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MATA CILIAR JOSÉ FERNANDO VIDAL DE SOUZA Promotor de Justiça, Indaiatuba 1. INTRODUÇÃO Impossível falar sobre o tema sem ao menos introduzi-lo com uma análise acerca da água e sua importância para o homem e a vida em sociedade. É sabido que das águas existentes no planeta Terra, 97% se localizam nos oceanos e mares, sendo impróprias para consumo direto, necessitando de processos dessalinização para sua utilização. Outros 2% encontram-se em geleiras, mas o processo tecnológico para utilização destas águas ainda é de elevado custo e de difícil disponibilidade. Portanto, apenas 1% da água encontrada no planeta é doce e possibilita sua utilização quase que imediata para o consumo humano. Estas águas estão localizadas em rios, lagos e lençóis subterrâneos. Desta forma, tem-se que a água é recurso natural, limitado e dotado de valor econômico e constitui, também, um bem de domínio público. A água possui um ciclo, que nos permite dizer que se trata de um recurso renovável, que possibilita ao homem a sua utilização, desde que se faça de forma racional e equilibrada, para garantia da continuidade do seu ciclo. As águas continentais de superfície são formadas através de fontes e das águas das chuvas. Estas formam pequenos córregos, que se avolumam e originam os rios. Assim, a nascente de um rio, que pode ser uma pequena fonte, pode formar um córrego, que no momento seguinte formará um rio, que poderá alimentar, junto com as águas subterrâneas, outro rio ou atingir oceanos ou mares

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MATA CILIAR

JOSÉ FERNANDO VIDAL DE SOUZAPromotor de Justiça, Indaiatuba

1. INTRODUÇÃO

Impossível falar sobre o tema sem ao menos introduzi-lo com uma análise acerca da água e sua importância para o homem e a vida em sociedade.

É sabido que das águas existentes no planeta Terra, 97% se localizam nos oceanos e mares, sendo impróprias para consumo direto, necessitando de processos dessalinização para sua utilização. Outros 2% encontram-se em geleiras, mas o processo tecnológico para utilização destas águas ainda é de elevado custo e de difícil disponibilidade. Portanto, apenas 1% da água encontrada no planeta é doce e possibilita sua utilização quase que imediata para o consumo humano. Estas águas estão localizadas em rios, lagos e lençóis subterrâneos.

Desta forma, tem-se que a água é recurso natural, limitado e dotado de valor econômico e constitui, também, um bem de domínio público.

A água possui um ciclo, que nos permite dizer que se trata de um recurso renovável, que possibilita ao homem a sua utilização, desde que se faça de forma racional e equilibrada, para garantia da continuidade do seu ciclo.

As águas continentais de superfície são formadas através de fontes e das águas das chuvas. Estas formam pequenos córregos, que se avolumam e originam os rios. Assim, a nascente de um rio, que pode ser uma pequena fonte, pode formar um córrego, que no momento seguinte formará um rio, que poderá alimentar, junto com as águas subterrâneas, outro rio ou atingir oceanos ou mares

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O ciclo da água é, inicialmente, alterado pela radiação solar, mas outros fatores contribuem para que este bem se renove, dentre ele se destacam a vegetação e solo.

As folhas da vegetação seguram as gotas da chuva, parte, no entanto, escoa sobre o caule e ingressa no solo, atingindo as raízes da vegetação. A água de solo, por sua vez, se movimenta e pereniza os rios, bem como formam os denominados aqüíferos freáticos e profundos. O movimento das águas no solo para atingir os lençóis freáticos é muito lento e se denomina de percolação.

Assim, vários fatores influem para a formação de um rio, tais como topografia, relevo, o regime pluvial existente no local, a origem e evolução das rochas e dos solos e seus eventuais estágios de erosão. Tudo isto influi na velocidade das águas do rio e, como conseqüência em sua profundidade. A inclinação do leito do rio leva a um aumento da sua velocidade, tornando-o mais raso e a sua superfície fica à mercê do fundo, o que leva a formação das denominadas corredeiras.

Com efeito, os grandes rios, geralmente, possuem um gradiente pequeno de queda. O rio Amazonas, por exemplo, cai apenas 2 (dois) centímetros por quilômetro!

Isto nos leva a concluir que se o mencionado gradiente for homogêneo durante o seu percurso o rio, garantir-se-á um maior volume de água.

Além disso, é necessário se ressaltar que a água possui memória, o que vale dizer que é possível analisar suas características físicas ( através da sua cor, turbidez, ponto de hidrogenização (pH), sabor, odor , sólidos (dissolvidos e suspensos orgânicos e inorgânicos) e condutividade), químicas ( alcalinidade, dureza, seus compostos (nitrogênio e enxofre) salinidade, ferruginosidade) e biológicos ( existência de bactérias aeróbias ou anaeróbias), identificando a sua origem.

O homem utiliza deste recurso natural com derivação (retirando-a dos mananciais) e sem derivação (sem retirá-la dos mananciais). No primeiro caso a água é utilizada para abastecimento urbano, industrial, rural, irrigação, aquicultura. Na segunda hipótese serve para geração de energia elétrica, recreação,

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pesca e navegação. Além disso, pode-se utilizar a água para diluição e oxidação de despejos de efluentes.

Na atualidade, já é possível demonstrar cientificamente que um rio que mantém em suas margens uma boa cobertura vegetal perde menos quantidade de água. A manutenção de uma boa quantidade de água, associada à referida vegetação, evita a formações de sulcos na terra, que crescem e podem formar erosões.

As erosões, dependendo do tipo de solo e se estiverem associadas a processos de queimadas, desmatamentos desmedidos, atividades agrícolas intensas e mal planejadas, com a ação do sol, chuva e vento pode levar às chamadas boçorocas ou voçorocas, que se alastram e dão início a um processo de desertificação do solo, como atualmente ocorre nos pampas gaúchos.

É dentro deste contexto que examinaremos o tema proposto, que evidentemente não pode hoje ser visto como um capítulo secundário do capítulo da flora. Na verdade, a sua importância e relevância está a exigir um visão mais ampla e um aprofundamento da questão no campo da doutrina e da jurisprudência.

2. CONCEITO Entende-se por mata ciliar aquela margeia

e recobre o rio, riacho, córrego, lago, lagoa, represa ou os chamados olhos d'água. Este tipo de vegetação se beneficia da disponibilidade de água e dos nutrientes que se acumulam nas margens destes cursos d'água e, em contrapartida protegem suas margens da erosão e evitam o assoreamento, garantindo, assim a constância do volume de água.

Estas formações vegetais variam florística e estruturalmente e podem ser distinguidas dentro e fora do nosso território pela influências das cheias, a flutuação do lençol freático, do solo, umidade.

Assim, toma-se o termo mata ciliar por vários sinônimos, a saber :

a) mata ripária;

b) floresta de galeria (termo utilizado pelos europeus, para as vegetações existentes no Centro-Oeste do país)

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c) mata de fecho e anteparo (termo este utilizado no Rio Grande do Sul);

d) mata aluvial, floresta paludosa ou de várzea aluviais;

e) florestas inundadas (termo utilizado na região amazônica. Este termo se subdivide em igapós - sempre alagados e várzeas - áreas sujeitas a inundações parciais e periódicas);

f) veredas (termo utilizado no nordeste e Centro-Oeste brasileiro).

Além desses termos e tendo em conta a posição destas vegetações nos cursos d'água, se utilizam os seguintes: florestas de beira-rio, floresta de borda, floresta justafluvial, floresta marginal, floresta ribeirinha e ripícola (Waldir Mantovani, 1989:16).

Os principais objetivos das matas ciliares são:

a) reduzir as perdas de solo e os processos de erosão, bem como o assoreamento (arrastamento de partículas do solo) das margens dos corpos d'água ;

b) garantir o aumento da fauna silvestre e aquática , proporcionando refúgio e alimento para esses animais;

c) manter a perenidade das nascentes e fontes;

d) evitar o transporte de defensivos agrícolas para os cursos d'água ;

e) possibilitar o aumento de água e dos lençóis freáticos, para utilização humana e agrícola;

f) garantir o repovoamento da fauna e maior reprodução da flora;

g) controle da temperatura, com um clima mais ameno;

h) valorização da propriedade rural.

2.1 Importância ambiental das matas ciliares

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Constata-se, pois, que a mata ciliar funciona como um controlador de uma bacia hidrográfica, regulando os fluxos de água superficiais e subterrâneas, a umidade do solo e a existência de nutrientes.

A maior parte da água doce encontrada no mundo está armazenada nos reservatórios subterrâneos. Estima-se que o Brasil possui um verdadeiro oceano de reserva de água doce nestes aqüíferos profundos, cerca de 37 mil quilômetros cúbicos de água. Esta quantidade de água seria capaz de abastecer a população atual do país por cerca de 2.000 anos!

Conforme já ressaltado, a água se renova e, dentro desta visão pode-se afirmar que se trata de um recurso inesgotável. No entanto, o desafio mundial do próximo século em matéria ambiental é o combate à sua escassez e a obtenção de água com qualidade, que venha a atender as necessidades básicas da sociedade moderna.

Portanto, a preservação dos mananciais, das bacias hidrográficas e dos lençóis subterrâneos é de fundamental importância para a garantia deste recurso natural.

Neste sentido, na atualidade, observa-se que grande parte da água doce superficial está comprometida com a poluição doméstica, industrial e rural-agrícola, fato que leva as regiões mais populosas a buscarem-na em outras bacias mais distantes. Com exemplo tem-se a região metropolitana de São Paulo que hoje tem garantido seu abastecimento às duras penas, pois é obrigada a buscar água no sul do Estado de Minas Gerais, a cerca de 160 Km da Capital e conta, também, com a contribuição da bacia do Rio Piracicaba, que foi revertida em 2/3, para atender o grande polo.

Mas não é só.

As águas localizadas nos aqüíferos profundos são consideradas as mais puras e estão protegidas pelas formações geológicas e geomorfológicas. Contudo, o descontrole nas áreas de proteção permanente também gera a poluição destes lençóis, comprometendo-lhes a pureza e qualidade e inviabilizando a sua utilização.

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Assim, a proteção das águas superficiais e subterrâneas somente pode ocorrer com a preservação e recomposição das matas ciliares , que garantem a qualidade deste recurso natural e permitem a criação de estratégias para a sua correta utilização, além de contribuir para a recarga dos aqüíferos subterrâneos.

Desta forma, é necessário conhecer o papel da mata ciliar em todo o ciclo da água. Este conhecimento leva ao conceito de preservar e recompor este tipo de vegetação de preservação permanente. Com a preservação e recomposição das matas ciliares, garante-se uma sadia qualidade de vida. Por fim, esta garantia possibilita o desenvolvimento de um programa de educação ambiental e utilização racional dos recursos naturais voltado para as gerações futuras.

As áreas ripárias funcionam como filtros, pois impedem que as águas da chuva, que não foram absorvidas pelo solo sejam escoadas de forma superficial, levando consigo sedimentos e, consequentemente, nutrientes para o interior dos cursos dos mananciais, bem como evitam a formação de erosão.

A manutenção da mata ciliar garante uma maior quantidade de nutrientes, permite o controle do aporte destes e de produtos químicos, bem como possibilita o aumento da produção de água na bacia. Nota-se, pois, que essas matas estão situadas na parte da bacia hidrográfica e formam suas margens, por onde ocorre o denominado escoamento direto das águas pluviais.

Tudo isto nos leva a dizer que o correto manejo destas matas assegura uma maior estabilidade à bacia hidrográfica e para evitar o comprometimento desta é necessário se ter uma atenção toda especial com os locais onde ela foi destruída ou totalmente suprimida, para que ela seja recomposta .

2.2 Outros aspectos relevantes sobre o tema Além de todas essas considerações,

necessário observar que as matas de galeria também são importantes para a fauna de mamíferos, especialmente nos campos, caatingas e cerrados.

Neste particular, convém ressaltar que o estado de São Paulo originalmente possuía 20% de seu território

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coberto pela vegetação denominada cerrado. Este tipo de vegetação possui um porte menor e com freqüência está situada em regiões próximas aos centros urbanos e conta com uma topografia plana. Tais fatores, possibilitaram, nas últimas décadas a substituição desta vegetação por campos para o cultivo da cana de açúcar , citros e pastagens, restando apenas 1,17% do original deste tipo de cobertura vegetal.

O cerrado paulista (Cerrado: Bases para Conservação, 1997:09) é compreendido por várias formações vegetais variáveis e conhecidas por : campo limpo (formação campestre), campo sujo, campo cerrado e cerrado propriamente dito (que são formações savânicas) e cerradão (formação florestal).

Esta vegetação ganha especial relevância porque não foi originariamente protegida pelo Texto Constitucional em vigor (art. 225 § 4º), embora já tenha recoberto 25% do território brasileiro.

Porém, parte deste tipo de vegetação pode e deve ser preservada e regenerada, através da recuperação das matas ciliares.

Nas formações de cerrado paulista tem-se a presença de espécies da fauna endêmicas e raras tais como: mico-leão-preto, cervo do pantanal, mutum, codorna buraqueira, sagui de São Paulo, lobo-guará, anta e espécies endêmicas de peixes, anfíbios e borboletas.

O biólogo Jader Soares Marinho Filho (1989:44-45), ressalta que "aproximadamente 51% das espécies de mamíferos encontrado no Cerrado, são também encontradas na Floresta Amazônica, 38% ocorrem na Caatinga, 49% são registradas no Chaco, 58% ocorrem na Floresta Atlântica e 71% ocorrem ainda em outras formações." Ele explica ainda que somente 14 espécie de mamíferos não voadores podem ser conderadas endêmicas dos cerrados da região Central do Brasil e apenas um mamífero é próprio da caatinga.

Por fim, do total de 32 espécies de morcegos encontrados no cerrado brasileiro, somente uma espécie é considerada constante.

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Em contrapartida, das 67 espécies de mamíferos não voadores encontradas no cerrado, apenas nove jamais ocorreram nas matas de galeria.

Tudo revela que estas formações reúnem condições melhores para garantir uma maior diversidade de mamíferos, pois este ambiente amplo e diverso assegura condições excepcionais de suprimento alimentar e água em abundância, permitindo um porto seguro para a reprodução das espécies e preservação de um enorme patrimônio genético.

Inobstante estas considerações devemos ter em conta que cada ecossistema ribeirinho, assim como o estágio e o tipo de cada vegetação circundante existente, deve ser examinado como um todo, pois não se pode visualizar da mesma forma a mata do planalto atlântico, o mangue, as restingas e o cerrado. Aqueles que assim pensam, afastam-se de uma análise ampla sobre o tipo de composição florística , da diversidade, quantidade de água e sua dispersão no solo e, como conseqüência, a preservação e/ou conservação destas áreas estará comprometida.

Por fim, resta examinar a ocupação racional do solo. Por outras palavras é possível ocupar algumas áreas de preservação permanente, sem destruí-las e com um levantamento racional pode-se criar um programa para o manejo destas áreas.

Como exemplo, citamos a recomposição de áreas degradadas, através da utilização de abelhas como agente polinizador (Tsugui Nilsson 1989:146). A apicultura é uma ótima alternativa para estas áreas, pois possibilita a proteção de recursos naturais, evita a utilização do solo para monocultura e pastos para gado, gerando grande retorno econômico.

Também é possível ampliar a recomposição destas áreas com espécies fruteiras, ornamentais, medicinais e palmitos, sem falar na possibilidade de exploração do turismo ecológico.

Como se vê, as alternativas existem além das tradicionais formas de ocupação do solo, que ao longo dos anos somente produziram devastação e geraram lucros para uma minoria.

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É bom que se diga que as áreas de preservação permanente não são suscetíveis de exploração, nos termos do art. 16 do Código Florestal.

O pensar ecológico pressupõe a existência de uma visão ampla, ética e acima de tudo criativa, uma vez que estamos diante de um direito que não pertence a uma única pessoa ou a um grupo de pessoas, mas é de todos e, portanto, transindividual.

3. A VISÃO DO DIREITO SOBRE O TEMA A preocupação com a proteção das matas

ripárias é antiga e Osni Duarte Pereira (1950:178), questionava o termo Código Florestal, utilizado pelo legislador de 1934 que, na sua opinião, era incompleto e deveria ser entendido de forma ampla e por isso ressaltava:

"Com efeito, não bastam as florestas para proteger a terra, na sua formação aproveitada pelo homem. Casos há em que as simples capueiras ou prados são vegetações tão indispensáveis como as florestas. Eles também dificultam a erosão, retendo o humus indispensável à fertilidade, prendendo as barrancas dos arrois e dos rios, necessárias para conservar as correntes em seus leitos e impedir as inundações, nas cheias pluviais, prestando, enfim, toda a sorte de benefícios que a agronomia, a silvicultura e a ecologia ensinam"

Esta preocupação também é refletida pela legislação atual que no art. 2º do Código Florestal (lei nº 4.771/65 ) dispõe o seguinte:

"Art. 2O. Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:

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1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez ) metros de largura;

2) de 50 (cinqüenta) metros paras os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura;

3) de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200(duzentos) metros de largura;

4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

5) de 500 (quinhentos ) metros para os cursos de d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;

c) nas nascentes, ainda que intermitentes nos chamados olhos d'água, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;

d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) na encostas ou partes destas, com declividade superior a 45º (quarenta e cinco graus), equivalentes a 100% ( cem por cento) na linha de maior declive;

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

h) em altitude superior a 1800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação."

Em alguns países, a exigência da referida faixa de preservação destes ecossistemas é bem mais ampla que a estabelecida pela lei brasileira. Na Rússia, por exemplo, a legislação exige que a área ripária mínima deve ter 300m de largura.

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Contudo, a nossa legislação federal não impede que os estados possam ampliar as faixas de preservação ao longo dos cursos d'água , para assegurar proteção aos recursos hídricos .

Essas matas consideradas de preservação de permanente somente eventualmente podem ser parcial ou totalmente suprimidas, desde que haja disposição legal e visem a projetos de utilidade pública ou interesse social .

Além das áreas mencionadas o Poder Público pode declarar áreas de preservação permanente, as florestas e demais formas de vegetação natural que se destinem: a atenuar a erosão; fixar dunas; faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; visem garantir a beleza de locais de valor científico e histórico; possibilitar o isolamento de animais e vegetais ameaçados de extinção, para garantir a perpetuação das espécie, possibilitem a mantença das populações indígenas e assegurem condições de bem -estar público, nos moldes do art. 3º referido diploma legal.

Estas áreas podem ser suprimidas parcial ou totalmente desde que haja autorização do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e sejam necessárias para execução de obras, planos atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social (art. 3º.§ 1º)

As áreas de preservação permanente, previstas no art. 2º Código Florestal, por imposição da regra prevista no art. 18 da lei nº 6.938/81, foram transformadas em reservas ou estações ecológicas, sob a responsabilidade do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis).

As estações ecológicas - assim consideradas aquelas representativas de ecossistemas brasileiros e voltadas para pesquisa básica e aplicação de estudos ecológicos, proteção do ambiente natural e desenvolvimento de consciência e educação conservacionista (art. 1º) - só podem ser estabelecidas por pela União, Estados e Municípios, em suas terras dominiais, com limites geográficos determinados, sendo que se submetem à fiscalização e controle do IBAMA, nos moldes da lei nº 6.902/81.

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Por outro lado, as terras particulares são consideradas reservas ecológicas ou protetoras e, como tais, continuam nas mãos de particulares que deverão mantê-las e conservá-las. Nesta hipótese, a lei não cogita de desapropriação destas áreas, mas de sua limitação, visando, inclusive a atender a função social da propriedade, consoante as regras previstas nos arts. 5º XXIII, 170, III, 186.

Outrossim, somente se fala em desapropriação e sua correspondente indenização nas hipóteses de criação pelo Poder Público de estações ecológicas em terras particulares ou no caso de impossibilidade absoluta de exploração das áreas de preservação permanente instituídas pelo Poder Público (art. 3º do Código Florestal).

3.1 Da Responsabilidade Administrativa Embora o Texto Constitucional estabeleça

que a União, Estados e Distrito Federal possam legislar de forma concorrente sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição (art. 24, "caput" e VI), o poder de polícia nas áreas de preservação permanente não privilégio exclusivo só da União, através do IBAMA .

Com efeito, é de competência comum da União, Estados do Distrito Federal e dos Municípios, proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas (art. 23, VI).

Ao município também se permite legislar sobre a flora e sobre o ordenamento territorial, mediante o planejamento, conservação, uso e parcelamento solo urbano (arts. 30, I , II e VIII).

Além disso, o Código Florestal permite que o Poder Público de qualquer esfera administrativa declare imune de corte qualquer árvore, por motivo de sua localização, raridade, beleza ou condição de porta-semente. (art 7º).

A degradação das matas ciliares levada a efeito por pessoas físicas ou jurídicas pode ser coibida na esfera administrativa, civil e penal, nos termos da lei nº 9.605/98.

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No âmbito administrativo, a referida lei salienta que as infrações ambientais são decorrentes de ação ou omissão e surgem quando há violação das regras jurídicas de uso, gozo, promoção e recuperação do meio ambiente (art.70 "caput").

Qualquer pessoa do povo pode comunicar a ocorrência de infração ambiental aos órgãos ambientais integrantes do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), através de seus agentes de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos e do Ministério da Marinha deverão promover a sua apuração imediata, sob pena de co-responsabilidade (art. 70 §§ 1º a 3º).

O SISNAMA, nos termos do art. 6º da lei nº 6.938/81 é constituído por órgãos e entidades da União, Estados, do Distrito Federal, Territórios e Municípios, além de fundações instituídas pelo Poder Público para proteção e melhoria da qualidade ambiental, sendo estruturado da seguinte forma : a) Órgão Superior, b) Órgão Consultivo e Deliberativo (Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA), c) Órgão Central, d) Órgão Executor, e) Órgãos Seccionais, f) Órgãos locais.

O mesmo artigo possibilita aos Estados e municípios elaborarem normas supletivas e complementares e padrões para proteção do meio ambiente (art. 6º §§ 1º e 2º).

As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo, assegurada ampla defesa e o contraditório, impondo-se as seguintes sanções: advertência, multa simples, multa diária, apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração, destruição ou inutilização do produto; suspensão de venda e fabricação do produto; embargo de obra ou atividade, demolição da obra; suspensão parcial ou total de atividades e restritivas de direitos (suspensão de registro, licença ou autorização; cancelamento de registro; licença ou autorização; perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais, perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais créditos; proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de três anos) .

As multas variam de R$ 50 (cinqüenta reais) a R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais) e devem ser

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corrigidas monetariamente pelos índices oficiais e são revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, Fundo Naval, fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, conforme dispuser o órgão arrecadador (arts. 73 e 75).

A fiscalização no Estado de São Paulo é exercida pela Polícia Militar, DEPRN ( Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais) Capitania dos Portos, Ministério da Marinha e CETESB (Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico) e pelos órgãos locais municipais.

As infrações administrativas, referentes especificamente sobre as matas ciliares, no Estado de São Paulo, estão estabelecidas no art. 4º da lei estadual nº 9.989/98 e são as seguintes: advertência, multa (de 100 a 1000 UFESP, o dobro em caso de reincidência), perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, perda ou restrição de financiamento de linhas de crédito .

Por fim, acrescente-se que caso a infração cometida resulte prejuízo ao serviço público de abastecimento de água, risco á saúde ou á vida, perecimento de bens naturais ou artificiais ou prejuízos a terceiros, a multa mínima não pode ser inferior à metade do valor máximo previsto.

3.2 Da responsabilidade civilA responsabilidade civil para reparação

dos danos causados nas áreas ripárias se faz através de ação civil pública e ação popular.

Os cidadãos podem se valer do instrumento da ação popular para controlar atos da Administração Pública direta e indireta, visando a anular ato lesivo ao meio ambiente (art. 5º LXXIII, CF)

O Ministério Público (na esfera federal e estadual), a União, Estados, Municípios, bem como as autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista e associações, desde que constituídas há pelo um ano e tenham como objetivo institucional a proteção ao meio ambiente, podem intentar ação civil pública nos termos do art. 5º da lei nº 7.347/85.

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Convém observar que o Código Florestal ao lado das APP's também estabelece as chamadas reservas florestais legais, que nas regiões Sul, Leste Meridional do parte sul do Centro-Oeste brasileiro, atingem 20% do imóvel privado ou público. Na região Norte e parte Centro-Oeste esta faixa passa a ser de 50% do imóvel. Nesta parte do imóvel não se permite o corte raso de vegetação existente, inclusive nas áreas de cerrado, nos termos dos arts. 16 e 44.

O artigo 18 do Código Florestal permite que nas propriedades privadas, caso o proprietário não faça o florestamento ou reflorestamento das áreas de preservação permanente, este poderá ser feito pelo Poder Público Federal, sem optar pelo caminho da desapropriação.

No entanto, se as tais áreas estiverem sendo utilizadas com culturas, estas devem ser indenizadas (art. 18º § 1º).

A Lei de Política Agrícola (lei nº 8.171/91), no seu artigo 99, determinava que a partir de 17/01/92 o proprietário rural estava obrigado a recompor a reserva florestal legal eventualmente degradada, prevista no Código Florestal, mediante o plantio de 1/30 da área total, em cada ano. Assim, os proprietários destas áreas rurais degradadas teriam o prazo de trinta anos para recuperá-las.

Porém, a pressão dos produtores rurais de todo o país, levou o atual Presidente da República a editar a medida provisória nº 1.885-41 de 24 de setembro de 1999, continua a consagrar a revogação do mencionado dispositivo.

No entanto, o entusiasmo dos fazendeiros com a suposta isenção de recuperar a reserva legal esbarra na regra contida no artigo 225, parágrafo 3º da Constituição Federal.

Assim, tendo em conta o preceito constitucional e existindo dano ambiental, os proprietários rurais poderão ser obrigados a recuperar a reserva legal de uma única vez, em sua totalidade, seja através de uma via administrativa ou judicial, com a propositura de ações civis públicas.

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Compartilha deste mesmo entendimento, André R. Lima (1999: 68), que inclusive esclarece:

"De fato, a revogação deste artigo de Lei Agrícola dá a impressão de que os fazendeiros não mais serão obrigados a recuperar suas áreas de reserva legal. No entanto, revela alertar que este artigo revogado pela Lei de Política Agrícola, na verdade, beneficia os fazendeiros, na medida em que lhes concedia um dilatado prazo de trinta anos para que procedessem a recuperação exigida tanto pela Constituição Federal, como pela Lei de Política Nacional de Meio Ambiente (art. 14, § 1º)".

Portanto, não existindo mais o referido benefício, a recuperação de tais áreas deve ser feita de forma imediata, integral e de uma única vez.

Contudo, o Poder Público pode, por sua conta promover a recuperação destas áreas e, posteriormente, através de ações de regresso cobrar as despesas efetuadas dos proprietários.

No Estado de São Paulo a lei estadual de nº 9.989/98 determina que os proprietários são obrigados a recompor as matas ciliares, mediante projetos previamente elaborados por eles e aprovados pelo Poder Público e sua execução não pode ser superior a 5 (cinco) anos.

Desta forma, pode-se compelir o proprietário mediante ação civil de obrigação de fazer a recompor a mata ripária ou caso, a recomposição tenha sido efetuada pelo Poder Público, obrigá-lo a indenizar as respectivas despesas.

3.3 Da responsabilidade penalAs infrações penais agora são consagradas

de formas mais amplas e específicas pela lei nº 9.605/98, eis que foram definidas de forma mais clara e possibilitam a punição da pessoa física e jurídica, seja como autora ou co-autora (art. 3º).

Ademais, a pessoa jurídica pode ser desconsiderada quando sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados ao meio ambiente e, nas hipóteses de ser constituída ou utilizada para o fim preponderante de permitir, facilitar ou ocultar os crimes nela definidos terá sua liquidação

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forçada decretada e seu patrimônio será considerado instrumento do crime e revertido para o Fundo Penitenciário Nacional (arts. 4º e 24).

A lei possibilita, também, nos crimes de menor ofensivo ambiental a aplicação de proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, desde que haja prévia composição do dano ambiental.

A suspensão condicional do processo, por sua vez, nos crimes mencionados depende de laudo de constatação de reparação do dano para declaração de extinção da punibilidade. Caso o mencionado laudo de constatação demonstre que a área não foi recuperada, o prazo de suspensão do processo pode ser prorrogado pelo prazo de 5 (cinco) anos, sem que haja o transcurso da prescrição . Nesta hipótese, também, necessário se faz a demonstração de comprovação pelo acusado da reparação integral do dano.

As APP's são protegidas penalmente nos art. 38, 39, 40, 48, e 50 da mencionada lei.

A tutela penal em relação as matas ciliares é resguardada pelo crime definido no art. 48 da lei nº 9.605/98, com a seguinte redação: "impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação". A pena para esta infração penal é de detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Entretanto, necessários se faz verificar se os cursos de água estão localizados em florestas, assim entendidas áreas com cobertura florestal de espécies nativas ou exóticas e, em alguns casos com grande diversidade florística e de fitomassa.

Em havendo destruição ou dano, de floresta de preservação permanente, mesmo que em formação ou sua utilização, sem a obediência das normas de proteção ou, ainda, o corte de árvores de floresta considerada de preservação permanente, sem a devida permissão da autoridade competente, sujeitam o agente à pena de detenção de um a três anos ou multa ou ambas, cumulativamente, conforme os arts. 38 e 39. O parágrafo único do art. 38 prevê modalidade culposa, com a pena reduzida pela metade.

O dano direto ou indireto causado em matas ripárias localizadas em Unidades de Conservação, assim entendidas (reservas biológicas, reservas ecológicas, estações ecológicas,

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parques nacionais, estaduais e municipais, florestas nacionais, estaduais e municipais, áreas de proteção ambiental, áreas de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas ou outras a serem criadas pelo Poder Público) sujeitam o infrator a pena de reclusão de um a cinco anos, nos termos do art. 40. Nesta hipótese também há modalidade culposa, com pena reduzida pela metade (art. 40 § 3º)

Finalmente, o crime previsto no art. 50 possibilita a punição daquele que destrói ou danifica matas ripárias de florestas nativas ou plantadas existentes nos estuários (ecossistema de extrema complexidade e representativo da comunicação das águas de um ou vários rios com o mar onde ocorrem, freqüentemente, os mangues) , sujeitando-o à pena de detenção de três meses a um ano, e multa.

4. CONCLUSÃOEm síntese, diante dos argumentos expostos

pode-se extrair que o ecossistema ripário ou ciliar é de fundamental importância na proteção dos cursos d'água e sua manutenção visa, dentre os seus vários objetivos, o combate a erosão e queda na atividade biológica e níveis de matéria orgânica, garantindo um maior volume de água, para suprir as necessidades de nossas cidades e aumento da produção agrícola.

O legislador ordinário não se descuidou da matéria, pois o Código Florestal, há mais de trinta anos, estabeleceu que a vegetação ao longo dos cursos d'água é de preservação permanente, estabelecendo faixas variáveis quanto em razão da largura de tais mananciais, evitando-se efeitos catastróficos incalculáveis e quiçá irreparáveis.

Na condição de área de preservação permanente, o tema deve ser enxergado de forma ampla e multidisciplinar , aplicando-se regras de direito administrativo, civil e penal para proteção e recuperação deste complexo e rico sistema ecológico.

5. BIBLIOGRAFIA CITADA E CONSULTADA

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CERRADO: Bases para Conservação e uso sustentável das áreas de cerrado do Estado de São Paulo, São Paulo: Secretaria de Estado do Meio Ambiente, 1997

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RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS DA MATA ATLÂNTICA, Caderno 3, Cesp, São Paulo, 1996.

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BÁSICA APLICÁVEL

1. Legislação Federal

Constituição da República Federativa do Brasil, de 05/10/88.

Leis:

Lei nº 4.77l, de 15/09/65, Institui o Novo Código Florestal (e suas modificações: Lei nº 5.870, de 26/03/73, Lei nº 6.535, de 15/06/78, Lei nº 7.511, de 07/07/86 e Lei nº 7.803, de 18/07/89.

Lei nº 6.938, de 31/08/81, Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação (com redação dada pelas Leis nºs 7.804, de 18/07/79 e 8.028, de 12/04/90).

Lei nº 7.347, de 24/07/85, Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (com redação dada pela Lei nº 8.078, de 11/09/90).

Lei nº 9.433, de 08/01/97 Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recurso Hídricos regulamenta i inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de l.998, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de l989.

Lei nº 9.605, de 12/02/98, dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

Medidas Provisórias:

Medida Provisória nº 1736-31, de 14/12/98, dá nova redação aos arts. 3º, 16 e 44 da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e dispõe sobre a proibição do incremento da conversão de áreas florestais agrícolas

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na região Norte e na parte Norte da região Centro-Oeste, e dá outras providências.

Medida Provisória nº 1.885-41, de 24/09/99, dá nova redação aos arts. 3º, 16 e 44 da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e dispõe sobre a proibição do incremento da conversão de áreas florestais agrícolas na região Norte da região Centro-Oeste, e dá outras providências.

Decretos:

Decreto nº 24.643, de 10/07/34, Decreta o Código de Águas.

Portarias:

Portaria Interministerial nº 1, de 23/01/78, Recomenda que a classificação e o enquadramento de águas federais e estaduais, para efeito de seu controle, deverão levar em conta as condições existentes de produção de energia hidrelétrica e de navegação.

Portaria MME nº 1.832, de 17/11/78, Dispõe sobre a concessão de autorização para derivar águas públicas, dependendo da apresentação de projeto de sistemas de tratamento de efluentes.

Portaria SEMA nº 2, de 09/02/79, Estabelece normas para pedidos de concessão ou autorização para derivar águas públicas.

Portaria MINTER nº 124, de 20/08/80, Baixa normas no tocante à prevenção de poluição hídrica (distância mínima de 200 m das coleções hídricas ou cursos d'água mais próximas).

Portaria nº 36, de 19/01/90, Aprova normas e o padrão de potabilidade de água destinada ao consumo humano.

Resoluções:

Resolução CONAMA nº 20, de 18/06/86, Classifica as águas doces, salobras e salinas do Território Nacional, em nove classes, segundo seus usos preponderantes (esta Resolução revogou as portarias MINTER nºs 0013, de 15/01/76, e 536, de 07/12/76).

Resolução CONAMA nº 04, de 18/09/85, Dispõe sobre Reservas Ecológicas, Formações Florísticas e áreas de Preservação Permanente mencionadas no art. 18 da lei nº 6.938/81, bem como as que forem estabelecidas pelo Poder Público, de acordo com o que preceitua o artigo 1º do Decreto nº 89.336/84.

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Resolução CONAMA nº 05, de 15/06/88, Sujeitam-se a licenciamento, no órgão ambiental competente, as obras de sistemas de abastecimento de água, sistemas de esgotos sanitários, sistemas de drenagem e sistemas de limpeza urbana (publicada no D. O. U. de 16/11/88).

2. Legislação EstadualConstituição do Estado de São Paulo, de 05/10/89.

Leis:

Lei nº 997, de 31/05/76, Dispõe sobre o controle de poluição do meio ambiente.

(v. Decreto nº 8.468/76 que regulamenta esta Lei)

Lei nº 1.172, de 17/11/76, Delimita as áreas de proteção relativas aos mananciais cursos e reservatórios de água, a que se refere o art. 2º, da Lei nº 898, de 18/12/75, estabelece normas de restrição de uso do solo em tais áreas e dá providências correlatas.

Lei nº 6.134, de 02/06/88, Dispões sobre a preservação dos depósitos naturais de águas subterrâneas do Estado de São Paulo (v. Decreto nº 32.955, de 07/02/91).

Lei nº 9.866, de 28/11/97, Dispõe sobre diretrizes e normas para a proteção e recuperação das bacias hidrográficas dos mananciais de interesse regional do Estado de São Paulo e dá outras providências.

Lei nº 9.989, de 22/05/98, Dispõe sobre recomposição da cobertura vegetal no Estado de São Paulo.

Decretos:

Decreto nº 8.468, de 08/09/76, Aprova o regulamento da lei nº 997, de 31/05/76, que dispõe sobre a prevenção e controle da poluição do meio ambiente (com as modificações posteriores).

Decreto nº 10.755, de 22/11/77, Dispõe sobre o enquadramento dos corpos de água receptores na classificação prevista no Dec. nº 8.468, de 08/09/76.

Decreto nº 14.806, de 04/03/80, Institui o programa de Controle da Poluição (com a redação dada pelo Decreto nº 21.880, de 11/01/84).

Portarias:

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Portaria DAEE nº 39, de 23/06/86, Dispõe sobre a outorga de concessões, autorizações e permissões para uso e derivação de água, bem como lançamento de efluentes líquidos em cursos de águas públicas de domínio do Estado de São Paulo, pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE.

Portaria DAEE nº 40, de 23/06/86, Normas sobre outorga de concessões, autorizações e permissões para uso de derivação de águas, bem como lançamento de efluentes líquidos em curso de água, bem como lançamento de efluentes líquidos em cursos de águas públicas de domínio do Estado de São Paulo, pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE, a que se refere a Portaria DAEE nº 39, 23/06/86

Resolução:Resolução SMA 29/97, dispõe sobre a

recuperação das matas ciliares.