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8/18/2019 Mário de Sá-Carneiro - Indícios de Oiro (1937)
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Mário de Sá-Carneiro
Indícios de Oiro (1937)
“Epígrafe”
A sala do castelo é deserta e espelhada.
Tenho medo de Mim. Qem so! "e onde chegei!...
A#i$ tdo %á foi... Em som&ra estili'ada$A cor morre - e até
o ar é ma rína...(em de )tro tempo a l' #e me ilmina -*m som opaco
me dili em +ei...
,aris$ lho de /0/1
“Salomé”
2ns3nia r45a. A l' a 6irglar-se em m7do$8' morta de lar$ mais
Alma do #e a la...Ela dan9a$ ela range. A carne$ alcool de
na$Alastra-se pra mim nm espasmo de segr7do...
Tdo é capricho ao se red3r$ em som&ras fátas...) ar4ma
endoidece$ po-se em c4r$ #e&ro...Tenho frio...
Ala&astro:... A minh;Alma paro...E o se corpo res6ala a
pro%ectar estátas...
Ela chama-me em 2ris. Mordora-se a chorar - ha se5os no se
pranto...Ergo-me em som$ oscilo$ e parto$ e 6o arder-me
,ilar da ponte de tédioQe 6ai de mim para o )tro.
@8is&oa$ fe6ereiro de /0/1
“16”
Esta inconstancia de mim pr3prio em 6i&ra9?oB #e me ha de
transp4r s 'onas intermédias$E segirei entre cristais de
in#ieta9?o$A retinir$ a ondlar... Soltas as rédeas$Mes sonhos$
leDes de fogo e pasmo domados a tirar A t4rre d;oro #e era o
carro da minh;Alma$
Trans6iar?o pelo deserto$ mri&ndos de 8ar -E e s3 me
lem&rarei nm &aloi9ar de palma...
As r?s h?o de coa5ar-me em rocos tons hmanos(omitando a
minha carne #e comeram entre estrmes...
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Fá sempre m grande Arco ao fndo dos mes olhos...A cada passo a
minha alma é otra cr'$E o me cora9?o gira> é ma roda de
c4res...
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Caía )ro se pensa6a Estrelas$) lar &atia so&re o me
alhear-me...
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A ponte le6adi9a e &a9a de E-ter-sidoEnferr%o - em&alde
a tentar?o descer...So&re fossos de (ago$ ameias de inda-#erer
-Manh?s de armas ainda em arraiais de ol6ido...
,ercorro-me em salDes sem %anelas nem portas$8ongas salas de
tr4no a espessas densidades$)nde os pInos de Arrás s?o esgar9adas
sadades$E os di6ans$ em red3r$ ansias lassas$ a&sortas...
Fa r45os fins de 2mperio em me rennciar -Caprichos de setim do
me desdem Astral...Fa e5é#ias de herois na minha d4r fedal -E os
mes remorsos s?o terra9os so&re o Mar...
“"islum#!e”
A horas flé&eis$ otonais -,or magoados fins de dia -A minha
Alma é ága fria
Em Inforas d;)ro... entre cristais...
“$%!#a!o”
Enroscam-se-lhe ao trono as serpentes doiradasQe$ César$ mandei
6ir dos mes 6i6eiros de frica.Mima a l5ria a na R Salomé
asiática...Em 6olta$ carne a arder R 6irgens spliciadas...
Mitrado de oiro e la$ em me trono de esfinges R
"entes rangendo$ olhos de ins3nia e maldi9?o R )s tes
coleios 6is$ nas infImias #e finges$Alastram-se-me em fe&re e
em garras de le?o.
Si&ilam os répteis... +o%as-te de %oelhos...Sange e escorre
%á da &oca profanada...Como &ailas o 6ício$ 3 torpe$ 3
de&ochada R"ensos sabbats de cio tes frenesis
6ermelhos...
Mas erges-te nm espasmo R e s serpentes domas"ando-lhes a
trincar te se5o n$ a&erto...
As tran9as desprendeste... ) te ca&elo$ incerto$2nflama
agora m halo a crispa9Des e aromas...
Em&alde mando arder as mirras consagradas>) ar apodrece
da ta per6ers?o...Tenho medo de ti nm calafrio de espadas RA minha
carne soa a &ron'es de pris?o...
Ar#eia-me o delírio R e sfoco$ es&race%o...A l' enri%ece
'e&rada em planos de a9o...A sange se 6irgla e se desdo&ra
o espa9o...
Tdo é locra %á #anto em redor al6e%o:...
Tra9o o manto e$ nm salto$ entre ma l' #e corta$Caio so&re a
maldita... Apnhalo-a em estertor..
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Atapetemos a 6idaContra n3s e contra o mndo. H "es9amos
panos de fndoA cada hora 6i6ida.
"esfiles$ dan9as R em&oraMal se%am ma ils?o... R
Cenários de mta9?o,ela minha 6ida fora:
Qero ser E plenamente>E$ o possesso do ,asmo. R Todo o
me entsiasmo$Ah: #e se%a o me )riente:
) grande doido$ o 6arrido$) perdlário do 2nstante R )
amante sem amante$)ra amado ora traído ...
8an9ar as &arcas ao Mar R "e né6oa$ em rmo de incerto
... R ,ra mim o longe é mais perto"o #e o presente lgar.
... E as minhas nhas polidas R 2déia de olhos pintadosMes
sentidos ma#iladosA tintas desconhecidas
Mistério dma incerte'aQe nnca se há-de fi5ar...Sonhador em
frente ao mar "ma ol6idada ri#e'a...
R Escada de )iro descidaAos pinotes$ #atro a #atro:...
3
R Em&ora nm fneral"esfraldemos as &andeiras>S3
as Cores s?o 6erdadeiras R Siga sempre o festi6al:
Qermesse R eia: R e rído:8o9a #e&rada: Tropel:@"efronte do
carrossel$E$ em ternra es#ecido...
Jitas de cor$ 6o'earia R )s atom36eis repletos>Ses
chaueurs H os mes afetosCom li&rés de fantasia:
Ser &om... =ostaria tanto
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"e o ser... Mas como! AfinalS3 se me fi'esse malE friria esse
encanto.
R Afetos! "i6aga9DesAmigo dos mes amigosAmi'ades s?o
castigos$
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Antiga #inta desertaEm #e os donos faleceram R ,orta de
cristal a&ertaSo&re sonhos #e es#eceram...
*m lago l' do lar Com m &ar#inho de corda...Sadade #e
n?o recorda R Lola de t7nis no ar...
*m le#e #e se rasgo R Anel perdido no par#e R 8en9o #e
aceno no em&ar#e"e A#ela #e n?o 6olto...
,raia de &anhos do slCom meninos a
&rincar "escal9os$ &eira-mar$Em tardes de cé
a'l...
(iagem circlat3ria
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) ága ao sol entornada...
*ma ga6eta secretaCom segredos de adltérios...,orta falsa de
mistérios R Toda ma estante repleta>
Se%a enfim a minha 6idaTarada de 3cios e 8a>
(ida de Café e ra$"olorosa$ sspendida R
Ah: mas de enle6o t?o grandeQe otra nem sonho o
pre6e%o... H A eterna mágoa dm &ei%o$Essa mesma$ ela me
e5pande...
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*m frenesi hialino arrepio
,ra sempre a minha carne e a minha 6ida.Ji m &arco de 6ela
#e paroEm s&ita &aía adormecida...
Laía em&andeirada de miragem$"ormente de 3pio$ de cristal e
anil$
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Me al6oro9o de oiro e laTinha por fim #e
trans&ordar... R Cai-me a Alma ao meio da ra$E n?o a posso
ir apanhar:
Paris, )ulho e a"osto de 191*
“'ino o!as”
Minha mesa no Café$Qero-lhe tanto... A garridaToda de pedra
&rnidaQe linda e fresca é:
*m sif?o 6erde no meioE$ ao se lado$ a fosforeira"iante ao me
copo cheio
"ma &e&ida ligeira.
@E &ani sempre os licoresQe acho poco ornamentais>)s
5aropes t7m coresMais 6i6as e mais &rtais.
So&re ela posso escre6er )s me 6ersos prateados$Com
estranhe'a dos criadosQe me olham sem perce&er...
So&re ela descanso os &ra9os
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A minha recorda9?o$E destes 6islm&res s?oAs minhas maiores
sadades...
@Qe hist3ria de )iro t?o &ela E fi her3i de no6elaQe
ator nenhm emprego...
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