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Vem dançar! A animação de quem faz dança de salão Pág. 11 Huumummmm... Conheça o sacolé de Coco do Mimiu Pág. 15 40 Ano IV, N o abril de 2013 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita Centro de Artes Últimos espetáculos da Tempo- rada Maré de Artes Cênicas Pág. 15 Ouvimos diretores de escola, professo- res, equipes de apoio e pais de alunos das escolas municipais e levamos as questões para o novo coordenador regio- nal de Educação (4ª CRE), Eduardo Alves Fernandes, que se mostrou empenhado em buscar melhorias para a Maré. Em 25 de maio, acontecerá o III Seminário de Educação da Maré, que pretende ampliar este debate. Pág. 8 e 9 Carlos Eduardo, gari do Ciep Elis Regina, amplia o co- nhecimento dos alunos sobre personagens famosos, fazendo caricaturas. Pág. 3 Segunda edição da exposição “Travessias - Arte Contemporânea na Maré” vai de 13 de abril a 23 de junho, na Nova Holanda, reunindo artistas como Carlos Vergara, Ernesto Neto, Vik Muniz e o mora- dor Ratão Diniz, que é fotógrafo do Imagens do Povo. A progra- mação paralela terá debates com MV Bill, Fernanda Abreu, Marcelo D2, Marcelo Yuca, entre outros. Pág. 12 e 13 Pesquisadora da Fundação Ge- túlio Vargas diz que as UPPs não respeitam o morador de fa- vela como cidadão. Muito pelo contrário: as políticas públicas têm sido de- cididas sem diálogo com a comunidade. Leia também o artigo de Atila Roque, da Anistia In- ternacional. Pág. 4 e 5 Pela educação de qualidade Um gari bom de traço Arte que atravessa a nossa Maré Pacificação ou militarização? Pablo Ramos (montagem) Pablo Ramos (montagem) Arquivo pessoal 14 / Luisa Mello Divulgação / FGV Elisângela Leite Nova coluna Conheça os Seus Direitos Pág. 6 e 7 Aramis Assis

Maré de Notícias #40

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Leia este mês no Maré de Notícias: Entrevista com o novo coordenador da 4ª CRE e com a pesquisadora da FGV sobre UPP; Gari caricaturista; 2ª edição do Travessias; Sacolé de côco; Dança de salão e muito mais

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Vem dançar!

A animação de quem faz dança de salãoPág. 11

Huumummmm...

Conheça o sacolé de Coco do MimiuPág. 15

40Ano IV, No abril de 2013 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita

Centro de ArtesÚltimos espetáculos da Tempo-

rada Maré de Artes Cênicas

Pág. 15

Ouvimos diretores de escola, professo-res, equipes de apoio e pais de alunos das escolas municipais e levamos as questões para o novo coordenador regio-nal de Educação (4ª CRE), Eduardo Alves Fernandes, que se mostrou empenhado em buscar melhorias para a Maré. Em 25 de maio, acontecerá o III Seminário de Educação da Maré, que pretende ampliar este debate. Pág. 8 e 9

Carlos Eduardo, gari do Ciep Elis Regina, amplia o co-nhecimento dos alunos sobre personagens famosos, fazendo caricaturas. Pág. 3

Segunda edição da exposição “Travessias - Arte Contemporânea na Maré” vai de 13 de abril a 23 de junho, na Nova Holanda, reunindo artistas como Carlos Vergara, Ernesto Neto, Vik Muniz e o mora-dor Ratão Diniz, que é fotógrafo do Imagens do Povo. A progra-mação paralela terá debates com MV Bill, Fernanda Abreu, Marcelo D2, Marcelo Yuca, entre outros.

Pág. 12 e 13

Pesquisadora da Fundação Ge-túlio Vargas diz que as UPPs não respeitam o morador de fa-vela como cidadão. Muito pelo contrário: as políticas públicas têm sido de-cididas sem diálogo com a comunidade. Leia também o artigo de Atila Roque, da Anistia In-ternacional. Pág. 4 e 5

Pela educação de qualidade

Um gari bom de traço

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Pacificação ou militarização?

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Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012,

Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531

www.redesdamare.org.br [email protected]

Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Parceiros:

(Mtb – 29919/RJ)Rosilene Miliotti

Fabíola Loureiro (Estagiária)

Fotógrafa Elisângela Leite

Projeto gráficoe diagramação

Pablo Ramos

Logotipo Monica Soffiatti

Colaboradores Anabela Paiva

André de LucenaAydano André Mota

Flávia Oliveira

Coord. de distribuição Givanildo Nascimento

Impressão Gráfica Jornal do Commércio

Tiragem 40.000 exemplares

Leia nosso Maré na internet e baixe o PDF:www.redesdamare.org.br.

Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré

Diretoria Andréia Martins

Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva

Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir

Patrícia Sales Vianna

Coordenação de ComunicaçãoSilvia Noronha

Instituição Parceira Observatório de Favelas

Apoio Ação Comunitária do Brasil

Administraçãodo Piscinão de Ramos

Associação Comunitária

Roquete Pinto

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores do Parque Ecológico

Associação de Moradores do Parque Habitacional

da Praia de Ramos

Associação de Moradores do Parque Maré

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Associação de Moradoresdo Parque União

Associação de Moradores

da Vila do João

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon

Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa

Conexão G

Conjunto Habitacional Nova Maré

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Luta pela Paz

União de Defesa e Melhoramentos do Parque

Proletário da Baixa do Sapateiro

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

Repórteres e redatores Aramis Assis

Hélio Euclides

EDIT

OR

IAL

Editorial

Maré na biblioteca

Renovamos o interesse em continuar recebendo esse título – somente 1 exemplar. Favor enviar números que nos faltam (edições 13 e posteriores).

Debra McKern The U.S. Library of Congress Office

Estamos implantando um novo sistema de distribuição do Maré de Notícias. Desde fevereiro, a maior parte das 16 comunidades está recebendo um grupo de distribuidores que tem deixado o jornal de porta em porta. Mas atenção: todas as associações de moradores da Maré e as instituições parceiras do jornal continuam tendo exemplares para distribuir aos interessados. Pegue seu exemplar a partir do dia 15 de cada mês!

Educação de qualidade

A matéria de capa desta edição retorna a um dos assuntos mais importantes para a Maré: educação pública de qualidade. Na verdade, tudo que envolve políticas públicas muito nos interessa. Afinal, na Maré, nós temos serviços e equipamentos públicos, mas falta qualidade. No caso da educação (como poderá ser lido na página central), faltam qualidade e também quantidade. Isto porque as salas de aula estão cheias demais, o que prejudica o ensino.

A boa notícia é que alguns dos problemas estão sendo resolvidos e há perspectivas de melhorias na educação da Maré. Apresentamos também duas histórias bacanas que descobrimos em escolas municipais. Na pág. 3, você vai conhecer o gari desenhista do Ciep Elis Regina; e na pág. 10, mostramos a nova oficina de educação ambiental do Ciep Capanema.

E ainda no campo dos nossos direitos, as próximas páginas trazem debates sobre UPP (4 e 5) e ainda uma nova coluna, que visa informar melhor o leitor sobre seus direitos de cidadão (pág. 6 e 7).

Cultura não pode faltar. O Travessias 2 já está dando o que falar, movimentando a Maré até junho. Acompanhe a programação do evento nas páginas 12 e 13.

Este mês, o Maré de Notícias chegou à 40ª edição. A biblioteca da Redes, na Rua Sargento Silva Nunes, na Nova Holanda, tem toda a coleção do jornal. Faça-nos uma visita! Se preferir, peça o pdf das edições atrasadas por e-mail: [email protected]

Boa leitura!

Humor: “Enquanto isso, no espaço” - André de Lucena

Carta

Distribuição do Maré de Notícias

Expediente

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Gari desenhista alegra a criançadaFuncionário do Ciep Elis Regina expõe desenhos e estimula

a imaginação dos alunos da Maré

quando os amigos começaram a incentivá-lo a se profissionalizar. Assim, Carlos iniciou o aperfeiçoamento da sua técnica, explorou a pintura e a caricatura e começou a oferecer seus serviços.

Casado, pai de duas crianças e morador de Guadalupe, bairro da zona norte do Rio, Carlos realiza trabalhos sob encomenda, como pintura de paredes e tecidos, painéis para festas, trabalhos escolares e caricaturas, essa última que mais lhe dá prazer. “Gosto de caricatura debochada. É uma diversão fazer a dos colegas, eles se amarram.

Também fico muito feliz quando mostro meu trabalho e alegro as pessoas”, conta.

Para ele, que sonha em cursar uma faculdade de artes visuais, bom astral é o que o motiva a desenhar, sua maior inspiração para a

criatividade.

O que é caricatura? A caricatura é uma representação cômica,geralmente de pessoas, como políticos e artistas, que mostra de formaexagerada as características do personagem ou do objeto retratado.

Aramis Assis

Quando criança, corria pra debaixo da mesa, cruzava as pernas e com lápis de cor fazia o que mais lhe dava prazer: desenhar. Até hoje o desenho é uma das maiores inspirações de vida do gari Carlos Eduardo Albuquerque de Souza, que se emociona ao ver a filha desenhando debaixo da mesa, assim como ele, herdeira da sua vocação.Carlos é carioca, tem 37 anos e há 8 anos “ama” seu trabalho como “operador de vetores” (profissão conhecida como gari), no Ciep Elis Regina, entre o Parque Maré e a Nova Holanda. Autodidata, Carlos encanta os alunos. Figura querida por todas as crianças do Ciep e até mesmo das escolas vizinhas, ele sempre é convocado para desenhar nos cadernos dos alunos.

“A arte abre um mundo de possibilidades para as crianças”, afirma. No final de 2012, ele expôs no Ciep caricaturas de grandes personagens negros do Brasil.

Desde criança se diferenciava pela sua persistência em fazer desenhos perfeitos, porém como não tinha incentivo da família e da escola, só descobriu que tinha talento para a área aos 17 anos,

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Silvia Noronha

Pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) afirma que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não se baseiam em princípios democráticos nem promovem a autonomia da população das áreas populares. A opressão continua, diz Sonia Fleury, doutora em Ciência Política e professora da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da FGV, onde coordena o Programa de Estudos sobre a Esfera Pública. Sonia chama as UPPs de “militarização” por praticar um “controle militar” sobre moradores e trabalhadores das favelas. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Maré de Notícias: Qual é a sua percepção sobre as UPPs?

Sonia Fleury: A questão é complexa, porque tem vários aspectos. É claro que a UPP significa a liberdade de ir e vir dos cidadãos, especialmente daqueles que estão no “asfalto” e agora podem ocupar os espaços de lazer das favelas. Mas o preconceito continua igual. Não sei se os meninos da favela forem ao shopping, se eles serão tão bem recebidos quanto o pessoal do “asfalto” que vai à favela para as festas.

Além disso, a população nessas áreas passa a ter um controle militar. Então é problemático, porque a UPP representaria maior autonomia para os moradores se eles fossem respeitados como cidadãos, mas se você começa a colocar toque de recolher, se não pode ter baile funk, se começa a controlar as manifestações sociais, culturais, se há um controle militar disso, eu não posso dizer que as pessoas têm mais autonomia.

Maré: Qual a avaliação do ponto de vista democrático?

Sonia: Democracia envolve a possibilidade de os cidadãos participarem da decisão das políticas públicas. Toda a construção da Constituição Federal de 1988 foi nesse sentido, de construir conselhos e formas para que a população pudesse ser ouvida n a s suas demandas e ter seus interesses inseridos. No entanto, essa

Entr

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sta UPP exatamente para quê?

Pesquisadora reflete sobre a função das Unidades de Polícia Pacificadora:Pacificação ou militarização?

não é uma política da chamada pacificação, que é uma militarização.

Nas UPPs, há uma série de fóruns para os quais a população é convocada, mas para que os moradores sejam notificados sobre remoções e outras decisões que já foram tomadas. Não é para a população ser ouvida, não é um processo de diálogo, de criar alternativa; é um processo de diminuição das tensões. Ou seja, é a mesma insegurança. E cidadania representa segurança em relação ao futuro, à política pública, à capacidade de sobreviver; e as pessoas estão muito inseguras, inclusive

sobre a sustentabilidade dessa política. A UPP é uma política muito localizada, uma política direcionada pelo eixo do controle sobre aquela população e não pela sua participação.

Maré: A chamada “pacificação” tenta tornar as pessoas menos críticas?

Sonia: Essa política pública não corresponde a um projeto de cidadania, porque ela não leva ninguém a pensar, inclusive nós da área acadêmica também não podemos falar nada sobre UPP. Todas as outras políticas públicas são discutíveis: saúde, educação, transporte. UPP não. Se você levantar alguma discussão, você é visto como resistência a essa política pública; e se está resistindo é porque é a favor do que estava antes. Mas não é nada disso. Essa é uma falsa sinuca que se quer colocar tanto ao meio acadêmico quanto à

população, que é o amordaçamento.

Maré: Tenta-se o silêncio?

Sonia: Falar desestabiliza o projeto de mercadoria que é o Rio de Janeiro dos megaeventos. É como se tudo tivesse se transformado em mercadoria e o

silêncio faz parte disso. Só pode falar das coisas boas, porque senão não vende a cidade. Mesmo assim a população tem se reunido e resis-tido de várias formas, por exemplo, preventivamente, como vocês fize-ram com a cartilha (da campanha “Somos da Maré e Temos Direitos”); seja de outras formas, através de discussões, procurando a Defen-

soria Pública, como está acontecendo na Providência no caso das remoções, seja buscando o Poder Legislativo.

Na próxima edição, Sonia Fleury fala sobre opressão e emancipação, e sobre os interesses das grandes empresas associados à UPP.

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O sistema de segurança e justiça no Brasil permanece profundamente marcado por uma noção de controle social voltada basicamente para a criminalização das populações pobres e negras, em particular dos jovens meninos e adolescentes residentes nas favelas e periferias de nossas cidades. Para esses jovens, o encontro com o agente de segurança quase sempre resulta em violência e, muitas vezes, em morte.Os dados de homicídios provocados por policiais no Brasil se encontram entre os mais altos do mundo. A superação desse estado de coisas e a promoção de uma reforma profunda no sistema de segurança brasileiro permanece como uma das tarefas inacabadas da transição democrática.

O déficit de confiança existente entre as polícias e as populações das favelas corrói a legitimidade do Estado e precisa ser enfrentado em toda a sua complexidade, se quisermos dar um salto de qualidade no sentido da construção de uma política de segurança que seja expressão de um pacto efetivo para a realização de direitos e não instrumento de sua violação. Para isso é essencial a plena participação dos moradores e um diálogo amplo com o restante da cidade.

A ocorrência cada vez mais frequente de conflitos e mortes nas favelas ocupadas pela polícia tem deixado bem claro que a janela de oportunidade aberta com a experiência das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) começa a se fechar muito rapidamente. As práticas policiais nas favelas “pacificadas” não estão conseguindo superar um conceito original de “ocupação” profundamente marcado por uma concepção de cidade que não inclui a favela como parte de uma comunidade de direitos a ser compartilhada

A segurança com a qual sonhamosAtila Roque - Diretor Executivo, Anistia Internacional Brasil

integralmente por todas as pessoas que nela residem, sem exceção.

O que temos visto é a persistência de uma narrativa de guerra que demarca os territórios de favelas como

espaços a serem retomados de um exército inimigo (o tráfico), ocupados pela polícia e pacificados. As populações seriam, nessa versão, expectadores passivos desse esforço “liberador”, testemunhas “bestializadas” da história, como se disse uma vez do povo em relação a Proclamação da República.

A perspectiva de instalação, em breve, de uma UPP no conjunto de favelas da Maré deu origem à parceria inovadora entre a Redes da Maré, o Observatório de Favelas e a Anistia Internacional, com o objetivo principal de garantir o protagonismo dos cidadãos e cidadãs residentes neste território, na garantia de seu direito fundamental à segurança pública.

A campanha “Somos da Maré e Temos Direitos” é um

resultado importante nessa colaboração e deu prosseguimento a um processo de reflexão que já vinha em curso sobre o papel da cidadania ativa, especialmente das populações de favelas, na construção de uma política de segurança consistente com os princípios fundamentais dos direitos humanos. É preciso aproveitar o momento atual para ampliar a conversação sobre a segurança pública com a qual sonhamos para o Brasil e para o Rio de Janeiro. As favelas não constituem territórios de “exceção” de direitos, “conflagrados”, onde tudo é permitido em nome da “pacificação”.

As pessoas que aqui vivem exigem ser protagonistas plenos de um projeto de cidade que tenha a segurança pública como um direito fundamental de todas as pessoas, sem distinção do lugar onde residem. Um sistema de segurança pública que provoque orgulho nos profissionais que nele atuam e confiança nos cidadão e cidadãs que dele se beneficiam.

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O mundo é nosso e o direito é de todos!

O Maré de Notícias lança nesta edição uma nova coluna, destinada a tratar dos direitos da população. Os temas serão abordados em oito edições, com o ob-jetivo de ampliar o conhecimento sobre equipamentos e ferramentas públicas que podem ser acionadas pelo cidadão, sempre que necessário. A série é assi-nada pela Equipe Social da Redes da Maré, formada por uma psicóloga e as-sistentes sociais que acompanham os projetos da instituição e estão sempre em contato direto com moradores. Co-nheça os assuntos:

- Direitos humanos- Direitos previden-ciários; - Equipamen-tos de saúde e as diferen-tes portas de entra-da (saúde da família, alta com-plexidade etc.);- Direitos da criança e do adoles-cente; - Gênero e di-versidade; - Questão racial;- Bolsa Família e Car-tão Família Carioca; e - Direitos da mulher.

Leia, guarde, pendure esta página em locais

públicos para que mais pessoas possam

conhecer os seus direitos.

Prefeitura volta a dialogar com associações de moradores

Silvia Noronha Elisângela Leite

O vice-prefeito do Rio, Adilson Pires, assumiu o compromisso de retomar os encontros com os presidentes das associações de moradores, para dialogar e estabelecer prazos de execução das demandas locais. Em 25 de março, Adilson participou da reunião do coletivo A Maré que Queremos, na Nova Holanda. O projeto reúne os presidentes das 16 associações, em parceria com a Redes da Maré. Em maio do ano passado, o prefeito Eduardo Paes já havia participado de uma reunião do grupo. Na ocasião, ele recebeu o documento elaborado pelo coletivo com propostas estruturantes para a melhoria da qualidade de vida nas favelas do bairro.

“Proponho retomar o documento para apresentar o prazo das ações e assumir um compromisso com data, com prazo para as coisas acontecerem aqui”, declarou o atual vice-prefeito. O coletivo ficou de atualizar as propostas para marcar uma nova reunião ainda neste mês de abril. “A prefeitura tem entendimento da importância da Maré no contexto da cidade”, frisou Adilson.

Mais garis nas ruasUm dos problemas estruturais já discutidos na reunião foi a coleta de lixo. O diretor de Serviços da Comlurb, Luis Guilherme Gomes, adiantou que irá aumentar gradativamente o efetivo da companhia na Maré. Segundo ele, atualmente são 36 garis da Comburb e 72 comunitários, sendo 68 na ativa e quatro de licença.

De acordo com ele, o número ideal é um gari para cada mil habitantes. Na Maré, portanto, deveria haver um total de 130, se considerarmos o Censo do IBGE, que indicou a existência de 130 mil moradores. Entretanto, o Censo Maré, cujos dados estão sendo tabulados, deve revelar uma população local maior.

Luis Guilherme lembrou que a contratação de garis comunitários foi questionada pelo Ministério Público do Trabalho. Mesmo contrariada, a prefeitura deverá ser obrigada a substituí-los.

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O mundo é nosso e o direito é de todos!

Direitos Humanos: provavelmente você já ouviu falar sobre isso. Nos jornais, revistas, na televisão e na internet é possível acompanhar muitas notícias e discussões que têm a ver com esse assunto. Mas o que são os direitos huma-nos, afinal? Direitos Humanos estão relacionados a algumas noções e valores, tais como: cidadania, democracia, igualdade, liberdade, respeito, dignidade... para todos e todas, independente da raça, orientação sexual, idade, religião e classe social. Direitos Humanos, como o próprio nome já diz, são os direitos de todas as pessoas, sem distinção.

Mas nem tudo é assim tão “simples”. Pensando nisso, foram elaborados, ao longo da história, diversos documentos que nos ajudam a compreender os Direitos Humanos e nossa relação com eles. Entre esses documentos, o mais importante é a Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948.

No Brasil, há o Plano Nacional de Direitos Humanos III, de 2010. No Rio de Janeiro existe o Plano Estadual de Direitos Humanos, que

se encontra em fase de revisão e atualização. No ano passado, foi elaborado o Plano de Direi-

tos Humanos da Maré, com a participa-ção de moradores em parceria com

a Redes e outras instituições, le-vando em conta nossas parti-

cularidades. Há ainda outros documentos e leis rela-

cionados a esta temáti-ca. Estes documentos orientam a formulação de políticas públicas e intervenções nesta área.

E como podemos fazer para buscar a prevenção do desrespeito a esses direitos, a busca

por sua efetivação e a reparação nos

casos de violação? A seguir, listamos alguns

mecanismos que podem e devem ser acionados por

qualquer pessoa que avaliar necessário. Você pode acionar

esses serviços, por exemplo, em caso de violação de direitos da cidadania, da

população LGBT, da criança, do adolescente, da pessoa com deficiência, do idoso e de outros grupos sociais mais vulneráveis.

Disque Direitos Humanos (Disque 100 – ligação gratuita): É um serviço oferecido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), de discagem direta e gratuita, disponível para todos os estados brasileiros. Recebe denúncias de violações de Direitos Humanos e fornece o esclarecimento de dúvidas sobre alguns dos direitos da população. O serviço garante o sigilo da identidade do denunciante e pode ser acessado também pelo endereço eletrônico: [email protected].

Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj): A comissão atua na busca pela garantia dos Direitos Humanos no estado do Rio e recebe a população para a realização de denúncias sobre violação de direitos. Assembleia Legislativa - Palácio Tiradentes - Praça XV - CEP: 20010-090 - Telefone: (21) 2588-1309 ou 1308.

Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC/RJ): Tem a atribuição de atuar, inclusive por meio de Ação Civil Pública junto ao Poder Judiciário, para assegurar direitos coletivos, difusos e até mesmo na defesa dos interesses individuais indisponíveis, como a vida e a liberdade, entre outros. Apura e combate irregularidades em questões relativas a um amplo conjunto de temas, tais como: acesso à justiça gratuita; direito à memória e à verdade; liberdade de associação; liberdade religiosa; liberdade sexual; moradia adequada; segurança pública; sistema prisional; terra/reforma agrária; desastres naturais; tortura; tráfico de pessoas para fins de exploração sexual; condição análoga a de escravo; racismo, inclusive na internet. Av. Nilo Peçanha 23 - 7º andar - Sala 713 - Centro- CEP 20020-900 - Rio de Janeiro - Telefone: (21) 2107-9517

E-mail: [email protected]; ou [email protected]

Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDDH/RJ): O Conselho é um órgão composto por instituições públicas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil atuantes no campo dos Direitos Humanos. Ao Conselho compete, entre outras funções, apurar as denúncias de violações de Direitos Humanos ocorridas no estado do Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 2334-5528

E-mail: [email protected]

Estes são apenas alguns dos canais que podem ser acessados para a busca pela efetivação dos Direitos Humanos. Caso você tenha interesse neste assunto, por qualquer motivo, procure algum deles.

Primeiro tema:

Equipe Social da Redes da Maré[email protected] humanos

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As reclamações a respeito da qualidade da educação pública no país são ouvidas por toda parte, vindas de diferentes segmentos da sociedade. Na Maré não é diferente. Aqui também encontramos muito descontentamento. Em março, a equipe do Maré de Notícias foi às escolas municipais saber a opinião de diretores, professores, funcionários e pais de alunos. Voltamos com uma série de questões, entre elas a falta de professores e a necessidade de recuperação dos prédios públicos. Todos os pontos citados pelos entrevistados foram levados ao novo coordenador regional de Educação (4ª CRE), professor Eduardo Alves Fernandes, que assumiu o cargo este ano.

Eduardo é recém-chegado, mas em pouco tempo já demonstra amplo conhecimento sobre cada unidade. Um dos motivos para isso são as visitas que ele vem realizando às escolas para ampliar o diálogo entre todos os envolvidos. Contudo, a Maré não é o único foco de sua administração. Apesar do desmembramento da 4ª CRE – agora existe a 11ª CRE contemplando toda a Ilha do Governador –, Eduardo tem o desafio de administrar 148 escolas, na extensão de Manguinhos ao Jardim América.

Por uma educação de qualidadeVisitamos escolas públicas municipais e ouvimos diretores, funcionários, professores e pais. As questões apontadas foram levadas ao novo coordenador regional de Educação.

Todos foram unânimes: anseiam por uma educação com mais qualidade.

Nas estatísticas oficiais, a educação na Maré é insatisfatória. Na Prova Rio e na Prova Brasil, dois mecanismos de avaliação do grau de aprendizado dos alunos, a nota média da cidade está acima da média das escolas da Maré. “Estamos buscando solucionar dificuldades que podem acarretar essas notas ruins. Uma das medidas é a diminuição da carência de professores. Quero olhar o problema de frente e hoje nosso objetivo preferencial é alocar professores para a Maré”, assegura Eduardo.

Por aqui, a carência de professores em sala de aula se repete no início de cada ano letivo. Eduardo afirma que está resolvendo a situação.

“Isso está sendo solucionado com a dupla e a tripla regência. Além disso, estamos dando preferência ao ingresso de novos docentes na Maré. No passado, a Maré tinha um número de falta de educadores muito acima do restante da 4ª CRE; hoje esse número é igual. A Maré é prioridade para nossa administração”, declara ele.

Um dos motivos dessa ausência de professores é o processo de aposentadoria. No início do ano já havia 3.000 pedidos, sem contar os professores licenciados. A prefeitura abriu concurso para a contratação de profissionais PII (antigo primário). Com relação aos professores do 2º segmento (antigo ginásio), chamados de PI, não existe previsão de concurso. Os professores, segundo admite Eduardo, estão dando aulas em mais turmas, se dividindo o máximo para dar conta da demanda.

Seminário em 25 de maio

Para contribuir com este debate, no dia 25 de maio haverá o III Seminário de Educação da Maré, promovido pelo Programa

Criança Petrobras na Maré. O evento faz parte de uma série de ações direcionadas ao fortalecimento da educação pública na

Maré e tem como público profissionais de educação que atuam na região. Mais informações na Redes: 3105-5531. Acompanhe

também no site da Redes da Maré: www.redesdamare.org.br e no hotsite do PCP: redesdamare.org.br/pcp

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Para os Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI), a intenção é contratar mais professores. A notícia ruim é que o EDI da Praia de Ramos, reivindicado pelos moradores, não está previsto para este ano. Sobre a falta de funcionários, o coordenador afirma que esta é uma dificuldade de todos os setores da educação, incluindo a própria CRE. Nas categorias merendeira e pessoal de limpeza, a Comlurb vem suprindo a necessidade, executando essas funções.

Mais escolas no futuro

Outra questão é o número de unidades escolares. As 16 escolas municipais em funcionamento – número aparentemente elevado – não são suficientes para a quantidade de crianças e adolescentes que moram no bairro. Até a prefeitura vem chegando a esta conclusão. Um estudo do Instituto Pereira Passos (IPP), órgão municipal, está avaliando a necessidade de abertura de escolas em cada região da capital. “Na Maré é necessário construir novos colégios, pois muitos alunos estudam longe de casa. Estamos com o estudo que aponta os locais, o que falta é espaço para construir. A população da Maré está crescendo. Não são poucas escolas e aqui é um dos lugares onde se tem mais unidades”, garante

Eduardo. A previsão é que a cidade receba 200 novas escolas, em turno único, o que diminuiria o excesso de alunos em sala de aula, que hoje chega a ter 50 crianças. Nas futuras escolas, a prefeitura pretende ter salas com 30 a 35 alunos por turma.

A parte estrutural das unidades foi outro tema questionado, especialmente a climatização da sala de aula. Para melhorar a prefeitura destinou uma verba emergencial para consertar ventiladores, aparelhos de ar condicionado quebrados e a parte elétrica. Muitas escolas apresentam ainda problemas constantes no telhado. Uma das causas é o uso para soltar pipa. “Isso não podemos impedir com arame farpado ou cerca elétrica. Também não temos como deixar um vigia em cada escola. Precisamos da consciência da população; a escola é de todos”, orienta o coordenador.

Para a melhoria na parte educacional a prefeitura está implantando o Educopédia, que são aulas digitais e interativas, com conteúdo curricular abordado de forma lúdica e prática, com auxílio de um computador em cada sala de aula. Estava marcada para abril uma capacitação na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sobre o manuseio dos novos equipamentos.

Infiltração na Escola Paulo FreireA Escola Municipal Professor Paulo Freire, na Vila do Pinheiro, está com infiltração na fachada, provocando medo em quem passa por baixo. Em 6 de março, não houve aula por causa do problema. “O ano começou agora e já não tem aula. Deveriam fazer obras antes de abrir”, desabafa Manuel Sousa Freitas, que teve de retornar com a criança para casa. Eduardo Fernandes, coordenador da 4ª CRE, está ciente do ocorrido. “A obra já está programada. Estamos só aguardando o fim da reforma do Ciep Vicente Mariano para envio de equipe. Não temos prazo, mas a solução ainda vai vir esse ano. Sabemos dos problemas, como o telhado e o muro da Escola Teotônio Vilela e a necessidade de obras na Escola Professor Josué de Castro. São bastante coisas na Maré”, conclui.

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A Escola Nova Holanda antes e depois da reforma. A pedido dos próprios pais, a unidade passou apenas por uma restauração para que fosse reaberta rapidamente

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Crianças do Ciep da Vila do Pinheiro preparam hortae debatem sustentabilidade

Plantando o futuro na escola

Aramis Assis

Temas como água, lixo, saúde alimentar, agricultura urbana, energia e sustentabilidade são abordados com pais e alunos do Ciep Ministro Gustavo Capanema, na Vila do Pinheiro, primeira escola da Maré a receber a oficina de educação ambiental do Programa Criança Petrobras na Maré (PCP Maré). Coordenada por Julia Rossi e Renato Paquet, a oficina foi inaugurada coletivamente, no final do ano, com a preparação de uma horta, instalada no espaço ao lado do refeitório da escola. O local está sendo utilizado como ambiente didático para os alunos explorarem a sensibilidade por meio do manejo da terra e do cheiro das plantas, além de estimular o debate sobre alimentação saudável.

Todos os envolvidos participam da manutenção da horta, cuja produção será utilizada nas refeições preparadas no Ciep. O material orgânico não aproveitado, como as cascas, será depositado em um minhocário para a produção de húmus.

Julia Rossi explica que “o trabalho busca a transformação social, pretendendo aguçar os sentidos dos alunos para transformações sustentáveis dentro dos seus espaços, como a casa e a escola”.

Outras ideias sustentáveis serão colocadas em prática. A proposta de construir um bosque na escola, por exemplo,

reforça o desejo de Fernanda da Silva, de apenas 7 anos. “A escola tem pouca árvore, pouca sombra; tem que plantar mais árvores e flores”, defende.

O Ciep Gustavo Capanema já possui um histórico de trabalho com os temas ambientais. Há alguns anos a escola tem se mobilizado para conscientizar a comunidade acerca da questão do lixo, que era abundantemente depositado nos entornos da instituição. O movimento envolveu toda a comunidade, produziu bons resultados e desde então o tema foi integrado no programa da escola.

Assim, a entrada da oficina no Ciep está sendo muito bem recebida, como afirma Gisa Gonçalves, coordenadora pedagógica da escola: “A oficina vem como um grande apoio e um complemento ao nosso plano pedagógico”.

Educação ambiental nas escolasDesde a Lei nº 6938, de 1981, diversas propostas tentam estabelecer a educação ambiental como disciplina a ser ministrada em todos os níveis de ensino. A lei, no entanto, nunca foi efetivada. Com a Rio + 20 – Conferência de Meio Ambiente, realizada no ano passado, no Rio –, a discussão sobre capacitação e percepção das crianças e jovens para as causas ambientais se tornou mais comum. É nesse contexto que a oficina quer atuar, por meio de metodologias que contribuam para futuros jovens e pais mais críticos e atuantes em prol das causas ambientais.

Renato PaquetJulia Rossi

Julia Rossi Julia Rossi

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aVem dançar com a gente Fabíola Loureiro Willian Nascimento

Morador da Nova Holanda, o carteiro José Rosa dos Santos, de 54 anos, começou a fazer dança de salão há três anos. Como não podia mais jogar futebol, sua médica lhe disse para fazer outra atividade física, e ele escolheu a dança.

Quando sobra tempo no trabalho, o carteiro dançarino, apelido que ganhou dos amigos, coloca uma música e ensina alguns passos aos seus colegas. “É uma grande satisfação porque a dança é um estímulo de vida, traz novos amigos e conhecimentos, te motiva e permite que você expresse seus sentimentos. No começo achei um pouco difícil, mas depois me encontrei. Aqui na aula não tem limite de idade, basta ter força de vontade e vir”, conta ele.

É no Centro de Artes da Maré (CAM) que jovens e adultos se encontram todas as sextas-feiras para a aula com o professor Roberto Queiroz, responsável por ensinar as técnicas de dança através do forró, samba, soltinho e da salsa. Em média são 55 alunos divididos em duas turmas: iniciantes e intermediários. “Muitos chegaram sem se conhecer e viraram amigos. Já vi uns dois casais que começaram a namorar aqui; os alunos estão se divertindo, até combinam umas saídas para dançar. O que me encanta é que às vezes chega um cavalheiro duro, que nem consegue sair do lugar, e aos poucos vai perdendo o medo e tira a dama para dançar e quando vejo já está dançando muito bem”, observa o professor.

O estudante Edilson Santiago, de 22 anos, morador da Vila do Pinheiro, faz dança há pouco mais de um ano. Ele era o único de sua família que não sabia dançar forró. “Sempre tive vontade de aprender a dançar, mas era muito tímido. A dança ajuda em tudo e junto com o teatro me desinibiu, e me faz muito bem”, ressalta.

Vânia da Silva Pereira, de 39 anos, disse que a dança sempre fez parte da sua vida, pois melhora o condicionamento físico e ajuda a emagrecer. A operadora de telemarketing já fez balé, street dance, jazz e dança contemporânea, mas desde os 14 anos faz dança de salão. “É uma terapia, uma válvula de escape para quem quer esquecer os problemas. Dança é vida.”

Escola Livre de Dança da Maré: R. Bittencourt Sampaio, 181. Nova Holanda. Tel.: 3105-7265 Conheça todas as oficinas regulares da escola na pág. 15, no quadro do Centro de Artes da Maré.

“É uma terapia,uma válvulade escape para quem quer esquecer os problemas. Dança é vida.” Vânia

da Silva Pereira

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Cultura e educaçãoque atravessam a cidadania

De 13 de abril a 23 de junho acontece a segunda edição da exposição de arte contemporânea “Travessias”. O público, além de visitar a exposição, poderá participar de oficinas e encontros

com personalidades de diversas áreas para discutir arte, cultura e vida contemporânea

Rosilene Miliotti

O projeto “Travessias” tem o objetivo de incorporar a favela da Maré e seus moradores no mapa das artes visuais, evidenciando o papel do artista e da arte contemporânea em um processo de integração urbana e estética. “O Travessias é mais do que uma exposição de arte, é um projeto educacional. Cultura e educação são a base para a construção da cidadania”, explica Felipe Scovino, um dos curadores da exposição, crítico de arte e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Realizada pelo Observatório de Favelas e pela Automática, com patrocínio da Petrobras e da Secretaria Municipal de Cultura e parceria da Redes da Maré, a exposição tem como curadores Felipe Scovino e o artista plástico Raul Mourão, que reuniram dez artistas pela qualidade de suas obras e pelo poder de trans-formação: Arjan Martins, Cadu, Carlos Vergara, Ernesto Neto, Daniel Senise, Lucas Bambozzi, Luiza Baldan, Marcelo Silveira, Ratão Diniz e Vik Muniz.

Afinal, o que é arte? “Se conseguirmos conviver com o diferente, a gente acaba jogando isso para a nossa vida. Todos nós somos diferentes. A arte media esses conflitos, essas diferenças e estranhamentos. E essa não é uma exposição para que as pessoas venham e olhem apenas. Não precisa ficar com a mão para trás. Pode tocar. A arte é um elemento transformador e pode ser interativa e lúdica. A criança pode mexer e fazer o que ela quiser. É nesse momento de descoberta e experimentação que começa a criar vínculos que antes a gente julgava como estranho e diferente. A arte traz a percepção do real e como lidar com o diferente.” Felipe Scovino, curador do Travessias 2

“Participar dessa exposição enriquece tanto o público quanto os ar-tistas. Todos estão muito felizes com o convite. Há uma expectativa do lado dos artistas sobre quem vai ver suas obras, se vão gostar ou não. Os trabalhos que serão expostos são inéditos ou significativos”, comemora Felipe.

O único artista da Maré é o fotógrafo Ratão Diniz, do Imagens do Povo. Felipe diz que ele é um ótimo artista. “Sempre desejei expor as produções fotográficas nas favelas que acompanho de perto, ainda mais aqui na Maré, minha casa. Essa é uma forma de eu dar o re-torno aos fotografados. Nesse sentido, o Travessias caiu como uma luva”, comenta Ratão.

As fotos que estarão expostas são uma tentativa de traduzir um pou-co do cotidiano da favela, representado através da cultura popular. “O que pretendo mostrar é a busca pela minha identidade, o reencontro de muitos momentos que fizeram parte da minha infância. Quero muito dialogar com o público, discutir assuntos que envolvem nosso cotidiano, mas cada um terá sua visão a partir da sua necessidade, seu posicionamento político, seu olhar; assim é a arte”, explica Ratão.

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ProgramaçãoTravessias 2 – Arte contemporânea na Maré

Período: 13 de abril a 23 de junhoÀs quartas, sábados e domingos, das 10h às 18h

Às quintas e sextas, das 10h às 20hNo Galpão Bela Maré - Rua Bittencourt Sampaio, 169

(entre as passarelas 9 e 10 da Av. Brasil)Entrada gratuita! Mais informações:

www.travessias.org.br

Oficina de ArquiteturaDias 27/4; 4/5; 11/5; 18/5:

Pretende montar uma maquete da Nova Holanda. Para se inscrever é preciso ser maior de 16 anos e enviar emailpara: [email protected] com nome completo,

endereço, idade, escola ou faculdade em que está matri-culado e ano que está cursando.

Oficina de Design GráficoDias 11 e 12/05:

Inscrições pelo e-mail: [email protected]

EncontrosSábado, 04 de maio, 16h:

Relato de artista: Ernesto NetoApresentação de projeto: Marcus Vinícius Faustini, apre-

sentando o projeto Agência Redes para JuventudeEntrevista: com Marcelo D2 e Caco Barcellos

Sábado, 11 de maio, 16h:Relato de artista: Carlos Vergara

Apresentação de projeto: “Políticas públicas integradas no território e participação comunitária, por Ricardo Henri-

quesEntrevista: com Fernanda Abreu e MV Bill

Sábado, 25 de maio, 16h:Relato de artista: Vik Muniz ou Ratão Diniz (ainda em

confirmação)Apresentação de projeto: Ronaldo Lemos, discutindo o

Marco Civil para Internet no BrasilEntrevista: com Marcelo Yuka e José Padilha

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14Agentes multiplicadoress dos nossos direitos

O Tribunal de Justiça do Rio promoverá capacitação gratuita de líderes comunitários locais, integrantes de grupos da sociedade civil atuantes na Maré e demais interessados, para formar agentes multiplicadores de informações básicas sobre direitos, justiça e cidadania. A atividade faz parte do Projeto Justiça Cidadã, que visa democratizar o acesso à justiça. Fique ligado porque as vagas são limitadas. A data de início ainda será confirmada, devendo ocorrer no fim de maio ou início de junho.

O programa é composto de palestras com promotores, desembargadores, juízes e outros servidores da Justiça. Serão cerca de 20 encontros, duas vezes por semana, de 16h às 19h, no Fórum do Rio, no centro da cidade. Informações na secretaria da Redes: 3105-5531.

Até o fim deste ano, a Maré passará a receber regular-mente o ônibus itinerante da Justiça do Rio, que funciona como um cartório móvel capaz de intermediar questões nas áreas de direito do consumidor, direitos civis e familia-res, como certidão de nascimento, re-conhecimento de paternidade, de união estável, se-paração e divór-cio, entre outros. O ônibus não ofe-recerá serviços na área criminal

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Curso de gestantee outras oficinas

A Obra Social Santa Cabrini oferece Curso de Gestante para grávidas até o 6º mês. O objetivo é trabalhar a importância e a responsabilidade da gestação e os cuidados com o corpo e os bebês. As inscrições estão abertas. O curso tem a duração de dois meses, sendo os encontros de duas horas e meia, no período de 24/04 a 19/06. A atividade é realizada em parceria com as Equipes do Posto de Saúde da Vila do João e do Centro de Referência das Mulheres da Maré. No final as participantes receberão um kit enxoval.

Também estão abertas as inscrições para as oficinas de Flauta, Cavaquinho, Violão, Capoeira. Endereço: Rua 17 casa 217 – Vila do João. Tel.: 3104-9807.

Imagens do Povono MAC de Niterói

A violência não reflete o cotidiano da população das favelas cariocas. Cada território possui espaços de diversão, confraternização e alegria. Com esta proposta, está em cartaz a exposição “Processos em Imagem”, do Imagens do Povo, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói.

Exposição “Processos em Imagem” – Observatório de Favelas

MAC de Niterói – varandas (Mirante da Boa Viagem s/nº) - De terça a domingo, das 10 às 18h.

Ingressos a R$ 6 (nteira) / R$ 3 (meia)

Entrada gratuita para estudantes da rede pública (ensino médio), crianças abaixo de 7 anos e portadores de necessidades especiais. Entrada gratuita também às quartas-feiras.

Até 23 de junho de 2013

O que acontece e o que não deixade acontecer por aqui

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cultura

Programação suspensaA Lona da Maré está temporariamente fechada, desde 1º de fevereiro, por determinação da prefeitura. A decisão

se estende a todos os equipamentos públicos de cultura pertencentes ao município, até que esses espaços tenham suas condições de segurança atestadas pelo Corpo de Bombeiros. A medida foi tomada por precaução,

após o grave incêndio ocorrido em Santa Maria (RS).Herbert ViannaLona cultural

Dança de rua Segundas-feiras, das 17h30 às 19h

Iniciante, a partir de 8 anos

Percussão (a partir de 10 anos) Terças-feiras, das 20h às 21h30

Consciência corporal Terças-feiras, das 18h30 às 20h

Quintas-feiras, das 18h30 às 20hA partir de 16 anos

Dança contemporânea Quartas-feiras, das 18h30 às 20hQuintas-feiras, das 20h às 21h30

A partir de 12 anos

Cia Folclórica do Rio - UFRJ 27 de abril, sábado, às 18h

Espetáculo: TamborzadaTambores dos salões, dos terreiros e das ruas marcam as cadências das culturas populares.

Cenografia, instalações, iluminação, figurinos, música ao vivo e muita dança criam um momento de artes integradas com participação ativa do público. Direção Geral: Eleonora Gabriel

Núcleo de Formação Intensiva em Dança da Escola Livre de Dança da Maré 28 de abril, domingo, às 18h

Espetáculo: “Exercício M, de movimento e de maré”Do encontro entre artistas da dança, alunos do Núcleo 2 da Escola Livre de Dança da Maré e o

público nasce essa primeira experiência a ser compartilhada. Direção Geral: Lia Rodrigues

Fotos: Elisângela Leite

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Corpo e expressão (nova oficina infantil) Quartas-feiras, das 17h30 às 18h30Sextas-feiras, das 17h30 às 18h30

Para crianças entre 04 e 08 anos

Dança criativa Quintas-feiras, das 18h30 às 20h

Para crianças de 08 a 12 anos

Dança de salãoa partir de 16 anos

Sextas-feiras, das 18h30 às 19h30Iniciante

Sextas-feiras, das 19h30 às 20h30Intermediário, salsa e samba de gafieira

Sextas-feiras, das 20h30 às 21h30Intermediário, forró e soltinho

ESCOLA LIVRE DE DANÇA DA MARÉoficinas regulares

PROGRAMAÇÃOÚltimos espetáculos da Temporada Maré de Artes

R. Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holanda

(21) 3105-7265Programação no local ou pelo tel. 3105-7265

2 a a 6a, de 14h às 21h30

Sacolé de cocodo Mimiu

Receita:

Ingredientes:1 coco pequeno

1 copo de leite integral

1 copo de 200 ml de água

5 colheres (sopa) de açúcar

2 colheres (sopa) de leite condensado

Modo de fazer:Raspe o coco, acrescente o leite, a água e o açúcar e bata tudo no liquidificador. Coe a mistura em uma peneira, mas aproveite a metade da quantidade de bagaço. Bata novamente no liquidificador o suco do coco, a metade do bagaço e o leite condensado. Use um funil para colocar a mistura nos saquinhos de sacolé. Coloque também uns pedaços de coco inteiro nos saquinhos. Ponha na geladeira, deixe endurecer e depois é só saborear.

Rende 8 sacolés.

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pra Maré participar do Maré

todos os meses! Garanta o seu jornal da sua

comunidade!Busque um exemplar na Associação de Moradores

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Uma competição entre o céu e inferno. Em uma hora, quem digita mais?O diabo é super rápido. Já Jesus digita catando milho.Quando falta um minuto para terminar, ocorre um pico de luz.O computador do diabo perde tudo.E Jesus vence a competição.Pois só Jesus salva.

O marido vai até uma loja do shopping e pede à vendedora:- Embrulhe esta saia para presente, por favor!- Vai fazer uma surpresa para a sua esposa, senhor?- Uma surpresa das grandes! Ela estava esperando um anel de brilhantes!

Competição

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Precisa-se de doações Festival deMúsica Ativa

(Rock)O Maré Latina de Aprendizado precisa de doação de materiais de constru-ção, pois acaba de conseguir um terreno para construir a sede do projeto. Outras doações solicitadas: livros, materiais escolares, computadores, im-pressoras, roupas, brinquedos, fogão, geladeira, mesas, cadeiras, estantes, armários, máquina fotográfica, ventilador, liquidificador, alimentos para o lan-che (biscoito, doces, pipoca...). Leia a carta enviada pela responsável pelo projeto, que é moradora da Maré:

Prezado Sr(s),

Quero solicitar através desta carta um apoio ou patrocínio. Sou Aline de Jesus de Melo, presidente do Projeto Maré Latina de Aprendizado, que oferece cursos gratuitos em várias áreas. Até o momento estamos sem ajuda de ninguém. Com sede principal localizada na comunidade da Vila dos Pinheiros, o Projeto Maré Latina de Aprendiza-do oferece cursos gratuitos a pessoas de todas as idades. Os cursos são: de moda, espanhol, inglês, português para estrangeiros, capoeira, futebol, pintura, desenho, literatura, alfabetização (reforço escolar), artesanato, reciclagem, teatro, dança, cine-ma, Braille, Libras, computação, música, artes circense, entre outros.

Também oferecemos orientação pedagógica, orientação profissional e educacional (escolha profissional), pré-vestibular, Companhia de teatro e dança Maré Latina, Co-ral Maré Latina, Trilha na Mata (projeto de valorização do Parque Ecológico da Maré e do meio ambiente) e atendimento a pessoas portadoras de deficiência. O projeto conta também com a Biblioteca Maré Latina de Aprendizado. Os principais resultados alcançados foram o lançamento do Livro e curta-metragem “A fadinha Maria e sua Boneca de Pano”.

Aguardo resposta - Aline MeloMais informações:Blog: www.marelatina.blogspot.com.br E-mail: [email protected]ço: Associação de Moradores do Parque Ecológico, s/n°, Vila dos Pinhei-ros / Maré – RJCelular: (21)9308-0267

O jovem estudante Raul da Silva, mora-dor da Maré, escreveu para o Maré para divulgar sua ideia: ele está organizando o lançamento do “Festival de Música Ativa”. A proposta, explica ele, é promover vá-rios eventos explorando diferentes estilos musicais. O primeiro será de rock. A data ainda está sendo escolhida. Fique ligado e confirme a data e o local do evento pelo Facebook: “Festival de Música Ativa”.

Diogo dos Santos e Hélio Euclides