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Captulo 8 Sistemas Produtivos Industriais Este captulo objetiva apresentar alguns Sistemas Produtivos Industriais: Planejamento das Necessidades de Materiais (MRP); Planejamento dos Recursos de Manufatura (MRPII); Produo Just-in-Time (JIT) e o Sistema Kanban; Tecnologia da Produo Otimizada (OPT) e a Teoria das Restries (TOC). A abordagem inicial est focada em alguns conceitos preliminares que envolvem aspectos estratgicos na utilizao destes sistemas, bem como, um pequeno apanhado do ambiente de demanda. Tal enfoque permite uma insero do leitor aos temas que envolvem o sistema produtivo industrial. Ao final do captulo apresentada uma tabela comparativa entre os SPIs trabalhados evidenciando suas principais vantagens e desvantagens.

8.1 Conceitos iniciais Mudanas na economia mundial e no cenrio da produo de bens industriais vm transformando o mercado e a forma de administr-lo. Uma das reas que vem promovendo grandes modificaes na gesto empresarial a Administrao da Produo. Vrios fatores tm destacado esta rea, dos quais se podem citar alguns: A exigncia de produtos com maior qualidade e menor custo em funo de novos padres no comportamento do consumidor; O rpido desenvolvimento de novas tecnologias de gesto de manufatura e de seus processos; As mudanas da organizao do trabalho nos sistemas produtivos em funo das redues nos tamanhos de lote e conseqente reduo da produtividade; e

Alianas comerciais entre os mercados (ex.: Mercado Comum Europeu, Mercosul, Alca etc), que vem promovendo constantes reestruturaes na econmica mundial.

Tais fatores impulsionam novas formas de manufatura que buscam uma gama maior na variedade e personalizao dos produtos a partir de um incremento na qualidade, agilidade e flexibilidade, com utilizao de curtos ciclos produtivos, focando a drstica reduo dos custos operacionais. No novo modelo competitivo prevalece o sistema de produo Customizada, em substituio ao sistema de produo Padronizada, que compem os princpios essenciais do modelo Ford de produo em massa que perdurou at poucos anos atrs. O sistema Customizado busca melhorar a adaptabilidade das

organizaes industriais no sentido de lhes conferir a adequada capacidade de adaptao para a introduo de novos produtos em tempos adequados, promover maior flexibilidade dos sistemas produtivos e lhes conferir a adequada capacidade de adaptao de suas atividades. No novo modelo, a relao cliente-fornecedor formada a partir de cinco caractersticas bsicas: 1. Flexibilidade Capacidade de adaptar-se, de forma rpida e precisa, s mudanas solicitadas pelo cliente ou pelo mercado. 2. Rapidez de Entrega Agilidade no atendimento a demanda do cliente ou do mercado. 3. Tipo de produto grau de Customizao versus Padronizao. 4. Tipo de cliente fornecimento intermedirio versus consumidor final.

5. Tamanho de Lotes quantidade de produtos iguais. Assim, com base nas caractersticas citadas, as organizaes podem tratar o ambiente de demanda de cinco formas diferentes: PSP (produo sob projeto) quando a flexibilidade alta; a rapidez de entrega baixa; a customizao alta; o cliente , normalmente, o usurio final e o tamanho do lote pequeno (muitas vezes unitrio). PPE (produo para estoque) quando a flexibilidade baixa; a rapidez de entrega alta ou baixa; a padronizao alta; o cliente pode ser um consumidor intermedirio ou final e o tamanho do lote grande. PSE (produo sob encomenda) quando a flexibilidade alta; a rapidez de entrega baixa; a customizao alta; o cliente pode ser um consumidor intermedirio ou final e o tamanho do lote pequeno. MSE (montagem sob encomenda) quando a flexibilidade alta; a rapidez de entrega alta; a customizao alta; o cliente , normalmente, o usurio final e o tamanho do lote pequeno (muitas vezes unitrio). FDL (fornecimento de linha) quando a flexibilidade alta; a rapidez de entrega muito alta; a customizao alta ou baixa; o cliente um consumidor intermedirio (industria) e o tamanho do lote pequeno. Face aos diferentes tratamentos abordados, fica evidente a importncia do posicionamento da organizao frente cadeia de fornecimento que est inserida. O sistema produtivo utilizado deve ser tratado como fator competitivo

e deve estar atrelado s estratgias empresariais. Ele um fator preponderante aos objetivos da empresa e como tal, suas atividades operacionais de manufatura devem representar o desdobramento das aes definidas no planejamento estratgico. Para a escolha do sistema produtivo devem-se considerar, tambm, dois outros fatores importantes: (a) Agregao de Valor, pois, o cliente deve reconhecer a qualidade e as especificaes dos produtos e processos, bem como, estar disposto a pagar por elas; e (b) Inovao, a capacidade de promover melhoria contnua com vistas reduo de custos e ao aprimoramento constante da qualidade dos produtos e dos processos. A gesto da produo em uma indstria costuma ser representada pelas atividades de planejamento e controle da produo. Assim, o termo PCP (Planejamento e Controle da Produo) utilizado para designar uma srie de atividades, tradicionalmente executadas dentro de uma atividade mais ampla e fundamental dentro da indstria: a gesto da produo. Essas atividades so geralmente executadas atravs dos chamados sistemas de PCP1, os quais esto relacionados a seguir: Planejamento das Necessidades de Materiais MRP (Material Requirement Planning) e seus sucessores o Planejamento dos Recursos de Manufatura MRP-II (Manufacturing Resource Planning) e o Planejamento dos Recursos da Empresa ERP (Enterprise Resource Planning); Produo Just-in-Time JIT e o sistema Kanban;

1 NARDINI, J. J.; PIRES, S. R. I. Sistemas de Gesto da Produo: Um Estudo em 20 Empresas do Setor Metal-mecnico Paulista. Anais do XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produo - Ouro Preto, MG, Brasil, 2003.

Tecnologia da Produo Otimizada OPT (Optimized Production Technology) e a Teoria das Restries TOC (Theory of Constraints).

O dia a dia do programador da produo envolve decises que sero determinantes na formao dos custos de produo, tais como uso de horasextras, desligamento de recursos com baixa utilizao e contratao de fora de trabalho temporria. Os planos de produo enviados ao cho de fbrica, muitas vezes revisados diariamente, determinam, em grande instncia o desempenho de entrega da manufatura (um dos objetivos estratgicos considerados na teoria clssica da estratgia de manufatura). Uma deciso deste tipo, tomada isoladamente, pode exercer um baixo impacto no desempenho global da empresa, porm a soma dos resultados das diversas decises de planejamento da produo tomadas diariamente certamente ter um alto peso estratgico.

8.2 Sistemas MRP e MRPII Resumidamente, pode-se dizer que o Planejamento de Necessidades de Materiais (MRP) segue o seguinte processo: busca os tipos de produtos com suas respectivas quantidades constantes da carteira de pedidos ou da previso de vendas, identifica as Lista de Materiais de cada produto, calcula as necessidades brutas e subtrai os materiais constantes nos registros de estoque. A partir dos clculos gerados, programa as ordens de compra o plano de materiais e as ordens de trabalho.

Qualquer que seja o sistema considerado, a seguinte pergunta deveria ser feita: Como o sistema est conectado em termos de Plano Mestre de Produo, Planejamento da Capacidade, Liberao dos Pedidos de Compra, Liberao das Ordens de Produo ou outros Sub-Sistemas de Controle? O MRP I Material Requeriments Planning (Planejamento das Necessidades de Materiais) possui um modelo mais simplificado, por ser essencialmente voltado para o planejamento e controle da produo e estoques. A figura 18 mostra um modelo esquemtico dos Registros de Estoque MRP. Figura 18 Registros de Estoque MRPCarteira de pedidos Programa-mestre de produo Previso de vendas

Listas de materiais

Planejamento das necessidades de materiais

Registros de estoque

Ordens de compra

Planos de materiais

Ordens de trabalho

Fonte: Adaptado de SLACK, N et al. Administrao da Produo. So Paulo: Atlas, 1999. O Planejamento de Recursos de Manufatura (MRPII) um sistema que rene todas as informaes referentes s diversas atividades de produo em uma nica base de dados. muito importante para o bom desempenho do planejamento da produo industrial porque ultrapassa as fronteiras do MRP, que restrito ao clculo das necessidades de materiais.

No MRP, alguns documentos so duplicados e tratados por diferentes sistemas. Quando h necessidade de alguma alterao comum se verificar distores entre os documentos, principalmente na Lista de Materiais, administradas pela engenharia de produto e pela rea de materiais. Ao se tratar as mesmas informaes em bases de dados diferentes so comuns os erros de digitao que provocam grandes problemas na execuo dos planos de fabricao. Os diversos mdulos do MRP II integram vrios sistemas menores que evitam os problemas citados e executam as variadas funes que compreendem o Planejamento e Controle da Produo. As atividades bsicas do PCP so ilustradas na Figura 19. Figura 19 MRP de Ciclo FechadoPlano de produo Plano de necessidades de recursos

Programa-mestre de produo

Programa-mestre de produo

Plano de materiais

Plano de materiais

Fonte: Adaptado de SLACK, N. et al. Administrao da Produo. So Paulo: Atlas, 1999. Segundo Slack 2, Oliver Wight, um dos idealizadores do MRP e MRP II, definiu MRP II como "Um plano global para o planejamento e monitoramento de todos os recursos de uma empresa de manufatura: manufatura, marketing, finanas e engenharia. Tecnicamente, ele envolve a utilizao do sistema MRP de ciclo fechado para gerar nmeros financeiros.2

SLACK, N. et al. Administrao da Produo. So Paulo: Atlas, 1999.

Na Administrao de Ciclo Fechado, o Planejamento das Prioridades essencial. Uma meta muito importante do MRP o baixo nvel dos estoques que podem ser tratados em termos de rotatividade, rotatividade de estoque ou giros de inventrio. Esta meta ainda mais importante quando as taxas de juros do mercado so altas. O que mais se verifica nas empresas a medio em termos de dias, semanas ou meses de suprimento. O inventrio custa muito caro, bem como os custos de estocagem e movimentao e, ainda, o tempo de vida ou obsolescncia. Este est relacionado com os produtos que sofrem freqentes alteraes de engenharia em suas listas de material. Segundo Paris e Cleto 3, a integrao das informaes do produto entre os setores um fator crtico de sucesso para a competitividade de uma empresa. Isto se d em funo de alguns benefcios obtidos a partir da integrao, como: rpido acesso s informaes em qualquer estgio do produto (nvel de alteraes); reduo do nmero de pessoas envolvidas na alimentao de dados; reduo da burocracia; rapidez de resposta aos clientes. O controle do nvel de estoque e o atendimento ao cliente so as duas metas mais visveis, traadas para a Administrao de Materiais. Embora medir os custos para manter estoques seja um problema, um problema muito maior medir a Falta de Estoque. Esta a principal razo pela qual o atendimento ao cliente muito importante, apesar de ser difcil quantific-lo. Outro objetivo importante do MRP a Produtividade da Mo-de-Obra. A reduo do tempo de preparao aumenta a produtividade. Quanto maior o

PARIS, W. S., CLETO, M. G., A Proposed Model to Increasing the Efficiency of International Intra-Firm Technology Transfer. Technical And Organizational Integratin Of Supply Chains XXII International Conference on Industrial Engineering and Operations Management Curitiba, PR: , v.01, p.243 - 250, 2002.3

tempo de preparao, mais importante torna-se este assunto. A Quebra de Equipamentos outro aspecto importante e a manuteno preventiva ou outras devem ser levadas em considerao. Outro objetivo, geralmente deixado de lado, a utilizao da capacidade instalada. Na maioria das vezes, a capacidade superdimensionada para ter maior segurana, assim como os estoques. O que deve ser feito pela Administrao de Materiais melhorar continuamente as metas e objetivos do MRP. O desafio atender o cliente da melhor forma, com o menor investimento em estoque. Os principais fatores que influenciam estas metas so: a Previso de Vendas e o desenvolvimento de um Plano Mestre de Produo. A alta administrao tambm deve perceber que o fluxo de caixa est implcito no Plano Mestre e podemos cham-lo de Plano Global. Uma outra atividade a denominada Liberao de Ordens. Existe uma dimenso de tempo e quantidade nesta atividade, ou seja, QUANDO e QUANTO. A liberao das ordens est ligada ao Plano Mestre. Outra atividade feita no MRP o seguimento (follow-up), expedio, planejamento de prioridade. Temos, ainda, O Planejamento da Capacidade, que a atividade onde se constata a existncia de altos e baixos ou ainda sobrecargas de capacidade, podendo tomar as medidas necessrias com antecedncia. Finalmente, chegamos Manuteno dos Registros. Para que o conceito de Administrao de Materiais seja efetivo, necessrio ter COORDENAO. A Administrao de Materiais envolve muitas pessoas com necessidades, objetivos e prioridades conflitantes.

8.3 Principais mdulos do MRPII Os sistemas MRPII so compostos por mdulos que interligam as diferentes funes do PCP. Os pacotes computacionais disponveis no mercado so similares quanto aos mdulos principais e a lgica bsica. Figura 20 Mdulos bsicos do MRPII

MRPII PP MRP CRP SFC MPS

O MRPII possui cinco mdulos principais4: Planejamento da Produo (production planning); Planejamento Mestre de Produo (Master Production Schedule ou MPS); Clculo de Necessidade de Materiais (Material Requirements Planning ou MRP); Clculo de Necessidade de Capacidade (Capacity Requirements Planning ou CRP); 4

Controle de Fbrica (Shop Floor Control ou SFC).

CORRA, H.L., GIANESI, I.G. Just in Time, MRP-II e OPT um enfoque estratgico. So Paulo: Atlas, 1996.

8.3.1 Planejamento de Produo: tem como funo principal, fornecer subsdios para a deciso dos planejadores com relao aos nveis agregados de estoques e produo perodo a perodo, com base na carteira de pedidos ou nas previses de demanda agregadas (demanda do mix de produtos). 8.3.2 Planejamento-Mestre de Produo (MPS): promove o

carregamento da capacidade instalada visando sua melhor utilizao com base nas limitaes de capacidade agregada identificadas, auxiliado pelo RCCP (Rough-Cut Capacity Planning) que compe o modulo de Planejamento das Necessidades de Capacidade (CRP). O MPS o elemento de ligao entre os nveis mais agregados do planejamento, responsvel pelos clculos das necessidades de recursos. As decises estratgicas quanto ao MPS devem considerar algumas questes: (a) Incertezas de demanda tratamento de nveis de estoque de segurana quando necessrio; (b) Importncia estratgica atrasos e/ou no atendimento de pedidos; (c) Importncia estratgica de se minimizarem os nveis de estoque custos financeiros e reduo do capital de giro; e (d) Custos financeiros e organizacionais das variaes dos nveis de produo variabilidade excessiva dos nveis de sada do sistema produtivo. 8.3.3 Clculo das Necessidades de Materiais (MRP): baseia-se num registro bsico da posio e dos planos referentes produo e aos estoques de cada item. Este registro chamado de MRP time-phase Record e composto por alguns elementos: (a) Perodo time bucket; (b) Necessidades brutas gross requirements; (c) Recebimentos programados scheduled

receipt; (d) Estoque projetado disponvel projected available balance; (e) Plano de liberao de ordens planned order releases; (f) Tempo de

ressuprimento lead-time; e (g) Tamanho do lote lot size. O MRP gera liberaes de ordens planejadas a partir dos clculos das necessidades brutas, recebimentos programados e estoque disponvel projetado. Salienta-se que o entendimento do funcionamento do registro bsico do MRP fundamental para o entendimento como um todo. No Quadro 1, apresentado um exemplo do Registro bsico perodo a perodo do MRP, considerando o tempo de ressuprimento de 1 perodo, tamanho do lote igual a 620 unidades e um estoque inicial de 13 unidades. Quadro 1 Registro bsico perodo a perodo do MRPPerodo Necessidades brutas Recebimentos programados Estoque projetado disponvel Plano de liberaes de ordens 1 620 633 2 255 378 3 4 364 14 620 5 302 332 6

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8.3.4 Clculo de Necessidade de Capacidade (CRP): sua funo prover as futuras necessidades e identificar possveis ociosidades futuras. Isto deve ocorrer com antecedncia suficiente a fim de obter a maior eficincia de um sistema de administrao da produo. Capacidade de manufatura insuficiente pode prejudicar o desempenho de uma empresa quanto ao cumprimento de prazos, um critrio competitivo essencial no mercado competitivo atual. O CRP fornece subsdios para a tomada de decises gerenciais quanto s ordens de produo, tanto para sua confirmao e alterao como para redirecionar as aes quando da inviabilidade do plano em funo da disponibilidade dos recursos produtivos. 8.3.5 Controle de Fbrica (SFC): responsvel por: executar o plano de materiais, executar o plano de capacidade, controlar todas as atividades dos centros de trabalho, maximizar a produtividade e controlar prioridades (O que

estamos produzindo? Quais itens? Quando iniciamos e quando terminamos? Quando so necessrios? Como fazemos?). Seqncia as ordens de produo por clula e controla a produo dentro do prazo planejado no Cho de Fbrica. A funo bsica deste mdulo a interao dos sistemas de controle e acompanhamento, com foco no cumprimento dos prazos. Utiliza algoritmos de programao finita gerando o carregamento detalhado a partir do seqenciamento das ordens nos recursos em um perodo planejado.

8.4 Sistema JIT / Kanban O sistema JIT (Just-in-Time) surgiu no Japo na dcada de 60, sendo desenvolvida na indstria automobilstica, mais especificamente na Toyota Motor Company. Na dcada de 70 este conceito foi difundido para o ramo de autopeas e eletrnica. Com o avano da economia japonesa, j nos anos 80, o sistema passou a ser difundido tambm para o mundo ocidental. Justintime significa produzir as unidades necessrias em quantidades necessrias no tempo necessrio, logo, o sistema JIT tem como regra produzir no momento em que for necessrio, ou seja, determinao de um estoque tendendo a zero. O seu sucesso est vinculado ao fato de que o controle da programao garanta a presena da matria-prima no momento certo da produo e o balanceamento da capacidade produtiva seja capaz de produzir no tempo adequado. No sistema de planejamento so utilizados trs tipos de pedidos aos fornecedores (internos e externos): (a) Plano agregado de produo (Release anual, semestral, trimestral); (b) Plano mestre de produo

(Release mensal); e (c) Plano detalhado ("Pipeline" programao de um, dois ou trs dias). As alteraes nos programas do plano detalhados podem ser introduzidas na produo atravs do kanban em um ponto simples, a expedio. Atravs deste ponto, a produo ir "automaticamente" reajustada. Segundo Shingo 5, o segredo est no balanceamento. Este consiste em que o processo produza a mesma quantidade de que o processo seguinte, para isto, preciso que os trabalhadores, equipamentos e todos os outros fatores estejam organizados. Este autor tambm trabalha o conceito de produo mista e apresenta as seguintes vantagens: (a) Distribuio da carga (balanceamento); (b) Os balanceamentos da produo geram cargas balanceadas em processos de fabricao como para os fornecedores; (c) Tenta-se evitar o duplo transporte de componentes durante o processamento. A maior desvantagem deste mtodo o elevado nmero de setups, porm para compensar estas dificuldades podemos apontar como soluo o treinamento dos trabalhadores em operaes mltiplas, o emprego de dispositivos, ferramentas e mquinas com mltiplas funes para facilitao das trocas rpidas, incorporao de verificaes sucessivas, auto-verificao e dispositivos poka-yoke e, abastecimentos em pequenos lotes sem erros. Os balanceamentos so responsveis pela minimizao de estoques de produtos acabados, porm ainda podero existir erros como na movimentao e fixao incorreta de peas nas mquinas ou mesmo a no fixao.

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SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produo: do ponto de vista da Engenharia de Produo. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1996.

De acordo com Tubino6, a filosofia JIT foca cinco objetivos bsicos: Satisfazer as necessidades do cliente: (a) reduo de custos internos; (b) produo de pequenos lotes com qualidade;

(c) flexibilidade; (d) reduo de estoques; (e) projeto em conjunto com o cliente; etc. Eliminar desperdcios: (a) superproduo; (b) espera;

(c) movimentao e transporte; (d) processamento; (e) estoques; (f) movimentos improdutivos; (g) produtos defeituosos. Melhorar continuamente: (a) zero defeito; (b) estoque zero; (c) zero movimentao; (d) zero lead time; (e) tempo de setup zero; (f) lotes unitrios, etc. Envolver totalmente as pessoas: Mudanas de atitudes. Organizao e visibilidade: (a) layout; (b) locais especficos para armazenagem do material em processo; (c) locais especficos para armazenagem de ferramentas, etc.

Um sistema JIT deve considerar alguns fatores crticos de sucesso. Abaixo esto relacionados alguns elementos bsicos para o bom

funcionamento do sistema: Qualidade: Como no existem estoques intermedirios no JIT, os defeitos podem acarretar paradas na linha produo. Os defeitos devem ser descobertos na prpria clula ou no prximo passo do processo. O ndice de qualidade deve estar bem prximo dos 100%.

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TUBINO, D. F.. Manual de Planejamento e Controle da Produo. 2o edio. So Paulo: Atlas, 2000.

Multifuncionalidade Operacional: O operador da clula deve ser capaz de promover a manuteno de primeiro nvel (TPM). Partindo do trabalho com pequenos lotes, o operador deve estar apto s rpidas mudanas.

Fornecedores: No JIT, o relacionamento com os fornecedores deve ser marcado por uma parceria efetiva. Faz necessrio um programa de Qualidade assegurada pois a qualidade dos produtos fornecidos deve acompanhar os nveis da empresa (bem prximo dos 100%) para que este tenha passe livre para o fornecimento direto na linha e no provoque uma parada.

Tempos de Preparao (setup): Baixos tempos de preparao de mquinas representam baixos nveis de estoque em giro na fbrica.

Programa Mestre (master plan): O programa mestre de produo geralmente representado pelo programa de montagem final do produto e normalmente trabalha com um perodo de 1 a 3 meses. Este horizonte se faz necessrio em funo do planejamento das clulas de trabalho (fornecedores internos) e para que os fornecedores externos tambm possam se planejar.

Kanban: um sistema de controle de fluxo de material ao nvel da fbrica atravs de cartes ou outra forma visual de controle, e que minimiza os estoques. Tem como regra bsica, fabricar somente quando houver um "input" (solicitao) do setor / operao posterior.

Controle kanban O kanban tem como objetivo, operacionalizar o sistema de produo e controle puxado. uma palavra japonesa que significa carto ou sinal, ou seja, um carto utilizado por um estgio cliente, para avisar seu estgio fornecedor que deve enviar mais material. Estes cartes pode ser de trs tipos distintos7: Kanban de Transporte: utilizado para avisar o estgio anterior que o material pode ser retirado do estoque e transferido para uma localizao especfica. Kanban de Produo: utilizado para avisar o estgio anterior que pode produzir um item determinado para que seja colocado no estoque. Kanban de Fornecedor: utilizado para avisar o fornecedor que necessrio enviar determinado componente para a linha de produo.

Em uma primeira etapa para a implantao de sistemas enxutos de produo, a determinao das quantidades de kanbans deve ser realizada no mesmo nvel de produo que o sistema convencional ou atual. medida que os nveis de estoques em processo vo sendo reduzidos, comeam a aparecer os problemas que ficam ocultos. Para a implementao de sistemas kanban necessrio que exista um processo no qual seja de caracterstica repetitiva. A evoluo de um sistema kanban pode chegar at aos princpios de produo de lote nico. Deve ser

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SLACK, N. et al.; Administrao da Produo. So Paulo: Atlas, 1999.

visto como uma ferramenta de auxilio para a produo do cho de fbrica no controle de seus estoques. Em processos onde a variao da demanda tem um fator significativo na produo, a adoo de sistema de nico toque faz com que as linhas de produo possam se adaptar as novas exigncias momentneas. Em conexo com esta linha de pensamento, a produo em pequenos lotes, faz com que os setups "rpidos" tenham que ser mais rpidos ainda.

8.5 Sistemas OPT / TOC A teoria das restries tem sua origem no final da dcada de 70, quando pesquisadores, em especial Goldratt e Fox, procuraram alternativas para a lgica convencional de planejamento e programao da produo via MRP, desenvolvendo um software comercialmente conhecido como OPT (Optimized Production Technology). A disponibilidade de recursos computacionais mais poderosos permitiu que o software OPT. Ao contrrio dos softwares baseados na lgica do MRP oriundo da dcada de 60, fosse desenvolvido em cima de uma base de dados que considerava a estrutura do produto (lista de materiais) e a estrutura do processo (rotina de operaes) simultaneamente, tornando vivel a anlise em paralelo entre a capacidade de produo e o seqenciamento do programa. O software OPT, na dcada de 80, teve alguma penetrao na Europa e nos EUA, porm no Brasil no teve a mesma sorte. Contudo, em nvel acadmico, as questes levantadas por este software com relao a programao finita da rede de atividades em um sistema de produo

convencional, foram estruturadas em um conjunto de regras ou conceitos conhecido como teoria das restries, que tm por base o princpio de gargalo. Gargalo um ponto do sistema produtivo (mquina, transporte, espao, homens, demanda etc.) que limita o fluxo de itens no sistema. Podemos identificar quatro tipos bsicos de relacionamento entre recursos gargalos e no-gargalos. A partir da constatao de que os recursos produtivos podem ser divididos nestes dois grupos (gargalos e no-gargalos), e que a forma como eles se relacionam definem o fluxo produtivo, os custos com estoques e as despesas operacionais, um conjunto de 10 regras usado para direcionar as questes relativas ao seqenciamento de um programa de produo. Estas regras so descritas a seguir 8:Regra 1: A taxa de utilizao de um recurso no-gargalo no determinada por sua capacidade de produo, mas sim por alguma outra restrio do sistema. Regra 2: Utilizao e ativao de um recurso no so sinnimas. Regra 3: Uma hora perdida num recurso gargalo uma hora perdida em todo o sistema produtivo. Regra 4: Uma hora ganha num recurso no-gargalo no representa nada. Regra 5: Os lotes de processamento devem ser variveis e no fixos. Regra 6: Os lotes de processamento e de transferncia no necessitam ser iguais.

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TUBINO, D. F.. Manual de Planejamento e Controle da Produo. 2o edio. So Paulo: Atlas, 2000.

Regra 7: Os gargalos governam tanto o fluxo como os estoques do sistema. Regra 8: A capacidade do sistema e a programao das ordens devem ser consideradas simultaneamente, e no seqencialmente. Regra 9: Balanceie o fluxo e no a capacidade. Regra 10: A soma dos timos locais no igual ao timo global.

Na prtica, muito difcil implementar estes conceitos dentro de um sistema produtivo convencional, principalmente em funo da mudana constante dos pontos gargalos. Porm, existindo uma certa constncia dos pontos limitantes do sistema, podemos empregar uma heurstica de cinco passos como forma de direcionar as aes da programao da produo dentro destas regras, qual seja: 1. Identificar os gargalos restritivos do sistema; 2. Programar estes gargalos de forma a obter o mximo de benefcios; 3. Programar os demais recursos em funo da programao anterior; 4. Investir prioritariamente no aumento da capacidade dos gargalos restritivos do sistema; 5. Alterando-se os pontos gargalos restritivos, voltar ao passo 1.

Goldratt e Fox

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promovem algumas discusses de como se tornar mais

competitivo considerando as limitaes de tempo, de recursos e de capital e conceituam algumas medidas operacionais globais como: GANHO - O ndice no qual o sistema gera dinheiro atravs das vendas.GOLDRATT, E.M., FOX, R.E. A Corrida pela Voltagem Competitiva. So Paulo: Editora Educator,1989.9

INVENTRIO - Todo dinheiro que o sistema investe na compra de coisas que o sistema pretende vender.

DESPESA OPERACIONAL - Todo dinheiro que o sistema gasta para transformar inventrio em ganho.

Segundo os autores, o impacto tradicionalmente reconhecido dos melhoramentos do inventrio diminui rapidamente junto com o inventrio. Apresentam o que na sua concepo so hoje, as seis questes da vantagem competitiva e a influencia do inventrio sobre elas. Aparentemente, como se apresenta, o inventrio representa mais de 80% da vantagem competitiva. A chave para a reduo do inventrio seja a manufatura sincronizada. Os pulmes predeterminados de inventrio regulam o ndice de produo das linhas de montagem e dos sistemas Kanban. O trabalho sincronizado, o inventrio baixo, mas qualquer interrupo significativa faz com que o sistema inteiro pare. A primeira etapa na direo da manufatura sincronizada a identificao das restries. Pode ser usada uma anlise das principais questes dos negcios para identificar os Recursos com Restries de Capacidade (R.R.C.s).

8.6 Definio do Sistema mais adequado Para poder tomar decises adequadas quanto implantao de um sistema de produo, vital que a organizao tenha uma viso muito clara do negcio e de qual o seu foco de atuao. As diferentes estratgias de mercado demandam de sistemas produtivos capazes de prover diferentes caractersticas de desempenho a seus mercados.

Na tabela 3 so ilustradas algumas caractersticas positivas e negativas dos trs sistemas tratados neste captulo. Tabela 3 Comparao entre MRP, JIT e TOC Caractersticas Positivas

Caractersticas Negativas

Ampla base de dados propcia Uso intenso de computadores com tecnologia CIM; volume de dados muito grande; Aplicvel a sistemas Custo operacional alto; produtivos com grandes Necessidade de alta acuracidade MRP variaes de demanda e mix dos dados; de produtos; Implementao geralmente Feedback dos dados e complexa. controles on line abrangendo todas as principais atividades do PCP. Simplicidade; Aplicao restrita a sistemas produtivos com pouca variao na Melhoria da qualidade; JIT demanda e no mix de produtos; Mudanas positivas na Dependncia maior dos organizao e mo-de-obra; fornecedores externos. Baixo nvel dos estoques; Capacidade de simulao da Desconhecimento da sistemtica produo; de trabalho do mdulo OPT; Aplicvel a sistemas Mais aplicvel programao e TOC produtivos com grandes controle da produo; variaes de demanda e mix Poucos resultados sobre de produtos; implantao tm sido divulgados. Direcionamento dos esforos Fonte: Adaptado de PIRES, S.R.I. Gesto Estratgica da Produo, Editora UNIMEP, 1995.

8.7 Resumo do captulo Este captulo apresentou dados comparativos para que o leitor possa compreender as diferenas entre os sistemas produtivos industriais. Foram trabalhados diversos conceitos ligados a estes sistemas, permitindo uma viso mais crtica para que se possa fundamentar a tomada de deciso no momento da escolha entre este ou aquele sistema. Outro assunto abordado foi a descrio dos cinco principais mdulos do MRPII existentes nos programas comerciais disponveis no mercado, evidenciando a relao existente entre o

MRP e o MRPII. Em seguida foram trabalhados os cinco objetivos bsicos do JIT e alguns fatores crticos de sucesso deste sistema, assim como, os trs tipos de cartes kanban. Outro tpico aqui abordado foi a Otimizao dos processos com base na eliminao dos gargalos de produo tratados com a Teoria das Restries. Finalmente, foram tabeladas as principais

caractersticas positivas e negativas dos sistemas trabalhados neste captulo.

8.8 Questes para discusso

1- Diferencie produo Padronizada e produo Customizada. 2- Conceitue as cinco formas de tratamento relacionadas ao ambiente de demanda. 3- Explique o relacionamento entre o MRP e o MRPII. 4- Descreva os principais mdulos do MRPII 5- Por que o kanban considerado um fator crtico para o sucesso do sistema JIT? 6- Qual a relao entre teoria das restries e inventrio? 7- O que essencial para a organizao poder tomar decises adequadas quanto implantao de um sistema de produo?

Referncias bibliogrfica NOVAS CORRA, H.L., GIANESI, I.G. Just in Time, MRP-II e OPT um enfoque estratgico. So Paulo: Atlas, 1996. GOLDRATT, E.M., FOX, R.E. A Corrida pela Voltagem Competitiva. So Paulo: Editora Educator,1989. NARDINI, J. J.; PIRES, S. R. I. Sistemas de Gesto da Produo: Um Estudo em 20 Empresas do Setor Metal-mecnico Paulista. Anais do XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produo - Ouro Preto, MG, Brasil, 2003. PARIS, W. S., CLETO, M. G., A Proposed Model to Increasing the Efficiency of International Intra-Firm Technology Transfer. Technical And Organizational Integratin Of Supply Chains XXII International Conference on Industrial Engineering and Operations Management Curitiba, PR: , v.01, p.243 - 250, 2002. PIRES, S.R.I. Gesto Estratgica da Produo, Editora UNIMEP, 1995. SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produo: do ponto de vista da Engenharia de Produo. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1996. SLACK, N. et al. Administrao da Produo. So Paulo: Atlas, 1999. TUBINO, D. F. Manual de Planejamento e Controle da Produo. 2o edio. So Paulo: Atlas, 2000.

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