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Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita - Ano V, N o outubro de 2014 Roça Rio lança cerveja artesanal da Maré, batizada de Plurais. Pág. 3 O governo do estado está começando a atuar na Maré pela Vila do João, para tentar dar andamento à regularização fundiária dos domicílios locais. Mas o tema é complexo, pois envolve muito mais do que a concessão do título de posse. Pág. 8 a 12 Projeto Nenhum a Menos atua com crianças e adolescentes que estão fora da escola, para que a evasão, hoje em 7,7%, seja reduzida. Pág. 6 e 7 Titulação dos imóveis pode envolver regularização urbanística YES! nós temos cerveja Minha casa, minha posse Todos na escola Nossa Lona é um sucesso Pág. 14 e 15 Já pra rua História da Maré leva alunos do pré- vestibular para a rua. Pág. 4 e 5 Sa nta cocada! Receita de São Cosme e Damião Pág. 13 Centro de Artes Pág. 13 Lona da Maré Pág. 15 58 Rosilene Miliotti Arte: freevector / vecteezy.com Rosilene Miliotti Elisângela Leite Ary Pimentel Douglas Lopes Dodgerton/ morgue file

Maré de Notícias #58

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Page 1: Maré de Notícias #58

Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita - Ano V, No outubro de 2014

Roça Rio lança cerveja artesanal da Maré, batizada de Plurais. Pág. 3

O governo do estado está começando a atuar na Maré pela Vila do João, para tentar dar andamento à regularização fundiária dos domicílios locais. Mas o tema é complexo, pois envolve muito mais do que a concessão do título de posse. Pág. 8 a 12

Projeto Nenhum a Menos atua com crianças e adolescentes que estão fora da escola, para que a evasão, hoje em 7,7%, seja reduzida. Pág. 6 e 7

Titulação dos imóveis pode envolver regularização urbanística

YES!nós temos cerveja

Minha casa, minha posse

Todos na escola

Nossa Lonaé um sucesso

Pág. 14 e 15

Já pra ruaHistória da Maré leva alunos do pré-vestibular para a rua. Pág. 4 e 5

Santacocada!

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2 3Já temos cerveja da Maré Rosilene Miliotti

A cerveja artesanal se chama Plurais. O nome foi escolhido durante um sa-

rau após uma acirrada votação, no Morro do Timbau, em evento realizado pela Roça Rio, loja de produtos naturais que desen-volveu a cerveja.A ideia surgiu do Encontro de Economias Comunitárias, onde vários grupos que trabalham em autogestão sugeriram a criação de um núcleo de produção de cerveja em favelas. A iniciativa é do Fórum Popular de Apoio Mútuo, e o mestre cervejeiro André Nader está ensinando a técnica aos grupos. Além da Maré, participam

pessoas das favelas da Babilônia, Acari, Alemão e Morro dos Macacos.

Geandra Nobre, colaboradora da Roça Rio, explica que a base de produção, que ainda será criada, consiste em uma cozinha onde serão montados três fogões. Cada panela no tamanho de 120 litros poderá produzir em torno de 90 litros

por braçagem (cozimento da cerveja, que leva oito horas). A cerveja fica pronta em três semanas, mas é consumida em minutos. Geandra ressalta que a produção na Maré só é possível porque um amigo emprestou o equipamento.

Para a professora Gilda Moreira, moradora de Santa Teresa, a cerveja está aprovada. “Nessa vida louca que a gente vive, os alimentos estão cheios de agrotóxicos, transgênicos e conservantes e ter uma cerveja livre dessas coisas é uma iniciativa maravilhosa”, comemora ela, que esteve na Roça na noite de lançamento (27/09). Já a professora Elaine Alves, moradora do Cajueiro, conta

Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012,

Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21)3105.5531

www.redesdamare.org.br [email protected]

Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

Foto do alto de página: Público dançando ao som de BNegão e Abayomy Afrobeat

Orquestra, na Lona da Maré

Parceiros:

Fotógrafa Elisângela Leite

Proj. gráfico e diagramaçãoPablo Ramos

Logomarca Monica Soffiatti

Colaboradores Anabela Paiva

André de LucenaHigor Antonio

Numim/ Redes da Maré

Coordenadoresde distribuição

Luiz GonzagaSirlene Correa da Silva

Impressão Gráfica Jornal do Commercio

Tiragem 40.000 exemplares

Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré

Diretoria Andréia Martins

Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva

Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir

Patrícia Sales Vianna

Instituição Parceira Observatório de Favelas

Apoio Ação Comunitária do Brasil

Administraçãodo Piscinão de Ramos

Associação Comunitária

Roquete Pinto

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores do Parque Ecológico

Associação de Moradores do Parque Habitacional

da Praia de Ramos

Associação de Moradores do Parque Maré

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Associação de Moradoresdo Parque União

Associação de Moradores

da Vila do João

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon

Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa

Conexão G

Conjunto Habitacional Nova Maré

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Luta pela Paz

União de Defesa e Melhoramentos do Parque

Proletário da Baixa do Sapateiro

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

Editor assistente Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)

Repórteres e redatores Fabíola Loureiro (estagiária)

Rosilene Miliotti

EDIT

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HUMOR - André de Lucena: “Bolhas de sabão”

CARTAS

Expediente

Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamare

EditorialDireito à informação

A reportagem de capa desta edição nos apresenta a complexidade de um assunto que, a princípio, pensamos ser bem mais simples. O título de proprie-dade é um direito legítimo e isso pare-ce bastar, mas, a partir da página 8, o morador verá que a regularização fun-diária traz consequências que devem ser conhecidas e debatidas democrati-camente pelos moradores, em diálogo com o poder público.

A matéria e o artigo das pág. 11 e 12 trazem subsídios para entendermos melhor esse processo que, por sua vez, está totalmente relacionado com a história da Maré.

Não é à toa que mensalmente publi-camos reportagens sobre como era a favela no passado e como se deu o processo de ocupação (na seção deste número, acompanhamos uma aula pe-las ruas. Leia nas páginas 4 e 5).

Conhecer a história é fundamental para entendermos as conquistas e os desafios de hoje; e nos dá elementos para defender nossos direitos. Por isso, o direito à informação é básico. Espera-mos, assim, contribuir para um debate que interessa a todos.

A todos e todas, boa leitura!

Bate-papo sobre o jornal

Quero parabenizar todos vocês pela ousada iniciativa de convidar os leitores para participarem da construção do jornal com críticas, sugestões, elogio etc. Logicamente que tudo isso já ocorre, mas o convite torna a iniciativa maravilhosa com objetivo de hiper democracia.

Ah! O jornal desse mês (setembro), como sempre, arrebentou; as matérias “Maré resiste à remoção” e “Relembrando Roquete Pinto” me emocionaram e me fizeram relembrar tudo o que meu pai sempre conta, as histórias de luta de pessoas que vieram de várias regiões do país e conquistaram tantas coisas que hoje parece, pra muita gente, que já existiam, o que não é real; os direitos reconhecidos, as “batalhas”, isso tudo me emociona

Sara Alves, da Vila do João

Nota da Redação:

Agradecemos aos que estiveram no Centro de Artes da Maré , dia 6 de outubro, e contribuíram

com críticas, sugestões e elogios. Agradecemos também aos participantes da Redes da Maré e do Luta pela Paz, que também bateram papo sobre o jornal. As próximas edições já levarão em consideração tudo o que debatido. Quem quiser, pode entrar em contato diretamente (tel.: 3105-5531; e-mail: [email protected], endereço: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012, Nova Holanda).

Ops! Mil desculpas! Vamos aos créditos!?

O Centro Municipal de Saúde (CMS) Nova Ho-landa, parceiro do Projeto Nenhum a Menos, realizou a atividade “Oficina de Xampu Antipara-sitário”, na Lona, nos dias 04 e 05 de setembro. Sendo assim, peço gentilmente que inclua uma nota de retificação da matéria (Ed. 57, pág.11, Receita Especial) com a inclusão do CMS Nova Holanda como coautor da atividade.

Lídia da Silva P. de OliveiraDentista, CMS Nova Holanda

Cerveja artesanal da Roça - quer dizer, do Morro do Timbau – foi lançada em setembro

que esteve na Alemanha há pouco tempo e que as cervejas de lá são muito gostosas. “A cerveja produzida na Maré não deixa nada a desejar”, afirma.

Geandra compara a cerveja industrial a uma feijoada enlatada, sem gosto. “A cerveja, embora alcoólica, é um alimento que pode ser produzido em casa. Acabamos de fazer uma no estilo weizen, uma cerveja de trigo que leva casca de laranja. Estamos apren-dendo, mas sempre experimentando novos sabores. Certamente teremos novidades”.

Comércio justo

Eduardo Tomazine, também colaborador da Roça, diz que todos ganham a mesma coisa com o lucro da venda da cerveja. Segundo ele, a preocupação é vender a um preço acessível para a população local consumir e não apenas para o gringo que vem provar. Uma garrafa de 600ml na Roça custa R$ 8. Em outros lugares, uma cerveja puro malte, de 300ml sai, em média, por R$ 16.

“No comércio justo, outras relações estão sendo feitas, tanto entre quem produz, que não tem patrão e ninguém ganha mais do que ninguém, quanto para quem consome, porque consome junto com a cerveja os valores da autogestão e da igualdade. Sem contar que fazemos um controle de qualidade rigoroso, provamos todas as cervejas que fazemos. Além disso, uma característica da cerveja artesanal é que cada braçagem é uma cerveja. Nenhuma vai ter o gosto da outra”, explica ele.

“Nessa vida louca que a gente vive, os alimentos estão cheios de agrotóxicos, transgênicos e conservantes e ter uma cerveja livre dessas coisas é uma iniciativa maravi- lhosa” Gilda Moreira

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A Roça fica na ruados Caetés, nº 82, Morro do TimbauAberta às segundas, quintas e sextasa partir das 16h

facebook.com/roca.rioFórum de Apoio Mútuo: apoiomutuo. noblogs.org/

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Aula campo pelas ruas leva alunos a conhecerem e se reconheceremna construção da Maré

Rosilene Miliotti

As aulas campo, dentro e fora da Maré, já fazem parte da programação do Curso Pré-Vestibular, da Redes da Maré. O pro-fessor Ernani Alcides diz que a aula pelas ruas da favela tem um significado especial devido ao curso estar inserido dentro do bairro – um bairro que, de certa forma, agrega todos os conflitos e contradi-ções da cidade do Rio de Janeiro.

Hoje a aula é na rua

Ernani explica aos alunos que a Praça do Valão tem este nome para lembrar que o lugar foi canalizado a partir da luta e organização dos moradores

“O pré-vestibular tem um caráter politizador, de pensar os dilemas da cidade, do país, dos movi-mentos sociais. Além disso, essa é uma possibi-lidade de andarmos pelo nosso bairro, coletiva-mente, entendendo a história de sua constituição como um espaço de moradia. Essa caminhada tem um caráter didático e é prazerosa porque estamos passeando pela Maré e construindo um olhar diferente sobre o lugar onde moramos”, explica ele, que também é morador.

Do Parque União ao Parque Ecológico, entre o lixo espalhado pelas ruas e as barricadas do Exército, os alunos iam parando em locais de referência histórica para a Maré. E isso em pleno domingo, 28 de setembro. Segundo o professor Ary Pimentel, a aula campo é importante para que a gente não torne o espaço invisível, assim como acontece no centro da cidade.

“A gente passa pelas ruas e não percebe que

elas têm traçado uniforme. E esse traçado diz muito sobre a ocupação dessa área ou dos projetos de urbanização que foram colocados em prática na região. Por exemplo, qual a diferença entre Nova Holanda e Baixa do Sapateiro? As vielas. Na Nova Holanda, as ruas são regulares”, sinaliza. Isso porque a Baixa é resultado de um processo natural de ocupação, enquanto a Nova Holanda foi planejada pelo poder público.

Ernani, por sua vez, ressalta o importante papel das mulheres na construção da Maré. Aliás, mais da metade dos alunos presentes na aula eram mulheres de várias idades. “As casas de alvenaria foram sendo construídas de dentro para fora e em mutirões”, lembra. Ary acrescenta que em 2003 chegou a ver os últimos barracos de madeira, que já não eram derivados das palafitas, que a essa altura não existiam mais.

Orgulho de ser da Maré

A aluna e moradora da Nova Holanda Gyanne da Silva Custódio mostrou-se surpresa, muitas vezes, durante a aula e feliz por ouvir dos professores as histórias que também eram contadas por seu pai. “Meus pais sempre me contaram essas histórias, mas da maneira deles e me reconheci na história daqui. Eu não conheci a minha avó, mas cresci na rua que levava o nome dela, Rua Carmelita Custódio, também conhecida como Rua 2”, comemora.

A estudante conta que sua família, antes de vir para a Maré, morava na favela do Esqueleto, onde hoje é o prédio da Uerj. Ela tem orgulho de ser da Nova Holanda por causa da solidariedade que observa entre os vizinhos.

Esse orgulho, segundo os professores, é resultado de um trabalho de anos. “Fora da

favela, construímos um sentido inverso. Um sentido que nos levaria a sentir vergonha de ser de qualquer uma das 16 comunidades da Maré. Essa construção externa nos levava, muitas vezes, a dizer que morávamos em Bonsucesso e não na Maré. Esse processo é fundamental porque deriva de lutas que eram materiais (por água, energia elétrica, urbanização...)”, explica Ary.

Um dos pontos de parada foi a Praça do Valão. Ernani diz que o objetivo de dar esse nome ao lugar, na época, era para que os moradores

nunca esquecessem que ali embaixo passa um valão, que foi canalizado a partir da luta e organização dos moradores. O valão era foco de doenças e muitas crianças caíam ali. “Fazer essa aula campo é importante para passar essa memória adiante. Assim vamos construindo um sentimento de cidadania e ressaltamos que porque nós somos cidadãos é que conquistamos tudo isso para a comunidade, e não o contrário. Sempre lutamos para que a Maré seja reconhecida como espaço da cidade, que está integrado a ela”, conclui Ernani.

“Vamos construindo um sentimento de cidadania

e ressaltamos que porque nós somos cidadãos é que

conquistamos tudo isso para a comunidade, e não o

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Educação integral

em pauta

Os vídeos e materiais impressos estão disponíveis gratuitamente na Sala Futura (Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda/Maré).

No mês em que é comemorado o Dia do Professor e o das Crianças, o relacionamento entre educadores e alunos, um dos pilares da educação integral, traz à tona o debate sobre o assunto. Segundo o Plano Nacional de Educação (PNE), no mínimo 50% das escolas devem ter acesso a esse direito até 2024. Atualmente, cerca de 30% das escolas (Anuário Brasileiro da Educação Básica 2014) são a�ngidas pelo projeto.

Além de mais tempo no colégio, não apenas em sala de aula, a educação integral visa propiciar a crianças e jovens múl�plas oportunidades de aprendizagem, por meio do acesso à cultura, ao esporte, à tecnologia. Nesse contexto, o professor estabelece uma relação de cumplicidade com seus alunos, mais igualitária, reconhecendo seus saberes e legi�mando a sua capacidade de contribuir para o seu próprio crescimento. O educador assume o papel de facilitador do conhecimento nesse modelo de educação voltada para a vida.

A família e a comunidade também têm papel importante na educação integral. O entorno do colégio deve ser compreendido como uma grande sala de aula, onde os estudantes aprendem a toda hora e em todo lugar. O desenvolvimento dos alunos deve ser um esforço compar�lhado entre poder público, escola e sociedade civil.

No mês passado, o Ministério da Educação (MEC) lançou o Portal da Educação Integral (hp://educacaointegral.mec.gov.br) com informações e no�cias acerca do tema. O Canal Futura apoia essa incia�va e oferece diversos conteúdos sobre empreendedorismo, cultura, tecnologia, saúde e meio ambiente, dentre outros temas de grande relevância social, que seguem a lógica da formação cidadã.

Fabíola Loureiro

Complementação Escolar, Audiovisual, Con-tação de Histórias e Letramento, Desenho e Criação são oficinas oferecidas pelo projeto Nenhum a Menos, na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, que pretende contribuir para a reinserção de crianças e adolescentes que hoje estão fora da escola. Segundo levanta-mento da organização da sociedade civil Casa Fluminense, 7,7% dos moradores da Maré com idades entre 6 e 14 anos estão fora da escola. De acordo com a instituição, a evasão é maior nas favelas cariocas do que em bairros como a Tijuca, onde 2,2% estariam nessa situação. Na Rocinha, o problema atinge 17,1% dos morado-res nessa faixa etária e no Jacarezinho, 14,5%.

Previsto para durar um ano, o Nenhum a Menos teve início em agosto e pretende atender 50 crianças e adolescentes em atividades diárias, sendo 25 na parte da manhã (crianças) e 25 no turno da tarde (adolescentes). Nos anos 2000 houve uma primeira versão desse mesmo projeto, que também atuou junto às famílias.

“Muitas vezes o estudo é abandonado antes de o aluno ter aprendido a ler e escrever. Nosso objetivo é desenvolver uma alternativa local que busque entender e atuar sobre as razões que levam ao abandono da escola, oferecendo um trabalho pedagógico para ajudar a manter os vínculos com a escola e a aprendizagem formal, bem como auxiliar os órgãos públicos na criação de uma rede de proteção a essas famílias”, explica Ines di Mare, coordenadora do projeto, que é desenvolvido pela Redes da Maré.

Além das oficinas, há uma equipe de assistentes sociais que acompanham as famílias. O objetivo é construir uma rede de apoio social, de modo que haja condições para a frequência na escola com aprendizagem.

Evasão escolar

A evasão escolar se dá por conta de vários motivos, entre eles, a relação entre aluno e professor e o fato de algumas famílias não verem a escola como importante para os filhos. Há também famílias para as quais o trabalho impede de levar os filhos à escola e há crianças que precisam cuidar dos irmãos mais novos.

Maria dos Prazeres, moradora da Maré, precisou fazer uma viagem para a Paraíba e levou suas filhas mais novas, uma de 13 e a outra de 9 anos. Ela contou que antes de viajar estava tudo certo com a matrícula das filhas, mas quando voltou e foi até a escola, ficou sabendo que deveria ter feito a pré-matrícula pela internet e que o prazo já tinha passado. Como não tinha vaga, suas filhas estão passando este ano de 2014 fora da escola.

Ambas, porém, estão estudando em projetos educacionais, uma delas no Nenhum a Menos. “Não sei ler, mas sempre falo para os meus filhos estudarem, pois é necessário. É um bem que ninguém tira”, reconhece ela.

Em outras áreas da cidade está sendo desenvolvido o projeto Aluno Presente, sob responsabilidade da Casa Fluminense em parceria com a prefeitura. O objetivo é chegar a quase 100% dos alunos na escola até 2016.

Fique ligado no calendário escolar e matricule seus filhos para 2015! A Secre-taria Municipal de Educação deverá divulgar as datas ainda neste mês de ou-tubro. Para Educação especial, os responsáveis já podem efetuar a matrícula entre os dias 21 e 31 de outubro.

Faltar demais às aulas também é ruim

No Ciep Elis Regina, na Nova Holanda, são raros os casos de alunos que abandonam a escola no meio do ano: não chega a 1%, segundo a diretora Suely Josefa de Lima Carvalho. “Situações de abandono são raras, em geral provocadas por famílias que vão passar uma temporada em casa de parentes ou retornam temporariamente para o Nordeste. Nossa principal demanda, na verdade, é combater as faltas. Os infrequentes chegam a cerca de 15% dos alunos”, revela ela.

O Ciep trabalha o ano todo na tentativa de manter os estudantes em sala de aula. A cada bimestre uma lista de infrequentes é divulgada no portão da escola e os responsáveis são procurados até em casa, se for preciso, para serem comunicados sobre as faltas do filho. Isso porque nem todos os responsáveis sabem o que está acontecendo.

“Muitas mães chefes de família precisam sair cedo para trabalhar e deixam os filhos sozinhos, precisando acordar e se arrumar para escola sem a supervisão de um adulto, ou seja, as crianças são colocadas numa situação de independência precoce”, explica Suely. Muitos acabam não acordando e começam a faltar. Por isso, a escola se esforça para manter os pais sabendo. Quem tem bolsa família, por exemplo, pode perder o benefício, e isso é deixado claro para todos.

“Quando falamos com os responsáveis, a situação melhora. Se não fizéssemos esse trabalho o tempo todo, o número de infrequentes seria bem maior. São poucos os casos em que a mãe não toma uma atitude após receber nosso contato”, conta Suely.

Mas para a diretora, o ideal é um número mínimo de faltas. Legalmente é permitido faltar a 25% dos dias letivos e o abandono é considerado para os que não comparecem por 30 dias seguidos, porém a infrequência é um dos motivos que levam ao baixo desempenho do aluno, conforme observa Suely. (Texto: Silvia Noronha)

Nenhum a Menos na escolaProjeto oferece aulas de arte-educação e

propõe uma rede de apoio social para crianças e adolescentes fora da escola

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8 9“Temos uma preocupação com os olhos grandes, a especulação imobiliária. Isso não interessa à sociedade nem à comunidade, pois a pessoa lutou por aquele espaço e depois vai para uma periferia da periferia, para um local mais precário. Precisamos ir além da regulamentação fundiária, por isso precisamos de parcerias e convênios, para projetos dentro das comunidades”, pontua a antropóloga Michelle Dias.

Como não executa obras, o iterj repassará à prefeitura todas as informações relativas às necessidades estruturais da Maré. “O objetivo da regularização é que logo depois a prefeitura esteja mais próxima, com melhorias locais. Tem que haver planejamento para obras, um exemplo é o esgoto que precisa ter a capacidade para quem mora”, conclui Luiz. Por conta disso, será fundamental a participação dos moradores, das associações e demais instituições locais.

Prefeitura não vai intervir

A Secretaria Municipal de habitação (SMH) informou que não pode conceder títulos de propriedade aos moradores nas comunidades

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“O trabalho não é só regulamentação

fundiária, mas também a regulamentação urbanística, com a

implantação de CEP e nome de logradouro público. Mas nós, do Iterj, não aprovamos projetos, caberá à prefeitura

aprovar as plantas”Luiz Cláudio Vieira, diretor do Iterj

“Quando alguém recebe o documento, tem um bem, e muitos querem vender para ir morar em outro lugar. Isso é o Estado enxugando gelo. Quando acontece isso se rompe a teia da sociabilidade. Na hora do aperto, a pessoa vende, isso acontece no mundo todo, a gentrificação”Hermínia Castro, antropóloga do Iterj

Hélio Euclides

No dia 6 de outubro, celebramos o Dia Mundial da Habitação. Esse é o sonho de muitos, de ter um teto para dizer que é seu. Mas para outros ainda falta algo mais: um documento do imóvel aceito e re-conhecido em todos os lugares. “Torço para que todos da favela tenham suas residências reconhe-cidas, como no restante do Rio.A favela faz parte da cidade, temos que conseguir igualdade de direitos. O não documento é uma discriminação”, ressalta o presidente da Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj), Rossino de Castro Diniz. Para especialistas, o grande receio é a especulação imobiliária, que pode vir após a regulamentação fundiária. Além disso, esse trabalho promete gerar muita polêmica, pois não se trata apenas de conceder um documento e pronto! (Leia o artigo “Os riscos do título de propriedade”, nas páginas 11 e 12).

Na Maré, a Vila do João passa por um momento inicial de estudo para futuramente cada morador ter o seu documento do cartório de registro de imóveis (RGI). “Quando viemos morar aqui tínhamos apenas um certificado com o nosso nome, e sabíamos que iríamos pagar 10% do salário mínimo ao Banco Nacional de Habitação (BNH), só que o BNH foi extinto e nunca chegaram os carnês. Já fiz um pedido para que os moradores tenham o título de propriedade”, conta o presidente de Associação da Vila do João, Marco Antônio Barcellos, o Marquinho Gargalo. Ele acredita que a Vila do João, que foi construída pelo governo federal no Projeto Rio, abra caminho para as outras comunidades também receberem a documentação.

O órgão responsável pelo estudo é o Instituto de Terras e Cartografia do Rio de Janeiro (Iterj), que pertence ao governo do estado. O primeiro passo foi abrir um processo administrativo com essa finalidade, mas, segundo técnicos do órgão, ainda será preciso saber se o município atua nesse campo e depois ter certeza sobre de quem são as terras.

Após o levantamento dessas ações será realizado o trabalho de topografia, que vai medir os lotes, verificar os pavimentos e a

ventilação. “O trabalho não é só regulamen-tação fundiária, mas também a regulamenta-ção urbanística, com a implantação de CEP e nome de logradouro público. Mas nós, do Iterj, não aprovamos projetos, caberá à pre-feitura aprovar as plantas”, explica o diretor de Regulamentação Fundiária do Instituto, Luiz Cláudio Vieira.

O terceiro passo é o cadastro socioeconômi-co, para ver quantos moram na casa e quem vai ficar como titular do domicílio. Depois vem o cadastro físico. Com a regulamenta-ção vem as regras, como quantos pavimen-tos podem ser construídos sem risco de desabamento e ventilação nas casas. Após pesquisa e demarcação fundiária vem a legi-timação de posse.

Todo esse processo é uma ação de moradia que pode durar de três a quatro anos ou até mais, segundo técnicos do Iperj. Para o ór-gão, o primordial é discutir com a comunida-de, pois a população é que deve dizer o que deseja. A ideia do Iterj é que o processo de titulação se torne um bem para trazer melho-rias para o imóvel (via empréstimo para obra, por exemplo) e para a favela como um todo; e não simplesmente um documento individu-al para venda.

Pontos polêmicos

Com a regularização, o Iterj sinaliza que poderá ser necessário alargar ruas e verificar se há áreas de risco, como pode ser o caso de quem mora às margens do canal da Vila do João. Nesses casos pode surgir o assunto reassentamento. “Por isso, é necessário antes muita discussão. Quem sabe existe lugar dentro da comunidade para receber essas pessoas? Outras áreas da Maré são posses, locais com muitos becos, mas isso não impede a regularização, só haverá maior trabalho de topografia. O bom que a regularização traz melhorias”, promete a analista jurídica do Iterj, Michelle Dias.

Os técnicos dizem que as associações de moradores fazem um trabalho importante com a concessão da declaração de compra e venda de imóvel, que valoriza a documentação local e formaliza a divisão de uma casa. “Pode até não ter valor legal, mas para nós tem uma

grande importância, pois mostra o tempo que o morador está no local”, destaca Luiz.

Os técnicos adiantam que a formalização não será possível em casas que são exclusivamente de aluguel, onde o dono não mora em algum espaço da edificação. Outro caso é quem não mora no comércio. “Isso não é questão de regularização, pois não ajudamos quem especula. O nosso papel é garantir a moradia, com proteção social; essa é a função do Estado”, grifa.

Segundo os técnicos do órgão, para a regula-rização funcionar é preciso dar continuidade ao trabalho; caso contrário, passados 10 anos tudo estará como era antes ou pior, e que qual-quer mudança de propriedade precisará ser atualizada em cartório, o que envolve custos bem mais elevados do que a documentação concedida nas associações de moradores.

Interesse social x especulação

A preocupação do Iterj é com a especulação imobiliária, ou seja, com pessoas que podem se aproveitar da situação. “O Iterj não quer só a regulamentação de imóveis; pensamos em le-var outras coisas como geração de renda e em-prego para garantir a fixação da moradia”, argu-menta a antropóloga do Iterj, Hermínia Castro.

Para ela, a casa pode virar mercadoria. “Quando alguém recebe o documento, tem um bem, e muitos querem vender para ir morar em outro lugar. Isso é o Estado enxugando gelo o tempo todo. Quando acontece isso se rompe a teia da sociabilidade, a pessoa mora muitos anos e de uma hora para outra acabam os laços de amizade, ocorre a desconstrução. Na hora do aperto, a pessoa vende, isso acontece no mundo todo, a gentrificação”, explica ela.

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Iterj começa a atuar pela Vila do João.Regularização fundiária é tema complexo, pois pode envolver mudanças, como alargamento de ruas e reassentamentos

Entrada da Vila do João pela Linha Amarela: “Quando viemos morar aqui tínhamos apenas um certificado com o nosso nome e sabíamos que iríamos pagar 10% do salário mínimo ao BNH, só que ele foi extinto e nunca chegaram os carnês”, conta Marquinho Gargalo

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Os técnicos do Iperj: (a partir da esqu.) Michele,

Herminia, Elisabeth Ribeiro e Luiz ClaudioMarquinho, da Vila do João,

defende a concessão do título

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E essa forma de remoção só é possível através da regularização fundiária. No contexto do mercado imobiliário superaquecido que vivemos hoje – onde o Rio de Janeiro foi citado numa pesquisa recente como a cidade cujo

custo de vida aumentou mais, em todo o mundo, nos últimos seis anos – a favela é mantida através da falta de título de seus moradores, pois o mercado formal não consegue alcançar as moradias.

Neste sentido, atualmente no Rio temos dois mercados imobiliários: um de preço acessível, que se trata principalmente das favelas onde moram até 24% dos cariocas; o outro de preço de mercado (sem nenhum caso de limitação imposta sobre preços de

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Regularização fundiária em debate

Os riscos do títulode propriedade

A regularização fundiária tem sido uma reivindicação central na luta pela moradia no Brasil e em muitos países. Ela é vista como o passo crucial para a segurança habitacional e na luta contra as remoções e por indenizações jus-tas. Hoje, o debate sobre a regu-larização fundiária ganha espaço no Rio de Janeiro; mas esse mo-vimento pode trazer mais desvan-tagens do que vantagens para a permanência dos moradores de favelas em suas comunidades, ainda mais agora. No passado e até os dias de hoje, a grande ameaça aos moradores de favelas, do ponto de vista habitacional, foi a remoção: inclusive 19.000 foram removidos só nos últimos 5 anos no Rio e 40.000 vivem em situação de risco de remoção, geralmente por motivos tanto legalmente quanto eticamente questionáveis. Por isso a luta pela regularização fundiária continua a todo vapor.

Porém, hoje vemos no Rio uma outra, nova, ameaça. Se seguirmos os passos de outras cidades mundo a fora, a maior ameaça às favelas no futuro não será a remoção forçada e sim a tal da “gentrificação”, também conhecida como “remoção branca” ou “remoção pelo mercado”.

“Se seguirmos os passos de outras cidades mundo a fora, a maior ameaça às favelas no futuro não será a remoção forçada e sim a tal da ‘gentrificação’,

também conhecida como ‘remoção branca’ ou

‘remoção pelo mercado’. E essa forma de remoção só é possível através da regularização fundiária”

Theresa Williamson, urbanista e diretora exe-cutiva da ONG Comunidades Catalisadoras (ComCat), que publica o RioOnWatch (www.rioonwatch.org.br), jornal de notícias sobre as transformações até as Olimpíadas através da ótica da favela e do urbanismo; e presta trei-namentos sobre planejamento participativo e outros temas em favelas em toda a cidade. A ComCat trabalha em mais de 200 favelas desde 2000.

Pesquisadora nos convida a refletir sobre os riscos que a concessão do título traz para o morador se ações públicas de regulação do mercado não forem aplicadas

da Maré porque os terrenos estão em área denominada “acrescido de Marinha”, ou seja, aterrada onde antes era mar e por estar perto da costa é de propriedade da União.

Segundo a SMH, a prefeitura detém os direi-tos sobre os terrenos onde foram construídos, na década de 1990, os conjuntos (Salsa e Me-rengue, Marrocos e Nova Maré) em que foram reassentadas famílias que viviam em áreas de risco. Nestes empreendimentos os moradores receberam o termo de concessão de direito real de uso, mas muitos documentos foram se perdendo com a venda dos imóveis nos anos seguintes, sem passar por cartório.

Uma boa notícia para alguns mo-radores

A Caixa revelou ao Maré de Notícias, por meio de sua assessoria de comunicação, que os moradores das propriedades localizadas na Baixa do Sapateiro, Parque Rubens Vaz, Parque União e Conjunto Marcílio Dias poderão comparecer às agências do banco para receber o título de propriedade das unidades nessas regiões. Para conseguir o documento, os compradores deverão apresentar o contrato de promessa de compra e venda, celebrado com o antigo

Banco Nacional de Habitação (BNH), e os comprovantes de pagamentos. Para os casos em que o imóvel possua escritura definitiva registrada no cartório de imóveis, a Caixa esclarece que a propriedade poderá ser comercializada diretamente, sem a necessidade de comparecer às unidades do banco.

Quanto às áreas do Morro do Timbau, Parque Maré, Nova Holanda, Vila do João, Vila do Pinheiro e Conjunto Pinheiro, a Caixa explica que a responsabilidade pela titulação dessas regiões cabe ao Estado, conforme convênio Projeto-Rio firmado em 1991.

Conjunto Esperança: “Já ouvi fa-lar que tem comunidade que vai ter o título tão sonhado, mas aqui não sabemos de nada. No começo tinha uma sede da Cehab (Companhia Es-tadual de Habitação) onde é hoje a associação. Sei que alguns pagaram seus apartamentos. No momento queremos uma orientação sobre a questão das obras externas nos pré-dios, quem vai realizar e qual o órgão fiscalizador.” - presidente da associa-ção, Pedro Francisco dos Santos.

Vila do João: “Ninguém tem um documento oficial, mas temos tudo organizado na associação. Quando o imóvel é vendido, o certificado fica na associação e é feito um documento de transferência de desmembramen-to e posse, com três vias, um para a associação, um para o vendedor e outro para o comprador.” - presidente da associação, Marco Antônio Bar-cellos, o Marquinho.

Conjunto Pinheiro: “Fiz um pedido há 25 anos, que está em analise até hoje. São 1.634 apartamentos cujos donos esperam resposta” - presidente da associação, Eunice Cunha.

Vila do Pinheiro: “São todos direito de posse, a prefeitura não deu as escrituras. No Salsa e Merengue nem cartas recebem, apesar das ruas terem CEP, acredito que o motivo deve ser pelos imóveis não serem registrados. A expectativa é grande por um documento da casa” - presidente da associação, Janaina Monteiro.

Parque Ecológico / Vila do Pi-nheiro: “Ninguém tem esse título. O que podemos fazer é um documen-

to de transferência. E é dessa taxa que associação sobrevive, pois não temos recurso” - presidente da asso-ciação, Cláudia Lucia da Silva San-tana.

Bento Ribeiro Dantas: “Aqui tem termo de permissão de uso pela Companhia Estadual de Habitação (Cehab). Algo definitivo até agora nada, pois dizem que aqui é área da Marinha. Por mim concedia o RGI (Registro Geral de Imóvel)” - presi-dente da associação, Cremilda Vi-cente de Carvalho.

Morro do Timbau: “Alguns têm um documento de promessa de compra e venda e outros a escritura. A pre-feitura reconhece o documento que é dado ao morador pela associação, que é a declaração de propriedade/posse” – presidente da associação, Sheila Fortino.

Baixa do Sapateiro: “Uma minoria diz ter um documento do BNH. Sei que há 20 anos tem promessa de tí-tulos para todos. Acredito ser viável o documento, mas a associação deve acompanhar o processo, pois somos representantes. Tem pessoa que faz o papel, só que o cartório nem sabe que essa casa existe mesmo. Nós verificamos caso a caso e sobrevive-mos dessa taxa” - presidente da as-sociação, Charles Gonçalves.

Nova Maré: “Alguns moradores têm documento de posse, outros uma de-claração de compra e venda feita por nós ou por eles mesmos, com firma reconhecida em cartório” - presidente da associação, Flávio Aguiar.

Parque Maré: “Poucos têm o título

de posse, sei porque meu pai pos-sui esse papel. Mas ninguém tem o documento do RGI” - presidente da associação, José Gomes Barbosa, o Carlinhos.

Nova Holanda: “Uns têm outros não. Da Rua H ao campo, a Cehab começou e não terminou a entrega. Nesse período o órgão tinha um es-critório no Fundão” - presidente da associação, Andreia Matos.

Rubens Vaz: “Poucos têm o docu-mento da Caixa, espero que um dia todos tenham. A maioria tem o con-trato de compra e venda expedido pela associação” - presidente da as-sociação, Vilmar Gomes, o Magá.

Parque União: “A maioria recebeu o documento, isso foi há 30 anos. Che-gamos a pagar até carnê. Só ficaram de fora as casas que iam passar por remoção, como as situadas na Rua do Valão, e os domicílios novos como o Novo Parque, que só possuem o papel da associação” – tesoureiro da associação, José Carlos Fernandes.

Roquete Pinto e Praia de Ra-mos: “O povo só tem o papel das associações. Tenho esperança que um dia venha acontecer a entrega de documentos, mas que a associação seja parceira nisso. Temos que ser os primeiros a saber, pois somos a porta de entrada dos órgãos competentes” - presidente das associações, Cristiano Reis.

Marcílio Dias: “Uns só tem o cartão do BNH. Nunca foi falado nada sobre isso. O restante tem o papel da asso-ciação” - presidente da Associação, Edmilson Joaquim.

Um tour na Maré pela questão fundiária

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Titulação coletiva

Além disso, a favela é diferente de um bairro residencial estabelecido em forma de prédio vertical com apartamentos isolados – a favela é um espaço coletivo por natureza. Isso até faz com que algumas pessoas não queiram permanecer, é claro. Pessoas que preferem a calma, talvez, no caso de uma comunidade mais agitada. Ou que preferem a privacidade ou a solitude. Porém, a natureza da favela é coletiva, o que traz inúmeras vantagens para seus moradores, além de desafios. Isso sem contar com as qualidades urbanísticas da favela, que fazem com que muitas comunidades sejam funcionais e vibrantes, locais nos quais as pessoas se orgulham de morar.

Então, em vez de concentrar na regularização fundiária como tradicionalmente pensada, provendo títulos individuais de posse ou propriedade, deveríamos lutar por políticas de urbanização integral das favelas em combinação com a titulação coletiva, que fizessem com que moradores pudessem ter toda a segurança possível gerada pelo título, porém sem o risco de o mercado imobiliário entrar e tirar o mercado de habitação a preço acessível e com qualidades coletivas, que é o ambiente da favela.

A regularização fundiária só funcionaria para diminuir a desigualdade social no Rio de Ja-neiro se tivéssemos um amplo mercado pron-to para receber compradores interessados em habitações a preços acessíveis. Porém não temos esse mercado e, com isso, a regulari-zação neste momento só fará aparecer mais Nova Tuffys e Favela da Telerj (duas ocupa-ções de prédios abandonados na zona norte do Rio de Janeiro, sendo que a da Telerj já passou por reintegração de posse, deixando as famílias sem lugar para morar).

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TASaluguel ou venda), que é o resto da cidade,

a cidade “formal”. Neste momento de enorme especulação imobiliária, é garantida à favela uma maior segurança pela falta de título, e não o contrário. Não é à toa que de repente as mesmas autoridades que em inúmeras outras questões estão implementando políticas prejudiciais às favelas vejam a titulação como boa ideia, bem neste momento.

Para o morador, neto de quem comprou e que diz: “Mas eu vou me dar bem com isso! Vou vender minha casinha, no terreno que compramos por R$ 2.000, por R$ 200.000! Como é que isso não é bom?”. Eu pergunto: seu terreno foi R$ 2.000. Depois gastaram quanto com material? Quantas vezes reconstruíram a casa? Quem é que fez? Foi seu pai, seu avô? Quem cuidou? Foi sua mãe, sua avô? E o formato da casa--foi feito ao seu gosto, para acomodar suas necessidades e às da sua família? Você conhece seus vizinhos? E esses laços que foram criados? Está perto do trabalho? Tem toda sua vida ajustada por aí? Qual é o valor disso? Você consegue comprar algo melhor para você, com o valor que está sendo oferecido? Você pesquisou o mercado de hoje? No mercado formal, existem diversos custos a mais. Você é capaz de arcar com estes custos mensais?

O que fazem as outras cidades

Pelo menos um quarto dos moradores de qualquer área metropolitana no mundo não consegue viver pagando os custos de mercado. São, muitas vezes, as pessoas que constroem as cidades e fazem sua manutenção. E sempre são as pessoas mais vulneráveis, que a cidade deveria

ter o interesse de cuidar, para que não se tornassem pessoas em desespero ao ponto de partir para o crime ou o desequilíbrio.

Por isso, grandes cidades bem-sucedidas em todo o mundo reconhecem a importância de regular seu setor imobiliário para favorecer o acesso à moradia pelos setores com menor poder aquisitivo da população. Isso é feito de diversas formas. Em Hong Kong, 49% das pessoas moram em habitações públicas. Em Londres, 24% recebem aluguel social, além dos que moram em moradia popular. Em Nova York, desde 1943, existem limites impostos por lei sobre o aumento no aluguel; Nova York tem também hoje 600 mil apartamentos destinados à habitação pública e a lei recompensa favoravelmente empreendimentos urbanos que incorporem apartamentos de custo acessível com o direito de construir mais andares em todas as regiões da cidade.

Em Cingapura, 90% dos imóveis são públicos. Em Zurique, por volta de 30% dos moradores moram em cooperativas, criadas há um século por conta da especulação imobiliária e a necessidade de garantir habitação a preços acessíveis. Em Santiago no Chile, é garantida moradia pública pelo governo a 20% da população de menor renda. Todas são políticas para garantir a moradia da população de baixa renda em áreas centrais, o que favorece o desenvolvimento urbano equilibrado, saudável e inclusivo, atraindo um perfil variado de trabalhadores para as diversas áreas urbanas e limitando a formação de guetos. No Rio de Janeiro, são as favelas, a maioria em áreas acessíveis, que prestam esse serviço.

Um grande problema é que a regularização fundiária é vista como coisa boa para e pelas comunidades porque pensamos na igualdade como o ideal. E a igualdade aparentemente seria o morador da favela, que adquiriu o direito de ocupar, ter o direito nas mãos, em forma de papel, como qualquer outro proprietário da cidade. Seja para poder se garantir lá ou vender por preço justo. E nisso a luta pela regularização fundiária tem toda a razão.

Porém, no nosso contexto urbano tão desigual, onde o mercado de habitação a preço acessível é o das favelas, e sem políticas de acesso à moradia (exemplos: subsídio de aluguel, regulamentação sobre custo de aluguel pelo mercado imobiliário, moradias públicas de alta qualidade em áreas centrais etc.), a favela cumpre um papel absolutamente fundamental.

“Grandes cidades bem-sucedidas em todo o mundo reconhecem a importância de regular

seu setor imobiliário para favorecer o acesso à

moradia pelos setores com menor poder aquisitivo da população. Isso é feito de

diferentes formas em Hong Kong, Londres, Nova York,

Zurique e outras”

“Deveríamos lutar por políticas de urbanização integral das favelas em

combinação com a titulação coletiva, que fizessem com que moradores pudessem

ter toda a segurança possível gerada pelo título,

porém sem o risco do mercado imobiliário tirá-los

da favela”

No dia 9 de outubro, Naldinho Lourenço, fotógrafo do Imagens do Povo e morador da Maré, foi abordado arbitrariamente, revistado e obrigado a apagar todas as fotos que havia feito de uma operação policial com seis blindados na Vila do João. Naldinho foi abordado por um militar do Exército e também ouviu de um delegado da Polícia Federal que na Maré não se pode fotografar.

Jornalistas e midiativistas, com apoio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, irão juntar casos de violação ocorridos na Maré e em outras favelas, para elaboração de relatório a ser entregue para as autoridades responsáveis pela ocupação e pela segurança do Estado. O foco da luta é o direito de comunicadores populares atuarem nas comunidades.

Devido a uma reclamação recebida sobre falta de pediatras na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Maré, na Vila do João, gostaríamos de divulgar o site onde podemos ter acesso à escala dos médicos. No endereço http://aplicgestao4.saude.rj.gov.br/escalahospitalarpublico/consultapublica/hospitalar.aspx?tipounidade=2, a informação vem por nome do médico, especialidade e horário de trabalho. A UPA Maré tem pediatra, a equipe do jornal conferiu a informação, mas podemos ficar de olho nas faltas.

Gostaríamos de enviar nossas esti-mas à família de Seu Cabral Batis-ta, entrevistado para a seção “Nos-sa História” da edição passada, por sugestão do músico Bhega Silva. Seu Cabral faleceu dias depois, em setembro, aos 90 anos, e no início de outubro, sua mulher também fa-leceu. Convidamos a todos para le-rem e relerem a matéria sobre a his-tória de Roquete Pinto, conforme os relatos de Seu Cabral (versão onli-ne está em redesdamare.org.br).

A 7ª Parada LGBT da Vila do João aconteceu neste clima animado, no domingo, 28 de setembro. O evento, intitulado Maré sem preconceitos, foi um sucesso, agitando a bandeira pelos direitos da população LGBT.

A garotada da Maré aproveitou a celebração de São Cosme e Damião, em 27 de setembro, para receber doces dos adultos. Para não ficar com água na boca, faça você mesma as tradicionais cocadinhas e distribua para a família e amigos.

Ingredientes

• 300 gr de coco ralado• 300 gr de açúcar• 8 claras de ovo

Como fazer

Misture tudo e leve ao fogo até apurar.Tire do fogo, ponha às colheradas em uma assadeira e leve ao forno até assar.

Pelo direito de fazer comunicação popular

Saiba a escala dos médicos da UPA

Nossas estimas e agradecimento

Parada gay da Vila do João

O que acontece e o que não deixa de acontecer por aqui

Cocadinhas de São Cosme e DamiãoReceita

Segundas-feirasIntrodução ao balé

17h30-18h30 - a partir de 8 anosDança de rua, Iniciante

18-19h - a partir de 10 anosDança de rua, Avançado19h-20h30 - a partir de 10 anos

Cyclophonica Orquestra de Bicicletas Passeio saindo do CAM - Orquestra de bicicletas, formada por

músicos-ciclistas, que mistura música, arte educação, esporte e lazer. Tocar música pode ser simples como andar de bicicleta! Classificação

etária: livre - Sábado, 27/09, às 18h

Camélia Espetáculo da Márcia Milhazes Companhia de Dança.

Classificação etária: 10 anos - Sábado, 25 de outubro, às 18h

Fuzuêzinho Espetáculo interativo da Companhia de Aruanda

Classificação etária: livre - Domingo, 26 de outubro, às 18h

Sextas-feirasDança de Salão

18h-21h - a partir de 16 anos

Quintas-feirasDança criativa

18h-19hDança Contemporânea

18h30-19h30 - a partir de 12 anosIntrodução ao balé

14h30-16h - a partir de 14 anosDança Contemporânea

16h-18h - a partir de 14 anosTerças-feiras

Introdução ao balé14h30-16h - a partir de 14 anos

Quartas-feirasDança Criativa

17h-18h30 - de 6 aos 12 anos

Oficinas da Escola Livre de Dança da MaréATIVIDADES GRATUITAS

Mês da Criança

R. Bitencourt Sampaio, 181, Nova Holanda. Programação no localou pelo tel. 3105-7265 - De 2ª a 6ª, de 14h às 21h30

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Herbert ViannaLona cultural

PROGRAME-SE !

R. Ivanildo Alves, s/n - Nova MaréTels.: 3105-6815 / [email protected] FACE: Lona da MaréTwitter: @lonadamare

cultura

Arte – costuraSegundas, 14h às 16h

Desenho básicoSegundas, 10h às 12h

Educação AmbientalSegunda e sexta, 16h às 17h30

SkateSábados, 9h às 12h

Oficina do movimento - dançaSábados, 10h às 13h

Complementação pedagógicaSegunda a sexta, 09h às 11h30 e

13h às 15h30

Maré sem LixoSextas, 13h30 às 17h

Favela Rock Show edição Metal

Unearthly (banda de black reconhecida como uma das maiores do gênero da

America latina) e Esgoto Satânico (banda formada na Maré que vem mostrar a qualidade do rock local).

Sexta, 07/11, 21h

Lona Música LivreBandas Do Amor e Dona Joana

confirmadas! Do Amor reúne Marcelo Callado e

Ricardo Dias Gomes, que compõem a atual banda do Caetano Veloso; O

Gabriel Bubu, da banda Los Hermanos; e Gustavo Benjão, que já tocou com Totonho e Os Cabras, Nina Becker e

Lucas Santana.Dona Joana - É uma inusitada banda formada por músicos, bailarinos, atores, compositores e circenses que misturam

a alegria de sua trupe com a música brasileira..

Sexta, 14 / 11, 20h

EM NOVEMBRO

Biblioteca Popular Municipal Jorge AmadoAo lado da Lona, atende a toda a Maré:Amplo acervo, brinquedoteca, gibiteca e

empréstimo domiciliar

OFICINAS

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“O que sempre juntou a gente (Abayomy e eu) foi a música e o ativismo. A gente está a fim de fazer

esse show porque a gente acha importante estar aqui, não só para a comunidade,

mas para gente e toda a cena carioca. Quanto mais

descentralizar, melhor”BNegão

Abayomy:encontro feliz na Maré

Lona recebeu Jards Macalé, Otto, Felipe Cordeiro e BNegão, em projeto da Abayomy Afrobeat Orquestra criado exclusivamente para a Maré

Rosilene Miliotti

Abayomy, palavra que causa cer-ta estranheza na primeira vez que ouvimos, significa “encontro feliz” em yorubá (língua africana), e tra-duz muito bem tanto o clima da banda quanto do público duran-te os quatros shows realizados na Lona Cultural Municipal Her-bert Vianna, nas noites de sextas--feiras de setembro. O evento do grupo Abayomy Afrobeat Orques-tra veio e trouxe, pela primeira vez para nossa favela, Jards Macalé, Otto, Felipe Cordeiro e BNegão. Para quem ainda não conhece, a orquestra mistura afrobeat com tambores e cânticos do candom-blé e da umbanda, num resultado bem dançante. Geisa Lino, produtora da Lona, disse que Otto está apaixonado pela Maré. “Ele quer voltar para fazer outro show e gravar um clipe com os meninos do passinho”, revela. Para ela, essa é uma forma de possibilitar o encontro. “A Maré tem muita gente talentosa, o que falta é fazer com que essas pessoas encontrem outras que possam dar possibilidades. Encontros que muitas vezes seriam improváveis de acontecer se esses talentos não circulassem. O Favela Rock é um exemplo disso. Bandas da Maré tocando com bandas famosas”, explica.

Thaiana Halfed, produtora da Abayomy e do evento, conta que este foi um projeto escrito para a Lona da Maré. Além dos shows, foram realizadas oficinas de construção de instrumentos, música, capoeira e dança. “Foi tudo maravilhoso e a gente tem que

AlteraçãoBNegão e Os Seletores de Frequência

A música gerada pra gerar alteração, positiva

Equipe de construção na ativa, na estivaDe espírito pra espírito, de alma pra almaSempre convicto na tentativa de manter a

calmaMesmo ‘tando’ no olho do furacãoMesmo quando o coração apertaMesmo com o planeta em estado de alertaSeguindo, no desafio de manter a mente

quietaA espinha ereta e a cabeça no lugarNa medida do possível, na sintonia certa,

eu falei!Entre caos e o caô, entre a inércia e o

terrorEntre comandos; políticos, polícias e

milíciasNum campo aberto ou num mar de

concretoA hipnose chega perto do grau 9 numa

escala 10O mundo inteiro aos seus pés.A história até o final ainda contém várias

surpresasPara o bem e para o mal, que tal?Uma por uma as verdades vêm à tona,Olha que beleza, tijolo por tijolo, máscara

por máscara.Do estilingue vai à pedra, da banana vai

à casca.

voltar. Estamos finalizando o projeto hoje (dia 26/09), mas a relação da banda com esse espaço continua. As crianças que participaram das oficinas têm um brilho lindo nos olhos. Sem falar da troca, as crianças também nos ensinaram muito a partir da vivencia delas”, afirma.

A produtora ressalta que o evento tem como proposta uma ocupação artística. Ela diz que prefere ver a Maré pela abundância do que pela ausência. “Aqui tem muita potência, muita coisa boa acontecendo ao mesmo tempo, e a comida é maravilhosa. A média do público por show foi de 400 pessoas. Muitas pessoas da zona sul (que vieram para a Lona em uma van que saía da Lapa) e uma galera da zona norte e da Maré, todo mundo junto e misturado curtindo”.

Com a palavra, Bnegão

O carioca BNegão, de Santa Teresa, encerrou o evento. Essa foi a primeira vez de BNegão na Maré e, apesar de a grande imprensa sempre dar destaque a notícias sobre violência quando fala sobre a comunidade, ele afirma filtrar todas as informações e prefere tirar suas conclusões quando chega ao lugar.

“Eu não procuro criar expectativa e na minha vida inteira sempre andei de uma forma a não ter divisão de classe. Para mim

é o ser humano e acabou. Um dia eu toco em um lugar que me paga muito bem e no dia seguinte em outro lugar que pague menos. Faço música pela mensagem que posso transmitir e a mensagem é de sobrevivência, de não desistência, de fazer as coisas que você precisa fazer e que não vai ser fácil para ninguém. De buscar alternativas de vivência. Sobreviver é o primeiro passo e viver é o ideal”, discorre ele.

O cantor brinca e diz que um amigo sempre fala que artista é o cara que consegue pagar suas contas em dia. “Eu sou da ‘facção’ da vida simples. Eu entendo essa coisa da ostentação por causa da propaganda que é feita, mas pouca coisa me resolve. Se eu tiver com minhas contas pagas, o que é difícil, eu já fico de boa”, diverte-se ele, que sugere que as pessoas coloquem a TV no mudo quando entra o comercial. Essa é uma atitude que ele aplicou em casa e que seus filhos repetem.

Sobre os shows na Maré, BNegão diz ser bom que artistas comecem a circular pelas periferias, e mais importante que tenham o espaço adequado para isso. “O que sempre juntou a gente (Abayomy e eu) foi a música e o ativismo. A gente está a fim de fazer esse show porque a gente acha importante estar aqui, não só para a comunidade, mas para gente e toda a cena carioca. Quanto mais descentralizar, melhor. Me falaram que aqui tem uma cena de rock muito legal, eu acho sensacional. Também fico feliz que tenha um veículo de comunicação, um espaço pra tocar, uma rádio comunitária aqui. Três veículos fazem uma cena e vocês têm isso. No bairro onde eu moro não acontece, por exemplo”.

Para BNegão, a cultura salva e já o salvou algumas vezes. “Eu faço música pra dividir e trocar ideia”. O cantor chama atenção para a música Alteração e diz que tem tudo a ver com a realidade das periferias e, principalmente, da Maré. Se liga na letra!

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Público dança ao som de Abayomy e BNegão

Músicos e produtores do evento Abayomy Afrobeat

Orquestra na Lona da Maré

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A professora de biologia fala sobre clima frio. Ela percebe que a aluna não está prestando atenção E pergunta:“quando o frio vai embora?” A aluna responde que só quando sua parente chegar.

A mestre fica sem entender e A menina completa: “Minha mãe disse que está chegando a prima Vera“

pra Maré participar do Maré

Moradores

todos os meses!

Envie seu desenho, foto, poesia, piada, receita ou sugestão de matéria.

Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda Tel.: 3105-5531E-mail: [email protected]

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comunidade!Busque um exemplar

na Associação de

da sua

POESIASEnviadas pelos alunos do Curso Pré-Vestibular, da Redes da Maré

Não escrevi nenhuma linha sem alegria

Não escrevi nada sem ser eu

Escrevi sem ser meu, mas isso não importa, já roubei de um tudo nessa vida, o que seriam algumas palavrinhas, das outras vidas nem posso falar, sei que qualquer dia desses faço regressão, quero saber só das merdas que fiz,

...UMA PAUSA PRA OUVIR POEMA...

Não escrevi nenhuma página a menos sem passar ou pensar no amor, que move todos os outros sentimentos que nos movem, amor esse que merece que eu conte nossas histórias em múltiplos dizeres, meu amor é amores, minha vida é um eterno bis e tudo em nome do amor, minha luta é plural também conhecida como sua.

Resumindo escrevo para que você leia, e já nem sei porque tenho que

Lembrança mareensePor Allan Phillip C. de Oliveira

Ela vem vindo,Com o tamborete na cabeça, atravessando as

palafitas.Ela vem de lá da Variante, trazendo água para

banhar os filhos.

Rindoatoa)

escrever se você já me lê em só me olhar, tenho cara de enciclopédia - Duvido!

Pareço coleção de quadrinhos, melhor melhor: Anedotas de montão, montão, montão. Entenderam? Não né!?

Sou como os cafonas romances ou novelas - tu nem sabia que era escrita.

Não-ficção científica deixei de ser desde feto.

- Jornal diário! gritaram.

Nunca gostei, isso sempre foi coisa de quem não vive, até parece que não sei das coisas pelas bocas de Matildes, outra coisa que sempre me identifiquei: termos como este. Não vou nem citar nenhum mais porque lembro da minha vó, ela sempre lança um ditado como este, é só alguém dar uma bola fora, que lá tá ela, lata bela. Perdi o fio-da-meada.

Viro PoemaPor Iury de Carvalho Lobo

Hélio Euclides

Ah! Ia falar de lembranças e memórias.

Eu vou dizer não escrevi nenhuma palavra que não lembrei, que não vivi, até as que não vivi em ato, vivi na memória que to construindo (LEIA SUSSURRANDO: sonhando.) e certamente essas viverei de novo. Tem umas pessoas que chamam isso de De.Ja.Vú, mas isso é porque tudo tem que ter um nome, eu escrevo nomes também, tenho uma lista imensa, só que não gosto muito.

A minha definição do que sou?

Não, não sou só crônicas, essa é minha parte gripada, acho que sou algo com tudo isso que escrevi, mas quando me leem com sentimento viro Poema.

Se me cantarolam, sou cantiga de roda em roda!

Acostumada a pegar o mesmo peso, nem dá a mínima para o sofrimento.

Ela vem vindo, com o sorriso no rosto,Às vezes canta uma música antiga, do tempo da

sua avó... pra esquecer o cotidiano.Atenta, observa os barracos novos que surgiram:“Como isso aqui está crescendo”, pensa consigo,

“isso vai virar um mundo”.