104
LUCIA HELENA VENDRÚSCULO POSSARI MARIA LUCIA CAVALLI NEDER Cuiabá, 2009 MATERIAL DIDÁTICO PARA A EaD: PROCESSO DE PRODUÇÃO

Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

LUCIA HELENA VENDRÚSCULO POSSARIMARIA LUCIA CAVALLI NEDER

Cuiabá, 2009

MATERIAL DIDÁTICO PARA A EaD:

PROCESSO DE PRODUÇÃO

Page 2: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Ficha Catalográfica

P856m Possari, Lucia Helena Vendrúsculo.Material Didático para a EaD: Processo de Produção./Lucia Helena Vendrúsculo Possari; Maria Lucia CavalliNeder. Cuiabá: .

104 p. il.Inclui bibliogragiaISBN 978-85-61819-63-7

1.Educação à Distância - EaD. 2.Material Didático. 3.Texto - Ação Educativa. 4.Comunicação. 5.Educação. I.Neder, Maria Lucia Cavalli. II.Título.

CDU 37.018.43

EdUFMT, 2009.

Drª Lucia Helena Vendrúsculo Possari

Drª Onilza Borges

Drª Ana Arlinda de OliveiraDr Carlos RinaldiDrª Gleyva Maria Simões de Oliveira

Drª Maria Lucia Cavalli NederMartins

Comissão Editorial

RevisãoDiagramação

Capa

Germano Aleixo FilhoTerencio Francisco de OliveiraMarcelo Velasco

Cuiabá, 2009

Page 3: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

egundo os dados do INEP, no Brasil, em 2007, eram 408 os cursos a distância, atingindo mais de 350 mil estudantes; 3.702 os cursos Sda chamada “educação tecnológica” - cursos com duração de até

dois anos -, com quase 350 mil matrículas também.O Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distân-

cia (2007) confirma estes dados: 225 Instituições autorizadas pelo MEC para oferecer cursos a distância, atendendo a mais de 770 mil estudantes.

Em 1995, a Universidade Federal de Mato Grosso era a primeira instituição a oferecer um curso de graduação a distancia no País (Pedago-gia), por meio de seu Núcleo de Educação Aberta e a Distância (NEAD), criado em 1992. Em 2000, eram apenas cinco as universidades, abrigan-do menos de 5 mil estudantes matriculados.

Esses poucos dados podem nos dar de imediato uma ideia aproxi-mativa do crescimento desta modalidade, aqui no Brasil, pois no mundo, desde a década de 1970, milhões de estudantes frequentam universida-des sem sair de casa ou do local de trabalho.

A impulsão da EaD em nosso país pode ser atribuída a pelo menos dois fatores:

- o primeiro, como parte do movimento de luta pela democratiza-ção do ensino. Há um grito forte e uma luta contínua para que o

COLETÂNEA “EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA”

Page 4: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

direito constitucional à educação se concretize para milhões de brasileiros excluídos deste bem social historicamente conquis-tado. E a modalidade a distância vem se afirmando como uma das possibilidades para que isto se realize;

- o segundo fator pode ser atribuído às novas tecnologias da informação e da comunicação. Essas tecnologias realizaram avanços, e algumas delas, em certo sentido, se “populariza-ram”, permitindo às pessoas ultrapassar as distâncias geográfi-cas e se aproximar cada vez mais.

Assim, está ocorrendo uma espécie de rompimento do conceito de distância. A educação está mais próxima para uma parcela cada vez maior da sociedade (não está mais distante - “a distância”). As tecnologi-as da comunicação permitem o diálogo e a interação entre pessoas, em tempo real, como o telefone, o bate-papo, a video e a webconferência, tornando sem sentido falar em “distância” no campo da comunicação.

Por isso, podemos falar em EDUCAÇÃO SEM DISTÂNCIAS! Não somente porque é possível ser realizada, como por ser bandeira de luta a ser levada adiante para as próximas décadas, por nós, educa-dores!

Quando, em 1996, lançávamos o primeiro livro da coletânea “Educação a Distância”, havíamos pensado nomear esta coletânea de Educação sem Distância.

Porém, naquele momento, avaliávamos que isso poderia provo-car mal-entendidos e que, diante da necessidade de divulgar essa modali-dade de ensino e diante da escassez de material sobre o tema em língua portuguesa, retratando nossa realidade educacional, social e cultural, seria mais oportuno recorrer à expressão consagrada mundialmente: Educação a Distância.

Hoje, com a expansão quantitativa de cursos a distância e com a necessidade de qualificação de quadros para atuar nesta modalidade, existe produção significativa sobre esta prática educativa.

Educadores brasileiros com experiência nesta modalidade se propuseram escrever, expor suas experiências em EaD como maneira de contribuir na consolidação desta modalidade, aqui no Brasil, e na forma-ção dos que atuam na EaD. São dezenas as teses e dissertações, centenas os artigos versando sobre Educação a Distância.

A participação e a contribuição da UFMT, no debate sobre EaD,

Page 5: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

também têm sido significativa, com produção acadêmica, abertura da linha de pesquisa em EaD (2000), no Programa de Mestrado em Educa-ção Pública e a coletânea Educação a Distância.

Em 1996, lançávamos o primeiro número da coletânea, com o tema: Inícios e indícios de um percurso, trazendo relatos da experiência do NEAD/UFMT na oferta do primeiro curso de graduação a distância no Brasil (1994).

Em 2000, com o segundo número da coletânea, Educação a Distância: construindo significados, ampliávamos a discussão sobre esta modalidade, não se restringindo à experiência do NEAD. Trouxe-mos contribuições valiosas de educadores atuando em instituições de renome e com larga experiência em EaD, como G. Rumble, Neil Mercer e F. J. G. Estepa, da Open University da Inglaterra; Walter Garcia, presi-dente da Associação Brasileira de Tecnologia (ABT); Rosângela S. Rodrigues, da Divisão de Engenharia de Produção, Universidade Fede-ral de Santa Catarina, e do sociólogo Pedro Demo, que também prefaci-ou a obra. Eram relatados percursos diferentes, com experiências e visões diversas sobre EaD, que foram trazidas para o debate e oferece-ram elementos de reflexão para quem estava atuando ou se propondo iniciar nesta modalidade.

Em 2005, foram lançados dois volumes. Em Educação a Distân-cia: sobre discursos e práticas, discutia-se a Formação de Professores em cursos a distância, analisando as práticas discursivas sobre a EaD. Na obra Educação a Distância: ressignificando práticas, discutia-se a questão da gestão da EaD e a produção de material didático na EaD.

Neste ano de 2009, estamos lançando outros quatro volumes: um sobre os Fundamentos da EaD e três sobre a produção de Material Didático.

Esperamos, assim, com estes novos volumes da coletânea, conti-nuar participando intensivamente do atual debate sobre a modalidade a distância, num momento em que o governo federal propõe e dirige a expansão do ensino superior por meio da modalidade a distância, com a criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil (2006). Trata-se de política ostensiva e extensiva para que essa modalidade de ensino se solidifique e se qualifique como parte regular do sistema de ensino superior.

Oreste Preti,organizador da coletânea.

Page 6: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 7: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

CONVERSA INICIAL

PROBLEMATIZAÇÃO

TEXTOS-BASEPLANEJANDO O TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO OU O GUIA DIDÁTICO PARA A EADMaria Lúcia Cavalli Neder

MATERIAL DIDÁTICO E O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA EADMaria Lúcia Cavalli Neder

PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA A EADLúcia Helena Vendrúsculo Possari

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUA CONCEPÇÃO COMO PROCESSO SEMIODISCURSIVOLúcia Helena Vendrúsculo Possari

SABER +O TEXTO COMO ELEMENTO DE MEDIAÇÃO ENTRE OS SUJEITOS DA AÇÃO EDUCATIVAMaria Lúcia Cavalli Neder

COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: AGORIDADESLúcia Helena Vendrúsculo Possari

CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

9

11

13

17

35

47

63

81

91

101

103

Page 8: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 9: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

ste livro constituiu o ato de tecer o complexo. Decidimo-nos

pela urdidura dos textos, neste formato, os quais têm a dialogici-Edade como razão de ser.

Ao nos propormos a produzir material didático para a Educa-

ção a Distância, temos por pressuposto que a corporeidade que permite a

interação entre o polo do curso (autor, professor, tutor) e o polo do cursis-

ta é, única e exclusivamente, o texto.

A ancoragem teórico-metodológica é, dessa forma, semiodis-

cursiva. Semiótica para os signos verbais e não verbais, como sinalizado-

res, assim como a formação discursiva, ambas concorrendo para a cons-

trução de sentidos (construção do conhecimento) conjunta.

Os leitores não são considerados receptores passivos a quem se

ensina algo. Desde a concepção do texto, nós os consideramos coautores,

previstos por antecipação, nas seções conversa inicial, problematização,

Saber +, atividades, reflexões.

A CONVERSA INICIAL situa o leitor sobre todo o percurso, o

campo de conhecimento, a metodologia, a forma de ser leitor em EAD.

A PROBLEMATIZAÇÃO objetiva trazer o leitor-aluno para

refletir sobre situações concretas, produzindo-se questões e, a partir delas,

buscar, nos fundamentos e na experiência, subsídios para respostas.

O SABER + proporciona leituras adicionais, sugeridas pelas

APRESENTAÇÃO

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 9

Page 10: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

autoras, em que podem/devem ser acrescentadas outras fontes pelos

leitores.

A proposta de REFLEXÃO se dá num processo de recursivida-

de permanente, propondo alinhar teoria-prática.

As ATIVIDADES culminam no fazer juntos.

Os interlocutores – autores/professores/tutores e leitores – têm,

pela internet, através do sistema MOODLE, local privilegiado de intera-

ção, onde se falam, debatem, incluem reflexões e atividades.

Consideramos adequado, pelo exposto, manter a formatação

inicial: aquela que produzimos para o curso.

Escolhemos para esta obra os textos que nominamos BASE e

Saber +. Como nos cursos, nós os mantivemos intercalados para leitura.

Nossos textos abordam Educação e Comunicação, com um

campo de conhecimento, inaugurando novo paradigma. Além de serem

estudadas as funções do material didático como integrante do processo

comunicativo, estudam-se também os movimentos paradigmáticos, a

complexidade e a interculturalidade.

Estudamos a produção do material impresso, a do material não

verbal e a produção das possibilidades midiáticas de veiculação. Estuda-

mos, ainda, os elementos indispensáveis para cada produção.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção10

Page 11: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

CONVERSA INICIAL

ste é o espaço da interlocução inicial. É dizer boas-vindas aos

cursistas. É dizer a eles aquilo de que se trata. É palavra de enco-Erajamento. É prepará-los para o diálogo. E, principalmente,

explicitar os objetivos da disciplina, os temas a serem abordados, a

metodologia e a sequência, enfim a lógica pensada do texto.

Então:

Vamos lá, então, prezado cursista.

É com imensa satisfação que vimos iniciar nosso diálogo acerca

de Produção de Material para a Educação a Distância. Com o objetivo de

sugerir reflexões acerca da Produção como processo e, portanto, de

construção, objetivamos com este texto que você, ao se propor produzir,

tenha presente os requisitos de conhecer o currículo do curso, de traçar

um mapa conceitual, de promover a interface entre o texto que constrói

com outros de outros cursos e módulos. Igualmente, de promover o

tempo todo o diálogo com o leitor-aluno, de maneira que ele seja interlo-

cutor ativo, que traga para o processo suas contribuições e, dessa forma,

que a construção de conhecimento seja conjunta.

Além de situarmos as condições de produção, convidamos à

produção propriamente dita de material escrito, para ser impresso e para

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 11

Page 12: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

ser usado on-line, como também a inserção do texto não verbal.

Na primeira parte, visando à fundamentação da relação do texto

com os demais componentes curriculares, apresentamos os textos:

PLANEJANDO O TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO OU O GUIA

DIDÁTICO PARA A EAD e MATERIAL DIDÁTICO E O PRO-

CESSO DE COMUNICAÇÃO NA EAD, de Maria Lúcia Cavalli

Neder.

Na segunda parte, abordando questões relativas ao leitor de

texto em EAD, apresentamos: PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁ-

TICO PARA A EAD e EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUA CON-

CEPÇÃO COMO PROCESSO SEMIODISCURSIVO, de Lúcia

Helena Vendrúsculo Possari.

Nossas propostas de REFLEXÃO permeiam o texto todo,

considerando você coautor da construção e do conhecimento, abrindo

ensejo a que traga conhecimentos prévios e práticas.

Da mesma forma, nossas propostas de ATIVIDADES possibili-

tam a você o fazer, o demonstrar, o preparar-se para produzir o material.

Para a seção SABER +, consideramos adequados, como leitura

por acréscimo e continuidade de discussões, os textos: O TEXTO

COMO ELEMENTO DE MEDIAÇÃO ENTRE OS SUJEITOS DA

AÇÃO EDUCATIVA, de Maria Lúcia Cavalli Neder e COMUNICA-

ÇÃO E EDUCAÇÃO: AGORIDADES, de Lúcia Helena Vendrúsculo

Possari.

Desejamos que nosso caminho, juntos, seja o mais profícuo.

As autoras

Material Didático para a EaD: Processo de Produção12

Page 13: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

PROBLEMATIZAÇÃO

magine que você recebeu um convite para produzir um material

didático para a Educação a Distância. Independentemente da área Iem que atue - linguagens, ciências, computação, direito, administra-

ção -, você, orgulhoso e agradecido pelo convite, indagará: para que

curso, com que duração, especificamente para qual disciplina, como é o

currículo do curso, o curso é por módulos, por semestre, como funciona,

ou seja, como são os contatos: autor/professor/tutor/alunos, há momen-

tos presenciais, há momentos on line?

Ufa!!!

Só depois de obter essas respostas é que se sentirá à vontade

para pensar o material propriamente dito. Aí, surgem novas questões: é

impresso, é on-line, pode ser acompanhado de outras mídias como CDs,

DVDs, que veiculem vídeo e áudio?

Aí, começa, então, a pensar o material.

Vai situá-lo, no curso, relacioná-lo com as demais disciplinas,

inseri-lo numa sequência, vai dimensioná-lo do ponto de vista epistemo-

lógico e metodológico. Delimitará o essencial sobre o conhecimento a

ser construído. Pensará as atividades, as leituras adicionais e começará a

produzi-lo. Ao mesmo tempo, virá a preocupação com a redação clara,

objetiva. Com o processo de interlocução e, assim, o dialogismo discur-

sivo e, então, o texto deverá fluir.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 13

Page 14: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 15: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

TEXTOS-BASE

Page 16: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 17: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

PLANEJANDO O TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO OU O GUIA DIDÁTICO PARA A EAD

Maria Lúcia Cavalli Neder

interessante que, ao refletirmos sobre a produção de material

didático, pensemos nos tipos de texto, associados à natureza das Élinguagens utilizadas. Se verbal: oral ou escrita. Se não verbal:

todas as formas (signos) – olhares, gestos, expressões faciais, cores,

luzes, ruídos, desenho, fotos, pintura, sons etc. Igualmente também as

mídias de que dispomos para veiculá-los.

A escolha da natureza do texto, de sua tipologia e dos meios a

serem utilizados para sua veiculação deve estar associada ao currículo do

curso que se quer construir, sua proposta teórico-metodológica. O

importante é que tenhamos claro que, em qualquer proposta de ensino,

devemos trabalhar com uma pluralidade de textos, com objetivos e

perspectivas diferenciadas. Para uma classificação mais simples, pode-

mos designá-los de textos-base e textos de apoio.

O objetivo do texto-base deve ser não só o de garantir o desen-

volvimento de conteúdo básico indispensável ao andamento do curso,

mas também o de abrir oportunidade para o processo de reflexão-ação-

reflexão por parte dos alunos. Nesse sentido, o texto deve possibilitar ao

aluno, por meio de um processo dialógico, construir seu conhecimento

sobre a área ou tema em foco.

O conteúdo selecionado para ser trabalhado nos textos-base

deve servir como dinamizador curricular, permitindo, sempre que possí-

vel, a relação teoria-prática por parte do aluno. É importante que, nesses

textos considerados marcadores curriculares, haja definição de objetivos

e esclarecimento sobre sua organização, somados a sugestões de tarefas e

TEXTO-BASE

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 17

Page 18: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

pesquisas, com a intenção de aprofundamento teórico na área de conhe-

cimento trabalhada, além de uma indicação bibliográfica de apoio.

Os textos-base podem ser produzidos pelos professores respon-

sáveis pelas áreas de conhecimento ou por disciplinas trabalhadas no

curso, com objetivos muito bem-determinados, ou podem, ainda, ser

textos de outros autores considerados relevantes para a compreensão e a

discussão que se queira alcançar.

No caso de optarem por textos de outros autores, os professores

responsáveis pelas disciplinas ou por áreas de conhecimento se apresen-

tam como mediadores do processo do diálogo entre autor e leitor (aluno)

do texto selecionado. Essa mediação pode ser feita mediante um guia

didático, cuja função é auxiliar o aluno em seu processo de leitura e

compreensão do texto estudado.

Você seria capaz de identificar ou citar as características essenciais de um guia didático? (em caso positivo, não esqueça

de registrar em seu caderno de anotações).

Ensinar um aluno, por meio da autoaprendizagem, como você

sabe, por sua vivência nesse curso, é bem diferente do ensino convencio-

nal, em que a maioria dos textos é trabalhada oralmente pelo professor,

oportunidade em que o aluno pode ir sanando suas dúvidas, imediata-

mente, com a presença do professor.

Por este motivo, ao selecionar os textos que serão trabalhados e,

ainda, ao planejar e elaborar os guias didáticos que servirão de apoio para

os alunos, os professores, ou a equipe responsável pelo ensino, devem ter

muito claros os objetivos do estudo de determinado conteúdo, na pers-

pectiva do projeto do curso e da concepção de currículo adotada.

Além disso, os professores devem ter presente que tudo que

deveria ser dito ou trabalhado em uma sala de aula convencional com a

presença do professor deve ser levado em consideração no planejamento

de ensino por meio da autoaprendizagem.

Como a preocupação de alguns é com a produção de material

impresso, nos deteremos, a partir de agora, nessa tipologia.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção18

Page 19: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Rowntree (1999), discorrendo sobre essa questão, diz que o

professor faz uma “tutoria no papel” e, por esse motivo, deve buscar:

- ajudar o aluno a trabalhar o conteúdo selecionado, destacando algumas partes e ou repetindo outras, quando achar que é impor-tante o destaque;

- dizer-lhes o que necessitam fazer para trabalhar com o material;- estabelecer claramente os objetivos à luz do estudo que vai ser

desenvolvido;- explicar o conteúdo de tal maneira para que os alunos possam

relacioná-los com o que já sabem;- animá-los reiteradamente para que realizem o esforço necessário

para a aprendizagem do conteúdo trabalhado;- provocar situações, através de tarefas, questionamentos e

exercícios que estimulem os alunos a buscar outras fontes de consulta para aprofundamento do conteúdo trabalhado;

- dar condições para que os alunos possam ir acompanhando seu próprio processo de aprendizagem.

- Audiência: para quem foram escritos? é sua audiência suficiente-mente parecida com a dos alunos que se têm em perspectiva?

- Objetivos: são os objetivos didáticos suficientemente parecidos com os que propomos para os alunos do ensino convencional?

- Início: que conhecimentos prévios são necessários para o estudo do texto selecionado?

- Extensão: o tema se revela apropriado para os alunos? É suficien-temente amplo, profundo, preciso e atualizado?

- Enfoque didático: ensina ou simplesmente atua como referência de reforço de algo aprendido em outro lugar? Está orientado para estudantes que trabalham sem a presença constante do professor ou do tutor?

- Estilo: o estilo do material se ajusta aos alunos? É atrativo, tem uma boa estrutura textual? É interessante?

Continuando com Rowntree, veremos que questões devem ser

feitas a respeito dos textos que são selecionados como essenciais na

formação dos acadêmicos.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 19

Page 20: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Continuando com esse quadro, poderíamos acrescentar aquilo

que julgamos mais importante na escolha e na organização de qualquer

material didático:

Está adequado à proposta político-metodológica do curso?É extremamente relevante para a discussão que se quer

trazer para o curso?Possibilita ao aluno ser sujeito do processo de construção

de conhecimento?

Bem, agora que já sabemos o que é um texto didático específico

e um guia didático, e também que ambos podem constituir TEXTO-

BASE de determinado curso, podemos nos perguntar o que são os

TEXTOS DE APOIO.

E aí, você é capaz de defini-los?

TEXTO DE APOIO

Bem, você deve estar pensando ou se perguntando: uma vez

elaborado o texto-base ou os guias didáticos , está resolvida a questão do

material didático de um curso de EAD, não é mesmo?

Pois, se você pensa assim, está equivocado. Mesmo que se opte

por um material didático impresso para o desenvolvimento de um curso,

com certeza esse material não pode se resumir apenas aos textos-base.

O texto-base, afirmamos, serve já como marcador curricular e

metodológico, mas não traz em si a potencialidade de abrangência e

aprofundamento que qualquer área, disciplina ou temática merecem.

Por esta razão, no planejamento de qualquer curso, é preciso

que os responsáveis pelas áreas de conhecimento constantes do currículo

indiquem e trabalhem textos complementares (de livros, revistas, jornais

ou textos encomendados especificamente para discussão de determinado

tema), sobretudo para apoiar as pesquisas a serem desenvolvidas pelos

alunos. Esses textos, que costumamos chamar textos de apoio, devem ser

também considerados material didático do curso, embora não tenham

Material Didático para a EaD: Processo de Produção20

Page 21: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

que estar acompanhados, necessariamente, de guias ou orientações

específicas para a leitura.

Vejamos o gráfico a seguir, para que você conheça a rede de

relações entre os diferentes textos de um curso: TEXTO-BASE e

TEXTO DE APOIO.

Hipertextos

TextosAudivisuais

RevistasEletrônicas

FilmesVídeo

ExclusivoVídeo

Conferência

Seminários

Textos dos AlunosPesquisa

Textos Base

Textosde Jornal

TextosInternet CD-Rom

VídeoEducativo

Palestra

Livros

Textosde Apoio

TextosOrais

TextosEscritos

Obs: Os textos marcados em preto (textos-base) seriam os

marcadores curriculares, e os de cor cinza seriam os de apoio.

Um trabalho também importantíssimo, na organização do

material didático impresso, é a bibliografia comentada, com textos

relevantes no aprofundamento das questões consideradas básicas

para o curso.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 21

Page 22: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Os livros, revistas, jornais e/ou outras fontes, nas quais se

encontram os textos de apoio, devem ficar à disposição dos alunos em

locais acordados previamente. Professores que não trabalhem direta-

mente com o curso podem ser convidados a produzir textos para aprofun-

damento de questões abordadas pelos alunos no processo de estudo.

Os TEXTOS-BASE poderão ser produzidos exclusivamente

para um curso ou poderão ser textos adotados de outros autores, que

serão acompanhados de GUIA DIDÁTICO. Assim, poderemos ter, num

curso, TEXTOS DIDÁTICOS ESPECÍFICOS ou GUIAS DIDÁTICOS

(roteiros de leitura).

Você saberia dizer qual é a diferença entre eles?

Em qualquer curso, o professor de determinada área de conhe-

cimento, disciplina ou módulo pode construir TEXTO DIDÁTICO

ESPECÍFICO para seu curso ou adotar texto de outro autor.

Em ambos os casos, deverão estar presentes os elementos im-

prescindíveis na produção textual, como os que vimos na unidade I.

Quando não é o autor de um texto didático específico, o profes-

sor, ou o orientador de aprendizagem, apresenta-se como mediador do

processo dialógico entre o autor do texto e o leitor-aluno. Para essa medi-

ação, o professor e/ou o orientador devem elaborar um GUIA

DIDÁTICO (roteiros de leitura).

O que é um guia didático? Pense neles e tente uma caracterização.

Aretio (1994) observa que o guia didático tem lugar na EAD

quando o professor faz uma opção por recomendar aos alunos o estudo de

um texto convencional, não produzido especificamente para o ensino a

distância ou auto-formação em sua disciplina ou módulo.

O guia didático seria, então, o documento que orienta o estudo de

forma a aproximar os processos cognitivos do aluno ao material didático,

Material Didático para a EaD: Processo de Produção22

Page 23: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

com a finalidade de trabalhá-lo autonomamente. Seria um instrumento,

segundo Aretio, motivador de primeira ordem, substituto característico da

orientação e ajuda do professor do ensino convencional.

Qualquer que seja a escolha – produzir um texto didático especí-

fico, ou um guia didático –, o professor deverá considerar que, na EAD,

como a interlocução entre o professor-aluno não ocorre necessariamente

num mesmo tempo e/ou espaço, o processo de ensino-aprendizagem deve

ser precedido de rigoroso planejamento, sobretudo no que toca à elabora-

ção do material didático que, entre outras, tem como função no curso:

- Abrir o diálogo permanente entre professor/aluno/orientador;- Orientar o aluno em seu percurso de estudo;- Motivar o aluno não só para aprendizagem do conteúdo seleciona-

do para o material em questão, mas também para a ampliação de seu conhecimento sobre o tema trabalhado, mediante leituras complementares;

- Ensejar a compreensão crítica do conteúdo selecionado como fundamental para o curso em desenvolvimento, tendo em vista que o conteúdo é a base teórico-metodológica para a construção de conhecimentos/sentidos;

- Possibilitar o acompanhamento e avaliação do processo de aprendizagem de determinado material faz parte da construção curricular em que estão implicados outros textos;

- Instigar o aluno para a pesquisa.

O material didático impresso pode ser concebido, já dito em

outra passagem, como texto didático, produzido especificamente para

um curso, a que denominaremos daqui para frente somente de TEXTO

DIDÁTICO ESPECÍFICO, ou pode ser concebido como GUIA

DIDÁTICO, em que o professor utiliza texto de outro autor e produz um

roteiro de estudo para os alunos lerem o texto selecionado.

Qualquer que seja a escolha – TEXTO DIDÁTICO

ESPECÍFICO ou GUIA DIDÁTICO –, o professor deve levar em conta

algumas características fundamentais, conforme Aretio (1999):

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 23

Page 24: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

- Apresentação clara dos objetivos que se pretende com o material em questão;

- Linguagem clara, de preferência coloquial;

- Redação simples, objetiva, direta, com moderada densidade de informação;

- Sugestões explícitas para o estudante, no sentido de ajudá-lo no percurso da leitura, chamando-lhe a atenção para particularida-des ou ideias consideradas relevantes para seu estudo;

- Convite permanente para o diálogo, troca de opiniões, perguntas.

Acompanhando Kaye (1981), Aretio apresenta um quadro-

resumo de características básicas de material impresso, que mostramos a

seguir, feitas algumas modificações.

MATERIAL

FUNÇÕESPEDAGÓGICAS

CARACTERÍSTICAS DO MEIO IMPRESSO

- textos escritos especialmente para a EAD;

- guia didático para estudo de textos convencionais;

- itens suplementares: tarefas, ilustrações, desenhos, fotos, mapas, cartas, revistas, periódicos, avaliações;

- indicações bibliográficas.

- promover o diálogo entre professor/aluno/orientador;

- ensejar o processo de leitura do aluno;

- estimular o aluno para pesquisa;

- dar ensejo a elementos teóricos que possibilitem a ampliação de conhecimento pelo aluno;

- contribuir para a autonomia intelectual do aluno.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção24

Page 25: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

- o estudante pode trabalhar em seu próprio rítmo;

- perguntas para autoavaliação podem promover reforços;

- o aluno pode desenvolver autonomia intelectual;

- o aluno deve ser estimulado a buscar mais informações.

FLEXIBILIDADE

FUNÇÕESMOTIVACIONAIS

- geralmente, é o meio mais flexível e econômico;

- deve ser preparado com bastante antecipação;

- é possível fazer revisão com notas suplementares;

- ajusta-se às previsíveis características do leitor.

Há, ainda, segundo Aretio, algumas condições que devem ser

seguidas na elaboração de qualquer material impresso. No primeiro

contato do aluno com o material, é importante que ele se sinta atraído.

Por isso, alguns cuidados são indispensáveis quando da produção do

texto impresso, a saber:

- a apresentação do material – livro, revista, caderno, fascículos – deverá ser motivadora;

- deve haver esmero na encadernação;

- deve haver sempre uma apresentação, ou introdução, que situe o leitor;

- o tipo de papel e a tipografia devem facilitar a leitura;

- é importante o formato de páginas, ilustrações, isto é, definição de projeto gráfico que permita ao aluno ler produtivamente;

- o material deve apresentar qualidade científica máxima.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 25

Page 26: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

E então, você imaginava que todas essas questões estavam envolvidas no processo de produção de um texto impresso?

Você já havia pensado na possibilidade de trabalhar, na EAD, com textos de autores que você considera importantes na discussão

temática que pretende desenvolver, produzindo um GUIA DIDÁTICO para mediação entre o autor e o aluno?

TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO:

elementos para sua produção

A primeira providência de quem produz textos didáticos para a

EAD é conhecer detalhadamente o Projeto Político-Pedagógico (PPP),

quanto a suas bases epistemológicas, diretrizes, princípios e modalidade

de organização curricular: disciplina, módulo, tema, projeto etc.

Após esse conhecimento, o autor deve fazer um exercício no

sentido de:

1º) Situar a área de conhecimento, disciplina, módulo, tema,

projeto, (qualquer que seja a proposta de organização do

conteúdo curricular) no contexto do curso, esclarecendo

qual sua contribuição no processo de formação delineado

no PPP. Explicitar que relação mantém com o restante do

conteúdo desenvolvido nas demais áreas, disciplinas,

módulos, etc;

2º) Após essa etapa, o autor deve proceder à definição dos

conceitos-chave de sua disciplina, ou módulo ou tema,

mediante a organização de uma mapa conceitual em que se

visualizem os temas e subtemas a serem trabalhados no

material didático;

3º) Com o mapa conceitual explicitado, é hora de definição dos

objetivos pretendidos com o desenvolvimento de cada um

dos conceitos-chave selecionados pelo autor.

Veja, a seguir, o exemplo de mapa conceitual na área da linguagem.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção26

Page 27: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

TEXTO

VERBAL

NÃOVERBAL

QUADRINHOS

CORPORAL

MÚSICA

ESCRITO

DIM

EN

ES

PINTURA

ORAL

MAPA CONCEITUAL

Após todas essas definições, é o momento de começar a escrita do texto.

E então, pronto para a produção do seu TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO ou do seu GUIA DIDÁTICO, Vamos lá? Mãos na

massa ou melhor mão no texto.

Acompanhe, a seguir, alguns roteiros-sugestão que fizemos

para ajudar você em sua tarefa de produzir material didático para a EAD.

- Apresentação: título, contextualização do módulo, aula ou disciplina no curso, objetivos, orientação de percurso.

- Desenvolvimento: apresentação do conteúdo, mediante divisão em partes (capítulos, unidades). Proposição de atividades. Saber + .

- Conclusão: resumo do conteúdo, sugestões para aprofundamento.

ELEMENTOS PARA ORGANIZAÇÃO

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 27

Page 28: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Comentando:

I- INTRODUÇÃO-APRESENTAÇÃO

A Introdução do material didático impresso deve abrir oportuni-

dade ao leitor-estudante de situar-se no curso, compreender a importân-

cia da disciplina, módulo ou tema no contexto do curso. Deve também

informar os principais temas que serão ali abordados e as finalidades

daquele estudo para o processo de formação do acadêmico. É também

nesse espaço que o autor deve dizer qual é o percurso definido para o

estudo daquele tema: quantas unidades ou seções, como estão organiza-

das, se há ou não atividades de avaliação previstas, se há indicação de

estudos suplementares como a seção do SABER + , por exemplo. Enfim,

a introdução é para situar o leitor em relação a seu roteiro de estudo e em

relação à importância daqueles estudos para sua formação.

II- DESENVOLVIMENTO

É recomendável que o conteúdo da disciplina, módulo ou tema

a ser desenvolvido seja subdividido em unidades, seções ou capítulos,

com o intuito de dar ensejo ao estudante do contato gradual com os con-

ceitos a serem trabalhados. No desenvolvimento de cada uma das

seções/unidades/capítulos, é necessário fazer uma pequena introdução

com a apresentação dos objetivos pretendidos no desenvolvimento. Ao

final de cada unidade, é importante a proposição de atividades de avalia-

ção, além de uma seção de SABER + . É relevante que o autor busque

manter um caráter dialógico no desenvolvimento dos temas propostos

para estudo. Linguagem clara e objetiva é também recomendável para

uma boa compreensão do texto.

III- CONCLUSÃO

Na conclusão do módulo, disciplina ou tema, é importante que o

autor faça uma síntese das principais ideias trabalhadas. É igualmente

interessante recomendar novas leituras, estimulando o acadêmico a

continuar seus estudos em relação ao tema trabalhado. Da mesma forma,

Material Didático para a EaD: Processo de Produção28

Page 29: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

pode-se sugerir uma atividade de síntese, não se esquecendo da indica-

ção de bibliografia complementar.

E então, já se sente confortável para a produção de materialdidático impresso para a EAD? Esperamos que sim.

Apesar disso, apresentaremos mais um exemplo de roteiro quepoderá ajudá-lo em sua tarefa de autor.

1. DISCIPLINA INTRODUTÓRIA

Apresentação do plano de estudos da área

2. CADA DISCIPLINA

DIVISÃO em UNIDADE (sugestão de 3 a 4)2.1 BOAS-VINDAS COM CONVITE PARA O ESTUDO2.1.1 Apresentação da Disciplina (objetivos, conteúdo de cada uma das unidades, metodologia, avaliação). Entre as unidades, colocar páginas com marca da disciplina (design).2.2 PARA CADA UMA DAS UNIDADES2.2.1 NTRODUÇÃO (objetivos, conteúdo principal, estímulo à construção de conhecimento). Problematizando (questões orientadoras).2.2.2 EXTO-BASE (dialógico), com marcas aparentes do diálogo.2.2.3 ATIVIDADES PARA AUTOAVALIAÇÃO Critérios para correção das atividades (ao final da disciplina)2.2.4 Saber +

3. CONCLUSÃO

Fechamento da disciplina com recuperação dos principaisconceitos estudados.Convite à continuação dos estudos para aprofundamento.Bibliografia, referências webgráficas e de vídeos.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 29

Page 30: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Veja, agora, outro exemplo de ROTEIRO para a produção do

TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO.

1. TíTULO DA UNIDADE:

2. Introdução e orientações para o estudo : esta parte deveservir de motivação e esclarecimento ao aluno sobre os estudosque ele irá desenvolver. A introdução deve ser clara e precisa, levan-do em conta esses dados:

- a importância da unidade didática no contexto do curso e da disciplina em desenvolvimento e sua relação com o processo de formação profissional e humanística do aluno;

- como será desenvolvida a unidade: suas partes e quais os procedimentos, caminhos e atividades previstas no decor-rer da discussão dos temas trabalhados;

- como se dá a relação entre essa unidade e as outras previs-tas para a disciplina/módulo;

- como será o processo de comunicação previsto para o diálogo entre você e o aluno, caso ele necessite de esclare-cimentos e/ou explicações adicionais.

- ajudas externas no que se refere a outras leituras e/ou orientação.

3. Objetivos previstos para essa unidade ( não se esqueça deque você já tem isso pronto na atividade nº1).

4. Esquema a ser seguido no desenvolvimento doconteúdo da unidade. Aqui deve ser mostrado como será ofluxograma das ideias e conceitos-chave da unidade. Esteesquema pode ser feito através de um quadro sinótico, umsistema de numeração ou uma mapa conceitual que oriente vocêno desenvolvimento de seu texto.

5. Desenvolvimento (a essência do seu trabalho). A partir de seu esquema conceitual e da divisão proposta em seu fluxograma, você

Material Didático para a EaD: Processo de Produção30

Page 31: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

vai iniciar seu texto científico (aqui você deve considerar o exposto no item 2.1). Você deve lembrar que tem objetivos claros em rela-ção ao conteúdo a ser trabalhado. Seu texto deve ser adequado à descrição de seu interlocutor e de fácil compreensão. Para tanto, você deve considerar:

- texto para EAD: você está produzindo um texto para um aluno que não estará frente a frente com você. Por isso, seu texto deve permitir uma leitura sem problemas, o que pressupõe sua preocupação com o uso de vocabulário acessível ao nível cultural de seu aluno, com conhecimento prévio dele sobre o assunto, com suas leituras anteriores. Sua linguagem deve ser precisa, clara, limpa.

- a estrutura interna do texto deve permitir que o aluno vá assimilando os conhecimentos em pequenas dosagens. Ele deve perceber qual a estrutura proposta para o desen-volvimento das ideias, para isso é importante fazer uma conveniente divisão e subdivisão de cada tópico.

- é importante que você vá apresentando, em cada uma das partes, questões para despertar o interesse, suscitar perguntas. É significativo propor também exercícios e/ou atividades que permitam pequenas sínteses no decorrer do texto.

- texto dialógico: você pode optar por uma abordagem dialó-gica no desenvolvimento do próprio texto, ou nas introdu-ções e/ou fechamentos das subunidades. O importante é seu leitor perceber a si mesmo num processo de diálogo, em que ele participa como sujeito da produção do conheci-mento.

- estilo e formatação textual: o tamanho da letra, o distan-ciamento entre as linhas e parágrafos também são pon-tos importantes na organização do texto impresso. O próprio tamanho do parágrafo, às vezes, interfere na compreensão. Frases longas e intercaladas, usadas excessivamente, igualmente dificultam a compreensão.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 31

Page 32: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

- tipografia e realces: os títulos, subtítulos, ideias-chave devem ser realçados com tamanho de letra, grifo ou utili-zação de cor. Você pode fazer destaques, por meio de notas de rodapé, de margem, de enquadramento do texto, de utilização de sinais etc.

- ilustrações: gráficos, esquemas, quadros estatísticos, desenhos, fotografias, mapas etc, devem ser atrativos e dispostos de maneira a facilitar a compreensão do texto.

6. Conclusão: deve favorecer uma síntese das ideias e conceitos trabalhados.

7. Bibliografia: deve ser indicada a bibliografia básica para aprofun-damento das discussões trabalhadas na confecção do material.

8. Extensão do texto: lembre-se que um texto muito longo pode dispersar a atenção do aluno, além de desanimá-lo em razão de sua espessura. O recomendável é que cada texto tenha por volta de 60 a 80 páginas, tamanho ofício.

9. Avaliação: você poderá estabelecer o processo de avaliação no percurso do aluno mediante atividades que vão sendo desenvolvi-das no decorrer dos estudos e pode também, ao final, propor uma avaliação de síntese. O importante é que estas propostas permi-tam verificar a compreensão crítica do aluno-leitor sobre o texto trabalhado.

Bem, para que você possa ter um esquema de roteiro, relativo às

ações a serem desenvolvidas no processo da sua produção textual,

apresentamos, na página seguinte, um pequeno mapa do percurso a ser

feito.

Esperamos que, com as discussões aqui promovidas, você se

sinta mais encorajado na tarefa da produção de seu material didático para

a EAD.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção32

Page 33: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

PROJETO POLÍTICO-

PEDAGÓGICO

Basesepistemológicas

Diretrizes

ConceitosIdeias-chave

AvaliaçãoSaber +

Planejamento

FINALIDADES

Princípios

Seleção doconteúdo

Mapa (área/disc/mod)

conceitual

Unidades/capítulos

Objetivos

Desejamos a você BOM TRABALHO!

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 33

Page 34: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 35: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

MATERIAL DIDÁTICO E O PROCESSO DE

COMUNICAÇÃO NA EAD

Maria Lúcia Cavalli Neder

o refletirmos a respeito da EAD, temos que, primeiramente,

focar a essência, aquilo que é substantivo. Isto é, não são as Acaracterísticas, não é o adjetivo (ser a distância, presencial,

semipresencial, modular) que deve ser o centro de nossa ação, mas, sim,

a compreensão de que estamos fazendo educação. É importante, antes de

qualquer outra consideração, que tenhamos consciência de que estamos

construindo uma prática educativa. A EDUCAÇÃO é a essência e deve

ser compreendida como prática social que, em interface com outras

práticas, contribui para a construção de significados culturais, reforçan-

do e/ou conformando interesses sociais e políticos.

Silva (1996) afirma que a educação, o currículo, a pedagogia

estão envolvidos numa luta em torno de significados. Esses significados

são construídos a partir de relações estabelecidas entre os sujeitos da

prática educativa, através da organização e do desenvolvimento do

currículo.

A forma e o modo pelo qual o currículo é organizado merecem,

também, atenção especial. Tanto conteúdo como forma, afirma Apple

(1989), são construções ideológicas. A modalidade ou a forma de organi-

zação curricular não pode e não deve ser pensada ou discutida isolada das

discussões políticas, isto é, dos processos de significação que se quer ou

se deseja construir por meio da educação.

A Educação a Distância, como modalidade de organização e

desenvolvimento de currículo educacional, não deve ser reduzida apenas

a questões metodológicas ou a possibilidades de uso de novas tecnologi-

as da informação e da comunicação (TIC). Deve ser vista sempre como

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 35

Page 36: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

parte de um projeto político que vincule a educação com a luta por uma

vida pública na qual o diálogo, a tolerância e o respeito à diferença este-

jam atentos aos direitos e às condições que organizam a vida pública

como uma forma social justa e democrática.

Você concorda com nossa posição de que a essência é a EDUCAÇÃO, e não as características da modalidade

A DISTÂNCIA?Você já havia pensado sobre isso?

É importante que comecemos a refletir, a partir de agora, sobre a importância do material didático no desenvolvimento de

projetos de EAD.Qual é, em sua opinião, o papel do material didático em projetos

desenvolvidos na modalidade a distância? Acompanhe nossa reflexão a esse respeito.

As instituições escolares têm necessidade, conforme Silva

(2000), de se apresentarem como espaço de educação, ao invés de um

lócus de distribuição de saber-produto a clientes consumidores.

Um espaço de educação deve pressupor a construção de uma

prática que possibilite aos sujeitos da ação educativa compreender criti-

camente a realidade social em que se inserem, com vista a uma participa-

ção ativa nessa realidade.

Para pensarmos sobre material didático, faz-se necessário

primeiro que pensemos que estamos participando da construção de um

projeto educativo. A educação deve ser concebida como prática social,

que acontece na e da relação de sujeitos historicamente situados e que, a

partir dessas relações, se constroem sentidos que interferirão diretamen-

te na vida das pessoas e na vida social.

Isso pressupõe uma compreensão de educação como um siste-

ma aberto, não só voltado para a transmissão e transferência de conheci-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção36

Page 37: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

mentos, que implica processos transformadores que decorrem da expe-

riência de cada um dos sujeitos da ação educativa.

Essa compreensão implica também pensar no estudante não

mais como um ser passivo, receptor de mensagens enviadas pelo profes-

sor, seja através de material didático, seja através de aulas expositivas

presenciais.

Se entendermos a educação como prática social de construção

de sentidos pelos sujeitos que delam participam, a autonomia do estu-

dante passa a ser um dos ideais da ação educativa. Ele deve ser estimula-

do a ser ativo no processo de construção do conhecimento, principal-

mente quando se tem presente que o mundo contemporâneo, em que o

conhecimento evolui de forma incontrolável, exige uma educação volta-

da para a autonomia do aprendiz, o que implica uma metodologia do

aprender a aprender.

A EAD, por suas peculiaridades, sobretudo em relação a media-

tização das mensagens pedagógicas, coloca-se como uma modalidade

em potencial para o desenvolvimento dessa autonomia que se quer do

aprendiz.

Mediatizar, na perspectiva do processo educacional, significa,

segundo Belloni (2001):

conceber metodologias de ensino e estratégias de utiliza-

ção de materiais de ensino/aprendizagem que potenciali-

zem ao máximo as possibilidades de aprendizagem autô-

noma. Isso inclui desde a seleção e elaboração de conteú-

dos, a criação de metodologias de ensino e de estudo,

centradas no aprendente, voltadas para a formação da

autonomia, a seleção dos meios mais adequados e a

produção de materiais, até a criação de estratégias de

utilização de materiais e de acompanhamento do estu-

dante de modo a assegurar a interação do estudante com

o sistema de ensino (BELLONI, 2001. p. 26).

Como uma modalidade de ensino e de aprendizagem mediatiza-

da, a EAD deve considerar os dois principais componentes, destacados

por Belloni (2001), de uma nova pedagogia: a utilização cada vez mais

das tecnologias de produção, estocagem e transmissão de informações,

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 37

Page 38: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

por um lado, e, por outro, o redimensionamento do papel do professor.

Este tende a ser amplamente mediatizado: como produtor de mensagens

inscritas em meios tecnológicos, destinadas a estudantes a distância, e

como usuário ativo, crítico e mediador entre estes meios e os alunos.

A EAD, para Belloni (1999), usa a tecnologia como forma de

mediatizar o processo de ensino e de aprendizagem. Embora todo pro-

cesso educativo seja mediatizado, visto que há necessidade de “traduzir”

as mensagens pedagógicas, a autora argumenta que a EaD tem que

potencializar as virtudes comunicacionais do meio técnico a ser utiliza-

do, no sentido de abrir oportunidade ao estudante para realizar sua apren-

dizagem de modo autônomo e independente.

Deste modo, a EaD pode contribuir significativamente não só

para a transformação dos métodos de ensino e da organização do trabalho

pedagógico, mas também para a utilização adequada das tecnologias de

mediatização da educação, implicando, nesse caso, uma redefinição da

comunicação nos processos educacionais.

Que tecnologias da comunicação e informação você poderia utilizar em sua instituição no desenvolvimento de um projeto de Educação a Distância, e qual a importância delas no contexto do

curso de que você participa?

Com certeza, você destacou a comunicação como um dos

elementos essenciais que podem ser garantidos pelas TIC's, não é

mesmo?.

A comunicação constitui um dos elementos centrais na EAD,

tendo em vista, sobretudo, a relação professor-aluno, que não se estabe-

lece mais face a face, mas, sim, pela mediação de textos, veiculados pelas

tecnologias da informação e da comunicação.

A Educação a Distância pode possibilitar, ainda, aquilo que

Belloni (2001, p. 12) denomina de “educação para as mídias”, cujos

objetivos dizem respeito à formação do usuário ativo, crítico e criativo de

todas as tecnologias de informação e comunicação.

Ela deve ser pensada, pois, como um modo privilegiado de

“educar para a comunicação”.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção38

Page 39: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Educar para a comunicação é, segundo Costa (1993), orientar

para realizar análises mais coerentes, complexas-completas e, ao mesmo

tempo, ajudar a expressar relações mais ricas de sentido entre as pessoas.

É uma educação que gera outras relações simbólicas e outras expressões

do ser social.

Um dos maiores desafios que o professor enfrenta hoje na

construção de sua prática pedagógica, conforme Silva (2000), é modifi-

car a comunicação, no sentido da participação-intervenção, da bidirecio-

nalidade-hibridação e da permutabilidade-potencialidade. O papel de

transmissor de conhecimento deve ser modificado para o de disponibili-

zador de domínios de conhecimento e de ambiência de aprendizagem

que garanta a liberdade, a pluralidade, a escolha, a intervenção.

Você saberia explicar o que seria essa bidirecionalidade-hibridaçãoproposta pelo autor acima citado?

Você saberia identificar as características de uma modalidade comunicacional unidirecional e de uma

modalidade comunicacional bidirecional? Qual a principal diferença entre elas? Veja se sua resposta está

adequada à definição proposta a seguir.

O conhecimento, nessa perspectiva, deixa de ser “algo” a ser

doado, para ser compreendido como um processo de busca, de análise, de

explicação de fenômenos e situações da realidade, que se constrói na/da

interação de sujeitos da prática social.

No espaço educacional, o professor (interlocutor), um dos

sujeitos envolvidos na construção curricular, deve possibilitar, ao invés

de uma prática educativa unidirecional, uma prática alicerçada na bidire-

cionalidade, na participação livre e plural das subjetividades.

De uma modalidade comunicacional unidirecional, passa-se,

portanto, a uma modalidade interativa.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 39

Page 40: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

A modalidade comunicacional unidirecional tem como princi-

pais características, segundo Silva (2000, p. 73):

- A mensagem se apresenta de modo fechado, imutável, linear e

seqüencial;

- O emissor busca atrair o receptor (geralmente por imposição)

para seu universo mental;

- O receptor é compreendido como ser assimilador passivo;

A modalidade comunicacional interativa se apresenta com as

seguintes características:

- A mensagem é modificável, em mutação, à medida que res-

ponde às solicitações daquele que a manipula;

- O emissor, “designer de software”, constrói uma rede ( não

uma rota) e define um conjunto de territórios a explorar; ele

não oferece uma história a ouvir, mas um conjunto intrincado

(labirinto) de territórios abertos a navegações e dispostos a

interferências, a modificações;

- O receptor manipula a mensagem como coautor, cocriador,

verdadeiro conceptor.

De uma teoria de comunicação em que a mensagem é um conte-

údo informacional fechado, o aluno/leitor é considerado um ser passivo,

sem liberdade de modificar ou interferir na mensagem e o emissor é auto-

ritário, deve-se avançar para uma teoria da comunicação que tenha como

princípios de sustentação a interatividade e a interação.

Na comunicação interativa, compreende-se o caráter ativo e

participativo do sujeito (receptor) na ação comunicativa, o que modifica

sensivelmente o papel e a função do sujeito (emissor). Além disso, a men-

sagem (texto) passa a ser também compreendida como uma unidade de

significação que só se instaura quando da interação entre autor (emissor)

e leitor (receptor).

Material Didático para a EaD: Processo de Produção40

Page 41: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Interação e interatividade são dois conceitos fundamentais quando se discutem processos de comunicação. Qual é sua

compreensão a respeito desses termos. Tente conceituá-los em seu caderno de anotações, antes de ver a opinião de alguns

autores sobre isso. Após, leia o texto nº1 do SABER +.

Possari (2002) compreende por interação o processo pelo qual

interlocutores “inter-agem” e decorrem daí os efeitos de sentido. Interlo-

cutores são entendidos como os dois polos de qualquer situação de comu-

nicação (verbal, não verbal, mediada por tecnologias). Os interlocutores

constroem sentidos conjuntamente.

A interatividade, por seu lado, seria o processo que permite a

coautoria entre emissor e receptor, ensejando a este último transformar-

se, a partir de suas ações, em coprodutor de sentidos. Equivale a dizer que

o leitor pode e deve interferir no texto do produtor.

Silva (2000), referindo-se à interatividade, destaca dois compo-

nentes lexemáticos: um deles significaria “entre” e, o outro significaria

relação recíproca. Na interatividade está prevista a possibilidade de

interferência, de modificação, de escolha de caminhos nos processos de

significação.

A modalidade interativa, como assinala Possari (2002), pressu-

põe: um emissor que constrói uma rede, um conjunto de possibilidades a

explorar; oferece um conjunto intrincado de lugares dispostos à interfe-

rência e às modificações; uma mensagem (texto) modificável; um recep-

tor ativo, que se apresenta como coautor no processo da interlocução.

Orlandi (1993), trabalhando a questão da autoria no processo de

produção de textos, argumenta que a escola deve propiciar a passagem do

enunciador/autor (perspectivas que o eu constrói no discurso), de tal

forma que o aprendiz possa experimentar práticas que façam com que ele

tenha controle dos mecanismos com os quais está lidando quando escreve.

Possari e Neder (2001) assim concebem texto:

Texto é qualquer unidade de sentido. São todas as formas

(unidades de significação) que são utilizadas para intera-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 41

Page 42: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

ção entre sujeitos: a pintura, a música, a charge, o gibi, o

texto escrito poético, a dissertação, a música, a fotogra-

fia, o vídeo, o cinema, a escultura etc).

Textos são construções simbólicas que podem materializar-se

em qualquer suporte: a televisão, os CDs-ROM, o rádio, a internet

(APARICI, 2000).

Pensando-se na prática da leitura, como processo que permite a

interlocução entre autor/leitor, Orlandi (1993) assim se posiciona:

Se se deseja falar em processo de interação da leitura, eis

aí um primeiro fundamento para o jogo interacional: a

relação básica que instaura o processo de leitura é o do

jogo existente entre um leitor virtual e o leitor real. É uma

relação de confronto. O que, já em si, é uma crítica aos

que falam em interação do leitor com o texto. O leitor não

interage com o texto (relação sujeito/objeto), mas com

outro(s) sujeito(s) (leitor virtual, autor, etc). A relação,

como diria Schaff (em sua crítica ao fetichismo sígnico,

1966), sempre se dá entre homens, são relações sociais;

eu acrescentaria, históricas, ainda que (ou porque)

mediadas por objetos (como o texto). Ficar na “objetali-

dade” do texto, no entanto, é fixar-se na mediação, abso-

lutizando-a, perdendo a historicidade dele, logo, sua

significância (ORLANDI, 1993. p. 9).

Acedo (2000), trabalhando o conceito de interatividade em

texto multimídia, chama de comunicação bancária aquela em que se

utilizam os meios de comunicação para transmitir ao usuário uma série

de conteúdo conceitual, com um esquema de comunicação unidirecional.

Nesse modelo comunicativo, existe um emissor, um receptor e

uma mensagem, que é a informação que se transmite. O receptor tem que

traduzir a mensagem.

Nesse caso, Acedo argumenta que não existe a verdadeira

comunicação, já que o receptor não participa ativamente. Alguém trans-

mite um ou outro conteúdo. A informação se dá de um lado só. É o mode-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção42

Page 43: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

lo de comunicação unidirecional.

Na Comunicação, com uso de meios técnicos (TV, computador,

etc.), Acedo afirma que se está falando em comunicação mediada, que

deve ser:

- intencional: terá que estar presente tanto no emissor como no receptor, de tal forma que os produtores e usuários se convertam em emissores e receptores ao mesmo tempo;

- multissensorial; nesta, não haverá emissor e receptor, mas, sim, produtores e usuários, situando-se ambos no início do esquema, pois os dois são responsáveis por originar mensagens.

Nesse modelo de comunicação multidirecional, devem-se

conceber, portanto, os sujeitos da ação comunicativa como interlocuto-

res, com responsabilidade de produzir significados.

O interlocutor (receptor) é concebido como protagonista da

construção dos processos de significados, portanto autônomo e ativo na

relação comunicacional.

Pensar o processo de comunicação, na perspectiva da relação

comunicacional, portanto de comunicação interativa ou multidirecional,

é imprescindível para qualquer modalidade educativa, sobretudo quando

essa modalidade é a EAD.

Conceber a comunicação, a partir desses pressupostos, é pensá-

la de forma redimensionada, dinâmica, em processo.

O professor, numa modalidade comunicacional redimensiona-

da, tem que considerar a participação (a coautoria) nos processos de

significação que são instaurados no espaço escolar. Ele deixa de ser

simplesmente um transmissor de conhecimento para ser um organizador

de situações de aprendizagem, alguém que busca disponibilizar múlti-

plas situações que permitam a intervenção do interlocutor.

Como um dos interlocutores privilegiados no processo da

construção, cabe ao professor possibilitar ao aluno (receptor) constituir-

se também em autor (emissor), crítico e criativo, de novos textos, ao

mesmo tempo em que se constitui, ele próprio, também em um aprendiz.

É um processo de troca, de diálogo.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 43

Page 44: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Qual é a importância de mudança de paradigma na compreensão do processo de comunicação, quando se

tem em vista a Educação a Distância?

Uma das características fundamentais da EAD, como vimos em

outra passagem, é ser um processo de ensino e de aprendizagem mediati-

zado, sobretudo pelo uso de tecnologias da informação e da comunicação.

Paradoxalmente, a Educação a Distância só pode se desenvol-

ver se não houver “distância” entre os sujeitos da prática educativa. Essa

“não distância” diz respeito ao processo de interlocução, diálogo perma-

nente, que deve ocorrer entre os envolvidos na prática educativa, mesmo

que não ocupem o mesmo espaço físico em um tempo real.

Na tentativa de recuperação de algumas reflexões sobre a temá-

tica tempo/espaço, invocamos Santos (1997), que afirma que o tempo só

existe em relação a uma subjetividade concreta. Por isso, é o tempo da

vida de cada um e da vida de todos, e o espaço é aquilo que reúne a todos,

em suas múltiplas possibilidades: diferentes de uso de espaço (território)

relacionado com possibilidade de uso de tempo. É o viver comum, segun-

do Santos, que se realiza no espaço. Esse espaço seria, então, o lócus onde

são construídos os significados sociais, culturais, a partir dos processos

de interlocução, de compartilhamento, de diálogo, de troca entre sujeitos

relacionais, situados historicamente.

Toda forma de interação, segundo Possari (2001), se dá por um

processo de mediação simbólica. O signo/símbolo poderá ser verbal: oral

ou escrito; não verbal: sonoro/musical; visual: estático, dinâmico etc.

Nos processos de interlocução a distância, os efeitos de sentido,

significação, que são atribuídos aos textos (verbais ou não verbais),

devem ser preocupação fundamental. É o leitor/aluno que, com sua

história de vida e de leituras, atribuirá sentidos aos textos selecionados

e/ou produzidos pelo professor.

Como, para a EAD, os processos de significação são materiali-

zados em textos de diferentes natureza e propósito, a seleção ou produ-

ção de textos para o processo educativo requerem uma compreensão no

Material Didático para a EaD: Processo de Produção44

Page 45: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

âmbito de suas dimensões sociocomunicativa e semântico-conceitual,

conforme VAL (1993).

Além disso, na escolha de determinado tipo de texto, estarão

sendo escolhendo também os meios de veiculação desses textos, o que

implica um pouco de conhecimento sobre essa questão.

A comunicação é um dos elementos fundamentais no desenvolvi-mento da EAD, como você viu na discussão feita até aqui. Por isso, gostaríamos que você refletisse um pouco mais sobre esse assunto, produzindo um texto, conforme a solicitação proposta na seção atividade. Não se esqueça que o FÓRUM é o espaço para nossas reflexões.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 45

Page 46: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 47: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

PRODUÇÃO DE MATERIAL

DIDÁTICO PARA A EAD

Lúcia Helena V. Possari

INTRODUÇÃO (OU POLIFONIA)

uando nos propomos participar de um processo de interação,

como neste caso especificamente, ocuparemos, num dos polos, a Qfunção-autor e, no outro, você, cursista, a função-leitor.

Todavia, sabemos que o teor do que vamos tratar não começa

aqui nem termina aí, pois o processo de interação pressupõe conheci-

mento prévio de ambos os polos e, no final do texto, o assunto não se

encerra, dado que o processo de leitura é contínuo.

Antes de começarmos a redigir, fazemos imagens de vocês

leitoras/leitores: professores e professoras de diversas áreas de

conhecimento, com pós-graduação lato e stricto sensu, desejosos de

sistematizar conosco a produção de material didático para a EAD.

Será que é só isso, ou é bem isso? Vocês também têm imagens de nós.

Não interessa se essas imagens se confirmam ou não no texto, na

leitura, na orientação. Mas foi preciso partir de um pressuposto para

produzir o texto para vocês.

Possari (1999) afirma que comunicar é interagir. Os dois polos

se estabelecem como interlocutores. O texto materializado entre quem

fala e quem ouve, quem escreve e quem lê, professor/aluno, pin-

tor/apreciador de obra de arte, músico/ouvinte, autor/diretor de nove-

la/telespectador etc, engendra discursos diversos que dependem, para

efeitos de sentidos, da HISTÓRIA DE VIDA do produtor e do leitor.

Isto a que chamamos de “nosso” texto é, na verdade, um inter-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 47

Page 48: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

texto dos textos que já lemos e dos interdiscursos de que fazemos parte. É

um texto polifônico. Assim também na leitura, este texto fará parte de seu

intertexto, ou seja, é mais um.

Por falar em texto, este é escrito e será lido por você, no impres-

so, mas pode-se também escrever para ser veiculado na rede mundial de

computadores ou produzi-lo para ser visto num vídeo ou para ser ouvido

num CD-ROM ( ou fita cassete) ou, ainda, lido num site.

A opção pelo meio(áudio, audiovisual, hipertextual) que fizer-

mos vai determinar nosso texto, nosso discurso.

Vocês já devem ter visto, na internet, textos escritos exatamente

como no impresso. Já devem ter visto enciclopédias inteiras na internet.

Não é por estar sendo veiculado na Rede que os autores tiveram a preocu-

pação de modificar o texto. Ou seja, nesse caso, o texto só foi transferido

do impresso para a tela.

Para falarmos, então, sobre o modo de veiculação dos textos, 1retomamos o conceito de Possari e Neder (2003) :

1. POSSARI, Lúcia H.V. e NEDER, Maria L. C. Linguagem, o entorno, o percurso. 3ª. Ed. Cuiabá: EDUFMT, 2003

Texto é um todo de significação, passível de compreensão e atribuição de sentidos.

Texto pode ser verbal: oral ou escrito, pintura, gravura, escultura, música, cores(enfim tudo o que fizer sentido).

Leitura será o processo pelo qual cada leitor atribuirá sentidos ao texto lido, seja ele de que natureza for e veiculador por qualquer mídia: impresso, TV, Rádio, CD, DVD, ou internet.

Assim,

Falando nisso, faz-se necessário, a nosso ver, discorrermos

sobre os tipos de leitor(leitura) aos quais nos dirigimos.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção48

Page 49: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

PARTE I

LEITOR/LEITURA - POR UMA TIPOLOGIA EM EAD

Sabemos que a leitura é um processo complexo e que a relação

entre leitor/autor, mediada pelo texto, é uma das principais questões que

devem ser trabalhadas na EAD. Como já vimos, o material didático

(textos) se coloca como um dos elementos centrais de mediação entre os

sujeitos da prática pedagógica. Assim, pensar nos tipos de leitor que

podem ser encontrados e, ainda, como o texto se apresenta para os

leitores é fundamental no processo da produção textual.

Você saberia identificar algum tipo de leitor, a partir de sua experiência pedagógica? Tente uma categorização nesse sentido.

Você certamente se lembrou de algumas classificações, mas,

para nosso texto, optamos por referenciar a classificação de Santaella 2(2004) .

Segundo a autora, os leitores podem ser classificados em

CONTEMPLATIVO ou MEDITATIVO; MOVENTE ou FRAGMEN-

TADO E IMERSIVO ou VIRTUAL.

Essa classificação se refere aos momentos da HISTÓRIA em

que veículos foram oferecidos ao leitor para ler um texto.

LEITOR CONTEMPLATIVO OU MEDITATIVO

2. SANTAELLA Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004

Assim, não é correto dizer que autores escrevem livros. O que

escrevem são textos que se tornam objetos escritos, manuscritos, grava-

dos, impressos ou, mais recentemente, digitalizados, informatizados.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 49

Page 50: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

É válido ressaltar que os efeitos de sentido produzidos pelo leitor NÃO são independentes das formas materiais pelas quais o texto é veiculado, pois elas interferem na forma de legibilidade do texto.

O LEITOR CONTEMPLATIVO é o leitor de:- SIGNOS E OBJETOS DURÁVEIS- LIVROS, PINTURAS E MAPAS- LIVRO NA ESTANTE - LEITOR NÃO ACOSSADO PELA URGÊNCIA- O LEITOR PROCURA OS OBJETOS IMÓVEIS.

O processo de LEITURA do leitor contemplativo é, até hoje,

reproduzido pela escola, nos seguintes passos:

- Silenciosa;

- Com os lábios;

- Em voz alta.

O livro é o exemplo histórico e permanente desse processo de

leitura que, na História, foi e tem sido – e parece-nos que permanecerá

sendo ainda por algum tempo – o instaurador de formas de cultura. Por

ele têm sido divulgadas a ciência moderna e o saber universitário.

O livro tem seus desdobramentos nos jornais e revistas. Para

além do livro, esses outros veículos oferecem leituras espirituais, intelec-

tuais e profissionais.

Todavia, esses meios impressos convivem com um conjunto de

mutações tecnológicas, formais e culturais para as quais se tem que

aplicar atenção.

Como vimos no início desta Unidade, LER é um processo de

reconstrução desconcertante, labiríntico, comum e pessoal. É construir

um ou mais sentidos dentro das regras de linguagem e, ainda, ruminação

e contemplação.

Dessa forma, não podem ser ignorados novos suportes e estru-

turas para o texto escrito, com a proliferação das redes de telecomunica-

ções – internet.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção50

Page 51: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Logo, ler não mais é ficar imóvel, ou privilegiar a leitura contemplativa não é mesmo? Como fica o processo de leitura a partir dos novos suportes eletrônicos e estruturais textuais

da multimídia? Pense a esse respeito.

Vivemos um momento de construção de conhecimento rizomá-3 4tico (DELEUZE E GUATARRI) e se faz necessário ter presente a

universalidade e o intercâmbio de idéias, através de leituras não só con-

templativas.

Devemos, como educadores, atentar-nos para as novas formas

de percepção e cognição que os atuais suportes eletrônicos e estruturas

híbridas e alineares do texto escrito estão fazendo emergir, dilatando,

com isso, o conceito de leitura, ou seja, a expansão do conceito de leitor

de livro para leitor de imagem e para leitor de formas híbridas de signos,

incluindo o leitor que navega pelas infovias do ciberespaço.

Cabe ressaltar que os leitores deste nosso texto e os leitores para

os quais vocês produzirão material didático são leitores:

- de imagem, desenho, pintura, foto;

- de jornal e de revista;

- de gráficos, mapas e sistemas de notação;

- de miríade de signos, símbolos e sinais;

- do cinema e do vídeo;

- de infovias: arquiteturas líquidas e alineares da hipermídia.

3. É a metáfora que recorre à imagem de bulbos e tubérculos. O rizoma pode ser conectado a qualquer outro. É o princípio da multiplicidade. Não é um sistema centrado ou hierárquico, é circulacão de estados momentâneos.

4. DELEUZE, G e GUATARRI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio: Ed. 34, 1995, v.1

Vimos falando do leitor contemplativo, mas, mesmo antes de apresentarmos os outros leitores, temos que ter presente que a

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 51

Page 52: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

classificação não se restringe a tipos de linguagens nem a suporte de canais, mas, sim, a tipos de habilidades sensoriais, perceptivas e cognitivas das quais lançamos mão quando somos leitores. Independentemente de qual seja a mídia, ler é construir um ou mais sentidos dentro das regras de linguagem.

O segundo tipo de leitor, então, de acordo com Santaella (A 52004) é o

LEITOR MOVENTE, FRAGMENTADO

5. SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfifl cognitivo do leitor imersivo. São Paulo;Paulus,2004.

Esse leitor o qual, surge em momentos de grandes transforma-

ções midiáticas, em geral, sofre mudanças profundas no modo de ver o

mundo.

Isto pode ser observado, a partir da segunda metade do século

dezenove:

- Os objetos, sejam para o vestir, para o lazer, para a locomoção,

passam a ser produzidos em PRODUÇÃO SERIAL;

- O Estado, como instituição, passa a ser legal e fiscal;

- Viver significa compartilhar de complexidade, como o telé-

grafo, o telefone, cuja consolidação encontra ecos nas redes de

opinião, principalmente dos jornais.

O espaço urbano é de movimento contínuo e de proximidade

promíscua, uma vez que tendo a Cidade-Luz, a iluminação a gás, o con-

vívio estreito nas galerias, parques e cafés, abre ensejo para o espaço

urbano como Cidade-Passarela que estetiza aparências.

De acordo com a autora, a sensorialidade é alucinógena, o que

propicia o flaneur, ou seja aquele que pode gozar do ócio espiando a

cidade. Nessa esteira, o livro e o profissional sofrem transformação em

Material Didático para a EaD: Processo de Produção52

Page 53: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

mercadoria. É claro que isto perdura até os nossos dias.

Esse leitor é alvo de ofertas de produtos, geralmente de reprodu-

tilibilidade técnica, como discos, livros em série, revistas de grande

tiragem, fotos. Passa a ser o leitor que se dá o direito dos prazeres do

consumo.

Os centros urbanos são habitados por signos. O leitor passa de contemplativo a leitor apressado de linguagens efêmeras, híbridas. Não é mais só aquele leitor de gravar na memória muitas coisas. Ele é leitor novidadeiro (do jornal), de memória curta, cujos textos lidos são para serem vistos e decodificados. Com a profusão de muitos outros meios além do escrito impresso, o leitor é um leitor de massas, volumes, formas, cores, luzes e, consequentemente, é um leitor acelerado.

Mesmo essa passagem se dando em meados do século XIX, até

os dias atuais, para além dos livros e dos impressos, oferecem-se fotos e

imagens ainda sob o signo do choque. A muitos é dada a oportunidade de

gravar imagens, através das fotos, do cinema, da TV e do vídeo.

Assim, da contemplação, do permanente, do sempre encontrar

o livro na estante, passa-se ao superficialismo, à efemeridade, à hipe-

restesia.

Dele, leitor, é exigido (e a ele é possibilitado) ler o verbo, oral e

escrito, ler imagens, ler sons, ler ruídos, ou seja, ler situações vivenciadas

por ele.

É o leitor do rádio, da TV, de vídeos, de filmes, de revistas em

quadrinhos, de tiras de jornais.

E mais recentemente?6De acordo com Santaella (2004, p.33) , leitor contemporâneo é

o leitor IMERSIVO ou VIRTUAL.

Trata-se de um modo inteiramente diferente de ler. Esse leitor se

difere do leitor contemplativo e do leitor movente, pois não se trata mais

6. SANATELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo, Paulus, 2004.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 53

Page 54: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

de um leitor que tropeça, esbarra em signos físicos, materiais – como é o

caso do leitor movente –,

... mais de um leitor que navega numa tela, programando leituras,num universo de signos evanescentes e eternamente disponíveis, contanto que não se perca a rota que leva a eles... um leitor em estado de prontidão, conectando-se entre nós e nexos. Num rotei-ro multilinear e multissequencial e, ainda, labiríntico que ele próprio ajudou a construir ao interagir com nós entre palavras, documenta-ção, músicas e vídeo. (...)

Um leitor implodido, cuja subjetividade se mescla na hipersubjetivi-dade de infinitos textos num grande caleidoscópio tridimensional em que cada novo nó e nexo pode conter uma outra grande rede numa outra dimensão.

Nesse processo de facilitação tecnológica, qualquer signo pode

ser recebido, estocado, difundido por computador, por telecomunicação

e informática, cujos suportes multimídia e linguagem hipermídia possi-

bilitam o hipertexto com a liberdade de escolha, de nexos. Iniciativa de

direções e rotas.

Essas potencialidades envolvem transformações sensórias,

perceptivas e cognitivas que trazem novas possibilidades de sensibilida-

de corporal, física e mental. Para se decidir por nós, nexos, direções e

rotas, diferentemente do leitor contemplativo e do leitor movente, o

leitor imersivo depende de tipos de ações e controles perceptivos que

resultam da decodificação ágil de sinais e, ainda, de comportamento e

decisões cognitivas alicerçados em operações inferenciais, métodos de

busca e de solução de problemas. Essas funções são perceptivas no toque

do mouse, que depende da polissensorialidade sinestésica e motora.

Nas telas de hipermídia, a combinatória plurissensorial que

nosso cérebro pratica, é possível fora dele, na tela, pelo movimento do

mouse.

Estamos falando do texto que não é linear, não é aquele texto

apenas passado do impresso para o computador ou divulgado na rede.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção54

Page 55: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Estamos falando do texto que o leitor constrói, à medida que

opta por vias, nexos de sua preferência, ou seja, não há linearidade de

escrita, de proposição ou de leitura.

É possível considerar, contemporaneamente, que possamos nos dirigir a um leitor que se identifique apenas com UM dos leitores

da tipologia estudada até aqui?

Toda proposta de produção de material didático para a EAD pode ser veiculada em TODOS os meios apresentados?

Fundamente sua resposta, de acordo com a área em que atua e leve suas reflexões para o Fórum.

PARTE II

A EAD E OS PROCESSOS COMUNICATIVOS

7Lévy (1999) identifica três diferentes formas de comunicação:

7. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1996.

- uma (olho no olho, ou pode ser também por telefone e,

recentemente, por e-mail);

- um para milhões (todos os processos de comunicação

engendrados pelos meios de comunicação de massa:

jornal/revista impressos, rádio, TV;

- milhões para milhões: com o advento da internet.

Cabe, aqui, diferenciar quando se usa recurso e quando o meio

se constitui em processo de construção de conhecimento.

O quadro de giz, o quadro de pregas, mais antigamente, e, mais

recentemente, o retroprojetor, hoje o datashow, podem comutar-se para

ser apresentado algum conteúdo. A TV, o vídeo, para apresentação de um

material relacionado com o que se está abordando, podem ser recursos.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 55

Page 56: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Todavia, quando se concebe que a presença física do interlocu-

tor (professor) pode ser substituída e, portanto, um dos meios pode esta-

belecer a interação/interlocução, começa-se a conceber diferentemente o

paradigma educacional. Não mais – e apenas – a educação presencial

com a ajuda de recursos, mas, e principalmente, a educação não presenci-

al mediada.

Mediada por impressos, por mídias e por mídias interativas.

Juntamente com aquele, move-se o paradigma da comunicação.

Por um lado, os conceitos, as hegemonias passam a ser revistos.

Por outro, as inovações tecnológicas nos obrigam a reconceber comuni-

cação.

De uso como recursos, rádio, TV e vídeo, constituem-se em

processos de construção de conhecimento.8É o paradigma educacional emergente (MORAES, 1999) que,

num só bojo, revê educação, ensino, linguagem e comunicação.

A educação já pode se dar fora da escola em tempos diferentes

da grade escolar. O ensino já pode fugir da verborragia. A linguagem,

portanto, amplia-se para todas as formas de expressão. Consequente-

mente, comunicar-se, interagir, passa a pressupor o outro na construção

dos sentidos.

A recepção – de lugar passivo – passa a ser espaço de interação.

O que se entendia por emissão-recepção se modifica. Conforme Possari 9(2002, p.97) ,

[...] o emissor muda de papel. Não mais emite uma mensa-

gem, no sentido funcionalista do termo(...) constrói um

sistema... um conjunto, no qual são previstos encaixes,

vias de circulação como sinais elementares de aponta-

mentos e referências.

10Para Silva (2000, p.116-117) ,

[...] o autor se transforma em construtor de espaços

8. MORAES, Maria C. O Paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 1999.9. POSSARI, Lúcia H. V. Comunicação e Educação: novo conceito de espaço(tempo). In:

Cadernos de Educação. Cuiabá: EDUNIC. V.5.,n.1,2002.10. SILVA, Marco. Sala DE AULA INTERATIVA. Rio: Quart, 2000.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção56

Page 57: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

visuais e sonoros, universos pré-construídos onde podem

e devem ser combinadas linguagens de grafismos, sons e

imagens. Para o autor, o espírito permanece o mesmo,

mais ou menos no lugar de construir classicamente uma

rota, ele constrói uma rede e define um conjunto de terri-

tórios desenhados por essa rede.

O receptor é coautor. No processo de interação, há a recursivi-11dade permanente. Para Silva (2000,P.164) , o emissor é o receptor em

potencial,e o receptor é emissor em potencial, os dois polos codificam e

decodificam.12Possari (2001, p.97) acrescenta: [...] o emissor disponibiliza a

possibilidade de múltiplas redes articulatórias e, ainda, oferece informa-

ções em redes de conexões, o interlocutor encontra gama de associações

e de significações.

11. SILVA, Marco. Sala de aula Interativa. Rio: Quartet, 2000.12. POSSARI, Lucia H.V. Texto Impresso II. In: Laboratório de produção para a Educação

a distância. Curitiba: NEAD/UNIREDE, 2001.

A Educação a Distância potencializa os fundamentos teórico-metodológicos abordados quanto à comunicação. Por suas peculia-ridades, evoca pragmaticamente interação e interatividade, ambas exigem a historicidade dos processos de comunicação: as possibilidades de interlocução mediadas por tecnologias (diferen-tes em cada fase da história) e, ainda, os processos virtuais de linguagem e interação.

Faz-se necessário, aqui, distinguir, mais uma vez, a interação da

interatividade.

Você seria capaz de estabelecer diferenças entre essesprocessos?

A interação é a condição de os dois polos “inter-agirem” para a

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 57

Page 58: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

construção de sentidos. A interatividade diz respeito à ação do receptor

que é a de interferir, modificar o que está sendo objeto de construção de

sentidos/de conhecimento. Isto equivale a dizer que interatividade pres-

supõe que o autor/emissor/professor construa uma rede, um conjunto de

possibilidades a explorar, ofereça um conjunto intrincado de lugares

dispostos à interferência e às modificações; mensagem modificável em

mutação do leitor/receptor/aluno.

Em Educação a Distância, os textos se constituem como media-

dores da interação entre os sujeitos da prática pedagógica e podem ser

veiculados como:

- material impresso, em que os interlocutores estão distantes no

tempo e no espaço e, que também, por essa razão, a linguagem

escrita pode ser considerada adequada. Todavia, somente

poderá ser considerada apropriada, se o texto estiver dotado

das condições de textualidade e terem sidos observadas as

dimensões de que falamos na Unidade I;

- fitas audiocassete, ou CDs em que a linguagem oral, assim

como a escrita, necessita ser clara, concisa, coesa, coerente,

devendo contar, ainda, com os recursos de entonação e de

ritmo;

- fitas videocassete, ou CDs ou DVDs, cujo texto é a imbricação

das linguagens verbal e não verbal, e ambas têm que ser ade-

quadas para se complementar no processo de significação;

- teleconferências e videoconferências (em que a interlocução é

“ao vivo”), a fala tem a função preponderantemente explicita-

dora;

- e-mails, sites, home pages, em que a hipertextualidade per-

meia a interlocução;

- e tantos quantos vierem... .

Possari (2002, p.32) acrescenta que o ciberespaço é o dispositi-

vo de comunicação interativa como instrumento de inteligência coletiva.

Em Educação a Distância possibilita desenvolver sistemas de aprendiza-

gem cooperativa em rede.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção58

Page 59: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Impõe-se, dessa, forma, a reflexão sobre o fato de permitir que

todos os recursos didáticos – livros-textos, vídeos, computadores –

devem reunir-se numa única via de trabalho de cunho interativo, inserido

nas redes de alcance mais amplo que farão chegar informação escrita, por

áudio ou por vídeo, que poderão ser compartilhadas por muitos, combi-

nando a multiplicidade de imagens e ritmos com variedade de falas, de

músicas, sons, e textos escritos.

A riqueza dessas combinações toca e impele o leitor a produzir sentidos, não necessariamente verbais, lógicos. A imagem mostra, a palavra explica, a música sensibiliza e o ritmo retém. Essas funções se intercambiam, se sobrepõem.

Escrever, produzir texto escrito, para ser publicado pela rede de computadores se diferencia apenas, porque, desligando-se a tela, o texto se arrefece. Todavia, o computador, as redes, eles nos inse-rem em novo espaço da escrita. Tanto o letramento quanto a tecno-

As mídias interativas ampliam essas possibilidades para o que 13Moran (1995, p.8) chama de formas sofisticadas de comunicação:

[...] sensorial, multidimensional, de superposição de

linguagens e mensagens que facilitam a aprendizagem e

condicionam outras formas de espaço de comunicação.

O hipertexto, na condição de ato de criação, de leitura, de coau-

toria, enseja interpretações/criações diferenciadas. Desconsideram-se,

para tal, as fronteiras entre autor/leitor. Ambos são coprodutores.

A condição do hipertexto é a interatividade. Interativa, nesse

sentido, é a possibilidade de buscar sentidos não linearmente, e sim

comandando(o leitor) um programa.

13. MORAN, José. M. Como ver televisão. São Paulo: Paulinas, 1995.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 59

Page 60: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

logia carregam conflitos ideológicos configurados sócio-historicamente. O espaço de que falamos é cognitivo: além de solicitar revisão de estratégias de leitura, exige a simbiose com-pleta autor-leitor.

Que propõe construção de conhecimentos elaborados, num processo dialógico, em que os polos interajam para produção de sentidos. Para isso, é preciso construir significados, o que compre-ende dar estrutura, edificar, fabricar, organizar, dispor, arquitetar, formar, conceber, elaborar. Essa construção é determinada pela situação comunicativa, pelas identidades sócio-históricas dos participantes (autor-leitor), bem como de seus planos, interesses e objetivos.

Uma concepção de Educação a Distância que nos parece 14adequada (POSSARI e NEDER, 2001) , tem esses predicados:

14. POSSARI, Lúcia H.V. e NEDER, Maria L.C. Oficina para produção de material impresso. In: Laboratório de produção para a Educação a Dsitância. Curitiba: NEAD/UNIREDE, 2001.

Há que evidenciar que não se fala aqui apenas de informações,

nem de sua forma de expressão ou veículo. Fala-se de um processo de

interlocução em que, para construir o conhecimento nas redes de rela-

ções, se pressuponha um leitor ativo. No caso do texto escrito, divulgá-lo

na rede é uma forma de disponibilizá-lo para muitos. Caracteriza-se em

UM PARA MUITOS. Não constitui um hipertexto, pois as possibilida-

des exploratórias, ainda que dialógicas e permitindo o leitor como coau-

tor, são sequenciais e lineares(como sói acontecer com um texto escrito).

A hipertextualidade, nesse caso, fica por conta do conceito de interferên-

cia do leitor no texto.

Afinal, para que leitores estamos escrevendo? Que tipo de texto

estamos propondo, para ser veiculado em que mídia?

Esperamos construir essas respostas no percurso deste texto.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção60

Page 61: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

O que significa ser professor e ser aluno em EAD?Para responder, você poderá revisitar os conceitos de

professor/autor e de aluno/coautor.Fundamente sua resposta.

As possibilitações hipermidiáticas modificam as formas de produção, de leitura e, consequentemente, as relações

professor/aluno.Fundamente essa afirmação e leve para o Fórum para debates.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 61

Page 62: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 63: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUA CONCEPÇÃO COMO

PROCESSO SEMIODISCURSIVO

Lúcia Helena V. Possari

O CORPO, A PRESENÇA, A NÃO PRESENÇA

inerência semiótica da EAD não se limita às questões textuais

– que apontam, inclusive, para as questões discursivas –, Aamplia-se, ou melhor, inicia-se no conceber a EAD politica-

mente, portanto ideologicamente.

Concebo ideologia, conforme Bakhtin, como fenômeno semio-

lógico, para quem cada campo de criatividade ideológica tem seu próprio

modo de orientação para a realidade, e refrata à sua própria maneira. Para

o autor, no domínio dos signos, na esfera ideológica, existem diferenças

profundas, pois esse domínio é, ao mesmo tempo, da representação, do

símbolo, da fórmula científica etc.

Ideológico, neste caso, são as linhas de fuga para as quais apon-

tam os Projetos de EAD. Primeiramente, as questões políticas, cujo

cerne contempla as sociais e econômicas: política afirmativa = a possibi-

litação a um maior número de estudantes da formação imprescindível;

isto se dá num tempo, numa simultaneidade, signos do contemporâneo.2A esse tempo, chamo de agoridade (POSSARI,2001) : são tem-

poralidades que exigem que se insira, na educação, o ecossistema onde

sejam configurados tempo e espaço. Quanto à espacialidade, o signo não

é o de não localização, e sim de emissão-recepção. A mediação sígnica,

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 63

Page 64: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

os textos, os meios requerem a mudança de status de emissor (produtor

de texto) e de receptor (leitor).

A essa relação, é mais adequado chamá-la de interação.

Interagir significa atuar conjuntamente para a construção de

sentidos. Os polos autor/leitor não podem prescindir da corporificação

do texto: verbal, não verbal, hipertextual. Nem das mediações: voz,

impresso, telefone, fax, internet. Podem prescindir da presença física,

simultânea, no diálogo. Não podem prescindir da presencialidade,

garantia do processo de interlocução.

O corpo, até então, tem sido a condição da comunicação huma-

na. Indaga-se: quem poderia prescindir da corporeidade, da presença

para se comunicar?1Maffesoli (2000) afirma que o denominador comum de todos

esses atos mundanos é uma copresença mais ou menos teatral, que faz

aparecer ao outro, que faz aparecer diante do outro.

Essa referência diz respeito a que, para a comunicação humana,

é imprescindível um jogo de relações, de conversações, de encontros de

toda ordem.

Longe de negar isto, o signo corporeidade na Educação a Dis-

tância assume matizes diferenciados. Pelas concepções vigentes no pen-

samento contemporâneo, pelas formulações históricas, pela nova prática

cotidiana mediada pela intensificação das novas tecnologias, faz-se

necessário reconceber corpo. Assim como reconceber tempo (kronos e

kairós), reconceber espaço (geográfica e simbolicamente).

Preferindo falar de corporeidade, atribuindo a ela a função síg-

nica(estar no lugar de algo), considero que a corporificação da educação

a distância se dá pelo texto. O texto é a presença: impressa, tele, digital,

hipertextual.

Falo de enunciação, discurso, emissão, recepção, condições de

produção textual e formações discursivas. Todos inerentes a qualquer

processo que se pretenda dialógico como o processo de construção de

conhecimentos, portanto de significados, como o da educação. Na EaD,

é condição sem a qual a interação autor/leitor não se estabelece.

1. MAFFESOLLI, M. As marcas do corpo. LIBERO ANOIII,v.2,n.6, p.46.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção64

Page 65: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

O texto, sua corporificação (linguística, não verbal, hipertex-

tual), na qualidade de signo de algo, depende do estabelecimento de rela-

ções entre as condições de produção(intenção do autor, sentidos preten-

didos) e, principalmente no texto escrito(impresso ou para a WEB) a ser

deslindado como acontecimento discursivo, como unidade de sentidos,

de ligação com a historicidade, com a intertextualidade com a memória

discursiva.

Refiro-me à produção de textos propriamente dita, para o esta-

belecimento da interação professor/produtor/autor - aluno/leitor, e a toda

configuração textual que engendra a EAD: o Projeto, o planejamento, a

gestão, a orientação acadêmica(prática tutorial), as tecnologias.

A corporeidade, aí, engloba os significados pretendidos, de

maneira que não é possível separar-se um produtor( o autor = corpo) de

texto da produção(construção/reconstrução de significados= produção e

leitura= leitor).Tudo se envolve no ato comunicativo.

Quando do processo de interação, se mediado pelas tecnologias

de rede, menos do que considerá-los desumanizantes, deve-se considerá-

los, como afirma Cardoso (1999,P.45):

Para além da funcionalidade econômica ou prática dos objetos

técnicos, entre em jogo a trama concreta da vida cotidiana(...) As máqui-

nas encontram-se envolvidas pela trama dos investimentos subjetivos

que as elevam ao nível da presença sociocultural, transcendendo o desti-

no de serem meros objetos destituídos de qualquer outro significado(...)

a técnica não existe independente de seu uso.(...) O percurso aponta na

direção de uma convergência do exterior ao corpo para o interior ao cor-

po, no sentido de tornar parte integrante do corpo às extensões do homem

da proposta de MC LUHAN.

Os signos autor, leitor, mediações, constituem-se nas forma-

ções discursivas deste meu texto.

ASPECTOS SEMIODISCURSIVOS NA

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As propostas semiodiscursivas podem contribuir para a garan-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 65

Page 66: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

tia da cientificidade do processo ensino-aprendizagem, da flexibilização

curricular, da descentralização da gestão educacional, signos estes que, 2na educação presencial, não permitiam o protagonismo do sujeitos da

ação pedagógica, ou seja, os produtores/leitores de textos, alunos e pro-

fessores.

O que caracteriza a EaD é, dentre outros, a não imprescindibili-

dade da presença (no ato comunicativo). O corpo, nesse caso é represen-

tado pelo texto e possibilitado pelos meios. Para além do texto impresso,

as mídias propiciam o bidirecional, a interação e a interatividade.

As mídias não se constituem, na verdade, na relação direta com

o receptor ou com os grupos de receptores. Outros fatores de mediação

contribuem para os efeitos de sentidos. Para isso, concebe-se recepção

como interação: o receptor não mais pode ser considerado passivo; a

interação tem que ser mediada, e não necessariamente se dá no momento

do ato comunicativo.

A referência anterior diz respeito a qualquer tecnologia pela

qual se opte para a produção de sentidos: o impresso, o meio magnético,

o hipertexto, o computador, a internet, o audiovisual, a videoconferência,

a teleconferência, etc., cunhadas como tecnologias de inteligência.

O signo-texto (verbal ou não verbal) é a materialidade do diálo-

go para o processo de interação e se constitui no armazenamento de tex-

tos que se vêem obrigados a uma adequação de propósitos, de alteração

dos modos como se operacionalizam e se decodificam, o que modifica a

relação produtor/leitor imposta milenarmente pela centralidade discursi-

va do livro e da escola.

Cabe esclarecer que o texto não tem uma materialidade autôno-

ma, como instrumento mediador, como expressão de pensamento, nem

como meio para se chegar às coisas. O texto é o instituinte da dialogia,

desloca-se da função de apenas representar o real – transportar conheci-

mento –, é condição de interação.

Os textos comumente usados em EAD variam de acordo com as

2. De acordo com POSSARI(2002,p.25), por protagonistas entende-se sejam aqueles que têm importância na cena: o produtor do texto, o receptor do texto. Ambos vão construir significados e reconstruir sentidos.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção66

Page 67: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

condições em que se dará a interação, os recursos disponíveis, os objeti-

vos da interlocução(ensino-aprendizagem). A voz, usada nas seções de

orientação acadêmica, institucionalizada ou nos esclarecimentos esporá-

dicos solicitados ao autor de textos; os textos escritos impressos – desde

a EAD epistolar, passando pelos produtos impressos:cadernos, revistas,

etc., até a publicação eletrônica nas redes e os correios eletrônicos; os

hipertextos inscritos em CD-ROM ou disponibilizados nas redes.

A voz e o texto escrito vão se constituir num capítulo à parte.

Qualquer que seja a opção pelo signo-texto, dois conceitos

determinam os fios diálógicos: INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE.

Possari (2002, p.42) postula: ao falar em interatividade, é preci-

so diferenciá-la da interação. A segunda é, conforme preceitos bakhtinia-

nos: diálogo, interação, troca ENTRE interlocutores humanos, humanos

e máquinas e humanos(usuários de serviços). A 1ª é possibilidade de agir,

intervir SOBRE programas e conteúdo.

SILVA(2000) afirma que a interatividade compreende níveis:

grau zero(ausência) linear; avanços e retorno, arborescente; videografia:

escolha por menu; linguística: videotexto, palavra-chave, afim de com-

por mensagens, comando contínuo, manipulação, modificação e deslo-

camento.

Pode ser entendida ainda como a capacidade do sistema de aco-

lher a necessidade do usuário e satisfazê-lo. Essa condição a faz diferente

dos processos comunicacionais audiovisuais tradicionais, pois o leitor,

na interatividade, é o usuário operador que assume o papel de coautoria

do texto. Se a interação tem como princípio o sociointeracionista, a inte-

ratividade é construtivista.

Interagir é tornar-se humano. É, um processo de interlocução,

trocar com outros, saberes, afetos, desafetos. Mesmo na interlocução

oral = olho no olho, ou na leitura do texto escrito, faz-se necessário inte-

ragirem autor/leitor. Por isso, é válido afirmar que interação não é exclu-

sivo de EAD, é condição humana, de vida.

A interatividade, por sua vez, é propriedade imanente dos textos

que possibilitam que o leitor interfira. Nos textos escritos, você pode

concordar, discordar, dizer que se fosse você faria de outro modo, fazer

paráfrase do texto; nos hipertextos, como no CD-ROM, ou nos da Inter-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 67

Page 68: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

net, pode optar pelas trilhas que melhor lhe aprouver, modificá-los, etc.

Os textos eletrônicos são os que mais possibilitam a interativi-3dade .

Nos textos da WEB, os links a serem feitos, com o restante de

toda rede de cruzamentos e bifurcações, constituem-se pela seleção,

organização e filtro de possibilidades. Possari (2002) compara ao rizoma

(DELEUZE E GUATARI,1995): um ponto de fuga que põe em contato

um mundo de informações.

Na WEB não existe hierarquia, portanto nem linearidade,

sequência predeterminada. Entretanto cada site por sua caracterização é

diferenciado e se faz agente de seleção e hierarquização. Por não ser line-

ar não há predeterminação dinâmica ou estrutural.

As metáforas da navegação e do surfe são adequadas aos proce-

dimentos interativos(não interacionais) da WEB.

O e-mail, por sua vez, constitui-se numa das formas legítimas

da interação: envia-se um e-mail a um interlocutor determinado. O que se

diz e o que se pretende como efeito de sentido será regulado pelo propósi-

to do texto, pelo grau de intimidade – que determinará, por sua vez, o

grau de formalidade. A resposta poderá ocorrer de acordo com o que foi

tencionado ou não. Não há previsibilidade.

Quando o e-mail é enviado por um emissor para um interlocutor

coletivo, o que vai determinar a adequação da linguagem, da abordagem,

será uma imagem única, coletiva, delineada pelo emitente.

Individual ou coletivo, o e-mail é interacional. Todavia, sem a

previsibilidade, o interlocutor poderá inserir tópicos, incorporar trechos

e devolvê-lo diferente ou enviá-lo a outros em outra forma. Houve a inte-

ratividade.

Conforme Possari (2002), ler, no processo interativo, significa

hibridar, escolher, optar, decidir, montar, colar, ressignificar.

3. Chama minha atenção o deslumbramento para as possibilidades que a hipermídia entreabre.Esquecem-se os deslumbrados de que tirar trechos escritos e redistribuí-los em outra forma de organização - como nas cópias de livros há algum tempo, ou selecionar em xerox e colar como adequado para produzir texto escolar, mais recentemente, é fazer interatividade. É claro que, na atualidade da rede, é deslocar-se para onde se quer.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção68

Page 69: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

A interatividade possibilitada pelas mídias atuais pressupõe

falar de virtualizações.

O virtual se caracteriza por três tipos: a imersão, a presença e a

telepresença.

A imersão é condição de o sistema cativar os sentidos e bloque-

ar estímulos do mundo físico. Chamada de realidade virtual, compreende

os dispositivos de 3ª dimensão –3D: capacetes, óculos, luvas que, ao se

acoplarem ao corpo físico, imprimem sensações.

O signo-corpo se faz presente: um signo ambíguo: ele mesmo, e

ele se anulando para experimentar sensações, pulsações da prótese. É

uma unidade implícita e confusa. Está modificado pela variedade de

intervenções virtuais que plasmam a percepção e se fazem matrizes da

comunicação. É a convergência do exterior para o interior. Os sentidos

são integrados pelas extensões. Assim, desfaz-se o que, na história, acos-

tumou-se: a velha e emblemática batalha entre homem/máquina. A sim-

biose é gerenciada pela cibernética, é a comunhão das linguagens.

A presença ou a ilusão da presença garante a sensação da presen-

ça: a virtualização, o alcance da vividez da informação sensorial, a habili-

dade para “ver”, “ouvir”, “tocar” e modificar o que propõe a prótese.

A telepresença é exemplificada nas teleconferências e nas vide-

oconferências. As primeiras podem se dar pelo rádio, pelo telefone ou

pela TV. As segundas, pelos sinais de satélite, pelas redes e pela simulta-

neidade de interlocução e interação.

Seja qual for a natureza do ato comunicativo, há uma corporei-

dade em jogo, pois as produções de sentidos ocorrerão, a partir da capaci-

dade de percepção do outro no jogo de significados. Se a virtualização

promove uma ilusão da desmaterialização e da desrealização, toda con-

dição de comunicação e interação se dá pela corporeidade de interlocuto-

res presentes, ou não, simultaneamente no ato comunicativo, o que, para

Maffesoli (2000), é a indispensável ilusão do corpo: como forma, na

interseção de diferentes domínios e a possibilitação do contato. Nas rela-

ções interlocutivas, onde os sentidos estão inscritos histórica e social-

mente, e na forma enquanto limite, fronteira, interseccionada ou não com

as interfaces.

Retomo o que inicialmente concebi: o signo: o que está no lugar

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 69

Page 70: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

de outra coisa: tudo está no lugar dos sentidos que não são dados, têm que

ser construídos na relação entre interlocutores, presenciais ou por virtua-

lização.

O signo seja ele por representação, seja por indiciação, seja por 4simbolização constitui-se na materialidade – condição de interação .

Os signos que representam, trazem em seu cerne uma caracte-

rística de apreensão de fenômenos de primeiridade. Sua categoria é icô-

nica, na medida em que representa por aparência visual ou fônica com o

que quer fazer significar. Não será necessário, por parte do interlocutor,

esforço para além da identificação. Esse quali-signo se dá a conhecer por

ele mesmo.

Em linguagem verbal, exemplifica-se pela metáfora, pela ono-

matopéia.

Em linguagem não verbal, exemplifica-se por todas as figuras,

desenhos, fotos de pessoas, objetos, animais. Na tela do computador,

são chamadas de ícones todas as representações (figurinhas da impres-

sora – para imprimir; do disquete – para gravar; da tesoura – para colar e

por aí vai.).

Os signos que são indiciais, por sua vez, caraterizam-se como

fenômeno de apreensão de secundidade. Para significar, impõem ao inter-

locutor procurar/estabelecer pistas e relações de causa/consequência.

Verbalmente, os índices podem ser os AINDA, ATÉ, os

ÍSSIMOS.

Não segmentais podem ser a entonação, a entoação, o timbre.

Não verbalmente, as marcas de pneus deixadas numa pista depo-

is de uma freada.

Em qualquer texto, as marcas, pistas da preferência do autor por

tal abordagem; as tonalidades de um quadro para dizer do calor, do frio;

nos textos publicitários como argumentos etc.

Os signos simbólicos estão engendrados pela condição de terce-

iridade, de convenção. Então, todas as linguagens, todos os textos são

simbólicos? Sim!

4. A trilogia dos signos aqui é embasada em Peirce.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção70

Page 71: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Verbalmente, a linguagem é um legi-signo, convencionado

como idioma, como atos de fala, como processos de interlocução.5Os signos não verbais se convencionam culturalmente : como

6já dito, as linguagens e o uso delas para interação , os símbolos pátrios,

sexuais, religiosos etc.

O SIGNO-TEXTO EM EAD

Pelo que já foi exposto, não se prescinde da presença de um

corpo para se fazer significar. Todavia, se a interlocução e a interação

não forem simultâneas, concomitantes, faz-se necessário construção

e reconstrução textual que garantam a inteligibilidade do texto(verbal

ou não) e que estejam garantidas por regras conversacionais e intera-7cionais .

Falar de texto implica falar de linguagem, de leitura, de textuali-

dade, de interlocução, de condições de produção.

Pode-se conceber a linguagem como expressão do pensamento,

como comunicação e como interação. Pode-se concebê-la como gama

intrincada de formas de comunicação social, como língua (idioma).

Pode-se conceber texto como tudo o que está escrito, como

todas as formas passíveis de compreensão e atribuição de sentidos.

Pode-se conceber leitura como advento de processo de alfabeti-

zação e, portanto, leitura do texto escrito; como atribuição de sentidos a

todas as formas passíveis.

Pode-se, mas, neste texto, concebo linguagem como interação,

texto como corporificação: condição de estabelecimento da interação e

leitura como atribuição de sentidos. Isto enseja observações como estas:

Todo enunciado... é linguisticamente descritível como uma

série de pontos de deriva possível, oferecendo lugar a interpretação. Ele é

5. Concebe-se cultura semioticamente com teias de significado (Geertz e Weber)6. e ideologicamente (Bakhtin(1997)7. Ainda que a ancoragem teórica seja a da Análise do Discurso, da Pragmática, da Filosofia

da Linguagem, da Teoria da Enunciação entre outras, estendo os princípios de interação e condições de produção para todos os tipos de textos: verbais e não verbais.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 71

Page 72: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

suscetível de ser/tornar-se outro. Esse lugar do outro enunciado é o lugar

da interpretação, manifestação do inconsciente e da ideologia na produ-

ção dos sentidos e na constituição de sujeitos. É também em relação à

interpretação que podemos considerar o discurso(o exterior) como alte-

ridade discursiva. É porque há o outro na alteridade e na história, corres-

pondente a este linguageiro discursivo.., aí pode haver a ligação, a identi-

ficação, a transferência...existência de relação abrindo possibilidades de 8interpretar .

Todo texto é híbrido ou heterogêneo quanto à sua enunciação,

no sentido que ele é sempre um tecido de vozes ou citações, conforme

Pinto (1999): cuja autoria fica marcada ou não, vindas de outros textos

preexistentes, contemporâneos ou do passado.

Toda produção, dessa forma, seja em que linguagem/mídia for:

– escrita impressa, escrita para a rede, CD-ROM, fita audiocassete, vide-

ocassete etc –, pressupõe condições de produção. Aquilo que está sendo

produzido como texto não encerra significados em si mesmo, o autor não

é dono da verdade ou leitor, onisciente. Está a depender da polifonia, de

tudo o que já foi dito/lido sobre o tema. É no intervalo semântico, no

interdiscurso que se produzem os sentidos.

Na prática, quando se prepara uma aula, quando se produz um

texto, tem-se em mente o para quem=interlocutor – seu nível, seu grau

de conhecimento. Assim, busca-se adequar a linguagem, a mídia, ao

nível pressuposto do leitor/ouvinte.

No dizer de Orlandi (1991, p. 29), inclui – como não faz a lin-

guística – o sujeito, ao mesmo tempo que o descentra, isto é, não o consi-

dera fonte responsável do sentido que produz, embora o considere como

parte desse processo de produção.

Brandão (1996) afirma que, pelo descrito acima, o sujeito passa

a ocupar uma posição privilegiada, e a linguagem passa a ser considerada

o lugar da subjetividade. O lugar que a Educação (presencial ou não )

deveria ter garantido em toda a história. Pois o sujeito, assim, incorpora-

se como reconstrutor do discurso(interação e interatividade).

8. ORLANDI, Eni. Análise de Discurso, princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção72

Page 73: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Contempla o intertexto e o interdiscurso. O primeiro compreen-

de todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam

o que dizemos/escrevemos/fazemos representar. O intertexto é a repeti-

ção propositada de textos conhecidos: as referências, as citações. O dizer

não é propriedade particular. As palavras não têm dono. Elas significam

pela história e pela língua.

Os sentidos não estão soltos nem podem ser quaisquer sentidos.

Delimitam-se maneiras de condução para fazer com que os sentidos cons-

truídos pelo autor e a serem reconstruídos pelo leitor tenham uma dire-

ção. Essa direção é uma injunção de interpretação, também chamada

gestos de interpretação. O texto, por sua vez, é uma unidade de sentidos

possíveis, cuja primeira atribuição de sentidos é dada pelo próprio autor

num gesto de interpretação, que está diretamente relacionado com a

memória de dizer e com o interdiscurso.

Isto tudo tem a ver com a função-autor, com o sujeito do discur-

so que, enquanto tal, através do funcionamento discursivo é responsável

pelo agrupamento do discurso. É o lugar em que o autor produz um texto

com coerência, coesão, não contradição e fim(ORLANDI, 1996c).

Entende-se por fim não um fecho mas todos os pontos de fuga e

de ligações com outras filiações de sentido que se encontram na memória

e na historicidade.

No polo leitor/ouvinte/interlocutor, a atividade é a de interpre-

tação e de re-escrita. É o espaço da atribuição de sentidos que, assim

como a função-autor, estará deteminada pelas condições de produções –

neste caso, de leituras – pelas histórias de leituras.

O signo-texto, signo-corpo, estabelece-se como ponto de

encontro entre os interlocutores. Lugar de inscrição do autor e do leitor.

Segundo VARGAS(2001), o leitor, ao ler, é o sujeito. Estará produzindo

sentidos sobre os sentidos já produzidos pelo autor.

Na EAD, segundo VARGAS(2001,p.93):

A leitura de textos na Educação a Distância é uma atividade

predominante e, portanto, olhar como esta vem sendo trabalhada, é bus-

car compreender como, a partir da produção de material didático, tem

início um processo de interação entre sujeitos envolvidos...no momento

mesmo da fase inicial de sua produção, o texto se torna um meio de possí-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 73

Page 74: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

veis interações... os sentidos podem ser todos, mas não qualquer um. Está

pressuposto um sítio de significância, que implica...a constituição de um

leitor ideal.

O leitor ideal, de acordo com ORLANDI (1986), é aquele idea-

lizado no ato de enunciação. Idealizado significa ter-se feito conjecturas

das histórias de leituras dele para os sentidos que se quer que ele atribua

ao texto. A autora categoriza outros dois: real e virtual. O primeiro seria

aquele cuja leitura coincidiu com as proposições de sentidos construídas

e esperadas pelo autor. O segundo é o imprevisível, aquele que, para além

das previsões do autor, atribui outros sentidos.

O leitor real é o leitor parafrástico. Ele repete os sentidos do

autor e, quando muito, o parafraseia. O leitor virtual avança e permite

que sua história de leituras amplie os sentidos: é o leitor polissêmico.

Discorrer sobre produção/autoria e produção/leitura em EAD

requer compreender que a produção do texto e sua proposta de leitura e

ato de leitura, portanto a interlocução/interação, não se dá na proporção

um para um. Dá-se na proporção um para vários. Já é sabido que o autor é

um, mas não único. Ele é um conjunto de vozes – polifonia – sobre o

tema. O leitor, por sua vez, são os alunos de determinado curso, cujas

diferentes histórias de leituras e memórias discursivas obrigam que a

leitura seja a mais polissêmica possível.

Se para um leitor determinado, idealizado, corre-se o risco de

que os sentidos a serem atribuídos não coincidam com os pretendidos,

como produzir textos, num processo de EAD, onde o polo leitor, repre-

sentado por milhares de sujeitos-leitores, constitui-se por diferentes

níveis, classes, objetivos, formação escolar e, portanto, configura-se

como um espaço de conhecimento onde a resistência ou a aceitação de

significados vão se dar na arena bakhtiniana?

Essa tarefa difícil para o corpo/autor/historiciade que produz

aquele signo-texto deve ter por pressuposto as dimensões sociocomuni-

cativas e semantico-conceitual-formais(POSSARI E NEDER, 2001).

Da mesma forma, apontar para o jogo de imagens autor/leitor e

garantir que o objetivo do texto não se perca, sejam quais forem as histó-

rias de leitura. Todavia, já se sabe que todo o cuidado não evitará tensões

e conflitos. Mesmo trazendo suas marcas de textualidade: coerência,

Material Didático para a EaD: Processo de Produção74

Page 75: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

coesão, argumentação, progressão, será o outro que conseguirá/desejará

apreender, através dos signos do texto o que o autor quis fazer significar.

A materialidade linguística dará espaço à memória discursiva que poderá

inclusive – num processo de interatividade – alterar essa materialidade,

modificando gestos de interpretação e não levando em conta diferentes

posições do sujeito autor, propondo diferentes formações discursivas,

distintos recortes de memórias ensejadas por distintas relações com a

exterioridade.

Nesse momento, evoca-se, para explicar o imprevisível, a cate-

gorização de ORLANDI (1986) de tipos de discurso: autoritário, polêmi-

co e lúdico. Autoritário, quando não permite nenhuma reversibilidade. A

paráfrase é o máximo permitido. Polêmico quando a polissemia é contro-

lada, e o leitor poderá usar sua história de leituras e acrescentar sentidos

aos previstos pelo autor. Lúdico – e com certeza não é a proposta de

nenhum texto da educação – e a polissemia aberta onde nem mesmo a

materialidade verbal ou não verbal será levada em conta para a atribuição

de sentidos.

Não desejável, mas não impossível, o discurso lúdico pode ocor-

rer. O desejável é o discurso polêmico, onde se instauram os sentidos

pretendidos, acrescentam-se a eles outros e constrói-se o conhecimento,

produzindo-se novos discursos: um enorme interdiscurso. Nesse proces-

so de interação, o leitor virtual é o mais provável. Primeiro pela multipli-

cidade de histórias de leituras, segundo pela oportunidade que o texto

acadêmico deve dar ao leitor para que ele reconstrua os sentidos.

Toquei, agora, num ponto delicado e doloroso de todo processo

de ensino-aprendizagem, e não menos problemático na EAD, que é a

Avaliação.

Como conferir se os sentidos pretendidos foram atribuídos, ou

em que medida foram enriquecidos? Nas propostas de avaliação (ou

seria medida?) tradicionais, prevalesceria o discurso autoritário: a não

reversibilidade, a paráfrase, no máximo. Ao se pretender instaurar o dis-

curso polêmico, as formas de verificação da aprendizagem têm que con-

templar a heterogeneidade e a dispersão, permitindo os interdiscursos. É

dessa forma que os sujeitos não serão responsabilizados pelo engendra-

mento dos sentidos, e sim os sentidos serão constituídos pela relação

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 75

Page 76: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

entre os interlocutores.

Há que prever que os leitores/alunos poderão interpretar apenas

algumas das fulgurações que se destacam da constelação de sentidos

pretendidos. O que antes era controlar, delimitar, classificar e ordenar

nos processos de avaliação, devem dar lugar à dispersão. De outro modo,

estar-se-á criando a ilusão da unidade de sentido, que faz parecer que o

sentido é evidente e único.

EAD = SIGNO DE POLÍTICA INCLUSIVA

Se na EAD tudo muda- gestão, planejamento, proposta curricu-

lar - , não há de ficar de fora a avaliação. MORIN(2000) recorre a Paul

Valéry para destacar a indivisibilidade do ato de criar e do conhecimento

compreensível: criar, construir, era para ele indivisível de conhecer e

compreender. As atribuições de sentidos pretendidos necessitam de

tempo e espaço - ou seriam agoridades e espacialidades? – diferenciados

da educação presencial. Conforme MORIN (2000,p.69), existe um prin-

cípio de incerteza no exame de cada instância constitutiva do conheci-

mento. O repetir e o refazer garantem o que inicialmente apontei como

inerente à EAD: a política afirmativa, a não exclusão.

Envolve, no dizer de POSSARI(2002), estabelecer sinergias

entre competências, entre recursos e projetos; abrir oportunidade à cons-

trução e à manutenção de dinâmicas e memórias em comum; ativar

modos de cooperação flexíveis e transversais e distribuir coordenada-

mente os centros de decisão (gestão, tutoria, autoria). Para MORIN

(2000), o conhecimento só pode ser pertinente se situar o objeto no con-

texto e, se possível, no sistema global de que faz parte, se ele criar uma

forma incessante que separa e reúne, analisa e sintetiza, abstrai e insere

no contexto.

Sem deslumbramento ou mesmo sem apagar da memória (dis-

cursiva) a importância dos textos escritos, impressos, procedimentos

epistolares, indico que integrar através das múltiplas mídias as possíveis

produções e leituras – autores e leitores – pode significar uma melhor

forma de apropriação, por sujeitos e seus grupos, da atualização de

Material Didático para a EaD: Processo de Produção76

Page 77: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

conhecimentos, diminuindo os efeitos da exclusão.

O ciberespaço, dentre as possibilidades, constitui-se como dis-

positivo de comunicação interativo e comunitário, e ainda como instru-

mento de inteligência coletiva. Em EaD, permite que se desenvolvam

sistemas de aprendizagem cooperativa. Ainda mais: troca de ideias, ima-

gens, experiências. As redes veiculam textos plurais: sonoros, visuais,

icônicos, figurativos e verbais que propiciam participação de sujeitos

diferentes em todos os sentidos e com expectativas e níveis culturais dife-

rentes. Essa interação se dá por meio de textos-signos multifacetados.

Inserido nesse espaço, nessa espacialidade, nessa desterritoria-

lização (Barbero,1996), o sujeito-leitor en-“reda”-se para a construção

de conhecimento, ampliando sua memória discursiva, sua história de

leituras, integrando as redes de conhecimento e tornando-se mais apto às

respostas pretendidas.

A exigência da presencialidade, do texto-objeto, da resposta

esperada pode ser revista, orientando-se por outro paradigma: o da com-

plexidade (MORIN(2000), o de tecer unidos signo-texto-corpo.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 77

Page 78: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 79: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

SABER

Page 80: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 81: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Maria Lúcia C. Neder

omo já afirmamos em outra passagem, no texto-base, a

produção, a seleção e a organização de textos para a EAD devem Cestar atreladas ao projeto político-pedagógico do curso que se

quer desenvolver. Todo texto, concebido como material didático, deve

ser pensado e concebido no interior de uma proposta curricular, que, por

sua vez, deve ser construída na perspectiva de objetivos delineados em

um projeto político de formação. O material didático do curso,

consubstanciado através de textos, deve configurar-se no âmbito da

proposta curricular. Neder (2003), o considera um dos dinamizadores da

construção curricular e também como um balizador metodológico. É,

através do material didático, que são feitos os recortes das áreas de

conhecimento trabalhadas no curso, além do direcionamento

metodológico pretendido. Entre o material didático básico de um curso a

distância, podemos encontrar: material impresso, material audiovisual e

material multimídia.

É o material didático que possibilita que as diretrizes e os

princípios definidos no Projeto Político-Pedagógico do curso sejam

garantidos no desenvolvimento da prática pedagógica. São também os

balizadores das bases epistemológicas definidas para a sustentação das

ações pedagógicas.

O TEXTO COMO ELEMENTODE MEDIAÇÃO

ENTRE OS SUJEITOS DA AÇÃO EDUCATIVA

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 81

Page 82: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Vale a pena, aqui, fazermos uma reflexão:Qual é a importância do Material Didático no contexto de um

projeto de EAD? Faça um texto sobre isso e participe do FÓRUM com sua reflexão.

É mediante o material didático que se pode garantir que os

principais conceitos, definidos em cada área de conhecimento, ou disci-

plina, ou módulo, ou unidade, sejam realmente trabalhados no curso.

Nas relações estabelecidas entre os sujeitos da prática educativa,

o material didático se apresenta na EAD como meio para veicular os

conceitos, as idéias e as reflexões fundamentais para as construções de

sentidos que se quer produzir no desenvolvimento do currículo.

Dessa forma, o material didático se situa como um “balizador

curricular”, isto é, um referencial teórico-metodológico da proposta

pedagógica dos cursos que se desenvolvem mediante a modalidade da

EAD.

Nesse sentido, é importante que os autores desse material

compreendam que, mais do que um meio para socializar conhecimentos,

o material didático é o meio que possibilita a sustentação dos fundamen-

tos epistemológicos concebidos para o desenvolvimento do projeto

político-pedagógico.

Os sentidos previstos no e para o processo de interação entre os

sujeitos da prática pedagógica terão, como um de seus suportes, o materi-

al organizado para o curso de EAD.

Como esse material é consubstanciado em textos de diferentes

natureza, com possibilidade também de veiculação por diferentes meios,

deve ser pensado considerando-se dimensões essenciais a qualquer tipo 1de texto, a saber: sociocomunicativa e semântico-conceitual-formal .

Essas dimensões não se apresentam em separado na construção de um

texto, uma vez que uma implica a outra.

1. Classificação extraída de VAL, Maria da Graça Costa. Redação e Textualidade. SP:Martins Fontes, 1993.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção82

Page 83: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Por texto, você já percebeu, estamos denominando uma unida-

de mínima de significação, qualquer que seja sua forma e extensão.

Independentemente do tipo e da natureza dos textos, as dimen-

sões sociocomunicativa e semântico-conceitual-formal devem estar

presentes.

A Dimensão Sociocomunicativa e a Dimensão Semântico-Conceitual-Formal.

Em suas reflexões anteriores, você considerou o papel do material didático na perspectiva de produzir os sentidos

previstos pelo projeto político-pedagógico no contexto das interações entre os sujeitos?

A DIMENSÃO SOCIOCOMUNICATIVA

Como unidade significativa, o texto de qualquer tipo, acompa-

nhando Possari e Neder (2001, p. 14), deve ter presentes certas peculiari-

dades do ato comunicativo, tais como:

- As intenções do produtor: devem ficar claras no texto. O que

ele pretende ao produzi-lo: convencer, impressionar, alarmar,

satirizar, informar, pedir, discordar, suscitar indagações a

respeito de determinado tema, motivar? É importante desta-

car aqui que, geralmente, é levada em conta, na produção

textual, a função representativa da linguagem. Isto, segundo

as autoras acima citadas, acarreta pensar a comunicação

sempre sob o enfoque da informação, como algo que se dá

sem conflito. É preciso, argumentam as autoras, observar,

todavia, que nem sempre o texto apresenta essa função e que,

por ser o mediador de uma relação entre falante (escritor) e o

ouvinte ( leitor), pode deixar transparecer a tensão que, às

vezes, envolve o texto e o contexto (sociocultural) e, igual-

mente os interlocutores.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 83

Page 84: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Quando produzimos nossas falas, discursos, sejam eles através

da linguagem verbal ou não verbal, nós o fazemos sempre em determina-

da relação, sempre com determinadas intenções e objetivos.

Faça uma reflexão sobre as intenções que você tem ao produzir seus textos orais ou escritos para membros de sua família,

para seus amigos ou para seus alunos.

Mesmo quando um professor não produz o texto, utilizando

texto de outros autores para o diálogo com seus alunos, ele deve se preo-

cupar com essas questões. Ao elaborar o guia didático que acompanhará

o texto, ele deve se preocupar em responder qual a intenção e objetivo do

autor com aquele texto. Todo autor, ao produzir seu texto (verbal ou não

verbal), tem intenções. Um dos papéis do professor que elabora os guias

didáticos é, justamente, auxiliar o aluno em seu processo de interlocução

com o autor do texto.

A interlocução, isto é o diálogo, no caso de textos de outro autor,

não será direta e exclusiva entre autor/leitor (aluno). O professor estará,

por meio de seu guia didático, intermediando o diálogo. Isso requer do

professor/mediador muita responsabilidade, uma vez que, ao fazer essa

mediação, estará trazendo seu processo de interpretação do texto.

Por isso, é importante um mergulho no texto escolhido, para

tentar extrair respostas para as perguntas: O que pretendia o autor ao

produzir esse texto? Quais suas intenções? O que ele propõe, através do

texto, para alcançar seu objetivo?

Com base nesses questionamentos, o professor/mediador deve

buscar, através da organização de seu guia, garantir que o aluno possa

produzir um diálogo verdadeiramente profícuo com o autor. Isto não

implica necessariamente um “aceitar” ideias ou posição do autor do texto

em questão. Não se esqueça de que você, como mediador, pode provocar

uma discussão entre o aluno e o autor.

Vejamos, agora, outra peculiaridade do texto, seja ele escrito seja audio-

visual, seja multimídia:

- O jogo de imagens mentais entre os interlocutores. Segun-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção84

Page 85: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

do Possari e Neder, esse jogo faz parte do processo de comuni-

cação, portanto ele está presente sempre no processo de cons-

trução de texto de qualquer natureza e tipo. Se a linguagem é

um processo de interação entre falante(autor) e ouvinte(lei-

tor), é preciso ter presente a interação entre falante(produtor)

e ouvinte(leitor) no processo de interlocução.

Assim, ao se produzir um texto, devem estar presentes os jogos

de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro, e

do outro com relação a si e ao tema do discurso.

Você já tinha parado alguma vez para pensar sobre isso? Quando você produz um texto oral ou escrito, por exemplo, leva em

conta essas questões?

Elas são importantíssimas, uma vez que ajudam o autor a situar

seu interlocutor. Se a linguagem é social, seus sujeitos (interlocutores)

não são abstratos e ideais. Eles devem ser pensados em situação real da

vida social: onde vivem, participam de quais grupos culturais, onde

trabalham, que tipo de atividades desenvolvem, que nível de escolarida-

de possuem, o que sabem sobre esse assunto que estamos trabalhando,

que leituras têm a respeito da temática estudada, que recursos têm à

disposição para auxiliá-los, etc. Todas essas são questões que devem

estar presentes no processo de produção textual.

É preciso, ainda, estar atento para o fato de que nossas falas e

textos, por estarem situados em determinado contexto sociocultural,

implicam nossa visão de mundo. As posições político-metodológicas

sempre afloram nos discursos.

Nessa dimensão da produção textual deve ser considerada a

questão da intertextualidade. Possari e Neder afirmam que um texto

sempre depende do conhecimento de outros textos. É preciso, por isso,

continuam as autoras, que haja uma preocupação com as ideias apresen-

tadas. Se forem inusitadas, por exemplo, deve haver uma preocupação

por parte do autor com a inferência de dados que permitam a interlocu-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 85

Page 86: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

ção. Por outro lado, lembram as autoras, um grau elevado de previsibili-

dade, como o uso exagerado de estereótipos (frases feitas/clichês), fala

padronizada, deixa o texto desprovido de interesse.

Nossa, deve estar pensando você: “quanta coisa devo considerar ao produzir um texto”. Acrescentamos

outro item em sua indagação: E se você não é o autor do texto, apenas está organizando um guia didático, o que

estas questões todas têm a ver?

Conhecendo tudo isso a respeito do jogo de imagens que está

previsto no processo de interlocução entre falante (autor) e ouvinte

(leitor), quando o professor ou a equipe de ensino selecionarem um texto

para ser trabalhado em determinado curso devem fazer um inventário

dessas questões, ressaltando:

- Quem é o interlocutor previsto pelo autor?

- O que o autor pensa de seu interlocutor?

- O que ele pensa que seu interlocutor pensa dele?

- O que ele pressupõe que seu interlocutor sabe sobre o assunto?

- Que outros conhecimentos ele prevê que o interlocutor já

possui?

Alicerçado em uma reflexão a respeito dessas questões, o

professor mediador entre autor/leitor (aluno) deve analisar se os sujeitos

previstos pelo autor condizem com os sujeitos do curso para o qual ele

está contribuindo. Se não condizem, o que fazer para auxiliá-los nessa

interlocução, já que o assunto, a abordagem e a discussão propostos pelo

autor do texto são imprescindíveis na construção e na produção dos

conhecimentos previstos no projeto do curso em apreço.

Que propõe construção de conhecimentos elaborados, num processo dialógico, em que os polos interajam para produção de sentidos. Para isso, é preciso construir significados, o que compre-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção86

Page 87: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

ende dar estrutura, edificar, fabricar, organizar, dispor, arquitetar, formar, conceber, elaborar. Essa construção é determinada pela situação comunicativa, pelas identidades sócio-históricas dos participantes (autor-leitor), bem como de seus planos, interesses e objetivos.

Além dessa dimensão do texto vista até aqui, há outras que

implicam, sobretudo, trabalhar com as especificidades da natureza e

tipologia de cada texto em particular, o que trabalharemos mais detalha-

damente em nossa segunda unidade.

Essas peculiaridades dizem respeito mais de perto à dimensão

que denominamos de semântico-conceitual-formal, abordada a seguir.

Dimensão Semântico-Conceitual-Formal

Esta dimensão, como o próprio nome aponta, diz respeito à

questão do significado. Nesta dimensão, estão presentes os fatores res-

ponsáveis, portanto, pelo sentido do texto. Cada tipo de texto, de acordo

com sua natureza, possui determinadas propriedades que garantem sua

textualidade.

Macedo (1975), analisando esse aspecto no que diz respeito ao

texto verbal (oral ou escrito), define como textualidade: “as proprieda-

des que garantem que da mesma forma que um conjunto de palavras não

produz uma frase, um conjunto de frases não forma, necessariamente,

um texto”.

Extrapolando os limites do texto verbal, podemos fazer a

mesma analogia com os textos não verbais: um conjunto de imagens não

forma, necessariamente, um texto não verbal, assim como um conjunto

de notas não forma, necessariamente, uma música.

Para ser considerado texto, qualquer manifestação de lingua-

gem, verbal ou não verbal, deve apresentar as seguintes características:

- ser uma unidade de sentido;

- apresentar marcas da interação entre autor/leitor;

- apresentar marcas do contexto de situação onde se inserem os

sujeitos da interação.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 87

Page 88: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Para que um texto possa ser considerado texto, é preciso que

traga presentes as marcas de textualidade. Cada linguagem tem suas

peculiaridades, que devem ser observadas pelo produtor para garantir o

processo de significação de seu texto. Para buscar tornar seu texto signi-

ficativo, o autor deve compreender que a possibilidade do significado

não está somente nele, autor, tampouco apenas em seu texto. O processo

de significação que é constitutivo do ato de produzir texto e de produzir

leitura, segundo Possari e Neder, envolve sempre autor, leitor e texto.

O autor, explicam as autoras acima, tem sua história de leituras,

seu propósito. Para a consecução de seu propósito, ele constrói um texto,

cujos elementos de tessitura, cujos signos que o veiculam, carregam o

que se pretende. Ao receber o texto, o leitor, também com sua história de

leituras, de acordo com seu repertório (verbal ou não verbal), pode-

rá/conseguirá, ou não, apreender, através dos signos do texto, o que o

autor quer fazer significar. Pode ser que o leitor seja idealizado pelo autor

e atinja o objetivo pretendido, pode ser que a competência comunicativa

do leitor não lhe permita, pelas pistas do texto, entender o pretendido.

Pode ser que sua história de leituras não lhe permita um tipo de

entendimento, mas lhe possibilite outros. O processo de significação de

um texto só será possível, portanto, quando do encon-

tro/diálogo/interlocução do autor-leitor mediado pelo texto.

Para finalizar essa parte, gostaria de lembrar que, embora cada

tipo de texto, em razão de todos esses elementos até agora expostos,

tenha suas características e peculiaridades que os fazem únicos, há uma

intensa intertextualidade e interdiscursividade (rede de relações e abor-

dagens) entre eles.

Continuando com Possari e Neder, é importante não esquecer

que a interpretação, isto é, a produção de sentidos traz sempre imbricadas

diferentes linguagens e diferentes dimensões, que tanto o autor quanto o

produtor de guia didático devem ter presente, na perspectiva do planeja-

mento e produção do material didático para a EAD.

Vale ressaltar, nesse momento, que um curso em EAD comporta

textos de diferente natureza e tipologia.

E mais: que os textos produzidos para a EAD se apresentam

como elementos importantes no tocante à interação entre os sujeitos da

prática educativa e também como dinamizadores curriculares, na medida

em que são pensados e organizados com vista à construção dos sentidos

Material Didático para a EaD: Processo de Produção88

Page 89: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

previstos no projeto político-pedagógico do curso.

Todavia, é imprescindível que os textos produzidos especifica-

mente para um curso de EAD sejam concebidos no contexto de uma rede

de relações com outros textos, na perspectiva de abrangência e aprofun-

damento dos conceitos teórico-metodológicos trabalhados nas áreas de

conhecimento, disciplinas e/ou módulos.

Veja, a seguir, uma ilustração nesse sentido. Na cor preta, os

textos produzidos especificamente para determinado curso. Em cinza,

outros textos que poderão ser trabalhados para que se alcance um apro-

fundamento nos estudos propostos.

Hipertextos

TextosAudivisuais

RevistasEletrônicas

FilmesVídeo

ExclusivoVídeo

Conferência

Seminários

Textos dos AlunosPesquisa

Textos Base

Textosde Jornal

TextosInternet CD-Rom

VídeoEducativo

Palestra

Livros

Textosde Apoio

TextosOrais

TextosEscritos

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 89

Page 90: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 91: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: AGORIDADES

Lúcia Helena V. Possari

AGORIDADES: educação e tecnologias

A sala de aula deve assumir-se como o lócus onde se

dão as linguagens dos media, com suas múltiplas tessituras

plurissígnicas, em que os conceitos de ensino-aprendizagem

devam deixar o enciclopedismo.

heterogeneidade pós-moderna traz como valor privilegiado a

diferença e, como consequência, o desbastamento da figura da Ainstituição. em todas as suas versões: o Estado, a família, a

escola, a universidade, o Partido – e o esfacelamento das noções de

representação e delegação.

Vem-se solicitando da escola ampliação de papéis e redefinição

dos propósitos escolares.

A par disso, os processos de sociabilidade, dependentes de

diferentes modos de ver, devem permear as formas de compreender, e,

ainda, a necessidade de ler e se produzir textos nas diversas linguagens, a

fim de que se possam dominar recursos de informática, o que implica

redimensionar os conceitos de tempo-espaço para que se aproprie de

lógicas que não são formais necessariamente nem se calcam em

princípios explicativos herméticos. Implica dizer que se assume um

compromisso com o ensino dialógico, com base em realidades comuni-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 91

Page 92: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

cacionais diferenciadas, onde o que se tenciona é que o aluno aprenda a

aprender, construindo socialmente o conhecimento, indo além dos

modelos vigentes, buscando na intersubjetividade as interconexões

discursivas alimentadoras de jogos enunciativos que propiciam as

transformações dos temas em circulação.

Este é o discurso que se pretende moderno e que mantém, apesar

dos avanços do dialogismo na espacialidade e temporalidade, o ensino

presencial.

Faz-se mister, a par de não se negarem os avanços do que se

afirmou acima, reconfigurar epistemologicamente educação, num

contexto em que comunicação e informação provocam novas espaciali-

dades e temporalidades nos espaços da educação.

Comporta frisar que ir para além da sala de aula com tecnologias

de educação, ou onde se utilizam recursos tecnológicos avançados e

informatizados na obtenção de conhecimento, é ir para além da sala de

aula que se, tecnologizada, se assume palco de teatro e sala de projeções.

Dizendo de outra forma, as tecnologias de comunicação e

informação, por si sós, trazem novas formas de compreensão do mundo,

porém o verbo – expressão de realidade desde os primórdiosda articula-

ção vocal – também integra os processos de significação propostos. Essa

agoridade inclui as interfaces de todas as linguagens. Agoridade

pressupõe falar em tempo mas também em espaço. O avanço da tecnolo-

gia se configura em duas faces: de um lado aponta para o avanço

irreversível de toda uma gama de ciência e tecnologia, pondo-se como

questão não fechada; de outro, pressupõe a reorganização constante e

permanente da vida de todos em temporalidades menores.

Essas temporalidades exigem que se insira na educação um

ecossistema educativo onde sejam contempladas, simultaneamente,

culturas heterogêneas e o entorno das tecnologias. É preciso configurar

esse espaço-tempo educacional, sem que a construção dos saberes perca

seu encanto.

Transforma-se, dessa maneira, a recepção como espaço de

interação. Melhor dizendo ainda, o que se entendia por emissão-

recepção se modifica: o emissor muda de papel. Não mais emite uma

mensagem, no sentido funcionalista do termo. Todavia, constrói um

Material Didático para a EaD: Processo de Produção92

Page 93: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

sistema, ou seja, um conjunto, no qual são previstos encaixes, vias de

circulação como sinais elementares de apontamentos e de referências.

De acordo com Silva (2000, p. 116-117), o autor se transforma em

construtor de espaços visuais e sonoros, universos pré-construídos onde

podem e devem ser combinadas linguagens de grafismos, sons, e

imagens. “Para o autor, o espírito permanece o mesmo, mais ou menos no

lugar de construir classicamente uma rota, ele constrói uma rede e define

um conjunto de territórios desenhados por essa rede.”

Se isto significa dar a ouvir, ler, ou assistir, ou ainda territórios a

serem explorados, o receptor muda de status.

Silva o chama de utilizador. É o interlocutor dotado de instrumen-

tos e de possibilidades de acesso ao que foi concebido pelo emissor. Ele

poderá intervir para mudar a trajetória do que lhe está sendo proposto.

Significa interagir. Ser professor(autor) e aluno(receptor) a um só tempo.

Significa interferir, mais do que responder sim ou não. Mais do que

escolher uma opção, modifica e interfere nos assuntos tratados.

Apresenta-se como produtor conjunto – coautor –, isto porque o

processo de comunicação, entendido como interação, pressupõe

recursão da emissão e da recepção. De acordo com Silva (2000, p. 164),

“o emissor é receptor em potencial, e o receptor é emissor em potencial,

os dois polos codificam e decodificam”. Assim, se o emissor disponibili-

za a possibilidade de múltiplas redes articulatórias e, ainda, oferece

informações em redes de conexões, o interlocutor encontra gama de

associações e de significações.

Dessa forma, as teorias de comunicação que davam conta

também da relação professor/aluno ampliam seu campo de atuação para

as teorias de recepção. Necessitam prever a intervenção do interlocutor,

que se torna mais avisado, mais exigente, portanto mais ativo.

Quando se fala em processo de comunicação, não se pode

reduzi-lo como aquele em que um emissor manda uma mensagem a um

receptor – através de um meio ou veículo. É preciso que se conceba a

interação como processo complexo em que o sujeito se veja à volta com a

polissemia, a ambiguidade. É a condição de estabelecimento de comuni-

cação, que se, além da estrutura simbólica, se caracteriza pelas idas e

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 93

Page 94: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

vindas, por lapsos, por ambiguidades, por enganos e mal-entendidos.

Cabe, dessa forma, não mais falar MENSAGEM. Na relação, o

tema ou assunto (informação) tratados não mais dizem respeito à arvore

do saber: a árvore está fincada, enraizada. É o sistema linear arborescente

do pensamento e do conhecimento que, se permite a multiplicidade, não

permite desdobramentos, a não ser hierárquicos, pois suas bases são um

tronco que não se move. Transforma-se no que Deleuze e Guatari(1993)

chamam de rizoma, na multiplicidade sem o assentamento da base fixa e

sempre aberto a vários sentidos. Assim, a construção do conhecimento

passa a ocorrer nas possibilidades das múltiplas intervenções, redes e

conexões, na bidirecionalidade. Retraem-se aí os discursos científicos

para se tornarem interdiscursivos ou polifônicos.

Isto pressupõe rever as formas de conhecimento e o tratamento

dado pela escola à aquisição. De acordo com Mead(1980, p. 121):

Pós-figurativa, em que os jovens aprendem, através dos

adultos(...) modelo de conduta de seus contemporâneos; a pré-

figurativa onde adultos aprendem com jovens, onde os pares

substituem os pais, promovendo uma ruptura de gerações sem

precedentes e (...) a cofigurativa, a partir de pares, companhei-

ros aprendizes.

Para o terceiro caso, evocam-se conceitos de Hardy (1991), de

pedagogia interativa que se desdobra em:

I- contrária à transmissão de conhecimentos por um discurso

pré-construído que aponta para que os alunos realizem

tarefas pré-construídas, obedecendo a instrução ou enuncia-

do.

II-as interações entre docente-discente e objeto de aprendiza-

gem e o meio são as chaves do sucesso pedagógico.

Hardy(1991) considera a pedagogia interativa como multimo-

dal, não linear que remete ao conceito de rizoma. Para tal, o docente deve

atentar para a densa rede de relações, e permanente recuo reflexivo.

Isto implica, no dizer de MORIN (1996), a epistemologia da

Material Didático para a EaD: Processo de Produção94

Page 95: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

complexidade.

Criam-se novos modos de educação em que se interpenetram

conceitos de interatividade e de interação.

Entende-se por interação o processo pelo qual interlocutores

inter-agem, e decorrem daí os efeitos de sentido. Entende-se por

interlocutores os dois polos de qualquer situação de comunicação

(verbal, não verbal, mediada por tecnologias).

Quanto à interatividade, de acordo com Silva (2000), o

vocábulo é composto por dois componentes lexemáticos, o primeiro

significando entre, e o segundo, espaçamento, repartição, relação

recíproca. Mais especificamente nos casos de educação, interatividade

(assim como nas tecnologias de informática e internet) significa

interferir, modificar o que está sendo objeto de aprendizagem.

Cabe ressaltar que a modalidade interativa pressupõe um

emissor que constrói uma rede, um conjunto de possibilidades a explorar,

oferece um conjunto intrincado de lugares dispostos à interferência e às

modificações; mensagem modificável, em mutação e receptor como

coautor, criador. Ao contrário, nas outras maneiras de conceber a

comunicação, na unidirecionalidade, o emissor é um narrador, proposi-

tor; a mensagem, fechada, imutável; o receptor, passivo.

Falar de interatividade é deslocar o conceito do DO IT YOUR

SELF do momento, punk, considerado subcultura, que, no entanto, legou

a lição do FAÇA VOCÊ MESMO. É a tendência fragmentária da

indústria do entretenimento, para todas as situações de interação.

Não deve ser vista como novidade. Por volta de 250 a.C., de

acordo com Manguel (1999), foi criada uma arte que mudaria para

sempre a natureza da comunicação: escrever. Naquela época, o objetivo

era organizar uma sociedade cada vez mais complexa com leis, éditos e

regras de comércio. Escrever, grafar em tabuletas era a grande vantagem

sobre a memória – ao que Platão, em FEDRO, ataca violentamente o

deus Toth por ter inventado a escrita. Todavia, ao criar a escrita, os

registros, implicava criar leitores. Escrever exigia leitores. O escritor era

um produtor de mensagens, de signos que pediam por decodificação e

também por interatividade. Pedia a generosidade de um leitor.

De lá para cá, muito se acrescentou à tecnologia da escrita.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 95

Page 96: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

Todavia, atribuir às mais recentes tecnologias a responsabilidade de

garantir saberes pode constituir-se na maneira enganosa de se ocultar

problemas de educação.

O de que se necessita é propor desafios como aquele de a

educação possibilitar ecossistema comunicativo que contemple, ao

mesmo tempo, experiências culturais heterogêneas, o entorno das

tecnologias de comunicação e informação, além de configurar o espaço

educacional como o lócus, de acordo com Barbero (1997), onde a

construção permanente de conhecimentos conserve seu encanto.

Os prolegômenos, espera-se, são concepções que, a partir de

então, possam fundamentar uma delimitação para a modalidade de

Educação a Distância.

A Educação a Distância potencializa os fundamentos teórico-

metodológicos abordados quanto à comunicação. Por suas peculiarida-

des, evoca pragmaticamente a interação, a interatividade, e ambas

exigem a historicidade dos processos de comunicação: as possibilidades

de interlocução medidas por tecnologias (diferentes em cada fase da

história) e, ainda, os processos virtuais de linguagens e interação.

Habitualmente, nos processos de interlocução presenciais ou a

distância não se tem atribuído muita importância aos efeitos de sentido.

Tem-se baseado a significação, ora na intenção do autor, ora no texto

propriamente dito. Conforme já indicado em outro passo, faz-se mister

seja levado em conta a recepção, pois o leitor, com sua história de leituras

é que atribuirá sentidos aos textos. Em Educação a Distância, essa

condição é imprescindível. Os sentidos atribuídos nem sempre serão os

pretendidos, os idealizados para o leitor, ainda que se procure garanti-los

com pistas textuais, sígnicas: sintáticas, semânticas, léxicas e não

verbais. Só serão lidas essas pistas se estiverem contempladas nas

histórias de leituras do leitor (aluno).

Para a EaD, os processos de significação propostos vêm sendo

materializados em signos, textos de diferentes naturezas e propósitos. Ei-

los, entre tantos:

- Material impresso, em que os interlocutores estão distantes no

tempo e no espaço, e que, também por esta razão, a linguagem

Material Didático para a EaD: Processo de Produção96

Page 97: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

escrita pode ser considerada adequada. Todavia, só poderá ser

considerada apropriada se o texto escrito estiver dotado das

condições de textualidade, cuja tessitura evidencie: coesão,

coerência, progressão e argumentação. Só dessa forma se

instaura a possibilidade de dialogicidade que permeia o texto,

a fim de que, mesmo a distância, e não podendo utilizar-se dos

recursos paralinguísticos, como entonação, gestos, modifica-

ções na face, entre outros, possa fazer-se compreender e

permitir uma gama de possibilidades de atribuição de

sentidos;

- As fitas audiocassete, em que a linguagem - tanto oral quanto

escrita - necessita ser clara, concisa, coesa, coerente e pode

contar com os recursos de entonação, ritmo;

- As fitas videocassete cujo texto é a imbricação das linguagens

verbais e não verbais, em complementação, em que uma não é

mais importante que outra, mas se adequam aos propósitos;

- As teleconferências, em que a interlocução e a interação é “ao

vivo” e se utiliza dos recursos audiovisuais, tendo a fala a

função preponderante e explicitadora;

- E-mails, sites, homepages, CD-ROMs, etc, em que a hiper-

textualidade medeia a interlocução.

Depreende-se, dessa maneira, que, seja qual for a forma de

interação, ela sempre será feita/possibilitada por um processo de

mediação simbólica. O signo/símbolo poderá ser verbal: oral ou escrito;

não verbal: sonoro/musical; visual; estático, dinâmico, etc. Equivale a

dizer que, ainda que se estabeleça a interação de diferentes formas, ela se

constitui sempre num sucedâneo das formas antigas de comunicação.

Assim, retomam-se os conceitos que permeiam toda a forma de

comunicação humana: o homem é um ser ontologicamente de expressão

e, para expressar-se, necessita de suportes sígnicos. A linguagem é

sígnica.

Para expressar-se, o ser humano também recorre aos processos

midiáticos – e deles depende – não mais veículos e meios de comunica-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 97

Page 98: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

ção apenas –, mais recentemente das tecnologias possibilitadas pela

multimídia, as hipermídias que possibilitam o hipertexto. A condição do

hipertexto é a interatividade. Interativa, como já salientado, é a possibili-

dade de se buscar, de construír sentidos, não linearmente, e sim coman-

dando um programa.

O hipertexto, enquanto ato de criação, de leitura, de coautoria,

abre ensejo a interpretações/criações diferenciadas. Para isso, é preciso

que se desconsiderem as fronteiras entre autor/fruidor; palco/plateia;

produtor/consumidor.

As questões de interação, dessa forma, são anteriores às questões

de interatividade. É por esta que aquela se dá: recuperação interativa de

dados armazenados, a qual permite que o processo de leitura seja

cumprido como um percurso, definido pelo leitor ao longo de um

universo textual, onde todos os elementos lhe são apresentados na

simultaneidade.

O que se pode perceber é que a interatividade abre caminhos para

um tipo de intertextualidade particular. Os sentidos atribuídos são fruto

de estratégia textual; o hipertexto, que depende da indução do leitor

(usuário) e da opção por quais caminhos trilhar (opções hipermídicas). E

a consagração do leitor, retirado de seu lugar passivo da recepção, o que

tem sido não comum nos processos de fruição, quando da proposta de

leitura de textos tão repisada na/pela escola.

Ler, no processo INTERATIVO, significa ESCOLHER, OPTAR,

HIBRIDAR, DECIDIR, MONTAR, COLAR, RESSIGNIFICAR. São

atos de pré-codificação – registrando que os percursos não são predeter-

minados. Os resultados dependem das leituras, e são imprevisíveis.

Instaura-se a dialética entre TEXTO E LEITOR.

As disponibilidades articulatórias do texto verbo-audiovisual

favorecem combinatórias. Esse texto já não é mais marca de UM sujeito.

A cena da escritura se redefine, e o texto se torna permutativo, conforme

Moran (1993), “o leitor recupera tal como nos primórdios da narrativa

oral transmitida (boca a boca) seu papel fundante como criador, e

contribui (decididamente) para a realização da obra”.

Com base nessas reflexões, importa propor outras. O impresso

encarna e prolonga a temporalidade dos saberes. Ao se propor a descen-

Material Didático para a EaD: Processo de Produção98

Page 99: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

tralização da palavra autorizada, pode-se estar provocando transforma-

ções sociais do espaço da educação. As temporalidades da educação, nos

tempos de tecnicidade midiática, deslocam dimensões da educação.

Ainda mais: os meios confundem – co-fundem – as fronteiras entre razão

e imaginação; saber e informação. Essas temporalidades liberam o aqui e

agora, inaugurando espaços e velocidades.

Esclarece, ao mesmo tempo, que instiga a inquietação de Barbero

(1997)

Que deslocamentos epistemológicos as novas

ambiências de aprendizagem trazem? Qual o perfil

desse novo sensorium? Como estão se processan-

do as modificações na percepção espaço-tempo

dos jovens, inseridos em processos de desterritori-

alização da experiência e da identidade instalados

numa contemporaneidade que confunde tempos,

debilita passados e exalta o não futuro, fabricando

o presente contínuo?

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 99

Page 100: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 101: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS

stamos convictas de não ter esgotado o tema, mas acreditamos

ter deixado aberto para o vir a ser de outras produções. Essas Econsiderações propõem, em linhas de fuga, refletirmos sobre a

educação, sobre as tecnologias que agora a apresentam e sobre as deman-

das de se refletir permanentemente.

Deseja-se recuperar a ideia segundo a qual os sentidos

são, efetivamente, elaborados no intervalo cortado por

sequências mediativas e dialógicas e em que uma das

instâncias acima indicadas pode sobrelevar-se. Isto é, a

força do emissor enunciador, a capacidade de resposta do

receptor enunciatário e mesmo o encantamento exercido

pelo meio técnico devem ser remetidas ao lugar onde a

matéria histórico-discursiva entrelaça as redes de signifi-

cações que cutucam e incomodam. (CITELLI,1999)

O estudo pretendido não prescinde, assim, da interação.

Baseia-se sobretudo numa dimensão semiodiscursiva, considerando

signos a serem desvelados. É um estudo de linguagem na medida em

que se propõe à análise cultural no campo educativo. É um estudo de

comunicação, na medida em que aborda os fluxos comunicativos,

enfocando emissor/enunciador, receptor/enunciatário e os meios. O

componente dialógico – a interação – permite a compreensão que se

circunscreve às complexas formas de comunicação da contemporanei-

dade, destacando o papel das mediações e dos mediadores na produção

dos sentidos pretendidos.

Pensando-se que a comunicação tem vários desdobramentos e

interferências - linguagem, história, cultura, gênero e contrapressões

sociais diversas -, importa pesquisar a construção das redes discursivas,

levando-se em conta os desdobramentos dos processos de comunicação:

a história, a cultura os gêneros, a mediação, o jogo dialógico.

Assim, com todas essas condições de produção, tornamo-nos

aptos a produzir.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 101

Page 102: Material Didatico Para Ead Processo de Producao
Page 103: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACEDO, Sara O. Multimedia: entornos virtuales e interativos. Madri: UNED, 2000.

BARBERO, J. M. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro : UFRJ, 1997.

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986.

BELLONI, Maria L. O que é Mídia - Educação. Campinas: Autores Associados, 2001.

BRANDÃO, H.N. Introdução à análise de Discurso. Campinas: UNICAMP, 1999.

CARDOSO, C. O corpo Presente. In: RUBIM, A . C. et al. Comunicação e Sociabilidade nas Culturas contemporâneas. Petrópolis: Vozes,1999.

COELHO, TEIXEIRA. Dicionário Crítico de Política Cultural. São Paulo: Iluminuras, 1999.

_________. Comunicação e Semiótica. São Paulo : Perspectiva, 1989.

DELEUZE, G., GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. v.1, Rio de Janeiro, 1995.

GUATARI, F.; ROLNIK, S. Micropolíticas: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1996.

HARDY, M. (org.). Naissaince d'une pédagogie interative. Paris: ESF/INRP, 1991.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1996.

MACEDO, Joana d'Arc de Paula. A Cartilha e Produção de Textos. Revista Educação em Mato Grosso, Cuiabá, n.20/85, 1985.

MAFFESOLLI, M. As marcas do corpo. LIBERO ANO III, v.2, n.6, p.46.

MANGUEL, A. Uma História da Leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção 103

Page 104: Material Didatico Para Ead Processo de Producao

MEAD, G. H. Sobre psicologia social. São Paulo : Cortez, 1980.

MORAES, Maria C. O Paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 1999.

MORAN, J. M. Como ver televisão. São Paulo : Paulinas, 1996.

MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.

MORIN, E.; MOIGNE, J.L. A inteligência da complexidade. [s.n] Petrópolis, 2000.

NEDER, Maria Lúcia C. Metodologias para Elaboração de Materiais Didáticos. Curitiba: EDIBEPEX, 2003, v.1, 72p.

NEDER, Maria Lúcia C. Formação do Professor a Distância: a diver-sidade como base conceitual. Tese de doutorado.UFSC,2004.

NEDER, Maria Lúcia C. A Educação a distância: possibilidade de ressignificação de paradigmas educacionais. UFMT, 2001. mimeo

ORLANDI, Eni. Análise de Discurso, princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.

POSSARI, L.H.V. Comunicação e Educação: novo conceito de espa-ço (tempo). Cadernos de Educação. EDUNIC, V.5, n.1,2002, p.96.

POSSARI, Lúcia Helena V. A Comunicação em Ambientes Educacio-nais. Cuiabá: EDUFMT, 2002.

POSSARI, Lúcia H.V. e NEDER, Maria Lúcia C. Linguagem – o entorno, o percurso. Cuiabá: EDUFMT/NEAD, 2001. v.1,2,3,4 5 e 6.

SANTAELLA Lúcia. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004

SILVA, M. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.

VAL, Maria da Graça Costa. Redação e Textualidade. SP:Martins Fontes, 1993.

VARGAS, D.J. A orientação Acadêmica na Educação a distância: o trabalho do leitor Intermediário. Dissertação de mestrado. Cuiabá: UNIC, 2001.

Material Didático para a EaD: Processo de Produção104