10
Q uando os índices do canal de São Francisco, no Rio de Janeiro, estão baixos, a maré avan- ça pela foz e o índice de salinidade do canal ultrapassa os níveis tolerados pelos equipamentos da Fábrica Carioca de Catalisadores. Nessas situações, a empresa tem que interromper a captação de água. Sem água, sem produção. O problema já se arrasta desde o ano passado. Para contorná-lo, a Associação das Em- presas do Distrito Industrial de Santa Cruz chegou a construir uma soleira submersa para evitar a entrada da água do mar no canal. Agora as indústrias decidi- ram captar água através de adutora única, localizada em um ponto do canal onde a maré não chegue. No ano passado, a queda na vazão do rio Atibaia forçou a Rhodia interromper a operação no complexo de Paulínia / SP. A empresa reprogramou a produção e os estoques em função da disponibilidade de água. O stress hídrico das grandes metrópoles já deu seus sinais, e forçou mudanças na rotina do setor industrial. FCC e Rhodia estão localizadas em regiões onde o sistema de abastecimento não consegue mais atender a deman- da. A situação identificada pela Agência Nacional de Águas não é diferente nas áreas onde estão instalados os principais complexos petroquímicos do país. Para fabricar uma tonelada de um produto quí- mico, as indústrias brasileiras precisam captar, em média, 4,83 mil litros de água. Pode não ser mui- to quando comparado com outros usos – a produ- ção de celulose consome cerca de 30 mil litros por tonelada. Mas essa equação já foi maior. As empre- sas adotaram alternativas para combater as perdas por vazamentos e evaporação, aproveitar a água da chuva e reutilizar e os efluentes que eram descarta- dos. Recentemente a Associação Brasileira da Indús- tria Química desenvolveu um guia para elaboração de Plano de Contingência para a Crise Hídrica – nele estão sugestões para enfrentar casos de contin- gência. Um dos capítulos do relatório “Governança dos Recursos Hídricos no Brasil, elaborado pela Orga- nização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco- nômico – OCDE, se dedica a mostrar que a água tornou-se um fator limitante para o desenvolvimento do Brasil. Para tirar melhor proveito dos recursos hí- dricos – que embora abundantes, estão distribuídos desigualmente – o relatório aponta a necessidade de ganhos de eficiência e conservação. Os problemas de abastecimento descritos no início dessa reportagem Ingrediente que não pode faltar Matéria de Capa 10 n o 365 Petro & Química Estação de Tratamento na Revap: tratamento de efluentes para reuso Flávio Bosco Divulgação / Petrobras Stress hídrico e aquecimento global realçam desafios da sustentabilidade

Matéria de Capa Divulgação / Petrobras Ingrediente que não ... · sas adotaram alternativas para combater as perdas por vazamentos e evaporação, aproveitar a água da ... Estação

Embed Size (px)

Citation preview

Quando os índices do canal de São Francisco, no Rio de Janeiro, estão baixos, a maré avan-ça pela foz e o índice de salinidade do canal

ultrapassa os níveis tolerados pelos equipamentos da Fábrica Carioca de Catalisadores. Nessas situações, a empresa tem que interromper a captação de água. Sem água, sem produção. O problema já se arrasta desde o ano passado. Para contorná-lo, a Associação das Em-presas do Distrito Industrial de Santa Cruz chegou a construir uma soleira submersa para evitar a entrada da água do mar no canal. Agora as indústrias decidi-ram captar água através de adutora única, localizada em um ponto do canal onde a maré não chegue.

No ano passado, a queda na vazão do rio Atibaia forçou a Rhodia interromper a operação no complexo de Paulínia / SP. A empresa reprogramou a produção e os estoques em função da disponibilidade de água. O stress hídrico das grandes metrópoles já deu seus sinais, e forçou mudanças na rotina do setor industrial. FCC e Rhodia estão localizadas em regiões onde o sistema de abastecimento não consegue mais atender a deman-da. A situação identifi cada pela Agência Nacional de Águas não é diferente nas áreas onde estão instalados os principais complexos petroquímicos do país.

Para fabricar uma tonelada de um produto quí-mico, as indústrias brasileiras precisam captar, em média, 4,83 mil litros de água. Pode não ser mui-to quando comparado com outros usos – a produ-ção de celulose consome cerca de 30 mil litros por tonelada. Mas essa equação já foi maior. As empre-sas adotaram alternativas para combater as perdas por vazamentos e evaporação, aproveitar a água da chuva e reutilizar e os efl uentes que eram descarta-dos. Recentemente a Associação Brasileira da Indús-tria Química desenvolveu um guia para elaboração de Plano de Contingência para a Crise Hídrica –nele estão sugestões para enfrentar casos de contin-gência.

Um dos capítulos do relatório “Governança dos Recursos Hídricos no Brasil, elaborado pela Orga-nização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco-nômico – OCDE, se dedica a mostrar que a água tornou-se um fator limitante para o desenvolvimento do Brasil. Para tirar melhor proveito dos recursos hí-dricos – que embora abundantes, estão distribuídos desigualmente – o relatório aponta a necessidade de ganhos de efi ciência e conservação. Os problemas de abastecimento descritos no início dessa reportagem

Ingrediente que não pode faltar

Matéria de Capa

10 no 365Petro & Química

Estação de Tratamento na Revap: tratamento de efl uentes para reusoFlávio Bosco

Divulgação / Petrobras

Stress hídrico e aquecimento global realçam desafios da

sustentabilidade

Matéria de Capa

no 365 Petro & Química 11

realçam que a água não está disponível onde mais se precisa. Na pior das hipóteses, a escassez forçaria a redução da produção e ganharia ainda mais peso na decisão sobre novos investimentos. “Processos mais efi cientes começam a ganhar importância, por-que a água cria um limite para o crescimento, tanto populacional quanto industrial”, afi rma o engenheiro William Padilha, da Wherle, uma empresa alemã es-pecializada em tratamento de efl uentes.

O risco não preocupa apenas a indústria brasileira. Pesquisa realizada no Fórum Econômico Mundial no início de 2015 apontou que a crise da água pode gerar mais impacto no mundo do que qualquer questão eco-nômica. Se o aumento de produção continuar de mãos dadas com o aumento no consumo de recursos natu-rais, a escassez de água – e também o aquecimento global – imporá limites ao crescimento econômico. A Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida – INDC que o Brasil levou à COP-21 – a 21ª reunião da Conferência das Partes – limita as emissões de ga-ses de efeito estufa a 1,28 Gt de CO

2e em 2025. É uma

meta factível, considerando que em 2005 foram emi-tidas 2,04 Gt e em 2012 – último levantamento ofi cial disponível – 1,2 Gt. Mas até 2030 deverá cair para 1,16 Gt. Para alcançá-la, o Brasil propõe aumentar em cerca de 10% a efi ciência energética e garantir a fatia

de 45% de fontes renováveis na matriz energética. A escassez de chuvas, que reduziu o nível dos re-

servatórios das usinas hidrelétricas, pode tornar o de-safi o bem mais complexo. Para atender a demanda, as usinas termelétricas têm operado a plena carga, au-mentando a queima de combustíveis fósseis.

A solução passaria, então, por inovação tecnológi-ca e efi ciência energética. Todos os países signatários da Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mu-danças do Clima – UNFCCC concordaram em assinar um tratado para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Não há divergência de que o CO

2 produzido

pela queima de combustíveis fósseis e desmatamento é a principal causa do aumento da temperatura mé-dia do planeta. As próprias petroleiras concordam na precifi cação de carbono como ferramenta para reduzir emissões.

A economia de baixo carbono é um caminho sem ponto de chegada – mas também sem volta. “O desen-volvimento econômico em direção a uma economia des-carbonizada é um processo irreversível. Ele já está acon-tecendo e vai se intensifi car ao longo dos anos. Mas é preciso que a população também tenha consciência des-ses novos parâmetros que vão ser incorporados a nossa vida”, ressalta o diretor titular do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp, Nelson Pereira dos Reis.

Matéria de Capa

12 no 365Petro & QuímicaPetro & Química

Nome

Nelson Pereira dos Reis

Cargo

Diretor titular do Departa-

mento de Meio Ambiente da

Federação das Indústrias do

Estado de São Paulo

Análise

“Temos que ver a descarbonização da economia como um caminho irreversível”

A sustentabilidade pode até en-contrar alguns incentivos fi scais em áreas onde a mudança de pa-tamar necessite de agilidade. Na maior parte dos casos, no entanto, as empresas deverão incorporar o desenvolvimento sustentável como valor. “O consumidor vai querer conhecer a origem do seu produto – como é feito e qual é a matéria prima utilizada. Então isso come-ça a ter valor, e consequentemente terá um retorno”, destaca o presi-dente do Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica no Estado de São Paulo – Sinproquim, Nelson Pereira dos Reis.

Além do Sinproquim, Nelson também está à frente do Departa-mento de Meio Ambiente da Fe-deração das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp, de onde tem acompanhado os esforços do setor

industrial diante desses desafi os. Mesmo sem ter conseguido realizar um levantamento mais abrangente sobre a crise hídrica, o diretor as-segura que a gestão do suprimento já ocupa posição privilegiada no planejamento das empresas. “As empresas têm tomado iniciativas de diversas naturezas para reduzir esse impacto. Uma é a conserva-ção. Outra é o reuso, que nesses úl-timos anos teve um impulso muito grande. E, naturalmente, a busca por fontes alternativas”.

A sustentabilidade tem sido

discutida de forma correta?

Quando se faz fórum especí-fi co para discutir sustentabilida-de, ela é discutida corretamente. Sempre você se depara com algu-ma questão, um dos três pilares da sustentabilidade – econômico, social e ambiental – pode ter um

peso maior ou menor. Mas é im-portante que eles sejam conside-rados. Mas a discussão pode ser desenvolvida com mais profun-didade, principalmente quando se fala em economia verde – ou economia de baixo carbono, um termo mais adequado. O objetivo é caminhar para uma economia descarbonizada, em função dos problemas que enfrentamos com as emissões de gases de efeito estufa e também olhando mais à frente. Isso, naturalmente, é um processo, não uma meta que pos-sa ser fi xada. Mas temos que ver a descarbonização da economia como um caminho irreversível. Estamos falando principalmente da nossa matriz energética e dos nossos ativos ambientais.

Em quais pontos a legislação

deveria ser aprimorada?

Para caminharmos em direção a uma economia descarbonizada, temos que considerar alguns ele-mentos: os ativos ambientais que possam ser usados – água, solo, vento, sol e tudo o que possa ajudar a compor um portfólio de bens ambientais – um arcabou-ço regulatório que ajude nesse caminho, a inovação e pesquisa, e uma sociedade que entenda e que queira uma economia des-carbonizada.

Criamos um arcabouço re-gulatório que é amigável a essa transição rumo a uma econo-mia de baixo carbono. O Bra-sil hoje tem um bom arcabouço regulatório. Algumas recentes leis foram aprovadas: o novo código fl orestal, que coloca os parâmetros para dispor do solo brasileiro, a recém aprovada lei de acesso ao patrimônio gené-tico e repartição de benefícios,

Matéria de Capa

no 365 Petro & Química 13

o licenciamento ambiental, a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Plano Nacional de Resíduos Sólidos.

Com a inovação e pesquisa temos muito a caminhar, porque fi camos muito tempo parados, por falta de defi nições. Temos al-gumas conquistas, como o etanol, que já é usado como energia há mais de 30 anos e agora começa a ser usado também como maté-ria-prima pela indústria química e farmacêutica.

Temos que ter uma sociedade que entenda tudo isso e que real-mente queira uma economia des-carbonizada. É necessário um tra-balho, tanto no lado da produção quanto no consumo sustentável. Hoje quando as empresas come-çam a desenvolver um novo pro-duto, já pensam como ele pode ser sustentável – minimizando o con-sumo de recursos ou substituindo as matérias-primas fósseis por re-cursos renováveis. O consumidor também tem que optar por produ-tos sustentáveis.

As tecnologias que permiti-

riam aumentar a produção sem

elevar o consumo de recursos, já

estão disponíveis – ou ainda há

espaço para desenvolvimentos?

Um ambiente regulatório bom pode atrair tecnologias. Também é possível desenvolver tecnologias nesse ambiente. Ter acesso a tec-nologia não é um grande proble-ma – é muito mais uma disposição de usá-la dentro de um ambiente favorável. E existe espaço para desenvolvimento de novas tecno-logias. Esse é um desafi o porque, à medida em que você caminha para uma economia descarboni-zada, reduz o uso de tecnologias hoje existentes, principalmente na química. Temos que nos capaci-tar para isso – os nossos centros de pesquisa e universidades tam-bém precisam ter esse foco. Te-mos discutido com universidades a importância de colocar na grade essas tecnologias sustentáveis.

Como a indústria química

tem encaminhado a discussão

“aumento da atividade indus-

trial x aumento do consumo de

recursos”?

Isso está dentro do conceito. Um dos novos pilares do Atuação Responsável é reduzir o impac-to do uso de matérias primas na produção. Temos que melhorar os rendimentos e desenhar novos produtos e novos processos. A in-dústria química está trabalhando para melhorar a capacitação, con-sumir menos matérias-primas e energia, e usar mais matérias-pri-mas renováveis e fontes de ener-gias renováveis.

Qual é o impacto da meta de

redução das emissões apresenta-

da pelo Brasil na COP-21?

Haverá um impacto sobre al-guns setores mais emissores. A preocupação que temos é como o governo vai lidar com a ques-tão da precifi cação do carbono. Não queremos que a precifi cação se transforme em um imposto – mas que o mercado conduza esse assunto.

Captar menos e...Tratar efl uentes para geração de vapor ainda é um

desafi o. Um dos desafi os mais intrigantes é a remo-ção dos sais que causam incrustação e corrosão nas caldeiras de geração de vapor. A Petrobras tem feito isso na Refi naria Presidente Getúlio Vargas – Repar. Os sais são removidos dos efl uentes em um sistema de eletrodiálise reversa – EDR. Agora a companhia planeja enviar a corrente de purga das torres de res-friamento e o efl uente tratado da Estação de Tra-tamento de Despejos Industriais – ETDI para essa unidade de eletrodiálise reversa, e em seguida passar por um fi ltro de carvão, para reutilizá-los no sistema de resfriamento.

A Repar ganhou as unidades de eletrodiálise re-versa e uma estação de tratamento de despejos in-dustriais no pacote de modernização da refi naria – as obras incluíram a construção das unidades de trata-mento e resfriamento de água e o sistema de desmi-neralização por troca iônica. O projeto foi contra-tado ao consórcio Veolia/Enfi l, e as membranas de osmose reversa fornecidas pela Dow.

A Petrobras tem investido em projetos de reuso de correntes internas, principalmente no reuso de água retifi cada de sistemas de lavagem de gases e dessalgadoras, e otimização de processos. Além da Repar, outras quatro refi narias dispõem de plantas de reaproveitamento de efl uentes. As rotas combi-nam técnicas convencionais com processos oxida-tivos avançados, membranas e processos biológicos avançados.

Em alguns casos, para alcançar a qualidade re-querida o efl uente passa por um polimento – etapa em que o efl uente é submetido a um novo tratamen-to para atingir a qualidade necessária. Em outros, é possível direcionar as correntes que tenham quali-dade para serem reutilizadas em outros processos. O rejeito da osmose reversa, por exemplo, pode ser aproveitado nas torres de resfriamento, e outras cor-rentes serem direcionadas para a dessalgação de pe-tróleo. Em 2014 o reuso de água somou 23,3 bilhões de litros – o que representa 3% da demanda de suas refi narias. Essas medidas são responsáveis pela re-dução da relação entre a quantidade de água consu-mida e o volume de petróleo processado para 19,31 barris refi nados por litro de água.

Reuso de água

Aplicação: Tratamento de efluentes em refinariaEmpresa: Petrobras

Divulgação / Enfi l

Matéria de Capa

14 no 365Petro & Química

... reutilizar maisNa Refinaria Gabriel Passos – Regap, a Pe-

trobras está testando uma tecnologia que combi-na microareia, utilizada como lastro dos flocos formados, e a absorção do carvão ativado em pó como terceiro estágio de tratamento do efluente, para transformar o efluente em água de reposi-ção em sistemas de resfriamento. Os testes da unidade piloto – que tem capacidade de tratar até 60 m3/dia de efluentes – já foram concluídos e agora estão na fase de teste operacional e de confiabilidade.

Esse processo desenvolvido pela Veolia é apli-cado na remoção de matéria orgânica natural, pesticidas, micro poluentes emergentes e compos-tos orgânicos refratários. A qualidade das águas da lagoa onde a refinaria capta água tem apresentado níveis mais altos de contaminação, com teor mais elevado de matéria orgânica. Isso reduz a vida útil das membranas em uma unidade de osmose re-versa. Para os efluentes industriais, o objetivo é remover os compostos orgânicos refratários, para a melhoria da qualidade da água de reúso enviada para as torres de resfriamento, além de diminuir o grau de toxicidade do efluente descartado.

A Actiflo Carb mantém uma massa de carvão ativado dentro do sistema, o que faz com que a matéria orgânica seja adsorvida nos microporos desse material, além de possuir mais facilidade de ajuste da dosagem do carvão para atender a qualidade de água tratada. Nos filtros de carvão ativado granular, esse material deve ser substitu-ído após a saturação do leito. No caso da Actiflo Carb, o carvão é dosado continuamente por bom-bas dosadoras.

Essa tecnologia já é utilizada em tratamento de águas de abastecimento na Europa e EUA, onde a legislação é mais restrita com relação à presença desses compostos orgânicos. “Algumas plantas industriais do mercado químico e petroquímico na China já estão em fase de estudos com a Veolia para implantação da tecnologia Actiflo Carb, no sentido de adequá-las ao novo padrão de lança-mento dos efluentes industriais com menor carga orgânica”, conta o gerente de Aplicação e Tecno-logias da Veolia, Luiz Abraão.

Reuso de água

Aplicação: Tratamento de efluentes em refinariaEmpresa: Petrobras

Divulgação Petrobras

Matéria de Capa

no 365 Petro & Química 15

Reuso de efluentes

Aplicação: reuso de efluentesEmpresa: Braskem

Divulgação / Braskem

Soma de ideias A Braskem está conseguindo economizar 110 m3

por dia com o reaproveitamento da água da selagem

dos mancais das bombas de engrenagem das extruso-

ras de polietilenos. O projeto foi implantado no início

deste ano na unidade de polietilenos de Duque de Ca-

xias / RJ.

A ideia foi proposta por um dos operadores. O

efl uente que sai das bombas das extrusoras tinha quali-

dade sufi ciente para ser reaproveitado. Bastaram algu-

mas mudanças em uma linha de resfriamento já exis-

tente, e aquela água, antes descartada como efl uente,

passou a ser reaproveitada nas torres de resfriamento.

“Além de promover a redução de 62 m³ por dia de água

desmineralizada”, destaca o gerente de Desenvolvi-

mento Sustentável da Braskem, Mario Pino.

Em um ano, o reaproveitamento dessa água está

calculado em 40,1 mil m³. É aproximadamente 7% do

volume de efl uentes de todo o complexo de Duque de

Caxias. Não deixa de ser um impacto relevante. So-

mando o dinheiro que deixa de ser gasto com o tra-

tamento de efl uente e a compra de água, a economia

chega a R$ 291 mil por ano.

Para cada tonelada produzida, a empresa utiliza

4,16 m³ de água – em termos absolutos, foram consu-

midos 62,8 milhões de m³ em 2014. Com as medidas

de reciclo de efl uentes e o aproveitamento de água de

chuva, a Braskem deixou de captar 18,7 bilhões de li-

tros de água no ano passado, em todas as 29 unidades

industriais. Esse volume atende 28% do consumo. O

maior responsável por aquele percentual é o Aquapolo

– que abastece com cerca de 10 bilhões de litros de

água de reuso as plantas do polo do ABC, em São Pau-

lo. Em Camaçari / BA, o Projeto Água Viva – de reuso

de efl uentes e aproveitamento de água de chuvas – é

capaz de reduzir a captação em até 4 bilhões de litros

por ano.

Outras medidas, como o aumento do número de ci-

clos de concentração em torres de resfriamento, vêm

contribuindo com a redução do volume de efl uentes

descartados. Para cada tonelada produzida, a Braskem

descarta 1,28 m³ de efl uentes – em um ano, o volume

soma 18,5 milhões de m³.

Matéria de Capa

16 no 365Petro & Química

Descarte zero

Aplicação: reuso de efluentesEmpresa: Cabot

Divulgação Cabot

Quando é possível reutilizar 100%

Para produzir o negro de fumo na unidade do polo petroquímico do ABC / SP, a Cabot consome, em mé-dia, 27 mil m³ por mês. Não fosse um sistema de re-aproveitamento de efl uentes, seria necessário captar mais 8,4 mil m³.

O reuso de efl uentes e a captação de água de chu-va começaram a ser estudados pela empresa em 1998 – quando ninguém ainda falava em stress hídrico. O investimento na melhoria da estação de tratamento de efl uentes, na construção de tanques subterrâneos e in-fraestrutura de direcionamento do efl uente foi recupe-rado em quatro anos. Em 2004, a empresa já registrava uma economia de R$ 340 mil por ano, com a redução de 30% no consumo de água bruta.

Ainda assim, há novos projetos em estudo. Hoje 85% da água consumida na unidade vem do Aquapolo – estação localizada a 17 km do polo, que entrega água industrial produzida a partir do tratamento de esgoto urbanos. A meta é reduzir esse volume. “Menos de 1% da água consumida é agregada ao produto. A maior parte – de 65% a 80% – é perdida por evaporação, e entre 20% e 35% vira efl uente – cujo contaminante é carbono amorfo puro”, explica o gerente regional de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da empresa, Car-los Barbeiro.

Esse efl uente é direcionado a dois piscinões, onde é misturado à agua de chuva e à água utilizada na la-vagem de áreas da planta, e tratado por processos de decantação e fi ltração. No primeiro tanque os sólidos decantam e esse produto passa por bateria de fi ltração. De lá segue para outro tanque de água de reuso, onde é misturado aos efl uentes dos banheiros e restaurante que já passaram por processo de tratamento biológico e desinfecção.

Esse efl uente é reutilizado em dois pontos do pro-cesso: no próprio reator – que utiliza a água para in-terromper a reação, de acordo com o tipo de negro de fumo produzido – e no trocador de calor, ao fi nal do reator.

Entre as 40 unidades industriais que a Cabot possui no mundo, duas são plantas “secas” – a do ABC e uma na Colômbia reciclam 100% dos efl uentes e captam água de chuva. Apenas quando o volume de chuvas ultrapassa a média, o excesso de água é enviado para tratamento, na vizinha Refi naria de Capuava.

Matéria de Capa

no 365 Petro & Química 17

Tratamento de água

Aplicação: Pesquisa com membranas Empresa: GE

Divulgação GE

Em se tratando das membranas

Um projeto desenvolvido no Centro de Pesqui-sas da GE busca adaptar as membranas poliméricas de ultrafi ltração oleofóbica para as características do offshore brasileiro. O objetivo é que a água produzida junto com o petróleo possa ser utilizada como água de reinjeção. Essas membranas já são utilizadas no trata-mento de água produzida em campos de exploração de gás e de água oleosa em refi narias. “Atualmente a água de produção é tratada com tecnologias convencionais como fi ltros, fl otadores e hidrociclones. O projeto do Centro de Pesquisas da GE tem como objetivo ofere-cer uma alternativa para o tratamento da água produ-zida, inserindo a membrana polimérica como etapa de polimento, onde será possível baixar o teor de óleo emulsionado para uma faixa de 2 a 3 ppm”, explica a pesquisadora Ana Carolina Costa.

O resultado do projeto, que está na fase de testes em escala piloto, será um sistema de tratamento de membranas capaz de eliminar 99,5% do óleo presente na água. Um dos benefícios é a redução de custo e de espaço nas plataformas, com a redução da captação da água do mar.

A Petrobras já aprovou o uso de membranas de na-nofi ltração da GE para remoção de sulfato da água do mar – nesse caso, o objetivo é retirar o sulfato da água que será reinjetada, prevenindo incrustações e corro-são e o entupimento dos poços. Um projeto piloto, re-alizado durante cinco no Centro de Pesquisas localiza-do em Singapura, mostrou efi ciência de 99,8%.

A GE também anunciou a criação de um centro especializado na autópsia e inspeção de membranas em Cotia / SP. O centro – o segundo da empresa no mundo – abrigará dez profi ssionais dedicadas à ins-peção dos equipamentos. O objetivo é identifi car os problemas que impedem o funcionamento adequado de membranas. “Os sistemas de remoção de sulfato podem ter de 2 mil a 3 mil membranas. A grande van-tagem é o tempo de resposta muito mais curto a velo-cidade: antes era necessário enviar essas membranas para análise em laboratórios localizados em outros países”, ressalta o gerente de vendas da GE Water & Process Technologies para a América Latina, Marcus Simionato.

Matéria de Capa

18 no 365Petro & Química

Abatimento de emissões

Aplicação: Oxi-combustão em unidade de FCCEmpresa: Petrobras

Daniel Derevecki

Captura oxigenadaA Petrobras vem testando a oxi-combustão para

abater as emissões de CO2 nas suas refi narias. Ao usar

o oxigênio puro na queima de combustíveis – ao invés de ar, que tem 21% de oxigênio e 79% de nitrogênio – a concentração de CO

2 do gás emitido supera 95%.

Isso facilita a captura para armazenamento geológico ou injeção em campos de petróleo.

Os testes são realizados em uma unidade de FCC instalada na Unidade de Industrialização do Xisto – Six – em uma refi naria, a unidade de FCC respondem por cerca de 20% a 50% das emissões de CO

2.

Um estudo interno mostrou que a oxi-combustão é uma alternativa economicamente equivalente a outras tecnologias de captura de CO

2, como a pós-combustão

(absorção por amina após a queima de combustível). A vantagem está na fl exibilidade operacional da unidade de FCC – que inclui a possibilidade de aumento de carga ou processamento de cargas de pior qualidade. A desvantagem, assim como outras tecnologias para captura de CO

2 nas unidades de FCC, está no custo

adicional.A pesquisa busca agora solucionar os problemas

de corrosão observados durante os testes – o objetivo é identifi car os principais parâmetros que contribuem para a formação do ácido e avaliar materiais resisten-tes à corrosão que possam ser utilizados nos compres-sores de reciclo.

Abater as emissões é um desafi o para a Petrobras. Em 2014 todas as suas operações emitiram 76,6 mi-lhões de toneladas de CO

2 – ou 80,9 milhões de tone-

ladas de CO2e quando são somados os outros gases de

efeito estufa.Na Refi naria Abreu e Lima, o plano é instalar duas

unidades de abatimento de emissões atmosféricas – SNOX. Essa unidade removerá NOx e SO

2 dos gases

de combustão das caldeiras, gases ácidos e correntes residuais da refi naria. Por enquanto, essas unidades são apenas um obstáculo para a refi naria atingir a capacidade máxima. Sem elas, a Agência Ambiental de Pernambuco – CPRH limitou a operação do pri-meiro trem da Rnest a 74 mil barris/dia. A construção foi contratada ao consórcio EBE-Alusa – que deixou a obra no fi nal do ano passado, pleiteando aditivos. A Petrobras optou por rescindir o contrato e realizar outra licitação para concluir as obras.

Matéria de Capa

no 365 Petro & Química 19