (M1-
M5) que so amplamente expressos, mediando diversas funes autonmicas em
alguns rgos, incluindo o TGI. Os receptores muscarnicos M1 a M5 so expressos
no estmago, sendo que somente o receptor M5 no expresso na mucosa do
27
estmago. A secreo cida gstrica regulada pela ativao de receptores
muscarnicos, fato evidenciado em funo da secreo cida gstrica ser inibida
pela atropina (antagonista muscarnico) e estimulada pela acetilcolina a qual
liberada pelas fibras ps-ganglionares, do nervo vago, no sistema nervoso entrico.
A clulas parietais so conhecidas por expressarem receptores muscarnicos M1 e
M3. A acetilcolina tambm estimula as clulas G a secretarem gastrina e as clulas
ECL a liberarem histamina (AIHARA et al., 2005).
1.2.2 Fatores inibidores da secreo cida gstrica
1.2.2.1 Somatostatina
A somatostatina, cuja liberao estimulada por ativao colinrgica
(SHRESTHA et al., 2009), um peptdeo regulatrio, produzido e liberado pelas
clulas D, que modula as clulas G provocando diminuio da secreo de gastrina
que estimula as clulas ECL, portanto um potente inibidor da secreo de
histamina (KIDD et al., 2007; SAVARINO et al., 2009), consequentemente inibe a
secreo de cido gstrico e pepsina (JAHOVIC et al., 2007).
Diversos estudos demonstram que todos os vertebrados tm uma famlia de
genes para a produo de somatostatina. So 5 receptores j descritos, SSTR1 a
SSTR5 (SCHONBRUNN, 2008; TOSTIVINT et al., 2008). Destes receptores
somente o SSTR1 est presente em todas as espcies de vertebrados (TOSTIVINT
et al., 2008).
1.2.2.2 Prostaglandinas
As PGs, principalmente as E1 e E2, diminuem a secreo cida gstrica basal
ao se ligarem aos receptores de prostaglandinas (PGR) presentes nas clulas
parietais (WALLACE, 2001).
Aps a ligao das PGs aos seus receptores ocorre ativao da protena G
inibitria (Gi) e consequentemente inibio da enzima adenilatociclase que provoca
um bloqueio do aumento do AMPc estimulado pela histamina inibindo assim a
secreo cida gstrica (TWARDOWSCHY, 2007).
28
Diante da reviso da literatura e escassez de informaes sobre a espcie
Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent e suas possveis aes teraputicas relatadas no
uso popular (PILATI; SOUZA, 2006), este trabalho se prope a avaliar as possveis
atividades do extrato aquoso da planta no trato gastrintestinal (visto a alta incidncia
de patologias que causam desconforto gastrintestinal oriundas de diversos agentes
etiolgicos) buscando respaldar cientificamente dados etnobotnicos e demonstrar
ou no o potencial desta espcie vegetal para o desenvolvimento de fitofrmacos.
1.3 MORFOLOGIA E OCORRNCIA NATURAL DE Celtis iguanaea (Jacq) Sargent
A espcie Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent (Figuras 1 e 2) pertence famlia
Ulmaceae, uma angiosperma e dicotilednea pertencente ordem Rosales. O
grupo inclui 25 a 30 espcies classificadas nos gneros; Ampelocera, Chaetachme,
Celtis, Hemiptelea, Holoptelea, Phyllostylon, Planera, Ulmus e Zelkova. A planta
caracterizada como arbusto ou pequena rvore, apoiante, de copa globosa, de at
10 m de altura, com ramos geralmente em forma de zigue-zague e compridos (7m),
muito flexveis, armados de espinhos estipulares curtos, agudos, solitrios e
recurvados e com ramos pequenos, comprimidos e pubescentes. Possui tronco
tortuoso, com casca externa castanho-clara, finamente fissurada que fornece
madeira forte e muito flexvel. Sua casca possui bastante tanino (CORRA, 1984).
Possui flores pequenas, amarelo-esverdeadas ou brancas, dispostas em cimeiras
curtas ou axilares e paniculadas; estgmas lineares e bfidos; ovrio unilocular.
Possui fruto tipo drupa ovide-globosa, angulosa, obtusa ou tetrgona, amarela,
contendo polpa adocicada e comestvel. As folhas so curto-pecioladas (pecolos
pulverulentos), ovado-oblongas ou ovadas, muito variveis de 5-13 cm de
comprimento e 3-7 cm de largura, agudas ou curto-acuminadas no pice, raramente
obtusas, inteiras ou grosso-serreado-crenadas na metade superior, arredondadas
ou cordiformes e frequentemente um pouco inequilteras na base, glabras ou quase
glabras nas duas pginas. A grande variao no tamanho de suas folhas, deu a
espcie vasta sinonmia botnica. Celtis aculeata Sw., Celtis aculeata var. laevigata
(Kunth) Planch., Celtis alnifolia (Wedd.) Planch., Celtis asperula Miq., Celtis
bonplandiana Planch., Celtis brevifolia (Klotzsch) Miq., Celtis dichotoma (Klotzsch)
Miq., Celtis goudotii Planch., Celtis hilariana Planch., Celtis morifolia Planch., Celtis
29
pavonii Planch., Celtis spinosa Spreng., Celtis spinosissima (Wedd.) Miq., Celtis
triflora (Ruiz ex Klotzsch) Miq., dentre inmeras outras (CORRA, 1984).
Pode apresentar grande variao no nome popular, em diversas partes do
Brasil, como esporo-de-galo (Gois), tela , taleira (Rio Grande do Sul), gurrupi e
gumbixava (So Paulo) e sar no estado do Paran (PILATI; SOUZA, 2006; GIEHL;
JARENKOW, 2008).
Segundo Souza e Lorenzi (2008), atualmente o gnero Celtis est
classificado na famlia Cannabaceae, pertencente Ordem Rosales, de acordo com
o sistema de classificao APGII de 2003. Resolveu-se manter o gnero Celtis na
famlia Ulmaceae pelo fato desta ser a famlia mais antiga, e at que as mudanas
segundo o sistema de classificao sejam confirmadas e dadas por encerradas.
Por fatores culturais e socio-econmicos a populao de Gois utiliza com
frequncia plantas medicinais como terapia alternativa. Em Goinia e cidades
vizinhas comum a comercializao dessas plantas por pessoas denominadas de
raizeiros que atuam em feiras livres, mercados municipais e bancas instaladas em
vias pblicas (TRESVENZOL et al., 2006). Relatos populares espontneos no
Estado de Gois indicam o uso do Esporo-de-galo sob a forma de ch ou abafado
de suas folhas para o tratamento de vrias queixas tais como, dores no corpo,
reumatismo, dores no peito, asma, clicas, m-digesto e como diurtica. Plantas
destinadas ao tratamento de distrbios gstricos so muito procuradas na prtica de
auto-medicao. Neste sentido, necessrio a realizao de estudos cientficos que
validem essa utilizao atravs da demonstrao da eficcia e segurana.
Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent um arbusto da famlia Ulmaceae
comumente conhecida no Estado de Gois por esporo-de-galo, citado por Silva e
Proena (2008) como uma planta medicinal utilizada como diurtica no municpio de
Ouro Verde-GO, sendo no Estado de Gois, sua principal utilizao.
30
Figura 1 rvore de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent (esporo-de-galo), zona rural
em Goinia-GO, fevereiro de 2007. PAULA, M. A.
Figura 2 Folhas e frutos de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent (esporo-de-galo),
zona rural em Goinia-GO, fevereiro de 2007. PAULA, M. A.
31
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVOS GERAIS
Realizar a caracterizao farmacognstica e avaliar a ao farmacolgica do
extrato aquoso das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent (esporo-de-galo)
sobre o trato gastrintestinal.
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
1. Descrever as caractersticas morfolgicas e anatmicas das folhas de Celtis
iguanaea (Jacq.) Sargent.
2. Determinar o teor de cinzas totais, cinzas insolveis em cido e o teor de
gua na amostra.
3. Realizar a prospeco fitoqumica com o p das folhas de Celtis iguanaea
(Jacq.) Sargent
4. Realizar o teste geral de atividade farmacolgica com o extrato aquoso das
folhas do esporo-de-galo (EAEG).
5. Avaliar a atividade anti-ulcerognica em modelos de leses gstricas
induzidas por indometacina, etanol ou estresse.
6. Avaliar a atividade do EAEG na secreo gstrica pelo mtodo da ligadura
pilrica visando determinar o volume, a acidez livre (pH) e a acidez total da
secreo gstrica.
7. Avaliar a atividade do EAEG na motilidade intestinal pelo mtodo do carvo
ativado.
32
3 METODOLOGIA
3.1 MATERIAL BOTNICO
Amostras de folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent foram coletadas em
mata ciliar do municpio de Campestre Gois, Brasil (612 m de altitude, 16 46
01,7 Sul, 49 42 00,6 Oeste). O material botnico coletado foi identificado pelo
Professor Dr. Jos Realino de Paula Faculdade de Farmcia Universidade
Federal de Gois (UFG) e uma exsicata foi depositada no Herbrio da UFG sob o
nmero 40110.
3.2 REAGENTES, SOLUES E DROGAS
3.2.1 Reagentes
cido actico glacial PA, cido clordrico PA, cido fosfrico PA, cido
propinico PA, cido sulfrico PA, amnia , anidrido actico PA, azul de alcian,
carvo ativado, clorofrmio, ter etlico, formaldedo 37% PA, hidrxido de potssio
PA, magnsio em fita e safranina.
3.2.2 Solues
Acetato de chumbo 10%, acetato de cobre 4%, cido brico 10%, cido 3,5
dinitrobenzico 1%, cido oxlico 10%, cido pcrico 2%, cido slico-tngstico 1%,
cido tnico 0,5 e 1%, cloreto de alumnio 5%, cloreto de sdio 0,9 e 5%, cloreto
frrico 2, 4,5 e 9%, etanol 50, 70, 75 e 96%, fenolftalena 2%, glicerina 50%, glicose
5%, hidrxido de amnio 10%, iodo-bismutato de potssio, reagente de Steinmetz,
soluo alcolica de brucina, soluo aquosa de iodo em iodato de potssio, soluo
de gelatina 2,5%, sulfato de quinina 1%, formaldedo 37% PA e tetra-iodomercurato
de potssio.
3.2.3 Frmacos
33
Indometacina (Indocid - Merck Sharp & Dohme) e ranitidina (Antak -
Glaxosmithkline).
3.3 ANIMAIS
Os animais utilizados neste estudo foram camundongos albinos (Mus
musculus) tipo Swiss, machos, pesando entre 25 e 35 g, obtidos no Biotrio Central
da Universidade Federal de Gois.
Os tratamentos dos animais com o veculo (grupo controle), extrato e
diferentes substncias foram sempre realizados em concentraes adequadas para
a administrao de um volume constante de 10 mL/kg.
Os animais foram mantidos em condies controladas de temperatura e
iluminao (ciclo claro/escuro de 12 h), com gua e rao ad libitum,
permanecendo no laboratrio por um perodo de adaptao de pelo menos 72 horas
antes dos experimentos.
Todos os experimentos foram desenvolvidos seguindo normas que discorrem
sobre cuidados com animais de laboratrio (CIOMS, 1985) sendo seguidas todas as
recomendaes da Sociedade Brasileira de Cincias em Animais de Laboratrio
(SBCAL) e Colgio Brasileiro de Experimentao Animal (COBEA) depois de devida
aprovao pelo Comit de tica em Pesquisa da UFG, protocolo n 106/2008.
3.4 DESCRIO MORFO-ANATMICA
3.4.1 Descrio macroscpica
A caracterizao macroscpica das folhas foi realizada vista desarmada e
atravs de observao com o auxlio de lupa, quando necessrio, segundo
parmetros descritos por Oliveira et al. (1998) e Oliveira e Akisue (2000).
Para analisar o padro de venao, as folhas de Celtis iguanaea (Jacq.)
Sargent foram submetidas ao processo de diafanizao, segundo mtodo proposto
por Shobe e Lersten (1967), com as seguintes modificaes: clarificao com
soluo de hidrxido de sdio a 10% (24 a 48 horas), aps este perodo, as folhas
foram lavadas em gua destilada com 3 trocas de 10 minutos cada; em seguida
foram colocadas numa soluo de hipoclorito de sdio a 12% (1 hora), lavando
34
novamente em gua destilada 3 trocas, 10 minutos cada; logo aps foram
desidratadas em srie etanlica crescente (30, 50, 70, 95%, por 20 minutos em
cada etapa); logo a seguir passagem em soluo de xileno-etanol a 100% 1:1 (1
hora); e colorao com safranina 1% em mistura de etanol 100% e xilol (1:1 v/v). As
folhas foram distendidas em placas de vidro, tendo como meio de montagem resina
sinttica (PAIVA et al., 2006) e escaneadas. Para a descrio e classificao do
padro de nervao utilizou-se os tipos bsicos definidos por Hickey (1979). As
imagens obtidas foram registradas por mquina digital Sony (MPEG-VX).
3.4.2 Descrio microscpica
Fez-se seces de aproximadamente 1,0 x 0,5 cm na folha fresca, mo
livre, nas seguintes regies da lmina foliar: segmentos da nervura principal, regio
internervural e bordos. Na regio mediana do pecolo fez-se seces de
aproximadamente 0,5 cm. Estas seces foram fixadas com FPA (formaldedo a
37% PA, cido propinico PA e etanol a 70%) na proporo de 1:1:18 (v/v) por 3
dias e posteriormente conservadas em etanol 70% (JOHANSEN, 1940; KRAUS;
ARDUIN, 1997).
Foram realizados cortes transversais, mo livre e com o auxlio do
micrtomo de mesa, do pecolo, nervura principal, internervura e bordos (base,
regio mediana e pice) da lmina foliar. Estes cortes foram clarificados com
hipoclorito de sdio a 30% (v/v), lavados com gua destilada, neutralizados com
cido actico a 5%, novamente lavados com gua destilada, finalmente submetidos
ao processo de dupla colorao azul de alcian/safranina (9:1) e montados em lmina
com glicerina a 50% (v/v) conforme tcnica adaptada de Bukatsch (1972 apud
KRAUS; ARDUIN, 1997). Os cortes paradrmicos da lmina foliar fresca foram
tratados de maneira semelhante.
Alguns cortes foram submetidos ao reagente de Steinmetz (COSTA, 2001) a
fim de conhecer alguns constituintes celulares, tais como, amido, celulose, lignina,
suberina, lipdeos diversos, ltex, gomo-resinas e cutina.
As fotomicrografias referentes s estruturas anatmicas foram feitas em
fotomicroscpio modelo ZEISS-AXIOSKOP, com utilizao de filme fotogrfico
Kodacolor ASA 100. As escalas que acompanham as ilustraes foram obtidas nas
mesmas condies pticas.
35
3.5 OBTENO E PREPARAO DO EXTRATO
As folhas do esporo-de-galo (Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent) foram
dessecadas em estufa a 40C com ventilao forada e, em seguida, trituradas em
moinho de facas tipo Willey.
O extrato aquoso das folhas do esporo-de-galo (EAEG) foi obtido por infuso
do p das folhas a 3% (p/v) a uma temperatura de 80C por 30 min, com agitao a
cada 10 min. Aps filtrao vcuo, o filtrado foi concentrado sob presso reduzida,
a uma temperatura de 45C. Posteriormente foi determinado o rendimento do extrato
pelo mtodo do peso seco. Foram feitas sucessivas diluies do EAEG a fim de se
obter concentraes de 7, 20 e 60 mg/mL, concentraes estas, utilizadas nos
experimentos. As solues do EAEG foram sempre preparadas imediatamente antes
do seu uso com gua filtrada.
3.6 MTODOS FITOQUMICOS
3.6.1 Determinao do teor de cinzas totais
Pesou-se 3 g do p das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent em
cadinho de porcelana previamente calcinado a 500 C, resfriado e pesado. O
material botnico foi distribudo de forma uniforme, incinerado em mufla at
obteno de cinzas claras, com temperatura no ultrapassando 450C. Aps, o
material foi resfriado em dessecador, pesado e calculada a porcentagem de cinzas
totais em relao amostra inicial (FARM. BRAS. IV, 1988). O experimento foi
realizado em triplicata.
3.6.2 Determinao do teor de cinzas insolveis em cido
Ferveu-se o resduo obtido na determinao de cinzas totais durante 5
minutos com 25 mL de HCl SR em cadinho coberto com vidro de relgio.
Posteriormente o vidro de relgio foi lavado com 5 mL de gua quente e o contedo
da lavagem depositado no cadinho. Recolheu-se o material insolvel em cido
sobre papel de filtro isento de cinza, lavou-se com gua quente at que o filtrado se
tornasse neutro. Transferiu-se o papel de filtro contendo o resduo para o cadinho
36
original, secou-se sobre chapa quente e incinerou-se a cerca de 500C at peso
constante (FARM. BRAS. IV, 1988). O teste foi realizado em triplicata. Calculou-se a
porcentagem de cinzas insolveis em cido em relao a amostra inicial.
3.6.3 Determinao do teor de gua
Pesou-se 3 g do p de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent foram em cadinho de
porcelana previamente calcinado a 100-105C por 30 minutos e resfriado. A
dessecao foi realizada temperatura de 100-105C durante 5 horas antes da
primeira pesagem. Continuou o processo com pesagens em intervalos de 1 hora. O
teste foi concludo foi concludo quando no houve variao maior que 5 mg entre
duas pesagens consecutivas, considerando o peso constante (FARM. BRAS. IV,
1988). A determinao do teor foi realizada em triplicata.
3.6.4 Prospeco fitoqumica
A anlise qualitativa das principais classes de metablitos secundrios
presentes nas folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent, coletadas no municpio de
Campestre-GO, foi realizada na amostra pulverizada. Utilizou-se, nos experimentos,
metodologias adaptadas de Costa (2001), Matos (1989) e Matos e Matos (1989),
descritas a seguir.
3.6.4.1 Pesquisa de heterosdeos antraquinnicos
Para a pesquisa dos possveis heterosdeos antraquinnicos, presentes na
amostra pulverizada, pesou-se 1 g da amostra e acrescentou-se 30 mL de etanol
75% (v/v). A mistura foi aquecida durante 3 minutos em chapa quente e, em
seguida, filtrada ainda quente atravs de papel de filtro.
Para a caracterizao dessa classe de metablitos secundrios transferiu-se
10 mL do filtrado para um bquer de 40 mL que foi designado (I) e 10 mL para outro
bquer que foi designado (II). O contedo do bquer (I) foi acidificado com 0,5 mL
de HCl a 10% (v/v) e levado fervura por 2 minutos em chapa aquecedora, sendo
que com o contedo do bquer (II) fez-se o mesmo procedimento, exceto a
acidificao.
37
Os lquidos foram transferidos para tubos de ensaio desiginados de (I) e (II),
respectivamente e aps o resfriamento, adicionou-se, a cada um, 10 mL de ter
etlico P.A., agitando-os levemente. Em seguida, separou-se 5 mL da fase etrea
dos tubos (I) e (II), e acrescentou-se 4 mL de amnia 50% (v/v) em cada um,
deixando-os em repouso por 5 minutos. Colorao do rseo ao vermelho na fase
amoniacal foi considerada reao positiva para heterosdeos antraquinnicos.
3.6.4.2 Pesquisa de heterosdeos digitlicos
Para a extrao dos possveis heterosdeos digitlicos presentes na amostra
pulverizada pesou-se 2,5 g da amostra pulverizada, adicionou-se 25 mL de etanol
50% (v/v) e 10 mL de soluo de acetato de chumbo 10% e levou-se fervura por 4
minutos. Aps o resfriamento, o volume foi completado para 25 mL com etanol 50%
(v/v) e filtrado. Transferiu-se o filtrado para um funil de separao e extraiu-se por 2
vezes com 15 mL de clorofrmio P.A. A frao clorofrmica foi utilizada nas reaes
de pesquisa de heterosdeos digitlicos descritas abaixo:
3.6.4.2.1 Reao de Liebermann-Burchard (reao de caracterizao do ncleo
esteride): Transferiu-se 3 mL da frao clorofrmica para um tubo de ensaio e
levou-se secura em banho-maria. Ao resduo do tubo, adicionou-se 1 mL do
reagente de Liebermann-Burchard, recm preparado (1 mL de clorofrmio P.A., 1
mL de anidrido actico P.A. e 3 a 4 gotas de cido sulfrico concentrado).
Aparecimento de cor do acastanhado ao esverdeado foi considerado reao
positiva.
3.6.4.2.2 Reao de Keller-Kiliani (reao que detecta desoxi-acares):
Evaporou-se, at a secura, 5 mL da frao clorofrmica num tubo de ensaio em
banho-maria. Ao resduo do tubo, adicionou-se um reagente recm-preparado que
contm cido actico glacial P.A. e cloreto frrico 9% na proporo de 3:0,1. O
contedo do tubo foi homogeneizado e lentamente vertido para outro tubo de
ensaio contendo 2 mL de cido sulfrico concentrado. Observou-se se houve
desenvolvimento de um anel de colorao castanho-avermelhada na zona de
contato, bem como se houve aparecimento de colorao azul-esverdeada na
camada actica.
38
3.6.4.2.3 Reao de caracterizao do ncleo ester ide: Evaporou-se 3 mL da
frao clorofrmica at a secura numa cpsula de porcelana em chapa aquecedora.
Acrescentou-se, ao contedo da cpsula, aps resfriamento, 3 a 6 gotas de cido
fosfrico concentrado. Observou-se, sob luz ultravioleta, o aparecimento de
fluorescncia esverdeada, o que indicaria reao positiva.
3.6.4.2.4 Reao de Kedde (reao especfica para o anel lactnico): Transferiu-
se 6 mL da frao clorofrmica para um tubo de ensaio e levou-se secura em
banho-maria. Ao resduo do tubo acrescentou-se 2 mL de etanol 50% (v/v), 2 mL de
gua destilada, 2 mL de reagente cido 3,5 dinitrobenzico a 1% recm-preparado
em etanol 96% (v/v) e 2 mL de hidrxido de potssio 1 M. Aps um repouso de 5
minutos observou-se o desenvolvimento de uma colorao castanho-avermelhada a
vermelho-violeta que indicaria reao positiva.
3.6.4.3 Pesquisa de heterosdeos flavonides
Para verificar, na amostra pulverizada, a presena de possveis heterosdeos
flavonides, pesou-se, 7 g da amostra e adicionou-se 60 mL de etanol a 70% (v/v).
Essa mistura foi fervida durante 5 minutos e filtrada em papel de filtro umedecido
com etanol a 70% (v/v).
Com o filtrado obtido anteriormente foram realizadas as seguintes reaes a
fim de caracterizar essa classe de metablitos secundrios:
3.6.4.3.1 Reao de Shinoda: Transferiu-se 3 mL do filtrado para um tubo de
ensaio. Adicionou-se cerca de 1 cm de fita de magnsio fina e acrescentou-se
cuidadosamente 1 mL de HCl concentrado. A presena de heterosdeos flavonides
na amostra seria observada pelo aparecimento de colorao vermelha.
3.6.4.3.2 Reao oxalo-brica : Evaporou-se 5 mL de soluo extrativa em uma
cpsula de porcelana. Juntou-se ao resduo semi-seco 3 mL de soluo de cido
brico a 3% e 1 mL de soluo de cido oxlico a 10%. Evaporou-se at secura e
adicionou-se, ao resduo seco, 7 mL de ter etlico P.A. Observou-se sob luz
ultravioleta a ocorrncia ou no de fluorescncia.
39
3.6.4.3.3 Reao com cido sulfrico concentrado: Adicionou-se 3 mL da
soluo extrativa numa cpsula de porcelana e deixou-se evaporar at a semi-
secura. Juntou-se 0,5 mL de cido sulfrico concentrado e observou-se sob luz
ultravioleta quanto ao aparecimento de fluorescncia.
3.6.4.3.4 Reao com hidrxidos alcalinos: Transferiu-se 3 mL da soluo
extrativa para um tubo de ensaio. Adicionou-se 1 mL de hidrxido de sdio a 20%,
agitou-se e observou-se o desenvolvimento de colorao amarela.
3.6.4.3.5 Reao com cloreto de alumnio: Transferiu-se cerca de 5 mL da
soluo extrativa para um bquer ou cpsula de porcelana. Concentrou-se
metade e transferiu-se para um pedao de papel de filtro espalhando sobre toda a
superfcie. A seguir, umedeceu-se uma das regies do papel com soluo de
cloreto de alumnio a 5% e observou-se sob luz ultravioleta quanto ao
aparecimento de fluorescncia.
3.6.4.3.6 Reao com cloreto frrico: Transferiu-se 3 mL da soluo extrativa
para um tubo de ensaio. Juntou-se 2 gotas de cloreto frrico a 4,5% e observou-se
o aparecimento de colorao azul escura, verde escura ou marrom que indicaria
reao positiva.
3.6.4.4 Pesquisa de heterosdeos saponnicos
Para a extrao dos possveis heterosdeos saponnicos presentes na
amostra pulverizada, pesou-se 1 g da amostra e adicionou-se em um bquer
contendo 100 mL de gua destilada. Essa mistura foi levada fervura em chapa
aquecedora por 5 minutos, adicionando-se, durante a decoco, carbonato de sdio
em soluo at a neutralizao, que foi observada utilizando-se fita indicadora de
pH. Logo em seguida, a mistura foi filtrada em algodo e ao filtrado acrescentou-se
gua destilada at completar um volume de 100 mL.
Para a caracterizao dessa classe de metablitos secundrios montou-se
uma bateria contendo 10 tubos de ensaio de tamanhos e dimetros iguais. Os tubos
de ensaio foram marcados em duas graduaes diferentes: a primeira
correspondente a 10 mL e a segunda 1 cm acima desta. Em seguida, adicionou-se
40
ao primeiro tubo 1 mL de soluo extrativa e 9 mL de gua destilada. Ao segundo
tubo, adicionou-se 2 mL de soluo extrativa e 8 mL de gua destilada. Ao terceiro
tubo adicionou-se 3 mL de soluo extrativa e 7 mL de gua destilada e assim por
diante. Ao ltimo tubo adicionou-se apenas soluo extrativa (10 mL). Aps essa
montagem, cada tubo foi vigorosamente agitado por 20 segundos e deixado em
repouso por 10 minutos. Observou-se o desenvolvimento ou no de espuma
persistente.
3.6.4.5 Pesquisa de taninos
Para a extrao dos possveis taninos presentes na amostra pulverizada,
pesou-se 2 g da amostra. Posteriormente, adicionou-se 50 mL de gua destilada e
ferveu-se durante 5 minutos. Em seguida, filtrou-se a mistura ainda quente,
utilizando-se papel de filtro. Completou-se o volume do filtrado obtido para 100 mL e
procedeu-se a pesquisa de taninos.
Foi montada uma bateria contendo 6 tubos de ensaio. A cada tubo adicionou-
se 5 mL da soluo extrativa e procedeu-se as seguintes reaes:
3.6.4.5.1 Reao com gelatina: Adicionou-se ao primeiro tubo, 5 gotas de soluo
de gelatina a 2,5% em soluo de cloreto de sdio a 5%. A presena de taninos na
amostra seria evidenciada pelo aparecimento de um precipitado branco.
3.6.4.5.2 Reao com alcalides: Adicionou-se ao segundo tubo, 5 gotas de
soluo de sulfato de quinino a 1% em cido sulfrico a 5%. Ao terceiro tubo,
adicionou-se 5 gotas de soluo de brucina a 1% em cido sulfrico 5%. A
presena de precipitado indicaria a existncia de taninos na amostra.
3.6.4.5.3 Reao com sais metlicos: Ao quarto tubo adicionou-se 5 gotas de
acetato de cobre a 4%. Ao quinto tubo acrescentou-se 2 gotas de cloreto frrico a
2%. O aparecimento de precipitado e colorao escura indicaria a existncia de
fenis na amostra.
3.6.4.5.4 Reao com hidrxidos alcalinos: Ao sexto tubo adicionou-se 5 gotas
de soluo de hidrxido de sdio ou potssio a 20%. A presena de fenis na
41
amostra seria observada pela ausncia de precipitado e aumento da colorao
amarela.
Para cada uma dessas reaes, paralelamente, foi preparado um tubo
controle com 5 mL de cido tnico 0,5% e os reagentes da reao correspondente,
a fim de comparar com o tubo teste.
3.6.4.6 Pesquisa de alcalides
Pesou-se 2 g da amostra pulverizada, adicionou-se 20 mL de cido sulfrico
a 5%. Ferveu-se por 3 minutos, filtrou-se em papel de filtro e deixou-se o filtrado
resfriar.
Esse filtrado foi submetido a pesquisa de alcalides utilizando os reagentes
gerais dos alcalides preparados de acordo com Costa (2001) e Assumpo e
Morita (1968). Abaixo esto descritos os reagentes e suas respectivas tcnicas de
preparo:
Reativo de Mayer: Dissolver em gua 2,71 g de cloreto de mercrio e 10 g de
iodeto de potssio e, em seguida, completar o volume para 200 mL com gua
destilada. Agitar e filtrar.
Reativo de Dragendorff: Dissolver 8 g de subnitrato de bismuto em 20 mL de
cido ntrico a 30%. Dissolver, em separado, 22,8 g de iodeto de potssio em um
volume mnimo de gua destilada. Verter a primeira soluo, pouco a pouco, sobre
a segunda. Deixar em repouso algumas horas e filtrar. Completar o volume com
gua destilada para 100 mL. Guardar ao abrigo da luz.
Reativo de Bouchardat: Dissolver 4 g de iodeto de potssio e 2 g de iodo em
100 mL de gua destilada.
Reativo de Bertrand: Dissolver 5 g de cido slico-tngstico em 100 mL de
gua destilada.
Reativo de Hager: Dissolver 2 g de cido pcrico em 100 mL de gua
destilada.
cido Tnico: Dissolver 1 g de cido tnico em 100 mL de gua destilada.
A soluo extrativa foi distribuda igualmente em 6 tubos de ensaio, sendo
que em cada tubo, respectivamente, acrescentou-se 3 a 9 gotas dos reativos gerais
para alcalides citados acima. Montou-se, em paralelo, uma outra bateria de 6
tubos de ensaio, contendo 3 mL de soluo padro de sulfato de quinina 1%. Em
42
cada um destes tubos adicionou-se 3 a 9 gotas dos respectivos reativos gerais para
alcalides a fim de servirem de padro com a primeira bateria de tubos testes.
A presena de alcalides demonstrada pelo aparecimento de precipitados
nos tubos.
3.6.4.7 Determinao do ndice de intumescncia (mucilagem)
Pesou-se exatamente 1 g do material vegetal pulverizado e colocou-se em
proveta de 25 mL (125 mm comprimento X 16 mm de dimetro interno) com tampa
esmerilhada. Foi medido o volume ocupado pela planta seca (Vi). Adicionou-se 25
mL de gua e agitou-se a cada 10 minutos por 1 hora. A mistura foi deixada em
repouso por 3 horas temperatura ambiente. Posteriormente o volume ocupado
pelo material vegetal intumescido foi medido (Vf) e calculou-se o valor mdio de 3
determinaes (FARM. BRAS. IV, 1988). O ndice de intumescncia (II) foi
calculado pela equao abaixo:
II = V f V i , onde V f = volume final da droga V i = volume inicial
43
3.7 AVALIAO DE ATIVIDADE FARMACOLGICA
3.7.1 Teste geral de atividade farmacolgica (scre ening hipocrtico)
Os animais foram tratados, pelas vias oral (gavagem), intraperitoneal e
subcutnea com EAEG nas doses de 13, 130 e 1300 mg/kg sendo que o grupo
controle recebeu veculo em volume proporcional. Em cada grupo foram tratados 3
animais por dose/via. Aps o tratamento, os animais foram observados em
deambulao livre sobre superfcie plana, durante 3 minutos, nos tempos de 5, 10,
20, 30 e 60 minutos; 4, 8, 24 e 48 horas e aps 4 e 7 dias dos tratamentos. Os
efeitos observados nos animais foram anotados em ficha padro de triagem
farmacolgica adaptada daquela descrita por Malone (1977).
Esta metodologia forneceu as doses que foram utilizadas nos testes de
atividade biolgica in vivo.
3.7.2 Avaliao da atividade antiulcerognica do EAEG em modelos
experimentais de lcera gstrica
3.7.2.1 Leses gstricas induzidas por indometacina em camundongos
Empregando-se a metodologia de Djahanguri (1969) foram utilizados grupos
experimentais de 9 a 13 camundongos. Os animais foram mantidos em jejum de 18
horas com acesso livre soluo de glicose 5%. Posteriormente, foram tratados
por via oral (gavagem) com veculo (gua filtrada 10 mL/kg), EAEG nas doses de 70,
200 ou 600 mg/kg ou com ranitidina 50 mg/kg, usada como controle positivo do
teste. Uma hora aps estes tratamentos, foi administrado indometacina na dose de
30 mg/kg (s.c.). Decorridas 3 horas da administrao do agente lesivo foi realizado
novo tratamento com o EAEG, veculo e ranitidina nas doses anteriores e pelas
mesmas vias. Aps 6 horas da administrao da indometacina os animais foram
submetidos a eutansia por deslocamento cervical e seus abdomens foram abertos,
os estmagos localizados, removidos, lavados externamente e abertos ao longo da
pequena curvatura. Os contedos gstricos foram desprezados e a mucosa do
estmago lavada, delicadamente, com salina. Os estmagos foram mantidos em
bquer com soluo salina gelada at a inspeo em estereoscpio.
44
O ndice de leso gstrica foi determinado segundo protocolo modificado do
pr-estabelecido conforme tabela proposta por Macabas et al. (1988).
Para a quantificao das leses da mucosa gstrica foi utilizado um ndice de
ulcerao, que considera o edema de mucosa, hemorragias e a intensidade de
ulcerao, alm do nmero total de lceras e petquias por cm2 da mucosa gstrica.
Na composio do ndice de leses foram consideradas as seguintes leses,
atribuindo-se a elas pontos relativos cuja soma reflete a intensidade da leso da
mucosa:
- descolorao da mucosa ................................................................................ 1 ponto
- edema ............................................................................................................. 1 ponto
- hemorragias .................................................................................................... 1 ponto
- perda de pregas da mucosa ............................................................................ 1 ponto
- cada 10 petquias ......................................................................................... 2 pontos
- lceras ou eroses de at 1 mm ........................................................... n X 2 pontos
- lceras ou eroses maiores de 1 mm ................................................... n X 3 pontos
- lcera perfurada .................................................................................... n X 4 pontos
onde n refere-se ao nmero de lceras encontradas (Macabas et al., 1988)
3.7.2.2 Leses gstricas induzidas por etanol em camundongos
Este experimento foi realizado de acordo com a metodologia de Robert et al.
(1979). Grupos experimentais de 7 a 9 animais foram mantidos em jejum de 18
horas com acesso livre soluo de glicose 5%. Foram tratados por via oral
(gavagem) com veculo (gua filtrada 10 mL/kg), EAEG nas dose de 70, 200 ou 600
mg/kg ou com ranitidina 50 mg/kg, usada como controle positivo do teste. Uma hora
aps estes tratamentos, foi administrado etanol (75% v/v) na dose de 10 mL/kg.
Aps 60 minutos da administrao do agente necrotizante os animais foram
eutanasiados e o ndice de leso gstrica foi determinado como descrito no item
3.7.2.1.
3.7.2.3 Leses gstricas induzidas por estresse em camundongos
Segundo a metodologia descrita por Senay e Levine (1967), camundongos,
aps jejum de 18 horas com acesso livre soluo de glicose 5% foram divididos
45
em 5 grupos, de 9 a 11 animais, que foram tratados por via oral com veculo (gua
filtrada 10 mL/kg), EAEG nas dose de 70, 200 ou 600 mg/kg ou com ranitidina 50
mg/kg, usada como controle positivo do teste. Aps uma hora dos tratamentos os
animais foram anestesiados com ter, imobilizados com fita crepe, colocados em
contensores individuais e mantidos em cmara fria (a 4C) por duas horas. Aps
este perodo os animais foram retirados, liberados das amarras e eutanasiados por
deslocamento cervical e o ndice de leso gstrica determinado como no item
3.7.2.1.
3.7.3 Avaliao da atividade do EAEG na secreo c ida gstrica
3.7.3.1 Ligadura pilrica em camundongos para determinao de volume e acidez
livre e total da secreo gstrica
De acordo com a metodologia de Visscher et al. (1954), camundongos foram
mantidos em jejum de 18 horas com livre acesso soluo de glicose a 5%. Os
camundongos foram divididos em grupos de 8 animais e posteriormente
anestesiados com ter e fixados em decbito dorsal em placa de cortia. Atravs de
uma inciso de cerca de 2 cm no abdmen, o estmago foi localizado e procedeu-se
a ligadura do piloro com linha cordon. Os animais foram tratados pela via
intraduodenal com o veculo (gua filtrada 10 mL/kg), EAEG (70, 200 ou 600 mg/kg)
ou com ranitidina 50 mg/kg, usada como controle positivo do teste. A parede do
abdmen foi suturada e aps quatro horas da cirurgia, os animais foram
eutanasiados por deslocamento cervical. O esfago foi pinado, o estmago
removido e aberto pela curvatura menor, e medidos o volume, o pH e a acidez total
do contedo estomacal.
O volume secretado foi determinado por medida direta (em provetas), a
acidez livre foi determinada em pHmetro e a acidez total (mEq[H+]/L/4 h) por
titulao com NaOH 0,1 N, utilizando fenolftalena 2% como indicador.
46
3.7.4 Avaliao da atividade do EAEG na motilidade gastrintestinal em
camundongos
3.7.4.1 Trnsito intestinal
Esse mtodo, proposto por Stickney e Northup (1959), consiste na
administrao de um marcador colorido (carvo ativado) e na avaliao do trajeto do
mesmo no intestino delgado durante um perodo de tempo. Grupo de 7 a 10
camundongos, em jejum de 6 horas (com acesso livre a gua), foram tratados por
via oral com gua filtrada 10 mL/Kg ou EAEG (70, 200 e 600 mg/kg). Aps uma
hora dos tratamentos, foi administrado soluo de carvo ativado 60 mg/mL na dose
de 10 mL/kg. Aps uma hora da administrao da soluo de carvo, os animais
foram eutanasiados por deslocamento cervical e seu intestino delgado exposto para
se verificar o espao do trato gastrointestinal percorrido pelo carvo, considerando-
se como 100% a extenso da regio gastropilrica at a juno ileocecal.
3.8 ANLISE ESTATSTICA
Os dados foram expressos como mdias erro padro das mdias. As
diferenas entre os dois grupos foram detectadas pelo teste t de Student e entre trs
ou mais grupos pela anlise de varincia (ANOVA), seguida do teste de Dunnett.
As diferenas foram consideradas significativas quando p
47
4 RESULTADOS
4.1 PROCESSO EXTRATIVO
O extrato aquoso foi obtido por infuso das folhas de esporo-de-galo. A
concentrao final aps evaporao foi de 65 mg/mL e o rendimento do processo
extrativo foi de 20%.
4.2 DESCRIO MORFO-ANATMICA
4.2.1 Descrio macroscpica
Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent apresentou-se como um arbusto ramoso com
ramos escandentes em forma de zigue-zague, com folhas alternas opostas com
um ou dois espinhos estipulares curtos (Figs. 3A e 3B). As folhas, speras ao tato,
possuem pice agudo, bases oblquas e s vezes assimtricas, nervuras
proeminentes na superfcie abaxial, pecolos canaletados curtos (cncavo-
convexos), podendo ser ovado-oblongas ou ovadas (Figs. 3C e 3D), medindo de 5 a
13 cm de comprimento e 3 a 7 cm de largura, com padro de venao do tipo
actindromo (Fig. 3E). As flores so dispostas em pequenas inflorescncias cimosas
bparas axilares e de colorao esverdeada (Figs. 3A e 3B).
48
A
B
C
D
E
Figura 3: Caractersticas morfolgicas das folhas de Celtis iguanaea (Jacq.) Sargent.
A Aspecto geral dos ramos com folhas e flores
B Detalhe de ramo com flores
C Detalhe da folha com vista frontal da epiderme adaxial
D Detalhe da folha com vista frontal da epiderme abaxial
E Detalhe da folha aps diafanizao
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4.2.2 Descrio microscpica
Em seco paradrmica observa-se na epiderme adaxial tricomas tectores
curtos unicelulares com paredes silificadas e com rugosidades (Figura 4A e 5A) e
clulas epidrmicas poligonais de tamanhos variados, paredes anticlinais retas e
espessadas, s vezes dispostas em crculo envolvendo litocistos, clulas que
contm cistlitos, em vista frontal (Figura 4B).
A epiderme abaxial em seco paradrmica apresenta estmatos e clulas
epidrmicas de paredes retas a onduladas, tricomas tectores longos, pluricelulares
e unisseriados (Figura 4C, 4D e 5B). Observa-se tambm tricomas unicelulares
longos (Figura 5B e 5C).
A seco transversal da regio internervural apresenta epiderme adaxial
uniseriada. Parnquima palidico unisseriado com idioblastos contendo