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Material Didatico -Ana (Aguas)

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SUMRIO1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.Os recursos hdricos no ordenamento jurdico Bacias hidrogrficas e problemas instrumentosClia Cristina Moura Pimenta Agncia Nacional de guas (ANA)

Introduo em gesto de recursos hdricos bacias hidrogrficas e problemas instrumentosJlio Thadeu Kettelhut Secretaria de Recursos Hdricos (SRH/MMA)

Ecossistemas do PantanalCarolina J. da Silva Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)

Introduo s tcnicas de sensoriamento remotoWilliam Tse Horng Liu Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB/MS)

Ciclo hidrolgico e sintica atmosfricaArmando Garcia Arnal Barbedo Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/MS)

Conhecimentos bsicos de hidrologia aplicada

Luiz Airton Gomes Universidade Fedetal do Mato Grosso (UFMT/MT)

Oficina A participao como processo educativo nos comits de baciaMnica Branco Universidade Catlica de Braslia (UCB)

Setores usurios de guaHenrique Marinho Leite Chaves Agncia Nacional de guas (ANA)

Integrated river management in the PantanalRob H.G. Jongman Instituto Alterra, Universidade de Wageningen - Holanda

10. Conhecimentos bsicos de qualidade de guaCarlos Nobuyoshi Ide Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/MS)

11. Saneamento, tratamento e sadeMauro Roberto Felizatto Universidade Catlica de Braslia (UCB)

12. Introduo a hidrogeologiaPierre Girard Centro de Pesquisas do Pantanal (CPP/MT), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT/MT)

13. Metas e aes da diretoria de recursos hdricos/FemaAlessandra Panizi Souza Fundao Estadual de Meio Ambiente (Fema/MT)

14. Gerenciamento das Polticas Estaduais de Recursos HdricosMrcia Correio de Oliveira Secretaria de Meio Ambiente e de Recursos Hdricos (SEMA/MS)

15. Enquadramento de corpos de guaJrgen Michel Leeuwestein Consultor UNESCO

16. Tpicos de economia de recursos hdricosRaymundo Jos Santos Garrido Universidade Federal da Bahia (UFBA)

17. Organismos colegiados no sistema nacional de gerenciamento de recursos hdricos (Singreh)Maria Manuela Martins Alves Moreira Secretaria de Recursos Hdricos (SRH/MMA)

18. Outorga de direito de uso de recursos hdricosAndr Pante Agncia Nacional de guas (ANA)

19. Sistema de informaes sobre recursos hdricosNaziano Pantoja Filizola Junior Agncia Nacional de guas (ANA)

20. Planos de recursos hdricosNaziano Pantoja Filizola Junior Agncia Nacional de guas (ANA)

21. Hidrologia Aula prtica de campoMedio de vazo lquida com molinete fluviomtricoJos Pedro Garcia da Rocha Universidade Federal de Mato Grosso

OS RECURSOS HDRICOS NO ORDENAMENTO JURDICO BACIAS HIDROGRFICAS E PROBLEMAS INSTRUMENTOSClia Cristina Moura PimentaAgncia Nacional de guas (ANA)

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OS RECURSOS HDRICOS NO ORDENAMENTO JURDICOA Constituio de 1988 dividiu as guas em pblicas, de domnio da Unio e dos Estados (arts. 20, IV e 26, I) e disciplinou que a Unio deveria instituir um sistema nacional de gerenciamento de recursos hdricos e definir critrios de outorga de direitos de seu uso (art. 21, XIX da CF). A Carta Magna em vigor estabeleceu tambm a competncia privativa da Unio para legislar sobre guas (CF art. 22, IV), e estatuiu competncia Unio para instituir o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos (Singreh) (art. 21, XIX) para a defesa de secas e inundaes (art. 21, XVIII). A Lei Maior, em seu artigo 20, cita que os bens da Unio: III os lagos, rios e quaisquer correntes de gua em terreno de seu domnio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros pases, ou se estendam a territrio estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais. O art. 26 da Carta Magna estabelece os recursos hdricos que so bens dos Estados: I as guas superficiais ou subterrneas, fluentes, emergentes ou em depsito, ressalvadas, nesse caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da Unio.1 A competncia legislativa privativa da Unio estabelecida pelo art. 22 e o pargrafo nico do mesmo artigo estabelece que: Lei complementar poder autorizar os Estados a legislar sobre questes especficas das matrias relacionadas neste artigo.2 Conforme Celso Ribeiro Bastos (1993, p. 309), Lei Complementar trata das matrias que expressamente a Constituio estabelece ser prpria dessa espcie normativa, desfruta de matria prpria, subtrada da competncia das demais normas, caracterizando-se tambm por um processo de elaborao especial, pois sua aprovao exige maioria absoluta dos votos dos membros das duas Casas do Congresso Nacional como assim dispe o art. 69 da CF. Aduz a essa definio com o seguinte comentrio:Cuida-se, sem dvida, de autorizao constitucional que prev uma delegao possvel de competncias a favor dos Estados-Membros. No entanto, esta aparente abertura a favor destes ltimos fica muito enfraquecida diante de dois fatos. Em primeiro lugar, a necessidade de uma lei complementar; em segundo lugar, o fato de que esta lei complementar no poder delegar todo um inciso, ou se preferirmos, a regulao integral de determinada matria. Dever, na verdade, dita delegao limitar-se a questes especficas constantes das aludidas matrias... Observe-se que a lei complementar demanda uma maioria absoluta dos membros de cada uma das Casas do Congresso Nacional e essa lei no pode transferir uma competncia da mesma natureza daquela auferida pela Unio. Isso porque a prpria lei complementar est limitada ao seu alcance, s podendo autorizar legislao sobre questes especficas das

1 Constituio Federal, art. 20, III. 2 Constituio Federal, art. 22, pargrafo nico.

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matrias relacionadas no aludido artigo. Destarte, quase uma delegao legislativa, onde a lei complementar seria uma autntica lei delegante a indicar os pontos sobre os quais pode versar a legislao estadual.

O insigne jurista Paulo Affonso Leme Machado, in Direito Ambiental Brasileiro, 12 edio, p. 432, assim define a gesto descentralizada instituda pela Lei n 9.433, de 1997:A descentralizao recomendada e instaurada pela Lei 9.433 foi no domnio da gesto, pois a competncia para legislar sobre as guas matria concernente Constituio Federal e continua centralizada nas mos da Unio, conforme o art. 22, IV. Lei Complementar poder autorizar os Estado a legislar sobre guas (art.22, pargrafo nico, da CF), sendo que at agora no existe tal lei.

DEMAIS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS SOBRE RECURSOS HDRICOS COMPENSAO FINANCEIRA Art. 20. So bens da Unio: 1 assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios, bem como a rgos da administrao direta da Unio, participao no resultado da explorao de petrleo ou gs natural, de recursos hdricos para fins de gerao de energia eltrica e de outros recursos minerais no respectivo territrio, plataforma continental, mar territorial ou zona econmica exclusiva, ou compensao financeira por essa explorao. 2 A faixa de at cento e cinqenta quilmetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, considerada fundamental para defesa do territrio nacional, e sua ocupao e utilizao sero reguladas em lei.COMPETNCIA COMUM

Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios: XI registrar, acompanhar e fiscalizar as concesses de direitos de pesquisa e explorao de recursos hdricos e minerais em seus territrios;APROVEITAMENTO EM TERRAS INDGENAS

Compete ao Congresso Nacional exclusivamente o aproveitamento de recursos hdricos em terras indgenas, in verbis: Art. 49. da competncia exclusiva do Congresso Nacional: XVI autorizar, em terras indgenas, a explorao e o aproveitamento de recursos hdricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais. Colaciona-se, abaixo, os bens e direitos reconhecidos aos ndios na CF:Art. 231. So reconhecidos aos ndios sua organizao social, costumes, lnguas, crenas e tradies, e os direitos originrios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo Unio demarc-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

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1 So terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios as por eles habitadas em carter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindveis preservao dos recursos ambientais necessrios a seu bem-estar e as necessrias a sua reproduo fsica e cultural, segundo seus usos, costumes e tradies. 2 As terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. 3 O aproveitamento dos recursos hdricos, includos os potenciais energticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indgenas s podem ser efetivados com autorizao do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participao nos resultados da lavra, na forma da lei. 6 So nulos e extintos, no produzindo efeitos jurdicos, os atos que tenham por objeto a ocupao, o domnio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a explorao das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse pblico da Unio, segundo o que dispuser lei complementar, no gerando a nulidade e a extino de direito indenizao ou a aes contra a Unio, salvo, na forma da lei, quanto s benfeitorias derivadas da ocupao de boa-f. 7 No se aplica s terras indgenas o disposto no art. 174, 3 e 4.

A LEI N 9.433, DE 1997A Lei n 9.433, de 1997,3 talvez tenha sido uma das que teve maior tempo de discusso no Congresso Nacional dez anos e o resultado foi a edio de uma lei que, por sua natureza de norma nacional, vem revolucionando o setor de recursos hdricos. Trata-se de uma lei atual e avanada cujas inovaes exigem, para sua aplicao, por parte do Poder Pblico, uma total reviso de suas estruturas institucionais com vistas a adaptar-se aos seus conceitos e fundamentos filosficos, principalmente em relao ao domnio dos corpos dgua, tendo em vista que as decises so tomadas no mbito da bacia hidrogrfica e a Constituio Federal define os domnios dos corpos dgua em estaduais e da Unio (arts. 20 e 26 da CF). Assim, h um escalonamento normativo em cujo topo localiza-se a Constituio Federal, infere-se que todas as demais normas componentes desse seriado hierrquico de regras encontraro nela a forma de elaborao legislativa e o seu contedo. A frmula a adotar-se para a explicitao dos conceitos opera sempre de cima para baixo, o que serve para dar segurana ao ordenamento jurdico (compatibilidade vertical).

3 Institui a Poltica Nacional de Recursos Hdricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituio Federal e altera o art. 1 da Lei n 8.001, de 13 de maro de 1990, que modificou a Lei n 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

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A importncia da Lei n 9.433, de 1997, sentida logo em seus fundamentos: 1) a gua um bem de domnio pblico; 2) a gua um recurso natural limitado, dotado de valor econmico; 3) em situaes de escassez, o uso prioritrio dos recursos hdricos o consumo humano e a dessedentao de animais; 4) a gesto dos recursos hdricos deve sempre proporcionar o uso mltiplo das guas; 5) a bacia hidrogrfica a unidade territorial para implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos e atuao do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos; 6) a gesto dos recursos hdricos deve ser descentralizada e contar com a participao do Poder Pblico, dos usurios e das comunidades. O princpio que adota a bacia hidrogrfica como unidade de planejamento altera o ordenamento jurdico vigente sobre a definio de domnio. Significa estabelecer que o tratamento normativo dado aos recursos hdricos deve levar em considerao a jurisdio da bacia hidrogrfica como objeto de direitos e deveres e no a competncia dos entes governamentais sobre bens e domnio. Aliado a isso, constata-se que no h como se pensar em gesto de recursos hdricos sem levar em considerao os princpios da retrocitada Lei, pois sem eles no h como estruturar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos (Singreh).DOS INSTRUMENTOS DA POLTICA NACIONAL DE RECURSOS HDRICOS

A Lei n 9.433, de 1997, elegeu cinco instrumentos que esto inter-relacionados, so eles: 1) os Planos de Recursos Hdricos; 2) o enquadramento dos corpos de gua em classes, segundo os usos preponderantes da gua; 3) a outorga de direito de uso de recursos hdricos; 4) a cobrana pelo uso de recursos hdricos; e 5) o Sistema de Informaes sobre Recursos Hdricos. Apesar de o art. 5 da lei prever a compensao a municpios, o texto do art. 24 da lei foi vetado, desconsiderando-o como instrumento da Poltica Nacional de Recursos Hdricos.Outorga de direito de uso de recursos hdricos

As Leis n 9.433, de 1997 e n 9.984, de 2000, trouxeram nova viso ao gerenciamento de recursos hdricos no Pas. Destaque-se aqui a competncia conferida ao Conselho Nacional de Recursos Hdricos para a edio de critrios gerais de outorga e da Agncia Nacional de guas para a emisso de outorga preventiva, de direito de uso e a declarao de disponibilidade hdrica. A outorga de uso de recursos hdricos definida como o ato administrativo mediante o qual a autoridade outorgante faculta ao outorgado previamente ou mediante o direito de uso de recurso hdrico, por prazo determinado, nos termos e nas condies expressas no respectivo ato, consideradas as legislaes especficas vigentes.4 A outorga tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo da gua e o efetivo exerccio dos direitos de acesso mesma, disciplinando a sua utilizao e compatibilizando demanda e disponibilidade hdrica.4 Art. 1 da Resoluo do Conselho Nacional de Recursos Hdricos (CNRH) n 16, de 8 de maio de 2001.

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Os diversos usos da gua podem ser concorrentes, gerando conflitos entre setores usurios e impactos ambientais. Nesse sentido, gerir recursos hdricos uma necessidade premente e que tem o objetivo de buscar ajustar as demandas econmicas, sociais e ambientais por gua em nveis sustentveis, de modo a permitir, sem conflitos, a convivncia dos usos atuais e futuros da gua. nesse ponto que o instrumento da outorga se mostra necessrio, pois possvel, com ele, assegurar, legalmente, um esquema de alocao de gua entre os diferentes usurios, contribuindo para um uso sustentvel da gua. A Resoluo ANA n 317 instituiu o Cadastro Nacional de Usurios de Recursos Hdricos (CNARH) e a Resoluo n 161, de 9/4/2003 o Certificado de Cadastro de Usos Insignificantes. O Conselho Nacional de Recursos Hdricos (CNRH) aprovou, em maio de 2001, a Resoluo n 16, estabelecendo critrios gerais para a outorga de recursos hdricos que deve ser observada quando da edio das respectivas normas especficas nos Estados/DF e pela Unio. A Resoluo n 29, de 11 de dezembro de 2002, define diretrizes para a outorga de uso dos recursos hdricos para o aproveitamento dos recursos minerais. A Resoluo n 37, de 26 de maro de 2004, estabelece diretrizes para a outorga de recursos hdricos para a implantao de barragens em corpos de gua de domnio dos Estados, do Distrito Federal e da Unio. A Declarao de Reserva de Disponibilidade Hdrica foi instituda pela Lei n 9.984, de 2000, que, no caput do art. 7 estabelece que compete ANA licitar a concesso ou autorizar o uso de potencial de energia hidrulica em corpo de gua de domnio da Unio e a Agncia Nacional de Energia Eltrica (Aneel) dever promover, com a ANA, a prvia obteno de declarao de reserva de disponibilidade hdrica. A Constituio de 1988 traz importantes disposies acerca da utilizao do aproveitamento para a gerao de energia eltrica, in verbis:Art. 21. Compete Unio: XII explorar, diretamente ou mediante autorizao, concesso ou permisso: a) .............................................................................................. b) os servios e instalaes de energia eltrica e o aproveitamento energtico dos cursos de gua, em articulao com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergticos. (grifos prprios) Art. 176. As jazidas, em lavra ou no, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidrulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de explorao ou aproveitamento, e pertencem Unio, garantida ao concessionrio a propriedade do produto da lavra. 1 A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere o caput deste artigo somente podero ser efetuados mediante autorizao ou concesso da Unio, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituda sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administrao no Pas, na forma da lei, que estabelecer as condies especficas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indgenas.

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2 assegurada participao ao proprietrio do solo nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei. 3 A autorizao de pesquisa ser sempre por prazo determinado, e as autorizaes e concesses previstas neste artigo no podero ser cedidas ou transferidas, total ou parcialmente, sem prvia anuncia do poder concedente. 4 No depender de autorizao ou concesso o aproveitamento do potencial de energia renovvel de capacidade reduzida. (grifos prprios)

A Lei n 9.984, de 2000 dispe:Art. 7 Para licitar a concesso ou autorizar o uso de potencial de energia hidrulica em corpo de gua de domnio da Unio, a Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL dever promover, junto ANA, a prvia obteno de declarao de reserva de disponibilidade hdrica. 1 Quando o potencial hidrulico localizar-se em corpo de gua de domnio dos Estados ou do Distrito Federal, a declarao de reserva de disponibilidade hdrica ser obtida em articulao com a respectiva entidade gestora de recursos hdricos. 2 A declarao de reserva de disponibilidade hdrica ser transformada automaticamente, pelo respectivo poder outorgante, em outorga de direito de uso de recursos hdricos instituio ou empresa que receber da ANEEL a concesso ou a autorizao de uso do potencial de energia hidrulica. 3 A declarao de reserva de disponibilidade hdrica obedecer ao disposto no art. 13 da Lei n 9.433, de 1997, e ser fornecida em prazos a serem regulamentados por decreto do Presidente da Repblica.

Assim, surgem agora questes ainda no juridicamente respondidas, as quais comportam diferentes respostas e implicaes institucionais e legais. Sugiro a formao de grupos de trabalho para efetuar sugestes, com os seguintes temas: a) a articulao proposta pela Constituio e pela Lei n 9.984 dever ser realizada entre a ANA e os Estados e comunicada pela ANA Aneel e depois os Estados fariam a converso em outorga de direito de uso de recursos hdricos. b)a articulao proposta pela Constituio e pela Lei n 9.984, de 2000, dever ser realizada pela Aneel com os Estados e transformada em outorga de direito de uso de recursos hdricos. c) a ANA faria a emisso da declarao de reserva de disponibilidade hdrica em corpos de gua de domnio da Unio e os Estados/DF o fariam em corpos hdricos de seus domnios, articulando-se com a Aneel e depois transformando-os em outorgas de direito de uso de recursos hdricos. d)As articulaes seriam feitas em separado pelos Estados e pela Unio com a Aneel e a ANA converteria em outorga de direito de uso de recursos hdricos todas as declaraes emitidas.

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A Resoluo ANA n 131, de 11/3/2003 estabelece normas para a emisso da declarao de reserva de disponibilidade hdrica e respectiva converso para a outorga de direito de uso de recursos hdricos. A controvrsia reside no fato de que ficou omisso na lei quem far a articulao ou se a Aneel dirige-se diretamente aos Estados/DF para a obteno da declarao de reserva de disponibilidade hdrica.A cobrana pelo uso da gua

No mbito da Unio, a cobrana pelo uso da gua est dirigida queles dependentes de outorga. Na fixao dos valores, devem ser observados, entre outros: (a) nas derivaes, captaes e extraes de gua, o volume retirado e seu regime de variao; e (b) nos lanamentos de esgotos e demais resduos lquidos ou gasosos, o volume lanado e seu regime de variao e as caractersticas fsico, qumicas, biolgicas e de toxidade do afluente.5 Os valores arrecadados devem ser aplicados prioritariamente na bacia hidrogrfica em que foram gerados e sero utilizados: (a) no financiamento de estudos, programas, projetos e obras includos nos Planos de Recursos Hdricos; e (b) no pagamento de despesas de implantao e custeio administrativo dos rgos e entidades integrantes do sistema de Gerenciamento de Recursos Hdricos, limitadas a 7,5% (sete e meio por cento) do total arrecadado. Pode haver aplicao a fundo perdido, em projetos e obras que alterem, de modo considerado benfico coletividade, a qualidade, a quantidade e o regime de um corpo de gua.6 A Resoluo ANA n 318, de 26/8/2003 estabelece procedimentos para a cobrana pelo uso de recursos hdricos. As prioridades de aplicao devem ser definidas pelo CNRH, em articulao com os respectivos comits de bacias hidrogrficas.7 A Resoluo n 27, de 29 de novembro de 2002, define os valores e os critrios de cobrana pelo uso de recursos hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Paraba do Sul. A Resoluo n 35, de 1 de dezembro de 2003, estabeleceu as prioridades para aplicao dos recursos oriundos da cobrana pelo uso de recursos hdricos, para o exerccio de 2004. A Resoluo n 41, de 2 de julho de 2004, estabelece as prioridades para aplicao dos recursos provenientes da cobrana pelo uso de recursos hdricos, para o exerccio de 2005. A Resoluo n 44, de 2 de julho de 2004, define os valores e os critrios de cobrana pelo uso de recursos hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Paraba do Sul, aplicveis ao usurios do setor minerao de areia no leito dos rios.Planos de Recursos Hdricos

Os Planos de Recursos Hdricos so planos diretores que visam a fundamentar e orientar a implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos e o gerenciamento dos recursos hdricos, os planos de recursos hdricos so planos de longo prazo, com horizonte de planeja-

5 Art. 21, I e II, da Lei n 9.433, de 1997. 6 Art. 22, I e II e 1 e 2, da Lei n 9.433, de 1997. 7 Art. 21, 4, da Lei n 9.984, de 2000.

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mento compatvel com o perodo de implantao de seus programas e projetos e tero o seguinte contedo mnimo: 1) diagnstico da situao atual dos recursos hdricos; 2) anlise de alternativas de crescimento demogrfico, de evoluo de atividades produtivas e de modificaes dos padres de ocupao do solo; 3) balano entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hdricos, em quantidade e qualidade, com identificao de conflitos potenciais; 4) metas de racionalizao de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hdricos disponveis; 5) medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para o atendimento das metas previstas; 6) prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hdricos; 7) diretrizes e critrios para a cobrana pelo uso dos recursos hdricos; e 3) propostas para a criao de reas sujeitas restrio de uso, com vistas proteo dos recursos hdricos. Dispe ainda a Lei n 9.433/97, em seu art. 8 que os planos de recursos hdricos sero elaborados por bacia hidrogrfica, por Estado e para o Pas. A Lei n 9.984/2000 modificou o art. 35 da Lei n 9.433, de 1997, dispondo a competncia para o Conselho Nacional de Recursos Hdricos (CNRH): IX acompanhar a execuo e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hdricos e determinar as providncias necessrias ao cumprimento de suas metas. A Medida Provisria n 2.216-37, de 31 de agosto de 2001, posteriormente convertida na Lei n 10.683, de 2003, estabeleceu ANA a competncia de participar da elaborao do Plano Nacional de Recursos Hdricos e supervisionar a sua implementao. A Portaria n 274, de 4 de novembro de 2004, instituiu as Comisses Executivas Regionais (CERs), uma para cada regio hidrogrfica nacional, com a finalidade de auxiliar na elaborao do Plano Nacional de Recursos Hdricos. O CNRH j editou a Resoluo n 17, de 29 de maio de 2001, que estabeleceu diretrizes para a elaborao dos planos de recursos hdricos das bacias hidrogrficas. A Resoluo n 22, de 24 de maio de 2002, estabelece diretrizes para insero das guas subterrneas no instrumento Planos de Recursos Hdricos. A Resoluo n 30, de 11 de dezembro de 2002, definiu a metodologia para a codificao de bacias hidrogrficas, no mbito nacional e a Resoluo n 32, de 15 de outubro de 2003 instituiu a Diviso Hidrogrfica Nacional.Enquadramento dos corpos de gua

O enquadramento dos corpos de gua em classes, segundo os usos preponderantes o instrumento que estabelece metas para garantir gua nvel de qualidade que possa assegurar seus usos preponderantes. um instrumento de planejamento que objetiva assegurar a qualidade de gua correspondente a uma classe definida para um segmento de corpo hdrico. O Conselho Nacional de Recursos Hdricos editou a Resoluo n 12, de 19 de julho de 2000, que estabelece procedimentos para o enquadramento de corpos de gua em classes segundo os usos preponderantes. O Conselho Nacional de Meio Ambiente previu nove classes de guas no Brasil, nos termos estabelecidos pela Resoluo n 20/86 e definiu cinco classes em relao s guas doces.

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O clebre professor Paulo Affonso Leme Machado (2004, p. 444-5) leciona: A referida resoluo conceitua enquadramento como o estabelecimento do nvel de qualidade (classe) a ser alcanado e/ou mantido em um segmento de corpo de gua ao longo do tempo (art. 2, b). O rgo pblico ambiental ir verificar a situao da gua em cada setor. Para cada classe de gua h a previso de parmetros de materiais flutuantes, leos e graxas, substncias que comuniquem gosto ou odor, corantes artificiais, substncias de oxignio), OD (oxignio dissolvido), turbidez, pH (anlise da acidez ou alcalinidade), substncias potencialmente prejudiciais. Ensina ainda o conceituado professor (Idem): Entre as competncias da Agncia de gua est a de propor o enquadramento dos corpos de gua nas classes de uso, para encaminhamento ao respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hdricos, de acordo com o domnio destes (art. 44, XI, a, da Lei n 9.433/97). O Conselho Nacional de Recursos Hdricos poder concordar com a atual classificao das guas ou concordar com as proposies do estabelecimento de novos nveis de qualidade a serem alcanados. A lei comentada, em seu art. 35, no concedeu, contudo, competncia a esse Conselho para efetuar uma nova classificao. Da mesma forma, os Conselhos Estaduais de Recursos Hdricos decidiro sobre o enquadramento proposto e no sobre a classificao dos corpos hdricos, que ser feita pelos rgos estaduais de meio ambiente.Sistema de Informaes sobre Recursos Hdricos

O Sistema de Informaes sobre Recursos Hdricos um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperao de informaes sobre recursos hdricos e fatores intervenientes em sua gesto, conforme previso do art. 25 da Lei n 9.433, de 1997. Paulo Affonso Leme Machado (2002, p. 89) ensina que:ao criar um Sistema de Informaes sobre Recursos Hdricos, a lei est procurando articular as informaes, para que no fiquem dispersas e isoladas. Os organismos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos tero obrigao de fornecer todos os dados ao Sistema de Informaes sobre Recursos Hdricos (art. 25, pargrafo nico, da Lei n 9.433/1997). No haver, portanto, informaes privilegiadas e secretas nos rgos de recursos hdricos, nem que os mesmos estejam submetidos a regime de direito privado.

O Conselho Nacional de Recursos Hdricos editou a Resoluo n 13, de 25 de setembro de 2000, que estabelece diretrizes para a implementao do Sistema Nacional de Informaes sobre Recursos Hdricos.

DA COMPOSIO DO SINGREHO Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos (Singreh) tem sua composio concentrada nos seguintes moldes: 1) Conselho Nacional de Recursos Hdricos; 2) os Conselhos de Recursos Hdricos dos Estados e do Distrito Federal; 3) os Comits de Bacia Hidrogrfica; 4) os rgos dos poderes pblicos federal, estaduais e municipais, cujas

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competncias se relacionem com a gesto de recursos hdricos; 5) as Agncias de gua. Essa composio foi estatuda no art. 33 da Lei n 9.433, de 1997.8 importante ressaltar que se os Estados e o Distrito Federal no se ativerem a essa estrutura bsica estabelecida na Lei no se ajustaro estrutura do Singreh. O Conselho Nacional de Recursos Hdricos, institudo pela Lei n 9.433, de 1997, o rgo mximo da hierarquia do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, com suas funes sistematizadas no Decreto n 4.613, de 11 de maro de 2003, a saber:Art. 1 O Conselho Nacional de Recursos Hdricos, rgo consultivo e deliberativo, integrante da estrutura regimental do Ministrio do Meio Ambiente, tem por competncia: I promover a articulao do planejamento de recursos hdricos com os planejamentos nacional, regionais, estaduais e dos setores usurios; II arbitrar, em ltima instncia administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos Estaduais de Recursos Hdricos; III deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hdricos, cujas repercusses extrapolem o mbito dos Estados em que sero implantados; IV deliberar sobre as questes que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hdricos ou pelos Comits de Bacia Hidrogrfica; V analisar propostas de alterao da legislao pertinente a recursos hdricos e Poltica Nacional de Recursos Hdricos; VI estabelecer diretrizes complementares para implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos, aplicao de seus instrumentos e atuao do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos; VII aprovar propostas de instituio dos Comits de Bacias Hidrogrficas e estabelecer critrios gerais para a elaborao de seus regimentos; VIII deliberar sobre os recursos administrativos que lhe forem interpostos; IX acompanhar a execuo e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hdricos e determinar as providncias necessrias ao cumprimento de suas metas; X estabelecer critrios gerais para outorga de direito de uso de recursos hdricos e para a cobrana por seu uso;

8 Lei n 9.433, de 1997, art. 33: Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos: I o Conselho Nacional de Recursos Hdricos; II os Conselhos de Recursos Hdricos dos Estados e do Distrito Federal; III os Comits de Bacia Hidrogrfica; IV os rgos dos poderes pblicos federal, estaduais e municipais, cujas competncias se relacionam com a gesto de recursos hdricos; V as Agncias de gua.

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XI aprovar o enquadramento dos corpos de gua em classes, em consonncia com as diretrizes do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA e de acordo com a classificao estabelecida na legislao ambiental; XII formular a Poltica Nacional de Recursos Hdricos nos termos da Lei n 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e do art. 2 da Lei n 9.984, de 17 de julho de 2000; XIII manifestar-se sobre propostas encaminhadas pela Agncia Nacional de guas ANA, relativas ao estabelecimento de incentivos, inclusive financeiros, para a conservao qualitativa e quantitativa de recursos hdricos, nos termos do inciso XVII do art. 4 da Lei n 9.984, de 2000; XIV definir os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hdricos de domnio da Unio, nos termos do inciso VI do art. 4 da Lei n 9.984, de 2000; XV definir, em articulao com os Comits de Bacia Hidrogrfica, as prioridades de aplicao dos recursos a que se refere o caput do art. 22 da Lei n 9.433, de 1997, nos termos do 4 do art. 21 da Lei n 9.984, de 2000; XVI autorizar a criao das Agncias de gua, nos termos do pargrafo nico do art. 42 e do art. 43 da Lei n 9.433, de 1997; XVII deliberar sobre as acumulaes, derivaes, captaes e lanamentos de pouca expresso, para efeito de iseno da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hdricos de domnio da Unio, nos termos do inciso V do art. 38 da Lei n 9.433, de 1997; XVIII manifestar-se sobre os pedidos de ampliao dos prazos para as outorgas de direito de uso de recursos hdricos de domnio da Unio, estabelecidos nos incisos I e II do art. 5 e seu 2 da Lei n 9.984, de 2000; XIX delegar, quando couber, por prazo determinado, nos termos do art. 51 da Lei n 9.433, de 1997, aos consrcios e associaes intermunicipais de bacias hidrogrficas, com autonomia administrativa e financeira, o exerccio de funes de competncia das Agncias de gua, enquanto estas no estiverem constitudas.

LEGISLAO ESTADUALA Legislao Estadual de Recursos Hdricos est em plena regulamentao, tendo sido pioneiro o Estado de So Paulo, em 1991, antes mesmo da Poltica Nacional de Recursos Hdricos. Atualmente, exceo do Estado de Roraima, os demais Estados/Distrito Federal j editaram suas respectivas leis sobre recursos hdricos e, vrios deles a respectiva regulamentao. Os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul dispem da seguinte legislao sobre recursos hdricos:

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Estados Mato Grosso

Lei sobre poltica e sistema de gerenciamento Lei n 6.945 de 5 de novembro de 1997. Disp e sobre a Lei de Pol tica Estadual de Recursos H dricos, institui o Sistema Estadual de Recursos H dricos e d outras provid ncias. Lei n 2.406, de 29 de janeiro de 2002. Institui a Pol tica Estadual de Recursos H dricos, cria o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos H dricos e d outras provid ncias.

Regulamentao Decreto Estadual n 3.952, de 6/3/2002. Regulamenta o Conselho Estadual de Recursos H dricos (Cehidro).

Mato Grosso do Sul

Decreto n 11.621, de 1o de junho de 2004. Publicado no DOE n 6.258, de 2/6/04. Regulamenta o Conselho Estadual dos Recursos H dricos institu do pela Lei n 2.406, de 20 de janeiro de 2002. Resolu o Sema/MS n 028, de 1 de junho de 2004.Publicado no DOE n 6.259, de 3/6/04, p. 41. Institui o cadastramento das organiza es civis de recursos h dricos e de representantes de usu rios dos recursos h dricos para composi o do Conselho Estadual dos Recursos H dricos, e d outras provid ncias.

AGNCIAS DE GUAS NOVAS DISPOSIESEm razo da edio da Medida Provisria n 165, de 11 de fevereiro de 2004, depois convertida na Lei n 10.881, de 9 de junho de 2004, que permite que a Agncia Nacional de guas (ANA) celebre contratos de gesto com as entidades sem fins lucrativos previstas no art. 47 da Lei n 9.433, de 1997, aps a devida aprovao do Conselho Nacional de Recursos Hdricos, enquanto no constitudas as Agncias de gua. O 3 do art. 4 da citada lei trouxe mecanismo que permite a destinao de recursos oramentrios e o uso de bens pblicos necessrios ao contrato de gesto, bem como as transferncias da ANA provenientes das receitas da cobrana pelo uso de recursos hdricos em rios de domnio da Unio, de que tratam os incisos I, III e V do art. 12 da Lei n 9.433, de 1997.9

9 Lei n 9.433, de 1997: Art. 12. Esto sujeitos a outorga pelo Poder Pblico os direitos dos seguintes usos de recursos hdricos: I derivao ou captao de parcela da gua existente em um corpo de gua para consumo final, inclusive abastecimento pblico, ou insumo de processo produtivo; III lanamento em corpo de gua de esgotos e demais resduos lquidos ou gasosos, tratados ou no, com o fim de sua diluio, transporte ou disposio final; V outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da gua existente em um corpo de gua.

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Saliente-se ainda a importante modificao trazida pela Lei n 10.881, de 2004, que deu nova redao ao art. 51 da Lei n 9.433, de 1997, in verbis:Art. 51. O Conselho Nacional de Recursos Hdricos e os Conselhos Estaduais de Recursos Hdricos podero delegar a organizaes sem fins lucrativos relacionadas no art. 47 desta Lei, por prazo determinado, o exerccio de funes de competncia das Agncias de gua, enquanto esses organismos no estiverem constitudos. (NR)

Destarte, doravante, os Estados e o Distrito Federal podero, mediante aprovao de seus respectivos Conselhos de Recursos Hdricos, delegar s seguintes entidades o exerccio de funes de agncias de guas:Art. 47. So consideradas, para os efeitos desta Lei, organizaes civis de recursos hdricos: I consrcios e associaes intermunicipais de bacias hidrogrficas; II associaes regionais, locais ou setoriais de usurios de recursos hdricos; III organizaes tcnicas e de ensino e pesquisa com interesse na rea de recursos hdricos; IV organizaes no-governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos e coletivos da sociedade; V outras organizaes reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hdricos.

RECURSOS HDRICOS NO DIREITO INTERNACIONALO insigne professor Paulo Affonso Leme Machado, in Recursos Hdricos Direito Brasileiro e Internacional, fls. 127 e segs. conceitua a expresso curso de gua internacional como curso de gua cujas partes encontrem-se em pases diferentes. Ensina ainda o citado professor:O curso de gua internacional tambm pode ser entendido como guas transfronteirias, entre elas estando os rios transfronteirios. Curso de gua conceituado como um sistema de guas de superfcie e de guas subterrneas, constituindo, pelo fato de suas relaes fsicas, um conjunto unitrio, terminando normalmente em um ponto de chegada comum (art. 2, b da Conveno sobre os Direitos dos Usos dos Cursos de guas Internacionais No Destinados Navegao).

A citada Conveno foi aprovada em 1994 pela Comisso de Direito Internacional (CDI) da Organizao das Naes Unidas (ONU) e encaminhada Assemblia Geral. Em 21 de maio de 1997, foi adotada e aberta adeso, por meio da Resoluo 51/229 pela ONU. Segundo Paulo Affonso, h uma relao indivisvel das partes do curso de gua que se encontram nos diferentes Estados ou pases. Nesse sentido, a Conveno conceitua curso de gua como conjunto unitrio. Essa unidade no se d somente em cada Pas, mas permanece a idia de conjunto, desde a nascente do curso de gua at seu trmino, seja em que Pas for.

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GUAS PLUVIAISA Lei n 9.433, de 1997, no trouxe previso explcita sobre guas pluviais, assim, ainda temos como vigentes alguns dispositivos insertos no Cdigo de guas (Decreto n 24.643, de 10 de julho de 1934) e no novo Cdigo Civil (Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002). Colaciona-se abaixo os dispositivos sobre guas pluviais que encontram amparo no Cdigo de guas:TTULO V GUAS PLUVIAIS Art. 102. Consideram-se guas pluviais, as que procedem imediatamente das chuvas. Art. 103. As guas pluviais pertencem ao dono do prdio onde carem diretamente, podendo o mesmo dispor delas a vontade, salvo existindo direito em sentido contrrio. Pargrafo nico. Ao dono do prdio, porm, no permitido: I desperdiar essas guas em prejuzo dos outros prdios que delas se possam aproveitar, sob pena de indenizao aos proprietrios dos mesmos; II desviar essas guas de seu curso natural para lhes dar outro, sem consentimento expresso dos donos dos prdios que iro receb-las. Art. 104. Transpondo o limite do prdio em que carem, abandonadas pelo proprietrio do mesmo, as guas pluviais, no que lhes for aplicvel, ficam sujeitas as regras ditadas para as guas comuns e para as guas pblicas. Art. 105. O proprietrio edificar de maneira que o beiral de seu telhado no despeje sobre o prdio vizinho, deixando entre este e o beiral, quando por outro modo no o possa evitar, um intervalo de 10 centmetros, quando menos, de modo que as guas se escoem. Art. 106. imprescritvel o direito de uso das guas pluviais. Art. 107. So de domnio pblico de uso comum as guas pluviais que carem em lugares ou terrenos pblicos de uso comum. Art. 108. A todos lcito apanhar estas guas. Pargrafo nico. No se podero, porm, construir nestes lugares ou terrenos, reservatrios para o aproveitamento das mesmas guas sem licena da administrao. Transcreve-se, por oportuno, o disposto sobre guas no Novo Cdigo Civil (Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002), in litteris: Seo V Das guas Art. 1.288. O dono ou o possuidor do prdio inferior obrigado a receber as guas que correm naturalmente do superior, no podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo;

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porm a condio natural e anterior do prdio inferior no pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prdio superior. Art. 1.289. Quando as guas, artificialmente levadas ao prdio superior, ou a colhidas, correrem dele para o inferior, poder o dono deste reclamar que se desviem, ou se lhe indenize o prejuzo que sofrer. Pargrafo nico. Da indenizao ser deduzido o valor do benefcio obtido. Art. 1.290. O proprietrio de nascente, ou do solo onde caem guas pluviais, satisfeitas as necessidades de seu consumo, no pode impedir, ou desviar o curso natural das guas remanescentes pelos prdios inferiores. Art. 1.291. O possuidor do imvel superior no poder poluir as guas indispensveis s primeiras necessidades da vida dos possuidores dos imveis inferiores; as demais, que poluir, dever recuperar, ressarcindo os danos que estes sofrerem, se no for possvel a recuperao ou o desvio do curso artificial das guas. Art. 1.292. O proprietrio tem direito de construir barragens, audes, ou outras obras para represamento de gua em seu prdio; se as guas represadas invadirem prdio alheio, ser o seu proprietrio indenizado pelo dano sofrido, deduzido o valor do benefcio obtido. Art. 1.293. permitido a quem quer que seja, mediante prvia indenizao aos proprietrios prejudicados, construir canais, atravs de prdios alheios, para receber as guas a que tenha direito, indispensveis s primeiras necessidades da vida, e, desde que no cause prejuzo considervel agricultura e indstria, bem como para o escoamento de guas suprfluas ou acumuladas, ou a drenagem de terrenos. 1 Ao proprietrio prejudicado, em tal caso, tambm assiste direito a ressarcimento pelos danos que de futuro lhe advenham da infiltrao ou irrupo das guas, bem como da deteriorao das obras destinadas a canaliz-las. 2 O proprietrio prejudicado poder exigir que seja subterrnea a canalizao que atravessa reas edificadas, ptios, hortas, jardins ou quintais. 3 O aqueduto ser construdo de maneira que cause o menor prejuzo aos proprietrios dos imveis vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem incumbem tambm as despesas de conservao. Art. 1.294. Aplica-se ao direito de aqueduto o disposto nos arts. 1.286 e 1.287.10

10 Art. 1.286. Mediante recebimento de indenizao que atenda, tambm, desvalorizao da rea remanescente, o proprietrio obrigado a tolerar a passagem, atravs de seu imvel, de cabos, tubulaes e outros condutos subterrneos de servios de utilidade pblica, em proveito de proprietrios vizinhos, quando de outro modo for impossvel ou excessivamente onerosa. Pargrafo nico. O proprietrio prejudicado pode exigir que a instalao seja feita de modo menos gravoso ao prdio onerado, bem como, depois, seja removida, sua custa, para outro local do imvel. Art. 1.287. Se as instalaes oferecerem grave risco, ser facultado ao proprietrio do prdio onerado exigir a realizao de obras de segurana.

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Art. 1.295. O aqueduto no impedir que os proprietrios cerquem os imveis e construam sobre ele, sem prejuzo para a sua segurana e conservao; os proprietrios dos imveis podero usar das guas do aqueduto para as primeiras necessidades da vida. Art. 1.296. Havendo no aqueduto guas suprfluas, outros podero canaliz-las, para os fins previstos no art. 1.293, mediante pagamento de indenizao aos proprietrios prejudicados e ao dono do aqueduto, de importncia equivalente s despesas que ento seriam necessrias para a conduo das guas at o ponto de derivao. Pargrafo nico. Tm preferncia os proprietrios dos imveis atravessados pelo aqueduto.

JURISPRUDNCIA/SMULASO Supremo Tribunal Federal j editou o enunciado da Smula 479, em 3 de outubro de 1969 que: As margens dos rios navegveis so de domnio pblico, insuscetveis de expropriao e, por isso mesmo, excludas de indenizao.SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) Ao Direta de Inconstitucionalidade (Med. Liminar) 3.336 1 Origem: Rio de Janeiro Relator: Ministro Seplveda Pertence Requerente: Confederao Nacional da Indstria CNI (CF 103, IX) Requerido: Governadora do Estado do Rio de Janeiro, Assemblia Legislativa do Estado do

Rio de JaneiroMrito: Lei n 4.247, de 16 de dezembro de 2003, do Estado do Rio de Janeiro que dispe

sobre a cobrana pela utilizao dos recursos hdricos de domnio do Estado do Rio de Janeiro e d outras providncias.Informativo 243 (RE-228.800) Ttulo: CFEM: Constitucionalidade

Artigo: A Turma manteve acrdo do Tribunal Regional Federal da 1 Regio que, dando pela constitucionalidade da cobrana da compensao financeira pela explorao de recursos minerais CFEM (art. 20, 1, da CF, regulamentado pelas Leis n 7.990/89 e n 8.001/90), cuja natureza seria de receita patrimonial do Estado, negara o direito de empresa mineradora eximir-se do pagamento da referida exao. Alegava-se, na espcie, que a mencionada compensao no fora criada na forma prevista na Constituio e, ainda, que teria natureza tributria, ofendendo, assim, os arts. 154, I, e 155, 3, da CF [CF, art. 20, 1: assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios, bem como a rgos da administrao direta da Unio, participao no resultado da explorao de petrleo ou gs natural, de recursos hdricos para fins de gerao de energia eltrica e de outros recursos

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minerais no respectivo territrio (...), ou compensao financeira por essa explorao.]. A Turma, embora entendendo que a mencionada compensao, de natureza patrimonial, no atendera ao comando do art. 20, 1, da CF tendo em vista que a compensao deve ser proporcional perda resultante dos danos ambientais, sociais e econmicos causados pela explorao, e a lei fixou-a em funo do faturamento da empresa exploradora , rejeitou a argio de inconstitucionalidade do 6 da Lei n 7.790/89, bem como da Lei n 8.001/90, por considerar que o legislador, dentro da faculdade concedida pela CF, estabeleceu, na verdade, forma de participao no resultado da explorao (CF, art. 176, 2: assegurada participao ao proprietrio do solo nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei). Salientou-se, ainda, que deve haver identidade entre o municpio beneficirio da compensao e aquele onde ocorre a extrao mineral. RE 228.800-DF, rel. Min. Seplveda Pertence, 25/9/2001. (RE-228.800)Ao Direta de Inconstitucionalidade 2.707 7 Origem: Santa Catarina Relator: Ministro Joaquim Barbosa Requerente: Governador do Estado de Santa Catarina (Cf 103, V). Requerido: Assemblia Legislativa do Estado de Santa Catarina Dispositivos Legais Questionados: Arts. 3, 4 e 5, da Lei n 11.222, de 17 de novembro de 1999/Lei n 11.222, de 17 de novembro de 1999./ Dispe sobre a poltica de preservao, recuperao e utilizao sustentvel dos ecossistemas do Complexo Lagunar Sul e adota outras providncias./Art. 3 O Poder Executivo dever criar Comisso Executiva da poltica de preservao, recuperao e utilizao sustentvel dos ecossistemas do Complexo Lagunar Sul, composta por representantes das Secretarias de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e do Desenvolvimento Rural e da Agricultura, Fundao do Meio Ambiente (Fatma), Polcia de Proteo Ambiental, Assemblia Legislativa do Estado de Santa Catarina, Empresa de Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural do Estado de Santa Catarina (Epagri), Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrcola de Santa Catarina (Cidasc) e Associao dos Municpios da Regio de Laguna (Amurel), Prefeituras Municipais, Colnias de Pescadores e Associaes Comerciais e Industriais. 1 Podero integrar a Comisso Executiva, como convidados os representantes da Secretaria Nacional dos Recursos Hdricos do Ministrio do Meio Ambiente, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), do Departamento de Edificaes e Obras Hidrulicas e das Organizaes No-Governamentais ligadas ao meio ambiente. 2 Cabe Comisso Executiva, sob a presidncia do representante da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, planejar, coordenar e controlar as atividades da poltica de preservao, recuperao e utilizao sustentvel dos ecossistemas do Complexo Lagunar Sul./Art. 4 Para os efeitos do art. 2 desta Lei, sero institudos grupos de trabalho, a fim de estudar e propor aes, aos rgos pblicos e sociedade, de forma a garantir o desenvolvimento sustentvel. 1 A Comisso Executiva da poltica de preservao, recuperao e utilizao sustentvel dos ecossistemas do Complexo Lagunar Sul, indicar as metas e

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diretrizes necessrias aos grupos de trabalho. 2 A Comisso Executiva, mediante propostas dos grupos de trabalho, poder convidar, para participar dos respectivos trabalhos, representantes da comunidade tcnico-cientfica./Art. 5 A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente prover o apoio administrativo execuo desta Lei.Fundamentao Constitucional: Art. 2, Art. 61/Art. 169 Resultado da Liminar: Sem Liminar Deciso Plenria da Liminar:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA (STJ)

Processo: RESP 518744 / RN; RECURSO ESPECIAL 2003/0048439-9. Relator (a): Ministro LUIZ FUX rgo Julgador: Primeira Turma Data do Julgamento: 3/2/2004. Data da Publicao/Fonte: DJ 25.02.2004 p.00108 RT VOL. 00825 p.00200

EMENTAAdministrativo. Desapropriao. Indenizao. Obra realizada por terceira pessoa em rea desapropriada. Benfeitoria. No caracterizao. Propriedade. Solo e subsolo. Distino. guas subterrneas. Titularidade. Evoluo legislativa. Bem pblico de uso comum de titularidade dos Estados-Membros. Cdigo de guas. Lei n 9.433/97. Constituio Federal, arts. 176, 176 e 26, I. 1. Benfeitorias so as obras ou despesas realizadas no bem, para o fim de conserv-lo, melhor-lo ou embelez-lo, engendradas, necessariamente, pelo proprietrio ou legtimo possuidor, no se caracterizando como tal a interferncia alheia. 2. A propriedade do solo no se confunde com a do subsolo (art. 526, do Cdigo Civil de 1916), motivo pelo qual o fato de serem encontradas jazidas ou recursos hdricos em propriedade particular no torna o proprietrio titular do domnio de referidos recursos (arts. 176, da Constituio Federal). 3. Somente os bens pblicos dominiais so passveis de alienao e, portanto, de desapropriao. 4. A gua bem pblico de uso comum (art. 1 da Lei n 9.433/97), motivo pelo qual insuscetvel de apropriao pelo particular. 5. O particular tem, apenas, o direito explorao das guas subterrneas mediante autorizao do Poder Pblico cobrada a devida contraprestao (arts. 12, II e 20, da Lei n 9.433/97).

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6. Ausente a autorizao para explorao a que o alude o art.12, da Lei n 9.443/97, atentando-se para o princpio da justa indenizao, revela-se ausente o direito indenizao pelo desapossamento de aqfero. 7. A ratio deste entendimento deve-se ao fato de a indenizao por desapropriao estar condicionada inutilidade ou aos prejuzos causados ao bem expropriado, por isso que, em no tendo o proprietrio o direito de explorao de lavra ou dos recursos hdricos, afasta-se o direito indenizao respectiva. 8. Recurso especial provido para afastar da condenao imposta ao Incra o quantum indenizatrio fixado a ttulo de benfeitoria.Acrdo: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma

do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Denise Arruda, Jos Delgado e Francisco Falco votaram com o Sr. Ministro Relator.

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BIBLIOGRFIABASTOS C. R. Curso de direito constitucional, v. 1. 4. ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1993. p. 309. BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Senado Federal, 1988. Disponvel em: . _____. Lei n 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil. Braslia: 8 jan. 1997. Disponvel em: . _____. Lei n 9.984, de 17 de julho de 2000. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil. Braslia: 17 jul. 2000. Disponvel em: . _____. Supremo Tribunal Federal. Jurisprudncia STF. Braslia: STF. Disponvel em: . CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HDRICOS. Resolues do Conselho Nacional de Recursos Hdricos. Braslia: CNRH, s.d. Disponvel em: . K E L M A N , J . S o b r e t o r n e i ra s e t r i b u n a i s . B r a s l i a : A N A . D i s p o n v e l e m : . MACHADO, P. A. L. Direito ambiental brasileiro. S.l.: Editora Malheiros, 2004. _____. Recursos hdricos: direito brasileiro e internacional. S.l.: Editora Malheiros, 2002. PIMENTA, C. C. M. A regulamentao do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos no Brasil. Braslia: s.n., 2004.

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ANEXOPROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO N 232 DE 2004Para visualizar o texto, siga o link abaixo: Projeto de Decreto Legislativo n 232 de 2004

APRESENTAO

Curso de Capacitao em Recursos Hdricos

Clia Cristina Moura Pimenta AdvogadaCuiab-MT

ANA - Agncia Nacional de guas

Clia Cristina Moura Pimenta [email protected] (61) 445.5236

ANA - Agncia Nacional de guas

Poltica Estadual e do Distrito Federal de Recursos HdricosAtualmente 25 Estados e o Distrito Federal j adotaram legislao sobre recursos hdricos. Alguns tm leis especficas ou decretos sobre guas subterrneas. A seguir sero separados por regio e em destaque aparecero as publicadas aps a Lei Nacional n 9.433, de 1997, que dispe sobre a Poltica Nacional de Recursos Hdricos.ANA - Agncia Nacional de guas

Poltica Estadual de Recursos Hdricos Regio Norte

Amazonas (Lei n 2.712, de 28 de dezembro de 2001). Par (Lei n 6.381, de 25 de julho de 2001). Rondnia (Lei Complementar n 255, de 25 de janeiro de 2002.) Tocantins (Lei n 1.307, de 22 de maro de 2002).

ANA - Agncia Nacional de guas

Poltica Estadual de Recursos Hdricos Regio NordesteAlagoas (Lei n 5.965, de 10 de novembro de 1997) Bahia (Lei n 6.855, de 12 de maio de 1995) Cear (Lei n 11.996, de 24 de julho de 1992) Maranho (Lei n 8.149, de 15 de junho de 2004) Paraba (Lei n 6.308, de 2 de julho de 1996) Pernambuco (Lei n 11.426, de 17 de janeiro de 1997) Piau (Lei n 5.165, de 17 de agosto de 2000) Rio Grande do Norte (Lei n 6.908, de 1 de julho de 1996) Sergipe (Lei n 3.870, de 25 de setembro de 1997)

ANA - Agncia Nacional de guas

Poltica Estadual de Recursos Hdricos Regio SudesteEsprito Santo (Lei n 5.818, de 30 de dezembro de 1998) Minas Gerais ( Lei n 13.199, de 29 de janeiro de 1999) Rio de Janeiro (Lei n 3.239, de 2 de agosto de 1999) So Paulo (Lei n 7.663, de 30 de dezembro de 1991)

ANA - Agncia Nacional de guas

Poltica Estadual de Recursos Hdricos Regio Sul

Paran (Lei n 12.726, de 26 de novembro de 1999) Rio Grande do Sul (Lei n 10.350, de 30 de dezembro de 1994) Santa Catarina (Lei n 9.748, de 30 de novembro de 1994)

ANA - Agncia Nacional de guas

Poltica Estadual e do Distrito Federal de Recursos Hdricos Regio Centro-OesteDistrito Federal (Lei n 2.725, de 13 de junho de 2001). Gois (Lei n 13.123, de 16 de julho de 1997). Mato Grosso (Lei n 6.945, de 5 de novembro de 1997). Mato Grosso do Sul (Lei n 2406, de 29 de janeiro de 2002).

ANA - Agncia Nacional de guas

Comits de Bacias HidrogrficasFrum de deciso no mbito de cada bacia; Arbitram, em primeira instncia, os conflitos relacionados aos recursos hdricos; Aprovam o Plano de Recursos Hdricos da bacia; Estabelecem os mecanismos de cobrana pelo uso dos recursos hdricos e sugerem os valores a serem cobrados; Propem ao CNRH e aos Conselhos Estaduais de Recursos Hdricos as acumulaes, derivaes, captaes e lanamentos de pouca expresso para efeito de iseno da obrigatoriedade de outorga de direito de uso de recursos hdricos, de acordo com os domnios destes.ANA - Agncia Nacional de guas

guas Superficiais, Subterrneas e Mineraisguas Superficiais: A ANA emite a outorga preventiva, a declarao de reserva de disponibilidade hdrica e a outorga de direito de uso de recursos hdricos em rios de domnio da Unio, ou em reservatrios decorrentes de obras da Unio. Aos Estados e ao Distrito Federal, compete outorgar o direito de uso em rios situados em seus domnios; guas Subterrneas: Consideradas bens de domnio dos Estados e do Distrito Federal, cujas autoridades outorgantes emitem ANA - uso; o direito de seu Agncia Nacional de guas

guas Superficiais, Subterrneas e Minerais

guas Minerais, Termais e Potveis de Mesa : A outorga emitida pelo DNPM, com a competncia definida pelo Cdigo de Minerao e de guas Minerais.

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Outorga Preventiva Art. 6 A ANA poder emitir outorgas preventivas de uso de recursos hdricos, com a finalidade de declarar a disponibilidade de gua para os usos requeridos, observado o disposto no art. 13 da Lei n 9.433, de 1997. 1 A outorga preventiva no confere direito de uso de recursos hdricos e se destina a reservar a vazo passvel de outorga, possibilitando, aos investidores, o planejamento de empreendimentos que necessitem desses recursos. 2 O prazo de validade da outorga preventiva ser fixado levando-se em conta a complexidade do planejamento do empreendimento, limitandose ao mximo de trs anos, findo o qual ser considerado o dispostoNacional incisos I e II do art. 5. ANA - Agncia nos de guas

Outorga de Direito de Uso de Recursos HdricosEstar condicionada s prioridades de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hdricos; Compete aos Comits de Bacia: aprovar o Plano de Recursos Hdricos da bacia; Dever respeitar a classe em que o corpo de gua estiver enquadrado; Manuteno de condies adequadas ao transporte aquavirio, quando for o caso; Dever preservar o uso mltiplo desses.

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Declarao de Reserva de Disponibilidade HdricaPara licitar a concesso ou autorizar o uso de potencial de energia hidrulica em corpo de gua de domnio da Unio, a Aneel dever promover, em conjunto com a ANA, a prvia obteno de declarao de reserva de disponibilidade hdrica. A declarao ser transformada pela ANA, automaticamente, em outorga de direito de uso de recursos hdricos instituio ou empresa que receber da Aneel a concesso ou a autorizao de uso do potencial de energia hidrulica. A Resoluo Conjunta ANA/Aneel deve ser publicada em breve regulando a emisso da declarao.ANA - Agncia Nacional de guas

Usos que independem de outorgaLei n 9.433, de 1997 (inciso V, art. 38) Compete aos Comits propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais as acumulaes, derivaes, captaes de pouca expresso, para efeito de iseno de obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hdricos, de acordo com o domnio desses.

Resoluo CNRH N 15, de 11/1/2001Art. 4 No caso de aqferos subjacentes a duas ou mais bacias hidrogrficas , o SINGREH e os Sistemas de Gerenciamento de Recursos Hdricos dos Estados ou do Distrito Federal devero promover a uniformizao de diretrizes e critrios para coleta dos dados e elaborao dos estudos hidrogeolgicos necessrios identificao e caracterizao da bacia hidrogeolgica. Pargrafo nico. Os Comits de Bacia Hidrogrfica envolvidos devero buscar o intercmbio e a sistematizao dos dados gerados para a perfeita caracterizao da bacia hidrogeolgica. Art. 5 No caso dos aqferos transfronteirios ou subjacentes a duas ou mais Unidades da Federao, o SINGREH promover a integrao dos diversos rgos dos governos federal, estaduais e do Distrito Federal, que tm competncias no gerenciamento de guas subterrneas. 1 Os conflitos existentes sero resolvidos em primeira instncia entre os Conselhos de Recursos Hdricos dos Estados e do Distrito Federal e, em ltima instncia, pelo Conselho Nacional de Recursos Hdricos. 2 Nos aqferos transfronteirios a aplicao dos instrumentos da Poltica Nacional de Recursos Hdricos dar-se- em conformidade com as disposies constantes nos acordos celebrados entre a Unio e os pases ANA - Agncia Nacional de guas vizinhos.

Resoluo/CNRH/N 8/5/01

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de

Art. 1 A outorga de direito de uso de recursos hdricos o ato administrativo mediante o qual a autoridade outorgante faculta ao outorgado previamente ou mediante o direito de uso de recurso hdrico, por prazo determinado, nos termos e nas condies expressas no respectivo ato, consideradas as legislaes especficas vigentes. 1 A outorga no implica alienao total ou parcial das guas, que so inalienveis, mas o simples direito de uso. 2. A outorga confere o direito de uso de recursos hdricos condicionado disponibilidade hdrica e ao regime de racionamento, sujeitando o outorgado suspenso da outorga. 3 O outorgado obrigado a respeitar direitos de terceiros. 4 A anlise dos pleitos de outorga dever considerar a interdependncia das guas superficiais e subterrneas e as interaes observadas no ciclo hidrolgico visando gesto integrada dos recursos hdricos. Art 9 As outorgas preventiva e de direito de uso dos recursos hdricos relativas a atividades setoriais, podero ser objeto de resoluo, em consonncia com o disposto nesta Resoluo.ANA - Agncia Nacional de guas

Sistema de Informaes sobre Recursos HdricosSistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperaes de informaes sobre recursos hdricos e fatores intervenientes em sua gesto; Cerca de 200.000 poos em funcionamento (empresas de abastecimento pblico, indstria, irrigantes e condomnios residenciais); Mais da metade da gua de abastecimento pblico provm de reservas subterrneas; Recursos Hdricos Superficiais: monitorados por uma rede hidrolgica nacional; Recursos Hdricos Subterrneos: inexistncia de redes de observao e monitoramento das condies de explotao dos recursos hdricos subterrneos.

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Competncias para a implementao da PNRHLei n 9.433, de 1997. Art. 29. Na implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos, compete ao Poder Executivo Federal: I tomar as providncias necessrias implementao e ao funcionamento do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos; II - outorgar os direitos de uso de recursos hdricos, e regulamentar e fiscalizar os usos, na sua esfera de competncia; III - implantar e gerir o Sistema de Informaes sobre Recursos Hdricos, em mbito nacional; IV - promover a integrao da gesto de recursos hdricos com a gesto ambiental.ANA - Agncia Nacional de guas

Competncias para a implementao da PNRHLei n 9.433, de 1997. Art. 30. Na implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos, cabe aos Poderes Executivos Estaduais e do Distrito Federal na sua esfera de competncia: I - outorgar os direitos de uso de recursos hdricos e regulamentar e fiscalizar os seus usos; II - realizar o controle tcnico das obras de oferta hdrica; III - implantar e gerir o Sistema de Informaes sobre Recursos Hdricos, em mbito estadual e do Distrito Federal; IV - promover a integrao da gesto de recursos ANA hdricos com a gesto Agncia Nacional de guas ambiental.

Competncias para a implementao da PNRHLei n 9.433, de 1997. Art. 31. Na implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos, os Poderes Executivos do Distrito Federal e dos municpios promovero a integrao das polticas locais de saneamento bsico, de uso, ocupao e conservao do solo e de meio ambiente com as polticas federal e estaduais de recursos hdricos.ANA - Agncia Nacional de guas

Aes voltadas para o Gerenciamento dos Recursos HdricosAtuao desenvolvida em articulao com rgos e entidades pblicas e privadas integrantes do Singreh; Desenvolvimento de parcerias, por intermdio de convnios e acordos de cooperao tcnica com a finalidade de capacitar os rgos executores a promover aes sistemticas e de carter permanente em aqferos regionais, garantindo uma explotao sustentvel;ANA - Agncia Nacional de guas

Projeto de Lei n 1.616, de 1999.atualmente foi formada Comisso Especial Dispe sobre a gesto administrativa e a organizao institucional do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, previsto no inciso XIX do art. 21 da Constituio, e criado pela Lei n 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e d outras providncias.

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[email protected] (61) 445.5236

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INTRODUO EM GESTO DE RECURSOS HDRICOS BACIAS HIDROGRFICAS E PROBLEMAS INSTRUMENTOSJlio Thadeu Kettelhut Secretaria de Recursos Hdricos (SRH/MMA)

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ECOSSISTEMAS DO PANTANALCarolina J. da SilvaUniversidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)

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O CONCEITO DO PULSO DE INUNDAO E SUAS IMPLICAES PARA O PANTANAL DE MATO GROSSOWolfang J. Junk 1 e Carolina J. da Silva 2

INTRODUOA Amrica Latina tropical caracterizada por um grande nmero de reas periodicamente alagadas. As alagaes so provocadas por perodos de alta precipitao em combinao com uma paisagem relativamente plana, que dificulta a drenagem peridica do excesso da gua. Todos os pequenos rios, igaraps e crregos so acompanhados por trechos que so inundados durante e depois de chuvas fortes. Na poca chuvosa, mesmo em reas semi-ridas, depresses ficam inundadas durante vrias semanas ou at meses. Entre as paisagens caractersticas da Amrica Latina tropical destacam-se grandes reas periodicamente alagveis. Estas so encontradas ao longo dos cursos dos grandes rios e nos seus deltas, e.g. no rio Amazonas, no rio Orinoco, no rio Magdalena, e no rio Paran-Paraguai. Ao longo da costa, principalmente do oceano Atlntico existem grandes reas periodicamente inundadas pelas mars, mas tambm pelas chuvas. As grandes plancies mal drenadas, tais como os llanos bajos de Venezuela, os llanos dos Mojos da Bolvia, as savanas de Roraima e do Rupununi, a ilha do Bananal e o Pantanal de Mato Grosso so inundadas durante a poca chuvosa. Junk (1993) estima que cerca de 20% da paisagem da Amrica Latina tropical so periodicamente alagadas ou encharcadas. Estudos etnolgicos mostram que o homem aproveitou-se preferencialmente das grandes plancies inundadas, devido disponibilidade de gua, dos estoques pesqueiros, da caa, e do difcil acesso, que facilitou a defesa contra inimigos (Denevan). Os ndios desenvolveram mtodos especficos de manejo da flora e fauna silvestre e de agricultura, adaptados aos ciclos de enchentes e vazantes. Infelizmente, a maior parte do conhecimento sobre essas prticas foi perdida logo aps a chegada dos europeus, que desestabilizaram as culturas indgenas sem usufruir do conhecimento acumulado durante muitos milnios. Por isso, o conhecimento dos sistemas de uso da terra na poca pr-columbiana bastante limitada. Nas ltimas dcadas, universidades e instituies de pesquisa comearam a dedicar-se aos estudos sobre a ecologia, o aproveitamento e a proteo dessas reas, por causa da sua grande extenso e o potencial econmico dos seus recursos naturais, mas tambm por causa de crescentes preocupaes sobre os impactos antrpicos negativos. O nmero de estudos comeou a aumentar, porm ainda insuficiente para nos oferecer uma viso completa da estrutura e funcionamento dos diferentes sistemas e de suas comunidades biolgicas. A aplicao dos conhecimentos ecolgicos, que esto sendo elaborados nas diferentes reas alagveis, necessita

1 Max-Planck-Institut fr Limnologie, Pln, Germany 2 Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Cuiab, Brasil.

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uma viso integrada desses ecossistemas. Esta abordagem baseia-se em um conceito geral que capaz de interpretar as informaes isoladas de uma forma abrangente e integral. Alm disso, esse conceito tem que ser adequado para estimular a formulao de novas hipteses que podem ser testadas no futuro por meio de estudos direcionados. Isso facilitar no futuro o entendimento da estrutura e do funcionamento desses sistemas de uma forma supraregional e permitir a elaborao de planos para o seu aproveitamento sustentvel. O Pantanal de Mato Grosso uma das reas alagveis, que chama a ateno por causa da sua beleza paisagstica e da sua riqueza exuberante de animais silvestres. Com uma rea de cerca de 140.00 km2, constitui-se em uma das maiores e mais diversificadas reas alagveis do mundo. Em 1988, o Pantanal de Mato Grosso recebeu a categoria de Patrimnio Nacional pela Constituio brasileira. Apesar disso, o conhecimento sobre o Pantanal ainda muito limitado. At agora, os resultados no foram integrados em um conceito amplo, dificultando a apresentao de hipteses a serem testadas. O presente trabalho apresenta o Conceito de Pulso de Inundao (JUNK et al. 1989) e fornece exemplos para aplicao desse conceito s condies do Pantanal de Mato Grosso.

O CONCEITO DO PULSO DE INUNDAOA cincia da limnologia trata da ecologia das guas interiores. Para facilitar a classificao da rea de estudo, os corpos dgua foram divididos em diferentes tipos. Os principais tipos so os de guas lnticas (e.g., lagos) e guas lticas ou de correnteza (rios, crregos e igaraps, etc.). As reas intermedirias, tais como os diferentes tipos de pntanos e brejos, foram denominados reas midas (wetlands). As teorias limnolgicas concentraram-se principalmente nas guas paradas e correntes. As reas midas representam um conglomerado de diferentes tipos, que no se enquadrou em uma teoria abrangente. Em 1989, Vannote et al. lanaram um novo conceito, o River Continuum Concept, que abriu uma nova etapa de discusses conceituais sobre guas correntes. Esse conceito indica que em guas correntes, (igaraps, crregos e rios) os organismos e processos nas cabeceiras influenciam os organismos e processos nos cursos inferiores de uma maneira previsvel. Por exemplo, nas cabeceiras de igaraps de reas temperadas, a relao entre produo e respirao (P/R ratio) menor do que 1. A produo primria baixa em conseqncia da falta de luz, devido ao sombreamento das rvores, e por causa do aumento da respirao pelos organismos decompositores das folhas que caem na gua. Nos cursos mdios, a relao P/R maior do que 1 porque o sombreamento pelas rvores diminui em conseqncia da largura dos rios e permite uma maior produo primria pelas macrfitas aquticas e algas. Nos cursos inferiores dos rios, a relao P/R de novo menor do que 1, em funo da alta profundidade dos diferentes trechos dos rios e de suas redes alimentares. Por falta de uma elevada produo primria autctone, os organismos dos cursos inferiores dos rios, em termos gerais, dependem da ineficincia dos consumidores nos cursos superiores, em utilizar completamente a matria orgnica a disposio nas cabeceiras e cursos mdios.

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Enquanto o Conceito Rio Contnuo conseguiu explicar de uma maneira satisfatria muitas estruturas e processos em crregos, principalmente nas zonas temperadas, o seu valor para os grandes rios tem sido questionado. De acordo com a definio de hidrlogos, um rio no se restringe ao seu canal senso estrito, mas representado pelo vale, que ocupa durante as enchentes mximas provveis em 100 anos (BHOWMIK e STALL, 1979). Considerando o fato de que os grandes rios sofrem grandes oscilaes de nvel de gua, a maioria desses acompanhada em condies naturais por amplas reas alagveis, que ocupam um espao que pode ser at 20 vezes maior, do que a prpria calha do rio. Essas reas representam uma grande diversidade de hbitats periodicamente secos e inundados, em uma zona chamada Zona de Transio Aqutica Terrestre (Aquatic Terrestrial Transition Zone ATTZ), ocupada por diferentes tipos de vegetao terrestre e aqutica, interrompida por hbitats permanentemente aquticos, tais como canais, lagoas, reas pantanosas (JUNK et al., 1989). Durante as enchentes essas vastas reas so acopladas ao canal principal recebendo gua, nutrientes dissolvidos, sedimentos da rea de captao, atuando por seu lado como uma rea de alta produo biolgica. Animais aquticos fazem migraes longitudinais e laterais, a fim de beneficiar durante as enchentes da produtividade das reas alagveis, enquanto animais terrestres migram durante as pocas secas para as reas alagveis. Para a maioria dos organismos o canal principal serve mais como refgio temporal e corredor de migrao e transporte, do que como hbitat principal. O intercmbio lateral mais importante do que o fluxo longitudinal da matria orgnica, sendo o pulso de inundao a fora principal, que regula esse processo. O transporte longitudinal importante no que se refere quantidade e qualidade de gua, nutrientes dissolvidos, e material em suspenso. Os processos biolgicos principais realizam-se dentro da plancie inundvel acoplam-se ou desacoplam-se com o rio e a terra firme circundante, de acordo com o pulso de inundao. reas alagveis no somente acompanham os grandes rios. De acordo com as caractersticas geomorfolgicas da paisagem e as peculiaridades climticas, o pulso de inundao pode ser provocado tambm pela distribuio das chuvas locais e regionais, pelas oscilaes do lenol fretico, ou ainda em grandes altitudes ou em reas temperadas, pelo derretimento da neve ou pelo degelo do solo. O relevo plano em grandes reas dos neotrpicos, em combinao com pocas pronunciadas de chuvas e secas, resulta da m drenagem e na inundao peridica de grandes reas at em regies consideradas semi-ridas (JUNK, 1993). Por isso, as grandes reas alagveis tm diferentes fontes de alagao. As reas do Pantanal de Mato Grosso prximas aos canais principais so fortemente influenciadas pelas guas e pelos sedimentos transportados pelo rio, enquanto as reas mais distantes dos canais principais so influenciadas, principalmente pela gua de chuva. A fonte de inundao tem grande importncia para uma srie de aspectos nas reas alagveis, tais como a biodiversidade aqutica, o estado dos nutrientes dos solos e da gua, a dinmica das mudanas dos hbitats, etc. Porm, as conseqncias ecofisiolgicas das inundaes e secas peridicas para os organismos so as mesmas, independentemente das fontes da inundao.

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AS CONSEQNCIAS DO CONCEITO DE PULSO DE INUNDAO PARA O PANTANAL DE MATO GROSSODIVERSIDADE DE HBITATS, DE PROCESSOS E DE ESPCIES

As inundaes peridicas resultam em mudanas drsticas das condies ambientais dos hbitats. Durante um ciclo hidrolgico, o mesmo local pode passar de uma rea seca sujeita a um estresse por falta de gua para uma rea mida, com solo encharcado, para um lago raso e at mesmo para um lago de alguns metros de profundidade, e vice-versa. Essa dinmica uma das caractersticas primordiais, que definem a composio das comunidades de organismos, que colonizam as reas alagveis e os processos no solo. O potencial de Redox fica fortemente negativo, nutrientes, como o fosfato, so mobilizados, passando de forma insolvel (fosfato de ferro) para forma solvel e durante a decomposio da matria orgnica, o sulfato reduzido para H2S, e metano produzido, etc. No Pantanal de Mato Grosso, o pulso de inundao relativamente previsvel e corresponde a um ciclo hidrolgico anual. Organismos que se adaptam a esta sazonalidade hdrica podem tirar benefcios para o desenvolvimento de suas populaes. A poca de reproduo de um grande nmero de espcies acoplada ao ciclo das enchentes e secas (DA SILVA, 1990). Vrias espcies de rvores frutificam durante a enchente (CUNHA e JUNK, neste volume), sendo as suas sementes distribudas pela gua e at por peixes. As macrfitas aquticas na baa Acurizal e Porto de Fora, por exemplo, floresceram, frutificaram e apresentaram valores mais elevados de biomassa no perodo da cheia (DA SILVA, 1990, DA SILVA e ESTEVES, 1993). No perodo da enchente, sementes e frutos constituram os itens mais importantes na dieta alimentar do pacu, Piractus mesopotanicus (SILVA, 1985). Segundo essa autora, as protenas obtidas nesses alimentos so armazenados como reservas de gorduras, para serem utilizadas em processos reprodutivos e migratrios que se realizam na estiagem, quando a disponibilidade de alimento menor. Esse acoplamento pode ser fenotpico ou genotpico como demonstrado pela ictiofauna. A grande maioria das espcies reproduz no comeo e durante as enchentes, porque a chance de sobrevivncia para a prole melhor. Em cativeiro, em condies boas os cicldeos reproduzem tambm durante a seca, enquanto as espcies de piracema dependem do pulso da inundao para a realizao das migraes de desova e da maturao das gnadas. De acordo com WestEberhard (1989), a seleo de fentipos especficos um passo importante para o aumento da diversidade gentica e a formao de novas espcies. Alm do pulso de inundao alguns outros fatores contribuem para o aumento da diversidade de hbitats no Pantanal de Mato Grosso. Devido ocorrncia de diferentes feies morfolgicas, associadas a uma complexa rede de drenagem possvel identificar subunidades morfolgicas no Pantanal de Mato Grosso, resultando nos diversos tipos de pantanais (ADAMOLI, 1981, ALVARENGA et al., 1984, HAMILTON et al., 1996). Alm disso, o Pantanal, mais do que, por exemplo, a vrzea do rio Amazonas, reflete o histrico geolgico e paleoclimtico da regio. Enquanto a maior parte dos solos da vrzea do mdio rio Solimes/

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Amazonas composta por sedimentos recentes, os solos do Pantanal de Mato Grosso representam sedimentos de diferentes idades e de diferentes estgios de transformao mineralgica (AMARAL FILHO, 1986, SHORT e BLAIR, 1986, ZEILHOFER, 1996). No Pantanal de Mato Grosso, a poca seca bastante pronunciada. Durante vrios meses a pluviosidade abaixo de 10 mm por ms, submetendo durante a fase terrestre do ciclo, no somente a flora e a fauna aquticas, mas tambm a flora e fauna terrestre, a um estresse grande por falta de gua (TARIFA, 1986). Durante as pocas plurianuais de secas grandes (ANTUNES, 1986, ADAMOLI, 1986a, HAMILTON e MELACK, 1996), esse estresse aumenta ainda mais os efeitos grandes para as populaes de plantas e animais. As inundaes favorecem os organismos aquticos, porm, eles exercem para a vegetao e os animais terrestres um estresse por excesso de gua, que aumenta durante as pocas plurianuais das enchentes. De acordo com estudos geolgicos, o estresse de seca foi ainda maior em pocas passadas. O padro de sedimentao de alguns afluentes do Pantanal indica perodos muito mais secos do que hoje em dia (ABSBER, 1988). Durante esses perodos de grande estresse, provavelmente, a taxa de extino de espcies era bem maior de que a taxa de especiao e flora e fauna do Pantanal de Mato Grosso teriam sofrido grandes perdas em espcies. Em pocas com condies mais favorveis, o Pantanal recebeu a imigrao de espcies de outras reas, e.g., do Amazonas, do cerrado e do chaco, o que explica a composio faunstica e florstica atual, com muitas espcies oriundas dessas regies e com poucas espcies endmicas (ADAMOLI, 1981; 1986b; BROWN JNIOR, 1986; CUNHA, 1990; DUBS, 1994). A anlise das relaes florsticas de 84 espcies de rvores estudadas por Dubs (1994) no sul do Pantanal, mostrou que 89% destas tambm ocorrem nas reas de cerrado do Brasil central, 55% no Nordeste do Paraguai, 6 espcies listadas so encontradas no chaco, 14 na caatinga e 8 na floresta Amaznica.PRODUTIVIDADE

A produtividade de reas alagveis a soma das produtividades aqutica e terrestre. Isso no somente dificulta a avaliao da produtividade total. De acordo com o conceito de pulso, plantas crescendo durante a fase terrestre absorvem nutrientes do solo e estocam esses nutrientes na matria orgnica. Durante a fase aqutica o material orgnico junto com os nutrientes inorgnicos so transferidos para a fase aqutica, onde o material orgnico serve como base alimentar para os organismos aquticos, enquanto os nutrientes reciclados so absorvidos pelas algas e macrfitas aquticas. Durante a vazante, as macrfitas aquticas so depositadas na plancie inundvel e servem como alimento de organismos terrestres. Durante a decomposio os nutrientes voltam ao solo, fertilizando-o para o crescimento das plantas, na fase terrestre. Essa transferncia de nutrientes garante uma maior produo do sistema, do que esperado pelo total dos nutrientes introduzido pela gua dos afluentes e a chuva. A ciclagem dos nutrientes absorvidos aos sedimentos depositados na plancie inundvel so reciclados ao sistema pelas plantas crescendo na fase seca. Por outro lado o sistema de transferncia no perfeito. Existe o perigo de perda de nutrientes, principalmente em reas lixiviadas por gua de chuva. Essas reas, apesar de mostrarem primeira vista uma razovel produo primria de plantas herbceas,

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tm uma fertilidade muito baixa. Qualquer distrbio do eficiente sistema natural de reciclagem de nutrientes, resultar em uma perda abrupta de fertilidade. As informaes sobre o fluxo de nutrientes e a produo primria e secundria no Pantanal so escassos. No entanto, j se sabe que a qumica das guas das baas variam em funo da sua localizao nas diferentes sub-bacias de drenagem, no tempo e durao da conexo com os rios que as alimentam, na falta de inundao superficial e na presena de forte entrada de matria orgnica, tipo ninhal. Da Silva & Esteves (1995) verificaram para baas alimentadas pelo rio Cuiab, e que perdem sua conexo com esse no perodo da seca, uma elevada concentrao das formas fosfatadas, e nitrogenadas e silicatos no perodo da estiagem e valores mais altos dos ons clcio, magnsio e potssio no perodo da cheia. Enquanto Heckman obteve valores mais altos no perodo da cheia, em uma baa que constitui o leito alargado do rio Bento Gomes. As salinas representam o exemplo extremo da concentrao de ons, em face da ausncia da inundao superficial (MOURO, 1989). Segundo Da Silva (1990) ocorre a concentrao e reteno de nutrientes na biomassa das macrfitas aquticas no perodo de seca e uma liberao para o crescimento e produo de novos rametes no perodo da cheia. O comportamento de concentrao/diluio, em relao aos perodos de estiagem e cheia, respectivamente tambm registrado para a densidade de fitoplancton (PINTO-SILVA, 1980; ESPNDOLA et al., no prelo). Para as comunidades de zooplancton foi observado densidades mais elevadas no perodo de guas baixas. O efeito da concentrao no perodo da estiagem reflete no grande nmero de pssaros, jacars e peixes, que se concentram nas lagoas durante a poca seca sugerindo uma alta produo secundria. O aparente alto nmero de consumidores a conseqncia da concentrao dos animais em poucos pequenos poos dgua. A densidade geral bem menor, como demonstrado na cheia, quando a densidade dos animais espalhados pela plancie inundvel bem baixa. Alm disso, o alto nmero de animais somente reflete a eficincia do sistema de aproveitar a energia da matria orgnica por meio das redes alimentares. A capacidade das comunidades de animais de suportar a perda adicional de indivduos e.g. pela caa e pesca depende das espcies a serem utilizadas e pode ser muito limitada. Organismos de grande porte, de maturidade sexual tardia e de taxa de reproduo baixa (estrategistas k) so muito mais vulnerveis do que espcies de tamanho mdio ou pequeno, de maturidade sexual rpida e de taxa de reproduo alta. Nas vrzeas do Solimes/Amazonas, que so bem mais frteis do que o Pantanal de Mato Grosso, os estoques de tartarugas, peixes-bois, jacars e capivaras foram reduzidas pela caa e pesca indiscriminada praticada pelos imigrantes europeus, a um nvel tal que colocou em poucas dcadas o peixe-boi e as tartarugas beira da extino. A pesca artesanal e profissional reduziu os estoques de algumas espcies de porte grande e maturidade retardada e.g. do pirarucu (Arapaiama gigas) e do tambaqui (Colossoma macropomum), porm no danificou os estoques da maioria das espcies, que so de tamanho mdio e de maturidade rpida com grande nmero de ovos (JUNK et al., 1977). Na Amaznia, a pesca nas reas alagveis um fator econmico muito importante e seu potencial ainda no utilizado completamente (BAYLEY e PETRERE JR. 1989). No

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Pantanal de Mato Grosso, estudos etnoecolgicos no rio Cuiab e suas reas alagveis mostram a importncia da atividade pesqueira na sobrevivncia de diversas comunidades tradicionais e a diversidade de estratgias desenvolvidas pelos pescadores, adaptadas s fases de guas altas e baixas (DA SILVA e FERNANDES, 1995).ESTABILIDADE DO SISTEMA

Conforme o Conceito de Pulso de Inundao a fora que regula o funcionamento de reas alagveis o ciclo das inundaes e secas. No Pantanal de Mato Grosso, plantas e animais so adaptados s enchentes e secas anuais. Irregularidades como as cheias e secas plurianuais extremas representam um estresse adicional para os organismos. A falta de dados sobre o impacto desses perodos s comunidades de plantas e animais nativas no permite uma avaliao detalhada, porm, as perdas da pecuria, tanto nas pocas das enchentes grandes, quanto nas pocas das secas pronunciadas, demonstram o aumento do estresse. Mesmo assim podemos constar que, enquanto o pulso de inundao no modificado, a estrutura e o funcionamento do sistema so mantidos. Planos de manejo e desenvolvimento, que interferem com o pulso de inundao, como a construo de diques e canais de drenagem, canais de navegao (hidrovia), represas hidreltricas grandes nos afluentes, modificaro de maneira fundamental o funcionamento do sistema. O mesmo acontecer com modificaes da carga sedimentar. O Pantanal de Mato Grosso possui um relevo relativamente plano com um complexo sistema de drenagem. Um aumento da carga sedimentar resultar em modificaes da geometria hidrulica do sistema, bloqueando canais de drenagem Ponce. Bancos de sedimento de poucos metros de altura aumentaro consideravelmente as reas permanentemente inundadas ou com solos encharcados, com mudanas drsticas da flora e fauna. A estabilidade do sistema tambm est ligada quantidade dos nutrientes disposio. A quantidade total de nutrientes dissolvidos e em suspenso, ligados s partculas de sedimentos introduzidos dentro do sistema do Pantanal de Mato Grosso por meio dos afluentes, relativamente pequena e concentra-se nas reas perto dos canais principais (FURCH e JUNK, 1980; Galdino et al., 1995; FIGUEREDO, 1996). Grandes reas do Pantanal recebem pouco material em suspenso porque eles so lixiviados pela gua de chuva. Essas reas so altamente vulnerveis em respeito retirada de nutrientes por meio de atividades agrcolas. A atividade agrcola somente seria possvel com adubao adicional, porm o adubo seria lixiviado pela gua durante as enchentes. A construo de diques para evitar a inundao evitaria a lixiviao, porm isso no somente acabaria com o pulso de inundao e com as caractersticas tpicas da rea cercada pelos diques, mas tambm afetaria as reas adjacentes, que passariam a sofrer enchentes mais altas. As peridicas enchentes e secas foram os animais a concentrar-se anualmente em pequenos refgios, de altura mais elevadas do que a plancie. Esses refgios para animais terrestres durante as cheias so os capes (ilhas de matas circulares, mais elevadas que o nvel da plancie alagvel) e as cordilheiras (cordes arenosos, com altura de 1 a 3 metros acima da plancie alagvel, coberta por vegetao de cerrado, cerrado e mata). Para os animais aquticos, as lagoas permanentemente cheias de gua e os canais dos rios servem como refgio durante as

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secas. Mesmo assim, a mortalidade natural das populaes durante esses perodos muito elevada. Bonetto (1975) estima para a rea alagvel do baixo rio Paran/Paraguai perdas de pescado em torno de 40.000l durante as secas anuais. Alm disso, os estoques ficam extremamente vulnerveis para a atuao direta ou indireta do homem. Atualmente, devido substituio natural de campos alagveis por plantas invasoras arbustivas e arbreas, est ocorrendo uma presso sobre as cordilheiras, para aumentar a pastagem de gado, durante as cheias. Essa estratgia de manejo reduzir os hbitats de populaes de animais silvestres, dependendo das cordilheiras como refgios durante as enchentes. Alm disso, os animais tornam-se mais vulnerveis para coureiros e caadores. As secas pronunciadas no somente provocam mortalidade elevada para os estoques dos animais aquticos. A falta de gua pressiona tambm os animais silvestres a concentrar-se nos poos dgua e canais restantes. Perdas elevadas por falta de gua, predao elevada natural e caa indiscriminada impem impactos pesados aos estoques e diminuem a resistncia das populaes.A IMPORTNCIA DO PARAGUAI PARA O SISTEMA FLUVIAL PARAN-PARAGUAI

A maioria das grandes reas alagveis encontra-se ao longo dos cursos inferiores dos grandes rios. O Pantanal de Mato Grosso um exemplo de grande rea alagvel nas cabeceiras de um sistema fluvial. As conseqncias hidrolgicas e sedimentolgicas dessa rea para o sistema rio abaixo so bvias. O Pantanal uma grande bacia sedimentar onde os sedimentos dos afluentes so retidos e depositados. Alm disso, o Pantanal tambm serve como filtro mecnico e biolgico para resduos antropognicos, tais como agrotxicos, poluentes domsticos e industriais, mercrio dos garimpos, etc. Em respeito descarga de gua, o Pantanal atua como um grande sistema de tampo, que retarda a drenagem e diminui a amplitude do rio Paran/Paraguai. A importncia da estocagem de gua durante vrios meses em uma vasta plancie inundvel cercada por reas de cerrado, ainda no bem analisada. Sem dvida alguma, o Pantanal causa grande impacto sobre o clima regional, tanto pela elevada taxa de evapotranspirao, que libera grandes quantidades de gua para a atmosfera, quanto pelo efeito tampo de temperatura. Cem mil quilmetros quadrados cobertos com gua a cerca de 30C produz um efeito tampo expresso grande para uma regio onde a temperatura varia entre 0 e 45C. Os efeitos bioecolgicos so ainda pouco entendidos. O conceito de pulso indica ciclos internos que mantm nutrientes inorgnicos e material orgnico dentro do sistema. Esses ciclos no so completamente fechados e postulamos que o Pantanal serve como uma fonte de matria orgnica para o curso inferior do rio Paran-Paraguai. Faltam ainda estudos sobre a quantidade e qualidade do material exportado. A calha do rio Paran/Paraguai usada por animais aquticos como caminho de migrao. No se conhece a magnitude do intercmbio das populaes de organismos entre o Pantanal e o baixo rio Paran/Paraguai. Para o rio Amazonas grandes migraes de peixes de piracema ao longo da calha principal do rio e seus afluentes so comprovados (GOULDING 1980, RIBEIRO, 1983, JUNK et al., 1997).

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POSSIBILIDADES DE APROVEITAMENTO

Qualquer discusso sobre o desenvolvimento ou aproveitamento de uma regio, de um ecossistema ou de recursos especficos dentro da regio ou do ecossistema tem que considerar a relao custo-benefcio de uma maneira ampla. As funes dessas unidades paisagsticas so mltiplas e complexas e o aproveitamento unilateral pode criar tantos efeitos laterais negativos, que o mesmo