57
www www.eadseculo21.org.br Página 1 Maria na Devoção Popular Módulo 3 Maria na Devoção Popular Desde os primeiros tempos da história da Igreja, a Virgem Maria ocupou um lugar destacado no culto e nas liturgias. Às vezes em seu justo lugar, outras vezes correndo quase que paralelo à celebração do mistério de Cristo, que sempre deve ocupar o lugar central em toda a liturgia da Igreja. A reforma da liturgia requerida pelo concílio Ecumênico Vaticano II teve esta preocupação de colocar a pessoa da Virgem Santíssima no seu justo lugar, dada a sua missão e participação ímpar e singular na história de nossa Salvação. O papa Paulo VI no discurso de encerramento da III sessão do Concilio Vaticano II assim se pronunciou: “É a primeira vez (...) que um Concílio Ecumênico apresenta uma síntese tão vasta da doutrina Católica , no que concerne ao lugar que Maria Santíssima ocupa no mistério de Cristo e da Igreja”. Por isso, terminado o Concílio, sentiu-se essa repercussão na oração litúrgica com a revisão total do calendário e dos livros litúrgicos. O concílio do Vaticano II centralizou o culto Mariano sobre o mistério de Cristo celebrado na Igreja, em sua liturgia. O Culto da mãe do Senhor se insere, pois conforme o modo que lhe é peculiar, na dinâmica teológica que caracteriza a liturgia como ação de Cristo e da Igreja. Por isso a consideração de Maria no contexto litúrgico está imbuída da relação com os mistérios de Cristo e da igreja. Celebração de Maria no mistério de Cristo e da igreja: A encarnação de Cristo é o ponto de comunhão entre Deus e o homem. Neste ponto se encontra Maria. Louvando o Altíssimo pela sua descida redentora, a Igreja

Maria - Devocao Popular

Embed Size (px)

Citation preview

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 1

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Maria na Devoo Popular

    Desde os primeiros tempos da histria da Igreja, a Virgem Maria ocupou um

    lugar destacado no culto e nas liturgias. s vezes em seu justo lugar, outras vezes

    correndo quase que paralelo celebrao do mistrio de Cristo, que sempre deve

    ocupar o lugar central em toda a liturgia da Igreja.

    A reforma da liturgia requerida pelo conclio Ecumnico Vaticano II teve esta

    preocupao de colocar a pessoa da Virgem Santssima no seu justo lugar, dada a

    sua misso e participao mpar e singular na histria de nossa Salvao.

    O papa Paulo VI no discurso de encerramento da III sesso do Concilio

    Vaticano II assim se pronunciou: a primeira vez (...) que um Conclio Ecumnico

    apresenta uma sntese to vasta da doutrina Catlica , no que concerne ao lugar que

    Maria Santssima ocupa no mistrio de Cristo e da Igreja.

    Por isso, terminado o Conclio, sentiu-se essa repercusso na orao litrgica

    com a reviso total do calendrio e dos livros litrgicos.

    O conclio do Vaticano II centralizou o culto Mariano sobre o mistrio de

    Cristo celebrado na Igreja, em sua liturgia. O Culto da me do Senhor se insere, pois

    conforme o modo que lhe peculiar, na dinmica teolgica que caracteriza a liturgia

    como ao de Cristo e da Igreja.

    Por isso a considerao de Maria no contexto litrgico est imbuda da

    relao com os mistrios de Cristo e da igreja.

    Celebrao de Maria no mistrio de Cristo e da igreja:

    A encarnao de Cristo o ponto de comunho entre Deus e o homem. Neste

    ponto se encontra Maria. Louvando o Altssimo pela sua descida redentora, a Igreja

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 2

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    louva ao mesmo tempo as maravilhas da graa realizada em Maria e a sua

    colaborao a fim de que se cumprisse a vinda do verbo Divino entre os homens.

    No se trata de duas orientaes, mas do mesmo movimento: A Igreja celebra

    primeiramente a obra de Deus no mistrio Pascal de Cristo e nele se encontra a me

    associada intimamente ao filho (Missal da Bem aventurada Virgem Maria, n 10).

    Por isso celebrar o Deus feito homem por ns homens implica naturalmente

    a pessoa da Virgem Maria. A eficcia Salvfica daquela nica concepo virginal se

    perpetua na liturgia. A carne e o sangue de Cristo continuam a se tornar

    sacramentalmente presentes em favor de nossa salvao e santificao em virtude

    daquela nica concepo virginal acontecida em Nazar.

    Maria aquela que acolhendo Deus historicamente no seu ventre, concebeu-

    o e o deu a luz para todo o sempre. Por isso o culto a Virgem Maria um culto

    introdutrio: Vamos a Maria para chegar a Jesus, mas tambm parte integrante da

    celebrao eclesial do mistrio de Cristo. Celebrar a Virgem Maria significa para a

    Igreja celebrar os mistrios do Senhor.

    Portanto o primeiro e fundamental critrio com que se exprime a venerao

    eclesial a Maria o vnculo indissolvel que une Maria a Cristo seu Filho e nosso

    Redentor.

    Introduo:

    "Ora, apenas Isabel ouviu a saudao de Maria, a criana estremeceu no seu

    seio; e Isabel ficou cheia do Esprito Santo. E exclamou em voz alta: Bendita s tu

    entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de

    vir a mim a Me do meu Senhor?(Lc 3, 41-44)

    Conta a historinha que duas amigas, vizinhas de prdio, se encontraram na

    porta do elevador do seu prdio. Cumprimentaram-se e puxando conversa, uma

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 3

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    delas falou: Estou indo rezar para Nossa Senhora. Para seu espanto, ouviu a

    vizinha perguntar-lhe: Qual delas? Vocs inventaram tantas... a outra amiga

    engoliu seco a zombaria, ofereceu aquele momento desagradvel a Deus, e

    comeou a falar-lhe: Voc tem seu nome mas, como que sua filha chama voc?

    No deixou que a outra respondesse: Chama voc de mame. E a sua neta a chama

    de Vov. Seu marido chama voc de meu bem ou quem sabe, de algum apelido

    carinhoso. Para mim voc a minha vizinha. Para o zelador do prdio, a moradora

    do 602. Sua me chamava voc de minha filha querida...

    O elevador chegou, elas desceram juntas e minha amiga ainda lembrou o

    mdico que a chamava de minha cliente, o feirante que a chamava de freguesa, etc.

    A vizinha estava visivelmente aborrecida com a lio.

    Quando ia afastar-se ainda ouviu: Se voc vizinha, tem tantos ttulos, imagine

    aquela que a Me de Deus, a rainha do Universo! E, com um sorriso, a amiga

    seguiu seu caminho.

    Por que Nossa Senhora recebe tantos ttulos?

    O povo deu muitos ttulos a Nossa Senhora, expressando seu amor filial por

    ela. Nos diversos pases, Maria chamada de Nossa de Lourdes, Nossa Senhora de

    Ftima, Nossa de Guadalupe, Nossa Senhora da Conceio Aparecida, os ttulos

    esto ligados aos mistrios da vida da Me de Jesus, cultura do povo e muitos

    deles, como resposta de Deus atravs dela, s necessidades de seus filhos. Na

    riqueza de seus ttulos, Nossa Senhora sempre nica: a Virgem de Nazar.

    Nossa Senhora est presente na vida de todos ns, sempre nos ajudando e

    derramando sobre ns todas as suas graas, pois nossa Me Querida. No h

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 4

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    catlico que no recorra a ela nos momentos de aflio e que no a ame e a venere

    pela sua infinita bondade.

    Porm, Nossa Senhora venerada sob diversos ttulos, todos associados a

    maravilhosas aparies, a lindas imagens da Virgem Maria e as diversas graas que

    ela promoveu ao longo dos tempos. So belssimas histrias e relatos que falam

    sobre o amor das pessoas para com a Virgem Maria e de diversas graas, milagres,

    bnos e mensagens de amor que Ela nos concedeu, atravs de suas imagens e

    aparies.

    Essas invocaes marianas sobem aos cus nos mais variados idiomas, desde

    o I sculo d.C. brotadas do corao de todas as raas, naes e povos.

    Nossa Senhora de Guadalupe

    Patrona das Amricas

    Em 1531 uma Senhora do Cu apareceu a um pobre ndio de Tepeyac, em

    uma montanha a noroeste da Cidade do Mxico; Ela identificou-se como a Me do

    Verdadeiro Deus, instrui-o a dizer ao Bispo que construsse um templo no lugar, e

    deixou Sua prpria imagem impressa milagrosamente em seu Tilma, um tecido de

    pouca qualidade (feito a partir do cacto), que deveria se deteriorar em 20 anos, mas

    at hoje, h quase 500 anos depois, no mostra sinais de deteriorao, desafiando

    qualquer explicao cientfica sobre sua origem.

    Curiosamente, ainda a imagem impressa no pano, parece refletir nos olhos, a

    figura do prprio ndio, que era a pessoa que estava frente de Nossa Senhora

    naquele momento em 1531.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 5

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    No local da apario no Mxico foi construda uma Baslica, que anualmente

    visitada por cerca de 10 milhes de fiis, que se tornou o Santurio Catlico mais

    popular do mundo depois do Vaticano.

    Ao todo 24 Papas tem honrado, oficialmente, Nossa Senhora de Guadalupe.

    Sua Santidade Joo Paulo II, j visitou seu Santurio por trs vezes: Em sua primeira

    viagem como Papa em 1979 e novamente em 1990 e 1999. Ele ajoelhou-se diante

    de sua imagem, invocou sua assistncia maternal e dirigiu-se a ela como a Me das

    Amricas.

    As aparies e o milagre:

    Todos os escritos narrados sobre as aparies da Nossa Senhora de

    Guadalupe so inspirados no Nican Mopohua, escrito em Nahuatl, a linguagem

    Azteca, pelo ndio erudito Antnio Valeriano em meados do sculo XVI.

    Infelizmente o original deste trabalho no foi achado. Uma cpia foi

    primeiramente publicada em Nahuatl por Luis Lasso de la Vega em 1649. Isto o

    que ns veremos aqui.

    De acordo com o autor, dez anos depois da tomada da Cidade do Mxico, a

    guerra chegou ao fim e houve uma paz entre os povos. Desta maneira comeou a

    brotar a f, o conhecimento do Deus Verdadeiro, por quem ns vivemos. Neste

    tempo, no ano de mil quinhentos e trinta e um, nos primeiros dias do ms de

    dezembro, aconteceu que havia um pobre ndio, chamado Juan Diego, inicialmente

    conhecido pelo nome nativo de Cuautitlan. No que diz respeito s coisas espirituais,

    ele pertencia ao Tlatilolco.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 6

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Primeira apario:

    No ano de 1531, nos primeiros dias do ms de dezembro, era sbado de

    madrugada, pouco antes do amanhecer, ele estava em seu caminho at o local onde

    ele realizava o seu culto divino. Ao chegar ao topo da montanha conhecida como

    Tepeyac, o dia amanhecia e ele ouviu cantos acima da montanha, assemelhando-se

    a cantos de vrios lindos pssaros. De vez em quando, as vozes cessavam e parecia

    que o monte lhe respondia. O som, muito suave e deleitoso, sobrepassava do

    coyoltototl e do tzinizcan e de outros pssaros lindos que cantam. Juan Diego

    parou, olhou e disse para si mesmo: Porventura, sou digno do que ouo? Ser um

    sonho? Estou dormindo em p? Onde estou? Ser que estou agora em um paraso

    terrestre de que os mais velhos nos falam a respeito? Ou quem sabe estou no cu?.

    Ele estava olhando para o oriente, acima da montanha, de onde vinha o precioso

    canto celestial e ento de repente houve um silncio. Ento, ouviu uma voz por cima

    da montanha dizendo-o: Juanito, Juan Dieguito. Ele com coragem foi onde o

    estavam chamando, no teve o mnimo de medo, pelo contrrio, encorajou-se e

    subiu a montanha para ver. Quando alcanou o topo, viu uma Senhora, que estava

    parada e disse-lhe para se aproximar. Em sua presena, ele maravilhou-se pela sua

    grandeza sobre-humana. Seu vestido era radiante como o sol. Ele inclinou-se diante

    dela e ouviu sua palavra suave e corts, como algum que encanta e cativa muito.

    Nossa Senhora da Salette

    Melanie Calvat nasceu em sete de novembro de 1831, em Corps, pequeno

    povoado dos Alpes Franceses. Muitas crianas da zona rural eram empregadas como

    pastoras entre a primavera e o outono, a servio de outras famlias, algo mais

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 7

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    abastadas, donas de alguns animais. Melanie Cavalt comeou pastorear nos morros

    quando estava com seis anos. Era uma menina muito sensvel. No sabia ler nem

    escrever. Pouco freqentava a igreja paroquial. Tinha mais prazer em vaguear pelas

    montanhas procura de ermidas perdidas nas quais orava. Seu pai, Pedro Cavalt,

    ensinou-a a rezar.

    Ele trabalhava na construo e por isso passava semanas ausente de casa. A

    me, Jlia Bernard, brigava muito com ela, porque Melanie sempre chorava quando

    assistiam a algum espetculo na aldeia. Melanie no se sentia muito vontade no

    meio das pessoas. Preferia a solido dos montes. Uma tarde mandaram-na para fora

    de casa e ela foi para a floresta. Sentada sobre um tronco, novamente comeou a

    chorar com saudades de seus pais.

    Maximino Giraud tambm nasceu em corps, em 27 de agosto de 1835. Estava,

    portanto, com 11 anos de idade quando conheceu Melanie. Tambm no sabia ler

    nem rezar, falava apenas o dialeto de sua regio e tambm pastoreava. Muito

    curioso, no possua a sensibilidade de Melanie, nem a sua espiritualidade, embora

    fosse bom e singelo. E aconteceu que o pastor que guardava as duas vacas e duas

    cabras de Pedro Selme, adoeceu, de modo que esse campons chamou Maximino

    para substitu-lo, e sendo ele mais novo, mandou que se juntasse a Melanie, que

    conduzia e cuidava nos altos pastos, das quatros vacas do senhor Prat. Maximino

    veio juntar-se a Melanie. Ela o viu e ficou triste.

    Estranhou, porque achava que todo mundo na regio sabia que ela fugia de

    todas as companhias.

    Resmungando, aceitou pondo como condio que ele no a incomodasse.

    Pode deixar, eu me comportarei direitinho, ele respondeu. Eu me divertia

    sozinha com as flores, escreve Melanie. Falava com elas sem mais nem menos, e

    Maximino, estupefato, ria dela e lhe dizia que no fizesse aquilo, pois as flores, para

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 8

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    ele, no tinham ouvidos. O som do sino da Salete marcava a hora do Angelus.

    Melanie rezava enquanto Maximino tirava o chapu e guardava silncio. Assim,

    chegou a hora de comer. Tirou o po da mochila e como costumava fazer, fez uma

    grande cruz com a ponta da navalha, no centro, abriu um pequeno buraco. Se o

    diabo estiver, saia, se o bom Deus, fique. Assim falou Melanie, mas Maximino, que

    no parava de rir, jogou o po para ela ladeira abaixo, de um pontap. No se

    aborreceram e continuaram comendo.

    No dia seguinte, 19 de setembro de 1846, voltaram a encontrar-se. Maximino

    se acostumara com Melanie, escutava atentamente o que ela dizia s flores. E

    props que ela lhe ensinasse um jogo. Melanie disse: vamos fazer um paraso.

    Puseram-se a colher flores, uma boa quantidade. No havia pedras no local, de

    modo que Melanie props conduzirem os animais at uma pequena plancie perto

    da ribanceira, onde depois os encontraria. Partiram para a tarefa, terminaram, e

    Melanie explicou Maximino o smbolo da brincadeira de construir um paraso.

    Ficaram olhando, o sono bateu neles, afastaram-se alguns passos e deitaram para

    dormir sobre a relva.

    Ao acordar, Melanie no viu o gado. Chamou seu companheiro, enquanto

    subia a colina. Do cume, viu os animais deitados, muito tranqilos, em outro prado.

    Eu descia e Maximino subia quando de repente vi uma bela luz, mais brilhante que o

    sol. Chamou a ateno de Maximino e este gritou, jogando do cho o pau que trazia.

    Viram aquela luz intensa, arrendondada, rasgando-se, e dentro dela apareceu uma

    belssima Senhora, ainda mais luminosa, sentada sobre o paraso feito por eles.

    Meu Corao, conta Melanie Queria correr mais depressa que eu. No incio,

    tinha o rosto entre as mos, parecia chorar muito. E ento, a Senhora ficou de p,

    cruzou os braos sobre o peito e pediu-lhes cortesmente que se aproximassem.

    Tinha uma grande notcia a anunciar-lhes. Bem na frente dela, muito perto, a

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 9

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Senhora comeou a falar. Dos olhos dela, caam lgrimas constantes, que no

    cessaram durante todo quele tempo extraordinrio. A sua mensagem era

    proftica, apocalptica e cheia de misericrdia. Ela repetiu que o homem, que

    trabalhava, deve santificar as festas, pois a sofreguido do trabalho, da produo

    cega, viciada, acaba maldizendo as colheitas dos campos, tornando-os estreis e

    atraindo castigos sobre as vidas e os bens.

    Nossa Senhora de Ftima

    As aparies de Nossa Senhora

    O dia 13 de Maio de 1917 era domingo. Depois de terem ido Missa

    parquia, as crianas tinham levado as ovelhas a pastar em um lugar a dois

    quilmetros de Aljustrel, chamado Cova da Iria. O cu estava azul e claro, mas, a

    dado instante, pareceu-lhes ver um relmpago. Receando tempestade, juntaram o

    gado para conduzi-lo para casa. De repente, viram outro claro e ali, a poucos

    passos deles, sobre uma pequena azinheira, apareceu a figura de uma senhora

    vestida toda de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz, mais clara e intensa

    que um copo de cristal cheio de gua cristalina, atravessado pelos raios do sol mais

    ardente.

    - No tenhais medo. Eu no vos fao mal.

    - Donde a Senhora ?

    - Sou do Cu.

    - E que que a Senhora quer comigo?

    - Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta

    mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 10

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    - E eu tambm vou para o Cu?

    - Sim, vais.

    - E a Jacinta?

    - Tambm.

    - E o Francisco?

    - Tambm, mas tem que rezar muitos teros.

    Lcia fez ainda mais algumas perguntas. Por fim, Nossa Senhora perguntou-

    lhes:

    - Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele

    quiser enviar-vos, em ato de reparao pelos pecados com que Ele ofendido e de

    splica pela converso dos pecadores?

    - Sim, queremos.

    - Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graa de Deus ser o vosso conforto.

    Ao dizer estas ltimas palavras, Nossa Senhora abriu as mos, num gesto

    acolhedor de Me, oferecendo o seu Corao. Um misterioso reflexo de luz desceu

    at as crianas penetrando-lhes a alma e fazendo-as verem-se envolvidas em Deus,

    mais claramente do que nos vemos no melhor dos espelhos, - diz Lcia.

    Finalmente, Nossa Senhora acrescentou:

    - Rezem o tero todos os dias, para alcanarem a paz para o mundo e o fim da

    guerra.

    No dia 13 de Junho, os pastorinhos, acompanhados de algumas pessoas,

    estavam rezando o tero, quando, de novo, viram o misterioso claro. Lcia iniciou o

    dilogo:

    - O que a Senhora quer?

    - Quero que venhais aqui no dia 13 do ms que vem, que rezeis o tero todos

    os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 11

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Lcia pediu a cura de um doente. Nossa Senhora respondeu:

    - Se, se converter, curar-se- durante o ano.

    - Queria pedir-lhe para nos levar para o Cu.

    - Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas c mais algum

    tempo. Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer

    estabelecer no mundo a devoo ao meu Imaculado Corao. A quem a abraar,

    prometo a salvao e sero queridas por Deus, como flores postas por mim a

    adornar o Seu trono.

    - Fico c sozinha?

    - No, filha. E tu sofres muito? No desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu

    Imaculado Corao ser o teu refgio e o caminho que te conduzir at Deus.

    No dia 13 de Julho foi uma multido a acompanhar os pastorinhos. Viu-se o

    costumeiro claro. Lcia comeou o dilogo:

    - O que a Senhora quer?

    - Quero que venham aqui no dia 13 do ms que vem, que continuem a rezar o

    tero todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosrio, para obter a paz do

    mundo e o fim da guerra.

    Devoo Mariana e culto das imagens

    O nosso querido papa Joo Paulo II, numa instruo proferida na audincia

    geral de 29 de outubro de 1998 afirmava o seguinte:

    Depois de ter justificado doutrinariamente o culto da Bem-Aventurada

    Virgem, o Conclio Vaticano II exorta todos os fiis a tornarem-se os seus

    promotores: Muito de caso pensado ensina o Sagrado Conclio esta doutrina

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 12

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    catlica e ao mesmo tempo recomenda a todos os filhos da Igreja que fomentem

    generosamente o culto da Santssima Virgem, sobretudo o culto litrgico, que

    tenham grande estima s prticas e exerccios de piedade para com ela, aprovados

    no decorrer dos sculos pelo Magistrio.

    Com esta ltima afirmao os Padres conciliares, sem chegar a determinaes

    particulares, queriam reafirmar a validade de algumas oraes como o Rosrio e o

    Angelus, caras tradio do povo cristo e freqentemente encorajadas pelos

    Sumos Pontfices, como meios eficazes para alimentar a vida de f e a devoo

    Virgem.

    O texto conciliar prossegue pedindo aos cristos que mantenham fielmente

    tudo aquilo que no passado foi decretado acerca do culto das imagens de Cristo, da

    Virgem e dos Santos.

    Reprope assim as decises do II Conclio de Nicia, que se realizou no ano

    787 e confirmou a legitimidade do culto das imagens sagradas, contra quantos

    queriam destru-las, considerando-as inadequadas para representar a divindade (cf.

    Redemptoris Mater, 33). Ns definimos - declararam os Padres daquela

    assemblia conciliar com todo o rigor e cuidado que, semelhana da

    representao da cruz preciosa e vivificante, assim as venerandas e sagradas

    imagens pintadas quer em mosaico quer em qualquer outro material adaptado,

    devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, nas alfaias sagradas, nos paramentos

    sagrados, nas paredes e mesas, nas casas e ruas, sejam elas a imagem do Senhor

    Deus e Salvador nosso, Jesus Cristo, ou a da Imaculada Senhora nossa, a Santa Me

    de Deus, dos santos anjos, de todos os santos justos (DS, 600).

    Evocando essa definio, a Lumen Gentium quis reafirmar a legitimidade e a

    validade das imagens sagradas em relao a algumas tendncias que tm em vista

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 13

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    elimin-las das igrejas e dos santurios, a fim de concentrar toda a ateno em

    Cristo.

    O II Conclio de Nicia no se limita a afirmar a legitimidade das imagens, mas

    procura ilustrar a sua utilidade para a piedade crist: Com efeito, quanto mais

    freqentemente estas imagens forem contempladas, tanto mais os que as virem

    sero levados recordao e ao desejo dos modelos originrios e a tributar-lhes,

    beijando-as, respeito e venerao (DS 601).

    Trata-se de indicaes que valem de modo particular para o culto da Virgem.

    As imagens, os cones e as esttuas de Nossa Senhora, presentes nas casas, nos

    lugares pblicos e em inmeras igrejas e capelas, ajudam os fiis a invocar a sua

    presena constante e o seu misericordioso patrocnio nas diferentes circunstncias

    da vida. Ao tornarem concreta e quase visvel a ternura materna da Virgem, elas

    convidam a dirigir-se a Ela e suplicar-lhe com confiana e a imit-la, acolhendo com

    generosidade a vontade divina. Nenhuma das imagens conhecidas reproduz o rosto

    autntico de Maria, como j reconhecia Santo Agostinho (De Trinitate 8,7); contudo,

    ajudam-nos a estabelecer relaes mais vivas com Ela. Deve ser encorajado,

    portanto, o uso de expor as imagens de Maria nos lugares de culto e noutros

    edifcios, para sentir a sua ajuda nas dificuldades e o apelo a uma vida cada vez mais

    santa e fiel a Deus.

    Para promover o correto uso das sagradas efgies, o Conclio de Nicia recorda

    que a honra tributada imagem, na realidade, pertence quele que nela

    representado; e quem venera a imagem, venera a realidade que nela reproduzido

    (DS 601).

    Assim, adorando na imagem de Cristo a Pessoa do Verbo Encarnado, os fiis

    realizam um genuno ato de culto, que nada tem em comum com a idolatria.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 14

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    De maneira anloga, ao venerar as representaes de Maria, o cristo realiza

    um ato destinado em definitivo a honrar a pessoa da Me de Jesus.

    O Vaticano II exorta, porm, os telogos e os pregadores a evitarem tantos

    exageros como atitudes de demasiada estreiteza na considerao da dignidade

    singular da Me de Deus.

    Maria- mulher

    Maria: a bendita entre as mulheres

    Quem essa mulher chamada Maria? Fixemo-nos, nos dois relatos da

    Anunciao e da Visitao, no cap. 1 de Lucas. Eles nos compem a primeira parte

    da Ave-Maria. A temos os ttulos de honra principais de Maria: Cheia de graa, o

    Senhor contigo (Anjo Gabriel); Bendita s tu entre as mulheres (Isabel).

    I. Anunciao: cheia de graa

    1) Maria, a Interlocutora de Deus no negcio dos sculos:

    - O embaixador divino vem tratar com Maria do mais alto negcio, a obra dos

    sculos. Estamos na plenitude dos tempos (Gl 4,4; Mc 1,15): os tempos da

    salvao esperada. Por isso Maria pode cantar: O Onipotente fez em mim

    maravilhas (v. 49): a maravilha das maravilhas (encarnao).

    - Para essa tratativa de que pendem os destinos do mundo, o interlocutor

    escolhido por Deus no um varo, como fora sempre, mas uma mulher. Maria

    representa aqui a humanidade toda (Santo Toms de Aquino). No mais o varo

    que representa o mundo, mas uma mulher: Deus e o mundo negociando atravs de

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 15

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    seus representantes. A situao to estranha que Maria mesma fica perturbada

    (Lc 1,29).

    - No tempo de Maria, a mulher vivia numa situao de extrema submisso: na

    famlia, na sociedade, na religio. O vu que trazia era sinal disso. As leis da pureza

    legal faziam dela uma excluda. O estudo em geral lhe era vetado. Para um homem,

    dirigir a palavra a uma mulher era rebaixar-se. Mas o que faz Deus.

    - O grande embaixador da parte de Deus Gabriel. um dos anjos da face,

    os anjos superiores (arcanjos), que como os altos funcionrios da corte persa,

    tinham a permisso de estar diante do Monarca (Lc 1,19; Mt 18,10). Por isso, Gabriel

    o anunciador do tempo da salvao, como se v em Daniel, (Dn 8,16-17; 9,21-27).

    A mensagem importantssima.

    Maria, modelo de santidade

    Maria para a Igreja, modelo de vida e santidade, nos ensina a sermos santos,

    atravs de sua humildade, coragem, f e fortaleza.

    Em meio a muitas mulheres, Deus escolhe Maria para ser a me de Jesus, no

    escolheu nenhuma princesa ou rainha da poca, mas sim uma virgem humilde de

    Nazar.

    Em seus doze anos, recebe a visita do anjo Gabriel que faz a divina proposta

    de ser a Me do Messias, e Ela com toda a sua humildade d o sim ao Senhor com

    as seguintes palavras: Eis aqui a serva do Senhor. Faa-se em mim segundo a tua

    vontade. Lc 1,38

    Maria foi virgem antes, durante e depois do parto, pois o menino que nasceu

    do seu ventre foi obra do Esprito Santo.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 16

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Maria como toda mulher, precisava de um companheiro, algum que ajudasse

    na educao do Santo Menino, o nome do marido de Maria era So Jos, o

    carpinteiro, homem humilde como ela, honesto e casto, foi para Jesus um pai

    adotivo.

    Mesmo recebendo a bno de ser Me do Filho de Deus, Maria sabia que ia

    sofrer muito, pois Jesus veio ao mundo para sofrer pela humanidade e dar a ela a

    Salvao.

    O primeiro sofrimento de Maria foi quando Jesus era beb, Herodes, sabendo

    que o Messias havia nascido, mandou matar todas as crianas que tinham at trs

    anos de idade.

    Jesus, porm, no foi ferido, pois Jos teve um sonho onde um anjo ordena-

    lhe que fosse imediatamente para o Egito onde deveria morar, at que todos os que

    queriam a morte de Jesus morressem. Jos, ento, fez o que o anjo ordenou,

    acordou Maria e foram os trs para o Egito.

    O segundo sofrimento de Maria foi quando Jesus estava com doze anos, era

    poca da Pscoa e Jesus perdeu-se de seus pais, foram trs dias de agonia para

    Maria e Jos que o procuravam em todos os lugares, at o encontrar no templo

    ensinando as Escrituras aos doutores da lei. Depois dessa passagem, Maria s

    aparece na Bblia no primeiro milagre de Jesus, nas Bodas de Can.

    Jesus comea a sua misso salvfica com as Bodas de Can, onde atravs de

    Maria, faz o seu primeiro milagre: transforma a gua em vinho. Podemos chegar

    ento a uma concluso muito importante: Maria tambm nossa Intercessora.

    Quando notou a falta de vinho na festa, veio logo falar com seu amado filho: Eles j

    no tem vinho. (Jo 2,3) Jesus ento responde: Mulher isso compete a ns? Minha

    hora ainda no chegou. (Jo 2,4). Mesmo assim Maria no desiste, sabendo da

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 17

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    bondade de Jesus fala aos servos: Fazei o que Ele vos disser (Jo 2,5). Jesus ento

    faz o milagre.

    muito importante mencionar que Maria no realiza milagres, ela somente

    nossa Intercessora, quem faz milagres Jesus.

    Ento, quando voc tiver precisando da ajuda de Jesus, pea a ajuda de Maria.

    Tenho certeza que ela, com toda a sua humildade e amor ao seu filho, vai fazer com

    que o seu problema chegue s mos de Jesus.

    Atravs do milagre das Bodas de Can, Jesus comea a sua misso e Maria fica

    um tanto quanto desaparecida durante esse perodo na Bblia, s aparece em

    algumas passagens e durante a Paixo de Jesus e a Ressurreio.

    O sofrimento de Maria no pra por a, no perodo Pascal, Jesus estava

    prestes a ser entregue, Maria nunca esteve afastada, ficou todo o tempo l perto de

    Jesus, atravs da orao.

    Ver seu Filho morrer crucificado foi uma dor enorme no corao de Maria. No

    p da cruz, Maria sofria com Jesus, era consolada por Joo (apstolo amado).

    Foi na cruz que Jesus deu a Maria uma nova misso, atravs das seguintes

    palavras: Eis a o teu filho.

    O Santo Rosrio

    At Setembro de 2002, ns conhecamos um rosrio com 3 grandes mistrios:

    gozosos (alegria), dolorosos (paixo) e gloriosos (vitria). Estes trs blocos de

    mistrios somavam 150 ave-marias. Porm, a partir de outubro de 2002, o papa,

    Joo Paulo II, apresentou toda Igreja mais um mistrio do Santo Rosrio: chamado

    de mistrios da luz ou mistrios luminosos. Assim sendo, agora j temos um

    Rosrio com a meditao de quatro grandes mistrios da vida de Cristo: Gozosos

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 18

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    (que rezamos nas segundas e sbados), Dolorosos (que rezamos nas teras e sextas),

    Luminosos (que rezamos s quintas-feiras) e dos Gloriosos (que rezamos nas quartas

    e domingos). O nome ainda vai se chamar de Tero para no nos confundirmos. J

    imaginou chamar de quarto. Algum te perguntaria: O que voc vai fazer?, e

    voc responderia: Eu vou rezar o quarto. Ficaria muito estranho. Assim, ser

    continuamente chamado como popularmente conhecido, de tero.

    Uma pergunta pode surgir mente neste momento: Qual a origem do Santo

    Rosrio?

    O Rosrio um modo piedosssimo de orao e splica a Deus, um modo fcil

    ao alcance de todos, que consiste em louvar a prpria Santssima Virgem repetindo

    a saudao Anglica, 200 vezes, intercalando a cada dezena a orao do Senhor,

    com determinadas meditaes que ilustram toda a vida de nosso Senhor Jesus

    Cristo. Portanto, j aprendemos algo muito importante aqui. O centro do Rosrio,

    no Nossa Senhora. O centro do Rosrio Jesus Cristo, a Santssima Trindade.

    Isso muito importante saber.

    Mas qual foi a origem deste mtodo to bonito de orao? A saudao

    evanglica j era conhecida na cristandade h muito tempo atrs, nos primeiros

    sculos. Mas foi a partir do sculo XII que esta orao de piedade popular foi

    ganhando forma. Era muito comum, nos mosteiros, a repetio dos pai-nossos e a

    primeira parte da ave-maria. Muitos monges no sabiam ler ou escrever, por isso,

    nas suas oraes eles recitavam uma quantidade de pai-nosso e da primeira parte

    da ave-maria. A primeira parte consiste na saudao do Anjo Gabriel a Virgem

    Maria: Ave Maria, cheia de graa, o Senhor contigo..., depois vem a saudao de

    Isabel, ... bendita sois vs entre as mulheres e bendito o fruto do vosso ventre.

    Mais tarde, no sculo XV foram introduzidos o nome de Jesus e o Amm.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 19

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    No ano de 1586, foi introduzido no rosrio a Santa Maria pelo Papa Pio V.

    No final do sculo XIV, um monge cartuxo, Henrique de Kalkar, fez uma

    subdiviso no rosrio, dividindo-o em trs unidades, ou seja, em 15 dezenas,

    inserindo entre cada dezena e a seguinte, a recitao do Pai-Nosso. A simples

    meditao das ave-marias e dos pai-nossos ainda no inclua a meditao dos

    mistrios. Isso aconteceu entre os anos de 1410 e 1439, quando Domingos da

    Prssia, props aos fiis que o nmero das Ave-Marias era reduzido a 50,

    acrescentando-se, porm, a cada uma delas uma referncia verbal de um

    acontecimento bblico, evanglico, por exemplo, da vida oculta de Jesus, da vida

    pblica, da sua paixo e da sua glorificao. Com essa diviso, comeou-se a chamar

    esta forma de orao mariana de o rosrio da bem-aventurada Virgem Maria.

    Em 1521, o dominicano Alberto de Castelo reduziu estes mistrios,

    escolhendo 15 dos principais para serem propostos meditao dos devotos.

    Em 1569, So Pio V com a bula Consueverunt Romani Pontfices, consagrou

    uma forma de rosrio alcanado em um momento ureo da sua evoluo, que a

    que conhecemos at os nossos dias.

    A doutrina de So Pio V, sobre a importncia do rosrio, pode ser sintetizada

    da seguinte maneira:

    a) necessidade da orao para superar dificuldades de guerras e outras

    calamidades;

    b) o rosrio inventado por So Domingos um meio simples e ao alcance de

    todos;

    c) tal meio se revelou de grande eficcia contra as heresias e os perigos para a

    f e operou numerosas converses;

    d) recomenda a recitao do rosrio a todo o povo cristo.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 20

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Muitos foram os documentos pontifcios que surgiram na histria da Igreja

    para legitimar a importncia do Santo Rosrio.

    Pio XII escreveu sobre o rosrio, por exemplo, uma encclica e 8 cartas, sem

    contar os numerosssimos discursos. O rosrio sntese de todo o evangelho,

    meditao dos mistrios do Senhor, sacrifcio vespertino, coroa de rosas, hino de

    louvor, orao da famlia, compndio da vida crist, penhor seguro dos favores

    celeste, refgio para a espera da salvao, dizia ele.

    Maria no documento de Puebla

    Na sua III Conferncia Geral dos Bispos da Amrica Latina, realizada na cidade

    de Puebla, no Mxico, no ano de 1979, os bispos, telogos e especialistas da f,

    refletiram sobre o presente e o futuro da evangelizao na Amrica Latina.

    Reafirmaram que a Igreja deve sempre, a exemplo do seu fundador, Jesus Cristo,

    assumir a sua opo preferencial pelos pobres. Nesta conferncia surgiu uma bonita

    reflexo sobre a presena e a importncia de Maria neste continente latino

    americano to sofrido socialmente, mas to rico de esperana, f e caridade.

    Veremos o que Maria nos inspira neste valiosssimo documento.

    1. Importncia desse documento mariolgico:

    No Documento de Puebla, o Magistrio do Continente exps pela primeira vez

    um pensamento mariolgico relativamente desenvolvido. Esse texto representa um

    dos melhores documentos mariolgicos de um Magistrio eclesistico regional.

    O documento apresenta toda uma seo (n 282 ao n 303). So ao todo 22

    nmeros. A, situa-se a mariologia dentro da eclesiologia, como faz o Vaticano II na

    Lumen Gentium (cap. VIII). Mas deve-se tambm dizer que existem ainda mais de 20

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 21

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    nmeros, esparsos por todo o documento, referentes Maria, alguns muito

    importantes, como vamos refletir abaixo.

    2. Carter geral da Mariologia de Puebla (forma):

    Puebla nos pe diante de uma mariologia contextual. Trata-se de uma

    imagem de Maria vista com olhos latino-americanos, ou seja, com a sensibilidade da

    Igreja do nosso Continente.

    Alis, para apoiar suas afirmaes, o documento invoca vrias vezes o sensus

    fidelium do Povo latino-americano (284, 285, 289, 296, 303).

    Embora suas fontes principais sejam o cap. VIII da Lumen Gentium e a Marialis

    Cultus, essas so lidas segundo as preocupaes pastorais do Continente.

    Estamos, portanto, aqui diante de uma mariologia concreta e no

    meramente doutrinria. Por outras palavras: trata-se de um discurso ao mesmo

    tempo espiritual (experiencial e existencial) e pastoral (prtico e comprometido).

    Por ser concreto, o documento, no raro, est vazado numa linguagem

    icstica, expressiva e bem talhada. Assim, por exemplo, quando apresenta:

    - Maria como o rosto materno de Deus (282). A idia a contida reaparece

    na expresso: presena sacramental dos traos maternais de Deus (291);

    - Maria como educadora da f e pedagoga do Evangelho (290);

    - Maria como protagonista da histria (283);

    - A Imaculada como o rosto do homem novo (298);

    - Maria mulher (299): afirmao aparentemente evidente, mas de grande

    poder heurstico.

    - Maria como garantia da grandeza da mulher (299).

    - A piedade mariana como vnculo resistente da identidade catlica do Povo

    latino-americano (284);

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 22

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    - O Magnificat como espelho da alma de Maria e igualmente como

    preldio do Sermo da Montanha (297);

    - Enfim, Maria como figura concreta em que culmina toda libertao (333).

    Simplicidade de Maria

    Maria foi uma mulher comum. Uma mulher que acreditou na Palavra do

    Senhor e que se esforou em vivenci-la no seu dia-a-dia, com todas as dificuldades

    de sua poca. Num mundo de egosmo e de dio, de opresso do seu semelhante,

    de guerra e desamor.

    Sabemos que nos dias de hoje, o ser humano valorizado, no por aquilo que

    , mas por aquilo que possui. O valor das pessoas, infelizmente, se mede pela conta

    no banco, pelas propriedades, pelas terras que possui, pela cultura que tem, pela

    valentia, pelo cargo que ocupa, pela fama, etc.

    Com Maria foi diferente. Ela nasceu no meio do povo simples e viveu no meio

    dos pobres.

    Maria no nasceu no meio de uma famlia rica, no fez nenhuma carreira, no

    tinha diplomas, no tinha terras e grandes propriedades e no tinha proteo dos

    ricos e poderosos.

    Nesta moldura de simplicidade e humildade, que a vida de Maria se torna

    mais amvel e fascinante. por isso que os pobres de hoje sabem e tm certeza do

    profundo amor de Maria por eles. Um amor de me que os ama e os protege.

    Todos podem invocar e recorrer a Maria porque ela espelho de

    simplicidade, presena de amor de Deus no meio de ns, modelo de pacincia nas

    dificuldades, exemplo de perseverana no trabalho, sinal de paz para as famlias,

    conforto para os que sofrem, uma mulher capaz de compreender todos aqueles que

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 23

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    lutam pela vida, porque ela lutou, ela se esforava para ganhar o prprio po com o

    suor do seu trabalho.

    A vida do pobre no fcil, muitas vezes, ele anda de mos vazias e com

    srias dificuldades para sobreviver.

    Ns, muitas vezes, somos capazes de dar um pouquinho do nosso precioso

    tempo para conversar com quem anda bem vestido, de palet, de gravata, com

    aquele que ocupa cargos importantes na poltica, na empresa, com aquele que tem

    ares de pessoa inteligente, capaz, agradvel, quem rico, at mesmo com quem

    ocupa um lugar importante na Igreja, com quem pode nos ajudar futuramente.

    Porm no temos tempo, de forma nenhuma, para conversar com o mendigo que

    pede esmola na esquina, a me que pede uns trocadinhos para o po e o gs que

    acabou, a criana que estende a mo pedindo umas moedinhas no semforo, um

    aleijado estirado no cho de nossa cidade, um mal vestido, um maltrapilho, um

    velho abandonado que cheira mal e que h muito tempo no toma banho.

    Para estas pessoas no temos tempo e muito menos recursos.

    Pobre no tem vez. Est condenado a gritar no vazio da vida e escutar o eco

    de sua prpria voz dizendo no.

    Tem at um ditado popular que diz em casa de pobre, ladro s leva susto.

    De fato, casa de pobre no tem chave e nem trinco para fechar.

    Mas Deus em casa de pobre se sente vontade, sempre bem recebido,

    amado e respeitado. E a nica pessoa que escuta de verdade a voz do pobre Deus.

    A prpria bblia, do incio ao fim, est cheia desta preferncia de Deus para com os

    pobres. Deus ouve o grito e o clamor do pobre.

    Maria de Nazar tambm chamada a pobre de Jav, a pobre de Deus.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 24

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Deus escuta o pobre, porque o pobre escuta Deus. Pobre, para Deus, uma

    terra virgem, onde ele pode semear sua semente, e tem certeza que vai dar fruto,

    no ser abandonada.

    O pobre no pede grandes coisas a Deus. Pede apenas um pedao de po

    para no morrer de fome, a chuva suficiente para a sua plantao, o sol para que

    seu trabalho d uma colheita boa, a sade para os seus filhos, uma casa onde morar

    com a famlia toda, um pouco de respeito e de dignidade para viver.

    Ele no pede a Deus para ser rico, fazer carreira, ser o melhor da turma,

    mudar de trabalho, ser o mais poderoso e mais importante do seu bairro, da sua vila

    e da sua cidade.

    Maria pediu a Deus aquilo que mais importante na vida: ao responder ao

    anjo Gabriel eis aqui a serva do Senhor, que se faa em mim segundo a Tua

    Palavra.

    Deus se aproximou de Maria. Ele no tem medo de se aproximar das pessoas.

    Deus no tem medo das doenas contagiosas, de mau cheiro dos barracos, de quem

    anda mal vestido, de quem anda sujo, de quem s tem uma muda de roupa para

    trocar, de quem chora de fome, de sede e de dor.

    Maria era toda de Deus e toda do povo

    Maria era toda de Deus e toda do seu povo. Maria estava 100% em sintonia

    com o Deus da histria e com histria do seu povo.

    Maria era aquela que ouvia, acreditava e vivia a Palavra de Deus.

    Durante a visita a Isabel, Maria mostrou a sua gratido a Deus fazendo um

    cntico, cantado at hoje: O Senhor fez em mim maravilhas, Santo o seu nome.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 25

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Ora, este cntico, todo inteiro, est cheio de frases tiradas da Bblia. S uma pessoa

    que conhece a Bblia quase de cor capaz de fazer um cntico assim.

    Isso mostra que Maria conhecia muito bem a bblia. Ela meditava a Palavra de

    Deus, lendo-a em casa ou participando das reunies com o povo. Conhecia a histria

    de Abrao e do xodo, a lei de Moiss, as promessas dos profetas, os salmos de

    Davi. Estava a par do plano de Deus, descrito na Bblia. E no era s isto. Ela no s

    ouvia e meditava a Palavra de Deus, mas tambm procurava viv-la, para assim

    ajudar na realizao do plano de Deus. o que mostra na visita do anjo. Quando o

    anjo Gabriel lhe apresentou a Palavra de Deus, Maria no teve dvida. Acreditou e

    se colocou disposio de Deus: Eu sou a serva do Senhor, faa-se em mim

    segundo a tua palavra, ou seja, Que esta palavra de Deus se realize em mim. Foi

    por isso que Isabel a elogiou Maria, voc feliz porque acreditou na realizao das

    coisas que lhe foram ditas por Deus.

    A palavra de Deus estava presente na vida de Maria. E aqui a gente deve notar

    o seguinte: aquela Palavra de Deus que o anjo levou a Maria no estava escrita na

    bblia, mas era um fato novo que estava acontecendo naquele exato momento. Para

    Maria, Deus falava no s pela bblia, mas tambm pelos fatos da vida. Ela foi capaz

    de reconhecer a Palavra de Deus nos fatos, porque se alimentava da Palavra de

    Deus escrita na bblia. A meditao da palavra escrita purifica os olhos e faz

    descobrir a palavra viva de Deus na vida. Felizes os que tm o olhar limpo porque

    vero a Deus, disse Jesus uns 30 anos mais tarde, no sermo das bem-

    aventuranas.

    nesta ateno constante para a Palavra de Deus na bblia e na vida que est

    a causa da grandeza de Maria. Certa vez, quando Jesus estava fazendo um sermo

    ao povo, uma mulher no se conteve e elogiou sua me: Feliz aquela que te

    carregou no seio e te alimentou no seu peito. Mas Jesus no estava muito de

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 26

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    acordo e fez outro elogio a sua me: Felizes, sim, os que ouvem a palavra de Deus e

    a pem em prtica.

    A causa da grandeza de Maria no estava no fato de ela ser a me de Jesus, de

    t-lo carregado nove meses no seio e alimentado no peito. Isso era conseqncia. A

    causa estava no fato de ela ter ouvido a palavra de Deus e colocado em prtica. Por

    causa desta sua obedincia palavra de Deus, ela disse ao anjo: Faa-se em mim

    segundo a tua palavra. E foi a que ela se tornou me de Deus. E convm lembrar

    ainda que Jesus no falou: Felizes os que lem a bblia e a pem em prtica, mas

    falou: Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a pem em prtica. A palavra de

    Deus no est s na bblia. Ela se revela tanto na bblia como na vida.

    Ningum deve pensar que tudo isso fosse muito fcil para Nossa Senhora.

    Nesta sua vontade de ouvir e praticar a palavra de Deus, ela encontrava a sua

    felicidade e paz, e tambm a fonte do seu sofrimento. Muita coisa do que Deus

    exigia dela, ela no chegava a entender plenamente. Procurava entender, mas nem

    sempre conseguia. Assim, diante da palavra de Deus, algumas vezes, ela ficava com

    medo. O anjo teve que dizer-lhe: No tenhas medo, Maria. Outras vezes ela ficava

    admirada, por exemplo, quando o velho Simeo disse que Jesus era a luz das

    naes. Ela deve ter ficado muito preocupada, quando este mesmo Simeo lhe

    disse: Uma espada de dor atravessar o teu corao. Ela ficou sem entender o

    convite do anjo para ser a me de Jesus e no entendeu as palavras que Jesus

    mesmo lhe dirigiu, depois que ela o procurou durante trs dias e o encontrou no

    templo no meio dos doutores. Ela deve ter sofrido horrivelmente, quando por causa

    da sua fidelidade palavra de Deus, provocou aquela dvida em So Jos.

    A bblia diz que ela ouvia tudo e que depois guardava em seu corao. Ficava

    mastigando, lembrando e meditando as coisas, grandes e pequenas da bblia e da

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 27

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    vida. No sabia tudo, no entendia tudo, havia muita escurido, a luz se faz na

    travessia.

    A palavra de Deus tinha entrada franca na vida de Maria e nela no

    encontrava nenhum obstculo.

    A obedincia de Maria

    Do sim da humilde serva do Senhor, os servos aprenderam a acolher a

    Palavra de Deus e a estar atentos voz do Esprito Santo (Const. 6). Entre as

    virtudes de Maria, alm das teologais, a Lumen Gentium (documento do Vat.II) pe

    a obedincia em destaque. (cf. LG 56, 61, 63, 65)

    E no de se admirar. Pois no ela a Serva do Senhor? E como Serva no

    foi ela a imitadora mais perfeita do Servo do Senhor, cuja vida se definiu pela

    obedincia ao Pai? Ora, nada mostra melhor a obedincia de Maria que o quadro da

    Anunciao (Lc 1,26-38), como o Vaticano II mesmo percebeu (LG 56). Vejamos os

    principais elementos que se depreendem desse relato e que podem nos instruir em

    relao obedincia. A partir desse bloco, faremos incurses em outros episdios

    da vida de Maria relativos ao tema em foco.

    1. Maria est diante de Deus:

    Atravs do Anjo Gabriel Deus mesmo quem se dirige Virgem de Nazar. A

    proposta de Deus e a Ele que a Virgem chamada a responder. A relao aqui

    plenamente teologal: Maria est coram Deo (diante de Deus). Ela interpelada em

    termos de f e de obedincia aos planos do Senhor.

    A obedincia religiosa uma forma de f. So Paulo fala na obedincia da f

    (Ro 1, 5; 16 ,26). Quando se cr se obedece. Todos os religiosos e consagrados

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 28

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    fazem o voto evanglico da obedincia que tem por termo Deus mesmo. a Deus

    finalmente que se obedece. O voto sempre feito a Deus, embora nas mos dos

    superiores, que funcionam a como representantes. O voto da obedincia, em

    particular, exprime uma especial entrega a Deus: a consagrao a Ele do que temos

    de mais nosso: a vontade e a liberdade. Nesse sentido um sacrifcio de si prprio

    a Cristo e ao Reino.

    Isso significa que aqui preciso superar uma concepo meramente natural

    da obedincia. De fato, obedincia ou disciplina uma exigncia de qualquer

    organizao humana para poder funcionar e atingir seus objetivos. Onde h

    sociedade, h autoridade e onde h autoridade, h obedincia. E isso vale tambm

    para uma Ordem religiosa. Mas estamos aqui num patamar ainda muito funcional

    da obedincia religiosa (embora sempre tenha gente que nem isso alcana

    compreender). s num patamar mais elevado (o coram Deo), que se alcana o

    verdadeiro sentido da obedincia consagrada.

    2. As mediaes da obedincia:

    Para se realizar concretamente, a obedincia a Deus passa por muitas

    mediaes: nossos carismas pessoais, as exigncias da realidade, as autoridades

    humanas. J no caso da Anunciao, essas mediaes so praticamente canceladas.

    Isso se deve excepcionalidade absoluta do evento. Pois se tratava a de nada

    menos que do opus saeculorum": o negcio da salvao do mundo.

    Mas no ordinrio de sua vida, Maria tambm teve de perceber a vontade de

    Deus atravs de sinais. Ela tambm teve que se submeter s mediaes concretas e

    humanas para saber qual era a vontade de Deus sobre ela. E porque a vontade de

    Deus nem sempre clara e fcil, ela tambm tinha a necessidade de guardar estas

    coisas e medit-las no seu corao. Por exemplo, para obedecer a Deus, ela teve

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 29

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    que se submeter autoridade do imperador Augusto e a seu dito para o

    recenseamento geral; ao seu marido Jos, como fazia toda esposa do tempo; aos

    vrios preceitos da Lei; a seu Filho e sua Palavra, cortante como uma espada que

    transpassa a alma, ao Discpulo amado, sob cujos cuidados tinha sido posta pelo

    Cristo moribundo, etc.

    A f e a orao de Maria

    O Esprito Santo, que com a sombra de sua potncia cobriu o corpo virginal de

    Maria, dando assim incio maternidade divina dela, ao mesmo tempo tornou o seu

    corao perfeitamente obediente auto comunicao de Deus, que superava

    qualquer conceito e todas as faculdades do homem. Bem- aventurada aquela que

    acreditou (Lc 1,45): assim foi saudada Maria pela sua prima Isabel, tambm ela

    cheia do Esprito Santo. Nas palavras da saudao quela que acreditou parece

    delinear-se um contraste longnquo (mas, na realidade, muito prximo) com relao

    a todos aqueles de quem Cristo dir que no acreditaram (Jo 16,9). Maria entrou

    na histria da salvao do mundo mediante a obedincia da f. E a f, na sua

    essncia mais profunda, a abertura do corao humano diante do Dom: diante da

    auto comunicao de Deus no Esprito Santo. So Paulo escreve: O Senhor

    esprito, e onde est o esprito do Senhor, a h liberdade (2 Cor 3, 17). Quando

    Deus uno e trino se abre ao homem no Esprito Santo, esta sua abertura revela e

    ao mesmo tempo, doa criatura-homem a plenitude da liberdade. Esta plenitude

    manifesta-se de um modo sublime na f de Maria, pela sua obedincia de f (Rom

    1,5); sim, verdadeiramente, bem-aventurada aquela que acreditou.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 30

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Estas foram as palavras de Joo Paulo II, na Encclica Dominum et

    Vivificantem, n 51:

    A f de Maria provocou seu consentimento s palavras do anjo. Com certeza,

    o mensageiro de Deus lhe anunciava o mistrio da graa. Neste mistrio uma coisa

    estava certa: aquele que ia nascer dela ser chamado Salvador e nele realizar-se- a

    salvao do gnero humano. Na f de Maria encontra-se o amor para com seus

    irmos juntamente com a vontade de dar sua colaborao aos planos de Deus,

    portadores de bno e de salvao. Dando seu consentimento, a Virgem realiza

    uma escolha de amor e de dedicao. Maria torna-se um exemplo de f

    acreditando, por primeira, em tudo aquilo que os homens so chamados a acreditar.

    O amor para com os irmos d fora sua f. Renovar-se na f, juntamente com o

    esprito de reconciliao, significa libertar-se da maneira egostica de sentir a f, ser

    consciente de que a nossa f algo mais que a nossa resposta por motivos pessoais,

    ser convencido que a nossa f deve alimentar-se do amor, pois, quando

    acreditamos, nos abandonamos no Deus que se revela como Pai e doador da

    salvao de todos os homens e mulheres. Portando, a f um ato de confiana em

    Deus fortalecido pelo desejo de ver em nossos irmos o fruto e a eficcia da nossa

    f. Em Can, a f de Maria manifesta a sua profunda participao na condio

    humana dos convidados ao banquete nupcial. Diante da necessidade de seus irmos

    Maria recorre prpria f e consegue a interveno de Deus. Do mesmo modo que

    no amamos sozinhos, no podemos tambm crer sozinhos. Por isso, ns falamos

    de Igreja como de uma comunidade de f porque aprouve a Deus santificar e salvar

    os homens no singularmente, sem nenhuma conexo uns com os outros, mas

    constitu-los num povo, que O reconhece na verdade e santamente O servisse. Ao

    se referir a este princpio, o Conclio Vaticano II, afirma que Maria figura da

    Igreja, na ordem da f, mas de todos ns que vivemos em comunho fraterna. Se a

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 31

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    nossa f no circula entre ns como o sangue circula em nossas veias e mantm a

    vida no organismo, no podemos considerar-nos Igreja e se no somos Igreja, no

    podemos ser cristos, isto , ter uma f que para a Virgem Santssima foi o motivo

    de sua vida.

    O maior louvor que podemos dar a Maria elogiar a sua f, como fez Isabel.

    Maria o modelo da Igreja, sobretudo pela sua f. Ns vemos nela a f como grata

    acolhida daquele que o Caminho, a Verdade e a Vida. Pela f, Maria se abre

    atuao do Esprito Santo a e concebe em seu seio o Verbo encarnado do Pai,

    juntamente com a feliz notcia da vinda do Salvador e da misso a ela confiada.

    Aquela sua orao Eu sou a serva do Senhor uma f esperanosa e confiante.

    Sua f entrega total e confiana em Deus. Sua f disponibilidade absoluta e

    esprito atento aos sinais da vinda de Deus. Sua f faz dela uma mensageira da Boa

    Nova. A f em Maria significa alegria, mas tambm uma busca humilde e zelosa da

    vontade de Deus. Sua f abertura palavra de Deus, mas tambm abertura s

    necessidades dos homens. Ela a imagem da Igreja: une a gratido a Deus pela

    graa imerecida, com disponibilidade de servio aos outros. Todas as coisas

    maravilhosas que a Carta aos Hebreus fala sobre a f se transformam em louvor

    ainda mais belo quando lembramos a f em Maria. A f uma posse antecipada do

    que se espera, um meio de demonstrar as realidades que no se vem. Foi por ela

    que os antigos deram o seu testemunho. Foi pela f que compreendemos que os

    mundos foram organizados pela Palavra de Deus. Por isso que o mundo visvel no

    tem a sua origem em coisas manifestas.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 32

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Maria, mulher proftica e solidria

    Maria, mulher que gera e defende a vida dos indefesos, vivendo sua vida a

    servio dos outros, um exemplo de Mulher, pois a Me da Misericrdia, cuja

    ternura toca o nosso corao e que sempre recebe os nossos pedidos. Vamos

    consagrar a nossa vida e a nossa famlia a Maria.

    Maria modelo de f, desprendimento, generosidade, esprito de famlia e

    disponibilidade para com todos os cristos.

    O Evangelho de So Joo nos apresenta Maria, participando pessoalmente nas

    npcias de Can, onde se faz presente numa atitude de servio, prestado, sobretudo

    em funo de sua f em Cristo.

    Hoje, tambm, os devotos recorrem a Maria nos problemas, tanto de ordem

    material, quanto espiritual, pois, como disse aos serventes nas npcias, ela tambm

    nos anima e nos ensina.

    Maria exemplo de solidariedade, ativa e participante, com seu povo.

    Apresenta as necessidades do povo a seu Filho. Na bblia, o vinho novo simboliza a

    Palavra de Cristo, sua Revelao, a Nova Lei por ele trazida, seu Evangelho. E Maria

    prepara os fiis obedincia da f, quando diz: Fazei tudo o que Ele vos disser (Jo

    2, 5).

    Quando ns tambm nos colocamos em sintonia com Maria, tornamo-nos em

    Cristo e para Cristo servos e servas solidrios(as) e dedicados(as) dos que

    necessitam. Aquele e aquela que no solidrio (a) com os demais, tambm no o

    com Deus. Aquele (a) que deixou de servir ao outro, deixou de servir a Deus. H uma

    relao: Deus, eu e os outros. Maria deu-nos o exemplo de servio e de

    solidariedade.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 33

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    A gua que Jesus transforma em vinho, significa que Ele purifica o homem e a

    mulher pela Palavra da Verdade. O vinho novo de Can sinal do cumprimento da

    histria da salvao. O vinho velho, que acabou, representava o Antigo Testamento.

    O vinho novo a nova proposta, anunciada por este primeiro sinal realizado por

    Jesus.

    Em Can, Maria aparece no s como a me de Jesus, mas como a bem-

    aventurada que acreditou nessa novidade, facilitando a passagem do velho para o

    novo. Ela disse aos serventes e continua a nos dizer hoje: Fazei tudo o que Ele vos

    disser. Maria aponta para o verdadeiro Centro, que Cristo, e assim sugere e

    suscita a f nos discpulos.

    Na Igreja, Maria continua a ser o que foi em Can. Compadecida com a

    pobreza humana, ela dispe o corao dos homens e das mulheres para a f

    generosa na Palavra de Cristo.

    Vamos ler o texto das Bodas de Can no Evangelho de Jesus Cristo, narrado

    por So Joo (Jo 2,1-12).

    Trs dias depois, houve um casamento em Can da Galilia, e estava ali a me

    de Jesus; e foi tambm convidado Jesus com seus discpulos para o casamento. E,

    tendo acabado o vinho, a me de Jesus lhe disse: Eles no tm vinho. Respondeu-

    lhes Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda no chegada a minha hora. Disse

    ento sua me aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser. Ora, estavam ali

    postas seis talhas de pedra, para as purificaes dos judeus, e em cada uma cabiam

    duas ou trs metretas. Ordenou-lhe Jesus: Enchei de gua essas talhas. E encheram-

    nas at em cima. Ento lhes disse: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E eles o

    fizeram. Quando o mestre-sala provou a gua tornada em vinho, no sabendo

    donde era, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a gua, chamou o

    mestre-sala ao noivo e lhe disse: Todo homem pe primeiro o vinho bom e, quando

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 34

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    j tm bebido bem, ento o inferior; mas tu guardaste at agora o bom vinho. Assim

    deu Jesus incio aos seus sinais em Can da Galilia, e manifestou a sua glria; e os

    seus discpulos creram nele.

    Com esse acontecimento, o Evangelho de So Joo inaugura o ministrio

    pblico de Cristo. A Me de Jesus est presente, em primeiro lugar. Ela faz a

    passagem entre essas bodas e a presena de Cristo.

    A verdadeira imagem de Maria

    Nosso povo tem muito presente a figura da Virgem Maria, a Me de Deus,

    com as suas diversas invocaes (Nossa Senhora de Ftima, Lourdes, Guadalupe,

    Aparecida, Perptuo Socorro, etc) e ttulos (Imaculada, Virgem Purssima, Rainha,

    Senhora nossa, etc) tudo isso faz parte do Mistrio da Virgem Maria e da piedade

    popular.

    Tudo isso e muito mais a Virgem Maria. Essa a nossa f e temos que

    conservar tudo no corao.

    Porm no podemos nos confundir. Por maior que seja o nosso amor por ela,

    no podemos diviniz-la ao ponto de querer coloc-la como a quarta pessoa da

    Santssima Trindade. Maria no nenhuma deusa.

    Ela nossa Me Medianeira que leva as nossas necessidades a Jesus, seu Filho

    predileto. Essa Maria que ns tanto amamos a Virgem de Nazar, a primeira crist,

    a seguidora de Jesus. Ela nos ensina a sermos cristos de verdade, a sermos uma

    comunidade de f, uma Igreja viva e um povo santo.

    Vou contar uma pequena historinha: Francisco era um padre maduro, j

    avanando nos anos. Na sua mesa de trabalho tinha uma fotografia da Imagem da

    Virgem Maria. J era antiga. A imagem era bonita. Maria tinha uma coroa de

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 35

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    estrelas, traos delicados, olhos expressando uma doura, rosto divino. Seu cabelo

    estava sobre os ombros. Vestia uma tnica de linho e suas mos eram macias.

    Muitos anos esta imagem acompanhou ao padre Francisco. Ele se sentia

    protegido por ela. Sempre recorria sua intercesso. E Maria lhe ajudava em sua

    vocao de sacerdote e de ministrio.

    Com as vrias mudanas que aconteceu na parquia do padre Francisco, a

    imagem desapareceu. Agora ele est buscando uma nova imagem de Maria para

    colocar em sua nova sala paroquial. Ele disse que queria uma imagem que fosse o

    mais fiel reflexo de Maria de Nazar, mulher do povo, Me de Jesus, o Filho de

    Deus.

    Qual a imagem de Maria que mais voc gosta?

    Qual a imagem de Maria que mais se identifica com a sua f?

    Qual a verdadeira imagem de Maria que nos ensina a Palavra de Deus?

    Como as primeiras comunidades viam Maria?

    Como aquela escolhida para ser me carnal do Filho de Deus.

    Essa imagem era muito clara para a comunidade: Maria a me de Jesus de

    Nazar e que este Jesus e no outro o Filho de Deus que se fez homem em Maria.

    Para os primeiros cristos, Deus Pai, por meio do Anjo Gabriel, anunciou a

    Maria, uma jovem de Nazar, que ela ia ser a me de seu Filho. Todos ns j

    conhecemos o relato.

    Que Maria, a me de Jesus, mulher antes de ser Me.

    Maria, antes de ser me, foi mulher. Uma mulher consciente e livre que

    assumiu o projeto de Deus de ser me do Filho do Altssimo.

    Frente a Deus, ela deu o seu sim, mesmo sem entender a proporo

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 36

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    4. Maria, mulher pobre, do povo:

    Maria se parece com tantas mes que so pobres, humilhadas, abandonadas

    e incompreendidas.

    5. Maria, a mulher escolhida por Deus:

    O povo sabe que Deus escolheu Maria para ser a me de Jesus.

    Em Jesus o povo coloca toda a sua esperana.

    Maria uma mulher de f, que sempre acreditou em Deus.

    Maria continuou firme na f em aceitar a vontade de Deus sobre ela e sobre o

    Seu filho.

    Maria de Nazar e a esperana do povo

    O povo convidado a esperar alm da esperana, confiando sempre na

    bondade do Senhor.

    Evanglicos em defesa de Maria

    Sabemos que a maioria das igrejas evanglicas que conhecemos hoje tem sua

    origem na Reforma Protestante do sculo XVI com Martin Lutero, Calvino, Zuinglio e

    outros. Este movimento chamou-se de Protestantismo, que mais tarde deu

    origem a muitas outras denominaes evanglicas ou pentecostais que

    conhecemos.

    Vamos conhecer um pouquinho esta questo e descobrir que os autores do

    protestantismo (Lutero e outros) tinham um profundo amor e respeito por Maria. O

    sentimento antimariano que presenciamos entre os atuais protestantes no faz

    parte do verdadeiro ideal da Reforma, mas surgiu pelo falso receio de que o brilho

    de Maria pudesse sombrear ou apagar a verdadeira Luz, que Jesus Cristo.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 37

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Graas a Deus, hoje podemos ver mudanas em alguns fiis e telogos

    evanglicos, reconhecendo o verdadeiro sentido e valor da Santa Me de Deus, tal

    como defende a Igreja Catlica. As citaes abaixo, feitas por Lutero e Calvino, reais

    fundadores do Protestantismo, e outros telogos srios, denotam o verdadeiro

    respeito, carinho e amor que todo cristo deve nutrir pela Me de Jesus.

    Martinho Lutero, Comentrio do Magnificat:

    Quem so todas as mulheres, servos, senhores, prncipes, reis, monarcas da

    Terra comparados com a Virgem Maria que nascida de descendncia real

    (descendente do rei Davi) , alm disso, Me de Deus, a mulher mais sublime da

    Terra? Ela , na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de Cristo, a quem

    nunca poderemos exaltar o suficiente, a mais nobre imperatriz e rainha, exaltada e

    bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria e santidade.

    Por justia teria sido necessrio encomendar-lhe (para Maria) um carro de

    ouro e conduzi-la com quatro mil cavalos, tocando a trombeta diante da carruagem,

    anunciando: Aqui viaja a mulher bendita entre todas as mulheres, a soberana de

    todo o gnero humano. Mas tudo isso foi silenciado; a pobre jovenzinha segue a

    p, por um caminho to longo e, apesar disso, de fato a Me de Deus. Por isso no

    nos deveramos admirar, se todos os montes tivessem pulado e danado de alegria.

    Ser Me de Deus uma prerrogativa to alta, coisa to imensa, que supera

    todo e qualquer intelecto. Da lhe advm toda a honra e a alegria e isso faz com que

    ela seja uma nica pessoa em todo o mundo, superior a quantas existiam e que no

    tem igual na excelncia de ter com o Pai Celeste um filhinho comum. Nestas

    palavras, portanto, est contida toda a honra de Maria. Ningum poderia pregar em

    seu louvor coisas mais magnficas, mesmo que possusse tantas lnguas quantas so

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 38

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    na terra as flores e folhas nos campos, nos cus as estrelas e no mar os gros de

    areia.

    Peamos a Deus que nos faa compreender bem as palavras do Magnificat.

    Que Cristo nos conceda esta graa por intercesso de sua santa me! Amm.

    O Filho de Deus fez-se homem, de modo a ser concebido do Esprito Santo

    sem o auxlio de varo e a nascer de Maria pura, santa e virgem.

    Maria digna de suprema honra na maior medida.

    Um s Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nascido da Virgem

    Maria.

    Joo Calvino

    No podemos reconhecer as bnos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer

    ao mesmo tempo quo imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolh-

    la para me de Deus.

    Zwinglio

    Firmemente creio, segundo as palavras do Evangelho, que Maria, como

    virgem pura, nos gerou o Filho de Deus e que, tanto no parto quanto aps o parto,

    permaneceu virgem, pura e ntegra.

    John Wesley, fundador da Igreja Metodista, em carta dirigida a um catlico

    em 18 de julho de 1749.

    Creio que (Jesus) foi feito homem, unindo a natureza humana divina em

    uma s pessoa; sendo concebido pela obra singular do Esprito Santo, nascido da

    abenoada Virgem Maria que, tanto antes como depois de d-lo luz, continuou

    virgem pura e imaculada.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 39

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    O Silncio e a cano de Maria

    O silncio resume Maria. Sua vida foi quietude e paz. No s uma paz

    acomodada, mas uma autntica paz inquieta. Estava preparada para ouvir a voz do

    Criador. Por isso seu eco foi to perfeito. A cano de Maria ultrapassou as palavras

    e tornou-se pessoa: E o verbo se fez carne... (Jo 1, 14).

    Antes de tudo, preciso reconhecer que Maria fez de fato a experincia do

    silncio. Durante toda a sua vida esteve atenta s manifestaes da voz de Deus nas

    coisas mais simples. Lucas nos testemunha que ela conservava no corao tudo o

    que atravessava sua histria (cf. Lc 2, 19; 2, 51).

    Naquele dia, Maria estava em silncio escuta de Deus. Podemos dizer que

    estava em contemplao. Seu corao estava sintonizado na freqncia do corao

    de Deus: a freqncia do amor. No momento em que Deus finalmente falou,

    aconteceu algo inesperado: ela perturbou-se. Aquela voz que lhe falava ao corao

    provocou uma surpreendente inquietao. Se o evangelista, ao invs de mdico,

    fosse msico, diria que Maria sentiu-se inspirada.

    A inspirao um ar que invade nosso ntimo deixando-nos inquietos. A

    inspirao exige uma expirao. O ar inspirado sai de ns sob a forma das mais

    diversas expresses artsticas: msica, poesia, dana, pintura, escultura, teatro,

    entre outras.

    Diante da inspirao, Maria no se conservou passiva. Sua primeira reao foi

    refletir sobre o que poderia significar tudo aquilo que acontecia no seu interior. Aos

    poucos a resposta foi se tornando mais clara e elaborada: era preciso ecoar a voz de

    Deus. Mas este eco humano e divino: seria o Filho de Deus.

    Ento Maria questionou a proposta de Deus. Era preciso eliminar possveis

    dvidas de compreenso. Seu eco no poderia ser fruto de uma opo apressada ou

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 40

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    ingnua. A pergunta de Maria passou antes pela sua conscincia crtica: Mas como

    isso possvel?

    A resposta foi maravilhosa: O Esprito Santo vir sobre ti e o poder do

    Altssimo te cobrir com a sua sombra (Lc 1, 35). Este o ar que nos pode inspirar:

    o Esprito Santo. Portanto Maria fez uma experincia profunda. O Esprito fecundou

    sua disponibilidade, seu silncio e sua ateno. Por isso seu cntico foi divino. Por

    isso sua cano foi o Filho de Deus.

    E Maria disse: Eis aqui o instrumento de Deus, Faa-se em mim segundo a sua

    cano... Sua Palavra.

    bom saber que dentro de ns est nascendo uma cano. Para Maria era mil

    vezes melhor, pois a cano era o Filho de Deus. Ela poderia ter ficado na sua. Para

    que subir as montanhas s pressas? Por que a primeira preocupao de Maria no

    foi nem consigo mesma, nem sequer com o filho que j habitava em seu ventre? A

    lgica de Maria era diferente. Era a lgica do servio, do ser para o outro. Maria no

    cantava apenas para os seus prprios ouvidos. Sua cano era para os outros. E, o

    que seria o cantor, se no houvesse ningum para ouvi-lo? Cantar servir.

    A paz inquieta daquela menina inspirada suscitava a presena do Esprito

    Santo em todos que ouviam a sua voz. A cano nascida do silncio e da ateno

    voz do Esprito inspira todos que a ouvem. Isabel ouviu a cano de Maria e ficou

    repleta do Esprito Santo (cf. Lc 1, 41)

    Aconteceu ento uma reao em cadeia: Maria ouve o Esprito, diz sim e

    torna-se cano... Isabel escuta Maria, alegra-se e canta tambm. Desta forma a

    cano do Esprito vai atingindo o cho e transformando a realidade.

    Na Igreja primitiva vemos uma legio de cantores: Paulo, Estevo, Barnab,

    entre outros. No seriam todos ecos do eco daquela virgem que um dia teve a

    coragem de calar, ouvir e servir com sua cano?

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 41

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Toda cano tem um perodo de gestao. Aps a inspirao preciso parar e

    iniciar um trabalho de elaborao. um tempo rduo para todo artista. As gestantes

    o experimentam nos nove meses que antecedem o nascimento do filho. Maria

    gestou Jesus. Ele era sua cano em forma de filho. Aquela que fora criada

    imagem e semelhana de Deus, agora emprestava a este mesmo Deus suas

    feies, era a divina melodia ao ritmo humano, era Jesus em Maria e Maria em

    Jesus.

    Maria ao p da cruz

    Imagine a semana santa em uma cidadezinha do interior. O povo se junta para

    rezar. Na tera-feira santa costuma-se fazer a procisso do encontro, entre Jesus,

    que carrega a cruz, e a sua me Maria. Na sexta-feira da paixo acontece a famosa

    procisso do Cristo Morto com a via-sacra. Em destaque, vai a imagem de Jesus

    morto. E, em muitos lugares, Nossa Senhora das Dores ou Nossa Senhora da

    Piedade. No Brasil, h uma grande devoo a Nossa Senhora sofredora, junto da

    cruz de Jesus. Essa tradio tem fundamento na Bblia?

    O evangelista So Joo nos fala do encontro de Jesus e sua me, na cruz. Eles

    no esto sozinhos. Alm de outras trs mulheres, incluindo a tia de Jesus,

    permanece l o discpulo amado.

    Perto da cruz de Jesus permaneciam de p a sua me, a irm de sua me,

    Maria de Clofas e Maria Madalena. Vendo assim sua me e perto dela, o discpulo

    que ele amava, Jesus disse sua me: Mulher; eis a o teu filho. A seguir, disse ao

    discpulo: Eis a a tua me. E desde quela hora, o discpulo a recebeu em sua

    casa (Jo 19,25-27).

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 42

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Maria, a me de Jesus, que apareceu no incio de sua misso, em Can (Jo 2,1-

    11), ajudando seus discpulos a acreditarem nele, volta de novo cena. Mas, desta

    vez, no h nenhum sinal extraordinrio. Ao contrrio, o momento da cruz desafia a

    f de qualquer um. Maria est l junto de Jesus, no somente como a me sofrida e

    desesperada. Ela tambm representa o pequeno grupo que perseverou, que no

    fugiu no momento da perseguio e da crucifixo de Jesus. a corajosa seguidora

    de Jesus, que permanece no seu amor (Jo 15,4.10). Junto com ela ficam algumas

    mulheres. O gesto de permanecer de p significa persistncia, constncia e

    adeso. Joo evangelista valoriza a participao das mulheres na comunidade. Por

    isso, faz questo de destac-las.

    Junto com Maria e as mulheres s fica um homem, o discpulo amado. Na

    tradio crist, se diz que ele o jovem apstolo e evangelista Joo (no confundir

    com Joo Batista, que, a essas alturas, j havia sido assassinado por Herodes). O

    discpulo amado testemunha o que Jesus fez e disse (Jo 19, 35; 21, 24). Ele tambm

    representa a comunidade crist, o imenso grupo dos que seguem os passos de

    Jesus, e se tornam seus servidores e amigos (Jo 15, 15).

    Joo apresenta a morte e a ressurreio de Jesus como um nico

    acontecimento em duas partes. Agora chegou a hora (Jo 17, 1). Como um gro

    jogado na terra (Jo 12, 24) Jesus morre para ressuscitar. Termina sua obra nesse

    mundo (Jo 17, 4) e volta para o Pai (Jo 17, 13). Jesus assassinado, depois de um

    processo injusto que o leva morte (Jo 19, 1- 16). Mas em nenhum momento ele

    perde a dignidade de quem sabe que luta pela verdade e pelo bem. Jesus morre,

    ressuscita, volta para o Pai, mas deixa a comunidade de seus amigos-seguidores,

    que continuaro sua misso. Jesus vai e o Esprito Santo, o Parclito, vem. Por isso

    Joo no espera quarenta dias para anunciar Pentecostes. Quando Jesus morre,

    entrega o esprito (Jo 19, 30). No s d o ultimo sopro de vida, mas concede o seu

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 43

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Esprito comunidade. J no domingo da ressurreio, quando entra na casa dos

    discpulos, ele comunica-lhes a paz, envia-os em misso e sopra sobre eles o Esprito

    Santo (Jo 20, 22).

    Nesse contexto a gente entende a fora do encontro de Maria com o discpulo

    amado, ao p da cruz. O texto no retrata um problema de famlia, ou seja, quem

    vai tomar conta da me de Jesus depois de sua morte. Maria tinha outros parentes

    que podiam olhar por ela. Nesse momento to importante da cruz, Joo quer nos

    dizer algo mais. Ele deixa impresso na memria de todos os cristos que Maria no

    somente a me, que concebeu, gestou, deu luz, nutriu e educou Jesus. Ela

    chamada por Jesus de mulher, como em Can (Jo 2, 4 e 19, 25). Est bem alm dos

    laos de sangue, das relaes familiares.

    Por vontade de Jesus, Maria adotada como me pela comunidade crist de

    todos os tempos. O discpulo amado, que representa a comunidade, recebe-a como

    me. Maria investida de nova misso. Adota a todos os membros da comunidade

    crist como seus filhos.

    A nossa me Maria, continuar como em Can, a interceder junto do filho.

    Levar os servidores e amigos de Jesus a fazer o que ele disser. Possibilitar que

    novas geraes de cristos, como os primeiros discpulos, creiam em Jesus, vejam

    sua glria e se renam em torno dele.

    Maria e o Esprito Santo

    No vos embriagueis com vinho, que uma fonte de devassido, mas enchei-

    vos do Esprito. (Efsios 5, 18).

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 44

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    So Paulo fala aqui do vinho do mundo, que embriaga e entorpece as

    conscincias. O mundo tem um prncipe, que um dia ser vencido e que tem

    destilado o seu vinho e o distribudo em toda parte.

    Ns cristos no podemos nos permitir esta embriagues. Por isso, precisamos

    muito da luz e da lucidez do Esprito do Senhor.

    Jesus veio realizar sua misso. Veio curar, veio libertar, veio salvar e veio

    principalmente para poder nos dar seu Esprito, pois, somente no Esprito Santo

    que o reconhecemos e somos convencidos do pecado (cf. Joo 16, 5- 15).

    Joo Batista nos revela esta misso de Jesus: Eu vos batizo na gua, mas eis

    que vem outro mais poderoso do que eu, a quem no sou digno de lhe desatar a

    correia das sandlias, ele vos batizar no Esprito Santo e no fogo. (Lucas 3, 16).

    D. Cludio Hummes (Arcebispo Metropolitano de So Paulo), disse no Ano do

    Esprito Santo: Eu desejaria incutir profundamente em cada padre de nossa querida

    Arquidiocese, em cada leigo e leiga, em cada religioso e religiosa, quanto deveria ser

    nosso empenho em no perder esta hora da graa, este kairs, da passagem do

    milnio e especialmente agora, em 1998, a importncia de abrir-nos ao Esprito

    Santo. (fonte: jornal O So Paulo de 15/07/1998).

    No mesmo ano, o Papa Joo Paulo II dizia: Hoje, a Igreja alegra-se ao

    constatar o renovado cumprimento das palavras do profeta Joel, que h pouco

    escutamos: Derramarei o Meu Esprito sobre toda criatura... (Atos 2, 17). Vs aqui

    presentes sois a prova palpvel desta efuso do Esprito, quero bradar: Abri-vos

    com docilidade aos dons do Esprito! (discurso do Papa na viglia de Pentecostes no

    Encontro do Santo Padre com os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades, em

    30/05/1998, fonte L'osservatore Romano, edio n 23 em portugus, de

    06/06/1998)

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 45

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    Esta veemncia e insistncia de nossos pastores tm um profundo significado:

    sem o Esprito Santo a Igreja e aqueles que pertencem a ela no caminham e no

    cumprem sua misso!

    Vou, mais uma vez, indicar o caminho mais seguro, eficaz e agradvel ao

    Senhor. Maria foi uma pessoa cheia do Esprito Santo. Vejamos: Entrando o anjo,

    disse-lhe: Ave, cheia de graa, o Senhor contigo... No temas, Maria, pois

    encontraste graa diante de Deus. O Esprito Santo descer sobre ti, e a fora do

    Altssimo te envolver com a sua sombra. (Lucas 1, 28. 30. 35)

    Estas foram palavras de Deus, atravs do anjo Gabriel, acerca de Maria.

    Maria cheia, plena, transbordante do Esprito Santo, vai casa de sua prima

    Isabel e l acontece uma maravilha atrs da outra: Naqueles dias, Maria se

    levantou e foi s pressas s montanhas, a uma cidade de Jud. Entrou em casa de

    Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudao de Maria, a criana

    estremeceu no seu seio e Isabel ficou cheia do Esprito Santo. E exclamou em alta

    voz: Bendita s tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. Donde me

    vem esta honra de vir a mim a me de meu Senhor?(Lucas 1, 39- 43).

    Veja que fato maravilhoso, apenas Isabel ouviu a saudao de Maria, Joo

    Batista estremeceu de alegria, ficou cheio do Esprito Santo, Isabel ficou cheia do

    Esprito Santo, penso que tambm, Zacarias e aquela casa, aquela famlia ficaram

    cheios do Esprito Santo.

    Maria que levava Jesus em seu ventre foi portadora, canal, pelo qual o

    Esprito Santo foi derramado, apenas com sua presena. Quando Ela chega, Jesus

    chega com Ela e o Esprito Santo derramado em abundncia, no em pouca

    quantidade, mas em abundncia, at que todos fiquem cheios do Esprito Santo.

    Enchei-vos do Esprito. (Efsios 5, 18). Esta a vontade de Deus de que Maria

    portadora.

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 46

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    s vsperas de Pentecostes, 33 anos mais tarde, veremos Maria cumprindo a

    mesma misso no Cenculo, confira: Todos eles perseveravam unanimemente na

    orao, juntamente com as mulheres, entre elas, Maria, me de Jesus, e os irmos

    dele. Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De

    repente veio do cu um rudo, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu

    toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes ento uma espcie de lnguas de

    fogo que se repartiam e repousaram sobre cada um deles, ficando todos cheios do

    Esprito Santo.

    O ano do rosrio I

    O Papa Joo Paulo II declarou de outubro de 2002 a outubro de 2003, por

    ocasio dos seus 25 anos de Pontificado, o ano do rosrio. Deu-nos dois grandes

    presentes: o primeiro foi a incluso dos mistrios da luz, ou mistrios luminosos,

    rezados s quintas-feiras, com meditao sobre o Batismo do Senhor, sobre as

    Bodas de Cana, sobre a Transfigurao, sobre o Anuncio do Reino e, por fim, sobre a

    santa Eucaristia; e, o segundo presente que nos deu o papa foi uma carta apostlica,

    intitulada Rosarium Virginis Mariae endereada a todo o clero e aos fiis sobre o

    santo rosrio. Dois grandes presentes para todos ns. Esse papa foi realmente

    maravilhoso. Um desses presentes, ns j partilhamos com voc num desses nossos

    programas passados. Hoje vamos refletir sobre os contedos desta maravilhosa

    carta apostlica sobre o Rosrio da Virgem Maria. O papa comea escrevendo que

    O Rosrio da Virgem Maria (Rosarium Virginis Mariae), que ao sopro do Esprito de

    Deus se foi formando gradualmente no segundo Milnio, orao amada por

    numerosos Santos e estimulada pelo Magistrio da Igreja. Na sua simplicidade e

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 47

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    profundidade, permanece mesmo no terceiro Milnio recm iniciado, uma orao

    de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade.

    Ela enquadra-se perfeitamente no caminho espiritual de um cristianismo que,

    passados dois mil anos, nada perdeu do seu frescor original e sente-se impulsionado

    pelo Esprito de Deus a fazer-se ao largo (duc in altum) para reafirmar, melhor

    gritar Cristo ao mundo como Senhor e Salvador, como caminho, verdade e vida

    (Jo 14, 6), como o fim da histria humana, o ponto para onde tendem os desejos da

    histria e da civilizao.

    O Rosrio, de fato, ainda que caracterizado pela sua fisionomia mariana, no

    seu mago orao cristolgica. Na sobriedade dos seus elementos, concentra a

    profundidade de toda a mensagem evanglica, da qual quase um compndio. Nele

    ecoa a orao de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnao redentora

    iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristo freqenta a escola de Maria,

    para deixar-se introduzir na contemplao da beleza do rosto de Cristo e na

    experincia da profundidade do seu amor. Mediante o Rosrio, o cristo alcana a

    graa em abundncia, como se a recebesse das mesmas mos da Me do

    Redentor.

    Depois o papa fala da importncia que os seus antecessores sempre deram ao

    santo rosrio.

    Muitos dos meus Predecessores atriburam grande importncia a esta

    orao. Merecimento particular teve, a propsito, Leo XIII que, no dia 1 de

    Setembro de 1883, promulgava a Encclica Supreme Apostulatus Ofcius, alto

    pronunciamento com o qual inaugurava numerosas outras declaraes sobre esta

    orao, indicando-a como instrumento espiritual eficaz contra os males da

    sociedade. Entre os Papas mais recentes, j na poca conciliar, que se distinguiram

    na promoo do Rosrio, desejo recordar o Beato Joo XXIII e sobretudo Paulo VI

  • www w w w . e a d s e c u l o 2 1 . o r g . b r

    Pgina 48

    Maria na Devoo Popular Mdulo 3

    que, na Exortao apostlica Marialis Cultus, destacou, em harmonia com a

    inspirao do Conclio Vaticano II, o carter evanglico do Rosrio e a sua orientao

    cristolgica.

    Eu mesmo no descurei ocasio para exortar freqente recitao do

    Rosrio. Desde a minha juventude, esta orao teve um lugar importante na minha

    vida espiritual. Trouxemo-nos memria a minha recente viagem Polnia,

    sobretudo a visita ao Santurio de Kalwaria. O Rosrio acompanhou-me nos

    momentos de alegria e nas provaes. A ele confiei tantas preocupaes, nele

    encontrei sempre conforto. Vinte e quatro anos atrs, no dia 29 de Outubro de

    1978, apenas duas semanas depois da minha eleio para a S de Pedro, quase

    numa confidncia, assim me exprimia: O Rosrio a minha orao predileta.

    Orao maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade. Pode dizer-

    se que o Rosrio , em certo modo, um comentrio-prece do ltimo captulo da

    Constituio Lumen gentium do Vaticano II, captulo que trata da admirvel

    presena da me de Deus no mistrio de Cristo e da Igreja. De fato, sobre o fundo

    das palavras da Ave Maria passa diante dos olhos da alma os principais episdios

    da vida de Jesus Cristo. Eles dispem-se no conjunto dos mistrios gozosos,

    dolorosos e gloriosos e pem-nos em comunho viva com Jesus, poderamos dizer,

    atravs do Corao de Sua Me. Ao mesmo tempo o nosso corao pode incluir

    nestas dezenas d