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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ CAMPUS DE CAICÓ DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO- BRASILEIRA MARIA LUCILENE DE OLIVEIRA LEI 10.639/2003, UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA: IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO E APLICAÇÃO EM SALA DE AULA. CAICÓ 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

CAMPUS DE CAICÓ – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES

ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-

BRASILEIRA

MARIA LUCILENE DE OLIVEIRA

LEI 10.639/2003, UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA:

IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO E APLICAÇÃO EM SALA DE AULA.

CAICÓ

2016

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MARIA LUCILENE DE OLIVEIRA

LEI 10.639/2003, UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA:

IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO E APLICAÇÃO EM SALA DE AULA.

Trabalho de Conclusão de Curso, na

modalidade Artigo, apresentado ao

Curso de Especialização em História e

Cultura Africana e Afro-Brasileira, da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Centro de Ensino Superior do

Seridó, Campus de Caicó, Departamento

de História, como requisito parcial para

obtenção do grau de Especialista, sob

orientação do Prof. Ms. José Duarte

Barbosa Júnior.

CAICÓ

2016

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 4

2. UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA ........................................ 6

2.1. Primeiras Incursões ..................................................................................................... 6

2.2. Fontes ........................................................................................................................... 7

2.2.1. Um ponto de chegada: a Lei nº 10.639/2003. ........................................................... 7

2.2.2. Um ponto de partida: a pesquisa. ............................................................................ 9

2.2.2.1. Resultado dos questionários aos alunos............................................................. 10

2.2.2.2. Resultado dos questionários aos professores. .................................................... 15

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 18

FONTES ................................................................................................................................ 22

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 23

ANEXOS ............................................................................................................................... 24

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LEI 10.639/2003, UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA:

IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO E APLICAÇÃO EM SALA DE AULA.

Maria Lucilene de Oliveira1

José Duarte Barbosa Júnior – Orientador2

QUESTÃO 5. Você percebe alguma diferença entre os africanos e os brasileiros?

R.: Não. Porque não é pela cor que nós somos diferentes e sim pelo caráter e o modo de vida.

José, aluno do oitavo ano (nome fictício)

(...) a maldade, bem como o valor de uma pessoa, residem na formação do coração (...)

Franz Boas

RESUMO

O presente trabalho trata da institucionalização da Lei 10.639 de 2003 e aborda sua

importância no ensino de História em uma experiência de pesquisa. A pesquisa ocorreu

intermitentemente entre os anos de 2013 e 2016 na Escola Municipal Sebastiana Alves

Nôga situada na cidade de Cerro Corá, no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Trata-

se de uma investigação realizada em âmbito escolar, a respeito da relação do professor

com a Lei 10.639/2003 que trata das relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de

História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e sua importância na sala de aula. A Lei

10.639 de 2003 é um importante marco, um ponto de chegada após décadas de negação.

Mas tal reconhecimento não é cômodo, razão pela qual há um caminho a ser trilhado,

um ponto de partida.

PALAVRAS-CHAVE

Lei nº 10.639/201. História e cultura Afro-brasileira. Relações etnicorraciais.

1. INTRODUÇÃO

1 Discente do Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira – Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), Campus de

Caicó, Departamento de História (DHC). Graduada em História pela Universidade Estadual Vale do

Acaraú. Professora da Rede Municipal de Ensino, na Escola Municipal Sebastiana Alves Nôga (Cerro

Corá-RN), onde ministra as disciplinas de História, Artes e Ensino Religioso. E-mail:

[email protected]. 2 Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN. E-

mail: [email protected].

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O presente trabalho trata da institucionalização da Lei 10.639 de 2003 e aborda

sua importância no ensino de História em uma experiência específica. A pesquisa

ocorreu intermitentemente entre os anos de 2013 e 2016 na Escola Municipal Sebastiana

Alves Nôga situada na cidade de Cerro Corá, no estado do Rio Grande do Norte, Brasil.

Trata-se de uma investigação realizada em âmbito escolar, a respeito da relação do

professor com a Lei 10.639/2003 que trata das relações Étnicos-Raciais e para o Ensino

de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e sua importância na sala de aula. Para

tanto, foi realizada a aplicação de questionários alunos do oitavo ano e com professores

dos diferentes componentes curriculares e com vistas a analisar o entendimento dos

docentes no que tange a implementação da lei em sala de aula.

O grande desafio da escola é investir na superação da discriminação e dar a conhecer a riqueza representada pela diversidade etnocultural

que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a

trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade. Nesse

sentido, a escola deve ser local de diálogo, de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e respeitando as diferentes formas de

expressão cultural. (PCN, 2001:3)

Para que as luzes do outro sejam percebidas por mim devo por bem apagar as

minhas, no sentido de me tornar disponível para o outro. Desde a aprovação da Lei

10.639/2003, que torna obrigatória a inclusão do Ensino de História e Cultura-Afro-

brasileira e Africana no currículo do Sistema Básico de Ensino até o presente, verifica-

se que nas escolas da rede pública, não tem sido observadas mudanças curriculares

previstas nesta lei e a consequência prática requerida pela mesma.

É imprescindível, portanto, reconhecer esse problema e combate-lo no espaço

escolar, tendo em vista que vivemos em um país multicultural e não podemos ignorar os

avanços ocorridos ao longo do tempo. Cabe, portanto, tornar a lei reconhecida por todos

os atores envolvidos com o processo de educação, em especial professores (as) e

alunos(as). De outro modo, trabalhar para que as escolas brasileiras se tornem um

espaço público em que haja igualdade de tratamento e oportunidades.

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Nesse ponto, deparamo-nos com a obrigação do Ministério de Educação de

implementar medidas que visem o combate ao racismo e a estruturação de medidas que

valorize o pertencimento racial dos (as) alunos(as) negros(as).

Sendo assim, faz-se necessário atuar no ambiente escolar de forma que a

divulgação e o esclarecimento a respeito da lei 10.639/2003 seja promovido no sentido

de guiar o olhar do professor para a valorização da diversidade étnica-racial e a vida

cotidiana em sala de aula. O que deixa claro o motivo desta pesquisa, entender e fazer-

se entender de que maneira o docente (re)constrói os sentidos a despeito das relações

que abrangem a aplicação desta lei.

2. UM PONTO DE CHEGADA E UM PONTO DE PARTIDA

2.1. Primeiras Incursões

A temática das relações etino raciais sempre nos chamou atenção pelas

experiências com as disciplinas de História e Cultura do RN, em conversas com colegas

de trabalho, de leituras sobre o tema, onde já abordava os assuntos relacionados e

percebia que muitas dificuldades eram encontradas pelos professores e alunos por falta

de desconhecimento da lei. Mais foi a partir da disciplina, Racismo no Brasil e as

“produções de verdades” sobre a questão étnico racial: das teorias raciais ao mito da

democracia racial ministrada pela professora, Maria de Fátima Garcia, que realmente

veio a decisão da escolha para este tema.

Porque considero de grande importância a formação docente, partindo desde a

conscientização sobre a relevância de se trabalhar a Lei 10.639/03, tendo em vista que

se encontra muitas dificuldades atualmente quando se trata de se trabalhar o que se

refere ao ensino da História e cultura africana e afro brasileira nas instituições.

Objetivando levar aos professores e alunos a refletirem criticamente e a mudarem seus

valores e atitudes quando necessário. Acreditamos que a escola deve promover as

condições para que, tanto os docentes quanto, os discentes possam identificar as

relações que se estabelecem nos diferentes grupos sociais que fazem parte.

A importância da aplicação da Lei surge principalmente da necessidade de se

contar a história da população negra na constituição do nosso país, pois a história

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contada pelo ponto de vista dos europeus nos leva muitas vezes a uma interpretação

errada do afro-brasileiro nos livros didáticos, deixando de lado suas contribuições e a

importância para a formação da nossa história. O fato é que, o estudo do passado nos

remete ao compartilhamento da nossa cultura.

Acreditamos que esse trabalho será de fundamental importância para reconhecer

o problema da lei no espaço escolar, tendo em vista que vivemos em um país

multicultural e não podemos ignorar os avanços ao longo do tempo. O objetivo

principal é tornar a lei reconhecida por todos os envolvidos no processo educacional, em

especial aos professores e alunos da Escola Municipal Sebastiana Alves Noga. De

forma que a divulgação e o esclarecimento a respeito da lei seja promovido no sentido

de guiar o olhar do professor, para a valorização da diversidade étnica-racial e o dia a

dia na sala de aula.

Desta forma trabalhar para que a escola se torne um espaço público em que haja

igualdade de tratamento e oportunidade de acordo com a Lei 10.639/2003, criada pelo

Ministério da Educação com o objetivo de implementar medidas que vise o combate ao

racismo e a valorização do pertencimento racial dos (as) alunos (as) negros (as).

Considerando que a escola é um espaço de diálogo, que permite uma valorização acerca

da cultura africana e afro-brasileira, investindo na superação da discriminação e assim ir

desconstruindo o preconceito que ainda persiste por falta de informação.

Tendo em vista que a escola permite aos sujeitos envolvidos reconhecer-se

enquanto membros de sua comunidade, sendo uma das características da formação

escolar. Promover as condições para que o aluno possa identificar as relações que se

estabelece nos diferentes grupos sociais que faz parte, as relações entre colegas,

professores e alunos parentescos na família, enfim reconhecer-se como sujeitos da

História.

2.2. Fontes

2.2.1. Um ponto de chegada: a Lei nº 10.639/2003.

A lei 10.639 foi instituída no ano 2003 dentro das políticas de ações afirmativas

do então governo Luís Inácio Lula da Silva. O texto de 2003 altera a Lei nº Lei no

9.394, de 20 de dezembro de 1996 e acrescenta os seguintes artigos:

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Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio,

oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e

Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos

negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da

sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira

serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como

“Dia Nacional da Consciência Negra”. (BRASIL, 2003).

Desde sua promulgação até os dias de hoje já foi publicada uma quantidade

considerável de trabalhos que versam sobre a lei e seus desdobramentos. Esses trabalhos

foram e estão sendo produzidos nas áreas da Literatura e Letras, Comunicação social,

Pedagogia, Sociologia, Antropologia e História. Nesse último campo entendemos a

importância de um trabalho que aborde o ensino como forma de conhecer os

desdobramentos históricos contemporâneos do tema em questão.

Em literatura e letras existem trabalhos analisando a Lei 10.639/2003 em livros

de alfabetização como é o caso do trabalho apresentado no artigo de GUERRA, 2014.

Segundo a autora,

Sabemos que os documentos oficiais, neste caso a Lei 10.639/2003,

são apenas indícios do que é necessário se considerar no ensino de

todas as disciplinas das escolas brasileiras. Queremos dizer, com essa

afirmação, que somos cônscias de que a Lei não estabelece prazos para a mudança dos currículos das universidades e das escolas, mas a

consideramos como um importante avanço e um relevante marco para

a história da luta do reconhecimento dos negros na sociedade

brasileira. (GUERRA, 2014, p. 09).

Outros trabalhos abordam questões como a possibilidade para transformações

sociais, como é o caso do trabalho apresentado no artigo de ALMEIDA e SANCHEZ,

2016. Os autores analisam as questões das provas do Exame Nacional do Ensino Médio

que tratam dos temas propostos pela Lei 10.639/2003. Para os autores,

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Entendemos que o ENEM precisa integrar-se mais e com maior

qualidade aos pressupostos da Lei 10.639/2003 para que atue como

contribuição significativa à sua implementação, o que é possível, uma vez que seus conteúdos têm o potencial de dar visibilidade aos temas

que abrangem e de influenciar aquilo que efetivamente se ensina em

sala de aula, diversificando e problematizando o currículo no tocante às temáticas da Cultura e da História Africana e Afrobrasileira e das

relações étnico-raciais relacionadas à população negra. Essa

capacidade é limitada, assim como a da própria escola, pela inserção

da avaliação no aparato institucional do Estado, mas pode contribuir para o tensionamento e a desconstrução dessas bases ideológicas a

partir de suas próprias contradições internas, produzindo um

contradiscurso. (ALMEIDA e SANCHEZ, 2016, p. 101).

Essa breve amostra de trabalhos versando sobre a Lei em questão demonstra que

o processo de absorção ou mesmo a sua efetivação é lento e requer o acompanhamento

analítico das diversas áreas. Sua institucionalização, acreditamos, trata-se de um ponto

de chegada numa longa caminhada que é a marcha histórica brasileira. Ao pensarmos a

história a partir da perspectiva da cultura brasileira e suas relações de poder,

acreditamos que estamos diante um ponto de partida para o qual há uma longa

caminhada pela frente.

2.2.2. Um ponto de partida: a pesquisa.

A partir da experiência docente em sala de aula e mesmo na convivência com os

demais professores, percebe-se que o tema da História e da Cultura da África não tem

um lugar de destaque. Após conhecer e problematizar a Lei, percebemos que um estudo

sobre a importância de sua aplicação deveria tomar lugar. Apresentamos a seguir, numa

primeira sessão, os resultados do questionário3 aplicado 23 alunos do 8º ano (com faixa

etária entre os 13 aos 14 anos de idade) vespertino da Escola Municipal Sebastiana

Alves Nôga; e, em seguida, numa segunda sessão, os resultados dos questionários4

realizados com 21 professores das diversas áreas/matérias dos Ensinos Fundamental e

Médio respectivamente das Escolas Municipal Belmira Viana e a Escola Estadual

Querubina Silveira ambas situadas na cidade de Cerro Corá/RN – Brasil. Os

questionários foram aplicados entre os anos de 2015 e 2016.

3 Este questionário foi aplicado como parte do projeto “Desconstruindo a África” o qual participei e foi

coordenado pela profa. Maria de Fátima Garcia. O modelo do questionário encontra-se em Anexo nº 1. 4 Este questionário foi elaborado pela autora e o modelo encontrasse em Anexo nº 2.

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2.2.2.1. Resultado dos questionários aos alunos.

A seguir apresentamos o resultado das questões abordadas no questionário

aplicado aos alunos (as categorias se tratam do que Velho [2002] chamou em sua

pesquisa de unidades mínimas ideológicas). Ao tratar de pontos de vistas, experiências e

visões de mundo, estaremos lidando com o terreno da cultura e, mais propriamente, o

campo dos símbolos e significados (GEERTZ, 2008). Em sua interface histórica,

problematizamos a dimensão da histórico-cultural ao referenciarmos ideias e

mentalidades transmitidas que atuam nas atitudes dos sujeitos no mundo e que

interferem ou perpassam a vida cotidiana (BURKE, 2008).

Questão 1 – África é...

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

Na questão 1 vemos que predomina uma visão da África como “lugar de cultura,

religião e tradição”, seguida pela visão do continente como “lugar de pobreza e

sofrimento” e “lugar de povos negros. A categoria “C” que apresenta uma visão

negativa, parece-nos significativa da existência e permanência de preconceito relativo à

África e seus povos.

0

2

4

6

8

10

12

(A) Lugar de cultura, religiãoe tradição

(B) Lugar de povos negros (C) Lugar de pobreza esofrimento

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Questão 2 – África é um país ou um continente?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

Vemos na questão 2 que predomina a ideia/conhecimento da África como

continente, embora um número reduzido de alunos afirma que se trata de um país.

Questão 3 – Qual a relação da África com o Brasil?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

0

5

10

15

20

25

Continente País

0

2

4

6

8

10

12

(A) São diferentes (B) Pobreza,sofrimento e doença

(C) Tradição, religião,costume e cultura.

(D) Não sabe, ououtros

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Quando, na questão 3, perguntamos “Qual a relação da África com o Brasil?”

predomina a visão/relação que aparece na categoria “C”, “tradição, religião, costume e

cultura”. Parece-nos, dessa forma que, ainda que haja a presença de ideias ou imagens

distorcidas a respeito da África, da sua história e da sua cultura, uma quantidade

considerável de alunos consegue estabelecer uma relação que tem como principal elo a

cultura. Quando na categoria “A” uma parcela de alunos afirma que brasileiros e

africanos (em sua relação) são diferentes há uma dupla possibilidade de análise: por um

lado pode-se estar apenas afirmando um dado lógico da diferença cultural, étnica,

geográfica, mas por outro lado a ideia de “diferente” pode ser uma afirmação

etnocêntrica, ou seja, que vê a cultura africana como estranha ou exótica. Para o caso

desta última afirmação ser correta, se unirmos as categorias “A” e “B” (esta última,

“pobreza, sofrimento e doença”) predomina uma imagem negativa sobre aquela positiva

da cultura. Uma quantidade menos relevante afirma não saber qual a relação da África

com o Brasil.

Questão 4 – Quais as influências da África?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando colocamos a questão “Quais as influências da África?” predomina uma

série de visões negativas que reúne ideias como a influência étnica, ou seja, de “pessoas

negras” e “doença e escravidão”. É importante ressaltar a dicotomia da categoria “A”

0

1

2

3

4

5

6

(A) Pessoasnegras

(B) Doença,escravidão

(C) Cultura ereligião

(D) Comida,dança emúsica

(E) Humildade,honestidade esolidariedade

(F) Nenhuma

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quando os alunos afirmam a influência étnica das “pessoas negras”. Deve levar em

consideração que o predomínio de visões negativas para os outros aspectos pode ser um

indício de que a afirmação da influência pela cor/raça seja igualmente negativa para os

alunos. Não queremos enfatizar demasiadamente os aspectos negativos na visão dos

alunos, mas apontar para o fato de sua existência. Curiosamente, quando nos

debruçamos sobre as demais categorias, “C”, “D” e “E”, percebemos um contraponto

positivo quando nessas categorias afirma-se que a influência da África, de forma

sintética, é a cultura e tais influências aparecem nas visões que elencam a religião,

comida, dança, música, e também aspectos de caráter como humildade, solidariedade e

honestidade. Essas visões de mundo devem sempre ser tomadas como experimentações

do pensamento, seja do aluno, interlocutor da pesquisa, quando do pesquisador da

história cultural. Ao solicitar aos alunos que tragam à tona seus pensamentos, ideias e

visões de mundo sobre um determinado tema, sobretudo quando se trata de um tema

problemático, há que se considerar aspectos de mudança e continuidade. Assim, a partir

da minha experiência acompanhando as turmas, pude perceber que algumas visões

errôneas ou preconceituosas podem ser mudadas com o tempo: como a ideia de que a

África é um continente e não um país.

Questão 5 – Você percebe alguma diferença entre os africanos e os brasileiros?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

(A) Africanospassam fome

(B) Cor da pele (C) Brasileirostêm maisrecursos

(D) Modo devida

(E) Cultura,crenças etradições

(F) Não temdiferença

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Na questão 5 onde é solicitado ao aluno responder sobre a diferença entre

africanos e brasileiros, predomina a ideia de que é o “modo de vida”. Em seguida

percebe-se que a “cor da pele”, ou seja, o aspecto etnicorracial novamente aparece como

uma imagem recorrente quando o assunto é África. Um aluno afirma que a diferença

está no fato de que os “africanos passam fome”, mas no conjunto das respostas vê-se tal

visão de forma um tanto isolada. Outro aspecto ressaltado que é recorrente como vimos

para falar das influências e agora é trazido aqui para falar das diferenças é a dimensão

da cultura que envolve por sua vez as crenças e as tradições. Mas é na categoria “F”

que, embora numa quantidade relativamente pequena, mas significativa, que

encontramos um contraponto interessante: “não tem diferença”. Nesta visão/afirmação

não é afirmado categoricamente uma “igualdade”, mas parece denotar a ideia de que

não há diferenças significativas que reiterem uma visão predominantemente

etnocêntrica.

Questão 6 – Qual a imagem você tem do povo africano?

Fonte: Projeto Desconstruindo a África, adaptado por OLIVEIRA, M. L. 2016.

Por fim, quando colocamos a questão de “qual a imagem que se tem do povo

africano”, quase todas as afirmações e suas respectivas visões vêm à tona na categoria

“A” na imagem de um “povo pobre, sofrido e sem trabalho”. A questão parece resumir

todo o questionário ainda que com ressalvas. Na categoria “B” vê-se o contraponto que

0

2

4

6

8

10

12

14

16

(A) Povo pobre, sofrido esem trabalho

(B) Povo feliz, acolhedor e detradição

(C) Nenhuma

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aparece também numa quantidade significativa e que se traduz na imagem de um “povo

feliz, acolhedor e de tradição.

2.2.2.2. Resultado dos questionários aos professores.

Questão 1 – Você já ouviu falar na Lei 10.639/2003?

Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando perguntamos aos professores se “já ouviram falar na Lei 10.639/2003” a

maior parte deles afirma ter conhecimento.

Questão 3 – O que você entende por Hist. e cult. Africana e afro-brasileira?

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Sim Não

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Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando solicitamos aos professores suas visões e entendimentos acerca da

“história e da cultura da África” predomina a ideia da “herança cultural, diversidade

etnicorracial e miscigenação”. Em seguida aparece o conjunto de ideias “influência

cultural, diáspora e formação da nação”. Num terceiro conjunto de ideias aparece a

“preservação e resgate da memória, estudo de costumes e práticas”. Há ainda

professores que omitiram suas respostas. Percebe-se nesses conjuntos de

ideias/respostas uma variedade de temas solidários a partir dos quais podemos

estabelecer dois eixos principais: cultura e diversidade etnicorracial.

Questão 5 – Você recebeu alguma capacitação sobre este conteúdo?

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

(A) Herança cultural,diversidade

etnicorracial emiscigenação

(B) Influência cultural,diáspora e formação

da nação.

(C) Preservação eresgate da memória,

estudo de costumes epráticas.

(D) Respostas omissas

0

2

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6

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10

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14

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Curso de capacitação, seminário e outros. Não

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Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Na questão 5 vê-se que a maior parte dos professores não recebeu qualquer

capacitação para o conteúdo. Em contraponto menos da metade teve capacitação ou

participou de seminário.

Questão 9 – Qual a maior dificuldade que você encontra quando fala da aplicação da lei?

Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando colocamos a questão sobre “qual a maior dificuldade encontrada quando

se fala da aplicação da lei”, predomina a ideia de que é o “despreparo, a falta de

instrução e de material”, seguido da “falta de apoio/preconceito da escola e dos

docentes”, seguido ainda de “falta de capacitação”.

Questão 10 – O que você acha que precisa ser feito para que esta lei se torne uma realidade na

escola?

0

2

4

6

8

10

12

(A) Despreparo,falta de instrução

e de material

(B) Falta de apoio(preconceito) da

escola e dosdemais docentes

(C) Falta decapacitação

(D) Não hádificuldade

(E) Respostasomissas

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Fonte: OLIVEIRA, M. L. 2016.

Quando colocamos a questão do que o entrevistado “acha que precisa ser feito

para que a lei se torne uma realidade na escola”, predomina fortemente a ideia de que é

a “capacitação dos professores”, seguido da “execução de projetos voltados ao tema” e

“execução de políticas públicas e outros”. Há ainda uma considerável parcela de

entrevistados que omitiram a resposta.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho apresentou em seu corpo os resultados de pesquisa realizada

no âmbito do Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira

tendo como objeto a lei nº 10.639/2003. O fio condutor da discussão foi a ideia de que o

instrumento da lei se trata de um “ponto de chegada” tendo em vista a inegável história

da escravidão e do racismo que, ainda hoje, é uma fronteira social. E, por mais que a lei

que insere o ensino de história e cultura afro-brasileira na rede de ensino, diversas

razões levaram a construção da hipótese de que também se trata de um ponto de partida.

Ao abordar as unidades mínimas ideológicas nos discursos de alunos e

professores, a hipótese de que temos um ponto de partida e um a caminho a ser trilhado

ficou mais nítida.

0

2

4

6

8

10

12

(A) Capacitação dosprofessores

(B) Executar projetosvoltados ao tema

(C) Execução depolíticas públicas e

outros

(D) Respostas omissas

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Predominou entre os alunos uma dicotomia de visão sobre a África como “lugar

de cultura” e “lugar de pobreza e sofrimento”. Uma pequena parcela não sabia se tratar

de um continente, mas pensava ser um país. Da mesma forma quando a questão

colocada é a relação África/Brasil a dicotomia emerge entre a ideia de laço pela

“cultura” (por sua vez num duplo aspecto de costumes e tradições, por um lado e,

estranheza e exotismo, por outro) e laço pela “pobreza, sofrimento e doença”.

A dicotomia dessas unidades ideológicas é quebrada para o lado mais negativo

das partes quando problematizamos entre os alunos a ideia de “influência da África

sobre o Brasil”. Como afirmamos nas sessões anteriores, predomina uma série de visões

negativas sobre influência étnica, um mal-estar sobre cor da pele e herança histórica da

escravidão. A dicotomia é retomada para ser novamente quebrada quando nas opiniões

de alguns alunos afirma-se que a influência da África é a cultura e essa é vista

positivamente através das categorias que são elencadas: comida, dança, música, e

também aspectos de caráter como humildade, solidariedade e honestidade.

Ressaltamos aqui a ideia de que as visões de mundo emergidas na pesquisa,

sobretudo com indivíduos jovens, devem sempre ser tomadas como experimentações do

pensamento e da cultura. Ao solicitar aos alunos que tragam à tona seus pensamentos,

ideias e visões de mundo sobre o tema em questão, há que se considerar aspectos de

mudança e continuidade na história cultural que envolvem dimensões subjetivas na

ordem da educação familiar e da formação das personalidades. Assim, a partir da minha

experiência acompanhando as turmas, pude perceber que algumas visões errôneas ou

preconceituosas podem ser mudadas com o tempo: como a ideia de que a África é um

continente e não um país, de que a África é um continente rico materialmente e

culturalmente.

Quando escolhemos o questionário como procedimento metodológico, a

primeira razão era abordar as unidades ideológicas e os aspectos simbólicos do discurso

sobre o tema em questão. A eleição das categorias que mais aparecem serviu de norte

para confirmar a hipótese que se levantava. No entanto, o fato de uma categoria

aparecer menos é tão significativo quanto as que mais aparecem. Assim foi quando

levantamos a questão sobre a “diferença entre africanos e brasileiros”. A ideia

predominante nas unidades ideológicas eram estritamente ligadas ao modo de vida e as

aspecto etnicorracial com ênfase na cor da pele. Mas nos pareceu significante o fato

uma parcela muito pequena afirmar que “não tem diferença” o que nos levou a pensar

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que nesta visão/afirmação não há uma ideia utópica de “igualdade”, a ideia de que não

há diferenças significativas que reiterem uma visão etnocêntrica corrente.

A imagem, bem como as visões de mundo acerca do povo africano e da história

e cultura afro-brasileira parece então está dentro de uma dicotomia: de um lado uma

imagem “povo pobre, sofrido e sem trabalho”; e, do outro, uma imagem de um “povo

feliz, acolhedor e de tradição”.

O presente trabalho ainda abordou as opiniões dos professores no âmbito da

discussão do tema proposto. A maior parte deles conhece a Lei e entendem que o ensino

da História e da Cultura da África se trata da abordagem da “herança cultural,

diversidade etnicorracial e miscigenação”, por um lado e da “influência cultural,

diáspora e formação da nação”, por outro. Vê-se então que, embora as unidades

ideológicas sejam múltiplas, elas convergem para palavras-chave generalistas: cultura,

diversidade, miscigenação.

Um dado de grande relevo para pesquisa é o fato de que a maior parte dos

professores não recebeu qualquer capacitação para o conteúdo e, a maior dificuldade

encontrada pelos mesmos, quando se trata da aplicação da lei, é o despreparo, a falta de

instrução e de material. Igualmente relevante e crítico é a afirmação que fazem alguns

professores de que falta de apoio da escola, falta capacitação e que há preconceito entre

dos docentes. Nesse sentido, os professores acreditam que é necessário que haja

capacitação, implementação de projetos voltados ao tema e a execução de políticas

públicas.

Diante de tais questões a presente discussão, resultado de pesquisa realizada em

curso de capacitação em História e Cultura Afro-brasileira, acreditamos que há neste

ponto de partida que é a lei, um longo caminho a ser percorrido que envolve a

capacitação dos professores, a implementação de projetos de acordo com demandas

locais reprimidas, bem como de políticas de Estado que sejam capazes de gerar

efetivamente um sentimento de igualde e bem-estar na sociedade brasileira, dirimindo

preconceitos e violências. Estas e outras intervenções passam pela construção de um

novo entendimento, sobretudo no Ensino Básico, acerca da História e da Cultura

brasileira, que seja capaz de fazer reconhecer o valor e a importância de sua herança

africana. A Lei 10.639 de 2003 foi um importante marco, um ponto de chegada após

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décadas de negação. Mas tal reconhecimento não é cômodo, razão pela qual há um

caminho a ser trilhado, um ponto de partida.

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10.639/2003 LAW, A FINAL POINT AND STARTING POINT: THE

IMPORTANCE OF APLICLATION IN THE CLASSROOM.

ABSTRACT

This work deals with the institutionalization of the 10.639/2003 Law and discusses its

importance in the teaching of History in a search experience. The research took place

from 2013 and 2016 at the School Sebastiana Alves Noga in the Cerro Corá city, state

of Rio Grande do Norte, Brazil. This is an investigation in the school environment,

about the teacher's relationship with tthe Law, which deals with the Ethnic and Racial

Relations and the Teaching of Afro-Brazilian History and Culture, its importance in the

classroom. Law 10.639 of 2003 is an important milestone, a final point after decades of

denial. But such recognition is not comfortable, which is why there is a way to go, a

starting point.

KEY-WORDS

10.639/2003 Law. Afro-Brazilian History and Culture. Racial and ethnic relations.

FONTES

BRASIL. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. In:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm

Estudantes e Professores (nomes suprimidos) da Escola Municipal Sebastiana Alves

Nôga

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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. A. B; SANCHEZ, L. P. ENEM: Ferramenta de implementação da Lei

10.639/2003 – Competências para a transformação social?

BOAS, Franz. Antropologia cultural. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2005.

BRASIL. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003.

BURKE, Peter. O que é História Cultural? 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC Ed, 2008.

GUERRA, M. P. R. Análise da Lei 10.639/2003 no Livro de Alfabetização “Porta

Aberta – Língua Portuguesa”. IN: Anais do I Congresso Nacional Africanidades e

Brasilidades. 2014.

VELHO, G. Ideologia e imagem da sociedade. In: A utopia urbana. Rio de Janeiro:

Zahar ed. 2002.

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ANEXOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

CAMPOS DE CAICÓ - DEPARTAMENTO DE HISTORIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTORIA E CULTURA AFRICANA E

AFRO-BRASILEIRA

POLO CURRAIS NOVOS

DISCENTE: MARIA LUCILENE DE OLIVEIRA

PROPOSTA DE ARTIGO: Analisar o entendimento dos docentes no que tange a

implementação da Lei 10.639/2003 em sala de aula.

INSTITUIÇÃO DE ENSINO:

______________________________________________________________________

____

AREA DE

FORMAÇÃO:______________________________________________________

SEXO:( ) FEMININO ( ) MASCULINO

DISCIPLINA QUE

LECIONA:__________________________________________________

1- Você já ouviu falar na Lei 10.639/2003? Sim ( ) Não ( ) - Se respondeu

sim, de que trata essa lei?

2- Você concorda com ela? Sim ( ) Não ( )

3- O que você entende por História e cultura Africana e Afro-brasileira?

4- Você acha importante trabalhar esse conteúdo em sala de aula? Por que?

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5- Você recebeu alguma capacitação sobre este conteúdo? Sim ( ) Não ( ) – Se

sim, qual?

6- Existe na sua escola algum profissional que auxilie os professores na

capacitação da lei?

Sim ( ) Não ( )

7- A escola já inseriu esses conteúdos em seu currículo? Sim ( ) Não( )

8- Em relação ao material didático sobre esses conteúdos o que a escola dispõe?

9- Qual a maior dificuldade que você encontra quando fala da aplicação da lei?

10- O que você acha que precisa ser feito para que esta lei se torne uma realidade na

escola?

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ESCOLA MUNICIPAL SEBASTIANA ALVES NÔGA

PERGUNTAS PARA DEBATE EM SALA DE AULA SOBRE A

DESCONSTRUÇÃO DA ÁFRICA

ALUNO (a):____________________________________________________________

ANO:____________________________TURMA:______________________________

1- África é...

______________________________________________________________________

2- África é um país ou um Continente?

______________________________________________________________________

3- Qual a relação da África com o Brasil?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4- Quais as influências da África?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

5- Você percebe alguma diferença entre os africanos e os brasileiros?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

6- Qual a imagem que você tem do povo africano?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________