MARQUES 1999 - Sustentar Nao Eh Congelar

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' ' ' rw;'turae desenvolvimento:A Sustentabilidadeculturalemquesto -DINMICACULTURALE PI.ANEJANIENTOAMBIENTAL: SUSTENTARNO CONGELAR JosGeraldoW.Morgues Prof.VisitantenoUEFSenoUFSCar cada povotemaculturaquepode." Miguel Torgain "Portugal" "- ( ... )Issoquerdizerquelemosmuitotrabalho pelafrente.Elequercomerciarconosco? - Sim,GrandeRei.Elefalaemferro,teca,algodo, rubisemacacos. - Tudoquefozbemaocorao!" Gore Vidol in "Criao" "SeoReiZulujnopodeandor nu,oh.,salveo bolinadoBispoTutul" Gilberto Gil I- lnci lootemtico Nestetexto(subsdiodeumapalestrominhasobrein-sustentabil idadecultural),pretendoinvestir-metambmemum advogado do diabo demimmesmo. Mergulhar nosminhasdvidas, nadar no mor dos minhas mais recentes incertezas. E gostorio de convid-lo(o)poro que tornemos esse experincao comum. Quem sobe, ao final, no leremos avanado cautelosamente em direo oalgumas provisrios certezas? Comecemospor umaparbola intencionalmente provocativo, o doprofanaodosmacacosnoIlhodeBati.Osmacacossempre ocuparamumsfofusde sacralizaono hindusmo.Omacaco rhesus dosnossosoc1dentoislaboratrios,por exemplo,noobstanteposso ser amaldioado por alguns indianos, ainda objeto protegido pelos hindus ortodoxos e com issotempreenchido um complexo nicho 41 Culturaedesenvolvimento:ASustentabilidadeculturalemquesto cultural e ecolgico, tonto no ndio como no Nepal (Southwick &1985).H 600 anos,fugindo do exponsoislmico no subcontinente indiano,hindusortodoxosfixaram-senoIlhadeBolieali,olhoje, mantmosacrolidodesimiesco.Umaestratgiadesenvolvimentislo recenteporooilho,culturalmentesensveleembuscodo suslenlobilidade,incluiuflicosdeecolurismo"e"etnoturismo".Foi dessamaneiraqueoTemploCentral de Songehsetornouumponto quentedonovaperegrinao:ali,todos osdjas,chegammaisdemil "neoperegrinos"vindosdaAustrlia,sia,Europaeoutrosilhasdo arquiplago indonsio, em busca de uma interoo com os templrios macacos-de-cauda-longo (Macaco fascicularis), agora simples atroo ltJrstica(Small,1994}.Poisbem(poismal),osmacacosagorase tomaram mendigos e ladres: alimentados pelos turistas com amendoins, pes,bolachas,biscoitoseconfeitas,jno comemcomosuor do prprio rosto"' e sequer podem ver culos escuros ou ma leria I fotogrfico de visitantes emdescuido, pois ossurrupiam. Passaramaviver em um cidodestrutivodenecessi dadesedesejos, apegadoso osbens materiais".E como seisto no lhesbostasse, aindachupamfluidode isqueirosemascamfumodosrestosdecigarrosencontradosnolixo que os turistas criam (ibid.). svezestmque enfrentar decises cruis: seroubaremuma mquinafotogrfico,por exemplo,oestratgia que os guias tursticos utilizam para recuper-la oferecer-lhes bananas,as quais elestambmquerem(poistambmelesqueremsempremais!), mosnohcomoconsegui-lassemqueasapanhemcomasduo; mos,osmesmosduas(pois,afinalde contos,mltiplosbraosso prerrogativasdosdeuses!),quesimullaneomenlelmque largaro obscuro objeto do desejo" antes to estrategicamenteconquistado. Oro, que grande bobagem, diro alguns, buscar na histno no rural de(outros)primatas explicaesporoaHistriaculturalhumana,oo invsdebusc-losnoprpriahistriadesseexcepcionalmacaconu {como diria Oesmond Morris) I Ora, que grande bobagem, direi tambm eu,nobuscarnonossoprpriah1striaculturalachaveparo entendermos a histria natural de outros primatas! Pois, afinal de contas, emambosashistriasquesedeveencontraromaispreciosodos combustveis:oque permitiu oignio eaindasemcessar o crepitantefogodePrometeu(lumsden&Wilson,1985),acultura 42 Culturae desenvolvimento: A Sustentabilidade culturalemquesto humanocomosseusmacacos,ossuasgaros e ossuasgueixas. As suas garas, sim. Pois nem sde Terceiro Mundo vivem os que mendigam. A Flridotambm tempena dos seuspedintes... de penas. Issomesmo:seuspobres mendigosalados! Soosgaros do Baado Flrido,que emboracomnomesdegente:Chorlie,George,Herman etc., fi cam postados todas os manhs nosruas de FloridoKeys espero dosesmolas depeixesque osseus"donos"prazersomentevmlhes

et ai.,1988)- ou,ento,vodecasoemcoso,nas "suas" cosas, colete do "po que d estruturo ao seu quotidiano. De algumamaneiro,elosaprenderamoshorriosmaisprovveisde encontrar osseus"donos" emcoso,sincronizamsuasatividodespelos sonsescutadosnastelevisesechegamoloutilizarparledoseu repertriovocalporopedi r"uma esmo linhopeloamor de Deus".Na realidade, o que elas esto fazendo com talmudana comportamental sinalizar-nossobreoscondiesdedegradaoambientaldoseu ecossistema estuarino, de cuja abundncia j no podem depender como outrora. Comedoras de peixes prximos ao Iopo do cadeia trfico, falta-lhesagoraoalimentodequeprecisamporoogarantiadeuma reproduo bem-sucedido. Tornaram-se,portanto, bioindicodoros dos mudanas culturais introduzidas no seu ecossistema, cujos manguezais, aindaem1923,funcionavamsuficientementebemporomanteruma saudvel populao dessas oves raras, garantindo-lhes oritmo natural de uma alimentao auto-suficiente nolurno e de umdiurno descansar (ibid). Oquemesmoquenospoderodizer,ento,onsto magnnimos,tosopiensetodemens,essaspobresgaros,esses marginais macacos,sobrecoisasIosolenescomodinmicocultural eplanejamentoambiental?Qualamensagemqueelestrazemparo ns, os que nos inclumos em uma espcie to bizarra (que usa gueixas!), simultoneornenleprotenaegente,bioseelhnos,umaespcieonde tudo- ouquasetudo- podeacontecerdeformatocomplexae complementar,100% biolgico e culturalmente(Morin,1980)? Oque que tudo issotemmesmo over comin/sustentobilidade cultural? Vamos ver.Ou tentardes/velar. 43 Culturaedesenvolvimento:A Sustentabilidadeculturalemquesto 11 Quandooporcotorceorabo Umdosprincipaisqueeutenho como concei to de desenvolvimento sustentvel, tal quol originalmente proposto pela Comisso Brundtlond (Comisso Mundial sobreMeio Ambiente e Desenvolvimento,1988),dizrespeitoaoatendimentoexplcitodos _necessidades(v.p. 9)e implfcito dos aspiraes (v.p.46) das geraes .futuros,preocupaosimilaraofamoso diocrnico'' sonhado pelo ecodesenvolvimento clssico lgnocy Sochs. Pois,sehnecessidadesquesoperenes,tronsgeracionaispor natureza,oexemplodoarqueserespiraedoguoquesebebe, necessidades biolgicos de lodos ns, h outros que so absolutamente transitrios,circunstancialmente ditados,verdadeirasmarcas culturais de um tempo fugitivo. o que acontece, por exemplo, com o vestimenta. Povosinteirosatmdispensado,ouotmreduzidoadimenses mfnimos, enquanto outros exageram-no (os gueixas gostavam boa parle do tempo do sua vida no longo ritual da colocao do quimono!), indo muito almdanecessidadefrsicodecobrir ocorpo,multiplicando-a, colorindo-o, dando-lhe funes que vo do sinal esttico ostentao. Afinaldecontos,no-toaqueboaportedahistriahumanofoi escritotroando-se arotodosedaiEmalguns casos,oescndalode ontem torno-se o modo de hoje e, o escndalo, de longe, simplesmente umabanalidadevistadeperto(bostodor umaolhadanostrajesde banho das mulheres naspraias do infcio do sculo e no "fio dental" de agora,naspraiasiranianosdehojeenassuascorrespondery.fesde Ipanema ou Copocabono!).No custarelembrar que oChina foi azul enquantonelaperdurouatiraniadanecessidade;hoje,noentonto, perdidamente enamorado dos sonhos copitolislos,elo volto o colorir-se emmltiplos tons. Oalimento- ou,melhor dizendo,ocomida- umexemplo ilustrativo da dificuldade poro se lidar com 'necessidades simultaneamente permanentesetransitrios,nonecessariamentetronsgerocionais. QuemdiriaqueoIo"americano" hot-dogjfoialemo(Cascudo, 1968) e que odend, Io "baiano" hoje, veio do seuontemafricano? Os ,empresriosjaponesesdehojeaindaodoramofugu,prato preparadocomumdosmaisvenenosospeixes,eosgueixasainda aprendem o servir-lhes o sushi comimpecvel postura. Vitaminas e sois minerais so necessidades perenes, sim, mas o que dizer dos especionos, 44 Culturae desenvolvimento: A Sustentabilidadeculturalemquesto que mobilizaram frotas,fizeram-nos enfrentar colmarias, deftnirom rotos eterminarampordi tarregrasdeport1lhosqueculm1noromem Tordesilhas?Ser que se comem lipidios e corboidrotos ou simplesmente "odoro-se" chocolote2 Povo gosto mesmo de protena ou de pimento-do-reino? E quando os deuses fazem suas exigncias de loinhos e voto ps, defolhasecondimentos?Como plonejor ousoalimentar quando o quesecomeserveporodistinguircostaseclasses?Quandoos corboadrotos rculom e os colorias Ovem atravs de autnticos cadeias Nunca demais lembrar que bacalhau,no Brasil,j foi comido de negro r depois virou comido de pobre e ho"1e comido ...."htv,_"'r.,,,_ ,...de ricor . E que ofruto-po toiinlroduz1doporo ser comido de escravo - que dela no goslou! Oviajarpareceserumaintdnseconecessidadedecantatas signifi cativos e poro juslific-la criam-seregras e prescries. Mas, se a ida nascentedo Ganges prescriomilenar,oobrigatoriedade da ido o Meco apenas multisseculor e o peregrinao devocionol Oisney podeser conlodocomoumaemergnciacrescentenodcada.Alm disso,jno sevaimaisoMoscou visitarotmulo de Lnincomose fozio"antigamente"! Comofazerentoporoplanejorosatisfaodenecessidades futuros, quando os pormelros do possodo so obsolutamenle inseguros equandoseviveumpresenledamaisabsolutofugacidade?Como Cozer poro plonejor o futuro incerto de uma espcie que, de to plslico, pode ser consideradoomoaspolimrficodelodos,umaespcieque viveembuscodosconslcnlesodoploesexpressospor mudanas cuhurois que mui los vezes nodo mais reRetem que respostas o mudanas ambientais (Moron, 1990)?Emsumo:como plonejar taisrespostasou taisestmulos emuma situao emque ludo ferve,emque ludo foge, onde o "lrodio pode durar froes lmitadssmos de lempo, um tempo de desordens,impermanncias,incertezaseaparnciasmlliplas, "o melhor dos tempos e o pior dos tempos" de que falava Oickens? Como aluar no tempoonde"ludo que eraslidojsedesmanchouno ar", conforme,sempretend-lo,advertiu-nosoprprio Marx?Umtempo, na qual os desejos de ontem so de hoje e as necessidades de hoje podero ser simples desejos de amanh. Otempo do maligno triunfo dos sem:dos sem-terra, dossemleio, dos semtempo.Otempo da !ironia do tempo... sobre o prprio tempo. A complicao a tingir o seu auge se equacionarmos aspiraes 45 // Culturaedesenvolvimento:A Sustentabilidadeculturalemquesto =desejos. a, quando "o luxo no (mais) apenas raridade, vaidade, sucesso,fasdniosocial,osonhoqueospobresumdiarealizam fazendo-o perder imediatamente o seu antigo bnlho", conforme escreveu Braudel{ 1995)numa"traduo"sofisticadadoquelombmintuiu JooznhoTri.nlo{"pobregostodeluxo;quemgostodemisria intelectua11. E a, quando "no no produo que o sociedade encontro oseufon: oluxo ogrande promotor" - conforme disse Mouss.Ou ento, o, comosintelizou Bochelord: quando "o homem umCriira do desejo, no do necessidade". a que a porco !orce orabo! Torce mesmo, porque na transformao e notrocode objetos naturais em e por objelos culturas (e.g.,mulheres emgueixas!) que se salisfazem as necessidades humanas eos sonhos criam asas, viajame aterrisam.Foiassim,assim.AIndochinaentregououro,madeiros preciosas e at escravosemtroco depentes e caixas de locochinesas, eaChinateveverdadeirovoracidadepelosninhosdosandorinhas jovonesos e pelos salgadas patos de urso que lhe chegavam do Com boja (Broudel,op.cit.).Olrficodeanimaissilveslres(incluindoiguanas, serpentes e caronguejeiros)um dos mais importonles "'bigbusiness" destefinalde sculo,e,no transio do milmo,osanimaisvirtuais( tipo"lomogotchi") J ,..'4dem eles ser!Ser omesmo motor baleias para satisfazer osnecessidades proticasdos habitante; da Ilha de Fore e mot6-las para sustentar as raposos rticos do Sibria ps-Sovitico?Seromesmoutilizar espigasdemdhoporodecorar fchadosnosfestas de Dakoto do Sule nos rituaisMoyo? At omesmo biolgicomosquito-do-dengue(Adesoegypti),quecousatonto problemadesadepbliconoBrasil,tem-semostradoincuonos EstadosUnidos (e por razesculturais!). Umsgnero(Erythroxilum),sim,ococo;noentonto,quo multiplicados tm sido os seus itinerrios! Planto sagrado dos civilizaes pr-colombianas,aindahoje fazportedosoferendasPachoMamo dos oltiplanosbolivianos.Qualificado de "talism do Diabo", seuuso foi interditado pelo Igreja Catlica- interdio na prtico logo suspensa pelosespanhis,que,ao seaperceberemdoprodutividade crescente dos milhares de mineiros que aconsumiam,incentivaramentre eleso seuconsumo(Tolabard,1995).Fortementeenraizadanosculturas ondinos,elohojecumpretambmoseupapeldelubrificantedas roldanas marginais da globalizao do capital, cocana que virou ouro sob omgico loque do trfico. Amaconhatambmtemcumpridoosseusmltiplospapis. Biologicamente, no passcfcle duas, o ~possveis espcies de um mesmo gnero(Connobis);culturalmente,porm,mltiplaavariedadedo seuitinerrio!Osinglesestontoproibiramc o m ~incentivaramoseu 61 Culturaedesenvolvimento:ASustentabilidadeculturalemquestt> culti vo poro a produo do cnhamo, e ainda hoje osndios Guojoiora, doMaranho,outilizamritualmente.NaVrzeadoMorituba,h relativamentepouco tempo,o"liamba"ainda erafumadoemcrculos que lhe cantavamloas. Esta oporte do uso.A do abuso servir poro alimentar umtrfico que enlretece pobres & ricos emurna globalizao que tambm avano r:omrpidosucesso. Na Venezuela, o copivora estpara o perodo do quaresmo, ossin: como operu est poro o Dia de Ao de Graas nos EstadosUnidos. E interessante,porquesetrotadeumperodoreligioson ~qualincide exatomente umtabualimentar relacionadocomoconsuma da carne. Notemproblema:dosdesafiosbiolgicosoculturanoboteem retirado. No caso,uma revoluo laxonmica lransformou ozoolgico roedoremumetnozoolgicopeixe,eassimummercadoregional Tmbmselurifco. EmGano,umfuneraldemacaco pode exigir oferendasdegim cujagarrafacustaquasetantoquantoomontantenecessrioparoo sustento dirio de uma famlia (Bortusssek, 1998). Oque parece muito, noentanto,podeatserconsideradopouco,levando-seemcontoo papel"profissional"queessessmiosdesempenhamcomoanios-da-guardo". Trechos do orao fnebre a que tm direito mostram de formo absolutamente cloro a importncia de se ser macaco no rea do reservo deBoobeng-Fiemoe do retornoeconmico (bemsuperior aos gastos com gim!) que seespera do seuadf!quado funeral: "Oh,DeusTodo-Poderoso!TucriasteDaworohe confiaste-LheestesmacacosenssomosSeusservos. Infelizmente,umdosmacacosmorreuhoie.Portanto,ns Te pedimos que aceites esta oferto de gim, de talformo que um outro incidente similar no volte orepelir-se." "Nstepedimosqueprolejostodososmacacose todos os habitantes deBoobeng.Ns Tepedimosque nos concedas sade, amor e riquezas.Ns Tepedimos que nos dsclluvos suficienteseum boa colheita." V- Mantendoaceso(pormsobcontrole)ochamodePrometeu Admite-sehoie que oculturaseioumadascincodimensesdo desenvolvimentosustentvel.Definirobietivos,pois,poroo sustentobi lidode cultural implico o compreenso do poderoso metfora ao Fogo de Prometeu utilizado por Lvmsden & Wilson(op cit.} poro explicar 62 jr Cultu13 e desenvolvimento: A Sustentabilidadeculturalemquesto ofenmenodo culturahumano.Oobjelivo geraldosustentobilidode cultural. portanto, gnea:manter controlado o chamo (que tambm auto-ardente) roubada aos deuses, porm garantindo o suoperpetuidade nomundodoshomens,dosmulheres,dosbichos,dosplantas,dos velhose doscrianas.Manter acesoofogo,sim,porooespanto dos trevos,mossemlerqueutiliz-loparoalimentarourelroolimenlor fogueiras (ehtantasformos disfaradasdelas!). Umraciocnioluzdoqueeuvenhochamandode"ecologia abrangente" poder ser til. Elaporte do princpio de que, emldos os cantos eemtodos s tempos,os homens seinserememumarede que seexpondeatravsdecinco!!'inerois,v_egelois, animais. e sab.:_enoturois. E conectando-se, desconectando-se,s..ezesreconecfando-se1 queesse 110nimaltohumano,(como diria Ren Dubos) escreve, descreve/ reescreve o seu itinerrio. atravs de oliollase divrcios/concretosou obstrotos,comosseuscristaise llrios,com os seuspombos e lees,com seusvizinhos ou estrangeiros, comos seus anjos e seusdemnios, que osintervenes ambientais se vo e ossociedades se vo entretecendo,tudo dentro de uma grande culturaL Planejamenlaambiental,portanto,consistetambmempropor direes paraessadinmica. Direes que avaliemum Haiti movido o sapos ebaiacus (Davis, 1985), um xamonismo siberiano movido a ursos, umailhodeBolientretidaeenlretecidapor brigasdegalos(Geerlz, 1978). Umplonejomenlo que penseum desenvolvimento que tambm incluo onas poro os bororos, baleias poro os lnuit, renas poro os !Soam i., aiuoscaparaosTukano .Umplonejomentoque,tambmmovidoo guaspassados,lamente aextinodas inueoextirpaodasua santssimade ursos,corujase salmes. Oproblema que h os que pensam e agem atravs de conexes edesconexesforadasouforjados,vendo-oscomoinstrumentosde superoo poro "selvagerias" e "barbries". H que se leinbrar e 1e.nbr-los sempre c:eCiue muitas das conexes SQ prova de revoluo cultural I respiram por muito mais do que sete flegos e -se e quando necessrio for- s podem ser enfrentados por muito mais do que setenta esforos. Eisalguns dilemas de uma ingerncia ecolgico: ampliar prises e acender fogueiras? mandar marinhos e aeronuticos? Ou confiar em educadores, antroplogos, bilogos e todo a tribo de conservocionistas? Mesmo nesteltimo coso,umaperguntosemprepermanecerno ar. AquelainquietanteperguntafeitoporMarx:"quemeducaros 63 Culturaedesenvolvimento:ASustentabilidadeculturalemquesto educadores"?Pois,comosevecomo aindasever,hmtodos& - - -"mtodos". Mais umtrecho da corto de Colombo poder ser bemilustrativo de certos "mtodosH ainda pensados e usados. Vejamo-lo: "Eulhes doei uma poro de coisasbonitinhos poro ganhar o seuofeto e convenc-los osetornarem cristos. HClaro que h outros"mtodos": 1)Noxomonismosiberianohavia(h!)umfestivalreligioso dedicado ao urso.Nele, umurso era(!)morto (isto vemucongelodo" desdeoIdade do Gelo!)etinha(tem!)asuacabea cerimonialmenle utilizada.Duranteoperodosovitico,esseferiadofeslivarecebeu banimento oficial,e osseusparticipantes passaramoserperseguidos, presos (penas de ol vinte e cinco anos!) e ol mesmo mortos ( Milovsky, 1993). Aqueimadeapetrechosetamboresrituaisfoitestemunhado por vrios antroplogos. 2)Quando o governo chins invadiu o Tibet, omedicino tibetano (comfortebaseconexivobimilenarcomvegetaiseanimais)foi denunciadacomo"superstiofeudai"(Linden,1 991 ),oquelevouo nmerodeseusespecialistasadespencardemilharesporo aproximadamente500. Osdois"mtodos"acimafalharem.Ospraticantessib-erianos mantiveram secretamente ossuasprticas e,decorridos setentaanos, oque fororeduzido afogulhgde Prometeu era de novo a xamanfstico' chama. E ofogo da medicinotibetano,mal osinvasores afrouxaram os laas, voltou o predominar viva e acesa, pois o povo tibetano continuava ocreditar-l he mais eficcia do que medicina do Ocidente. Umavezquehmtodos&"mtodos" ... _g_uemtodos,que caminhosentobuscar?Paroque garantasucesso,umsucesso pormpontilhadopelosriscosdefracassosconstantes,umsucessso quesepromete masnosegorante,2restapercorrer asarriscadas, difceis e complicados viasdoparticipao, do comunho,do partilho comum dos soluesencontrados.Navegar por rotosde ignornciase sabedorias,mtuas,mutantes,mutveis..."Enfrentarosbarcoseos temporais".Tentar asestratgias de pilotagem de que fala Edgar Morin, .9s vias de dupla mo sugeridos por Paulo Freire, o conhecimento 64 Cultura e desenvolvimento: A Sustentablidade culturalem questo rpelo participao proposto por ThioRent. Reconhecendo que cada cultura iilprocessocom dinamismoprprio,buscar ocompreenso desse cdinamismo e nele incorporar-se, estimul-lo, deseslimul-lo, digeri-lo poro cdirigi-lo. ,...Sustentar,realmente,nocongelar.Aceitemo-lo.Sustentar cculturimenlenocondenaroguoquefervecristalizaodos geleiras. Compreendamo-lo. No Ouir que testemunhamos, muitos sociedades tradicionais vo, rnorealidade,tornando-secada vezmaisneotrodicionoisrinduindo vvelhosenovostroosculturais":Begossi,1998)e,porosituaes r.neotrodicionois, ho de se lentar solues neolrodicionois. Dentre estas, cobusco de novos alianas (oexemplo cfo sontuno que foicriado poro pproteger macacos enativos no coso de Gano antes comentado) de11er sser umnorte.Ogrande risco - eumrisco oser assumido - que o n fluir termine por fazer com que restem apenas aqueles ndios invisveis" I ddos quais falouPhillipe Descolas ( Monier, 1992}. Parece,porlonlo,queumarevisitoaoprprioconceitode Irlrodicionolidodetambm sejan-eCessrio.Aurgnciadoddo biodiversidade- enela odoespcieHomosapiens- exigeuma gginslico que incluo no apenas os seqenois tempos lronsgerocionois ggeradoresdotradio,mostambmos"vriostempos'":tempos trtradicionais, tempos no-lrodicionois, linearidades e circularidades. Afinal ddecontos,comofalouBrondon(1996),omudanasocialdepovos Irtradicionais posso o ocorrer em tempos e ai, lemo eu, q. qUe o crise o biOdiversidade posso no ser omesmo poro todos os que oovivenciom,revestindo-seduplamenteofenmenocomo"nosso" bi biodiversidadeeobiodiversidade"deles'".Nossosperguntas-chove pcpoderod1ferirsignificativamente:"serqueonossobiodi11ersidode SI..suporloroaumentodossuasbarrigas?"poderserumapergunto ncnosso,"serque osuobiodiversidadeencherobarrigadosnossos cr crianas?" poder ser opergunto "deles". Otempodosrese,..,osexcludenlesacabou(Oiegues,1994).H que se pensar tambmno b1chohumano,mltiplo bicho mult1plicodo. q.q-Pois,poro onde debandar abicharada encantado que ele os os curupiros eos donos-dos-onirnois,os cairaros eos mes d'gua, os eoscaiporos?Deverodesdejserexclufdosdos pl rplonejomenlos cdoscJucaes ambientais,corno oobrigo onobreza ar arrogante do nosso v b1olog1a? Batero eles cooosco em retirado poro se se enlocor notinexistentepois dos reas "selvagens" inlocodos? Ou 65 Culturaedesenvolvimento:ASustentabilidadeculturalemquesto continuaro,enquantotempo,alertando-noscomohumildadede que necessalamos, osugerir bons slogonsdestetipo: VAMOSSALVARACAIPORAQUEELASALVAACAPIVARA' Afinaldecontos,enquanto,dopontodevistododimenso econmicodosuslenlobilidode,nohoquedu1idorsobreo globolrzoo, o qual ainda se nutre de porodoxicidodes e "equilibro-se" no corda bombo de foras relativamente ontognicos que se golpe"om, do ponto de vislododimenso cultural,bem pertinente opergunlo: ser que se trolc;Jrnesm.o.de uroo globalizao, ou ser que otendncao mericonizante aluol j de tal formo hegemniCo que o que gero no de uma MacDonoldizoodo mundo - repelindo-seno plano cultural aquilo que Bob Holmes (1998) viuno plano do nolurem? Uma dessocrolh:oo mossivo, uma banalizao exagerado, uma profanao consentido,uma '"ossepsio'"do olteridude?Se assimfor,se ocoiporo fico,ser que obicho pego? E se elo corre? Ser que obicho come? E se assimnemfor? Referncias ALLEN,K.- 1997 _Culturalsensilivity ond conservotion.The Conse(llo;ionrsl Newsletter, 2( I): 3 pp.. BARTUSSEK,I.1998. Children of lhe Gods. BBC Wrfdlrfe(June):32-9. ""..BEGOSSI,A1998. Extroclivereser1esinlhe Braz1ltonAmozon:on exomple tobe loUowed in lhe Atlonlic forest? Crncio e C:ultura Journol of theBrolion Associolionforlhe Advoncement of Scrence,50 (1): 24-8. BOURG,O.1997. Os sentimentos donaturezaLisboa,lnslilulo Pioget. BRANDON,K.1996. Trod11ionolpeoples,nontrodilionoltunes:social chonge and theimplicolionsforbrodiversily conse,..,ollon.ln: Redford,K.H.& Mansur,J.A(edil ). Trod1lionolpeoples ond biodiversifyconservo/ionin/o1getropical/ondscopes.TheNature Conservancy,Arlington,USA BRAUDEL,F.1995. Civi/izoo moleno/, econom1o e capitalismo. 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""" VIERTLER... ........................ .Ndia Fernanda Maia de Amorim37 If" CAPTULO3:DINMICACULTURAlEPLANEJAMENTO !,AMBIENTAL:SUSTENTARNO .......-----..................................Jos Geraldo '!:f.Marques41 {CAPTUlO 4: AGROBIDIVERSIDADE: ENTRENATUREZA E CUlTURA ........................................ Vinicius Nobre Lages CAPTUlO5: A FSICAE A GEOMETRIZAODO MUNO O: CONSTRUINDOUMACOSMOVJS O C I E NT FICA .................Francisco Car uso & Roberto Moreira 69 Xavier de Araio85 CAPITUlO6:COMENTRIODOARTIGOAFSICAEA GEOMETRIZAODOMUNDO:CONSTRUINDOUMA COSMOV/SODOMUNDO,DEF.CARUSOER.M.X.DE Barretfo Bastos Filhol 07 CAPTUlO7:CULTURAE DESENVOLVIMENTO:EMBUSCA DAHUMANIZAODOCRESCIMENTO ECONMICO........................... .Aiessanc!ro Warley Candeas)135 I