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SAÚDE COLETIVA O Artigo 196 da Constituição de 1988 estabelece que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”. Transcorridas quase duas décadas do processo de institucionalização do Sistema Único de Saúde, a sua implantação e implementação evoluíram muito, especialmente em relação aos processos de descentralização e municipalização das ações e serviços de saúde. O processo de descentralização ampliou o contato do Sistema com a realidade social, política, administrativa do país e com suas especificidades regionais, tornando-se mais complexo e colocando os gestores à frente dos desafios que busquem superar de a fragmentação das políticas e programas de saúde mediante a organização de uma rede regionalizada e hierarquizada de ações, serviços e da qualificação da gestão. Frente a essa necessidade, o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), pactuaram responsabilidades e firmaram um documento para a reforma de aspectos institucionais vigentes, promovendo inovações nos processos e instrumentos de gestão que visavam alcançar maior efetividade, eficiência e qualidade de respostas e, ao mesmo tempo, redefinia responsabilidades coletivas em função das necessidades de saúde da população e na busca da equidade social. Assim, mesmo com a reorientação das novas políticas de saúde e apesar do conceito de saúde não estar mais ligado à ausência de doença, ainda pode-se perceber nos serviços a predominância do modelo curativo, centrado apenas na doença e a resistência em incorporar ações de promoção, proteção e recuperação da saúde das comunidades. É nesse sentido que cada vez mais o conhecimento das condições de saúde da população, seus determinantes e suas tendências, constitui elemento de fundamental importância para o campo da Saúde Coletiva. Assim, o presente material de estudo visa propiciar ao estudante, futuro técnico de enfermagem, as bases necessárias para o aperfeiçoamento da prática através das ações de educação em saúde e conseqüente melhoria da assistência de enfermagem prestada aos indivíduos nas mais diferentes faixas etárias, grupos e comunidades. 1 - PROMOÇÃO DA SAÚDE: O processo saúde-doença decorre da qualidade de vida das populações. Assim, a qualidade de vida é entendida como uma condição relacionada ao modo de viver em sociedade, articulando o momento histórico, o grau de liberdade social, as conquistas técnico- 1

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SAÚDE COLETIVA

O Artigo 196 da Constituição de 1988 estabelece que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”.

Transcorridas quase duas décadas do processo de institucionalização do Sistema Único de Saúde, a sua implantação e implementação evoluíram muito, especialmente em relação aos processos de descentralização e municipalização das ações e serviços de saúde. O processo de descentralização ampliou o contato do Sistema com a realidade social, política, administrativa do país e com suas especificidades regionais, tornando-se mais complexo e colocando os gestores à frente dos desafios que busquem superar de a fragmentação das políticas e programas de saúde mediante a organização de uma rede regionalizada e hierarquizada de ações, serviços e da qualificação da gestão.

Frente a essa necessidade, o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), pactuaram responsabilidades e firmaram um documento para a reforma de aspectos institucionais vigentes, promovendo inovações nos processos e instrumentos de gestão que visavam alcançar maior efetividade, eficiência e qualidade de respostas e, ao mesmo tempo, redefinia responsabilidades coletivas em função das necessidades de saúde da população e na busca da equidade social.

Assim, mesmo com a reorientação das novas políticas de saúde e apesar do conceito de saúde não estar mais ligado à ausência de doença, ainda pode-se perceber nos serviços a predominância do modelo curativo, centrado apenas na doença e a resistência em incorporar ações de promoção, proteção e recuperação da saúde das comunidades.

É nesse sentido que cada vez mais o conhecimento das condições de saúde da população, seus determinantes e suas tendências, constitui elemento de fundamental importância para o campo da Saúde Coletiva. Assim, o presente material de estudo visa propiciar ao estudante, futuro técnico de enfermagem, as bases necessárias para o aperfeiçoamento da prática através das ações de educação em saúde e conseqüente melhoria da assistência de enfermagem prestada aos indivíduos nas mais diferentes faixas etárias, grupos e comunidades.

1 - PROMOÇÃO DA SAÚDE:O processo saúde-doença decorre da qualidade de vida das populações. Assim, a qualidade de vida

é entendida como uma condição relacionada ao modo de viver em sociedade, articulando o momento histórico, o grau de liberdade social, as conquistas técnico-científicas e a possibilidade de seu usufruto pela população e, a partir disso, decorre as possibilidades de adoecimento e morte, sendo distintas em função da classe ou grupo social, da cultura, da raça, da geração e do gênero.

Em 1977, a Organização Mundial da Saúde propôs a seguinte meta: “Saúde para todos no ano 2000”. Como decorrência, tanto o cenário brasileiro quanto o mundial estabeleceram um debate sobre o conceito de saúde-doença e a estruturação dos serviços de saúde. Um dos aspectos centrais no encaminhamento dessa meta era o detalhamento e a operacionalização do conceito de eqüidade, reconhecendo-se como fundamental a superação das desigualdades sociais para a melhoria das condições de saúde das populações.

Na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, dirigida a todos os governos na busca da promoção de saúde a todos os povos em Alma-Ata, no Cazaquistão, em 1978, foi formulada a Declaração de Alma-Ata, composta de 10 itens que enfatizam a Atenção primária à saúde, salientando a necessidade de atenção especial aos países em desenvolvimento e defendendo a busca de uma solução urgente para estabelecer a promoção da saúde como uma das prioridades da nova ordem econômica internacional.

Em 1986, a I Conferência Mundial de Promoção da Saúde realizada na cidade de Ottawa, Canadá, tornou-se a principal referência nesse campo e contribuiu para ampliar as discussões sobre os determinantes da saúde (fatores sociais, econômicos e ambientais) e as ações de promoção. Na ocasião, a promoção da saúde foi conceituada como “processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo”.Essa

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concepção faz com que a população passe a assumir uma posição atuante na definição dos problemas a serem enfrentados e deixe de ser apenas alvo dos programas.

Com isso, amplia-se a concepção de saúde referindo-a aos seus determinantes e, também, à possibilidade de intervenções que extrapolam o setor saúde. Nessa Conferência foi elaborado um documento, a Carta de Ottawa que definiu campos de atuação e incluiu os seguintes eixos:1. Elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis;2. Criação de ambientes favoráveis à saúde;3. Reforço para a ação comunitária;4. Desenvolvimento de habilidades pessoais;5. Reorientação dos sistemas e serviços de saúde.

No outros anos, seguiram-se Conferências centradas nas políticas públicas saudáveis e no conceito de equidade, com o objetivo de reforçar o entendimento da saúde como direito humano fundamental, um investimento social com o envolvimento de ações intersetoriais e meta para a superação das desigualdades decorrentes da inserção social diferenciada.

Com o objetivo de diminuir as consequências negativas associadas ao adoecimento, o conceito de Eqüidade constituía condição de igualdade de oportunidades para o uso de recursos existentes, diferenciando o atendimento conforme sua complexidade.

Desse modo, é possível perceber que o nível de saúde de uma população depende da ação dos vários setores que compõem e atuam na sociedade e a saúde constitui apenas um setor. Assim, se pretende alcançar melhores indicadores na área da saúde, é preciso desenvolver uma ação integrada com os demais setores que executam políticas públicas.

Ademais, na organização dos programas e na prática em saúde coletiva, é imprescindível a identificação das necessidades sentidas pela população-alvo, pois se não há conhecimento da realidade e do que a população considera como problema, as políticas poderão se tornar medidas não apropriadas, com soluções voltadas para problemas inexistentes ou pouco relevantes para o público a quem se destinam as ações.

2 – VIGILÂNCIA DA SAÚDEApós quase uma década de lutas dos mais diversos setores da sociedade pela melhoria da saúde no

país, o Sistema Único de Saúde (SUS), incorpora princípios e diretrizes que apontam para o compromisso do Estado com a promoção das condições necessárias à saúde dos cidadãos. No artigo 198 da Constituição Federal encontra-se explicitado que as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com três diretrizes: descentralização, com direção única em cada esfera de governo; atendimento integral, com prioridade para as ações preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais e participação da comunidade.

Com isso, pode-se considerar o SUS uma política pública avançada e que além do direito à saúde e a participação da população na gestão dos serviços, prioriza a integralidade e a eqüidade das ações. A concretização destes princípios requer, entre outros aspectos, a estruturação de um novo modelo assistencial cujo foco de atenção esteja voltado para os determinantes das condições de saúde de uma população, e não apenas para o tratamento das doenças.

O novo modelo assistencial por nós considerado necessário para a implementação do SUS se estrutura a partir da maior capacidade de resolução dos problemas de saúde pelo nível local. É imprescindível que os serviços se organizem em uma rede hierarquizada, por níveis de complexidade diferenciada e, nessa rede, cabe ao nível básico atender aos problemas e, também, identificar as causas sociais, econômicas e culturais a eles relacionadas, para buscar posteriores intervenções junto aos outros setores, complementando, assim, a esfera de atuação sobre os determinantes das condições de saúde.

Nesse contexto insere-se a proposta da vigilância da saúde, entendida como um processo amplo e complexo voltado para o enfrentamento dos inúmeros problemas e agravos que comprometem a qualidade de vida dos diferentes segmentos populacionais. Constitui o modelo assistencial capaz de reverter a lógica de atender somente as doenças, pois visa a articulação entre as ações preventivas e curativas, de caráter individual e de alcance coletivo, e ao reconhecimento das dimensões biológica,ambiental e social dos problemas de saúde.

É por tal motivo que o objetivo das práticas em saúde se torna muito mais ampliado, exigindo que os profissionais de saúde considerem outros campos de conhecimento que não apenas o das ciências

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biológicas, como as ciências humanas (Sociologia, Antropologia, Filosofia, Educação) e busquem uma integração multidisciplinar. A formação desses profissionais deve prepará-los não apenas para reproduzir procedimentos, mas para que se tornem sensíveis à conscientização dos problemas da realidade e desenvolvam processos educativos que favoreçam a participação da comunidade, estimulando-a a reconhecer seus problemas e intervir sobre eles, bem como a participar das discussões e decisões que lhe digam respeito.

Cabem a nós, recursos humanos do SUS, aproveitar as oportunidades de contato com a população para ampliar o conhecimento sobre a mesma, com vistas a uma assistência integral. Deve-se redirecionar o perfil dos profissionais de enfermagem para que atuem em conjunto com os outros trabalhadores da saúde, na perspectiva de concretizar as diretrizes mais gerais do Sistema Único de Saúde não apenas dominando a competência técnica, mas também estando envolvido com as éticas da responsabilidade e solidariedade.

A “nova” prática em enfermagem na saúde coletiva requer reconhecimento do território no qual a equipe de saúde atua: área, população, número de domicílios, tipos de habitação, comércios, indústrias e outras instituições públicas como escolas, creches, delegacias, representações da sociedade civil como associações de moradores, conselhos de saúde, ONGs, pois que os dados obtidos são fundamentais para a construção dos perfis epidemiológicos, bem como para o planejamento das ações programáticas mais necessárias.

Assim, o Programa Saúde da Família (PSF), por exemplo, implantado no Brasil em 1994, deve ser entendido como possibilidade para a produção de ações voltadas para a saúde, desde que contemplados os princípios que dão forma ao SUS. Com esse Programa, é possível pôr em prática várias ações que auxiliam o fortalecimento da vigilância da saúde. Uma delas é a atuação das instituições de saúde em locais periféricos (residências, escolas, creches, associações, igrejas) - e não de forma tradicional, atuando-se somente sobre uma demanda que procura os serviços para participar de uma ação programática ou mediante um problema em curso.

De tal forma, o trabalho em saúde coletiva requer dos profissionais de todos os níveis uma postura participativa e criativa, delimitadas pela realidade do exercício profissional.

3 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICAAs primeiras intervenções estatais no campo da prevenção e controle de doenças, desenvolvidas

sob bases científicas modernas, datam do início do século XX e foram orientadas pelo avanço da era bacteriológica e pela descoberta dos ciclos epidemiológicos de algumas doenças infecciosas e parasitárias. Essas intervenções consistiram na organização de grandes campanhas sanitárias com vistas ao controle de doenças que comprometiam a atividade econômica, a exemplo da febre amarela, peste e varíola. As campanhas valiam-se de instrumentos precisos para o diagnóstico de casos, combate a vetores, imunização e tratamento em massa com fármacos, dentre outros. O modelo operacional baseava-se em atuações verticais, sob forte inspiração militar, e compreendia fases bem estabelecidas– preparatória, de ataque, de consolidação e de manutenção.

A expressão vigilância epidemiológica passou a ser aplicada ao controle das doenças transmissíveis na década de 50, para designar uma série de atividades subseqüentes à etapa de ataque da campanha de erradicação da malária, vindo a designar uma de suas fases constitutivas. Originalmente, significava “a observação sistemática e ativa de casos suspeitos ou confirmados de doenças transmissíveis e de seus contatos”. Tratava-se, portanto, da vigilância de pessoas, com base em medidas de isolamento ou quarentena, aplicadas individualmente, e não de forma coletiva.

Na década de 60, o programa de erradicação da varíola também instituiu uma fase de vigilância epidemiológica, subseqüente à de vacinação em massa da população. Simultaneamente, o programa disseminou a aplicação de novos conceitos que se firmavam no âmbito internacional e não se vinculavam à prévia realização de uma fase de ataque. Pretendia-se, mediante busca ativa de casos de varíola, a detecção precoce de surtos e o bloqueio imediato da transmissão da doença. Essa metodologia foi fundamental para o êxito da erradicação da varíola em escala mundial e serviu de base para a organização de sistemas nacionais de vigilância epidemiológica.

A vigilância epidemiológica foi o tema central da 21ª Assembléia Mundial de Saúde realizada em 1968, na qual se estabeleceu a abrangência do conceito, que permitia aplicação a vários problemas de saúde pública, além das doenças transmissíveis, a exemplo das malformações congênitas,

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envenenamentos na infância, leucemia, abortos, acidentes, doenças profissionais, comportamentos como fatores de risco, riscos ambientais, utilização de aditivos, dentre outros.

No Brasil, a Campanha de Erradicação da Varíola (CEV) − 1966-1973 − é reconhecida como marco da institucionalização das ações de vigilância no país, tendo fomentado e apoiado a organização de unidades de vigilância epidemiológica na estrutura das secretarias estaduais de saúde. O modelo da CEV inspirou a Fundação Serviços de Saúde Pública (FSESP) a organizar, em 1969, um sistema de notificação semanal de doenças selecionadas e disseminar informações pertinentes em um boletim epidemiológico de circulação quinzenal. Tal processo fundamentou a consolidação, nos níveis nacional e estadual, de bases técnicas e operacionais que possibilitaram o futuro desenvolvimento de ações de impacto no controle de doenças evitáveis por imunização. O principal êxito relacionado a esse esforço foi o controle da poliomielite no Brasil, na década de 1980, que abriu perspectivas para a erradicação da doença no continente americano, finalmente alcançada em 1994.

Por recomendação da 5ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1975, o Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), por meio de legislação específica (Lei nº 6.259/75 e Decreto nº 78.231/76). Esses instrumentos legais tornaram obrigatória a notificação de doenças transmissíveis selecionadas, constantes de relação estabelecida por portaria. Em 1977, o Ministério da Saúde elaborou o primeiro Manual de Vigilância Epidemiológica, reunindo e compatibilizando as normas técnicas então utilizadas para a vigilância de cada doença, no âmbito de programas de controle específicos.

O atual Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou o SNVE, definindo em seu texto legal (Lei nº 8.080/90) a vigilância epidemiológica como “um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. Além de ampliar o conceito, as ações de vigilância epidemiológica passaram a ser operacionalizadas num contexto de profunda reorganização do sistema de saúde brasileiro, caracterizada pela descentralização de responsabilidades e integralidade da prestação de serviços.

Por sua vez, as profundas mudanças no perfil epidemiológico das populações, no qual se observa declínio das taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e crescente aumento das mortes por causas externas e doenças crônico-degenerativas, têm propiciado a discussão da incorporação de doenças e agravos não-transmissíveis ao escopo de atividades da vigilância epidemiológica. Iniciativas nesta direção estão sendo adotadas tanto pelo Ministério da Saúde/SVS como por algumas secretarias estaduais e municipais de saúde.

3.1-Funções da Vigilância EpidemiológicaA vigilância epidemiológica deve fornecer orientação técnica permanente para os profissionais de

saúde que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área geográfica ou população definida. Subsidiariamente, a vigilância epidemiológica constitui-se importante instrumento para o planejamento, organização e operacionalização dos serviços de saúde, bem como a normatização das atividades técnicas correlatas.

A operacionalização da vigilância epidemiológica compreende um ciclo de funções específicas, desenvolvidas de modo contínuo, permitindo conhecer, a cada momento, o comportamento da doença ou agravo selecionado como alvo das ações,de forma que as medidas de intervenção pertinentes possam ser desencadeadas com oportunidade e eficácia. São funções da vigilância epidemiológica:

• coleta de dados;• processamento dos dados coletados;• análise e interpretação dos dados processados;• recomendação das medidas de controle apropriadas;• promoção das ações de controle indicadas;• avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas• divulgação de informações pertinentes.

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As competências de cada nível do sistema de saúde (municipal, estadual e federal) abarcam todo o espectro das funções de vigilância epidemiológica, porém com graus de especificidade variáveis. As ações executivas são inerentes ao nível municipal e seu exercício exige conhecimento analítico da situação de saúde local, mas cabe aos níveis nacional e estadual conduzir as ações de caráter estratégico e longo alcance.

A eficiência do SNVE depende do desenvolvimento harmônico das funções realizadas nos diferentes níveis. Quanto mais capacitada e eficiente for a instância local, mais oportunamente podem ser executadas as medidas de controle. Os dados e informações aí produzidos serão mais consistentes, possibilitando melhor compreensão do quadro sanitário estadual e nacional e, conseqüentemente, o planejamento adequado da ação governamental.

Nesse contexto, as intervenções oriundas dos níveis estadual e federal tenderão a tornar-se seletivas, voltadas para questões emergenciais ou que, por sua transcendência, requerem avaliação complexa e abrangente, com participação de especialistas e centros de referência, inclusive internacionais.

A atual orientação para o desenvolvimento do SNVE estabelece, como prioridade, o fortalecimento dos sistemas municipais de vigilância epidemiológica, dotados de autonomia técnico-gerencial para enfocar os problemas de saúde próprios de suas respectivas áreas de abrangência.

3.2 - Coleta de dados e informaçõesO cumprimento das funções de vigilância epidemiológica depende da disponibilidade de dados

que sirvam para subsidiar o processo de produção de informação para a ação.A qualidade da informação depende, sobretudo, da adequada coleta de dados gerados no local

onde ocorre o evento sanitário (dado coletado). É também nesse nível que os dados devem primariamente ser tratados e estruturados para se constituírem em um poderoso instrumento – a informação –, capaz de subsidiar um processo dinâmico de planejamento, avaliação, manutenção e aprimoramento das ações.

A coleta de dados ocorre em todos os níveis de atuação do sistema de saúde. A força e o valor da informação (dado analisado) dependem da precisão com que o dado é gerado.

Portanto, os responsáveis pela coleta devem ser preparados para aferir a qualidade do dado obtido. Tratando-se, por exemplo, da notificação de doenças transmissíveis, é fundamental a capacitação para o diagnóstico de casos e a realização de investigações epidemiológicas correspondentes.

Outro aspecto relevante refere-se à representatividade dos dados, em relação à magnitude do problema existente. Como princípio organizacional o sistema de vigilância deve abranger o maior número possível de fontes geradoras, cuidando-se de assegurar a regularidade e oportunidade da transmissão dos dados. Geralmente, não é possível nem necessário conhecer a totalidade dos casos. A partir de fontes selecionadas e confiáveis pode-se acompanharas tendências da doença ou agravo, com o auxílio de estimativas de subenumeração de casos.

O fluxo, periodicidade e tipos de dados coletados devem corresponder às necessidades de utilização previamente estabelecidas, com base em indicadores adequados às características próprias de cada doença ou agravo sob vigilância. A prioridade de conhecimento do dado sempre será concedida à instância responsável pela execução das medidas de controle.

Quando for necessário o envolvimento de outro nível do sistema, o fluxo deverá ser suficientemente rápido para que não ocorra atraso na adoção de medidas de controle.

3.3 - Tipos de dadosOs dados e informações que alimentam o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica são os

seguintes: Dados demográficos, ambientais e socioeconômicos:

A disponibilidade de indicadores demográficos e socioeconômicos é primordial para a caracterização da dinâmica populacional e das condições gerais de vida, às quais se vinculam os fatores condicionantes da doença ou agravo sob vigilância, pois que os dados demográficos permitem quantificar grupos populacionais, com vistas à definição de denominadores para o cálculo de taxas. Dados sobre o número de habitantes, nascimentos e óbitos devem ser discriminados segundo características de sua distribuição por sexo, idade, situação do domicílio, escolaridade, ocupação, condições de saneamento, etc. Dados sobre aspectos climáticos e ecológicos também podem ser necessários para a compreensão do fenômeno analisado.

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Dados de morbidade: Correspondem à distribuição de casos segundo a condição de portadores de infecções ou patologias específicas, como também de seqüelas. São os dados mais utilizados em vigilância epidemiológica por permitirem a detecção imediata ou precoce de problemas sanitários. Trata-se, em geral, de dados oriundos da notificação de casos e surtos, da produção de serviços ambulatoriais e hospitalares, de investigações epidemiológicas, da busca ativa de casos, de estudos amostrais e de inquéritos, entre outras formas. Merecem cuidados especiais na coleta e análise, pois que seu uso apresenta dificuldades relacionadas à representatividade e abrangência dos sistemas de informações disponíveis, à possibilidade de duplicação de registros e a deficiências de métodos e critérios de diagnóstico utilizados.Assim, a quantidade de casos de uma doença permite estimar sua importância para aquela população. Estão relacionados à morbidade os termos: surto, endemia, epidemia e pandemia.– Surto é um aumento repentino do número de casos, dentro de limites muito restritos, como vários bebês com infecção respiratória em um berçário de hospital. Também pode ser assim considerado o aumento do número de casos de uma doença em uma área específica, considerada livre da mesma. Por exemplo, um único caso de poliomielite no Brasil seria suficiente para configurar um surto;– Endemia é a ocorrência de certo número de casos controlados em determinada região;– Epidemia é o aumento do número de casos de determinada doença, muito acima do esperado e não delimitado a uma região;– Pandemia, por sua vez, compreende um número de casos de doença acima do esperado, sem respeitar limites entre países ou continentes. Os exemplos mais atuais são a Aids e a tuberculose.

Dados de mortalidade:Sua obtenção provém de declarações de óbitos, padronizadas e processadas nacionalmente. São de fundamental importância como indicadores da gravidade do fenômeno vigiado, sendo ainda, no caso particular de doenças de maior letalidade, mais válidos do que os dados de morbidade, por se referirem a fatos vitais bem marcantes e razoavelmente registrados. Atrasos na disponibilidade desses dados dificultam sua utilização na vigilância epidemiológica. A disseminação eletrônica de dados tem contribuído muito para facilitar o acesso a essas informações. Considerando tais fatos, os sistemas locais de saúde devem ser estimulados a utilizar de imediato as informações das declarações de óbito.

Observação: Notificação de surtos e epidemiasEssa prática possibilita a constatação de qualquer indício de elevação do número de casos de uma patologia, ou a introdução de outras doenças não incidentes no local e, a partir disso, o diagnóstico de uma situação epidêmica inicial para a adoção imediata das medidas de controle. A detecção precoce de surtos e epidemias ocorre quando o sistema de vigilância epidemiológica local está bem estruturado, com acompanhamento constante da situação geral de saúde e da ocorrência de casos de cada doença e agravo sujeito à notificação. Em geral, esses fatos devem ser notificados aos níveis superiores do sistema para que sejam alertadas as áreas vizinhas e/ou para solicitar colaboração, quando necessária.

3.4 - Fontes de dados:A informação para a vigilância epidemiológica destina-se à tomada de decisões. Este princípio

deve reger as relações entre os responsáveis pela vigilância e as diversas fontes que podem ser utilizadas para o fornecimento de dados. Dentre essas, a principal é a notificação, ou seja, a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes.

Historicamente, a notificação compulsória tem sido a principal fonte da vigilância epidemiológica, a partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o processo informação – decisão-ação. Dessa forma, a listagem das doenças de notificação nacional é estabelecida pelo Ministério da Saúde entre as consideradas de maior relevância sanitária para o país. Os dados correspondentes compõem o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Estados e municípios podem adicionar à lista outras patologias de interesse regional ou local, justificada a sua necessidade e definidos os mecanismos operacionais correspondentes.

Dada a natureza específica de cada doença ou agravo à saúde, a notificação deve seguir um processo dinâmico, variável em função das mudanças no perfil epidemiológico, dos resultados obtidos com as ações de controle e da disponibilidade de novos conhecimentos científicos e tecnológicos. As

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normas de notificação devem adequar-se, no tempo e no espaço, às características de distribuição das doenças consideradas, ao conteúdo de informação requerido, aos critérios de definição de casos, à periodicidade da transmissão dos dados, às modalidades de notificação indicadas e à representatividade das fontes de notificação.

Os parâmetros para a inclusão de doenças e agravos na lista de notificação compulsória devem obedecer aos critérios de magnitude (altas taxas de incidência, prevalência, mortalidade e anos potenciais de vida perdidos); potencial de disseminação (elevado poder de transmissão da doença,por meio de vetores ou outras fontes de infecção, colocando sob risco a saúde coletiva); transcendência (características subsidiárias que conferem relevância especial à doença ou agravo); vulnerabilidade (disponibilidade concreta de instrumentos específicos de prevenção e controle da doença, propiciando a atuação efetiva dos serviços de saúde sobre os indivíduos e coletividades) e, por fim aos compromissos internacionais (relativos ao cumprimento de metas continentais ou mundiais de controle, de eliminação ou de erradicação de doenças, previstas em acordos firmados pelo governo brasileiro com organismos internacionais).

Observação: Aspectos que devem ser considerados na notificação: O caráter compulsório da notificação implica responsabilidades formais para todo cidadão, e uma

obrigação para todos os profissionais da área da saúde médicos, enfermeiros, odontólogos, médicos veterinários, biólogos, biomédicos, farmacêuticos e outros no exercício da profissão, bem como os responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde e de ensino, em conformidade com os arts. 7º e 8º, da Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975.

O sistema de notificação deve estar permanentemente voltado para a sensibilização dos profissionais e das comunidades, visando melhorar a quantidade e qualidade dos dados coletados mediante o fortalecimento e ampliação da rede;

Para um sistema de notificação funcionar eficazmente deve-se demonstrar o uso adequado das informações recebidas, de forma a conquistar a confiança dos notificantes;

Todas as unidades de saúde (públicas, privadas e filantrópicas) devem fazer parte do sistema, bem como os profissionais de saúde e mesmo a população em geral.

Deve-se notificar a simples suspeita da doença. Não se deve aguardar a confirmação do caso para se efetuar a notificação, pois isto pode significar perda da oportunidade de intervir com êxito;

A notificação tem de ser sigilosa, só podendo ser divulgada fora do âmbito médico-sanitário em caso de risco para a comunidade, respeitando-se o direito de anonimato dos cidadãos;

O envio dos instrumentos de coleta de notificação deve ser feito mesmo na ausência de casos, configurando-se o que se denomina notificação negativa, que funciona como um indicador de eficiência do sistema de informações.

De tal forma, considerando leis, portarias, decretos e a necessidade de padronizar os procedimentos normativos relacionados à notificação compulsória e à vigilância em saúde no âmbito do SUS,o Ministro da Saúde, no uso das suas atribuições,resolve por meio da Portaria nº 104 de 25 de janeiro de 2011:Art. 1º Definir as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005).I - Doença: significa uma enfermidade ou estado clínico, independentemente de origem ou fonte, que represente ou possa representar um dano significativo para os seres humanos; II - Agravo: significa qualquer dano à integridade física, mental e social dos indivíduos provocado por circunstâncias nocivas, como acidentes, intoxicações, abuso de drogas, e lesões auto ou heteroinfligidas;III - Evento: significa manifestação de doença ou uma ocorrência que apresente potencial para causar doença;IV - Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional - ESPIN: é um evento que apresente risco de propagação ou disseminação de doenças para mais de uma Unidade Federada– Estados e Distrito Federal - com priorização das doenças de notificação imediata e outros eventos de saúde pública, independentemente da natureza ou origem, depois de avaliação de risco, e que possa necessitar de resposta nacional imediata; e

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V - Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional - ESPII: é evento extraordinário que constitui risco para a saúde pública de outros países por meio da propagação internacional de doenças e que potencialmente requerem uma resposta internacional coordenada.Art. 2º Adotar, na forma do Anexo I a esta Portaria, a Lista de Notificação Compulsória - LNC, referente às doenças, agravos e eventos de importância para a saúde pública de abrangência nacional em toda a rede de saúde, pública e privada.Art. 3º As doenças e eventos constantes no Anexo I a esta Portaria serão notificados e registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan, obedecendo às normas e rotinas estabelecidas pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde - SVS/MS.Art. 4º Adotar, na forma do Anexo II a esta Portaria, a Lista de Notificação Compulsória Imediata - LNCI, referente às doenças, agravos e eventos de importância para a saúde pública de abrangência nacional em toda a rede de saúde, pública e privada.Art. 5º A notificação imediata será realizada por telefone como meio de comunicação ao serviço de vigilância epidemiológica da SMS, cabendo a essa instituição disponibilizar e divulgar amplamente o número na rede de serviços de saúde, pública e privada.

ANEXO ILista de Notificação Compulsória – LNC

1. Acidentes por animais peçonhentos;2. Atendimento anti-rábico;3. Botulismo;4. Carbúnculo ou Antraz;5. Cólera;6. Coqueluche;7. Dengue;8. Difteria;9. Doença de Creutzfeldt-Jakob;10. Doença Meningocócica e outras Meningites;11. Doenças de Chagas Aguda;12. Esquistossomose;13. Eventos Adversos Pós-vacinação;14. Febre Amarela;15. Febre do Nilo Ocidental;16. Febre Maculosa;17. Febre Tifóide;18. Hanseníase;19. Hantavirose;20. Hepatites Virais;21. Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana – HIV em gestantes e crianças expostas ao risco de transmissão vertical;22. Influenza humana por novo subtipo;23. Intoxicações Exógenas (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados);

24. Leishmaniose Tegumentar Americana;25. Leishmaniose Visceral;26. Leptospirose;27. Malária;28. Paralisia Flácida Aguda;29. Peste;30. Poliomielite;31. Raiva Humana;32. Rubéola;33. Sarampo;34. Sífilis Adquirida;35. Sífilis Congênita;36. Sífilis em Gestante;37. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS;38. Síndrome da Rubéola Congênita;39. Síndrome do Corrimento Uretral Masculino;40. Síndrome Respiratória Aguda Grave associada ao Coronavírus (SARS-CoV);41. Tétano;42. Tuberculose;43. Tularemia;44. Varíola; e45. Violência doméstica, sexual e/ou outras violências.

ANEXO II

Lista de Notificação Compulsória Imediata – LNCII. Caso suspeito ou confirmado de:1. Botulismo;2. Carbúnculo ou Antraz;3. Cólera;4. Dengue nas seguintes situações:

· Dengue com complicações (DCC),· Síndrome do Choque da Dengue (SCD),· Febre Hemorrágica da Dengue (FHD),· Óbito por Dengue

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· Dengue pelo sorotipo DENV4 nos estados sem transmissão endêmica desse sorotipo;5. Doença de Chagas Aguda;6. Doença conhecida sem circulação ou com circulação esporádica no território nacional que não constam no Anexo I desta Portaria, como: Rocio, Mayaro, Oropouche, Saint Louis, Ilhéus,Mormo, Encefalites Eqüinas do Leste, Oeste e Venezuelana, Chikungunya, Encefalite Japonesa,entre outras;7. Febre Amarela;8. Febre do Nilo Ocidental;9. Hantavirose;10. Influenza humana por novo subtipo;11. Peste;12. Poliomielite;13. Raiva Humana;14. Sarampo;15. Rubéola;16. Síndrome Respiratória Aguda Grave associada ao Coronavírus (SARS-CoV);17. Varíola;18. Tularemia; e19. Síndrome de Rubéola Congênita (SRC).II. Surto ou agregação de casos ou óbitos por:1. Difteria;2. Doença Meningocócica;3. Doença Transmitida por Alimentos (DTA) em embarcações ou aeronaves;4. Influenza Humana;5. Meningites Virais;6. Outros eventos de potencial relevância em saúde pública, após a avaliação de risco de

acordo com o Anexo II do RSI 2005, destacando-se:a) Alteração no padrão epidemiológico de doença conhecida, independente de constar no Anexo I desta Portaria;b) Doença de origem desconhecida;c) Exposição a contaminantes químicos;d) Exposição à água para consumo humano fora dos padrões preconizados pela SVS;e) Exposição ao ar contaminado, fora dos padrões preconizados pela Resolução do CONAMA;f) Acidentes envolvendo radiações ionizantes e não ionizantes por fontes não controladas,por fontes utilizadas nas atividades industriais ou médicas e acidentes de transporte com produtos radioativos da classe 7 da ONU.g) Desastres de origem natural ou antropogênica quando houver desalojados ou desabrigados;h) Desastres de origem natural ou antropogênica quando houver comprometimento da capacidade de funcionamento e infraestrutura das unidades de saúde locais em conseqüência evento.III. Doença, morte ou evidência de animais com agente etiológico que podem acarretar a ocorrência de doenças em humanos, destaca-se entre outras classes de animais:1. Primatas não humanos2. Eqüinos3. Aves4. Morcegos5. Canídeos6. Roedores silvestres

3.5 – Investigação EpidemiológicaA ocorrência de casos novos de uma doença (transmissível ou não) ou agravo (inusitado ou não),

passíveis de prevenção e controle pelos serviços de saúde, indica que a população está sob risco e pode representar ameaças à saúde que precisam ser detectadas e controladas ainda em seus estágios iniciais. Uma das possíveis explicações para que tal situação se concretize encontra-se no controle inadequado de fatores de risco, por falhas na assistência à saúde e/ou medidas de proteção, tornando imperativa a necessidade de seu esclarecimento para que sejam adotadas as medidas de prevenção e controle pertinentes. Nestas circunstâncias, a investigação epidemiológica de casos e epidemias constitui atividade obrigatória de qualquer sistema local de vigilância epidemiológica.

A investigação epidemiológica deve ser iniciada imediatamente após a notificação de casos isolados ou agregados de doenças/agravos, quer sejam suspeitos, clinicamente declarados ou mesmo contatos, para os quais, as autoridades sanitárias considerem necessário dispor de informações complementares.

A gravidade do evento representa um fator que condiciona a urgência no curso da investigação epidemiológica e na implementação de medidas de controle. Em determinadas situações, especialmente quando a fonte e o modo de transmissão já são evidentes, as ações de controle devem ser instituídas durante ou até mesmo antes da realização da investigação.

A orientação do tratamento dos pacientes e, principalmente, a definição e adequação das medidas de controle, que devem ser adotadas em tempo hábil, antes que o evento atinja maiores dimensões, dependem fundamentalmente das informações coletadas durante a investigação. Assim, esta atividade da

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vigilância epidemiológica deve ser entendida como um desafio para a resolução de um problema de saúde individual, de algum modo relacionado a outros indivíduos da comunidade e que, portanto, pode estar representando sério risco à população.

Uma investigação epidemiológica envolve o exame do doente e de seus contatos, com detalhamento da história clínica e de dados epidemiológicos, além da coleta de amostras para laboratório (quando indicada), busca de casos adicionais, identificação do(s) agente(s) infeccioso(s) quando se tratar de doença transmissível, determinação de seu modo de transmissão ou de ação, busca de locais contaminados ou de vetores e identificação de fatores que tenham contribuído para a ocorrência dos casos. O exame cuidadoso do caso e de seus comunicantes é fundamental, pois, dependendo da enfermidade, pode-se identificar suas formas iniciais e instituir rapidamente o tratamento (com maior probabilidade de sucesso) ou proceder ao isolamento, visando evitar a progressão da doença na comunidade.

Nesse sentido, logo após a identificação das fontes de infecção, modo de transmissão e população exposta a elevado risco de infecção, devem ser recomendadas as medidas adequadas de controle, bem como um relatório circunstanciado, a ser amplamente divulgado a todos os profissionais de saúde envolvidos no processo.

Na realidade, quando se conhece a fonte de um surto/epidemia, as medidas de controle devem ser imediatamente implementadas, pois este é o objetivo primordial da maioria das investigações epidemiológicas. As medidas podem ser direcionadas para qualquer elo da cadeia epidemiológica, quer seja o agente, fonte ou reservatórios específicos, visando interromper a cadeia de transmissão ou reduzir a susceptibilidade do hospedeiro.

Quando se trata de doenças transmissíveis, as medidas de precaução podem incluir: – vacinação de bloqueio - é a intensificação da administração de uma vacina, visando impedir a transmissão de uma doença de um indivíduo doente para aqueles que com ele convivem em espaço restrito, como em casa, no trabalho, escola. Essa medida é usualmente utilizada quando há o acometimento por uma doença de transmissão fácil e contra a qual se dispõe de vacina, como a coqueluche ou sarampo.– intensificação de vacina - é uma estratégia utilizada para aumentar o número de pessoas protegidas contra uma doença. Para tanto, podem ser modificados os critérios normalmente utilizados para a aplicação da vacina, aumentando-se o número de doses ou a faixa etária da população-alvo;– indicação de restrição de circulação - o objetivo não é isolar o cliente, mas sim garantir que outras pessoas de seu convívio não corram o risco de contrair a doença por ainda não estarem protegidas;– quimioprofilaxia – algumas vezes, o uso de vacinas para prevenir a transmissão de determinada doença não está disponível ou recomendado - casos em que são utilizados medicamentos para diminuir o risco de transmissão. A adoção desta conduta é chamada quimioprofilaxia, geralmente adotada para os comunicantes de casos suspeitos ou confirmados de meningite meningocócica ou causada por hemófilos, tuberculose, e ainda frente à exposição acidental envolvendo objetos perfurocortantes potencialmente contaminados com material biológico.

4 –PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO (PNI):Foi instituído em 1973 com a finalidade de coordenar ações que se desenvolviam, até então, com

descontinuidade, pelo caráter episódico e pela reduzida área de cobertura. Essas ações conduzidas dentro de programas especiais (erradicação da varíola, controle da tuberculose) e como atividades desenvolvidas por iniciativa de governos estaduais, necessitavam de uma coordenação central que lhes proporcionassem sincronia e racionalização.

A Lei n.º 6.259, de 30/10/1975, regulamentada pelo Decreto nº 78.231, de 12/08/1976, institucionaliza o PNI, sob a responsabilidade do Ministério da Saúde.

As competências do Programa, estabelecidas no Decreto nº 78.231, podem ser consideradas válidas até o momento:

• implantar e implementar as ações do Programa, relacionadas com as vacinações de caráter obrigatório;

• estabelecer critérios e prestar apoio técnico e financeiro à elaboração, implantação e implementação dos programas de vacinação a cargo das secretarias de saúde das unidades federadas;

• estabelecer normas básicas para a execução das vacinações;

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• supervisionar, controlar e avaliar a execução das vacinações no território nacional, principalmente o desempenho dos órgãos das Secretarias de Saúde, encarregados dos programas de vacinação;

• centralizar, analisar e divulgar as informações referentes ao PNI.A Coordenação do PNI tem como objetivo contribuir para o controle, eliminação e/ou erradicação

das doenças imunopreveníveis, utilizando estratégias básicas de vacinação de rotina e campanhas anuais desenvolvidas de forma hierarquizada e descentralizada.

O desenvolvimento do Programa é orientado por normas técnicas estabelecidas nacionalmente, no que se refere à conservação, manipulação, transporte e à aplicação dos imunobiológicos, assim como aos aspectos de programação e avaliação. Essas normas são estabelecidas com a participação dos órgãos responsáveis pela operacionalização e de outras instituições, assegurando, dessa forma, a sua aceitação e uniformidade de uso em todo o país.

No âmbito internacional, o PNI é parte integrante do Programa Ampliado de Imunizações (PAI), da Organização Pan-Americana de Saúde, ajustando-se, assim, aos seus objetivos e diretrizes técnicas de atuação. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) participa também do Programa com apoio técnico, operacional e financeiro. O suprimento dos imunobiológicos necessários ao Programa, sem ônus para os órgãos executores, é de responsabilidade da instância federal que coordena a importação de produtos e incentiva a produção nacional, através do Programa de Auto-Suficiência Nacional em Imunobiológicos (PASNI), instituído em 1986, que a partir de 1999 passou a ser parte integrante da Gerência de Imunobiológicos da Coordenação do Programa Nacional de Imunizações (COPNI). A partir de junho de 2000, devido à reestruturação da FUNASA, esta Coordenação passou a ser designada Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (CGPNI).

Os produtos nacionais ou importados são adquiridos pelo Ministério da Saúde e distribuídos às secretarias estaduais de saúde, a partir da Central Nacional de Armazenagem e Distribuição (Cenadi), implantada em 1982, no Rio de Janeiro.

A qualidade dos produtos distribuídos é garantida pela atuação do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fiocruz - RJ, criado em 1981, que é o órgão de referência técnica para os laboratórios produtores.

Amostras de todos os lotes de imunobiológicos, nacionais ou importados, são analisadas pelo INCQS antes da distribuição para consumo.

Em 1990, com a reforma administrativa, foi extinta a SNABS e o PNI foi transferido para a Fundação Nacional de Saúde (FNS), pela Portaria n.º 1.331, de 05/11/1990. O Programa de Auto-Suficiência Nacional em Imunobiológicos é também transferido para a FNS, pela Portaria n.º 46, de 21/01/1991.

A Lei n.º 8.029 de 12/04/1990 autoriza o Poder Executivo a instituir a Fundação Nacional de Saúde (art. 11), o que só aconteceu em 16/04/1991 pelo Decreto n.º 100/1991.

A Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (CGPNI) faz parte da estrutura organizacional da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), estando localizado no Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI).

O apoio técnico-científico às decisões sobre imunizações é proporcionado pelo Comitê Técnico Assessor de Imunizações (Portaria n° 389 de 6/5/1991), integrado por representantes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), por pediatras e infectologistas que representam as cinco macrorregiões do país, bem como por técnicos de áreas da FUNASA, como o Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI) e a própria CGPNI.

O Programa é a referência nacional para as ações de imunizações, principalmente para os órgãos executores dessas ações: as secretarias estaduais e municipais de saúde.

A partir de 1990 grandes esforços foram desenvolvidos visando ao aperfeiçoamento do Programa nos seus aspectos técnicos, gerenciais e operacionais. Com isso, buscava-se atingir a meta de vacinar 90% da população menor de cinco anos com as vacinas tríplice, BCG e contra a poliomielite e 95% contra o sarampo, principalmente a partir da realização da multivacinação nos dias nacionais de vacinação contra a poliomielite. Os dias nacionais, estratégia utilizada desde 1980, permitiram a não ocorrência de casos dessa doença, desde abril de 1989. Em setembro de 1994, o Brasil conjuntamente com as Américas, recebeu o Certificado da Erradicação da Transmissão da Poliomielite.

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As ações voltadas para o grupo de menores de cinco anos, cobrindo a totalidade dos nascidos em cada ano e completando o esquema daqueles que, por diferentes motivos, não foram vacinados no primeiro ano de vida, são implementadas na rotina, nos dias regionais e nacionais de multivacinação e pelas ações específicas de intensificação. São implementadas, também, as ações voltadas para a vacinação das mulheres em idade fértil, de 12 a 49 anos, com vistas ao controle do tétano neonatal e síndrome da rubéola congênita, bem como a vacinação de escolares e os demais segmentos da população para controlar o tétano acidental.

As ações de controle da febre amarela, do tétano e raiva humana são implementadas na rede básica, bem como as voltadas para o controle da hepatite B, rubéola e caxumba. Outros agravos são objetos da ação do Programa desde que a situação epidemiológica assim o indique, como no aumento de casos das meningites.

As ações de vacinação para as crianças têm contribuído para reduzir a morbimortalidade por doenças imunopreveníveis, melhorando a qualidade de vida, principalmente nos menores de cinco anos. Acompanhando as transformações demográficas e epidemiológicas registradas no país, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) incorpora mais um desafio neste alvorecer de século: ampliar as ações de vacinação para a população de 60 anos e mais e 100% das populações indígenas brasileiras.

O PNI tem por objetivo conscientizar esta população da importância da vacinação, utilizando as vacinas preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para esta faixa etária: dT (difteria e tétano), contra influenza (contra gripe) e pneumococo.

As decisões e avaliações sobre os aspectos técnicos gerenciais e operacionais do Programa são sistematizadas em documentos técnico-normativo-operacionais e são disseminadas por toda a rede de serviços.

Além disso, são previstas ações que visam à capacitação de recursos humanos, como forma de aperfeiçoar o trabalho, bem como assessoria técnica, supervisão e acompanhamento das atividades em instâncias estadual e municipal.

No âmbito das unidades federadas, as secretarias estaduais de saúde são responsáveis pela coordenação do Programa, executando a programação estadual, a operacionalização, a supervisão e a avaliação das atividades em articulação com as secretarias municipais de saúde e com as demais instituições envolvidas com as ações de imunizações.

Com base nisso, O Calendário de Vacinação Brasileiro é definido pelo Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI/MS) e corresponde ao conjunto de vacinas consideradas de interesse prioritário à saúde pública do país. Atualmente é constituído por 12 produtos recomendados à população, desde o nascimento até a terceira idade e distribuídos gratuitamente nos postos de vacinação da rede pública. Corresponde ao Calendário Básico de Vacinação da Criança, do Adolescente, do Adulto e do Idoso e o Calendário de Vacinação da População Indígena.

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CALENDÁRIO BÁSICO DE VACINAÇÃO DA CRIANÇA

Orientações importantes para a vacinação da criança:

(1) vacina BCG: Administrar o mais precoce possível, preferencialmente após o nascimento. Nos prematuros com menos de 36 semanas administrar a vacina após completar 1 (um) mês de vida e atingir 2 Kg. Administrar uma dose em crianças menores de cinco anos de idade (4 anos 11meses e 29 dias) sem cicatriz vacinal. Contatos intradomiciliares de portadores de hanseníase menores de 1 (um) ano de idade, comprovadamente vacinados, não necessitam da administração de outra dose de BCG. Contatos de portadores de hanseníase com mais de 1 (um) ano

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de idade, sem cicatriz - administrar uma dose. Contatos comprovadamente vacinados com a primeira dose - administrar outra dose de BCG. Manter o intervalo mínimo de seis meses entre as doses da vacina. Contatos com duas doses não administrar nenhuma dose adicional. Na incerteza da existência de cicatriz vacinal ao exame dos contatos intradomiciliares de portadores de hanseníase, aplicar uma dose, independentemente da idade. Para criança HIV positiva a vacina deve ser administrada ao nascimento ou o mais precocemente possível. Para as crianças que chegam aos serviços ainda não vacinadas, a vacina está contra-indicada na existência de sinais e sintomas de imunodeficiência, não se indica a revacinação de rotina. Para os portadores de HIV (positivo) a vacina está contra indicada em qualquer situação.

(2)vacina hepatite B (recombinante): Administrar preferencialmente nas primeiras 12 horas de nascimento, ou na primeira visita ao serviço de saúde. Nos prematuros, menores de 36 semanas de gestação ou em recém-nascidos atermo de baixo peso (menor de 2 Kg), seguir esquema de quatro doses: 0, 1, 2 e 6 meses de vida. Na prevenção da transmissão vertical em recém-nascidos (RN) de mães portadoras da hepatite B administrar a vacina e a imunoglobulina humana anti-hepatite B (HBIG), disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais - CRIE, nas primeiras 12 horas ou no máximo até sete dias após o nascimento. A vacina e a HBIG administrar em locais anatômicos diferentes. A amamentação não traz riscos adicionais ao RN que tenha recebido a primeira dose da vacina e a imunoglobulina.

(3)vacina adsorvida difteria, tétano, pertussis e Haemophilus influenzae b (conjugada): Administrar aos 2, 4 e 6 meses de idade. Intervalo entre as doses de 60 dias e, mínimo de 30 dias.   A vacina adsorvida difteria, tétano e pertussis – DTP são indicados dois reforços. O primeiro reforço administrar aos 15 meses de idade e o segundo reforço aos 4  (quatro) anos. Importante: a idade máxima para administrar esta vacina é aos 6 anos 11meses e 29 dias. Diante de um caso suspeito de difteria, avaliar a situação vacinal dos comunicantes. Para os não vacinados menores de 1 ano  iniciar esquema com DTP+ Hib; não vacinados na faixa etária entre 1 a 6 anos, iniciar esquema com DTP. Para os comunicantes menores de 1 ano com vacinação incompleta, deve-se completar o esquema com DTP + Hib; crianças na faixa etária de 1 a 6 anos com vacinação incompleta, completar esquema com DTP. Crianças comunicantes que tomaram a última dose há mais de cinco anos e que tenham 7 anos ou mais devem antecipar o reforço com dT.

(4)vacina poliomielite 1, 2 e 3 (atenuada): Administrar três doses (2, 4 e 6 meses). Manter o intervalo entre as doses de 60 dias e, mínimo de 30 dias. Administrar o reforço aos 15 meses de idade. Considerar para o reforço o intervalo mínimo de 6 meses após a última dose.

(7) vacina meningocócica C (conjugada): Administrar duas doses aos 3 e 5 meses de idade, com intervalo entre as doses de 60 dias, e mínimo de 30 dias. O reforço é recomendado preferencialmente entre 12 e 15 meses de idade.

(8)vacina febre amarela (atenuada): Administrar aos 9 (nove) meses de idade. Durante surtos, antecipar a idade para 6 (seis) meses. Indicada aos residentes ou viajantes para as seguintes áreas com recomendação da vacina: estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais e alguns municípios dos estados do Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para informações sobre os municípios destes estados, buscar as Unidades de Saúde dos mesmos. No momento da vacinação considerar a situação epidemiológica da doença. Para os viajantes que se deslocarem para os países em situação epidemiológica de risco, buscar informações sobre administração da vacina nas embaixadas dos respectivos países a que se destinam ou na Secretaria de Vigilância em Saúde do Estado. Administrar a vacina 10 (dez) dias antes da data da viagem. Administrar reforço, a cada dez anos após a data da última dose.

(9)vacina sarampo, caxumba e rubéola: Administrar duas doses. A primeira dose aos 12 meses de idade e a segunda dose deve ser administrada aos 4 (quatro) anos de idade. Em situação de circulação viral, antecipar a administração de vacina para os 6 (seis) meses de idade, porém deve ser mantido o esquema vacinal de duas doses e a idade preconizada no calendário. Considerar o intervalo mínimo de 30 dias entre as doses.

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CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO DO ADOLESCENTE

Orientações importantes para a vacinação do adolescente:

(1) vacina hepatite B (recombinante): Administrar em adolescentes não vacinados ou sem comprovante de vacinação anterior, seguindo o esquema de três doses (0, 1 e 6) com intervalo de um mês entre a primeira e a segunda dose e de seis meses entre a primeira e a terceira dose. Aqueles com esquema incompleto, completar o esquema. A vacina é indicada para gestantes não vacinadas e que apresentem sorologia negativa para o vírus da hepatite B a após o primeiro trimestre de gestação.

(2) vacina adsorvida difteria e tétano - dT (Dupla tipo adulto): Adolescente sem vacinação anteriormente ou sem comprovação de três doses da vacina, seguir o esquema de três doses. O intervalo entre as doses é de 60 dias e no mínimo de 30 (trinta) dias. Os vacinados anteriormente com 3 (três) doses das vacinas DTP, DT ou dT, administrar reforço, a cada dez anos após a data da última dose.  Em caso de gravidez e ferimentos graves antecipar a dose de reforço sendo a última dose administrada há mais de 5 (cinco) anos. A mesma deve ser administrada pelo menos 20 dias antes da data provável do parto. Diante de um caso suspeito de difteria, avaliar a situação vacinal dos comunicantes. Para os não vacinados, iniciar esquema de três doses. Nos comunicantes com esquema de vacinação incompleto, este dever completado. Nos comunicantes vacinados que receberam a última dose há mais de 5 (cinco) anos, deve-se antecipar o reforço.

(3)vacina febre amarela (atenuada): Indicada 1 (uma) dose aos residentes ou viajantes para as seguintes áreas com recomendação da vacina: estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais e alguns municípios dos estados do Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para informações sobre os municípios destes estados, buscar as Unidades de Saúde dos mesmos. No momento da vacinação considerar a situação epidemiológica da doença. Para os viajantes que se deslocarem para os países em situação epidemiológica de risco, buscar informações sobre administração da vacina nas embaixadas dos respectivos países a que se destinam ou na Secretaria de Vigilância em Saúde do Estado. Administrar a vacina 10 (dez) dias antes da data da viagem. Administrar dose de reforço, a cada dez anos após a data da última dose. Precaução: A vacina é contra indicada para gestante e mulheres que estejam amamentando. Nestes casos buscar orientação médica do risco epidemiológico e da indicação da vacina.

(4) vacina sarampo, caxumba e rubéola – SCR: considerar vacinado o adolescente que comprovar o esquema de duas doses. Em caso de apresentar comprovação de apenas uma dose, administrar a segunda dose. O intervalo entre as doses é de 30 dias.

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CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO ADULTO E DO IDOSO

Orientações importantes para a vacinação do adulto e idoso.

(1) vacina hepatite B (recombinante): oferecer aos grupos vulneráveis não vacinados ou sem comprovação de vacinação anterior, a saber: Gestantes, após o primeiro trimestre de gestação; trabalhadores da saúde; bombeiros, policiais militares, civis e rodoviários; caminhoneiros, carcereiros de delegacia e de penitenciarias; coletores de lixo hospitalar e domiciliar; agentes funerários, comunicantes sexuais de pessoas portadoras de VHB; doadores de sangue; homens e mulheres que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo (HSH e MSM); lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, (LGBT); pessoas reclusas (presídios, hospitais psiquiátricos, instituições de menores, forças armadas, dentre outras); manicures, pedicures e podólogos; populações de assentamentos e acampamentos; potenciais receptores de múltiplas transfusões de sangue ou politransfundido; profissionais do sexo/prostitutas; usuários de drogas injetáveis, inaláveis e pipadas; portadores de DST. A vacina esta disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) para as pessoas imunodeprimidas e portadores de deficiência imunogênica ou adquirida, conforme indicação médica.

(2) vacina adsorvida difteria e tétano - dT (Dupla tipo adulto): Adultos e idosos não vacinados ou sem comprovação de três doses da vacina, seguir o esquema de três doses. O intervalo entre as doses é de 60 (sessenta) dias e no mínimo de 30 (trinta) dias. Os vacinados anteriormente com 3 (três) doses das vacinas DTP, DT ou dT, administrar reforço, dez anos após a data da última dose. Em caso de gravidez e ferimentos graves antecipar a dose de reforço sendo a última dose administrada a mais de cinco (5) anos. A mesma deve ser administrada no mínimo 20 dias antes da data provável do parto. Diante de um acaso suspeito de difteria, avaliar a situação vacinal dos comunicantes. Para os não vacinados, iniciar esquema com três doses. Nos comunicantes com esquema incompleto de vacinação, este deve ser completado. Nos comunicantes vacinados que receberam a última dose há mais de 5 anos, deve-se antecipar o reforço.

(3) vacina febre amarela (atenuada): Indicada aos residentes ou viajantes para as seguintes áreas com recomendação da vacina: estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais e alguns municípios dos estados do Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para informações sobre os municípios destes estados, buscar as Unidades de Saúde dos mesmos. No momento da vacinação considerar a situação epidemiológica da doença. Para os viajantes que se deslocarem para os países em situação epidemiológica de risco, buscar informações sobre administração da vacina nas embaixadas dos respectivos países a que se destinam ou na

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Secretaria de Vigilância em Saúde do Estado.  Administrar a vacina 10 (dez) dias antes da data da viagem. Administrar dose de reforço, a cada dez anos após a data da última dose. Precaução: A vacina é contra indicada para gestantes e mulheres que estejam amamentando, nos casos de risco de contrair o vírus buscar orientação médica. A aplicação da vacina para pessoas a partir de 60 anos depende da avaliação do risco da doença e benefício da vacina.

(4) vacina sarampo, caxumba e rubéola – SCR: Administrar 1 (uma) dose em mulheres de 20 (vinte) a 49 (quarenta e nove) anos de idade e em homens de 20 (vinte) a 39 (tri ta e nove) anos de idade que não apresentarem comprovação vacinal.

(5) vacina influenza sazonal (fracionada, inativada): Oferecida anualmente durante a Campanha Nacional de Vacinação do Idoso.

(6) vacina pneumocócica 23-valente (polissacarídica): Administrar 1 (uma) dose durante a Campanha Nacional de Vacinação do Idoso, nos indivíduos de 60 anos e mais que vivem em instituições fechadas como: casas geriátricas, hospitais, asilos, casas de repouso, com apenas 1 (um) reforço 5 (cinco) anos após a dose inicial.

4.1 – Efeitos adversos das vacinas

As vacinas previnem o adoecimento e a morte de milhões de pessoas a cada ano, representando a intervenção com melhor custo-benefício. Apesar disso, cerca de dois milhões de crianças morrem anualmente por doenças imunopreveníveis que poderiam ser evitadas pela utilização de vacinas de baixo custo. No começo do século XX, de cada 1 mil crianças nascidas 160 morriam de uma causa infecciosa antes dos 5 anos.

As vacinas, como todo produto farmacêutico, não são isentas de efeitos colaterais ou eventos adversos. Como significativa proporção da população é vacinada a cada ano, há certo número de eventos adversos após a vacinação – tanto apenas coincidentes como com relação causal com a vacina.

Apesar do constante aperfeiçoamento dos métodos de produção e purificação das vacinas, estas são constituídas, em sua maioria, por agentes infecciosos atenuados ou inativados ou por algum dos seus produtos ou componentes, podem induzir a eventos adversos.

O grande impacto que um evento adverso pós-vacinal pode causar na sociedade deve-se ao fato de que as vacinas geralmente são utilizadas em pessoas saudáveis, principalmente crianças. Deste modo, qualquer reação, por mais leve que seja ou apenas associada temporalmente (coincidente), causa grande repercussão.

Diante da redução expressiva na ocorrência de doenças imunopreveníveis, os eventos adversos passaram a ter maior destaque, conseqüentes ao aumento progressivo do uso de imunobiológicos em todo o mundo. Entende-se por evento adverso toda situação clínica ocorrida em tempo variável após a utilização de produtos imunobiológicos, respeitando-se um diagnóstico diferencial adequado, o afastamento de situação coincidente e a plausibilidade biológica do evento. De modo geral, podem ser locais ou sistêmicos, leves, moderados ou graves, categorizados em:• relação à vacina (tipos de cepas, substâncias estabilizadoras e/ou conservadoras, manipulação, conservação e administração);• relação aos vacinados (fatores predisponentes e/ou imunologicamente idiossincráticos).

Diversos países mantêm sistemas de vigilância e investigação de eventos adversos pós-vacinais, considerando que o monitoramento adequado e a investigação oportuna e competente são de fundamental importância para a manutenção da confiança nos programas de imunizações, uma vez que ao cumprirem os seus objetivos orientam, quando necessárias, a tomada de medidas, como a retirada de um produto do calendário vacinal, ou alterações na posologia ou faixa etária, entre outras.

No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações no ano de 1992 implantou oficialmente o sistema, que gradativamente aprimorado conta a partir de 2000 com o Sistema Informatizado de Eventos, o Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais, que permite uma análise mais rápida e contempla maior número de variáveis quanto à reatogenicidade dos produtos usados pelo Programa Nacional de Imunizações.

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Os objetivos desse sistema constituem: Identificar os eventos adversos pós-vacinação, os eventos novos e/ ou raros; Acompanhar a investigação dos eventos adversos; Promover uma investigação capaz de estabelecer ou descartar a relação de causalidade com a vacina; Identificar os fatores de risco e/ou condições que potencializem eventos adversos; Fornecer dados que possibilitem uma avaliação descritiva e/ou analítica da ocorrência dos eventos adversos e Sinalizar a necessidade de estudos mais elaborados para melhor interpretar os dados da vigilância e investigação de eventos adversos pós-vacinais.

Assim, os eventos adversos mais comuns são: Manifestações locais (podem ocorrer após a aplicação de qualquer vacina e, os casos de abscesso geralmente encontram-se associados com infecção secundária e erros na técnica de aplicação); Febre (pode ocorrer logo após a aplicação da vacina, como na vacina tríplice DPT, vacina meningocócica B/C, ou alguns dias depois da vacina contra o sarampo); Convulsão febril (geralmente de curta duração e observada com maior freqüência entre os 12 e 18 meses, incidindo em cerca de 3% da população infantil) e o Choque anafilático (reações que ocorrem menos de 2 horas após a aplicação da vacina, geralmente na primeira meia hora, sendo extremamente raras em associação comas vacinações e se caracterizam por alterações do tônus muscular, paralisia parcial ou completa, palidez, cianose, resposta diminuída ou ausente aos estímulos, depressão ou perda do estado de consciência, alterações cardiovasculares com hipotensão ou choque, alterações respiratórias e, às vezes, parada cardíaca. Contra-indicam doses subseqüentes com qualquer um dos componentes vacinais do agente imunizante que provocou o choque anafilático).

Contudo, não se deve esquecer que todos os eventos ocorridos após a aplicação de um produto imunobiológico utilizado pelo PNI devem ser notificados. A unidade de saúde deverá identificar, investigar inicialmente e notificar à Coordenação de Imunizações e/ou serviço de vigilância do município que, por sua vez, deverá promover a investigação das notificações recebidas, analisando e estabelecendo a conduta adequada, no âmbito de sua competência e repassar o consolidado para o nível estadual, que, garantirá através do Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie), os mecanismos necessários para a investigação, acompanhamento e elucidação de eventos adversos graves ou inusitados, associados temporalmente às aplicações de imunobiológicos.

4.2 – Rede de FrioDenominada também Cadeia de Frio constitui o processo de armazenamento, conservação,

manipulação, distribuição e transporte dos imunobiológicos do Programa Nacional de Imunizações, e deve ter as condições adequadas de refrigeração, desde o laboratório produtor até o momento em que a vacina é administrada.

O objetivo da Rede de Frio é assegurar que todos os imunobiológicos administrados mantenham suas características iniciais, a fim de conferir imunidade, haja vista que são produtos termolábeis, isto é, se deterioram depois de determinado tempo quando expostos a variações de temperaturas inadequadas à sua conservação.

É necessário, portanto, mantê-los constantemente refrigerados, utilizando instalações e equipamentos adequados em todas as instâncias: nacional, estadual, regional ou distrital e municipal/local. Um manuseio inadequado, um equipamento com defeito, ou falta de energia elétrica podem interromper o processo de refrigeração, comprometendo a potência e eficácia dos imunobiológicos.

Os equipamentos da rede de frio constituem: Câmaras frigoríficas:

Também denominadas quartos frios ou câmaras frias, são ambientes especialmente projetados para o armazenamento de produtos predominantemente em baixas temperaturas e em grandes volumes. Podem ser reguladas para trabalhar mantendo as mais diversas temperaturas, tanto positivas quanto negativas. Especificamente para os imunobiológicos, essas câmaras são projetadas para operarem em temperatura de +2ºC e -20°C, de acordo com a especificação do produtor. Os imunobiológicos podem em algum momento estar conservados em temperatura entre +2°e +8°C, sem perda da sua capacidade imunogênica, observada a data de validade especificada no produto.

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O seu funcionamento de uma maneira geral obedece aos princípios básicos de refrigeração, além de princípios específicos, tais como:• isolamento das paredes internas do ambiente a ser refrigerado;• sistema de ventilação no interior da câmara, para facilitar a distribuição do ar frio pelo evaporador;• compressor e condensador dispostos na área externa à câmara, com boa circulação de ar;• antecâmara, com temperatura de +4°C, objetivando auxiliar o isolamento do ambiente e prevenir a ocorrência de choque térmico aos imunobiológicos;• alarmes de baixa e alta temperatura para alertar a ocorrência de falta de energia elétrica;• alarme audiovisual indicador de abertura de porta;• dois sistemas independentes de refrigeração instalados: um em uso e outro em reserva, para eventual defeito do outro;• sistema de alarme com registrador de temperatura (termógrafo), registrador de umidade (higrômetro).

Alarme de temperatura com discador telefônico para câmaras, geladeiras e freezers:Equipamento composto por um discador telefônico, uma bateria e um ou mais sensores de

temperatura (termostatos), que são ligados em paralelo ao equipamento. É ainda capacitado para efetuar três ligações a três diferentes telefones, quando a temperatura de algum dos equipamentos estiver fora da faixa permitida. Dispõe ainda de um sistema de alimentação de dupla voltagem (selecionável) que faz a recarga da bateria, de tal forma que, em caso de corte no fornecimento de energia elétrica, o sistema continuará operando com a alimentação de 12 volts DC proveniente das baterias.Organização interna:

As câmaras são dotadas de prateleiras, preferencialmente metálicas (aço inox). Os imunobiológicos armazenados devem ser acondicionados nas prateleiras, de forma a permitir a circulação de ar entre as mesmas. Os imunobiológicos devem ser armazenados da seguinte forma:• nome do imunobiológico, separar por:- laboratório produtor;- nº do lote;- prazo de validade;- enfrascagem (uma dose - 10 doses - 20 doses, etc.);

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- ordem alfabética (instâncias estadual/regional).Deve-se observar também a validade dos lotes. Aqueles com menor prazo de validade deverão ter

prioridade na distribuição, para possibilitar menor perda de imunobiológicos por vencimento do prazo.Cuidados básicos:• fazer a leitura da temperatura interna, diariamente, no início da jornada de trabalho, no início da tarde e no final do dia, com equipamento disponível (termômetro, termógrafo ou equipamento de automação);• testar os alarmes antes de sair, ao final da jornada de trabalho;• verificar, diariamente, se a carga de tinta e o disco dos termógrafos acabaram;• usar equipamento de proteção individual para trabalhar dentro da câmara: calça, casaco com capuz, botas, luvas;• não deixar a porta aberta por mais de um minuto ao colocar ou retirar imunobiológico. E somente abrir a câmara depois de fechada a antecâmara;• certificar-se, uma vez ao mês, de que a vedação da porta da câmara é adequada, isto é, se sua borracha não apresenta ressecamento, não tem qualquer reentrância, abaulamento em suas bordas e a trava de segurança está em perfeito funcionamento. O formulário próprio para registro da revisão mensal encontra-se em anexo;• observar para que a luz interna da câmara não permaneça acesa quando não houver pessoas trabalhando em seu interior. A luz é grande fonte de calor;• no final do dia de trabalho, certificar-se de que a luz interna foi apagada; de que todas as pessoas tenham saído, caso a câmara seja grande; de que a porta da câmara esteja fechada corretamente;• fazer a limpeza da câmara com pano úmido; quando necessário utilizar sabão neutro, mantendo-a sempre limpa;• semanalmente a coordenação estadual deverá receber do responsável pela Rede de Frio o gráfico de temperatura das câmaras e dar o visto, após análise dos mesmos. Isto deverá ser feito pelo coordenador estadual do Programa ou seu substituto.

Freezers ou congeladores:São equipamentos destinados, preferencialmente, para estocagem de vacinas a -20ºC. Estes

equipamentos devem ser do tipo horizontal, com isolamento de suas paredes em poliuretano, evaporadores nas paredes (contato interno) e condensador/compressor em áreas projetadas no corpo, abaixo do gabinete. É o equipamento mais eficiente e confiável para conservação em temperaturas negativas, principalmente aquele dotado de várias portas pequenas na parte superior

Os freezers também são usados para congelar as bobinas de gelo reciclável, tendo o cuidado de não usar o mesmo equipamento em que estão armazenados os imunobiológicos, para não comprometer a conservação destes.

Sua instalação deve ser em local bem arejado, sem incidência da luz solar direta e longe de equipamentos que desprendam calor, uma vez que o condensador necessita dissipar calor para o ambiente.Atenção: O equipamento deve ficar sobre suporte (pés com rodinhas) para evitar a oxidação das chapas da caixa em contato direto com o piso úmido e facilitar sua movimentação.

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Organização internaComo os freezers são dotados somente de um compartimento, deve-se ter o cuidado de armazenar

os imunobiológicos, de forma a permitir a circulação de ar entre os produtos ou as caixas.Os imunobiológicos devem ser armazenados da seguinte forma:

• nome do imunobiológico, separar por:- laboratório produtor;- nº de lote;- prazo de validade;- enfrascagem (uma dose, 10 doses, 20 doses, etc.).Deve-se observar também a validade dos lotes. Aqueles com menor prazo de validade deverão ter prioridade na distribuição, para possibilitar menor perda dos imunobiológicos por vencimento do prazo.Atenção: Cada freezer deverá ter afixado na parte externa frontal uma placa de identificação contendo os dados dos itens acima citados.

Cuidados básicos:• fazer a leitura da temperatura diariamente no início da jornada de trabalho da manhã, da tarde e no final do dia, registrando-as no formulário próprio;• não deixar a porta aberta sem necessidade, somente para acondicionamento e retirada de imunobiológicos e gelo reciclável;• certificar-se de que a porta está vedando adequadamente, usando-se uma tira de papel com 3cm de largura,aproximadamente. Coloca-se a tira de papel entre a borracha da porta e a geladeira. Se ao puxar o papel, a borracha apresentar resistência, a vedação está adequada, porém, se o papel sair com facilidade deverá ser trocada a borracha. Este teste deverá ser feito em vários pontos da porta, especialmente nos quatro ângulos;• fazer o degelo a cada 30 dias ou sempre que for necessário; não deixar acumular gelo nas paredes, em espessura maior que 0,5cm, porque isto compromete a conservação das vacinas, vez que o gelo é um material isolante e não deixa passar o frio;• usar tomada exclusiva para cada equipamento;

Refrigeradores ou geladeiras:São equipamentos de uso doméstico que na Rede de Frio são destinados à estocagem de

imunobiológicos em temperaturas positivas a +2ºC, devendo para isto estar regulados para funcionar nesta faixa de temperatura. A vacina pode, em algum momento, estar em uma temperatura entre +2º e +8ºC sem sofrer perda de potência (em armazenamento).Geladeira doméstica:

As geladeiras, com capacidade a partir de 280 litros, utilizadas pelo Programa Nacional de Imunizações, devem ser organizadas de acordo com as seguintes recomendações:• no evaporador (congelador) colocar gelo reciclável (gelox ou bobinas com água) na posição vertical. Esta norma contribui para a elevação lenta da temperatura, oferecendo proteção aos imunobiológicos na falta de energia elétrica ou defeito do equipamento;• na primeira prateleira devem ser colocadas as vacinas que podem ser submetidas à temperatura negativa (contra poliomielite, sarampo, febre amarela, rubéola, tríplice viral) dispostas em bandejas perfuradas para permitir a circulação de ar;• na segunda prateleira devem ser colocadas as vacinas que não podem ser submetidas à temperatura negativa (dT, DTP, Hepatite B, Hib, influenza, TT e BCG), também em bandejas perfuradas ou nas próprias embalagens do laboratório produtor;• na segunda prateleira, no centro, colocar termômetro de máxima e mínima na posição vertical, em pé;• na terceira prateleira, pode-se colocar os diluentes, soros ou caixas com as vacinas conservadas entre +2 e+8ºC, tendo o cuidado de permitir a circulação do ar entre as mesmas, e entre as paredes da geladeira;• retirar todas as gavetas plásticas e suportes que existam na parte interna da porta, e no lugar da gaveta grande preencher toda parte inferior exclusivamente com 12 garrafas de água com corante, que contribuem para a lenta elevação da temperatura interna da geladeira. Essa providência é de vital importância para manter a temperatura da geladeira entre +2°C e +8°C quando ocorrer falta de energia ou defeito no equipamento. A porta do evaporador (congelador) e a bandeja coletora sob este deverão ser mantidas. Não devem ser usadas bobinas de gelo reciclável como substitutas das garrafas.

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• A geladeira que não possuir o quantitativo de 12 garrafas de água deverá ser abastecida com o número necessário, colocando-se duas unidades por dia até atingir o número recomendado (12), evitando-se, dessa forma, modificação abrupta de temperatura no interior da geladeira, levando as vacinas a choque térmico. As unidades de saúde que dispuserem de geladeira para outro fim poderão utilizá-la para refrigerar a água que será usada para abastecer as 12 garrafas e em seguida colocá-las na geladeira da vacina de uma só vez. Essas garrafas devem ser tampadas para que a água não evapore, pois a evaporação acelera a formação de gelo no evaporador.

Cuidados básicos:• Fazer a leitura da temperatura, diariamente, no início da jornada de trabalho e no final do dia e anotar no formulário de controle diário de temperatura;• manter afixado na porta aviso para que esta não seja aberta fora do horário de retirada e/ou guarda das vacinas;• usar tomada exclusiva para cada geladeira, se houver mais de uma;• instalá-la em local arejado, distante de fonte de calor, sem incidência de luz solar direta, em ambiente climatizado, bem nivelada e afastada 20cm da parede;• colocar na base da geladeira suporte com rodas;• não permitir armazenar outros materiais (laboratório odontológico, alimentos, bebidas, etc.;• não armazenar absolutamente nada na porta;• certificar-se de que a porta está vedando adequadamente;

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• fazer o degelo a cada 15 dias ou quando a camada de gelo for superior a 0,5cm;• não colocar qualquer elemento na geladeira que dificulte a circulação de ar.

Geladeira inadequada para conservação de vacinas:

Termostato ou controle de temperatura:

O termostato é um mecanismo destinado a abrir e fechar um circuito elétrico, permitindo a passagem ou não da corrente elétrica, mediante um dispositivo termostático que atua por meio de mudança de temperatura no equipamento de refrigeração. É utilizado para pôr em funcionamento o compressor do sistema, ou para desligá-lo quando a temperatura alcançada for a pretendida.

Dentre a grande variedade de termostatos, para os mais diversos usos, distinguem-se três tipos:1. termostato para ambiente;2. termostato para líquido;3. termostato para evaporador.

Ajuste do termostato - Regulagem da temperaturaPara regular a temperatura deve-se colocar um termômetro dentro do gabinete frigorífico,

efetuando-se a seguir os ajustes do termostato, movendo-se o botão de regulagem para a esquerda ou direita, segundo a temperatura desejada.

Cada movimento de ajuste, por mínimo que seja, deve ser realizado em várias sessões e depois de transcorrido certo tempo entre os ajustes (uma hora para cada ajuste). Isso é de grande importância, haja vista que o sistema requer certo tempo para estabilizar a temperatura.

A regulagem do termostato da geladeira para atingir a temperatura mínima de +2 °C é feita no sentido de se evitar que, durante as horas noturnas, a parte posterior da primeira prateleira chegue a apresentar temperaturas negativas.

Ao se fazer o sistema funcionar em temperatura determinada, pode acontecer que não se consiga uma grande precisão, em virtude do equipamento utilizado ou da qualidade do termostato. É necessário, portanto, procurar uma temperatura média entre os intervalos daquelas requeridas.

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Recomendações: • Ao ajustar a temperatura, deve-se ter o cuidado de abrir a porta somente no ato de regular e ler o

termômetro;• as leituras de temperatura devem ser feitas depois de transcorrido pelo menos uma hora para

cada ajuste;• a abertura da porta por um tempo de três minutos, em ambiente com uma temperatura externa de

40°C,ocasiona modificação da temperatura interna da geladeira de tal forma que serão necessários 30 minutos, em média, para que a temperatura original se estabilize;

• ao iniciar o funcionamento de um equipamento novo, não coloque as vacinas de imediato. É necessário, primeiro, testar a estabilidade do aparelho, por um período de 24 horas;

• dentro do espaço frigorífico de um equipamento de refrigeração nem sempre existe uma mesma temperatura em todo o ambiente, por isto devem-se localizar quais as variações internas de temperatura, o que se faz deslocando o termômetro para vários pontos distintos, ou colocando um termômetro em cada um destes pontos;

• o equipamento de refrigeração pode apresentar temperaturas diferentes, dependendo do horário em que são feitas as leituras (manhã, tarde ou noite). Geralmente as temperaturas registradas pela manhã são mais baixas que as da tarde, tendo em vista que à noite a temperatura ambiente é mais baixa e a geladeira não é aberta.

Limpeza da geladeira:Para que sejam mantidas as condições ideais de conservação dos imunobiológicos, deve-se fazer a

limpeza da geladeira periodicamente, a cada 15 dias, ou quando a camada de gelo atingir 0,5 centímetro. Para isso, recomenda-se:

• transferir os imunobiológicos para outra geladeira, se houver, ou para uma caixa térmica com gelo reciclável, mantendo a temperatura recomendada (+2ºC a +8ºC) e vedar as caixas com fita gomada;

• desligar a tomada e abrir as portas da geladeira e do congelador, até que todo o gelo aderido se desprenda: não usar faca ou outro objeto pontiagudo para a remoção mais rápida do gelo, pois esse procedimento pode danificar os tubos de refrigeração;

• não mexer no termostato;• limpar a geladeira com um pano umedecido em solução de água com sabão neutro, ou sabão de

coco, por exemplo. Não jogar água no interior do refrigerador;• após a limpeza:- ligar a geladeira;- recolocar o termômetro, as 12 garrafas e o gelo reciclável;- manter as portas fechadas por uma hora, verificando a temperatura após esse período. Quando a

mesma estiver entre +2ºC e +8°C recolocar as vacinas e soros nos seus devidos lugares.

Observação: Para verificar se a borracha da porta da geladeira está vedando adequadamente, deve-se pegar uma tira de papel com 3cm de largura aproximadamente e colocá-la entre a borracha da porta e a geladeira. Se ao puxar o papel a borracha apresentar resistência está em perfeito estado, porém se o papel sair com facilidade deverá ser trocada a borracha. Este teste deverá ser feito em vários pontos da porta, especialmente nos quatro ângulos.

Situações de emergência:A geladeira pode deixar de funcionar por dois motivos. Em ambos os casos deverão ser tomadas

providências para evitar a perda dos imunobiológicos acondicionados no mesmo:• Defeito técnico: os imunobiológicos deverão ser acondicionados em caixas térmicas mantendo a

temperatura recomendada de +2ºC a +8ºC, onde poderão permanecer até 24 horas.• Corte de energia elétrica: nessa situação recomenda-se:- Se a geladeira está em perfeito estado de funcionamento, apresentando variação de temperatura

de +2°C a+4°C, deve-se mantê-la fechada por um período máximo de oito horas.- O serviço de saúde deverá dispor de bobinas de gelo reciclável congeladas para serem usadas no

acondicionamento dos imunobiológicos em caixas térmicas quando a interrupção do fornecimento de energia elétrica durar mais que oito horas.

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- Caso a geladeira em uso não apresente um perfeito estado de funcionamento e sua temperatura variar entre+6°C e +8°C com freqüência, a permanência dos imunobiológicos nesse equipamento não deverá ser por mais que duas horas e meia, a partir do início da falta de fornecimento de energia elétrica.

- Em situações em que o equipamento de refrigeração apresentar as condições acima mencionadas e não se tiver estimativa do tempo em que a energia elétrica permanecerá interrompida, o acondicionamento dos imunobiológicos em caixas térmicas, utilizando-se a devida técnica, deverá ser providenciado em uma hora.

Caso o defeito identificado não seja solucionado e a corrente elétrica não se restabeleça até o encerramento dos trabalhos da unidade de saúde, transferir as caixas térmicas com os imunobiológicos para o serviço de saúde mais próximo ou para a instância regional.

Recomenda-se que, na caixa de distribuição da força elétrica, seja identificada a chave responsável pela condução de energia para a sala de vacinação. Nessa chave deve-se colocar um aviso para que nunca seja desligada sem comunicar com antecedência ao responsável pelos imunobiológicos. É importante, também, manter a articulação constante com a empresa local de energia elétrica, a fim de ter informação prévia sobre eventuais cortes de energia.

Nas situações de emergência, a instância central estadual ou regional da Rede de Frio (secretaria estadual ou órgão regional de saúde) necessita ser informada sobre as circunstâncias em que essas situações ocorreram, para tomar providências de acordo com a ocorrência. Quando a temperatura da geladeira ultrapassar +8°C os imunobiológicos deverão ser colocados sob suspeita.

Imunobiológicos sob suspeita:A manutenção da qualidade do imunobiológico, desde a sua produção até o momento em que ele é

administrado,deve ser uma constante preocupação daqueles que distribuem, recebem e utilizam esses produtos.

Em qualquer situação, os imunobiológicos devem ser examinados para se verificar, por exemplo, a presença de substâncias estranhas ou alterações da cor e da consistência do produto. Além disso, é importante se verificar as condições de conservação do estoque, no transporte e na utilização dos imunobiológicos, bem como elevação da temperatura da vacina superior a +8°C.

Quando um imunobiológico é colocado sob suspeita deve ser submetido a processos de análise e/ou reteste. Será necessário o preenchimento correto do formulário para Avaliação de Imunobiológicos sob Suspeita, o qual deverá ser enviado pela Coordenação Estadual do PNI à Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Esta, por sua vez, avaliará a situação de suspeita recomendando ou não o reteste (processo bastante dispendioso), ou indicar a autorização para utilização ou descarte do imunobiológico.

É importante ressaltar, entretanto, que ao colocar um imunobiológico sob suspeita, até decidir sobre a realização ou não do reteste, deve-se adotar as seguintes providências:

• suspender de imediato a utilização do imunobiológico, mantendo-o sob refrigeração adequada;• identificar o imunobiológico sob suspeita, registrando o número do lote, procedência,

quantidade, data da validade do lote, local e condições de armazenamento;• registrar o problema identificando a causa no formulário padronizado de Avaliação de

Imunobiológicos sob Suspeita;• contatar a rede de frio imediatamente superior (local para o municipal, regional ou estadual, de

acordo coma situação do estado);• o imunobiológico sob suspeita poderá ser remetido à instância imediatamente superior,

devidamente acondicionado em caixas térmicas e acompanhado do documento de devolução, assinado pelo responsável (no caso de falta de espaço nos armazenamentos, necessidade de acondicionamento adequado ou por determinação do coordenador estadual do PNI).

A decisão final sobre a realização ou não de reteste dos imunobiológicos será de competência da Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações.

Por outro lado, no caso de alterações da temperatura, é importante levar em conta a temperatura máxima, mínimae do momento atingida e o tempo em que o imunobiológico permaneceu nesta temperatura.

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Observações:• As vacinas não poderão ser inutilizadas sem autorização por escrito da Coordenação Geral do

Programa Nacional de Imunizações;• O tempo de duração do reteste, no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde –

INCQS, varia entre 45 e 90 dias, dependendo do imunobiológico.

Inutilização dos imunobiológicos sob suspeitaMuitas vezes, o quantitativo de imunobiológicos sob suspeita não justifica a realização de reteste,

outras vezes o resultado da reanálise orienta a não utilização do produto.Nesses casos, os imunobiológicos devem ter um destino adequado que será determinado pela

Coordenação Estadual/Regional do Programa. Alguns produtos são compostos por microorganismo vivos atenuados (vacinas contra: sarampo, poliomielite, febre amarela, tuberculose, etc.) e, por isso, constituem material biológico infectante que deve receber tratamento prévio antes de ser desprezado. Os compostos por produtos de bactérias e vírus mortos ou sintéticos obtidos por engenharia genética (as vacinas DTP, dT, DT, Hib, HB, etc.) não precisam receber tratamento especial antes de serem inutilizadas.

O descarte de grandes volumes de imunobiológicos deverá ser feito através da Central Regional ou Estadual de Imunizações, com conhecimento, orientação e acompanhamento da Vigilância Sanitária e proceder conforme condições técnicas locais (incineração, autoclavagem, aterro, etc.)Observação: Os municípios de grande porte que preencherem os requisitos necessários, acima citados, poderão proceder ao descarte.

Inutilização das sobras de imunobiológicos na sala de vacinaçãoCaso a própria unidade seja responsável pela destinação final de seus resíduos, recomenda-se para

a inutilização das vacinas compostas por microorganismos vivos a autoclavagem durante 15 minutos, à temperatura de 127ºC, sendo que não há a necessidade de abrir os frascos para este processo. Na falta da autoclave, orienta-se esterilizar em estufa por duas horas a 170ºC, sendo que neste processo os frascos não precisam estar abertos.

Após tratamento em autoclave ou estufa, os frascos das vacinas poderão ser desprezados como lixo comum, conforme Resolução n° 5, de 5/8/1993 do Conselho Nacional de Meio Ambiente.

Nos locais com coleta de lixo hospitalar sistemática, os imunobiológicos inutilizados deverão ser acondicionado sem sacos plásticos resistentes brancos, especificados para lixo hospitalar, identificados como material contaminante antes de serem desprezados. Nesse caso não é necessário submetê-los a qualquer processo de esterilização. Ocorre que essa coleta especial não é comum na rede de serviços do país, sendo importante adotar os procedimentos indicados antes de acondicionar os produtos que serão desprezados, de forma a impedir a disseminação de agentes patogênicos ou de outra forma de contaminação acima de limites aceitáveis.

Na falta de um sistema municipal de disposição final, o serviço produtor dos resíduos (sala de vacinação) ficará responsável por essa disposição, bem como pelo eventual tratamento a que o lixo necessita ser submetido (principalmente o lixo composto por resíduos infectantes e especiais). Caixas térmicas:

São produzidas com material térmico do tipo poliuretano ou poliestireno expandido (ex.: isopor, isonor), sendo esta última a mais utilizada no transporte de imunobiológicos entre os diversos laboratórios produtores até a sala de vacina, inclusive vacinação extramuros (figura abaixo).

A caixa térmica deve ser organizada para manter a temperatura de conservação dos imunobiológicos a -20°C ou entre +2°C e +8°C por um determinado período de tempo, de acordo com o imunobiológico a ser armazenado ou transportado.

Devem-se utilizar flocos de isopor para preencher os espaços vazios, com o objetivo de diminuir a quantidade de ar existente na caixa e assim manter melhor a temperatura.

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Não utilizar sacos com gelo solto porque não existe forma de se acondicionar facilmente na caixa, e que devido a sua forma irregular, permanecerão espaços vazios entre o isolamento e a vacina, o que será prejudicial à manutenção da temperatura adequada.Cuidados básicos com a caixa térmica

• verificar as condições da caixa, observando se existem rachaduras, furos; se o dreno (quando existir) está vedado e verificar as condições da tampa;

• lavar e secar cuidadosamente as caixas após cada uso. Manter as caixas térmicas sem a tampa, até que estejam completamente secas. Após a secagem, tampá-las e armazená-las em local adequado;

Bobinas de Gelo ReciclávelSão constituídas por um frasco plástico (geralmente polietileno), contendo hidroxietil celulose em

concentração comestível, conservante e água (gelo reciclável de gel); ou apenas água e conservante (gelo reciclável de água), encontrados no mercado em várias dimensões.

O Programa Nacional de Imunizações recomenda para a conservação de imunobiológicos apenas a bobina de gelo reciclável de gel com capacidade de 1 litro, as quais são utilizadas apenas para o transporte de produtos em temperatura positiva (entre +2ºC e +8ºC). Para o transporte de imunobiológicos em temperatura negativa, é utilizado o gelo seco (CO2).

Durante o processo licitatório para aquisição deste produto, deverão ser exigidas das empresas licitantes amostras para serem submetidas aos seguintes testes:a) Manter as bobinas em freezer durante um período mínimo de 48 h;b) Colocar as bobinas congeladas em caixa térmica, que atenda às especificações contidas neste manual e monitorá-la durante 48 horas, verificando se a temperatura preconizada para conservação de imunobiológicos durante o transporte se mantém por 24 horas no mínimo; e se ao completar as 48horas de monitoramento ainda apresenta temperatura máxima de até +8ºC.Cuidados com as bobinas de gelo reciclável• como complemento indispensável da caixa térmica, o programa recomenda a utilização de gelo reciclável de gel, como descrito anteriormente;• caso o frasco plástico seja danificado, deixando vazar seu conteúdo, no total ou em parte, a bobina deverá ser desprezada. NUNCA USAR ÁGUA COM SAL OU OUTRA SUBSTÂNCIA, para completar o volume de bobinas porque quando se adiciona sal à água, baixa-se o ponto de congelamento e desta forma poderá haver congelamento de vacinas bacterianas;• uma vez terminado o uso da caixa térmica, as bobinas deverão ser retiradas, lavadas, enxugadas e retornadas ao congelador ou freezer. NÃO SE DEVE MANTER BOBINAS FORA DO CONGELADOR OUFREEZER. Quando a unidade de saúde só dispor de uma geladeira, guardar o máximo de bobinas possíveis na bandeja coletora de água situada abaixo do evaporador. NUNCA ARMAZENAR BOBINAS NA PORTA DAGELADEIRA.• todas as instâncias de armazenamento e distribuição de imunobiológicos deverão possuir bobinas congeladas em quantidade suficiente ao abastecimento do número de caixas térmicas utilizado.• observar o prazo de validade das bobinas, pois as que contêm celulose vegetal propiciam o crescimento de microorganismos após o vencimento do prazo de validade.

Organização da caixa térmica para vacinação de rotina na sala de vacinaçãoNo serviço de saúde, a conservação dos imunobiológicos a serem utilizados na vacinação durante

a jornada de trabalho deve ser feita em caixa térmica do tipo retangular, com capacidade de sete litros e com tampa ajustada (evitar usar caixas do tipo “cumbuca” porta-gelo).

Ao organizar a caixa térmica para início das atividades diárias, deve-se ter os seguintes cuidados:• manter a temperatura interna da caixa entre +2ºC e +8ºC, monitorando-a com termômetro de cabo extensor, de preferência, ou com termômetro linear, trocando as bobinas de gelo reciclável sempre que se fizer necessário;• usar bobina de gelo reciclável, a qual deverá estar no congelador da geladeira da sala de vacina e que precisará ser ambientada para uso, vez que a temperatura atingida por esta no congelador chega a aproximadamente -7°C;• arrumar os imunobiológicos na caixa, deixando-os circundados (ilhados) pelo gelo reciclável (três a cinco bobinas de gelo reciclável com capacidade de 500ml para a caixa térmica acima mencionada);

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• manter a caixa térmica fora do alcance da luz solar direta e distante de fontes de calor (estufa, aquecedor, etc.);Observação: Embora o gelo em barra ou em escamas não seja adequado para a manutenção da temperatura recomendada para a conservação de vacinas, é prática sua utilização em campanhas de vacinação, considerando-se assim uma situação especial.Sendo esta a única alternativa, utilizar gelo em barra ou em escamas dentro de saco plástico, considerando-se a insuficiência de bobinas. Os serviços de saúde deverão conservar devidamente as bobinas enviadas pela instância central, ou adquiridas com recursos próprios, a fim de que torne cada vez mais desnecessária a utilização de gelo comum.

Procedimentos no final das atividades:• desprezar as sobras das vacinas BCG-ID, contra o sarampo, dupla viral, contra a febre amarela, tríplice viral e contra a rubéola conforme normas da CGPNI (ver “imunobiológicos sob suspeita”);• retornar à geladeira aquelas que podem ser utilizadas no dia seguinte: DTP, dT, DT, Hib, Hepatite B, e Sabin, dependendo das condições de manuseio e refrigeração;• retornar as bobinas de gelo reciclável ao congelador da geladeira;• lavar a caixa térmica, enxugá-la e guardá-la destampada em local protegido.

Ambientação da bobina de gelo reciclávela) Quando as bobinas de gelo reciclável estiverem estocadas em freezer, ou seja, próximo de -20°C, ou em congelador de geladeira, próximo de -7°C, deverá ser feita a ambientação das mesmas, isto é: as bobinas de gelo reciclável devem ser retiradas do freezer, colocadas sobre uma mesa, pia ou bancada, até que desapareça a “névoa” que normalmente cobre a superfície externa da bobina congelada (figura 5A). Ao mesmo tempo, colocar uma das bobinas sobre um material isolante (tampa da caixa de isopor) e colocar sob a bobina o bulbo de um termômetro de cabo extensor, para indicação de quando as bobinas terão alcançado a temperatura mínima de 0ºC. Após o desaparecimento da “névoa”, e a confirmação da temperatura positiva através do termômetro de cabo extensor mantido em uma das bobinas, colocá-las nas caixas conforme figura abaixo. Concomitantemente recomenda-se mensurar a temperatura interna da caixa através do termômetro de cabo extensor, antes de colocar as vacinas dentro dela.b) A ambientação do gelo reciclável deverá ser feita sempre que se for acondicionar as vacinas na temperatura de +2ºC a +8°C, seguindo os procedimentos descritos para transporte de vacinas, entre as diversas instâncias, ou para uso em sala de vacina;c) A precipitação de uma vacina deve-se a sua permanência a uma temperatura inferior a 0°C, por um período de tempo de vários dias, ou acúmulo de períodos parciais de tempo.

Observação: Controle de temperatura:É importante a verificação da temperatura dos equipamentos da Rede

de Frio, nas instâncias nacional e estadual, pelo menos três vezes ao dia: no início de cada jornada de trabalho (manhã e tarde) e a terceira no final da jornada de trabalho (à tarde). Na instância local esta temperatura é verificada no início da jornada pela manhã e no final da jornada, à tarde.

Recomenda-se o treinamento dos plantões e vigias para execução destes procedimentos em finais de semana e feriados.

Para isso utiliza-se o termômetro de máxima e mínima analógico, o digital de cabo extensor, ou o analógico de cabo extensor, termômetro linear.

O termômetro recomendado para ser usado nos equipamentos da Rede de Frio é o de máxima e mínima, pois se pode verificar as temperaturas máxima e mínima ocorrida em um espaço de tempo e a temperatura no momento da verificação.

A leitura deve ser rápida, visto que tais termômetros sofrem ligeiras alterações nos indicadores de leitura quando expostos à variação de temperatura. O termômetro de cabo extensor digital evita esta alteração, uma vez que o mostrador fica fora da geladeira, indicando a temperatura Max./Min./Momento constantemente.

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5 – VIGILÂNCIA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS E NÃO-TRANSMISSÍVEIS E À SAÚDE PÚBLICA

Com o intuito de realizar adequadamente a vigilância epidemiológica das doenças transmissíveis e não-transmissíveis, o sistema de vigilância utiliza diferentes condutas relacionadas a cada uma delas.

Os profissionais de saúde que atuam na rede básica devem ser formados e qualificados para desenvolverem atividades de apoio ao autocuidado dos indivíduos nas diferentes faixas etárias. O técnico em enfermagem como integrante da equipe de saúde, deve dominar conhecimentos sobre o comportamento das diversas doenças e as medidas gerais de profilaxia e controle, pois isto lhe possibilitará maior segurança ao atuar nas intervenções que visam à redução da incidência e/ou prevalência de doenças que ainda constituem problemas de saúde coletiva no Brasil.

É necessário promover a comunicação e a mobilização social para que a sociedade adquira conhecimentos sobre como evitar doenças como a dengue, malária, hanseníase, tuberculose, dentre outras, participando efetivamente da eliminação contínua dos agentes etiológicos respectivos. A população deve ser informada sobre as doenças (modo de transmissão, quadro clínico, tratamento, etc.), sobre o vetor (seus hábitos, criadouros domiciliares e naturais) e sobre as medidas de prevenção e controle para que possa adotar um novo comportamento frente ao problema, promovendo ações de controle de determinada doença.

Para isso, devem ser utilizados os meios de comunicação de massa por seu grande alcance e eficácia, além da produção e distribuição de material que contemple as especificidades de cada área a ser trabalhada. Para fortalecera consciência individual e coletiva, devem ser desenvolvidas estratégias de alcance nacional para sensibilizar os formadores de opinião para a importância da comunicação e da mobilização social no controle de doenças tão prevalentes; para envolver a sociedade em ações de parceria com os gestores dos três níveis; e para enfatizar a responsabilidade do governo em cada nível, e da sociedade como um todo, por meio de suas instituições, organizações e representações.

No que diz respeito às doenças não-transmissíveis, principalmente hipertensão e diabetes, as políticas públicas também constituem ferramenta indispensável ao facilitar e apoiar o desenvolvimento e sustentabilidade dos cuidados adequados ao longo do ciclo de vida, ao indivíduo, famílias e comunidades de forma equânime; disponibilizar tratamento eficaz para todos, sobretudo para os mais pobres; e, além disso, buscar qualidade, promovendo saúde (dieta, atividade física) e, consequentemente o envelhecimento saudável.

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