MARQUESE, Rafael - A Ilustracao Luso-brasileira e a Circulação Dos Saberes Escravistas Caribenhos

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    Universidade de So Paulo

    2009

    A Ilustrao luso-brasileira e a circulao dossaberes escravistas caribenhos: a montagem

    da cafeicultura brasileira em perspectiva

    comparada

    Histria, Cincias, Sade-Manguinhos, v.16, n.4, p.855-880, 2009

    http://producao.usp.br/handle/BDPI/6899

    Downloaded from: Biblioteca Digital da Produo Intelectual - BDPI, Universidade de So Paulo

    Biblioteca Digital da Produo Intelectual - BDPI

    Departamento Histria - FFLCH/FLH Artigos e Materiais de Revistas Cientficas - FFLCH/FLH

    http://producao.usp.br/handle/BDPI/6899http://producao.usp.br/handle/BDPI/6899
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    v.16, n.4, out.-dez. 2009, p.855-880 855

    A Ilustrao luso-brasileira e a circulao dos saberes escravistas caribenhos

    A Ilustraoluso-brasileira e a

    circulao dos saberesescravistas caribenhos: a

    montagem da cafeiculturabrasileira em perspectiva

    comparada

    Luso-BrazilianEnlightenment and thecirculation of Caribbean

    slavery-related knowledge:

    the establishment of theBrazilian coffee culture froma comparative perspective

    Rafael de Bivar MarqueseProfessor da Faculdade de Filosofia, Letras e

    Cincias Humanas/Universidade de So PauloAv.Professor Lineu Prestes, 338

    CEP 05508-900 So Paulo SP [email protected]

    Recebido para publicao em outubro de 2008.

    Aprovado para publicao em fevereiro de 2009.

    MARQUESE, Rafael de Bivar. A

    Ilustrao luso-brasileira e a circulaodos saberes escravistas caribenhos: amontagem da cafeicultura brasileira emperspectiva comparada.Histria,Cincias, Sade Manguinhos, Rio de

    Janeiro, v.16, n.4, out.-dez. 2009,p.855-880.

    Resumo:

    A gerao dos ilustrados luso-brasileirosencarou a agricultura escravistacaribenha como o modelo a seremulado na Amrica portuguesa. Para

    tanto, traduziram e publicaram, navirada do sculo XVIII para o XIX,alguns textos elaborados nas Antilhas.Nesse escopo reformista, a cafeiculturaocupou lugar de destaque. Paracompreender o papel desses saberes namontagem da cafeicultura brasileira,comparam-se os casos de Brasil e Cuba.Pretende-se demonstrar que, nacolnia espanhola, implantou-se defato a planta produtiva cafeeira deSanto Domingo, e no Brasil, criou-se

    uma planta, lastreada em novospadres de gesto agrcola fundados emsaberes locais.

    Palavras-chave: cafeicultura; escravido;Brasil; Cuba; Santo Domingo.

    Abst ract

    The generation of enlightened Luso-

    Brazilians saw Caribbean slavery

    agriculture as the model to be emulated in

    Portuguese America. To do so, at the turn of

    the eighteenth to the nineteenth centuries,they translated and published some texts

    originally elaborated in the Antilles. In this

    reformist environment, the coffee culture

    occupied a place of prominence. To

    understand the role of this knowledge in

    establishing the Brazilian coffee culture, the

    Brazilian case is compared with the Cuban.

    The intent is to demonstrate that in the

    Spanish colony, the productive coffee plan

    of Santo Domingo was implanted, while in

    Brazil a plan was created, supported by new

    standards of agricultural management that

    were founded on local knowledge.

    Keywords: coffee culture; slavery; Brazil;

    Cuba; Santo Domingo.

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    856 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro

    Rafael de Bivar Marquese

    Dentro do escopo reformista da Ilustrao luso-brasileira, que pretendia dinamizar aeconomia do Imprio portugus notadamente de sua poro americana por meioda diversificao da pauta de exportaes e do incremento na produo dos artigos j

    explorados, a agricultura escravista caribenha foi tomada como o modelo a ser emulado(Galloway, 1979; Marquese, 2004). A atitude pode ser observada com clareza nas escolhasque levaram composio da famosa coleo O Fazendeiro do Brasil, editada entre 1798 e1806 pelo botnico mineiro frei Jos Mariano da Conceio Veloso. Encarregado por domRodrigo de Sousa Coutinho, secretrio de Estado da Marinha e dos Domnios Ultramarinosa partir de 1796, de colocar disposio dos vassalos brasileiros o que de melhor foraescrito sobre os diferentes gneros agrcolas passveis de serem cultivados na Amrica, Velosorecorreu basicamente a publicaes inglesas e francesas. Salvo poucas excees, os textosque Veloso inseriu nO Fazendeiro foram tradues de trabalhos que representavam a

    ponta dos saberes escravistas isto , tcnicas agronmicas, maquinrio de processamentoe mtodos de administrao dos escravos elaborados nas possesses caribenhas inglesas efrancesas ao longo do sculo XVIII.

    O caf ocupou lugar de destaque na coleo. De seus 11 volumes, dois foram dedicadosexclusivamente ao produto, algo que s teve equivalente com o acar e o anil (os demaiscuidaram do algodo, do cacau, da cochonilha, das especiarias e da pecuria). O primeirodeles trouxe uma miscelnea de textos compostos por diferentes autores, que versaramsobre a produo e o comrcio do caf, tanto em terras banhadas pelo ndico como em

    diferentes colnias do Atlntico (Guiana Francesa, Santo Domingo, Jamaica). O segundovolume, por sua vez, foi reservado a um nico trabalho: o manual de Pierre-Joseph Laborie,The coffee planter of Saint Domingo, publicado originalmente em ingls apenas dois anosantes da traduo para o portugus.

    Na avaliao de Veloso, a obra de Laborie representava no apenas o melhor tratadosobre o caf, mas poderia igualmente servir a outros setores, uma vez que os termos emque ela foi concebida e executada a faz merecedora de ser acolhida como um modelodigno de ser imitado em todas as outras granjearias de igual porte, que requeiram um taltrfego de mquinas, substituindo-se palavra caf a de anil, acar, e s mquinas, as que

    forem prprias (Laborie, 1800, p.VIII). A avaliao do botnico mineiro foi de fato precisa.Durante grande parte do sculo XIX, o manual de Laborie foi reputado como a grandereferncia sobre o assunto. Em 1866, por exemplo, tratando da cafeicultura no Ceilobritnico, William Augustus Sabonadire (1875) considerava o manual de Laborie a melhorpea j escrita sobre o assunto.

    O evento que motivou Laborie a compor seu manual foi o mesmo que impulsionouparte considervel da atuao governativa de dom Rodrigo de Sousa Coutinho frente daSecretaria dos Domnios Ultramarinos e, tambm, da ao editorial de frei Veloso: o levantedos escravos da colnia francesa de Santo Domingo. Se Laborie concebeu seu texto como

    uma espcie de oferta de gratido pela invaso britnica de Santo Domingo, mirando aspotencialidades da cafeicultura na Jamaica, dom Rodrigo e frei Veloso viam nele umagrande oportunidade para aproveitar o vcuo no mercado mundial dos artigos tropicaiscausado pela revoluo escrava. No caso especfico do caf, contudo, os produtores escravistasdo Brasil demoraram a responder aposta dos burocratas e ilustrados luso-brasileiros. Em

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    v.16, n.4, out.-dez. 2009, p.855-880 857

    A Ilustrao luso-brasileira e a circulao dos saberes escravistas caribenhos

    1800 o caf estava bem atrs do acar, do tabaco, do algodo e do arroz na pauta das

    exportaes da Amrica portuguesa (Arruda, 1986). A cafeicultura brasileira s passou a

    crescer de forma consistente na dcada de 1810, s se verificando seu verdadeiro salto na

    seguinte (Marquese, Tomich, no prelo).Em vista dessas informaes, cabe formular a pergunta: qual o papel dos saberes

    escravistas caribenhos transmitidos pelos ilustrados luso-brasileiros, na montagem da

    cafeicultura brasileira? Trata-se, sem dvida, de questo relevante, mas pouco enfrentada

    pelos especialistas. Uma exceo se encontra no campo da histria da arquitetura. Marcos

    Carrilho (2006), em trabalho inovador sobre as fazendas de caf no fundo do Vale do

    Paraba paulista, afirmou que o manual de Laborie certamente foi a referncia mais

    importante para o desenvolvimento da cultura do caf no Brasil (p.61), enxergando uma

    srie de continuidades entre as prescries do autor de Santo Domingo com as prticasempregadas pelos cafeicultores brasileiros (Carrilho, 1994, p.47-48). Do mesmo modo,

    Vladimir Benincasa (2007), em ampla pesquisa sobre as fazendas de caf na provncia e no

    estado de So Paulo, afirma que nos primrdios da cafeicultura no Vale do Paraba as

    chamadas memrias para o cultivo de caf que viriam a suprir a falta de intimidade do

    agricultor brasileiro com o cafeeiro e as instalaes necessrias a seu beneficiamento. Um

    dos mais importantes manuais da cafeicultura, que teve boa difuso no meio rural brasileiro,

    foi a obra O fazendeiro de caf da ilha de So Domingos, de P. Laborie (p.32).

    O enquadramento comparativo pode fornecer um bom caminho para responder

    pergunta, aquilatando-se assim a correo das assertivas dos historiadores da arquitetura.Para tanto, a colnia espanhola de Cuba representa um caso ideal. Tal como seus pares

    luso-brasileiros, burocratas, ilustrados espanhis e elites crioulas apresentavam em finais

    do sculo XVIII uma plataforma de dinamizao da economia insular que tomava o Caribe

    ingls e francs como modelo para a reforma. Afora isso, no caso especfico da cafeicultura,

    o crescimento da produo cubana tambm ocorreu no vcuo da Revoluo de Santo

    Domingo, ou seja, na virada do sculo XVIII para o XIX. Tampouco Laborie demorou a

    ser vertido para o castelhano: em 1810, publicou-se, em Havana, uma verso de seu manual,

    com o ttulo Cultivo del cafeto (Laborie, 1820).

    Pretendo demonstrar que, em Cuba, implantou-se de fato a planta produtiva cafeeira

    de Santo Domingo, tal como veiculada pelo manual de Laborie, sobretudo pelos refugiados

    franceses que para l se dirigiram aps 1791. A colnia espanhola representou, desse modo,

    o termo lgico da planta proposta por Laborie. No Brasil, criou-se ao contrrio do que

    afirmam os especialistas em histria da arquitetura uma nova planta produtiva, lastreada

    em novos padres de gesto agrcola, fundados em saberes elaborados localmente.

    Na primeira parte deste artigo, apresento o modelo de Laborie; na segunda, discuto os

    procedimentos adotados em Portugal e Cuba na traduo de seu manual, a montagem da

    produo cafeeira na colnia espanhola e o padro tcnico dos cafezais no macio da Tijuca,fundados aps a fuga da famlia real portuguesa para o Rio de Janeiro. Na ltima parte,

    examino a ruptura que a cafeicultura escravista do Vale do Paraba trouxe em relao ao

    modelo pretrito de Santo Domingo, e exploro brevemente as implicaes mais amplas

    dessa modificao.

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    858 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro

    Rafael de Bivar Marquese

    Pierre-Joseph Laborie e o modelo de Santo Domingo

    A apropriao do cafeeiro pelos poderes ocidentais dependeu das redes formadas pelos

    jardins de aclimatao metropolitanos (Beinart, Hugues, 2007, p.24-25). Originalmente

    granjeado e comercializado apenas pelos rabes, o caf tornou-se alvo, j no sculo XVII,

    dos interesses coloniais europeus, que, por meio de instituies como o Jardim Botnico de

    Amsterd e o Jardin des Plantes, de Paris, lograram apreender os segredos do arbusto,

    transplantando-o com sucesso para suas possesses ultramarinas (Martins, 2008, p.26-27).

    Nas primeiras dcadas do sculo XVIII, as colnias holandesas de Java e Suriname e a

    Martinica francesa despontaram como produtoras de porte, capazes de responder a parte

    considervel da demanda metropolitana. O salto na produo europeia, contudo, s veio

    com o deslanche cafeeiro da colnia francesa de Santo Domingo, verificado aps a Guerra

    dos Sete Anos (1755-1763). Na dcada de 1740, franceses e holandeses produziam, naquelascolnias, cerca de seis mil toneladas mtricas anuais (Samper, Fernando, 2003, p.412; May,

    1972). As exportaes de Santo Domingo, por sua vez, pularam do patamar de cerca de

    3.100 toneladas em 1755, para perto de 32 mil toneladas em 1790. Na ltima data, a

    produo dos franceses nas Antilhas e no ndico (Santo Domingo, Martinica, Guadalupe,

    Caiena, Reunin) somava cerca de 48 mil toneladas, algo equivalente a 70% do total

    mundial, estimado em 69.400 toneladas. Como se v, s vsperas da revoluo, Santo

    Domingo era responsvel por quase metade da produo mundial de caf (Gonzlez

    Fernndez, 1989, p.154; Trouillot, 1982, p.337).

    Tal foi o contexto econmico da elaborao do manual de Pierre-Joseph Laborie. Nascidono Cap Franois, em 1744, Laborie investiu no setor cafeeiro a partir da dcada de 1770,

    destacando-se como produtor na parquia de Borgne. Na avaliao de Moreau de Saint-

    Mry (1797, v.1, p.680), o caf obtido nessa parquia era considerado o melhor da parte

    norte da colnia. Ademais, sua converso em zona cafeeira era relativamente recente: em

    1743, a populao total da parquia no ultrapassava 800 pessoas, que produziam, para

    exportao, apenas anil; s vsperas da revoluo, contava com 412 brancos, 282 libertos

    e 5.742 escravos, empregados em 117 plantations cafeeiras, contra apenas duas anileiras e

    nenhum engenho de acar.

    A respeito do contexto intelectual, no se sabe ao certo se Laborie foi membro da

    Socit Royale des Sciences et des Arts du Cap Franois (mais conhecida como Cercle des

    Philadelphes), mas pode-se afirmar que sua rede de amizades e relaes o colocou em contato

    prximo com o que ali se discutia.1 Como demonstrou o cuidadoso estudo de James

    McClellan (1992), na dcada de 1780 Santo Domingo era no s a mais rica colnia

    escravista europeia do Novo Mundo, mas tambm um dos maiores centros cientficos do

    hemisfrio ocidental.

    A melhor expresso do avano cientfico de Santo Domingo no Antigo Regime foi

    justamente o estabelecimento de uma instituio como o Cercle des Philadelphes. Seu objetivocentral era elaborar um corpo de conhecimentos cientficos que fosse til aos colonos,

    contribuindo assim para o aumento da prosperidade da colnia. O programa da sociedade

    previa a compilao de informaes sobre a histria natural e a economia de Santo

    Domingo, a realizao de estudos sobre doenas tropicais, pesquisas sobre aclimatao de

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    v.16, n.4, out.-dez. 2009, p.855-880 859

    A Ilustrao luso-brasileira e a circulao dos saberes escravistas caribenhos

    novas espcies vegetais e animais, e investigaes sobre tcnicas agrcolas e manufatureiras.Na instituio, que contou com a participao ativa de vrios proprietrios rurais envolvidosdiretamente na explorao de escravos, foram elaborados alguns dos principais textos dos

    saberes escravistas do mundo atlntico de ento: basta lembrarmos o famoso manualaucareiro de Jacques-Franois Dutrne, de 1790, ou o tratado sobre a cochonilha da lavrade Thierry de Menonville, de 1787, ambos vertidos ao portugus por frei Velloso (Dutrne,1801; Ferraz, 2007). Para nossos fins, importa destacar que o manual de Laborie afinou-seaos princpios mais amplos que regeram a composio dos trabalhos agronmicosproduzidos no Cercle des Philadelphes.

    O incio da Revoluo Francesa trouxe Laborie para o primeiro plano da ao poltica.Advogado de formao, tinha experincia poltica devido a seus servios como secretrioda Chambre dAgriculture do Cap Franois. Estando em Paris em 1790, foi nomeado

    procurador-geral do Conseil Suprieurdo Cap, e, no ano seguinte, eleito deputado para aAssembleia Nacional pela provncia do norte. Ativo membro do lobby pr-escravista naFrana (Geggus, 1989, p.1295), ao regressar a Santo Domingo foi um dos muitos colonosfranceses a apoiar a invaso britnica de 1793. Com a vitria de Toussaint LOuverture, em1798, refugiou-se na Jamaica, onde faleceu dois anos depois. The coffee planter of SaintDomingo traduziu com preciso as escolhas polticas de seu autor. Laborie esclareceu, noprefcio, que oferecia a obra em ingls como sinal de gratido pelo auxlio britnico aossenhores de escravos franceses e, tambm, para que pudesse ser til aos proprietrios

    jamaicanos, pblico leitor ao qual se destinava e at ento ignorante a respeito dos segredosda produo cafeeira de Santo Domingo (Laborie, 1798, p.IV).2

    Laborie dividiu seu tratado em quatro captulos, que abordam a escolha e o preparodos terrenos para o plantio do caf, a construo e distribuio dos edifcios, a cultura e oprocessamento dos gros, e, por fim, a administrao dos escravos (Laborie, 1798). Para ospropsitos deste artigo, cabe destacar trs pontos. O primeiro se refere s tcnicasagronmicas. Ao traduzir as prticas efetivamente empregadas em Santo Domingo, Laborieencampou o padro bsico de manejo do cafezal criado pelos europeus no oceano ndicoem princpios do sculo XVIII, isto , o plantio em alinhamento e o decote dos cafeeiros

    ao atingir a altura de um homem adulto, acrescentando ao mtodo a disposio emquincunces, cuja vantagem unir as fileiras, e por consequncia ganhar terreno (Laborie,1800, p.159; Figura 1).

    O afastamento-padro veiculado por Laborie (1800, p.162), de seis ps quadrados porquincunce, significava cerca de 15.700 arbustos por alqueire geomtrico (48.400m2). Para acolheita, Laborie recomendava o sistema de tarefas clssico (Morgan, 1988). Cada escravodeveria recolher diariamente uma determinada quantidade de cerejas, estipulada conformea distncia entre o cafezal e as instalaes de beneficiamento e a quantidade de trabalhadoresdisponveis para a safra. Como estmulo, concedia-se tempo livre ao trmino da tarefa,

    sendo a prtica da derria com a consequente apanha indiscriminada de frutos verdes emaduros interditada com vistas melhoria do produto final (Laborie, 1800, p.217-218).

    O segundo ponto a destacar o fato de o sistema de colheita articular-se diretamenteao mtodo de processamento adotado. O beneficiamento do caf consiste na separaodos dois invlucros que revestem a semente, a polpa e o pergaminho. Laborie anotou,

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    Rafael de Bivar Marquese

    primeiramente, a prtica comum do beneficiamento em cerejas: aps serem colhidos, osfrutos eram postos a secar ao sol em grandes terreiros, at se tornarem completamentesecos e as polpas, quebradias, dando-se em seguida a separao entre os dois revestimentos

    e o gro de caf. No entanto no foi esse o processo que recomendou. Dada a alta pluviosidadecaribenha, Laborie seguindo a prtica de cafeicultores renomados props o que por lse denominava preparao em casca, conhecido no Brasil como via mida. Nesse mtodo,a polpa dos frutos era imediatamente retirada aps a colheita por uma mquina despol-padora acionada por energia manual ou hidrulica (Figura 2). Envolvidos apenas pelopergaminho, os gros eram lavados, em seguida, durante 24 horas em tanques com guacorrente, com o duplo propsito de tirar a goma das sementes e separar os gros madurosdos cochos, que ao serem colocados nesses tanques subiam superfcie esses gros, apar-tados dos maduros, davam um caf de qualidade inferior. Aps a lavagem, os gros em

    pergaminho eram depositados nos terreiros (ou plataformas de secar, nome que lhes eradado nas Antilhas francesas) at ficarem completamente secos, quando se procedia retiradafinal do pergaminho nos moinhos de descascar (Figura 3), encerrando-se o processo coma escolha dos gros e o seu ensacamento (Laborie, 1800, p.67-86).

    Por fim, o terceiro ponto refere-se ao mtodo de beneficiamento prescrito, que exigia,para ser bem-sucedido, a adequao espacial da fazenda. Isso pode ser observado, emprimeiro lugar, na construo dos terreiros. As demandas do processo produtivo (retiradada polpa, lavagem, secagem, retirada do pergaminho) impunham a correta disposio dos

    terreiros no conjunto dos edifcios. Em terrenos inclinados, por exemplo, eles seriamconstrudos em cortes de anfiteatro, seguindo o fluxo do beneficiamento. Do mesmo modo,os terreiros deveriam ser ajustados s dimenses dos cafezais e ao ritmo da colheita. Assim esclareceu Laborie sendo o tempo da colheita mais longo, menor superfcie precisa.Nota-se, aqui, como a organizao do processo de trabalho se harmonizava arquiteturaindustrial: no sistema de tarefas prescrito, a determinao categrica para escolha apenasde frutos maduros significava que um mesmo cafezal seria necessariamente colhido vriasvezes ao longo da safra. Laborie (1800, p.118-125) finalizou suas consideraes sobre osterreiros oferecendo instrues minuciosas sobre levantamento dos muros de conteno,

    compactao, nivelamento do solo, inclinao, calamento e construo de bordas circularesno centro dos terreiros, para as cabanas cnicas de proteo contra as chuvas.

    O cuidado com a apresentao de todos os passos necessrios construo e distribuiodos edifcios foi mais alm. O texto do manual se fez acompanhar bem ao estilo cognitivo daIlustrao (Le Bot, 1979, p.54-69) de algumas pranchas, em que eram apresentadas plantasarquitetnicas de duas grandes fazendas de Santo Domingo, com indicao exata da localizaodos edifcios e, em uma delas, tambm dos cafezais, das matas e dos pastos. Vale examinarrapidamente duas dessas pranchas. Segundo Laborie, a simetria era o princpio que deveriaguiar a implantao da propriedade, tanto na organizao dos campos como em sua sede.

    Para tanto, exps o plano de uma habitation que considerava modelar. Como se v na Figura 4,a propriedade em tela seria dividida simetricamente em trs partes: (1) os cafezais, localizados esquerda; (2) as reservas de mata, direita; e (3) o centro da habitation, ocupada com instalaesde beneficiamento e moradia (A), terrenos de cultivo de prados artificiais (B), provises (C),bananeiras (D), pastos (G) e roas prprias dos escravos (F).

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    Figura 1: Plantio em quincunce (Laborie, 1800)

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    Figura 2: Moinho manual de despolpamento (Laborie, 1800)

    Figura 3: Moinho de descascar (Laborie, 1800)

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    Figura

    4:Planodeumahabitationc

    afeeir

    a(Laborie,

    1800)

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    Rafael de Bivar Marquese

    Conforme se nota pela escala, a propriedade teria cerca de 1.500 passos quadrados(passo ingls = 0,762m), ou seja, cerca de 27 alqueires geomtricos. Laborie no informouo nmero de escravos, mas, observam-se na planta detalhada da sede da habitationsessenta

    unidades habitacionais, construdas conforme o modelo de moradia escrava que prescrevera(Laborie, 1800, p.136; Figura 5, L); como seriam alocados trs cativos em cada unidade,calcula-se que poderiam residir, nessa propriedade, por volta de 180 escravos. O espaocafeeiro expresso nesses planos traduzia preocupao com o tratamento paisagstico daplantation, estritamente articulado ao disciplinamento de seu espao material e social. Acasa de vivenda, contendo a tulha (A), ocuparia o centro de todo o conjunto, o quepermitiria ao proprietrio o controle visual do processo produtivo (terreiros de secagem Kacoplados ao engenho E), das hortas (B), do hospital (D) e das senzalas (L). Nas palavrasde Laborie (1800, p.104-105), as casas... devem ser de maneira situadas que possa o senhor

    ver tudo, ouvir e dar ordem.

    Figura 5: Detalhe da sede (Laborie, 1800)

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    A Ilustrao luso-brasileira e a circulao dos saberes escravistas caribenhos

    Traduzindo Laborie: os cafetales cubanos e os cafezais da Tijuca

    A qualidade do tratado de Laborie e o peso que a produo cafeeira de Santo Domingo

    tivera no mercado mundial at o incio da revoluo escrava rapidamente chamaram aateno dos homens de letras no universo ibrico. A traduo para o portugus, lanada

    em 1800, foi quase imediata edio original, ao passo que, em Cuba, foi impressa uma

    traduo para o castelhano ainda na primeira dcada do sculo XIX. Houve, contudo,

    contraste sensvel entre esses dois trabalhos editoriais.

    A traduo cubana foi preparada nos marcos da Sociedade Econmica dos Amigos do

    Pas e do Real Consulado de Havana, instituies ilustradas, fundadas na dcada de 1790

    por senhores de escravos e autoridades coloniais conforme o modelo das congneres

    metropolitanas, cujo objetivo bsico era promover a dinamizao da economia escravista da

    ilha (lvarez Cuartero, 2000, p.16). Pablo Boloix foi quem mais se destacou na promooda cafeicultura nessas duas instituies. Em 1797, por exemplo, realizou, a pedido delas,

    um inventrio das unidades cafeeiras da regio ocidental da ilha, procurando identificar

    as que poderiam servir de modelo para os que pretendiam investir no setor (Van Norman

    Jr., 2005, p.65-69). Como parte desses esforos e de seu envolvimento com a cafeicultura,

    Boloix cuidou pessoalmente da traduo do manual de Laborie, cuja primeira edio em

    castelhano veio a lume em 1810 (Laborie, 1820, p.112). Destaca-se, portanto, a participao

    ativa dos senhores de escravos cubanos na tarefa, em quadro institucional semelhante ao

    doCercle des Philadelphes

    de Santo Domingo.

    A edio em portugus foi mais precoce, mas, por outro lado, no envolveu rede

    institucional que contasse com a participao ativa dos senhores de escravos da Amrica

    portuguesa. Com efeito, a gigantesca atividade editorial tocada adiante por frei Veloso em

    Portugal, com suporte financeiro e poltico garantido por dom Rodrigo de Sousa Coutinho

    (Curto et al.,1999), no esteve atrelada s demandas imediatas dos que investiam na

    explorao escravista. Veloso cercou-se de muitos ex-estudantes de Coimbra oriundos do

    Brasil para as tarefas editoriais que comandou; nenhum deles, contudo, se comportou

    como representante direto dos interesses escravistas americanos. Vejamos o caso da traduo

    do manual de Laborie, a cargo de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, irmo de JosBonifcio. H, a respeito, o depoimento citado pela historiadora Maria de Lourdes Vianna

    Lyra (1994, p.84) bastante significativo de Jos Feliciano Fernandes Pinheiro, um dos

    estudantes brasileiros que gravitavam em torno de Veloso:

    Encontrando-me um dia com Antonio Carlos, meu patrcio e amigo, que igualmentevivia desempregado, referiu-me que Manuel Jacinto Nogueira da Gama o convidara aentrar de colaborador em um estabelecimento literrio e tipogrfico que se fundara ...denominado Arco do Cego. A direo do estabelecimento criado sob as vistas e proteodo Ministro de Ultramar D.Rodrigo de Sousa Coutinho, era confiada ao padre-mestre fr.

    J.M. Conceio Veloso ... que estava como pensionista do Estado, incumbido de procurarcompanheiros que o coadjuvassem naquela empresa literria. As vantagens oferecidaseram aposentamento no edifcio, compreendendo as despesas de mesa, e sobretudo oconhecimento de nossas habilidades pelo governo. Tnhamos por obrigao fazer atraduo das obras que nos designassem.

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    866 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro

    Rafael de Bivar Marquese

    Como veremos adiante, em duas dcadas Nogueira da Gama se destacaria como grandecafeicultor no Vale do Paraba, mas em 1800 era apenas um jovem desempregado em

    Lisboa, sem conexes diretas com o universo da produo escravista da Amrica portuguesa.

    O mesmo se pode afirmar sobre Antonio Carlos, filho de uma famlia de ricos comerciantesde Santos, e de todos os demais que participaram da empreitada comandada por Veloso. O

    pressuposto subjacente ao editorial encomendada por dom Rodrigo de Sousa Coutinhoera o de que os produtores escravistas da Amrica portuguesa, ignorantes e atrasados em

    matria agronmica, necessitavam de mo forte, segura e ilustrada para gui-los na moder-

    nizao de seus empreendimentos, mo que s poderia ser fornecida pelos letrados a serviodo Estado. Veloso explicitou essa concepo j no prefcio do primeiro volume dO

    Fazendeiro do Brasil, dedicado ao prncipe regente dom Joo. Em seus termos,

    venho dar conta do trabalho, do qual em seu Augusto Nome fui incumbido, a saber: deajuntar, e trasladar em portugus todas as memrias estrangeiras que fossem convenientesaos estabelecimentos do Brasil, para o melhoramento da sua economia rural, e das Fbricasque dela dependem, pelos quais ajudados, houvessem de sair do atraso e atonia em queatualmente esto, e se pusessem ao nvel com os das Naes nossas vizinhas, e ricas domesmo Continente, assim na quantidade, como na qualidade de seus gneros e produes(Veloso, 1798, prefcio).

    As diferenas institucionais presentes no ato de traduo do manual de Laborie so

    sugestivas para compreender seu destino em Cuba e no Brasil. Em que pesem uma remunerao

    generosa para editor e tradutores e o apuro grfico adotado, a traduo de Laborie para oportugus foi incompleta: o quarto captulo da edio original, que apresentava a seus leitores

    as linhas gerais da teoria antilhana da administrao dos escravos (Marquese, 2004, p.129-167), desapareceu dO Fazendeiro do Brasil. Ou seja, naquilo que eventualmente mais poderia

    interessar a quem comandava grandes grupos de trabalhadores escravizados, a verso de

    Veloso e Antonio Carlos pouco oferecia. No surpreende, portanto, o quase completodesinteresse das classes senhoriais da Amrica portuguesa pela coleo. Sua difuso foi um

    completo fiasco, a comear pelo fato de que, como bem lembrou Manuela Domingos (1999,p.102), o equilbrio financeiro[da atividade editorial] no constitua preocupao para frei

    Mariano. Em vista dos poucos exemplares vendidos, as autoridades coloniais resolveramdistribuir gratuitamente os volumes da coleo para os colonos brasileiros. Mesmo assim, aestratgia no funcionou: h vrias indicaes a respeito do descaso dos senhores ruraispelos exemplares que lhes foram dados (Dias, 2005, p.111-112).

    Temos poucas informaes sobre a circulao, em Cuba, da traduo castelhana domanual de Laborie, mas a montagem dos cafetales na ilha, nas dcadas de 1790 e 1800,permite afirmar que a agronomia de Santo Domingo forneceu o diapaso para os senhoresde escravos l residentes. O produto passou a ser cultivado em larga escala em Cuba aps arevoluo escrava de Santo Domingo, contando com a presena de colonos franceses em

    fuga. Dadas a proximidade geogrfica e as condies ambientais favorveis, a regiomontanhosa do oriente da ilha foi a que mais recebeu refugiados franceses. Os novosimigrantes foram importantes para a transmisso do know-how tcnico necessrio produodo artigo, e esse saber rapidamente foi veiculado entre os proprietrios que estavammontando cafezais na parte ocidental da ilha. At 1807, a produo cubana no ultrapassou

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    v.16, n.4, out.-dez. 2009, p.855-880 867

    A Ilustrao luso-brasileira e a circulao dos saberes escravistas caribenhos

    a faixa de mil toneladas, mas o plantio em larga escala efetuado a partir de 1804 permitiuque, em 1810, esse nmero saltasse para 4.600 toneladas. No decnio seguinte, a produooscilou bastante, chegando, em 1815 e 1821, a cerca de 10 mil toneladas (Perez de la Riva,

    1944, p.50; Marrero, 1984, v.11, p.108; Garca Alvarez, 2006).A produo cubana continuou crescendo na dcada seguinte, e no obstante os preos

    internacionais terem cado de modo acentuado entre 1822 e 1830, ela praticamente triplicouno perodo, atingindo, em 1833, cifra prxima de Santo Domingo em 1790, isto , cercade 29.500 toneladas. Isso foi resultado da ampliao da rea de cultivo e do consequenteaumento do nmero de escravos alocados na atividade. Em 1827, a produo aucareira ea de caf empregavam, em Cuba, o mesmo nmero de trabalhadores escravizados, porvolta de 50 mil (Marrero, 1984, v.11, p.114).

    O papel dos franceses para a formao da cafeicultura cubana foi relativizado

    recentemente por Van Norman Jr. (2005), sob o argumento de que a atividade j estava emandamento quando os refugiados de Santo Domingo chegaram. No entanto, permaneceo fato de a planta produtiva dos cafezais cubanos ter obedecido s linhas gerais estabelecidasna colnia francesa, como alis esse prprio historiador salienta. A anlise de dois cafetalestpicos da zona ocidental, dos quais temos registro visual, bem o prova. O primeiro o LaErmita, localizado na Serra do Rosrio, a oeste de Havana. Em 1838, a propriedade, com 44alqueires (Ramrez Prez, Paredes Pupo, 2004, p.92), foi litografada pelo artista francsFederico Mialhe, recm-chegado a Cuba s expensas da Sociedade Econmica dos Amigos

    do Pas para documentar visualmente a colnia (Figura 6). A chamada planta francesapode ser observada em vrios elementos: nos terreiros de pedra, divididos por muretas deconteno; nas bordas circulares, com as respectivas cabanas cnicas; na centralidade dacasa de vivenda, com horta sua esquerda; no moinho de descascar em roda, localizadono ltimo edifcio direita da imagem. Por razes ambientais, a unidade adotava o mtodode beneficiamento seco, como de resto a maioria dos cafetales da zona ocidental (RamrezPrez, Paredes Pupo, 2004, p.60-63). A nica distino de monta, em relao ao queprescrevera Laborie com base na experincia de Santo Domingo, foi o sombreamento doscafezais, uma novidade da produo cubana (Van Norman Jr., 2005, p.72-74) que se nota

    na litografia de Mialhe no caso, com o emprego de palmeiras, no morro esquerda daimagem.

    O segundo exemplo vem da provncia de Matanzas, certamente a regio mais dinmicada agricultura escravista de Cuba, na primeira metade do sculo XIX, com grande aportede investidores estrangeiros (Bergad, 1990; Barcia Paz, 2000). A topografia relativamenteplana da regio permitiu que muitos de seus proprietrios seguissem risca as prescriesde Laborie quanto simetria e uniformidade da planta produtiva. O cafetal La Panchita,localizado no partido de Guamacaro (Matanzas) e contando com 83 alqueires na ocasioem que o belo mapa da Figura 7 foi composto, demonstra a adoo de um trazado del

    cafetal a la francesa, a modo de proyecto urbano, con jardines geomtricos, avenidasprincipales, rotondas (Carlos Venegas Fornias, comunicao pessoal, set. 2007). Doispontos, no entanto, distinguiam essa propriedade do modelo francs. O primeiro ofato de se tratar de uma plantationmista, que combinava a produo em larga escala decaf e acar (ainda que a primeira rea fosse maior, como se observa no plano), algo at

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    Rafael de Bivar Marquese

    onde se sabe inexistente em Santo Domingo. O segundo ponto a disposio do batey(sede): as senzalas encontravam-se afastadas dos terreiros e da casa senhorial (trata-se doedifcio mais amplo, logo abaixo do terreiro, e, tal como prescrevera Laborie, servia tambm

    de tulha), dispostas em duas linhas paralelas e compostas por 26 casebres, ou bohos, comoeram denominados na ilha.

    A despeito das distines assinaladas, pode-se afirmar que, na zona ocidental de Cuba,os que investiram na atividade cafeeira seguiram a planta produtiva que Laborie notabilizouem seu tratado: a disposio dos campos, sua simetria, a localizao centralizada dos edifciosde moradia e beneficiamento, a construo cuidadosa dos terreiros de secagem.

    A resposta brasileira s oportunidades econmicas abertas para a cafeicultura com arevoluo de Santo Domingo foi um pouco mais lenta que a de Cuba. O crescimentoefetivo da atividade s ocorreu aps o deslocamento da famlia real portuguesa para o

    Brasil. Refletindo o quadro vigente antes da abertura dos portos, a mdia anual de expor-taes cafeeiras da Amrica portuguesa, no perodo de 1797 a 1811, foi de cerca de 400toneladas anuais. No quinqunio de 1812-1816, o impacto do intercmbio direto com omercado mundial e seus preos em forte alta rapidamente se fez sentir: a produo brasileirade caf subiu para mdia anual de 1.500 toneladas. No quinqunio seguinte (1817-1821),cresceu quatro vezes em relao ao lustro anterior, saltando para 6.100 toneladas anuais.Nos anos da independncia (1822-1823), a produo dobrou, chegando a 13.500 toneladas,o que igualava o montante brasileiro ao que ento se obtinha em Cuba (Samper, Fernando,

    2003).

    Figura 6: Cafetal La Ermita, Lomas de Cusco (Mialhe, 1838)

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    A Ilustrao luso-brasileira e a circulao dos saberes escravistas caribenhos

    Figura 7: Plano del cafetal e ingenio La Panchita, 1830 (Biblioteca Nacional Jos Mart, Havana, Cuba)

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    870 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro

    Rafael de Bivar Marquese

    Nesses anos em tela, h indcios consistentes do aporte das tcnicas do Caribe francsem uma regio especfica do Brasil: o macio da Tijuca, nas cercanias da cidade do Rio deJaneiro. Alguns anos aps o estabelecimento da sede do Imprio portugus em sua poro

    americana, entre os estrangeiros de diferentes procedncias que passaram a residir nasmontanhas da Tijuca destacou-se Louis Franois Lecesne. Segundo fontes coligidas porGilberto Ferrez (1978), Lecesne nascera na Frana. Formado em medicina, mudou-se paraSanto Domingo, onde, na dcada de 1780, tornou-se produtor de caf. A revoluo escravalevou-o ao exlio, primeiro em Cuba e, depois, com a perseguio aos refugiados francesesem vista da captura da famlia real espanhola por Napoleo, no Brasil. Sua chegada nessasparagens deu-se em 1816, e logo adquiriu terras nos altos da Tijuca, montando imedia-tamente a fazenda So Luis, com 14 alqueires.

    A peregrinao constante de viajantes estrangeiros pela Tijuca nos fornece um bom

    repertrio de informaes sobre a propriedade. J em 1817, ela foi visitada por Spix eMartius (1981, v.1, p.84-86), que anotaram o plantio de 60 mil arbustos. Segundo asinformaes que Lecense lhes passou,

    os ps novos so plantados nos quatro cantos de um quadrado e um no centro. Muitosplantadores observam a distncia de seis ps; outros, porm, a de quatro ps, dando comrazo disto o fato de que algumas rvores sempre morrem. Deixa-se a planta crescer at aaltura de 12 ps, mais ou menos, cortando os renovos mais viosos no meio, a fim defacilitar a colheita dos frutos e para que os galhos se estendam mais horizontalmente. Nofim de quatro a cinco anos so as colheitas j bastante considerveis, e do-se em grupos

    de mil ps para um negro cuidar. Antes, quando os cafeeiros ainda no do ou dopouco, basta um negro para conservar em ordem dois mil e tirar-lhes as ervas daninhas.So trs as colheitas que do para fazer quase o ano inteiro; comea a primeira no Rio de

    Janeiro, no ms de abril. S se apanham os bagos vermelhos, bem maduros, que facilmentese soltam da haste e cujas sementes se destacam da polpa sem dificuldade. Esses bagos noso mais, como antigamente se fazia, amontoados em pilhas, para apodrecer; mas osfrutos inteiros, quando se quer proceder com cuidado especial, vo secar com a polpa e,depois, so despolpados numa espcie de moinho, e as sementes limpas so expostas aosol durante mais de um ms, at ficarem completamente secas. Para esse fim, constroem-seterreiros de vinte e cinco at trinta ps quadrados, de tijolo ou barro amassado, em forma

    convexa, para o escoamento da chuva. Procura-se proteger os gros, nas ocasies deaguaceiros sbitos, com esteiras de palha portteis. Em cada terreiro da extenso supraci-tada podem ser espalhadas umas trinta arrobas de caf. O nmero de negros, dos quaiscada um colhe uma arroba diariamente, determina assim o nmero dos terreiros necessrios(Spix, Martius, 1981, v.1, p.84-86).

    Ora, pelo que se l no relato acima, as tcnicas agronmicas empregadas por Lecesne(quincunce, afastamento, decote, proporo entre escravos e ps de caf, colheita apenasdos frutos maduros, ajuste entre as dimenses dos terreiros e a fora de trabalho empregadana colheita) eram iguais s prescritas por Laborie. O mesmo vale para o terreiro. A descrio

    dos dois naturalistas, nesse ponto, deve ser complementada com o registro visual que nosfornece Maria Graham, em desenho a lpis feito em 1825, quando visitou a fazenda(Graham, 1990; Figura 8). Como se pode observar no primeiro plano, os terreiros da fazendaSo Luis foram construdos conforme as instrues de Laborie (1800, p.120-121): paraseparar as plataformas e fech-las pela parte de fora, bordam-se em roda de pequenas

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    A Ilustrao luso-brasileira e a circulao dos saberes escravistas caribenhos

    paredes, ou muros de pedra, da altura de seis polegadas e da mesma largura: eles tm pelaparte de fora pequenas aberturas para dar sada gua de chuva.

    Um segundo exemplo de propriedade, na Tijuca, que seguiu a planta produtiva de

    Santo Domingo o da fazenda Nassau, pertencente ao holands Alexander von Moke.Ernest Ebel visitou-a em 1824 e anotou o mesmo padro de plantio empregado na fazendavizinha de Lecesne, ou seja, quincunce a seis ps. Quanto ao maquinrio de beneficiamento,que ocorria pela via seca, Ebel escreveu: [o] moinho ... consta de duas rodas de meio p delargura e de madeira macia, as quais rodam em torno do eixo e sobre um canal em que sedepositam os gros. Um garfo segue as rodas para recolher os gros imprensados queescapam pelos lados, mais ou menos como nos moinhos de leo. Para tanto V. Mooklevantou uma bela construo de pedra que serve ao mesmo tempo de galpo. A maquinariado moinho especialmente robusta e posta em movimento pela gua de um ribeiro que

    cai abundante movendo o dispositivo leve de uma roda de madeiras durssimas (citadoemFerrez, 1978, p.13-14). Enfim, o mesmo mecanismo prescrito por Laborie (Figura 3) eempregado nas fazendas cubanas.

    Tudo indica que o modelo de Santo Domingo foi empregado, na Tijuca, com base naexperincia direta dos estrangeiros que l se estabeleceram. Noutras palavras, a traduo domanual de Laborie encomendada por Veloso pouco instruiu esses cafeicultores na montagemde suas unidades, ao contrrio, portanto, do que ocorreu em Cuba, onde a SociedadeEconmica dos Amigos do Pas e o Real Consulado de Havana, contando com a participao

    ativa dos senhores de escravos residentes na ilha, serviram de frum de discusso tcnica edifuso de saberes relativos atividade. Em finais da dcada de 1820, calcados em tcnicascomo as veiculadas pelo manual de Laborie, os proprietrios de Cuba obtiveram um volumede produo cafeeira equivalente de Santo Domingo em 1789, sem termos de comparaocom a restrita produo da Tijuca.

    Figura 8: Fazenda So Luiz (Graham, 1990)

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    872 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro

    Rafael de Bivar Marquese

    A cafeicultura no Vale do Paraba: a nova fazenda da dcada de 1830

    Assim que atingiram o patamar de Santo Domingo pr-revoluo, os cafeicultores

    cubanos passaram a sentir o peso da competio brasileira, ainda oriunda da provncia do

    Rio de Janeiro, mas, agora, proveniente de serra acima (Marquese, Tomich, no prelo).

    Com efeito, foi avassalador o crescimento da produo brasileira na dcada de 1820. Seu

    volume quadruplicou, saltando de 13.500 toneladas mtricas em 1821 para 67 mil, em

    1833. Esta ltima cifra equivale ao montante mundial total de 1790 e mais do dobro do

    que os cafeicultores cubanos obtiveram naquele ano (Samper, Fernando, 2003). A produo

    de Santo Domingo, at ento inalcanvel, era definitivamente coisa do passado.

    No incio da dcada de 1830, o Brasil reinava como o maior produtor mundial de caf,

    bem frente dos demais competidores (Cuba, Java, Jamaica, Haiti). Quase toda a produo

    brasileira, ademais, vinha de uma nova regio histrica: o mdio vale do rio Parabado Sul, ou simplesmente Vale do Paraba, que compreendia terras das provncias de Rio de

    Janeiro, So Paulo e Minas Gerais. Relativamente desocupada no incio do sculo XIX, em

    menos de duas geraes essa regio foi profundamente transformada, convertendo-se

    em tpica zona deplantation. Para tanto, seus proprietrios contaram com um dos maiores

    fluxos, para o Novo Mundo, de africanos escravizados at ento (Eltis et al., 1999).

    O domnio que o Vale do Paraba passou a exercer no mercado mundial do caf no

    resultou apenas da mobilizao macia de trabalhadores escravizados e recursos naturais

    inexplorados. As fazendas da regio apresentaram inovaes de relevo ante os saberes

    escravistas elaborados originalmente em Santo Domingo e que, como se viu, haviamfornecido a base tcnica para os cafetales de Cuba e os cafezais da Tijuca. Observa-se tal

    modificao pelas publicaes agronmicas que circularam no Imprio do Brasil na dcada

    de 1830.

    OAuxiliador da Indstria Nacional, peridico publicado pela Sociedade Auxiliadora da

    Indstria Nacional (Sain) a partir de 1833, foi, sem dvida, o principal veculo de discusso

    agronmica no Brasil at a dcada de 1870 (Silva, 1979; Marquese, 1999, p.157-203). Nos

    seus trs primeiros anos de publicao, as memrias relativas ao caf limitaram-se a retomar

    a linhagem inaugurada por frei Veloso. A dvida da Sain com a gerao dos ilustrados luso-

    brasileiros inegvel, e a publicao de uma memria sobre o caf nO Auxiliador de maro

    de 1835, escrita pelo octogenrio Jos Caetano Gomes, explicita alguns laos que uniram a

    gerao ps-independncia com a dos autores da virada do Setecentos para o Oitocentos

    (Dias, 2005). Caetano Gomes tivera um trabalho sobre a cana-de-acar editado em 1800

    pela Tipografia do Arco do Cego, comandada por frei Veloso, e em 1835, a convite da Sain,

    em razo de seus conhecimentos agronmicos, escrevia uma memria sobre a cafeicultura.

    Gomes, no entanto, olhou para o passado de Cuba, em vez de tratar do que ento ocorria

    no Brasil, e apresentou contabilidade elaborada pela Sociedade Econmica dos Amigos do

    Pas de Havana em 1797 no mesmo contexto da produo do inventrio de Pablo Boloix ,que demonstrava a elevada rentabilidade do setor.3O propsito de Gomes era demonstrar

    as possibilidades de os fazendeiros brasileiros obterem as mesmas taxas de retorno, caso

    empregassem, no Brasil, a tcnica de beneficiamento que erroneamente acreditava vigir

    em Cuba: a preparao do caf pela via mida (Gomes, 1835).

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    v.16, n.4, out.-dez. 2009, p.855-880 873

    A Ilustrao luso-brasileira e a circulao dos saberes escravistas caribenhos

    O mesmo procedimento de mirar o Caribe informou a memria de Jos Silvestre Rebello,publicada em 1833. O autor redigiu-a com base no manual de Laborie, considerando-o omelhor j escrito sobre o assunto. Contudo, aps expor os passos do mtodo por via

    mida, Rebello registrou uma inovao brasileira na fase de retirada do pergaminho, superiortanto aos moinhos circulares como, em particular, aos piles manuais:

    um patrcio nosso inventou um sistema de mover os mesmos piles, onde se pode regulara violncia da pancada, e quer se use gua, quer fora animal, como motor, o servio pelo menos duplicado, e portanto til. O inventor dessa mquina obteve a sua patente,precedendo informe desta Sociedade; e hoje j h uma em servio, e dando bons e visveisresultados, na Fazenda de Luiz Jos de Arajo, na Volta Grande, junto ao Paraba, emPira. Outros fazendeiros, vendo o bom resultado, tm determinado estabelecer iguais; e oinventor, Joaquim Theodoro da Roza, acha-se igualmente empregado em levantar agora

    nos mesmos stios (Rebello, 1833, p.17).

    O trecho indica o caminho tcnico que se estava tomando no Vale do Paraba. Sonecessrias pesquisas adicionais sobre o tema, mas bem provvel que se trate do engenhode piles (Figura 9), uma adaptao de mecanismo originalmente elaborado na Europa paraminerao (Agricola, 1950, livro 8), que tambm foi empregado na Amrica portuguesapara o beneficiamento de arroz (Kantor, 2004, p.259-260).

    Os fazendeiros do Vale, no entanto, adotaram o engenho de piles tendo em vista umprocessamento por via seca bastante distinto do que era utilizado na planta produtiva deSanto Domingo. Isso fica evidente no primeiro trabalho agronmico fundado nas prticasdo Vale do Paraba, que veio a lume em 1836 com o ttuloPequena memria sobre a plantao,cultura e colheita do caf. Seu autor, o padre Joo Joaquim de Ferreira de Aguiar, na ocasiocom 31 anos, residira cinco anos na fazenda Desengano Feliz, no municpio de Valena que Affonso Taunay (1939, v.5, p.14-15) supunha ter pertencido a Manuel Jacinto Nogueirada Gama, marqus de Baependi, o mesmo que trabalhara como tradutor para frei Veloso ,e observara cuidadosamente as tcnicas ali elaboradas. Seu objetivo, ao traz-las a pblicocom sua leitura na Sociedade Promotora da Civilizao e Indstria da Vila de Vassouras(uma espcie de variante local da SAIN), era justamente indicar a ciso que representavam

    em relao s tcnicas caribenhas, contrastando-as assim com o que O Auxiliador da IndstriaNacional at ento veiculava (Aguiar, 1836, p.5-6).

    Destaco trs aspectos desse novo padro tcnico. O primeiro pertence esfera agrcola.Alm do abandono do plantio em quincunce, os fazendeiros do Vale do Paraba empre-garam um grande afastamento entre as linhas de arbustos, dispostos verticalmente dotopo base dos meias-laranjas, morros tpicos da regio. Conforme a qualidade do terreno,os ps distavam entre si de 14 a 16 palmos (trs a trs metros e meio). Enquanto, nomtodo prescrito por Laborie, havia cerca de 15.700 arbustos por alqueire, a prtica adotadano Vale implicava densidade de apenas 3.900 a 5.100 arbustos por alqueire (Marquese,

    2008a, p.143).O grande afastamento dos ps e o plantio alinhado vertical se articularam segunda

    novidade do Vale do Paraba, referente gesto do trabalho. Para alm da oferta de terrasna regio, o aparente desperdcio de terreno envolvido em tal mtodo de plantio obedeceuao primado do controle visual dos escravos. Na safra ou nas capinas, cada escravo era

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    874 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro

    Rafael de Bivar Marquese

    alocado em uma fileira de arbustos, principiando a faina pelo alto dos morros at chegar sua base: o feitor ou capataz, na parte inferior, teria pleno controle das atividades,observando no caso das capinas se a linha de cativos prosseguia no mesmo passo ditado

    pelos trabalhadores das pontas ou no caso da safra se no deixaram de colher algumarvore (Aguiar, 1836, p.12). Os fazendeiros do Vale do Paraba tambm inovaram no sistemade tarefas: contra a prescrio de Laborie, determinavam aos escravos a colheita indis-criminada de frutos verdes e maduros, recompensando-os com dinheiro e no com tempolivre aps o cumprimento da tarefa. O que importava aos senhores era mais a quantidadedo que a qualidade dos frutos colhidos, com a mxima economia de trabalho (Aguiar,1836, p.12-13; Marquese, 2008a, p.144).

    Figura 9: Engenho de piles (Smith, 1878)

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    O foco na quantidade do produto o que explica, por fim, a terceira inovao. A viaseca no representou novidade, mas a forma de coordenar o beneficiamento do volumecolhido, sim. Conforme o registro de Aguiar (1836), a secagem dos frutos se dava em

    terreiros de cho batido at o ponto em que as polpas estivessem completamente secas; nosmaiores estabelecimentos, a separao da polpa e do pergaminho ocorria nos piles. Omecanismo vinha se disseminando rapidamente nos ltimos quatro anos, porque, segundoAguiar, o trabalho muito mais expedito (p.16) temos aqui um bom indcio da difusoda mquina inventada por Joaquim Theodoro da Roza em 1832. Aguiar reconhecia odescompasso desse processo de beneficiamento em relao ao empregado nas Antilhas eressaltava a necessidade de introduzir, nas fazendas brasileiras, mquinas despolpadorasque pudessem abreviar muito o tempo e o trabalho que se gasta com a seca do caf comtoda a sua polpa no terreiro (p.17). Do ponto de vista dos fazendeiros do Vale do Paraba,

    mquinas que poupassem mo-de-obra permitiam o deslocamento de mais escravos para oeito, aumentando o nmero de ps de caf cultivados e, em consequncia, o montanteproduzido. Para Aguiar, a partir desse objetivo preciso que a Sain deveria difundir mtodosantilhanos de beneficiamento do caf, e no mais mediante a mera traduo de memriassobre o assunto, mas sim por meio de exemplos concretos (Aguiar, 1836, p.14).

    A demanda de Aguiar por mquinas despolpadoras, capazes de economizar tempo etrabalho, teve resposta. Em 1843, por exemplo, Antonio da Silveira Caldeira divulgou, empanfleto, um mecanismo despolpador que, segundo ele, era capaz de processar 300 alqueires

    de caf em casca a cada dez horas (Caldeira, 1843). O invento fora veiculado um ano antespelo fazendeiro Joaquim Eduardo Leite Brando, em sua tese apresentada Faculdade deMedicina do Rio de Janeiro (Brando, 1842), e no ano seguinte publicao do panfletofoi incorporado ao manual escrito por Agostinho Rodrigues Cunha (1844). At a dcadade 1860, contudo, os despolpadores disponveis no mercado brasileiro no foram adotadospelos cafeicultores, pois eram tecnicamente incompatveis com o volume de gros colhidos.Francisco Peixoto de Lacerda Werneck (1985), em sua famosa memria publicadaoriginalmente em 1847, avaliou que o mecanismo de Caldeira, no obstante seus mritos,era de pouca durao, isto , inutilizava-se com pouco tempo de uso (p.69).

    Por esses motivos, entre as dcadas de 1830 e 1860 predominou, nas fazendas do Valedo Paraba, o mtodo da secagem prolongada em terreiros de cho batido (aps 1850, cadavez mais ladrilhados) e do beneficiamento em polpa pelos engenhos de piles. A novidadedessa combinao encontrava-se no aumento substantivo da produo, resultado de umaequao envolvendo rea plantada, volume do produto, explorao da fora de trabalho,dimenses dos terreiros e beneficiamento dos gros. Aguiar (1836, p.6) lembrou que nosmunicpios de Vassouras e Valena havia estabelecimentos de 500, 600, 800 mil ps decaf, e alguns talvez de mais. As fazendas do Vale do Paraba se destacaram de suascongneres do Novo Mundo justamente pelo emprego de muito mais escravos, terras e ps

    de caf por unidade produtiva. o que podemos observar na fazenda Boa Vista, de Bananal,exemplar tpico das grandes propriedades que dominaram a paisagem da regio a partir dadcada de 1830. Na dcada seguinte, quando ela se encontrava em operao plena, osgros de 700 mil ps de caf, plantados em 137 de seus 349 alqueires e manejados por umaescravaria composta por mais de quatrocentos trabalhadores, eram todos secos em imensos

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    terreiros de cho batido e beneficiados por um complexo engenho de hidrulicos piles(Marquese, 2008b; Figura 10).

    No raro a historiografia tratou a cafeicultura do Vale do Paraba sob o signo do atraso,

    destacando aspectos como a dependncia do trabalho escravo, a agronomia dilapidadorados recursos ambientais, as tcnicas rudimentares de processamento, o caf de baixaqualidade. Essa viso, que surgiu ainda no sculo XIX, foi atualizada recentemente portrabalhos como os de Warren Dean (1996, p.196-204) e Jos Augusto Pdua (2002, p.244-260) que, ao priorizarem o tema ambiental, indicaram a irracionalidade de longo prazoque se praticou no Vale do Paraba. H bastante tempo, contudo, cientistas sociais ressaltama racionalidade prpria da dinmica econmica da cafeicultura da regio (Fragoso, 1983;Slenes, 1986). Maria Sylvia de Carvalho Franco (1983), em trabalho clssico publicado nadcada de 1960, anotou que

    os anos 30 [do sculo XIX] encontravam plenamente formadas as condies que iriamdeterminar o modelo e o sentido das prticas caractersticas dos negcios cafeeiros [noVale]: produo em larga escala, preos baixos e alta rentabilidade garantida pelos mercadosem expanso. Nos centros capitalistas, correlatamente constituio da camada deassalariados, firmavam-se as tendncias ao consumo de massa, e bem em adequao a essetipo de estruturao dos mercados, o caf brasileiro foi produzido abundantemente ebarato (p.172).

    Procurei destacar neste artigo, conforme essa segunda tradio historiogrfica, a novidade

    do padro tcnico do Vale do Paraba. A contraposio entre o modelo veiculado porLaborie e adotado em Cuba e aquele que Aguiar apresentou na dcada de 1830 indica aelaborao de novos saberes escravistas, diretamente articulados expanso da cafeiculturabrasileira e alterao da natureza do mercado mundial do produto, que passou dasrestries caractersticas do consumo de luxo para uma escala, qualitativamente distinta,de consumo de massa (Topik, 2003; Marquese, Tomich, no prelo). Em um novo ciclo deexpanso do capital, a nova classe senhorial que se formou no centro-sul do Imprio doBrasil gestou uma nova planta produtiva (Arrigui, 1996; Mattos, 1987). A inovao dacafeicultura do Vale do Paraba o segredo de sua modernidade radical residiu justamente

    na massificao do processo produtivo, com o consequente aumento da explorao dos

    Figura 10: Detalhe de leo s/ tela da fazenda Boa Vista, c.1880 (Lemos, 1999, p.146)

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    recursos naturais e humanos. Cabe lembrar, finalmente, que foi o domnio sobre o mercadomundial criado por esse novo padro produtivo que permitiu ao Brasil se tornar, a partirda dcada de 1870, um grande centro produtor de saberes cientficos sobre a cafeicultura

    (Ribeiro, 2006; Ferro, 2004, p.38-47), ao passo que Cuba se converteu em zona de inovaoaucareira (Fernndez Prieto, 2005).

    NOTAS

    1A filha de Laborie, por exemplo, casou-se em 1790 com Jean Barr de Saint-Venant, membro ativo doCercle des Philadelphes. Sobre essas e demais informaes biogrficas de Pierre-Joseph Laborie mencionadasaqui, ver http://www.ghcaraibe.org/bul/ghc011/p0078.html (acesso em 23 jul. 2008).2Vale destacar que a cafeicultura jamaicana de fato encampou as prescries de Laborie; ver, a respeito,os trabalhos de Higman, 2001 e Monteith, 2002.3

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