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RUI MIGUEL ARAÚJO RODRIGUES ORIENTAÇÃO: MARIA CRISTINA TEIXEIRA SANTOS CO-ORIENTAÇÃO: RITA SILVA MONOGRAFIA LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO PORTO, 2010 MARKETING: UMA ABORDAGEM NUTRICIONAL MARKETING: A NUTRITIONAL APPROACH

MARKETING : UMA ABORDAGEM NUTRICIONAL · v RESUMO O marketing aplicado aos alimentos é um factor determinante na modulação dos ambientes alimentar e nutricional e, consequentemente,

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RUI MIGUEL ARAÚJO RODRIGUES

ORIENTAÇÃO: MARIA CRISTINA TEIXEIRA SANTOS

CO-ORIENTAÇÃO: RITA SILVA

MONOGRAFIA

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO

PORTO, 2010

MARKETING: UMA ABORDAGEM NUTRICIONAL

MARKETING: A NUTRITIONAL APPROACH

2

i

ÍNDICE

Pág.

Lista de Abreviaturas iii

Resumo | Palavras-Chave v

Abstract | Keywords vi

I. Introdução 1

II. Desenvolvimento do Tema 4

i. Características do Marketing na Alimentação 4

ii. A Comunicação no Marketing Aplicado aos Alimentos 8

iii. Alegações e Rotulagem Nutricional 11

iv. O Marketing na Diferenciação de Produtos 16

v. A Obesidade na sua Relação com o Marketing Alimentar 20

III. Análise Crítica e Conclusões 24

IV. Referências Bibliográficas 29

ANEXOS 35

ii

iii

LISTA DE ABREVIATURAS

ADA – American Dietetic Association (Associação Americana de Dietética)

CDC – Centers for Disease Control and Prevention (Centros para o Controlo e

Prevenção de Doenças)

CE – Comunidade Europeia

DDR – Dose Diária Recomendada

DL – Decreto-Lei

EFSA – European Food Safety Authority (Autoridade Europeia para a Segurança

dos Alimentos)

EUA – Estados Unidos da América

FDA – Food and Drug Administration (Administração de Alimentos e

Medicamentos)

g – Gramas

ILSI – International Life Sciences Institute (Instituto Internacional de Ciências da

Vida)

IMC – Índice de Massa Corporal

kcal – Quilocalorias

kJ – Quilojoules

ml – Mililitros

NHANES – National Health and Nutrition Examination Survey (Avaliação Nacional

de Saúde e Nutrição)

OGM – Organismos Geneticamente Modificados

OMS – Organização Mundial de Saúde

Reg – Regulamento

iv

SHOP – Supermarket Healthy Options Project (Projecto de Opções Saudáveis

nos Supermercados)

UE – União Europeia

µg - Microgramas

v

RESUMO

O marketing aplicado aos alimentos é um factor determinante na modulação dos

ambientes alimentar e nutricional e, consequentemente, das escolhas

alimentares. As preocupações relativas às tendências da Indústria Alimentar e às

suas campanhas de marketing têm levado os investigadores a debruçar-se acerca

da influência do marketing alimentar na Saúde Pública. A comunicação, como

elemento chave no planeamento estratégico do marketing, é um factor

determinante para o sucesso das intervenções de marketing na alimentação.

Esta, deve ser uma aposta forte dos profissionais de saúde, em conjunto com

outros profissionais, no sentido da promoção da saúde dos consumidores. O

marketing nutricional surge como uma particularidade do marketing alimentar e

tem sido aposta firme das empresas do ramo alimentar. A sua aplicação deve

estar de acordo com as respectivas disposições legais, nomeadamente, relativas

a alegações e rotulagem nutricional. O marketing nutricional é um factor

importante na diferenciação de produtos, em conjunto com as inovações

tecnológicas e com a criação de novos produtos, dos quais se destacam os

alimentos funcionais. A relação verificada entre o marketing aplicado a alimentos

e a Obesidade, especialmente em crianças e adolescentes, tem conduzido a

esforços no sentido da regulamentação do marketing alimentar. Apesar dos

esforços, estas estratégias têm tido, na maioria dos casos, pouco sucesso.

PALAVRAS- CHAVE

marketing alimentar; marketing nutricional; comunicação; alegações nutricionais;

alegações de saúde; rotulagem nutricional; diferenciação de produtos; Obesidade

vi

ABSTRACT

The food marketing plays a key role in the modulation of food and nutrition

environments and, thus, in the modulation of food choices. The concerns about

the trends of the Food Industry and its marketing campaigns have led researchers

to study the influence of food marketing in Public Health. Communication, as a key

element in the strategic planning of marketing, is crucial for successful

interventions in food marketing. This fact should bring a strong commitment

between health professionals, together with other professionals, and the promotion

of consumer’s health. Nutrition marketing is a particularity of food marketing and it

has been applied, quite often, in the businesses of food. The application of

nutrition marketing must be in accordance with its respective laws, particularly

nutrition and health claims and nutrition labelling. Nutrition marketing is an

important factor in product differentiation, together with technological innovations

and the creation of new products, such as functional foods. The correlation

between food marketing and obesity, especially among children and teenagers,

has led to efforts towards the regulation of food marketing. Despite these efforts, in

most cases, these interventions had little success.

KEYWORDS

food marketing; nutrition marketing; communication; nutrition claims; food claims;

nutrition labelling; differentiation of products; Obesity

1

I. INTRODUÇÃO

Nos últimos trinta anos tem-se assistido a mudanças drásticas no ambiente

alimentar e, consequentemente, no ambiente nutricional (1). Estas mudanças

podem explicar, em parte, as complexas alterações ao nível do comportamento

alimentar, tanto benéficas como deletérias, que se têm vindo a verificar (2). Apesar

de se considerar que é difícil medir o ambiente alimentar, este está conotado

como uma importante causa das tendências epidemiológicas verificadas nos

últimos anos, nomeadamente, no que diz respeito a doenças crónicas

directamente relacionadas com a alimentação (3). Um dos factores que tem

contribuído, em maior escala, para a alteração deste ambiente é o marketing

aplicado a alimentos (1).

O marketing foi definido por Kotler como o processo social pelo qual indivíduos e

grupos satisfazem as suas necessidades e desejos através da criação e troca de

produtos de valor com outros (4). Mais recentemente tem-se assistido a uma

evolução deste conceito no sentido do estabelecimento e manutenção das

relações de troca mutuamente benéficas com os clientes e outros grupos de

interesse. Estas relações de troca pressupõem a existência de duas ou mais

pessoas ou organizações e que estas possuam algo de valor para negociar, no

caso, o vendedor recebe o dinheiro e o cliente adquire o produto (5). O marketing

focaliza-se essencialmente nas necessidades, desejos e demandas dos

indivíduos que fazem parte do mercado-alvo e que se apresentam como

potenciais clientes (6). Dependendo do tipo de estratégia que segue, o marketing

pode ser classificado como marketing transaccional ou como marketing de

relacionamento. O marketing transaccional focaliza-se sobretudo nas trocas

2

individuais e isoladas, na satisfação das necessidades de um único cliente num

determinado momento e local e cujos objectivos principais são os de conquistar

novos clientes e realizar uma única venda, estabelecendo relações de curto prazo

com o cliente (6). Por sua vez, o marketing de relacionamento baseia-se no

estabelecimento de relações de longo prazo, mutuamente benéficas, com o

cliente interno, o cliente externo e outros grupos de interesse (6). Dependendo do

tipo de cliente a que o marketing está a ser aplicado, este pode ser classificado

como marketing interno ou como marketing externo. O marketing interno ou

endomarketing objectiva satisfazer clientes internos como pré-requisito para a

satisfação dos clientes externos (6). O marketing externo visa satisfazer o cliente

externo e as suas intervenções assentam na estratégia dos 4 P’s “Produto, Preço,

Place (Distribuição) e Promoção” (6):

• Produto: desenvolvimento e diferenciação do produto (concepção do produto,

criação de novos produtos, aperfeiçoamento de produtos já existentes para

suportar a concorrência no mercado);

• Preço: determinação do valor e preços (conjunto das decisões e acções

utilizadas para criar valor e estabelecer um preço aproximado que irá levar a

uma troca de marketing mutuamente benéfica);

• Place (Distribuição): gestão dos canais e da cadeia de valor

(estabelecimento de uma sequência de acções para administrar as relações

com outras organizações);

• Promoção: comunicação integrada de marketing (ajuda na construção de

relacionamentos através da coordenação de todas as mensagens de

marketing e da abertura do diálogo com o cliente e com outros grupos de

interesse).

3

Antes de se avançar para a implementação de qualquer estratégia de marketing,

é necessário pesquisar. A pesquisa de marketing envolve os seguintes passos (7):

1. Definir o problema e determinar a situação actual;

2. Projectar a pesquisa e identificar as fontes de dados;

3. Recolher dados primários;

4. Analisar e interpretar dados;

5. Seleccionar e implementar a melhor alternativa ética;

6. Avaliar os resultados.

O conceito de pesquisa de marketing não deve ser confundido com o conceito de

pesquisa de mercado. Este último assenta em pesquisas realizadas em mercados

ou segmentos de mercado específicos, enquanto a pesquisa de marketing

abarca, não só, a pesquisa de mercado mas, igualmente, todo o tipo de pesquisa

conduzida no processo integral do marketing (7).

Existem inúmeras categorias de marketing, das quais se destacam, para este

trabalho, o marketing alimentar, o marketing nutricional e o marketing social.

Os alimentos, como produtos de primeira necessidade, apresentam um grande

potencial para o mercado consumidor (8). Neste sentido, a Indústria Alimentar tem

apostado forte no marketing de alimentos (8). Por um lado, criando ou modificando

produtos no sentido de satisfazer as necessidades, desejos e demandas actuais

da população e, por outro lado, promovendo a divulgação dos produtos e das

suas características nutricionais, através da publicidade, da propaganda e de

acções promocionais (9). Todas estas actividades assentam num elemento que

constitui uma das fases mais importantes do planeamento estratégico do

marketing, a comunicação integrada (9).

4

II. DESENVOLVIMENTO DO TEMA

i. CARACTERÍSTICAS DO MARKETING NA ALIMENTAÇÃO

O consumidor actual define-se por querer o máximo de qualidade possível no

produto que compra. Revela ter grande preocupação pelo preço e pela relação

qualidade-preço e parece cada vez menos disposto a fidelizar a sua adesão a

uma única marca, mostrando-se mais flexível para optar por outras marcas se a

relação qualidade-preço for mais favorável (10).

O intenso desenvolvimento da Indústria Alimentar e a forte concorrência que há

no mercado estão a levar os produtores a tentarem cada vez mais diferenciar os

seus produtos. Existem várias formas de diferenciação de um produto alimentar,

desde a criação de embalagens mais atractivas e fáceis de manipular, factor de

grande importância na influência ao nível da compra, até ao marketing nutricional

que é uma particularidade do marketing alimentar (11). O marketing alimentar tem

a capacidade de fazer a ponte entre o produtor e o consumidor, estando envolvido

em toda a cadeia de actividades que acompanha o produto, ou seja, do prado ao

prato (8). Neste sentido, a Indústria Alimentar pode desempenhar um papel

importante na ajuda do consumidor, nomeadamente, na sua informação e

orientação para escolher os produtos mais adequados para uma alimentação

saudável (12).

Em Maio de 2004, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou uma

estratégia global para a prevenção de doenças crónicas, mais concretamente:

doenças cardiovasculares; Diabetes Mellitus tipo II; Cancro e outras patologias

5

associadas à Obesidade (13). Esta estratégia envolveu a participação dos Estados

Membros, das Organizações não Governamentais e da Indústria Alimentar. De

entre as várias actividades que constam da estratégia, estão: a reformulação da

comunicação e da educação do consumidor, incluindo o marketing e, igualmente,

das alegações de saúde e da rotulagem nutricional (13). No entanto, esta é uma

estratégia que acarretará custos e dificuldades metodológicas às empresas e que,

portanto, levará a que apenas uma minoria das empresas a adopte (14).

O marketing alimentar tem como característica principal a focalização no

mercado. Baseia-se numa abordagem por processos que assenta em rigorosas

pesquisas de mercado, na orientação para o cliente e para a satisfação do

mesmo, na coordenação e integração de todas as actividades no sentido de

tornar o processo mais dinâmico e na rentabilidade de todo o processo de

criação, promoção e venda do produto (9). Por sua vez, o marketing nutricional é

um factor importante de diferenciação de produtos. Sendo aplicado,

fundamentalmente, através da rotulagem nutricional e de alegações, tem a

capacidade de encorajar e mover o consumidor no sentido da adopção de uma

alimentação saudável (8).

Os investigadores na área do marketing alimentar procuram, sobretudo, encontrar

as determinantes que levam o consumidor a comprar um determinado produto e a

desenvolver um acto de fidelização com o mesmo. As estratégias usadas no

contexto do marketing alimentar assentam no facto de a maioria dos nossos

comportamentos serem automáticos e, portanto, passíveis de serem influenciados

por factores externos (15). Alguns autores chegam mesmo a considerar que comer

é um comportamento automático e que a importância dos factores internos,

inerentes a cada indivíduo, é menos relevante (15-21). Uma das estratégias

6

psicológicas mais importantes usadas pelo marketing alimentar é o priming. Este

fenómeno consiste na manipulação das decisões ou julgamentos através da

apresentação prévia de palavras, conceitos ou imagens, os quais têm a

capacidade de produzir comportamentos automáticos (15). Os supermercados são

os locais privilegiados para a aplicação prática destas estratégias psicológicas do

marketing alimentar.

A exemplo disto, Rose D et al estudaram a relação entre o espaço de prateleira

ocupado por produtos densamente energéticos (doçarias) e por hortofrutícolas, e

o Índice de Massa Corporal (IMC) das populações vizinhas. As conclusões

apontaram para uma correlação positiva entre o espaço de prateleira dos

produtos densamente energéticos e o IMC mas, não mostraram qualquer

correlação entre o espaço de prateleira dos hortofrutícolas e o IMC (2). Outros

investigadores na área do marketing alimentar mostraram ainda que, quando se

aumenta para o dobro o espaço de prateleira de produtos doçes, densamente

energéticos, as suas vendas aumentam na ordem dos 40% (22, 23).

Um outro tipo de marketing que tem vindo a ser cada vez mais usado e, que se

distingue de todos os outros tipos, é o marketing social. Este é definido como o

resultado da aplicação de tecnologias do marketing comercial na análise,

planeamento, execução e avaliação de programas desenhados para influenciar os

comportamentos voluntários do público-alvo que contribuam para o seu bem-estar

e da sociedade em geral (24). No contexto da alimentação, o marketing social é

uma mais-valia, pois possibilita aplicar estratégias de marketing da área comercial

para resolver problemas nutricionais e ou de saúde (24).

As estratégias do marketing social no contexto da Saúde Pública focalizam--se na

adopção de comportamentos voluntários benéficos. Utiliza técnicas, tais como, a

7

pesquisa de mercado orientada para o consumidor, a segmentação do mercado-

alvo para criar estratégias adaptadas a cada segmento e, aplica-se, não só ao

consumidor mas, também, aos profissionais, às organizações e a quem participa

na formulação de políticas públicas (25).

Uma revisão feita a várias meta-análises, em Inglaterra no ano de 2007, sobre a

efectividade das intervenções do marketing social na promoção da saúde, que

contemplava nutrição, actividade física e o consumo de álcool, tabaco e drogas

ilícitas, concluiu que: as intervenções do marketing social podem ser efectivas,

com forte evidência para os aspectos nutricionais, álcool, tabaco e drogas ilícitas

e, com alguma evidência, no entanto menor, para a prática de actividade física

(24).

No âmbito das Ciências da Nutrição, o marketing social assume uma especial

importância uma vez que as suas estratégias estão referenciadas como tendo

alguma eficácia na promoção de hábitos alimentares saudáveis (26). O sucesso

destas estratégias está dependente de vários factores, nomeadamente, da

metodologia que se escolheu, do público-alvo e do seu nível de motivação e

conhecimento mas principalmente, está dependente daquilo que se comunica e

como se comunica (26).

ii. A COMUNICAÇÃO NO MARKETING APLICADO AOS ALIMENTOS

A comunicação é um elemento-chave do marketing, sendo uma das etapas finais

do seu planeamento estratégico. É fundamental para as actividades de divulgação

de produtos, das quais se destacam a publicidade e a propaganda (27).

8

A publicidade é definida como o acto de divulgar, de tornar público um facto ou

uma ideia (27). Tem como objectivo, dar a conhecer um produto ao consumidor,

mostrar como esse produto vai de encontro às suas necessidades e desejos a fim

de o levar a realizar a compra pretendida (27). Por sua vez, a propaganda é a

propagação de princípios ou teorias e tem como objectivo implementar e incutir

uma ideia ou uma crença (28). A propaganda permite ao público-alvo reconhecer o

produto, associá-lo a determinados benefícios ou valores do seu agrado,

conduzindo-o igualmente à compra do produto (28).

Assim, e trabalhando de uma forma integrada com todas as outras etapas do

planeamento estratégico do marketing (4 P’s), a comunicação é um factor

determinante para que se chegue ao objectivo principal do marketing, o da

compra do produto por parte do consumidor (29).

Com o aumento da complexidade dos sistemas de distribuição e com o

desenvolvimento da Indústria Alimentar, começaram a surgir novos produtos e

novas marcas. Neste sentido, a publicidade assumiu um papel determinante na

distinção de produtos segundo as diversas marcas (27). Para transmitir as suas

mensagens, a publicidade usa meios de comunicação que estejam acessíveis e

que sejam passíveis de utilização pelo público-alvo. Entende-se por meio de

comunicação, todo o meio, forma ou recurso capaz de levar ao conhecimento do

consumidor a mensagem publicitária elaborada para fazer a propaganda ou

divulgar um produto ou serviço (28).

Relativamente aos meios de comunicação, podem ser dos seguintes tipos (27):

• Visuais (jornais, revistas, cartazes, painéis, prospectos, folhetos, cartas,

catálogos, vitrinas e exposições);

• Auditivos (rádio e por alto-falante);

9

• Audiovisuais (televisão e cinema);

• Interactivos (Compact-Disc e Internet).

A televisão é reconhecida como o meio de comunicação mais acessível e aquele

que tem maior impacto no consumidor final (30).

No contexto do marketing nutricional, a comunicação deve ser, sempre que

possível, adaptada ao grupo-alvo em questão para que possa ter o maior impacto

possível e para maximizar a eficácia do processo de marketing (31).

Há vários princípios corroborantes para uma comunicação eficaz e que são

importantes seguir no momento da criação, comunicação e promoção de um

determinado género alimentício. As mensagens sobre nutrição devem ser

simples, dado a que mensagens complexas podem gerar confusão no consumidor

comum e esta confusão pode levar a que o consumidor rejeite boa informação (32).

Alguns autores defendem que se deve adaptar a linguagem o mais próximo

possível do nível individual (27). A título exemplificativo, no estudo Supermarket

Healthy Options Project (SHOP), um ensaio clínico realizado na Nova Zelândia

entre os anos de 2007 e 2009 para estudar a influência da educação adaptada e

da política de preços na compra de alimentos nutricionalmente equilibrados nos

supermercados, constatou-se o seguinte: a educação alimentar adaptada

mostrou-se mais eficaz na promoção da compra de alimentos nutricionalmente

equilibrados do que a educação alimentar realizada para grupos em geral mas,

menos eficaz do que os descontos ao nível do preço (33).

Para além destas estratégias ao nível da forma como se comunica, é fundamental

uma integração de esforços entre os profissionais de saúde, governo,

organizações voluntárias, produtores e media (34). Este trabalho em conjunto

poderia proporcionar a formulação de conteúdos mais coerentes, evitando assim

10

a confusão por parte do consumidor e promovendo a aceitação da informação (34).

Desta forma, o papel dos investigadores e dos profissionais de saúde que

trabalham com nutrição assume um papel central. A investigação sobre nutrição é

abundante mas, a comunicação desta investigação por parte do investigador, na

maioria dos casos, apenas se dá ao nível da comunidade científica (32). Não raras

vezes, as informações sobre nutrição chegam ao consumidor por via da

comunicação social, ou por meios que podem retirar coerência a tais informações,

gerando confusão e alimentando mitos (32).

Estão definidos vários factores que contribuem para a confusão do consumidor

que recebe informação sobre nutrição, designadamente (35):

• A não quantificação ao nível das porções de alimentos;

• A falta de relação com as recomendações diárias de energia e de nutrimentos;

• A falta de contextualização das informações;

• A inexperiência e desconhecimento no assunto por parte do comunicador.

A exemplo disto, quando se está a fazer uma comunicação sobre o que se deve

ou não comer no sentido de uma alimentação equilibrada, esquece-se, muitas

vezes, de referir a quantidade, a frequência e a quem se aplicam essas

informações (32). Um profissional de saúde, quando comunica em primeiro lugar os

novos achados da investigação sobre alimentação e nutrição, impede que outros,

que estão menos instrumentados na área, o façam e, é capaz de influenciar a

Saúde Pública e a política nutricional, ao mesmo tempo que o seu trabalho ganha

maior visibilidade (32). O trabalho em conjunto dos profissionais de saúde,

particularmente, do Nutricionista, com os meios de comunicação, pode beneficiar

o público em geral, ajudando na promoção da Saúde Pública, bem como,

influenciando políticas públicas (32).

11

iii. ALEGAÇÕES E ROTULAGEM NUTRICIONAL

Entende-se como alegação, qualquer mensagem ou representação, não

obrigatória nos termos da legislação comunitária ou nacional, incluindo qualquer

representação pictórica, gráfica ou simbólica, seja qual for a forma que assuma,

que declare, sugira ou implique que um alimento possui características

particulares (36).

Em Portugal, as alegações sobre alimentos estão legisladas pelo Regulamento

(Reg) da Comunidade Europeia (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do

Conselho, de 20 de Dezembro de 2006 (36). Este Regulamento tem como

principais objectivos garantir o funcionamento eficaz do mercado interno europeu

e assegurar um elevado nível de protecção dos consumidores (36). Aplica-se a

todas as alegações nutricionais e de saúde feitas em comunicações comerciais,

nomeadamente, na publicidade genérica de alimentos e em campanhas de

promoção, incluindo as patrocinadas, total ou parcialmente, pelas autoridades

públicas (36). Aplica-se ainda às marcas de fabrico e outras marcas comerciais

susceptíveis de serem interpretadas como alegações nutricionais ou de saúde e

aos alimentos destinados ao abastecimento de restaurantes, hospitais, escolas,

refeitórios e outros estabelecimentos de alimentação colectiva (36). Por outro lado,

este documento, não se aplica às alegações feitas em comunicações comerciais

(exemplo: orientações ou conselhos dietéticos emanados das autoridades e

organismos de Saúde Pública) nem em comunicações e informações não

comerciais provenientes da imprensa e de publicações científicas. É de referir

ainda que, os efeitos nutricionais deletérios para a saúde, não estão abrangidos

por este Regulamento (36).

12

Com a entrada em vigor do Reg (CE) n.º 1924/2006, são permitidas na União

Europeia (UE) três tipos de alegações sobre alimentos (36):

• Alegações nutricionais: afirmam, sugerem ou implicam que um alimento

possui propriedades benéficas particulares devido à sua composição

nutricional (pela ingestão energética ou pela ingestão de um nutrimento em

particular);

• Alegações de saúde: afirmam, sugerem ou implicam uma relação entre um

alimento ou um dos seus constituintes e a saúde. Referem-se a funções

fisiológicas de um componente, tais como, “cálcio ajuda a fortalecer os ossos”.

As alegações de saúde têm obrigatoriamente de ser baseadas na evidência

científica devidamente comprovada e devem ser de compreensão fácil para o

consumidor comum;

• Argumentos para reduzir o risco de doença: tipo particular de alegações

que sugere que um alimento, ou um dos seus constituintes, reduz

significativamente o risco de uma doença (exemplo: os esteróis vegetais

podem ajudar a reduzir os níveis de colesterol plasmático, diminuindo o risco

de doenças cardiovasculares).

Actualmente, já existe uma lista de alegações nutricionais que são permitidas em

território europeu, as quais devem obedecer a determinadas condições [Anexo A],

mas ainda não se encontra definida uma lista de alegações de saúde.

Para que uma empresa possa usar uma alegação de saúde sobre um alimento, é

necessário que se faça uma proposta à European Food Safety Authority (EFSA).

Esta decidirá se aprova ou não a aplicação da alegação em causa, a qual deve

ser baseada em evidência científica comprovada (37).

13

No caso particular das alegações nutricionais, que apresentam procedimentos de

aplicação melhor definidos e detalhados do que as alegações de saúde, o Reg

(CE) n.º 1924/2006 define que: quando uma alegação nutricional é usada na

embalagem ou na publicidade de um alimento, esta deve vir devidamente

explicada, sendo obrigatório apresentar a composição nutricional para justificar a

respectiva alegação (36).

No caso dos alimentos ricos em gordura, açúcares adicionados e sódio, as

alegações são possíveis mas, só no caso do alimento ser rico em apenas um dos

nutrimentos anteriormente citados e com a obrigatoriedade de apresentar o teor

do mesmo na rotulagem (36). Por exemplo, no caso dos cereais de pequeno-

-almoço açucarados, para se alegar que são ricos em vitaminas e fibra, é

obrigatório, igualmente, fazer menção à quantidade de açúcares adicionados.

A forma mais comum de apresentar a composição nutricional de um alimento é

através da rotulagem nutritional. Esta contempla toda a informação, constante do

rótulo, relativa ao valor energético e aos seguintes nutrimentos: proteínas,

hidratos de carbono, lípidos, fibra, sódio, vitaminas e sais minerais (38).

As disposições legais relativas à rotulagem nutricional encontram-se

harmonizadas em toda a UE pela Directiva n.º 90/46/CEE do Conselho de 24 de

Setembro (38). Este documento foi alterado pelas Directivas n.º 2003/120/CE (39) e

n.º 2008/100/CE (40) e pelos Regulamentos (CE) n.º 1882/2003 (41) e n.º 1137/2008

(42). A transposição da Directiva n.º 90/46/CEE e das as suas alterações para a

ordem jurídica portuguesa resultou no Decreto-Lei (DL) n.º 167/2004 de 7 de

Julho (43), que por sua vez foi alterado pelo DL n.º 54/2010 de 28 de Maio (44).

A legislação em vigor sobre rotulagem nutricional abarca os géneros alimentícios

destinados ao consumidor final e aos estabelecimentos de alimentação colectiva,

14

não sendo aplicável às águas minerais naturais, às águas destinadas ao consumo

humano e aos suplementos alimentares (38). No caso dos géneros alimentícios

pré-embalados na venda ao consumidor final e às colectividades e dos géneros

alimentícios embalados nas instalações de venda imediata, a extensão das

informações constantes da rotulagem nutricional, bem como as modalidades do

seu fornecimento, podem ser estabelecidas por disposições emanadas pelos

Estados Membros, até que haja uma adopção de eventuais medidas comunitárias

em conformidade com o procedimento previsto na legislação europeia (38).

Na aplicação da rotulagem nutricional, as informações a fornecer devem ser as

constantes do conjunto 1 ou do conjunto 2, respeitando a ordem seguinte (43):

• Conjunto 1: valor energético; quantidade de proteína, hidratos de carbono e

lípidos;

• Conjunto 2: valor energético; quantidade de proteína, hidratos de carbono,

açúcares, lípidos, ácidos gordos saturados, fibra e sódio.

Para além das informações contidas nos dois conjuntos anteriores, ainda é

possível incluir na rotulagem nutricional, informações relativas a amido, polióis,

ácidos gordos monoinsaturados, ácidos gordos poliinsaturados, colesterol e,

igualmente, informações relativas a vitaminas e sais minerais presentes em

quantidades significativas que constam do DL n.º 54/2010 de 28 de Maio (44)

[Anexo B]. A apresentação do valor energético e do teor de nutrimentos deve ser

feita sob a forma numérica, expressa por 100 gramas (g) ou 100 mililitros (ml) de

produto, ou ainda por embalagem ou porção (43). Relativamente às informações

sobre vitaminas e sais minerais, para além de obedecer aos mesmos critérios de

apresentação aplicados aos macronutrimentos e à energia, devem ainda ser

15

apresentados sob a forma de percentagem da Dose Diária Recomendada (DDR)

(44) [Anexo B].

É importante referir que, no Reg (CE) n.º 258/97 do Parlamento Europeu e do

Conselho de 27 de Janeiro (45), relativo a novos alimentos e ingredientes

alimentares para os quais se pretende fazer o lançamento no mercado, é

necessário que a sua rotulagem apresente o valor nutritivo ou os efeitos

nutricionais do alimento ou do ingrediente em questão. Na Directiva n.º

2000/13/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de Março (46), relativa à

aproximação das legislações dos Estados Membros respeitantes à rotulagem,

apresentação e publicidade dos géneros alimentícios, não se faz menção directa

à rotulagem nutricional e às alegações. No entanto, refere-se que a rotulagem não

deve conter informações que induzam o consumidor em erro ou que atribuam

virtudes medicinais aos géneros alimentícios, aplicando-se estes princípios à

apresentação e respectiva publicidade dos géneros alimentícios (46).

Segundo a American Dietetic Association (ADA), todas as alegações nutricionais

e de saúde devem ser baseadas na evidência científica, devem ser formuladas no

contexto global da alimentação diária e devem levar em consideração, tanto os

aspectos positivos, como negativos do alimento (27).

iv. O MARKETING NA DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTOS

A Indústria Alimentar tem a capacidade de lançar bases para o desenvolvimento

de políticas públicas e formas criativas de as implementar. Ao lançar um produto

alimentar no mercado, a empresa responsável está comprometida com a saúde

do consumidor e, no sentido colectivo, com a Saúde Pública (27).

16

Dado o seu poder no mercado global e o contributo que apresenta para a Saúde

Pública, a Indústria Alimentar deveria estar sempre na linha da frente das

discussões sobre inovação e programas de nutrição, tanto na formulação, como

na aplicação de políticas alimentares e nutricionais (47).

Por serem produtos de necessidade primária, os alimentos representam um

grande potencial de mercado consumidor, o que leva os sectores de produção,

desenvolvimento e industrialização de alimentos a investir cada vez mais na

criação de novos produtos e na publicidade dos mesmos (27).

A inovação tecnológica ao nível dos alimentos tem sofrido um aumento em massa

nos últimos anos, na qual, o marketing nutricional tem tido um papel de

importância crescente (8). Geralmente, o consumidor tende a optar por alimentos

mais industrializados ou modernizados, pois considera que são mais práticos e

convenientes. Na verdade, os aspectos mais importantes para a decisão de

compra são a conveniência do produto e as inovações ao nível da tecnologia,

incluindo aspectos nutricionais e de saúde, como também, factores como as

características organolépticas e o preço (27).

O marketing nutricional, sendo uma estratégia que permite uma maior

diferenciação de produtos, tem vindo a ser aplicado, maioritariamente, na

rotulagem nutricional e nas alegações nutricionais e de saúde de produtos

preexistentes mas, igualmente, na criação e divulgação de novos produtos com

características nutricionais específicas e benéficas para o consumidor (48).

O exemplo mais flagrante do papel das Ciências da Nutrição na criação de novos

produtos é o dos alimentos funcionais, os quais não têm ainda uma definição

estabelecida por lei. Estes produtos são géneros alimentícios que podem ser

17

naturais (convencionais) ou modificados [Anexo C] e que potenciam determinados

efeitos fisiológicos benéficos para além dos efeitos nutricionais (49).

A Food and Drug Administration (FDA) considera que as substâncias específicas

contidas nestes produtos, responsáveis pela denominação de alimento funcional,

podem contribuir para a protecção da saúde no contexto de uma alimentação

equilibrada (50) enquanto que, a ADA reconhece os efeitos positivos destes

produtos na saúde humana (51). Na Europa, o International Life Sciences Institute

(ILSI) considera que um alimento funcional é todo aquele que interfere de forma

positiva no estado de saúde e de bem-estar e ou no tratamento e prevenção de

determinadas doenças (52).

Este tipo de produtos de valor acrescentado caracteriza-se por apresentar um

componente activo que se comprovou ser responsável por determinado efeito

fisiológico positivo na saúde [Anexo D] e, a sua apresentação ao consumidor faz-

-se, geralmente, acompanhada de alegações de saúde (53). Ao passo que a

Indústria Alimentar convencional cresce a um ritmo de 2-3% ao ano, a Indústria

dos alimentos funcionais apresenta um crescimento anual na ordem dos 7-10%

(54).

Para além dos alimentos funcionais, outro tipo de produtos tem vindo a ser aposta

da Indústria Alimentar e alvo de fortes pesquisas de marketing, como é o caso

dos produtos à base de Organismos Geneticamente Modificados (OGM), dos

alimentos dietéticos, dos alimentos biológicos e também dos suplementos

alimentares. A legislação europeia não considera os alimentos funcionais numa

categoria específica mas, como um conceito cujos produtos se podem enquadrar

em todas as outras categorias. Assim, a legislação aplicável especificamente a

produtos com OGM, a alimentos dietéticos e a alimentos biológicos pode ser

18

igualmente aplicada aos alimentos funcionais no caso de um alimento estar

enquadrado numa das categorias supracitadas e, ser ao mesmo tempo, um

alimento funcional (49).

No caso particular dos produtos com OGM, o marketing tem sido usado no

sentido de promover os produtos, procurando transmitir a ideia de que os mesmos

são seguros. Numa avaliação do risco feita pela FDA, as conclusões preliminares

foram que estes produtos são tão seguros quanto os produtos que não contêm

ingredientes provenientes de OGM, referindo, no entanto, que é necessária mais

investigação para que se cheguem a conclusões mais categóricas (55).

Quanto aos alimentos dietéticos, que são específicos para determinados estados

nutricionais e ou patologias, geralmente são destinados a segmentos de mercado

bem delimitados. Na maioria dos casos têm associadas alegações nutricionais e

de saúde, como são exemplos os produtos light, os produtos para doentes com

Diabetes Mellitus e os produtos adequados a dietas vegetarianas. São produtos

que estão a ser alvo de fortes investigações no sentido de se regulamentarem

aspectos relacionados com o marketing e a publicidade. Apresentam um público-

alvo bem definido e necessitam de uma pesquisa de mercado copiosamente

elaborada (56).

Os alimentos biológicos, que são controlados no sentido de, tanto o alimento

como a sua produção poderem ser considerados biológicos aos olhos da

legislação, não apostam tanto no marketing nutricional. Estes apostam mais na

referência à promoção da saúde e à preservação do meio ambiente como

argumentos para levar o consumidor a comprar aquele alimento que,

normalmente, se vende a um preço mais elevado do que o equivalente não

biológico (57).

19

Um outro grupo de produtos que recorre extensamente ao marketing nutricional é

o dos suplementos alimentares. Estes são definidos da seguinte forma pelo DL n.º

136/2003 de 28 de Junho (58), que transpôs para ordem jurídica portuguesa a

Directiva n.º 2002/46/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 10 de Junho

(59): géneros alimentícios que se destinam a complementar e ou suplementar o

regime alimentar normal e que constituem fontes concentradas de determinados

nutrimentos (vitaminas e sais minerais) ou outros com efeito nutricional ou

fisiológico, estremes ou combinados, comercializados na forma doseada e

destinados a serem tomados em unidades medidas de quantidade reduzida. Este

documento faz ainda menções de apelo a uma alimentação variada e ao não uso

do suplemento alimentar como medicamento ou substituto de refeições.

As vitaminas e sais minerais que podem ser utilizados no fabrico de suplementos

alimentares são os mesmos constantes do DL n.º54/2010 (44) com o acréscimo do

sódio [Anexo B]. Para além de vitaminas e sais minerais, outros tipos de

suplementos alimentares são comercializados mas, nestes casos, a Comissão

Europeia não estabelece normas específicas para a sua comercialização, ficando

a regulamentação de tais produtos a cargo de cada Estado Membro.

v. A OBESIDADE NA SUA RELAÇÃO COM O MARKETING ALIMENTAR

Para a ADA, qualquer alimento pode ser incluído numa alimentação equilibrada,

se consumido na porção correcta e combinado com a prática regular de

actividade física. Assim, não se pode afirmar que um alimento deve ser ou não

consumido, sem se falar do contexto dessa recomendação (60).

20

A OMS define o excesso de peso e a Obesidade como a acumulação excessiva

de massa gorda no organismo que pode ser prejudicial para a saúde. No

diagnóstico, considera-se excesso de peso quando o IMC se encontra entre 25 e

29,9 e Obesidade quando o IMC é igual ou superior a 30 (13).

Em 2005, os números apontavam para 1.600 milhões de pessoas com excesso

de peso em todo o mundo, das quais 20 milhões eram crianças com menos de 5

anos e, para cerca de 400 mil obesos (13).

No contexto europeu, estima-se uma prevalência de excesso de peso em 30-80%

nos adultos e 20% nas crianças e adolescentes. Um terço das crianças e

adolescentes com excesso de peso são obesos (61).

A Indústria Alimentar tem sido apontada como uma das principais responsáveis

pelo agravamento dos números da Obesidade nas últimas décadas. Têm sido

feitas críticas à forma como a Indústria Alimentar tem evoluído, tais como (62):

• O desenvolvimento de produtos com elevada densidade energética, ricos em

gordura e açúcares, em porções demasiado grandes;

• A ausência de informação nutricional antes da compra em restaurantes e

máquinas de venda automática;

• O enfoque em crianças com alimentos densamente energéticos usando

brindes e os meios de comunicação em massa na sua divulgação;

• A saturação dos canais de distribuição, como são exemplo as escolas, com

alimentos que, para além de terem elevada densidade energética, também

têm baixa densidade nutricional.

Num estudo realizado com uma amostra de 59.900 produtos alimentares, nos

Estados Unidos da América (EUA) em 2010, 49% dos produtos apresentava

marketing nutricional e, destes, 48% continha elevados teores de gordura

21

saturada, sal e ou açúcar, com 11%, 17% e 31%, respectivamente. Constatou-se

que 71% dos produtos destinados especificamente a crianças, apresentava

marketing nutricional, dos quais 59% eram ricos em gordura saturada, sal e ou

açúcar. Neste estudo, verificou-se ainda que as alegações nutricionais mais

comuns eram “boa fonte de cálcio” e “sem gordura” e, também, eram usados com

frequência símbolos que apelavam à saúde, os quais estão reportados como

potenciadores da compra de alimentos (30).

Estudos longitudinais sugerem que certos anúncios publicitários sobre alimentos

se associam com o aumento do IMC em adultos e adolescentes, pela influência

directa ao nível da ingestão energética e do gasto energético total (63). Apesar

desta tendência verificada em adolescentes e adultos, o grupo das crianças tem

sido alvo de um maior número de estudos no que respeita ao marketing alimentar.

Em 2005, o Institute of Medicine reportou que o marketing alimentar para crianças

e adolescentes não estava de acordo com os padrões de uma alimentação

saudável (64). As crianças são usualmente menos conscientes no que concerna à

relação entre alimentação e saúde. Geralmente vêem mais de 20 horas de

televisão semanais e está documentado que as crianças com idade inferior a 9

anos não compreendem a diferença entre o que é entretenimento propriamente

dito e o que é o marketing usado como entertenimento. Desta forma, as crianças

são mais vulneráveis aos efeitos persuasivos das campanhas de marketing

alimentar (62).

Num estudo realizado em crianças dos EUA, da Austrália e de outros oito países

europeus (Reino Unido, França, Alemanha, Dinamarca, Finlâdia, Grécia, Holanda

e Suécia), verificou-se que havia uma correlação positiva entre a prevalência de

excesso de peso e a frequência com que os anúncios publicitários referentes a

22

alimentos com elevada densidade energética eram exibidos na televisão. Por

outro lado, evidenciou-se uma correlação negativa, no entanto mais fraca, entre o

excesso de peso e a frequência de anúncios televisivos que apelam à

alimentação saudável (65).

Um outro trabalho de investigação, baseado num modelo de simulação

matemática com dados do National Health and Nutrition Examination Survey

(NHANES) e do Center for Disease Control and Prevention (CDC), concluiu que:

caso se erradicasse a exposição a anúncios televisivos que publicitam alimentos

com elevada densidade energética, em crianças dos 6 aos 12 anos, poder-se-ia

reduzir a prevalência de Obesidade em 17,8-15,2% para indivíduos do sexo

masculino e em 15,9-13,5% para indivíduos do sexo feminino (66).

Para além das preocupações que recaem sobre o marketing alimentar para

crianças, há também alguma preocupação no que concerne ao marketing de

alimentos para recém-nascidos. O ambiente intra-uterino e a alimentação durante

os primeiros meses de vida são determinantes para a prevenção do excesso de

peso e da Obesidade (67-69).

Em 1981, a OMS lançou um código internacional de marketing para substitutos do

leite materno (70). Este Código visava comunicar as linhas de orientação às quais

o marketing para este tipo de alimentos deveria respeitar, defendendo sempre

que o nenhum produto no mercado consegue substituir na totalidade o leite

materno (70). Os objectivos deste código, que ainda hoje vigora, são os de

contribuir para uma nutrição adequada do bebé, protegendo e promovendo o

aleitamento materno e, ainda, promover o uso adequado dos substitutos do leite

materno. Para atingir estes objectivos, o código aposta no fornecimento de

23

informações adequadas e em campanhas de marketing e distribuição

responsáveis (70).

24

III. ANÁLISE CRÍTICA E CONCLUSÕES

É pretinente afirmar que o marketing aplicado aos alimentos constitui um

importante factor na modulação dos ambientes alimentares e nutricionais. Estes,

são ambientes complexos, dinâmicos e cujos inputs parecem advir de diversas

fontes, mais ou menos benéficas para os indivíduos que os recebem.

Tal como é referido pela ADA, as informações sobre alimentação e nutrição são,

hoje em dia, muito difundidas mas, a sua qualidade é muitas vezes duvidosa. É

certo que os indivíduos depositam maior confiança nas informações divulgadas

por profissionais de saúde do que naquelas que encontram numa simples

publicação periódica não científica. Os grandes problemas são a pouca

frequência e a forma com que os profissionais de saúde comunicam com as

populações, por outras palavras, as informações não aparecem suficientemente

padronizadas e contextualizadas para entrarem no entendimento do receptor

comum.

Neste sentido, o papel activo do profissional de saúde, em conjunto com os media

e outras entidades poderia ser uma mais valia para a Saúde Pública mas, para

tal, é fundamental que se crie um trabalho de base, que possibilite o

desenvolvimento de tais projectos. Para este trabalho de base é essencial que se

produza mais ciência, de qualidade, sobre comunicação e marketing aplicados à

alimentação e à nutrição. Para além de existirem poucas publicações sobre estes

temas, muitas das que existem não aparentam trazer grande utilidade para os

benefícios comuns pretendidos, a promoção e a protecção da saúde.

Mas não é só dos profissionais de saúde que depende o futuro do marketing

aplicado a alimentos. A Indústria Alimentar é o elemento com maior capacidade

25

para proceder a mudanças benéficas na distribuição e promoção de alimentos. O

impacto da Indústria Alimentar na Saúde Pública é muito maior do que muitas

vezes se pensa, pois, esta tem a capacidade de influenciar políticas públicas e de

contribuir para a educação alimentar das populações. Por um lado, é responsável

por abastecer e oferecer ao consumidor um determinado leque de alimentos e,

por outro lado, fornecer as informações que permitam ao consumidor fazer

melhores escolhas.

Algumas empresas do ramo alimentar começam a preocupar-se com a saúde do

consumidor, uma vez que este facto é uma mais valia para a própria empresa. Em

concordância com Patrick K et al (2010), o consumidor actual apresenta maior

preocupação com o seu estado de saúde, revelando níveis cada vez mais

elevados de auto-monitorização perante a sociedade.

Se, por um lado, é das acções do consumidor que depende o sucesso do

marketing alimentar, por outro lado, o próprio consumidor apresenta

características incontornáveis que lhe são inerentes e que podem ser previstas

nas pesquisas de marketing. O ser humano apresenta comportamentos

maioritariamente automáticos, tal como é referido por Cohen DA (2008), os quais

são muito explorados pelo marketing alimentar para incrementar a adesão a

determinados produtos e, igualmente, criar actos vinculativos, ou relações de

longo prazo, entre consumidor e produto.

Assim sendo, seria interessante usar estratégias psicológicas mas, no sentido de

criar acções benéficas para a saúde do consumidor, através de um marketing

alimentar responsável. O marketing responsável deve ter em conta as

necessidades e expectativas do consumidor e, também, as questões inerentes à

sua saúde e bem-estar. Estas são questões de difícil aplicabilidade, uma vez que

26

nem todas as empresas estão dispostas a mudar as suas abordagens e a

reformular os seus produtos.

Após o lançamento da estratégia global para a prevenção de doenças crónicas

pela OMS, em Maio de 2004, poucas foram as empresas que fizeram alterações

nos seus produtos e, inclusivamente nas suas estratégias de marketing.

O marketing representa uma fatia importante dos custos de uma empresa do

ramo alimentar e é determinante para o sucesso da empresa. Para a garantia do

sucesso, todas as mais valias são bem vindas, desde que sejam exequíveis e

economicamente rentáveis. A aposta na diferenciação de produtos é uma mais

valia para as empresas e é notória se atendermos aos factos relativos à indústria

dos alimentos funcionais, entre outros, que têm vindo a sofrer uma aposta

crescente e com resultados práticos ao nível do aumento das vendas.

O marketing nutricional constitui outra mais valia para uma empresa do ramo

alimentar. Sendo, igualmente, um factor de diferenciação de produtos, é uma área

que deveria estar melhor regulamentada. As alegações nutricionais já estão bem

regulamentadas nos termos da legislação europeia mas, as alegações de saúde

ainda estão longe de o ser.

Apesar de se saber que as alegações de saúde podem ser potenciais factores de

persuasão do consumidor, a sua regulamentação ainda não está harmonizada no

contexto europeu, nem existe ainda, uma lista de alegações de saúde possíveis.

Com a aposta forte das empresas da Indústria Alimentar na diferenciação dos

seus produtos, é fundamental criar linhas de orientação mais ilustrativas e

específicas para as alegações de saúde.

Para além das questões relacionadas com o marketing nutricional, seria

igualmente interessante regulamentar questões relativas ao marketing alimentar

27

em geral, ideia defendida por Nestle M (2006), mais concretamente ao marketing

alimentar para crianças e adolescentes. O marketing alimentar destina-se a todos

os indivíduos em geral mas, as crianças e os adolescentes paracem ser os elos

mais fracos e, de menor consciência face a questões relacionadas com a saúde.

Analisando os números da Obesidade, verifica-se uma tendência crescente ao

nível da prevalência desta patologia crónica. O marketing alimentar é considerado

um dos factores ambientais obesogénicos, sendo por isso importante explorar as

questões relacionadas com o marketing de alimentos, especialmente, de

alimentos densamente energéticos, na sua relação com a Obesidade e,

inclusivamente, com outras doenças crónicas. O marketing aplicado aos

alimentos deveria ser, acima de tudo, mais uma ferramenta na educação do

consumidor no sentido da promoção da saúde e, numa perspectiva melhorada,

deveria excluir qualquer estratégia que pudesse contribuir negativamente para a

saúde do consumidor.

Já se começaram a fazer alguns esforços neste sentido mas, enquanto que se

formularem apenas recomendações, a maioria das empresas vai continuar a não

as cumprir na sua íntegra. Seria importante regulamentar este assunto para criar

um padrão ao nível da publicidade destinada a crianças e adolescentes, ideia que

é corroborada por Isganaitis E (2008), por Ashe M et al (2009) e por Story M et al

(2010).

Estas, são questões mais simples na teoria, no entando, na sua praticidade,

outros factores devem ser levados em conta. A saúde financeira de uma empresa

está altamente dependente das suas vendas. Se as suas estratégias de

marketing e os seus produtos fossem drasticamente alterados, isso poderia levar

28

ao desaparecimento de algumas empresas do ramo alimentar, o que seria um

contributo para o agravamento de uma crise financeira, económica e até social.

As questões relacionadas com o marketing de alimentos são muito sensíveis e

importantes para uma empresa e para a economia de um país mas, são

igualmente importantes para a Saúde Pública. Desta forma, é importante um

balanceamento de esforços e uma integração de estratégias de implementação

gradual, com vista ao benefício de todos.

A título conclusivo, o marketing aplicado a alimentos é uma forte aposta por parte

da Indústria Alimentar para o seu benefício próprio, muitas vezes esquecendo o

impacto que pode ter na saúde do consumidor e, no sentido colectivo, na Saúde

Pública. Ainda há muito a fazer nesta área e, o papel do profissional de saúde,

mais concretamente, do Nutricionista pode fazer toda a diferença.

29

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71. University of Illionois, International Food Information Council. Functional foods for health program: examples of functional foods. University of Michigan, 2003. [disponível em: http://www.med.umich.edu/mfit/nutrition/knowhow/pdfs/FuncFoodsExamples.pdf].

35

ANEXOS

ÍNDICE DE ANEXOS

Pág.

ANEXO A: Lista de alegações nutricionais e condições que se lhes

Aplicam 37

ANEXO B: Vitaminas e sais minerais que podem ser declarados na

rotulagem nutricional de géneros alimentícios e respectiva

DDR

41

ANEXO C: Tipos de alimentos funcionais modificados 43

ANEXO D: Exemplos de alimentos funcionais, os seus componentes

activos e potenciais benefícios para a saúde humana 45

36

37

ANEXO A

Lista de alegações nutricionais e condições que se lhes aplicam

38

Adaptado de: Reg (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de Dezembro (36).

Alegação nutricional Condições que se lhe aplicam

Baixo valor energético Quando o produto não tem mais de 40 quilocalorias (kcal) [170

quilojoules (kJ)]/100 g para os sólidos e mais de 20 kcal (80

kJ)/100 g para os líquidos; no caso específico dos

edulcorantes de mesa, o limite é 4 kcal (17 kJ)/porção com

propriedades edulcorantes equivalentes a 6 g de sacarose.

Valor energético reduzido Quando há uma redução de 30% ao nível do valor energético.

Sem valor energético Quando o produto não contem mais de 4 kcal (17 kJ)/100 ml;

para os edulcorantes de mesa, o limite é 0,4 kcal (1,7

kJ)/porção, com propriedades edulcorantes equivalentes a 6 g

de sacarose.

Baixo teor de gordura Quando o produto não contem mais de 3 g de gordura por 100

g para alimentos sólidos, ou 1,5 g de gordura por 100 g para

alimentos líquidos (1,8 g/100 g para o leite meio gordo).

Sem gordura Quando o produto não tem mais de 0,5 g de gordura por 100 g

ou 100 ml.

Baixo teor de gordura

saturada

Quando a soma dos ácidos gordos saturados e dos ácidos

gordos trans não excede 1,5 g/100 g para os sólidos e 0,75

g/100 ml para os líquidos (no máximo, a soma destes ácidos

gordos só pode fornecer 10% do valor energético do produto).

Sem gordura saturada Quando a soma dos ácidos gordos saturados e dos ácidos

gordos trans não excede 0,1 g/100 g ou por 100 ml de produto.

Baixo teor de açúcares Quando o produto não contem mais de 5 g de açúcares por

100 g para os sólidos ou 2,5 g de açúcares por 100 ml para os

líquidos.

39

Sem açúcares Quando o produto não contem mais de 0,5 g de açúcares por

100 g ou 100 ml.

Sem adição de açúcares Quando não foram adicionados ao produto quaisquer

monossacarídeos ou dissacarídeos. Caso haja açúcares

naturalmente presentes no produto, o rótulo deve conter a

indicação “contém açúcares naturalmente presentes”.

Baixo teor de sódio/sal Quando o produto não contem mais de 0,12 g de sódio, ou

equivalente de sal, por 100 g ou por 100 ml.

Muito baixo teor de sódio/sal Quando o produto não contem mais de 0,04 g de sódio, ou

equivalente de sal, por 100 g ou por 100 ml (esta alegação não

pode ser utilizada em água destinada ao consumo humano).

Sem sódio/sal Quando o produto não contem mais de 0,005 g de sódio, ou

equivalente de sal por 100 g.

Fonte de fibra Quando o produto contem, no mínimo, 3 g de fibra por 100 g

ou, pelo menos, 1,5 g de fibra por 100 kcal.

Alto teor em fibra Quando o produto contém, no mínimo, 6 g de fibra por 100 g

ou, pelo menos, 3 g de fibra por 100 kcal.

Fonte de proteína Quando, pelo menos, 12 % do valor energético do produto for

fornecido por proteína.

Alto teor em proteína Quando, pelo menos, 20 % do valor energético do produto for

fornecido por proteína.

Fonte de [nome da(s)

vitamina(s) e ou nome do(s)

mineral(is)]

Quando o produto contem, pelo menos, a quantidade

significativa definida no Anexo da Directiva 90/496/CEE ou

uma quantidade prevista por derrogações concedidas nos

termos do artigo 6.º do Reg (CE) n.º 1925/2006 do Parlemtno

Europeu e do Conselho, de 20 de Dezembro de 2006, relativo

à adição aos alimentos de vitaminas, minerais e determinadas

outras substâncias.

Adaptado de: Reg (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de Dezembro (36).

40

Alto teor em [nome da(s)

vitamina(s) e ou nome do(s)

mineral(is)]

Quando o produto contem, pelo menos, o dobro do exigido

para a alegação «fonte de [nome da(s) vitamina(s) e/ou nome

do(s) mineral(is)]».

Contém (nome do nutrimento

ou outra substância)

Quando o produto cumpre todas as disposições do artigo 5.º

do Reg (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do

Conselho, de 20 de Dezembro de 2006, relativo às alegações

nutricionais e de saúde sobre os alimentos.

Teor de (nome do

nutrimento) reforçado

Quando o produto preencher as condições da alegação «Fonte

de» e o reforço do teor for, no mínimo, de 30% em relação a

um produto semelhante.

Teor de (nome do

nutrimento) reduzido

Quando a redução do teor for, no mínimo, de 30% em relação

a um produto semelhante, excepto no caso dos

micronutrimentos, para os quais é aceitável uma diferença de

10% em relação aos valores de diferença estabelecidos na

Directiva 90/496/CEE, e do sódio, ou valor equivalente de sal,

para o qual é aceitável uma diferença de 25%.

Fraco/Light Quando o produto preenche as condições estabelecidas para

a alegação «Teor de (...) reduzido».

Naturalmente/Natural Este termo pode ser aplicado a produtos que preencham

naturalmente a condição ou condições estabelecidas para a

utilização de uma alegação nutricional.

Adaptado de: Reg (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de Dezembro (36).

41

ANEXO B

Vitaminas e sais minerais que podem ser declarados na rotulagem nutricional de

géneros alimentícios e respectiva DDR

42

Vitaminas DDR Sais minerais DDR

Potássio (mg) 2000

Vitamina A [microgramas (µg)] 800 Cloreto (mg) 800

Vitamina D (µg) 5 Cálcio (mg) 800

Vitamina E [miligramas (mg)] 12 Fósforo (mg) 700

Vitamina K (µg) 75 Magnésio (mg) 375

Vitamina C (mg) 80 Ferro (mg) 14

Tiamina (mg) 1,1 Zinco (mg) 10

Riboflavina (mg) 1,4 Cobre (mg) 1

Niacina (mg) 16 Manganês (mg) 2

Vitamina B6 (mg) 1,4 Fluoreto (mg) 3,5

Ácido fólico (µg) 200 Selénio (µg) 55

Vitamina B12 (µg) 2,5 Crómio (µg) 40

Biotina (µg) 50 Molibdénio (µg) 50

Ácido pantoténico (mg) 6 Iodo (µg) 150

Adaptado de: DL n.º 54/2010 de 28 de Maio (44).

43

ANEXO C

Tipos de alimentos funcionais modificados

44

Tipo de alimento funcional Definição Exemplos

Alimentos Fortificados

Com adição de nutrimentos

naturalmente presentes no

alimento.

Sumos fortificados

com vitamina C.

Alimentos Enriquecidos

Com adição de nutrimentos ou

outros componentes não

naturalmente presentes no

alimento.

Margarina com

esteróis vegetais, pré

e próbióticos.

Alimentos Alterados

Cujos componentes deletérios

foram removidos, reduzidos ou

substituídos por outros de

benefício para o organismo

humano.

Fibras como

substitutos de gordura

em gelados.

Com Características

Manipuladas

Quando um dos componentes é

naturalmente potenciado através

de condições especiais de

crescimento, de modificação da

alimentação, manipulação

genética, entre outros.

Ovos com quantidades

superiores de ácidos

gordos n3 devido à

modificação da dieta

das aves.

Adaptado de: Siró I, et al (49).

45

ANEXO D

Exemplos de alimentos funcionais, os seus componentes activos e potenciais

benefícios para a saúde humana

46

Alimento

Componente

activo

Potenciais benefícios para a

saúde

Chá preto e chá verde

Catequinas Redução do risco de cancro

Brócolos Sulforafano Redução do risco de cancro

Peixe Ácidos gordos n-3 Redução do risco de doenças cardiovasculares

Hortofrutícolas Diferentes fitoquímicos Redução do risco de cancro e de doenças cardiovasculares

Alho Compostos de enxofre Redução do risco de cancro e de doenças cardiovasculares

Aveia Fibra solúvel Redução do colesterol plasmático

Sumo de uva preta Compostos fenólicos Protecção da saúde cardiovascular

Soja Proteína de soja Redução do colesterol plasmático

Tomate Licopeno Redução do risco de cancro

Iogurte e leites fermentados

Pró-bióticos Melhora a saúde gastrointestinal

Adaptado de: University of Illinois, International Food Information Council (71).