58
Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central Departamento de Cultura e Tradições www.ftgpc.com.br MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM Concurso de Prendas e Peões 2016 Elaboração e Pesquisa Roberta Fontana

MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

  • Upload
    buiphuc

  • View
    221

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central

Departamento de Cultura e Tradições

www.ftgpc.com.br

MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM

Concurso de Prendas e Peões

2016

Elaboração e Pesquisa Roberta Fontana

Page 2: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

1

ÍNDICE

HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL .......................................................................................................... 4

1. Os Primeiros Tempos ................................................................................................................................ 4

1.1. Primeiros Habitantes ......................................................................................................................... 4

1.2. Missões Jesuítas .................................................................................................................................... 4

1.3. Conquista e Ocupação do Sul .......................................................................................................... 5

1.4. As Estâncias ........................................................................................................................................... 6

1.5. A Colônia Do Sacramento ................................................................................................................. 6

1.6. As Sesmarias .......................................................................................................................................... 7

1.7. Os Açorianos .......................................................................................................................................... 7

1.8. Imigração Alemã e Italiana .............................................................................................................. 7

1.9. Nomes Que Teve o Rio Grande do Sul ......................................................................................... 8

2. Episódios Importantes .............................................................................................................................. 8

2.1. Revolução Farroupilha ...................................................................................................................... 8

GEOGRAFIA DO RIO GRANDE DO SUL .................................................................................................... 12

1. Posição e situação geográfica. .............................................................................................................. 12

1.1. Limites .................................................................................................................................................... 12

2. O Relevo e os Solos ................................................................................................................................... 12

3. O Clima .......................................................................................................................................................... 13

4. Os Rios ........................................................................................................................................................... 13

5. As Paisagens Vegetais ............................................................................................................................. 14

5.1. Os campos ............................................................................................................................................. 14

5.2. As matas ................................................................................................................................................ 15

HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO PLANALTO CENTRAL ........................................................................ 16

1.Os Primórdios ............................................................................................................................................... 16

2.O Cerrado e as Novas Fronteiras Agrícolas ...................................................................................... 16

3.A Construção de Brasília .......................................................................................................................... 18

4.Os demais estados do Planalto Central .............................................................................................. 19

A HISTÓRIA DO MTG-PC ............................................................................................................................... 20

1. O Início do Tradicionalismo no Planalto Central .......................................................................... 20

2. A Criação da Coordenadoria da Integração Gaúcha do Planalto ............................................ 21

3. A FTG-PC (Federação Tradicionalista Gaúcha do Planalto Central) ..................................... 21

4. O MTG-PC (Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central) ................................. 21

FOLCLORE TRADIÇÃO E TRADICIONALISMO .................................................................................... 23

1. Conceitos importantes ............................................................................................................................ 23

2. A Tradição Gaúcha .................................................................................................................................... 23

3. A História do Movimento Tradicionalista ....................................................................................... 24

3.1. "O GRUPO DOS OITO" ...................................................................................................................... 24

Page 3: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

2

3.2. Chama Crioula e a 1ª Ronda .......................................................................................................... 25

3.3. O “35 – Centro de Tradições Gaúchas”..................................................................................... 25

4. O Movimento Organizado ...................................................................................................................... 26

5. A Semana Farroupilha ............................................................................................................................ 26

5.1. Mas por que 20 de Setembro? ...................................................................................................... 26

6. Organização do CTG ................................................................................................................................. 27

7. Danças e suas Gerações ........................................................................................................................... 27

7.1. Primeira Geração Coreográfica ................................................................................................... 27

7.2. Segunda Geração Coreográfica ................................................................................................... 27

7.3. Terceira Geração Coreográfica .................................................................................................... 28

7.4. Quarta Geração Coreográfica ....................................................................................................... 28

8. A Cozinha Gaúcha ..................................................................................................................................... 28

8.1. A culinária regional ........................................................................................................................... 28

8.2. Alguns Pratos Típicos Da Culinária Campeira ....................................................................... 28

8.3. Alguns Doces Típicos Da Culinária Campeira ........................................................................ 29

8.4. Aperitivos .............................................................................................................................................. 29

8.5. Bebidas ................................................................................................................................................... 29

9. Lendas ........................................................................................................................................................... 29

9.1. Transcrição integral de algumas lendas ................................................................................... 29

10. O Chimarrão ............................................................................................................................................. 33

11. Festas – Religiosidade ........................................................................................................................... 33

11.1. Padroeiros .......................................................................................................................................... 33

12. Brincadeiras e Brinquedos .................................................................................................................. 34

12.1. Brincadeiras para animar ............................................................................................................ 34

12.2. Brincadeiras Cantadas .................................................................................................................. 34

12.3. Formuletes ......................................................................................................................................... 34

12.4. Gestos e Caretas ............................................................................................................................... 34

12.5. Parlendas ............................................................................................................................................ 35

12.6. Jogos Competitivos ......................................................................................................................... 35

12.7. Jogos de Habilidades ...................................................................................................................... 35

12.8. Jogos de Tabuleiros e Gráficos ................................................................................................... 35

12.9. Os Brinquedos .................................................................................................................................. 35

13. Símbolos do Rio Grande do Sul ........................................................................................................ 36

13.1. Símbolos Cívicos .............................................................................................................................. 36

13.2. Símbolos Sociais Oficializados ................................................................................................... 37

14. O Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central – MTG-PC .............................. 37

14.1. Organização ....................................................................................................................................... 38

14.2. Eventos Oficiais ................................................................................................................................ 39

15. A Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha – CBTG ......................................................... 40

15.1. Definição, Objetivos e Organização. ........................................................................................ 40

Page 4: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

3

15.2. Eventos Oficiais ................................................................................................................................ 42

16. Indumentária ............................................................................................................................................ 42

16.1. Considerações Iniciais. .................................................................................................................. 42

16.2. Traje Atual Prenda – Juvenil e Mirim ...................................................................................... 43

16.3. Traje Atual Peão – Guri e Piá ..................................................................................................... 44

17. Lidas Campeiras (Apenas para o concurso de peões) ............................................................. 46

17.1. Equinos e Encilhas .......................................................................................................................... 46

17.2. Conceitos de atividades campeiras ........................................................................................ 47

17.3. Trabalho com Cavalos .................................................................................................................. 48

ANEXO ..................................................................................................................................................................... 50

Page 5: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

4

HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL

1. Os Primeiros Tempos 1

1.1. Primeiros Habitantes

Os primeiros habitantes foram índios. Viviam em grupos ou nações. Cada nação era composta de várias tribos. Os grupos indígenas principais, que habitavam as terras gaúchas, eram: o grupo Guarani (carijó, tape, arachone); o grupo Jê (guaianá, ibiraja, coroado); e o grupo Pampeano (charrua e minuano). Moravam em casa de palha, chamadas ocas. Várias ocas formavam uma taba.

Dançavam ao som de tambores e flautas feitas de bambu e ossos. Fabricavam armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os índios pampeanos já usavam a boleadeira e eram exímios cavaleiros. Como alimento, usavam o milho, a batata doce, mandioca, frutas, aves, peixes, raízes e animais. A bebida era o cauim.

Acreditavam em vários deuses, sendo Tupã o mais importante, criador dos trovões e relâmpagos. No inverno usavam poncho de pele.

Hoje em dia existem parques e reservas indígenas, criados pelo governo, onde eles vivem segundo os seus próprios costumes e tradições. No Rio Grande do Sul, o governo criou áreas especiais para os índios, em Nonoai, Cacique Doble, Ligeiro, Guarita, Carreteiro e Água Santa.

A FUNAI (Fundação Nacional do Índio) é um órgão do governo que ajuda a proteger os índios do Brasil.

1.2. Missões Jesuítas

Por volta de 1625, o padre Roque Gonzales, vindo do Paraguai, depois de organizar as Reduções da Argentina, tentou firmar pé na margem esquerda do rio Uruguai, no atual território do Rio Grande do Sul. Conseguiu reduzir algumas tribos e, em maio de 1626, fundou a primeira redução, ou seja, o primeiro dos Sete Povos Missioneiros, encravado entre terras espanholas e portuguesas, que foi São Nicolau.

Seguiram-se, depois, São Miguel (1632); São Luiz Gonzaga (1673); São Borja (1690); São Lourenço (1691); São João Batista (1697); e, Santo Ângelo (1707).

Em 1634, o padre jesuíta Cristóvão de Mendoza trouxe o primeiro rebanho de gado para o Rio Grande do Sul, sendo portanto considerado o primeiro tropeiro rio-grandense.

De 1634 a 1641, foi um período grave de invasões, com muitas atrocidades, quando inúmeros índios foram aprisionados e escravizados pelos bandeirantes paulistas, escapando somente aqueles que se refugiaram na floresta e os que foram levados pelos jesuítas para o outro lado do rio Uruguai.

O gado que não foi levado ficou no campo, multiplicando-se abundantemente, criado chimarrão (ou seja, solto, selvagem).

Em 1687, os missionários voltaram, reuniram os índios novamente, construíram novas aldeias e reconstruíram as que haviam sido destruídas.

Os índios que viviam nas missões criavam gado, trabalhavam na lavoura, e também aprendiam ofícios para ajudarem nos outros trabalhos. Nas missões foi impresso o primeiro livro e aconteceu a primeira fundição de ferro (São João Batista), na América Latina.

O povo de São Luiz Gonzaga foi o que se conservou por mais tempo. E o povo de São Miguel foi o que mais prosperou, sendo chamado a capital das Missões.

As missões rio-grandenses, ora sob o domínio espanhol, ora sob o domínio português, perduraram até 1801, quando passaram definitivamente para os portugueses pelo Tratado de Badajoz.

1 FAGUNDES, Taylor – Polígrafo utilizado no Concurso de Prendas e Peões da CBTG em 2010 e 2011. Santa Maria,

1984, p.2.

Page 6: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

5

1.3. Conquista e Ocupação do Sul

O território que constitui o atual Estado do Rio Grande do Sul estaria totalmente situado fora da área que o Tratado de Tordesilhas que o estipulava como pertencente a Portugal. Sua definitiva conquista e posse para a Coroa Lusitana constitui-se num foco de grandes lutas entre os dois reinos ibéricos durante mais de um século, evidenciado o enorme interesse por essa área magnífica.

Em resumo, foram esses os fatores que acabaram por consolidar a posse portuguesa dessa importante unidade brasileira:

1.3.1. No século XVII:

Estabelecimento de Missões Jesuíticas Espanholas nas regiões de Tape e Uruguai, ou a Primeira Etapa Missioneira. Introdução da criação de gado na região Missioneira, que logo se tornou a principal riqueza da região. Destruição das Missões pelos bandeirantes paulistas, chefiados por Manoel Pretto e Raposo Tavares, que visava a escravização dos índios já catequizados pelos Jesuítas. Saída dos Jesuítas da região, após a destruição das Missões, deixando, entretanto, o gado que começou a se espalhar por grande parte do atual Rio Grande do Sul, principalmente no oeste. Enquanto se registravam esses acontecimentos nas Missões, Portugal iniciava sua penetração na região do Prata, com a fundação da Colônia do Sacramento (1680), frente a Buenos Aires.

A Espanha não concordava com a fixação desse núcleo português no Prata e iniciou uma série de lutas com Portugal. Formação de uma Segunda Etapa Missioneira Jesuítica no oeste do Rio Grande do Sul, que foram chamadas de Sete Povos, a partir de 1687, com a restauração de São Nicolau. Os “Sete Povos” foram estimulados pela Espanha, com o objetivo de isolar a Colônia do Sacramento, situada à margem do rio da Prata. Portugal decidiu fundar um novo núcleo português no sul, que se deu com a fundação de Laguna (1684). Laguna (no atual Estado de Santa Catarina, visava garantir a posse da Colônia do Sacramento).

1.3.2. No Século XVIII:

Até meados desse século, prosseguiam as lutas entre Portugal e Espanha. O gado continuava a expandir-se admiravelmente, despertando enorme interesse dos luso-brasileiros pela necessidade de um meio de transporte para o ouro que saía das Minas Gerais para os portos litorâneos e também da carne do couro e do sebo. Portugal decidiu reforçar o povoamento no sul e intensificar a defesa da Colônia do Sacramento, cada vez mais contestada pelos espanhóis. Dessa decisão, resultou a fundação da Comandância do Presídio fundação do Presídio do Rio Grande do Continente de São Pedro (que deu origem à cidade de Rio Grande). Foi fundada em 19 de fevereiro de 1737, pelo brigadeiro José da Silva Paes. Paralelamente, iniciou a imigração açoriana para as regiões meridionais, com a clara intenção de fixar raízes de um povoamento português nas áreas lacustres do território rio-grandense. Os açorianos queriam criar núcleos de povoamento próximos ao mar e nas áreas das lagoas, e iniciar a pequena agricultura. Entre os núcleos que resultaram da Imigração Açoriana na segunda metade do século XVIII destaca-se Porto Alegre (o antigo Porto dos Casais).

1.3.3. Os Grandes Tratados de Limites:

Em 1750, reuniram-se as diplomacias espanhola e portuguesa em Madri, para decidir sobre os limites das áreas pertencentes às duas Coroas na América Latina. O brasileiro Alexandre de Gusmão, defendendo o direito de “Uti Possidetis” (país que ocupou definitivamente uma região deve ser o dono legal da mesma), garantiu a Portugal a

Page 7: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

6

posse das imensas áreas situadas a oeste e ao norte do Brasil, dando a grosso modo o delineamento territorial do nosso País. O Tratado de Madrid fez uma exceção do “Uti Possidetis”, exatamente do sul: os sete Povos das Missões (que eram espanhóis passariam ao domínio português, e, a Colônia do Sacramento (portuguesa), pertenceria à Espanha. A troca desses territórios não foi aceita pelos jesuítas e índios missioneiros, que não concordaram em ceder suas terras aos portugueses. Esse fato gerou a “Guerra Guaranítica” (de 1753 à 1756), se unindo Espanha e Portugal para obrigar jesuítas e índios a aceitarem os termos do Tratado de Madrid. Na Guerra Guaranítica, destacou-se o cacique Índio Sepé Tiarajú, que se celebrizou por sua coragem e amor à terra, sendo considerado por isso, o primeiro caudilho rio-grandense. Morreu no combate de Caiboate, em 1756. Em 1761, foi assinado o Tratado de El Pardo, que determinou a volta das Missões à Espanha e a Colônia do Sacramento a Portugal. Mais tarde, porém, e após novas lutas entre as duas Coroas, a Espanha conseguiu uma grande vitória diplomática sobre Portugal: o Tratado de Santo Ildefonso (1777) que deu grandes benefícios territoriais aos castelhanos. Esse Tratado estipulava que, tanto as Missões como Sacramento ficariam no domínio espanhol. Caso vigorasse ainda hoje esse Tratado, a maior parte do oeste do Rio Grande do Sul não seria uma área brasileira. Ao iniciar o século XIX, os problemas ocorridos na Europa entre Portugal e Espanha, culminaram com o Tratado de Badajoz (1801), e, paralelamente, ocorre a invasão da parte espanhola do Rio Grande do Sul por Borges do Canto. Foi esse Tratado que, a grosso modo, deu ao nosso Estado o seu atual formato e a sua integração definitiva ao Brasil.

1.4. As Estâncias

Pelo Tratado de Tordesilhas, como já vimos, as terras do nosso Estado pertenciam totalmente à Espanha. Apesar disso, os portugueses também visitaram as terras gaúchas logo após a descoberta do Brasil. O primeiro português a chegar a estas terras foi Pero Lopes de Souza, por volta de 1532. Ele veio à procura de ouro e chegou até o rio da Prata, nada encontrando. Anos mais tarde os portugueses voltaram a se interessar por esta região, agora pelo gado que existia em grande quantidade pelos campos. Os tropeiros que viviam em Laguna começaram a levar os animais que aqui estavam soltos. Eles vinham pelo litoral e chegavam à região chamada Vacaria do Mar. Nessa época surgiu a figura singular de Cristóvão Pereira de Abreu, que convenceu o Sargento - Mor Francisco de Souza Faria a construir uma estrada através da serra, alcançando Vacaria dos Pinhais e Lages, passando por Curitiba e indo até Sorocaba. Essa estrada foi iniciada em 1727 e teve início no Morro dos Conventos. Concluída, Cristóvão Pereira de Abreu foi o primeiro a utilizá-la, conduzindo 2000 animais para as feiras de Sorocaba.

Para Reunir o gado, tropeiros organizaram as primeiras estâncias, isto é, grandes locais de criação de gado. Ao redor das estâncias, com o tempo, surgiram povoações que mais tarde se tornaram cidades gaúchas, como: Cruz Alta, Vacaria, São José do Norte e outras.

Cristóvão Pereira de Abreu, por ter sido o principal tropeiro da época, é considerado o “Tropeiro Símbolo” do Rio Grande do Sul.

1.5. A Colônia Do Sacramento

As terras que compreendem hoje o nosso Estado eram muito cobiçadas tanto por portugueses como por espanhóis, por causa da grande quantidade de gado que existia pelos campos. Os portugueses, principalmente, queriam defender as estâncias que tinham sido criadas e resolveram construir fortes para protegê-las.

Em 1680, o português Manoel Lobo fundou um forte às margens do Rio Prata, que recebeu o nome de Fortaleza do Sacramento. Essa fortaleza deveria defender a região contra os ataques espanhóis, que vinham da cidade Argentina de Buenos Aires.

O tempo foi passando e, em volta da Fortaleza surgiu uma povoação que recebeu o nome de Colônia do Sacramento.

Page 8: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

7

Durante muitos anos portugueses e espanhóis se empenharam em lutas por causa dessa região. Só em 1750, como já vimos, entraram em acordo, com o Tratado de Madrid. Mas esse Tratado, como todos, estava, destinados a não serem cumprido. E os desentendimentos continuaram.

Com o Tratado de Santo Ildefonso, altamente desvantajoso, os portugueses não conformados, passaram a exigir as terras, de volta (Colônia do Sacramento e, também, as Missões). Mas, só em 1801, conseguiram as Missões, ficando a Colônia do Sacramento em definitivo para, os espanhóis.

Hoje Colônia é uma importante cidade uruguaia os Sete Povos das Missões é uma região do nosso Estado, histórica e turística.

Muitos gaúchos se salientaram nas lutas pela conquista da terra e fixação dos limites, dentre eles Manoel dos Santos Pedroso e José Borges do Canto, que saíram da região de Santa Maria da Boca do Monte, para combater os espanhóis na zona missioneira, começando por expulsá-los em São Martinho.

Os três núcleos portugueses, desde o século XVII, para a conquista do Brasil meridional, foram: a Colônia do Sacramento (1680); Laguna (1686); e, o Forte Jesus - Maria - José (Comandância do Presídio do Rio Grande do Continente de São Pedro), fundado em 1737, junto ao canal do Rio Grande. Ao redor desse forte, surgiu a primeira vila gaúcha, que deu origem à atual cidade de Rio Grande.

1.6. As Sesmarias

No início do século XVIII, o governo português concedia sesmarias, nessa região que pertencia à Espanha, estabelecendo o processo expansionista. A primeira sesmaria foi a de Campos de Dentro de Viamão, em 1733. Depois da instalação da guarnição militar na barra de Rio Grande, em 1750 foram doados sesmarias ao longo dos rios Jacuí e Pardo. Em 1777, as sesmarias iam do Jacuí ao Camaquã. As sesmarias, áreas de terras que mediam uma légua (6.600 m) de frente por três léguas (19.800 m) de fundo, eram doadas, geralmente, a oficiais do Exército, porque eles aceitavam vir para o sul, e, sendo homens de bens, para adquirirem gado e escravos, ocupavam e defendiam o território que somente mais tarde se tornaria português.

1.7. Os Açorianos

Os portugueses só fundavam fortes e estâncias, continuando as terras despovoadas. Nesses núcleos havia pouca gente, e se as terras, constantemente invadidas, ficavam sem defesa. Então o governo resolveu povoá-las mais rapidamente, mas o problema era difícil de resolver porque não havia população suficiente no Brasil para povoar as terras do sul. Foi, então, preciso trazer gente de outros lugares. Assim, em 1751, chegaram casais vindos da Ilha dos Açores, para trabalhar na lavoura e povoar as terras. Dedicaram-se ao plantio de trigo, arroz, cebola e fumo, cuidando também do gado. A princípio ficaram instalados próximo ao litoral e na zona da Depressão Central. Depois se espalharam por todo o Estado, principalmente pela campanha.

Alguns casais se estabeleceram nas terras onde hoje fica a nossa Capital, que à época era chamada Porto dos Casais, por causa dos casais de açorianos que ali se estabeleceram.

1.8. Imigração Alemã e Italiana

Para aumentar o povoamento das terras gaúchas, vieram os imigrantes alemães e italianos. O primeiro grupo de imigrantes alemães chegou no ano de 1824, fundando a Colônia de São Leopoldo. Depois foram se estabelecendo nos vales dos rios dos Sinos, Jacuí, Caí e Taquari. Fundaram novas Colônias, que mais tarde se tornaram importantes cidades, como: Santa Cruz do Sul, Agudo, Nova Petrópolis, Taquari, Sapiranga, São Sebastião do Caí, Lajeado, Estrela, Venâncio Aires e outras.

Os imigrantes italianos chegaram em 1875, estabelecendo-se na região montanhosa do Planalto, fundando as seguintes colônias: Conde D’Eu, atual Garibaldi; Dona Isabel, hoje Bento Gonçalves; e Nova Milano, atual Farroupilha. A Imigração italiana

Page 9: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

8

continuou e novas colônias importantes foram fundadas: Veranópolis, Caxias do Sul, Antônio Prado, Flores da Cunha e tantas outras.

Os imigrantes trouxeram muito progresso para o nosso Estado, desenvolvendo a agricultura e iniciando indústrias, além de trazerem sua cultura (suas tradições, culinárias, músicas, cantos, danças, etc.), para formar a cultura rio-grandense de hoje.

Outros povos também se estabeleceram aqui, sendo o polonês o mais importante, fixando-se em Guarani das Missões, Porto Alegre, Ijuí e São Marcos.

1.9. Nomes Que Teve o Rio Grande do Sul

1500/1737 - Capitania D’Eu Rei 1737/1763 - Continente de São Pedro 1763/1776 - Continente de Viamão 1776/1807 - Capitania do Rio Grande do Sul 1807/1822 - Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul 1822/1889 - Província de São Pedro do Rio Grande do Sul 1889/.... - Estado do Rio Grande do Sul 2. Episódios Importantes2

2.1. Revolução Farroupilha

2.1.1. A província em 1835

O território, na época, era dividido em 14 municípios, com uma população de 280.000 habitantes, cujas sedes eram: Porto Alegre, Rio Pardo, Pelotas, Rio Grande, Triunfo, Santo Antônio, São José do Norte, Jaguarão, Piratini, Caçapava, Cachoeira, São Borja, Cruz Alta e Alegrete.

Sua economia era basicamente constituída da primária industrialização de carne: o charque. O trigo, antes muito cultivado e um dos produtos de exportação, agora as lavouras estavam abandonadas por causa da “ferrugem”.

A economia era, pois, fundamentalmente proveniente de duas fontes: as estâncias e as charqueadas. Só quem possuía grandes áreas de terras (sesmarias) e os detentores do poder (militares) é que tinham expressão social. Os demais só encontravam saída nos empregos públicos.

2.1.2. Insatisfação Política, Econômica e Social

As idéias republicanas emanadas dos países vizinhos vieram dar um clima propício a movimentos sediciosos.

O descaso da Regência para com a Província, e o estado de abandono a ela dada (nada aqui se construía de utilidade pública), os pesados impostos na economia gaúcha, cada vez mais sacrificada, e a falta de habilidade das autoridades que a governavam, levaram essa Província à mais cruenta e longa luta: a Revolução Farroupilha (1835-1845). As constantes rivalidades existentes entre os dois partidos políticos existentes, os Liberais e os Conservadores e a fundação de uma “sociedade militar” acabaram por desencadear o “Decênio Heróico”.

2.1.3. A Tomada de Porto Alegre

As acusações feitas pelo presidente da Província, Fernandes Braga a Bento Gonçalves e a seus amigos liberais, como comprometidos com um caudilho do Prata em prejuízo do Império, levaram os liberais à invasão armada da Capital para depor o presidente e promover a paz e a concórdia na Província.

2 FAGUNDES, Taylor – Polígrafo utilizado no Concurso de Prendas e Peões da CBTG em 2010 e 2011. Santa Maria,

1984, p.8.

Page 10: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

9

A 19 de setembro de 1835, por volta da meia noite, nas proximidades da antiga ponte da Azenha, uma força revolucionária com aproximadamente 200 cavaleiros, comandada por José Vasconcellos Gomes Jardim e Onofre Pires da Silva Canto, vindo de Pedras Brancas (atual cidade de Guaíba), iniciou marcha em direção ao centro da Capital. Ao seu encontro, o presidente Braga mandou uma pequena força, sob o comando do Visconde de Camamu, que nos primeiros choques com a vanguarda revolucionária entrou em pânico, levando o resto das tropas a aderirem aos sediciosos.

No dia seguinte, dia 20 de setembro, Bento Gonçalves, vindo de Pedras Brancas, entra triunfalmente em Porto Alegre. O presidente Fernandes Braga foge para a cidade de Rio Grande e Bento Gonçalves estabelece novo governo na Província.

2.1.4. A Revolução em Marcha

A Regência nomeou novo presidente para a Província, o Dr. José de Araújo Ribeiro, que tomou posse em Rio Grande e ali estabeleceu o governo.

Muitos revolucionários abandonaram o movimento à orientação separatista de alguns, indo juntar-se ao presidente Araújo Ribeiro, entre eles o coronel Bento Manuel Ribeiro.

A luta reiniciou em todos os pontos do território da Província, agora com dois presidentes: o Dr. Mariano Pereira Ribeiro, em Porto Alegre, empossado pelos revolucionários, e o Dr. Araújo Ribeiro, nomeado pelo Império, em Rio Grande.

Violentas batalhas são travadas por toda a Província, e o major imperial Marques de Souza, após fugir da prisão farroupilha, em Porto Alegre, forma um pequeno contingente armado e, com adesão de forças revolucionárias, retoma a Capital para o governo de Araújo Ribeiro.

2.1.5. Proclamação da República Rio-Grandense

Apesar de haverem reconquistado Porto Alegre, os imperiais continuavam a sofrer sucessivas derrotas frente às forças revolucionárias. O coronel Antônio de Souza Neto, entusiasmado pelas vitórias alcançadas e estimulado pelos companheiros de armas, proclama no dia 11 de setembro de 1836 a República Rio-Grandense com suas forças concentradas no campo de Joaquim Menezes, à beira do Passos das Pedras, margem direita do rio Jaguarão, onde na véspera, infringira fragorosa derrota às forças legalistas de Silva Tavares.

Bento Gonçalves, que sitiava Porto Alegre, no intuito de reconquistá-la, ao ter conhecimento da proclamação de Souza Neto, resolveu rumar para o sul, para juntar-se aos companheiros; porém, ao atravessar o rio Jacuí, na Ilha do Fanfa, foi surpreendido e preso pelas forças comandadas por Bento Manuel Ribeiro, auxiliado por uma esquadra naval imperial. O chefe farroupilha, juntamente com seu primo Onofre Pires e o italiano Tito Lívio Zambecari, foram remetidos presos para a Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.

2.1.6. A Primeira Capital Farroupilha

Souza Neto, ao proclamar a República Rio-Grandense, tratou de tomar as primeiras providências para o funcionamento do novo Estado independente. A Vila de Piratini foi escolhida para ser a Capital. A presidência da República Rio-Grandense coube, provisoriamente, ao valoroso chefe farroupilha José Gomes de Vasconcellos Jardim , enquanto Bento Gonçalves permanecesse preso. Foram eleitos vices - presidentes: Antônio Paulo da Fontoura, José Mariano de Mattos, Domingos José de Almeida e Inácio José Gomes de Oliveira Guimarães. Entre os ministros da nova República, muito se destacou o comerciante e proprietário de Charqueadas, Domingos José de Almeida, que na chefia do Ministério do Interior e da Fazenda assegurou o êxito da economia farroupilha.

2.1.7. Os Generais Farroupilhas

Foram os primeiros generais: João Manoel de Lima e Silva, Bento Gonçalves da

Page 11: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

10

Silva, Antônio de Souza Neto, João Antônio Silveira, Bento Manoel Ribeiro e mais tarde, Davi Canabarro. O italiano Giusepe Garibaldi era o comandante da pequena Marinha Farroupilha.

2.1.8. A Bandeira

Foi planejada por José Mariano de Mattos e desenhada por Bernardo Pires. Apareceu em Piratini, em 06 de novembro de 1836, conduzida pelo coronel Teixeira Neto e adotada oficialmente por decreto-lei de 12 de novembro daquele ano.

2.1.9. O Hino Rio-Grandense

Teve a letra de Francisco Pinto da Fontoura, música de Joaquim José de Mendanha e arranjo de Antônio Côrte Real. Foi cantado pela primeira vez em 30 de agosto de 1838, em Caçapava.

2.1.10. Expedição a Laguna

Bento Gonçalves, com o auxílio da Maçonaria, conseguiu fugir da prisão, na Bahia, para onde tinha sido transferido. Ao voltar para o sul, foi empossado como presidente da República Rio-Grandense, assumindo também o comando das forças revolucionárias, em fins do ano de 1837.

Por necessidade de um porto marítimo, os farroupilhas esquematizaram uma expedição para Santa Catarina a fim de ocuparem Laguna. Para essa extraordinária façanha, comandada por Davi Canabarro, foi brilhante a atuação do “Herói dos Dois Mundos”, Giusepe Garibaldi, que estava integrado no movimento farroupilha, comandando os barcos Seival e Farroupilha, este naufragando antes de chegar ao destino.

Laguna é ocupada pelas forças de Davi Canabarro e Garibaldi, e, em 24 de julho de 1839 é proclamada a efêmera República Juliana.

Nessa época entra em cena a heróica Anita Garibaldi.

2.1.11. As Capitais Farroupilhas

10/11/1836 à 14/02/1839 - Piratini 14/02/1839 à 22/03/1842 - Caçapava 22/03/1842 à 28/02/1845 - Alegrete

2.1.12. As Principais Batalhas

Do Seival (10/09/1836); do Fanfa (04/10/1836); da Fazenda Porongos (31/07/1837); do Rio Pardo (30/04/1838); do Ponche Verde (26/05/1843) e de Porongos (14/11/1844).

2.1.13. A Constituição da República

A Assembléia Geral Constituinte foi instalada em 1º de dezembro de 1842, sendo a Constituição promulgada em 03 de fevereiro de 1843, após tumultuadas sessões, pelas adversidades que reinavam entre os chefes revolucionários.

2.1.14. A Imprensa Farroupilha

Foram editados os jornais “O Povo”, “O Mensageiro”, “O Americano” e o “Estrela do Sul”.

2.1.15. A Paz na Província

Os revezes sofridos pelas forças imperiais, faziam com que a Regência substituísse seguidamente o presidente da Província. Em boa hora e para e felicidade das duas facções, apela para um homem de invulgares qualidades moral, militar e política, a ele entregando

Page 12: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

11

o comando, o Barão de Caxias (Luiz Alves de Lima e Silva), que é investido no Governo da Província em 09/11/1842.

Os chefes rebeldes, daí em diante passaram a sofrer pesadas e contínuas derrotas, destacando-se a de Ponche Verde. Cansados de tanto lutar e com seu exercício reduzido, desarmado e esfarrapado, os farroupilhas resolveram entrar em negociações com Caxias, para o estabelecimento de uma paz honrada para ambos os contendores.

Para o Barão de Caxias, homem de extraordinária inteligência e caráter ímpar, não foi difícil estabelecer a paz nos pampas gaúchos, que após dez anos de sangrenta luta entre irmãos brasileiros, encontra o seu fim no dia 26 de fevereiro de 1845, com a assinatura do acordo do Ponche Verde, onde ninguém saiu vencido ou vencedor.

2.1.16. A Morte do Herói

Em 1847, dois anos depois de firmada a paz, depois de longa enfermidade, morria Bento Gonçalves, no mesmo lugar de onde saíra para o início da Revolução, em Pedras Brancas (hoje cidade de Guaíba).

Page 13: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

12

GEOGRAFIA DO RIO GRANDE DO SUL

1. Posição e situação geográfica.3

O Rio Grande do Sul é o estado mais meridional do Brasil, localiza-se no extremo

sul do país. Tem um território de 282.062 km2, ou seja, 3,30% da área do país. É o maior

estado da região sul.

1.1. Limites

Ao Norte e Nordeste: Estado de Santa Catarina

Ao Sul e Sudoeste: Uruguai

A Leste: Oceano Atlântico

A Oeste e Noroeste: Argentina

2. O Relevo e os Solos 4

O relevo do Rio Grande do Sul assemelha-se ao do resto do Brasil, pois possui um substrato rochoso muito antigo, que há milhões de anos não sofre manifestações tectônicas expressivas. Por isso mesmo, o relevo é relativamente suave.

O relevo do Rio Grande do Sul possui diferentes unidades, cada qual com suas altitudes, tipos de rochas e formas predominantes: o planalto Sul-Rio-Grandense, o planalto Norte-Rio-Grandense, a depressão central, a planície litorânea e a campanha.

3 MOREIRA, Igor O Espaço Rio-Grandense, Editora ática, 2007, p.6. 4 MOREIRA, Igor O Espaço Rio-Grandense, Editora ática, 2007, p. 10

Page 14: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

13

3. O Clima 5

O clima do Rio Grande do Sul é classificado como subtropical. No Rio Grande do Sul o ar atmosférico varia muito no decorrer do ano. Isso

acontece devido à posição geográfica do estado, que o torna ora dominado por massas de

ar tropicais, ora por massas de ar polares.

4. Os Rios 6

Graças a uma pluviosidade intensa e bem distribuída por todo o ano, o Rio Grande

do Sul tem uma farta rede hidrográfica. É um dos estados brasileiros mais bem servidos de

águas internas, já que, além dos rios, possui um número considerável de lagoas e lagunas

costeiras, algumas de grande extensão.

Os rios mais importantes do estado são: Jacuí, Taquari, rio Pardo, Ijuí, Ibicuí, Passo Fundo, Gravataí, rio Caí, rio dos Sinos, Camaquã, e Jaguarão, entre outros.

5 MOREIRA, Igor O Espaço Rio-Grandense, Editora ática, 2007, p.16.

6 MOREIRA, Igor O Espaço Rio-Grandense, Editora ática, 2007, p.19.

Page 15: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

14

MOREIRA, Igor O Espaço Rio-Grandense, Editora ática, 2007. P. 19 5. As Paisagens Vegetais 7

No Rio Grande do Sul as condições de clima e solo favoreceram tanto a formação

de matas quanto a de campos. No litoral, porém, a vegetação é escassa e pobre devido à

presença de solos arenosos e com muito sal. A vegetação litorânea é formada por plantas

baixas e arbustos, adaptados ao ambiente em que vivem.

5.1. Os campos

Há dois tipos de campos no Rio Grande do Sul: as campinas e os campos do

planalto.

7 MOREIRA, Igor O Espaço Rio-Grandense, Editora ática, 2007, p.21.

Page 16: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

15

As campinas são campos limpos, que cobriam quase toda a metade sul e o oeste do estado. Nas áreas remanescentes dessa vegetação no Rio Grande do Sul forma-se um verdadeiro tapete de gramíneas, que se estende pelas terras onduladas das coxilhas.

Os campos do planalto , ou de cima da serra, aparecem em solos relativamente pobres, em comparação aos solos ricos de origem vulcânica do planalto Norte-Rio-Grandense. No nordeste do estado, nos campos de Bom Jesus e de vacaria, os solos são arenosos. Além disso, o frio rigoroso do inverno contribui para a ocorrência e vegetação campestre.

5.2. As matas

A mata subtropical ocupava a encosta do planalto e o alto vale do rio Uruguai, onde a pluviosidade é farta e o inverno não é muito frio. Ela é parecida com as florestas tropicais: possui grande variedade de árvores, de folhas largas e perenes, que estão entrelaçadas por cipós. No entanto, as árvores são de menor porte que as das florestas tropicais, e algumas delas perdem as folhas durante o inverno. Por isso é do tipo subtropical. (...)

A mata dos Pinhais é formada pelo pinheiro-do-paraná, também chamada de floresta ou mata de Araucária. Os pinheiros são árvores que preferem as baixas temperaturas.

Antigamente os pinhais cobriam boa parte do território rio-grandense. No entanto, devido ao intenso desmatamento para a exploração de madeira, restam hoje poucos lugares onde as araucárias podem ser encontradas.

Page 17: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

16

HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO PLANALTO CENTRAL

É necessário que se esclareça que o termo “Planalto Central” adotado para o concurso de prendas e peões do MTG-PC não se refere à delimitação geográfica do Planalto Central brasileiro, nem apenas à cidade de Brasília. Para nós, Planalto Central corresponde a esta área que é delimitada pelo MTG-PC: Oeste da Bahia, Distrito Federal, Tocantins, Minas Gerais e Goiás.

Não há uma delimitação geográfica específica, nem linhas limítrofes definidas politicamente, o que existe é uma convenção dos tradicionalistas desta região que delinearam a área abrangida em seu estatuto, homologado pela Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha (CBTG).

Em um festival nacional, em um rodeio, ou em uma convenção da CBTG, boa parte dos MTGs tem sua identidade atrelada ao seu próprio estado – o local de abrangência da sua federação. Nossa Federação é um pouco mais que isso: somos cinco estados, que conservam muitas similaridades entre si. É isto que este pequeno estudo procura transpassar, a realidade da área da nossa Federação.

Justamente por isso, é extremamente difícil apontar uma bibliografia específica sobre essa área. A fim de produzir este material, buscamos indicar trechos importantes da nossa história relacionada à inserção do povo gaúcho nesta região, afinal, quando os Regulamentos dos concursos de prenda e peões exigiram história e geografia do Planalto Central, o que se pretendia era, justamente, incentivar a busca do conhecimento acerca da nossa realidade. Por isso mesmo, o maior enfoque será dado às cidades e regiões onde se concentram nossas entidades singulares – os CTGs do MTG-PC.

1. Os Primórdios8

O povoamento inicial das terras de Goiás é muito anterior à chegada dos criadores de gado e dos bandeirantes. Nessas terras – que abrangiam o atual estado de Goiás e Tocantins, criado em 1988 – viviam povos indígenas nos séculos XVII e XVIII, quase todos falando língua jê, como era o caso dos Kayapós. Não se sabe quase nada a respeito dos índios Goiá, ou Goyazes, que deram nome à região.

Na região do Planalto Central , na segunda metade do século XVIII, já existiam várias sesmarias em terras hoje pertencentes ao Distrito Federal, onde Brasília está localizada. Localizavam-se na área de Planaltina e norte do Distrito Federal, ou nas imediações de Formosa, ou na margem direita do Rio São Bartolomeu e do atual Lago Sul. Também existiram sesmarias em Gama, Luziânia, em Santo Antônio do Descoberto e Cocalzinho de Goiás. Eram enormes, da ordem de 108 quilômetros quadrados! Sesmarias de sertão, dimensionadas para a agricultura e a criação extensiva de gado.

Com o declínio das atividades mineradoras, muitos arraiais iam empobrecendo. Meiaponte, (atual Pirenópolis) figurava como uma exceção devido, sobretudo, ao seu comércio.

Enquanto os habitantes do litoral – em contato com as influências cosmopolitas vindas pelo Atlântico – continuavam sendo portugueses do Brasil, como eles mesmos se autodenominavam no século XVIII, nos ermos do sertão foram surgindo arraiais e vilas de um novo tipo, desconhecido de Portugal. Esse algo novo, querendo nascer na terra ignota, era a cultura brasileira propriamente dita.

2. O Cerrado e as Novas Fronteiras Agrícolas9

A incorporação dos cerrados à agropecuária brasileira é um fato de importância

capital para a economia brasileira, uma vez que esse ecossistema, considerado improdutivo há algumas décadas, contribui hoje com parcela considerável da nossa

8 LEONARDI, Victor - Estrada Colonial do Planalto Central

9 SIMON, Pedro - A Diáspora do Povo Gaúcho, Senado Federal, Brasília, 2009; Páginas 67 a 81

Page 18: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

17

produção de carne e grãos. A participação dos migrantes gaúchos foi decisiva para o sucesso dessa empreitada.

Segundo maior bioma produtivo do país, o cerrado brasileiro se estende por 197 milhões de hectares nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás. A principal característica do cerrado são os arbustos de galhos retorcidos e o clima definido com uma estação chuvosa e outra seca. Seus solos, em geral profundos, antigos e com poucos nutrientes, exigem uma adaptação para a produção.

A incorporação desse ecossistema, por sua vez, determinou que o Brasil viesse assumir a posição preponderante em termos globais que desfruta hoje na produção de alimentos.

O Centro e o Oeste do Brasil só passaram a interessar ao país em meados do século passado, quando aquele que foi o nosso maior estadista republicano, o sul-rio-grandense Getúlio Vargas, iniciou a grande Marcha para o Oeste. Antes disso, os brasileiros viviam presos ao litoral, como caranguejos. A esmagadora maioria da nossa população vivia numa estreita faixa do litoral, a menos de cem quilômetros do mar.

Passado um pouco mais de meio século do nosso avanço para o oeste, aquilo que se chamava de “sertão”, com um certo tom de desprezo e angústia, transformou-se em uma das regiões mais produtivas do mundo. (...)

Para muitos estudiosos, o Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal, mais conhecido pela sigla Padef [o autor usa “Padef” para referir-se ao PAD-DF], de certo modo, acabou servindo de modelo para outras iniciativas oficiais da incorporação dos cerrados.

Com a criação do Padef, o Governo do Distrito Federal pretendia formar um cinturão verde ao redor da recém criada Capital da República. O então secretário de Agricultura do Distrito Federal, o baiano Pedro Dantas, foi buscar no Rio Grande do Sul os agricultores que iriam concretizar aquilo que não passava de um projeto ousado. (...)

Agricultores antigos da região do Distrito Federal acharam que os gaúchos estariam de volta ao Sul em muito pouco tempo, antes do final do prazo, desiludidos por não conseguirem dominar a produção do cerrado.

Mas ocorreu justamente o contrário do que imaginavam os pessimistas. De uma produção de 30 sacos por hectares, por ano, nos primórdios, os gaúchos aqui do Planalto Central estão obtendo, em nossos dias, de 70 a 80 sacos. Trata-se de um extraordinário crescimento de 130%.

Com o sucesso do Padef, os gaúchos começaram a chegar em grandes levas às cidade goianas que cercam Brasília, como Cristalina, Luziânia, Formosa. Logo em seguida, passaram a comprar terras nas cidades mineiras próximas (...).

A chegada dos nossos migrantes a Formosa deu-se a partir de 1985. Estima-se que, atualmente, os gaúchos e seus descendentes na cidade seja cerca de 500. Quase todos vieram por conta própria, isoladamente, mas a seguir reuniram-se em uma cooperativa.

(...) A ida dos gaúchos para o sudoeste de Goiás, a partir da metade da década de 70 (...) foi uma consequência natural do avanço das levas de migrantes sulistas que subiam pelo Mato Grosso do Sul, onde também foram em busca de terras ainda baratas.

As terras do sudoeste goiano, extremamente férteis, custavam, à época, cerca de 20 sacos de soja por hectare. Hoje, uma propriedade bem posicionada pode ter o hectare avaliado em até 500 sacos de soja.

As cinco cidades do sudoeste goiano que mais acolheram sul-rio-grandenses são Jataí, Rio Verde, Mineiros, Chapadão Gaúcho e Montividiu. Estima-se que Rio verde e Jataí tenham entre 400 e 500 famílias de gaúchos. Em Mineiros seriam 200 famílias (...).

Embora grande parte dos gaúchos do sudoeste goiano esteja ligada à agricultura ou à pecuária, as famílias em geral residem nas cidades. O principal produto regional é a soja, seguida pelo milho. (...)

Vejam que coisa fantástica: primeiro, vieram os imigrantes da Itália e da Alemanha e se instalaram no Rio Grande do Sul; a segunda geração saiu do Rio Grande do Sul e foi para Santa Catarina e Paraná; e a terceira geração saiu de Santa Catarina e Paraná para o Oeste do Brasil.(...)

Page 19: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

18

Existe [em Minas Gerais] uma cidade chamada Chapada Gaúcha. Nela fica a entrada para o Parque Grande Sertão Veredas, que tem como um dos objetivos preservar aquelas terras e rios que serviram de cenário para o formidável romance de João Guimarães Rosa.

Hoje, com dez mil habitantes, Chapada Gaúcha teve origem num programa de assentamento criado em 1976 pela Fundação Rural Mineira (Ruralminas), que cuidava de colonização e titulação de terras. (...)

A produção inicial foi restrita à soja. Hoje, além de grãos, Chapada Gaúcha é uma importante produtora de sementes de capim, vendidas para todo o país. O clima é agradável porque a cidade fica 900 metros acima do nível do mar. (...)

Segundo Narciso Elói Barão, um dos agricultores sulistas da Chapada Gaúcha e patrão do CTG Chama Crioula, as cidades mineiras que mais contam com agricultores gaúchos são: Unaí, Bonfinópolis de Minas, Formoso, Buritis e Paracatu. Com ele concorda Pedro Jarí Taborda, agricultor natural de Santo Ângelo, que veio de Itaqui para Buritis em 1984.

Integrante do Centro de Tradições Gaúchas Nova Querência, de Buritis, e ex-prefeito da cidade, Taborda conhece bem os gaúchos que se instalaram naquelas cidades mineiras, nas proximidades de Brasília. Ele acredita que entre 40 e 80 famílias vivem em cada um desses Municípios.) (...).

A entrada dos gaúchos em Tocantins começou pela cidade de Gurupi, em meados dos anos 70, quando as primeiras levas chegaram, para explorar a agricultura. Eram cerca de 50 as famílias pioneiras. (...)

O segundo grande fluxo de migração sulina ocorreu durante a construção de Palmas, mas, naquela ocasião, a maioria dos que chegavam era formada por profissionais liberais. Os médicos, dentistas, advogados gaúchos são numerosos na capital tocantinense. Também é elevado o número de professores, em todos os graus, e de funcionários públicos.(...)

Quando se fala em gaúchos da Bahia, temos de, obrigatoriamente, pensar em duas cidades. Uma delas é Barreiras, município antigo, emancipado em 1891, que recebeu os primeiros migrantes sul-riograndenses. A segunda cidade tem hoje o nome de Luís Eduardo Magalhães, em homenagem ao falecido líder político daquele estado. Conhecida como LEM, criada há cerca de dez anos, apresenta hoje umas das mais elevadas taxas de crescimento do Brasil, tanto no que se refere à produção agrícola quanto no quesito população.

Estima-se que a chegada dos gaúchos ao extremo oeste da Bahia se deu a partir do final dos anos 70. Instalaram-se inicialmente em Barreiras e mais tarde transferiram-se para LEM, cujas terras eram mais férteis. Pouco depois, o avanço dos sul-rio-grandenses atingiu todo o oeste da Bahia, transbordando para o sul do Piauí e do Maranhão.

O motivo da viagem para a Bahia era o mesmo de sempre. Como no Rio Grande do Sul possuíam pequenas propriedades, esses agricultores não tinham perspectivas de crescimento. Partiram, então, em busca de terras mais baratas, onde poderiam conseguir propriedades maiores e mais rentáveis. 3. A Construção de Brasília10

É antiga a ideia de transferência da capital para o interior do Brasil. A constituição de 1981 previa sua construção no Planalto Central. Por isso, em 1892, à frente da recém formada Comissão Exploradora do Planalto Central, o cientista Luís Cruls demarcou um quadrilátero de 14.400 quilômetros para ser nele erguida a nova cidade.

A idéia de transferir a capital para os longínquos descampados do cerrado seria mantida nas constituições de 1934 e 1946. Mas só começou de fato a sair do papel no dia 4 de abril de 1955, num comício em Jataí-GO, quando o então candidato à Presidência Juscelino Kubitschek decidiu fazer a mais óbvia das promessas de campanha: jurou que iria “cumprir a Constituição”. Então, como o próprio JK conta no livro Por que construí Brasília, algo de surpreendente aconteceu – e mudou os destinos do Brasil.

10

BUENO, Eduardo Brasil: uma história, LEYA, São Paulo, 2010; Páginas 367 e 368

Page 20: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

19

De acordo com JK, ao final do comício em Jataí, “uma voz forte de impôs” e o interpelou questionando se ele iria pôr em prática a construção da nova capital no Planalto Central. JK assumiu o compromisso, embora já estivesse com seu plano de metas pronto. Brasília passou então a ser a “meta-síntese” de seu governo. As obras se iniciaram em fevereiro de 1957, com apenas 3 mil trabalhadores – batizados de “candangos”. Nove meses depois cerca de 12 mil pessoas viviam e trabalhavam em Brasília.

Em 41 meses estava construída uma das cidades mais modernas do mundo, inaugurada sob apontamentos de corrupção e desvios de verbas pela “pressa” de se construir. Esse ritmo acelerado foi amplamente criticado por políticos e empresários.

De qualquer forma, em fins 1987, Brasília foi tombada pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade.

4. Os demais estados do Planalto Central

Bahia – O oeste do estado da Bahia pertence ao MTG-PC. O estado pertence à

região Nordeste do Brasil e sua capital é Salvador.

Minas Gerais – Pertence à região Sudeste do Brasil e sua capital é Belo Horizonte.

Goiás – Pertence à região Centro-Oeste do Brasil e sua capital é Goiânia.

Tocantins – Pertence à região Norte do Brasil e sua capital é Palmas.

Page 21: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

20

A HISTÓRIA DO MTG-PC11

1. O Início do Tradicionalismo no Planalto Central

A integração do Movimento Tradicionalista Gaúcho no Planalto Central se iniciou na reunião realizada na sede do CTG Nova Querência em Buritis-MG, no dia 30 de novembro de 1991 em que compareceram integrantes das Patronagens de CTGs da região. Esta data é considerada a data de fundação do MTG-PC.

O passo inicial foi a criação da Coordenadoria de Integração do Planalto Central, que aconteceu no 1º. ENCONTRO DE PATRÕES E INVERNADAS ARTÍSTICAS, em 30 de novembro de 1991, no CTG Nova Querência, Buritis/MG.

Compareceram ao encontro o CTG Querência Formosa com seu grupo de danças adulto, a Estância Gaúcha do Planalto com seu grupo de dança mirim e os CTGs convidados fizeram apresentação durante o fandango com o conjunto Barbicacho, de Formosa/GO, onde também ocorreu a primeira dança de integração entre as invernadas artísticas, dança esta que marcaria presença em todos os encontros de invernadas realizados posteriormente.

Considerando a distância do Rio Grande do Sul e, verificando que seus problemas eram muito semelhantes, a convite do CTG Nova Querência de Buritis-MG, foram convidados os demais CTG´s da região para debaterem suas necessidades e buscarem uma maior integração entre essas entidades.

Daquela reunião participaram os seguintes CTGs: Querência Formosa, de Formosa/GO; Estância Gaúcha do Planalto, de Brasília/DF, Jayme Caetano Braun, de Brasília/DF; além do CTG anfitrião – Nova Querência de Buritis/MG.

Os representantes destas entidades entendiam que a forma de fortalecer o tradicionalismo gaúcho no Planalto Central era unindo estes CTGs. Para isso, criaram uma comissão com representantes dos CTGs a fim de desenvolver atividades que fortalecessem a união e o próprio tradicionalismo no Planalto Central.

Para se filiar à CBTG era exigido um número de 25 CTGs, o que não havia ainda. Mas havia a possibilidade de uma filiação provisória, como uma Coordenadoria. Ou seja, antes de sermos uma Federação da CBTG, fomos uma Coordenadoria, uma espécie de Federação em caráter precário. Foi fundada então a “Coordenadoria da Integração Gaúcha do Planalto Central”.

A comissão trabalharia para a realização do 1º. Encontro Regional de Invernadas Artísticas, Rodeio Crioulo, Concursos Artísticos e Culturais o que seria a semente de nosso FEGARP, Rodeios Crioulos do MTG-PC e Encontro Esportivo. Como critério para a formação da Comissão, ficou determinado que cada CTG teria dois representantes, com direito a participação nas reuniões e voto. A seguir foi nomeada a Comissão Provisória, que iria dar início aos trabalhos da Coordenadoria, tais como elaboração do Estatuto, Regulamentos, criação da Bandeira, Brasão, Logotipo, etc. que ficou assim constituída: Srs. Renato Fioravante e Juventino Vaz Miranda, representantes do CTN Jayme Caetano Braun; Srs. Antonio Amaro da Silveira Neto e Vaner Flores, representantes do CTG Estância Gaúcha do Planalto; Srs. Jorge Antonini e Genedir Vicente Ribas, representantes do CTG Querência Formosa; e Srs. Getúlio Taborda e Gentil Taborda, como representantes do CTG Nova Querência. A seguir, foi indicado pela maioria dos presentes, o Sr. Getulio Taborda, para Presidente da Comissão. E uma nova reunião foi marcada, desta vez, na sede do CTG Estância Gaúcha do Planalto.

O primeiro Presidente do MTG-PC foi o senhor Getúlio Jary Taborda que por seu papel relevante na criação do nosso MTG, ostenta hoje o título de Patrão de Honra do MTG-PC.

11

Um pouco da história do Tradicionalismo Gaúcho no Planalto Central – Elaboração de Loiva Lopes Calderan, páginas 7-14 disponível em www.ftgpc.com.br – (adaptado)

Page 22: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

21

2. A Criação da Coordenadoria da Integração Gaúcha do Planalto

No dia 07/03/1992, na sede da Estância Gaúcha do Planalto, deu-se início a reunião da Comissão Provisória, que teve como principais decisões: - Criação da Coordenadoria da Integração Gaúcha do Planalto, e que sua sede seria onde residisse o coordenador, com abrangência por toda a área do Planalto e, com instrução para ser atingido o maior número possível de CTGs e Grupos Nativistas.

Ficou determinado como competências da coordenadoria: 1- Interação sócio-cultural das entidades co-irmãs; 2- Promover os encontros de invernadas artísticas e Patronagens; 3- Incentivo para o surgimento de novas entidades; 4- Prever de forma conjunta as programações culturais regionais; 5- Divulgar os trabalhos conjuntos; 6- Elaborar normas para os eventos regionais; 7- Divulgar e propor ajustamento no calendário de eventos locais das entidades; 8- Recorrer às entidades para o suprimento financeiro da Coordenadoria; 9-Realizar o Sarau de Prenda Jovem, no final de maio, a cargo do CTG Querência Formosa. 10-Realizar o 2º. Encontro de Invernadas e Patronagens no dia 01/08/92, a cargo do CTG Estância Gaúcha do Planalto. Em julho de 1993, aconteceu o 1º. Rodeio Crioulo do Planalto Central, no Centro de

Tradições Gaúchas Sinuelo da Saudade. Uma promoção da Coordenadoria de Integração Gaúcha do Planalto Central.

Em novembro de 1993, a Coordenadoria da Integração Gaúcha do Planalto participa do 4º Congresso Tradicionalista da CBTG, em Foz do Iguaçu/PR, onde é solicitada a sua filiação à CBTG, tendo sido esta aprovada em caráter provisório. A partir daí, a Coordenadoria poderia participar de todos os eventos da CBTG, mas sem o direito a voto.

3. A FTG-PC (Federação Tradicionalista Gaúcha do Planalto Central)

Em 26 de novembro de 1994, por ocasião do Encontro Extraordinário de Patrões, realizado na Estância Gaúcha do Planalto, em Brasília, a coordenadoria passou a ser Federação Tradicionalista Gaúcha do Planalto Central - FTG-PC, e foi aprovado o seu Estatuto.

Em 10 de novembro de 1995, agora como Federação Tradicionalista Gaúcha do Planalto Central – FTG-PC, no CTG Querência do Sul, em Dourados/MS, durante o 5º Congresso Brasileiro da Tradição Gaúcha, a FTG-PC recebe a sua filiação definitiva.

Em 28 de março de 2015, a FTG-PC teve sua sede própria inaugurada no Parque de Exposições da Granja do Torto, na cidade de Brasília-DF.

4. O MTG-PC (Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central)

No dia 28 de março de 2015, mesma data da inauguração a sede própria, por aprovação do 13º Congresso Tradicionalista Gaúcho Ordinário da FTG-PC, a Federação passou a chamar-se Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central.

Cumpre esclarecer que, mesmo com a alteração do nome, o MTG-PC não deixa de ser uma federação, já que todas as unidades que compõem a Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha (CBTG) são federações. Ou seja, somos uma federação, mas o nome da desta Federação é Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central.

O MTG-PC é uma entidade filiada a Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha – CBTG, da qual emana toda a orientação normativa e reguladora da tradição gaúcha. A Carta de Princípios, nossa Carta Magna e o Código de Ética Tradicionalista, são orientações a serem seguidas com o rigor da lei, não se descuidando de seus Estatutos e Regulamentos.

Grande parte dos CTGs filiados ao MTG-PC estão localizados em áreas voltadas para a agropecuária. É indiscutível a contribuição que o gaúcho dá ao desenvolvimento da

Page 23: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

22

região onde se estabelece. Além da disposição para o trabalho, traz consigo o amor a sua terra natal, a saudade e a vontade de cultivar suas raízes. Mas, não só em áreas agropecuárias ele marcou sua presença, em Brasília ele fez parte também da construção da capital federal e ali também, a tradição gaúcha se fez presente.

Page 24: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

23

FOLCLORE TRADIÇÃO E TRADICIONALISMO

1. Conceitos importantes 12

TRADIÇÃO: É a transmissão de fatos culturais de um povo, quer de natureza

espiritual ou material, ou ainda é a transmissão dos costumes feita de pais para filhos no decorrer dos tempos, ao sucederem-se as gerações. É a memória cultural de um povo. É um conjunto de ideias, usos, memórias, recordações e símbolos conservados pelos tempos, pelas gerações, sendo assim a eterna vigilância cultural.

Faz-se necessário ressaltar, que a tradição não é um exclusividade de nós os gaúchos, uma vez que todos os povos têm sua tradição. Mas nós temos a nossa tradição, a nossa escala de valores, que nos é peculiar.

TRADICIONALISMO: É o movimento, a tradição em marcha. O tradicionalismo é um estado de consciência, que busca preservar as boas coisas do passado, sem conflitar com o progresso, através do cultuar, vivenciar e preservar o patrimônio sócio-cultural do povo gaúcho. É a sociedade que defende, preserva, cultua e divulga a tradição gaúcha, que congrega defensores dos costumes, dos hábitos, da cultura, dos valores do gaúcho.

FOLCLORE: Folclore é a ciência que estuda a cultura espontânea do grupo social,

que estuda todas as manifestações espontâneas do povo que tem escrita (povo gráfico), tanto do ponto de vista material, quanto espiritual. Como o próprio nome sintetiza, é a ciência do povo, são as tradições, os costumes, as crenças populares, o conjunto de canções, as manifestações artísticas, enfim, tudo o que nasceu do povo e foi transmitido através das gerações.

NATIVISMO: Nativismo não é um culto como a tradição, mas é sim um dos valores

desse culto. Pode ser definido como o sentimento de amor pelo chão onde se nasce, de onde se é nato.

Por sermos gaúchos, acreditamos que não exista povo mais nativista que nós, mas somos sabedores de que esse sentimento de amor pela nossa terra natal, a exemplo da tradição, também não é patrimônio exclusivo e peculiar nosso.

2. A Tradição Gaúcha 13

Foi há menos de 200 anos que a palavra gaúcho (gaúcho das duas bandas de Prata), apareceu citada em anotações ou documentos e de forma pejorativa. Por isso, até meados do século passado, ainda nos chamavam de “continentinos” ou “rio-grandenses”, porque “gaúcho” significava vagabundo, gaudério, arreador, ladrão de campo. Somente aos poucos, nos últimos 100 anos, quando a Província começou a sedimentar raízes, inclusive étnicas, de sua constituição atual, é que a palavra gaúcho se retemperou com o sentido de calor elogioso e passou a ser cantada com orgulho, às vezes até meio arrogante, na poesia popular: “Quem é gaúcho de Lei/De Bom Guasca de verdade/Ama Acima de tudo o bom sol da liberdade”.

Na formação da gente gaúcha, aos Tapes e Charruas se juntaram desbravadores paulistas, depois casais de açorianos e grupos imigrantes de várias origens, dando início a um processo de caldeamento que até hoje continua, formando essa etnia, forjada na bravura da gente que “desenhou o atual Rio Grande do Sul a ponta de lança e de adaga, no bater dos cascos de seus cavalos”.

O gaúcho que é nativo do pampa (uruguaio, argentino e brasileiro, rio-grandense), tem sua cultura própria, por sua formação etimológica (indígena e espanhola em seus primórdios, portuguesa e, bem mais tarde, alemã e italiana).

12 www.mtg.org.br - http://ideiailtda.com.br/clientes/mtg/folc_conceit.php 13 FAGUNDES, Taylor – Polígrafo utilizado no Concurso de Prendas e Peões da CBTG em 2010 e 2011. Santa Maria, 1984, p.16.

Page 25: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

24

A influência estrangeira legada aos nativos, o meio ambiente, a atividade puramente pastoril, e as lutas pela posse da terra e fixação dos limites de fronteiras, criaram um meio de vida próprio da região, com costumes, lendas, danças, canções e ritmos musicais, locais. Através dos tempos, foi-se desenvolvendo um forte espírito tradicionalista, por meio de um folclore rico em crenças populares, ritmos musicais e costumes estritamente regionalistas.

Esse conjunto de tradições é cultivado e tem sua preservação e transmissão às idades futuras através de contos de Tradições Gaúchas.

3. A História do Movimento Tradicionalista14

No fim da II Guerra Mundial, o mundo ocidental encontrava-se com grande influência exercida pela posição dos Estados Unidos. Tornou-se, assim, o principal centro de irradiação da moda, da cultura e as elites urbanas, principalmente os jovens, começaram a imitar o que era americano, "way of life".

Com rapidez, a juventude voltava às costas para as suas raízes culturais, e os intelectuais rio-grandenses demonstravam sua insatisfação com aquele estado de coisas, e tinham a consciência de que as pressões do modismo americano sufocavam a cultura local, o Rio Grande, de resto, o mundo todo.

O Brasil estava saindo da ditadura de Getúlio Vargas, que havia amordaçado a imprensa, e que prejudicava o desenvolvimento e prática das culturas regionais. Com isso, perdia-se o sentimento de culto às tradições; nossas raízes estavam relegadas ao esquecimento, adormecidas, reflexo da proibição de demonstrações de amor ao regional. Bandeiras e Hinos dos estados foram, simbolicamente, queimados em cerimônia no Rio de Janeiro e, diante de tudo isso, os gaúchos estavam acomodados àquela situação, apáticos, sem iniciativa.

3.1. "O GRUPO DOS OITO"

Mas nem todos estavam adormecidos. Em agosto de 1947, em Porto Alegre, eclodiu forte uma proposta de esperança,

onde a liberdade e o amor à terra tinham vez e lugar. Jovens estudantes, oriundos do meio rural, de todas as classes sociais, liderados por Paixão Cortes, criam um Departamento de Tradições Gaúchas no Colégio Júlio de Castilhos, com a finalidade de preservar as tradições gaúchas, mas também desenvolver e proporcionar uma revitalização da cultura rio-grandense, interligando-se e valorizando-a no contexto da cultura brasileira. Dentro deste espírito é que surge a criação da Ronda Crioula, estendendo-se do dia 7 ao dia 20 de setembro, as datas mais significativas para os gaúchos. Era a semente da nossa atual “semana farroupilha”.

Entusiasmados com a idéia procuraram a Liga de Defesa Nacional, e contataram o então Major Darcy Vignolli, responsável pela organização das festividades da "Semana da Pátria”, e lhe expressaram o desejo do grupo de se associarem aos festejos, propondo a possibilidade de ser retirada uma centelha do “Fogo Simbólico da Pátria” para transformá-la em “Chama Crioula”, como símbolo da união indissolúvel do Rio Grande à Pátria Mãe, e do desejo de que a mesma aquecesse o coração de todos os gaúchos e brasileiros até o dia 20 de setembro, data magna estadual.

Nessa oportunidade, Paixão recebeu o convite para montar uma guarda de gaúchos pilchados em honra ao herói farrapo, David Canabarro, que seria transladado de Santana do Livramento para Porto Alegre.

Paixão Cortes, para atender o honroso convite, reuniu um piquete de oito gaúchos bem pilchados e, no dia 5 de setembro de 1947, prestaram a homenagem a Canabarro. Esse piquete é hoje conhecido como o Grupo dos Oito, ou Piquete da Tradição. Primeira semente que seria semeada no ano seguinte, na criação do "35" CTG. Antônio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilso Araújo Campos, Ciro Dias

14

MOA, Roxelana Graziele – Guia de Estudos para Prendas e Peões, Extrato. Santa Catarina, 2005 (material utilizado pela CBTG nos concursos de 2010 e 2011), p.77.

Page 26: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

25

da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e João Carlos Paixão Cortes, seu líder. Durante o cortejo, o "grupo dos Oito", os jovens estudantes, conduziam as bandeiras do Brasil, do Rio Grande e do Colégio Júlio de Castilhos.

3.2. Chama Crioula e a 1ª Ronda

Como haviam decidido, no dia 7 de setembro, à meia noite, antes de extinto o "fogo Simbólico da Pátria", Paixão Côrtes, na companhia de Fernando Machado Vieira e Cyro Dutra Ferreira, retirou a hoje cinquentenária "Chama Crioula", que ardeu em um candeeiro crioulo até a meia noite do dia 20 de setembro, quando foi extinta no Teresópolis Tênis Clube, onde se realizava o primeiro Baile Gaúcho, por eles organizado.

Durante a Ronda Crioula, os jovens pioneiros realizaram intervenções em programas da Rádio Farroupilha, entraram em contato com o escritor Manoelito de Ornelas, o qual noticiou os acontecimentos da Ronda pelo Jornal Correio do Povo, em Porto Alegre.

Com a Ronda, outros jovens companheiros foram se agregando às comemorações: Barbosa Lessa, Wilmar Santana, Glaucus Saraiva, Flávio Krebs, Ivo Sanguinetti e outros tantos. Após o sucesso da Ronda, mas principalmente pela decisão tomada em manterem-se unidos para matear e prosear, o que se realizava na casa de Paixão Côrtes.

Especial episódio diz respeito à inclusão de Barbosa Lessa ao núcleo formado por Paixão Cortes. Barbosa Lessa presenciou a passagem da guarda à Canabarro quando encontrava-se na Praça da Alfândega e, tomado de interesse, tratou de saber quem eram aqueles que ali estavam. Soube tratar-se de alunos do "Julinho". Como também era aluno da mesma escola, tratou de conhecê-los. Dois dias após, quando a Chama Crioula chegou ao "Julinho", lá encontrou Barbosa Lessa como um dos participantes e organizadores da 1ª Ronda Crioula. O entrosamento com o grupo foi acelerado quando o piratinense começou a registrar, num caderno escolar, a assinatura dos interessados na fundação do que chamava “Clube de Tradição Gaúcha”. A partir daí deu-se início a criação do primeiro CTG, o 35 CTG.

3.3. O “35 – Centro de Tradições Gaúchas”15

Barbosa Lessa (1985) assim se reporta à criação do primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG): “Poucas agremiações terão sido tão explícitas em seus objetivos:

O Centro terá por finalidade: a) zelar pelas tradições do Rio Grande do Sul, sua história, suas lendas, canções,

costumes, etc., e consequente divulgação pelos Estados irmãos e países vizinhos; b) pugnar por uma sempre maior elevação moral e cultural do Rio Grande do Sul; c) fomentar a criação de núcleos regionalistas no Estado, dando-lhes todo o apoio

possível; O Centro não desenvolverá qualquer atividade político-partidária, racial ou

religiosa”. A ata de fundação foi assinada por vinte e quatro rapazes no dia 24 de abril de

1948 (são considerados fundadores do 35 – CTG, 62 pessoas). Foi escolhida a primeira diretoria e assim começou a funcionar o primeiro CTG, instalado num galpão, mesmo que simbolicamente representado pelo porão da casa da família Simch.

Com relação ao simbolismo do galpão, Barbosa Lessa (1985), expressa a seguinte assertiva:

Uma das iniciativas mais interessantes e inteligentes dos fundadores do 35 CTG foi a nomenclatura utilizada para identificar os diversos setores do Centro. Poderíamos dizer que foi um “lance de marketing” maravilhoso. Basta que se perceba, hoje, o seu resultado no conhecimento popular.

15

SAVARIS, Manoelito Carlos – Rio Grande do Sul – História e Identidade,– Publicação MTG-RS, 2008. P. 184.

Page 27: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

26

O presidente é “patrão”. O vice-presidente é “Capataz”. O tesoureiro é “Agregado das Pilchas”. O secretário é “Sota-Capataz”. Os departamentos são chamados “Invernadas”. Os membros masculinos são os “Peões” e as mulheres são chamadas “Prendas” e o traje é “Pilcha”.

4. O Movimento Organizado 16

O movimento tradicionalista só veio ganhar maior volume a partir de 1954, quando os tradicionalistas se reuniram em Santa Maria, por ocasião do I Congresso, realizado no Ponche Verde CTG.

Os objetivos do movimento tradicionalista gaúcho decorrem das decisões adotadas pelo Congresso Tradicionalista e são consubstanciados em documento denominado “Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista Gaúcho”, aprovada em 1961, no VIII congresso em Taquara.

O passo maior foi dado em 1966, quando da realização do X Congresso de Tramandaí, quando foi criada a entidade civil aglutinadora, já com o nome de Movimento Tradicional Gaúcho - MTG.

Patrono Do Movimento Tradicionalista Gaúcho é João Cezimbra Jacques, o fundador da primeira entidade destinada ao culto das tradições rio-grandenses, o “Grêmio Gaúcho”.

5. A Semana Farroupilha 17

Semana Farroupilha é uma festa cívica antes de tudo, que surgiu quando 08 jovens, entre os dias 07 e 20 de setembro de 1947, no Colégio Júlio de Castilho em Porto Alegre, realizaram a primeira "ronda crioula".

O colégio foi decorado com motivos campeiros, com exposição de quadros gauchescos, realizaram-se conferências, fandango, concurso de roupas típicas, comida da culinária gaúcha, com a presença de gaiteiros, violeiros, cantores, declamadores e trovadores. Essa primeira ronda teve como objetivo, "cultuar e preservar as nossas origens e a nossa cultura". Vemos assim que essa festividade é essencialmente cultural, pois temos nesta semana atividades cívicas, campeiras, artísticas, recreativas e sociais.

5.1. Mas por que 20 de Setembro?

20 de Setembro de 1835 foi o início da Revolução Farroupilha que durou 10 anos, terminando em 28 de fevereiro de 1845, com a assinatura do acordo de Paz de Poncho Verde, em Dom Pedrito, quando o grande chefe farroupilha David Canabarro afirmou "Acima de nosso amor à República, está nosso brio de Brasileiro".

A Independência do Rio Grande, não era a intenção dos Farroupilhas, visto que, seu descontentamento com o Império, antecedia a separação de Portugal. A República Sul-Rio-grandense foi proclamada somente um ano após o início da Revolução, e dela resultou o lema de sua Bandeira "LIBERDADE, IGUALDADE, HUMANIDADE" que sintetiza as madrugadas e noites mal dormidas, pelas quais passou o gaúcho, na preservação dos destinos de nossa Pátria.

A Semana Farroupilha tem por objetivos: 1-Divulgar os símbolos Rio-Grandenses, esclarecendo o uso e conhecimento dos

mesmos; 2-Despertar o espírito cívico de todos que dela participam; 3-Promover atividades culturais que aumentem o conhecimento de nossas

Tradições. (Hospitalidade, Coragem, Nativismo, Respeito à Palavra Empenhada, Apego aos Usos e Costumes e o Cavalheirismo).

16

FAGUNDES, Taylor – Polígrafo utilizado no Concurso de Prendas e Peões da CBTG em 2010 e 2011. Santa Maria, 1984, p.31. 17

MOA, Roxelana Graziele – Guia de Estudos para Prendas e Peões, Extrato. Santa Catarina, 2005 (material utilizado pela CBTG nos concursos de 2010 e 2011), p.102.

Page 28: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

27

6. Organização do CTG 18

Quanto à estrutura e simbolismo, um Centro de Tradições Gaúchas procura lembrar o mais fielmente a vida do gaúcho no passado, suas lides na estância, feitos e fatos do Rio Grande do Sul.

As denominações dos cargos, dentro da hierarquia, portanto, são as seguintes: • O Centro (ou Associação), representa a estância, Sua diretoria é a

Patronagem. • Presidente - Patrão • Vice Presidente - Capataz • Secretário - Sota capataz • Tesoureiro - Agregado das Pilchas (ou das Patacas) • Orador - Agregado das Falas • Os Departamentos são as Invernadas (Social, Cultural, Artística, campeira,

etc.). Seus diretores são os Posteiros. • Os Conselhos (Deliberativos e Fiscal), são o conselho de Vaqueanos

(formado por homens mais experientes, que conhecem bem o Campo da estância). 7. Danças e suas Gerações

Dá-se o nome de “geração coreográfica” [ciclos] ao conjunto de danças que conserva as mesmas características principais, durante um período mais ou menos longo, até que essa moda “canse” e surjam outras danças com características bem inovadoras.

Para ser largamente aceita pela totalidade das classes sociais, uma nova espécie de dança precisa ser antes praticada, de maneira duradoura e persistente, pelos grupos sociais “superiores” – isto é, aqueles de maior eficiência tecnológica e maior prestígio sócio-cultural. Então, pela “lei da imitação”, os grupos sociais mais modestos irão gradativamente assimilando as novas danças já prestigiadas pela elite. Entretanto, há sempre um período de paralelismo, ou hibridismo, entre o que já havia antes e o que agora chega, até que nova pressão das altas classes desaloje a parte mais antiga.19

As danças tradicionais gaúchas originaram-se das antigas danças brasileiras e das trazidas pelos imigrantes. Estas danças aqui se “agaucharam” adquirindo cor local e foram marcadas por duas, das principais características da alma do gaúcho: a teatralidade e o respeito a mulher.20

7.1. Primeira Geração Coreográfica 21

Ciclo dos Fandangos – Predomina a dança de par solto e independente. O cavalheiro e a dama ora se aproximam, ora fogem, simulando negaças de namoriscos, e trocando entre si, uma linguagem mímica de conquista amorosa, sem que os corpos se toquem (...). O cavalheiro procura chamar a atenção para si, através de adequados (às vezes complicados) sapateios, tirando sons martelados dos pés, calçando botas (com ou sem esporas) de forma máscula, nobre, porém não brutal e nem barulhenta, sem que fique, outrossim, pisando em ovos

Ex: Tirana, tatu com volta no meio.22

7.2. Segunda Geração Coreográfica 23

Ciclo do Minueto – Originário da França - na Corte de Luiz XIV. Vem a se caracterizar por vários pares dançando simultaneamente, distribuídos numa fileira de homens dançando a frente de uma fileira das respectivas damas; um mestre-de-danças coordenava, com seu próprio exemplo, os passos e gestos – comedidos, refinados – de todo 18

FAGUNDES, Taylor – Polígrafo utilizado no Concurso de Prendas e Peões da CBTG em 2010 e 2011. Santa Maria, 1984, p.17. 19 CÔRTES, J.C. Paixão Bailes e Gerações dos Bailares Campestres, 2002, P.10. 20 PEREIRA, Toni Sidi e Outros - Danças Tradicionais Gaúchas – Publicação do MTG/RS, 3ªEd., 2010. P.23 21 CÔRTES, J.C. Paixão Bailes e Gerações dos Bailares Campestres, 2002, P.15. 22 CÔRTES, J.C. Paixão Bailes e Gerações dos Bailares Campestres, 2002, P.28. 23 CÔRTES, J.C. Paixão Bailes e Gerações dos Bailares Campestres, 2002, P.17.

Page 29: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

28

o conjunto. Homem e mulher tomavam-se suavemente as mãos, executavam lentos giros, faziam reverências um para o outro. Notam-se estas características na Quero-mana, por exemplo.

7.3. Terceira Geração Coreográfica 24

Ciclo da Contra-Dança – Em vez dos passos graves, maneirosos, de antes, agora surge o “reel escocês” e a “Country Dance”, danças inspiradas nos camponeses da Inglaterra e caracterizadas por evoluções vivas e descontraídas.(...) Os pares agiam absolutamente dependentes uns dos outros, obedecendo todos às sucessivas vozes de comando.

Ex: Rilo.

7.4. Quarta Geração Coreográfica 25

Ciclo dos Pares Enlaçados – Com a valsa se inicia uma quarta geração coreográfica – a de danças de pares independentes, soltos, sem comandos, enlaçados, executando passos chamados de valsa, ou girando em torno de si mesmos. Ex. Valsa, havaneira marcada. 8. A Cozinha Gaúcha 26

8.1. A culinária regional

A cozinha gaúcha se define por regiões geográficas, que caracteriza a culinária rio-grandense.

- Zona de Colonização Italiana - consumo de polenta (farinha de milho), massas (farinha de trigo), aves, verduras e condimentos;

- Zona de Colonização Alemã - consumo de batatas, carne de porco, salsichas, aves, presunto, queijos, manteiga, verduras, massas (farinha de trigo);

- Zona da orla Marítima - consumo de peixe, pirão (farinha de mandioca), rapadura, melado;

- Zona da Campanha - consumo de charque, carne, arroz, feijão, farinha de mandioca, trigo, batata doce, mandioca, abóbora, couve, repolho;

- Zonas Urbanas - mescla de todos esses hábitos alimentares, acrescido da cozinha francesa, especialmente.

Como a atividade primordial dos gaúchos nos primeiros tempos foi a criação de gado, ele comia o que estava mais no seu alcance: a carne. E, para conservá-la por mais tempo, transformava parte em charque .

Não podendo perder tempo em grandes plantações, utilizava-se do vegetal que nascia com facilidade: batata doce, abóbora, mandioca, couve, repolho, trigo e arroz. As diversas combinações de carne: miúdos, e charque com vegetais citados, formam a rica culinária gauchesca, que não é constituída apenas pelo churrasco e arroz-de-carreteiro, como erroneamente se pensa.

8.2. Alguns Pratos Típicos Da Culinária Campeira

Puchero - fervido de carne com legumes, batata doce, lingüiça, mandioca,

milho verde, abóbora, batata inglesa, etc. Servido com pirão de farinha de

mandioca;

Maria Rita - carne moída, arroz, cebola picada, graxa de gado, tomate,

folhas de repolho em tiras;

24 CÔRTES, J.C. Paixão Bailes e Gerações dos Bailares Campestres, 2002, P.18. 25

CÔRTES, J.C. Paixão Bailes e Gerações dos Bailares Campestres, 2002, P.20. 26

FAGUNDES, Taylor – Polígrafo utilizado no Concurso de Prendas e Peões da CBTG em 2010 e 2011. Santa Maria, 1984, p.21.

Page 30: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

29

Arroz-de-carreteiro - charque, arroz, cebola picada, graxa de gado;

Roupa Velha - charque desfiado, cebola picada, farinha de mandioca, óleo,

temperos à vontade;

Churrasco - carne, com couro ou não, assado sobre as brasas, temperado

com salmoura ou sal grosso;

Assado - carne assada no espeto, sobre as brasas ou labaredas, temperado

com sal grosso ou salmoura (a carne apropriada, tanto para o churrasco

como para o assado é o contrafilé, a picanha e a costela);

Dobradinha - (mondongo) - bucho, tomate, tempero verde, sal, farinha de

mandioca, óleo;

Mocotó - patas, coalheira, mondongo, tripa grossa, lingüiça, cebola, feijão

branco, óleo, tomate, ovos duros, sal.

8.3. Alguns Doces Típicos Da Culinária Campeira

Rapadura e melado de Santo Antônio da Patrulha; pé-de-moleque;

Bolinho de coalhada (de Viamão e Barra do Ribeiro);

Pudim da Roca - feito de arroz com pêssego;

Balas - de guaco (bom para o peito); de mocotó; de mel-de-pau (mirim), bom para

tosse;

Bolos de milho - rosca de polvilho; pão-de-ló; baba-de-moça; papo-de-anjo; beijo-

de-freira; doce-de-batata; doce de abóbora; doce de laranja; doce de leite; geleias

de frutas.

8.4. Aperitivos

- Cachaça pura, ou em infusão com ervas (menstruz, funcho, guaco) ou em infusão com frutas (butiá, pitanga, guabiroba, casca de bergamota, etc.).

8.5. Bebidas

- Vinhos (de uva, de laranja, de bergamota, de pêssego). - Chimarrão.

9. Lendas 27

Negrinho do Pastoreio, Salamanca do Jarau, Boitatá, Anhangapitã, Angoera, Caapora, Casa de M’Bororé, Mãe Mulita, Lagoa Negra e Nau Catarineta.

9.1. Transcrição integral de algumas lendas

9.1.1. M'boitatá

Foi assim: num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia. Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.

Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa; os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições... Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas, olhando sem ver as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.

27

MOA, Roxelana Graziele – Guia de Estudos para Prendas e Peões, Extrato. Santa Catarina, 2005 (material utilizado pela CBTG nos concursos de 2010 e 2011), p.112.

Page 31: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

30

Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido nem vista para abter na querência; até nem sorro daria no seu próprio rastro!

E a noite velha ia andando... ia andando... Minto: No meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda

ora doutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar: era o téu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiava sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...

Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro vindo de lá do fundo da escuridão, ia se aguentando a esperança dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas. Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então, nem nada.

Minto: Na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d'alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda; foi uma manga d'água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...

Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fias coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos num os passos cresceram e todo aquele peso d'água correu para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora, afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas. E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro. E eram terneiros e pumas, tourada e potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo. E então!...

Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.

E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na da cobra-grande, a - boiguaçu- que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida. Ela então acordou-se e saiu, rabeando. Começou depois a mortandade dos bichos e a boiguaçu pegou a comer carniça. Mas só comia os olhos e nada, nada mais.

A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande comia.

Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu. tambeira que só come trevo maduro dá no leite o cheiro doce do milho verde; o

cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem; e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue têm cheiro de pescado. Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seus arrancos.

O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiados e baços!...

Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu. Todos - tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entrenhado e luzindo, um

rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes da noite grande que caiu... E os olhos - tantos, tanto! - com um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada...

E vai, Como a boiguaçu não tinha pêlos como o boi, nem escamas como o dourado, nem

penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai, o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareando pelos miles de luzezinhas, dos tantos olhos que foram sendo esmagados dentro dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz. E vai, afinal, a boiguaçu toda já era uma luzerna, um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos.

Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra do fogo, boitatá, a boitatá! E muitas vezes

Page 32: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

31

a boitatá rondou as rancherias, faminta, sempre que nem chimarrão. Era então que o téu-téu cantava, como o bombeiro.

E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo- que media mais braças que três laços de conta e ia aluminando baçamente as carquejas... E depois, choravam. Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam...

Mas, como dizia: na escuridão só avultava o clarão baço do corpo da boitatá, e era ela que o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite. Passado um tempo, a boitatá morreu: de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo, mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos...

Depois de rebolar rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas desparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez. E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí. E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!

Minto: apareceu sim, mas não veio de supetão. Primeiro foi-se adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu; depois se foi sendo mais claro mais claro, e logo, na lonjura, começou a subir um rastro de luz..., depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.

Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer de novo; só a luz da boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luz de que saiu. Anda arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais se infesta. E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada. Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.

A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! -, empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!... É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem agüenta a água dos mananciais; e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se, apagado... e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!

Maldito! Tesconjuro! Quem encontra a boitatá pode até ficar cego... Quando alguém topa com ela só tem

dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertado e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o laço, fazer uma armada grande e atirá-la por cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa!

A boitatá vem acompanhando o ferro da argola... mas de repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para emulitar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda.

Campeiro precatado! Reponte o seu gado de querência da boitatá: o pastiçal, aí, faz peste... Tenho visto! Origem: Livro "Lendas do Sul" de J. Simões Lopes Neto. Editora Globo. 11a edição. 1983.

9.1.2. Negrinho do Pastoreio

No tempo dos escravos, havia um estancieiro muito ruim, que levava tudo por

diante, a grito e a relho. Naqueles fins de mundo, fazia o que bem entendia, sem dar satisfação a ninguém.

Entre os escravos da estância, havia um negrinho, encarregado do pastoreio de alguns animais, coisa muito comum nos tempos em que os campos de estância não conheciam cerca de arame; quando muito alguma cerca de pedra erguida pelos próprios

Page 33: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

32

escravos, que não podiam ficar parados, para não pensar bobagem... No mais, os limites dos campos eram aqueles colocados por Deus Nosso Senhor: rios, cerros, lagoas.

Pois de uma feita o pobre negrinho, que já vivia as maiores judiarias às mãos do patrão, perdeu um animal no pastoreio. Prá quê! Apanhou uma barbaridade atado a um palanque e depois, cai-caindo, ainda foi mandado procurar o animal extraviado.

Como a noite vinha chegando, ele agarrou um toquinho de vela e uns avios de fogo, com fumo e tudo e saiu campeando. Mas nada! O toquinho acabou, o dia veio chegando e ele teve que voltar para a estância.

Então foi outra vez atado ao palanque e desta vez apanhou tanto que morreu, ou pareceu morrer. Vai daí, o patrão mandou abrir a "panela" de um formigueiro e atirar lá dentro, de qualquer jeito, o pequeno corpo do negrinho, todo lanhado de laçaço e banhando em sangue.

No outro dia, o patrão foi com a peonada e os escravos ver o formigueiro. Qual não é a sua surpresa ao ver o negrinho do pastoreio vivo e contente, ao lado do animal perdido.

Desde aí o Negrinho do Pastoreio ficou sendo o achador das coisas extraviadas. E não cobra muito: basta acender um toquinho de vela ou atirar num cano qualquer naco de fumo.

Origem: Livro "Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul" de Antonio Augusto Fagundes. Martins Livreiro Editor. 1996.

9.1.3. Salamanca do Jarau

No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no Povo de Santo Tomé, na Argentina, do outro lado do rio Uruguai. Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria igreja, na praça principal da aldeia.

Ora, num verão mui forte, com um sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta. Vai então, levantou-se, assoleado e foi até a beira da lagoa refrescar-se. Levava consigo uma guampa, que usava como copo.

Coisa estranha: a lagoa toda fervia e largava um vapor sufocante e qual não é a surpresa do sacristão ao ver sair d'água a própria Teiniaguá, na forma de uma lagartixa com a cabeça de fogo, colorada como um carbúnculo. Ele, homem religioso, sabia que a Teiniaguá - os padres diziam isso!- tinha partes com o Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que tentava os homens e arrastava todos para o inferno. Mas sabia também que a Teiniaguá era mulher, uma princesa moura encantada jamais tocada por homem.

Aquele pelo qual se apaixonasse seria feliz para sempre. Assim, num gesto rápido, aprisionou a Teiniaguá na guampa e voltou correndo

para a igreja, sem se importar com o calor. Passou o dia inteiro metido na cela, inquieto, louco que chegasse a noite. Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia, ele não se sofreu: destampou a guampa para ver a Teiniaguá. Aí, o milagre: a Teiniaguá se transformou na princesa moura, que sorriu para ele e pediu vinho, com os lábios vermelhos. Ora, vinho só o da Santa Missa. Louco de amor, ele não pensou duas vezes: roubou o vinho sagrado e assim, bebendo e amando, eles passaram a noite.

No outro dia, o sacristão não prestava para nada. Mas, quando chegou a noite, tudo se repetiu. E assim foi até que os padres finalmente desconfiaram e numa madrugada invadiram a cela do sacristão. A princesa moura transformou-se em Teiniaguá e fugiu para as barrancas do rio Uruguai, mas o moço, embriagado pelo vinho e de amor foi preso e acorrentado.

Como o crime era horrível - contra Deus e a Igreja! - foi condenado a morrer no garrote vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado.

No dia da execução, todo o Povo se reuniu diante da igreja de São Tomé. Então, lá das barrancas do rio Uruguai a Teiniaguá sentiu que seu amado corria perigo. Aí, com todo o poder de sua magia, começou a procurar o sacristão abrindo rombos na terra, um valos enormes, rasgando tudo. Por um desses valos ela finalmente chegou à igreja bem na hora em que o carrasco ia garrotear o sacristão. O que se viu foi um estouro muito grande, nessa hora, parecia que o mundo inteiro vinha abaixo, houve fogo, fumaça e enxofre e tudo

Page 34: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

33

afundou e tudo desapareceu de vista. E quando as coisas clarearam a Teiniaguá tinha libertado o sacristão e voltado com ele para as barrancas do rio Uruguai.

Vai daí, atravessou o rio para o lado de cá e ficou uns três dias em São Francisco de Borja, procurando um lugar afastado onde os dois apaixonados pudessem viver em paz. Assim, foram parar no Cerro do Jarau, no Quarai, onde descobriram uma caverna muito funda e comprida. E lá foram morar, os dois.

Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada. Virou Salamanca, que quer dizer "gruta mágica", a Salamanca do Jarau. Quem tivesse coragem de entrar lá, passasse 7 Provas e conseguisse sair, ficava com o corpo fechado e com sorte no amor e no dinheiro para o resto da vida.

Na Salamanca do Jarau a Teiniaguá e o sacristão se tornaram os pais dos primeiros gaúchos do Rio Grande do Sul. Ah, ali vive também a Mãe do Ouro, na forma de uma enorme bola de fogo. Às vezes, nas tardes ameaçando chuva, dá um grande estouro numa das cabeças do Cerro e pula uma elevação para outra. Muita gente viu. Origem: Livro "Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul" de Antonio Augusto Fagundes. Martins Livreiro Editor. 1996. 10. O Chimarrão 28

O Chimarrão é um legado do índio Guarani. Sempre presente no dia-a-dia, o chimarrão constituiu-se na bebida típica do Rio

Grande do Sul, ou seja, na tradição representativa do nosso pago. Também conhecido como mate amargo, como bebida preferida pelo gaúcho, constitui-se no símbolo da hospitalidade e da amizade do gaúcho. É o mate cevado sem açúcar, preparado em uma cuia e sorvido através de uma bomba. É a bebida proveniente da infusão da erva-mate, planta nativa das matas sul-americanas, inclusive no Rio Grande do Sul.

O homem branco, ao chegar no pago gaúcho, encontrou o índio guarani tomando o CAA, em porongo, sorvendo o CAÁ-Y, através do TACUAPI.

Podemos dizer, que o chimarrão é a inspiração do aconchego, é o espírito democrático, é o costume que, de mão – em - mão, mantém acesa a chama da tradição e do afeto, que habita os ranchos, os galpões dos mais longínquos rincões do pago do sul, chegando a ser o maior veículo de comunicação.

O mate é a voz quíchua, que designa a cuia, isto é, o recipiente para a infusão do mate. Atualmente, por extensão passou a designar o conjunto da cuia, erva-mate e bomba, isto é, o mate pronto.

O homem do campo passou o hábito para a cidade, até consagrá-lo regional. O Chimarrão é um hábito, uma tradição, uma espécie de resistência cultural espontânea.

Os avios ou os apetrechos do mate constituem o conjunto de utensílios usados para fazer o mate. Os avios do mate são fundamentalmente a cuia e a bomba.

Caá-y = bebida do mate = chimarrão Tacuapi= bomba primitiva, feita de taquara pelos índios guaranis.

11. Festas – Religiosidade29

11.1. Padroeiros

São Pedro foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Os católicos consideram

Pedro como o primeiro Bispo de Roma, sendo por isso o primeiro Papa da Igreja Católica.

Por que São Pedro foi escolhido o padroeiro do estado?

Em 1531, uma frota foi confiada a Martin Afonso de Souza, que tinha como objetivo

expulsar os corsários franceses da costa brasileira, além de ir até o sul do estuaria do Rio

da Prata. A navegação foi feita próxima da Costa, permitindo observações que resultariam

28 www.mtg.org.br - http://ideiailtda.com.br/clientes/mtg/fol_chimarrao.php 29 SAVARIS, Manoelito Carlos - Manual de Tradicionalismo Gaúcho,– Publicação MTG-RS, 2012. P.59.

Page 35: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

34

na descoberta de vários acidentes geográficos, entre os quais, a barra por onde a Laguna

dos Patos se liga ao Oceano Atlântico.

Em 29 de junho, dia em que o calendário da igreja recorda a Cátedra de Pedro, os portugueses avistaram o desaguadouro da Laguna dos Patos. Para homenagear a data, Martin Afonso denominou a laguna - que pensava tratar-se de um rio – Rio de São Pedro. Posteriormente, para diferenciar do outro rio, que levava o mesmo nome do santo, passou a ser chamado de Rio Grande de São Pedro, devido a sua grande dimensão. (...)

12. Brincadeiras e Brinquedos30

As brincadeiras infantis são universais. As crianças constroem o seu mundo através de brincadeiras e brinquedos. Como disse Rose Marie Reis Garcia “através das brincadeiras podemos compreender como a criança vê e constrói o mundo, como ela gostaria que ele fosse, quais são suas preferências e que problemas a estão preocupando”.

Nos tempos atuais, por conta da popularização e supervalorização do computador e dos meios de comunicação virtuais, as crianças raramente constroem seus brinquedos e dificilmente se ocupam com as brincadeiras que seus pais e avós conheceram. Os CTGs talvez sejam a última trincheira de manutenção desse conhecimento e de valorização dessa prática tradicional. Imagino que no futuro próximo as brincadeiras e os brinquedos de 15, 20 anos passados estarão exclusivamente nos livros de folclore e em algum recanto mais remoto do Rio Grande do Sul. (...)

12.1. Brincadeiras para animar

São aquelas que estimulam a criança a se movimentar, caminhar, pular, correr, utilizar bastante os braços e as pernas. São sempre alegres, seja nos textos, seja na prática. Os objetivos, além da diversão, podem ser o de aprimorar a coordenação motora, a interação com outras crianças e a disciplina na execução de movimentos.

Exemplos: brincadeiras com uso de água, areia, terra, barro; água e sabão; babalu; batalha de mãos; cama-de-gato; pula corda; brincadeiras com palmas; sombras animadas; jogo de bolita; desafios com “o último é...”.

12.2. Brincadeiras Cantadas

São aquelas que se realizam a partir de uma canção. O uso da música e do canto é fundamental para a sua realização. Essas brincadeiras objetivam a interação entre as crianças.

Exemplos: A canoa virou; Teresinha de Jesus; a carrocinha; samba-lê-lê; coelhinho da páscoa; o pintinho amarelinho; siriri.

12.3. Formuletes

São utilizados para as crianças escolher este ou aquele companheiro para desempenhar um papel na brincadeira. É normal que aos formuletes sejam associados gestos convencionados. Essas brincadeiras despertam a capacidade de escolha das crianças.

Exemplos: casa, não casa; Rei Capitão; um, dois, três (une, dune, tê); minha mãe mandou.

12.4. Gestos e Caretas

A criança aprende a fazer mimicas e interpretar, comunicando-se por gestos e expressões faciais. Desperta a criatividade e a agilidade de pensamento. Por ser uma brincadeira cooperativa, desperta o sentido do “eu te ajudo, tu me ajudas”.

Exemplos: proibido falar; adivinhe o objeto; cara preparada.

30

SAVARIS, Manoelito Carlos - Manual de Tradicionalismo Gaúcho,– Publicação MTG-RS, 2012. P.73.

Page 36: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

35

12.5. Parlendas

Consistem em versos de quatro, cinco ou seis sílabas, rimadas pelos toantes. Elas têm função mnemônica (guardar na memória) utilizadas para gravar nomes, datas, lugares. Além do treinamento de memorização, as parlendas desenvolvem o senso de ritmo nas crianças. Elas podem ser de vários tipos: dialogadas, com réplica, repetitivas, conclusivas ou narrativas.

Exemplos: Quem cochicha; ou fui junto; tá com frio?; cadê o toicinho; amanha é domingo; um, dois, feijão com arroz

As parlendas podem, também, vir associadas com gestos. Exemplos: angolinhas, cadê o ratinho; dedinhos (várias formas de identificação dos

dedos); mal-me-quer.

12.6. Jogos Competitivos

Além de ser uma brincadeira, os jogos que envolvem competição mesmo que simples, pressupõe a participação de várias crianças. Alguns dependem da habilidade individual, mas geralmente necessitam de cooperação entre os parceiros do mesmo time. Estas atividades criam senso de disciplina, ensinam ganhar e saber perder e despertam criatividade e habilidades às vezes desconhecidas. Os jogos podem utilizar objetos ou não.

Exemplo: bulita (gude); peteca; sapata (amarelinha); ovo podre; cinco Marias; o gato e o rato; corrida do saco; corrida do ovo (com ou sem revezamento); caçador; pega-pega; gata-cega.

12.7. Jogos de Habilidades

Geralmente realizados com espíritos competitivos ou de demonstração de habilidade, esses jogos despertam o interesse de aprimoramento pessoal, melhoram a motricidade e a coordenação motora fina.

Exemplos: bilboquê (biboquê ou bobloquê); botão; ioiô; pião.

12.8. Jogos de Tabuleiros e Gráficos

São brincadeiras que, geralmente, não exploram a movimentação física. Eles têm por finalidade o treinamento e o aprimoramento mental. Estimula o raciocínio lógico, a melhora ortográfica e do vocabulário.

Exemplos: damas; moinho (tria); víspora; forca; jogo da velha.

12.9. Os Brinquedos

Existe uma gama muito grande de brinquedos chamados folclóricos ou tradicionais, além de um sem número de brinquedos industrializados, automatizados, eletrônicos, etc.

O nosso interesse está na citação de algumas possibilidades de brinquedos tradicionais que podem ser construídos em casa, normalmente com a participação das próprias crianças. Esta prática tem a vantagem de fazer despertar a criatividade, a coordenação motora e a imaginação das crianças.

As bonecas são, historicamente, os brinquedos mais tradicionais. Fabricadas de inúmeros materiais (cera, corda, tecidos, barro, fibras vegetais, arames, etc.) elas se prestam a vários tipos de brincadeiras, envolvendo especialmente as meninas.

Bonecos, reproduzindo o sexo masculino, também são muitos comuns. Os meninos tem maior interesse pelos carrinhos (de lata), trenzinhos, aviõezinhos, barcos e cavalinhos de pau.

A construção de bichinhos, bonecos articulados, flores, etc. é possível ser feita com objetos caseiros. Basta um pouco de criatividade. É comum o uso de arames, cordas (ráfia), papel, latinhas, carretéis, papelão, tampas de garrafas, cereais (milho, feijão, casca de melancia, etc.). Modernamente é muito útil o uso de garrafas pet para a construção de brinquedos.

Page 37: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

36

Brinquedos imitando instrumentos musicais são muito populares, especialmente aqueles de sopro (usando bambus), de percussão (usando latas) e de cordas (usando arames finos ou cordões de nylon).

As armas de fantasia estão sempre presentes. Espadas, revólveres, facas (tudo de madeira). O arco e a flecha, o estilingue (bodoque ou funda), atiradeiras (feitas de bambu - para os italianos: stchocariol)

Os carrinhos de lomba, arco e trava, patinete e pernas-de-pau são brinquedos muito difundidos. Os modelos e tamanhos são variados e obedecem às tradições locais.

As tropas de osso, muito comum na campanha, têm similares na cidade com tropas de pedrinhas ou de pequeninas garrafas.

As pandorgas (papagaio, barrilote), ocupam um espaço especial na arte de construção dos brinquedos. Cada região tem características próprias, mas no geral são utilizadas varas de madeira leve ou taquara (bambu), papel fino e resistente (papel encerado ou de seda) e cola. Tanto para a armação quanto para o cordão mestre (cordel) são utilizadas linhas resistentes, fios de nylon ou barbante. O rabo é normalmente feito de tiras de tecido. As pandorgas são geralmente coloridas e muito variáveis no modelo e tamanho.

Nos dias atuais há grande limitação para soltar pandorga em virtude das redes aéreas de eletricidade, telefone e TV a cabo. Para essa brincadeira é necessário uma área livre de fiação, tanto para que a brincadeira possa ser praticada com tranquilidade, quanto para preservação da segurança dos seus praticantes.

13. Símbolos do Rio Grande do Sul 31

Os símbolos do estado do Rio Grande do Sul podem ser divididos em dois grupos: cívicos e sociais oficializados.

13.1. Símbolos Cívicos

(...) Em 30 de abril de 1838 os farroupilhas tomaram a cidade de Rio Pardo depois de vencerem as tropas imperiais na batalha de Barro Vermelho. Entre os prisioneiros imperiais estava a banda de música do 2º Batalhão de Caçadores, cujo mestre era Joaquim Manuel de Mendanha, mineiro de Itabira do Campo, município de Ouro Preto.

Os farroupilhas determinaram que o mestre da banda aprisionada compusesse uma música comemorativa à vitória farrapa (...) Essa música se transformou no Hino Farroupilha.

Três foram as letras compostas para o hino (...) A terceira letra, de autoria de Francisco Pinto da Fontoura foi a que permaneceu,

transformando-se no Hino do Estado (...). A Constituição do Estado, aprovada no ano de 1989, define no artigo 6º: “São

símbolos do Estado a Bandeira Rio-Grandense, o Hino Farroupilha e as Armas, tradicionais.

31

SAVARIS, Manoelito Carlos - Manual de Tradicionalismo Gaúcho,– Publicação MTG-RS, 2012. P.77

Page 38: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

37

HINO FARROUPILHA Letra: Francisco Pinto da Fontoura Música: Joaquim José de Mendanha Revisão Musical: Antônio Tavares Corte Real Como a aurora precursora do farol da divindade, foi o Vinte de Setembro o precursor da liberdade. Mostremos valor, constância, Nesta ímpia e injusta guerra. Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra,

Mas não basta pra ser livre ser forte, aguerrido e bravo, povo que não tem virtude acaba por ser escravo. Mostremos valor, constância, Nesta ímpia e injusta guerra. Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra.

Brasão de Armas: Bandeira:

13.2. Símbolos Sociais Oficializados

Ave Quero-Quero Também conhecido como sentinela dos pampas. Canta quando alguém se

aproxima. Árvore Erva -Mate Árvore que produz a matéria-prima para o chimarrão. Bebida Chimarrão O mate doce também é tradicional. Planta Medicinal

Marcela ou macela

Chá considerado milagroso para várias doenças. Usado as flores que deve ser colhida, conforme crendice popular, na sexta feira santa antes do sol raiar, ainda com o orvalho sobre a planta.

Flor Brinco de Princesa

Existe uma grande variedade desta bela flor não só no Rio Grande, mas em várias partes do mundo.

Animal Cavalo Crioulo

Considerado animal símbolo junto com o quero-quero.

Comida Churrasco Original é de carne vacum. Somente muito mais tarde passou-se a usar outros animais como ovelha, frango e porco.

Escultura O laçador Fundida em bronze, localizada na av. Farrapos junto ao aeroporto na cidade de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do sul.

14. O Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central – MTG-PC32

O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO DO PLANALTO CENTRAL, identificado pela sigla MTG-PC, é uma associação civil e cultural, sem fins lucrativos, com jurisdição na área do Planalto Central Brasileiro, fundada em 30 de novembro de 1991, com duração indeterminada, tendo como 32 Estatuto da FTG-PC, Regulamento do Estatuto , Regulamentos Específicos – disponíveis em www.ftgpc.com.br

Page 39: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

38

filiados os Centros de Tradições Gaúchas e outras entidades tradicionalistas, que se ajustem às especificações de seu Estatuto. O MTG-PC, por sua vez, é filiado à Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha.

Tem como objetivo congregar os CTGs e outras entidades congêneres da região que abrange, compondo um núcleo único, para disciplinar e coordenar as tradições gaúchas no âmbito do Planalto Central, propiciando condições para um trabalho comum, na preservação e difusão da cultura gaúcha.

Abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, o oeste do estado da Bahia e o Distrito Federal. Divide-se em regiões que congregam, por sua vez, as entidades singulares (os CTGs).

O MTG-PC é uma federação, ou seja, uma entidade regional que compõe a Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha (CBTG). Em 2013 a CBTG extinguiu as federações União Tradicionalista Gaúcha do Rio de Janeiro (UTG-RJ) e União Tradicionalista Gaúcha do Nordeste (UTGN), que organizavam, respectivamente, os CTGs do estado do Rio de Janeiro e os CTGs do Nordeste (menos o oeste da Bahia que sempre pertenceu ao MTG-PC/FTG-PC). Desse modo, ficou autorizado aos CTGs do Nordeste se filiarem a qualquer federação (MTG). É o caso do CTG Querência do Gurgueia, da cidade de Bom Jesus do Piauí que optou por pertencer ao MTG-PC.

A atual Presidente do MTG-PC é a senhora Loiva Lopes Calderan.

14.1. Organização

O MTG-PC é composto dos seguintes órgãos: I - NORMATIVOS: a) Congresso Tradicionalista Gaúcho É a reunião das entidades em Assembleia Geral para, entre outras funções, promover as

alterações no estatuto da entidade e em seu regulamento. Também é nesta oportunidade que ocorre a eleição da Diretoria Executiva e do Conselho Deliberativo.

b) Convenção Tradicionalista Gaúcha; Entre outras funções, nesta oportunidade são discutidas e aprovadas as alterações dos

regulamentos específicos dos Departamentos da Federação (campeiro, artístico, esportivo, etc.) c) Conselho Deliberativo. O Conselho Deliberativo é o poder legislativo e deliberativo da entidade, representando a

manifestação coletiva dos filiados. Entre outras funções, compete ao Conselho deliberar sobre as contas da entidade, sua organização administrativa, fixar normas para a aplicação dos recursos próprios e decidir, em grau de recurso, sobre os atos da Diretoria Executiva.

II - ELETIVOS: a) Assembleia Geral Eletiva É a reunião bienal dos filiados efetivos para procederem à eleição simultânea, dos membros

titulares do Conselho Deliberativo e respectivos suplentes, membros eletivos da Diretoria Executiva e, da Comissão de Ética, esta, em chapa independente.

III - ADMINISTRATIVOS: a) Diretoria Executiva; A Diretoria Executiva é um órgão administrativo do MTG-PC e tem os mais amplos poderes para

praticar os atos de gestão, concernentes com os fins e objetivos da entidade. É composta de: Presidente, 1º Vice-Presidente, 2º Vice-Presidente, Secretário-Geral, Tesoureiro-Geral, Secretário-Adjunto, Tesoureiro-Adjunto, Diretor Administrativo, Diretor do Departamento de Cultura e Tradições, Diretor do Departamento Social, do Departamento de Imprensa e Relações Públicas, Diretor do Departamento Artístico, Diretor do Departamento Campeiro, Diretor do Departamento de Esportes, Diretor Jurídico, Departamento Jovem.

Page 40: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

39

b) Regiões Tradicionalistas; As Regiões Tradicionalistas são órgãos de desconcentração territorial do MTG-PC, constituídas,

cada uma delas, por determinado número de entidades filiadas, agrupadas de acordo com a sua localização, por afinidade geográfica, vejamos:

1ª Região Tradicionalista: Distrito Federal; Luziânia - GO; Cristalina - GO; Valparaiso - GO;

Formosa - GO ; Uberlândia - MG; Uberaba - MG; Belo Horizonte - MG. CTGs da 1ª RT: CTG Estância Gaúcha do Planalto (Brasília – DF); CTG Jayme Caetano Braun (Brasília – DF); CTG Nova Querência (Cristalina – GO) CTG Querência Formosa (Formosa-GO) CTG Sinuelo da Saudade (Brasília – DF) 2ª Região Tradicionalista: Buritis - MG; Chapada Gaúcha - MG; Luis Eduardo Magalhães - BA;

Barreiras - BA; Palmas-TO; São João da Aliança - GO. CTGs da 2ª RT: CTG Chama Crioula (Chapada Gaúcha - MG); CTG Estância do Rio Grande (Barreiras - BA); CTG Nova Querência (Buritis - MG); CTG Querência do Oeste Baiano (Barreiras - BA) CTG Sinuelo dos Gerais (Luis Eduardo Magalhães - BA) CTG Saudade do Rio Grande (Mambaí-GO) CTG 100 Fronteira (Posse-GO) CTG Nova Querência (Palmas-TO) CTG Querência do Gurgueia (Bom Jesus – PI) 3ª Região Tradicionalista: Goiânia-GO; Rio Verde-GO; Jataí - GO, Mineiros - GO; Chapadão do Céu

– GO e Perolândia - GO. CTGs da 3ª RT: CTG Porteira da Saudade (Mineiros - GO); CTG Porteira das Perobas (Perolândia - GO); CTG Querência de Rio Verde (Rio Verde - GO); CTG Querência Goiana (Jataí - GO) CTG Saudade dos Pampas (Goiânia - GO) c) Comissão de Ética. A Comissão de Ética é um órgão de assessoramento da administração do MTG-PC que tem por

objetivo julgar condutas sociais em desacordo com os princípios que fundamentam a vivência tradicionalista e, em especial, que firam a Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

14.2. Eventos Oficiais

CONGRESSO O Congresso Tradicionalista Gaúcho é a reunião, realizada de dois em dois anos, na segunda quinzena do mês de maio dos anos ímpares, em Assembleia Geral, das Entidades filiadas efetivas e tem suas finalidades e competências definidas no Estatuto do MTG-PC. Também é um órgão do MTG-PC – tratado no item anterior.

CONVENÇÃO – A Convenção Tradicionalista Gaúcha é um órgão do MTG-PC e reúne-se de dois

em dois anos, na segunda quinzena do mês de maio, intercalados com o Congresso Tradicionalista Gaúcho, em local fixado na Convenção anterior e suas funções específicas constam no Regulamento do Estatuto do MTG-PC.

Page 41: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

40

FESTIVAIS REGIONAIS DE INTEGRAÇÃO – São festivais sem cunho de competição, mas de integração que ocorrem em âmbito regional. A organização cabe às Coordenadorias Regionais e deverão ocorrer pelo menos 30 (trinta) dias antes do FEGARP.

FEGARP – O Festival Gaúcho de Arte e Tradição do Planalto Central ‐ FEGARP - têm por

finalidade a preservação e a valorização das artes e das tradições da cultura gaúcha. É realizado anualmente no mês de julho, preferencialmente na primeira quinzena, em local previamente definido no Calendário Anual de Eventos do MTG-PC. Trata-se de um concurso com várias modalidades artísticas entre as entidades que compõem do MTG-PC. No FEGARP são escolhidos os representantes do MTG-PC para o Festival Nacional de Arte e Tradição Gaúcha (FENART).

RODEIOS CRIOULOS E FESTA CAMPEIRA DO MTG-PC – São promoções campeiras realizadas

entre as entidades filiadas ao MTG‐PC e/ou MTGs de outros Estados brasileiros que tem, entre outros, o objetivo de promover o intercâmbio através de suas lidas campeiras, integrando os participantes dos CTG’s e das Entidades congêneres filiadas ao MTG.

ENCONTRO ESPORTIVO - O Encontro Esportivo consiste num concurso entre as Regiões

Tradicionalistas (RT) do MTG-PC, através da disputa dos Jogos de Bocha, Bolão, Tava, Truco Espanhol (Cego), Truco de Amostra, Solo, TETARFE, Bocha Campeira e tem o objetivo selecionar as Equipes nas modalidades acima, para representar o MTG‐PC nos Jogos Tradicionalistas da CBTG.

CONCURSO DE PRENDAS E PEÕES DO MTG-PC – O concurso tem por finalidades precípuas:

despertar na prenda e no peão o gosto pelas tradições e estimular a gradativa e natural integração no meio tradicionalista, engajando-os no estudo da cultura gaúcha; estimular as prendas e peões a uma participação mais efetiva no Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central; propiciar a formação de lideranças; elevar o nível cultural e intelectual das prendas e peões das Entidades filiadas e, objetivamente, escolher, bienalmente, dentre as candidatas das Entidades filiadas, aquelas que melhor representem as virtudes, a dignidade, a graça, a cultura, os dotes artísticos, a desenvoltura e a expressão da mulher gaúcha e entre os peões aqueles que melhor representem a dignidade, a cultura e as habilidades do homem tradicionalista gaúcho no Planalto Central. As primeiras prendas e os primeiros peões do MTG-PC são os representantes naturais do nosso MTG no Concurso Nacional de Prendas e Peões da CBTG.

ENCONTRO CULTURAL DE JOVENS DO PLANALTO CENTRAL – É um encontro entre a

juventude tradicionalista do MTG-PC, com intuito de promover a integração e a formação cultural. Ocorre bienalmente e a organização é de responsabilidade dos departamentos Jovem e Cultural.

ENATCHE – O Encontro Nacional da Tradição Gaúcha é um evento de caráter nacional, que

congrega atividades artísticas, campeiras e esportivas, realizado, anualmente, por ocasião do aniversário do MTG-PC.

15. A Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha – CBTG33

15.1. Definição, Objetivos e Organização.

A Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha, denominada também pela sigla CBTG, é a Entidade Maior do Movimento Tradicionalista Gaúcho Brasileiro, cuja essencialidade é valorizar, organizar, defender, promover e representar as tradições e a cultura gaúcha, se caracterizando como uma sociedade civil, sem fins econômicos, com duração indeterminada, fundada em 24 de maio de 1987.

Tem como objetivo: I - representar, em todo o território nacional e no exterior, a cultura gaúcha, na condição de

entidade maior do movimento tradicionalista gaúcho brasileiro;

33 Estatuto da CBTG, Regulamento-Geral, Regulamentos Específicos – disponíveis em www.cbtg.com.br

Page 42: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

41

II - desenvolver, em nível nacional, o Sistema Confederativo do Movimento Tradicionalista Gaúcho, para uma atuação integrada, fidedigna e próspera;

III - definir políticas e diretrizes de atuação do Sistema, que valorizem as manifestações culturais regionais de convívio comum;

IV - promover a cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico, voltando-se, em especial, para a organização e realização de eventos em prol da valorização da cultura, das tradições e do folclore gaúcho em nível nacional.

V - cumprir e fazer cumprir a “Função Social”, em todos os níveis do sistema confederativo; VI - difundir e incentivar, em todo o território nacional, a preservação das tradições gaúchas,

bem como as expressões “Movimento Tradicionalista Gaúcho” e “Centro de Tradições Gaúchas” e as siglas MTG e CTG, evitando o uso inadequado das mesmas e sua utilização na denominação de entidades não identificadas com o tradicionalismo gaúcho;

VII - incentivar as tradições gaúchas, traçando diretrizes, rumos e princípios cívico-culturais, artísticos e esportivos ao tradicionalismo gaúcho brasileiro;

VIII - orientar as entidades confederadas no sentido de manterem a autenticidade das manifestações gauchescas e a fidelidade às suas origens;

IX- colaborar, pelo interesse público, com os poderes públicos constituídos e com as entidades sociais organizadas;

X - implantar, por si, mediante proposta da Diretoria Executiva, cursos à distância ou presenciais voltados para a preservação da cultura gaúcha e ao desenvolvimento do homem do campo.

XI - promover a ética, a paz, a cidadania, os direitos humanos, a democracia e outros valores universais.

A Confederação organiza-se da seguinte maneira: é composta por entidades federativas (Federações) que possuem finalidades similares à CBTG, porém, organizam-se em âmbito estadual e são denominadas pelo prefixo “Movimento Tradicionalismo Gaúcho”, seguido pelo sufixo “nome do Estado” que representam. As entidades denominadas Federação e União são definidas como entidades federativas e, genericamente, serão tratadas como MTG.

As Federações/MTGs representam e congregam as entidades singulares que possuem a finalidade de congregar um quadro social identificado e voltado a desenvolver o Movimento Tradicionalista Gaúcho, no conjunto da sociedade civil onde estão inseridas, e são denominadas pelo prefixo “CTG - Centro de Tradições Gaúchas”, seguido por um sufixo de livre escolha.

O atual Presidente da CBTG é o Sr. João Ermelino Mello, do MTG-MS.

CBTG

Entidades Federativas/ Associados Efetivos: Movimento Tradicionalista Gaúcho do Rio Grande do Sul (MTG-RS)

Movimento Tradicionalista Gaúcho de Santa Catarina (MTG-SC) Movimento Tradicionalista Gaúcho do Paraná (MTG-PR)

Movimento Tradicionalista Gaúcho de São Paulo (MTG-SP) Movimento Tradicionalista Gaúcho do Mato Grosso (MTG-MT)

Movimento Tradicionalista Gaúcho do Mato Grosso do Sul (MTG-MS) Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central (MTG-PC)

Movimento Tradicionalista Gaúcho da Amazônia Ocidental (MTG-AO)

Entidades Singulares/ Associados em 2º Grau (CTGs)

Entidades Singulares/ Associados em 3º Grau (São os associados das Entidades Singulares, regularmente filiadas aos MTGs)

Page 43: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

42

15.2. Eventos Oficiais

CONCURSO NACIONAL DE PRENDAS E PEÕES – As principais finalidades do concurso são:

valorizar a cultura popular brasileira, através do Movimento Tradicionalista Gaúcho; valorizar os militantes do Movimento Tradicionalista Gaúcho, em particular a sua juventude, através de concurso de Prendas e Peões, que reúnam o melhor nível de conhecimentos teóricos e práticos sobre a cultura gaúcha brasileira, demonstrem maiores habilidades artísticas e campeiras e uma abrangente e realizadora vivência no Movimento Tradicionalista Gaúcho com sua participação na promoção e no desenvolvimento da cidadania brasileira; propiciar a formação de lideranças. E, objetivamente distinguir as primeiras prendas e os primeiros peões da Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha.

FENART – O Festival Nacional de Arte e Tradição Gaúcha (FENART) é uma competição artística

bienal entre os MTG’s/Federações filiados à CBTG, representadas nas provas por associados regulares. É realizado na 2ª quinzena do mês de janeiro, ou eventualmente, na segunda quinzena do mês de julho, estando a critério do promotor do evento a escolha da data. Trata-se de um Concurso de Provas Individuais e Coletivas, versando sobre cultura brasileira e tem a sua essencialidade na valorização e na promoção da cultura gaúcha, preservação e promoção das artes, das tradições e do folclore e se desenvolve através de cinco (05) modalidades, a saber:

I - Danças Tradicionais; II - Chula; III - Música; IV - Causo e Declamação; V - Danças Birivas. VI. – Dança de Salão. RODEIO CRIOULO NACIONAL DE CAMPEÕES - É uma competição bienal entre os

MTG’s/Federações filiados à CBTG, também definidos como "entidades concorrentes", representadas nas provas por associados regulares, também denominados de "participantes" e será realizado na 2ª quinzena do mês de janeiro ou, eventualmente, na 2ª quinzena do mês de julho, estando a critério do promotor do evento a escolha da data. Os participantes serão os Campeões dos MTG’s/Federações classificados através de sistema de competição campeira, organizada internamente pelas respectivas entidades concorrentes.

JOGOS TRADICIONALISTAS - Consistem num concurso entre os MTG's/Federações

regularmente filiados à CBTG, através da disputa de um conjunto de Modalidades Esportivas e são realizados bienalmente, em data e local previamente definidos no Calendário de Eventos da CBTG . Normalmente são realizados no mês de janeiro, paralelamente ao Rodeio Crioulo Nacional de Campeões e FENART. Estes jogos têm função de valorizar e promover a cultura gaúcha, primam pela preservação das Tradições e do Folclore e se desenvolverão em 08 (oito) modalidades, a saber: Bocha – (Regra Mundial / Ponto-Rafa-Tiro), Bolão, Tava, TETARFE, Truco Cego, Truco de Amostra, Solo, Bocha Campeira.

16. Indumentária

16.1. Considerações Iniciais.

Conforme determina o Regulamento-Geral da CBTG, as obras de referência para indumentárias são as constante em seu art. 159, vejamos:

Art. 159. Para efeito de uso de Pilchas a CBTG usará como referência as seguintes obras: I. Manual de Pilchas do Rio Grande do Sul, edição 2004 e suas diretrizes II. O Gaúcho - danças, trajes, artesanato - J.C. Paixão Côrtes III. Ponto & Pesponto da Vestimenta da Prenda - J.C. Paixão Côrtes e Marina M. Paixão Côrtes

Page 44: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

43

IV. Tropeirismo Biriva - Gente, Caminhos, Danças e Canções - J.C. Paixão Côrtes V. A Moda - Alinhavos & Chuleios - J.C. Paixão Côrtes e Marina M. Paixão Côrtes Para estudo deste contéudo, utilizaremos o material elaborado por Letícia Fernandes

Zimmermann elaborado com base na referência supracitada, especificamente para categorias mirim e juvenil.

16.2. Traje Atual Prenda – Juvenil e Mirim34

a) VESTIDO Modelo: 1. Prenda Mirim: interno e cortado na cintura ou com cintura baixa 2. Prenda Juvenil: inteiro e cortado na cintura, com cintura baixa, cadeirão ou ainda corte

princesa, obedecendo sempre os critérios de idade e porte físico. Em ambos os casos, a barra da saia pode ser de 5 a 6 centímetros acima do tornozelo ou até a

meia-canela, ou ainda no peito do pé. Os cortes podem ser godê, meio godê, franzido com ou sem babados, ou em panos.

Mangas – longas, três quartos ou abaixo do cotovelo, admitindo-se pequenos babados nos punhos, sendo vedado o uso de mangas boca de sino ou morcego. No verão podem ser curtas, arrematadas com babadinhos.

Decote – pequeno, podendo ter gola ou não. Enfeites – não sobrecarregar, a fim de evitar a desfiguração dos modelos. Optar pelos motivos

florais delicados e miúdos. Podem ser usadas rendas, bordados, fitas, passa-fitas, gregas, viés, transelim, crochê, nervuras, plisses, favos. É permitida pintura miúda, com tintas para tecidos. Não usar pérolas e pedrarias, bem como os dourados ou prateados e pintura a óleo e purpurinas.

Tecidos - lisos ou estampados miúdos e delicados, de flores, listras, petit-poa e xadrez. Podem ser usados tecidos de microfibra, crepes, oxford. Não serão permitidos os tecidos brilhosos ou fosforescentes, transparentes, slinck, lurex, veludo, rendão e similares.

Cores – delicadas, suaves e claras, exceto cítricas. Vedado o uso de vestidos de cor branca e preta (nem nos detalhes), além de combinações nas cores da bandeira do Rio Grande do Sul e do Brasil.

b) SAIA DE ARMAÇÃO Cor: branca Modelo: leve e discreta. Se tiver babados, eles devem se concentrar no rodado da saia, para

evitar o excesso de armação. O comprimento deve ser inferior ao do vestido. c) BOMBACHINHA Tecido: leve, admitindo enfeites de rendas discretas Cor: branca Modelo: comprimento abaixo do joelho, sempre mais curto que o vestido d) MEIAS - Longas o suficiente para não permitir a nudez das pernas. Na cor branca ou bege. e) SAPATILHA 1. Prenda Mirim: Sapatilha: Cores: preta, branca, bege e marrom Modelo: sem salto; com a tira sobre o peito do pé, que abotoe do lado de fora. 2. Prenda Juvenil: Sapatilha: Cores: preta, bege e marrom

34 ZIMMERMANN, Letícia Fernandes. Disponível em http://www.mtgparana.org.br/web/arquivo2/download/Indumentaria%20Gaucha%20MTG-PR.pdf

Page 45: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

44

Modelo: salto máximo de cinco centímetros; com a tira sobre o peito do pé, que abotoe do lado de fora.

f) CABELOS 1. Prenda Mirim: soltos ou semi presos, enfeitados com fitas 2. Prenda Juvenil: soltos, semi presos ou em tranças, enfeitados com fitas, flores naturais ou

artificiais, ou ainda com uma pequena travessa de pedras. g) MAQUIAGEM - Vedada para categoria mirim, e leve e discretíssima para categoria juvenil, sempre levando em

consideração a sua idade. h) JÓIAS 1. Prenda Mirim: brincos e anel delicados, de jóias ou imitações 2. Prenda Juvenil: brincos, camafeu e anel delicados, de jóias ou imitações Observações: - Não é permitido o uso de relógios, colares, pulseiras, brincos de plásticos coloridos ou

similares. - É vedado uso de piercings e tatuagens visíveis, mais de um brinco em cada orelha-, cílios e

unhas postiças, unhas pintadas em cores não convencionais (verde, azul, amarelo, prata, roxo, preto) ou ainda com decorações.

16.3. Traje Atual Peão – Guri e Piá 35

a) BOMBACHA Tecidos: brim (não jeans), sarja, linho, algodão, oxford, microfibra e outros, desde que não sejam

alteradas as características da peça (exemplo: tecidos transparentes, malhas e brilhosos) Cores: claras ou escuras, sóbrias ou neutras, tais como marrom, bege, cinza, azul-marinho,

verde-escuro, branca. Não são permitidas cores agressivas, fosforescentes, contrastantes e cítricas, como vermelho, amarelo, laranja, verde-limão, cor-de-rosa.

Padrão: liso, listradinho e xadrez miúdo e discreto. Modelo: cós largo sem alças, dois bolsos na lateral, com punho abotoado no tornozelo. Favos: devem ser do mesmo tecido e cor do restante da bombacha. O uso depende da

representação da tradição de cada uma das regiões do Rio Grande do Sul. As bombachas podem ter nos favos com letras, marcas e botões.

Largura: eram estreitas na região Serrana e largas na Fronteira do Rio Grande do Sul. Com ou sem favos, convencionou-se que a largura da perna deve coincidir com a largura da cintura. Ou seja, uma pessoa que use sua bombacha no tamanho 40, automaticamente deverá ter, aproximadamente, uma largura de cada perna de 40 cm, sendo que devem levadas em consideração as características de cada indivíduo.

Observações: - A largura das bombachas, na altura das pernas, deve caracterizá-la como tal, para não ser

confundida com uma calça. - As bombachas deverão estar sempre para dentro das botas. - É vedado o uso de bombachas plissadas b) CAMISA Tecido: preferencialmente algodão, tricoline, viscose, linho ou vigela, microfibra (não

transparente), oxford. Vedado o cetim. Padrão: liso ou riscado discreto (vedado o uso de tecidos estampados e floreados)

35

ZIMMERMANN, Letícia Fernandes. Disponível em http://www.mtgparana.org.br/web/arquivo2/download/Indumentaria%20Gaucha%20MTG-PR.pdf

Page 46: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

45

Cores: sóbrias, claras ou neutras, preferencialmente branca. Evitando cores agressivas e contrastantes.

Gola: social (ou seja, abotoada na frente, em toda a extensão, com gola atual) Mangas: 1. Longas: cada punho ajustado com um botão. Usadas em ocasiões sociais ou formais, como

festividades, cerimônias, fandangos, concursos. Nos concursos, pode ser arremangada apenas na Chula. 2. Curtas: para atividades de serviço, de lazer e situações informais. Observações: - Camiseta de malha ou camisa de gola pólo é permitida apenas em situações informais e não

representativas. Podem ser usadas com distintivo da Entidade, da Região Tradicionalista e do MTG. c) BOTAS Opções: 1. De couro liso, nas cores preta, marrom (todos os tons) 2. Couro sem tingimento Observações: - É vedado o uso de botas brancas; - As botas garrão-de-potro são utilizadas exclusivamente com traje de época; - A altura do cano varia de acordo com a região. Normalmente o cano vai até o joelho. d) COLETE - Podendo ser usado em conjunto com o paletó Tecido: do mesmo tecido e cor da bombacha, podendo ser tom sobre tom. Padrão: liso, listradinho e xadrez miúdo e discreto Modelo: - Deve possuir abertura frontal, com uma única carreira de botões na frente, podendo ser

abotoado ou não. Sem mangas e sem gola. É ajustado com uma fivela nas costas. O comprimento deve ser até a altura da cintura, na metade da fivela da guaiaca do usuário, com acabamento frontal pontiagudo. A parte de trás do colete (costas) deve ser de tecido leve, da mesma cor da parte da frente.

e) CINTO (GUAIACA) Opções: 1. De couro curtido, liso ou bordado, com no mínimo sete centímetros de largura. Tem de uma a

três guaiacas, internas ou não, e uma ou duas fivelas frontais ou florões. 2. De couro cru, liso, com ou sem guaiacas, mas sempre com uma ou duas fivelas frontais ou

florões. f) CHAPÉU - De feltro ou pêlo de lebre, com abas a partir de seis centímetros, copa de acordo com as

características regionais e barbicacho. Observação: - É vedado o uso de boinas e bonés. - Barbicacho não pode ser de plástico ou possuir penduricalhos, ou ainda de metal. - Para dançar em palcos, ambientes fechados, festivais e rodeios artísticos, os peões da categoria

mirim preferencialmente não fazem uso do chapéu. g) PALETÓ - Usado especialmente em ocasiões formais, preferencialmente da mesma cor da bombacha ou

tom sobre tom. Também é permitido o uso do paletó preto. Observações: - É vedado o uso de túnicas militares substituindo o paletó. - O uso não é indicado para grupos de dança da categoria mirim. h) LENÇO

Page 47: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

46

Tecido: seda Cores: vermelho, branco, azul, verde, amarelo ou carijó nas cores supracitadas. É possível, ainda,

carijós em marrom ou cinza. Modo de uso: com algum tipo de nó ou com passador de lenço. Detalhes: - Lenço preto só nos casos de luto. Jamais em festas e bailes; - Lenço xadrez de branco e preto também é luto (aliviado). i) FAIXA O uso é opcional. Tecido: lã Padrão: lisa, sem bordados Cores: vermelha, preta ou bege-cru (algodão) Modelo: 10 a 12 centímetros de largura j) ESPORAS O uso é facultativo. Observação: - Não é admissível o uso de esporas para peões da categoria mirim. k) PALA: - O uso é opcional. Tecido: lã ou seda Modelo: deverá ser no tamanho padrão, com abertura na gola. Modo de uso: no ombro esquerdo, na cintura ou a meia-espalda, atado da direita para a

esquerda. Observação: O uso não é indicado para grupos de dança da categoria mirim.

17. Lidas Campeiras (Apenas para o concurso de peões)

17.1. Equinos e Encilhas36

Encilhar é colocar os arreios no animal. A encilha se compõem de várias peças colocadas sobre o lombo dos animais, com vistas à montaria. Aquele que encilha é denominado encilhador. Denominam-se aperos as partes dos arreios que servem para o governo, segurança e ornamento do animal (rédeas, cabeçada, cabresto, buçal, peitoral, rabicho, maneia, etc.), muitas vezes os termos aperos e arreios são utilizados como sinônimos.

Equinos, para o que nos interessa nesse pequeno Manual, são os cavalos e os burros e suas fêmeas, as éguas e as mulas.

O cavalo (do latim, caballu), quando não castrado, denomina-se garanhão ou bagual, os filhotes chamamos de potrilhos. O cavalo novo, macho, se chama potro, a fêmea é potranca.

O burro ou asno (Equus africanus asinus) também é chamado de jumento, jegue, jerico ou asno-doméstico (especialmente no nordeste do Brasil) possui focinho e orelhas compridas. O porte é variável, normalmente menor do que os cavalos de estatura normal. São utilizados desde os tempos pré-históricos como animais de carga, mas também são utilizados como animais de montaria, especialmente para cavalgadas.

As mulas (feminino de burro) é um animal resultante do cruzamento do Burro com a égua e se trata de um animal estéril (não fértil) – que não produz filhotes.

Os cavalos foram introduzidos na América do Sul pelos portugueses e pelos espanhóis, depois do descobrimento. Na região Sul, especialmente Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul, os cavalos foram introduzidos pelos espanhóis a partir do ano 1536 e foram se reproduzindo e se espalhando a ponto de que, em 1580, já havia manadas de cavalos chimarrões (xucros) tanto na pampa uruguaia

36

SAVARIS, Manoelito Carlos - Manual de Tradicionalismo Gaúcho,– Publicação MTG-RS, 2012. P.94.

Page 48: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

47

quanto na sul-rio-grandense. Quando chegaram os padres jesuítas (1626) já encontraram os índios charruas e minuanos montando cavalos.

A atividade pastoril dos gaúchos, tendo no gado a sua principal riqueza, só foi possível graças à utilização do cavalo. Nas guerras de fronteira o cavalo, igualmente, desempenhou papel fundamental.

Para o gaúcho primitivo o cavalo era importante e imprescindível ao ponto de não se entender o gaúcho da campanha apartado de seu cavalo. Por conta dessa característica, o gaúcho foi chamado “centauro dos pampas” (o centauro é uma figura mitológica constituído de meio cavalo e meio homem). (...)

Para o gaúcho, não importa muito qual a raça do cavalo, mas a sua utilidade e adequação à atividade. As características de cada raça determinarão a sua principal utilidade: uns são mais altos, outros mais rápidos, outros mais resistentes e outros mais dóceis. Não se pode afirmar que tal raça é melhor. Pode-se, no entanto, se dizer que para tal atividade a raça que mais se adapta é essa ou aquela.

O cavalo Crioulo (junto com o quero-quero, animal símbolo do Rio Grande do Sul) é resultado do aprimoramento genético dos cavalos trazidos da Europa para a pampa, apresentando características muito adequadas para a lida com o gado, rústicos, fortes e hábeis nas manobras rápidas em espaços reduzidos.

17.2. Conceitos de atividades campeiras 37

RODEIO: Parar rodeio é a atividade que se constitui em juntar todo o gado. Dele determinam-se várias atividades: vistoria, vacinação, banho, etc. Outra finalidade do rodeio é, aos poucos, habituar os animais bravos a serem pastoreados e conduzidos conforme a vontade do homem.

APARTE: Constitui-se na seleção das várias cabeças de gado que devem ser apartadas do

rebanho para: - abate (os animais mais velhos e os de desfrute); - procriação (novilhas e fêmeas destemeiradas); - marcação (terneiros machos e fêmeas da safra do ano). BANHO: É realizado para evitar que o rebanho fique à mercê de carrapatos e que sejam os

animais molestados pelas moscas que, com o aumento da temperatura, proliferam assustadoramente e inocula no gado a larva do berne.

VACINAÇÃO: É a tarefa sanitária e de prevenção. Usam as seguintes vacinas: Aftosa, Carbúnculo,

Brucelose, Verminose, etc. ORDENHA: Realizada diariamente, representa o ato de tirar o leite das vacas. BOI PARA TRAGO: Quando o boi completo três anos, pouco mais ou menos, começa a ser

preparado para a tração do arado ou de carreta. Depois de preparado, ao animal colocado sobre a nuca o "jugo", ou então a canga, aparelho colocado na parte posterior dos chifres do boi amarrado com as conjuntas. Ai, ele já tem um companheiro que o ajuda a levar a canga e ou o jugo. As cangas são mais usadas na fronteira de nosso Estado.

CASTRAÇÃO: Ato de "beneficiar" os animais machos que NAO SERÃO usados como

reprodutores. É uma pequena cirurgia para extirpar os testículos dos novilhos. ESQUILA: Ato de cortar a lã dos ovinos. Na esquila cuidam para que o "velo" seja retirado Inteiro

e não em pedaços. A lã das patinhas e da barriga ficam separadas do velo e são chamadas "garras". Toda a lã colocada em 'bolsas", para ser levada à comercialização, geralmente às cooperativas de lã.

37 MOA, Roxelana Graziele – Guia de Estudos para Prendas e Peões, Extrato. Santa Catarina, 2005 (material utilizado pela CBTG nos concursos de 2010 e 2011), p. 130.

Page 49: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

48

17.3. Trabalho com Cavalos 38

Até hoje, muito embora algumas tentativas, o cavalo ainda não pode ser substituído por máquinas nas lidas de campo. Estas a ajudam. Estas ajudam muito, mas ainda não podem fazer o que o cavalo faz, como por exemplo, um aparte no rodeio ou numa porteira de mangueira. Além disso, o cavalo é o ingrediente que maiores belezas e alegrias produzem dentro dos trabalhos de uma estância. É belo, é ágil, é inteligente, é dócil, é veloz, é forte, enfim nos proporciona momentos de verdadeiro encantamento, principalmente quando, em seu lombo, praticamos as mais difíceis, porém mais emotivas e alegres lidas, como o tiro de laço e o aparte, que hoje os “Crioulistas” apelidaram de “Paleteada”.

Convença-se, pois, que você jamais poderá deixar de possuir alguns, para poder desempenhar a contento suas atividades e, sobretudo, para poder usufruir a felicidade que eles, sem dúvida alguma, vão proporciona-lhe. Confira e verá!

17.3.1. Raças

Existem muitas raças. Aqui no Estado cria-se: Inglês, Árabe, Crioulo, Quarto de Milha, Manga larga, Percheron, etc.

Suas principais características são: a) Inglês- Muito altos, extremamente velozes, não se prestam muito para a lida campeira,

são apropriados para carreiras de tiro longo; b) Árabe- Altos, muito ágeis, finos de corpo, belíssimos, porém também não são

aconselháveis para o campo porque são extremamente nervosos e exageradamente delgados; c) Crioulo- São os mais rústicos dos aqui enumerados, engordam em qualquer campo, são

pequenos, mas grossos e fortes, favorecendo as manobras rápidas e em espaços reduzidos, não dependem de trato suplementar além do campo. São os cavalos ideias para serviços com o gado;

d) Quarto de Milha- Muito velozes em tiros curtos de até 400 metros, prestam-se muito bem para o tiro de laço, porém perdem para o Crioulo na rusticidade porque dependem, sempre, de alguma ração suplementar além do campo. São um pouco maiores que os Crioulos;

e) Manga Larga- Boníssimos para longas viagens, em face do seu bom cômodo e da velocidade que desempenham, geralmente são “marchadores” o que os fazem perder para o Crioulo num espaço vital: o pique da arrancada. O Crioulo, por ser geralmente de trote, arranca com mais rapidez em face da posição das patas que, no trote, estão mais próximas umas das outras;

f) Percheron- Insuperável na força são apropriados para tração. Diante das principais características enumeradas acima você naturalmente já deduziu a raça

que mais lhe convém. 17.3.2. Pêlos

Já que dedicamos um capítulo aos Cavalos, seria imperdoável não falarmos sobre os seus variadíssimos pêlos. Dado a sua grande importância, dedico-lhe em capítulo especial.

O assunto é polêmico porque encerra muitas diferenças entre várias regiões do Rio Grande. Além disso, existe ainda, enorme discrepância entre as linguagens militar ou turfistas e a da gauchada campeira, que jamais chamou o cavalo zaino de castanho...

Por outro lado alguns animais possuem em seu corpo mais de uma pelagem, o que dificulta a identificação.

É oportuno lembrarmos, também, que até um ano e meio a dois anos de idade alguns equinos mudam a pelagem, só atingindo a definitiva a partir daí.

Como me propus, neste modesto trabalho, a transmitir aos leigos alguns ensinamentos, coerentemente permanecerei dentro desta linha, respeitando sempre o regionalismo crioulo.

São, pois, os seguintes pelos que conheço: - ALAZÂO: vermelho- claro alaranjado.

38 FERREIRA, Cyro Dutra - Campeirismo Gaúcho Orientações Práticas – (Porto Alegre: Fundação Cultural Gaúcha – MTG), P.21

Page 50: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

49

- AZULENGO: azulado, com uma ou outra mancha branca. - BAIO: cor de café-com-leite fraco. - BAIO CABOS- NEGROS: com pernas, crina e cola pretas. - BAIO ENCERADO: café-com-leite forte e manchas arredondadas e levemente mais escuras. - BAIO RUANO: café-com-leite bem desmaiado e crina e cola brancas. - BRANCO: totalmente branco. - BRAGADO: totalmente coberto de manchas brancas, vermelhas ou pretas embaralhadas e

indefinidas, dando a aparência de um buquê de flores. - COLORADO: vermelho - COLORADO PINHÃO: vermelho carregado, quase encarnado. - DOURADILHO: vermelho bem claro, que brilha quando exposto ao sol. - GATEADO: café-com-leite forte ou marrom fraco. - GATEADO ROSILHO: com pintinhas brancas. - LUBUNO: cinza. - MALACARA: geralmente cavalos vermelhos que tiverem, à frente da cabeça, uma mancha

vertical, dos olhos até o focinho (outros pelos que tiverem a mesma mancha normalmente não são tratados como Malacara).

- MOURO: pequenas pintas brancas sobre o fundo preto. - OVEIRO: manchas grandes, brancas, vermelhas ou pretas, arredondadas. - PAMPA: o cavalo que tiver toda a cabeça branca. - PANGARÉ: café-com-leite, com barriga e focinho brancos. - PICAÇO: todo preto com qualquer mancha branca em qualquer lugar. - PRETO: totalmente preto. - ROSILHO: pintas brancas sobre o fundo vermelho. - ROSILHO PRATEADO: rosilho, com a anca quase branca. - ROSADO: é como na Serra denominam o Bragado. - RUANO: vermelho claro e crinas e cola brancas. -TOBIANO: faixas largas e bem definidas, brancas e vermelhas ou brancas e pretas, em geral

dispostas verticalmente. - TOBIANO ROSILHO: quando as faixas forem rosilhas. - TOBIANO MOURO: quando as faixas forem do pelo mouro. - TORDILHO: fundo branco com pintas levemente mais escuras, de um branco sujo. - TORDILHO NEGRO: fundo branco com pintas de um preto desmaiado. - TORDILHO VINAGRE: fundo branco sob pintas marrons. - TOSTADO: cor de castanha madura. - TOSTADO RUANO: cor de castanha madura e crinas e cola brancas. - ZAINO: marrom escuro. - ZAINO CRUZADO: marrom escuro e duas patas brancas, desencontradas. - ZAINO NEGRO: quase preto. - ZAINO PINHÃO: puxado à cor de pinhão maduro. - ZAINO TAPADO: o que não tem qualquer pinta branca. Alguns animais possuem de 1 a 4 canelas brancas, independentemente da sua pelagem geral,

estes são chamados de “calçados” (gateado calçado das 4 patas, etc.).

Page 51: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

50

ANEXO

Considerações sobre a prova de Artesanato e Culinária O material que segue sobre as referidas provas serve apenas como uma orientação para a prova

oral, portanto, não cai na avaliação escrita. É importante destacar que o artesanato não precisa se limitar aos sugeridos neste trabalho. Da mesma maneira, as atividades culinárias também não – o concorrente pode pesquisar outras bibliografias ou apresentar trabalhos referentes à sua região.

Destaca-se que a execução prática é suplementar – o objetivo principal da avaliação é a contextualização e o conhecimento sobre a atividade a ser desenvolvida que deverá ser demonstrada em exposição oral e questionada pelos avaliadores.

ORIENTAÇÕES PARA CULINÁRIA FONTE: MTG/RS, disponível em www.mtg.org.br A natureza do Brasil ofereceu, tanto a seus habitantes primitivos como aos colonizadores (que,

aqui aportaram) grande variedade de alimentos. Outros aclimataram-se, por introdução dos portugueses, ao fazer roças, hortas e fomentar criações domesticas (galinhas, porcos, ovelhas, cabras, gado vacum).

Especiarias, sal, açúcar foram valiosas contribuições trazidas pelo português à cozinha brasileira.

Segundo Câmara Cascudo (História da Alimentação no Brasil) “todos os pratos nacionais são resultantes de experiências construídas lentamente, fundamentadas na observação e no paladar. Maneiras de preparar a comida, receitas, utensílios empregados, tudo mesclou-se e adaptou-se às possibilidades do meio.

Heranças ameríndias, bem como africanas, transformaram-se, ajustaram-se ao tempero e ao sabor portugueses, às exigências dos utensílios da cozinha européia, ao fogão, ao forno.

Inúmeros pratos conservam, ainda, nome indígena ou africano; mas quase nada existe de autentico na substância real.

Quanto a outras influências, observa o autor citado: “...houve um processo da aculturação continuo na cozinha brasileira que ainda não terminou, pois está sendo enriquecido por inúmeros grupos migratórios

Na alimentação do sul-rio-grandense, além das contribuições dos colonos de várias etnias, verifica-se a introdução de pratos internacionais, especialmente em área urbana, em restaurantes diferenciados.

Para o estudo da cozinha gaúcha, devem-se considerar as particularidades regionais: a Praiana (à base de produtos do mar); a cozinha da Campanha e Missões (predominando as carnes vacum e ovina); a da região dos Campos de Cima da Serra (onde o pinhão tem presença e o café com graspa sobrepõem-se ao chimarrão).

O churrasco, assimilado por diversos grupos, é largamente apreciado reunindo pessoas em dias festivos. O arroz “carreteiro” aparece em quase todo o Estado.

É herança indígena na cozinha gaúcha: utilização da mandioca e de seus produtos (farinha,

tapioca, beju, pirão, mingau); uso do milho assado, cozido e seus derivados (canjica, pamonha, pipoca, farinha). Aproveitamento, de plantas nativas (abóbora, amendoin, cara, batata-doce, banana, ananaz). Cozimento dos alimentos na tucuruva (trempe de pedras), no moquém (grelha de varas) para assar carne ou peixe. Preparo do peixe assado envolvido em folhas; moqueca e também paçoca de peixe ou de carne (feita no pilão). Uso de bebidas estimulantes: mate e guaraná.

A mulher portuguesa valoriza os produtos do solo americano; aproveitou as especiarias da

Índia (cravo, canela, noz-moscada). Criou novos pratos, adaptou outros e conservou algumas receitas tradicionais (bacalhoada, caldo verde, acorda, pasteis, empadas, feijoada, cozido, fatias douradas, coscorões, pão-de-ló, papo-de-anjo, sonhos, pães, compotas, marmeladas, frutas cristalizadas, licores

Page 52: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

51

A culinária luso-brasileira pode ser assim distribuída pelas regiões gaúchas: Litoral (com

influência açoriana) – peixe assado, grelhados, fervido, desfiado, moqueca de peixe, siri na casca, marisco ensopado, arroz com camarão, camarão com pirão. Pirão de água fria, pirão cozido, farofa, cucus torrado, beju, angu de milho, mingau de milho verde, paçoca de carne desfiada, lingüiça frita, feijão mexido, fervido de legumes, açorda, canja, galinhada, fervido de suquete (osso buco), mocotó, bolo de aipim, pães caseiros, “massas doces” (pão doce sovado) “farte” (pão com recheio de melado), melado com farinha de mandioca, roscas de polvilho, roscas de trigo (fritas), rosquetes, “negro deitado” (bolo de panela), bolo frito, sonhos, omelete de bananas, banana frita, pão-de-ló, sequilhos, rapaduras (com diferentes misturas), pé-de-moleque, “puxa-puxa”, balas diversas, pasteis doces e salgados, doce de panela (de frutas), doce de leite, amobrosia, fatias douradas, bolos, pudins, empadas.

Bebidas – Concertada (vinho com água e açúcar), Queimadinha (queimar cachaça com açúcar), Licores diversos (de vinho, de ovos, de butiá, de abacaxi etc), Café, mate-doce.

Cozinha Depressão Central (influência açoriana e outras) – Canja de galinha, sopas diversas,

feijoada, feijão branco, fervido (com legumes e carne), feijão mexido, quibebe, paçoca de favas, arroz de forno, carne de panela, carne assada no forno, bife enrolado, bife à milanesa, guizado de carne, bolo de arroz, pão recheado, empadas, pasteis, “rosinhas” de massa, ovos mexidos, ovos escaldados, “roupa velha” (sobras), peixe recheado, peixe escabeche, peixe frito, bacalhoada, bolinho de bacalhau. Conservas de pepino e cebola. Galinha assada, galinha recheada, arroz com galinha. Pães de forno, pão de panela, “mãe-benta”, biscoitos, “calça-virada”, coscorões, fatias-do-céu, merengues, broas, pudim de laranja, ambrosia de laranja, “manjar celeste”, pudim de pão, “ovos moles”, “fios-de-ovo”, arroz-de-leite, “bom-bocado”, mandolate, balas de leite, de mel, tortas (doces), pé-de-moleque, “farinha de cachorro” (farinha de mandioca com açúcar).

Bebidas: gemada com vinho, licor de vinho, licores com furtas, vinho de laranja. Cozinha da Campanha – Carnes (vacum, ovino) grelhada, no espeto, no forno. Arroz

“carreteiro”, espinhaço de ovelha ensopado, pasteis, empadão, feijão, “cabo-de-relho” (sobras). Pães caseiros (ao forno), pão “catreiro” ou “de pedra” (aquecidos sobre pedra ou chapa quente), roscas de milho, “farinha de cachorro”, ambrosia de pão, doces de “panela” (marmelada, e em calda).

Bebidas: chimarrão. Cozinha “Serrana” – Carne assada, frita, mocotó, feijoada (de feijão preto e branco), charque

com mandioca, paçoca de pinhão com carne assada, couve refogada, couve com farinha, galinha assada, arroz com galinha e quirela de milho, batata-doce, moranga, milho cozido, cuscuz, farinha de biju com leite. Doce de gila, “jaraquatia”, sagu com vinho, arigones, arroz doce, doce de frutas (pêssego, figo, pêra), ambrosia, doce de leite, “chico balanceado” (doce de aipim), doce de batata doce.

Bebidas: “Camargo” (café com apojo), quentão de vinho, café com graspa. Cozinha da região Missioneira - Carnes (vacum, ovino) assada no forno, no espeto, grelhada,

frita na panela, sopa de lentilhas, sopa de cevadinha, feijoada, “puchero”, “gringa” (moranga) caramelada, pirão de farinha de milho, canja, couve com farofa, matambre com leite, fervido de espinhaço de ovelha com aipim. Canjica, guizado de milho, pasteis, empadão, revirado de galinha, revirado de sobras, lingüiça frita, paçoca de charque, galinha assada. Pão de forno, pão de borralho, bolo frito, biscoitos, pão-de-ló, geléia de mocotó, doce de jaraquatia, pêssego com arroz, arigones, tachadas (marmelo, pêssego, pêra), doce de laranja azeda cristalizada, doce de leite, rapadura de leite, gemada com leite, bolos.

Bebidas: chimarrão, mate doce, mate com leite. Colônia alemã – Carne de porco (assada e frita), wurst (lingüiça), chucrut (conserva de

repolho), nudeln (massa), kles (bolinhos de farinha de trigo com batata cozida), conserva de rabanete, galinha assada, sopa com legumes e ovos, kas-schimier (ricota), kuchen (cuca), leb-kuchen (cuca de mel), mehldoss (doces de farinha de trigo), schimier (pasta de frutas), syrup (frutos cozidos com

Page 53: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

52

melado), weihmachts (bolachinhas), bolinhos de batata ralada, pão de milho, de centeio, de trigo, tortas doces. Café colonial (salgadinhos, salames, queijos, bolos).

Bebidas: Das bier - cerveja, chop. Spritzbier (gengibirra). Assimilaram o chimarrão. Colônia Italiana – Brodo (caldo de carne), carne Lessa (carne cozida n´agua), capeleti (massa

com recheio de carne picada) o mesmo que Agnolini, menestra ou aminestra (sopa, canja), galeto a menarôsto ( frango no espeto), ravióli (massa com recheio), tortei (pastel cozido recheado com moranga ou abóbora), macarôn (massa), spagueti (massa cortada), fidelini (massa fina), polenta (angu de farinha de milho), risoto (arroz com galinha e queijo ralado), pizza (massa de pão com molho e queijo), pera cruz (bolo fervido em calda de frutas), pães de trigo e milho, panetone (pão com frutas cristalizadas), salames, queijos.

Bebidas: vinho, graspa. Lílian Argentina Braga Marques e Sônia Campos – Folcloristas ORIENTAÇÕES PARA ARTESANATO FONTE: MTG/RS (disponível em www.mtg.org.br) 1. Definindo Arte e Artesanato Alguns folclorista brasileiro agrupam, sob o título de Artes populares todas as técnicas

tradicionais empregadas pelo povo. Desse modo, incluem, nessa área, tanto a construção de um rancho de torrão, ou de um barco, como o trabalho de uma tecelã ou de um ceramistas, etc...

Outros atores classificam as manifestações artísticas do povo como artesanato. Renato apóia-se na opinião de Paul Sébillot que considera como “ arte folclórica aquela que não

resulta de qualquer ensinamento especial, mas de uma tradição ou na necessidade de exprimir- por sinais- idéias ou coisas vistas cuja recordação pode ser agradável ou útil”. (1972).

A arte folclórica vem sendo praticada pelos mais diversos grupos humanos em diferentes épocas da história.

No entender de Cecília Meirelles (1968), ela “ resume os grandes trabalhos humanos” e “ manifesta a sensibilidade geral dos que a praticam, por uma seleção de motivos que são uma espécie de linguagem cifrada”.

Como todo fato folclórico, a arte popular é de criação espontânea e pode sofrer os fenômenos da evolução e da extinção.Como diz Ana Augusta Rodrigues, a arte popular “ é feita pelo povo”, produto de sua imaginação e é a expressão do grupo a que pertence.

Segundo E. O. Christien (1965), a arte folclórica, “ limitada a uma região particular, move-se dentro de uma linha estreita e, geralmente, perpétua desenhos hereditários: a originalidade ou imaginação constituem uma exceção”.

Dessa afirmativa, conclui-se que toda uma área possa se revelar por estilos artísticos definidos. As produções de arte espontânea ligam-se, também, aos materiais disponíveis na área em que

vive o artista folclórico. Rossini Tavares de Lima e Renato Almeida fazem uma distinção entre artesanato e arte popular. Diz Rossini (1976): “ Não é possível incluirmos na categoria de artesanato as pinturas de bandeiras de Santos, os ex-votos na forma de esculturas de cabeças , as xilograduras dos folhetos de literatura de cordel, os desenhos coloridos das carrocerias de caminhão e os exemplares de cerâmica figurativa que existem por todo Brasil. Nesses exemplares muito diferente dos produtos de artesanato, observa-se o predomínio de elementos decorativos na definição de uma expressão estética. Os homens que desenvolveram as atividades referidas não podem e não devem ser situadas no mesmo plano de um paneleiro , cesteiro ou um fazedor de pilões. Existe nessas atividades, a procura de alguma coisa diferente, que não inclui somente no imediatismo utilitário, se bem que as formas de arte popular posam se encontrar associados, muitas vezes, num objeto utilitário, produtos de artesanato”.

Segundo Rossini T. Lima (1976), o “ artista folclórico não tem consciência de que produz arte e é só incluído na categoria de artistas pelos folcloristas que encontraram, no objeto de sua criação a predominância de motivos estéticos”. Opina ainda, o autor que a “ arte folclórica, como toda a manifestação de arte, explica-se no caráter pessoalismo de cada exemplar, revelador de uma cultura

Page 54: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

53

regional espontânea aliada à criatividade do autor”. Renato Almeida, considera como arte popular: cerâmica, escultura e pintura”.

Várias definições foram propostas por folcloristas brasileiros para diferenciar arte e artesanato. Para Saul Martins (1974), o “ debate a respeito da diferença entre arte popular e artesanato

parece-nos sem importância, seja porque todo artista começou como artesão. Se este evoluiu para a criação de peças bem acabadas, naturalmente vira artista”.

O mesmo autor nos indica as características do artesanato: 1) manual- o contato é direto entre o artesão e o material empregado, sem se considerar,

naturalmente, pequenas intervenções de ferramentas ou aparelhos simples. 2) os objetos resultam de elaboração intelectual, embora sem requinte, feitos segundo os

padrões tradicionais, mas nunca em molde ou forma, nem mesmo em série. 3) aqui se realizam formas, que podem ser apreciáveis ou suscetíveis de sê-lo, e não simples

produtos. 4) emprega-se material disponível, gratuito ou extraído no lugar ou retalhos, sobra

aproveitável. 5) doméstico ou caseiro, conta com a participação da família. 6) o artesão não conhece a divisão do trabalho, não se organiza para a produção, sozinho

executa todas as parcelas necessárias à transformação. Saul Martins (1974) observa, ainda, que o “ tipo ou modalidade de artesanato resulta de fatores

ecológicos, isto é das relações entre o homem e o meio. Adapta-se às condições locais, ao estilo de vida, às exigências da freguesia, aos recursos naturais, á ocasião. Sendo o artesanato uma manifestação da vida comunitária, o artesão faz objetos padronizados, o que empresta à sua arte um caráter regional e tradicional”.

Para R. T. de Lima (1974), a expressão artesanato se dá a coisas que são feitas, no todo, por uma pessoa ou, no máximo, por pequenos grupos de pessoas.

O artesanato possui características domésticas e, no geral, é valorizado pelo cunho pessoal de que se revestem seus produtos, elaborados à mão ou com auxílio de rudimentares instrumentos de trabalho, estes muitas vezes, confeccionados pelo próprio artesão. Pode ser erudito, popularesco e folclórico.

Considera como artesanato: cerâmica utilitária, funilaria popular, trabalhos em couro e chifre, trançados e tecidos de fibras vegetais e animais (sedenho), fabrico de farinha de mandioca, monjolo de pé de água, engenhocas, instrumentos de música, tintura popular. E, como arte, pintura e desenho (primitivos), esculturas (figura de barro) madeira, pedra guaraná, cera, miolo de pão, massa de açúcar, bijuteria popular, renda, filé, crochê, papel recortado para enfeite...

A classificação de Alceu Maynard Araújo (1964), a respeito dos trabalhos de confecção manual, é mais ampla e engloba, além das artes populares, as técnicas tradicionais. Nas técnicas, inclui: atafona, monjolo, engenho, alambique, etc..., construção de casas, barcos, carros e utensílios domésticos e a confecção de doçaria e comidas típicas.

Diz Maynard (1964) sobre o artesanato: “ são coisas que o homem cria, sem ensino formal, levado pela necessidade. São técnicas tradicionais elementares de que o homem se serve para melhor subsistência, no primitivismo imposto pelo meio”. Uma explicação disso temos na referência de Jean Roche a respeito dos artesanatos do colonos alemães no Rio Grande do Sul. “ As memórias deste novo Robinson, chegado a São Leopoldo em 1828, provam que o motivo que levou os colonos a produzirem eles próprios, a maior parte dos artigos de uso foi a necessidade de fazer economias de toda sorte. A simples sobrevivência biológica dos emigrantes só foi possível graças ao trabalho de toda família e ao retorno (regressão) de técnicas tradicionais as mais elementares (rudimentares). Foi uma adaptação ao novo meio. O artesanato rural se dividiu em dois grandes ramos: o fornecimento dos artigos necessários à vida local e a transformação dos produtos agrícolas para vender”.

A necessidade leva o individuo a recorrer a novas técnicas de subsistência. Esta é uma das causas da instabilidade da artesania. Geralmente, o artesão é improvisado e faz da atividade um “ biscate”.

Nem sempre as técnicas artesanais têm continuidade na família. O trabalho artesanal depende da matéria prima que, muitas vezes, não pode ser adquiridas em grande quantidade.

Page 55: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

54

O artesanato está, ainda, como diz Maynard, no círculo do “ quebra-galho”, isto é, produz-se hoje para comer amanhã.

O mercado também influi sobre a produção artesanal pois, nem sempre a peça artesanal é valorizada na localidade onde tem origem.

2- Arte Folclórica â Cerâmica e Modelagem folclórica Desde a Pré-história, a modelagem em barro tem sido uma forma de expressão do homem. A palavra cerâmica, originada do grego Keramus, designa todos os objetos de argila submetidos

à queima. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, já encontraram os índios confeccionando objetos de

barro: potes, panelas, pratos e vasos. Segundo Haydee Nascimento, “ os primeiros jesuítas não acrescentaram nada à cerâmica

indígena”. As formas: bilhas, talhas, etc... chegam através dos artesãos emigrados que introduzem, também, o torno de oleiro.

Em quase todo o Brasil são encontrados oleiros. As peças produzidas são de dois tipos: → utilitário; → figurativo. Este último tipo, também denominado cerâmica figureira, é mais expressivo no Nordeste

brasileiro, onde se tornou famosa a dita “ Escola de Caruaru”. Destacam-se, ainda, no Nordeste, a cerâmica de Carrapicho (Sergipe) e a de Maragogipinho (Bahia).

Em Mato Grosso e Goiás, molda-se cerâmica figurativa: São Paulo, salientam-se a do Vale do Paraíba e a de Apiaí.

Em Santa Catarina, os barristas de São José das Palhoças produzem figuras antropomorfas e zoomorfas.

A cerâmica utilitária é encontrada em todo território nacional (alguidares, potes, moringas, talhas, quartinhas) e se distinguem, regionalmente, tanto pela cor da peça como pelos motivos ornamentais. Observam-se, também, em peças utilitárias, as expressões artísticas, pois, muitas delas, apresentam formas antropo, zoo ou fitomorfas (moringas com figuração de mulher; mealheiros ou cofres figurando animais; assovios, cachimbos e paliteiros em forma de pássaros, ...).

No Rio Grande do Sul, temos apenas a cerâmica utilitária no estágio de indústria com a utilização de tornos.

Técnicas Embora em algumas regiões do Brasil seja considerada indígena da cerâmica de cordel (rolo ou

espiral), os objetos modelados, em sua maioria são de tradição ibérica: Quartinha, moringa, etc... Além da técnica de cordel, utilizam-se, ainda, técnicas de levantamento e a que conta com o

auxílio de forma para a base. Funciona, também, a rodeira (torno movido a pé). A técnica manual é utilizada por mulheres e crianças enquanto que a roda de oleiro é trabalho masculino.

Ao lado dos trabalhos de barro formados há a modelagem não submetida a forno, isto é, de barro cru como as que confeccionam os barristas de Taubaté, Cunha, Piraitinga, Paraibuna (São Paulo).

Escultura folclórica No Brasil, encontram-se trabalhos de escultura em: madeira, pedra-sabão, pedra Grês, massa de

Guaraná, balata, massa de açúcar (alfenis), cera, miolo de pão, galhos de árvores, etc.. Renato Almeida (1974) destaca, na escultura popular brasileira, os trabalhos dos imaginários

(santeiros), os ex-votos (promessas talhadas em madeiras) e as carrancas (cabeçorras antropo zoomorfas).

São famosas, no Nordeste , as talhas pernambucanas, em especial, as de Olinda, para sua confecção, utilizam formões e um pequeno martelo, para pequenos detalhes é utilizado canivete. Os motivos são florais, bailados folclóricos, indígenas, pescadores e, também, religiosos (Cristo, Santa ceia).

Para escurecer a madeira, usam grão de Viochene e, para dar brilho, cera. No Rio Grande do Sul são encontradas exemplares de escultura em madeira não só

representando figuras de animais mas figuras humanas (Livramento e Uruguaiana).

Page 56: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

55

Encontram-se esculturas em cabos e relhos (Santa Maria) e em palanques (São Gabriel). Aproveitam-se, também, galhos de árvores para transforma-los, com pequenas elaborações, em

belas peças (Livramento). Esculpem-se cofres e florões para decoração de móveis, de maneira espontânea (Passo Fundo e Júlio de Castilhos).

No Rio Grane do Sul, há trabalhos de esculturas em pedra, destacando-se: Ivo Alves da Silva (69 anos), residindo em Santa Maria e que produz peças com temas regionais.

Usa ferramentas rudimentares por ele fabricadas para talhar a pedra-arenito, procedente de Alegrete. Clotilde de Deus Silva (75 anos), interna no Asilo da Velhice de Uruguaiana que esculpe pedra

Grês desde os seus 14 anos de idade. Produz figuras ântropo e zoomorfas usando ferramentas rudimentares como: serra de arco de barril, prego, faca, “ relo” de lata e azeite. A pedra procede de Alegrete e suas peças não são pintadas.

Pelo interior do Estado, encontram-se inúmeros “canteiros”, que esculpem pedras para túmulos, lavrando florões, cruzes, anjinhos, etc.... (São Gabriel).

Porongos também são alvo da atividade artística folclórica. O gaúcho, que faz do mate sua principal bebida, conforme suas posses, procura obter cuia bem aparelhada, adornada com metal lavrado adredamente preparada.

Além do trabalho de ourivesaria, as cuias são passíveis trabalhos de pirogravura e de “ bordados” ou de entalhe.

Júlio Matte (70 anos), de São Borja dedica-se ao trabalho de entalhe em cuias. Utiliza porongo doce, desenhando sobre a superfície, motivos tais como: florais, cívicos, figuras de animais e humanas com ferramentas rudimentares (macete de madeira e inúmeras ponteiras feitas de prego caibral).

- Trabalhos com papel e tecido - Floristas A confecção de flores é considerada arte. No interior do Rio Grande do Sul, as floristas, em sua maioria, dedicam-se à feitura de flores para

coroas. Essas flores são feitas de papel ou de pano, tanto para ornamentação doméstica, quanto para túmulos. Para túmulos, as flores são geralmente parafinadas. Usam-se, também, flores de lata pintadas, mais duráveis.

O papel é, também utilizado como motivo de adorno em “ bicos” de prateleiras, guardanapinhos para envolver doces, desfiados e crespos para envolver balas, etc...

Para que haja bordado, é necessário que exista tecido de fundo sobre o qual o tecido se realiza. São incontáveis os pontos utilizados tradicionalmente.

A renda é um entre lançamento de fios que compõe um desenho sem que haja um fundo de tecido. Confeccionam-se rendas com agulhas ( comum, crochê, tricô), com navete, com bilros, etc... A rendaria mais comum, em nosso Estado, é a de crochê.

A passamanaria e o macramé são considerados arte de origem egípcia trazidos à Ibéria pelos árabes. É um trabalho de amarração de fios. As mais delicadas franjas do Rio Grande do Sul encontram-se em Bom Jesus, São Borja, São Luiz e Cachoeira do Sul.

3 - Artesanato Alice Inês de Oliveira e Silva (1979) faz a seguinte distinção da seguinte distinção, quando fala

em artesanato: Artesanato folclórico - aprendizagem informal, dentro do grupo familiar ou de vizinhança; - veicula uma tradição cultural de sua obra; - funcional; - caráter regional; - aproveita, em geral, matéria prima disponível. - Artesanato popularesco ou da Massa - difundido por instituições ou veículos de comunicação de massa; - não tem caráter regional; - condicionado pela moda, pelos padrões da sociedade de consumo;

Page 57: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

56

- massificado; - Artesanato erudito - criação individual; - sofisticado; - elitista. Vários são os produtos artesanais: - Cestaria Segundo o “Guia Prático de Antropologia”, a cestaria inclui não só os verdadeiros cestos mas,

também, as caniçadas (tecidos de varas, canas, vimes, ou juncos em forma de superfície plana), as esteiras e os trançados decorativos. O trabalho de cestaria pode ser entretecido e em espiral.

Nossos indígenas já conheciam a técnica da cestaria. Os atuais artesãos juntaram à técnica indígena, as trazidas pelas outras raças, formadoras do povo brasileiro.

Os tipos de cestaria no Brasil variam tanto em razão da finalidade como em razão do material disponível. Para confecção da cestaria são empregados vegetais variados, tanto os talos, colmos, folhas como raízes.

Os vegetais mais empregados no Rio Grande do Sul, nesse tipo de artesanato, são: taquara, juncos de vários tipos, vime, jerivá, imbé, butiazeiro, bananeira, palha de trigo e milho, cipós, taboa, macega,...

Muitos vegetais fornecem apenas fibras têxteis com as quais se arrematam os trabalhos ou se fazem trançados, entre eles: pita, embira e tucum.

- Tecelagem Segundo o “ Guia Prático de Antropologia”, ao ‘tecer’ entelaçam-se, em ângulos retos, duas

séries de elementos flexíveis para formar um tecido mais ou menos compacto, de acordo com os materiais e processos empregados.

O tecido propriamente dito faz-se, geralmente, com os materiais macios e flexíveis. No Rio Grande do Sul o fio mais empregado na tecelagem folclórica é a lã, trabalhada em teares verticais ou horizontais. O tear vertical é o tipo mais usado na região da campanha e o horizontal sendo encontrado na região do litoral. Nesses teares (horizontal e vertical), são confeccionados cobertores, ponchos, bicharás, xergas e trapeiras.

- Trabalhos em couro Segundo E. P. Coelho (s/d) ao “ artesanato de uso campeiro , na base de couro cru, dá-se o

nome, de modo geral, de trabalho em ‘corda’. Guaspeiro é o apelido pelo qual é conhecido o homem do campo que se dedica a esse tipo de artesanato. São vários os ‘ pertences’ de uso campeiro, confeccionados com couro cru. Destacam-se, entre outros, as ‘cordas’ trançadas (rédeas, laços, cabrestos, ...), feitos de couro cavalar... São, também, utilizados o couro de cabra (chibo) para tranças delicadas e a pele de enguia (muçum) para revestimento de pequenos objetos”.

O couro serve como material de trabalho, tanto para o Guasqueiro como para o Seleiro. O Guasqueiro confecciona: laços, manilhas, rédeas, cabeçadas, buçais, arreadores, rebenques,

etc. O seleiro confecciona: caronas, cinchas, lombilhos, selas, serigotes, bastos, badanas, arreiame

para animal de tiro e até botas, surrões, rabichos e peiteiras. O couro é aproveitado, igualmente, para tramas (assento de cadeiras, lastro de camas rústicas),

para o retovo de cuias, baú, ... O homem rural, geralmente, aproveita o couro para fins utilitários. - Trabalhos em madeira Há uma grande variedade de objetos com função utilitária, feitos de madeira, com técnica

rudimentar e tradicional: colheres, cochos, bancos, cabides, arcas, pilões... Para a feitura de pilões e gamelas, alguns usam o processo da queima, outros empregam encho,

formão e coiva. As madeiras próprias para a confecção de gamelas são: timbaúva, figueira e a corticeira. Para a

feitura do pilão são empregadas a cabriúva, o grapici e o angico.

Page 58: MATERIAL DE ESTUDOS CATEGORIA MIRIM - ftgpc.com.br · armas com ponta de osso e madeira, como o arco e flecha, o tacape e a machadinha. Os ... Como alimento, usavam o milho, a batata

57

- Funilaria Formas moldes de bolachas, candieiros, canecas, ... São trabalhos executados pelos funileiros ou

latoeiros. Os moldes de bolachas, no Rio Grande do Sul, aparecem na região de colonização alemã e apresentam os mais variados modelos, tanto em forma de objetos, flores, animais como da figura humana.

REFERENCIAL BILBIOGRÁFICO Elaboração: Lílian Argentina Braga Marques Colaboração: Nora Cecília Lima Bocaccio Cinel