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UNIVERSIDADE JOSE DO ROSARIO VELLANO CURSO DE DIREITO – CAMPUS LIBANO (BH) UNIFENAS MATERIAL DE APOIO: PROCESSO PENAL III Professora Mary Mansoldo Belo Horizonte MG 2014

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UNIVERSIDADE JOSE DO ROSA RIO VELLANO CURSO DE DIREITO – CAMPUS LI BANO (BH)

UNIFENAS

MATERIAL DE APOIO:

PROCESSO PENAL III

Professora Mary Mansoldo

Belo Horizonte – MG

2014

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MATERIAL DE APOIO: PROCESSO PENAL III Professora Mary Mansoldo - 2014

SUMÁRIO

1 PROCESSO E PROCEDIMENTO 3

1.1 TIPOS DE PROCEDIMENTOS 3

2 PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO 4

2.1 CONDIÇÕES DA AÇÃO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 5

2.2 CITAÇÃO DO RÉU 8

2.2.1 FORMAS DE CITAÇÃO 9

2.3 RESPOSTA À ACUSAÇÃO 12

2.4 ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA 14

2.5 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO 15

3 PROCEDIMENTO COMUM SUMÁRIO 22

3.1 PROCEDIMENTO SUMÁRIO - ARTS. 531 A 540 22

4 PROCEDIMENTO COMUM SUMARÍSSIMO 26

4.1 DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS 26

4.2 PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO 34

5 PROCEDIMENTO ESPECIAL DO TRIBUNAL DO JÚRI 38

5.1 A ORIGEM DO TRIBUNAL POPULAR 38

5.2 O TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL 40

5.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRIBUNAL DO JÚRI 42

5.4 PROCEDIMENTOS DO TRIBUNAL DO JÚRI 44

5.4.1 PRIMEIRA FASE 45

5.4.2 SEGUNDA FASE 48

BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS 54

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1 PROCESSO E PROCEDIMENTO

Processo: é o instrumento pelo qual se manifesta a jurisdição, tendo sempre a finalidade de

alcançar um provimento final, que solucionará a controvérsia e cumprirá os objetivos de

concretização do Direito e pacificação social.

Observações sobre jurisdição (CF art. 5º, LIII):

atividade e expressão do Poder Público.

a jurisdição é una, no sentido de se tratar de intervenção do Estado junto aos

jurisdicionados;

todos os atos e decisões judiciais proferidos pelos órgãos investidos de jurisdição

configuram a manifestação do poder estatal jurisdicional;

o processo penal é um instrumento da jurisdição que viabiliza a aplicação da lei penal.

A titularidade da pretensão punitiva é reservada ao próprio Estado, via Ministério

Público (exceções ação penal privada e ação penal subsidiária da pública).

Procedimento: rito processual. Mera sequência de atos processuais, ordenadamente

encadeados, vistos da perspectiva externa, sem qualquer preocupação com o seu destino

(PACELLI, 2011, p. 657).

Concluindo:

o processo é entendido como o conteúdo e o procedimento como sua embalagem;

ao procedimento é reservado o papel de operacionalização. É a exteriorização do

processo, que é variável em função da natureza e a gravidade da infração penal;

o processo pode ser considerado um gênero e os diversos e diferentes

procedimentos as espécies.

1.1 Tipos de procedimentos

O procedimento comum, previsto no CPP, será aplicado de modo residual, ou seja, sempre que

não houver nenhum procedimento especial previsto no CPP ou lei extravagante.

O procedimento especial é todo aquele previsto, tanto no CPP quanto em leis extravagantes, para

hipóteses legais específicas, que, pela natureza ou gravidade, merecem diversa tramitação

processual. É utilizado para determinados tipos penais:

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• crimes dolosos contra a vida (procedimento do Tribunal do Júri);

• crimes contra a honra;

• crimes praticados pelo funcionalismo público;

• crimes falimentares;

• crimes contra a Propriedade Imaterial.

2 PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO

A Lei 11.719/08 fez alterações relevantes no CPP. Vejamos alguns apontamentos iniciais:

a) critério de determinação de ritos. Ou seja, a partir da nova lei o rito é definido pela pena

máxima do crime (art. 394, § 1º).

b) defesa escrita. Em todos os procedimentos, comuns e especiais, ressalvados o procedimento

do Júri e o dos juizados especiais, haverá resposta escrita da defesa, após a citação do réu. O

réu terá o prazo de 10 dias para apresentar a defesa escrita (art. 396).

c) audiência una. Os atos instrutórios são concentrados em apenas uma audiência, na qual

também será proferida a sentença, salvo quando houver a necessidade probatória complexa que

demande exame mais cuidadoso, quando, então, será permitida a apresentação de memoriais

pelas partes e se fixará novo prazo para a sentença (art. 403, § 3º).

O procedimento comum pode ser dividido em três, a depender da quantidade da pena cominada

em abstrato para o delito (art. 394, § 1º):

ordinário – aplicável para os crimes com pena máxima igual ou superior a 04 anos.

sumário – aplicável para os crimes com pena máxima inferior a 04 anos.

sumaríssimo – aplicável para os crimes de menor potencial ofensivo da Lei 9.099/95 (pena

máxima não superior a 02 anos) ou contravenções penais.

O procedimento comum ordinário é o rito padrão utilizado no Processo Penal. Possui as

seguintes fases:

a. Oferecimento da denúncia ou queixa. Recebimento ou rejeição pelo juiz;

b. Citação do réu;

c. Resposta à acusação;

d. Absolvição sumária (art. 397);

e. Audiência de instrução e julgamento.

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2.1 Condições da ação e pressupostos processuais

a) Petição inepta

CPP - Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas

circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a

classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. Porém, observa-se que,

conforme o artigo 569 do CPP: “As omissões da denúncia ou da queixa, da representação, ou,

nos processos das contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante, poderão

ser supridas a todo o tempo, antes da sentença final”. Mas, de qualquer forma, pode o juiz rejeitar

a denúncia ou a queixa, quando não houver possibilidade da questão ser suprida.

c) Condições da ação

As condições da ação foram apresentadas pelo teórico Enrico Túlio Liebman processualista

italiano. Distinguem o direito de petição (constitucionalmente assegurado aos cidadãos) e o direito

de ação (abstratamente assegurado a todos).

Interesse de agir – interesse/ utilidade

EXEMPLO: quando no inquérito policial for verificada a impossibilidade fática de imposição, ou

seja, que no final do processo a pena não atingiria o mínimo legal, é possível, desde logo,

concluir pela inviabilidade da ação penal a ser proposta, assim, sendo inútil a atividade

processual – portanto, não sendo atendido o elemento da condição de ação – interesse de agir.

Obs. Trata-se de um entendimento diverso do Processo Civil – onde a via jurisdicional, para ser

acionada, exigiria o esgotamento prévio e anterior de todas as possibilidades possíveis de

autocomposição.

Legitimidade

Legitimidade ativa - A titularidade da pretensão punitiva é reservada ao próprio Estado, via

Ministério Público (exceções ação penal privada e ação penal subsidiária da pública). Assim, é

imposta ao Processo Penal a exigência de legitimidade ativa para a promoção e o

desenvolvimento de atividade persecutória (com exceção do habeas corpus e da revisão

criminal).

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Mas, existem atribuições ao parquet conforme a matéria, ou seja:

instauração de ação penal perante a justiça federal – Ministério Público federal;

propositura de ação perante a justiça estadual – promotor de justiça.

Legitimidade passiva, por sua vez, trata-se da pessoa a quem se imputa a prática do

comportamento ilícito-típico, sujeito à imposição de uma pena.

Possibilidade jurídica do pedido

Exemplos: pedido de pena de morte ao acusado (ou seja, ausência da previsibilidade da

providência requerida); a denúncia ou queixa que atribua ao denunciado a prática de um crime de

furto, mas que descreva a subtração, pelo denunciado, de coisa própria, que não estava em

poder legítimo de terceiro, por estar fundada em fato atípico, merece ser rejeitada por ausência

de possibilidade jurídica; de igual forma, a imputação fundada em legislação revogada – por

exemplo, o crime de adultério -, ou que não se encontrava em vigor quando da prática da

conduta, se afigura impossível de tutela penal.

Falta de justa causa

Compreendida pelos teóricos (antes mesmo da inclusão feita pela Lei n. 11.719/08) como a

quarta condição da ação. Ou, também, como legítimo interesse – ou seja, interesse de agir.

Também a jurisprudência já vinha admitindo a justa causa como condição da ação. A justa causa

é representada por um lastro mínimo de prova que justifique a viabilidade da pretensão punitiva.

Condições de procedibilidade - Condições específicas do processo penal (para casos de crimes

específicos). Exemplos de condições de procedibilidade:

a entrada do agente no território nacional no caso de crime praticado no exterior (art. 7°, §

2°, "a" do CP);

a requisição do Ministro da Justiça nos crimes contra a honra previstos no Código Penal

contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro (art. 145,

parágrafo único, do CP);

a representação do ofendido em determinados crimes (arts. 130, 140, c.c. 141, II, 147, 151

etc., do CP);

o trânsito em julgado da sentença que anula o casamento, no crime definido no artigo 236

etc.

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c) Pressupostos processuais

Enquanto as condições da ação referem-se ao exercício da ação penal (direito de exigir o

pronunciamento jurisdicional no campo penal – são condições que se referem ao direito material),

e que, inexistentes, levam à carência do direito da ação, existem outras condições, denominadas

de pressupostos processuais, que dizem respeito à existência do processo e à validade da

relação processual.

A teoria dos pressupostos processuais nasceu com o reconhecimento do processo como relação

jurídica (Oskar Von Bülow), autônoma da relação de direito material. Inexistindo diferença de

natureza entre a ação penal e ação civil, os pressupostos para a constituição e regular

desenvolvimento do processo devem ser os mesmos em ambas.

b.1) Pressupostos de existência (requisitos para a formação da relação jurídica processual)

Subjetivos:

sujeitos do processo – autor, réu e juiz (capacidade de ser parte).

jurisdição – Juiz/ órgão investido de jurisdição.

Objetivos:

pedido – diz respeito ao ato inicial de introduzir um pedido, uma demanda ao Poder

Judiciário.

b.2) Pressupostos de validade (requisitos do desenvolvimento regular do processo)

Subjetivos:

capacidade processual – capacidade de estar em juízo.

capacidade postulatória - aptidão para requerer, exigir, perante os órgãos investidos da

jurisdição alguma providência.

competência e imparcialidade do juiz:

competência é uma parcela da jurisdição, ditada por lei, que define a jurisdição, a

autoridade de cada órgão judicante; ela determina os limites dentro dos quais pode o juiz

legalmente julgar.

imparcialidade está ligada a impedimentos e a casos em que o juiz é suspeito, por ser

amigo ou inimigo de uma das partes. (art. 564, I)

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Objetivos:

Intrínsecos - relacionam-se ao próprio processo, ao formalismo processual, aos vários atos

a serem praticados no desenvolver da relação jurídica, aos deveres e faculdades das partes, à

coordenação de suas atividades. Exemplos: a petição apta, a citação válida, o respeito ao

principio do contraditório, etc.

Extrínsecos - são condições que estão fora do processo, mas que tem o poder de impedir

o seu normal prosseguimento, subordinando sua validade e a eficácia da sua constituição, bem

como sua extinção. Assim, em principio são vícios insanáveis, que extinguem o processo.

Exemplos: a litispendência, a coisa julgada, a perempção e a convenção de arbitragem.

2.2 Citação do réu

Não ocorrendo à rejeição liminar, o juiz recebe a denúncia ou queixa e determina a citação do

acusado para, em 10 dias, responder por escrito à acusação (art. 396, CPP). Com a citação do

acusado, o processo completa a sua formação (art. 363, CPP).

Conceito: a citação é o ato processual por meio do qual é oferecido ao acusado conhecimento

oficial acerca do teor da acusação, abrindo-se oportunidade para que ele produza sua defesa,

triangularizando-se, assim, a relação jurídico-processual.

A falta de citação no processo penal causa nulidade absoluta do processo (art. 564, III e IV), pois

contraria os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Exceção: o art. 570 que

dispõe que se o réu comparece em juízo antes de consumado o ato, ainda que para arguir a

ausência de citação, sana a sua falta ou a nulidade. Nesse caso, o juiz ordenará a suspensão ou

o adiamento do ato.

O Código de Processo Penal tratou da citação em capítulo próprio, compreendendo os arts. 351

ao 369. A citação pode ser de duas espécies:

citação real (pessoal);

citação ficta (por edital).

Diferença entre CPC e CPP: ao contrário do que ocorre no Processo Civil, no Processo Penal a

citação não previne a jurisdição, que ocorre com a distribuição, e nem interrompe a prescrição, o

que ocorre com o recebimento da denúncia ou queixa e, depois disso, com a pronúncia ou

sentença condenatória recorrível.

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2.2.1 Formas de citação

a) Por mandado (regra) – oficial de justiça (art. 351).

Classificada como citação real.

A citação pessoal far-se-á quando o réu estiver na jurisdição do juiz que a determinar.

A citação deve ser feita pelo menos 24 horas antes do momento em que o acusado deverá

ser interrogado, não se tem admitido à citação no mesmo dia em que o acusado deva ser

interrogado.

O oficial deverá fazer a leitura do mandado e entregar a contrafé.

b) Por hora certa (art. 362)

A Lei n. 11.719/08 introduziu a citação por hora certa no processo penal. Adotando-se o mesmo

procedimento do processo civil (arts. 227 a 229 do CPC).

Art. 227. Quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a qualquer vizinho, que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que designar. Art. 228. No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou residência do citando, a fim de realizar a diligência. § 1

o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões

da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca. § 2

o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com pessoa da família

ou com qualquer vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome. Art. 229. Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência.

No Processo Penal, completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer,

ser-lhe-á nomeado defensor dativo. (art. 362, parágrafo único).

Caso o réu compareça antes da audiência de instrução, nada impede que o juiz renove o

prazo de defesa escrita – garantindo o constitucional princípio da ampla defesa e adotando

o mesmo procedimento previsto para a citação editalícia (art. 363, § 4º).

Citado por hora certa, o prazo para o oferecimento da resposta inicia-se na data do ato

citatório e não das providências do art. 229, CPC (Súmula 710 – STF).

CPC - Art. 229. Feita à citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência. Súmula 710 – STF - 24/09/2003: No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

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c) Por edital (art. 361)

Art. 361. Se o réu não for encontrado, será citado por edital, com o prazo de 15 (quinze) dias.

Classificada como citação ficta, ou seja, presumida.

Em se tratando de citação por edital, se o acusado não comparecer nem constituir

advogado, o processo ficará suspenso, suspendendo-se, também, o prazo prescricional,

podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se

for o caso, decretar a prisão preventiva nos termos do disposto no art. 312 (art. 366 CPP).

Observações:

Pela redação anterior, o não-comparecimento do réu ao interrogatório, quando citado por

edital, autorizava o prosseguimento do processo à sua revelia, bastando apenas à

nomeação de um defensor dativo para o acompanhamento da ação.

Observando que, no Processo Penal a revelia, verificada a partir da ausência injustificada

do acusado por ocasião da realização de qualquer ato relevante do processo, tem como

única consequência a não-intimação dele para a prática dos atos subsequentes, exceção

feita à intimação da sentença, que deverá ser realizada sob quaisquer circunstâncias (art.

367).

Comparecendo o réu, a qualquer tempo, deverá o juiz dar prosseguimento ao processo,

cumprindo o quanto disposto nos artigos 394 e seguintes do CPP (art. 363, § 4º).

Lembrando que o prazo para a defesa do réu citado por edital somente começa a fluir a

partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído (art. 396,

parágrafo único).

Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado. (Redação dada pela Lei nº. 11.719, de 2008). (...) § 4

o Comparecendo o acusado citado por edital, em qualquer tempo, o processo observará

o disposto nos arts. 394 e seguintes deste Código. Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº. 11.719, de 2008). Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído. (Redação dada pela Lei nº. 11.719, de 2008).

Por fim, como a citação é uma das mais importantes garantias processuais, porque é através dela

que o acusado toma conhecimento da imputação que lhe é feita, deve ser realizada por edital

apenas quando baldados todos os esforços e esgotados os meios para a efetivação do

chamamento pessoal do imputado. A modalidade mais comum, no caso de citação por edital, é a

citação fundada no desconhecimento quanto ao local em que se encontra o réu. Ou seja, local

incerto ou não sabido.

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d) Por precatória (art. 353)

Quando o réu residir fora do território em que o juiz exerce a jurisdição, a citação será feita por

meio de carta precatória, via da qual o juiz deprecante (o da causa) pede ao juiz deprecado

(aquele da jurisdição onde reside o réu) o cumprimento do ato processual citatório (Pacelli, 2011,

p. 596).

e) Por rogatória (arts. 780, 783 e seguintes)

Faz-se a citação por rogatória se o acusado é residente no exterior, estando o acusado em

lugar sabido, será citado por rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até

o seu cumprimento (art. 368).

O pedido de citação deve ser encaminhado pelo juiz ou tribunal ao Ministro da Justiça,

para envio, por via diplomática, às autoridades estrangeiras competentes.

A parte requerente arca com os custos de envio (art. 222-A).

f) Por carta de ordem

Determinação, por parte do tribunal, superior ou não, de cumprimento de ato ou de diligência

processual a serem realizados por órgãos da jurisdição da instância inferior, no curso de

procedimento da competência originária daqueles (Pacelli, 2011, p. 603). É o que ocorre, por

exemplo, relativamente à citação (e também às intimações), quando quem houver de ser citado

não residir no local da sede da jurisdição do tribunal.

g) Citação do réu preso (art. 360)

O réu preso deverá ser citado pessoalmente, e, depois, requisitado junto à autoridade

policial, para o acompanhamento da audiência de instrução e interrogatório (art. 399, § 1º).

Não é mais possível a citação por edital, independente de onde estiver o preso.

Será por mandado quando o réu estiver na sede da jurisdição da ação penal em curso. E

será por precatória quando em outra jurisdição.

h) Citação do militar (art. 358)

A citação do militar deve ser feita mediante requisição de sua apresentação para interrogatório ao

superior hierárquico, ainda que o militar esteja fora da comarca.

f) Citação do funcionário público (art. 359)

No caso do funcionário público a citação será feita pessoalmente, devendo ser notificado,

também, o chefe da repartição.

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f) Citação do incapaz

A citação do réu incapaz é feita pessoalmente, até mesmo porque se pode não ter notícia ainda

da incapacidade. Se, porém, a incapacidade já for conhecida (art. 149), a citação deverá ser feita

na pessoa do curador designado pelo juízo criminal ou que estiver no exercício legal da curatela.

Sendo a incapacidade comprovada após a instauração da ação penal, deverão ser anulados

quaisquer efeitos resultantes do não-atendimento oportuno ao ato de citação.

2.3 Resposta à acusação

A defesa escrita constitui a primeira intervenção da chamada defesa técnica, isto é, aquela

produzida por profissional do Direito. Início do processo realizado em contraditório. O acusado

poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa. Poderá oferecer

documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas (art. 396-A).

A defesa escrita cumpre as seguintes funções (Pacelli, 2011, p. 667):

• fixação do prazo para o oferecimento do rol de testemunhas;

• especificação de prova pericial;

• apresentação das exceções (art. 95).

Ultrapassado tal prazo, o acusado não poderá requerer validamente a produção de prova

testemunhal, a não ser para o fim de substituir testemunhas, devidamente arroladas, que não

tenham sido encontradas.

Defesa preliminar em outros procedimentos e leis

Código de Processo Penal - crimes afiançáveis de responsabilidade do funcionário público,

art. 514: Nos crimes afiançáveis, estando à denúncia ou queixa em devida forma, o juiz

mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro

do prazo de quinze dias. Observa-se que a defesa preliminar ocorre antes da citação do

acusado.

As leis n. 8.038/90 e 8.658/93 trazem a defesa preliminar nos casos de crimes de

competência originária do Tribunal. Notifica-se o acusado, que é detentor de foro especial

por prerrogativa de função, para responder à acusação em 15 dias, e somente depois

desse momento é que o Tribunal irá analisar sobre o recebimento ou rejeição da peça

acusatória e em seguida, realizar a citação.

Lei n. 9.099/95 (Juizado Especial) e na Lei 11.343/06 (Lei de Drogas) também há

previsões da defesa preliminar.

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Obrigatoriedade da resposta da acusação

A resposta escrita impõe, sob pena de nulidade, que o magistrado nomeie defensor público ou

defensor dativo (nas comarcas onde não houver Defensoria Pública), os quais deverão

apresentá-la, tornando-a, pois uma peça obrigatória.

Preclusão da produção das provas

À exceção da prova documental, que poderá ser produzida a qualquer tempo (art. 231), com as

ressalvas temporais do Tribunal do Júri (art. 479), as demais provas (testemunhal, pericial, etc) se

submetem à preclusão, devendo o acusado requerê-las na defesa escrita.

Exceções na defesa escrita

Importante lembrar que as exceções, art. 95, devem ser apresentadas no prazo para resposta do

réu e devem ser autuadas em apartado, de acordo com o art. 111. Alguns esclarecimentos são

salutares em relação às exceções e suas preclusões. Vejamos.

Exceções dilatórias. Quanto à exceção de suspeição ou de incompetência do juízo a

exceção deve ser feita na mesma oportunidade da apresentação da resposta à acusação

sob pena de preclusão.

Obs. No Processo Penal, diferente do Processo Civil (art. 112, CPC e súmula 33 do STJ – com a

devida ressalva do parágrafo único do art. 112), o juiz pode, de ofício, reconhecer a sua

incompetência relativa (art. 109, CPP), por este motivo a preclusão ocorre somente em relação à

defesa. Porém, o juiz deve proferir tal decisão até antes do início da fase de instrução, a fim de se

preservar o princípio da identidade física do juiz, segundo o qual o juiz que presidir a instrução

deverá sentenciar a causa (Pacelli, 2011, p. 672). Questão que leve ao surgimento da

parcialidade do juiz em momento posterior ao da resposta não causará preclusão.

Exceções peremptórias. E quanto às exceções que tratem de ilegitimidade de parte,

litispendência e coisa julgada, também devem ser opostas no prazo da defesa escrita,

porém, é necessário lembrar que não há preclusão porque são matérias de ordem pública

e podem ser reconhecidas a qualquer tempo. (arts. 108, 110 c/c art. 396).

Lembrando:

exceções processuais dilatórias

Não extinguem o processo, acarretando apenas a dilação de seu procedimento. Exemplo:

exceções de incompetência.

exceções processuais peremptórias

Implicam o encerramento do feito. Exemplo: coisa julgada.

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2.4 Absolvição sumária

Oferecida à resposta escrita, o juiz poderá absolver sumariamente o réu quando verificar (art. 397

e incisos):

excludente da ilicitude (I);

excludente da culpabilidade (II);

excludente da tipicidade (III);

extinção da punibilidade (IV).

Excludente da ilicitude

Acusado agiu de acordo com o princípio da adequação social ou em legítima defesa (art.

25);

Estado de necessidade (art. 24);

Estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de um direito (art. 23).

Excludente de culpabilidade

Erro de proibição (art. 21);

Descriminantes putativas (art. 20, §1º);

Coação moral irresistível (art. 22);

Obediência hierárquica (art.22).

Excludente da tipicidade

Erro de tipo (art. 20);

Desistência voluntária (art. 15);

Bagatela;

Arrependimento eficaz (art. 15);

Crime impossível (art. 17).

Extinção da punibilidade

Artigo 107, incisos I a IX do Código Penal Brasileiro:

morte do agente;

anistia, graça ou indulto;

abolitio criminis;

prescrição, decadência e perempção e perdão judicial.

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Inimputabilidade (caso de absolvição imprópria)

A lei processual penal veda a possibilidade de absolvição sumária para os casos de

inimputabilidade do agente, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou

retardado (art. 26). A proibição tem sentido porque a arguição de inimputabilidade, nessa fase

processual, demandaria incidente de insanidade mental, cuja prova pericial precisa ser realizada.

Além disso, seria indicada a aplicação de medida de segurança, o que configuraria absolvição

imprópria. Há de se ponderar sobre a questão da inimputabilidade que ela poderia ser alegada

para efeitos de absolvição sumária, na hipótese de embriaguez decorrente de caso fortuito ou

força maior (art. 28, §1º), já que nessa situação não se trata de absolvição imprópria, nada

obstando ao juiz o reconhecimento.

Recursos possíveis para a acusação

Apelação nos casos em que o juiz decide o mérito, portanto:

Excludente de ilicitude;

Excludente de culpabilidade;

Excludente de tipicidade.

Recurso em sentido estrito nos casos em que o juiz não decide o mérito (terminativa), portanto:

Extinção da punibilidade.

2.5 Audiência de Instrução e Julgamento

Não sendo caso de absolvição sumária, o juiz irá designar dia e hora para a realização da

audiência no prazo de 60 dias1. Irá ordenar a intimação das partes, do defensor e, se for o caso,

do querelante e do assistente (arts. 399 e 400). O ofendido também deverá ser intimado para a

audiência, em conformidade com o art. 201 – alterado pela Lei 11.690/08 – comunicação dos atos

processuais ao ofendido.

Procedimentos da Audiência de Instrução e Julgamento (AIJ):

declarações da vítima;

oitiva de testemunhas (acusação e defesa - máximo de 8 testemunhas para cada parte);

esclarecimento de peritos, reconhecimentos ou acareações (fase facultativa);

interrogatório do acusado;

diligências (art. 402 a 404);

1 Pela realidade processual brasileira, este prazo (60 dias) é considerado impróprio pela doutrina. O processo penal

deve ter um prazo razoável, ou seja, não deve ter excesso. Porém, esta razoabilidade deve ser analisada pela complexidade do caso, por exemplo, em um caso em que existam muitos réus, já é esperado que o tempo razoável será mais extenso.

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alegações finais orais (20 minutos, podendo ser prorrogado por mais 10 minutos);

sentença oral.

Testemunhas

No procedimento ordinário podem ser arroladas até 8 testemunhas. (No procedimento

sumário são 5 testemunhas e no procedimento do Tribunal do Júri são 8 na primeira fase e

5 em plenário).

Não se incluem no rol de testemunhas as pessoas: que não prestam compromissos (art.

208); as que nada souberem sobre os fatos (art. 209, § 2º); as chamadas testemunhas

referidas.

As partes podem desistir de depoimentos e não será necessária a concordância da parte

adversa. Por isso, havendo interesse no depoimento, a defesa deverá sempre arrolar a

testemunha, ainda que também arrolada pela acusação, porque esta poderá daquela

desistir.

As testemunhas serão inquiridas diretamente pelas partes (art. 212 e parágrafo único,

CPP – alterado pela lei 11.690/08).

Com os depoimentos das testemunhas podem surgir “novos nomes” que são as chamadas

testemunhas referidas, assim, as partes poderão requerer os respectivos depoimentos (art.

401, § 1º).

Interrogatório do acusado

A Lei 11.900/09 prevê o interrogatório por meio de videoconferência em determinadas

hipóteses, além da realização do aludido ato processual (interrogatório) em sala própria no

estabelecimento prisional.

A presença do acusado em interrogatório – e também em audiência -, como regra, não é

obrigatória, ressalvadas as hipóteses em que seja necessária a sua identificação física.

O acusado será interrogado diretamente pelo juiz e, no final, será permitida a intervenção

das partes (art. 188).

Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para as alegações orais das defesas será

considerado individualmente (art. 403, § 1º).

Assistentes técnicos para apreciação da perícia oficial

O Ministério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante e o acusado

poderão indicar assistente técnico.

Não se exige que as partes indiquem assistentes periciais e requeiram os esclarecimentos

técnicos em audiência por ocasião da defesa escrita. Ao contrário, a lei determina que tais

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17

providências devem ser requeridas com pelo menos 10 dias de antecedência da audiência

(art. 159, §§ 4º e 5º).

Iniciativa probatória do juiz

A Lei 11.719/08 reitera a aplicação do art. 209, que autoriza a inquirição de testemunhas

ex officio, pelo juiz (art. 401, § 2º).

O juiz poderá indeferir as provas consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias

(art. 400, § 1º).

Provas ilícitas

O desentranhamento da prova ilícita, nos termos do art. 157, § 3º, estará sujeito à

preclusão. Se produzida durante a audiência deve ser impugnada com o recurso de

apelação. Porém, se produzida antes da audiência de instrução e julgamento será cabível

o recurso em sentido estrito (art. 581).

O art. 157 reitera a garantia constitucional de que são inadmissíveis as provas ilícitas,

conceituando-as como as obtidas em violação à norma constitucional ou legal. O referido

dispositivo aplica-se apenas às provas ilícitas, pois estas podem violar tanto preceito

constitucional quanto norma de direito material, como as que tipificam condutas

criminosas, por exemplo.

Princípio da identidade física do juiz

O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença (art. 399, § 2º).

Observação: Antes da Lei n. 11.719/2008, não havia previsão legal do princípio da

identidade física do juiz, sendo este um diferencial do Processo Penal em relação ao

Processo Civil.

Novas diligências

As partes poderão requerer novas diligências, quando fundadas nas provas produzidas em

audiência (art. 402);

Alegações orais

As alegações finais orais ocorrerão da seguinte forma: 20 minutos para a acusação e 20

minutos para a defesa, prorrogáveis, para ambos, por mais 10 minutos. Caso haja

assistente de acusação este terá 10 minutos para alegações finais após o representante

do Ministério Público, tempo este que será aumentado no prazo da defesa (art. 403, § 2º).

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Quando houver a necessidade probatória complexa que demande exame mais cuidadoso,

as partes não farão as alegações orais e será permitida a apresentação de memoriais no

prazo de 5 dias e se fixará novo prazo de 10 dias para a sentença (art. 403, § 3º).

Suspensão condicional do processo

Não há previsão expressa sobre a oportunidade do sursis processual, sendo de todo

inconveniente deixá-lo para o interrogatório, pois implicaria realizar suspensão do processo

no seu final.

Também não é prático ou econômico realizar a audiência de suspensão na abertura da

instrução, pois isso implicaria mobilizar testemunhas, ofendido e peritos

desnecessariamente para o ato.

Inviável, igualmente, a realização de audiência especial para esse fim, sequer havendo

previsão legal para tanto, o que retardaria indevidamente a marcha do processo.

Assim, a melhor opção é vincular a proposta do Ministério Público à citação, a fim de que o

réu, na defesa escrita, manifeste sua aceitação ou recusa, caso em que, aí sim, poderá ser

designada audiência específica para implantação do sursis processual.

Possibilidade de fracionamento dos atos da audiência

Existem duas situações que possibilitam o fracionamento dos atos da audiência:

1ª - No caso da realização de diligências imprescindíveis requeridas e admitidas com

fundamento no art. 402, CPP (art. 404);

2ª - Quando o juiz reconhecer a complexidade da causa (questões de fato e de direito) ou

o excessivo número de acusados (art. 403, § 3º).

Nas duas situações, será concedido o prazo de 5 dias às partes para a apresentação de

memoriais de alegações finais escritas, sentenciando o juiz no prazo de 10 dias (art. 403, §

3º, art. 404, parágrafo único).

Emendatio libelli

O emendatio libelli (emenda da acusação) é a correção da inicial para o fim de adequar o

fato narrado e efetivamente provado ao tipo penal previsto na lei. Ou seja, o juiz poderá

atribuir definição jurídica diversa da contida na denúncia ou queixa, mesmo que tenha que

aplicar pena mais grave (art. 383). Entende-se por definição jurídica precisamente a

capitulação ou classificação feita pelo autor na inicial, em cumprimento da exigência

prevista no art. 41. Ou seja, o fato continua o mesmo.

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O emendatio será possível, também, em segundo grau, porém, com limitações em função

da proibição da reformatio in pejus (reforma para pior), segundo o qual o julgamento do

recurso não poderá ser mais desfavorável que a decisão de primeira instância, em relação

à impugnação aviada exclusivamente pelo recorrente. Não havendo recurso do Ministério

Público, o Tribunal não poderá piorar a situação do acusado com base no recurso por ele

interposto (Pacelli, 2011, p. 632).

Se a modificação do enquadramento jurídico do fato resultar crime para o qual seja

prevista a suspensão condicional do processo (art. 89, Lei n. 9.099/95), deverá o juiz abrir

vista ao Ministério Público (art. 383, § 1º, CPP).

Se da alteração na classificação houver modificação da competência do juízo, os autos

deverão ser encaminhados a estes (art. 383, § 2º).

Mutatio libelli

Quando for cabível a mutatio libelli (mudança da acusação), ou seja, for cabível nova

definição jurídica do fato que não está contida na acusação, obrigatoriamente deverá o MP

aditar a denúncia no prazo de 5 dias (art. 384), em seguida, o defensor do acusado será

ouvido no prazo de 5 dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das

partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de

testemunhas (até três testemunhas poderão ser arroladas pelas partes), novo

interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento (art. 384, § 2º).

Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá (art. 384, § 5º).

No caso do mutatio libelli não ocorrerá apenas à alteração da classificação como ocorre no

emendatio libelli, mas, ocorrerá a alteração da própria imputação do fato.

Observação: a redação anterior previa apenas o aditamento na hipótese de aplicação de

pena mais grave, ou seja, se a alteração fosse para a aplicação de pena menor ou igual

àquela do delito imputado inicialmente ao réu, cabia ao próprio juiz a referida alteração,

sem a necessidade do aditamento pelo Ministério Público. Com a alteração, independente

da pena a ser aplicada, igual, mais branda ou mais grave, obrigatoriamente deverá ser

feito o aditamento, para que o contraditório e a ampla defesa possam ser exercidos em sua

plenitude, a partir da ciência exata de qual é o teor da acusação.

A mutatio não se aplica as ações penais privadas, a não ser à subsidiária da pública,

instaurada em razão de inércia do parquet (art. 29).

Na mutatio não há ação nova, mas aproveitamento daquela já instaurada, em razão de

provas surgidas apenas na fase de instrução. Como exemplo, no caso de furto, ao qual

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20

acrescida à violência como fato novo a nova definição passará a ser de roubo. O núcleo da

ação, subtração da coisa, continuará o mesmo (Pacelli, 2011, p. 636).

Outras regras relevantes: não existe mutatio libelli em segunda instância. Se o fato

provado é distinto do fato narrado e não houve recurso da acusação, só da defesa, no

recurso da defesa não pode o Tribunal prejudicar o réu, ainda que se vislumbre outro delito

(mais grave).

Sentença

O art. 381 dispõe sobre o que deverá conter em uma sentença, no entanto, criou-se no

meio jurisprudencial e doutrinário uma forma simplificada para classificar tais requisitos,

assim, na sentença deve obrigatoriamente constar o RELATÓRIO, a FUNDAMENTAÇÃO

e o DISPOSITIVO. O relatório é o resumo de todos os atos que ocorreram durante a

tramitação processual e que se encontram nos autos, ou seja, um histórico processual,

sendo inclusive causa de nulidade se o mesmo não constar na sentença. A fundamentação

é a parte da sentença que abriga os motivos de fato e de Direito que servem de

fundamentos para a decisão. Tal requisito encontrou guarida na Constituição Federal, no

art. 93, inciso IX, que estabelece que toda decisão proferida pelo órgão judiciário deverá

ser fundamentada, sob pena de nulidade da mesma. Não é outro tal requisito, senão o de

mostrar as partes que o que foi decidido está de acordo com o que foi amplamente

discutido no processo, em todos os seus termos, e que a decisão do juiz não se afastou do

universo dos autos. O dispositivo da sentença é exatamente a parte em que o juiz decidirá

sobre a pretensão punitiva. Pode-se, sem qualquer dúvida, dizer que é a parte mais

importante da sentença, pois é revelado através dela às conclusões do julgador,

estabelecendo, também, os limites da coisa julgada.

Embargos de Declaração. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 dias, pedir ao juiz

que declare a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição

ou omissão (art. 382).

Conforme o art. 386, o juiz absolverá o réu, nos seguintes casos: inexistência do fato ou

por falta de prova da existência do fato; não constituir o fato infração penal; o réu não

concorreu para a infração penal ou por não existir prova de ter o réu concorrido para a

infração penal; existência de circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena

(arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver

fundada dúvida sobre sua existência; não existir prova suficiente para a condenação.

Na sentença absolutória o juiz tomara as seguintes medidas (art. 386, parágrafo único e

incisos): caso o réu esteja preso, o juiz determinará a soltura imediata do acusado (inciso I

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21

e art. 596); ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas

(inciso II); aplicará medida de segurança, se cabível (inciso III).

Sendo a sentença condenatória o juiz aplicará a pena considerando a dosimetria (cálculo)

da pena, momento em que o Estado – detentor do direito de punir (jus puniendi) – através

do Poder Judiciário, comina ao indivíduo que delinque a sanção que reflete a reprovação

estatal do crime cometido.

O Código Penal Brasileiro, em sua parte especial, estabelece a chamada pena em

abstrato, que nada mais é do que um limite mínimo e um limite máximo para a pena de um

crime (Exemplo: Artigo 121. Matar Alguém: Pena: Reclusão de seis a vinte anos). A

dosimetria da pena se dá somente mediante sentença condenatória. A dosimetria atende

ao sistema trifásico estabelecido no artigo 68 do Código Penal, ou seja, atendendo a três

fases: fixação da pena base; análise das circunstâncias atenuantes e agravantes; análise

das causas de diminuição e de aumento.

Por mais que o Ministério Público requeira a absolvição do acusado em alegações finais, o

juiz poderá proferir sentença condenatória, bem como, reconhecer agravantes ou

atenuantes (art. 387, I), embora nenhuma tenha sido alegada (art. 385).

O art. 387 dispõe sobre a obrigatoriedade do juiz, ao proferir sentença condenatória, fixar

valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos

sofridos pelo ofendido. Esta previsão legal tem escopo na necessidade de agilizar a

indenização da vítima de um ilícito penal (ação civil ex delicto). Observação: esta previsão

legal não impede que a vítima mova ação civil indenizatória, nos termos do art. 64. A

inovação decorre do fato da sentença penal condenatória, que já era um título executivo

judicial após o trânsito em julgado, também fixar o valor mínimo indenizatório o que

facilitará sua execução, pois não será necessário liquidar a sentença. Caso uma das partes

não fique satisfeita com o quantum fixado, poderá recorrer ou, no caso do ofendido,

promover a liquidação no cível para a indenização ex delicto.

Determinará a publicação da sentença (art. 387, inciso VI).

Se for o caso, fundamentará sobre a manutenção ou a imposição da prisão preventiva ou

de outra medida cautelar (art. 387, inciso VI, parágrafo único).

O réu preso será intimado pessoalmente da sentença e o réu solto será intimado

pessoalmente ou por seu procurador (art. 392, incisos I e II).

O prazo para impugnação recursal da sentença, incluindo os embargos de declaração, terá

início a partir da última intimação realizada (do acusado ou do defensor).

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3 PROCEDIMENTO COMUM SUMÁRIO

Diferenças entre os ritos ordinário e sumário:

PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

PROCEDIMENTO SUMÁRIO

Pena máxima igual ou superior a 4 anos. Pena máxima inferior a 4 anos.

A Audiência de Instrução e Julgamento

deverá ser realizada no prazo máximo de

60 dias.

A Audiência de Instrução e Julgamento

deverá ser realizada no prazo máximo de

30 dias.

Arrolamento de no máximo 8 testemunhas

por parte.

Arrolamento de no máximo 5 testemunhas

por parte.

Na instrução há previsão de requerimento

de diligências.

Na instrução não há previsão de

requerimento de diligências.

Há previsão de memoriais. Não há previsão de memoriais.

Observação: Dizer que não há previsão não significa dizer que é proibido. Pois, podem existir

diligências que são imprescindíveis, o que pode levar a necessidade, inclusive, de apresentações

de memoriais (alegações escritas em substituição de alegações orais), assim, seguindo,

subsidiariamente, às regras do rito ordinário. No mais, os dois ritos são idênticos. Ou seja, os atos

processuais são idênticos.

3.1 Procedimento sumário - arts. 531 a 540

Art. 531. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30 (trinta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se, finalmente, ao debate.

Não há no dispositivo a permissão de conversão dos debates orais em juntada posterior de

memoriais. Porém, entende-se que pelo fato do art. 403, § 3º, artigo que dispõe sobre a

possibilidade de memoriais, constar no Título I que se refere ao Procedimento Comum, tal

previsão poderá ser aplicada ao procedimento sumário, se necessário for.

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Art. 532. Na instrução, poderão ser inquiridas até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela acusação e 5 (cinco) pela defesa.

O número de testemunhas é reduzido em relação ao rito ordinário. A menor complexidade

dos crimes menos graves e que recebem penas menores, justificam a diminuição do

número de testemunhas permitido a cada uma das partes.

Art. 533. Aplica-se ao procedimento sumário o disposto nos parágrafos do art. 400 deste Código. Art. 400 [...] § 1º As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. § 2º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes.

Não há previsão de requerimento de diligências. Entende-se, entretanto, que caso a

instrução traga prova que sugira a realização de nova diligência não há impedimento para

que a parte a requeira ou mesmo que o Juiz de ofício determine a realização. Inteligência

dos princípios processuais da ampla defesa, contraditório e busca da verdade real.

Art. 534. As alegações finais serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. § 1º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual. § 2º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.

Embora não haja previsão da possibilidade de fixação de prazo para juntada de memoriais

em substituição aos debates orais, como já analisado anteriormente, pode ser aplicado,

também, a regra do art. 800, I, § 3º.

Art. 800 - Os juízes singulares darão seus despachos e decisões dentro dos prazos seguintes, quando outros não estiverem estabelecidos: I - de 10 (dez) dias, se a decisão for definitiva, ou interlocutória mista; [...] § 3º - Em qualquer instância, declarando motivo justo, poderá o juiz exceder por igual tempo os prazos a ele fixados neste Código.

Assim, caso o juiz, ao final de instrução, não se sinta apto a julgar de pronto em audiência,

devido à complexidade da causa, poderá permitir que as partes apresentem memoriais em

prazo sucessivo a fim de permitir a melhor análise das complexas questões que envolvam

o julgamento. E isso porque a celeridade do processo não se deve sobrepor à busca da

verdade real (por mais utópica que seja).

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Art. 535. Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível a prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.

Na primeira parte do dispositivo, entende-se, também, que o Juiz poderá recusar o pedido

de adiamento da audiência em virtude da ausência de uma testemunha faltante, por

exemplo, caso entenda que não há nada a ser provado por intermédio de testemunhas.

Art. 536. A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no art. 531 deste Código.

A condução coercitiva da testemunha faltante torna-se alternativa para a realização da

audiência.

Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal encaminhar ao juízo comum às peças existentes para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.

As hipóteses de remessa dos autos do Juizado Especial para o Juízo comum estão

previstas nos artigos 66, Parágrafo Único e 77 da Lei 9.099/95.

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CRONOGRAMA DO PROCEDIMENTO SUMÁRIO

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4 PROCEDIMENTO COMUM SUMARÍSSIMO

4.1 Dos Juizados Especiais Criminais

A Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995, instituiu os juizados especiais criminais, com

competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais.

Observação: a pressa e a informalidade com que as questões podem ser tratadas – e a realidade

demonstra tal incidência – nos Juizados, com os olhos voltados para a eficiência e a rápida

satisfação dos interesses em conflito, podem ser altamente nocivas à realização da Justiça Penal.

Todo o cuidado é pouco, sobretudo no que se refere à atuação dos órgãos do Ministério Público e

do Judiciário, responsáveis, cada um à sua maneira, pela administração dos Juizados. Mas, ainda

que assim seja, pensamos que os Juizados Especiais Criminais vieram para ficar. E devem

mesmo ficar (PACELLI, 2011, p. 734).

Critérios e propósitos da Lei n. 9.099/95 (art. 62):

oralidade;

informalidade;

economia processual;

celeridade;

o quanto possível, a não aplicação da pena privativa de liberdade.

Observações: além destes critérios e propósitos, entende-se que a Lei n. 9.099/95 tem como

contexto um movimento desencarcerizador. Esse movimento, cujo ápice resultou na Lei n.

9.714/98 (dispõe sobre as penas restritivas de direito), que amplia a aplicação das chamadas

penas alternativas, procura afastar, como já especificado acima, o quanto possível, a imposição

da pena privativa da liberdade. Bem como, na atualidade, nessa linha de compreensão, a Lei

12.403/11, que trata das novas medidas cautelares pessoais, diversas da prisão, insere-se

também nesse contexto descarcerizador, ampliando o leque de alternativas para a proteção da

efetividade do processo, sem recorrer à privação da liberdade. (PACELLI, 2011, p. 735).

Infrações de menor potencial ofensivo

O art. 61 da Lei em análise, alterado pela Lei n. 11.313/06, considera às infrações de menor

potencial às contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2

(dois) anos, cumulada ou não com multa. Exemplos:

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Contravenções:

vias de fato;

omissão de cautela na guarda ou condução de animais;

perturbação do trabalho ou do sossego alheios;

importunação ofensiva ao pudor;

perturbação da tranquilidade.

Crimes:

ameaça;

lesão corporal leve;

desobediência;

dano;

ato obsceno;

comunicação falsa de crime ou contravenção;

exercício arbitrário das próprias razões;

dirigir sem habilitação causando perigo de dano.

Possibilidades de afastamento da competência dos Juizados Especiais Criminais

Nos termos do art. 60, parágrafo único, a competência dos JEC poderá ser afastada nos

seguintes casos: conexão e continência. Porém, salienta-se que, nem a gravidade dos crimes

conexos e/ou continentes que determinarem a atração do foro (arts. 78 e seguintes, CPP) poderá

impedir a aplicação dos institutos da Lei n. 9.099/95 aos crimes de menor potencial ofensivos ali

reunidos, e, de outro lado, nem se exigirá a referida aplicação (da Lei n. 9.099) para os delitos

mais graves. (PACELLI, 2011, p. 736). Ou seja, por mais que a infração de menor potencial

ofensivo seja atraída para a Justiça Comum, pela conexão ou continência, este juízo deverá

aplicar a transação penal e a composição civil. Percebe-se, portanto, que não há nenhuma

privatividade dos juizados para o julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo, como

facilmente se percebe da leitura do art. 98, I, CF. E, ainda, percebe-se que, o que é especializado

nos Juizados é o rito procedimental e a possibilidade de transação penal, consoante os termos do

referido artigo constitucional.

Também é especificado no artigo 66, parágrafo único, da Lei n. 9.099, outra possibilidade de

afastamento da competência do Juizado Criminal: “não encontrado o acusado para ser citado, o

juiz encaminhará as peças existentes ao juízo comum para adoção do procedimento previsto em

lei.”

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Bem como, é especificado no § 2º do artigo 77: “se a complexidade ou circunstâncias do caso

não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o

encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei”. Assim,

podemos concluir por quatro hipóteses de afastamento da competência do Juizado Criminal,

sendo elas:

conexão (art. 60);

continência (art. 60);

réu não encontrado (art. 66, parágrafo único);

complexidade ou circunstâncias do caso (art. 77, § 2º).

Competência e atos processuais (art. 63)

A competência territorial, nos Juizados Criminais, é firmada pelo lugar em que for praticada

a infração penal (teoria da atividade), conforme o disposto no art. 63 da Lei n. 9.099, ao

contrário do que dispõe o art. 70 do CPP, em que a competência é firmada pelo local em

que se produziu o resultado (teoria do resultado), como também, ao contrário do que

dispõe o art. 6º do Código Penal, em que a competência é firmada tanto no local da pratica

da infração como no local do resultado (teoria da ubiquidade).

Mas, pela doutrina (apesar de não haver unanimidade), entende-se que a teoria aplicada

nos Juizados Criminais é a de ubiquidade.

Quando falamos em teoria de ubiquidade, entendemos que se considera lugar da infração

tanto onde ocorreu à ação ou omissão como onde se produziu ou deveria se produzir o

resultado, conforme o disposto no art. 6º do CP. (PACELLI, 2011, p. 744).

Citação do réu (art. 66)

A citação do réu deve ser sempre pessoal, na sede do Juizado, ou por mandado. Assim,

não há possibilidade de citação por edital e nem por hora certa.

E, não se encontrando o réu, o juiz deve remeter o processo para o juízo comum, para a

adoção do procedimento sumário (art. 66, parágrafo único, Lei n. 9.099, c/c art. 538, CPP).

Intimações (art. 67)

Já as intimações, destinadas a dar conhecimento da existência da prática de ato

processual já realizado ou em vias de sê-lo, poderão ser feitas por meio de

correspondência, com aviso de recebimento pessoal.

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Tanto no ato de intimação do autor do fato como no mandado de citação do acusado,

constará a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a

advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público.

Tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, a intimação ocorrerá mediante entrega

ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo

necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou

ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.

Fase preliminar (processo conciliatório)

O processo conciliatório se inicia com uma fase denominada de preliminar. A autoridade

policial, após lavrar termo circunstanciado da ocorrência (TCO), deverá conduzir o suposto

autor e a alegada vítima ao Juizado, providenciando, desde logo e se necessário, as

requisições dos exames periciais necessários à constatação dos danos, bem como de

quaisquer circunstâncias e elementares cuja existência dela dependa (art. 69). Como já

dito, sempre que possível será evitado à imposição de pena privativa de liberdade,

portanto, não deverá ser imposta a prisão em flagrante, nem a fiança e nem a aplicação de

medidas cautelares (arts. 319 e 320 do CPP), bastando que o suposto autor compareça

imediatamente ao Juizado ou a ele se comprometa a comparecer posteriormente.

Tratando-se, portanto, de uma liberdade provisória vinculada. A única exceção diz respeito

aos casos de violência doméstica, hipótese em que caberá o afastamento do lar ou do

local em que reside a vítima.

A audiência de conciliação poderá ser conduzida por conciliador, preferencialmente

bacharel em direito, sob supervisão do juiz. O não comparecimento do suposto autor ao

Juizado não implicará em imposição da prisão. Em primeiro lugar, porque não há, no

Juizado, a possibilidade de restauração da prisão em flagrante. Em segundo lugar, porque

não há determinação legal para a prisão preventiva no caso de não cumprimento do

comparecimento ao Juizado Criminal. Neste caso, a prisão, somente, seria possível pela

motivação e fundamentação do risco concreto à aplicação da lei penal. Mas, de qualquer

forma, não havendo o comparecimento do suposto autor, de acordo com o art. 71, a

secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma

dos arts. 67 e 68 desta Lei. Comparecendo o suposto autor e a vítima, devidamente

acompanhados por seus advogados, será realizada a audiência preliminar, cujo objetivo

maior será a composição civil dos danos causados pela infração penal e a transação

penal, com a imposição de pena diversa da privativa da liberdade.

Page 30: MATERIAL DE APOIO. PROCESSO PENAL III. 2014.1..pdf

30

Composição civil dos danos

Nos Juizados Especiais Criminais, busca-se, sempre que possível, um acordo entre o autor e a

vítima quanto ao fato que deu causa ao processo. Quando a vítima sofre um prejuízo com o delito

praticado pelo autor do fato, pode haver uma indenização mediante o pagamento de determinada

quantia em dinheiro pelo autor. Por exemplo, o autor do fato atira uma pedra no carro da vítima e

quebra um vidro, mas na audiência ele faz um acordo e paga o valor do prejuízo. Nesse caso, o

acordo de indenização se chama composição civil e põe fim à questão criminal.

A sentença homologatória do acordo será irrecorrível e constituirá título executivo no cível

(art. 74);

Para a ação penal privada e pública condicionada à representação do ofendido: o acordo

homologado implicará a renúncia ao direito de queixa e o direito de representação,

extinguindo-se a punibilidade do fato (art. 74, parágrafo único);

Tratando-se de ação pública incondicionada, a composição civil dos danos não tem

qualquer efeito em relação à persecução penal, valendo, contudo, como título executivo no

cível. Ou seja, a vontade do ofendido não impede nem condiciona a atuação estatal.

Não havendo a composição civil dos danos, segue-se ao próximo item.

Transação penal (processo de conciliação propriamente dita)

Nos delitos de competência dos Juizados Especiais Criminais, a Lei permite que o

Promotor de Justiça faça um acordo com o autor do fato, propondo para este uma pena

alternativa, antes de oferecer a denúncia. Caso o autor do fato e seu advogado aceitem a

proposta de transação penal e seja cumprida a pena aceita, o processo acaba sem se

discutir se o autor do fato é culpado ou inocente. Se não forem cumpridos os termos da

transação penal, o Ministério Público (Promotor de Justiça) poderá oferecer denúncia e o

processo ser reiniciado.

A transação penal pode ser proposta pelo Promotor quando houver indícios de que o autor

do fato praticou um delito de menor potencial ofensivo e ele for primário e preencher os

demais requisitos legais. O autor de fato só poderá fazer um acordo desse a cada cinco

anos.

A transação penal constitui direito subjetivo do réu. A discricionariedade que se reserva ao

Ministério Público é unicamente quanto à pena a ser proposta na transação; restritiva de

direitos ou multa, nos termos do art. 76 da Lei n. 9.099/95. Assim, não se pode permitir que

o próprio juiz realize com o réu, a transação penal. A presença do Ministério é mesmo

indispensável.

Page 31: MATERIAL DE APOIO. PROCESSO PENAL III. 2014.1..pdf

31

Não entendendo o órgão do parquet ser o caso de transação, por ausência dos requisitos,

por exemplo, e este entendimento gerar controvérsias, a solução será a remessa dos autos

ao órgão superior com competência de revisão, como é o caso do Procurador-Geral de

Justiça (art. 28, CPP), isto no âmbito da Justiça Estadual.

Sendo que, o próprio juiz, entendendo que a hipótese era efetivamente de transação penal,

por preencher o acusado todos os requisitos previstos em Lei e por se tratar de infração

penal para a qual ela seja cabível, deverá rejeitar a peça acusatória por falta de justa

causa (art. 395, III, CPP) ou mesmo por falta de interesse de agir (II).

A Lei n. 9.099, em seu art. 76, prevê a transação penal para as ações: penais públicas

condicionadas à representação; penais públicas incondicionadas. Portanto, foram

excluídas pelo legislador, as ações penais privadas. Ou seja, não haverá transação penal

nestes tipos de ações. Porém, alguns teóricos entendem que quando não houver a

composição civil, será possível a transação penal nas ações privadas, mas, a questão não

é pacificada.

Requisitos para a transação penal (art. 76):

I - não ter sido o autor anteriormente condenado à pena privativa de liberdade, pela prática de

crime, por sentença definitiva (a condenação anterior por contravenção não impede a transação);

II - não ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de

pena restritiva ou multa;

III - não serem desabonadores os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,

bem como os motivos e as circunstâncias não serem desfavoráveis.

A pena imposta na transação não implica reconhecimento de culpa nem gera quaisquer

outros efeitos penais que não o fato de impedir o exercício do mesmo direito pelo prazo de

cinco anos (art. 76). Ou seja, não se torna o acusado um reincidente.

Da decisão que defere ou indefere a transação penal poderá ser interposta apelação, no

prazo de dez dias, para a Turma Recursal do Juizado (art. 76, § 5º).

Suspensão do Processo

Oferecida à denúncia, que pode ser oral, abre-se a possibilidade de aplicação da

suspensão do processo. A priori, tão só as ações públicas, condicionadas ou não, é que

podem dar ensejo à medida, mas há opinião da doutrina pela extensão do dispositivo às

ações privadas.

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32

O instituto é aplicável às infrações cuja pena mínima cominada seja igual ou inferior a um

ano, sejam ou não da competência do Juizado Especial, ou seja, incluem-se as

competências especiais, e constitui-se na possibilidade de suspensão do processo por dois

a quatro anos (período de prova) mediante imposição de uma série de condições. (art. 89

da Lei n. 9.099/95).

A suspensão do processo, transação penal ou sursis processual, como prefere Damásio

de Jesus, fundamentam-se em dois princípios, quais sejam: a autonomia da vontade do

acusado que tem liberdade de recusá-la, e da desnecessidade da pena de prisão.

Cabe a proposição ao Ministério Público, sendo verdadeiro poder-dever e até mesmo

direito público subjetivo do acusado, e deve a proposta trazer de forma clara e expressa as

condições para apreciação do acusado. Caso o Ministério Público não faça a proposta de

suspensão do processo, estando os requisitos preenchidos, a súmula 696 do STF

determina que: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional

do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo,

remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de

Processo Penal”.

A submissão do acusado, que resulta de transação, é ato voluntário, personalíssimo,

absoluto, vinculante e tecnicamente assistido, sujeito ao controle do magistrado.

Requisitos da Suspensão

Que tenha sido recebida a denúncia e não seja caso de perdão judicial.

Que se trate de crime cuja pena mínima abstratamente cominada seja igual ou inferior a

um ano, levando-se em conta as causas de aumento e diminuição de pena (aumento a

mínima e diminuição a máxima).

Em se tratando de concurso de crimes, a soma das penas, ou o aumento mínimo, no caso

de concurso formal, deve ser inferior a 1 ano. Quando se tratar de concurso de agentes,

deve ser analisado o cabimento do benefício de forma individual, sendo possível o

desmembramento do feito.

Que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro

crime, afastando-se os casos de pena de multa.

Não reincidência em crime doloso (Art. 77, inc. I do CP).

Que os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como, os motivos

e circunstâncias autorizem o benefício (art. 77, inc. II do CP). Exclui-se o inciso II do

dispositivo assim como o inc. III referente à culpabilidade posto que só o processo pode

apurá-la. .

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33

Condições da Suspensão

Aceita a proposta, aplica-se o período de prova, em cujo transcurso não corre prescrição, e sob

as seguintes condições:

reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

proibição de frequência a determinados lugares;

comparecimento pessoal e obrigatório em juízo mensalmente para prestar informações ou

outras condições reputadas necessárias.

condições facultativas: no caso de quaisquer outras constitucionalmente possíveis, desde

que não atinjam direitos constitucionais.

Revogação e Cumprimento da suspensão

A Lei n. 9.099/95 prevê hipótese de revogação obrigatória e de revogação facultativa da

suspensão do processo, tal como ocorre com o sursis do art. 77 do CP.

Revogação: Causas obrigatórias (art. 89, § 3º)

Quando o acusado não efetuar reparação do dano, salvo justo motivo;

Se for processado por outro crime.

Revogação: Causas facultativas (art. 89, § 4º)

Se o acusado vier a ser processado por contravenção;

Se houver o descumprimento de quaisquer das condições impostas.

Com a revogação retoma-se o curso do processo. Vencido o período de prova sem revogação do

benefício extingue-se a punibilidade, apagando-se qualquer efeito, sendo possível, inclusive a

concessão de novo benefício.

Observações finais:

a suspensão condicional do processo é cabível em qualquer procedimento, comum ou

especial, desde que preenchidas as condições do art. 89, com as seguintes exceções:

justiça militar (Lei n. 9.839/99, que criou o art. 90-A na Lei n. 9.099/95); crimes praticados

com violência doméstica e familiar contra a mulher (art. 41 da Lei n. 11.340/06)

Também, é salutar a observação de que, com a suspensão condicional do processo, tal

como ocorre com o art. 77 do CP, não haverá paralisação total do processo, tendo em

vista a imposição de determinadas restrições de direito que é feita ao réu, a exigir dele

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34

determinados comportamentos para o cumprimento das obrigações judicialmente fixadas.

O que estará suspenso, pois, é o curso regular do processo. Uma vez suspenso o

processo, não se avançara para as fases subsequentes do procedimento, até que o réu

seja submetido ao período de prova, isto é, ao cumprimento das obrigações assumidas

para o fim da suspensão do processo (PACELLI, 2011, p. 686).

Ainda, ressalva-se que não há qualquer problema no oferecimento da proposta de

suspensão quando já estiver em curso a ação penal, desde que não esteja já sentenciada.

Havendo já decisão definitiva, ainda que não passada em julgado, não poderá ser

realizada a suspensão do processo (PACELLI, 2011, p. 687). Nesse aspecto, é bom

relembrarmos que, mesmo na fase da sentença, prevê o CPP, art. 383 e art. 384, a

possibilidade de aplicação da suspensão condicional do processo, se e quando for

operada a desclassificação (emendatio libelli) ou nova definição jurídica do fato por meio

da mutatio libelli (art. 384, CPP).

4.2 Procedimento Sumaríssimo

Recusada a transação penal, os autos irão ao Ministério Público, para o imediato oferecimento da

denúncia (art. 77), ou para o ofendido, se privada a ação penal (art. 77, § 3º). Em ambos os casos

o oferecimento será oral e será reduzido a termo. A denúncia ou a queixa serão fundamentadas

pelo Termo de Ocorrência (art. 69 – termo circunstanciado). Lembrando que, neste momento, no

caso de ação penal de iniciativa pública, se o Ministério Público entender que a complexidade ou

circunstâncias do caso não permitem a formulação da denúncia, poderá requerer ao Juiz o

encaminhamento das peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto

em lei. Sendo que, neste juízo, a modalidade do procedimento comum a ser adotada é o sumário

(art. 538, CPP). Ainda, salienta-se que o juiz poderá declinar de sua competência para o juízo

comum, sempre que entender que a causa exige maior complexidade na sua instrução

probatória. Caso ocorra discordância entre o MP e o juiz quanto à complexidade da causa, para

fins de remessa ao juízo comum, a solução será a aplicação do art. 28 do CPP, ou seja, a

questão deve ser encaminhada ao procurador-geral.

Proposta a ação penal

Seguindo o procedimento, proposta a ação, o juiz irá designar a data e o horário da Audiência de

Instrução e Julgamento. Todos os presentes neste momento de fase preliminar serão

considerados cientes. Aquele que não estiver presente será intimado por correspondência, salvo

se for o acusado que, neste caso, será citado por mandado (arts. 66 e 68) e não intimado por

correspondência (art. 67). Porém, se o juiz entender que o fato não constitui crime deverá ele, de

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35

plano, sem determinar a citação do acusado e a intimação dos demais interessados, rejeitar a

peça acusatória. Por esta decisão será cabível o recurso de apelação, de acordo com o art. 82,

para a Turma Recursal do Juizado (mesmo não sendo uma decisão de mérito, o recurso cabível

conforme a Lei é a apelação e não recurso em sentido estrito). Nessa questão, observa-se que a

rejeição do procedimento sumaríssimo é diferente do procedimento comum ordinário e sumário.

Isto, porque no procedimento sumaríssimo a rejeição poderá ocorrer tanto por questões

processuais (art. 395, CPP) como por questões de mérito (art. 397, CPP). Por exemplo, o juiz

poderá rejeitar a denúncia ou a queixa com fundamento em atipicidade manifesta (mérito,

portanto). Somente no caso de extinção de punibilidade deverá o juiz absolver sumariamente.

Neste caso, não porque está expresso em lei, mas, pelo fato de ser mais favorável ao réu a

absolvição sumária, do que o simples reconhecimento de causa extintiva de punibilidade.

Audiência de instrução e julgamento

Testemunhas. O réu deverá apresentar as suas testemunhas na data designada,

independentemente de intimação, salvo se requerer, com antecedência mínima de cinco

dias (art. 78, § 1º). As testemunhas arroladas pela acusação serão intimadas por

correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou

firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente

identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado

ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação (art. 67). Não há

previsão expressa, na Lei n. 9.099, referente ao número de testemunhas. Por analogia, a

doutrina entende que o número é de 5 (cinco) testemunhas, ou seja, igual ao procedimento

sumário.

Nova tentativa de conciliação. Se ainda não tiver sido tentada a conciliação entre as partes

na fase preliminar, por ausência do acusado, ou por qualquer outro motivo, o juiz deverá

repetir o procedimento previsto nos arts. 72 a 75, bem como reabrir a fase processual para

a transação penal. Nada impede que o juiz renove também a tentativa de conciliação já

proposta (PACELLI, 2011, p. 754). Frustrada a conciliação, será ouvida a defesa, para o

oferecimento da resposta à acusação (art. 81). Após a referida defesa, o juiz irá rejeitar a

peça acusatória ou recebê-la.

Inquirição das testemunhas e o interrogatório do réu. Sendo recebida a peça acusatória,

serão ouvidas, nesta ordem: - a vítima; - as testemunhas da acusação; - as testemunhas

da defesa; - o réu. No procedimento sumaríssimo não se aplica as hipóteses de

interrogatório por videoconferência, salvo nos casos em que facilite a participação do réu

preso por outra razão (art. 185, § 2º, II, CPP). Não há previsão legal no procedimento

sumaríssimo sobre a intervenção das partes. Alguns teóricos entendem que deverão ser

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seguidos os dispositivos do CPP no que forem pertinentes, ou seja, art. 185 e seguintes.

Assim, devem as partes inquirir as testemunhas diretamente (art. 212, CPP), cabendo o

juiz complementar o ato, ao final. No interrogatório do réu, que, nos termos do art. 186 e

seguintes, CPP, se inicia com o juiz, podendo as partes intervir no final, também se daria

tratamento unitário, de tal maneira que as partes sempre iniciarão as inquirições, findando-

as o juiz. (PACELLI, 2011, p. 754).

Das provas. Todas as provas serão realizadas em audiência (art. 81, § 1º). As provas de

exames periciais ou exames médicos devem se submeter ao contraditório, caso tenham

sido produzidas sem a participação do acusado.

Razões orais e Decisão. Após as inquirições e interrogatórios, o juiz irá facultar às partes a

apresentação de razões orais, proferindo, após, a sua decisão. Não há previsão legal

sobre o tempo das apresentações orais, entende-se que, por analogia seria utilizado o

mesmo prazo determinado pelo rito sumário (art. 534, CPP). O termo de assentada, com a

descrição da ocorrência de todos os atos processuais realizados, será feito de forma

resumida e incluirá a sentença com a motivação do convencimento judicial, sendo

dispensado o relatório (art. 81, § 3º). O prazo para o recurso de apelação será de dez dias,

contados da ciência da sentença pelo MP, do réu e seu defensor. E a segunda instância

dos Juizados Criminais será exercida pelas Turmas Recursais, compostas por três juízes

em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado (art. 82). O

recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.

Da execução

Assim, a Lei n. 9.099/95 dispõe sobre a execução:

Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secretaria do Juizado. Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará extinta a punibilidade, determinando que a condenação não fique constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição judicial. Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei. Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será processada perante o órgão competente, nos termos da lei.

Em relação ao art. 85, salienta-se o parecer de Eugênio Pacelli (2011, p. 756):

A nosso aviso, não há possibilidade de se converter em pena privativa de liberdade as sanções de multa e de restrição de direitos firmadas por ocasião da transação penal (...) pela redação do art. 51 do CP, no qual se estabelece que a pena de multa constituirá dívida de valor, a ser executada pelo mesmo rito da execução fiscal. (...) a par disso, releva notar que a decisão que homologa a transação é uma sentença, ato jurídico perfeito e acabado (...)

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37

CRONOGRAMA DO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

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5 PROCEDIMENTO ESPECIAL DO TRIBUNAL DO JÚRI

Os tratados sobre Direitos Humanos e a devida relevância ao Princípio do Devido Processo Legal

foram os responsáveis pela atual formatação do Tribunal do Júri. Após esta construção, tornou-se

perceptível a intenção do legislador em proteger o cidadão investigado em um processo penal,

concedendo a este a participação no processo pelo contraditório e a ciência de todos os atos

processuais.

Os fins do Tribunal Popular representam o exercício da democracia e o ato de civilismo,

objetivando o afastamento do julgamento feito pelo poder político, concedendo a possibilidade do

ser humano (pessoas comuns) julgar os seus pares de acordo com a sua livre convicção, trata-

se, portanto, da responsabilidade dos cidadãos perante a sociedade.

O Instituto do Tribunal do Júri já percorreu longos caminhos. Passou por momentos valiosos e de

fortalecimento, no entanto, enfrentou momentos difíceis em Estados autoritários e ditadores.

5.1 A Origem do Tribunal Popular

Há imprecisão doutrinária sobre a origem do Tribunal do Júri. Alguns indicam a origem do Júri na

época mosaica, outros o sugerem na época clássica de Grécia e Roma, enquanto os mais

conceitualistas preferem afirmar o seu berço na Inglaterra, em época do Concílio de Latrão.

Inicialmente, a palavra a júri deriva do latim "jurare" que significa fazer juramento. Como dito, para

alguns pesquisadores, o Tribunal Popular surgiu na antiga Palestina, no momento em que

naquela região predominavam as sociedades comunitárias, cuja população encontrava-se unida

por laços de sangue e afetividade. Na defesa desse entendimento Nucci (2008, p. 41) explica

que:

Na Palestina, havia o Tribunal dos vinte e três, nas vilas em que a população fosse superior a 120 famílias. Tais cortes conheciam e julgavam processos criminais relacionados a crimes puníveis com a pena de morte. Os membros escolhidos dentre padres, levitas e principais chefes de Israel.

O Tribunal Popular surgiu com a própria organização social. Nestas épocas prevaleciam às

comunidades patriarcais que eram controladas pelos homens mais velhos, estes que eram

considerados os mais sábios. Trata-se de um período da história em que prevaleciam os

costumes e as tradições familiares (Direito Consuetudinário) que eram repassados oralmente a

todos os membros do clã (as escritas surgiram em blocos de pedra). A religião consolidava as

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bases do Estado. O governante, que também administrava a religião, era considerado um deus

vivo.

Na antiguidade greco-romana o Júri Popular também esteve presente (149 a.C). Existia uma

espécie de comissão de inquérito que tinha a função de investigar e julgar os casos de

funcionários estatais que causavam prejuízo ao Estado.

Na Grécia Antiga, especificamente em Atenas, havia um tribunal popular integrado por um

número significativo de cidadãos atenienses que julgavam depois de ouvida a defesa de acordo

com sua íntima convicção.2

Porém, o Tribunal do Júri da atualidade, origina-se na Magna Carta, da Inglaterra, de 1215. Sabe-

se, no entanto, que a humanidade já conhecia o júri antes disso (NUCCI, 2008, p. 726).

Paralelamente a consolidação do instituto na Inglaterra, o Tribunal Popular sobressaía na Europa

à dura realidade medieval.

O poder da Igreja Católica e o procedimento processual utilizados na busca da verdade real

trilhavam o caminho da tortura e da crueldade, com aplicação de penas de morte, geralmente

promovidas em espetáculos públicos, com a finalidade única de demonstrar o poderio do clero

cristão e da nobreza feudal (BECCARIA, 2007, p. 37).

Percebe-se que o Tribunal do Júri Inglês foi uma exceção em relação à Europa. Ou seja, na

Inglaterra surgiu à proteção aos direitos fundamentais do povo face aos abusos perpetrados pelo

poder despótico, fato que permitiu que os cidadãos julgassem seus pares, segundo os critérios do

bom censo e dos costumes. O artigo 48 da Magna Carta Britânica preceituava que "Ninguém

poderá ser detido, preso ou despojado de seus bens, costumes e liberdade, senão em virtude de

julgamento de seus pares, segundo as leis do país”.

Após a Revolução Francesa (1789), partindo da Inglaterra, o Tribunal do Júri chegou à França e,

posteriormente, espalhou-se pelo mundo (NUCCI, 2008, p. 42). Pelas ideias iluministas foi

consagrado, na França, o Tribunal do Júri como Instituição Judiciária.

2 Nota: Sócrates foi julgado e condenado à pena de morte por um dos Tribunais do Júri da Grécia Antiga. Para tanto

teve que ingerir o cicuta, um veneno usado na época para aplicação da pena de morte. Assim, em nome de seus princípios e de seus ideais (pois, teve a oportunidade de fugir), o pensador abdicou de sua própria vida aceitando sua pena, atitude digna dos grandes homens.

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O Júri consolidou-se nos Estados Unidos da América no século XVII, antes mesmo da

independência daquele país. Como eram Treze Colônias autônomas, a organização do Júri não

era idêntica em todas as colônias.

5.2 O Tribunal do Júri no Brasil

O Tribunal Popular foi instalado no Brasil antes de ser instalado em Portugal e pouco antes da

Proclamação da Independência. O referido instituto foi instalado pelo decreto do Príncipe Regente

D. Pedro I em 18 de junho de 1822. A partir de então, passou por muitas evoluções e

transformações legislativas.

O conselho na época implantado era composto por vinte e quatro cidadãos: homens inteligentes,

honrados, bons e patriotas. Nesse momento histórico, percebe-se que o aludido órgão ainda não

adotava o princípio da soberania dos veredictos.

Segundo Nucci (2008) estes tinham a atribuição de julgar os delitos de abuso de liberdade de

imprensa, sendo as suas decisões passíveis de mudanças apenas pelo regente, pois este detinha

o Poder Moderador.

Após a Proclamação da Independência, o Imperador D. Pedro I (em 1824), outorgou a primeira

Carta Política do Brasil, na qual o Tribunal do Júri foi inserido no capítulo pertencente ao Poder

Judiciário, com atribuições para julgar causas cíveis e criminais. Sobre o nascimento do Júri no

Brasil destaca Rangel (2008, p. 488) que:

Em se tratando de Júri, o nosso nasceu na Lei de 18 de Julho de 1822, antes, portanto da independência (7 de setembro de 1822) e da primeira Constituição brasileira (25 de março de 1824) e, ainda, sob o domínio português, mas sob forte influência inglesa. Entretanto, o júri era apenas para os crimes de imprensa e os jurados eram eleitos

Em 1832 entrou em vigor o Código de Processo Criminal do Império, o qual conferiu ampla

competência ao Tribunal do Júri, só restringida em 1842, com a entrada em vigor da Lei n. 261.

Nesta época havia previsão da aplicação da pena de morte.

Durante o período republicano a legislação manteve a existência do Tribunal do Povo, agora no

capítulo pertinente aos direitos e garantias individuais. Sobre o Júri durante a República brasileira,

ressalta Rangel (2008) que:

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Na primeira Constituição da República dos Estados Unidos do Brazil promulgada em 24 de fevereiro de 1891. o júri era colocado dentro do título referente aos cidadãos brasileiros e na secção da declaração dos direitos, estabelecendo, no seu art. 72, § 31, que era mantida a constituição do jury.

Naquela época se destacou a figura de Rui Barbosa, que era defensor do Tribunal do Povo. O júri

passou a ser consagrado como um direito ou garantia individual na Constituição da nascente

República.

Nos períodos Vargas, a Constituição Federal de 1934 retirou o júri do capítulo referente aos

direitos do homem e do cidadão e, o mesmo foi inserido no capítulo referente ao Poder Judiciário.

No Estado Novo, em 1937, a nova Constituição não mencionou a existência do júri em nenhum

de seus capítulos.

Porém, o Decreto-Lei n. 167 de janeiro de 1938 admitiu a existência do tribunal na ordem jurídica

interna, estabelecendo sua competência para julgar os crimes de:

a) homicídio;

b) infanticídio;

c) induzimento ou auxílio ao suicídio;

d) duelo com resultado morte ou lesão seguida de morte;

e) roubo seguido de morte e sua forma tentada.

Em 1941, entrou em vigor o Código de Processo Penal Brasileiro pelo Decreto-Lei n. 3.689 (ainda

em vigor). O referido diploma legal foi inspirado no Rocco Italiano de Benito Mussolini, no qual

prevalecia à presunção de culpabilidade para os acusados. Nesta realidade principiológica

(culpabilidade), o acusado não era tratado como sujeito de direitos, mas como objeto do

processo. Ao acusado não eram asseguradas as garantias mínimas do processo legal. Eram

comuns as confissões obtidas por meio de torturas e intimidações. E o silêncio do acusado no

interrogatório, era interpretado em seu prejuízo e, ainda, o não comparecimento do réu para ser

interrogado ensejava à sua condução coercitiva. A Democracia retorna ao Brasil em 1946, após o

fim da Segunda Guerra Mundial e a nova Constituição Federal volta a inserir a instituição no

capítulo "Dos Direitos e Garantias Individuais". Segundo Nucci (2008, p. 43):

A Constituição de 1946 ressuscitou o Tribunal Popular no seu texto, reinserindo-o no capítulo dos Direitos e Garantias individuais como se fosse uma autêntica bandeira na luta contra o autoritarismo, embora as razões desse retorno tivessem ocorrido, segundo narra Victor Nunes Leal, por conta do poder de pressão do coronelismo, interessado em garantir a subsistência de um órgão judiciário que pudesse absolver seus capangas.

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Em 1964 o regime ditatorial foi instalado pelos militares. Iniciou-se, nesta época, um dos períodos

mais violentos da história brasileira. Em 1967 a nova Constituição, em seu art. 150, § 18, manteve

o Júri no capítulo dos direitos e garantias individuais, dispondo: “São mantidas a instituição e a

soberania do Júri, que terá competência no julgamento dos crimes dolosos contra a vida”, assim,

manteve a existência do júri, mas, com competência restrita, pois, julgava apenas os crimes

dolosos contra a vida e com veredictos soberanos. Este fato durou pouco, pois, no ano seguinte,

a soberania fora retirada pela Emenda Constitucional de 1969, o art. 153, § 18, passou a prever:

“é mantida a instituição do Júri, que terá competência no julgamento dos crimes dolosos contra a

vida”.

A Lei n. 5.941, de 22 de novembro de 1973 alterou o Código de Processo Penal, estabelecendo a

possibilidade de o réu pronunciado, se primário e de bons antecedentes, continuar em liberdade,

o que foi disposto no art. 408, § 2º.

Em 1988 o Estado Democrático volta a iluminar a nação brasileira com a nova Constituição

Cidadã. Assim, o Tribunal do Júri foi inserido no título dos Direitos e Garantias fundamentais, em

seu artigo 5º, inciso XXXVIII.

5.3 Princípios básicos do Tribunal do Júri

Após todo o percurso e evolução histórica, a Constituição Federal de 1988 instituiu os

quatro Princípios Constitucionais basilares do Tribunal do Júri (art. 5°, inciso XXXVIII, da CF):

a) a plenitude de defesa;

b) o sigilo das votações;

c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para os crimes dolosos contra a vida.

a) Plenitude de Defesa

A plenitude de defesa, atribuída à instituição do Júri, é semelhante ao direito constitucional à

ampla defesa (art. 5°, LV, da CF). Assim, o acusado da prática de crime doloso contra a vida terá

efetiva e plena defesa. Como Nucci ensina, um Tribunal que decide sem fundamentar seus

veredictos precisa proporcionar ao réu uma defesa acima da média. Nessa perspectiva, poderá o

defensor usar de "todos" os argumentos lícitos para convencer os jurados, uma vez que estes

decidem por íntima convicção, ou seja, julgam somente perante a consciência de cada um, sem

fundamentarem e de forma secreta.

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b) Sigilo nas Votações

O sigilo nas votações é uma mínima exceção ao Princípio da Publicidade. Resguarda a liberdade

de opinião dos jurados, evitando constrangimentos decorrentes da publicidade da votação, como

eventuais represálias. Objetiva uma justa e livre decisão. Em relação a esta exceção ao Princípio

da Publicidade, há posicionamentos doutrinários contrários que são favoráveis à extinção das

salas secretas.

c) Soberania dos Veredictos

A soberania dos veredictos está entre as cláusulas pétreas da Constituição de 1988, é instituída

como uma das garantias individuais em benefício do réu. A decisão dos jurados é suprema,

soberana, não podendo ser modificada pelos magistrados togados. Porém, há relatividade neste

princípio, pois, cabe apelação das decisões do Júri pelo mérito (art. 593, III, d), ou seja, o Tribunal

pode anular o julgamento e determinar a realização de um novo, se entender que a decisão dos

jurados afrontou manifestamente a prova dos autos. No ensinamento de Nucci: “soberania quer

dizer que o júri, quando for o caso, assim apontado por decisão judiciária de órgão togado, terá a

última palavra sobre um crime doloso contra a vida”.

d) Competência para os Crimes Dolosos contra a Vida

A competência para os crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados, finaliza os

Princípios Constitucionais do Júri. Os referidos crimes estão previstos no início da Parte Especial

do Código Penal:

homicídio simples, privilegiado ou qualificado (art. 121 §§ 1° e 2°);

induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122);

infanticídio (art. 123);

aborto (arts. 124, 125, 126 e 127).

Observação: o latrocínio (artigo 157, § 3º, segunda parte, CP) e o Sequestro com morte (artigo

150, §3º, CP) são da competência do juiz singular e não do Tribunal do Júri. Em tais crimes a

intenção do agente é de roubar, furtar, subtrair, sequestrar, com fins e para fins econômicos, não

se trata da intenção de matar (requisito fundamental para os crimes julgados pelo Tribunal do

Júri).

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Considerações Finais

Para entendermos a relevância atual do Tribunal Popular para o ordenamento jurídico e a

sociedade brasileira, faz-se necessário o conhecimento de sua origem e evolução histórica. Neste

breve e modesto levantamento histórico, observamos que o instituto, ora analisado, passou por

transformações significativas ao longo dos anos. O misticismo, o extremismo religioso, o

autoritarismo, as ditaduras e as democracias marcaram sua evolução. Suas introduções e

exclusões na legislação brasileira denotam, na realidade, a relevância do instituto. Podemos

entender que, em muitos momentos da história, era interpretado como uma solução para a

criminalidade social, porém, em outros momentos, era um “obstáculo” a ser retirado do caminho

político e jurídico. Podemos entender, portanto, a relevância deste instituto na seguinte

ponderação: representa a própria Democracia, bem como, a responsabilidade do cidadão perante

a sociedade em que se encontra inserido. No entanto, há de ser observado que o Tribunal do

Júri, ao mesmo tempo em que representa a democracia, pode ser, também, arbitrário. Assim,

ressalta o mestre Pacelli (2011, p. 703): “E o Tribunal do Júri, no que tem, então, de democrático,

tem também, ou melhor, pode ter também, de arbitrário. E isso ocorre em razão da inexistência

do dever de motivação dos julgados. A resposta à quesitação pelo Conselho não exige qualquer

fundamentação acerca da opção [...]”. Este parecer nos faz pensar. Afinal, trata-se de um

antagonismo de ideologias, ou seja, o Tribunal do Júri como um instituto democrático e, podendo

ser, ao mesmo tempo, arbitrário? Mas, enfim, ao Tribunal do Júri foi reservada, pela Constituição

Federal de 1988, uma posição de destaque, ou seja, no capítulo dos Direitos e Garantias

fundamentais. Sua estrutura é formada por Princípios Constitucionais basilares que garantem a

plenitude de defesa do réu, a segurança para a livre decisão dos jurados, a valorização das

decisões proferidas pela soberania e, por fim, a delimitação da competência do instituto aos

crimes dolosos contra a vida. Por estes breves apontamentos, denominado Introdução ao

Tribunal do Júri, nos preparamos para o próximo estudo, que será sobre os procedimentos atuais

e específicos do referido instituto.

5.4 Procedimentos do tribunal do júri

O Júri guarda sua competência estabelecida expressamente na Constituição Federal (art. 5º

XXXVIII), sendo designado para a apuração e julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

O procedimento do Júri é dividido em duas fases: na primeira, estão abrangidos os atos

praticados do oferecimento da denúncia até a decisão de pronúncia; na segunda, estão

abrangidos os atos praticados entre a pronúncia e o julgamento pelo Tribunal popular.

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5.4.1 Primeira Fase

A primeira fase possui basicamente a mesma estrutura do procedimento comum ordinário, porém,

com as alterações introduzidas pela Lei n. 11.689/2008, o procedimento ficou mais específico.

Algumas diferenças:

não há no procedimento ordinário nova vista ao Ministério Público após a apresentação da

defesa preliminar. Já na 1ª fase do Tribunal do Júri, apresentada a defesa, o juiz ouvirá o

Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias (art.

409). Depois desta resposta, a realização de eventuais diligências serão designadas

dentro do prazo máximo de 10 dias (art. 410);

a audiência una de instrução e julgamento no Tribunal do Júri, o juiz, quando concluída a

apresentação das peças escritas, não tem, como no rito ordinário, a faculdade de absolver

sumariamente o réu antes mesmo de se realizar a instrução criminal. Ou seja, no

procedimento do Júri, talvez em razão da complexidade e gravidade em tese dos delitos a

serem apurados, a absolvição sumária só é possível após a realização da instrução.

Observação: este entendimento não é pacífico em função do artigo 394, § 4º do CPP, que

dispõe que algumas disposições do rito ordinário se aplicam a todos os procedimentos

penais de primeiro grau. Por outro lado, o mesmo artigo 394, § 3º afirma que nos

processos de competência do Tribunal do Júri serão observadas as disposições contidas

entre os artigos 406 e 497 do CPP, o que daria ao Júri uma regulamentação especial.

o procedimento será concluído no prazo de 90 dias – art. 412 (no procedimento ordinário é

de 60 dias e no procedimento sumário é de 30 dias).

Semelhantemente ao rito ordinário, após a conclusão da instrução probatória, devem ter início os

debates orais, por 20 minutos para acusação e defesa, respectivamente. Prorrogáveis por mais

10 minutos (art. 411, § 4º). A seguir, deverá o juiz prolatar, oralmente ou no prazo de 10 (dez)

dias, a decisão de admissibilidade da acusação (popularmente denominada decisão de

pronúncia). (Art. 411, § 9º).

O procedimento do Júri não prevê a possibilidade de substituição dos debates orais por

memoriais escritos. Contudo, pelos delitos, teoricamente mais graves e mais complexos, na

prática vem sendo aplicada analogicamente a disposição do artigo 403, §3º e 404, parágrafo

único, que permitem às alegações finais escritas.

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A partir da decisão de finalização de Audiência de Instrução e Julgamento, o juiz terá quatro

alternativas. Analisaremos cada uma delas.

a) Decisão de pronúncia (art. 413)

Esta é a única decisão que dá prosseguimento ao feito, inaugurando a segunda fase e levando

até o julgamento perante o Tribunal do Júri. Nesta decisão o juiz considera:

que restou provada a materialidade do fato;

que existem indícios suficientes de autoria por parte do acusado;

que foi configurado o dolo direto ou eventual na conduta;

o dispositivo legal em que julgar incluso o acusado;

as circunstâncias qualificadoras;

as causas de aumento de pena.

Nota: a pronúncia pode apenas tratar das qualificadoras e das causas de aumento de pena, ou

seja, aquelas diretamente previstas e associadas ao tipo penal. As causas gerais (concurso de

crimes, crime continuado) não podem ser apreciadas na fase de pronúncia. Bem como, às causas

de diminuição que devem estar reservadas para o Plenário do Julgamento, pois, o artigo 413, §

1º, CPP, faz menção apenas às causas de aumento. O mesmo se aplica para atenuantes e

agravantes, que devem ser formuladas pelas partes durante os debates e serem alvo de

quesitação.

A seguir algumas observações sobre a decisão de pronúncia.

A decisão de pronúncia não pode ser lida em plenário pelas partes (art. 478, I), mas nada

impede que os jurados manuseiem os autos e com ela tenham contato.

Em termos processuais, esta é uma decisão de natureza interlocutória mista não-

terminativa, pois, apesar de encerrar uma fase do procedimento, não encerra o processo.

Uma decisão desta natureza pode ser desafiada pelo recurso em sentido em estrito.

Esta decisão que pronuncia o réu só faz coisa julgada formal. Não pode fazer coisa julgada

material, haja vista que o acusado pode ser pronunciado por um crime e condenado por

crime diverso (ou absolvido), isto na sentença final do Tribunal do Júri.

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São três os principais efeitos desta decisão: O acusado será submetido a Júri popular; as

teses acusatórias ficam limitadas ao que ficou reconhecido na pronúncia; a prescrição será

interrompida (art. 117, II do Código Penal).

No caso de haver crimes conexos não dolosos contra a vida, o juiz deve se restringir a

apreciar as questões inerentes ao crime doloso contra a vida, cabendo ao júri fazer seu

juízo sobre o outro crime conexo.

Anteriormente, o acusado deveria ser intimado pessoalmente da decisão de pronúncia.

Hoje, esta continua a ser a regra, porém, passou a ser admitida a intimação por edital (art.

420, parágrafo único), caso o acusado esteja solto e não tenha sido encontrado.

Quanto aos defensores e assistente de acusação, a intimação deverá ser feita, como

regra, por meio de publicação no órgão oficial, exceto quanto o defensor houver sido

nomeado, hipótese em que, assim como o Ministério Público, deverá ser intimado

pessoalmente.

Neste momento do procedimento, o juiz não mais determina, como regra, a prisão. Ainda

deve, porém, decidir, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição

da prisão (413, § 3º CPP) ou, no caso de acusado solto, se existe elementos concretos

que indiquem a necessidade da prisão.

b) Decisão de impronúncia (art. 414)

Esta decisão ocorre quando o juiz não se convence da prova da materialidade nem sobre a

presença de indícios suficientes de autoria. Esta decisão, no entanto, permite que, uma vez

descobertas novas provas antes da ocorrência da prescrição, seja ofertada nova denúncia contra

o acusado. Esta decisão acarreta o término do processo sendo cabível o recurso de apelação.

Observação: não se deve confundir impronúncia com a despronúncia. A despronúncia ocorre

quando a decisão de pronúncia, após recurso em sentido estrito, é reformada pelo Tribunal.

c) Desclassificação (art. 419)

Esta decisão ocorre quando se desclassifica o crime para delito que não seja doloso contra a

vida. Não põe fim ao processo, devendo o feito ser encaminhado a outro juízo para continuidade

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e conclusão. Na desclassificação é cabível o recurso em sentido estrito, por ser decisão não

terminativa.

d) Absolvição sumária (art. 415)

Esta decisão ocorre quando o juiz verificar, pela prova colhida, as situações a seguir:

provada a inexistência do fato (provada a ausência de materialidade);

provado que o réu não concorreu para o fato como autor ou partícipe (provada a inocência

do réu);

não constituir o fato infração penal (flagrante atipicidade);

existir circunstância que isente o réu de pena;

existir circunstância que exclua o crime (legítima defesa, estado de necessidade, exercício

regular de um direito ou estrito cumprimento do dever legal).

Trata-se de decisão terminativa, que pode ser desafiada pelo recurso de apelação.

5.4.2 Segunda Fase

A segunda fase tem início a partir do momento em que ocorre a preclusão da decisão de

pronúncia. Deve se atentar para o fato de que não se fala em trânsito em julgado, mas tão

somente de preclusão, uma vez que a pronúncia não põe fim ao processo nem faz coisa julgada

material.

Esta fase tem, como objetivo, a preparação do processo para que seja julgado perante o Tribunal

do Júri. O juiz-presidente do Tribunal do Júri deve então notificar o MP e depois o advogado do

réu para que, em 05 dias, apresentem o rol de testemunhas que deverão ser ouvidas em plenário

(máximo de 05, contra 08 na primeira fase). É possível também juntar documentos e requerer

diligências (art. 422).

O juiz-presidente então deverá deliberar sobre os requerimentos e eventualmente conduzir a

realização das diligências solicitadas. Ao fim, deverá realizar um relatório do processo, fixando

uma data para a realização da sessão de julgamento. Lembra-se, oportunamente, que qualquer

documento só poderá ser juntado aos autos com o mínimo de 03 dias úteis, única restrição

experimentada à possibilidade de se juntar documento em qualquer momento do processo.

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Desaforamento (art. 427)

Existe uma possibilidade, nesta segunda fase, de que qualquer das partes, inclusive o juiz-

presidente, requeiram ao Tribunal o desaforamento, que permite que o julgamento pelo júri seja

feito em uma comarca diferente daquela em que correu o processo criminal.

Algumas situações indicam o desaforamento. São elas:

a) interesse público – intranquilidade social ou distúrbios no local em que deveria

ocorrer o julgamento.

b) dúvida sobre a imparcialidade dos jurados – ocorre quando há, na comarca,

comoção exagerada, de proporção tão grande que há uma tendência prévia naquela

comunidade para julgar de determinada forma.

c) Segurança pessoal do réu – quando o julgamento naquele local pode oferecer riscos

para a integridade do acusado.

d) não aprazamento de data para o júri após seis meses da preclusão da pronúncia –

nestes casos, há atraso na marcação de data para o julgamento, sem que a defesa

tenha contribuído para o atraso.

Do Julgamento em Plenário propriamente dito

Primeiramente, é preciso saber que há uma ordem de prioridade para a organização da pauta de

julgamentos, prevista no artigo 429:

primeiro, devem ser julgados os processos de acusados presos, devendo se conferir

prioridade aos que mais tempos estiverem na prisão;

depois a ordem a ser respeitada é a data da pronúncia, julgando primeiro, por lógica,

aqueles há mais tempo pronunciados.

Outras regras preliminares a serem seguidas:

o assistente de acusação só poderá atuar em plenário se requerer sua habilitação até

cinco dias antes da data da sessão em que pretende atuar (art. 430);

qualquer documento ou objeto só poderá ser juntado com o mínimo de 03 dias úteis de

antecedência;

prévio sorteio dos 25 jurados que comporão aquela sessão, geralmente sendo este grupo

de 25 jurados sorteado para o período de 01 mês (art. 433). A este sorteio devem

comparecer membros do MP, Defensoria e representante da OAB. Os jurados sorteados

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serão convocados e seus nomes afixados nos murais no edifício em que está situado o

Tribunal do Júri.

Jurados

Alguns apontamentos sobre os jurados (art. 436 a 452):

devem julgar com imparcialidade;

devem se declarar impedidos ou suspeitos. Exemplo: estão impedidos de atuar como

jurados conjuntamente marido e mulher, sogro e genro, irmãos, etc. (art. 448);

O mesmo jurado também não pode participar de um eventual segundo julgamento de um

mesmo processo ou que trate do mesmo fato (ex. caso de concurso de pessoas);

Algumas autoridades estão isentas do serviço do Júri, serviço que é, em regra, obrigatório.

No dia do julgamento, o juiz-presidente, antes de iniciar os trabalhos, deve verificar a presença de

no mínimo 15 jurados. Então irá anunciar o processo que deve ser julgado. Logo depois, serão

sorteados os jurados, facultadas às partes a recusa imotivada de três jurados cada. No caso de

julgamento de mais de um réu, as recusas poderão ser feitas por um só defensor.

Após o sorteio e formação do Conselho de Sentença, com 07 jurados (art. 447), o juiz presidente

deve fazer aos jurados uma exortação de julgar com imparcialidade e justiça (art. 472). Depois

devem ser entregues aos jurados:

cópias da pronúncia;

cópias de decisões posteriores que julgaram admissível a acusação;

cópias do relatório feito pelo juiz presidente na segunda fase.

Observação: há críticas a essa entrega da decisão de pronúncia aos jurados, ante o sério risco

que tenha laborado em excesso de linguagem (do juiz da primeira fase) e possa afetar o

julgamento dos jurados.

A instrução plenária e os debates

Após este procedimento, as partes tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido

e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação (art. 473).

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Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado formulará as

perguntas antes do Ministério Público e do assistente.

Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido, às testemunhas e ao acusado por intermédio

do juiz-presidente.

A seguir será o acusado interrogado. O Ministério Público, o assistente, o querelante e o

defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado (art. 474).

Vedação importante na nova lei é a que impede o uso de algemas durante o julgamento,

exceto em casos de extrema e comprovada necessidade para a segurança. Esta pode

ser, inclusive, causa de nulidade do julgamento, ante o grande efeito psicológico que

causa nos jurados.

Debates (arts. 476 a 481)

Após esta instrução em plenário, serão iniciados os debates. Primeiro o MP, que tem 1h30m, e

depois a defesa pelo mesmo tempo. Se for mais de um réu, este tempo será de 2h30m para cada

parte, ou seja, acrescenta-se mais 1 hora.

O assistente falará sempre depois do parquet e, este, depois do querelante se for o caso de ação

penal privada subsidiária da pública.

A acusação tem ainda a possibilidade de réplica, pelo prazo de uma hora, ao que se sucede a

tréplica da defesa por igual período de tempo. Em caso de múltiplos réus, réplica e tréplica

poderão durar até duas horas.

É possível, durante o julgamento, que as partes realizem os chamados “apartes”, que são breves

interrupções da parte contrária no tempo de fala do outro para esclarecimento de questão relativa

àquela fala específica. Não se permite a interrupção para tratamento de assunto diverso.

Geralmente, a concessão dos apartes é solucionada pelas partes entre si, mas caso não haja

consenso pode (deve) o juiz conceder o aparte ao solicitante (art. 497, XII), por até 3 minutos,

tempo que será devolvido à parte que foi interrompida na sua fala ao final.

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Durante as falas as partes não poderão fazer referência à decisão de pronúncia ou qualquer outra

que a confirme, nem ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de

requerimento. Se qualquer menção for feita, cabe o registro em ata para, em caso de prejuízo,

alegação da nulidade em recurso para o Tribunal (art. 478).

Concluídos os debates, o juiz-presidente pergunta aos jurados se estão em condições de julgar

ou se necessitam de algum esclarecimento. Os jurados podem ter acesso aos autos ou mesmo

aos instrumentos do crime se assim solicitarem ao juiz. A partir da dúvida de algum jurado,

inclusive, pode se originar a necessidade de proceder a alguma diligência, o que levará à

dissolução do Conselho de Sentença para a realização das diligências.

Dos quesitos, da votação e da sentença

Ao final, as partes e os jurados se encaminharão para a sala secreta, onde serão lidos e votados

os quesitos formulados pelo juiz com a anuência das partes. Primeiro deve se questionar a

matéria de fato e se deve o acusado ser absolvido. A redação dos quesitos deve ser clara e

objetiva, permitindo uma resposta igualmente objetiva, “sim” ou “não”.

Ordem de questionamentos ( art. 483):

materialidade do fato;

autoria e participação;

se o acusado deve ser absolvido;

se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena

reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram

admissível a acusação.

A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos itens 1 e 2

encerra a votação e implica a absolvição do acusado. Respondidos afirmativamente por mais de

3 (três) jurados os quesitos relativos aos itens 1 e 2 será formulado quesito com a seguinte

redação: O jurado absolve o acusado? Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento

prossegue, devendo ser formulados os outros quesitos sobre os itens seguintes.

A ausência de qualquer quesito obrigatório acarreta a nulidade do julgamento (súmula 156, STF).

É preciso ter especial atenção para as circunstâncias agravantes e atenuantes, que não precisam

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ser mais questionadas aos jurados. Elas cabem, agora, à apreciação do juiz presidente, desde

que alegadas nos debates.

Havendo contradição entre a votação dos quesitos o juiz deverá novamente proceder à votação,

procedendo a novo esclarecimento aos jurados do significado e resultado prático de cada um

deles.

Após a votação e vinculado ao seu resultado, o juiz presidente proferirá sentença, realizando a

quantificação da pena com base nos critérios normalmente utilizados (fixação de pena base,

circunstâncias agravantes e atenuantes, causas de aumentos e diminuições de pena, etc). Neste

momento, inclusive, decidirá sobre a imposição de medida cautelar, se presentes os requisitos da

preventiva. Em caso de absolvição, impositiva a colocação em liberdade do preso (se por outro

motivo não estiver preso), e aplicação de medida de segurança no absolvido por inimputabilidade.

Tendo o Conselho de Sentença optado pela desclassificação, o juiz presidente deve proferir

sentença imediatamente, cabendo ainda os benefícios da lei nº. 9.099/95, quando for o caso de

crime àquela lei afeto. O mesmo deve ocorrer se houver crime conexo não doloso contra a vida

que remanescer em caso de absolvição ou desclassificação. Ou seja, nestes casos, será o

próprio juiz presidente do Tribunal do Júri que ira proferir a sentença.

Depois de definida a sentença, será ela lida em plenário antes do encerramento da sessão. Cada

sessão terá sua ata, aonde deverão constar todas as ocorrências relevantes. Sua falta pode

implicar em responsabilidade administrativa e penal para o responsável.

Por fim, ressaltam-se as atribuições do juiz-presidente do Tribunal do Júri:

I – regular a polícia das sessões e prender os desobedientes;

II – requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua exclusiva autoridade;

III – dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de linguagem ou mediante

requerimento de uma das partes;

IV – resolver as questões incidentes que não dependam de pronunciamento do júri;

V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso,

dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição

de novo defensor;

VI – mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realização do julgamento, o qual

prosseguirá sem a sua presença;

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VII – suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das diligências requeridas

ou entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jurados;

VIII – interromper a sessão por tempo razoável, para proferir sentença e para repouso ou

refeição dos jurados;

IX – decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a defesa, ou a requerimento de qualquer

destes, a arguição de extinção de punibilidade;

X – resolver as questões de direito suscitadas no curso do julgamento;

XI – determinar, de ofício ou a requerimento das partes ou de qualquer jurado, as diligências

destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o esclarecimento da verdade;

XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra

estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que

serão acrescidos ao tempo desta última.

BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos delitos e das penas. ed. São Paulo: Martin Claret, 2007. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica Processual e Teoria do Processo. Rio de Janeiro: AIDE, 1992. 220p. GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. ISHIDA, Válter Kenji. Processo Penal. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. LOPES JÚNIOR, Aury; GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Investigação preliminar no Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 15ª ed., rev. e atual. Rio

de Janeiro: Lúmen Júris, 2011. 974p.

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