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HISTÓRIA TOPOS & CLÁSSICOS 52 Cirurgião de renome, foi também um piloto com muito talento e agora assume a liderança do Clube Automóvel do Minho. Hoje vamos passar a conhecer melhor Mário Rogério Peixoto. Texto: José Mota Freitas Fotos: Arquivo do autor e de Rogério Peixoto Mário Rogério Peixoto PILOTO, MÉDICO E PRESIDENTE Mário Rogério Peixoto aderiu ao Clube Automóvel do Minho em 1985. Em 1988, a sua formação clínica levou-o a assumir funções, não só de médico, mas também de preparador físico do Team CAM. Ao mesmo tempo, o gosto pelo vídeo fez com que fosse o responsável pelos media da equipa bracarense. Na altura realizou muitos filmes de diversas competições, incluindo imagens inéditas onboard em pista, que um dia irá passar para formato digital e colocar à disposição de todos os entusiastas. Na altura, Rogério era já um reputado especialista em Cirurgia Geral no Hospital de Famalicão, onde muitas vezes chegava ao volante de um Ford Capri 1600 GT totalmente original, que era propriedade do seu pai. Algumas horas passadas diariamente em conversa com o autor destas linhas, fizeram com que, a partir dessa altura, passasse a acompanhar de perto toda a carreira do amigo e colega. Em 1990, lembramo-nos de ter dito um dia, no bar do Hospital, que ia fazer uma prova no Troféu Starlet. De facto Rogério Peixoto achava que guiava bem, que tinha capacidade para competir como piloto e Alfredo Barros logo apadrinhou a ideia, tendo-lhe sido colocado nas mãos um Starlet de Rui Lages, carro que vinha sendo utilizado por uma jovem da Póvoa de Lanhoso, infelizmente sem grande sucesso. A estreia teve lugar no Estoril nos dias 10 e 11 de Novembro. O carro estava completamente desalinhado e o piloto não tinha qualquer experiência, mas de facto saiu-se muito bem. Nos treinos obteve a 11ª posição e na prova conseguiu subir para um honroso oitavo posto, tendo realizado a sétima melhor volta da corrida, ganha por José Araújo, seguido por José João Magalhães. Este bom desempenho do piloto levou Alfredo Barros a olhar com outros olhos para o Dr. Rogério, e ficou logo assente que iria fazer o Troféu do ano seguinte, integrado no Team CAM. Para 1991, o modelo de Starlet foi alterado, dando origem ao Troféu com a nova geração de 1.3 Si, carro com 85 cavalos de origem, mais cinco ganhos para o

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Cirurgião de renome, foi também um piloto com muito talento e agora assume a liderança do Clube Automóvel do Minho.

Hoje vamos passar a conhecer melhor Mário Rogério Peixoto. Texto: José Mota Freitas Fotos: Arquivo do autor e de Rogério Peixoto

Mário Rogério PeixotoPILOTO, MÉDICO E PRESIDENTE

Mário Rogério Peixoto aderiu ao Clube Automóvel do Minho em 1985. Em 1988, a sua formação clínica levou-o a assumir funções, não só de médico, mas também de preparador físico do Team CAM. Ao mesmo tempo, o gosto pelo vídeo fez com que fosse o responsável pelos media da equipa bracarense. Na altura realizou muitos filmes de diversas competições, incluindo imagens inéditas onboard em pista, que um dia irá passar para formato digital e colocar à disposição de todos os entusiastas.Na altura, Rogério era já um reputado especialista em Cirurgia Geral no Hospital de Famalicão, onde muitas vezes chegava ao volante de um Ford Capri 1600 GT totalmente original, que era propriedade do seu pai. Algumas horas passadas diariamente em conversa com o autor destas linhas, fizeram com que, a partir dessa altura, passasse a acompanhar de perto toda a carreira do amigo e colega.Em 1990, lembramo-nos de ter dito um dia, no bar do Hospital, que ia fazer uma prova no Troféu Starlet. De

facto Rogério Peixoto achava que guiava bem, que tinha capacidade para competir como piloto e Alfredo Barros logo apadrinhou a ideia, tendo-lhe sido colocado nas mãos um Starlet de Rui Lages, carro que vinha sendo utilizado por uma jovem da Póvoa de Lanhoso, infelizmente sem grande sucesso.A estreia teve lugar no Estoril nos dias 10 e 11 de Novembro. O carro estava completamente desalinhado e o piloto não tinha qualquer experiência, mas de facto saiu-se muito bem. Nos treinos obteve a 11ª posição e na prova conseguiu subir para um honroso oitavo posto, tendo realizado a sétima melhor volta da corrida, ganha por José Araújo, seguido por José João Magalhães.Este bom desempenho do piloto levou Alfredo Barros a olhar com outros olhos para o Dr. Rogério, e ficou logo assente que iria fazer o Troféu do ano seguinte, integrado no Team CAM.Para 1991, o modelo de Starlet foi alterado, dando origem ao Troféu com a nova geração de 1.3 Si, carro com 85 cavalos de origem, mais cinco ganhos para o

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Troféu com a retirada do catalisador. A preparação resumia-se a um novo escape, suspensão TRD (molas), novo camber, rapport alterado, jantes OZ e pneus slick da Camac.O ano de 1991 foi pródigo em novidades, pois estrearam-se também o Troféu VW Polo G40, o Troféu Citroën AX GTi e o Troféu Renault Clio 16S.A primeira prova do ano era a mais indicada para Rogério Peixoto, pois assim tinha possibilidades de se estrear “em casa”, num traçado que bem conhecia: a Rampa da Falperra. Não fez as coisas por menos: o melhor tempo nos treinos e vitória na prova, no somatório das duas mangas, apesar de ter arrancado e realizado alguns metros da primeira subida com o travão de mão levantado. A inexperiência tem destas coisas. Nas posições seguintes ficaram Moreira da Silva, já um repetente do Troféu e Nuno Baptista, como se sabe, filho do grande campeão Fernando Baptista.Em Junho os Starlet fizeram a primeira visita a Vila do Conde e Rogério conseguiu levar o carro preparado na Salvador Caetano – Braga a um bom quarto posto, posição que repetiu 15 dias depois na pista do Estoril. Neste dia apenas perdeu o terceiro posto porque na última volta falhou uma passagem de caixa, metendo uma segunda em vez de quarta, o que o impediu de fazer o último ataque à segunda posição.Em Julho, nova prova no Estoril e Rogério desta vez foi terceiro, atrás de Nuno Batista e Rui Castro Lopo e à frente de Manuel Barbosa (irmão de João Barbosa) depois de uma luta intensa em que os três ficaram separados por algumas décimas.Mas a melhor prova do ano de Rogério Peixoto teria lugar no último fim-de-semana de Julho, em Vila do Conde. Nos treinos o melhor tempo foi para Moreira da Silva, estando Rogério no segundo lugar da grelha. Estes dois pilotos saltaram imediatamente para o comando, mas na sétima volta Rogério desfere um ataque na travagem para a Praia Azul, assumindo o comando, que não iria

largar até ao final. Gabriel Ferreirinha iria no entanto passar Moreira da Silva e terminaria a apenas 0.24 seg. do carro amarelo de Rogério Peixoto.No final desta jornada, Moreira da Silva comandava o Troféu Toyota Starlet com 90 pontos, seguido de Mário Rogério Peixoto com 87, Nuno Baptista com 86 e Rui Castro Lopo com 69.No final de Agosto os Starlet voltaram ao Estoril e Rogério fez mais uma excelente prova, que desta vez acabou mal... Rogério e o seu amigo Gabriel Ferreirinha andaram sempre juntos durante 11 voltas, até que na entrada da última volta, Rogério deu um toque involuntário no seu adversário, entrando ambos em pião, batendo no muro das boxes. Atendendo à perigosidade do local onde se encontravam os carros, foi mostrada a bandeira vermelha e a prova interrompida, valendo a classificação da volta anterior, isto é, venceu Ferreirinha seguido de Rogério e Moreira da Silva.Curiosamente, o muito público (surpreendentemente) que se encontrava nas bancadas da meta, aplaudiu bastante Ferreirinha e apupou bastante Peixoto, atribuindo-lhe culpa no acidente. Viu-se depois que essa atitude não terá sido a mais justa, pois um toque nestas circunstâncias pode sempre acontecer e, nas filmagens onboard do carro de Rogério, vê-se que quem alterou a trajetória para dentro foi Ferreirinha e por isso era exagerado atribuir culpas, se as houvesse, a Rogério Peixoto, sempre um piloto arrojado, mas um gentleman dentro e fora das pistas.No dia 12 de Setembro a caravana da velocidade foi à Rampa Porca de Murça e, aí, mandaram os transmontanos! Venceu Manuel Conceição, seguido

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por isso quase sem possibilidades de vencer o Troféu.Na última prova do ano, realizou outra boa exibição, com segundo lugar nos treinos e terceiro posto na prova atrás de Nuno Baptista e Moreira da Silva.No final, o Troféu Starlet foi entregue a Moreira da Silva (116 pontos), seguido de Nuno Baptista (114), Rogério Peixoto (105) e Rui Castro Lopo (92).Os homens do CAM estavam convencidos, pois Rogério Peixoto apesar de ter já 39 anos, demonstrou capacidade de condução acima da média e um arrojo e uma coragem ao volante apreciável, para quem não tinha qualquer experiência, o que foi apreciado por todos os seus colegas de Clube.Por isso, para 1992, foi decidido incluí-lo no Team CAM ao volante dos AX GTI de Troféu, onde iria fazer equipa com o experiente David Rodrigues. Os carros eram preparados na Filinto Mota - Braga, sob a supervisão de Amaro Nogueira, um excelente mecânico (também conhecido como “Chibo”), que ganhou notoriedade pelas suas participações em Pop Cross.A primeira prova do ano era a Rampa da Falperra (16 e 17 de Maio), e o traçado do Sameiro tinha levado um novo tapete de asfalto, o que levou o astuto Alfredo Barros a pedir que se fechasse o traçado durante uma tarde e se testasse a qualidade do mesmo. Claro que nesse teste, como não poderia deixar de ser, foram utilizados... os carros do Team CAM, o que foi muito bom para a adaptação ao Citroën, mas que infelizmente acabou mal. Numas das abordagens à Curva do Papa, Rogério Peixoto pensava que ainda estava a conduzir o Starlet e entrou na curva depressa demais, estragando bastante o seu carro. Como faltava uma semana para a Rampa, teve que andar toda a semana a correr para a oficina a acompanhar as reparações, mas no dia dos treinos o carro estava pronto.Curiosamente havia grandes dúvidas em relação às pressões dos pneus a usar. A Citroën portuguesa aparentemente também não dava uma grande ajuda

de Rui Castro Lopo, ambos pilotos de Chaves. Rogério Peixoto foi apenas quinto, mas manteve-se na luta pela vitória no Troféu. Nesta prova foi prejudicado por não ter realizado uma boa primeira subida e, por isso, na segunda não arriscou demasiado, pois era desnecessária uma batida antes das duas provas decisivas do Troféu.O Troféu Starlet terminava com duas idas ao Autódromo do Estoril, em Outubro e Novembro. Infelizmente na primeira das duas deslocações a Sul, Rogério não foi feliz, tendo realizado logo nos treinos dois piões seguidos, pois a pista estava demasiado escorregadia. Na prova (tinha o quarto tempo nos treinos), sofreu logo na primeira volta, um toque de Rui Castro Lopo, o que levou a que a roda traseira ficasse desalinhada, ficando

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e foi o próprio Alfredo Barros que telefonou para a Michelin, em França, a perguntar que pressões de pneus se deveria usar.Alinharam 21 pilotos e Rogério Peixoto foi nono classificado, numa prova ganha por Francisco Sande e Castro. Agora as coisas eram “mesmo a sério” e os adversários eram de grande categoria. Havia nomes na grelha como Mário Silva, Sande e Castro (vencedor no ano anterior), Nuno Batista, Hermano Sobral, António Bayona e muitos outros. Mas Mário Rogério Peixoto estava ciente das suas capacidades e a prova seguinte disputava-se em Vila do Conde.Nos dias 30 e 31 de Maio Rogério fez uma grande exibição. Os mecânicos, que tinham a chave do carro, esqueceram-se dos horários e regressaram do almoço quanto já decorriam os treinos, tendo Rogério ido para a pista já a 20 minutos do final da sessão. Mesmo assim. fez um excelente segundo tempo, o que o colocou na parte externa da primeira linha ao lado do grande Mário Silva.Rogério fez um arranque fulminante, assumindo o comando e foi com grande espanto de todos que o seu carro amarelo com as cores do Team CAM, Filinto Mota e da Vidropol apareceu na primeira posição no final dessa primeira volta. Logo a seguir Mário Silva assumiu o comando e na quinta volta, quando Rogério falhou uma passagem de caixa, tendo então um desentendimento com Pedro Barroso, que se meteu por dentro. Rogério fez um pião e atrasou-se, até porque começou a ter problemas de caixa. Mesmo assim, terminou na quarta posição, atrás de Silva, Nuno Batista e Armando Santos.Em Junho os AX foram ao circuito de Montmeló, em Barcelona e Rogério foi 13ª, seguindo-se uma jornada no Estoril em que foi oitavo. Nos dias 11 e 12 de Julho o Troféu AX voltou a Vila do Conde. Nos treinos, Rogério foi terceiro, posição que foi ocupando após o início da prova, que segundo o próprio piloto, terá sido uma das melhores da sua carreira. Rogério sentia que tinha motor para passar os que iam à sua frente, incluindo o próprio Mário Silva, mas a dada altura falhou uma travagem e foi parar acima do jardim. A falta de experiência levou a uma descontração exagerada que o fez perder um pódio certo, terminando mesmo assim no sexto posto. Mário Silva voltou a vencer ao volante do AX matrícula XC-05-05, seguido de Francisco Esperto e António Bayona. Faltavam nesta altura três provas para terminar o Troféu, todas a disputar no Autódromo do Estoril e Rogério Peixoto estava na quarta posição.A prova de 6 de Setembro correu muito bem aos pilotos

do Team CAM e Rogério teve uma excelente actuação, terminando no terceiro posto, atrás do vencedor Mário Silva e também de Hermano Sobral. Apenas sete décimas separaram o primeiro do terceiro classificados, que assim terminaram a prova “colados”. Depois de andar em nono lugar na primeira volta, passou em sétimo na terceira volta, sexto na oitava e por fim passou Armando Santos, David Rodrigues e António Bayona a duas voltas do fim, de forma a atingir o pódio. Mais uma excelente demonstração do talento de Peixoto, que assim entra para as duas provas finais do Troféu na segunda posição (ex-aequo com o seu colega de equipa David Rodrigues), apenas atrás do quase imbatível Mário Silva.A prova seguinte foi disputada em Setembro no programa do GP de Portugal de Fórmula 1 e, desta vez, o nosso piloto não foi tão feliz, sendo apenas sétimo. Atrasou-se por isso, na classificação absoluta do campeonato, mas o pior haveria de vir depois. Na prova final, no Estoril, a 7 e 8 de Novembro, Rogério Peixoto tinha um motor revisto e o seu carro estava com excelente andamento. Nos treinos obteve um excelente terceiro posto e estava muito confiante para a prova. Recorda que fazia as curvas 1 e 2 “a fundo”, mas infelizmente partiu o motor e a Citroën inexplicavelmente não pôde (ou não quis) fornecer outro propulsor, de forma a poder participar na prova. Assim, esteve ausente, não podendo somar pontos.

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No final do ano, Mário Silva (192 pontos) foi o vencedor do Troféu Citroën AX GTi, seguido por David Rodrigues (149), Hermano Sobral (141), António Bayona (140), Nuno Batista (138), Francisco Esperto (138) e Mário Rogério Peixoto (135), que assim foi sétimo, sem dúvida uma posição muito abaixo do que mereceria.Para a época seguinte, o Team CAM mudou o colega de equipa de Rogério Peixoto, que passou nesta altura a ser o consagrado Rui Lages. Os carros eram novamente preparados na Filinto Mota - Braga (que agora já não contava com Amaro Nogueira na oficina) e os carros passaram do habitual amarelo para uma decoração com base azul.A primeira prova do ano era como habitualmente a subida ao Sameiro. Rogério foi apenas 11º, o que não era um bom presságio para o resto da época, pois conhecia muito bem o traçado. O vencedor foi Sande e Castro e Rui Lages apenas o quarto classificado.Nas provas seguintes, Rogério mostrou que não conseguia as performances do ano anterior. O carro “não andava” e esse problema era sentido também pelo colega de equipa, que apesar de todo o seu reconhecido talento e experiência, também não saia de lugares medianos.

No Estoril (Maio), Rogério foi sexto e na Rampa da Arrábida (Junho) foi nono. A prova seguinte era o Circuito de Vila do Conde e por isso a equipa estava confiante em regressar aos lugares da frente, mas tal não iria acontecer. Rogério foi quinto nos treinos, mas na prova, na primeira passagem pela Curva da Praia Azul, Sande e Castro falhou uma passagem de caixa, o que resultou num toque com Peixoto, que foi obrigado a abandonar. Desde o início do ano o Team CAM já havia partido três motores, e andava no ar uma grande desconfiança dos homens de Braga em relação à Citroën portuguesa, que acusavam de não fornecer motores iguais a alguns adversários, inscritos por concessionários de Lisboa.Na prova seguinte, o GP de Portugal, Rogério não pontuou e a seguir os AX fizeram a Taça das Nações, também naquela que era na altura a nossa única pista permanente. Os carros do Team CAM curiosamente utilizaram nesta prova afinações fornecidas pela própria Citroën e o facto é que melhoraram bastante, o que contribui para desanuviar o ambiente.Sande e Castro ganhou novamente, Rui Lages foi quarto e Rogério o quinto classificado, estando nesta altura apenas em 11º do Troféu.Curiosamente, Rogério não terá aprendido muito com Rui Lages, sem dúvida um excelente piloto, mas pouco “académico”, que tinha sobretudo um talento puro e gostava de andar como a intuição o mandava, talvez pela sua anterior escola dos ralis. Peixoto não hesita em considerar Lages um excelente companheiro, mas essa era a sua maneira de ser e de pilotar.Nos dias 20 e 21 de Novembro os pilotos do Troféu AX fizeram a sua primeira prova na pista de Braga, inaugurada no mês anterior. Os homens de Braga decerto gostariam de brilhar em casa. Rui Lages foi segundo, atrás de Francisco Sande e Castro, mas Rogério Peixoto foi apenas sétimo, atrás de Bernardo Sá Nogueira.Faltava apenas a prova do Estoril, disputada a 5 de Dezembro, para terminar a carreira de Rogério Peixoto, que foi sexto classificado, terminando o Troféu no oitavo posto. Desta vez venceu Sande e Castro, seguido por Mário Silva e Hermano Sobral.

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A carreira de Rogério Peixoto terminou aqui. O seu filho Hugo começou, ainda em 1993, a competir em Karting e a partir desta altura o pai dedicou-se sobretudo a acompanhar a carreira do filho. Hugo Peixoto fez uma boa carreira no Karting, sendo um piloto de topo nos Troféus KIB dos anos 90, onde bateu, por exemplo, César Campaniço, e teve talvez o seu momento de glória na pista bracarense, quando, naquela que foi primeira prova de 24 horas de Karting realizada em Portugal e com cerca de 500 pilotos em pista, obteve a pole-position.Numa das suas grandes demonstrações de andamento em Karting, Alberto Carvalho, o responsável pela Salvador Caetano – Braga, ofereceu-lhe um Starlet para disputar o Troféu. Nesses anos de Toyota a sua melhor exibição terá acontecido na Rampa da Falperra de 2000,

em que venceu, agora já ao volante de um Yaris.A carreira de Hugo seguiu depois pelo Troféu Renault Clio, pelo CNV em Toyota Corolla e depois em Celica e, por fim, o Troféu Radical em 2006, onde chegou a comandar provas. Agora dedica-se à sua clínica dentária e é um elemento de destaque na organização do CAM.Ao mesmo tempo que acompanhava a carreira do filho, Rogério ia assumindo várias funções, não só no CAM, onde foi muitas vezes Director de Provas e Director Adjunto, mas também na própria Federação, tendo entre 1999 e 2001 exercido funções de Comissário Desportivo no ACP. Desempenhou também funções de Médico-Chefe no Rali de Portugal, coordenando todas as equipas médicas e acompanhando no carro o próprio António Mocho, ao longo do trajeto da prova.Agora, em 2017, Rogério Peixoto tem em mãos uma nova aventura, nesta sua grande paixão, os automóveis. Foi eleito Presidente do Clube Automóvel do Minho. Segundo o próprio, há para já que apostar em três grandes caminhos: o saneamento financeiro do clube, a organização do mesmo em moldes diferentes - tornando-o mais dinâmico e mais eficaz - e, por fim, arranjar estratégias de forma a “chamar” novamente os sócios para o Clube. Um esforço que já se sentiu no Circuito da Primavera, disputado em Junho, com a pista de Braga cheia de gente nova e entusiasmada a integrar a organização.Mário Rogério Peixoto, Assistente Graduado de Cirurgia no Centro Hospitalar do Médio Ave (V. N. Famalicão), foi Diretor do Departamento Cirúrgico durante seis anos e diretor do Bloco Operatório durante outros três, e ainda hoje mantém a chefia de uma equipa de urgência. A estas funções médicas, junta agora a Presidência do CAM.Para trás ficou uma demasiado curta carreira de piloto iniciada apenas aos 38 anos. Quem o viu correr, não tem dúvidas de era um piloto que, na sua geração, nada ficava a dever aos melhores, batendo facilmente muitos nomes com grande fama no automobilismo nacional.