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1 2014 Material Didático Processo Seletivo Universidade Anhanguera UNIDERP Campo Grande – MS Colaboradores: André Moreira Mahmoud, Eduardo Brandt Nunes, Fernanda Almeida Andrade, João Pedro Caldas Quevedo, Jorge Nagata Junior e Rodrigo Souza Augusto. Coordenador: Dr. José Fábio Almiro

Material Didático LAC (2014)

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2014

Material Didático Processo Seletivo

Universidade Anhanguera UNIDERP

Campo Grande – MS

Colaboradores: André Moreira Mahmoud, Eduardo Brandt

Nunes, Fernanda Almeida Andrade, João Pedro Caldas

Quevedo, Jorge Nagata Junior e Rodrigo Souza Augusto.

Coordenador: Dr. José Fábio Almiro

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Sumário

Parte I. Anatomia ........................................................................................................01

1. Sistema Cardiovascular .........................................................................................01

2. Coração ..................................................................................................................01

3. Vasos Sanguíneos ...................................................................................................07

4. Sistema Arterial .......................................................................................................09

5. Sistema Venoso ......................................................................................................14

6. Sistema Linfático .....................................................................................................19

Parte II. Fisiologia................ ........................................................................................20

1. Músculo Cardíaco ..................................................................................................21

2. Visão geral da circulação .....................................................................................33

3. Distensibilidade Vascular e Funções dos Sistemas Arterial e Venoso ..............34

4. Controle Local e Humoral do Fluxo Sanguíneo ..................................................36

5. Regulação Nervosa da Circulação .....................................................................38

6. Mecanismos Reflexos para a Manutenção da PA Normal ...............................40

7. Sistema Integrado de Controle da Pressão .........................................................41

Parte III. Semiologia.....................................................................................................44

1. Semiologia do Tórax ................................................................................................44

2. Exame dos Pulmões .................................................................................................45

3. Exame do Coração .................................................................................................50

4. Semiologia Vascular ................................................................................................54

X. Referências Bibliográficas........................................................................................57

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PARTE I ANATOMIA

1. SISTEMA CARDIOVASCULAR

A função básica do sistema cardiovascular é a de levar material nutritivo e oxigênio

às células. O sistema circulatório é um sistema fechado, sem comunicação com o exterior,

constituído por tubos, que são chamados vasos, e por uma bomba percussora que tem

como função impulsionar um líquido circulante de cor vermelha (sangue) por toda a rede

vascular.

O sistema cardiovascular é constituído dos seguintes componentes: sangue,

coração e vasos sanguíneos. Para que o sangue atinja as células corporais e troque

materiais com elas, ele deve ser constantemente, propelido ao longo dos vasos sanguíneos.

O coração é a bomba que promove a circulação de sangue por cerca de 100 mil

quilômetros de vasos sanguíneos.

1.1. CIRCULAÇÃO PULMONAR E SISTÊMICA

A circulação pulmonar leva sangue do ventrículo direito do coração para os

pulmões e de volta ao átrio esquerdo do coração. Ela transporta o sangue pobre em

oxigênio para os pulmões, onde ele libera o dióxido de carbono (CO2) e recebe oxigênio

(O2). O sangue oxigenado, então, retorna ao lado esquerdo do coração para ser

bombeado para circulação sistêmica.

A circulação sistêmica é a maior circulação; ela fornece o suprimento sanguíneo

para todo o organismo. A circulação sistêmica carrega oxigênio e outros nutrientes vitais

para as células, e capta dióxido de carbono e outros resíduos das células.

2. CORAÇÃO

O coração possui em média uma massa de 250g em mulheres adultas e de 300g

em homens adultos. Tem um tamanho semelhante a um punho fechado e com dimensões

relativas de 12 cm de comprimento, 9 cm de largura e 6 cm de espessura.

O coração fica posicionado superiormente ao diafragma, próximo a linha média

da cavidade torácica, no mediastino, e entre as pleuras pulmonares. Cerca de 2/3 de

massa cardíaca se localiza a esquerda da linha média do corpo.

O ápice, extremidade pontuda do coração, dirige-se para frente, para baixo e

para a esquerda. Já a base, porção mais larga do coração, direciona-se para trás, para

cima e para a direita.

O coração está assim localizado: posteriormente ao esterno e às costelas.

Superiormente ao diafragma, correspondendo à região entre o ápice e a borda direita. Em

sua margem direita localiza-se o pulmão direito, estendendo-se da superfície inferior à base

e a borda esquerda ou borda pulmonar fica voltada para o pulmão esquerdo, estendendo-

se da base ao ápice. Situa-se inferiormente aos grandes vasos do coração e anteriormente

à traqueia, ao esôfago e à artéria aorta descendente.

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2.1. CAMADAS DA PAREDE CARDÍACA

O Pericárdio é a membrana protetora que reveste o coração. Sua principal função

é manter o coração em posição original no mediastino, porém permite a movimentação

livre do coração em contrações vigorosas e rápidas. É constituído de duas camadas:

pericárdio fibroso e pericárdio seroso.

O pericárdio fibroso é mais superficial é formado por um tecido conjuntivo irregular,

denso, resistente e inelástico. Assemelha-se a um saco, que repousa sobre o diafragma,

prendendo-se a ele.

O pericárdio seroso, mais profundo, é uma membrana mais fina e delicada que

forma uma dupla camada, circundando o coração. A camada parietal, mais externa, do

pericárdio seroso está fundida ao pericárdio fibroso. A camada visceral, mais interna, do

pericárdio seroso, também chamada epicárdio, adere fortemente à superfície do coração.

O epicárdio é a camada externa do coração. É uma fina lâmina de tecido seroso

(mesotélio) formada pela lâmina visceral do pericárdio seroso.

O miocárdio é a camada média helicoidal e a mais espessa do coração. É

composto de músculo estriado cardíaco. É responsável pela contração cardíaca a qual

impulsiona o sangue para o interior dos vasos sanguíneos.

O endocárdio é a camada mais interna do coração. É uma fina camada de

endotélio e tecido conjuntivo subendotelial. O endocárdio reveste as valvas e é contínuo

com o revestimento dos vasos sanguíneos que entram e saem do coração.

2.2. CONFIGURAÇÃO EXTERNA DO CORAÇÃO

Face Anterior (Esternocostal) - Formada principalmente pelo ventrículo direito.

Face Diafragmática (Inferior) - Formada principalmente pelo ventrículo esquerdo e

parcialmente pelo ventrículo direito; ela está relacionada principalmente com o tendão

central do diafragma.

Face Pulmonar Esquerda - Formada principalmente pelo ventrículo esquerdo; ela

ocupa a impressão cárdica do pulmão esquerdo.

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Face Pulmonar Direita - formada principalmente pelo átrio direito.

Margem Direita - Formada pelo átrio direito e estendendo-se entre as veias cavas

superior e inferior.

Margem Inferior - Formada principalmente pelo ventrículo direito e, ligeiramente,

pelo ventrículo esquerdo.

Margem Esquerda - Formada principalmente pelo ventrículo esquerdo e,

ligeiramente, pela aurícula esquerda.

Margem Superior - Formada pelos átrios e pelas aurículas direita e esquerda em uma

vista anterior; a parte ascendente da aorta e o tronco pulmonar emergem da margem

superior, e a veia cava superior entra no seu lado direito. Posterior à aorta e ao tronco

pulmonar e anterior à veia cava superior, a margem superior forma o limite inferior do seio

transverso do pericárdio.

Externamente os óstios atrioventriculares correspondem ao sulco coronário, que é

ocupado por artérias e veias coronárias, este sulco circunda o coração e é interrompido

anteriormente pela artéria aorta e pelo tronco pulmonar.

O septo interventricular na face anterior corresponde ao sulco interventricular

anterior e na face diafragmática ao sulco interventricular posterior.

Os sulcos interventriculares separam os ventrículos direito e esquerdo. O anterior é

ocupado pelos vasos interventriculares anteriores. O sulco posterior parte do sulco coronário

e desce em direção à incisura do ápice do coração e é ocupado pelos vasos

interventriculares posteriores.

2.3. CONFIGURAÇÃO INTERNA DO CORAÇÃO

O coração possui quatro câmaras: dois átrios e dois ventrículos. Os átrios (as

câmaras superiores) recebem sangue; os ventrículos (câmaras inferiores) bombeiam o

sangue para fora do coração.

Na face anterior de cada átrio existe uma estrutura enrugada, em forma de saco,

chamada aurícula. O átrio direito é separado do esquerdo por uma fina divisória chamada

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septo interatrial; o ventrículo direito é separado do esquerdo pelo septo interventricular.

2.3.1. ÁTRIO DIREITO

O átrio direito forma a borda direita do coração e recebe sangue rico em dióxido

de carbono (venoso) de três veias: veia cava superior, veia cava inferior e seio coronário.

A veia cava superior recolhe sangue da cabeça e parte superior do corpo, já a

inferior recebe sangue das partes mais inferiores do corpo (abdômen e membros inferiores)

e o seio coronário recebe a maioria das veias cardíacas.

Enquanto a parede posterior do átrio direito é lisa, a parede anterior é rugosa,

devido a presença de cristas musculares, chamados músculos pectíneos.

O sangue passa do átrio direito para ventrículo direito através de uma válvula

chamada tricúspide (formada por três folhetos - válvulas ou cúspides).

Na parede medial do átrio direito, que é constituída pelo septo interatrial,

encontramos uma depressão que é a fossa oval.

Anteriormente, o átrio direito apresenta uma expansão piramidal denominada

aurícula direita, que serve para amortecer o impulso do sangue ao penetrar no átrio.

2.3.2. ÁTRIO ESQUERDO

O átrio esquerdo é uma cavidade de parede fina, com paredes posteriores e

anteriores lisas, que recebe o sangue já oxigenado; por meio de quatro veias pulmonares.

O sangue passa do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo, através da valva bicúspide

(mitral), que tem apenas duas cúspides.

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O átrio esquerdo também apresenta uma expansão piramidal chamada aurícula

esquerda.

2.3.3. VENTRÍCULO DIREITO

O ventrículo direito forma a maior parte da face esternocostal do coração, uma

pequena parte da face diafragmática e quase toda a margem inferior do coração. O seu

interior apresenta uma série de feixes elevados de fibras musculares cardíacas chamadas

trabéculas cárneas.

No óstio atrioventricular direito encontra-se a valva tricúspide formada por três

lâminas (cúspides) membranáceas, esbranquiçadas e irregularmente triangulares: anterior,

posterior e septal. Sua função é impedir o refluxo de sangue do ventrículo para o átrio

direito. Sua base fixa-se ao anel fibroso do óstio e seu ápice, dirigido para baixo, é preso às

paredes do ventrículo por meio das cordas tendíneas. Estas por sua vez se originam dos

ápices dos músculos papilares, projeções musculares cônicas fixadas à parede ventricular.

Os músculos papilares se contraem, tensionam as cordas tendíneas e estas por sua vez

aproximam as válvulas, evitando o seu prolapso.

Partindo da região inferior do septo interventricular em direção à base do músculo

papilar anterior, atravessando o ventrículo direito, encontra-se um feixe muscular curvo

chamado trabécula septo-marginal. Essa trabécula aproxima o ramo direito do fascículo

atrioventricular ao músculo papilar anterior, reduzindo o tempo de condução elétrica e

proporcionando uma contração regular deste.

A valva do tronco pulmonar também é constituída por pequenas lâminas, porém

estas estão dispostas em concha, denominadas válvulas semilunares (anterior, esquerda e

direita).

No centro da borda livre de cada uma das válvulas encontramos pequenos

nódulos denominados nódulos das válvulas semilunares (pulmonares).

2.3.4. VENTRÍCULO ESQUERDO

O ventrículo esquerdo forma o ápice do coração. No óstio atrioventricular

esquerdo, encontramos a valva bicúspide ou mitral, constituída por duas laminas: anterior

e posterior. Como o ventrículo direito, também contém trabéculas cárneas e cordas

tendíneas, que fixam as cúspides aos músculos papilares.

O sangue passa do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo através da valva

mitral. Do ventrículo esquerdo o sangue sai para a maior artéria do corpo, a aorta

ascendente, passando pela valva aórtica - constituída por três válvulas semilunares: direita,

esquerda e posterior. Daí, parte do sangue flui para as artérias coronárias, que se ramificam

a partir da aorta ascendente, levando sangue para a parede cardíaca; o restante do

sangue passa para o arco da aorta e para a aorta descendente (aorta torácica e aorta

abdominal). Ramos do arco da aorta e da aorta descendente levam sangue para todo o

corpo.

O ventrículo esquerdo recebe sangue oxigenado do átrio esquerdo. A principal

função do ventrículo esquerdo é bombear sangue para a circulação sistêmica (corpo). A

parede ventricular esquerda é mais espessa que a do ventrículo direito. Essa diferença se

deve à maior força de contração necessária para bombear sangue para a circulação

sistêmica.

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2.4. VASCULARIZAÇÃO

A irrigação do coração é assegurada pelas artérias coronárias e pelo seio

coronário.

As artérias coronárias são duas: direita e esquerda. Elas têm este nome porque

ambas percorrem o sulco coronário e são as duas originadas da artéria aorta.

Esta artéria, logo depois da sua origem, dirige-se para o sulco coronário

percorrendo-o da direita para a esquerda, até anastomosar-se com o ramo circunflexo,

que é o ramo terminal da artéria coronária esquerda circundando o sulco coronário.

A artéria coronária direita dá origem a duas artérias que vão irrigar a margem direita

e a parte posterior do coração, são elas, respectivamente, artéria marginal direita e artéria

interventricular posterior.

A artéria coronária esquerda, de início, passa por um ramo por trás do tronco

pulmonar para atingir o sulco coronário, evidenciando-se nas proximidades do ápice da

aurícula esquerda. Logo em seguida, emite um ramo interventricular anterior e um ramo

circunflexo que dará origem a artéria marginal esquerda.

Na face diafragmática as duas artérias se anastomosam formando um ramo

circunflexo.

O sangue venoso é coletado por diversas veias que desembocam na veia magna

do coração, que inicia ao nível do ápice do coração, sobe o sulco interventricular anterior

e segue o sulco coronário da esquerda para a direita passando pela face diafragmática,

para ir desembocar no átrio direito.

A porção terminal deste vaso, representada por seus últimos 3 cm forma uma

dilatação que recebe o nome de seio coronário.

O seio coronário recebe ainda a veia média do coração, que percorre de baixo

para cima o sulco interventricular posterior e a veia pequena do coração que margeia a

borda direita do coração.

Há ainda veias mínimas, muito pequenas, as quais desembocam diretamente nas

cavidades cardíacas.

2.5. INERVAÇÃO

A inervação do músculo cardíaco é de duas formas: extrínseca que provém de

nervos situados fora do coração e outra intrínseca que constitui um sistema próprio.

A inervação extrínseca deriva do sistema nervoso autônomo, isto é, simpático e

parassimpático.

Do simpático, o coração recebe os nervos cardíacos simpáticos, sendo três

cervicais e quatro ou cinco torácicos. As fibras parassimpáticas que vão ter ao coração

seguem pelo nervo vago (X par craniano), do qual derivam nervos cardíacos

parassimpáticos, sendo dois cervicais e um torácico.

Fisiologicamente o simpático acelera e o parassimpático retarda os batimentos

cardíacos.

A inervação intrínseca ou sistema de condução do coração é a razão dos

batimentos contínuos do coração. É uma atividade elétrica, intrínseca e rítmica, que se

origina em uma rede de fibras musculares cardíacas especializadas, chamadas células

auto rítmicas (marca-passo cardíaco), por serem auto excitáveis.

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A excitação cardíaca começa no nodo sinoatrial (SA), situado na parede atrial

direita, inferior à abertura da veia cava superior. Propagando-se ao longo das fibras

musculares atriais, o potencial de ação atinge o nodo atrioventricular (AV), situado no septo

interatrial, anterior à abertura do seio coronário. Do nodo AV, o potencial de ação chega

ao feixe atrioventricular (feixe de Hiss), que é a única conexão elétrica entre os átrios e os

ventrículos. Após ser conduzido ao longo do feixe AV, o potencial de ação entra nos ramos

direito e esquerdo, que cruzam o septo interventricular, em direção ao ápice cardíaco.

Finalmente, as miofibras condutoras (fibras de Purkinge), conduzem rapidamente o

potencial de ação, primeiro para o ápice do ventrículo e após para o restante do miocárdio

ventricular.

3. VASOS SANGUÍNEOS

Formam uma rede de tubos que transportam sangue do coração em direção aos

tecidos do corpo e de volta ao coração. Os vasos sanguíneos podem ser divididos em

sistema arterial e sistema venoso:

Sistema Arterial: Constitui um conjunto de vasos que partindo do coração, vão se

ramificando, cada ramo em menor calibre, até atingirem os capilares.

Sistema Venoso: Formam um conjunto de vasos que partindo dos tecidos, vão se

formando em ramos de maior calibre até atingirem o coração.

Os vasos sanguíneos que conduzem o sangue para fora do coração são as artérias.

Estas se ramificam muito, tornam-se progressivamente menores, e terminam em pequenos

vasos determinados arteríolas. A partir destes vasos, o sangue é capaz de realizar suas

funções de nutrição e de absorção atravessando uma rede de canais microscópicos,

chamados capilares, os quais permitem ao sangue trocar substâncias com os tecidos. Dos

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capilares, o sangue é coletado em vênulas; em seguida, através das veias de diâmetro

maior, alcança de novo o coração. Esta passagem de sangue através do coração e dos

vasos sanguíneos é chamada de CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA.

3.1. ESTRUTURA DOS VASOS

1- Túnica externa: é composta basicamente por tecido conjuntivo. Nesta túnica

encontramos pequenos filetes nervosos e vasculares que são destinados à inervação e a

irrigação das artérias. Encontrada nas grandes artérias somente.

2- Túnica média: é a camada intermediária composta por fibras musculares lisas e

pequena quantidade de tecido conjuntivo elástico. Encontrada na maioria das artérias do

organismo.

3- Túnica íntima: forra internamente e sem interrupções as artérias, inclusive

capilares. São constituídas por células endoteliais.

Anastomose é um fenômeno vascular na qual ocorre a ligação entre artérias, veias

e nervos com o fim de se intercomunicarem. A ligação entre duas artérias ocorre apenas

em ramos arteriais, nunca em troncos principais. Os vasos finos, ao longo de seu percurso,

sofrem anastomose formando vasos mais calibrosos e dando origem a uma circulação

colateral, esta bastante presente em vasos cerebrais.

O Polígono de Willis é um exemplo de vasos que se anastomosam, formando um

polígono. Esse processo ocorre no cérebro para garantir uma demanda adequada de

oxigênio às células nervosas, ou seja, caso ocorra à obstrução de uma artéria cerebral, a

região irrigada pelo vaso lesado ainda receberá sangue proveniente de outra artéria do

polígono, preservando o tecido nervoso.

4. SISTEMA ARTERIAL

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Conjunto de vasos que saem do coração e se ramificam sucessivamente

distribuindo-se para todo o organismo. Do coração saem o tronco pulmonar (relaciona-se

com a pequena circulação, ou seja, leva sangue venoso para os pulmões através de sua

ramificação, duas artérias pulmonares uma direita e outra esquerda) e a artéria aorta

(carrega sangue arterial para todo o organismo através de suas ramificações).

4.1. PRINCIPAIS ARTÉRIAS DO CORPO HUMANO

1 - Sistema do tronco pulmonar: o tronco pulmonar sai do coração pelo ventrículo

direito e se bifurca em duas artérias pulmonares, uma direita e outra esquerda. Cada uma

delas se ramifica a partir do hilo pulmonar em artérias segmentares pulmonares.

Ao entrar nos pulmões, esses ramos sofrem divisões até formarem capilares, em

torno dos alvéolos pulmonares. Ocorre então o processo de Hematose, em que o gás

carbônico presente no sangue passa para o ar e é exalado e, em contra partida, o oxigênio

presente no ar inspirado passa para o sangue.

2 - Sistema da artéria aorta (sangue oxigenado): É a maior artéria do corpo, com

diâmetro de 2 a 3 cm. Suas quatro divisões principais são a aorta ascendente, o arco da

aorta, a aorta torácica e aorta abdominal. A aorta é o principal tronco das artérias

sistêmicas. A parte da aorta que emerge do ventrículo esquerdo, posterior ao tronco

pulmonar, é a aorta ascendente.

O começo da aorta contém as válvulas semilunares aórticas. A artéria aorta se

ramifica na porção ascendente em duas artérias coronárias, uma direita e outra esquerda

que vão irrigar o coração.

A artéria coronária esquerda passa entre a aurícula esquerda e o tronco pulmonar.

Divide-se em dois ramos: ramo interventricular anterior (ramo descendente anterior

esquerdo) e um ramo circunflexo. O ramo interventricular anterior percorre o sulco

interventricular em direção ao ápice do coração e irriga os dois ventrículos. O ramo

circunflexo acompanha o sulco coronário pela margem esquerda até a face posterior do

coração, dando origem à artéria marginal esquerda que supre o ventrículo esquerdo.

A artéria coronária direita corre no sulco coronário ou atrioventricular e dá origem

ao ramo marginal direito que irriga a margem direita do coração à medida que corre para

o ápice do coração. Após originar esses ramos, curva-se para esquerda acompanhando o

sulco coronário até a face posterior do coração, onde emite a grande artéria

interventricular posterior que desce pelo sulco interventricular posterior em direção ao ápice

do coração, suprindo ambos os ventrículos.

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Logo em seguida a artéria aorta se encurva formando um arco para a esquerda

dando origem a três artérias (artérias da curva da aorta) sendo elas:

1 - Tronco braquiocefálico arterial.

2 - Artéria carótida comum esquerda: irriga cabeça e pescoço.

3 - Artéria subclávia esquerda: irriga encéfalo, medula espinhal, pescoço e ombro

e dá origem às artérias dos membros superiores.

O tronco braquiocefálico arterial origina duas artérias:

4 - Artéria carótida comum direita: irriga cabeça e pescoço.

5 - Artéria subclávia direita: irriga encéfalo, medula espinhal, pescoço e ombro e dá

origem às artérias dos membros superiores.

4.1.1. ARTÉRIAS DO PESCOÇO E CABEÇA

As artérias vertebrais direita e esquerda e as artérias carótida comum direita e

esquerda são responsáveis pela vascularização arterial do pescoço e da cabeça.

Antes de entrar na axila, a artéria subclávia origina um ramo para o encéfalo,

chamada artéria vertebral, que passa pelos forames transversos da C6 à C1 e entra no

crânio através do forame magno. As artérias vertebrais unem-se para formar a artéria basilar

(supre o cerebelo, ponte e ouvido interno), que dará origem as artérias cerebrais

posteriores, que irrigam a face inferior e posterior do cérebro.

Na borda superior da laringe, as artérias carótidas comuns se dividem em artéria

carótida externa e artéria carótida interna.

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A artéria carótida externa irriga as estruturas externas do crânio, pescoço e face.

Seus ramos colaterais são: artéria tireóidea superior, artéria lingual, artéria facial, artéria

occipital, artéria auricular posterior e artéria faríngea ascendente. Seus ramos terminais são:

artéria temporal e artéria maxilar. A artéria carótida interna penetra no crânio através do

canal carotídeo e supre as estruturas internas do mesmo. Os ramos terminais da artéria

carótida interna são a artéria cerebral anterior (supre a maior parte da face medial do

cérebro) e artéria cerebral média (supre a maior parte da face lateral do cérebro).

Polígono de Willis:

A vascularização cerebral é formada pelas artérias vertebrais direita e esquerda e

pelas artérias carótidas internas direita e esquerda. As vertebrais se anastomosam originado

a artéria basilar, alojada na goteira basilar, ela se divide em duas artérias cerebrais

posteriores que irrigam a parte posterior da face inferior de cada um dos hemisférios

cerebrais.

As artérias carótidas internas originam, uma artéria cerebral média e uma artéria

cerebral anterior, em cada hemisfério cerebral. As artérias cerebrais anteriores se

comunicam através de um ramo entre elas chamada de artéria comunicante anterior. As

artérias cerebrais posteriores se comunicam com as arteriais carótidas internas através das

artérias comunicantes posteriores.

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4.1.2. ARTÉRIAS DOS MEMBROS SUPERIORES

A artéria subclávia (direita ou esquerda), logo após o seu início, origina a artéria

vertebral que vai auxiliar na vascularização cerebral, descendo em direção à axila recebe

o nome de artéria axilar. Esta irrigará o ombro, os músculos torácicos e escapulares e o

úmero. Ao atingir o braço torna-se artéria braquial (umeral), responsável pela irrigação do

braço. Já na região do cotovelo a artéria braquial emite dois ramos terminais, sendo eles:

artéria radial, que irrigará face lateral do antebraço, e ulnar, própria da face medial do

antebraço e juntas irrigam punho e mão. Na mão essas duas artérias se anastomosam

formando um arco palmar profundo, que originará as artérias digitais palmares comuns e

as artérias metacarpianas palmares, e um arco palmar superficial. Finalizando assim a

vascularização da mão e dos dedos.

4.1.3. ARTÉRIA AORTA

4.1.3.1. PORÇÃO TORÁCICA

Após a curva ou arco aórtico, a artéria começa a descer do lado esquerdo da

coluna vertebral dado origem aos ramos:

Viscerais (nutrem os órgãos):

1. Pericárdicos;

2. Bronquiais;

3. Esofágicos;

4. Mediastinais.

Parietais (irrigam a parede dos órgãos):

5. Intercostais posteriores;

6. Subcostais;

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7. Frênicas superiores.

4.1.3.2. PORÇÃO ABDOMINAL

Ao atravessar o hiato aórtico do diafragma até a altura da quarta vértebra lombar

a aorta é representada pela porção abdominal.

Nesta porção a aorta fornece vários ramos colaterais e dois terminais.

Ainda ao nível do hiato aórtico surge o primeiro ramo da aorta abdominal, o Tronco

Celíaco. Este por sua vez dará origem à: artéria Gástrica Esquerda, que irrigará a parte distal

do esôfago e a curvatura menor do estômago; artéria Esplênica, que irrigará corpo do

pâncreas, baço, curvatura maior do estômago, parte posterior do corpo gástrico e omento

maior e, por fim, artéria Hepática Comum. Desta artéria surgirá três ramos: Hepática Própria,

responsável pela vascularização do fígado, vesícula biliar, estômago e duodeno; Gástrica

Direita, irrigando a parte direita da curvatura menor do estômago e por fim, artéria

Gastroduodenal, responsável pela região do estômago, pâncreas, primeira porção do

duodeno, parte distal do ducto colédoco e omento maior.

O segundo ramo da aorta abdominal será a Mesentérica Superior, esta colabora

com a vascularização do pâncreas e do duodeno e com a irrigação do jejuno, ílio, colo

ascendente e transverso do intestino grosso. Seus ramos são: artéria pancreaticoduodenal

inferior, artéria cólica média, artéria cólica direita, artérias jejunais e ileais e artéria ileocólica.

A Mesentérica Inferior será o terceiro ramo da aorta abdominal, irrigando parte do

intestino grosso: colo transverso; descendente e sigmóide e, por fim, o reto. Seus ramos são:

artéria cólica esquerda, artérias sigmóideas e artéria retal superior.

Outros ramos colaterais, que surgem próximo ao ramo da mesentérica superior, são

as artérias renais direita e esquerda, responsáveis pela irrigação dos rins, das glândulas

supra-renais e ureteres.

Os ramos terminais da artéria aorta são artéria ilíaca comum direita e artéria ilíaca

comum esquerda, responsáveis pela irrigação dos membros inferiores.

4.1.4. ARTÉRIAS DOS MEMBROS INFERIORES

As artérias ilíacas comuns, uma de cada lado do corpo, irrigarão a região da pelve,

genitália externa e membros inferiores e darão origem às artérias ilíacas externas direita e

esquerda e internas direita e esquerda. As externas irrigarão membros inferiores e as internas:

pelve; nádegas; genitália externa e coxa.

Das ilíacas externas surgem as artérias epigástricas inferiores e as femorais, uma em

cada membro, responsáveis pela irrigação da virilha e músculos da coxa. Da femoral surge

a artéria poplítea, que irriga a região posterior da perna, joelho, fêmur, patela e fíbula. Da

poplítea surge a tibial anterior e posterior. A tibial anterior vasculariza o joelho, músculos

anteriores da perna e tornozelo e origina a artéria dorsal do pé. A tibial posterior irriga

músculos, ossos e articulações das pernas e dos pés e origina a artéria fibular, plantar medial

e participa da formação da artéria plantar lateral, juntamente com a artéria dorsal do pé.

Esta irriga os músculos e articulações da face dorsal do pé. A artéria fibular vasculariza

músculos profundos da região posterior da perna, músculos fibulares, fíbula, tarso e face

lateral do calcanhar. A artéria plantar medial irriga o flexor curto dos dedos, adutor do hálux

e dedos e a artéria plantar lateral irriga metatarsos e artelhos.

Os ramos da ilíaca interna são: artéria glútea superior, artéria glútea inferior, artéria

pudenda interna, artéria retal média, artéria iliolombar, artérias sacrais laterais, artéria

obturatória, artéria umbilical, artéria uterina e vaginal (mulheres) e artéria do ducto

deferente e vesical inferior (homens).

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5. SISTEMA VENOSO

O circuito que termina no átrio esquerdo através das quatro veias pulmonares

trazendo sangue arterial dos pulmões chama-se de pequena circulação ou circulação

pulmonar. E o circuito que termina no átrio direito através das veias cavas e do seio

coronário retornando com sangue venoso chama-se de grande circulação ou circulação

sistêmica.

5.1. PRINCIPAIS VEIAS DO CORPO HUMANO

Veias da circulação pulmonar (ou pequena circulação): As veias que conduzem o

sangue que retorna dos pulmões para o coração após sofrer a hematose (oxigenação),

recebem o nome de veias pulmonares.

São quatro veias pulmonares, duas para cada pulmão, uma direita superior e uma

direita inferior, uma esquerda superior e uma esquerda inferior. Desembocam no átrio

esquerdo e são formadas pelas veias segmentares que recolhem sangue arterial dos

segmentos pulmonares.

Veias da circulação sistêmica (ou da grande circulação): duas grandes veias

desembocam no átrio direito trazendo sangue venoso para o coração. São elas: veia cava

superior e veia cava inferior. Temos também o seio coronário formado pelas veias coronárias

que trazem sangue venoso do próprio coração.

Veia cava superior: origina-se dos dois troncos braquiocefálicos (ou veia

braquiocefálica direita e esquerda). Cada veia braquiocefálica é constituída pela junção

da veia subclávia (que recebe sangue do membro superior) com a veia jugular interna (que

recebe sangue da cabeça e pescoço).

Veia cava Inferior: é formada pelas duas veias ilíacas comuns que recolhem sangue

da região pélvica e dos membros inferiores.

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Seio Coronário e veias Cardíacas: O seio coronário é a principal veia do coração.

Ele drena quase todo o sangue venoso do miocárdio. Fica situado no sulco coronário

abrindo-se no átrio direito. Recebe a veia cardíaca magna (sulco interventricular anterior)

em sua extremidade esquerda, veia cardíaca média (sulco interventricular posterior) e a

veia cardíaca parva em sua extremidade direita. A drenagem das demais veias cardíacas

anteriores direciona-se diretamente ao átrio direito.

5.1.1. VEIAS DA CABEÇA E PESCOÇO

De uma forma geral a drenagem esses regiões ocorrem por tais veias: veia jugular

interna, que drena a região do encéfalo, face e pescoço; veia jugular externa, que drena

crânio e face. E por último, veia vertebral, que drena estruturas profundas do pescoço, ou

seja, vértebras, medula cervical e alguns músculos. A jugular interna e a vertebral drenam

diretamente para veia braquiocefálica e a jugular externa drena diretamente para

subclávia e esta, por sua vez, desemboca na braquiocefálica e daí para a veia cava

superior.

Crânio: a rede venosa do interior do crânio é representada por um sistema de

canais intercomunicantes denominados seios da dura-máter. Esses seios são verdadeiros

túneis localizados no interior da membrana da dura-máter e envoltos por um endotélio. A

dura-máter é a membrana mais externa das meninges.

Os seios podem ser divididos em seis ímpares e sete pares.

SEIOS ÍMPARES: são três relacionados com a calvária craniana e três com a base do

crânio.

Seios da calvária craniana:

1- Seio sagital superior

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2- Seio sagital inferior

3- Seio reto

Seios da base do crânio:

1- Seio intercavenoso anterior

2- Seio intercavernoso posterior

3- Plexo basilar

SEIOS PARES: são situados na base do crânio.

1- Seio esfenoparietal

2- Seio cavernoso

3- Seio petroso superior

4- Seio petroso inferior

5- Seio transverso

6- Seio sigmóide

7- Seio occipital

Face: Normalmente as veias tireóidea superior, lingual, facial e faríngica se

anastomosam formando um tronco comum que vai desembocar na veia jugular interna.

O plexo pterigoídeo recolhe o sangue do território vascularizado pela artéria

maxilar, inclusive de todos os dentes, mantendo anastomose com a veia facial e com o seio

cavernoso.

Os diversos ramos do plexo pterigoídeo se anastomosam com a veia temporal

superficial, para constituir a veia retromandibular. Essa veia retromandibular vai se unir com

a veia auricular posterior para dar origem à veia jugular externa.

A cavidade orbital é drenada pelas veias oftálmicas superior e inferior que vão

desembocar no seio cavernoso. A veia oftálmica superior mantém anastomose com o início

da veia facial.

Pescoço: descendo pelo pescoço, encontramos quatro pares de veias jugulares.

Essas veias jugulares têm o nome de interna, externa, anterior e posterior.

Veia jugular interna: vai se anastomosar com a veia subclávia para formar o tronco

braquiocefálico venoso.

Veia jugular externa: desemboca na veia subclávia.

Veia jugular anterior: origina-se superficialmente ao nível da região supra-hióidea e

desemboca na terminação da veia jugular externa.

Veia jugular posterior: origina-se nas proximidades do osso occipital e desce

posteriormente ao pescoço para desembocar no tronco braquiocefálico venoso. Está

situada profundamente.

5.1.2. VEIAS DO TÓRAX E ABDOME

Tórax: encontramos duas exceções principais:

- o seio coronário que se abre diretamente no átrio direito.

Page 19: Material Didático LAC (2014)

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- disposição venosa pelo sistema de ázigos.

As veias do sistema de ázigo recolhem a maior parte do sangue venoso das paredes

do tórax e abdome. Do abdome o sangue venoso sobe pelas veias lombares ascendentes;

do tórax é recolhido principalmente por todas as veias intercostais posteriores.

O sistema de ázigo forma um verdadeiro "H" por diante dos corpos vertebrais da

porção torácica da coluna vertebral. O ramo vertical direito do "H" é chamado veia ázigo.

Drena as regiões mediastinal, intercostal, diafragmática e lombar e desemboca na veia

cava superior.

O ramo vertical esquerdo é subdividido pelo ramo horizontal em dois segmentos,

um superior e outro inferior. O segmento inferior é constituído pela veia hemiázigos, que

drena a região dos últimos espaços intercostais e, posteriormente, unir-se-á à veia ázigo,

enquanto o segmento superior recebe o nome de veia hemiázigo acessória, esta também

irá desembocar na veia ázigo.

Abdome: há um sistema venoso muito importante que recolhe sangue das vísceras

abdominais para transportá-lo ao fígado. É o sistema da veia porta.

A veia esplênica, antes de se anastomosar com a veia mesentérica superior, recebe

a veia mesentérica inferior. Dessa anastomose, entre veia esplênica e mesentérica superior,

surgirá a veia porta hepática que posteriormente receberá as veias gástrica esquerda e

prepilórica.

Ao chegar nas proximidades do hilo hepático, a veia porta se bifurca em dois ramos

(direito e esquerdo), penetrando assim no fígado. No interior do fígado, os ramos da veia

porta se ramificam em vênulas e promovem a capilarização. Em seguida os capilares vão

constituindo novamente vênulas que se reúnem sucessivamente para formar as veias

hepáticas as quais vão desembocar na veia cava inferior.

A circulação porta hepática desvia o sangue venoso dos órgãos gastrointestinais e

do baço para o fígado antes de retornar ao coração. A veia porta hepática é formada

pela união das veias mesentérica superior e esplênica. A veia mesentérica superior drena

sangue do intestino delgado e partes do intestino grosso, estômago e pâncreas. A veia

esplênica drena sangue do estômago, pâncreas e partes do intestino grosso. A veia

mesentérica inferior, que deságua na veia esplênica, drena partes do intestino grosso. O

fígado recebe sangue arterial (artéria hepática própria) e venoso (veia porta hepática) ao

mesmo tempo. Por fim, todo o sangue sai do fígado pelas veias hepáticas que desemboca

na veia cava inferior.

A veia gonodal do lado direito vai desembocar em um ângulo agudo na veia cava

inferior, enquanto a do lado esquerdo desemboca perpendicularmente na veia renal.

Page 20: Material Didático LAC (2014)

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5.1.3. VEIAS DOS MEMBROS SUPERIORES

Existem veias superficiais e profundas no mecanismo de drenagem dos membros

superiores. Ambas desembocam na veia cava superior. As veias superficiais são:

1- Veia Cefálica: drena face lateral do membro superior. Desemboca na veia axilar.

2- Veia Basílica: drena face medial do membro superior. Desemboca na veia

braquial medial.

3- Veia Mediana do Antebraço: drena palma da mão e antebraço. Na área flexora

do antebraço a veia mediana do antebraço origina a veia mediana cefálica, que se

anastomosa com a veia cefálica, e a veia mediana basílica que se anastomosa com a veia

basílica.

As veias profundas dos membros superiores seguem o mesmo trajeto das artérias

dos membros superiores, drenam as mesmas regiões irrigadas e recebem os mesmos nomes

das artérias.

5.1.4. VEIAS DOS MEMBROS INFERIORES

A drenagem dos membros inferiores ocorre por meio de veias superficiais e

profundas. Ambas desembocam na veia cava inferior.

As superficiais são:

1- Veia Safena Magna, drena face medial da perna e coxa, virilha, genitália externa

e parede abdominal.

Page 21: Material Didático LAC (2014)

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2- Veia Safena Parva, drena a região dos pés e face posterior da perna.

Desemboca em uma das veias poplíteas antes de chegar à veia cava inferior.

A veia safena parva e a veia safena magna se comunicam através de

anastomoses.

As veias profundas dos membros inferiores seguem o mesmo trajeto das artérias,

recebendo os mesmos nomes e drenando as mesmas regiões.

6. SISTEMA LINFÁTICO

O sistema linfático é uma rede complexa de órgãos linfóides (baço, tonsilas

palatinas, tonsila faríngea, timo e medula óssea*), linfonodos, ductos linfáticos, tecidos

linfáticos, capilares linfáticos e vasos linfáticos que produzem e transportam o fluido linfático

(linfa) dos tecidos para o sistema circulatório, ou seja, recolhem o líquido tissular que não

retornou aos capilares sangüíneos, filtrando-o e reconduzindo-o à circulação sangüínea. O

sistema linfático também é um importante componente do sistema imunológico.

Possui três funções interrelacionadas:

Remoção dos fluidos em excesso dos tecidos corporais;

Absorção dos ácidos graxos e transporte destes para o sistema circulatório;

Produção linfócitos, monócitos e plasmócitos.

Cerca de 2/3 de toda a linfa derivam do fígado e do intestino e é coletada por

difusão. Sua composição é semelhante à do sangue: contém glóbulos brancos, dos quais

99% são linfócitos, porém não possui hemácias. No sangue os linfócitos representam cerca

de 50% do total de glóbulos brancos. A linfa é transportada pelos vasos linfáticos em sentido

unidirecional e filtrada nos linfonodos (também conhecidos como nódulos linfáticos ou

gânglios linfáticos). Após a filtragem, é lançada no sangue, desembocando nas grandes

veias torácicas.

6.1. CIRCULAÇÃO LINFÁTICA

O deslocamento da linfa ocorre devido a contrações dos músculos e da pulsação

das artérias próximas e do movimento das extremidades. Todos os vasos linfáticos têm

válvulas unidirecionadas que impedem o refluxo, semelhante à circulação venosa. Após ser

absorvido, o fluido é então transportado progressivamente para vasos linfáticos maiores

acumulando-se no ducto linfático direito, linfa advinda da parte direita superior do corpo,

e no duto torácico, linfa do restante do corpo. Estes ductos, por fim, desembocam no

sistema circulatório na veia subclávia esquerda e direita.

6.1.1. DUCTO LINFÁTICO DIREITO

Esse ducto corre ao longo da borda medial do músculo escaleno anterior na base

do pescoço e termina na junção da veia subclávia direita com a veia jugular interna direita.

Seu orifício apresenta duas válvulas semilunares, que evitam a passagem de sangue venoso

para o ducto. Esse ducto recolhe a linfa do lado direito da cabeça, do pescoço e do tórax,

do membro superior direito, do pulmão direito, do lado direito do coração e da face

diafragmática do fígado.

6.1.2. DUCTO TORÁCICO

Estende-se da segunda vértebra lombar para a base do pescoço. O ducto inicia

no abdome por uma dilatação, a cisterna do quilo, se interioriza no tórax através do hiato

aórtico do diafragma e ascende entre a aorta e a veia ázigos. Por fim desemboca no

ângulo formado pela junção da veia subclávia esquerda com a veia jugular interna

esquerda.

Page 22: Material Didático LAC (2014)

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*Alguns autores consideram a medula óssea pertencente ao sistema linfático por

produzirem os linfócitos.

Parte II

Fisiologia

1. MÚSCULO CARDÍACO

O músculo cardíaco é um músculo estriado com membranas celulares separando

uma célula da outra, chamadas discos intercalados, que se fundem entre si formando as

junções gap. Essas junções caracterizam o miocárdio como sincício, uma vez que elas

permitem uma difusão quase totalmente livre de íons e potenciais elétricos de uma célula

para outra. Esta conexão entre todas as células faz com que quando uma recebe um

potencial de ação, este se propaga célula a célula.

Fonte: GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro,

Elsevier Ed., 2006.

Há três tipos principais de músculos cardíacos, o atrial, o ventricular e as fibras

excitatórias. Existem dois sincícios, o atrial e o ventricular, separados por tecido conjuntivo

fibroso, o esqueleto fibroso do coração, que circunda as valvas atrioventriculares e,

geralmente, impede a passagem do potencial de ação entre os dois sincícios. A passagem

do potencial elétrico entre os sincícios ocorre então através do sistema de fibras

especializadas pelo feixe de condução, o feixe atrioventricular. Este funcionamento permite

que os átrios se contraiam pouco antes da contração ventricular para o funcionamento do

coração como bomba.

1.1. POTENCIAIS DE AÇÃO NO MÚSCULO CARDÍACO

O potencial de ação no músculo cardíaco é originado pela abertura de canais de

sódio rápidos, bem como no músculo esquelético, com a diferença que no coração é

chamado de potencial de ponta ou Spike. Há outra população de canais, os canais de

cálcio-sódio ou cálcio-lentos, que se diferem por ter uma abertura mais lenta e

permanecerem abertos por vários décimos de segundo, estes não estão presentes em

músculos esqueléticos. Então quando estes dois canais se abrem durante um potencial de

ação a permeabilidade da membrana da célula miocárdica diminui aos íons potássio por

causas ainda não definidas, provavelmente pela excessiva entrada de cálcio na célula.

Page 23: Material Didático LAC (2014)

21

Esses eventos resultam em um período denominado platô, em que esta redução da

permeabilidade ao potássio impede a saída deste íon durante o período, impedindo que

o potencial de ação retorne para o nível basal (-85mV).

O platô chega ao final após aproximadamente 0,2 – 0,3 segundo, quando os canais

de cálcio-lentos se fecham e o influxo destes íons cessa, logo, a permeabilidade a potássio

aumenta rapidamente e ocorre uma rápida perda de potássio, o que provoca o retorno

imediato ao nível basal, cessando o potencial de ação.

Fonte: GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro,

Elsevier Ed., 2006.

Bem como todos os tecidos excitáveis, o músculo cardíaco é refratário à

reestimulação durante o potencial de ação, sendo que o impulso cardíaco normal não

pode reexcitar uma área já excitada. O período refratário ventricular normal dura

aproximadamente 0,25 – 0,3 segundo, tempo equivalente ao do platô. Após este período

existe o período refratário relativo em que é mais difícil excitar o músculo em relação às

condições normais, mas ainda pode ser excitado por impulso mais intenso. Os átrios

também apresentam um período refratário, mas é mais curto que o ventricular, sendo

equivalente a 0,15 segundo.

Page 24: Material Didático LAC (2014)

22

Fonte: GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro,

Elsevier Ed., 2006.

1.1.1. ACOPLAMENTO EXCITAÇÃO-CONTRAÇÃO

O acoplamento excitação-contração é o mecanismo pelo qual o potencial de

ação provoca a contração das miofibrilas. Este mecanismo no miocárdio é semelhante ao

dos músculos esqueléticos, o potencial de ação se difunde para dentro da fibra muscular,

passando pelas membranas dos túbulos transversos (T). O potencial dos túbulos T age nas

membranas dos túbulos sarcoplasmáticos longitudinais, que vão liberar cálcio no

sarcoplasma muscular. Os íons cálcio se dispersam dentro das miofibrilas e catalisam

reações que vão causar o deslizamento dos filamentos de miosina e actina um contra o

outro, produzindo então a contração muscular.

O miocárdio apresenta particularidades neste mecanismo que diferem dos

músculos esqueléticos, pois além dos íons cálcio liberados do retículo sarcoplasmático para

o sarcoplasma, grande quantidade de cálcio adicional – proveniente do líquido

extracelular interstício cardíaco – se difunde para o sarcoplasma partindo dos túbulos T no

momento do potencial de ação. Esse cálcio adicional é extremamente importante para a

força da contração miocárdica, uma vez que o retículo sarcoplasmático do miocárdio é

25 vezes menos desenvolvido que do músculo esquelético. Para compensar, os túbulos T

miocárdicos possuem diâmetro cinco vezes maior, equivalendo a 25 vezes o volume dos

túbulos T de músculos esqueléticos.

Ao término do platô, o influxo de íons cálcio para o miocárdio interrompe-se

bruscamente e são rapidamente bombeados para o retículo plasmático e para o líquido

extracelular dos túbulos T. Então a contração cessa até que ocorra um novo potencial de

ação.

1.2. CICLO CARDÍACO

Ciclo cardíaco é o conjunto de eventos que ocorre entre o início de um batimento

e o início do próximo e inclui quatro eventos mecânicos principais: sístole atrial, diástole

atrial, sístole ventricular e diástole ventricular. Cada ciclo inicia pela geração espontânea

de potencial de ação no nodo sinusal, este se difunde para ambos os átrios, depois para o

feixe atrioventricular e por último, para os ventrículos. Esta disposição do sistema de

condução resulta em um retarde de mais de 0,1 segundo na passagem do impulso

cardíaco dos átrios para os ventrículos, permitindo uma contração atrial mais precoce do

que a ventricular, permitindo que o bombeamento de sangue para os ventrículos ocorra

antes da contração ventricular.

Para o compreendimento do ciclo cardíaco é necessária a atenta análise do

diagrama abaixo, juntamente com o estudo teórico.

Page 25: Material Didático LAC (2014)

23

Átrios como bombas de escorva

Em condições normais, o sangue flui continuamente das grandes veias para os

átrios e 80% do sangue dos átrios flui para os ventrículos antes da contração atrial. Por este

motivo, os átrios funcionam apenas como bombas de escorva (primer pump) produzindo

um enchimento ventricular adicional, o que melhora a eficácia do bombeamento

ventricular por, no máximo, 20%. Considerando-se que o coração tem capacidade de

bombear de 300% a 400% a mais de sangue do que o necessário nas condições do corpo

em repouso, quando os átrios param de funcionar, a diferença será dificilmente notada

durante o repouso.

1.2.1. PRESSÃO ATRIAL

Onda a: é causada pela sístole atrial. A pressão do átrio direito aumenta por 4-6

mmHg e do esquerdo sobe por 7-8 mmHg.

Onda c: surge quando os ventrículos começam a se contrair. É causada

principalmente pelo abaulamento das valvas atrioventriculares em direção aos átrios

devido a pressão crescente nos ventrículos, além do ligeiro refluxo de sangue para os átrios

no início da contração ventricular.

Onda v: surge próximo ao final da contração ventricular devido o lento fluxo de

sangue das veias para os átrios enquanto as valvas AV estão fechadas durante a contração

ventricular. Quando essa contração termina e as valvas AV se abrem, o sangue atrial

armazenado flui para os ventrículos e esta onda desaparece.

Ventrículos como bombas

1.2.2. ENCHIMENTO DOS VENTRÍCULOS

Page 26: Material Didático LAC (2014)

24

Período de enchimento rápido ventricular: é o primeiro período de enchimento dos

ventrículos, que ocorre aproximadamente durante o primeiro terço da diástole. O

enchimento ocorre porque durante a sístole ventricular, como as valvas AV estão fechadas,

grande quantidade de sangue se acumula tanto no átrio esquerdo quanto no direito.

Então, quando a sístole ventricular termina, as pressões ventriculares diminuem e as pressões

atriais moderadamente altas forçam as valvas AV a se abrirem, permitindo o fluxo de

sangue dos átrios para os ventrículos.

Segundo terço da diástole: durante este período, pequena quantidade de sangue

flui diretamente das veias para os ventrículos, já que as valvas semilunares e

atrioventriculares encontram-se abertas.

Último terço diastólico: ocorre a contração atrial que dá um impulso adicional de

20% do fluxo sanguíneo para o enchimento ventricular total.

1.2.3. ESVAZIAMENTO VENTRICULAR DURANTE A SÍSTOLE

Período de contração isovolumétrica: consiste no período imediatamente após o

início da contração ventricular em que a pressão ventricular sobe abruptamente, fazendo

as valvas AV fecharem. É necessário mais 0,02 a 0,03 segundo para a pressão ventricular ser

suficiente para abrir as válvulas semilunares contra a pressão arterial aórtica e pulmonar.

Este período de contração ventricular sem esvaziamento, consiste na contração

isovolumétrica ou isométrica, uma vez que a tensão muscular aumenta sem o

encurtamento das fibras musculares.

Período de ejeção: durante a contração isovolumétrica a pressão no interior do

ventrículo esquerdo aumenta até pouco acima de 80 mmHg e a do direito pouco acima

de 8 mmHg, essa pressão é suficiente para forçar a abertura das valvas semilunares. Neste

instante, o sangue começa a ser ejetado nas artérias, consistindo no período de ejeção.

Este período se divide em período de ejeção rápida, que consiste no primeiro terço em que

ocorre 70% do esvaziamento ventricular, e no período de ejeção lenta, que consiste nos

demais dois terços em que ocorre 30% do esvaziamento dos ventrículos.

Período de relaxamento isovolumétrico: com o final da sístole, as pressões

intraventriculares diminuem rapidamente e as pressões das artérias distendidas empurram

o sangue de volta para os ventrículos, causando o fechamento das valvas semilunares.

Então, durante mais de 0,03 a 0,06 segundo, o músculo continua a relaxar sem alteração

de volume, consistindo no período de relaxamento isométrico em que as pressões

intraventriculares diminuem rapidamente para os valores diastólicos.

Volume diastólico final: é o volumefinal de enchimento normal dos ventrículos em

média de 110 a 120 mililitros.

Volume sistólico final: corresponde ao volume restante no ventrículo após a sístole.

Volume de ejeção: corresponde ao volume diastólico final subtraído do volume

sistólico final em cada batimento cardíaco.

1.2.4. FUNCIONAMENTO DAS VALVAS

As valvas tricúspide e mitral evitam o refluxo de sangue dos ventrículos para os átrios

durante a sístole, já as valvas pulmonar e aórtica, impedem o refluxo da aorta e artérias

pulmonares para os ventrículos durante a diástole. Pode-se concluir que a função das

valvas é direcionar o trajeto sanguíneo das cavidades cardíacas e destas para as grandes

artérias. Estas valvas têm funcionamento passivo, uma vez que seu fechamento depende

de um gradiente de pressão retrógrada que força o sangue de volta e sua abertura

depende do gradiente de pressão para diante que leva o sangue à frente.

Page 27: Material Didático LAC (2014)

25

A diferença entre o funcionamento das AV e das semilunares é que as AV, como

são finas e membranosas, não requerem pressão retrógrada para o fechamento. Já as

semilunares, muito mais pesadas, requerem um fluxo retrógrado rápido por alguns

milissegundos. Além disso, as valvas semilunares possuem abertura menor,

consequentemente o fluxo é bem mais rápido, por isso, são constituídas por tecido fibroso

especialmente forte e flexível para suportar o estresse físico adicional.

1.2.5. MÚSCULOS PAPILARES

Os músculos papilares, ligados pelas cordas tendíneas aos folhetos das valvas AV,

contraem-se juntamente com a parede ventricular. Sua contração apenas puxa as

extremidades das valvas em direção aos ventrículos, evitando que sejam muito abauladas

em direção aos átrios durante a contração ventricular. Deixa-se claro que os músculos

papilares não ajudam as valvas a se fechar.

1.2.6. ELETROCARDIOGRAMA E CICLO CARDÍACO

No eletrocardiograma existem voltagens elétricas geradas pelo coração que se

expressam em ondas, as ondas P, Q, R, S e T, como na figura.

Onda P: representa a disseminação da despolarização pelos átrios causa a onda

P, sendo seguida pela contração atrial.

Ondas QRS: resultantes da despolarização elétrica dos ventrículos, que inicia a

contração ventricular e faz com que a pressão ventricular comece a aumentar. Pode-se

concluir, então, que o complexo QRS inicia-se pouco antes do início da sístole ventricular.

Onda T: representa a repolarização ventricular, quando estas fibras começam a

relaxar. Esta onda surge pouco antes do final da sístole ventricular.

Pressão Aórtica

A entrada de sangue nas artérias após a sístole faz com que as paredes arteriais

sejam distendidas e a pressão suba para, aproximadamente, 120 mmHg. Esta pressão

aórtica corresponde à pressão sistólica. Ao final da sístole, as paredes elásticas das artérias

mantêm a pressão elevada intrarterial mesmo durante a diástole. No decorrer deste

mecanismo, há a incisura na curva da pressão aórtica causada pelo breve período de fluxo

sanguíneo retrógrado imediatamente antes do fechamento valvar.

Page 28: Material Didático LAC (2014)

26

Após o fechamento da valva aórtica, o sangue armazenado nas artérias

distendidas flui continuamente para os vasos periféricos fazendo com que a pressão na

aorta caia lentamente durante a diástole. Neste momento a pressão aórtica cai para,

aproximadamente 80 mmHg, correspondente à pressão diastólica.

As curvas de pressão do ventrículo direito e na artéria pulmonar são semelhantes,

porém seus valores de pressões apenas um sexto dos equivalentes esquerdos.

1.3. PRODUÇÃO DE TRABALHO PELO CORAÇÃO

Trabalho sistólico do coração: quantidade de energia que o coração converte em

trabalho a cada batimento ao bombear sangue para as artérias.

Trabalho sistólico-minuto: quantidade total de energia convertida em trabalho em

1 minuto.

A produção de trabalho pelo coração se divide em dois componentes, como

descrito a seguir. O trabalho volume-pressão ou trabalho externo é usado para propelir o

sangue do sistema venoso (baixas pressões) para o arterial (altas pressões), consumindo a

maior quantidade de energia. O segundo componente é a energia cinética do fluxo

sanguíneo que consome quantidade mínima (em condições normais corresponde a

aproximadamente 1%) de energia para acelerar o sangue para vencer a inércia até sua

velocidade de ejeção pelas valvas aórtica e pulmonar.

Como a diferença da pressão diastólica dos dois ventrículos é de seis vezes, a

produção de energia pelo ventrículo direito tem, normalmente, um sexto do valor do

correspondente esquerdo.

Bombeamento ventricular

Este diagrama é útil para explicar principalmente a mecânica do bombeamento

ventricular esquerdo.

Curva de pressão diastólica: determina-se pelo enchimento do coração com

volumes progressivamente crescentes de sangue, medindo-se a pressão diastólica

imediatamente antes do início da contração ventricular.

Curva de pressão sistólica: determina-se pela medida da pressão sistólica durante

a contração ventricular para cada volume de enchimento.

Ao observar o gráfico, nota-se que a pressão diastólica aumenta bruscamente após

o volume ventricular de 150 mililitros, o que ocorre principalmente devido ao pericárdio estar

praticamente em seu volume limite e também pois o tecido fibroso cardíaco não se

distenderá mais.

1.3.1. DIAGRAMA VOLUME-PRESSÃO

As linhas vermelhas do gráfico formam o diagrama volume-pressão, que se divide

em fases.

Page 29: Material Didático LAC (2014)

27

Fase I – Período de enchimento: inicia com o volume sistólico final, ou seja, a

quantidade de sangue remanescente no coração após a sístole anterior. Então, à medida

que o sangue venoso flui do átrio esquerdo para o ventrículo, o volume ventricular sobe até

o final da fase, correspondente ao volume diastólico.

Fase II – Período de contração isovolumétrica: como anteriormente mencionado,

neste período o volume não se altera decorrente do fato de todas as valvas encontrarem-

se fechadas. O que ocorre é um aumento da pressão até se igualar à pressão aórtica.

Fase III – Período de ejeção: a pressão sistólica aumenta ainda mais uma vez que o

ventrículo continua se contraindo, ao mesmo tempo que o volume diminui, pois a valva

aórtica já está aberta permitindo a fluência de sangue do interior do ventrículo para a

aorta.

Fase IV – Período de relaxamento isovolumétrico: a válvula aórtica encontra-se

fechada e a pressão ventricular retorna ao valor da pressão diastólica, ocorrendo uma

diminuição da pressão intraventricular sem alteração de volume.

Observa-se que a área WE representa a produção efetiva de trabalho externo do

ventrículo durante o ciclo de contração. Conclui-se, portanto, que quando há grandes

quantidades de sangue o diagrama de trabalho se alarga.

1.3.2. PRÉ E PÓS-CARGA

São os conceitos que especificam o grau de tensão muscular do coração.

Pré-carga: pressão diastólica final quando o ventrículo está cheio.

Pós-carga: corresponde à pressão sistólica, ou seja, a pressão que deverá ser

exercida pelo ventrículo para ejetar o sangue nas artérias.

1.4. REGULAÇÃO DO BOMBEAMENTO CARDÍACO

Durante o repouso, o coração bombeia cerca de 4 a 6 litros de sangue por minuto.

Quando há exercício intenso, pode ser necessário que o coração bombeie de quatro a

sete vezes essa quantidade, assim, faz-se necessário mecanismos de regulação do volume

bombeado. Os mecanismos básicos são a regulação cardíaca intrínseca em resposta às

variações no aporte do volume sanguíneo em direção ao coração, o controle da

frequência cardíaca e da força de bombeamento pelo sistema nervoso autonômico.

Regulação intrínseca

Page 30: Material Didático LAC (2014)

28

A quantidade de sangue bombeada para o coração é determinada quase

inteiramente pelo retorno venoso, então o coração bombeia esta quantidade para as

artérias para completar o circuito. Essa capacidade intrínseca do coração corresponde

principalmente ao mecanismo de Frank-Starling, que basicamente consiste no conceito de

quanto mais houver distensão no miocárdio durante o enchimento (dentro de limites

fisiológicos), maior será a força da contração e maior será a quantidade de sangue

bombeada para a aorta.

Então, quando a quantidade de sangue adicional chega aos ventrículos, o

miocárdio é mais distendido, isto faz os filamentos de miosina e actina ficarem dispostos em

um ponto mais próximo do grau ideal de superposição para a geração de força, havendo

a otimização do enchimento ventricular e, automaticamente, o bombeamento de mais

sangue para as artérias. Esta propriedade de músculo distendido se contrair com maior

produção de trabalho até seu comprimento ideal é característica de todos os músculos

estriados.

Além deste mecanismo, há outro que atua de maneira mais modesta. Este

corresponde ao aumento da frequência cardíaca em 10% a 20% causada pela distensão

da parede atrial.

1.4.1. INERVAÇÃO SIMPÁTICA E PARASSIMPÁTICA

O coração é inervado por nervos simpáticos e parassimpáticos, como será descrito

posteriormente.

Íons Potássio e Cálcio

Efeito dos íons potássio: o excesso de potássio nos líquidos extracelulares pode

ocasionar uma dilatação e flacidez cardíaca, além de diminuição da frequência dos

batimentos. Essa quantidade exagerada pode bloquear a condução do impulso cardíaco

dos átrios para ventrículos pelo feixe atrioventricular. Esses efeitos resultam, em parte, do

excesso de potássio diminuir o potencial de repouso das membranas miocárdicas,

diminuindo o potencial da membrana e a intensidade do potencial de ação, criando

contrações do coração progressivamente mais fracas. A elevação da concentração de

apenas 8 a 12 mEq/l pode provocar alterações fatais.

Efeito dos íons cálcio: o excesso de cálcio gera efeitos quase opostos aos dos íons

potássio, induzindo a produção de contrações cardíacas espásticas. Esse mecanismo se dá

pelo efeito direto dos íons cálcio na deflagração da contração cardíaca. Por outro lado, a

diminuição acentuada de íons cálcio causa flacidez cardíaca, semelhante ao excesso de

potássio. Este efeito é mais raro decorrente da manutenção dos níveis de cálcio sanguíneos,

mantidos dentro de faixa bem estreita em condições normais.

Temperatura

O aumento da temperatura corporal, como ocorre na febre, provoca um aumento

na frequência cardíaca que pode chegar até o dobro do normal. Este efeito ocorre

provavelmente pelo aumento da permeabilidade das membranas miocárdicas aos íons

que controlam a frequência cardíaca provocado pelo calor, com resultante aceleração

do processo de auto estimulação. Ao contrário, a diminuição da temperatura provoca

queda da frequência.

A força contrátil do coração é melhorada pelo aumento de temperatura mas

apenas temporariamente, como ocorre no exercício físico. Quando este aumento da

temperatura é prolongado, há exaustão dos sistemas metabólicos, podendo levar a

fraqueza.

Page 31: Material Didático LAC (2014)

29

Conclui-se, então, que o funcionamento ótimo do coração depende do controle

adequado da temperatura corporal.

1.5. EXCITAÇÃO RÍTMICA DO CORAÇÃO

O coração é provido de um sistema excitatório e condutor especializado que gera

impulsos elétricos rítmicos causando contrações rítmicas miocárdicas e conduz os impulsos

por todo o coração. Este sistema permite que os átrios se contraiam cerca de um sexto de

segundo antes dos ventrículos, mantendo assim o bom funcionamento da bomba

cardíaca.

1.5.1. NODO SINUSAL

O nó sinoatrial ou nodo S-A, no qual é gerado o impulso elétrico, é uma faixa

pequena, achatada e elipsoide de músculo cardíaco especializado, situado na parede

póstero-lateral superior do átrio direito, imediatamente abaixo e pouco lateral à abertura

da veia cava superior. As fibras do nó sinoatrial se conectam diretamente às fibras

musculares atriais de forma que quando um potencial de ação é gerado no nodo, este se

difunde imediatamente para a parede muscular atrial.

1.5.1.1. MECANISMOS DE RITMICIDADE DO NODO SINUSAL

Na fibra sinusal, o potencial de repouso da membrana está em torno de -55 a -60

mV, mais positiva que as fibras ventriculares que mantém em torno de -85 a -90 mV durante

o repouso. Essa menor negatividade provém da maior permeabilidade ao cálcio e ao sódio

que neutralizam boa parte da negatividade intracelular.

Por conta deste valor de potencial de repouso, os canais rápidos de sódio

permanecem inativados, pois toda vez que estiver menos negativo que -55 mV as

comportas de inativação se fecham e assim permanecem, mantendo estes canais abertos.

Então, apenas os canais de cálcio lentos podem se abrir para deflagrar um potencial de

ação, por conta disto, o potencial neste loca é mais lento bem como o retorno ao potencial

de repouso.

O líquido extracelular por fora da fibra nodal mantém uma alta concentração de

íons sódio e, decorrente dos canais rápidos de sódio estarem abertos, o influxo deste íon

provoca lento aumento do potencial de membrana de repouso. Quando o potencial

atinge o limiar de voltagem, correspondente a cerca de -40mV, os canais de cálcio lentos

são ativados e assim surge o potencial de ação. Este mecanismo permite a autoexcitação

da fibra sinusal.

Page 32: Material Didático LAC (2014)

30

A despolarização dura apenas certo tempo decorrente de alguns mecanismos

inerentes ao nodo, citados a seguir. Após cerca de 100 a 150 milissegundos após a abertura

dos canais de cálcio lentos, estes se fecham ao mesmo tempo que os canais de potássio

se abrem, dessa forma, o influxo de íons positivos cessa (cálcio e sódio) e ocorre o efluxo de

potássio. Então, os canais de potássio permanecem por mais alguns décimos de segundos

abertos permitindo a saída de cargas positivas do interior da célula, gerando um excesso

de negatividade (-55 a -60 mV) dentro da fibra chamado hiperpolarização.

Pelos próximos décimos de segundo após o fim do potencial, cada vez mais canais

de potássio vão se fechando e o influxo de íons sódio e cálcio para dentro da célula

ultrapassa o efluxo de potássio, fazendo com que o potencial de repouso se eleve para

atingir novamente o limiar de descarga do potencial, fazendo com que todo o processo se

reinicie.

1.5.2. VIAS INTERNODAIS

Como citado anteriormente, as fibras do nodo sinusal são conectadas ao tecido

muscular atrial, de forma que os potenciais de ação originados no nodo S-A se propagam

por toda a massa muscular atrial até o nodo atrioventricular. Para a propagação mais

rápida de potencial, existem faixas no tecido atrial, como a banda interatrial anterior que

alcança o átrio esquerdo e as três vias internodais (anterior, meda e posterior), semelhantes

às fibras de Purkinje, que levam o potencial ao nodo A-V.

Page 33: Material Didático LAC (2014)

31

1.5.3. NODO ATRIOVENTRICULAR

O nodo atrioventricular localiza-se na parede posterior do átrio direito,

imediatamente posterior à valva tricúspide e possui fibras das vias internodais atriais

aferentes anteriormente a sua formação e, posteriormente, o feixe A-V. O nodo

atrioventricular e suas fibras condutoras adjacentes são os responsáveis pelo retardo da

transmissão do impulso dos átrios para os ventrículos.

A condução lenta nas fibras transicionais, nodais e do feixe A-V é decorrente da

pequena quantidade de junções gap entre as sucessivas células, criando certa resistência

ao potencial de ação, de forma que a condução é mais lenta sucessivamente.

1.5.4. SISTEMA DE PURKINJE

A condução do nodo A-V, pelo feixe A-V para os ventrículos é feita pelas fibras de

Purkinje, sendo a única passagem pela barreira fibrosa que separa átrios e ventrículos. Após

atravessar o tecido fibroso cardíaco, o feixe A-V se direciona em direção ao ápice do

coração e se divide após 5-15 milímetros nos ramos direito e esquerdo. Cada ramo se dirige

ao ápice e vão se dividindo em feixes cada vez menores e, assim, dispersam-se lateralmente

em torno de cada câmara ventricular em direção à base cardíaca. A partir deste ponto,

as fibras de Purkinje penetram o miocárdio cerca de um terço de sua espessura e ficam

contínuas com as fibras miocárdicas.

As fibras próximas ao A-V na parte do esqueleto fibroso cardíaco são mais

calibrosas, conduzindo potenciais na velocidade de 1,5 a 4 m/s, seis vezes maior que a do

músculo ventricular, o que permite a transmissão quase instantânea para o restante do

ventrículo.

A transmissão rápida dos potenciais de ação pelas fibras de Purkinje se dá pela alta

permeabilidade das junções comunicantes nos discos intercalados, permitindo uma

passagem fácil de íons. Além disso, as fibras de Purkinje contem poucas miofibrilas,

significando que pouco ou nada se contraem durante a transmissão do impulso.

A transmissão no feixe A-V é unidirecional, sendo incapaz de conduzir

retrogradamente os potenciais de ação. Este tipo de transmissão somado ao esqueleto

fibroso cardíaco impede a passagem de potenciais de ação dos ventrículos para átrios,

exceto em situações anormais.

Page 34: Material Didático LAC (2014)

32

1.5.5. TRANSMISSÃO PELO MÚSCULO VENTRICULAR

O músculo cardíaco se enrola em espiral dupla com septos fibrosos entre as

camadas espiraladas. Então, uma vez sendo atingido a extremidade final das fibras de

Purkinje, o impulso é transmitido para o restante da massa ventricular pelas próprias fibras

musculares, passando por angulações em direção à superfície, acompanhando as espirais.

A transmissão do impulso à superfície endocárdica até a epicárdica é

aproximadamente igual ao tempo para a transmissão do impulso por toda a porção

ventricular pelo sistema de Purkinje. Assim, o tempo total de transmissão do impulso

cardíaco ventricular no coração normal é cerca de 0,06 segundo.

1.5.6. NODO SINUSAL COMO MARCA-PASSO CARDÍACO

O nodo sinoatrial é considerado o marca-passo cardíaco em condições normais

por sua auto excitação ser mais rápida que a do nodo A-V ou das fibras de Purkinje, uma

vez que o S-A atinge mais rapidamente seu limiar de auto excitação.

Qualquer parte do coração pode vir a tornar-se um marca-passo em condições

anormais, quando isto ocorre acredita-se que seja decorrente do marca-passo ectópico.

1.6. NERVOS SIMPÁTICOS E PARASSIMPÁTICOS

Os nervos parassimpáticos que inervam o coração dividem-se em parte cranial,

relacionada ao décimo par de nervos cranianos (nervo vago ou pneumogástrico), e em

parte sacral. O sistema simpático origina-se principalmente de uma dupla cadeia

ganglionar paravertebral dorsal. A inervação parassimpática é predominante nos nodos

sinoatrial e atrioventricular, distribuindo-se bem pouco para a musculatura atrial e ainda

menos para a musculatura ventricular. Já a inervação simpática distribui-se por todas as

porções do coração, principalmente para o músculo ventricular.

Page 35: Material Didático LAC (2014)

33

A estimulação vagal libera acetilcolina, este neurotransmissor atua de duas

maneiras no coração. Primeiro diminui o ritmo no nó sinoatrial, segundo lentifica a

excitabilidade das fibras atrioventriculares o que diminui a velocidade de transmissão do

impulso cardíaco para os ventrículos. Estes efeitos ocorrem, pois a acetilcolina aumenta a

permeabilidade da membrana miocárdica aos íons potássio, ocorrendo efluxo rápido

destes íons, então ocorre a hiperpolarização das fibras, o que torna estes tecidos menos

excitáveis. Quando este efeito ocorre no nodo sinusal, o potencial de repouso baixa para –

65 a – 75 mV, o que exige muito mais tempo para o potencial limiar de excitação ser

atingido. Como a inervação parassimpática distribui-se pouco para os ventrículos – onde

há geração de força da contração - , seu efeito na força de contração é uma diminuição

discreta, cerca de 20% a 30%.

A estimulação vagal reduz a frequência cardíaca geralmente até a metade, sendo

que se a estimulação for intensa pode até haver interrupção completa da excitação

rítmica sinusal ou bloqueio da transmissão pelo nodo atrioventricular. Esta interrupção dura

de 5 a 20 segundos, quando há o fenômeno de escape ventricular em que algum ponto

das fibras de Purkinje, geralmente a porção septal interventricular do feixe atrioventricular,

desenvolve ritmo próprio de 15 a 40 batimentos por minuto.

A estimulação simpática aumenta a frequência de descargas do nó sinoatrial e

aumenta a velocidade de condução e a excitabilidade em todas as partes do coração,

tendo efeitos contrários da estimulação parassimpática. Além disso, o estímulo simpático

aumenta a força da contração do miocárdio tanto atrial quanto ventricular em até o

dobro, aumentando o volume bombeado e sua pressão de ejeção. Este estímulo pode

aumentar o débito em até seu dobro ou triplo, além do aumento originado pelo mecanismo

de Frank-Starling.

Acredita-se que os efeitos da liberação de norepinefrina nas terminações nervosas

simpáticas seja o aumento da permeabilidade sódio-cálcio, o que torna o potencial mais

positivo, facilitando a chegada ao nível limiar de excitação.

2. VISÃO GERAL DA CIRCULAÇÃO, FÍSICA MÉDICA DA PRESSÃO, FLUXO E

RESISTÊNCIA.

2.1. CIRCULAÇÃO

Tem a função de suprir as necessidades dos tecidos corporais, transportar nutrientes

e hormônios, eliminar produtos do metabolismo, manter a homeostase do organismo.

Page 36: Material Didático LAC (2014)

34

Existem 2 tipos de circulação: a sistêmica (grande circulação ou circulação

periférica) e a circulação pulmonar.

2.2. TRÊS PRINCÍPIOS BÁSICOS

- A intensidade ou velocidade do fluxo sanguíneo para cada tecido corporal é

quase sempre controlada em relação às necessidades teciduais.

- O débito cardíaco (DC) é controlado principalmente pela soma de todos os fluxos

teciduais locais.

-Em geral, a pressão arterial (PA) é controlada de modo independentemente do

fluxo sanguíneo local ou DC.

2.3. CONCEITOS IMPORTANTES

2.3.1. PRESSÃO ARTERIAL

Força exercida pelo sangue contra qualquer unidade de área da parede vascular.

2.3.2. RESISTÊNCIA

Impedimento ao fluxo sanguíneo em um vaso.

2.3.3. FLUXO SANGUÍNEO

Quantidade de sangue que passa por um determinado ponto da circulação

durante certo intervalo de tempo. F= DP/R

Em um adulto em repouso é cerca de 5.000 ml/min = DC

2.3.4. FLUXO LAMINAR

Sangue flui de forma estável pelo vaso sanguíneo longo e uniforme. Se organiza em

linha corrente, com camadas de sangue equidistantes da parede do vaso.

2.3.5. FLUXO TURBULENTO

Sangue corre em todas as direções do vaso e se mistura continuamente em seu

interior.

3. DISTENSIBILIDADE VASCULAR E FUNÇÕES DOS SISTEMAS ARTERIAL E VENOSO.

3.1. Distensibilidade Vascular

Aumento do volume

Aumento da pressão X Volume original

Quanto maior a pressão nos vasos sanguíneos, maior a dilatação, menor a

resistência nos vasos, portanto: maior o fluxo sanguíneo.

As artérias devido às paredes serem mais fortes do que das veias, sua

distensibilidade equivale a 6 vezes menos distensíveis que as veias.

3.2. COMPLACÊNCIA OU CAPACITÂNCIA VASCULAR

Quantidade total de sangue que pode ser armazenada em uma determinada

região da circulação, para cada milímetro de mercúrio de aumento da pressão, ou seja:

Complacência Vascular: Aumento da pressão

Aumento da pressão

Page 37: Material Didático LAC (2014)

35

Complacência tardia ou retardada é um mecanismo importante em que a

circulação pode acomodar muito sangue adicional quando necessário. Exemplo:

Transfusão excessivamente volumosa.

Cada batimento cardíaco faz que uma nova onda de sangue chegue às artérias.

Para que o fluxo sanguíneo seja continuo, durante as sístoles e diástoles, com pulsações

muito pequenas, a complacência da árvore arterial reduz os pulsos de pressão de forma

que não ocorram pulsos quando o sangue atinge os capilares.

Em um adulto jovem saudável a pressão de pulso sistólica é cerca de 120mmHg e

a pressão de pulso diastólica cerca de 80mmHg, sendo a diferença entre esses valores

chamada de pressão de pulso, podendo essa ser afetada pelo débito sistólico cardíaco, a

complacência da árvore arterial e o caráter de ejeção durante a sístole.

3.3. PRESSÃO VENOSA CENTRAL

É a pressão no átrio direito, para onde o sangue de todas as veias sistêmicas flui. É

definida pela capacidade do coração em bombear o sangue para fora do átrio e do

ventrículo direito para os pulmões e a tendência do sangue de fluir das veias periféricas

para o átrio direito. Valor normal: 0 mmHg.

3.4. FATORES QUE AUMENTAM O RETORNO VENOSO

Aumento do volume sanguíneo;

Aumento do tônus em grandes vasos em todo corpo resultando em aumento

das pressões venosas periféricas;

A dilatação das arteríolas que diminui a resistência periférica permitindo um

rápido fluxo de sangue das artérias para as veias.

3.5. EFEITO DA PRESSÃO GRAVITACIONAL SOBRE A PRESSÃO VENOSA.

3.5.1. BOMBA VENOSA OU BOMBA MUSCULAR

Sistema de bombeamento em que certa quantidade de sangue venoso é

propelida em direção ao coração quando uma pessoa movimenta a perna ou tenciona

os músculos.

Page 38: Material Didático LAC (2014)

36

3.5.2. ARMAZENAMENTO

Mais de 60% o sangue do sistema circulatório fica nas veias e devido à grande

complacência venosa considera-se o sistema venoso como um reservatório de sangue.

Reservatórios sanguíneos específicos: Baço, fígado, grandes veias abdominais,

plexo venoso sob a pele, coração e pulmões.

4. CONTROLE LOCAL E HUMORAL DO FLUXO SANGUÍNEO

4.1. NECESSIDADES ESPECÍFICAS DOS TECIDOS EM RELAÇÃO AO FLUXO SANGUÍNEO

Suprimento de oxigênio aos tecidos;

Suprimento de nutrientes (aminoácidos, glicose e ác. graxos)

Remoção de dióxido de carbono dos tecidos;

Remoção de íon hidrogênio dos tecidos;

Manutenção de concentrações adequadas de outros íons;

Transporte de hormônios e outras substâncias para diversos tecidos;

Controle de temperatura corporal (pele);

Excreção de produtos do metabolismo corporal (rim).

O fluxo sanguíneo para cada tecido é usualmente mantido no nível mínimo

suficiente para suprir as suas necessidades.

4.2. O CONTROLE DO FLUXO SANGUÍNEO É DIVIDIDO EM DUAS FASES

1. Controle agudo: realizado por meio de rápidas variações da vasodilatação

ou da vasocontrição local das arteríolas, metarteríolas e esfícteres pré-

capilares, ocorrendo em segundos ou minutos para permitir a manutenção

muito rápida do fluxo sanguíneo tecidual local apropriado.

2. Controle a longo prazo: variações devido ao aumento ou diminuição das

dimensões físicas e no número de vasos sanguíneos que suprem os tecidos,

sendo lentas e controladas em dias meses ou anos. Em geral resultam em

melhor controle do fluxo sanguíneo em proporção as necessidades

teciduais.

4.2.1. CONTROLE AGUDO DO FLUXO SANGUÍNEO DEPENDE DOS SEGUINTES FATORES

1. Efeito do metabolismo tecidual sobre o fluxo sanguíneo local: o aumento de

8 vezes do metabolismo aumenta agudamente o fluxo sanguíneo em 4

vezes.

2. Alteração da disponibilidade de oxigênio: grandes altitudes, pneumonia,

intoxicação por monóxido de carbono ou cianeto, sendo que nessas

condições ocorre aumento do fluxo sanguíneo baseado nas teorias da

vasodilatação e da falta de oxigênio.

3. Alteração na disponibilidade de outros nutrientes como glicose, aminoácidos

ou ácidos graxos, complexo de vitamina B.

4. Hiperemia reativa: quando a irrigação sanguínea para um tecido é

bloqueada pelo período de alguns segundos a uma hora ou mais, e então é

desbloqueada, o fluxo sanguíneo aumenta imediatamente.

Page 39: Material Didático LAC (2014)

37

5. Hiperemia ativa: quando qualquer tecido se torna muito ativo, a intensidade

do fluxo sanguíneo aumenta. Ex: músculo durante o exercício.

6. Auto-regulação do fluxo sanguíneo quando a PA é variada sendo baseada

na teoria metabólica e teoria miogênica.

7. Mecanismo especiais em órgãos específicos como nos rins em que o fluxo

sanguíneo depende principalmente de um mecanismo referido como

feedback tuberoglomerular e no cérebro em que o fluxo sanguíneo é

controlado pela concentração de oxigênio tecidual, de dióxido de carbono

e de íon de hidrogênio.

8. Mecanismo de dilatação de artérias proximais quando o fluxo sanguíneo

microvascular aumenta: fator de relaxamento derivado do endotélio, óxido

nítrico.

4.2.2. CONTROLE A LONGO PRAZO DO FLUXO SANGUÍNEO DEPENDE DOS SEGUINTES

FATORES

1. Alteração da vascularização dos tecidos, se o metabolismo em certo tecido

é aumentado por um período prolongado à vascularização aumenta e se o

metabolismo for reduzido à vascularização diminui, sendo que dessa forma

ocorre uma reconstrução física da vasculatura do tecido para atender as

demais demandas dos tecidos.

2. O papel do oxigênio, como exemplo, a vascularização aumentada em

tecidos de animais que vivem a altas altitudes e em bebês prematuros

mantidos em tendas de oxigênio. O excesso de oxigênio também provoca

alterações como a interrupção quase imediata do crescimento vascular da

retina nos olhos de bebe prematuros.

3. Fator de crescimento do endotélio vascular, fator de crescimento de

fibroblastos e angiogenina: Presume-se que a deficiência de oxigênio

tecidual e/ou de outros nutrientes leva a formação de fatores de

crescimento vascular (angiogênicos).

4. Necessidade máxima de fluxo sanguíneo e não pela necessidade média.

5. Desenvolvimento de uma circulação colateral, quando uma artéria ou veia

é bloqueada em praticamente qualquer tecido do corpo. É desenvolvida

pela rápida dilatação neurogênica e metabólica seguido cronicamente

pela multiplicação de novos vasos ao longo de semana ou meses.

4.3. CONTROLE HUMORAL DA CIRCULAÇÃO

É realizado por substâncias secretadas ou absorvidas dos líquidos corporais como

hormônios e íons. Dentre os agentes vasocontritores encontram a norepinefrina e

epinefrina, angiotensina ll, vasopressina e endotelina que é potente vasocontritor

em vasos sanguíneos lesados. Entre os vasodilatadores encontra-se a bradicinina e

a histamina.

Page 40: Material Didático LAC (2014)

38

O controle vascular por íons e outros fatores químicos, como os íons cálcio

(vasocontrição), potássio, magnésio, hidrogênio, ânions acetato e citrato e o

dióxido de carbono que são vasodilatadores.

5. REGULAÇÃO NERVOSA DA CIRCULAÇÃO

O controle nervoso da circulação tem funções mais globais como à redistribuição

do fluxo sanguíneo para diferentes áreas do corpo, aumentando ou diminuindo a atividade

de bombeamento do coração e especialmente realizando o controle muito rápido da PAS.

O componente mais importante na regulação da circulação é o sistema nervoso

simpático enquanto que o sistema nervoso parassimpático contribui especialmente na

regulação da função cardíaca.

5.1. O SISTEMA SIMPÁTICO

Tem origem tóraco-lombar, seguem pelas cadeias simpáticas situadas ao lado da

coluna vertebral e vão para a circulação por meio de duas vias: Através de nervos

simpáticos específicos que inervam principalmente a vasculatura das vísceras intestinais e

do coração. Há também a via que segue quase imediatamente para os segmentos

periféricos dos nervos espinhais, distribuídos para a vasculatura das áreas periféricas.

5.1.1. INERVAÇÃO SIMPÁTICA DAS PEQUENAS ARTÉRIAS E DAS ARTERÍOLAS

Aumenta a resistência do fluxo sanguíneo, portanto, diminui a velocidade do fluxo

nos tecidos.

5.1.2. INERVAÇÃO SIMPÁTICA DE VASOS MAIORES (VEIAS)

Diminui o volume do vaso, impulsiona o sangue para o coração e dessa forma

regula o bombeamento cardíaco.

5.1.3. ESTIMULAÇÃO SIMPÁTICA

Aumenta a frequência cardíaca, a força e o volume de bombeamento,

aumentando dessa forma a atividade cardíaca.

5.1.4. Sistema vasoconstrictor simpático

Possui efeito especialmente mais intenso nos rins, intestinos, baço, pele e menos

potente no músculo esquelético e no cérebro. O tônus vasoconstrictor simpático, ou seja,

uma despolarização repetitiva contínua dessas fibras leva a constrição parcial continua dos

vasos sanguíneos (tônus vasomotor).

5.2. ESTIMULAÇÃO PARASSIMPÁTICA

Diminui frequência cardíaca e reduz ligeiramente a contratilidade do músculo

cardíaco.

5.3. CENTRO VASOMOTOR

Situa-se no bulbo e no terço inferior da ponte. É dividido em algumas áreas

importantes como a área vasoconstritora bilateral, área vasodilatadora bilateral e área

sensorial bilateral localizada no trato solitário. O centro vasomotor em suas porções laterais

transmite impulsos excitatórios por meio das fibras nervosas simpáticas para o coração

quando há necessidade de elevar a frequência cardíaca.

Quando necessário reduzir o bombeamento cardíaco, porção medial do centro

vasomotor envia sinais para os núcleos dorsais dos nervos vagos adjacentes, que então

transmitem impulsos parassimpáticos pelos nervos vagos para o coração.

Page 41: Material Didático LAC (2014)

39

O controle do centro vasomotor por centros nervosos superiores é realizado através

de um grande número de pequenos neurônios situados ao longo da substancia reticular da

ponte, mesencéfalo e do diencéfalo, podendo excitar ou inibir o centro vasomotor. Os

neurônios da porção mais laterais e superiores da substancia reticular provocam excitação,

enquanto as porções mais mediais e inferiores causam inibição.

5.4. FUNÇÃO DO HIPOTÁLAMO

Participação especial do controle do sistema vasoconstritor. A porção póstero-

lateral do hipotálamo causa principalmente excitação, enquanto a porção anterior pode

causar excitação ou inibição leve.

5.5. FUNÇÃO DO CÓRTEX CEREBRAL

A estimulação do córtex motor excita o centro vasomotor por meio de impulsos

descentes transmitidos para o hipotálamo e daí para o centro vasomotor. As demais áreas

podem estimular ou inibir o centro vasomotor, dependendo da região estimulada e da

intensidade do estímulo.

5.6. O SISTEMA VASODILATADOR SIMPÁTICO

É devido os nervos simpáticos contêm fibras dilatadoras além das constritoras. A

principal área do cérebro que controla esse sistema é o hipotálamo anterior. Existem

dúvidas sobre o funcionamento desse sistema no controle da circulação dos seres

humanos.

Uma das funções mais importantes do controle nervoso da circulação é a

capacidade de causar rápidos aumentos da PA, através de todas as funções

vasoconstritoras e cardioaceleradoras do sistema nervoso simpático que são estimuladas

simultaneamente. Ao mesmo tempo, ocorre à inibição recíproca de sinais inibitórios vagais

parassimpáticos para o coração levando a três principais alterações:

Constrição de quase todas as arteríolas da circulação sistêmica.

As veias e os outros grandes vasos da circulação se contraem fortemente,

deslocando o sangue para fora dos vasos.

Page 42: Material Didático LAC (2014)

40

Aumento do bombeamento cardíaco através da estimulação direta pelo

sistema nervoso autônomo.

5.7. MECANISMO DO AUMENTO DA PA DURANTE O EXERCÍCIO MUSCULAR

As áreas motoras do cérebro se tornam ativas por produzir o exercício, a maior parte

do sistema de ativação reticular do tronco cerebral é ativada aumentando a estimulação

das áreas vasocontritoras e cardioaceleadoras do centro vasomotor, levando ao aumento

instantâneo da PA para se adequar a maior atividade muscular.

5.8. MECANISMO DE AUMENTO DA PA DIANTE OUTRAS CONDIÇÕES DE ESTRESSE

COMO O MEDO EXTREMO

Através da reação de alarme, a qual gera um excesso de PA, que pode suprir

imediatamente o fluxo sanguíneo em qualquer músculo do corpo.

6. MECANISMOS REFLEXOS PARA A MANUTENÇÃO DA PA NORMAL

6.1. SISTEMA (REFLEXO) BARORRECEPTOR

É desencadeado por receptores de estiramento, referidos como barorreceptores

localizados em pontos específicos das paredes de diversas grandes artérias sistêmicas,

principalmente no seio carotídeo e na parede do arco aórtico.

Sinais dos barorreceptores carotídeos são transmitidos pelos nervos de Hering

para os nervos glossofaríngeos na região cervical superior e daí para o trato

solitário, na região bulbar do tronco encefálico.

Sinais barorreceptores aórticos no arco da aorta são transmitidos pelos

nervos vagos, para o mesmo trato solitário do bulbo.

Após chegarem ao bulbo, sinais secundários inibem o centro vasomotor do

bulbo e excitam o centro parassimpático vagal.

Efeitos finais: 1- Vasodilatação das veias e das arteríolas em todo sistema

circulatório periférico. 2- Diminuição da freqüência cardíaca e da força da

Page 43: Material Didático LAC (2014)

41

contração cardíaca. Desse modo, ocorre diminuição reflexa da PA, devido

à redução da resistência periférica e do débito cardíaco.

6.2. SISTEMA DE TAMPONAMENTO PRESSÓRICO

Funciona através do sistema de barorreceptores em que os nervos dos

barorreceptores são chamados de nervos tampões e se opõem aos aumentos ou

diminuições da PA.

6.2.1. CONTROLE DA PA PELOS QUIMIORRECEPTORES CAROTÍDEOS

Os quimiorreceptores são células sensíveis a falta de oxigênio e ao excesso de gás

carbônico e de íons hidrogênio. Eles excitam fibras nervosas que, juntamente com as fibras

barorreceptoras passam pelos nervos de Hering e pelos nervos vagos, dirigindo-se para o

centro vasomotor do tronco encefálico.

Quando a PA cai abaixo do nível crítico, os quimiorreceptores são estimulados

porque a redução do fluxo sanguíneo provoca a redução dos níveis de oxigênio e o

acumulo de dióxido de carbono e íons hidrogênio que não são removidos pela circulação.

Os sinais transmitidos pelos quimiorreceptores excitam o centro vasomotor e este eleva a PA

de volta ao normal.

7. O SISTEMA INTEGRADO DE CONTROLE DA PRESSÃO.

O controle a longo prazo da PA está intimamente relacionado à homeostasia do

volume do líquido corporal. A ingestão e a eliminação de líquidos devem ser balanceadas

através de controles nervosos e hormonais e por sistemas de controle local, nos rins, que

regulam a excreção de sal e água.

7.1. Sistema rim-líquidos corporais

Quando o corpo contém muito líquido extracelular, o volume sanguíneo e a

pressão arterial se elevam. Essa elevação exerce efeito direto sobre os rins provocando a

excreção do excesso de líquido extracelular normalizando a pressão.

7.2. Diurese de pressão

A elevação da PA no ser humano, por apenas alguns milímetros de mercúrio, pode

duplicar o débito renal de água. Se a eliminação de sal for suplicada, é chamado de

natriurese de pressão.

7.3. Determinantes do nível da PA a longo prazo

Caso o débito renal de sal e água e a ingestão de sal e de água permaneçam de

modo preciso, a PAM a longo prazo permanecerá exatamente em 100mmHg, que é o nível

de pressão demonstrado pelo ponto de equilíbrio. Os dois determinantes principais do nível

da PA a longo prazo são o grau de desvio da pressão na curva do débito renal de água e

sal e o nível da linha de ingestão de água e sal.

Page 44: Material Didático LAC (2014)

42

O aumento da resistência nos vasos sanguíneos em qualquer parte do corpo,

exceto nos rins, não altera o ponto de equilíbrio no controle da pressão sanguínea. Os rins

respondem de imediato, aumento a diurese a natriurese de pressão, até que a PA retorne

ao nível do ponto de equilíbrio.

Em condições em que há aumento da resistência periférica total e da resistência

vascular intra-renal ao mesmo tempo, as funções dos rins são alteradas e podem causar

hipertensão, por deslocar a curva de função renal para um nível mais alto.

Há também circunstancias em que o aumento do volume de liquido pode elevar a

PA. Fenômeno de “auto-regulação” é o que ocorre quando um excesso de sangue flui

pelos tecidos e a vasculatura local se contrai, normalizando o fluxo sanguíneo.

7.4. INGESTÃO DE SAL E PA

Estudos experimentais mostraram que o aumento da ingestão de sal tem

probabilidade muito maior de elevar a PA que o aumento da ingestão de água.

O acúmulo de sal no corpo por meio indireto, ocorre por 2 motivos básicos:

1. Quando ocorre excesso de sal no líquido extracelular, a osmolaridade do

líquido aumenta o que estimula o centro da sede no cérebro, fazendo com

Page 45: Material Didático LAC (2014)

43

que a pessoa beba mais água, aumentando dessa forma o volume do

liquido extracelular.

2. O aumento da osmolaridade causado pelo sal em excesso no líquido

extracelular estimula também a liberação do hormônio ADH, que faz com

que os rins reabsorvam uma quantidade aumentada de água, aumentando

o volume extracelular.

7.5. SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA

Potente mecanismo de controle da pressão. A renina é uma enzima protéica

liberada pelos rins quando a PA cai para níveis muito baixos. A angiotensina faz com que

os rins retenham sal e água por dois meios, sendo:

Atuando diretamente sobre os rins para provocar retenção de água e sal, por

meio da contrição das arteríolas renais, que diminui o fluxo sanguíneo,

ocorrendo menor filtração do liquido pelos glomérulos dos túbulos. Além disso,

o lento fluxo sanguíneo reduz a pressão nos capilares peritubulares, o que

provoca rápida reabsorção do liquido. Um terceiro efeito consiste em ações

diretas da angiotensina sobre as próprias células tubulares para aumentar a

reabsorção de sal e água.

Fazendo com que as glândulas supra-renais secretem aldosterona, que por sua

vez, aumenta a reabsorção de sódio pelos túbulos renais, elevando sua

concentração no liquido extracelular, acarretando na elevação da retenção

de água e provocando dessa forma maior elevação da PA a longo prazo.

Page 46: Material Didático LAC (2014)

44

7.5.1. SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA NA MANUTENÇÃO DA PA NORMAL APESAR

DAS AMPLAS VARIAÇÕES DA INGESTÃO DE SAL

PARTE III SEMIOLOGIA

1. SEMIOLOGIA DO TÓRAX

1.1. PONTOS DE REFERÊNCIA ANATÔMICOS

Os principais pontos de referência anatômicos são:

Costelas

Espaços intercostais

Ângulo de Louis (ligeira elevação ao nível da junção do manúbrio com o

corpo do esterno

4° vértebra torácica (na atura do ângulo de Louis)

7° vértebra cervical

Clavículas

Articulação xifoesternal

Incisura supraesternal

Ângulo de charpy

Page 47: Material Didático LAC (2014)

45

1.2. LINHAS TORÁCICAS

Anterior:

Linha médio esternal: traçada verticalmente pelo centro do esterno

Linhas esternais: correm junto às bordas do esterno

Linhas hemiclaviculares: nascem no meio das clavículas

Lateral:

Linha axilar anterior: referencia são as pregas axilares anteriores

Linha axilar posterior: passa pelas pregas posteriores da axila

Linha axilar média: desce à igual distância das outras duas linhas laterais

Posterior:

Linha médio espinhal ou espondiléia: liga as apófises espinhosas das

vértebras

Linhas escapulares: passam pelo ângulo inferior das omoplatas

2. EXAME DOS PULMÕES

Semiotécnica: paciente sentado e examinador em pé movimentando-se ao redor

do paciente. Se o paciente não puder ficar sentado, o exame é feito na posição deitada.

2.1. INSPEÇÃO

2.1.1.FORMA DO TÓRAX

Varia conforme idade, sexo e biótipo. O normal é o diâmetro lateral > diâmetro

ântero posterior

Tórax chato

Pequeno diâmetro Antero posterior

As escápulas se sobressaem

É mais comum nos longilíneos

Sem significado patológico

Tórax em tonel ou Barril

Diâmetro Antero posterior grande

Pode aparecer em pessoas idosas

Causa mais comum: enfisema pulmonar

Tórax Infundibuliforme

Depressão no terço inferior do esterno

Pectus escavatum

Tórax de sapateiro

Causa mais comum: raquitismo

Quando muito acentuado pode produzir transtorno pulmonar restritivo, pode

deslocar o coração

Tórax cariniforme

Page 48: Material Didático LAC (2014)

46

Saliência ao nível do esterno

Peito de pombo, pectus carinatum ou quilha de navio

Causa mais comum: raquitismo

Não compromete a ventilação

Tórax em sino ou piriforme

Porção inferior alargada (como a boca de um sino)

Aparece nas grandes hepatoesplenomegalias e na ascite volumosa

Tórax cifótico

Devido ao encurvamento posterior da coluna torácica por defeito de

postura ou lesão de vértebra torácica

Tórax escoliótico

Assimétrico por causa do desvio lateral do segmento torácico da coluna

vertebral

Anomalia congênita (mais comum)

Tórax cifoescoliótico

Alteração cifótica com desvio lateral

Pode dar restrição grave de expansão torácica causando insuficiência

respiratória

Congênito ou secundário

Tórax instável traumático

Quando fratura várias costelas

Observa movimentos torácicos paradoxais

2.1.2. ABAULAMENTOS E DEPRESSÕES

Podem estar em qualquer região do tórax e indicam alguma lesão que aumentou

ou diminuiu uma das estruturas da parede ou de órgãos intratorácicos (ex.: aneurisma da

aorta, tumor do timo, derrame pleural...)

2.1.3. TIPO RESPIRATÓRIO

Costal superiror (+ sexo feminino): predomínio da ação dos músculos

escaleno e esternocleidomastóideo que deslocam para cima e para a

frente à parte superiro do tórax

Toracoabdominal (+ sexo masculino): predomínio da musculatura

diafragmática que movimenta a metade inferior do tórax e superior do

abdome

2.1.4. RITMO RESPIRATÓRIO

Analisa-se durante certo tempo (no mínimo 2min) a sequência, a forma e a

amplitude das incursões respiratórias.

Normal: ritmo regular de movimentos respiratórios, de profundidade mais ou

menos igual

Respiração Dispneica: dificuldade para respirar, pode ser:

- platipnéia: dificuldade em respirar de posição ereta

- ortopneia: dificuldade para respirar em posição deitada

Page 49: Material Didático LAC (2014)

47

- trepopnéia: respira melhor em decúbito lateral

Respiração de Cheyne-Stokes ou dispneia periódica: de modo cíclico, as

incursões respiratórias vão ficando cada vez mais profundas até atingir uma

amplitude máxima, e depois os movimentos começam a diminuir

gradativamente podendo chegar à apneia por alguns segundos e o

paciente volta a repetir este ciclo.

Respiração de Biot: ocorrem períodos de apneia que interrompem a

sequência das incursões respiratórias. Há variações nítidas na amplitude dos

movimentos torácicos, observando uma verdadeira arritmia respiratória.

Respiração de Kussmaul: são amplas e rápidas inspirações interrompidas por

curtos períodos de apneia, e depois ocorrem expirações profundas e

ruidosas que são sucedidas por pequenas pausas de apneia.

Respiração suspirosa: aparece uma inspiração mais profunda seguida de

uma expiração mais demorada que interrompe a sequência regular de

incursões. Suspiros passam a interromper o ritmo respiratório normal.

2.1.5. AMPLITUDE DA RESPIRAÇÃO

Profunda (aumento da amplitude)

Superficial (redução da amplitude)

2.1.6. FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA

Taquipnéia: frequência respiratória acima dos valores normais

Bradipnéia: frequência inferior aos valores normais

Apneia: parada respiratória

Eupnéia: frequência normal

2.1.7. TIRAGEM

É a leve depressão dos espaços intercostais. Os espaços intercostais apresentam

ligeira depressão durante a inspiração. É um fenômeno fisiológico, mais visível em pessoas

magras e é explicada pelo efeito da pressão atmosférica sobre os espaços intercostais no

momento em que a negatividade torácica se acentua e os músculos intercostais ainda

estão descontraídos. Quando existe obstáculo a uma via aérea, dificultando ou impedindo

a penetração do ar, a parte correspondente do pulmão não se expande. A pressão

atmosférica, ao atuar sobre a área correspondente da parede torácica, provoca uma leve

depressão dos espaços intercostais.

2.1.8. EXPANSIBILIDADE DOS PULMÕES

Page 50: Material Didático LAC (2014)

48

Deve ser avaliada pela inspeção, mas será melhor analisada pela palpação,

abordada mais para frente.

2.2 PALPAÇÃO

2.2.1. ESTRUTURA DA PAREDE TORÁCICA

A parede torácica inclui pele, tecido celular subcutâneo, músculos, cartilagens e

ossos e o estudo semiótico segue as normas indicadas na semiologia geral.

2.2.2. EXPANSIBILIDADE OU MOBILIDADE

Avalia-se separadamente a expansibilidade dos ápices e das bases.

Ápices: examinador atrás do paciente, ambas as mãos sobre as regiões

correspondentes aos ápices pulmonares, de tal modo que os polegares se toquem

levemente, em ângulo quase reto, ao nível da vértebra proeminente. Os demais

dedos do examinador, justapostos e semifletidos, exercem leve pressão sobre o

tórax. Pede ao paciente que respire fundo e então o examinador observa a

movimentação de suas mãos.

Bases: examinador atrás do paciente, com o polegar na altura das apófises

espinhosas da 9° ou 10° vértebra torácica enquanto a palma da mão e os outros

dedos, estendidos e justapostos tentam embarcar o máximo da área

correspondente às bases pulmonares. Analisa a mobilidade sãs bases pulmonares

durante respiração profunda.

2.2.3. FRÊMITO TORACOVOCAL

São as vibrações percebidas na parede torácica pela mão do examinador, quando

o paciente emite som. O examinador vai colocando a mão sobre as regiões do tórax ao

mesmo tempo em que o paciente vai pronunciando as palavras “trinta e três”. À medida

que ele fala o examinador desloca sua mão de modo a percorrer toda a extensão da

parede torácica (face anterior, laterais e posterior).

Aumento do frêmito: pneumonia, infarto do pulmão.

Diminuição ou desaparecimento do frêmito: derrame pleural, pneumotórax,

enfisema pulmonar.

2.3. PERCUSSÃO

Convém iniciá-la pela face anterior indo de cima para baixo golpeando, ora de um

lado, ora de outro, em pontos simétricos. Passa-se a seguir para as regiões laterais e conclui-

se o exame com a percussão da face posterior.

2.3.1. ACHADOS FISIOLÓGICOS

Na área de percussão do coração, do fígado e do baço obtém som maciço

ou submaciço.

- determina a macicez hepática percutindo o hemitorax direito, de cima para baixo,

seguindo o trajeto da linha hemiclavicular, sempre com o paciente em decúbito

dorsal. Na altura do 4° espaço intercostal o som passa a ser submaciço e a partir do

5° ou 6° espaço intercostal o som torna-se maciço porque não há mais pulmão

interposto entre o fígado e a parede torácica.

Na área de projeção de fundo do estomago (espaço de Traube) obtém-se

som timpânico.

Nas demais regiões encontra-se som claro pulmonar (também chamado som

claro a timpânico).

Page 51: Material Didático LAC (2014)

49

2.4 AUSCULTA

O paciente deve preferencialmente estar sentado, com o tórax descoberto. É

importante solicitar que o paciente respire mais profundamente.

2.4.1. SONS NORMAIS

Som traqueal: audível na região de projeção da traqueia, no pescoço e na

região esternal. Origina-se da passagem do ar na fenda glótica e na própria

traqueia.

Respiração brônquica: é o som traqueal audível na zona de projeção de

brônquios de maior calibre, na face anterior do tórax, nas proximidades do

esterno.

Murmúrio vesicular: são ruídos respiratórios ouvidos na maior parte do tórax e

são produzidos pela turbulência do ar circulante ao chocar-se contra as

saliências ao passar por cavidades de tamanhos diferentes, como por

exemplo de bronquíolos para alvéolos. O murmúrio vesicular é mais forte na

parte ântero-superior, nas axilas e nas regiões infraescapulares.

Respiração broncovesicular: somam-se as características da respiração

brônquica co as do murmúrio vesicular. É auscultada na região esternal

superior, na interescápulo vertebral direita e ao nível da 3° e 4° vértebras

dorsais.

2.4.2. SONS ANORMAIS DESCONTÍNUOS

Estertores: ruídos audíveis na inspiração ou expiração, superpondo-se aos

sons respiratórios normais.

- finos: ocorrem no final da inspiração, é agudo, alta frequência, duração curta, não

se modificam com a tosse, é mais na base pulmonar. É produzido pela abertura das

vias aéreas antes fechada pela pressão exercida por líquido ou exudato no

parênquima pulmonar (pneumonia, insuficiência ventricular esquerda).

- grossos: no início da inspiração e durante toda a expiração, tem duração maior,

frequência menor e ocorrem em toda região do tórax. É produzido pela abertura e

fechamento das vias com secreção viscosa e espessa (bronquite crônica).

Page 52: Material Didático LAC (2014)

50

2.4.3. SONS ANORMAIS CONTÍNUOS

Roncos: sons graves, de baixa frequência, aparecem na inspiração e

expiração, desaparecem com pequeno tempo, são fugazes e mutáveis. É

produzido pela vibração das paredes brônquicas quando há estreitamento

desses ductos, seja por espasmo ou edema de parede ou secreção aderida

a ela (bronquite).

Sibilos: sons agudos, alta frequência, são múltiplos e disseminados por todo o

tórax. Aparecem na inspiração e expiração e também se originam de

vibrações das paredes bronquiolares.

Estridor: ruído inspiratório causado pela obstrução da laringe ou traqueia.

2.4.4. SONS ANORMAIS DE ORIGEM PLEURAL

Atrito pleural: som de duração maior e frequência baixa, tonalidade grave e

intenso na inspiração. Ruído irregular e descontínuo.

3. EXAME DO CORAÇÃO

Semiotécnica: paciente em decúbito dorsal, examinador do seu lado direito.

3.1. INSPEÇÃO E PALPAÇÃO.

3.1.1. PESQUISA DE ABAULAMENTOS

Observar a região precordial;

tangencial: examinador ao lado direito do paciente

frontal: examinador junto aos pés do paciente

Abaulamentos podem indicar: aneurisma da aorta, cardiomegalia, derrame

pericárdico, alterações da caixa torácica, dilatação do ventrículo direito.

3.1.2. ICTUS CORDIS (OU CHOQUE DE PONTA)

Localização: varia de acordo com o biótipo, mas geralmente está localizado no 4°

ou 5° espaço intercostal, na linha hemiclavicular esquerda.

Extensão: avalia a extensão do ictus procurando ver quantas polpas digitais são

necessárias para cobri-lo. Normalmente é uma ou duas polpas digitais (2 a 3 cm).

Intensidade: repousa a palma da mão sobre a região do batimento. O ictus é mais

forte em pessoas magras, após exercícios ou emoções e em hipertrofia do

ventrículo esquerdo.

Mobilidade: primeiro marca-se o local do choque com o paciente em decúbito

dorsal, depois com o paciente em decúbito lateral direito e esquerdo. Em

condições normais o ictus desloca-se 1 a 2 cm com as mudanças de posição.

Ritmo e frequência: são melhor analisados pela ausculta.

3.1.3. BATIMENTOS OU MOVIMENTOS VISÍVEIS E PALPÁVEIS

Retração sistólica apical: durante a sístole, ao invés de um impulso, o que se

percebe é uma retração da ponta, desta maneira ocorre impulso paraesternal

esquerdo formando movimento em báscula.

Page 53: Material Didático LAC (2014)

51

Levantamento em massa do precórdio: impulso sistólico que movimenta uma área

grande da parede torácica ( na região do esterno).

Choque valvar: quando as bulhas estão hiperfonéticas e podem ser sentidas pela

Mao como um choque (de curta duração).

Pulsação epigástrica: é a transmissão da pulsação da aorta para a parede

abdominal. São vistas e palpadas em muitas pessoas, mas podem indicar

patologias como hipertrofia ventricular direita.

Pulsação supra esternal (ou na fúrcula esternal): observada em pessoas normais

mas quando muito intensas levam a suspeitar de hipertensão arterial sistêmica,

aneurisma da aorta, insuficiência aórtica e hipertireoidismo.

3.1.4. FRÊMITO CARDIOVASCULAR OU CATÁREO

É a sensação tátil das vibrações produzidas no coração ou vasos. Analisa três

características:

Localização: usa as áreas de ausculta

Situação no ciclo cardíaco: sistólico, diastólico ou sisto-diastólico

Intensidade: avalia em cruzes

*Obs.: o frêmito é a sensação palpatória do sopro.

3.2. AUSCULTA

Em posse do estetoscópio pode-se começar a ausculta. Mas onde auscultar? Para

direcionar o exame físico, existem áreas onde fenômenos originados de determinadas

estruturas do coração são mais bem percebidas; estes são os focos de ausculta:

Ambiente silencioso

Paciente deitado: posição habitual

Paciente sentado com tórax inclinado para frente: base do coração

Paciente em decúbito lateral esquerdo com a mão esquerda na cabeça:

área mitral

Prestar atenção na influência da respiração sobre os ruídos

3.2.1. FOCOS OU ÁREAS DE AUSCULTA

Foco aórtico: 2° espaço intercostal na linha paraesternal direita (junto ao

esterno)

Foco pulmonar: 2° espaço intercostal na linha paraesternal esquerda (junto

ao esterno)

Foco aórtico acessório: 3° espaço intercostal na linha paraesternal esquerda

(junto ao esterno)

Foco tricúspide: na base do apêndice xifoide, ligeiramente para a esquerda

(borda esternal esquerda inferior).

Foco mitral: 5° espaço intercostal na linha hemiclavicular esquerda.

Além desses focos mais conhecidos, ainda temos:

Borda esternal esquerda: entre a área pulmonar e tricúspide.

Borda esternal direita: entre a área aórtica e o 5° espaço intercostal direito.

Mesocárdio ou endoápex: entre foco tricúspide e mitral.

Page 54: Material Didático LAC (2014)

52

*Obs.: todo o precórdio deve ser auscultado, os focos são apenas pontos de referência.

3.2.2. SEMIOTÉCNICA

O examinador pode começar pelos focos da base do coração (aórtico e pulmonar)

ou pelos do ápice cardíaco (mitral e tricúspide), contanto que não deixe de examinar

nenhum dos focos. O primeiro passo após posicionar o estetoscópio no tórax do paciente

é identificar o que é a primeira bulha (fechamento da valvas atrioventriculares) e o que é

a segunda bulha (fechamento das semilunares). A melhor forma para tal é palpar a artéria

carótida do paciente ao mesmo tempo em que o ausculta.

3.2.3. BULHAS CARDÍACAS

A bulha que coincide com o pulso da artéria é a B1. Outra forma de fazer essa

diferenciação, que requer mais experiência por parte do examinador, é avaliar a

característica auscultatória de B1, que é um som mais suave e prolongado, como uma

batida de surdo (“Tum”), e de B2, que é um som mais seco (“Tá”). Após identificar esses sons,

pode-se identificar a sístole auscultatória, que é o período entre B1e B2, e a diástole

auscultatória, que compreende o espaço entre B2 e B1. Realizado esse passo, o examinador

está apto a localizar qualquer som dentro do ciclo cardíaco, o que essencial para a correta

compreensão do mesmo. A partir desse momento o examinador deve-se perguntar:

1. O ritmo é regular ?

2. Como estão as Bulhas ? Hiper ou Hipofonéticas ? Desdobradas

3. Apresenta B3 ou B4 ?

1° Bulha

A primeira bulha (B1) é um som de curta duração originado do fechamento das

valvas atrioventriculares, mitral (M1) e tricúspide (T1). É melhor percebida com o paciente

em decúbito dorsal, com o diafragma do estetoscópio nos focos mitral e tricúspide. Como

dito anteriormente, é identificada por ser a bulha que coincide com o pulso carotídeo.

Desdobramento Fisiológico de B1

Normalmente, a valva mitral fecha-se antes da valva tricúspide. Contudo esse

intervalo é muito pequeno e o ouvido humano não consegue perceber, de modo que M1

e T1 geram um mesmo som, tipicamente representado como um “Tum”. Em algumas

pessoas, esse intervalo é um pouco maior e os dois componentes de B1 conseguem ser

Page 55: Material Didático LAC (2014)

53

auscultados, gerando um som tipicamente representado por um “Trum”. Isso não reflete

morbidade, é somente uma variante do normal. Esse desdobramento somente é

auscultado no foco tricúspide, porque esse é o único foco onde é possível ouvir T1, em todos

os demais focos o som de M1, por ser muito mais alto, ofusca T1.

Resumindo, sobre B1 é importante lembrar:

Fechamento da valva mitral e tricúspide;

Coincide com o ictus cordis e com o pulso carotídeo;

É mais grave e tem tempo de duração um pouco maior que a segunda

bulha;

TUM;

Maior intensidade em foco mitral;

Às vezes dá para auscultar separadamente o componente mitral e tricúspide

(sem significado patológico).

2° Bulha

A segunda bulha cardíaca (B2) é um som de curta duração, que é gerado pelo

fechamento das valvas semilunares, aórtica (A2) e pulmonar (P2). É usualmente examinada

com o paciente em decúbito dorsal, mas muitas vezes precisa-se examiná-la com o

paciente sentado, por exemplo, para avaliação de desdobramentos e do sopro da

insuficiência aórtica. Para o exame, usa-se o diafragma do estetoscópio posicionado nos

focos aórtico (A2) e pulmonar (P2). Ao exame, ela é a bulha que não coincide como

impulso do pulso carotídeo. Normalmente, a ausculta de B2 no foco aórtico (A2) gera um

som de maior intensidade do que quando ausculta-se B2 no foco pulmonar (P2), ou seja, o

componente aórtico de B2 é normalmente mais intenso que o componente pulmonar, daí

retira-se a “regra” A2>P2. Isso se explica porque as pressões que a valva aórtica suporta são

muito maiores que aquelas presentes no lado pulmonar. Quando no exame encontra-se

P2>A2 significa que a circulação pulmonar encontra-se com uma pressão muito

aumentada, caracterizando um quadro de Hipertensão Arterial Pulmonar.

Desdobramento Fisiológico de B2

A segunda bulha cardíaca normalmente encontra-se como um som seco e único,

tipicamente caracterizado como um “Tá”. Ele é único, porque apesar de a valva aórtica

fechar-se antes da pulmonar, esse intervalo não é captado pela audição humana.

Contudo, em algumas pessoas sem doença cardíaca, esse intervalo pode estar um pouco

aumentado, a ponto de ser possível auscultar ambos os componentes de B2 no exame. Esse

fenômeno recebe o nome de Desdobramento Fisiológico, e é reconhecido tipicamente,

na ausculta, como um “Tra”. O desdobramento fisiológico possui uma característica

própria, que é a de aparecer ou aumentar com a inspiração e desaparecer ou diminuir

com a expiração. Isso acontece porque na inspiração, a pressão intratorácica diminui e

leva à um aumento no retorno venoso, o que aumenta o volume de sangue no ventrículo

direito, levando o mesmo a demorar mais para ejetar todo o seu débito, de modo a atrasar

o fechamento da valva pulmonar, levando ao aparecimento do desdobramento à

ausculta. Portanto, tipicamente, o desdobramento fisiológico é aquele que aparece com

a inspiração e desaparece com a expiração, podendo estar presente nessas duas fases.

Mas quando se coloca o paciente sentado ou em pé, ele tipicamente desaparece na

expiração. De modo que um paciente com desdobramento de B2 que, quando deitado,

aparece na expiração e, quando sentado ou em pé, desaparece na expiração, pode-se

dizer que ele tem um desdobramento fisiológico. Por último, cabe dizer que a ausculta desse

desdobramento e dos demais desdobramentos que serão discutidos daqui pra frente será

realizada no foco pulmonar, pois esse é o único foco onde ausculta-se P2, uma vez que em

todos os outros focos ausculta-se somente A2 em função de sua maior intensidade.

Resumindo, sobre B2 é importante lembrar:

Page 56: Material Didático LAC (2014)

54

Composta por 4 grupos de vibrações mas só 2 são audíveis; fechamento das

valvas semilunares ( aórtica antes da pulmonar);

Mais agudo e mais seco: TÁ;

Mais intenso no foco aórtico e pulmonar;

Na expiração ambas as valvas se fecham sincronicamente, já na inspiração

quando a sístole do ventrículo direito se prolonga em função do maior afluxo

sanguíneo o componente pulmonar se retarda e tem o desdobramento

fisiológico da 2° bulha ( TLÁ).

3° Bulha

Ruído protodiastólico (começo da diástole);

Baixa frequência;

Origina-se das vibrações da parede ventricular subitamente distendida pela

corrente sanguínea que penetra na cavidade durante o enchimento rápido;

É normal em crianças e adolescentes, raro em adultos;

Mais audível na área mitral em decúbito lateral esquerdo.

4° Bulha

Fim da diástole;

Normal em crianças e jovens;

Ocorre pela brusca desaceleração do fluxo sanguíneo pela contração atrial

de encontro com o sangue dos ventrículos no final da diástole;

Nos idosos, devido à diminuição da complacência do ventrículo esquerdo,

pode ser audível sem ser patológico.

4. SEMIOLOGIA VASCULAR

4.1. ANAMNESE

A semiologia vascular envolve a avaliação das artérias, veias, microcirculação e

sistema linfático, dessa forma, a abordagem do paciente deve-se iniciar pela anamnese,

que deve conter alguns aspectos específicos de acordo com a abordagem, objetivando

a coleta de dados subjetivos e concretos que, juntamente com o exame físico, possibilitem

elaboração de hipóteses diagnósticas e condutas.

Os examinadores não devem apegar-se às estatísticas apenas, mas é de grande

valia elaborar hipóteses associando-se as informações à epidemiologia. Algumas doenças

são mais predominantes de acordo com o sexo, a idade e a raça. Varizes são mais comuns

no sexo feminino, enquanto a Doença de Buerger (doença vascular inflamatória

obstrutiva), nos homens; doenças ateroscleróticas são mais comuns em indivíduos com

idade superior a 40 anos, aumentando progressivamente com a idade, enquanto que em

indivíduos mais jovens, são mais comuns as patologias congênitas. Indivíduos negros

apresentam maiores complicações associadas as alterações vasculares da anemia

falciforme.

Deve-se indagar o paciente com relação aos antecedentes pessoais, como histórico

de doenças congênitas e adquiridas que possam afetar o sistema vascular, como a sífilis,

tuberculose, diabetes, hipertensão arterial. Além do passado médico com relação a

acidentes vasculares encefálicos, síndrome coronariana aguda (infarto agudo do

miocárdio e angina instável) cirurgias, fraturas e traumatismos.

Em se tratando do sistema venoso, é fundamental conhecer o histórico médico com

relação a gestações, cirurgias recentes, imobilidade, permanência prolongada no leito e o

uso de contraceptivos hormonais.

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No âmbito do sistema linfático é importante destacar a ocorrência de infecções de

pele e do tecido subcutâneo, que podem invadir e disseminar-se por meio da rede vascular

linfática, causando obstrução em virtude de um processo reacional leucocitário. Cirurgias

e traumas do trajeto das principais cadeias linfáticas e agrupamentos de linfonodos

(cervical, inguinal, axilar e supraclavicular) podem comprometer a drenagem da linfa.

Doenças como tuberculose, linfoma de Hodgkin, infecções fúngicas (blastomicose,

cromomicose), filariose (elefantíase), estão intimamente relacionadas com a ocorrência de

alterações linfáticas.

Os antecedentes familiares podem nortear a elaboração da hipótese clínica, de

modo que inúmeras doenças contêm um componente hereditário, como a hipertensão

arterial sistêmica, o diabetes, doenças tromboembolíticas e as alterações congênitas,

como o linfedema congênito.

Outro ponto imprescindível de questionamento são os hábitos de vida do indivíduo:

condições de trabalho, como longas jornadas em pé, trabalho em câmaras frias

(vasoespasmo, extremidades, microcirculação, bem como o tabagismo, que apresenta

diversas substância com de ação deletéria em contato com os tecidos vasculares,

aumento da agregação plaquetária e formação de trombos, além de radicais livres, que

favorecem a formação de edemas na camada íntima dos vasos.

A alimentação saudável e a pratica de exercícios físicos favorecem a manutenção

da taxa de colesterol e demais lipídios do organismo dentro dos limites esperados e a

eliminação do excesso de radicais livres, atenuando a formação das placas de ateroma e

lesões vasculares em longo prazo.

4.2. SINAIS E SINTOMAS

Um dos principais sintomas associados a doenças vasculares é a dor, que pode

manifestar-se, nas afecções arteriais, como uma sensação de formigamento, queimação,

constrição, aperto, câimbras, sensação de peso ou mesmo fadiga do membro. Pode ser

causada por diversos fatores, principalmente em virtude de processos isquêmicos em

virtude de obstrução parcial ou total de artérias, acarretando destruição de tecidos com

liberação de compostos pró-inflamatórios, como a bradicinina ou em virtude do acúmulo

de catabólitos ácidos.

As doenças venosas causam, na maioria das vezes, estase venosa, levando a

dilatação da parede dos vasos e causando dor. A queixa principal de pacientes com

varizes dos membros inferiores e microvarizes é a dor, se associada a edema e cianose, a

suspeita principal passa a ser trombose venosa profunda.

Permanecer em posição ortostática piora os sintomas do paciente, pois há maior

dificuldade de drenagem venosa, em contrapartida, há com as pernas elevadas.

Os pacientes relatam que os sintomas são mais comuns ao final da tarde, em virtude

da jornada de trabalho diária, em pé, após exercícios físicos e caminhadas.

Em oposição, a dor da insuficiência venosa melhora com a deambulação, piorando

com o repouso, exatamente o contrário da insuficiência arterial.

Alterações da cor da pele são também bastante comuns, pois são dependentes do

fluxo sanguíneo local, do grau de oxigenação da hemoglobina e da quantidade de

melanina. Quando há diminuição do fluxo sanguíneo de maneira acentuada, ocorre a

palidez; quando o fluxo sanguíneo encontra-se muito lentificado, o consumo de oxigênio

pode tornar-se maior do que sua reposição, causando a cianose; quando há

vasodilatação arteriocapilar, temos o rubor, normalmente associado ao aumento da

temperatura da pele.

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De maneira semelhante às alterações de cor da pele, as alterações de temperatura

da pele, estão associadas ao fluxo sanguíneo, em casos de diminuição do fluxo, como nas

obstrução arteriais, há frialdade da pele. A topografia dessa diminuição de temperatura

está associada ao nível da obstrução. Nos casos de obstrução crônica, os referidos sinais e

sintomas podem não ocorrer, pois há tempo hábil para formação de circulação colateral.

Com o prolongamento do processo de obstrução e a alteração do fluxo sanguíneo

em determinadas regiões, há diminuição do tecido subcutâneo, queda de pêlos,

alterações ungueais, calosidades (principalmente nas regiões dos pontos de apoio, como

calcanhares e polpas dos pododáctilos), lesões ulceradas (normalmente nas bordas dos

pés), diminuição na capacidade de cicatrização.

Essas alterações são chamadas de tróficas, que fazem com que a pele torne-se

delgada, brilhante, lisa e frágil, rompendo-se facilmente a pequenos traumatismos.

Por fim, essa alteração do fluxo sanguíneo e diminuição da nutrição tissular,

acarretam a gangrena, que é a morte de tecidos em consequência da isquemia intensa.

No caso da insuficiência venosa, a principal manifestação trófica é a formação de

edema, que costuma ser mole e depressível, localizados preferencialmente nas regiões

perimaleolares, sendo causado em virtude do aumento da pressão no interior das veias,

das vênulas e dos capilares venosos, ocasionando saída de líquido para o meio intersticial.

A medida que o edema se torna crônico, acumulam-se substâncias proteicas no

interstício do tecido celular subcutâneo, desencadeando reações inflamatórias, a

chamada celulite, que faz com que a pele fique castanho-avermelhada com temperatura

aumentada.

4.3. EXAME FÍSICO

4.3.1. INSPEÇÃO

O paciente deve ser examinado em pé e deitado, examinando a pele em toda a

extensão da superfície corporal, primeiramente, com médico e paciente a uma distância

de 2 metros, permitindo, dessa maneira, avaliar a extensão de lesões, varizes, deformidades

do tronco e da bacia. Em seguida, deve-se analisar as alterações de coloração, assimetria

de membros e grupos musculares, alterações ungueais, ulcerações, calosidades,

gangrenas e micoses interdigitais.

4.3.2. PALPAÇÃO

Ao realizar a palpação, deve-se sempre comparar os aspectos avaliados de maneira

homóloga, atentando-se para a temperatura da pele (mais bem percebidas com o dorso

da mão ou os dedos), a elasticidades (pinçando uma dobra da pele com a polpa dos

dedos indicador e polegar, avaliando a consistência e mobilidade em planos profundos),

a umidade, presença de frêmitos (sensação tátil das vibrações produzidas pelo

turbilhonamento do sangue ao passar por uma estenose ou dilatação) e sensibilidade.

4.3.2.1. PALPAÇÃO DE PULSOS PERIFÉRICOS

Deve ser realizada de maneira sistematizada e simétrica nas artérias, permitindo

detectar alterações de pulso, auxiliando o diagnóstico de estenose ou oclusão.

As artérias acessíveis estão listadas na figura abaixo:

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4.3.3 AUSCULTA

Tem por finalidade detectar sopros arteriais ou sopros venosos espontâneos que

podem aparecer em fistulas arteriovenosas.

X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ELIAS, D.O.; SOUZA, M.H.L. Fundamentos da Circulação Extracorpórea. 2ª ed.

Rio de Janeiro, 2006.

2. GOMES, M. O. Fisiologia Cardiovascular Aplicada – Belo Horizonte: EDICOR,

2005.

3. GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro,

Elsevier Ed., 2006.

4. MOORE, K. L., DALLEY, A. F. Anatomia orientada para a clínica. 5.ed., Rio de

Janeiro: Guanabara-Koogan, 2007.

5. NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000

6. TORTORA, G. J. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 9. ed., Rio de janeiro:

Guanabara Koogan, 2002.

7. PORTO, C. C. Exame clínico. Guanabara Koogan; 6° edição.

8. http://www.uff.br/cursodesemiologia/images/stories/Uploads/semio_cardio

vascular/aulas/aula3_b1b2.pdf