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M. L. Marinho Antunes Vinte anos de emigração portuguesa: alguns dados e comentários O objectivo principal deste artigo é apre- sentar sob forma sistemática os dados esta- tísticos de que se dispõe àcerca da evolução quantitativa da emigração portuguesa, no período 1950-1969, incluindo estimativas de número de emigrantes clandestinos. Além dm análise de certas características fundamen- tais do movimento emigratório global, efec- tua-se um estudo mais detalhado da emigra- ção para França. Na Conclusão, o Autor faz alguns comentários respeitantes às fontes estatísticas portuguesas e sugere temas para investigações a realizar posteriormente. INTRODUÇÃO 1.1. A importância e o interesse do assunto Ao longo dos seus vários anos de actividade, o Gabinete de Investigações Sociais tem dedicado alguma atenção ao fenómeno emigratório 1 . E não é só nele que o assunto tem sido estudado, ou debatido. A emigração é um facto presente na vida portuguesa desde há longo tempo, ao qual já nos habituámos de tal modo que talvez 1 Ver na revisto Análise Social, os artigos de J. C. FERREIRA DE ALMEIDA no n.° 7-8 (1064), págs. 599-622, «A emigração portuguesa para França: alguns aspectos quantitativos» e no n.° 13 (1966), págs. 116-128, «Dados sobre a emigração portuguesa em 1963-65: alguns comentários», e o trabalho de Ismael SILVA SANTOS no n.° 18 (1967), págs. 288-298, «Algu- ma» considerações sobre o retorno de emigrantes», além das várias notícias e estatísticas publicadas sobre o assunto.

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M. L.MarinhoAntunes Vinte anos de emigração

portuguesa:

alguns dados e comentários

O objectivo principal deste artigo é apre-sentar sob forma sistemática os dados esta-tísticos de que se dispõe àcerca da evoluçãoquantitativa da emigração portuguesa, noperíodo 1950-1969, incluindo estimativas denúmero de emigrantes clandestinos. Além dmanálise de certas características fundamen-tais do movimento emigratório global, efec-tua-se um estudo mais detalhado da emigra-ção para França. Na Conclusão, o Autor fazalguns comentários respeitantes às fontesestatísticas portuguesas e sugere temas parainvestigações a realizar posteriormente.

INTRODUÇÃO

1.1. A importância e o interesse do assunto

Ao longo dos seus vários anos de actividade, o Gabinete deInvestigações Sociais tem dedicado alguma atenção ao fenómenoemigratório1. E não é só nele que o assunto tem sido estudado,ou debatido.

A emigração é um facto presente na vida portuguesa desdehá longo tempo, ao qual já nos habituámos de tal modo que talvez

1 Ver na revisto Análise Social, os artigos de J. C. FERREIRA DEALMEIDA no n.° 7-8 (1064), págs. 599-622, «A emigração portuguesa paraFrança: alguns aspectos quantitativos» e no n.° 13 (1966), págs. 116-128,«Dados sobre a emigração portuguesa em 1963-65: alguns comentários»,e o trabalho de Ismael SILVA SANTOS no n.° 18 (1967), págs. 288-298, «Algu-ma» considerações sobre o retorno de emigrantes», além das várias notíciase estatísticas publicadas sobre o assunto.

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possa haver quem pense que é coisa de sempre, que faz parte danossa «maneira de ser» como muitas outras coisas igualmente«naturais», a respeito das quais pouco há a fazer. O ponto departida deste trabalho é diferente.

Verificamos que muitos portugueses têm deixado a terraonde nasceram para irem trabalhar e viver noutros países, pormais ou menos tempo, e achamos necessário conhecer as carac-terísticas desse facto observável, as suas causas e efeitos.

Não estará alheio ao interesse que nos desperta o objectodeste estudo a circunstância de nos parecer que a emigração tomou,a partir do início da década de 60, o papel de factor muitoimportante no processo de mudança da sociedade portuguesa.

Ainda não encontrámos dados absolutamente seguros e ummodelo apropriado para compreendermos o referido processo, mas,não obstante, pode-se, pelo menos como hipótese de trabalho,pensar que a emigração deve estar relacionada com ele na medidaem que, provavelmente, nela influem as condições de vida dosemigrantes, as suas aspirações e projectos, as taxas de empregoe subemprego, o nível dos salários e as condições do trabalho,os mecanismos da mobilidade social, sobretudo a vertical, ascircunstâncias actuais da prestação do serviço militar obrigatório,a evolução dos padrões de vida e dos quadros culturais, designa-damente dos valores aceites socialmente, decorrente de muitosfactores entre os quais se conta a difusão dos meios de comuni-cação social, a situação económica e social portuguesa e a dospaíses do destino, e muitos outros factos que só uma análiseobjectiva poderá identificar.

Sabemos, aliás, que, enquanto facto social, o fenómeno daemigração é complexo e que os elementos que se possam identificarna sua ocorrência são simultaneamente sua causa e seu efeito,não se devendo esperar que um só factor explique todo o fenó-meno, nem que ele não tenha variado ao longo do tempo e con-forme as regiões.

Por tudo isto se pode entrever o interesse e a importânciadó estudo do movimento emigratório que se verifica em Portugal,sobretudo de alguns anos a esta parte.

Tal tarefa terá de se ir cumprindo com contribuições várias,a diferentes níveis e segundo as múltiplas perspectivas de análisenecessárias para uma compreensão tanto quanto possível globale profunda do fenómeno.

O objectivo deste trabalho é, simplesmente, apurar algumascaracterísticas da emigração total portuguesa e da emigraçãopara França nos últimos vinte anos, pouco mais se fazendo doque uma análise quantitativa das características focadas. Espera--se que possa representar uma contribuição para um estudo maisamplo da emigração portuguesa.

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1.2. As fontes de informação utilizadas

As fontes de informação mais utilizadas neste trabalho foramas estatísticas oficiais portuguesas e francesas respeitantes àemigração e imigração. Em segundo lugar, consultaram-se tra-balhos publicados em Portugal e em França sobre os fenómenosmigratórios.

Quanto às estatísticas portuguesas, servimo-nos do «Boletimda Junta da Emigração» publicado por este organismo oficial,e do «Anuário Demográfico» e «Estatísticas Demográficas» pu-blicados pelo Instituto Nacional de Estatística (I.N.E.); os ele-mentos respeitantes às transferências privadas entradas em Por-tugal foram recolhidos nas «Estatísticas Financeiras», tambémdo I. N. È..

O «Boletim da Junta da Emigração» é a fonte mais completade dados sobre a emigração portugfuesa. Iniciou-se a sua publicaçãocom um volume que incluiu elementos respeitantes à emigraçãoe actividade da Junta em 1950 e, depois disso, a cada ano temcorrespondido um volume, excepto para os anos de 1955 e 1956,cujos dados saíram no mesmo volume. O último volume publicadoà data da conclusão deste trabalho refere-se a 1969.

Das publicações do I. N. E., utilizaram-se os volumes neces-sários do «Anuário Demográfico» que cita dados sobre a emi-gração nas rubricas «Resumo descritivo» e «Dados retrospectivose comparativos» e num capítulo intitulado «Emigração». O últimonúmero desta publicação respeita ao ano de 1966. Os dados oficiaisdo movimento da população portuguesa desde 1967, inclusive,encontram-se na publicação intitulada «Estatísticas Demográficas»,cujo volume de 1968 apresenta uma alteração no seu plano emrelação ao anterior, onde se mantivera o plano do «Anuário De-mográfico», a qual consite na apresentação de uma rubrica inti-tulada «Conceitos e Anotações». No aue se refere à emigração,as «Estatísticas Demográficas» de 1967 e 1968 contêm dados no«Resumo descritivo», nos «Dados retrospectivos e comparativos»e num capítulo intitulado «Emigração» no qual se continuam aincluir os mesmos dez quadros que já figuravam no «AnuárioDemográfico». O último volume das «Estatísticas Demográficas»,referente a 1969, sofreu profundas alterações em relação aosanteriores, tendo desaparecido o «Resumo descritivo» e os «Dadosretrospectivos e comparativos». Os dados referentes à emigraçãoincluem-se em dez quadros iguais aos dos anos anteriores, osquais constituem o capítulo III — «Emigração» — da V Parte —«Movimento de fronteiras».

No que respeita às estatísticas oficiais francesas, o principalelemento de consulta foram os três volumes até ao momentopublicados pelo Office National d'Immigration, com o título «Sta-tistiques de rimmigration», referentes aos anos de 1967, 1968 e

SOi

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1969. Subsidiariamente, consultaram-se as séries de fascículosmensais das «Statistiques du Travail et de Ia Sécurité Sociale»,do Ministère du Travail, que apareceram até Julho-Agosto de1967. Sucedeu-lhes o «Bulletin Mensuel de Statistiques Sociales»,publicado pelos Ministère de Ia Santé Publique et de Ia SécuritéSociale e Ministère du Travail, de PEmpIoi et de Ia Population,cujo primeiro fascículo apresenta os dados respeitantes a Setembrode 1967. Estas publicações contêm as estatísticas oficiais sobre aimigração em França fornecidas pela entidade competente namatéria, ou seja, o Office National d'Immigration (O.N.I.). Osdados respeitantes à imigração apresentados nesta publicação são,por vezes, sujeitos, a rectificações, como se pode ver por compa-ração com as «Statistiques de rimmigration» atrás citadas, maspermitem acompanhar apenas com cerca de dois meses de atraso,em regra, o movimento mensal da imigração dos trabalhadoresestrangeiros e seus familiares, em França.

Este trabalho fica a dever muita inspiração aos estudos deJ. C. FERREIRA DE ALMEIDA sobre a emigração portuguesa, publi-cados pelo Gabinete de Investigações Sociais e, de certa maneira,representa uma continuação e actualização desses estudos.

Consultaram-se várias informações e trabalhos saídos naRevue Française du Travail, revista trimestral do Ministère duTravail que se publicou até ao n.° 4 de 1966 e que se passou aintitular Revue Française des Affaires Sociales e a ser órgão doMinistère des Affaires Sociales a partir do n.° 1 de 1967, designa-damente o trabalho de Pierre BIDEBERRY intitulado «Bilan devingt années d'immigration 1946-1966» publicado na Revue Fran-çaise des Affaires Sociales, n.° 2 de 1967 e os artigos «LMmmigra-tion en France en 1966» e «L'immisrration en France en 1967»,saídos nos n.° 3 de 1967 e n.° 3 de 1968, respectivamente, damesma revista. Também na revista Population, do Institut Na-tional d'Etudes Démographiques, se recolheram várias informa-ções e se aproveitaram estudos aí publicados, principalmente, narubrica «Chronique de rimmigration», as análises da imigraçãoem França, nos vários anos, da autoria de Louis CHEVALIER e deGeorges TAPINOS.

No uso das fontes de informação indicadas surgiram algumasdificuldades, designadamente provenientes de atraso da publicaçãoe da falta de alguns dados que seria conveniente conhecer nasestatísticas portuguesas. No que se refere às fontes francesas,detectaram-se alguns casos de não concordância entre elas, tendo--se adoptado o critério de tomar como certos os dados contidosnas «Statistiques de rimmigration», do O.N.I.. Em alguns casosfizeram-se correcções de erros de ordem aritmética facilmenteelimináveis, devidos, certamente, a erros tipográficos.

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1.3. A terminologia e o plano do trabalho

Ainda no âmbito desta introdução, convém fazer algumasprecisões de ordem terminológica.

Sabe-se que os portugueses que saem de Portugal para traba-lhar no estrangeiro, ou o fazem pelas vias legais, obtendo umpassaporte de emigrante, ou entram no número dos emigrantesclandestinos.

Ora, os dados que constam nas estatísticas oficiais portu-guesas acerca da emigração dizem apenas respeito a uma parteda emigração total, efectiva, porque só abrangem o númerodaqueles que emigram munidos do passaporte de emigrante. Aquisitua-se o primeiro problema: sabemos que a emigração total éuma soma, mas só temos dados certos sobre uma das parcelas(a emigração legal e legalizada). De facto, o cálculo da segundaparcela (a emigração clandestina) é sujeito a uma margem deerro que nem sequer se pode controlar com o rigor necessário.A maneira de ter um número que possa corresponder à emigraçãoclandestina consiste em obter a diferença entre o número dosportugueses que chegam aos países para onde emigraram e o nú-mero daqueles que saíram oficialmente de Portugal para essespaíses.

A questão começa, assim, a transferir-se para o modo comoos diferentes países de destino da emigração portuguesa fazemas estatísticas da entrada dos estrangeiros que neles pretendemtrabalhar e viver. Acontece, porém, que estes modos dependemde país para país e variam ao longo do tempo, visto que, se hánecessidade de imigrantes, isso sobreleva, normalmente, a neces-sidade do seu controle, ao contrário do que sucede nas épocas emque o que interessa é restringir as correntes imigratórias. Esteproblema complica-se sobremaneira no caso da emigração portu-guesa porque são muitos os países para onde os portugueses têmemigrado e continuam a emigrar.

Assim sendo, é evidente que também o resultado da somaque será a emigração total, efectiva ou real não é exacto, vistoque é afectado pela falta de rigor de uma das parcelas.

Em segundo lugar, é preciso ter em conta uma característicamuito especial das nossas estatísticas oficiais sobre a emigração.Desde 1963, inclusive, que são contados como emigrantes do anoa que as estatísticas dizem respeito, um certo número conhecidode portugueses que, tendo anteriormente emigrado em situaçãoirregular, isto é, clandestinamente, vieram a Portugal legalizara sua situação, voltando depois a sair, mas agora legalmente.Sucede, portanto, que desde 1963 aparecem misturados no mesmonúmero de emigrantes legais de cada ano pessoas que efectivamenteemigraram nesse ano e pessoas que efectivamente já tinhamemigrado num ano anterior. Infelizmente, até agora as estatísticas

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oficiais portuguesas só têm publicado o número total de legaliza-ções 2, nada mais se sabendo acerca das pessoas nessas condiçõesporque são ihcluidas em todos os quadros juntamente com os emi-grantes efectivamente saídos do país nesse ano, a não ser, também,o número dás pessoas que, nessas condições, se dirigiram paraFrança.

Tomando-se, portanto, conveniente dar designações diferentesa coisas diferentes, adoptaremos neste trabalho, por convenção,as seguintes definições:

Emigração oficial— número de pessoas que sairam do paísmunidas do passaporte de emigrante, conforme as estatísticasoficiais;

Emigração legalizada — número de pessoas que, tendo emi-grado clandestinamente, vieram a Portugal regularizar a suasituação, voltando, após isso, a sair do país munidas do passaportede emigrante obtido, conforme as estatísticas oficiais;

Emigração legal — saída do país de pessoas munidas do pas-saporte cie emigrante, excepto das pessoas incluídas na emigraçãolegalizada;

Emigração clandestina — saída do país de pessoas que vãotrabalhar para o estrangeiro e aí fixam a residência, sem pas-saporte de emigrantes;

Emigração efectiva, real ou total — saída do país de pessoasque vão trabalhar e residir num país estrangeiro.

No trabalho que se segue, a análise limita-se ao período dosúltimos vinte anos. De certo modo, é um período arbitrário, mas,por outro lado, corresponde a uma época na qual se assiste a umasensível transformação do fenómeno emigratório português, cujascaracterísticas mais marcantes são o nítido aumento do númerode emigrantes que se começa a operar sensivelmente na segundametade do período estudado e uma alteração no destino da prin-cipal corrente emigratória portuguesa.

Apresentar-se-ão, a terminar esta primeira parte introdutória,o método usado e os dados básicos sobre a emigração portuguesade 1950 a 1969, mostrando-se a relação que existe entre os váriosconceitos definidos anteriormente.

Tendo em conta os dados disponíveis, apresentam-se depoisalgumas características do conjunto da emigração oficial e, a se-guir, só da emigração para França no mesmo período de vinteanos.

2 A propósito, talvez convenha indicar que os números respeitantesàs legalizações se podem encontrar no «Anuário Demográfico» de 1965 eseguintes e nas «Estatísticas Demográficas» publicadas, excepto no volumede 1969, na iiifeiica «Resumo descritivo» nas considerações que se fazemlogo após o título: «V — Movimento de Fronteirais» e antes do subtítulo:«1 — Movimente «Geral dos passageiros» e não no sub-título «3—Emigração»incluido no mesmo título V do «Resumo descritivo»; podem também encontrar--se no «Boletim da Junta da Emigração».

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Na conclusão resumem-se, após uma súmula dos principaisresultados obtidos, alguns comentários e sugestões a propósitoda emigração portuguesa e das estatísticas portuguesas sobreeste fenómeno.

1.4. O método usado

Já atrás se disse que fazer um cálculo da emigração real por-tuguesa é empresa bastante falível. Nem por isso, contudo, sepode deixar de reconhecer a necessidade de se dispor de umnúmero, ainda que aproximado dos portugueses que em cada anoemigram.

Só este problema mereceria um estudo aprofundado e exaus-tivo, mas não é isso o que temos em vista neste trabalho. Limi-tar-nos-emos a dar um pequeno passo no sentido de se ir pensandoa questão da emigração portuguesa a partir de dados mais ajus-tados à realidade do que os que são apresentados nas estatísticasoficiais, visto que estes só dizem respeito à emigração oficial,mas além desta há outra que de maneira nenhuma se pode ignorar.

O método que adoptámos é o que foi usado por J. C. FERREIRADE ALMEIDA e consiste em descontar à emigração oficial a emigra-ção legalizada (legalizações), obtendo o que chamamos a emigraçãolegal, e em calcular a emigração clandestina. A soma da emigraçãolegal com a emigração clandestina dá-nos a emigração efectiva.Isto é, em esquema:

Emigração oficial — Emigração legalizada = Emigração legalEmigração legal + Emigração clandestina = Emigração efec-

tiva

Os dados sobre a emigração oficial constam nas estatísticasoficiais. Sobre as legalizações, sabemos o número que atingemem cada ano e o número de pessoas que nessas circunstânciasse dirigiram para França, de acordo com os dados publicadospelas entidades oficiais portuguesas competentes.

A respeito da emigração clandestina, sabe-se que ela existe.Pelas informações de que se dispõe, as quais são do domíniopúblico, pode-se formular a hipótese de que nos últimos vinteanos a maior parte da emigração clandestina portuguesa teve comodestino a Europa e em especial a França. Outra hipótese queestabelecemos é que os emigrantes que vêm a Portugal legalizara sua situação regressam, após isso, ao mesmo país de onde vierame para o qual tinham já emigrado clandestinamente.

Baseados nestas hipóteses, procuraremos fazer um cálculo da^emigração clandestina de portugueses para França, mediante acomparação das estatísticas oficiais da emigração portuguesa com

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as estatísticas oficiais francesas da imigração de trabalhadoresestrangeiros e respectivas famílias.

Para os objectivos deste trabalho, é suficiente este cálculoda emigração clandestina para França e portanto não se alargaráa análise a outros países da Europa, e até de fora da Europa,para os quais é possível que também se tenha verificado algumacorrente emigratória clandestina.

Portanto, o cálculo da emigração clandestina portuguesa totalneste período não fica feito mas somente o da que se destinoua França.

Assim, o que se fará, de facto, representa uma contribuiçãopara o cálculo da emigração portuguesa efectiva no período con-siderado, dado que se continua a desconhecer o valor da emigraçãoclandestina total. De acordo com a hipótese de que a maior parteda emigração clandestina portuguesa se tenha dirigido paraFrança, o cálculo que se efectuará da emigração efectiva estaránão só, sem dúvida, mais perto da verdade, mas até permite dize fque o valor da diferença entre a emigração efectiva total e aemigração efectiva aproximada calculada neste estudo é menor daque a diferença entre esta emigração efectiva aproximada e a emi-gração oficial, o que significa que não é destituída de interesse aestimativa que apresentamos, sendo certo, embora, que ela é infe-rior à emigração efectiva total.

1.5. Alguns dados básicos sobre a emigração portuguesa

Passando agora à aplicação do método exposto, começaremospor apresentar no Quadro n.° 1 os dados sobre a emigração oficialportuguesa, conforme as estatísticas oficiais.

Emigração oficial portuguesa, por anos

QUADRO N.° 1

Anoa

1950

1951

1952

1953

1954

1955

1956

1957

1958

1959

Emigração

21892

33 664

47 018

39 686

41011

29 796

27 017

35 356

34 030

33 458

Anos

19601961

1962

19631964

19651966

1967

1968

1969

Emigração

32 318

33 526

33 539

39 519

55 646

89 056

120 23992 502

80 452

70165

FONTE: Boletins da Junta da Emigração.

S06

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Estes números abrangem a emigração para todos os destinose, como já dissemos, a partir de 1963, inclusive, contêm a emigra-ção legaiizada. O total dos vinte anos atinge 989.890 emigrantes.Quanto a nós, todavia, convém distinguir o número dos emigrantesque saem do país só depois de estarem na posse do passaportede emigrante do daqueles que, tendo já emigrado clandestinamente,vêm depois a Portugal legalizar a sua situação para regressaremao estrangeiro com o respectivo passaporte de emigrante.

Pensamos, a este respeito, que tem inteira justificação que sefaçam as diligências no sentido de legalizar a situação de todasas pessoas que emigraram clandestinamente e que, por esse motivo,se podem ver sujeitas, efectivamente, a uma diminuição dos seusdireitos como trabalhadores e até como pessoas. Outra questão,porém, é distinguir-se, em relação a determinado ano, entre aemigração de pessoas que viviam no território nacional e o númerode pessoas que já tinham emigrado clandestinamente — e vivemno estrangeiro — e vieram a Portugal regularizar a sua situaçãode emigrantes. Parece-nos que esta distinção é indispensável paraque os conceitos se precisem e se obtenham dados relevantes parao estudo da emigração portuguesa.

Os dados fornecidos pelas estatísticas oficiais sobre a emigra-ção legalizada são os que se inserem no Quadro n.° 2.3

Emigração legalizada, por anos

QUADRO N.° 2

Anos

19631964:19651966196719681969

Emigraçãolegalizada

total

169012 32626 30428 63213 9871147110 260

Emigraçãolegalizada

para Franca

14501160924 97022 40313 6091147110 260

FONTE: Boletins da Junta da Emigração.

3 A emigração legalizada de 11969 é referida no «Boletim da Juntada Emigração» referente àquele ano, na pág. 1(20, esclarecendo-se que abran-geu emigrantes que se dirigiram para França, os quais, «na maioria», tinhamsaído clandestinamente do país durante esse mesmo ano. Na ausência dequalquer outra referência à emigração legalizada desse ano, consideramosneste trabalho que foram essas as únicas legalizações qu«e se fizeram em 1969.

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A soma dos números de legalizações indicadas no Quadron.° 29 para os sete anos, atinge 104.670 pessoas no total da emi-gração legalizada e 95.772 na emigração legalizada para França.

Na posse destes dados, fácil é calcular a emigração legalvisto que é o resultado da subtracção da emigração legalizada àemigração oficial.

Emigração legal, por anos

QUADRO N.° 3

Anos

1950

1951

1952

1953

1954

1955

1956

1957

1958

1959

Emigraçãolegal

21892

33 664

47 018

39 686

41011

29 796

27 017

35 356

34 030

33 458

Ano3

1960

1961

1962

1963

1964

1965

1966

1967

1968

1969

Emigraçãolegal

32 318

33 526

33 539

37 829

43 320

62 752

91607

78 515

68 981

59 905

FONTE: Quadros n.os 1 e 2.

A emigração legal abrangeu, nos vinte anos indicados, 885 220pessoas.

Procuraremos agora calcular a emigração clandestina paraFrança, neste período. Para isso acharemos a diferença entre onúmero de trabalhadores e seus familiares portugueses que entra-ram em França e o número de portugueses que emigraram legal-mente para aquele país. Note-se que o que se deve ter em contaé o número de emigrantes legais, conforme o conceito atrás defi-nido. Com efeito, os que saíram de Portugal após terem vindolegalizar a sua situação de emigrantes, não têm razão para serincluídos no número dos imigrantes portugueses quando chegama França, visto que, perante as autoridades francesas, já antesadquiriram o estatuto de trabalhadores imigrantes. Tal só nãosucederá com aqueles que ainda lá não tenham estado, os quais,de facto, devem ser muito poucos, e, de qualquer forma, não sãotidos em conta nestes cálculos, de harmonia com uma das hipó-teses de trabalho que adoptámos, e ainda porque não encontrámosdados sobre o seu número.

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No Quadro n.° 4 apresentam-se os dados que indicámos e ocálculo que, a partir deles, é possível fazer-se da emigração clan-destina de portugueses para França.

Emigração clandestina portuguesa para França, por anos

QUADRO

19501951195219531954195519561957195819591960196119621963196419651966196719681969

Total

N.° 4

Emigraçãolegal de

portuguesespara Franca

31967

261414568985772

31024 6943 5423 5935 4468 245

13 7732103232 3495101645 80635 04416 974

248 002

Trabalhadoresportugueses

e sen familiaresentrado»

em Franca

314418650690747

133618514 6406 2644 8386 434

10 49216 79829 84351 66860 26763 61159 59758 741

110 614

489 813

Emigração> clandestinade portugueses! para França

1 ~~5; 35i1 389

276!; 179: 351

10791538157012962 8415 0468 553

16 07030 6362791812 59513 79123 69793 640

i 241811

FONTES: Boletins da Junta da Emigração.Statistiques de Plmmigration, O.N.I*

Nota: Neste quadro apura-se um valor negativo da emigração clandestina de portuguesespara França em 1950. A figuração deste valor não tem, evidentemente, outra justifi-cação que não seja o acertar as operações aritméticas de apuramento dos totais.No trabalho de J. C. FERREIRA DE ALMEIDA «*A Emigração portuguesa paraFrança: alguns aspectos quantitativos» in Análise Social, vol. li, n.°s 7-8, 1964,este autor escreve que aquele valor negativo deve resultar da diferença «entre omomento em que é registada a saída de Portugal dum emigrante e aquele em queo mesmo indivíduo passa a figurar como imigrante em França» (nota n,° 9, pág. 605).Em virtude do que pudemos ler num documento poiieopiado do Q.N.J., intitulado «Bilande vingt années á'immigration 1946-1966» pensamos que se poée» dar outra razãoque também justifique aquele valor negativo. Assim, na página 14 desse documento,ao fazer-se^ referência à imigração familiar espontânea em França, isto é, a entradanaquele país de familiares de trabalhadores estrangeiros sem ser peta processo oficialde introdução de imigrantes no país, revela-se que. dada a importância que essefcnovimento espontâneo atingira, «em 1960, o Ministério do Interior e o Ministérioaa Saúde Pública e da População puzeram era vigor um processo de controle aposteriori que permitiu o recenseamento dos novo* imigrantes e a organização de

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Os números que apresentamos sobre a emigração legal deportugueses para França foram obtidos subtraindo ao númerofornecido pelas estatísticas oficiais portuguesas correspondenteà emigração oficial para França o número das legalizações (emi-gração legalizada) efectuadas em relação a portugueses que depoisse dirigiram para França.

Os dados respeitantes aos trabalhadores portugueses e seusfamiliares entrados em França são os fornecidos pelo OfficeNational de rimmigration e publicados nas fontes de informaçãofrancesas que consultámos e indicámos. Conforme o método se-guido, pensamos que a emigração efectiva, real ou total portuguesase pode indicar pelos valores insertos no Quadro n.° 5, os quaisdevem pecar por defeito, como já se disse. O total obtido é de1.127.031 emigrantes portugueses de 1950 a 1969, para todos osdestinos.

Emigração efectiva, por anos

QUADRO N.° 5

Anoa

1950195119521953195419551956195719581959

Emigraçãoefectiva

2188734 01547 40739 962411903014728 09636 89435 60034 754

Anos

1960196119621963196419651966196719681969

Emigraçãoefectiva

3515938 57242 09253 89973 95690 670

104 20292 30692 678

153 545

FONTES: Quadros n.°s 3 e 4.

exames sociais e sanitários». A seguir, apresentando um quadro dos efectivos daimigração familiar de 1947 a 1966, diz-se que «este número global de imigraçãofamiliar em França está ligeiramente subavaliado em virtude de não se tomar emconta o movimento familiar espontâneo anterior a. 1960». Aliás, pensamos que éa este facto que J. C. FERREIRA DE ALMEIDA se refere quando, no quadro dapág. 617 do trabalho atrás citado, indica como «factor desconhecido» a ter em contano cálculo da colónia portuguesa em França, «parte das fíimílias até 1960».Sendo assim, deverá concluir-se que o número de imigrantes familiares que estãocontados nas estatísticas oficiais francesas até 1959, inclusive, respeita unicamenteàs pessoas que entraram ou foram introduzidas legalmente. Só a partir de 1960,inclusive, passou a ser feito o registo dos imigrantes familiares cuja situação foiregularizada só após a sua chegada a França.Deste modo, os dados que apresentamos no Quadro n.° 4 sobre a entrada de portu-gueses em França pode pecar por defeito, visto não contar os familiares de trabalha-dores portugueses que possivelmente tenham entrado naquele país sem ser pelasvias legais, desde 1950 a 1959. Pode. por isso, ter acontecido que no ano de 1950não tenham entrado em França só 314 portugueses mas também outros cujo númeronãio foi possível conhecer nas fontes estatísticas que consultámos. Se assim tiver sido,o valor negativo apurado na emigração clandestina de portugueses para França em1950 pode dever-se à subavaliação do número de portugueses que efectivamentetenham entrado em França. E deste mesmo defeito podem gozar os dados respeitantesaos anos seguintes, até 1959.

310

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Para melhor compreensão das relações entre os variáveis quese utilizaram para a determinação da emigração efectiva e daevolução ao longo do período estudado, apresenta-se a Figura n.° 1.Nela está bem patente o facto de a emigração efectiva que cal-culámos ser sempre superior à emigração oficial, excepto no anode 1950, em que* é igual, em virtude de nesse ano não se terapurado a existência de emigração clandestina, e nos anos de1966 e de 1967 por causa de a emigração legalizada desses anoster sido superior ao número dos emigrantes clandestinos.

Convém referir, desde já, que na comparação a que procedemosentre as estatísticas portuguesas e francesas se verificou umadiferença significativa entre o número de emigrantes legais por-tugueses para França e o número (menor) de portugueses «intro-duzidos» em condições legais em França, nos anos de 1964 a 1968.

Os valores apresentados nas estatísticas francesas sobre onúmero de imigrantes portugueses sujeitos à regularização da suasituação em França são, deste modo, superiores aos que obtivemose manteremos ao longo do trabalho sobre a emigração clandestinaportuguesa para França. Este assunto é tratado no ponto 3.6.

n

20 ANOS DE EMIGRAÇÃO PORTUGUESA: 1950-1969

2.1. Destinos e origens

A iniciar a apresentação de algumas características da emi-gração portuguesa no período de 1950-1969, ocupar-nos-emos doestudo dos destinos e das origens das correntes emigratórias,isto é, da análise da distribuição dessas correntes pelos várioslocais para onde se dirigiram os emigrantes e da análise da suacomposição segundo os locais de proveniência desses mesmosmovimentos de população. Trataremos primeiro dos destinos,depois, das origens, e, por fim, das relações entre destinos eorigens. Mais uma vez, sentimos a dificuldade da falta de dadosindispensáveis: não encontrámos informação sobre as origens daemigração clandestina para França abrangendo todo o período.Só em relação ao ano de 1967 e seguintes temos essa informaçãoque ê fornecida pelas «Statistiques de rimmigration» do OfficeNational de rimmigration.

Assim, se no que respeita aos destinos podemos fazer a suaanálise ao nível da emigração efectiva, em relação às» origenstemos de nos limitar à emigração oficial porque é só para esta

811

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Evolução dos efectivos da emigração portuguesa» 1950-1969

150.000

100.000

50.000

1965 1969

--EMIGRAÇÃO EFECTIVA _ EMIGRAÇÃO OFICIAL

—EMIGRAÇÃO LEGAL EMIGRAÇÃO CLANDESTINA

Fig. 1

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Emigração efectiva para os principais países de destino, por anos

QUADRO N.<» 6

Ano

I>estino1950 1951 1952 1953 1S54 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969

Brasil

Venezuela

Argentina

Canadá

E . U. A

França . . . ,

Alemanha

R. África do Sul

Outros Países

SOMA

Outras legalizações(a*

141.43

3077

1865

938

314

232

1318

21887

21887

28104

1416

1994

676

418

351

1056

34015

41518

1668

1477

582

650

355

1157

47407

47407

32159

3504

784

1455

690

313

1037

39962

39962

29943

5508

818

1918

747

559

1697

41190

18486

5718

563

1328

1336

1025

1671

30147

30147

16814

3773

463

1612

1503

1851

1225

855

28096

28096

19931

4324

518

4158

1628

4640

757

938

36894

36894

19829

4073

662

1619

1596

6264

647

910

35600

35600

16400

3175

385

3961

4569

4838

729

697

34754

34754

12451

4026

190

4895

5679

6434

796

35159

35159

16073

3347

434

2635

3370

10492

1126

1095

38572

38572

13555

3522

790

2739

2425

16798

739

1524

42092

11281

3109

368

3424

2922

29843

699

2493

54139

240

53899

4929

3784

207

4770

1601

51668

3868

1437

2409

74673

717

73956

3051

3920

159

5197

1852

60267

11713

2802

3043

92004

334

90670

2607

4697

225

6795

13357

63611

9686

4721

4732

110431

6229

104202

3271

4118

192

6615

11516

59597

2042

1947

3386

92684

378

92306

3512

3751

124

6833

10841

58741

4886

921

3069

92678

92678

2537

3044

139

6502

13111

110614

13279

713

3606

153545

153545

FONTES: Boletins da Junta da EmigraçãoStatistiques de rimmigration, O. N. I.

(a) Nos anos de 1963 a 19G7, desconta-se à soma indicada da emigração desses anos para os vários destinos um valor designado pela rubrica "outras legalizações". Este valor corres-ponde ao número de legalizações efectuadas por emigrantes que se dirigiram para destinos não especificados nas estatísticas consultadas, excepto para França. Assim, nos dadosapresentados para esses anos, só os valores apresentados na emigração para França estão de acordo exactamente com o conceito que adoptámos de emigração efectiva, assim co-mo o total.

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que dispomos de dados ao longo dos vinte anos que estudámos.A relação entre destinos e origens também só é possível, obvia-mente, ao nível da emigração oficial.

Os destinos da emigração efectiva portuguesa, por anos, estãoindicados no Quadro n.° 6. Os oito países mencionados são os quemais atraem as correntes emigratórias portuguesas, tendo rece-bido, no total dos vinte anos considerados, o número de emigrantesque se regista no Quadro n.° 7.

Emigração efectiva portuguesa, por países de destino. 1950-1969

QUADRO N.° 7

Países

BrasilVenezuelaArgentinaCanadáE.U.AFrançaAlemanhaRep. Africa do SulOutros paísesTotal

Emigrantesportugueses

recebidos

310 59473 55412 3776175582 867

489 81345 4742198637 509

1127 031

% em relaçãoao total

27,66,51,15,57,3

43,54,01,93,3

FONTE: Quadro n.° 6.

Notas: 1. O total não corresponde à soma das parcelas indicadas porque se lhe subtraiu o totaldas legalizações que tiveram por destinos países que as estatísticas oficiais nãoindicam, excepto a França, nos anos de 1963 a 1967, no valor de 8.898 emigrantes.Só no valor indicado para França estão descontadas as respectivas legalizações. Asoma dos valores de percentagem indicados não é exactamente igual a 100 porqueforam calculados em relação ao total.2. Os valores apresentados para o Canadá e Alemanha não representam exactamenteo total do período visto que a emigração para esses países só passou a ser identificadaa partir de 1956 e de 1964, respectivamente, pelo que, antes disso, era incluída narubrica «outros países».

O Quadro n.° 6 e os dados apresentados no Quadro n.° 7sobre o total de emigrantes portugueses que se dirigem para cadapaís, e a respectiva percentagem em relação ao total da emigraçãoefectiva do período considerado, revelam uma estrutura da emi-gração efectiva portuguesa bem caracterizada em função dos des-tinos. Estamos, de facto, perante um movimento emigratório onde

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dois países de destino absorvem cerca de 70 % do total dos emi-grantes no período considerado.

Tomando, porém, em consideração a evolução dos efectivosdos emigrantes, por destinos, ao longo do período, verifica-seque os dois principais destinos da emigração portuguesa — o Bra-sil e a França — tendem a exercer, primeiro um, e depois o outro,o papel de grande pólo de atracção do fluxo emigratorio, sendoaté possível, segundo este critério, falar-se de um período brasi-leiro, um período francês e um período de transição na emigraçãoportuguesa de 1950 a 1969. Esta segunda característica está bemdocumentada na Figura n.° 2, podendo-se considerar o ano de 1958como o último do «período brasileiro», o período de transiçãoincluir os anos de 1959 a 1962 e localizar a partir de 1963, inclu-sive, o «período francês».

Os valores máximos e mínimos das curvas com que se cons-truiu a Figura n.° 2 são os seguintes: a curva da percentagemde emigração para o Brasil tem o valor máximo de 87,6 % no anode 1952 e o valor mínimo de 1,7 % em 1969; a da França, 72,0 %em 1969 e 1,2 % em 1951, respectivamente; a dos outros paísesatinge o valor máximo de 46,3 % em 1960 e o mínimo de 11,1 %em 1952.

Referidas as características gerais do fenómeno emigratorioem função dos destinos, faremos seguidamente alguns brevescomentários sobre cada destino.

O Brasil foi durante largos anos o país para onde se dirigiumaior número de emigrantes portugueses. Manteve essa posiçãodesde 1950 até 1961 apesar de, desde 1952, os efectivos da emi-gração para o Brasil terem apresentado sempre tendência paradecrescer. Em 1952 emigraram para este país 41.518 portugueses,número máximo ocorrido na emigração para este destino. Depoisde um rápido crescimento da emigração para o Brasil nos trêsprimeiros anos do período que estamos a estudar, seguiu-se umquase tão rápido decréscimo nos três anos seguintes que situouo fluxo emigratorio a um nível aproximado de 18.000 emigrantespor ano, nível que se manteve, em média, de 1955 até 1958. Osanos de 1959 e 1960 são de decréscimo acentuado, tendo emigradoneste último ano cerca de 12.500 pessoas. Em 1961 houve umepisódico aumento da corrente emigratória para o Brasil, atin-gindo-se a casa dos 16.000 emigrantes, mas a partir daí confirmou--se e acentuou-se a diminuição do fluxo emigratorio para estepaís. Deste modo, em 1964 já só emigraram pouco menos de 5 000pessoas e, de 1965 até ao fim do período estudado, a emigraçãopara o Brasil parece estar estabilizada ao nível de cerca de3 000 emigrantes por ano, em média.

A emigração para a Venezuela tem mantido uma notável cons-tância nos números absolutos de emigrantes que cada ano a cons-tituem, do que é bem sintomático o facto de a média anual de

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I

I

a

04

S

1

1I

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emigrantes para a Venezuela, no período dos vinte anos estudados,ser de cerca de 3 680 e o valor máximo registado ser 5 718 em1955 e o valor mínimo 1416 em 1951. Na segunda metade doperíodo considerado a uniformidade dos valores da emigraçãoanual para a Venezuela é ainda mais marcada, pois o máximo eo mínimo observados são, respectivamente, 4 697 em 1966 e 3 044em 1969. De notar, porém, que os últimos quatro anos parecemesboçar uma tendência no sentido do decréscimo da emigraçãopara este país.

A Argentina é um destino muito pouco procurado pelos emi-grantes portugueses. Desde 1953, a emigração anual para essepaís nunca atingiu o milhar de pessoas, e, desde 1963, nem sequeras quatro centenas.

As estatísticas da emigração começam a referir o Canadácomo país de destino a partir de 1956, ano em que emigraram comaquele destino 1 612 portugueses do Continente e Ilhas Adjacentes.De 1956 a 1960 a emigração para o Canadá conheceu altos e bai-xos, sendo o valor mínimo 1612, em 1956, e o valor máximo 4 895,em 1960. A partir de 1961, ano em que foram para este país 2 635portugueses, a série dos valores da emigração anual é caracte-rizada por um aumento lento, mas persistente, do número deemigrantes, até que, de 1966 a 1969, se nota ter sido alcançadoum nível relativamente constante que se pode cifrar na médiaanual de cerca de 6.690 pessoas.

A emigração portuguesa para os Estados Unidos da Américaapresenta várias fases no período em análise. Os anos de 1950a 1952 apresentam uma série de valores, ligeiramente decrescentes,inferiores a 1000 emigrantes por ano. Nos anos de 1953 a 1958registam-se valores bastante está,veis que oscilam entre 1918 emi-grantes em 1954 e 1328 no ano seguinte, como valores mínimo emáximo, respectivamente, desse período. Em 1959, ano em queemigraram para os Estados Unidos da América 4 569 portugueses,inicia-se uma nova fase caracterizada por uma tendência de des-cida dos valores da emigração anual para aquele destino até aoano de 1965, no qual se contaram 1852 emigrantes. Finalmente,a última fase abrange os anos de 1966 a 1969 nos quais se registamvalores muito superiores aos dos anos precedentes, entre o valormáximo de 13 357 emigrantes ocorrido em 1966 e o valor mínimode 10 841 em 1968.

Não obstante mais adiante dedicarmos uma atenção especialà emigração portuguesa para França, têm cabimento aqui algumasbreves notas sobre a emigração para este destino.

A característica geral da emigração para França é o extraor-dinário ritmo de crescimento dos valores que apresenta: o númerode emigrantes passou de 314, em 1950, para 110 615, vinte anosmais tarde. Ao longo do tempo o crescimento tem sido desiguale por isso se podem identificar alguns períodos com características

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quantitativas mais homogéneas. De 1950 a 1954, a emigraçãopara França aumentou sempre, moderadamente, passando de 314emigrantes em 1950 a 747 em 1954. No ano de 1955 registou-seum crescimento muito rápido da emigração que atingiu 1336pessoas, quase o dobro do ano anterior. Esse rápido crescimentonão se manteve ao mesmo nível no ano seguinte, isto é, em 1956.Em 1957, porém, ao emigrarem para França 4 640 pessoas, veri-ficou-se novamente uma taxa de cerscimento muito elevada emrelação ao ano anterior, dado que se deu um aumento de mais dodobro. Nos anos seguintes, até 1960, atinge-se uma relativa cons-tância, marcada embora por uma curiosa alternância entre valoresna ordem dos 4 740 emigrantes nos anos de 1957 e 1959 e valoresna ordem dos 6 350 emigrantes nos anos de 1958 e 1960. Nos trêsanos seguintes, de 1961 a 1963, assiste-se a um crescimento acele-rado do número de emigrantes que passa de cerca de 10 500 noprimeiro dos referidos anos a quase o triplo (29 843) em 1963.O ritmo intenso de aumento da emigração para França mantém-sedurante o ano de 1964 que conta com 51668 emigrantes, masdeixa de se verificar nos anos seguintes até 1968, verificando-seque de 1964 a 1968 se alcança um valor médio de emigração anualde cerca de 58 780 pessoas, com desvios pequenos dos valoresobservados nesses cinco anos em relação à média. No último anodo período em referência surge novamente um aumento quase decem por cento da emigração em relação ao ano anterior e atinge-seo elevado número de 110 614 emigrantes portugueses para França,sendo este o valor mais alto da emigração anual para um só paísocorrido não só nos vinte anos estudados, como desde 1900, e,provavelmente, desde sempre na história da emigração portuguesa.

Nas estatísticas oficiais portuguesas sobre a emigração, sóa partir de 1964 é que aparece especificada a emigração para aAlemanha. Nos seis anos sobre os quais há dados (1964-1969),os valores apresentados são muito irregulares e é difícil identificartendências, a não ser, talvez, a que parece esboçar-se nos últimostrês anos do período estudado, a julgar pelo rápido crescimentoque a série dos três valores revela, passando de 2 042 emigrantesem 1967 para 13 279 em 1969.

A emigração para a Republica da Africa do Sul apresentavalores diminutos no período estudado. Só em sete anos sucedeuque se ultrapassou o milhar de emigrantes. Apesar de pequena,porém, a emigração para este destino registou um certo cresci-mento, pelo menos até 1966, ano em que se verificou o valor má-ximo de emigração anual para este destino (4 721 pessoas). Apartir do ano de 1966 a emigração para a República da Africa doSul tem decrescido sensivelmente, tendo-se registado a saída deapenas 713 emigrantes para aquele país em 1969.

S18

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No que respeita às origens, o estudo deste aspecto do movi-mento emigratório português revela-se cheio de dificuldades pro-venientes, sobretudo, do facto de, para o conjunto dos anos de1950 a 1969, só haver informações sobre as origens em relaçãoà emigração oficial, e ainda porque, durante este período que esta-mos a estudar, ocorreu uma mudança do critério adoptado pelasestatísticas oficiais portuguesas sobre a emigração quanto à desi-gnação da origem dos emigrantes^ a qual, até 1960, inclusive, sedeve entender como naturalidade e a partir de 1961, inclusive,como local de residência.

O facto de só dispormos dos dados sobre a origem fornecidospelas estatísticas oficiais, ou seja, em função do que chamámosa emigração oficial, representa uma limitação muito grande quenão pode ser desprezada. Sobre a diferença que há entre a emi-gração oficial e a emigração efectiva, pensamos que estão reunidosneste trabalho alguns elementos suficientes para se fazer umaideia da sua importância. Quanto à mudança de critério verificadana identificação da origem dos emigrantes, a sua incidência nasestatísticas apresentadas não foi tomada em conta, em vista dosobjectivos e nível de análise deste trabalho, devendo acrescentar-seque onde ela é mais sensível é na rubrica «outras origens». Verifi-ca-se que quando esta rubrica se identificava com «outras natu-ralidades», incluindo-se aí os emigrantes naturais do Ultramar, doestrangeiro, sem nacionalidade ou com nacionalidade desconhecida,os valores apresentados eram muito superiores aos que são con-signados à rubrica «outras residências» que consta nas estatísticasde 1961 e anos seguintes, a qual inclue os emigrantes residentesno Ultramar, no estrangeiro ou com residência desconhecida.Assim, enquanto nos onze anos de 1950 a 1960 a rubrica «outrasnaturalidades» englobava, em média anual, cerca de 570 emi-grantes, tendo atingido o valor máximo de 779 emigrantes em 1952e o valor mínimo de 421 em 1956, a rubrica «outras residências»que consta a partir de 1961, inclusive, tem contado, em média,cerca de 11 emigrantes por ano, tendo em 1961 atingido o valormáximo de 22 emigrantes e o valor mínimo em 1969, ano em quenela não foi incluido nenhum emigrante.

Não obstante as limitações apontadas, cremos que não sãode todo destituídos de interesse os Quadros n.os 8, 9 e 9-A ondefiguram dados sobre as origens e os destinos da emigração oficialportuguesa de 1950 a 1969.

O Quadro n.° 8 apresenta, em números absolutos, o volumeda emigração oficial originária de cada distrito do Continente eHhas Adjacentes e dirigida para cada um dos principais paísesde destino, no total dos vinte anos considerados.

Os Quadros n.os 9 e 9-A foram construídos a partir do ante-rior e destinam-se a tornar mais directamente apreensíveis queros destinos preferidos pelos emigrantes originários de cada dis-

sid

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Emigração oficia,!, por distritos de origem e países de destino, 1950-1969

Destino

OrigemCanada E.U.A. Brasil Venezuela Argentina França Alentan.ha R. Africa do Sul Outros destinps Total

AveiroBejaBragaBragançaCastelo BrancoCoimbraÉvoraFaroGuardaLeiriaLisboaPortalegrePortoSantarémSetúbalViana do Castelo...Vila RealViseuAngra do HeroísmoHortaPonta DelgadaFunchalOutras origerts.

TOTAL

2132

418

1070

537

1193

1011

42

1750

363

3498

5693

116

561

1347

995

2143

576

333

3909

3638

29729

661

50

61755(a)

5091

94

526

148

347

1038

29

94$

2952

3409

5660

69

781

751

670

1707

4685

230G-

11892

10735

26148

616

2267

82867

32976

355

21556

28275

3730

18722.

263

1671

22567

•1J222

9064

463

36696

5241.

1114

13890

23448

42863

1069

139

2401

29767

3102

310594

17286

1390

47

628

1299

25

2324

337

$3i

828

30

7214

488

134

703

154

601

49

14

135

38737

161

73554

228

57

1089

371

511

300

13

3656

2683

557

262

35

94

62

88

1194

100

692

28

0

20

176

161

12377

17575

3409

49520

13899

29903

9633

1626

14831

29176

35922

18614

1480

34737

20847

4910

31169

12733

13521

16

8

47

36

162

343774

1263

2325

4040

2248

872

952

462

3547

849

4746

8630

225

4970

Í095

2358

492

1631

4696

2

0

72

2

45474

2016

76

254

60

201

540

47

386

211

703

2498

80

4177

483

668

166

85

515

14

í

16

8697

92

21986

1061

861

1485

539

967

1297

2"49

2495

1586

220CT

8593

415

1974

871

1482

869

640

1380

48*

55

2854

4881

355

37177

79648

7634

809*30

46124

38342

34792-

2756

31606

60724

63188

59842

2913*

91204

31185

12419

52333

44112

66907

17027

H590

61357

83573-

6352

989558(a)

FONTES: Boletins da Junta de EmigraçãoAnuário Demográfico, 1954, I. N. E.

(a) Não inclui 332 emigrantes que em 1954 se dirigiram para o Canadá, mas cujos elementos sobre as origens não foram apresentados nas estatísticas respeitantes à emigração desseano pelo INE, pelo motivo indicado no Anuário Demográfico de 1954.

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Distribuição da emigração oficial originária de cada distrito porpaíses de destino, em percentagens. 1950-1969

QUADRO N.° 9

Destinos

OrigensCanadá E.U.A. Brasil Venezuela Argentina Franca Alemanha R. África

do SulOutrospaíses Total

AveiroBejaBraga .Bragança ...Castelo BrancoCoimbraÉvoraFaroGuarda ,LeiriaLásboa ... ...PortalegrePortoSantarémSetúbalViana do Castelo ...Vila RealViseuAngra do HeroísmoHortaPonta DelgadaFunchalOutras origens

Total

2,75,51,31,23,12,91,55,50,65,59,54,00,64,38,04,11,30,5

23,024,948,50,80,8

6,2

6,41,20,70,30,93,01,13,04,95,49,52,40,92,45,43,3

10,63,4

69,873,642,60,7

35,7

8,4

41,44,7

26,661,3

9,753,8

9,55,3

37,217,815,115,940,216,8

9,026,553,264,16,31,03,9

35,648,9

31,4

21,70,41,70,11,63,70,97,40,61,51,41,07,91,61,11,30,30,90,30,10,2

46,52,5

7,4

0,30,71,30,81,30,90,5

11,64,40,90,41,20,10,20,72,30,21,00,20,00,00,22,5

1,3

22,144,761,330,178,127,759,046,948,056,831,150,938,166,939,559,628,920,20,10,00,10,02,6

34,7

1,630,5

5,04,92,32,7

16,811,21,47,5

14,47,75,43,5

19,00,93,87,00,00,00,00,00,0

4,6

2,51,00,30,10,51,61,71,20,31,14,22,74,61,55,40,30,20,80,00,00,0

10,41,4

2,2

1,311,31,81,22,53,79,07,92,63,5

14,414,22,22,8

11,91,71,52,10,30,44,75,85,6

3,8

100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0

100,0

FOttTE: Quadro n.* 8.

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Composição da emigração oficial para cada país de destino segundoos distritos de origem, em percentagens. 1950-1969

50

QUADRO N.# 9 A

Destinos

Origena

AveiroBejaBragaBragançaCastelo BrancoCoimbraÉvoraFaroGuardaLeiriaLisboaPortalegre ... ... ...PortoSantarém ..SetúbalViana do Castelo ...Vila RealViseuAngra do HeroísmoHortaPonta DelgadaFunchalOutras origens

Total

Canadá

3,50,71,70,91,91,60,12,80,65,79,20,20,92,21,03,50,90,56,35,9

48,11,10,1

100,0

E.U.A.

6,10,10,60,20,41,30,01,13,64,16,80,10,90,90,82,15,72,8

14,413,031,6

0,72,7

100,0

Brasil

10,60,16,99,11,26,00,10,57,33,62,90,1

11,81,70,44,57,6

13,90,30,00,89,61,0

100,0

Venezuela

23,50,01,90,00,81,80,03,20,51,31,10,09,80,70,21,00,20,80,10,00,2

52,70,2

100,0

Argentina

1,80,58,83,04,12,40,1

29,621,7

4,52,10,30,80,50,79,60,85,60,20,00,21,41,3

100,0

Franca

5,11,0

14,44,18,72,80,54,38,5

10,55,40,4

10,16,11,49,13,73,90,00,00,00,00,0

100,0

Alemanha

2,85,18,94,91,92,11,07,81,9

10,419,10,5

10,92,45,21,13,7

10,30,00,00,00,00,0

100,0

R. Africado Sul

9,20,31,10,30,92,50,21,81,03,2

11,40,4

19,02,23,00,70,42,30,00,00,1

39,60,4

100,0

Outrospaísea

2,92,34,01,52,63,50,76,74,35,9

23,11,15,32,34,02,31J3,70,10,27,7

13,11,0

100,0

Total

8,00,88,24,73,93,50,23,26,16,4:6,00,39,23,21,35,34,56,81,71,56,28,40,6

100,0

FONTE: Quadro n.° 8.

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trito indicado (Quadro n.° 9), quer a composição da correnteemigratória para cada destino em função dos distritos de origemdos emigrantes (Quadro n.° 9-A), continuando a tratar-se da emi-gração oficial no total dos vinte anos em referência e fazendo-seuso dos valores percentuais.

Nestes três Quadros a análise das origens faz-se ao nível dedistrito porque só com base nos dados publicados pela Junta daEmigração, a partir de 1955, é possível saber a origem da emi-gração oficial por destinos ao nível de concelho, e porque tal nívelde análise não seria indicado para a natureza eminentementeexploratória deste trabalho.

De acordo com os dados recolhidos, o distrito que maiscontribuiu para a emigração oficial portuguesa, no conjunto dosvinte anos estudados, foi o Porto, de onde emigraram 91.204 pes-soas que representam 9,2 % do total da emigração oficial do Con-tinente e Ilhas Adjacentes no período considerado e 11,3% daemigração oficial só do Continente. Em segundo lugar está odistrito do Funchal, cujos 83.573 emigrantes equivalem a 8,4%do total da emigração oficial portuguesa no período referido. Osdistritos de Braga e Aveiro situam-se em terceiro e quarto lugar,respectivamente, na escala descendente dos distritos que maiscontribuiram, no conjunto dos anos de 1950 a 1969, para a emi-gração oficial portuguesa. No fim dessa escala encontra-se o dis-trito de Évora, em penúltimo lugar e o de Portalegre e em antepe-núltimo o de Beja, isto é, os distritos ão Alentejo.

A ordem decrescente dos distritos que mais contribuiram paraa emigração oficial de 1950 a 1969 é a seguinte, com a indicaçãoda percentagem que caba a cada um e sem incluir a rubrica«outras origens»:

1 —Porto, 9,2% 12 —Vila Real, 4,5%2 —Funchal, 8,4% 13 —Castelo Branco, 3,9%3 —Braga, 8,2% 14 —Coimbra, 3,5%4 _ Aveiro, 8,0 % 15 — Faro, 3,2 %5 — Viseu, 6,8 % 16 — Santarém, 3,2 %6 — Leiria, 6,4 % 17 — Angra do Heroísmo, 1,7 %7 — Ponta Delgada, 6,2 % 18 — Horta, 1,5 %8 — Guarda, 6,1 % 19 — Setúbal, 1,3 %9 — Lisboa, 6,0 % 20 — Beja, 0,8 %

10 — Viana do Castelo, 5,3 % 21 — Portalegre, 0,3 %11 — Bragança, 4,7 % 22 — Évora, 0,3 %

Assim, 81,6 % da emigração oficial do período estudado teveorigem no Continente, 9,4% nos Açores, 8,4% na Madeira e0,6 % proveio de outras origens.

Considerando exclusivamente o Continente, a contribuição, empercentagem, de cada distrito para a emigração oficial no total

S2S

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dos anos considerados è como segue, por ordem decrescente deimportância:

1 — Porto, 11,3 % 10 — Vila Real, 5,5 %2 — Braga, 10,0 % 11 — Castelo Branco, 4,8 %3 —Aveiro, 9,9% 12 —Coimbra, 4,3%4 — Viseu, 8,3 % 13 — Faro, 3,9 %5 — Leiria, 7,8 % 14 — Santarém, 3,9 %6 —Guarda, 7,5% 15 —Setúbal, 1,5;%7 — Lisboa, 7,4 % 16 — Beja, 0,9 %8 — Viana do Castelo, 6,5% 17 — Portalegre, 0,4%9 — Bragança, 5,7 % 18 — Évora, 0,3 %

Em relação à emigração oficial dos Açores no mesmo período,66,0 % teve origem no distrito de Ponta Delgada, 18,3 % no deAngra do Heroismo e 15,7% no distrito da Horta.

O que fica dito tem como base, exclusivamente, o númeroabsoluto de emigrantes oficiais de cada distrito de origem, sem seestabelecer qualquer relação entre esse valor e o da respectivapopulação residente. Esta relação, porém, é muito importante,como é bem de ver, e não queremos, por isso, deixar de lhe dedicaralguns apontamentos.

Tendo em consideração a quantidade e qualidade da infor-mação disponível e os objectivos deste trabalho, adoptar-se-á ummétodo simples que nos permitirá estabelecer uma relação entreos contingentes da emigração oficial de cada distrito e a respectivapopulação residente.

O Quadro n.° 9-A permitiu-nos ordenar a série dos 22 distritosdo Continente e Ilhas Adjacentes por ordem decrescente da con-tribuição, em percentagens, com que cada um deles concorreupara a emigração oficial portuguesa no conjunto dos vinte anosde 1950 a 1969. Determinaremos, seguidamente, a percentagemda média da população residente de cada distrito em relação àmédia do total da população residente no Continente e Ilhas Adja-centes no mesmo período. Os dados que tivemos em conta paraesse efeito foram os reunidos no Quadro n.° 10, apresentando-separa os anos de 1950 e 1960 os resultados dos respectivos censose para o ano de 1969 o cálculo da população residente no meiodesse ano apresentado nas «Estatísticas Demográficas», 1969,do INE.

A partir dos valores dos três anos indicados, atribuiram-sevalores médios de percentagens de população residente em cadadistrito cujo significado é o de expressar qual foi, em termosaproximados, a distribuição média, em percentagem, da populaçãoresidente no Continente e Ilhas Adjacentes, no período considerado,pelos diversos distritos. Este valor médio está indicado no Quadron.° 11, juntamente com as percentagens já atrás apuradas do nú-

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mero de emigrantes originários de cada distrito em relação aemigração oficial portuguesa no período que se tem vindo aestudar. Dividindo o valor da percentagem da emigração origináriade cada distrito pelo da percentagem média da população, obteve--se um índice que é apresentado também no Quadro n.° 11. A

População residente, por distritos, em valores absolutose respectivas percentagens em relação ao total

do ano considerado

QUADRO N.° 10

Distrito*

AveiroBejaBragaBragançaCastelo Branco .CoimbraÉvora ...FaroGuardaLeiria ...LisboaPortalegrePortoSantarémSetúbal ...Viana do CasteloVila RealViseuAngra do HeroismoHortaPonta Delgada ..

Funchal

Total 8 510 240

1959

483 396

291 024

546 302

228 358

324 577

438 688

221 881

328 231

307 667

395 990

1 222 471

200 430

1 053 522

460 193

325 646

279 486

319 423

494 628

86 443

55 058

177 057

269 769

5,7

3,4

6,4

2,7

3,8

5,2

2,6

3,9

3,6

4,6

14,4

2,4

12,4

5,4

3,8

3,3

3,7

5,8

1,0

0,6

2,1

3,2

100,0

1960

524 592

276 895

596 768

233 441

316 536

433 656

219 916314 841

282 606

404 500

1 382 959

188 482

1193 368

461 707

377 186

277 748

325 358

482 416

96174

49 382

181 924

268 937

8 889 392

%

5,93,16,72,63,64,92,53,53,24,6

15,6

2,113,4

5,24,23,13,75,4

1,10,62,03,0

100,0

1969

585 900

274 700

667 700

247 000

321 700

445 900

226 400

315 300

270 300

429 000

1 590 700

184 000

1 375 200

481800

442 100

287 000

343 600

490 500

104 800

44 300

186 000

268 700

9 582 600

6,12,97,02,63,44,62,43,32,84,5

16,61,9

14,35,04,63,03,65,11,10,51,92,8

100,0

FONTE: Estatísticas Demográficas, I.N.E.

ordem dos distritos é já em função dos valores do índice referido,figurando em primeiro lugar o distrito de Ponta Delgada queregistou o índice mais elevado, o que significa que é aquele emque a corrente emigratória é maior em proporção com a sua popu-lação residente, no total do período estudado. Convém relembrarque estamos a tratar única e exclusivamente da emigração oficial.

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Esta ordenação da série dos distritos do Continente e HhasAdjacentes permite-nos, assim, identificar a maior ou menor in-tensidade relativa local do movimento emigratório no conjuntodos vinte anos considerados, tendo em conta a população residente.

índice da emigração oficial em relação à populaçãoresidente, por distritos. 1950-1969

QUADRO N.° 11

Distritos

1. Ponta Delgada ...2. Funchal ... ...3. Horta .. ... ...4. Guarda ... ...5. Bragança . ...6. Viana do Castelo7. Angra do Heróis

mo8. Leiria9. Aveiro ,

10. Viseu ...11. Braga12. Vila Real13. Castelo Branco ...14. Faro ...15. Coimbra .16. Porto ...17. Santarém . ...18. Lisboa19. Setúbal20. Beja21. Portalegre ...22. Évora

da emigra- % da popula-ção oficial ção residente

6,28,41,56,14,75,3

1,76,48,06,88,24,53,93,23,59,23,26,01,30,80,30,3

2,03,00,63,22,63,1

4,65,95,46,73,73,63,64,9

13,45,2

15,54,23,12,12,5

índices

3,102,802,501,901,801,70

1,541,391,351,251,221,211,080,880,710,680,610,390,300,250,140,12

FONTES: Quadro n.° 9A e Quadro n.° 10.

De notar o lugar cimeiro em que se colocam os distritos dasDhas Adjacentes e, no que respeita ao Continente, a forte pro-pensão para emigrar revelada nos distritos da Guarda, Bragançae Viana do Castelo e os baixos índices apurados nos três distritosdo Alentejo. Dos 22 distritos, mais de metade, ou seja, 13, apre-senta um índice superior à unidade, o que quere dizer que tiveram

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proporcionalmente mais peso na composição da corrente emigra-tória oficial portuguesa do que na da população residente portu-guesa no conjunto dos vinte anos estudados. Santarém, Lisboa eSetúbal são distritos com índices baixos, inferiores aos de Coimbrae Porto, ambos de valor menor que a unidade e muito próximosum do outro.

Poderemos agora retomar os Quadros n.os 9 e 9-A para nosreferirmos brevemente a algumas relações entre os destinos e asorigens da emigração oficial portuguesa no conjunto do periodoconsiderado.

Neste domínio há que referir as características específicas daemigração dos distritos dos Açores e da Madeira. Assim, em qual-quer dos três distritos dos Açores se verifica que mais de 90 %da sua emigração oficial se dirigiu para a América do Norte,notando-se nos distritos de Angra do Heroísmo e Horta nítidapreferência pelos Estados Unidos da América e no de Ponta Del-gada uma muito ligeira preferência pelo Canadá. A emigraçãodestes três distritos representa 60,3 % do total da emigração ofi-cial portuguesa para o Canadá, correspondendo só ao distrito dePonta Delgada 48,1 % do total da emigração oficial portuguesapara este país, de 1950 a 1969. No que respeita aos Estados Unidosda América, 59 % da emigração oficial portuguesa, no conjuntodos 20 anos estudados, foi originária dos Açores.

Na emigração originária da Madeira verifica-se que ela sedirige sobretudo para o Brasil e Venezuela, absorvendo esses doisdestinos 82,1 % da corrente emigratória oficial daquela ilha. Noconjunto da emigração oficial portuguesa para o Brasil, os emi-grantes originários da Madeira representaram 9,6 % e para aVenezuela 52,7%.

A emigração oficial das Hhas Adjacentes para a Europa éinsignificante, mas para a República da Africa do Sul a Madeiraforneceu cerca de 40 % do número de emigrantes portuguesesque se dirigiram oficialmente para aquele país, de 1950 a 1969.Este destino absorveu pouco mais de 10 % do fluxo emigratóriooficial da Madeira no total do mesmo período.

Em relação ao Continente, verifica-se que os distritos de Beja,Évora e Portalegre têm a característica comum de a maior partedos emigrantes oficiais deles originários se ter dirigido para aFrança, representando a emigração oficial para esse país e paraa Alemanha cerca de 60 % do total da emigração oficial prove-niente do distrito de Portalegre e perto de 75% da de Évorae Beja.

O distrito de Faro apresenta a particularidade de ser a origemque mais contribuiu para a emigração oficial portuguesa para aArgentina, destino que absorveu 11,6 % do número total de emi-grantes oficiais originários daquele distrito, os quais represen-

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taram cerca de 30 % do número total de emigrantes oficiais por-tugueses que durante o período em análise se dirigiram para aquelepaís da América do Sul.

Dos emigrantes oficiais originários do distrito de Lisboa,cerca de 45 % seguiram para a França e Alemanha e 14,4 %para vários outros destinos diferentes dos oito principais destinosindicados, constituindo estes últimos quase um quarto da correnteemigratória oficial portuguesa, no conjunto dos vinte anos emanálise, para todos os «outros destinos». Por outro lado, o distritode Lisboa foi o distrito do Continente que nesse período maiorcontingente de emigrantes oficiais forneceu para os Estados Uni-dos da América e Canadá, dirigindo-se para esses destinos quase20 % do total de emigrantes oficiais originários do distrito, nototal do período estudado.

No que respeita aos outros distritos do Continente, há a re-ferir que, para os de Aveiro9 Bragança, Coimbra, Vila Real e Viseu,no conjunto do período indicado, mais de metade dos emigrantesoficiais deles originários se dirigiram para a América do Sul,ao passo que dos distritos de Braga, Castelo Branco, Faro, Leiria,Santarém, Setúbal e Viana do Castelo a maioria dirigiu-se para aEuropa, assim como os emigrantes originários dos distritos deÉvora, Beja e Portalegre, como já anteriormente se referiu.

A emigração oficial originária do distrito do Porto encontrouo principal país de destino no Brasil, mas a emigração para aFrança assume quase o mesmo valor. Para os três países daAmérica do Sul indicados dirigiram-se 48,2 % dos emigrantesoficiais originários do distrito do Porto e para a França e Ale-manha 43,5 %.

Situação do mesmo tipo ocorre no distrito da Guarda, no qual42,2 % dos emigrantes oficiais originários deste distrito se diri-giram para o Brasil, Venezuela e Argentina, no conjunto dos vinteanos estudados, e 49,4 % para a França e Alemanha.

Outros factos salientes são as percentagens com que os emi-grantes oficiais originários do distrito de Aveiro que se dirigirampara a Venezuela concorreram para o total da emigração oficialportuguesa com esse destino, e, do mesmo modo, da Guarda paraa Argentina, de Lisboa para a Alemanha e do Porto para a Re-pública da África do Sul.

2.2. Idades

Os dados que apresentamos sobre a idade das pessoas queemigraram oficialmente de Portugal não cobrem a emigração dosvinte anos que até aqui temos considerado, pelo facto de nãotermos encontrado a informação suficiente para o estudo destacaracterística da emigração em relação aos cinco primeiros anos

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do período que vai de 1950 a 1969. De facto, até 1954, o «AnuárioDemográfico» só especifica as idades dos emigrantes, ou melhor,de alguns emigrantes, no quadro que tem por título «Emigrantesmaiores de 14 anos que saíram pela primeira vez, segundo osgrupos de idade e o sexo, por naturalidade». Os grupos de idadesaí considerados são «14-21 anos», «22-29 anos», «30-39 anos»,«40-50 anos», «mais de 50 anos» e «idade ignorada». Por seu lado,os elementos sobre esta matéria fornecidos pelo «Boletim da Juntada Emigração» também não são suficientes em relação àquelemesmo período.

A partir do ano de 1955, inclusive, é já possível obter ele-mentos detalhados, quer no «Boletim da Junta da Emigração»,quer no «Anuário Demográfico» e «Estatísticas Demográficas».A partir desses elementos construiu-se o Quadro n.° 12.

Os dados apresentados deixam bem patente o facto de quea maior parte dos emigrantes oficiais portugueses são indivíduosjovens ou nos primeiros anos da idade adulta. De facto, cerca dedois terços destes emigrantes são indivíduos com menos de 30 anos,e só o número dos que têm idades entre os 20 e os 29 anosrepresenta normalmente pouco mais de 25 % do número totalde emigrantes de cada ano.

As crianças com menos de 10 anos atingiram, em 1968, 25 %do número total de emigrantes oficiais desse ano e cerca de me-tade do valor dessa percentagem no ano de 1957, mas normalmenterepresentam entre 15 a 20 % da corrente emigratória oficial anual.

Até 1963, os jovens dos 10 aos 19 anos constituíam, em média,cerca de 20 % do número de emigrantes oficiais de cada ano,mas essa percentagem diminuiu sensivelmente depois daquele ano,pelo facto de ter decrescido para cerca de metade a percentagemdos emigrantes com idades entre os 15 e os 19 anos. Este factoé devido principalmente ao decréscimo acentuado que a percen-tagem de rapazes que emigram oficialmente, pertencentes àquelegrupo de idades, sofreu depois de 1963.

Não obstante nos anos de 1964 e 1965 os emigrantes oficiaiscom idades entre 30 e 39 anos terem atingido percentagens naordem dos 26% em relação ao total dos emigrantes oficiais decada ano, em média eles não chegam a atingir 20 % desse total.Os emigrantes oficiais com mais de 40 anos e menos de 50 sãoem número reduzido, registando-se, todavia, que, se até 1962 elesrepresentavam, em média, cerca de 7 % do total dos emigrantesde cada ano, a partir de 1963 constituem cerca de 10 % das cor-rentes emigratórias oficiais anuais.

Com mais de 50 anos são muito poucos os emigrantes, preen-chendo os indivíduos com essas idades apenas 5 %, aproximada-mente, dos efectivos da emigração oficial portuguesa em cada umdos anos de 1955 a 1969.

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Composição da emigração oficial segundo as idades dos emigrantes,em percentagens, por anos

QUADRO N.° 12- Ano

Idacto \

menos de 5 anos5 a 9

10 a 1415 a 1920 a 2425 a 2930 a 3435 a 3940 a 4445 a 4950 a 54

60 a 6465 a 69

70 e mais anosIdade ignorada

1955

9,58,56,1

15,717,216,310,9

5,64,02,31,5A Qo,y0,60,50,4

1956

8,88,77,3

17,117,915,18,95,53,62,51,5i n1,Z0,80,50,6

1957

6,16,76,5

18,316,816,610,5

6,94,02,41,3i nl,U

0,70,50,51,2

1958

7,47,46,9

17,717,215,4

9,47,14,42,61,5

0,80,60,6

1959

10,19,58,3

15,214,813,7

8,87,04,23,22,0

0,80,60,7

1960

9,49,79,1

15,213,513,19,06,94,63,42,4

0,90,60,5

1961

7,57,68,5

20,513,513,0

8,27,14,33,22,3

1,20,70,8

1962

7,67,18,6

21,49,7

13,09,28,64,83,12,4

1,20,80,7

1963

7,16,97,3

19,78,5

14,310,510,0

5,73,72,2

1,10,70,7

1964

7,06,26,0

11,58,7

17,413,512,7

7,94,32,0

0,70,40,5

-

1965

8,67,05,77,39,2

20,915,011,5

7,43,61,8o oU,Ȓ

0,50,30,3

1966

10,18,76,88,19,7

17,313,510,4

7,13,92,2

1,10,50,30,3

1967

12,611,1

8,89,69,2

13,911,2

8,66,03,62,3T i1,4:0,80,50,4

1968

13,612,110,1

8,99,0

13,210,17,65,53,62,21 Ri.,O1,20,70,6

1969

9,88,98,36,9

10,117,712,5

9,96,4=3,72,O

1,51,10,70,6

FONTE: Boletins da Junta da Emigração.

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2.3. Sexos

Os dados que apresentamos sobre a distribuição dos emigran-tes por sexos referem-se exclusivamente à emigração oficial, comoaconteceu anteriormente no que respeita às idades e às origens,em virtude da falta de informações completas sobre o sexo dosemigrantes clandestinos. Convirá recordar que na emigração oficialestá incluída a emigração legalizada, facto que, possivelmente,introduz elementos novos em relação à emigração legal, na medidaem que se pode supor que os indivíduos que tinham emigradoclandestinamente e, passado algum tempo, vieram a Portugalregularizar a sua situação para voltarem a sair do país comoemigrantes oficiais, eram na sua maior parte do sexo masculinoe adultos. A ser assim, pode ser que este facto não deixe de teralguma influência nos dados apresentados seguidamente sobre acomposição da emigração oficial portuguesa de 1950 a 1969 se-gundo o sexo dos imigrantes, assim como noi número anterior,respeitante às idades.

O «Boletim da Junta da Emigração» apresenta os dadosreunidos no Quadro n.° 13 sobre a percentagem de homens e demulheres que em cada ano indicado constituíram a corrente emigra-tória oficial. Por se julgar útil, repetem-se os números, já anterior-mente apresentados, do total da emigração oficial de cada ano.Assim, é em relação a esse total que se indicam as percentagens dehomens e de mulheres.

As percentagens indicadas constituem séries de valores bas-tante homogéneos. No que respeita à percentagem de homens, ovalor máximo é 69,5 e ocorre em 1951; o valor mínimo é 46,5e verificou-se em 1968. Em relação às mulheres, é evidente que oano de 1951 corresponde ao valor mínimo e o de 1968 ao valormáximo.

Para o total do período estudado, a emigração oficial foiconstituída por 60 % de homens e 40 % de mulheres. Só no anode 1968 aconteceu que o número de mulheres que emigraramoficialmente foi superior ao dos homens, mas já no ano anteriora diferença entre o número de emigrantes de um e outro sexofora muito pequena, na sequência de uma série de valores que apartir de 1964 vinham a revelar um crescimento do valor da per-centagem da mulheres no total da emigração oficial de cada ano.O ano de 1969 regista, porém, uma situação mais semelhanteà média, isto é, o número de homens é sensivelmente superiorao das mulheres.

Verifica-se que a percentagem do número de homens em re-lação ao total da emigração oficial anual é sensivelmente superioraos valores médios nos anos que correspondem à fase inicial deum movimento de aumento da corrente emigratória oficial, talcomo em 1950-1951 e 1963-1964, e no ano de 1957 em que ocorreu

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Composição da emigração oficial segundo o sexo dos emigrantes,em percentagens, por anos

QUADRO

Ana

19501951195219531954195519561957195819591960196119621963196419651966196719681969

N.° 13

Total da emi-gração oficial

2189233 66447 01839 6864101129 79627 01735 35634 03033 45832 31833 52633 53939 51955 64689 056

120 23992 50280 45270165

% de Homens

68,369,566,460,462,661,258,565,462,153,954,258,459,263,669,366,460,052,046,557,7

% de Mulheres

31,730,533,639,637,438,841,534,637,946,145,841,640,836,430,733,640,048,053,542,3

FONTE: Boletins da Junta da Emigração.

um aumento significativo da emigração oficial em relação ao anoanterior, se bem que a tendência de crescimento se não concreti-zasse nos anos imediatamente seguintes.

2.4. Emigração individual e familiar

Saber-se, em relação a um determinado movimento emigra-tório, quais os emigrantes que saem isolados ou individualmentee quais os que emigram com as famílias, é um elemento muitorelevante no estudo dessa corrente emigratória. Efectivamente,a emigração individual tem um significado diferente da familiar,cada uma delas deixa pressupor razões explicativas diferentes,assim como deixa prever comportamentos migratórios tambémdiferentes, designadamente no que se refere a retornos dos emi-grantes e à sua adaptação às novas condições de vida nos paísesde destino.

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Sobre esta característica que tanto importava conhecer daemigração portuguesa, só estamos em condições de apresentardados respeitantes à emigração oficial e não, como seria a todosos títulos desejável e necessário, em função da emigração efectiva.Sucede, porém, que dados desta natureza sobre aqueles emigrantesque, tendo saído do país clandestinamente, vieram a Portugal lega-lizar a sua situação, isto é, as chamadas legalizações (emigraçãolegalizada), não os encontrámos, e que as estatísticas oficiaisportuguesas e francesas sobre esta matéria não são comparáveisporque usam categorias estatísticas diferentes.

Assim, os dados que se apresentam no Quadro n.° 14 sobreemigração individual e familiar são os que se podem obter nasestatísticas oficiais portuguesas, dizendo respeito, portanto, à emi-gração oficial portuguesa de cada um dos anos indicados. Note-seque o quadro não está completo porque algumas informações sócomeçaram a ser fornecidas por alguma das fontes consultadas apartir de certa altura.

Os dados apresentados no Quadro n.° 14 sugerem algumasobservações. Ê de notar, em primeiro lugar, a tendência bem ex-pressa da diminuição da percentagem de emigrantes isolados emrelação ao total da emigração oficial portuguesa de cada ano. No•conjunto dos vinte anos considerados, os emigrantes nessas con-dições foram 57,8 % do total, mas se considerarmos separadamente<jada metade do período que vai de 1950 a 1969, verifica-se que de1950 a 1959 a emigração individual abrangeu 65,7 % da emigraçãooficial, e que de 1960 a 1969 representou 53,6 %. Aliás, se levar-mos a análise desta percentagem a períodos menores, o fenómenosurge ainda melhor definido: nos cinco primeiros anos do períodoestudado 69,4% dos emigrantes oficiais sairam de Portugal iso-lada ou individualmente; de 1955 a 1959, 61,4 %; nos cinco anosseguintes, 60,7%; e nos últimos cinco anos, ou seja, de 1964 a1969, foram praticamente metade (50,5%). Isto significa, eviden-temente, que tem vindo a crescer, em percentagem, o número depessoas que emigram oficialmente na companhia de familiares.

Sobre a emigração familar, é de assinalar o facto de os va-lores que as estatísticas fornecem revelarem uma leve tendênciano sentido de aumentar o número médio de pessoas por famíliaiemigrante. Em relação ao total dos vinte anos referidos, a médiado número de pessoas por família emigrante é 3,2, mas, consi-derando a mesma média em função de períodos de cinco anos,verifica-se que de 1950 a 1954 o seu valor foi de 3,1, no quinquénioseguinte 3,0, de 1960 a 1964, 3,1 e, finalmente, dos últimos cincoanos foi de 3,2. O valor máximo anual ocorreu em 1969, atingindo--se a média de 3,4 pessoas por família emigrante.

Em relação aos dados apresentados sobre as famílias emi-grantes que sairam acompanhadas com o chefe de família e sobreas que sairam sem o chefe de família, para se lhe juntar, registe-

sss

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Emigração oficial individual e familiar, por anos

QUADRO *

Anos

19501951195219531954(i)195519561957195819591960196119621963196419651966196719681969

JT.° 1 4

Emigra-ção indivi-

2189233 66447 01839 6864101129 79627 01735 35634 03033 45832 31833 52633 53939 51955 64689 056

120 23992 50280 45270165

Emigra*ção indivi-

dual

16 61625 37537 50622 77724 82718 42816 46024 1242199717 04616 08019 91420 35724 84436 925542206191440 7103316138 533

N.° defamílias

16412 5012 8975 5625 2563 7823 5543 7314 0285 3605 2664 3934 3014 6826 028

1150318 22315 88614 392

9 429

Emigração

N.o depessoaa

5 2768 2899 512

16 90915 8521136810 5571123212 03316 41216 23813 6121318214 67518 72134 83658 3255179247 29131632

familiar

Famíliascom chefe

N.o dofamí-lias

. .

1038995

1274138221932 3041788161319222 27841398 2505 7794 9334 773

N.« depessoaa

3 2703 0753 9974 24871667 3255 737517161206 862

12 23427 44419 37316 79316 501

Famíliassem chefe

N.o defamí-lias

. .

2 7442 5592 4572 6463 1672 9622 6052 6882 7603 750V 3649 973

10 1079 4594 656

N.o depessoas

8 0987 4827 2357 7859 2468 9137 8758 0118 555

1185922 60230 88132 41930 49815131

FONTES: Anuários Demográficos e Estatísticas Demográficas, do I.N.E.Boletins da Junta da Emigração.

l A soma do número de pessoas que emigraram individualmente (24827) com o dasque foram incluídas na emigração familiar (15852) não é igual ao total indicado para aemigração oficial no ano de 1954 (41011), em virtude de o total da emigração oficial daqueleano, correspondente Í\ soma das duas parcelas referidas (40679), que inicialmente foraapresentado nas estatísticas oficiais, ter sido rectificado. De facto, a partir de 1957, asmesmas estatísticas oficiais atribuem à emigração oficial daquele ano o número de 41011emigrantes que se tomou neste trabalho. A diferença entre os dois totais apresentados, novalor de 332 unidades, não é significativa, não alterando, portanto, a validade dos cálculosfeitos.

se que em todos os anos, excepto em 1969, sucedeu que o número*de famílias que emigraram para se juntar ao chefe da família quejá emigrara anteriormente é superior ao das famílias que emigra-ram com o respectivo chefe, o que revela um significativo movi-mento de reconstituição dos agregados familiares nos países paraonde se dirigiam os emigrantes chefes de família. O número médiode pessoas por família emigrante com o chefe no total do período

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de 1955 a 1969 é de 3,3, notando-se que as médias dos últimostrês anos da série são superiores àquele valor, atingindo, em 1967e 1968, 3,4 pessoas por família e em 1969, 3,5. No que respeita aonúmero de pessoas por família emigrante que sai sem o chefe defamília, para se lhe juntar, ele é, em média, no total da emigraçãooficial dos anos de 1955 a 1969, de 3,1 pessoas por família, se bemque também nos anos de 1967, 1968 e 1969 tenha atingido o valorde 3,2.

Dos dados apresentados, pode, portanto, concluir-se que noconjunto da emigração oficial portuguesa tem vindo a assumirimportância crescente a emigração familiar.

2.5. Grandes ramos de actividade a que pertenciam os emigrantes

A composição da emigração oficial portuguesa por grandesramos de actividade a que pertenciam os emigrantes é apresen-tada nas estatísticas oficiais portuguesas a partir de 1955, inclu-sive. O Quadro n.c 15 transcreve os dados que sobre o assuntoconstam nas referidas estatísticas, acrescentando-se-lhes o calculoda percentagem que representa o valor de cada ramo de actividadeem relação ao conjunto dos emigrantes profissionalmente qualifi-cados do respectivo ano.4-5

Elementos respeitantes à composição profissional dos emi-grantes, é possível encontrá-los nas fontes: oficiais portuguesassobre a emigração dos anos de 1950 a 1954, mas não são directa-mente comparáveis com os que a partir de 1955 se fornecem sobreos grandes ramos de actividade e que se comentam seguidamente.

No conjunto dos quinze anos de 1955 a 1969, e na grandemaioria de cada um deles, o valor mais elevado ê o dos emigrantesactivos com ocupação, designação em que cabem, além de outros,todas as mulheres que declararam ter como ocupação serem donasde casa. Efectivamente, há uma relação muito estreita entre asérie de valores dos emigrantes activos com ocupação e o númerode mulheres que compõem a emigração oficial portuguesa nomesmo período. Entre as três grandes divisões das actividadesprodutivas» verifica-se que exerciam a sua actividade no sectorprimário um número maior de emigrantes do que os que perten-

4 Deve notar-se que os dados estatísticos sobre o sector de actividadea que se dedicavam os emigrantes se baseia mas declarações dos própriosemigrantes, o que afecta a confiança nos dados ajpresentados. Pode, assim,acontecer que os emigrantes declarem o sector onde pretendem trabalharnos países de destino ou aquele que, por qualquer motivo, possa facilitaro processo die obtenção do passaporte, e não o sector de onde provêmefectivamente.

5 Usasse a expressão «emigrante profissionalmente qualificado» por sera designação usiada nas estatísticas oficiais.

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Composição da emigração oficial segando os grandes ramos de actividadea que pertenciam os emigrantes profissionalmente qualificados, por anos

QUADRO

Anos

195519561957195819591960196119621963196419651966196719681969

Total

N.* 15

Total dos

emigrantesprofissional-

qualificados

23 6262133529 47528 09125 86525 02627 46127 59132 99448 2887515797 72570 56759 73357 040

649 974

Actividadesprimária*

7 6606999

115449 31581168 2359 2098 273

19 28913 73319 40226 67617 54912 50415 860

184 364

%

32,132,839,133,231,432,933,530,028,228,425,827,224,921,027,8

28,4

Actividadessecundárias

N.«

4 38730124 6505 09131052 7633 9635 0179 024

15 00522 70921711102335 4949 989

126153

%

18,614,115,818,112,011,014,418,227,331,130,222,214,59,2

17,5

19,4

Actividadestardarias

2 4762 4543 2082 9552 35518512 3232 3fO2 2323 3785 788627431593 0024179

47 937

%

10,511,510,910,59,17,48,58,56,87,07,76,44,55,07,3

7,4

Actlvojicom ocupação

N.»

7 7617 6198 7479133

10 86210 42510 0419 896

10 2961190620 33933 2363019929 93920 890

231 289

%

32,835,729,732,542,041,736,635,931,224,727,134,142,850,136,6

35,6

Inválidose inactivos

N.»

13421251132615971427174919252 05521534 2666 9199 8289 4278 7946122

60181

%

5,75,94,55,75,57,07,07,46,58,89,2

10,113,314,710,8

9,2

FONTE: Boletins da Junta da Emigração.

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ciam a cada um dos outros dois sectores. Esta observação é válidapara o total do período indicado e para todos os anos compreendi-dos entre 1955 e 1969, excepto os de 1964 e 1956, nos quais secontaram mais emigrantes pertencentes ao sector secundário doque ao primário.

Considerando a série de valores incluídos na coluna das «Acti-vidades primárias», é de notar que o valor máximo, em percenta-gem, ocorre em 1957 e o mínimo em 1968, e que a partir de 1963,inclusive, não há nenhum valor de percentagem superior à médiados valores de percentagens dos quinze anos, assim como antesde 1963 todos eles são superiores a essa média de 28,4%. Estefacto representa, portanto, que, de 1955 até 1962, os emigrantesprofissionalmente qualificados provenientes do sector primáriorepresentavam maior percentagem na emigração oficial portuguesado que de 1963 a 1969. Peitos os cálculos, apura-se, com efeito, que,no conjunto dos anos de 1955 a 1962, os emigrantes provenientesdas actividades primárias correspondiam a 33,3 % do total dosemigrantes profissionalmente qualificados nesse período, ao passoque no conjunto dos anos de 1963 a 1969 essa percentagem é daordem dos 26,1%.

Em relação às actividades secundárias, verifica-se que, parao total do período indicado no Quadro n.° 15, os emigrantes quea elas pertenciam representavam 19,k % do total dos emigrantesprofissionalmente qualificados; é, todavia, de pôr em relevo quea série de valores de percentagens apresentada indica que paraa maioria dos anos o valor dessa percentagem é inferior àquelamédia, e que só os 4 anos de 1963 a 1966 têm percentagens devalor superior. Assim, o período de 1963 a 1966 surge com carac-terísticas que se destacam francamente dos outros anos do períodoconsiderado: de 1955 a 1962 os emigrantes que exerciam a suaactividade no sector secundário corresponderam a 15,3 % do totaldos emigrantes profissionalmente qualificados nesse período, de1963 a 1966 representaram 26,9% e nos três últimos anos doperíodo estudado, ou seja, de 1967 a 1969 foram 13,7 %. Pensamosque a explicação da elevação de percentagem ocorrida no períodode 4 anos de 1963 a 1966 se deve encontrar no facto de nesteperíodo estarem contados um número importante de emigrantescontados na emigração legalizada e que os emigrantes nessascondições devem ter-se incluido, na sua maioria, neste ramo deactividade no qual se contam os trabalhadores da construção civil,obras públicas e indústrias transformadoras, actividades a que sededica a maior parte dos emigrantes portugueses na Europa, emespecial em Franca.

No que respeita às actividades terdárias, os emigrantes a elaspertencentes representaram 7,1/. % do total dos emigrantes pro-fissionalmente qualificados no conjunto dos quinze anos referidos.A evolução dos valores desta percentagem ao longo do período

357

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esboça uma tendência no sentido do seu dêôPêSôhnõ, VôrifÍC9H'dO-SQque até 1962, inclusive, os valores são iguais ou superiores à média,sucedendo o contrário depois desse ano, excepto em 1965. No totaldos anos de 1955 a 1962, os emigrantes pertencentes ao sectorterciário atingiram 9,6 % do total de emigrantes profissionalmentequalificados desse período e no total dos anos de 1963 a 1969corresDonderam a 6,3 %.

Por fim, quanto aos valores contidos na coluna dos «Inválidose inactivos», a tendência ascencional que manifestam é índice, anosso ver, da saída do país de familiares dos emigrantes portu-gueses fixados no estrangeiro que chamam as suas famílias parajunto deles. Ê de notar que o aumento da percentagem não signi-fica necessariamente que há maior número de emigrantes inválidose inactivos, em números absolutos, pois há que não perder devista a relação com o total de emigrantes profissionalmentequalificados.

Recorde-se que tudo o que fica dito respeita unicamente àemigração oficial.

A comparabílidade eme se supôs entre os valores? de umamesma série manfeve-se apesar de uma alteração no critério usadopelas estatísticas oficiais quanto à designação de «emigranteprofissionalmente qualificado», a qual consistiu em alterar o limitemínimo de idade das pessoas a integrar na categoria: até 1963,inclusive, estão contadas as pessoas com mais de 12 anos de idade,e nos anos seguintes contam-se as que têm mais de 10 anos.Pensa-se que esta alteração não tenha influência significativa nacomparabilidade dos dados antes e depois de 1963.

2.6. Emigração oficial e emigração clandestina

Ao estudarmos as várias características que referimos daemigração portuguesa no período de 1950 a 1969, tivemos delimitar o âmbito da análise em função dos dados disponíveis. Issosignificou quase sempre que para o total da emigração portuguesano conjunto dos vinte anos estudados a análise se tenha confinadoa limites muito apertados que é indispensável ter em conta. Poresse motivo, se bem que já anteriormente, ao apresentarem-seos dados básicos de que nos servimos para este trabalho, se tives-sem fornecido elementos suficientes para distinguir o peso rela-tivo dos dados colhidos, parece de utilidade que agora fique bemexplícita a diferença que existe entre a emigração oficial e a emi-gração efectiva, para que se tenha bem clara a validade das esta-tísticas oficiais sobre a emigração portuguesa em relação às di-mensões reais que o fenómeno atinge. Do mesmo modo, todo otrabalho elaborado a partir desses elementos, como o que se fezpara a maior parte das rubricas atrás apresentadas, deve ser

9$8

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acolhido não perdendo de vista a que realidade diz respeito, sendode pôr reservas às generalizações que se construam apres-sadamente.

Antes, porém, de se estabelecer a relação entre emigraçãooficial e emigração efectiva, convém recordar que, a parar decerta altura, o próprio conceito de emigração oficial se tornacomplexo e achámos, por isso, conveniente desdobrá-lo então nosdois elementos que o compunham, ou sejam, a emigração legal e aemigração legalizada (legalizações), seguindo J. C. FERREIRA DEALMEIDA.

Com efeito, de 1963 a 1969, a emigração oficial inclue a emi-gração legalizada, a qual abrange, no total desses sete anos, 19,1 %dos emigrantes inchados na emigração oficial. Esta percentagemvaria, tendo o valor mínimo em 1963 (4,3 %) e o máximo em1965, no qual atinge 29,5%. Nos anos de 1964, 1965 e 1966 ésuperior a 20 %. Como já referimos, parece-nos possível que estacomponente da emigração oficial concentre características muitoespeciais que afectarão o conjunto, designadamente no que serefere à distribuição da corrente emigratória oficial por sexos eidades, à distinção entre emigração individual e familiar e àcomposição por grandes ramos de actividade a que pertenciam osemigrantes. De acordo com os dados apresentados, consideramoso número de emigrantes incluídos na emigração legalizada significa-tivo para o conjunto dos sete anos indicados e para cada um deles,excepto para 1963 em que atinge apenas 4,3 %. Nos anos de 1967,1968 e 1969 regista, respectivamente, os valores de 15,1 %, 14,3 %e 14,6 %.

Conforme o método que adoptámos, a emigração efectivacompõe-se de duas parcelas: a emigração legal e a emigraçãoclandestina. Sabida a relação entre emigração oficial e emigraçãolegal, poderemos ver a forma como ao longo do período estudado,e no seu total, se apresenta a composição da emigração efectivaem função das duas parcelas que a formam.

Assim, calculada a percentagem da emigração clandestinaem relação à emigração efectiva de cada ano, obtêm-se os valoresreunidos no Quadro n.° 16.G

Os dados recolhidos apresentam-nos uma percentagem deemigração clandestina reduzida nos primeiros dez anos do períodoestudado, ao passo que de 1960 a 1969 os valores daquela percen-tagem são relativamente altos. Além disso, a evolução dos valores

6 No ponto 3.6 dá-se notícia de uma discrepância entre as estatísticasoficiais francesas e portuguesas siobre o modo do movimento migratórioentre Portugal e França nos anos de 1964 a 1968.

Se essa discrepância se dever a erro das estatísticas sobre a® quaisconstruímos os dados que nos permitiram fazer o cálculo provável da emi-gração clandestina portuguesa para França — o que não conseguimos apurar,por falta de elementos suficientes—•, poderá acontecer que estejam vadiadosos resultados a que chegámos.

389

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Percentagem da emigração clandestina emrelação à emigração efectiva, por anos

QUADRO

Ano

1950195119521953195419551956195719581959

N.°

Fei

16

rcentagem

01,00,80,70,41,23,84,24,43,7

An«

1960196119621963196419651966196719681969

Percentagem

8,113,120,329,841,430,812,114,925,661,0

FONTE: Quadros n.os 4 e 5.

é lenta e bastante regular na primeira metade do período estudado,enquanto na segunda metade há dois períodos de crescimentomuito rápido da percentagem da emigração clandestina em relaçãoà emigração efectiva, intercalados por um período curto de baixamuito acentuada dos valores daquela percentagem. A evoluçãodas percentagens da emigração clandestina em relação ao totalda emigração efectiva de cada ano no período considerado estádocumentada na Figura n.° 3, na qual são bem patentes as carac-terísticas gerais da evolução da percentagem da emigração clan-destina que referimos.

Apesar das diferenças apontadas entre a primeira e a segundametade do período de 1950 a 1969, há, todavia, uma tendênciageral de crescimento do valor da percentagem de emigração clcm^destma. Efectivamente, se considerarmos as duas metades desteperíodo, verifica-se que no total dos dez primeiros anos a emigraçãoclandestina atingiu 2 % do total da emigração efectiva, e que nototal dos dez últimos anos essa percentagem subiu para 35,1%,o que revela um grande acréscimo da emigração clandestina^ inosanos da década de 1960-1969. No entanto, se tomarmos em linhade conta períodos quinquenais, notaremos uma evolução maisdefinida que se exprime pelos valores seguintes: de 1950 a 1954a emigração clandestina representou 0,6 % da emigração efectiva,de 1955 a 1959. 3,5%, no quinquénio seguinte 25,9% e de 1965a 1969, 32,2%. A diferença entre os valores da primeira e dasegunda metade continua, como não podia deixar de ser, mani-

340

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Evolução da percentagem da emigraç&o clandestina em relaçfto & emigraç&oefectiva de cada ano. 1950-1969

1950 19S5 1960 1965 1969

Fio.

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festa, mas torhâ-èe mais acentuada a tendência para ó crescimentoda percentagem da emigração clandestina.

Ê de notar que no ano de 1969 aconteceu que o número dosemigrantes clandestinos para França foi superior ao das pessoasque emigraram oficialmente para todos os destinos.

Perante estes dados, podemos concluir que as análises que sefaçam sobre a emigração portuguesa a partir de 1960, se nãotiverem em conta a emigração clandestina, correm o risco de nãopoderem apresentar conclusões válidas para o total da emigraçãoefectiva. Devem, por isso, explicitar sobre que dados se baseiam,para que a sua validade seja aferida correctamente.

No termo deste apontamento sobre a emigração clandestina,deve indicar-se que o movimento de legalizações que abrangeu,de acordo com as estatísticas oficiais portuguesas, 104 670 pessoasdesde 1963 a 1969 atingiu 43,3 % dos 2418±i emigrantes clandes-tinos que, segundo os cálculos apresentados, contámos na emigra-ção efectiva portuguesa de 1950 a 1969. Sendo assim, restavamcerca de 137 000 portugueses que se manteriam na situação deemigrantes clandestinos. Porém, também as autoridades consula-res portuguesas no estrangeiro têm procedido à regularização dasituação de muitos emigrantes que saíram clandestinamente dePortugal, mas não dispomos de elementos sobre o número delegalizações efectuadas por esta via.

2.7. Emigração e balança de pagamentos

Pensa-se que pode ser de alguma utilidade a apresentação,neste trabalho, de uma breve nota com os elementos que obtivemossobre um ponto muito directamente relacionado com a emigraçãoportuguesa. Trata-se das transferências privadas de dinheiro en-tradas no país. Afigurou-se-nos de interesse saber que montantetêm atingido anualmente essas transferências e se é detectávelalguma relação entre os efectivos da emigração real e o montantede valores monetários entrados no país a título de transferênciasprivadas.

Os elementos sobre as transferências privadas foram colhidasnas «Estatísticas Financeiras», publicadas pelo I.N.E.. É de sa-lientar que durante o período em análise se verificou uma alte-ração na classificação das rubricas incluídas na apresentação dabalança de pagamentos, porquanto, até 1955, encontra-se a rubrica«Migrantes» e, a partir de 1956, uma outra intitulada «Transfe-rências Privadas», mas não se considera que tal facto altere demodo significativo, para os efeitos deste trabalho, a comparabili-dade dos valores inscritos nas duas rubricas.

Os dados recolhidos sobre a entrada (crédito) úe dinheiro

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ém Portugal, enviado do estrangeiro a título de transferênciasprivadas, são os que constam no Quadro n.° 17.

Montante do crédito das transferências privadas, por ano,em milhares de contos

QUADRO N.° 17

Ana

1950

19511952

19531954

Importância

504558211300320

Ana

1955

19561957

19581959

Importância

4121037

1542

1552

1913

Ano

1960

1961

1962

1963

1964

Importância

1868

1489

1704

2371

2679

Ano

1965

1966

1967

1968

1969

Importância

3378

4818

62677902

11812

FONTE: Estatísticas Financeiras, I. N. E.

A série de valores apresentada revela um crescimento muitorápido, o qual é principalmente notório a partir de 1961. O mon-tante do crédito de transferências privadas efectuadas no conjuntodos vinte anos é ãe 52 637 milhares de contos, dos quais 3,6 #&entraram durante o primeiro quinquénio, 12,3 % durante o se-gundo, 19,2 % no terceiro quinquénio e 64,9 % nos últimos cincoanos do período estudado, o que é indicativo de uma taxa decrescimento muito elevada.

A fim de se comparar graficamente a evolução dos quantita-tivos da emigração efectiva e da entrada de transferências pri-vadas construiu-se a Figura n.° 4, onde se apresentam as curvasdefinidas pela evolução dos índices dos valores das duas variáveis,tendo-se tomado para base os valores registados no ano de 1950.A figura documenta bem o elevado ritmo de crescimento que setem registado na entrada de dinheiro em Portugal por transferên-cias privadas.

Calculado o coeficiente de correlação entre os índices apu-rados das duas variáveis nos vinte anos estudados, obteve-s& *pvalor — que se nos afigura significativo — de 0,í

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índices da emigração efectiva e do crédito de transferências privadas.1950-1969

(Base: 1950)

2.400

2.000

1.500

1.000

500

100-

• —s

/ ' '/

/

y^ .

Transferências«»

/ii///iiir/iji/fÍ

í

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//

//

//

//

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\ E m i g r a ç ã o/ /

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/ ^r \ /"*"~ f f ^ \ /

N t ^r \ /\ *» ^r

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1950 1955 1960 1965 1969Fig.

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3.1.

m

A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA FRANÇA:1950-1969

A emigração para França no conjunto da emigração por-tuguesa

A importância da emigração para França, no conjunto daemigração portuguesa, pode avaliar-se pelos elementos constantesno Quadro n.° 18, os quais dizem respeito à percentagem da emi-

A emigração para França em relação ao total da emigraçãoportuguesa, por anos

QUADRO

Anos

19501951195219531954195519561957195819591960196119621963196419651966196719681969

N.° 18

Percentagem daemigração legalpara França emrelação ao total

da emigração legal

1,50,20,61,01,43,32,98,8

13,810,61 1 , 116,224,636,448,651,655,758,350,828,3

Percentagem daemigração efectivapara França emrelação ao total

da emigraçãoefectiva

1,41,21,41,71,84,46,6

12,617,613,918,327,239,955,469,966,561,064,663,472,0

Percentagem daemigração legalizada

para França emrelação ao total

da emigraçãolegalizada

——

>—

——

——

85,894,294,978,297,3

100,0100,0

FONTES: Boletins da Junta da Emigração.Quadros n.ot 8, 4 e 6.

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gracâo legal para f ranêa éto relação âò total <k emigração legalportuguesa, à percentagem da emigração efectiva para Françaem relação ao total da emigração efectiva portuguesas e, final-mente, à percentagem da emigração legalizada para França, emfunção do total da emigração legalizada.

Os dados sobre a emigração legalizada revelam que 91,5%das legalizações efectuadas disseram respeito a emigrantes quese dirigiam para França, sendo de admitir, de acordo com umadas nossas hipóteses de trabalho, que fora para esse país queanteriormente essas pessoas tinham emigrado clandestinamente.Isto significa, portanto, que as legalizações foram feitas na suaquase totalidade pelos emigrantes que tinham saído ilegalmentepara França, tendo o número dessas legalizações atingido, de1963 a 1969, 95 772 pessoas.

As percentagens da emigração legal para França em relaçãoao total desse movimento mostram uma tendência crescente atéao ano de 1967, durante o qual 58,3 % dos emigrantes que saíramlegalmente de Portugal se dirigiram para França, mas nos doisanos seguintes os valores dessa percentagem decresceram. Porém,este decréscimo está em oposição com o facto de, nestes dois anos,cada vez maior número de emigrantes que se dirigiram paraFrança o terem feito ilegalmente.

Assim, analisando a evolução da percentagem da emigraçãoefectiva para França em relação ao total da emigração efectivade cada ano, verifica-se que a corrente emigratória para França,depois de ter sido insignificante até 1954, entrou num ritmo acen-tuado de crescimento até ao ano de 1964, atingindo, a partirdesse ano, valores que oscilam entre 61,0 % (1966) e 72,0 % (1969)do total da emigração efectiva portuguesa.

De acordo com o valor da percentagem da emigração efectivae o número absoluto de emigrantes para França, é possível identi-ficar várias fases da evolução quantitativa da emigração efectivaportuguesa para esse país: a primeira fase abrange os cincoprimeiros anos do período estudado e caracteriza-se por o númerode emigrantes que sairam para França ser inferior a um milharpor ano, representando, no conjunto dos cinco anos, 1,5 % dototal da corrente emigratória efectiva portuguesa.

Segue-se um período curto de dois anos, 1955 e 1956, detransição, durante o qual a emigração efectiva para França atinge,no total dos dois anos, 5,5 % da emigração efectiva portuguesa.

Os anos de 1957 a 1960 representam uma fase distinta emque o número de emigrantes que se dirige para França oscilaentre 4640 (1957) e 6434 (1960), representando, respectivamente,entre 12,6 e 18,3 % do fluxo emigratório português anual., Nototal destes quatro anos, 15,6% dos emigrantes portuguesesforam para França.

No triénio seguinte (1961-1963), observa-se um crescimento

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muito rápido e constante da corrente emigratória para aqueledestino, o que permite que se passe do nível dos 6434 emigrantescorrespondentes a 18.3 % da emigração efectiva portuguesa, em1960, para o nível dos 51668 emigrantes, correspondentes a 69,9 %da corrente emigratória efectiva portuguesa de 1964. Este triénioconstitue um período transitório, de charneira, entre fases bemdistintas da emigração portuguesa para França, de acordo comos efectivos das correntes emigratórias.

Com efeito, a partir de 1964 a emigração efectiva portuguesapara França tem absorvido sempre mais de 50 000 emigrantespor ano que corresponderam, no total dos 6 anos de 1964 a 1969,a dois terços (66,6 %) da emigração efectiva portuguesa. Note-se,porém, desde ia, que o ano de 1969 apresenta característicasmuito marcantes, visto que a emigração para França atinge 110 614pessoas, as quais correspondem a cerca de três auartos (72 %)da emigração efectiva portuguesa deste ano. Só não o considera-mos desde já outra fase porque é ainda um caso isolado. Porém,se os próximos anos confirmarem os mesmos níveis do número deemigrantes que efectivamente vão para França e da percentagemque eles representam em relação à emigração efectiva total portu-guesa, diremos que em 1969 começa outra fase da emigraçãoefectiva portuguesa para França.

Para uma análise da importância da emigração para Françano total da emigração de cada distrito, somos forçados a recorreraos únicos dados conhecidos! que ao longo dos vinte anos emreferência nos dão a composição da corrente emigratória pordistritos de origem, ou seja, os dados fornecidos pelas estatísticasoficiais portuguesas referentes, portanto, à emigração oficial.

Calculámos, assim, a percentagem da emigração oficial paraFrança em relação ao total da emigração oficial anual, por dis-tritos de origem, durante o período considerado, e reuniiríos osresultados obtidos no Quadro n.° 19,

Para o total dos vinte anos indicados, a importância dg, emi-gração oficial para França no total da emigração oficial dè cadadistrito do continente foi a que se indica no Quadro n.° 20, empercentagem, citando-se os distritos por ordem decrescente dovalor das percentagens.

A corrente emioratórià oficial vara França representa &4.7 %do total da emigração oficial portuguesa do Continente e IlhasAdjacentes, no conjunto dos vinte anos estudados. No entanto, emrelação à emigração oficial originária do Continente, exclusiva-mente, ela representa 42,6 %; esta diferença explica-se pelo factode a emigração oficial dos Açores e Madeira para França serquase nula.

Assim, tomando o valor da percentagem da emigração oficialpara França originária dos distritos do Continente em relação ao

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QUADRO N.o 19

Percentagem da emigração oficial de cada distrito para França em relação ao totalda emigração oficial de cada distrito, por anos

1950 J951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1969

0,1

6,11,98,3

1,30,20,9

1,13,0

11,70,3

1,80,3

1,7

5,6

0,1

0,10,30,1

0,1

3,10,1

0,2

0,20,2

0,1

0,80,42,70,52,94,81,21,00,6

0,4

0/82,50,00,10,7

0,40,6

0,32,52,40,4

11,30,2

1,01,42,20,3

1,13,72,45,20,50,31,3

0,81,0

0,32,92,10,5

13,30,1

0,12,06,20,61,81,1

10,0

6,70,50,2

0,1

M

0,31,44,60,58,11,02,91,22,8

19,81,2

14,12,4

31,22,8

12,00,91,84,1

0,10,02,43,3

0,5

3,70,8

14,20,4

2,64,8

17,40,93,41,6

22,33,8

11,00,60,93,8

1,42,9

1,28,2

15,04,2

24,02,66,7

26,47,9

41,83,65,35,8

51,819,427,7

0,71,6

11,7

0,04,08,8

2,812,327,3

5,241,53,7

15,437,918,146,69,4

23,211,654,617,034,72,84,3

17,2

0,1

8,213,8

1,912,029,1

4,334,82,73,3

16,319,831,16,4

22,411,651,910,631,6

5,03,9

15,4

0,10,15,6

10,6

2,118,131,6

5,537,16,35,4

33,725,225,74,81,4

17,143,44,0

35,94,77,6*

17,70,1

0,0

°'/°3,6

11,1

5,014,838,5

5,450,06,9

12,527,227,144,47,32,6

16,762,18,8

48,74,48,6

22,0

0,20,1

16,2

8,714,046,911,670,111,6

37,034,563,610,310,424,471,5

6,254,36,1

14,131,5

0,80,10,15,9

24,6

16,941,674,613,879,519,028,151,745,064,723,253,840,577,716,169,2

8,724,046,6

0,10,2

31,638,5

40,441,580, 147,089,842,173,374,280,875,040,655,466,685,656,584,949,241,967,2

0,10,0

20,058,7

54,953,185,871,189,661,570,763,289,773,739,555,365,684,440,491,466,744,369,7

1,9

0,20,3

25,064,4

54,561,884,576,091,066,378,870,184,470,540,673,369,177,446,885,164,658,569,3

0,00,1

0,040,061,1

56,879,092,090,593,868,982,574,084,877,945,176,877,583,254,584,771,668,476,10,00,10,10,1

80,064,2

51,767,087,376,590, 173,267,270,783,073,540,856,372,781,248,583,967,362, 171,9

0,10,1o,í

57,8

41, 419,271, 854, 878,758,329,331,361, 549,722,246,155,261,628,568,849,444,649,8

0,0

38,8

FQNTE: Boletins da Junta da Emigração

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total da corrente emigratória oficial desses distritos (42,6%)como ponto de referência, observar-se-á que em dez dos dezoitodistritos do Continente a emigração oficial para França represen-tou, no total dos vinte anos estudados, mais do que aquele vaVormédio de todo o Continente, tendo atingido em sete deles mais de50 %. Entre os oito distritos onde a percentagem da emigraçãooficial para França em relação ao total da emigração oficial delasoriginária é menor do que a de todo o Continente, apenas dois(Aveiro e Viseu) apresentam valores inferiores a 25%, sendo omenor (20,2 %) correspondente a Viseu.

Percentagem da emigração oficial para França em relação ao totalda emigração oficial de cada distrito do Continente. 1950-1969

QUADRO N.° 20

Distritos Percentagem Distrito*

1. Castelo Branco ...2. Santarém3. Braga4. Viana do Castelo5. Évora6. Leiria ,7. Portalegre8. Guarda9. Paro

78,066,861,259,659,056,850,848,046,9

10. Beja11. Setúbal12. Porto13. Lisboa14. Bragança15. Vila Real16. Coimbra17. Aveiro18. Viseu

44,739,538,131,130,128,927,722,120,2

FONTE: Quadro n.° 8*

E de notar no Quadro n.° 19 que a primeira vez que a emi-gração oficial de um distrito para França atingiu mais de metadeda sua emigração oficial total foi em 1957, no distrito de Santarém,no qual, a partir desse ano, excepto em 1960, este facto sempre setem verificado.

O valor mais elevado que se observa no mesmo Quadro cor-responde ao distrito de Castelo Branco, no ano de 1967 (93,8 %),mas já nos anos imediatamente anterior e seguinte se observamno mesmo distrito valores muito altos, superiores a 90%. Nomesmo ano de 1967, no qual pouco mais de três quartos da emi-gração oficial originária do Continente se dirigiu para França,também os distritos de Braga e Bragança registam valoressuperiores a 90 %.

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3.2. Origens

Sobre as origens da corrente emigratória portuguesa paraFrança, no conjunto do período de 1950 a 1969, só dispomos dedados estatísticos referentes à emigração oficial. Nos Quadrosnúmeros 8, 9 e 9 A já apresentámos alguns elementos sobre esteassunto, mas pareceu-nos conveniente reunir no Quadro n.° 21os dados obtidos sobre o número de emigrantes que, em cada anodo período estudado, se dirigiu para França, por distritos de ori-gem. Recorde-se que por distrito de origem se deve entender, até1960, inclusive, distrito de naturalidade e em 1961 e anos seguin-tes, distrito de residência.

E bem patente no Quadro n.° 21 a quase nula emigraçãooficial originária das Ilhas Adjacentes para França. De facto,segundo as estatísticas oficiais portuguesas, durante os vinte anosestudados, apenas 71 emigrantes originários dos Açores e 36 daMadeira foram para França, o que soma 107 pessoas, as quaiscorrespondem a cerca de 0,03 % dos 343 774 emigrantes que, de1950 a 1969, constituíram a emigração oficial do território dePortugal Continental e Ilhas Adjacentes para aquele país.

De acordo com o Quadro n.° 9A, as percentagens do númerode emigrantes que se dirigiram oficialmente para França origi-nários de cada distrito, em relação ao total da emigração oficialportuguesa para esse país, no total dos vinte anos estudados,são as que se apresentam no Quadro n.° 22, mencionando-se osdistritos por ordem decrescente dos valores das percentagens deemigrantes que lhes correspondem.

Essa é, portanto, a contribuição que cada distrito deu paraa formação da corrente emigratória oficial portuguesa para França,no total dos vinte anos considerados. Usando, porém, o mesmométodo já atrás utilizado para relacionar os efectivos da emigra-ção oficial originária de cada distrito com a respectiva população,obtivemos os valores apresentados no Quadro n.° 23. Estes valorespermitem-nos estabelecer uma escala de ordenação dos distritossegundo a intensidade com que, comparativamente com a respec-tiva população residente, contribuíram para a composição da cor-rente emigratória oficial portuguesa para França, no conjunto dosvinte anos considerados. Seguindo a ordem decrescente, o resultadoé o que se apresenta no Quadro n.° 23, indicando-se o valor doíndice obtido.

A ordenação apresentada segundo o critério da relação entrea emigração e a população residente revela que oito dos dezoitodistritos do Continente foram origem de uma corrente emigratóriaoficial para a França mais do que proporcional à sua participaçãona população residente no Continente (valor de índice superiora 1), enquanto para os outros dez distritos tal não se verificou.Entre os que estão neste último grupo contam-se os distritos do

S50

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QUADRO N.° 21

Emigração oficial para França, por distritos de origem e anos

^S>*\*v^^ Ano

Origem ^ " \ ^ ^

Aveiro» • • • •

Castelo Branco....

Leiria

Santarém ........

Setúbal

Viana do Castelo...

Vila Real

Viseu

CONTINENTE

Angra do Heroísmo

Ponta Delgada

AÇORES

Outras origens ....

TOTAL

1950

2

72

21

20

18

20

1

3

246

117

3

307

1

1

11

319

1951

2

2

1

6

1

3

50

1

66

1

67

1952

7

23

13

10

15

1

41

36

17

6

24

1

55

1

8

258

3

261

1953

14

1

52

12

57

4

6

40

35

3

49

26

3

79

12

15

408

6

414

1954

16

2

50

13

67

2

1

57

89

5

150

77

110

11

9 *

560

1

1

7

563

1955

11

1

75

9

38

13

1

10

53

246

8

9

73

206

3

148

14

52

970

1

i2

12

935

1956

12

56

13

62

5

12

86

180

6

2

46

120

4

131

8

23

766

6

772

1957

37

9

369

82

161

36

3

187

165

604

28

4

178

517

28

607

13

53

3081

1

20

3102

1958

85

10

668

105

302

45

4

323

436

818

76

16'

388

498

24658

55

145

4656

1

1

37

4694

1959

49

11

657

79

232

27

1

113

407

469

52

15

309

453

13

447

85

95 '

3514

2

2

2

24

3542

1960

50

13

588

78

252

61

2

284

397

408

411

318

360

7

485

69

158

3572

1

2

3

2

16

3593

1961

140

8

792

111

406

75

2

215

463

884

1451

430

712

16

771

69

197

5437

5

3

4

5446

1962

244

8

1174

216

865

130

387

589

1551

215

5

588

877

14

991

93

289

8236

4

1

5

3

1

8245

1963

491

32

3147

241

1677

208

9

646

806

2322

681

28

1189

1515

52

1563

116

483

15206

3

3

8

6

15223

1964

1217

353

5233

571

3206

477

77

1735

2595

3792

2046

67

3263

2174

516

3691

651

968

32637

2

2

1

1

32641

1965

3008

554

7767

1748

5046

1271

301

2391

6371

5561

3636

202

5810

3171

849

5801

2108

1695

57290

10

6

16

. 8

5

57319

1966

4424

679

8974

35G7

6166

2299

566

3076

6962

6880

5005

464

7396

3630

1379

5951

3413

2583

73414

1

1

2

1

2

73419

1967

3534

824

8173

3653

5440

1887

354

2104

46Í4

5310

3214

354

6466

2932

949

4336

2609

2554

59397

1

1

8

10

4

4

59415

1968

2410

532

7084

2308

4120,

1744

201

2083

3567

4325

2288

200

4680

2415

700

3492

1968

2382

46499

2

2

12

16

46515

1969

1824

370

4564

1059

1776

1334

104

1108

1506

2429

1156

111

3448

1158

352

1686

1434

1812

27231

3

• 3

27234

Total

17575

3409

49520

13899

29903

9633

1626

14831

29176

35922

18614

1480

34737

20847

4910

31169

12733

13521

343505

16

8

47

71

36

162

343774

FONTE: Boletins da Junta da Emigração.

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Alenteio que apresentaram os índices menores, e os que abrangemas regiões mais desenvolvidas do país. Tentando uma classificaçãodos distritos do Continente segundo este critério, podem-se iden-tificar quatro grupos.

Percentagem da emigração oficial para França, originária de cada distrito,em relação ao total da emigração oficial portuguesa para aquele país.

1950-1969

QUADRO N.o 22

Distritos

1. Braga2. Leiria3. Porto4. Viana do Castelo ...5. Castelo Branco6. Guarda7. Santarém8. Lisboa9. Aveiro

Percentagens

14,410,510,19,18,78,56,15,45,1

Distritos

10. Faro ...11. Bragança12. Viseu13. Vila Real14. Coimbra15. Setúbal16. Beja17. Évora18. Portalegre

Percentagens

4,34,13,93,72,81,41,00,50,4

FONTE: Quadro n.° 9A

Ao primeiro grupo pertenceriam os cinco distritos que apre-sentam um índice de valor igual ou superior a 2, o que revelauma forte propensão de emigração oficial para França, no con-junto dos vinte anos considerados: são eles os distritos de Vianado Castelo, Guarda, Castelo Branco, Leiria e Braga.

No segundo grupo poderão incluir-se os distritos de Bragança,Faro, Santarém e Vila Real, cujos índices são de valor igual ousuperior a 1 mas menor que 2, revelando uma emigração oficialproporcional (Vila Real), ou moderadamente mais que propor-cional à sua participação na população continental.

No terceiro grupo caberiam os quatro distritos cujo índiceapresenta um valor superior a 0,5 mas inferior a 1 (Aveiro, Porto,Viseu e Coimbra) e, finalmente, os distritos de Lisboa, Setúbal,Beja, Évora e Portalegre constituiriam o último grupo, caracteri-zado por um valor de índice inferior a 0,5, a revelar uma fracapropensão de emigração oficial para França, tendo em conta a suapopulação residente, no conjunto dos vinte anos indicados.

352

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índice da emigração oficial para França em relação à população residente»gor distritos. 1950-1969

QUADRO N.o 23

Distritoa

1. Viana do Castelo ...2. Guarda ...3. Castelo Branco4. Leiria5. Braga6. Bragança7. Paro8. Santarém9. Vila Real

Índices

2,932,652,412,282,1415571,191,171,00

Distritos

10. Aveiro11. Porto12. Viseu13. Coimbra14. Lisboa15. Setúbal16. Beja17. Évora18. Portalegre

Índices

0,860,750,720,570,340,330,320,200,19

FONTE: Quadros n.os 11 e 22.

Se se observar a evolução que, ao longo dos vinte anosestudados, se registou na composição da corrente emigratóriaoficial para França segundo os distritos de origem9 notar-se-ádesde logo que três distritos do Continente assumiram, em pe-ríodos sucessivos, o papel de principal fornecedor de emigrantespara França, em números absolutos. De 1950 a 1954, foi o distritode Viana do Castelo que maior número de emigrantes forneceupara França, totalizando 411, ou seja cerca de um quarto daemigração oficial portuguesa, então ainda muito reduzida, paraaquele país no total do período de cinco anos indicado. De 1955a 1962, foram originários do distrito de Leiria 5160 emigrantesque se dirigiram para França, ou seja, 17 % dos emigrantes quesaíram oficialmente de Portugal com destino àquele país. Essecontingente foi o mais elevado, nesse período, para esse destino,em relação aos de cada um dos distritos do Continente. E o distritode Braga foi a origem de 44 942 dos 311 766 emigrantes portu-gueses que, de 1963 a 1969, se dirigiram oficialmente para França,isto é, 14,4 %.

Esta primeira informação deve, todavia, ser completada comos elementos que se apresentam no Quadro n.° 24, construído apartir do Quadro n.° 19, onde se mostra a composição da emi-gração oficial para França, por distritos de origem, em percenta-gens, em cada um dos vinte anos de 1950 a 1969. Dada a diminutaemigração oficial originária dos Açores e da Madeira para França,reuniram-se na mesma rubrica os três distritos dos Açores, o doFunchal e as outras origens.

353

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Percentagem do número de emigrantes originários de cada distrito na emigraçãooficial portuguesa para França, por anos

QUADRO N.° 24

> v AnoOrigem ^***"*^>^^^

Castelo Branco . . . .

LisboaPortalegre

Setúbal.Viana do Castelo. . .Vila ReaLViseu

Ehae Adjacentes eoujras origens......

1950

0,6

22,6

6,6

6,3

5,6

6,3

0,3

0,9

7, 5

1,9

36,7

0,9

3,8

1951

3,0

3,0

1,5

9,0

1,5

4,4r

74,6

1,5

1,5

1952

2, 7

8,8

5,03,85,70,4

15,713,86, 52,3

9,2

0,421,10,43,1

1953

3, 40,2

12,62,9

13,81,0

1,49,78,50,7

11,86,30,7

19,12,93,6

1954

2 80,38,82,3

11,80,3

0,210,015,70,90,28,8

13,6

19,41,91,6

1,4

1955

1 1

0,1

7,60,9

3,9

1,3

0,11,05,4

25,10,80,97,4

20,90,3

15,01,45,3

1,5

1956

1 6

7,2

1,78,00,6

1,611,123,30,80,36,0

15,5Q,5

17,01,03,0

0,8

1957

1 20,3

11,92,65,21,20,16,05,3

19,50,90,15,7

16,70,9

19,60,4

1,7

0,7

1958

1 80,2

14,22,26,41,00,16,99,3

17,41,60,48,3

10,60,5

14,01,2

3,1

0,8

1959

1 40,3

18,5

2,26,60,80,03,2

11,513,21,50,48,7

12,80,4

12,62,42,7

0,8

1960

1 40,4

16,42,2

7,0

1,7

0,17,9

11,011,41,10,08,8

10,00,2

13,51,94,4

0,6

1961

2.6

0, 1

14, 52,0

7,5

0,03,98,5

16,22,70,07,9

13,10,3

14,21,33,6

0,2

1962

3 P

0,114,2

2,610,51,60,04,77,2

18,82,60,17,1

10,60,2

12,01,13 ,5

0,1

1963

3,2

0,220,7

1.611,01,40,14,25,3

15,24,50,27,89,90,3

10,30,83,2

0,1

1964

3.7

1, 1

16,01,79,81,40,3

5,38,0

11,66,30,2

10,0

6,7

11,32,03,0

0,0

1965

5,2

1,013,63,08,82,20, 5

4,211,19,76,30,4

10,1

5,51,5

10,13,7

3,0

0,1

1966

6,0

0,9

12,24,98,43,10,84,29,59,46,80,6

10,14,91,98,14,7

3,5

0,0

1967

5 91,4

13,8

6,19,23,20,63,77,88,95,40,5

10,9

4,9

7,34,44,3

0,0

1968

5,2

1,115,25,08,93,80,44, 57,79,34,90,4

10,1

5,21,57,54,25,1

0,0

1969

6 , 7

1,416,83,96,54,9C, 44,15,5£,94,2O, 4

12,74,21,3€,25,36 , 6

0 ,0

FONTE: Boletins da Junta da Emigração

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Os dados apresentados neste Quadro permitem observar quehouve, ao longo do tempo, certas alterações na composição da cor-rente emigratória oficial para França, por distritos de origem.

Deve, assim, assinalar-se que, a partir de 1960, os emigrantesoriginários do distrito de Aveiro têm vindo a representar percen-tagens sempre crescentes no total da emigração oficial portuguesapara França, excepto no ano de 1968, no qual ocorreu uma ligeiraquebra em relação ao ano anterior. Também o distrito de Coimbra,a partir de 1964, tem aumentado a sua contribuição como origemde emigração oficial para França, assim como o distrito de Viseua partir de 1965. O distrito de Braga não só é principal origemde emigração oficial para França no conjunto do período de 1963a 1969, e já o tinha sido nos anos de 1959 e 1960, como temreforçado a sua posição de principal distrito fornecedor de emi-grantes oficiais a partir de 1966.

Pelo contrário, os distritos da ^Guarda, Castelo Branco, Lei-ria, Santarém, Viana do Castelo e também Lisboa apresentamuma série mais ou menos extensa, conforme os casos, de percen-tagens decrescentes. É particularmente notável o caso da Guarda,onde são observáveis dois períodos que definem duas séries depercentagens decrescentes do número de emigrantes oficiais ori-ginários do distrito em relação à emigração oficial portuguesapara França: o primeiro de 1959 a 1963, e o segundo a partir de1965. No entanto, é de salientar que todos estes distritos, exceptoLisboa, foram origem de importantes movimentos emigratório®oficiais para França. Relembre-se, todavia, que uma diminuição daemigração oficial não ê sinónima, necessariamente, de redução dofluxo emigratório r?al ou efectivo.

Se bem que, como dissemos já, não tenhamos encontradodados estatísticos completos sobre as origens da corrente emigra-tória efectiva portuguesa para França referentes aos vinte anosestudados, foi possivel encontrar alguns elementos sobre essamatéria nos três volumes publicados das «Statistiques de Tlmmi-gration», do O. N. I.

Esses elementos dizem respeito à origem, por distritos, dostrabalhadores permanentes portugueses entrados em França nosanos de 1967, 1968 e 1969. Trata-se exclusivamente dos trabalha-dores, não contando, portanto, os seus familiares.

Apesar de, em rigor, os dados não serem comparáveis, apre-sentam-se no Quadro n.° 25 os referidos elementos sobre a origemde todos os trabalhadores portugueses entrados em França, istoé, quer dos que emigraram legalmente de Portugal, quer dos clan-destinos, e os dados, já conhecidos, da composição da emigraçãooficial portuguesa para França por distritos de origem. Os nú-meros apresentados são a soma dos valores dos três anos indica-dos. Note-se que a fonte de informação francesa consultada não

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indica o que deve entender-se por local de origem dos trabalhado-res imigrantes. Supomos que se trata do local a partir do qualse efectuou o movimento migratório, ou seja, o local de residênciado imigrante no país de origem à data da sua saída para França.

Emigração portuguesa para França, por distritos de origem, conformeas estatísticas oficiais francesas e portuguesas. 1967-1969

QUADRO N.o 25

Distritos deorigem

AveiroBejaBragaBragançaCastelo BrancoCoimbraÉvoraFaroGuardaLeiria „LisboaPortalegrePortoSantarémSetúbalViana do Castelo ...Vila Real . ...ViseuAngra do HeroísmoHortaPonta DelgadaFunchalOutras origensOrigem indeterminada ..

Total .

Trabalhadorespermanentes

portugueses entra-dos em França

81453 279

20 74210 6568 9267 082804

6 5128 976

10 2975 947987

15 89151482 0638 664

10 8439 443

783

1273

5,62,2

14,27,36,14,80,64,46,17.04,10,7

10,93,51,45,97,46,4

0,5

0,9

146 461 100,0 133164

Emigração oficialportuguesa

para França

7 7681726

19 8217 020

113364 965

6595 3859 687

12 0646 658

66514 594

6 5052 0019 5146 0116 748

33

2344

FONTES: Statistiques de rimmigration, O.N.I.Boletins da Junta da Emigração.

5,81,3

14,95,38,53,70,54,07,39,15,00,5

11,04,91,57,14,55,10,00,00,00,00,0

100,0

Perante os elementos recolhidos, é de notar que para osdistritos de Beja, Vila Real, Bragança, Coimbra, Portalegre eViseu se verifica que o número dos trabalhadores deles originários

S56

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entrados em França nos anos de 1967 a 1969 é sensivelmentesuperior à emigração oficial de que eles foram origem para França,o que dá a entender que nestes distritos deve haver uma altapercentagem de emigração clandestina para aquele país. A maiorparte dos valores dos outros distritos não apresenta discrepanciasnotáveis, a não ser os distritos das Ilhas Adjacentes e os deCastelo Branco e Leiria, Nos distritos de Castelo Branco e Leiriaos valores correspondentes à emigração oficial são sensivelmentesuperiores ao dos trabalhadores deles originários entrados emFrança, podendo este facto justificar-se, ou por uma maior emi-gração familiar a que estejam a dar lugar, em comparação comos outros distritos do Continente, ou por uma menor percentagemde emigrantes clandestinos. Quanto aos distritos das Ilhas Adja-centes, a diferença de valores é muito grande e, além disso, éde estranhar que nas estatísticas francesas não apareça mencio-nado nenhum distrito dos Açores. Talvez se dê o caso de, sob adesignação de originários da Madeira, estarem contados todosos trabalhadores provenientes dos dois arquipélagos adjacentes.

3.3. SexosOs dados estatísticos que encontrámos sobre a composição

da corrente emigratória portuguesa para França segundo os sexos,nos anos de 1950 a 1969, foram os que constam nas estatísticasoficiais sobre a emigração oficial para aquele país e os fornecidospelas «Statistiques de rimmigration», do O. N. I., sobre os tra^balhadores portugueses entrados em França nos anos de 1967,1968 e 1969. Quanto aos primeiros, são os que se apresentamno Quadro n.° 26.

Composição, em percentagens, da emigração oficial portuguesapara França segundo os sexos, por anos

QUADRO N.o 26

Anos

1950195119521953195419551956195719581959

Emigraçãooficial para

França

31967

261414568985772

31024 6943 542

r/O «0Homens

54,283,663,661,862,573,266,288,682,670,0

Cf-, Am/O vlO

Mulheres

45,816,436,438,237,526,833,811,417,430,0

Anos

1960196119621963196419651966196719681969

Emigraçãooficial para

França

3 5935 4468245

15 22332 64157 31973 41959 41546 51527 234

% doHomens

72,385,182,482,579,770,565,255,648,364,3

cfn de/O w

Mulheres

27,714,917,617,520,329,534,844,451,735.7

FONTE: Boletins da Junta da Emigração.

857

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Segundo estes dados, no total dos vinte anos considerados,das 343 774 pessoas que as estatísticas oficiais contaram na emi-gração oficial para França, 225 2IfS eram homens, ou seja 65,5 %.

A maior percentagem de homens que se verifica na sérieapresentada ocorre no ano de 1957 (88,6%) e a menor em 1968(48,3%), sendo este o único ano em que se contaram mais mu-lheres que homens na emigração oficial anual para França.

De uma maneira geral, pode dizer-se que a percentagem dehomens atinge valores particularmente elevados nos anos em quehá um crescimento forte do número de emigrantes em relação aosanos anteriores. Considerando nestas condições os anos de 1957e os sete anos consecutivos de 1961 a 1966, verifica-se, efectiva-mente, que, no conjunto destes anos, a percentagem de homenssobe a 72,2%.

A tendência para o decréscimo da percentagem de homens —que persistia desde 1961 — foi contrariada no último ano estudado,no qual se voltou a atingir um valor próximo da percentagem quese encontrou para o conjunto dos vinte anos estudados.

Não se esqueça, no entanto, que os dados apresentados sereferem exclusivamente à emigração oficial, peio que as caracte-rísticas observadas não são exactamente generalizáveis à emi-gração efectiva. É altamente provável que o fluxo emigratórioclandestino apresente, neste particular, características algo dife-rentes da emigração oficial, sendo de admitir que o número dehomens apresente uma maior percentagem na emigração clandes-tina do que na oficial. Em função dos dados disponíveis, esta pro-babilidade só pode ser controlada em relação aos últimos trêsanos do período estudado.

Assim, segundo as «Statistiques de rimmigration», dos 1%6 461trabalhadores permanentes portugueses entrados em França nosanos de 1967 a 1969, 85,3% eram homens. Se bem que se trateexclusivamente de trabalhadores, este valor é suficiente para sepoder ter a certeza de que, nos anos de 1967 a 1969, os portuguesesque saíram do seu país e foram para França eram na sua grandemaioria, cerca de dois terços, provavelmente, do sexo masculino.Chega-se a esta conclusão ao verificar-se que, como já se disse,dos 146 461 trabalhadores, 124 944 eram homens e que, para alémdos trabalhadores, entraram em França mais 82 491 pessoas fami-liares de trabalhadores, no período de três anos em referência.Ora, basta que apenas um terço destes familiares dos trabalha-dores sejam do sexo masculino para se apurar que, de 1967 a 1969,sensivelmente dois terços dos emigrantes portugueses entrados emFrança eram homens. Chegados a esta conclusão, podemos com-pará-la com a que se obtém a partir dos dados sobre a emigraçãooficial.

Deste modo, segundo as estatísticas oficiais portuguesas, aemigração oficial para França, nos anos de 1967 a 1969, foi

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constituída por 73 039 homens e 60125 mulheres, a que correspon-dem, respectivamente, 5^,8 % e ^5,2 %. Este resultado é, como sevê, sensivelmente diferente do anterior.

Reportando-nos à análise ao nível da emigração oficial, exclu-sivamente, é de notar que, em relação ao conjunto da emigraçãoportuguesa, o movimento emigratório para França se caracteriza,neste particular, por uma maior percentagem de homens, no totaldo período de 1950 a 1969.

3.4. Emigração individual e familiar

Fazendo uso dos Anuários Demográficos, do INE, e dosBoletins da Junta da Emigração, só a partir do ano de 1955, inclu-sive, se encontram estatísticas sobre a emigração oficial indivi-dual e familiar para França- A disparidade dos critérios usadosnesta matéria pelas estatísticas oficiais francesas e portuguesastorna impossível uni cálculo suficientemente rigoroso da compo-sição da emigração efectiva portuguesa para França1 segundo acaracterística de que nos estamos a ocupar. Assim, vemo-nos

Emigração oficial individual e familiar para França, por anos

QUADRO N.o 27

195519561957195818591960196119621963196419651966196719681969

Total

Emigração oficialpara França

985772

31024 6943 5423 5935 4468 245

15 22332 61157 31973 41959 41546 51527 234

342 145

Emigração oficial

N.o

646437

2 6523 606214621314 3786 392

1189624 39235 9144171028 66719 35716 964

201 288

individual

65,656,685,576,860,659,380,477,578,174,762,756,848,241,662,3

58,8

Emigração

N . .

339335450

108813961462106818533 3278 249

214053170930 7482715810 270

140 857

oficial familiar

%

34,443,414,523,239,440,719,622,521,925,337,343,251,858,437,7

41,2

FONTES: Anuários Demográficos e Estatísticas Demográficas, I.N.E.Boletins da Junta da Emigração.

S59

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cingidos, uma vez mais, aos dados respeitantes unicamente àemigração oficial Apesar destas limitações, pensamos que temalgum interesse apresentar no Quadro n.° 27 os dados que sobre esteassunto obtivemos nas fontes indicadas.

As mesmas fontes permitem-nos ainda distinguir, entre onúmero de pessoas incluídas na emigração oficial familiar, asque saem do país em grupo familiar composto pelo chefe de famí-lia e seus familiares, e as que emigram num grupo familiar que.se vai juntar ao respectivo chefe já emigrado, conforme o Quadron.° 28.

Composição da emigração oficial familiar para França, por anos

QUADRO N.o 28

Anoi

195519561957195819591960196119621963196419651966196719681969

Total

Emigração oficialfamiliar

para França

339335450

108813961462108618533 3278 249

214053170930 7482715810 270

140 857

Emigraçãofamílias

N.»

231059565163

119176342

2 0797 027

10 3596 0654 7741235

32 438

oficial emcom chefe

%

6,83,0

13,15,13,74,3

11,19,5

10,325,232,832,719,717,612,0

23,0

Emigraçãofamílias

316325391

103213451399

94916772 9856170

14 3782135024 68322 384

9 035

108 419

oficial emsem chefe

93,297,086,994,996,395,788,990,589,774,867,267,380,382,488,0

77,0

FONTES: Anuários Demográficos e Estatísticas Demográficas, I.N.E.Boletins da Junta da Emigração.

No conjunto dos quinze anos indicados, a emigração oficialindividual para França atingiu 58>8 % da emigração oficial totalpara aquele país, e a emigração familiar lil,2 %. Só nos anos de1967 e 1968 o número de pessoas que emigraram individualmentefoi inferior ao dos que saíram do país integrados em grupos fami-liares. Os valores correspondentes ao último ano da série estudada

360

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estão em desacordo com a tendência que se vinha a desenhardesde 1961, no sentido de a emigração individual diminuir emfavor da familiar.

Quanto à emigração oficial familiar para França no períodode 1955 a 1969, verifica-se que, no seu conjunto, cerca de trêsquartos (Tl %) das pessoas que constituíram esse movimentosaíram de Portugal em grupos familiares que se foram juntarao respectivo chefe já emigrado, mas quase todos os anos desseperíodo registaram percentagens superiores. Tal só não aconteceno triénio de 1964 a 1966; porém, como estes anos apresentamelevados contingentes de emigração oficial anual, influíram signi-ficativamente na percentagem respeitante ao total dos quinze anosindicados. Assim, se considerarmos somente o triénio de 1964 a1966, a percentagem de pessoas que emigraram oficialmente paraFrança integrados em famílias que se foram juntar ao seu chefejá emigrado é de 68,3 %, e se calcularmos igual percentagem noconjunto dos outros anos do período de quinze anos que estamosa analisar, isto é, os anos de 1955 a 1963 e de 1967 a 1969, obte-remos o valor de 83,7 %.

Uma explicação possível para se compreender a razão por queaumentou de uma forma nítida, a percentagem da emigraçãooficial familiar para França, em famílias acompanhadas do res-pectivo chefe, no triénio de 1964-1966, talvez seja a de que algunsdos emigrantes que nesses anos vieram a Portugal legalizar a suasituação saíram acompanhados das suas famílias. Mas trata-sede uma mera hipótese porque não temos provas seguras de queassim tenha sido.

No que respeita ao número médio de pessoas por famíliaemigrante, só encontrámos dados suficientes para fazer o seucálculo a partir de 1957. Em relação ao total da emigração fami-liar oficial de 1951 a 1969, verifica-se que as famílias eram, emxmédia, constituídas por 3,2 pessoas. Observa-se, porém, um fenó-meno curioso: é que na emiqração oficial para Franca, o númeromédio de pessoas por família que saiu com o respectivo chefe, noconjunto dos anos de 1951 a 1969, é menor do que o correspondenteàs famílias que emigraram sem o seu chefe, para se lhe juntar.De facto, no primeiro caso os cálculos dão-nos o resultado de3,0 pessoas por família, e no segundo 3,2. Acontece, portanto,que, nesta característica, a emigração oficial para França é sensi-velmente diferente do total da emigração oficial portuguesa, pois,como vimos, neste movimento, no total dos anos de 1955 a 1969emigraram em média 3,3 pessoas por família com o respectivochefe, e 3,1 pessoas por família que saiu do país para se juntarao respectivo chefe já emigrado.

Verifica-se, assim, que, na emigração oficial portuguesa paraFrança, as pessoas que saem em grupos familiares para se junta-rem aos chefes de família já emigrados constituem uma parcela

361

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importante: 31/t % da emigração oficial no total dos anos de19ò5 a 1969. Este facto é resultado de um movimento de reagru-pamento das famílias em tomo dos emigrantes já fixados emFrança, abrangendo um número médio relativamente elevado depessoas por família. É possível que, entre os factores que explicamo número relativamente elevado de pessoas que constituem cadagrupo familiar que emigra oficialmente para França para se juntarao respectivo chefe, se conte a facilidade de transportes entrePortugal e aquele país, possíveis projectos de maior permanênciano estrangeiro que os emigrantes acalentam depois de estaremalgum tempo em França e, principalmente, os benefícios concedidospela segurança social francesa, relacionados com a dimensão doagregado familiar do trabalhador imigrante.

3.5. Grandes ramos da actividade a que pertenciam os emigrantes

As estatísticas oficiais portuguesas fornecem elementos sobreos grandes ramos de actividade a que pertenciam os emigrantesque se dirigiram oficialmente para França, a partir de 1955.Antes deste ano, os referidos elementos não são apresentados,certamente pela diminuta importância que a corrente emigratoriapara França então tinha, excepto no ano de 1950. Porém, no anode 1950, era adoptado um critério baseado na profissão que nãoé comparável ao seguido a partir de 1955, e por isso julgamosdispensável apresentar os dados sobre a composição da correnteemigratoria oficial para França em 1950, segundo as profissõesdos emigrantes maiores de 12 anos.

Durante o período de quinze anos de 1955 a 1969, ocorreuuma alteração no critério da classificação dos emigrantes profis-sionalmente qualificados,7 pois até 1963, inclusive, eram con-tados nessa categoria os emigrantes com mais de 12 anos e,depois desse ano, têm sido contados os emigrantes com mais de10 anos de idade. Esta diferença não deve afectar significativa-mente a comparabilidade dos dados referentes aos anos até edepois de 1963 que se apresentam no Quadro n.° 29 sobre oassunto em causa.

No conjunto dos quinze anos indicados, a emigração oHcialpara França atingiu 273 JfOO pessoas profissionalmente qualifica-daSj das quais 30,6% (83 568) pertenciam ao sector primário,29,5 % (80 539) ao secundário, 3,9% (10 743) ao terciário e 27,8 %(76136) eram activos com ocupação. Os inactivos e inválidosforam 8,2 % (22 356) daquele total8.

7 Ver nota 58 Ver nota 4

362

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Composição da emigração oficial para França segundo os grandes ramos de actividadea que pertenciam os emigrantes profissionais qualificados, por anos

QUADRO N.o 29

Ano*

195519561957195819591960196119621963196419651966196719681969

TOTAL...

Total dos

emigrantesprofissional.

ment<iqualificados

782584

2 8634 0442 7062 7304 8037180

13 33628 84147 96959 26844 33132 74521218

273 400

Actividadesprimárias

N.o

153115811

1183676749

18262 3463 6618 987

15 03720 07313 041

7 6087 302

83 568

%

19,619,728,329,325,027,438,032,727,531,231,333,929,423,234,4

30,6

Actividadessecundárias

N.°

433270

17162 241128212752 3653 6817 302

12 42716 22514 977

7 5473 7705 028

80 539

%

55,446,259,955,427,146,749,251,354,843,133,825,317,011,523,7

29,5

Actividadesterciárias

N.°

76

3453363162

142435

17622 3362 57413761146

743

10 743

%

0,91,01,21,31,31,11,32,03,36,14,94,33,13,53,5

3,9

Activoscom ocupação

N.o

144150231458602540458822

16164 295

10 85816 91517 21015 8016 036

76136

%

18,425,7

8,111,322,219,8

9,511,412,114,922,628,538,848,328,4

27,8

Inactivose inválidos

N.o

363838

102107135

91189322

13703 5134 72951574 4202109

22 356

%

4,66,51,32,54,04,91,92,62,44,87,38,0

11,613,59,9

8,2

FONTES: Anuários Demográficos e Estatísticas Demográficas, I. N. E.Boletins da Junta da Emigração.

1 Até 1963, inclusive, contam-se os emigrantes maiores de 12 anos. Depois de 1963 estão incluídos os emigrantes com mais de 10 anosde idade.

2 Não está indicado o número de emigrantes com profissões ignoradas em cada ano, pelo que, nos anos em que estes existem, o totaldas parcelas é inferior ao total de emigrantes referido.

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Os dados recolhidos no Quadro n.° 29 apresentam alguns as-pectos característicos a que nos referiremos rapidamente.

É de assinalar a relativa constância dos valores da percenta-gem de emigrantes provenientes das actividades primárias. Efec-tivamente, como já se referiu, essa percentagem, para o conjuntodos quinze anos, é de 30,6 % e os valores máximo e mínimo anualsão, respectivamente, 38,0% em 1961 e 19,6% em 1955. Istosignifica que, apesar da notável variação dos efectivos anuaisda emigração oficial para França, a contribuição do sector primá-rio para a composição desta corrente emigratória tem sido rela-tivamente constante, em termos de percentagem.

Os emigrantes que pertenciam às actividades secundárias têmtido uma representação de valor variável ao longo do tempo naconstituição da emigração oficial para França. Em 1957, foram59,9 % dos emigrantes profissionalmente activos que saíram ofi-cialmente para aquele país, mas em 1968 constituíram unicamente11,5%. De 1963 a 1968, esta percentagem diminuiu constante-mente, mas em 1969 aumentou novamente.

Provenientes das actividades terciárias, são normalmentepoucos os emigrantes que vão oficialmente para França. Em 1955,os emigrantes que pertenciam a esse sector representaram 0,9 %dos que saíram oficialmente para aquele país nesse ano; a per-centagem anual mais elevada que eles atingiram ocorreu em 1964,com o valor de 6,1 %.

Nos activos com ocupação deve contar-se um grande númerode donas de casa, e, certamente por isso, a evolução da série devalores da percentagem que eles representam em relação ao totaldos emigrantes profissionalmente qualificados que cada ano foramoficialmente para França, é muito semelhante à que apresentámossobre a percentagem de mulheres na emigração oficial para aqueledestino.

A percentagem dos inactivos e inválidos é pequena, emboramaior do que a dos emigrantes eme pertenciam às actividadesterciárias. O valor anual mais elevado atingiu-se em 1968 (13,5 <%),depois duma série de valores anuais crescentes cujo início se podesituar em 1961. No último ano do período estudado, a percenta-gem dos inactivos e inválidos na emigração oficial para Françadecresceu sensivelmente.

3.6. Emigração clandestina

Um dos aspectos mais característicos da emigração portu-guesa para França é, sem dúvida, o facto de uma grande partedesse movimento ser constituído por um fluxo emigratório ilegal.

No período de vinte anos estudado, só em 1950 é que nãose detectou, de acordo com o método usado, a existência de emi-

364

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gração clandestina de Portugal para França.9 No total deste pe-ríodo, If9,I} % da emigração efectiva portuguesa para aquele des-tino foi ilegal; ou seja, 2%1811 dos lj.89 813 emigrantes portuguesesque se dirigiram para França de 1950 a 1969, saíram ilegalmentedo país. A importância da emigração clandestina para aqueledestino foi, porem, variável ao longo do período considerado, comose verifica através dos elementos apresentados no Quadro n.° 30.

Composição da emigração portuguesa para França segundo o modode emigração, por anos

QUADRO

A r>naAHOI

19501951195219531954195519561957195819591960196119621963196419651966196719681969

N.o 30

Emigraçãoefectiva

314418650690747

133618514 6406 2644 8386 434

10 49216 79829 8435166860 26763 61159 59758 741

110 614

Emigraçãolegal

31967

261414568985772

31024 6943 5423 5935 4468 245

13 7732103232 3495101645 80635 04416 974

Emigraçãoclandestina

—5351389276179351

10791538157012962 8415 0468 553

16 07030 63627 91812 59513 79123 69793 640

% da emigraçãoclandestina em

relação à emigraçãoefectiva

0,084,059,840,024,026,358,333,125,126,844,248,150,953,859,346,319,823,140,384,7

FONTE: Quadro n.° 4.

Tendo era consideração o número de emigrantes, verifica-seque a emigração clandestina portuguesa para França foi pratica-mente insignificante até 1955, pois não ultrapassou o valor má-ximo anual de 389 pessoas. De 1956 a 1959, este movimento

9 Ver a nota do Quadro n.° 4,

565

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alcançou valores estabilizados entre o valor mínimo de 1079emigrantes, em 1956, e o valor máximo de 1570, em 1958, De1960 a 1964, assiste-se a um rápido crescimento da emigraçãoclandestina que vê os seus efectivos quase duplicados de anopara ano, passando-se de 1300 emigrantes clandestinos em 1959para pouco menos de 31000 em 1964. Nos anos de 1965 e 1966,na uma nítida quebra de emigração clandestina anual para França,atingindo-se em 1966 cerca de 12 600 pessoas nesse movimento.A partir deste ano, porém, observa-se uma série de valores cres-centes, alcançando-se, entre 1968 e 1969, uma taxa de crescimentode 395 %.

Esta evolução assim descrita é, possivelmente, melhor ex-pressa, no que respeita aos anos de 1959 a 1969, na Figura n.° 5onde se faz a representação gráfica dos volumes da emigraçãoclandestina e da emigração legal para França, nos anos indicados.

Sob o ponto de vista da percentagem que o número de emi-grantes clandestinos para França representou no total da emigra-ção efectiva portuguesa para aquele País, é de notar que osresultados achados apresentam uma distribuição irregular, per-mitindo apenas concluir que nos últimos vinte anos estudados,excluindo o ano de 1950, a emigração efectiva portuguesa paraFrança foi sempre composta por uma corrente emigratória legale outra ilegal; que esta última representou, para o total dos vinteanos estudados, 49,4% do total da emigração efectiva, variandoos seus valores anuais entre 84,7 % em 1969, e 19,8 % em 1966.Estes valores constituem um intervalo muito amplo que permitelevantar a hipótese de estarmos perante um fenómeno complexo,onde intervêm muitos factores de natureza vária, os quais têmactuado de forma não constante ao longo do tempo.

Para melhor expressar a evolução da percentagem da emigra-ção clandestina em relação ao total da emigração efectiva portu-guesa para França, nos anos de 1950 a 1969, construiu-se a Figuran.° 6 que é comparável com a Figura n.° 3, onde se apresentoua mesma variável em função da emigração efectiva portuguesatotal, isto é, para todos os destinos.

A semelhança das tendências desenhadas nas duas Figurasa partir do ano de 1963, ou, mais claramente, do ano seguinte,é uma consequência do facto, já, provado, da importância assu-mida pela emigração para França no conjunto da emigração por-tuguesa a partir daquela data.

Apresentados estes dados sobre a emigração clandestina por-tuguesa para França, torna-se necessário referir que, ao fazermosa comparação entre os dados de origem portuguesa e os de origemfrancesa, se nos deparou uma discrepância cuja explicação nãoestamos em condições de dar, por não dispormos de elementossuficientes para o efeito.

S66

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A discrepância reside na notória diferença que se verifica,em alguns anos, entre o número de emigrantes legais que saíramde Portugal para França e o número (menor) de portugueses«introduzidos» por via legal em França. Em princípio, parece quenão devia haver tal diferença, pois os emigrantes que saem legal-mente de Portugal para França devem ser aceites como imigranteslegais em França, cabendo, portanto, na categoria dos «introdu-zidos», tais como são designados nas estatísticas oficiais francesasos que desse modo imigram ,

A categoria de «regularizados» corresponde, nas estatísticasfrancesas, aos imigrantes que entraram em França sem satisfa-zerem os requisitos legais exigidos para a imigração legal, sendoporém aceites pelas autoridades francesas e sujeitos então, jáem território francês, às formalidades de regularização do seuestatuto de trabalhadores imigrantes ou de familiares de traba-lhadores imigrantes.

A anomalia, porém, existe e fica bem patente nos elementosestatísticos apresentados no Quadro n.° 31, respeitantes aos anos4e 1961 a 1969.

Modos do movimento migratório de Portugal para França,segundo as estatísticas francesas e portuguesas, por anos

•QUADRO N.° 31

Anos

(D

196119621963196419651966196719681969

Imigração de portuguesesem França, segundo as

estatísticas francesas

Introduzidos

(2)

5 3038 051

13 58719 94918 45617 43013 5125 760

16 657

Regularizados

(3)

51898 747

16 25631719418114618146 08552 98193 957

Emigração portuguesa paraFrança, segundo as

estatísticas portuguesas

Emigraçãolegal

(4)

5 4468 245

13 7732103232 3495101645 80635 04416 974

Emigraçãoclandestina

(5)

5 0468 553

16 07030 63627 91812 59513 79123 69793 640

Diferença entre«emigração legal»e «introduzidos»

(4-2)

(«)

143194186

108613 89333 58632 29429 284

317

FONTES: Statistiques du Travail et de Ia Securité Sooiale, Ministère du Travail.Statistiques de rimmigration, O. N. I.Boletins da Junta da Emigração.

S69

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Verifica-se que a diferença entre a emigração legal de por-tugueses para França e a imigração legal (introdução) de portu-gueses em França é de valor diminuto nos anos de 1961 a 1963e no ano de 1969, podendo ser atribuída à diferença de tempoque decorre entre as duas operações de controle sobre as mesmaspessoas.

Em 1964 essa diferença já é da ordem das 1083 pessoas, oque talvez já não se justifique pela razão anteriormente invocada.

Nos anos de 1965 a 1968 é que a anomalia se expressa emdiferenças de muitos milhares de pessoas anualmente.

Não sabemos a que atribuir exactamente as diferenças quese podem verificar nos anos de 1964 a 1968, mas pensamos que ashipóteses possíveis para explicar esta anomalia são as seguintes:

a) as estatísticas francesas sobre a «introdução» de portu-gueses pecarem por defeito;

b) as estatísticas portuguesas sobre a emigração oficialpara França pecarem por excesso;

c) as estatísticas portuguesas sobre a emigração legalizadapara França pecarem por defeito;

d) haver emigrantes que saem legalmente de Portugal paraFrança e se apresentam como clandestinos ao chegar aFrança;

e) ser possível que, em certos casos, as condições necessáriasperante as autoridades portuguesas para que se processea emigração legal de Portugal para França não coincidamcom as condições necessárias perante as autoridades fran-cesas para que se efectue a imigração legal («introdu-ção») de portugueses em França.

Como já se disse, só estamos em posição de assinalar o factoe não de o explicar. Acrescentaremos, no entanto, que nos foipossível recolher informações sobre a existência de casos de emi-grantes que, tendo saído legalmente de Portugal para França,;se apresentaram como clandestinos em França, para que, dessemodo, se desobrigassem das condições do contrato de trabalho —que anteriormente tinham aceite e justificava a sua emigraçãolegal — e pudessem procurar, directamente em França, outro tra-balho com condições mais favoráveis. Também tivemos informa-ções de que terá havido emigração legal de Portugal para Françade familiares de emigrantes já fixados naquele país feita emcondições que implicavam que essas pessoas não eram consideradasimigrantes legais («introduzidos») ao chegarem a França, sendoentão sujeitas à regularização do seu estatuto de familiares detrabalhadores imigrantes.

Devemos esclarecer que não nos foi possível apurar o valordas informações referidas. Se são verdadeiras, contribuíram cer-

S70

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tamente para que se produzisse a discrepância verificada entreos dados estatísticos franceses e portugueses.

É de salientar que, de acordo com o método que seguimos,a anomalia a que nos referimos não se manifestou nem foi tida emconta nos dados que tomámos como base neste trabalho. De facto,a perspectiva que mantivemos foi a das condições da emigração(saída de Portugal) e não as da imigração ae portugueses nosvários países de destino. Deste modo, contámos a emigração legala partir dos dadas das estatísticas oficiais portuguesas e aemigração clandestina para França a partir do número global deportugueses entrados naquele país, independentemente do modo deimigração. Fica, no entanto, uma questão em aberto: se a anoma-lia se deve a erros que viciem os dados estatísticos que tomámospara base dos nossos cálculos, é evidente que então também osresultados a que chegámos estão viciados.

3.7. A imigração portuguesa no conjunto da imigração francesa

Pensa-se que, além da informação que neste trabalho ficarecolhida sobre a emigração portuguesa para França, é de inte-resse para o estudo deste fenómeno saber-se alguma coisa daposição que a imigração de portugueses ocupa no conjunto daimigração de trabalhadores permanentes e seus familiares naquelepaís. Aliás, parece-nos que qualquer estudo sobre um dado movi-mento emigratório não deve deixar de considerar, entre os factosque o influenciam, as condições da entrada dos emigrantes nospaíses de destino e a estrutura da imigração nesses países e a suaevolução.

No Quadro n.° 32 contêm-se os dados indispensáveis paraavaliar a evolução da imigração de trabalhadores permanentese seus familiares em França, sob a jurisdição do Office Nationalde rimmigration, tendo em conta as três nacionalidades a quepertencem os maiores números de imigrantes entrados, de 1950a 1969. O Quadro foi construído somando os valores indicadospela publicação «Statistiques de rimmigration», do ONL sobrea imigração de trabalhadores permanentes e sobre a imigraçãode familiares, por anos e nacionalidades. Só as três nacionalidadesreferidas estão representadas nas estatísticas consultadas, querpara os trabalhadores, quer para os familiares, ao longo dos vinteanos estudados, se bem que outras figurem também, mas nãodurante todos os anos do período em análise, para as duas catego-rias consideradas de estrangeiros imigrantes em França (traba-lhadores e familiares). Recorde-se que o ONI não tem jurisdiçãosobre toda a imigração francesa, não controlando, por exemplo,a proveniente de países africanos que foram colónias francesas.Além do número de imigrantes de cada nacionalidade referida,

B11

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Imigração de trabalhadores permanentes e seus familiares em França,segundo as nacionalidades, por anos

QUADRO N.o 32

Anos

1950

19511952

1953

1954

1955

1956

1957

1958

1959

1960

19611962

19631964

1965

1966

1967

1968

1969

Total

Espanhóis

N.»

2 242

2 044

2 759

2 553

21202 622

9 415

24 466

24 640

16 577

30 493

60 505

89 583

83 091

92 849

7610153144

36 559

30 403

34 655

676 821

%

11,6

7,87,0

12,6

12,9

11,113,2

20,3

26,1

31,3

42,0

49,4

56,0

52,2

46,2

36,7

28,6

22,5

20,4

15,4

31,8

Italianos

N.«

11319

19 263

32 603

14 549

11357

17 844

57 477

87120

59 095

26 445

30 337

39 915

35 421

22 446

18 544

26 634

21305

17 01111024

10 463

570 172

%

58,6

73,382,8

71,9

69,3

75,4

80,5

72,3

62,7

49,9

41,8

32,6

22,1

14,1

9,212,8

11,5

10,5

7,44,7

26,8

Portugueses

N.o

314418650690747

1336

1851

4 640

6 264

4 8386 434

10 492

16 798

29 843

51668

60 267

63 611

59 59758 741

110 614

489 813

%

1,61,61,73,44,65,62,63,86,69,18,98,6

10,5

18,8

25,7

29,134,2

36,739,4

49,1

23,0

Outrasnacionalidades

N.a

5 432

4 554

3 354

2 451

21691874

2 636

4 318

4 329

5151

5 343

11469

18 29523 723

37 963

44 490

47 810

49145

48 809

69 403

392 718

%

28,2

17,3

8,512,1

13,2

7,93,73,64,69,77,39,4

11,4

14,9

18,9

21,4

25,7

30,3

32,8

30,8

18,4

Total

19 307

26 279

39 366

20 243

16 393

23 676

71379

120 544

94 328

53 011

72 607

122 381

160 097

159 103

201 024

207 492

185 870

162 312

148 977

225135

2 129 524

FONTE: Statistiques de 1'Immigration, O, N. I,

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entrados em França de 1950 a 1969, o Quadro n.° 32 indica tambémo valor percentual da imigração de cada nacionalidade, em relaçãoao total da imigração do respectivo ano, e, do mesmo modo,para o total dos vinte anos referidos.

A entrada de trabalhadores permanentes estrangeiros e seusfamiliares era França sofreu um grande incremento ao longo doperíodo estudado: de pouco mais de 19 000 pessoas em 1950, pas-sou-se para cerca de 225 000 vinte anos depois. No total dos vinteanos considerados, este movimento atingiu 2129 524 imigrantes,sendo 1 577 823 trabalhadores permanentes e 551701 pessoas dassuas famílias.

Ao longo do período analisado, a imigração de trabalhadorese pessoas das suas famílias em França tem-se processado comsensíveis variações dos valores anuais. Nessas variações têm re-flexo o comportamento das correntes imigratórias das váriasnacionalidades. Assim, o período de alta imigração de 1956 a 1958está em relação com os três anos de maior imigração de italianos;o quinquénio de 1931 a 1965 é dominado pelo elevado númerode imigrantes espanhóis entrados em França; e o ano de 1969é marcado pelo maior valor registado de imigração anual de tra*balhadores e seus familiares de uma mesma nacionalidade no pe-ríodo de vinte anos estudado, ocorrido com a entrada naquelepaís, de 110 61Jf portugueses.

Se bem que, no conjunto dos vinte anos em referência, o totalde imigrantes espanhóis, italianos e portugueses represente 81,6 %do total da imigração francesa controlada pelo ONI, é de assinalarque se vem a reforçar a tendência no sentido de uma maior diver-sidade de proveniências dos trabalhadores e suas famílias entradosem França. Desde 1965, verifica-se que mais de 20 % da imigraçãofrancesa corresponde a outras nacionalidades que não as atráscitadas, e, a partir de 1967, essa percentagem tem ultrapassadolevemente 30 %. Este fenómeno está, evidentemente, relacionadocom o declínio da imigração de italianos e espanhóis, substituídaem parte pela afluência de imigrantes provenientes de outrospaíses para preencher as necessidades que eram satisfeitas pelosimigrantes das proveniências tradicionais. Assim, nos últimosdez anos, sensivelmente, está a tomar relevo a imigração demarroquinos, jugoslavos e tunisinos, no que respeita ao movimentoimigratório sob a alçada do ONI.

O que se disse sobre a evolução da composição da imigraçãosegundo a nacionalidade de trabalhadores e seus familiares entra-dos naquele país, é confirmado pela análise dos valores percentuaisapresentados no Quadro n.° 32, com os quais se desenhou a Fi-gura n.° 7. Esta Figura documenta expressivamente, segundo nosparece, a sucessão dos vários períodos dominados pela imigraçãoproveniente, primeiro, da Itália, depois, da Espanha e, ultima-mente, de Portugal,

373

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100

1950

Composição da imigração francesa sob a jurisdição do O, N, I.,pelas principais nacionalidades. 1950-1969

OUTRAS NACIONALÍDADES

1969

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3.8. A colónia portuguesa em França

Não queremos deixar de terminar a apresentação destesbreves elementos de estudo sobre a emigração portuguesa paraFrança sem um apontamento sobre o número provável de portu-gueses que viviam em França no final de 1969.

No n.° 7-8 da revista Análise Social, foi publicado um tra-balho, já citado, de J. C. FERREIRA DE AIMUJÚA, no qual esteAutor calculou os efectivos prováveis da colónia portuguesa emFrança no último dia de 1963.

Tomaremos como ponto de partida esse cálculo, porque ométodo exposto e utilizado pelo Autor nos parece correcto e usa-mos os mesmos dados estatísticos. Aceitando, assim, que em 31de Dezembro de 1963 se deveriam encontrar a viver em França101,3 milhares de portugueses, podendo atribuir-se ao resultadoobtido, com faz aquele Autor, «um erro relativo provável da ordemde ± 5 %», pelos motivos apresentados naquele trabalho, podere-mos prosseguir o cálculo segundo o método adoptado por FERREIRADE ALMEIDA até ao último ano em que há dados estatísticos dispo-níveis, para o efeito.

Sobre a entrada de trabalhadores permanentes e seus fami-liares portugueses em França, há dados conhecidos até ao fimdo período que temos estudado; mas sobre a obtenção da nacio-nalidade francesa por portugueses radicados em França, só nosfoi possível encontrar dados até 1968, no mais recente «AnnuaireStatistique de Ia France» que encontrámos na biblioteca do I.N.E..

Durante os anos de 1964 a 1968, inclusive, entraram emFrança, segundo o O.NJ., 293 884 portugueses. No mesmo período,naturalizaram-se franceses 3064 portugueses que residiam naFrança metropolitana. Subtraindo o número de naturalizados aodos imigrados, obtem-se, para o conjunto deste período de cincoanos, o saldo de 290 820 portugueses que aumentaram a colóniaportuguesa já estabelecida em 1963. Deste modo, é de aceitarcomo provável o número 392,1 milhares como sendo o dos portu-gueses em França no fim do ano de 1968,

Em 1969, entraram naquele país 110 614 portugueses, e aindanão sabemos quantos cidadãos portugueses residentes em Françaobtiveram a nacionalidade francesa durante esse ano. Somandoo número de portugueses chegados a França em 1969 ao dos quejá aí se encontravam no fim de 1968, obtemos o total de 502,7milhares. Dados os quantitativos das naturalizações efectuadasanualmente desde 1964, supomos que, em 1969, o número de por-tugueses residentes na França metropolitana que obteve a naciona-lidade francesa foi inferior a 2700.

Poderemos, assim dizer, sem andar muito longe da verdade,que, em fins de 1969, deviam viver em França meio milhão, sensi-velmente, de portugueses, ou, com grande probabilidade de certeza,

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entre 1ÍÍ5 000 e 525 000, aceitando uma variação de 5 para maisou para menos no primeiro resultado obtido.

Verifica-se, porém, que as estatísticas oficiais publicadas peloMinistério do Interior de França davam conta da existência de367 284 portugueses a residir naquele país em 31 de Dezembrode 1968. Ora o número que calculámos para aquela data foi de392,1 milhares. Há, portanto, uma diferença de 24,8 milhares querepresentam um desvio de 6,3 % que se pode considerar aceitávelpara o nível de rigor deste trabalho, dadas as condições em quese utilizam os dados estatísticos e tendo como provável que por-tugueses radicados em França tenham saído daquele país paraqualquer outro, e como possível uma sub-avaliação da colóniaportuguesa que vicia as estatísticas oficiais francesas, motivadapor as condições de vida de alguns portugueses em França torna-rem praticamente impossível o seu controle rigoroso. Continuamos,assim, a considerar como prováveis os resultados que se obtiveram.

Não são contados os retornos a Portugal de emigrantes quetenham ido para França, não só porque há apenas dados sobre osque foram feitos por emigrantes oficiais, como também porqueesses dados revelam que não há praticamente retornos de Françapara Portugal, e ainda porque o conjunto das informações de quese dispõe não dá conta da existência, no período considerado, deum movimento relevante de retorno definitivo dos emigrantes por-tugueses que foram para França. Desconhece-se também o númerode portugueses que, tendo entrado em França, saíram daquelepaís para outro qualquer, pelo que esse movimento não é tidoem conta no cálculo atrás efectuado, o mesmo sucedendo com onúmero de óbitos e de nascimentos havidos entre os portugueseslá fixados. Note-se que, além dos trabalhadores e suas famílias,há outros portugueses residentes em França, designadamente estu-dantes e estagiários, mas o seu número é certamente insignificanteno total da ordem de meio milhão de portugueses que se deviamencontrar naquele país no final de 1969.

IV

CONCLUSÃO

4.1. Súmula dos principais resultados obtidos

Pensa-se que pode ser útil apresentar, na conclusão destetrabalho, uma súmula dos principais resultados que se foramobtendo na análise a que se procedeu de algumas características

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da emigração portuguesa de 1950 a 1969, quer no seu conjunto,quer só na parte que se dirigiu para França.

De acordo com o método adoptado, desdobrámos a emigraçãoportuguesa em várias componentes e, após o cálculo da emigraçãoclandestina provável para França, apurámos a emigração efectiva.A partir dos cálculos feitos, foi possível estabelecer as relaçõesentre as várias componentes, tanto para o conjunto da emigraçãoportuguesa, como no que respeita à emigração para França. Assim,calculámos que de 1950 a 1969 saíram de Portugal (Continentee Ilhas Adjacentes) 1127 031 emigrantes, dos quais j89 813 paraFrança (emigração efectiva). As estatísticas oficiais indicam, res-pectivamente, 989 890 e 342145 emigrantes, no mesmo período(emigração oficial). A emigração clandestina para França atingiu,lios vinte anos em referência, segundo os nossos cálculos, 241 811pessoas. A emigração legalizada atingiu, de 1963 a 1969, 104 670pesssoas, das quais 95 772 tiveram como destino a França.

A análise da distribuição da emigração efectiva portuguesapelos vários países de destino mostra que, no conjunto do período,a França absorveu 1^3,5 % dos emigrantes portugueses, seguidado Brasil com 27,6%. Porém, observada esta característica aolongo do tempo, verifica-se que os dois países indicados se suce-deram como principal polo de atracção da corrente emágratóriaportuguesa, sendo desse modo possível identificar um «períodobrasileiro» até 1958 e um «período francês» a partir de 1963. Osnúmeros seguintes parecem-nos significativos: a emigração para oBrasil atingiu o seu ponto culminante em 1952, ano em que saírampara aquele destino Ifl 518 emigrantes que representaram 87,6 %da emigração portuguesa desse ano, e os valores mínimos regis-tados correspondem a 1969, com 2537 emigrantes que representa-ram apenas 1,7% da emigração efectiva portuguesa desse ano;a emigração portuguesa para França coníiecei os seus valoresmais diminutos, em termos absolutos, em 1950 com 314 emi-grantes, e, em percentagem, em 1951, com 1,2 % da emigraçãoefectiva desse ano, ao passo que os valores máximos registam-seem 1969, ano em que "entraram em França 110 61Jf portuguesesque corresponderam a 72 % da emigração efectiva portuguesatotal desse ano.

O estudo das origens regionais das correntes emigratóriasportuguesas só pôde ser feito ao nível da emigração oficial parao conjunto dos vinte anos analisados, tendo-se apurado aue osdistritos que mais contribuíram para o conjunto da emigraçãooficial desse período foram o Porto, com 9,2 %, Funchal, com8,4 %, Braga, com 8,2 %, Aveiro, com 8,0 % e Viseu, com 6,8 %.No que respeita à emigração oficial para a França, no total doperíodo estudado, a ordem decrescente é diferente; Braga (14,4 %),Leiria (10,5%), Porto (10,1%), Viana do Castelo (9,1%) e Cas-telo Branco (8,7%). Tanto para a emigração oficial total como

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para a emigração oficial para França, os distritos que menosemigrantes forneceram foram os distritos do Alentejo (Beja, Évorae Portalegre).

Feita a relação da emigração oficial a que deram origem coma respectiva população residente, ordenaram-se os distritos doContinente e Unas Adjacentes segundo a ordem decrescente deum índice que indica a intensidade que a corrente emigratóriaoficial atinge nos diversos distritos, tendo em conta a populaçãoresidente. No que se refere ao total da emigração oficial, os luga-res cimeiros aa referida escala são ocupados pelos distritos dePonta Delgada (3,10), Funchal (2,80), Horta (2,50), Guarda(1,90), e Bragança (1,80) e, no respeitante à emigração oficialpara França, pelos distritos de Viana do Castelo (2,93), Guarda(2,65), Castelo Branco (2,41), Leiria (2,28) e Braga (2,14).

As relações mais nítidas eme se detectaram entre destinos eorigens, no conjunto do período estudado, respeitam à emigraçãooficial das Ilhas Adjacentes que se dirige em altas percentagenspara a América do Norte ÍAcores) e para a Amén>a ân Sul(Madeira) e também aos distritos de Beja, Évora e Portalegre,cuja emigração oftc,al se dirigiu, em grande percentagem, parapaíses europeus.

No que respeita à idade das pessoas que constituíram a emi-gração oficial portuguesa de 1950 a 1969, a nota mais salienteé que cerca de dois terços dos emigrantes eram indivíduos commenos de 30 anos.

No total do período estudado, a emigração oficial foi consti-tuída por 60 % de homens e lfi % de mulheres. Porém, nesse mo-vimento para França a percentagem de homens é um pouco maiselevada (65,5%). De uma maneira geral, a percentagem de ho-mens é mais elevada nos anos em que se inicia um período deaumento dos efectivos da corrente emigratória facto que se veri-fica quer para o conjunto da emigração oficial, quer para a emi-gração oficial para França. No último quinquénio, para o totalda emigração oficial, e na segunda metade do período em análise,para a emigração oficial para França, verifica-se uma tendênciapara a participação feminina nos contingentes migratórios seelevar, sendo, no entanto, o ano de 1969 uma excepção a estatendência.

Se bem que, no total do período, os emigrantes isolados te-nham constituído a maior parte (57,8 %) da emigração oficialportuguesa, há uma tendência pronunciada para os efectivos daemigração familiar atingiram valores cada vez mais importantes.Para a importância crescente da emigração familiar contrlbueum aumento observável do número médio de pessoas por famíliaoficialmente emigrante, ao longo do período observado. Na emi-gração oficial para França, nos anos de 1955 a 1969, a emigraçãoindividual constituiu 58,8 % desse movimento, sendo notável tam-

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bém a tendência para o aumento da emigração familiar que, nestemovimento, tem como característica específica o elevado númerode emigrantes em famílias que saem para se juntar ao respectivochefe, já emigrado.

Os elementos estatísticos recolhidos sobre a composição daemigração oficial total e da emigração oficial para França, nosanos de 1955 a 1969, por grandes ramos de actividade a ave wer-tenciam os emigrantes, permitem verificar uma certa diferençaentre os dois movimentos no que respeita a esta característica.No total do período de 15 anos indicado, a emigração oficial totalfoi constituída por 35,6 % de pessoas activas com ocupação,28,4 % de emigrantes oriundos do sector primário, 19,4 % dosector secundário, 7,4 % das actividades terciárias e 9,2 % deinválidos e inactivos. Na emigração oficial para França a compo-sição foi como se segue: 30,6% dos emigrantes pertenciam aosector primário, 29,5 % ao secundário, 3,9 % ao terciário, 27,8 %eram activos com ocupação e 8,2 % inválidos e inactivos.

Foi-nos possível fazer o cálculo da emigração clandestina paraFrança, de acordo com o método adoptado, verificando que essemovimento assume uma grande importância na emigração efectivaportuguesa total e, ainda mais, na emigração para França. Onúmero que se apurou de 241811 emigrantes clandestinos paraFrança representa 49A % da emigração efectiva portuguesa paraaquele país, de 1950 a 1969, e 21,5 % da emigração efectiva por-tuguesa para todos os destinos, no mesmo período de vinte anos.No quinquénio de 1965 a 1969, a emigração clandestina repre-sentou 32,2 % da emigração efectiva total e 48,6 % da emigraçãoefectiva para França.

Verificou-se, porém, que, nos anos de 196 If a 1968, os dadosestatísticos franceses não concordam com os portugueses sobreo modo — legal ou clandestino — do movimento migratório. Assim,enquanto, a partir dos dados portugueses, a emigração clandestinarepresentou 37,0 % da emigração efectiva portuguesa para aqueledestino, segundo as estatísticas oficiais francesas 93,4 % dos por-tugueses entrados em França foram aí sujeitos à regularizaçãoda sua situação de imigrantes, naquele quinquénio.

Tendo-se calculado o coeficiente de correlação entre os índi-ces que exprimem a evolução dos quantitativos da entrada detransferências privadas no país e da emigração efectiva nos anosdo período estudado, obteve-se o valor de 0,922 que nos parecesignificativo O montante do crédito de transferências privadas,de 1950 a 1969, é de 52 637 milhares de contos.

A imigração portuguesa representa 23,0 % da imigração fran-cesa sob a jurisdição do O.N.I. no total do período de vinte anosestudado, verificando-se, todavia, que ao longo do período essapercentagem tem variado desde o valor mínimo de 1,6%, em 1950

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e 1951 (314 e 418 imigrantes portugueses, respectivamente), aovalor máximo de 49,1 %, em 1969 (110 614 imigrantes).

Em virtude da elevada imigração de portugueses para França,a colónia portuguesa naquele país devia atingir, segundo os cál-culos efectuados, cerca de meio milhão de pessoas ou, muito prova-velmente, entre 475 000 a 525 000 indivíduos no último dia do anode 1969.

4.2. Alguns comentários e sugestões

O trabalho que fizemos sugere-nos algumas reflexões quegostaríamos de expressar na conclusão deste estudo.

A primeira diz respeito à necessidade de investigação sobreo fenómeno da emigração portuguesa.

É um facto bem patente o nível incipiente da investigaçãosocial em Portugal e as enormes dificuldades com que lutapara poder progredir. Esta situação deve-se, certamente, a muitosfactores, entre os quais avulta a falta de um ensino superior bá-sico das ciências sociais no nosso país, e relaciona-se com o nívele ritmo do desenvolvimento português e especialmente com certascaracterísticas da sociedade em que vivemos 10. Ora, se muitoainda falta no sentido de se criarem as condições indispensáveispara que a investigação no domínio das ciências sociais seja umarealidade aceite e suficientemente desenvolvida em Portugal, averdade é que não faltam, antes pelo contrário, temas sobre osquais interessaria investigar.

Assim, um dos factos que, neste momento, consideramos demaior interesse como objecto de investigação social no nosso paísé precisamente a emigração. O interesse e a importância do es-tudo deste fenómeno decorre de vários motivos, não só meramentecientíficos, como até de utilidade prática. Com efeito, seria degrande interesse o estudo aprofundado da emigração portuguesarelacionada com o processo de mudança que está em curso nasociedade portuguesa, o qual é também bastante mal conhecido.Dada a especificidade de certas variáveis que ocorrem na definiçãoda realidade social global portuguesa contemporânea no contextodos países europeus e de outras sociedades mais comparáveis àportuguesa segundo o critério do processo de mudança, o estudoda emigração portuguesa, nessa perspectiva, poderia trazer al-guma contribuição ao progresso das ciências sociais, designada-mente da Sociologia. Por outro lado, não parece muito difícilreconhecer-se a utilidade imediata de que o estudo deste fenómenose reveste, neste momento, no nosso país, dada a necessidade

io Ver FERREIRA DE ALMEIDA, J.C. «Situação e Problemas do Enaiiio deCiências Saciais em Portugal»» in Análise Social, VI (22-23-24), 1968, págs.697-729.

S80

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cada vez mais premente de se identificarem objectivamente osproblemas que surgem a vários níveis, decorrentes da elevadaemigração a que temos assistido, especialmente nos últimos dezanos, e de se encontrarem as soluções mais adequadas para osproblemas que esse movimento suscita.

Deve reconhecer-se; porém, que o estudo de um fenómenocomplexo como a emigração exigirá o concurso de especialistasde várias disciplinas, principalmente da Demografia, História,Economia, Sociologia, Antropologia Cultural e Psicologia Social.Importa, por isso, que se criem condições para a produção deestudos sobre a emigração segundo as várias perspectivas e mé-todos das diferentes ciências a que interessa recorrer, e é dese-jável que se estabeleça um plano comum de pesquisas, de modoa garantir-se a maior coordenação possível das diversas análisesdo objecto da pesquisa.

Ao longo deste trabalho deparam-se-nos, além de outros,vários temas cuja vantagem em serem estudados em profundi-dade imediatamente se apercebe:

a) pensamos que se deveria estudar, em separado, a emi-gração das Ilhas Adjacentes, ou, de preferência, aemigração de cada um dos arquipélagos, porque têmcaracterísticas muito especiais e diferentes da emigraçãode Portugal Continental, concluíndo-se daqui que, domesmo modo, há toda a conveniência em estudar, tam-bém em separado, a emigração só do território conti-nental português;

b) poderia ter bastantes vantagens o estudo de tipo mono-gráfico do movimento emigratório para cada um dosprincipais destinos da emigração portuguesa, tendo emvista, principalmente, o apuramento da emigração clan-destina para esses destinos;

c) tendo em conta a emigração clandestina, seria muitoimportante fazer-se uma análise dos destinos e dasorigens dos fluxos emigratórios ao nível de concelho, ou,pelo menos, de distrito;

d) dada a importância da emigração portuguesa paraFrança, o estudo das condições em que é feita essa emi-gração, da adaptação dos emigrantes portugueses emFrança e dos seus problemas, e de certos comportamentosque podem afectar a validade das estatísticas oficiais fran-cesas sobre a matéria deveria igualmente ser efectuado;

e) também o estudo do retorno de emigrantes, suas causase efeitos ao nível local e nacional poderia ser um temade investigação;

}) pensamos que o estudo da emigração espanhola e deoutros países da orla mediterrânia seria de algum inte-

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resse para a compreensão da emigração portuguesa edas suas tendências;

g- partindo dos vários estudos que sobre o assunto já setêm publicado em muitos países, conviria inventariar,relacionar, e aprofundar o que se tem apurado sobreas causas da emigração e experimentar o valor interpre-tativo das várias teorias propostas e hipóteses elaboradasperante a emigração portuguesa;

h) recorda-se, por fim, que há um trabalho fundamentale básico a fazer que é o da recolha e classificação sis-temáticas de toda a documentação e informação existenteno pais e no estrangetiro sobre a emigração portuguesa,e que, em larga medida, esse trabalho é condição prévianecessária para a viabilidade de qualquer investigaçãoque se queira fazer em boas condições técnicas sobreeste assunto.

Numa ocasião em que se começaram a erguer novas estru-turas administrativas onde se tratarão os problemas da emigraçãoportuguesa, talvez se possa formular o voto de que não sejaesquecido que há bastantes desvantagens em definir princípios eactuações sem um conhecimento objectivo e tanto quanto possívelcompleto da realidade sobre que se pretende actuar, o que implicaa necessidade de se incrementar a investigação no domínio emcausa, proporcionando os meios humanos e materiais necessáriospara levar a cabo essa tarefa.

O segundo ponto que achamos de interesse incluir nestaconclusão refere-se às fontes de informação oficiais portuguesassobre a emigração.

Os organismos oficiais que em Portugal fornecem dadossobre a emigração são, como já se disse, o Instituto Nacional deEstatística, e a ex-Junta da Emigração, actual Secretariado Na-cional da Emigração.

O «Boletim da Junta da Emigração» era a mais completafonte de informação sobre a emigração portuguesa, mas costu-mava ser publicado bastantes meses após o termo do ano a quese referia. Os dados publicados pelo I.N.E. vêm incluídos actual-mente, nas «Estatísticas Demográficas», que normalmente apa-recem poucos meses depois do fim do ano a que respeitam, massão menos completos que os do «Boletim da Junta da Emigração».

Em relação à actual gama de informações fornecidas pelasduas referidas fontes oficiais, podem observar-se algumas faltasque seriam facilmente supridas com uma maior especificação dascategorias consideradas presentemente sobre certos dados, porexemplo, os graus de instrução e as profissões dos emigrantes.

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Alguns outros elementos, porém, nâo são neste momento apresen-tados e teriam interesse, como a naturalidade (de preferência, oconcelho) e a situação dos emigrantes na profissão. Mas a prin-cipal falta que nas actuais informações oficiais sobre a emigraçãoportuguesa se deve registar é a que se refere às legalizações,visto que seria do maior interesse que se conhecessem as caracte-rísticas dos emigrantes que procedem à legalização da sua si-tuação e isso não é possível actualmente. Espera-se que futura-mente se apresentem cálculos de emigração clandestina provávelpara França baseados nos dados oficiais franceses fornecidospelo O.N.L sobre a entrada de trabalhadores portugueses e seusfamiliares naquele país, tal como se faz no «Boletim da Junta daEmigração» referente a 1969, e não, como em alguns númerosanteriores da mesma publicação se apresentou, a partir das esta-tísticas do Ministério do Interior francês, visto que osi últimossão menos exactos do que os primeiros.

Quanto à actual periodicidade com que se apresentam osdados estatísticos sobre a emigração portuguesa, seria desejávelque fosse encurtada, de modo que o movimento emigratório, pelomenos no que respeita à origem e destino dos emigrantes portu-gueses, pudesse ser conhecido e estudado com maior oportunidade,objectivo que será difícil de atingir enquanto só dispuzermos deestatísticas anuais. Já representaria algum progresso que trimes-tralmente fossem publicados alguns dados estatísticos sobre aemigração portuguesa.

Finalmente, não queremos deixar de assinalar, a título indi-cativo, algumas consequências da emigração na sociedade portu~guesa dos nossos dias.

Neste momento, os efeitos mais perceptíveis da emigração,ao nível nacional, situam-se nos domínios da demografia e daeconomia portuguesas, principalmente no campo da evolução dosníveis e formas de participação da população no processo produ-tivo.

Efectivamente, parece certo que em extensas regiões do paísse verifica um progressivo despovoamento, nalgumas zonas nãojá ao ritmo que era conhecido há vários anos em virtude dasmigrações internas, mas a outro muito mais intenso que, emregra, se inicia pela saída de homens e rapazes e continua pelade mulheres e crianças e até de famílias inteiras que emigrampara o estrangeiro, designadamente Dará França, desde 1962.Noutras zonas, sobretudo o Alentejo, é com a grande emigraçãoem direcção a países europeus, há cerca de dez anos, que começaa assistir-se também à saída de emigrantes em número signifi-cativo, como que despertando uma potencialidade de mobilidadeespacial para o estrangeiro que praticamente se desconhecianessas populações.

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Com a saída de gente jovem, principalmente, em númeroimportante, são de esperar consequências sensíveis nos saldosfisiológicos que têm tendência a decrescer em virtude duma baixada natalidade. Aliás, já sucede que em numerosos concelhos doContinente a emigração é superior ao saldo fisiológico, e noutrosaté já se registam saldos fisiológicos negativos. Por outro lado,acentuar-se-á o envelhecimento da população também pelo factode que as pessoas idosas emigram menos que as dos outrosgrupos etários. As consequências demográficas da emigração são,assim, não só quantitativas, porauanto também alteram a estru-tura qualitativa da população. Este processo é, evidentemente,passível de ocorrer a ritmos diferentes conforme as regiões.

A saída para o estrangeiro de grande número de pessoas,na sua maior parte pertencentes à população activa do país, éum elemento a ter em conta na situação do mercado do trabalhoem Portugal. Em alguns sectores da actividade económica o fenó-meno tev& ^a.ínres rer^^ussões ^o mie noutros, T«as de cm^^nerforma produzem-se efeitos a nível nacional. Até certo limite,a emigração pode ser compensada pela existência de mão-de-obraem situação de desemprego ou, principalmente, de sub-empresro;mas depois é equivalente à contracção desse factor da produçãoe esta situação não pode deixar de se repercutir nos níveis doscustos e preços.

Por outro lado, tem-se verificado que os emigrantes portu-gueses enviam parte dos rendimentos que obtêm do trabalho noestrangeiro para Portugal, atinando essas transferências umvalor muito significativo de dinheiro entrado e posto a circularno país Os efeitos dessas remessas na balança de pagamentos ena canar.in^cle de e^n^ncj o fa rvocura e do consumo internossão, seguramente, muito importantes.

A conjugação de todas estas influências provoca uma sériede desajustamentos e reajustamentos que afecta a economia por-tuguesa, concorrendo para uma situação com aspectos difíceisde que a presente pressão inflacionária é, provavelmente, sintoma.

Não deve esquecer-se» também, aue a escassez de mão-de-obrapõe em evidência e obriga a repensar a organização das activi-dades produtivas, os processos tecnológicos usados, a produti-vidade obtida, e que tudo isto põe em causa estruturas económicase sociais vigentes, exigindo-se soluções novas para problemasnovos.

Porém, além dos efeitos da emigração nas esferas da demo-grafia e da economia portuguesas — que são os mais conheci-dos—, há outros igualmente importantes, relacionados tambémcom os primeiros, mas de natureza sociológica. Neste domínioestamos em terreno quase virgem, porque muito pouco se teminvestigado sobre a matéria.

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Pensamos que há vantagem em focar o assunto a dods níveisconceptualmente distinguíveis: o da sociedade portuguesa no seuconjunto, e o das comunidades locais e grupos sociais restritosonde os emigrantes estavam inseridos.

É no segundo nível indicado que a emigração se faz sentirde uma; maneira mais profunda e imediata porque origina emmuitos casos alterações importantes na vida social. Ê que asaída de numerosos membros de uma comunidade ou grupo, querpelo seu quantitativo, quer pelo® papéis que desempenhavam, põeem causa o funcionamento das instituições que tradicionalmenteregiam a vida social desse agregado. Pode assistir-se, então, asignificativas alterações na estratificação social, à formação denovas escalas de prestígio social, a uma mobilidade social maisintensa, à difusão de novos padrões de comportamento, à adapta-ção a novas formas de valores culturais socialmente aceites, àintrodução de novos valores e ao desaparecimento de outros, e aoutros fenómenos da mesma natureza. Tudo isto se conjuga paraque novas formas de vida social tendam a surgir, o que sempreimplica um certo número de tensões e de conflitos.

Ao nível da sociedade portuguesa no seu conjunto, talvez sepossa pensar que a emigração está a provocar situações quedevem concorrer para a acelaração do processo de mudança que,em Portugal, está a transformar muito lentamente a sociedadetradicional numa sociedade industrial.

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