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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PRODUÇÃO DE LEITE MASTITES Francisco Beltrão 2008

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PRODUÇÃO DE LEITE

MASTITES

Francisco Beltrão 2008

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PRODUÇÃO DE LEITE

MASTITES

Projeto de Pesquisa apresentado no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Produção de Leite da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientador: Ernest E. Muller

Francisco Beltrão 2009

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Características dos Diferentes Tipos de Leite................................10

Tabela 2 - Alterações na Composição do Leite de Vacas com Mastite

Subclínica.........................................................................................................18

Tabela 3 - Relação entre CCS do Tanque, Porcentagem de Quartos Infectados

e Porcentagem de Perdas de Produção de Leite.............................................21

Tabela 4 - Relação entre o Resultado do CMT e a Contagem de Células

Somáticas.........................................................................................................23

Tabela 4 - Alguns produtos Disponíveis para Utilização no Pré e Pós

Dipping..............................................................................................................31

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Principais Características da Mastite Contagiosa e

Ambiental...........................................................................................................19

Quadro 2 – Programa dos 5 Pontos............................................... ..................27

Quadro 3 – Esquema de Ordenha....................................................................30

iv

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SUMARIO

Lista de Tabelas..................................................................................................iii

Lista de Quadros.................................................................................................iv

Introdução............................................................................................................7

2 Mastite..............................................................................................................9

2.1 Tipos de Mastite.........................................................................................9

2.2 Importância Econômica da Mastite...........................................................11

2.2.1 Prejuízo ao Produtor..............................................................................11

2.2.2 Prejuízo da Indústria..............................................................................12

2.2.3 Saúde Pública....................................................................................... 14

3 Epidemiologia das Mastites............................................................................15

3.1 Hospedeiro................................................................................................15

3.2 Agente.......................................................................................................15

3.3 Ambiente...................................................................................................16

3.4 Mastite Ambiental.....................................................................................17

3.5 Mastite Contagiosa ou Subclínica.............................................................17

4 Diagnóstico Direto e Indireto da Mastite.........................................................20

4.1 Exames Diretos.........................................................................................20

4.1.1 Físico.....................................................................................................20

4.1.2 Teste da caneca....................................................................................20

4.2 Exames Indiretos......................................................................................20

4.2.1 Contagem de células somáticas (CCS).................................................20

4.2.2 California mastitis test (CMT).................................................................22

4.2.3 Wisconsin mastitis test (WMT)...............................................................24

4.2.4 Análise microbiológica...........................................................................24

5 Principais Métodos de Controle da Mastite....................................................26

5.1 Monitoramento..........................................................................................26

5.2 Higiene da Ordenha..................................................................................26

5.3 Tratamento da Mastite..............................................................................32

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5.4 Terapia da Vaca Seca..............................................................................33

5.5 Tratamento da Mastite Clínica..................................................................34

5.6 Tratamento da Mastite Subclínica............................................................35

5.7 Nutrição....................................................................................................37

5.7.1 Nitrogênio e proteína.............................................................................37

5.7.2 Concentrado e energia..........................................................................38

5.7.3 Cálcio e fósforo......................................................................................38

5.7.4 Silagem..................................................................................................38

5.7.5 Alfafa e outras leguminosas...................................................................38

6 Vacinas...........................................................................................................39

7 Conclusão.......................................................................................................41

Referências........................................................................................................43

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INTRODUÇÃO

O Paraná é, tradicionalmente, um Estado produtor de leite. O gosto pela

bovinocultura de leite como herança da população européia que se firmou no

Estado, consolidado pela estrutura fundiária, onde a prevalência de pequenas

propriedades é marcante. Com pouca terra e bom conhecimento da atividade,

ano a ano aumenta o número de produtores paranaenses que se dedicam ao

leite e mantém o setor em constante evolução, apresentando índices

superiores à média nacional, tanto em crescimento da produção quanto em

produtividade. Em dez anos, de 1996 a 2006, enquanto a produção de leite, no

Brasil, passou de 18,5 bilhões de litros para 25,4 bilhões, crescimento de

37,3%, a produção do Paraná passou de 1,514 bilhão de litros para 2,7 bilhões,

crescimento de 78% (VOLPE&DIGIOVANI, 2008).

O maior produtor mundial nos anos de 2007/2008 são os Estados

Unidos com 9.190 litros/ano/vaca, com uma média de 25,17 litro/vaca/dia e

com 9.150 bilhões de vacas, sendo que o Brasil está na 6ª posição com uma

produção de 1.248 litros/ano vaca e média de 3,42 litros/dia com um número de

vacas leiteiras em 21.424 bilhões (EMBRAPA, 2008).

Considerando que nem sempre o leite produzido e consumido no Brasil

apresenta a qualidade desejada, o Ministério da Agricultura, através da

Instrução Normativa nº 51 de 18 de setembro de 2002, determina novas

normas na produção, identidade e qualidade de leites tipo A, B, C, além de

regulamentar a coleta de leite cru refrigerado e seu transporte a granel. Outro

incentivo à modernização da produção leiteira no Brasil ocorreu em 2003, pela

Resolução nº 3088, que aprovou financiamento de equipamentos de

resfriamento e coleta a granel para produtores de leite (NERO, et al., 2005)

A mastite bovina é uma das principais enfermidades que acometem os

rebanhos leiteiros, sendo considerada um dos maiores empecilhos à sua

exploração lucrativa. As maiores perdas causadas pela mastite são devidas à

diminuição na produção de leite, depreciação na qualidade nutritiva, custo de

tratamento, custo de atendimento veterinário e laboratorial e perdas no

potencial genético. (DOBBINS, 1977). É também a mais onerosa entre os

rebanhos leiteiros dos países desenvolvidos, e a alta contagem de células

somáticas (CCS), conseqüência desta inflamação, leva a um decréscimo da

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qualidade do leite cru, o que determina menor processabilidade da matéria-

prima. Má qualidade higiênica e, mais especificamente, a alta CCS têm

implicações na cadeia produtiva do leite, processamento, tempo de vida de

prateleira e qualidade sensorial do produto, e indiretamente sobre a

preocupação do consumidor no que diz respeito à saúde pública. Essa perda

monetária e de confiabilidade no produto é transferida ao produtor, que acaba

por receber menores preços pelo leite entregue. Muitas vezes, ainda,

penalizações são adotadas, tais como a exclusão temporária do produtor como

fornecedor ou deduções de seu pagamento, fatores que prejudicam todo o

mercado (MILKPOINT, 2008).

Há uma relação entre os temas “mastite” e “qualidade do leite”, e que

ambos não podem ser dissociados, já que a saúde da glândula mamária está

diretamente ligada ao sabor agradável, valor nutritivo, baixo nível microbiano e

ausência de patógenos do leite produzido. Estas são questões prioritárias a

serem debatidas hoje em nosso país, quando se fala em modernização da

pecuária leiteira, item prioritário na agenda do desenvolvimento da agricultura

brasileira. A produção leiteira brasileira tem alto potencial competitivo no

cenário internacional; no entanto, a qualidade do leite produzido neste país,

ainda deixa muito a desejar e não atende aos anseios do consumidor ou nos

permite concorrer com o mercado internacional de produtos lácteos.

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2 Mastite

É a inflamação da glândula mamária, causado por agentes virais,

bacterianos e fúngicos e mesmos fisiológicos. Pode ser dividida em dois

grandes grupos, quanto a sua forma de manifestação. Chamam-se mastite

clínica os casos da doença em que existem sinais evidentes de manifestação

desta, tais como edema, dor, pus e endurecimento da glândula mamária. Outra

forma é chamada de mastite subclínica, que se caracteriza por alterações na

composição do leite e não apresenta sinais clínicos. Existe uma outra grande

divisão conceitual em termos de mastite. Esta se refere ao tipo de agente

causador, que pode ser ambiental ou contagioso. Dessa forma, divide-se a

mastite em dois grandes grupos, quanto ao tipo de agente patogênico

causador: mastite contagiosa e mastite ambiental (FONSECA&SANTOS,

2000).

2.1 Tipos de Mastite

A mastite é uma doença que apresenta diferentes níveis de intensidade

e que é causada por diferentes organismos e existem várias descrições para a

doença. Esta divisão é importante para reconhecer os diferentes tipos e decidir

qual a forma de prevenção e o tipo de tratamento (Tabela 1)(DUVAL, 2005).

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Tabela 1 - Características dos Diferentes Tipos de Mastite

Tipos de Mastite Sintomas Característicos Aguda Inflamação do teto, febre acima de

39ºC, diminuição do apetite, queda drástica da produção de leite

Hiperaguda Quarto avermelhado, leite passa com dificuldade, febre de 41ºC, falta de apetite

Subaguda Sem sinais aparentes. Presença de grumos no leite, especialmente na ejeção inicial.

Subclínica Sem sintomas. 15 de 40 casos, leite aparentemente normal, detecção dos patógenos somente em análise laboratorial, anormalidades do leite apontados somente na contagem de células somáticas.

Crônica Repetidos casos clínicos, geralmente sem febre, quartos fibrosados, antibióticos não funcionam.

Gangrenosa Quarto afetado é azulado e frio ao toque, descoloração progressiva, necrose, morte.

Contagiosa Causada pelas bactérias Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae, contágio entre vacas.

Ambiental Causada por coliformes (E. coli), contágio através do ambiente

Duval, 2005

2.2 Importância Econômica da Mastite

2.2.1 Prejuízo ao produtor

Segundo COSTA (1998) a estimativa de prejuízos para propriedades

brasileiras ocasionados por esta afecção está em 332 dólares/vaca/ano, muito

superior a países como os EUA, onde as perdas são estimadas em 200

dólares/vaca/ano.

No Brasil, Domingues (1993), comparando a produção de leite entre

quartos com mastite subclínica, com seus homólogos negativos, verificou

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queda de produção significativa dos quartos mamários positivos sendo 15,97%,

21,43% e 30,73% para os resultados (+), (++) e (+++) ao CMT,

respectivamente.

A mastite contribui para um desperdício de recursos dos produtores de

leite. Entre estes estão:

1. A diminuição da produção de leite chegando aos 70% do total

de perda econômica;

2. Custo do leite descartado, considerando 8% de perda

econômica;

3. Custo das drogas chegando a 3 dólares o quarto tratado

4. Trabalho extra e manuseio especial com o atendimento

individual;

5. Leite de qualidade pobre o qual é refletido no pagamento;

6. Custos de reposição e descarte com perda de 14% da perda

econômica do produtor em função da mastite.

O produtor que entende que a mastite não só causa uma perda direta,

mas ineficiência de produção associada a custos adicionais pode se motivar a

agir no sentido de preveni-la, mesmo que a qualidade de seu leite esteja fora

do risco de ser penalizado por uma alta CCS pelo laticínio que o capta. Como

um pré-requisito, informações sobre a atual incidência de mastite e as perdas

econômicas que a doença já ocasiona na situação específica de sua

propriedade são importantes. As decisões normalmente se baseiam na

percepção de cada produtor do que realmente possa ser contabilizado como

perda econômica devido à mastite. Essa percepção se refere ao que ele

encara como perda em sua propriedade, e, portanto pode haver desvios em

relação ao que é realmente factível de ser contabilizado como perda (SANTOS,

2004).

2.2.2 Prejuízo da indústria

No quadro da mastite há uma série de alterações, tanto na composição

como nas características físico-químicas do leite produzido por uma glândula

mamária infectada. Pode-se atribuir a três fatores principais: alterações na

permeabilidade vascular devido ao processo inflamatório; lesão do epitélio

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secretor responsável pela síntese de alguns componentes específicos do leite;

e ação de enzimas de origem das células somáticas e microrganismos

presentes no leite. Entre os componentes do leite, as proteínas são as que

apresentam maior variação, havendo um decréscimo significativo na

porcentagem de caseína total e aumento nas proteínas do soro, incluindo

grande elevação das imunoglobulinas, porém não variando a porcentagem de

proteína total do leite (FONSECA&SANTOS, 2000). Ocorre uma redução

naquelas sintetizadas na glândula mamária (á e â caseína, á-lactoalbumina e

â-lactoglobulina) e aumento das proteínas de origem sangüínea (albumina

sérica e imunoglobulinas), em virtude do aumento de permeabilidade vascular

secundário ao processo inflamatório (KITCHEN, 1981). A proteína total do leite

tem pouca variação, mas a concentração de cada tipo de proteína varia

acentuadamente.

Ocorre um decréscimo de 10% em relação à lactose, considerando que

a lactose desempenha papel fundamental para o equilíbrio osmótico do leite

em relação ao sangue, resultando num mecanismo de compensação para

restabelecer o equilíbrio pelo aumento da passagem de íons sódio (Na+) e

cloreto (Cl -), com o aparecimento do sabor salgado do leite. Há uma queda

acentuada na concentração de cálcio, assim como o de potássio (K+), porém

menos expressiva. O teor de gordura também sofre um decréscimo de 10%.

Em particular, ocorre um aumento na concentração de ácidos graxos livres e

diminuição de fosfolipídeos. Entre as características físico-químicas do leite,

alterações mais pronunciadas ocorrem em termos de pH e condutividade

elétrica. O pH do leite, normalmente situado em 6,7 pode atingir o valor de 7,0.

Já a condutividade elétrica apresenta-se aumentada no leite com mastite, em

função da elevação na concentração de íons Na+ e Cl -. Em menor escala, a

crioscopia e a densidade sofrem o impacto direto da pequena diminuição dos

sólidos totais do leite. Sendo assim, o ponto de congelamento do leite mastítico

tende a se aproximar do ponto de congelamento da água (0ºC), e a densidade

apresenta uma sutil diminuição do seu valor (FONSECA&SANTOS, 2000).

Do ponto de vista tecnológico, a qualidade da matéria prima é um dos

maiores entraves ao desenvolvimento e consolidação da indústria de laticínios

no Brasil. De modo geral o controle da qualidade do leite nas últimas décadas

tem se restringido à prevenção de adulterações do produto in natura baseado

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na determinação da acidez, índice crioscópico, densidade, percentual de

gordura e extrato seco desengordurado. A contagem global de microrganismos

aeróbios mesófilos (indicadores de qualidade microbiológica do produto) tem

sido utilizada somente para leite cru do tipo A e B (OLIVEIRA et al., 1999).

Além dos altos custos com o tratamento, a presença de resíduos de

antibióticos no leite advindo dos tratamentos, é um problema de saúde pública

e um problema tecnológico em toda a cadeia leiteira, uma vez que os resíduos

têm um efeito inibidor no desenvolvimento de fermentos lácteos utilizados na

fabricação de laticínios (BERTHELOT& BERGONIER, 1994).

O uso de testes no leite pelos laticínios permite que possam empregar

tais dados para conhecer e monitorar a qualidade da matéria-prima e direcionar

o leite recebido para a elaboração de determinados produtos; orientar o

pagamento por qualidade, com base em parâmetros adequados, confiáveis e

independentes; orientar políticas de assistência técnica no sentido de melhorar

a produção de leite de seus fornecedores; identificar desvios ou problemas em

rebanhos que demandam assistência imediata. A qualidade do leite, como

matéria-prima, pode ser avaliada por meio da análise da quantidade de células

somáticas (CCS), de bactérias mesófilas (CBG), além da presença de

substâncias estranhas, principalmente antibióticos. Em ambos os casos, os

contaminantes são principalmente bactérias. A qualidade do leite cru é

fundamental para a obtenção de produtos lácteos de qualidade, seguros para a

saúde e que satisfaçam o consumidor. A influência da CCS é particularmente

notada nos produtos fermentados devido às mudanças na proporção

caseína/proteínas do soro do leite e o balanço salino, e o aumento da atividade

bioquímica. Esses problemas podem ser observados quando a CCS do leite

está em torno de 500.000/ml (LATICINIO.NET, 2008)(CBQL, 2008)

A qualidade do leite assume destacada importância também sob o

ponto de vista de Saúde Pública. No Brasil, embora não existam estatísticas

disponíveis sobre o assunto, são freqüentes os casos de doenças associadas

ao consumo de leite cru ou de derivados produzidos com leite contaminado

com microrganismos patogênicos. Contribui para isto, entre outras causas, o

fato de mais de 44% do leite consumido no país ser proveniente do mercado

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informal (ANUÁRIO MILKBIZZ, 1999), ou seja, comercializado sem qualquer

tratamento térmico ou controle laboratorial.

2.2.3 Saúde pública

A contaminação microbiológica dos alimentos tem sido objeto de

preocupação constante em diversos países. Nos Estados Unidos da América

(EUA), estima-se que, anualmente, entre 1 a 2 milhões de pessoas são

acometidas por gastrenterites provocadas por toxinas de S. aureus presentes,

sobretudo, em produtos de origem animal (JAY, 1994). No Brasil, segundo

dados do Ministério da Saúde, foram registrados 593.212 casos de intoxicação

alimentar entre 1984 e 1997, porém sem especificar as toxinas, os

microrganismos ou as fontes envolvidas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999).

Estes dados, possivelmente subestimados devido à falta de notificação dos

surtos, demonstram a relevância das medidas de controle sanitário dos

alimentos destinados ao consumo humano, particularmente das matérias

primas de origem animal (FAGUNDES&OLIVEIRA, 2004).

Quanto aos microrganismos contaminantes no interior da glândula

mamária, as espécies mais comumente encontradas são Staphylococcus

aureus, Streptococcus agalactiae e Escherichia coli, enquanto fora da glândula

Escherichia coli. Essas bactérias, se consumidas vivas, podem causar

transtornos nutricionais (diarréias), podendo ser eliminadas ou reduzidas pela

pasteurização. No entanto, algumas delas, como a Staphylococcus aureus e

Escherichia coli, podem produzir toxinas resistentes ao tratamento térmico,

inclusive ao do UHT, sendo um dos principais problemas para a saúde pública.

Além da produção de toxinas, as bactérias alteram a composição do leite

(LATICINIO.NET, 2008).

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3 Epidemiologia das Mastites

O desencadeamento da mastite está vinculado à complexa tríade:

animal (hospedeiro), agente etiológico e/ou ao meio ambiente, fazendo desta

uma enfermidade multifatorial. Como tal, a sua prevenção e controle dependem

do conhecimento dos padrões de ocorrência da doença, que só se torna

possível, através de um estudo epidemiológico da situação (HURLEY&MORIN,

2001).

3.1 Hospedeiro

Segundo PRESTES, et al. (2002), entre os fatores ligados ao hospedeiro

estão a resistência natural, no qual a glândula mamária está constituída de

barreiras físicas como o canal e esfíncter da teta, assim como o sistema imune

que ali está atuante; o estágio da lactação, parto e período seco constituem

eventos reprodutivos que influenciam na susceptibilidade à mastite;

hereditariedade e idade: o formato dos tetos e glândula mamária, nas quais

tetos planos e cilíndricos são mais susceptíveis a infecção do que os tetos de

formato cônico (mais resistentes) e em relação à idade menciona-se que as

fêmeas mais velhas (7 a 9 anos) são as mais envolvidas devido a lesões

internas e desgaste sofrido pelo esfícter do teto e pela glândula em si.

3.2 Agente

Nos fatores ligados ao agente a epidemiologia varia dependendo da

espécie, quantidade, patogenicidade e infectividade do agente envolvido e há

evidências de que os fatores de risco diferem conforme essas características.

Os microrganismos que comumente causam mastite podem ser divididos em

dois grupos, baseados na sua origem: patógenos contagiosos e patógenos

ambientais (PEELER et al., 2004).

Os microrganismos contagiosos assumem importância, compreendendo

Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae e uma série de patógenos

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“menores” (BODMAN&RICE, 2001). Já PARDO et al. (1998), afirma que o

agente isolado com maior freqüência nas mastites em vacas primíparas no

período pós-parto (64% das amostras positivas no exame bacteriológico) são

os Staphylococcus.

3.3 Ambiente

O ambiente é definido por HOGAN&SMITH (2001) como a associação

de condições físicas externas que afetam e influenciam no crescimento,

desenvolvimento e sobrevivência de um organismo ou grupo de organismos e,

é no ambiente que se origina o segundo grupo de patógenos ambientais

envolvidos nas mastites, incluindo Escherichia coli, Klebsiella sp.,

Streptococcus uberis, Enterobacter sp. e outros patógenos predominantemente

oportunistas (Pseudomonas sp., Prototheca sp., Nocardia sp., etc), que

adentram a glândula mamária quando os mecanismos de defesa estão

comprometidos.

Em relação aos fatores ligados ao meio ambiente estão incluídos a

ordenha por facilitar a transmissão de patógenos entre vacas; o manejo no qual

a falta de higiene é o principal motivo; e o clima devido as mudanças de

temperatura e umidade que influenciam indiretamente na tríade

hospedeiro/agente/meio ambiente. A nutrição influencia na ocorrência de

mastites já que a falta de certos nutrientes como as vitaminas E e A, Beta

Caroteno e microminerais (selênio, cobre e zinco) afetam a função leucocitária,

transporte de anticorpos e a integridade do tecido mamário (PRESTES, et al.,

2002).

A mastite é um problema de difícil resolução por ser uma doença

multifatorial. Clima, tipo de cama, confinamento, estresse, genética, nutrição e

fator humano são alguns dos fatores causam as mastites contagiosa e

ambiental (DUVAL, 2005).

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3.4 Mastite ambiental

É causada por agentes que vivem preferencialmente no habitat da vaca,

em locais que apresentam esterco, urina, barro e camas orgânicas, deduzindo-

se que seja impossível erradicar este tipo de mastite. Caracteriza-se por alta

incidência de casos clínicos. Os principais causadores deste tipo de mastite

são os coliformes e os estreptococos ambientais (Streptococcus uberis, S.

bovis e S. dysgalactiae e osenterococos) (FONSECA&SANTOS, 2000).

Geralmente é de curta duração, com maior tendência para um quadro

clínico que para a forma subclínica. A maioria das infecções por estreptococos

ambientais tem duração menor que 30 dias. Mais da metade das infecções

mamárias causadas por coliformes duram menos de 10 dias, sendo que as

causadas pela Escherichia coli são as mais comuns (MILKPOINT, 2008). Os

sintomas tornam-se visíveis a olho nu, pois o úbere inflama, torna-se

avermelhado, quente e dolorido ao toque. Nos estados mais graves, apresenta-

se fibrosado. O leite, por sua vez, revela-se mais aquoso, com grumos, pus, e

mais vermelho, já que há presença de sangue (REVISTA RURAL, 2008).

O diagnóstico da mastite clínica pode ser feito através da

sintomatologia, como inflamação do úbere, secreção láctea com grumos,

sangue, pus, entre outras secreções patológicas (BARBALHO&MOTA, 2001).

3.5 Mastite contagiosa ou subclínica

Apresenta uma baixa incidência de casos clínicos e alta incidência de

casos subclínicos, geralmente de longa duração ou crônicos e apresentando

alta contagem de células somáticas (CCS). É causado por patógenos cujo

habitat preferencial é o interior da glândula mamária e superfície da pele dos

tetos, sendo que o principal momento da transmissão ocorre durante a ordenha

dos animais pelas mãos do ordenhadores, panos para secagem dos tetos,

teteiras e insetos. Os causadores da mastite contagiosa podem ser divididos

em patógenos principais e secundários. Como principais temos o

Staphylococcus aureus e o Streptococcus agalactiae, e entre os secundários o

Corynebacterium bovis (FONSECA &SANTOS, 2000).

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Entretanto, para diagnosticar a mastite subclínica é necessária a

utilização de exames complementares baseados no conteúdo celular do leite

(BARBALHO&MOTA, 2001).

Tabela 2

Alterações na Composição do Leite de Vacas com Mastite Subclínica

Componente Leite normal% Leite mastítico%

Gordura 3,5 3,2

Lactose 4,9 4,4

Proteína total 3,61 3,56

Caseína total 2,8 2,3

Proteínas do soro 0,8 1,3

Albumina Sérica 0,02 0,0

Lactoferrina 0,02 0,1

Imunoglobulinas 0,1 0,6

Sódio 0,057 0,105

Cloreto 0,091 0,147

Potássio 0,173 0,157

Cálcio 0,12 0,04

FONSECA&SANTOS, 2000

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19

Quadro 1

Principais Características da Mastite Contagiosa e Ambiental

Mastite contagiosa Mastite ambiental

Agentes

Streptococos agalactiae

Staphylococos aureus

Agentes coliformes

Escherichia coli

Klebsiella pneumoniae

Klebsiella oxytoca

Enterobacter aerogenes

Strepcococus ambientais

Strep. Uberis

Strep. Bovis

Strep. Dysgalactiae

Enterococus faecium

Enterococus faecalis

Fonte primária

Úbere de vacas infectadas

Fonte primária

O ambiente da vaca

Forma de disseminação

De quartos infectados para sadios no momento

da ordenha

Forma de disseminação

Exposição da vaca a ambientes altamente

contaminados ou equipamento de ordenha com

funcionamento inadequado

Indicadores do problema

CCS do tanque acima de 300.000

Escore do DHIA acima de 3.2 com escore de

CCS igual acima de 5

Freqüentes surtos de mastite clínica,

geralmente nas mesmas vacas

Cultura do leite resulta em S. agalactiae e S.

aureus

Indicadores do problema

Alta taxa de mastite clínica, frequentemente no

início da lactação ou mais de 15% das vacas no

período de calor. A CCS poder ser menor que

300.000

Recomendações de controle

Desenvolvimento de um programa para impedir

a disseminação da bactéria no momento da

ordenha.

Eliminar as infecções existentes por meio do

tratamento de todas as vacas na secagem e o

descarte de vacas crônicas

Recomendaçõ es de controle

Reduzir o número de bactérias a que a ponta do

teto é exposta

Aumentar a limpeza nos locais onde as vacas

ficam alojadas, especialmente no final do

período seco e no período peri-parto

Melhorar os procedimentos de pré-ordenha para

assegurar que os tetos estejam limpos e secos

antes do acoplamento de todas teteiras

Metas

Erradicar S. Agalactiae do rebanho

Reduzir a infecção por S. aureus do rebanho

Metas

Reduzir a taxa de mastite clínica para menor de

3% das vacas em lactação por menos de 5%

das vacas do mês

FONSECA&SANTOS, 2000

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20

4 Diagnóstico Direto e Indireto da Mastite

Na mastite ambiental, o diagnóstico é mais fácil por ser clínico, pois o

leite muda de aparência e consistência normal para uma aparência coagulada

e aguada e o úbere apresenta sintomas visíveis. Já no caso da mastite

contagiosa, que na maioria das vezes é subclínica, ou seja, não há mudanças

visíveis no leite e no úbere, há a necessidade de exames laboratoriais.

4.1 Exames Diretos

4.1.1 Físico

No exame físico do úbere há sinais de dor, edema, inchaço, nódulos e o

melhor momento para a palpação é após a ordenha, com o úbere vazio

(FONSECA&SANTOS, 2000).

4.1.2 Teste da caneca

O “teste da caneca de fundo preto” ou “caneca telada” consiste na

retirada dos 3 a 4 primeiros jatos de leite para a observação de grumos ou

coágulos, pus, sangue ou leite aquoso, sendo feito imediatamente antes da

ordenha (FONSECA&SANTOS, 2000).

4.2 Exames Indiretos

4.2.1 Contagem de células somáticas (CCS)

A contagem de CCS é um padrão usado mundialmente para definir a

qualidade do leite cru, sendo parte do conjunto de atributos essenciais de

qualidade do leite que incluem: composição, aspectos sensoriais, número de

bactérias e ausência de drogas e resíduos químicos. A CCS é, também,

indicador de saúde da glândula mamária de vacas, sendo usada para estimar a

proporção de quartos mamários e de animais infectados no rebanho. As CCS

encontradas no leite pertencem a dois grupos: as células epiteliais secretoras

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de leite e os leucócitos (neutrófilos, macrófagos e linfócitos). O número e a

proporção desses tipos de células são influenciados pelos estados fisiológicos

e patológicos da glândula mamária. No leite de quartos mamários livres de

infecção predominam os macrófagos (35 a 79%), seguidos por neutrófilos (3 a

26%), linfócitos (10 a 24%) e células epiteliais (2 a 15%); no leite de quartos

mamários infectados, os neutrófilos podem alcançar quase 100% do total de

células analisadas em três dias para se determinar a CCS. O fator mais

importante que interfere na CCS no leite é a presença ou não de infecção da

glândula mamária. Em animais livres de infecção intramamária, há pequeno

número de células, sendo comuns contagens acima de 500 mil por ml de leite,

e em alguns casos, vários milhões por mililitro em casos de infecção mamária

(HARMON, 1994; PAAPE, 2000).

A CCS do leite normal originado de animais sadios é normalmente

menor que 300.000 cél/ml de leite. Entretanto, quando há invasão do úbere por

bactérias, ocorre resposta inflamatória que causa grande aumento das células

somáticas presentes no leite. A elevação da CCS no leite em um quarto

afetado está geralmente associada à diminuição da produção de leite naquele

quarto. Essa redução na produção de leite ocorre devido ao dano físico nas

células epiteliais secretoras da glândula mamária, assim como a alterações na

permeabilidade vascular no alvéolo secretor (FONSECA e SANTOS, 2000).

Tabela 3

Relação entre CCS do Tanque, Porcentagem de Quartos Infectados e

Porcentagem de Perdas de Produção de Leite

CCS do Tanque % de quartos

infectados

% de perdas de produção

200.000 6 0

500.000 16 6

1.000.000 32 18

1.500.000 48 29

FONSECA&SANTOS, 2000

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22

Três procedimentos são aceitos pela Federação Internacional de

Laticínios (IDF) para a enumeração de células somáticas: o método

microscópico, o método de citometria de fluxo por meio de equipamento

automático e a contagem em Coulter Counter, sendo que as amostras de leite

com conservante e mantidas de 2 a 6ºC devem ser analisadas em três dias

para se determinar a CCS. Normas americanas admitem que amostras de leite

com conservante e mantidas de 0 a 4,4 ºC sejam analisadas em até sete dias

após a coleta. No Brasil, a CCS foi recentemente incluída como um requisito

para aceitação do leite pela indústria. Dados dos laboratórios que realizam

análises para determinação da qualidade do leite mostram alta porcentagem de

amostras analisadas com cinco ou mais dias de coleta. Além disso, por

dificuldade logística, elevada porcentagem de amostras é enviada ao

laboratório à temperatura ambiente no que se verifica a diminuição dos valores

iniciais de CCS em amostras de leite mantidas sob diferentes temperaturas

analisadas com até 15 dias após a coleta (BRITO, et al., 1997).

Os valores subestimados da CCS poderiam também causar prejuízos ao

produtor, que teria um falso indicador do estado de saúda de glândula mamária

do rebanho. Desse modo, sugere-se mais discussão considerando-se o

conhecimento existente e as normas internacionais, para regulamentação das

recomendações relativas à temperatura e ao tempo de armazenamento das

amostras até serem analisadas. Assim, os resultados da CCS poderão ser

usados como critério de pagamento por qualidade, como indicador de saúde da

glândula mamária e para atender à legislação (SOUZA, et al., 2005).

As normas para o comércio internacional de produtos lácteos é uma

realidade presente, e os países que não incluírem a CCS nos critérios para

avaliar a qualidade do leite produzido nas fazendas correm o risco de ficar à

margem do comércio internacional de produtos lácteos (FONSECA&SANTOS,

2000).

4.2.2 Califórnia mastitis test (CMT)

O "California Mastitis Test" (CMT) é usado mundialmente para o

diagnóstico da mastite subclínica, tendo a vantagem de poder ser empregado

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no próprio rebanho, no momento em que os animais são ordenhados. A

interpretação do CMT se baseia na observação visual do leite após ser

misturado ao reagente. A reação se processa entre o reagente e o material

genético das células somáticas presentes no leite, formando um gel, cuja

concentração é proporcional ao número de células somáticas

(SCHALM&NOORLANDER, 1957) Para tal, utiliza-se um detergente aniônico

neutro que atua rompendo a membrana das células presentes na amostra de

leite e liberando o material nucléico (DNA), o qual apresenta alta viscosidade.

Dessa forma, o resultado do teste á avaliado em função do grau de viscosidade

da mistura de partes iguais de leite e reagente (2 ml), sendo o teste realizado

em bandeja própria. Os resultados são expressos em cinco escores: negativo,

traços, um, dois ou três sinais positivos, os quais apresentam correlação

relativamente boa com a contagem de células somáticas da amostra, conforme

tabela (FONSECA e SANTOS, 2000).

O uso regular do CMT pode contribuir para melhorar o estado sanitário

dos rebanhos, se os dados obtidos forem usados para orientar a adoção de

medidas para o controle da mastite e se forem associadas práticas adequadas

de manejo e higiene. O CMT continua a ser um instrumento importante para

avaliação de quartos mamários individuais, pelas vantagens de fornecer

resultados imediatos, ser prático e ter baixo custo (MARTIN, et al., 1994).

Tabela 4

Relação entre o Resultado do CMT e a Contagem de Células Somáticas

Escore Viscosidade CCS

0 Ausente 100.000

- Leve 300.000

+ Leve/Moderada 900.000

++ Moderada 2.700.000

+++ Intensa 8.100.000

FONSECA&SANTOS, 2000

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24

4.2.3 Wisconsin Mastitis Test (WMT)

É um teste resultado do aprimoramento do CMT, realizado em um tubo

graduado, com a finalidade de eliminar a subjetividade da interpretação dos

resultados do CMT. Esse teste utiliza o mesmo reagente do CMT em 1:1 em

água destilada. Empregam-se 2 ml do reagente diluído misturado com 2 ml de

amostra de leite em um tubo perfurado, cujo orifício apresenta 1,15 de

diâmetro. Faz-se então, a homogeneização dessa mistura por meio de 10

movimentos de rotação desse tubo, deixando-se logo após escoar o líquido por

15 segundos, retornando-se então, à posição original do tubo. O resultado do

teste é expresso em milímetros, o que por sua vez está correlacionado com a

contagem de células somáticas (FONSECA&SANTOS, 2000).

4.2.4 Análise microbiológica

A análise microbiológica do leite é fundamental na identificação do

agente causador da mastite. As análises individuais mostram os problemas,

porém são de alto custo. Uma alternativa aos exames individuais é a cultura

de amostras do leite total do rebanho, que tem sido usada para o isolamento de

patógenos específicos, especialmente os patógenos contagiosos da mastite

(GODKIN&LESLIE, 1993).

Resultados mostram que o exame microbiológico do leite total do

rebanho, usando meios de cultura seletivos, é um método sensível e específico

para verificar a presença da infecção por S. aureus e S. agalactiae no rebanho.

A sensibilidade é definida como a habilidade do teste identificar corretamente

os rebanhos infectados e a especificidade, definida como a habilidade do teste

identificar corretamente os não-infectados (BRITO, et al., 1998).

Os resultados mostraram que o exame microbiológico do leite do tanque

pode ser empregado nas condições brasileiras, desde que sejam obedecidos

os critérios de uso de meios seletivos, coleta adequada da amostra, análise de

pelo menos três amostras consecutivas e identificação criteriosa das espécies

de microrganismos, especialmente com relação a S. aureus e S. agalactiae.

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25

Este método tem sido usado em outros países para monitoração de programas

de controle da mastite e triagem de rebanhos especialmente para a mastite

subclínica, causada por organismos contagiosos. Nesse caso recomenda-se o

exame de amostras periódicas mensais. É também um método prático e menos

dispendioso, pois possibilita a avaliação do conjunto de animais. A coleta do

leite pode ser realizada diretamente nos rebanhos ou na plataforma de

recepção da indústria, o que oferece a vantagem de permitir a triagem de

rebanhos com rapidez e sem custos com o transporte. Além disso, se o exame

é associado à contagem de células, fornece uma indicação mais precisa do

estado de saúde do rebanho. Embora o exame microbiológico do leite do

tanque ofereça vantagens, é importante salientar que ele não substitui o exame

de animais ou quartos mamários individuais no diagnóstico das infecções

intramamárias. Pode ser considerado um instrumento útil para a monitorização

de programas de controle de mastite, mas os resultados obtidos não podem ser

usados para predizer o número de quartos mamários infectados no rebanho, e

culturas negativas não oferecem a garantia da ausência dos agentes

contagiosos da mastite (BRITO, et al, 1998). Para FONSECA&SANTOS

(2000), as amostras de leite devem ser coletadas em tubos esterilizados, de

forma asséptica para minimizar o risco de contaminação da amostras. Para

isso, é recomendado o emprego dos seguintes procedimentos:

1. limpar completamente o teto com água corrente;

2. fazer a imersão do teto em solução desinfetante à base de cloro,

iodo ou clorexidina;

3. aguardar 30 segundos para a ação do desinfetante e proceder a

secagem completa do teto com papel-toalha descartável;

4. desprezar 2 a 3 jatos de leite;

5. desinfecção da extremidade do teto com algodão em álcool 70%;

6. coletar a amostra de leite procurando-se manter o tubo inclinado

para evitar riscos de contaminação;

7. identificar a amostra e enviar para laboratório resfriada em gelo,

para exame em até 48 horas ou congelar até o envio.

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26

5 Principais Métodos de Controle da Mastite

5.1 Monitoramento

Os programas de controle da enfermidade devem aumentar o retorno

econômico, serem altamente efetivos e aplicáveis a vários rebanhos, reduzir

novas infecções, encurtar a duração das infecções existentes, promover

evidências palpáveis da redução de mastite clínica (PHILPOT, 1984), além de

serem práticos, efetivos, baratos e ter como objetivo principal controlar ou

erradicar as mastites contagiosas e manter baixos os níveis da mastite

ambiental (MULLER, 1999).

FONSECA&SANTOS (2000) relatam que o sucesso de um Programa

de Controle de Mastites está no monitoramento periódico e contínuo de dados,

divididos em quatro informações básicas:

1. Mastite clínica: dados coletados diariamente. Feito com a “prova

da caneca de fundo preto”, o qual mostra as alterações visuais do

leite.

2. Mastite subclínica: realizada mensalmente. Pode ser feito com a

Contagem de Células Somáticas, o CMT ou o WMT. O objetivo é

chegar a uma prevalência de mastite subclínica inferior a 15%.

3. Perfil microbiológico: inicia-se com exames a cada dois meses no

primeiro semestre de implantação do programa e depois disso,

repetir a coleta a cada seis meses. E uma importante ferramenta

para se abaliar com precisão os agente mais prevalentes no

rebanho com o intuito de fechar um correto diagnóstico e assim

utilizar medidas de controle mais específicas.

5.2 Higiene de Ordenha

Os programas de controle de mastite visam diminuir a prevalência da

doença a níveis aceitáveis, uma vez que sua erradicação não é viável. Entre as

medidas recomendadas para o controle das mastites produzidas pela maioria

dos organismos incluem-se as medidas higiênicas. A utilização de areia na

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27

cama das vacas em lactação ao invés de matéria orgânica, as boas condições

higiênicas do estábulo, a imersão das tetas em solução desinfetante após a

ordenha, o tratamento à secagem, o tratamento imediato dos casos clínicos

com antimicrobianos, o descarte de animais-problema e a segregação de

animais infectados no momento da ordenha, bem como a utilização de

unidades de ordenha específicas para esses animais, foram identificados como

fatores que reduzem a CCSLT (BERRY&HILLERTON, 2002).

Segundo LARANJA E MACHADO (2000), houve uma alta correlação

entre a adoção de medidas de controle de mastite e a manutenção de baixos

coeficientes indicadores da prevalência e incidência de mastite, sendo que

todas as práticas de manejo, higiene e terapia envolvidas no Programa dos 5

Pontos de Controle de Mastite (Quadro 2) mostram-se eficazes. Também ficou

claro a grande importância dada pelos produtores às medidas terapêuticas

(antibioticoterapia) de combate à mastite. Já as práticas de controle

preventivas, baseadas em higiene e manejo são muitas vezes desconhecidas

ou mal aplicadas pelos mesmos (LARANJA e MACHADO, 2000).

Quadro 2 Programa dos 5 Pontos

1. Utilização correta de um equipamento de ordenha em bom

funcionamento

2. Bom manejo da ordenha com ênfase na desinfecção dos tetos

pós-ordenha

3. Tratamento imediato de casos de mastite clínica

4. Tratamento de todas as vacas durante o período seco

5. Descarte de vacas com mastite crônica

LARANJA e MACHADO, 1994

Os principais fatores de risco identificados para CCSLT acima de

500.000 células/ml foram: ausência de anti-sepsia dos tetos antes e após

ordenha e não adoção de linha de ordenha. As interações que sugeriram

possíveis fatores de risco para CCSLT acima de 500.000 células/ml foram as

que ocorreram entre a não realização de anti-sepsia dos tetos após a ordenha,

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a não adoção de linha de ordenha com fornecimento de alimento durante a

ordenha e a não higienização do equipamento de ordenha (ausência de água

quente e/ou treinamento dos ordenhadores). Os fatores de risco que elevaram

a CCSLT de 250.000 para 750.000 células/ml foram o fornecimento de

alimento durante a ordenha e a não adoção de linha de ordenha. (SOUZA, et

al., 2005).

A higienização das tetas antes da ordenha contribui para melhorar a

qualidade do leite e para prevenir e controlar as infecções da glândula

mamária. Os cuidados higiênicos atualmente recomendados para o período da

ordenha baseiam-se em estudos e procedimentos que contemplam o manejo e

os equipamentos da ordenha mecanizada. A maioria das vacas leiteiras do

mundo são ainda ordenhadas manualmente, embora a ordenhadeira mecânica

esteja em uso e em contínuo aperfeiçoamento por mais de cem anos. O uso

de água corrente e a secagem com papel toalha reduziram o número de

bactérias na pele das tetas, mas a redução foi significativamente maior com o

uso de qualquer um dos métodos de antissepsia usados (iodo ou toalha com

clorexidina), sendo que esses dois métodos não diferiram entre si. A redução

da contaminação bacteriana das tetas observada em qualquer um dos casos

foi de aproximadamente 90%, demonstrando que o processo de higienização

adotado era adequado e eficiente em rebanhos comerciais. Os microrganismos

isolados das tetas são, principalmente, dos grupos dos micrococos e bacilos

aeróbios formadores de esporos. Esses resultados são, aparentemente,

contraditórios em relação à recomendação de se realizar a antissepsia antes

da ordenha com o objetivo de reduzir as mastites causadas por

microrganismos do ambiente, no qual se incluem os coliformes; mas podem

ser explicados pelo fato de grande número de estreptococos serem incluídos

no grupo de patógenos do ambiente. A preparação do úbere com ajuda do

bezerro umedece a superfície das tetas e cria duas situações de risco: o

aumento da contaminação pelas bactérias próprias da cavidade oral do

bezerro e o fato de a superfície das tetas molhadas propiciar maior facilidade

de colonização por bactérias. Dessa forma, a participação do bezerro pode

dificultar a implementação de práticas higiênicas, tais como a de ordenhar

tetas limpas e secas, que são importantes do ponto de vista de garantia da

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qualidade e do controle da mastite (BRITO, et al, 2000). Além disso,

recomenda-se que os animais sejam conduzidos para a sala de ordenha de

forma tranqüila, sem atropelos ou agressões. O bom funcionamento da sala de

ordenha é obrigatório para se medir o nível de eficiência e qualidade, devendo

ser limpa e arejada, desinfetada uma vez por semana, com produtos a base de

cresóis ou cal virgem, os latões e baldes devem ser previamente limpos com

água e sabão e colocados de cabeça para baixo, e deve-se evitar a presença

de pessoas estranhas para não estressar os animais (SANTOS, et al., 2004).

É importante estabelecer a “linha de ordenha”, ou seja, vacas com

infecções, principalmente mastite, devem ser ordenhadas por último, para não

contaminarem animais sadios. Recomenda-se ordenhar animais em lotes de

acordo com o estado sanitário. Primeiro novilhas primíparas; depois vacas que

nunca tiveram mastite, seguidas pelas que foram curadas; e por último,

ordenhar as que estão em tratamento (PEELER, et al., 2003).

FONSECA&SANTOS (2000) mostraram que a ocorrência de novos

casos de mastite pode estar intimamente associada ao funcionamento do

equipamento e ao manejo da ordenha, pois é durante o período de retirada do

leite que a vaca se encontra sob maior risco de contaminação. Dessa forma, o

mau funcionamento do sistema e o incorreto manejo de ordenha estão

relacionados de três formas com a incidência da mastite:

• A rotina de ordenha inadequada determina a exposição dos

tetos aos agentes infectantes;

• A inadequada manutenção do equipamento e o mau manejo da

ordenha predispõem ao aparecimento de lesões no canal e na

pele dos tetos, proporcionando maior contaminação destes;

• A utilização inadequada ou mau funcionamento da máquina

podem desencadear a entrada de microrganismos no interior da

glândula mamária;

Segundo SOUZA, et al. (2005) em 53,0% das propriedades

pesquisadas, os equipamentos de ordenha tinham, no máximo, quatro anos de

uso e, em menos de 10,0%, mais de 10 anos de uso, indicando que nos

últimos anos houve aumento na aquisição de equipamentos de ordenha. Em

decorrência disso, as propriedades passaram a necessitar de assistência

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técnica especializada e adotaram procedimentos de rotina relacionados à

higienização do equipamento. Observou-se que 34,1% das propriedades não

faziam manutenção dos equipamentos ou a faziam de forma esporádica e que

68,3% dispunham de água quente e de dispositivo para limpeza automática do

equipamento.

Quadro 3

Esquema de Ordenha

1. Retirar os primeiros jatos (teste da caneca de fundo preto ou telada)

2. Lavar os tetos com água corrente (somente quando os tetos estiverem sujos)

3. Fazer imersão dos tetos em solução desinfetante e aguardar 30 segundos para sua ação

4. Secar completamente os tetos com papel-toalha descartável

5. Colocar as teteiras

6. Ajustar as teteiras quando houver deslizamento ou queda do conjunto

7. Retirar as teteiras após cessar o fluxo de leite

8. Fazer a imersão dos tetos em solução desinfetante

9. Fazer a desinfecção das teteiras entre as ordenhas (opcional)

FONSECA&SANTOS, 2000

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31

Tabela 5

Alguns Produtos Disponíveis para Utilização no Pré e Pós-Dipping

Princípio Ativo Iodo Clorexidina Cloro

Ação Bactericida, fungicida e

viricida

Bactérias Gram + e Gram -, além de

outros microrganismos

Bactericida, fungicida e

viricida

Oxidação de compostos protéicos

celulares e ácidos graxos

insaturados. Ação

diminuída frente à

presença de matéria

orgânica.

Precipitação de proteínas e

ácidos nucléicos

Oxidação dos grupos

sulfidrilas de enzimas e pela ação direta com

grupos aminados de

proteínas celulares. Reduzida ação em matéria orgânica

Concentração 0,5 a 1% Gluconato de clorexidina 0,5%

Hipoclorito de Sódio 2 a

4%

FONSECA&SANTOS, 2000

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5.3 Tratamento da Mastite

A utilização do tratamento com antimicrobianos é uma medida

realizada no controle da mastite. As principais metas de uma terapia

antimicrobiana são: prevenção da mortalidade nos casos agudos, retorno à

composição e produção normal do leite, eliminação das fontes da infecção e

prevenção de novas infecções no período seco (CULLOR, 1993).

Verifica-se na atualidade que apesar da disponibilidade de vários

antimicrobianos para tratamento da mastite, o problema de resistência dos

microrganismos a estes se acentuou pelo uso indiscriminado e inadequado,

particularmente no Brasil (COSTA, 1996). O insucesso do tratamento também

pode relacionar-se a capacidade de sobrevivência intracelular de algumas

bactérias e também as alterações anatomopatológicas induzidas por certas

infecções, impedindo o acesso do medicamento no foco (BARRAGY, 1994).

BRITO et al. (2001), relataram que as propriedades farmacocinéticas

do composto, incluindo solubilidade em lipídio, constante de dissociação e

afinidade em se ligar à proteína, assim como a proporção ativa não ligada a

outras substâncias no corpo do animal, determinam a sua capacidade de

penetração e distribuição nos tecidos, sangue e leite.

Segundo FONSECA&SANTOS (2000), sempre que se executa uma

infusão intramamária, corre-se o risco de causar uma nova infecção pela

introdução de um novo patógeno no interior do úbere. Portanto, a higiene no

momento do tratamento é fundamental. Dessa forma, sugere-se que a rotina de

tratamento intramamário envolva as seguintes etapas:

Tratamento Intramamário

1. Ordenhar completamente o quarto infectado

2. Caso os tetos estejam visualmente sujos, executar lavagem com

água corrente, secando-se completamente em seguida

3. Fazer a imersão em um produto para pós-dipping (por exemplo iodo),

aguardando-se 30 segundos antes de secar com papel-toalha

descartável

4. Desinfectar completamente o esfíncter (ponta ou canal do teto) com

um algodão embebido em álcool 70%

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5. Proceder à infusão intramamária. Quanto menor for a introdução da

cânula, menor será o risco de uma nova infecção. Atualmente,

recomenda-se a utilização de produtos comerciais que tenham a

apresentação de cânula curta.

5.4 Terapia da Vaca Seca

FONSECA&SANTOS (2000), afirmam que a terapia da vaca seca nada

mais é do que o tratamento, com antibiótico por via intramamária, de todos os

quartos de todas as vacas no dia da secagem. A prevenção de novos casos de

mastite durante o período seco é de extrema importância, visto que é nesse

período que ocorre maior taxa de riscos de novas infecções, taxa esta que é

diminuída de forma significativa com o tratamento no dia da secagem. Entre as

vantagens pode-se destacar:

• Taxa de cura significativamente mais alta que a do tratamento durante a

lactação

• Utilização de antibióticos de longa ação e em altas concentrações

• Diminuição drástica de novas infecções potenciais do período seco

• Possibilidade de regeneração do tecido mamário lesado na lactação

anterior

• Redução da incidência de mastite clínica no pós-parto

• O tratamento é seguro, não causando riscos de contaminação do leite

com antibióticos

Em termos de manejo externo, o período seco é um momento crucial

para as vacas, pois elas se estressam devido à interrupção da ordenha e

deixam de receber cuidados diários de desinfecção de tetos, tornando-se

extremamento susceptíveis a mastite (SONDERGAARD, et al., 2002). As

infecções por Streptococcus sp. são mais comuns durante o período seco,

isso se deve ao fato de que nessa fase a exposição aos patógenos

ambientais é muito maior que aos agentes contagiosos, dada a ausência de

ordenha para essa categoria animal, o que também está relacionado aos

coliformes. Nesse sentido, recomenda-se que as vacas sejam alojadas em

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local com a máxima higiene, especialmente na semana após a secagem e

na semana pré-parto (FONSECA&SANTOS, 2000).

SHEPHARD, et al. (2000), afirma que o tratamento de vacas é mais

efetivo com infusões de antibióticos no final da lactação e não ao longo dela.

Todavia, a terapia da vaca seca parece não diminuir a contagem de células

somáticas (CCS) do leite obtido durante a lactação seguinte. Estudos que

investigam o tratamento de vacas com alta CCS durante a lactação indicaram

redução do número de células somáticas, entretanto, esse aspecto favorável

não resultou em ganhos financeiros.

Como desvantagens dessa técnica, podemos citar que essa prática

nem sempre é efetiva em infecções crônicas e contra todos os possíveis

patógenos causadores da mastite; não há proteção contra novas infecções

estabelecidas no pós-parto; a eliminação dos patógenos mais comuns do úbere

pode levar algumas vacas a uma maior sensibilidade a outros agentes,

especialmente os coliformes, procedimentos inadequados no tratamento dos

animais na secagem podem levar a novas infecções; poderá haver resíduos no

leite no pós-parto, caso haja um curto período seco (FONSECA&SANTOS,

2000).

5.5 Tratamento da Mastite Clínica

A mastite clínica é a principal razão para o uso de antibióticos em vacas

em lactação. A antibioticoterapia dificilmente se justifica nos casos em que

nenhum agente patogênico pode ser isolado, contudo, ao nível de campo, essa

terapia se inicia antes dos resultados de exames microbiológicos. O objetivo é

manter uma alta concentração de antibióticos no quarto afetado, por um

período de tempo suficiente para eliminar todas as bactérias. Acredita-se que,

quando na utilização da terapia intramamária associada à terapia sistêmica, a

primeira atuaria em nível de cisternas e grandes ductos, e a segunda, nas

partes mais profundas da glândula (FONSECA&SANTOS, 2000).

2000).

O tratamento durante a lactação pode ser economicamente viável

quando a qualidade do leite é um componente significativo do produto ou

quando casos clínicos ou a transmissão de microrganismos podem ser

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prevenidos. Entretanto, cuidados devem ser tomados para evitar o risco de

resíduos de antimicrobianos no leite (SWINKELS et al, 2005).

Os regimes de tratamento de casos de mastite aguda recomendados

pela maioria dos pesquisadores incluem ordenha, freqüente administração de

antimicrobianos, fluidoterapia, antiinflamatórios não-esteroidais, glicose,

bicarbonato e cálcio. Este tratamento pode prevenir a cronificação de um

processo agudo e, também, a septicemia, embora esta seja muito rara. Quanto

à mastite de causa ambiental, esta pode ser tratada com aminoglicosídeos e as

cefalosporinas. A inflamação e a leucocitose resultante das infecções por

coliformes não persistem após a cura bacteriológica, podendo, desse modo,

servir de indicador da eficácia terapêutica A penicilina, cefalosporina,

cloxacilina e eritromicina são os antimicrobianos de eleição nas mastites de

causa contagiosa. (FONSECA&SANTOS, 2000). Também, durante o

tratamento, há a recomendação de redução de grãos na ração até o

desaparecimento dos sintomas e evitar que as vacas fiquem em ambiente frio e

ordenhar manualmente de 3 a 6 vezes por dia (DUVAL, 2005).

Segundo SHEPHARD et al. (2000), 28 dentre 214 vacas tratadas

experimentaram episódios clínicos de mastite uma semana após o tratamento.

Acredita-se que a principal causa desses casos da doença foi a introdução de

bactérias para o interior da glândula no momento do tratamento. Desse modo,

há necessidade de conscientizar os produtores de leite da necessidade de

esterilizar as cânulas intramamárias. Isso inclui preparação da glândula,

maneira de inserção da cânula e higienização após o tratamento (ver

tratamento intramamário).

Por fim, na mastite clínica deve ser observado o tipo de agente, através

de cultura microbiológica, assim como o tipo de droga a ser usado, isso com

orientação de um médico veterinário.

5.6 Tratamento da Mastite Subclínica

Uma terapia antimicrobiana racional dos casos subclínicos deve

considerar os custos com os serviços veterinários e dos funcionários da

propriedade, gastos com medicamentos e com o leite descartado. Essa

decisão é influenciada pelo perfil microbiológico do rebanho, pelas

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propriedades farmacocinéticas dos agentes antimicrobianos disponíveis e,

também, pela realidade financeira da fazenda. Dessa forma, a terapia durante

a lactação para a mastite subclínica não é recomendada por apresentar baixa

relação custo/benefício, com exceção para rebanhos com elevada prevalência

de Streptococcus agalactiae, o qual pode ser controlado com eritromicina,

penicilinas, cloxacilina e cefalosporinas (FONSECA&SANTOS, 2000).

Segundo FONSECA&SANTOS (2000), o Staphylococcus aureus é

altamente resistente à terapia durante a lactação pela produção do exsudato

inflamatório e êxito de tratamento de até 30%. Caso seja feita a opção do uso

de drogas, estas devem ser associadas ao tratamento sistêmico usando

penicilina, tetraciclina e quinolonas. Porém, o êxito da terapia durante a

secagem é de 40% a 83%. Já ZAFALON (2007), diz que o tratamento da

mastite subclínica causada por S. aureus, durante a lactação, com gentamicina

intramamária, ainda que com elevadas taxas de cura microbiológica, não

resultou em aumento da produção de leite dos quartos tratados em

comparação com a dos quartos sadios. O tratamento intramamário não traz

benefícios econômicos com aumento de receita, mas reduz a CCS dos quartos

tratados, e melhora a qualidade do leite. Para OWENS et al. (2001), a

prevalência de S. aureus foi aproximadamente duas vezes mais elevada em

quartos mamários que apresentavam lesões. A presença de cortes ou outros

tipos de lesões no quartos mamários podem interferir na resposta ao

tratamento contra S. aureus

SOL et al. (1994, 1997), afirma que quanto maior o número de células

somáticas no momento do tratamento, menor parece ser o sucesso da terapia

intramamária durante a lactação. ALLORE et al. (1998) demonstraram que o

tratamento durante a lactação, em conjunto com estratégias preventivas e a

terapia da vaca seca reduziram a CCS do leite de conjunto e o número de

descartes devido à mastite. A influência negativa da elevada CCS no leite de

uma ou mais vacas sobre a CCS do leite de conjunto pode influenciar a

tomada de decisão sobre a realização do tratamento durante a lactação e,

consequentemente, o seu possível efeito positivo na redução da CCS.

O tipo de tratamento e outros fatores devem ser considerados na

análise da cura bacteriológica, após o tratamento de mastite subclínica durante

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a lactação, como o número de lactações, a duração do tratamento, a idade do

animal e o tipo de microrganismo envolvido na etiologia da doença

(DELUYKER et al., 2005).

Nas mastites subclínicas, quando o tratamento é praticado à secagem,

após a última ordenha, ao final de lactação do animal, permite uma melhor

ação do medicamento utilizado, que devem ser específicos para este tipo de

tratamento, formulados com veículos de liberação lenta, o que permite um

maior tempo de ação do antimicrobiano na glândula mamária (COSTA et al.,

1996).

5.7 Nutrição

Os efeitos favoráveis do selênio (Se) e da vitamina E (vit. E) nos

mecanismos de defesa do úbere vêm sendo estudados nos últimos anos, mas

poucos são os trabalhos desenvolvidos no Brasil. A vit, E é o mais importante

antioxidante lipossolúvel. Está inserida nas membranas lipídicas e as protege

contra o ataque de radicais superóxido. O Se, micronutriente essencial

presente nos tecidos do corpo, constitui parte integrante da enzima glutationa

peroxidase que atua no citosol celular convertendo peróxido de hidrogênio

(composto tóxico) em H2O + O2 (COMBS&COMBS, 1986). Resultados

bastante satisfatórios foram obtidos quando se estudou o efeito da

suplementação de Se (0,3 ppm Se/dia) e da vit. E (1000 UI/dia) em novilhas. A

suplementação iniciou-se 60 dias antes do parto e prosseguiu durante toda a

lactação. No grupo tratado houve diminuição dos casos de mastite clínica e

diminuição na contagem de células somáticas em relação ao grupo não

suplementado (SMITH, et al, 1985).

5.7.1 Nitrogênio e Proteínas

A maior evidência de causa de mastite é pelo efeito do nitrogênio não-

protéico (uréia e amônia) no animal. Há uma relação entre o nível de uréia no

sangue e a colonização bacteriana do úbere, causado pela queda so sistema

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imune. Em outro experimento, a adição de uréia na ração causou

susceptibilidade à infecção e aumento do número de infecções no rebanho em

16%(DUVAL, 2005).

5.7.2 Concentrado e Energia

É recomendado a redução da quantidade dada à uma vaca com mastite.

Quando vacas recebem ração contendo mais de 40% de concentrado, a

incidência de mastite pode subir de 7% para 36%(DUVAL, 2005).

5.7.3 Cálcio e Fósforo

Um desequilíbrio de Ca e P na ração resulta em problemas como a

“Febre do Leite”. Em 50% dos animais resulta em uma mastite ambiental

(DUVAL, 2005).

5.7.4 Silagem

Silagens de qualidade inferior causam efeitos negativos no sistema

imune pela falta de nutrientes disponíveis. Em alguns casos, Pseudomonas e

Proteus que sobrevivem à fermentação são os causadores das mastites,

assim como as micotoxinas alteram a eficácia do sistema imune (DUVAL,

2005).

5.7.5 Alfafa e Outras Leguminosas

Alguns legumes, particularmente a alfafa, contém estrogênio em várias

concentrações dependendo da maturidade. Uma alteração do mecanismo

fisiológico causado pelo estrógeno externo predispõe os animais à mastite.

Estudos indicam que a adição de alfafa na ração de vacas com mastite crônica

exacerbou a infecção. Importante também é o não fornecimento de silagem

com leguminosas a novilhas e terneiras devido ao desenvolvimento prematuro

do úbere e o desenvolvimento precoce da mastite (DUVAL, 2005).

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6 Vacinas

Em uma glândula mamária normal, o importante é a capacidade de

mobilização das células somáticas, e não seu número. Vacas capazes de

mobilizar um grande número de células somáticas apresentam maior

resistência à mastite, sendo possível a seleção genética desses indivíduos,

pois a herdabilidade desta característica é relativamente alta. Uma forma de

aumentar a mobilização de neturófilos é a imunização. A vacinação contra a

mastite estafilocócica melhora a capacidade de mobilização de células para o

leite. Dessa forma, animais previamente imunizados são capazes de transferir

neutrófilos do sangue para o leite mais rapidamente. A imunização traz ainda a

vantagem de melhorar a eficiência da fagocitose através da opsonização dos

agentes patogênicos. A quantidade, e principalmente o tipo de anticorpo

produzido e transferido para a glândula mamária são importantes. Por exemplo,

IgA e IgG1 não atuam como opsoninas, enquanto IgM e IgG2 o fazem. Isto

parece ocorrer porque neutrófilos de ruminantes apresentam receptores

específicos para o fragmento Fc dessas imunoglobulinas, mas não para IgG1

(CBQL, 2009).

Existem vacinas comercialmente disponíveis para Staphylococcus

aureus e para bactérias Gram-negativas. As vacinas para S. aureus são

preparadas com estirpes selecionadas, e são enriquecidas com substâncias da

cápsula e outros produtos bacterianos, importantes para induzir a proteção do

animal. Resultados de trabalhos científicos mostram que a vacinação reduz as

taxas de novas infecções entre 25% e 86%, bem como a incidência de casos

clínicos e a cronicidade das infecções. Essas vacinas também apresentam

resultados satisfatórios quando aplicadas em novilhas. Os resultados foram

mais evidentes em rebanhos que têm problema de mastite com S. aureus,

sendo menores os benefícios em rebanhos bem manejados, com baixa

prevalência de infecções por esse microrganismo. As vacinas para bactérias

Gram-negativas são preparadas com estirpes bacterianas mutantes de

Escherichia coli (J5) e Salmonella (Salmonella typhimurium Re-17). Essas

vacinas protegem os animais contra uma ampla variedade de bactérias Gram-

negativas. A vacinação das vacas com a vacina de E. coli J5 resultou em 70%

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a 80% de redução na incidência e severidade da mastite clínica por coliformes,

no início da lactação. A vacina de E. coli J5 não reduz a incidência de novas

infecções logo após o parto, mas reduz a percentagem de infecções por

coliformes, que se tornam clínicas. A vacinação para coliformes não protege

contra os estreptococos ambientais (EMBRAPA, 2009).

Uma das vacinas encontradas no mercado é a MASTAPH, da fabricante

IRFA. Esta vacina contêm estafilococos que apresentam cápsula, estimulando

a imunidade contra ela, fazendo com que os anticorpos que chegam ao úbere

seja do tipo correto (IRFA, 2009).

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7 Conclusão

Dentre as doenças que atingem a pecuária leiteira, a de maior

importância em termos econômicos é a mastite. O Staphylococcus sp. é o

agente mais frequentemente isolado de amostras de leite proveniente de vacas

com mastite.

Para reduzir o risco da presença de microrganismos indesejáveis no

leite cru é necessário implementar medidas para diminuir a prevalência das

infecções intramamárias. Deste modo, compete aos setores de captação de

leite das usinas e aos serviços de extensão, incrementar o desenvolvimento

das atividades de orientação e apoio aos produtores, com a finalidade de

aprimorar as técnicas de produção e obtenção do produto, com destaque para

os seguintes aspectos importantes: realização de testes periódicos para o

diagnóstico individual de casos de mastite clínica nas vacas leiteiras; colheita

de amostras e identificação laboratorial dos agentes infecciosos envolvidos nos

casos de mastite; descarte do leite de vacas acometidas com infecções

causadas por bactérias de importância em saúde humana; tratamento

adequado dos quartos afetados com antimicrobianos, respeitando-se o

intervalo de carência recomendado para a utilização do leite; limpeza e

desinfecção criteriosa do úbere dos animais, antes e depois da ordenha;

provisão de quantidades suficientes de água potável para os diversos

processos de obtenção do leite; e, manutenção dos cuidados de higiene geral

do estábulo leiteiro, incluindo a limpeza e desinfecção das instalações de

ordenha, ordenhadeiras e utensílios. Com relação às teteiras, a desinfecção

após a ordenha de cada vaca é particularmente eficiente para o controle de S.

aureus, podendo ser realizada automaticamente (sistema por backflushing) ou

através do método manual por imersão das teteiras em balde, desde que

tomadas as precauções necessárias, tais como a troca freqüente da solução

desinfetante e a imersão das teteiras por tempo suficiente.

Diante destes fatos, torna-se importante prevenir e controlar as

infecções intramamárias nos rebanhos para melhorar a qualidade dos produtos

oferecidos à população. A oferta de leite de boa qualidade exige uma série de

medidas de controle em todas as etapas da cadeia de produção. Da mesma

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forma, produtores de leite e mercado varejista, membros da indústria leiteira

(setor de transformação) devem atender à demanda dos consumidores por

qualidade e segurança alimentar.

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