Matriz de Objetos de Avaliação Do PAS Terceira Etapa Subprograma 2013-2015

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Apresentação dos princípios orientadores do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília.

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    MATRIZ DE OBJETOS DE AVALIAO DO PAS/UnB

    Domnio da Lngua Portuguesa, domnio bsico de uma lngua estrangeira (Lngua Inglesa, Lngua Francesa ou Lngua Espanhola) e domnio de diferentes linguagens: matemtica, artstica, cientfica etc.

    Compreenso dos fenmenos naturais, da produo tecnolgica e intelectual das manifestaes culturais, artsticas, polticas e sociais, bem como dos processos filosficos, histricos e geogrficos, identificando articulaes, interesses e valores envolvidos.

    Tomada de decises ao enfrentar situaes- problema.

    Construo de argumentao consistente.

    Elaborao de propostas de interveno na realidade, com demonstrao de tica e cidadania, considerando adiversidade sociocultural como inerente condio humana no tempo e no espao.

    Objetos de conhecimento (correspondentes ao smbolo )

    Terceira Etapa

    1 - O ser humano como um ser que interage 2 - Indivduo, cultura, Estado e participao poltica 3 - Tipos e gneros 4 - Estruturas 5 - Energia e campos

    6 - Ambiente e evoluo 7 - Cenrios contemporneos 8 - Nmero, grandeza e forma 9 Espaos 10 - Materiais 11 - Anlise de dados

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 1

    O SER HUMANO COMO UM SER QUE INTERAGE

    Na primeira etapa, foi preciso compreender a complexidade do ser humano em suas possibilidades de projetar a prpria existncia; na segunda etapa, o esforo foi para definir princpios e problemas inerentes ao conhecer e ao saber. Nesta etapa, como decorrncia das anteriores, a tarefa projetar a existncia de modo conjunto, coletivo, e vinculando conhecimentos e sabedoria a esses projetos, ou seja, como a espcie de seres capazes de agir e interagir, questo presente nos curtas Meu amigo Nietzsche, de Fuston da Silva, e O papel e o mar, de Luis Antnio Pilar.

    Nessa perspectiva, as questes a respeito das condies da existncia e do conhecimento postas nas etapas anteriores so, agora, retomadas, porm em conjunto com as questes sobre possibilidades de mudana, de transformaes individuais e coletivas, como podem ilustrar a cano Monlogo ao p do ouvido/Banditismo por uma questo de classe, de Chico Science e Nao Zumbi, a animao This land is mine, de Nina Paley, e a performance musical Cadeirada, do grupo Barbatuques.

    Na obra teatral Liberdade, Liberdade, escrita por Millr Fernandes e Flvio Rangel, vrios momentos da histria so revisitados e servem como pano de fundo para discutir o que liberdade. A partir do estudo dessa pea, possvel observar que o contexto histrico influencia os pensamentos e as escolhas dos indivduos. possvel observar uma mudana na relao ator-pblico, nas encenaes do sculo XX, ou seja, os espetculos buscavam tornar o pblico parte integrante do espetculo, como visto no Teatro pico, de Bertolt Brecht, e no Teatro do Oprimido, de Augusto Boal.

    Nesse sentido, possvel pensar as interaes humanas em suas dimenses esttica, tica e poltica, considerando que a capacidade para interagir permite criar valores, deslocar perspectivas e fundar metodologias e instituies. possvel discutir a respeito de condies dignas e sustentveis para a existncia humana no planeta, a partir da obra Tropiclia, de Hlio Oiticica, do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, dos documentrios Encontro com Milton Santos, de Slvio Tendler, e Estamira, de Marcos Prado, assim como na

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    animao Man, de Steve Cutts e no grafite Garoto faminto com bola de futebol, de Paulo Ito.

    O texto da Constituio Federal Ttulo II, captulo IV, artigos 14 a 16; captulo V, artigo 17 e Ttulo IV, captulo I, sees I a IV, artigos 44 a 56 exemplifica o esforo para pensar juridicamente nas possibilidades de interao humana e orden-las por meio da organizao poltica do pas.

    A capacidade de interao no se restringe exclusivamente s relaes entre seres humanos e sofre diretamente os impactos das tecnologias, tendo como exemplos as mudanas de interao decorrentes de fenmenos como as redes sociais. Textos como Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa poca, de Andr Lemos, e Nanopartculas Verdes, Revista Fapesp Edio 223, set/2014, contribuem para ampliar a compreenso dessa realidade. Diversas questes so postas a partir disso como desdobramentos dessa relao entre o existir, o saber e o agir, tanto no modo singular como coletivo, envolvendo foras internas e externas aos seres humanos. Com isso, possvel determinar, coletivamente, maneiras sustentveis e responsveis para a existncia.

    A linguagem resulta dessa capacidade para interagir e, ao examinar a relao entre linguagem e sociedade, possvel perceber a comunicao constituda por um sistema abstrato de formas lingusticas como algo que no se concretiza por enunciao monolgica, isolada, mas que se d pela interao verbal. A linguagem no existe fora dos sujeitos e deve ser apreendida e examinada como uma prtica humana que supe usos concretizados por pessoas, grupos ou classes. Essas caractersticas podem ser percebidas, por exemplo, nos contos Amor, de Clarice Lispector, e O burrinho pedrs, de Guimares Rosa; e nos poemas Qumica orgnica, de Vincius de Moraes, ou O apanhador de desperdcios, de Manoel de Barros.

    Um primeiro olhar para a instncia de concretizao da lngua em funcionamento o texto costuma ser atribuio daquilo que comumente se faz sob o ttulo de leitura, compreenso e interpretao. Nessa aproximao inicial, importante que os fatores que constroem o texto sejam recuperados. As elaboraes lingusticas constituem portas de acesso interlocuo, construo de conhecimentos, ao mundo, como na obra Moteto em r menor ou Beba Coca-Cola, de Dcio Pignatari e Gilberto Mendes. Logo, s podem ser plenamente compreendidas em uso, integrando o texto ao contexto interlocutores, objetivos, modalidade da lngua ou linguagem artstica para que as experincias prvias, ou seja, o conhecimento de mundo do leitor, se articulem com as experincias de leitura propostas pelo texto, e construam-se significados relevantes no processo lingustico da leitura. A msica Samba de uma nota s e o contexto do movimento da bossa-nova podem subsidiar tais questes.

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    Desse modo, torna-se possvel no apenas compreender o mundo e os outros, como tambm compreender as prprias experincias e inserir-se no mundo das palavras escritas, como ilustram os textos Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos; Potica, de Manuel Bandeira; O Homem; As Viagens, de Carlos Drummond de Andrade; No elevador do filho de Deus, de Elisa Lucinda, ou Zwkrshjisto, de Bruno Palma.

    Estabelecer um foco esttico, tico e poltico possibilita a reflexo a respeito dos valores, tanto individuais quanto coletivos, que orientam as aes das pessoas e de grupos de interesses. Por exemplo, questes relacionadas a decises sobre o uso das cincias e suas implicaes so problematizadas no artigo Rotas alternativas, Revista Fapesp edio 220, de jun/2014. Friedrich Nietzsche, em O crepsculo dos dolos: A filosofia a golpes de martelo, antecipa, em suas interpretaes, avaliaes e deslocamento de perspectivas, reflexes sobre sabedoria, conhecimento, tcnica e poder.

    A complexidade dessa relao entre esttica, tica e poltica pode tambm ser percebida em obras de arte como Deuses de um mundo moderno, de Jos Clemente Orozco, painel Guerra e Paz, de Cndido Portinari, Guernica, de PabIo Picasso, e Quem matou Herzog, de Cildo Meirelles, assim como na performance Rhythm 05, de Marina Abramovic e na adaptao dO manifesto comunista em cordel, obra de Antonio Queiroz Frana.

    As vanguardas europeias do sculo XX e suas expresses latino-americanas ampliam esse debate ao incorporar aspectos histricos e geogrficos em suas produes como, por exemplo, na obra sinfnica A sagrao da primavera, de Stravinsky, criada pouco antes da 1 Guerra Mundial; nas obras A noiva do vento, de Oscar Kokoschka, Formas nicas de continuidade no espao, de Humberto Boccioni, Improvisao n 23, de Kandinsky, obras criadas em plena 1 Guerra Mundial; e tambm, nas obras Norte ao Sul, de Torres Garca, criada em 1943, em plena 2 Guerra Mundial; e Jogo do osso, de Glnio Bianchetti, linoleogravura criada em 1953, aps o trmino da 2 Guerra Mundial, em plena reestruturao de uma nova ordem mundial.

    A relao com formas e expresses da cultura brasileira, ressignificadas, pode ser encontrada em obras como Painel de azulejos da FE/UnB, feito por Luis Humberto Martins Pereira, ou o Memorial Darcy Ribeiro, Beijdromo, de Joo Filgueiras Lel, e ainda na msica Triste Partida, de Patativa do Assar, musicada por Luiz Gonzaga, ou nas apresentaes da manifestao popular brasiliense Seu Estrelo e o Fu do terreiro.

    Ironia, criticismo e valores ticos tambm esto presentes na cano Gerao Coca-Cola, interpretada pelo grupo Legio Urbana, e na verso do

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    rapper GOG (Genival Oliveira Gonalves) para a msica A ponte, de Lenine, na qual exorta o ouvinte a refletir sobre os problemas sociais, ticos e polticos do pas.

    Msicas como Tropiclia, de Caetano Veloso, e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, trazem tambm tais elementos, em uma forma de engajamento relacionada aos festivais de msica brasileira. Por outro lado, na msica Beijinho no ombro, cantada por Valeska Popozuda, valores contemporneos em evidncia, como ostentao e inveja, e, ao mesmo tempo, autoaceitao, autovalorizao e protagonismo feminino, possibilitam ampliar a discusso de aspectos relevantes dessas perspectivas.

    Alm dessa abordagem contextual, com nfase nas crticas sociais e polticas, nesta etapa so tambm discutidas formas como compositores interagem com diferentes sonoridades, seja acusticamente ou com as possibilidades dos meios tcnicos de gravao, presentes, por exemplo, na msica de Hermeto Pascoal, Mistrios do corpo; na composio Cadeirada, do grupo Barbatuques, por um lado; e nas msicas Pricon, de Conrado Silva, interpretado pela Orquestra de Laptops de Braslia (BSBLork); e Orao, de Lo Fressato, interpretada pelo grupo A banda mais bonita da cidade.

    Cabe salientar que, alm de estar articulada com a etapa anterior, a reflexo acerca do ser humano como ser que interage ultrapassa o mbito deste objeto, ao contribuir para a construo dos demais, quando prope questes a respeito dos prprios fundamentos existenciais, epistemolgicos e ticos das produes humanas, redimensionando saberes que envolvem relaes entre cultura e participao poltica, tipos e gneros, nmero, grandeza e forma, energia e campos, ambiente e evoluo, espaos, materiais, estruturas, cenrios contemporneos e anlise de dados, como pode ser observado em xodos: Programa Educacional Leituras, narrativas e novas formas de solidariedade no mundo contemporneo, do fotgrafo Sebastio Salgado.

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 2 INDIVDUO, CULTURA, ESTADO E PARTICIPAO POLTICA

    Na primeira etapa, h uma reflexo a respeito do ser humano em sua diversidade cultural, articulando conceitos de indivduo, cultura e identidade. Na segunda, deve-se investigar a relao do indivduo com as mudanas sociais e culturais. Nesta etapa, exige-se uma conscientizao sobre a organizao e a participao poltica do ser humano.

    Obras como A Ponte, de Lenine e GOG, Gerao Coca-Cola, de Renato Russo, Encontro com Milton Santos, de Slvio Tendler, Estamira, de Marcos Prado, e O papel e o mar, de Luiz Antonio Pilar, remetem-nos a reflexes sobre a participao poltica em questes como educao, sade, segurana, emprego, equidade e justia social. Nesse sentido, cabe o estudo do texto da Constituio Federal Ttulo II, captulo IV, artigos 14 a 16; captulo V, artigo 17 e Ttulo IV, captulo I, sees I a IV, artigos 44 a 56.

    A obra Liberdade, Liberdade, de Millr Fernandes e Flvio Rangel, representa a possibilidade de usar o teatro como meio para a conscientizao poltica. O diretor do espetculo, na poca da estreia, declarou ao jornal The New York Times: Neste momento, dever do artista protestar. Cabe ao estudante conhecer o contexto em que esta frase se insere e se ela continua atual. Outro exerccio criativo pode ser observado nO manifesto comunista em cordel, de Antonio Queiroz Frana, j que uma manifestao baseada na cultura popular sobre o modo de produo capitalista e a luta de classes. Esse processo de criao pode ser verificado, tambm, na publicao, em blog, do texto Zwkrshjisto, de Bruno Palma.

    O ser humano, pensado como indivduo, integrante de grupos sociais, econmicos e culturais, com uma identidade em formao no tempo histrico e biogrfico, estabelece relaes com geraes passadas e presentes, o que favorece a anlise crtica de situaes diversas. Diferentes olhares esto expressos no curta The land is mine, de Nina Paley; nos poemas Potica, de Manuel Bandeira, em O apanhador de desperdcios, de Manoel de Barros, e na linoleogravura Jogo do osso, de Glnio Bianchetti. Como vivemos em um contexto sociocultural complexo, imprescindvel que os textos literrios sejam entendidos como integrantes desse contexto e como instrumentos de autoconhecimento, de socializao e da construo de identidades. Isso se evidencia no poema Elevador do filho de Deus, de Elisa Lucinda, nos contos Amor, de Clarice Lispector, em O burrinho pedrs, de Joo Guimares Rosa, e na obra Vidas secas, de Graciliano Ramos.

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    A transformao das identidades e dos estados nacionais est relacionada s mudanas cientficas, tecnolgicas, religiosas e artsticas, fundamentadas entre os sculos XIX e XX. A obra de Nietzsche O crepsculo dos dolos: A filosofia a golpes de martelo prope um exame das categorias consagradas tradicionalmente. Desse modo, possvel compreender que h possveis perspectivas singulares para a percepo do indivduo, dos aspectos culturais e das relaes de poder. Segundo o filsofo, preciso deslocar perspectivas e alm da cincia, todos os valores, outrora transvalorados, devem passar por nova transvalorao.

    Questes sobre o indivduo e a participao poltica podem ainda ser evidenciadas pela anlise do poema O homem; as viagens, de Carlos Drummond de Andrade. O escritor promove uma reflexo sobre a trajetria humana e o desenvolvimento da tecnologia. Para Drummond, a arte tem uma funo poltica de conscientizao para a ao. Por meio de imagens, possvel provocar uma sensibilizao, a exemplo do programa educacional xodos: Programa Educacional Leituras, narrativas e novas formas de solidariedade no mundo contemporneo, do fotgrafo Sebastio Salgado, da obra Norte ao Sul, de Torres Garca e do curta-metragem Man, de Steve Cutts. Outras obras podem contribuir para essas reflexes, como o painel Guerra e Paz, de Cndido Portinari; Deuses de um mundo moderno, de Jos Clemente Orozco; Guernica, de PabIo Picasso; Quem matou Herzog?, de Cildo Meireles, e Garoto faminto com bola de futebol, de Paulo Ito.

    Os artigos Rotas alternativas e Nanopartculas verdes, ambos da Revista Fapesp (respectivamente, 2014, n. 220 e n. 223), enfocam a atividade cientfica em sua regulamentao para os usos humanos seja para desenvolver padres ou para question-los. A cincia divulgada tambm no Dossi Darwin, da Revista Darcy Ribeiro (edio 1 de 2009). E o ensaio Cibercultura: alguns pontos para compreender nossa poca, de Andr Lemos, discute a complexidade das formas sociais nas culturas contemporneas e suas relaes com os usos das tecnologias da informao e da comunicao. Os avanos tecnolgicos tm conseguido democratizar o fazer artstico, o que possibilita a expresso por meio do audiovisual via internet. O filme Meu amigo Nietzsche exemplifica essa produo cinematogrfica independente.

    No contexto musical, algumas obras alinham-se s possibilidades de transformao social. A relao do indivduo com os poderes constitudos pode ser observada em msicas de concerto, como A Sagrao da primavera, de Igor Stravinsky, e na obra coral Moteto em r menor ou Beba Coca-Cola, de Dcio Pignatari e Gilberto Mendes. As msicas Domingo no parque, de Gilberto Gil, e Tropiclia, de Caetano Veloso, refletem transformaes polticas em um momento histrico especial no pas. As desigualdades sociais podem ser discutidas a partir da msica Monlogo ao p do ouvido/Banditismo por uma

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    questo de classe, de Chico Science e Nao Zumbi, considerando ainda que o grupo parte do movimento cultural Manguebeat, fruto das influncias tropicalistas. Seu Estrelo e o Fu de Terreiro uma manifestao cultural brasiliense que evoca a importncia poltica da cultura popular, na medida em que a opo pela inveno de uma tradio cultural. Beijinho no ombro, de Valeska Popozuda, provoca uma reflexo sobre comportamento que traz a relao do funk com o feminino, sendo o funk um universo musical, em sua origem, predominantemente masculino.

    Nas obras visuais, A noiva do vento, de Oskar Kokoshka, Improvisao n 23, de Kandinsky, a instalao Tropiclia, de Hlio Oiticica, a arquitetura do Beijdromo, de Jos Filgueiras Lel, o Mural da Igrejinha, de Lus Galeno e a performance Rhythm 05, de Marina Abramovic, h diversas possibilidades para perceber e refletir sobre transformaes estticas. Esse ecletismo artstico, que foi um elemento central do Tropicalismo, iniciou um movimento que abraou vrios gneros musicais, dialogando com a poesia concreta e retratando a diversidade e os contrastes da cultura brasileira.

    Portanto, espera-se que a partir da identificao de linguagens e traduo de sua plurissignificao, associada a outras habilidades, seja possvel julgar a pertinncia de opes tcnicas, sociais, ticas e polticas na tomada de decises, a fim de organizar estratgias de ao e selecionar mtodos adequados para anlise e resoluo de problemas.

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 3 TIPOS E GNEROS

    Na primeira etapa, foram abordados aspectos relacionados s caractersticas humanas da existncia alm de questes a respeito da importncia da classificao na construo da realidade. A segunda etapa provoca a discusso sobre as diferentes acepes do termo gnero e sobre como questes podem ser abordadas por meio de diferentes linguagens. O foco adotado nas etapas anteriores continua em evidncia na terceira etapa, portanto, so ainda relevantes as questes sobre o que significa classificar e questes sobre as diferentes acepes e percepes do termo gnero. Discute-se tambm a relao e o papel do gnero em diferentes realidades sociodiscursivas, a partir da (ou considerando a) viso cientfica, e a viso do senso comum. Como as questes de gneros so abordadas nas diversas linguagens e como compreender sua plurissignificao? Como se percebe a realidade discursiva e social nas quais esses gneros esto inseridos? E no campo das cincias naturais, que tipologias so desenvolvidas?

    No mbito da linguagem, alguns desses aspectos podem ser percebidos no poema O apanhador de desperdcios, de Manuel de Barros. No texto, o poeta busca, em sua realidade cotidiana, o material potico para refletir sobre o mistrio das palavras. A vida cotidiana tambm expressa no romance Vidas secas, de Graciliano Ramos. O escritor, representante do romance regional de 1930, associa ao contexto do semirido do nordeste brasileiro uma linguagem contundente e essencial, que d ainda mais verossimilhana ao texto.

    O trabalho com gneros textuais contribui para o processo de letramento, o que refora a importncia da prtica da leitura inserida no contexto social. No texto Amor, Clarice Lispector explora a temtica da submisso da mulher na dcada de 1970 sob uma perspectiva existencial, explorando os conflitos do mundo interior e exterior da personagem Ana. A explorao do universo feminino, tambm, est retratada na poesia contempornea No elevador do filho de Deus, de Elisa Lucinda, que reflete seu estilo literrio em sua linguagem. Questes relativas s mulheres e seus comportamentos em sociedade podem ser discutidas a partir do funk Beijinho no ombro, de Valesca Popuzada. Essas obras, com estruturas e objetivos diferentes, apresentam elementos que oferecem oportunidade de uma anlise sobre a multiplicidade de gneros. A cano Domingo no Parque, de Gilberto Gil, pode tambm subsidiar diversas discusses sobre questes envolvendo gnero.

    Para formular e articular argumentos adequadamente fundamental considerar os gneros textuais como materializaes lingusticas e produtos que circulam socialmente.

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    imprescindvel observar os usos desses gneros nas diversas reas de conhecimento e de interao humana. Eles devem ser considerados a partir de um conjunto de parmetros essenciais para melhor compreenso da realidade por meio da linguagem. Para tanto, preciso definir primeiramente aspectos comunicacionais. Inicialmente, necessrio definir o objetivo do texto, e o modo de organizao tipo e gnero empregado, a fim de que a interlocuo venha a atingir os objetivos pretendidos. importante saber quem so os interlocutores envolvidos para definir a modalidade de linguagem a ser empregada e o porqu. Isso pode ser observado em textos como a Constituio Federal, Ttulo II, captulo IV, artigos 14 a 16 e Ttulo IV, captulo I, sees de I a IV, artigos 44 a 56; Zwkrshjisto, de Bruno Palma, ou em artigos cientficos da Revista Fapesp, como Rotas alternativas e Nanopartculas verdes (respectivamente, 2014, n. 220 e n. 223), e o Dossi Darwin, da revista Darcy (nmero 1, 2009).

    No que diz respeito sexualidade, a diferenciao de gnero no se limita determinao de tipo cromossmico. Esse comando gentico determina a produo de substncias qumicas (hormnios) que definiro o sexo. Ento, torna-se relevante conhecer a bioqumica que envolve esses aspectos fisiolgicos a fim de compreender o que diferencia sexo e gnero. O poema Qumica orgnica, de Vincius de Moraes, joga com a tipologia de mulheres, relacionando natureza e valores. Nessa etapa, so importantes as discusses a respeito do estudo das tcnicas de reproduo assistida e de como as tecnologias eugnicas podero afetar o futuro biolgico da humanidade, no sentido gnico e, por conseguinte, comportamental. Sobre as obras de arte, deve-se considerar a expresso por meio de diferentes gneros. Nas manifestaes artsticas contemporneas, h o questionamento sobre temas e modos de expresso e representao, possveis de se verificar na instalao Tropiclia, de Hlio Oiticica, na construo do Beijdromo, de Jos Filgueiras Lel, e no Painel de azulejos da FE/UnB, de Lus Humberto. Destacam-se a importncia da interlocuo com novas linguagens expressivas, produes multimdia e o uso do corpo como objeto de arte em aes coletivas, performances, ambientaes, interferncias, como exemplificam Mistrios do Corpo, de Hermeto Paschoal, Orao, dA Banda mais bonita da cidade, o grafite Garoto faminto com a bola de Futebol, de Paulo Ito, e a performance de Marina Abramovic, Rhythm 05.

    A obra teatral Liberdade, Liberdade, de Millr Fernandes e Flvio Rangel, exemplifica possibilidades de misturas de gneros teatrais, na medida em que os autores se apropriam de vrios gneros e estilos e criam um espetculo a partir de colagens. importante salientar que, entre as dcadas de 60 e 70 do sculo XX, o musical foi um gnero teatral bastante utilizado por grupos brasileiros que buscavam protestar, como o Arena, o Opinio e o Oficina. O audiovisual uma linguagem artstica que se manifesta por meio de vrios gneros. Assim, faz-se necessrio compreender as diferenas entre documentrio, fico e animao, a partir da anlise dos filmes Estamira de Marcos Prado, Meu amigo Nietzsche, de Fuston da Silva, Man, de Steve Cutts, e This land is mine, de Nina Paley.

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    Novas formas de utilizao de fontes sonoras levam a reconsiderar conceitos e a redefinir o que seriam gneros musicais e a participao dos sujeitos/intrpretes/compositores. Isso pode ser observado em Pricon, de Conrado Silva (interpretado pela Orquestra de Laptops de Braslia, BSBLork), A ponte, de GOG e Lenine, ou em Monlogo ao p do ouvido/Banditismo por uma questo de classe, do grupo Nao Zumbi. Os aparatos usados por DJs (toca-discos, samplers, mixers, processadores de efeitos, computadores etc.) resultam de sons musicais inventados e transformados, e os sujeitos envolvidos poderiam ser considerados autores, uma vez que modificam, selecionam, recortam e editam sons pr-elaborados, formando nova composio. Vale ressaltar que o DJ parte do movimento Hip Hop, constitudo pela trade: MC (Mestre de Cerimnia, o cantor do rap), Grafite (expresso visual) e Break (a dana).

    Os gneros musicais esto relacionados a diferentes contextos socioculturais. Na poesia Triste partida, musicada por Luiz Gonzaga, Patativa do Assar explora o contexto da migrao nordestina, da mesma forma que o faz Graciliano Ramos, em Vidas secas. Compositores se inspiraram e criaram canes que falam de valores culturais impostos sociedade brasileira, como ilustra a msica Gerao Coca-Cola, de Legio Urbana. O Seu Estrelo e Fu do Terreiro se inspira em diversas manifestaes de carter popular ou tradicional para propor uma identidade cultural brasiliense.

    Em nossa cultura, a classificao de objetos e fenmenos dinmica e, portanto, requer padronizao de representaes e grandezas. O Sistema Internacional de Medidas (SI) e a Unio Internacional de Qumica Pura e Aplicada (IUPAC) oferecem princpios, regras, smbolos e convenes que objetivam padronizar a linguagem cientfica dos pases associados. A comunidade cientfica estuda a energia eltrica e estabelece classificaes, visando compreenso de um amplo conjunto de fenmenos subjacentes a quase tudo o que nos cerca. Conceitos como carga e energia potencial eltrica confrontam concepes do senso comum a respeito de fenmenos naturais associados a campos eltricos e magnticos. Nas obras Orao, interpretada pelo grupo A banda mais bonita da cidade, e Mistrios do Corpo, de Hermeto Pascoal, podem ser exemplificados fenmenos de sinais acsticos e sua captao e transformao por microfones.

    A diversidade textual que a sociedade produz relaciona-se com construes dinmicas, funcionais e processuais. Na literatura, h autores que rompem com a tradio e a padronizao temtica e inovam, como ilustram os poemas Potica, de Manuel Bandeira, e Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos, e, ainda, O manifesto comunista em cordel, de Antnio Queiroz de Frana. Nas Artes Visuais, tais questes encontram-se nas obras j citadas, assim como em A noiva do vento, de Oscar Kokoschka, e Formas nicas em movimento, de Umberto Boccioni. Como aporte para a anlise das sociedades contemporneas, em particular a capitalista, filmes como Estamira, de Marcos Prado, e Encontro com Milton Santos, de Slvio Tendler, questionam a tipologia das formaes histricas e sociais a partir do modo de produo dominante. A isso possvel conectar um olhar sobre as transformaes nessa sociedade, por meio do ensaio Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa

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    poca, de Andr Lemos. Outras reflexes sobre o questionamento da validade desse modelo social podem ser feitas debatendo categorias como classe social, estamento, ordem, cl, grupo social, elite, entre outros conceitos fundamentais para as discusses ticas e polticas contemporneas. O material xodos, de Sebastio Salgado, pode ilustrar tais reflexes.

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 4

    ESTRUTURAS

    Na primeira etapa, questionou-se a respeito da capacidade humana de reconhecer a existncia de estruturas ao classificar os elementos da natureza e da cultura tendo em vista aspectos constituintes dessas estruturas. Na etapa seguinte, so discutidas, por exemplo, questes relativas s possibilidades de produo de conhecimento a partir de estruturas fundamentais. Nesta etapa, possvel perceber a interao do ser humano com estruturas existentes e sua capacidade para transform-las, alm da possibilidade para criar novas estruturas. Para que se apreenda uma estrutura, so necessrias a observao da construo e a reconstruo contnua dos significados, estabelecendo relaes de mltiplas naturezas, individuais, sociais e culturais, procedendo anlise contextualizada de cada parte ou objeto.

    A palavra estrutura designa um conjunto de elementos solidrios entre si, ou um conjunto de elementos cujas partes so funes umas das outras, pois cada um dos componentes relaciona-se com os demais e com a totalidade. Ento, os membros do todo se entrelaam de forma que no h independncia de um em relao aos outros. Em artes visuais, o conceito de estrutura pode ser verificado na compreenso da composio da imagem no espao pictrico, assim como na percepo da composio e organizao dos elementos da linguagem visual na produo de obras de arte. Essa perspectiva pode ser observada nas obras, Guernica, de Picasso, painel Guerra e Paz, de Portinari, e Deuses de um mundo moderno, de Jos Clemente Orozco.

    Diferentes estruturas podem ser observadas nas diversas cincias, como o tratamento de problemas do espao, destacando-se a localizao de pontos, retas e circunferncias por suas coordenadas ou equaes, inter-relacionando-as. A comparao da estrutura dos nmeros reais com a dos nmeros complexos permite estabelecer as necessrias congruncias exigidas pela evoluo do conhecimento matemtico diante das necessidades do desenvolvimento tecnolgico. A forma de organizao desses elementos (pontos, linhas, curvas) no espao delineia uma imagem e, consequentemente, as caractersticas de um movimento artstico, como o caso das obras Improvisao n 23, de Kandinsky, Formas nicas de continuidade do espao, de Boccioni, A Noiva do vento, de

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    Oscar Kokochka, Norte ao Sul, de Torres Garcia, o Mural da Igrejinha, de Lus Galeno, o Beijdromo, de Jos Filgueiras Lel, o Garoto faminto com a bola de futebol, de Paulo Ito, Tropiclia, de Hlio Oiticica e as msicas Tropiclia, de Caetano Veloso, e Monlogo ao p do ouvido/Banditismo por uma questo de classe, interpretada por Chico Science e Nao Zumbi, que ilustram perspectivas crticas sobre a diversidade estrutural, em um exerccio de criar a partir do resgate das complexas inter-relaes entre ambiente e sociedade.

    Na encenao teatral, podem ser analisadas diferentes estruturas cnicas que alteram profundamente a relao entre pblico e atores, como pode ser observado na utilizao da arena pelo Teatro de Arena de So Paulo e nas diversas tcnicas do Teatro do Oprimido, que exigem a participao efetiva do pblico para que o espetculo se desenvolva. Da mesma forma, o Grupo Oficina tem, ao longo de sua histria, utilizado espaos cnicos que possibilitam uma interao radical entre pblico e espetculo. A respeito das estruturas dramatrgicas, o espetculo Liberdade, Liberdade, de Millr Fernandes e Flvio Rangel, foi estruturado a partir da colagem de textos de vrios gneros e autores, inclusive deles dois, em relao ao tema: liberdade. Nessa pea teatral, abandonam-se estruturas convencionais para que seja construdo um espetculo dinmico, em que os atores assumem vrios personagens e conversam diretamente com o pblico.

    Na linguagem cinematogrfica, importante perceber as diferenas entre a estrutura do documentrio, exemplificado pelos filmes Estamira, de Marcos Prado, e Encontro com Milton Santos, de Silvio Tendler, a estrutura do filme ficcional, representada pelos curtas-metragens Meu amigo Nietzsche, de Fuston da Silva, e O papel e o mar, de Luiz Antnio Pilar, e das animaes Man, Steve Cutts, e This land is mine, de Nina Paley. J as obras O burrinho pedrs, de Guimares Rosa, e Vidas secas, de Graciliano Ramos, entrelaam elementos da estrutura ficcional da narrativa (enredo, espao, tempo, personagens, acontecimentos) com a estrutura social brasileira, como tambm percebido na linoleogravura Jogo do osso, de Glnio Bianchetti.

    As diferentes possibilidades de construo textual implicam nas vrias estruturas das linguagens, como pode ser percebido tanto em obras literrias, como Zwkrshjisto, de Bruno Palma; O homem; as viagens, de Carlos Drummond de Andrade; Potica, de Manuel Bandeira; Amor, de Clarice Lispector; Qumica orgnica, de Vincius de Moraes; Elevador do filho de Deus, de Elisa Lucinda; como nos textos cientficos Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa poca, de Andr Lemos, e Rotas Alternativas, Revista FAPESP, edio 220, de junho de 2014, por exemplo. Outro modo textual, como o da Constituio Federal, Ttulo II, captulo IV, artigos 14 a 16 e Ttulo IV, captulo

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    I, sees de I a IV, artigos 44 a 56, exemplifica a estruturao do ordenamento jurdico.

    O contato de leitores com distintas modalidades textuais permite a identificao de linguagens e a traduo de sua plurissignificao. A prtica atenta de leitura possibilita identificar informaes centrais e perifricas, em diferentes linguagens, e suas inter-relaes. Esse exerccio da leitura imprescindvel tanto para o desenvolvimento de habilidades presentes em leitores crticos, quanto para a produo de textos coesos e coerentes, com progresso temtica e estruturao compatveis.

    A elaborao de um texto escrito sempre consequncia no s de aprendizados lingusticos, como tambm da assimilao de comportamentos lingustico-sociais. Buscar estratgias adequadas para uma produo satisfatria de textos escritos representa o reconhecimento do suporte das estruturas da lngua, ou gramaticais, como exemplificam os textos O crepsculo dos dolos, de Nietzsche, a verso em cordel feita por Antnio Queiroz de Frana para O manifesto comunista em cordel e a poesia de Augusto dos Anjos, Psicologia de um vencido.

    Na construo de obras musicais, tambm possvel analisar essa perspectiva, considerando a produo musical como uma produo de um tipo de texto repleto de significados. possvel perceber nas msicas Triste partida, poesia de Patativa de Assar musicada por Luiz Gonzaga, Gerao Coca-Cola, interpretada pela banda Legio Urbana, A ponte, de Lenine e GOG, e Beijinho no Ombro, de Valeska Popozuda, estruturas musicais e/ou lingusticas que dialogam com estruturas ideolgicas do seu tempo ou de outros tempos, como a Bachianas brasileiras n 4 - ria (Cantiga), de Heitor Villa-Lobos.

    A anlise de elementos musicais, como materiais sonoros, carter expressivo e sua organizao (estrutura e forma), assim como a experincia do fazer musical por meio de atividades de execuo (tocar instrumentos e cantar), de apreciao e de criao, enriquecem a vivncia musical. Atividades propriamente musicais possibilitam, por exemplo, a compreenso e a diferenciao da estrutura de uma msica popular, como Domingo no Parque, de Gilberto Gil, Samba de uma nota s, de Tom Jobim e Newton Mendona, Orao, interpretada por A banda mais bonita da cidade, e tambm de obras de concerto como Moteto em r menor ou Beba Coca-Cola, de Gilberto Mendes e Dcio Pignatari, e Sagrao da primavera, de Stravinsky, que possibilitam identificar e analisar os elementos musicais presentes em suas estruturas.

    Os diferentes gneros musicais so exemplos de estruturas em que diversos elementos so combinados e recombinados gerando significados

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    diferenciados. A cada momento histrico, a cada contexto sociocultural, um tipo de estrutura aparece hegemonicamente (instrumentos musicais, suas funes, suas formas de organizao), dialogando com as produes e idiossincrasias do seu tempo ou com as do passado, como ilustram as obras Pericn, de Conrado Silva, interpretada pela Orquestra de Laptops de Braslia - BSBLork, Mistrios do corpo, de Hermeto Pascoal, e Cadeirada, interpretada pelo Grupo Barbatuques, assim como a estrutura de manifestaes inspiradas na cultura popular como Seu Estrelo e o Fu de Terreiro, que envolvem alm da msica, a dana e encenaes.

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 5 ENERGIA E CAMPOS

    Na primeira etapa, este objeto de conhecimento descreve e busca pensar as

    causas para os movimentos dos mais variados tipos, visando compreender o alcance universal das leis, como, por exemplo, as Leis de Newton. A segunda etapa tem como foco a percepo das mltiplas formas sob as quais a energia se apresenta e como o ser humano as utiliza. Nesta etapa, o foco reside nas questes relacionadas ao eletromagnetismo, alm de iniciar as discusses acerca das limitaes relativas Fsica Clssica, a partir de aproximaes com conceitos da Fsica Quntica e da Teoria Especial da Relatividade.

    Na sociedade contempornea, a energia constitui importante objeto de estudos, exigindo especial ateno aos aspectos ticos, ecolgicos, polticos e socioeconmicos associados ao seu uso racional, com o objetivo de contribuir para a anlise da pertinncia de opes tcnicas, sociais, ticas e polticas na tomada de decises. Ao se ampliar o conceito de energia, torna-se possvel a percepo de alteraes no ambiente e a identificao de novos cenrios energticos surgidos no sculo XX, como o uso controlado da energia nuclear, a fim de confrontar possveis solues para uma situao-problema, como apresentam as obras como os curtas This land is mine, de Nina Paley, Man, de Steve Cutts, e ainda Guernica, de Pablo Picasso, Guerra e Paz, de Cndido Portinari, Deuses do mundo moderno, de Jos Clemente Orozco, e O manifesto comunista em cordel, de Antonio Queiroz de Frana.

    A Carta Magna, no seu Ttulo II, captulo IV, artigos 14 a 16 e Ttulo IV, captulo I, sees de I a IV, artigos 44 a 56, refora a ideia de uma sociedade contempornea participativa, democrtica e que remete o cidado criticidade em relao prpria sociedade e a seus governantes, sendo assim o indivduo capaz de se encontrar na discusso de questes sociais importantes para um pas em desenvolvimento, tais como o uso da energia nuclear, seus benefcios e disputas globalizadas. A participao direta do cidado se d por meio do voto universal, secreto e peridico. Desde o fim do sculo XX, as eleies ocorrem no Brasil de forma eletrnica, incluindo a tecnologia no processo de votao, embaralhamento dos votos e apurao. So necessrios, portanto, conhecimentos acerca de circuitos eltricos para que isso se concretize a contento.

    A leitura da matria Dossi Darwin, na Revista Darcy Ribeiro, promove uma nova viso do comportamento natural associada s diversidades dos fenmenos fsicos descobertos e estudados no sculo passado e possibilita a anlise da teoria evolucionista, na sua abordagem probabilstica, das possibilidades geradas na

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    amostragem durante a viagem no HMS Beagle, realizada por Darwin, indicando uma metodologia inovadora, que caracterizou o mundo cientfico da poca.

    Surge o conhecimento de que o espectro de emisso de um objeto macroscpico qualquer , basicamente, saber quanta energia radiante emitida por ele. A apreciao da obra Improvisao n 23, de Kandinsky, leva-nos a promover analogias com o movimento de partculas, sejam aquelas nos modelos atmicos estabelecidos pelo mundo cientfico do incio do sculo XX, ou pela interpretao dos movimentos variados destas. Nesse cenrio, Max Planck prope uma explicao para o problema da radiao do corpo negro, que, de forma um tanto arbitrria, tornou-se um marco para o nascimento da Fsica Moderna e suas aplicaes contemporneas, assim como a Teoria da Relatividade Especial, proposta por Albert Einstein, que trouxe maior compreenso do macrocosmo, levada discusso no novo pensamento humano.

    No que se refere termoqumica, nesta etapa, devem ser abordados conceitos bsicos da termodinmica para elucidao dos aspectos energticos das transformaes qumicas. Nesse sentido, o conceito de entalpia, com nfase na interpretao grfica, ajuda a reconhecer o problema da utilizao de combustveis no renovveis como fonte de energia.

    O estudo dos Campos e, em particular, do campo eltrico, proporcionou o conhecimento das superfcies equipotenciais que constituem um conceito que, na abordagem geogrfica, estudado na estruturao de mapas de relevo. Emprega-se esse conceito para assinalar regies de mesma altitude ou, em mapas climticos, para mostrar regies de mesma temperatura ou presso. Com isso, ampliam-se os estudos de campo, com discusses a respeito da localizao dos polos magnticos e geogrficos, em um estudo qualitativo do campo magntico terrestre, por meio da investigao geogrfica da declinao magntica.

    O uso de nmeros complexos e do plano de Argand-Gauss permite desenvolver representaes mais geis do espao e de alguns campos estudados na Fsica. A associao de vetores a nmeros complexos, principalmente, na forma polar, permite operar com eles de forma mais prtica, facilitando o processo de clculos inerentes ao estudo desses campos. Por outro lado, a ideia de campo que se pode associar s coordenadas polares permite pensar na organizao do espao em uma perspectiva para alm da cartesiana, gerando, ainda, a necessidade de adaptao da mente a diferentes formas de representao do espao, como pode ser observado na estrutura do Memorial Darcy Ribeiro, Beijdromo, de Jos Filgueiras Lel.

    O capitalismo, suas bases de formao e suas influncias nos conflitos mundiais so o palco, muitas vezes, de desenvolvimentos cientficos importantes e avanos no conhecimento do microcosmos, em especial dos conceitos fundamentais da Fsica Quntica e do Eletromagnetismo, que geraram condies para uma nova perspectiva de espao geogrfico a partir do uso de um poder

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    blico, sendo esta abordagem do espao geogrfico bem representada na obra audiovisual Encontro com Milton Santos, de Slvio Tendler. Em Deuses de um mundo moderno, de Jos Clemente, possvel identificar a forte influncia do pensamento cientfico na formao cultural do homem contemporneo. A busca global pela soluo de questes cientficas evidencia a relevncia das descobertas para resolver o problema da gerao de energia. Assim, pode-se constatar que a escassez de energia e novas formas para explor-la, principalmente a partir do incio do sculo XIX, reforam a ideia da importncia das fontes energticas. A obteno de energia eltrica a partir da energia mecnica e de reaes de oxirreduo gerou perspectivas para a utilizao prtica da eletricidade. Essa ideia recoloca a questo da conservao da energia neste objeto. O estudo de transformaes qumicas, do ponto de vista energtico, inclui conceitos associados ao equilbrio qumico e eletroqumica.

    Os avanos tecnolgicos tm propiciado novas descobertas acerca do Universo, atravs de uma abordagem histrico-cientfica da fora gravitacional e sua comparao com outras foras fundamentais da natureza, das Leis de Kepler e de noes de Astronomia. Para ilustrar, interessante observar obras que nos levem a estudar o equilbrio, o movimento e as interaes desse tipo. Tais discusses e interpretaes podem ser melhor visualizadas a partir das obras Formas nicas em movimento, de Umberto Boccione, A noiva do vento, de Oscar Kokoschka, e Tropiclia, de Hlio Oitici

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 6 AMBIENTE E EVOLUO

    Nas etapas anteriores, discutiram-se os processos bioenergticos e ambientais,

    assim como questes a respeito de como a espcie humana pode manejar de forma racional e sustentvel os recursos naturais, visando, com isso, preservao da biodiversidade. Nesta etapa, retoma-se a discusso do ser humano como agente modificador do meio ambiente, como exemplifica o curta-metragem Man, de Steve Cutts. A terceira etapa aborda, tambm, a compreenso do processo evolutivo e dos fenmenos que possibilitaram a existncia da vida na Terra.

    H polmicas quanto origem da vida e maneira como a espcie humana se v diante do esclarecimento de sua origem. Talvez se possa afirmar que isso constitua um dos maiores enigmas da cincia. Discute-se, ainda, se a origem da vida se limitaria ao planeta Terra, e se ela ocorreu de forma isolada ou simultnea. Para responder a essas e outras indagaes, a cincia ainda trabalha no campo das hipteses, ou seja, busca evidncias do passado para tentar explicar a origem da vida.

    Os experimentos de Miller e de Fox relacionam-se com a teoria de Oparin e Haldane e oferecem subsdios para a compreenso do surgimento da vida. importante o estudo das diferentes hipteses a esse respeito como contribuies construo do conhecimento cientfico, pois essas perspectivas representaram, em muito, a evoluo do conhecimento humano. Uma perspectiva crtica dessa evoluo humana pode ser indicada na obra O homem; as viagens, de Carlos Drummond de Andrade, ou em O Apanhador de Desperdcios, de Manoel de Barros, e A noiva do vento, de Oskar Kokoshka enquanto obras como Sagrao da primavera, de Stravinsky, Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos, Elevador do filho de Deus, de Elisa Lucinda, e Rhythm 5, de Marina Abramovic, problematizam a vida como fenmeno singular, repleto de especificidades.

    H contribuies de Lamarck e de Darwin para o desenvolvimento da teoria evolucionista e para o modo como ela concebida aps as descobertas da gentica atual. A leitura do Dossi Darwin na Revista Darcy n 1, de 2009, possibilita a anlise da teoria evolucionista desde a coleta de material durante a viagem no HMS Beagle, realizada por Darwin.

    Outros conhecimentos imprescindveis para esta etapa so os principais conceitos da gentica mendeliana, gentica molecular e gentica de populaes, e as consequncias das mutaes para o indivduo e para a espcie, alm das evidncias do processo evolutivo e dos mecanismos de especiao em que se v principalmente a ligao entre conceitos evolutivos e de gentica moderna na teoria de Hardy-Weinberg.

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    Este objeto volta-se para a clula e seus diversos processos, tais como: a respirao celular, a fotossntese e a quimiossntese, que auxiliam na compreenso das teorias evolutivas e deve-se considerar as condies do ambiente na Terra no momento do surgimento da vida, observando que h relaes entre os elementos ento disponveis e as reaes acima citadas. Assim, necessrio que se discuta sua manuteno, visto que as aes humanas interferem no ecossistema Terra de modo contundente. Tornou-se, pois, imprescindvel a avaliao de aes para a manuteno da existncia do Planeta. Questes dessa natureza se relacionam com temas presentes nos filmes Estamira, de Marcos Prado, e Encontro com Milton Santos, de Slvio Tendler. O texto Nanopartculas verdes, da Revista Fapesp, Ed. 223 (Set/2014), remete-nos a questes sobre a evoluo de tcnicas agrcolas, de controles de pragas e conservao de alimentos, dentre outras aplicaes.

    O livro Vidas secas, de Graciliano Ramos, nos convida a refletir sobre a existncia humana em condies adversas. Vale indagar: Quais so os processos fisiolgicos que controlam a melhor condio de vida da espcie, e como so eles? O que sade? O que se entende por doena? No cenrio contemporneo, o que seria geopoltica das doenas? O que homeostase? O que se entende por qualidade de vida? O que significa buscar melhor qualidade de vida? Qual a vinculao entre o pensamento e a vida?

    A espcie humana constitui uma unidade biolgica que, assim como outras, consequncia da evoluo de milhes de anos, experimentando e selecionando caractersticas no decorrer dos tempos. Essa compleio fisiolgica resultado da interao de caractersticas entre seres; assim se entendem os processos vivos que controlam a existncia. O conto O burrinho pedrs, de Guimares Rosa, traz elementos que podem ser utilizados como metfora das relaes dos homens entre si e com o meio em que vivem, como tambm ilustra a linoleogravura Jogo do osso, de Glnio Bianchetti.

    A srie xodos, de Sebastio Salgado, ao trazer fotos das pessoas em processos migratrios, traz essas questes das condies de vida e da adaptao do ser humano ao meio ambiente. A Triste partida, de Patativa do Assar, musicada por Luiz Gonzaga, um exemplo da migrao do nordeste brasileiro. Niestzsche, em seu texto O crepsculo dos dolos: A filosofia a golpes de martelo, contribui para pensar algumas dessas questes, assim como o filme Meu amigo Nietzsche, de Fuston da Silva. Este objeto nos auxilia a levantar alguns questionamentos. Alm do ponto de vista biolgico, o corpo poderia ser entendido como uma construo cultural? Que relao h entre o indivduo e o corpo na sociedade de consumo? A obra musical Beijinho no Ombro, de Valeska Popozuda, apresenta elementos para refletir sobre tais questes.

    Atualmente, quando se pensa em hereditariedade e reproduo, a biotecnologia revela uma infinidade de criaes humanas, como as tcnicas de clonagem, do DNA recombinante, da transgenia, e da era da genmica que poder abrir portas para a era da protemica. Analisar, sob o ponto de vista gentico, o aparecimento de aneuploidias em humanos e relacion-lo a mecanismos mutagnicos uma relevante forma de estudo

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    desse tema. O curta metragem Man, de Steve Cutts, pode exemplificar alguns desses temas.

    tambm importante abordar o desenvolvimento da gentica a partir dos trabalhos de Mendel e das leis por ele propostas, analisar a maneira como o mendelismo se relaciona com as descobertas subsequentes, e os experimentos que evidenciaram ser o DNA o material gentico, reconhecendo as caractersticas dessa molcula segundo o modelo proposto por Watson e Crick.

    No que se refere Ambiente e Evoluo, cabe ainda a anlise da relao entre a desigualdade socioeconmica dos pases e as condies de sade de suas populaes. Males crnicos afetam pases da frica, sia e Amrica latina, alastram-se doenas infecciosas, tpicas da misria e de condies sociais, polticas e econmicas estruturadas em complexas relaes internacionais. As obras xodos, de Sebastio Salgado, A Triste Partida, de Patativa do Assar musicada por Luiz Gonzaga, Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Garoto faminto com bola de futebol, de Paulo Ito, ilustram de forma contundente as consequncias dessa desigualdade.

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 7

    CENRIOS CONTEMPORNEOS

    Nas etapas anteriores, foram pensados a genealogia da ideia de Ocidente, o processo de transio do feudalismo para o capitalismo e a formao das naes americanas. Nesta etapa, levantam-se questes acerca da construo da cidadania e da democracia nos sculos XX e XXI, problematizando aspectos da globalizao e suas implicaes na constituio de cenrios contemporneos, como apresenta o documentrio Encontro com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de c, de Silvio Tendler. importante pensar as ideias de mundializao e de cidadania mundial como alternativas possveis s determinaes vinculadas s categorias de identidades nacionais, nacionalismos e seus desdobramentos, principalmente, os que resultaram em totalitarismos no sculo XX.

    O estudo da constituio dos estados nacionais (europeus, asiticos, africanos e americanos), com ateno especial ao Estado brasileiro, pode ser auxiliado com o texto teatral Liberdade, Liberdade, de Millr Fernandes e Flvio Rangel. A obra apresenta e problematiza discursos, msicas e eventos que marcaram a histria brasileira e mundial, sob a perspectiva da ideia de liberdade, utilizando-se de personagens fictcios e histricos. Dentro dessas abordagens, pode ser estabelecido um dilogo com Guernica, de Pablo Picasso, Guerra e Paz, de Portinari, Quem matou Herzog, de Cildo Meireles, This land is mine, de Nina Paley, e Gerao Coca-Cola, de Legio Urbana, que refletem aspectos dos conflitos pelo poder, no Brasil e no mundo. Diferentes experincias polticas na formao do Estado-nao e das classes burguesa e proletria na consolidao do modo de produo capitalista so explicitadas no texto de Antnio Queiroz de Frana, O manifesto comunista em cordel.

    preciso pensar a complexidade relacionada configurao dos cenrios contemporneos a fim de compreender as possibilidades de insero do Brasil nesse contexto. A presena do Brasil, no cenrio internacional, pode ser avaliada desde o movimento do Modernismo, na primeira metade do sculo XX, perodo em que se consolidou a negao dos valores das estticas anteriores, representada por variadas linguagens artsticas, com inspirao nos movimentos de vanguardas europeias.

    A Sagrao da primavera, de Igor Stravinsky, um exemplo desse aspecto, assim como o poema Potica, de Manuel Bandeira, ilustrando como o autor, por meio de linguagem coloquial e de formas livres, defendia essa proposta de ruptura. Contemporaneamente, no discurso literrio, um exemplo da reconstruo de formas poticas, por meio do uso de metforas expressivas, est na obra O apanhador de desperdcios, de Manoel de Barros. O uso do corpo, contemporaneamente, para a produo musical, oferece uma perspectiva para a identificao de informaes centrais e

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    perifricas, que podem ser observadas nas diferentes linguagens, e suas inter-relaes, por exemplo, em Mistrios do corpo, de Hermeto Paschoal, e Cadeirada, de Barbatuques.

    Dentro do contexto do modernismo, uma outra linha de pensamento consiste na recuperao da cultura popular para compor nova esttica e representao do carter nacional. Isso pode ser exemplificado com as Bachianas n 4, ria (Cantiga), de Villa Lobos. Na segunda metade do sculo XX, a bossa-nova Samba de uma nota s, de Tom Jobim, outro exemplo desse discurso de ruptura com a tradio, com a valorizao da simplicidade e suas relaes com a cultura estrangeira. Com essas perspectivas, pode-se avaliar a plurissignificao das linguagens, identificando similaridades e diferenas de elementos ao interpretar textos.

    importante reconhecer as contribuies resultantes de conhecimentos produzidos por povos e culturas tradicionais, a exemplo de quilombolas, ribeirinhos e indgenas, como pode ser observado na manifestao cultural brasiliense Seu Estrelo e fu de terreiro, e na msica Monlogo ao p do ouvido/Banditismo por uma questo de classe, de Chico Science e Nao Zumbi, representante do movimento Manguebeat, assim como o Memorial Darcy Ribeiro, Beijdromo, do arquiteto Jos Filgueiras Lel.

    Outras obras como Norte ao Sul, de Torres Garca, apresentam perspectivas e alternativas para a construo de identidades plurinacionais, como a latino-americana. As tecnologias de informao e comunicao proporcionam, por sua vez, condies para pensar a reconfigurao da sociedade, como apresenta o ensaio Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa poca, de Andr Lemos.

    Ao analisar criticamente a soluo encontrada para uma situao-problema possvel propor alternativas diante da cristalizao de elementos consagrados pela tradio. O pensamento de Nietzsche, exposto na obra O crepsculo dos dolos: A Filosofia a golpes de martelo, coloca em xeque justamente tais elementos cristalizados e permite a reformulao de cenrios contemporneos possveis e contingentes.

    A Histria, como campo de conhecimento, constituda por diferentes tempos histricos. O sculo XX um perodo privilegiado para a compreenso desse aspecto. Assim, os cenrios contemporneos decorrem de permanncias e rupturas ainda evidentes nas primeiras dcadas do sculo XXI. A obra Pericn, de Conrado Silva, interpretada pela Orquestra de Laptops de Braslia, apresentada na forma de livre improvisao eletrnica sobre um tema folclrico, apresenta, metaforicamente, essa ideia de permanncia e ruptura, ao concatenar sries de sons e escolhas sobre sua organizao, evidencia o carter contingente, processual e vivo da obra, o que pode ser observado, por sua vez, na constituio de fatos histricos.

    No panorama poltico, que diz respeito ampliao dos direitos no Brasil, em consonncia aos cenrios contemporneos, possvel reconhecer, a partir do estudo da Constituio Federal Ttulo II, captulo IV, artigos 14 a 16; captulo V, artigo 17 e Ttulo IV, captulo I, sees I a IV, artigos 44 a 56 o ordenamento jurdico que garante

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    os direitos sociais e polticos dos brasileiros, como consequncia de movimentos da sociedade civil associados aos trabalhos da Assembleia Constituinte.

    O texto Zwkrshjisto, de Bruno Palma, ilustra a possibilidade de configurao imaginria de um lugar a partir de reformulaes poticas de cenrios reais e existentes, assim como a obra Orao, dA Banda mais bonita da cidade, ao passo que o curta-metragem Man, de Steve Cutts, apresenta os riscos existentes e reais decorrentes da problematizao das aes humanas nesses cenrios. O papel e o mar, de Luiz Antonio Pilar, e Estamira, de Marcos Prado, permitem o aprofundamento dessas anlises ao apresentar questes vinculadas aos limites da racionalidade e, com isso, possibilitam melhores condies para julgar a pertinncia de opes tcnicas, sociais, ticas e polticas na tomada de decises.

    Compreender o lugar, vinculado ao espao e ao tempo como constituintes de sua realidade, amplia as percepes de aspectos estruturantes dessa realidade, como se observa em Triste partida, poema de Patativa do Assar musicado por Luiz Gonzaga, O burrinho pedrs, conto de Guimares Rosa, Vidas secas, romance de Graciliano Ramos, O jogo do osso, xilogravura de Glnio Bianchetti, na msica A ponte, cantada por GOG e Lenine, a instalao Tropiclia, de Hlio Oiticica, Meu amigo Nietzsche, curta de Fuston da Silva, e as fotografias xodos, de Sebastio Salgado.

    As existncias humanas, em suas interaes humanas e no humanas, inseridas na multiplicidade dos lugares possveis, podem se constituir em tema relevante para as reflexes sobre o conceito de subjetividade contempornea tendo como fio condutor a noo de cenrios contemporneos, como exemplificam as obras A noiva do vento, de Oskcar Kokoshka, Rhythm 5, de Marina Abramovic, Garoto faminto com a bola de futebol, de Paulo Ito, Amor, de Clarice Lispector, O homem; as viagens, de Carlos Drummond de Andrade, Elevador do filho de Deus, de Elisa Lucinda, e Beijinho no ombro, de Valeska Popozuda.

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 8 NMERO, GRANDEZA E FORMA

    Na primeira etapa, este objeto fez aluso a grandezas vetoriais, escrita tradicional

    de ritmo, explorao dos polgonos regulares de Plato, sequncias, cartografia, balanceamento de equaes e contribuies de culturas medievais sobre esses temas. Na segunda etapa, foram abordadas questes relativas linguagem matemtica, s linearidades e modelagens tornadas possveis pelos conhecimentos matemticos, assim como questes relativas s possibilidades de modelar problemas no lineares vistos na geometria dos corpos curvos e reconhecer outras formas de modelagem desenvolvidas pela humanidade. Nesta etapa, a partir do exame das categorias de nmero, grandeza e forma, prope-se a problematizao dos conhecimentos matemticos no decorrer da histria.

    A percepo da finitude do entendimento pode impor certos limites s ambies da razo, que ao investir sobre a realidade, tende a uniformizaes e padronizaes questionveis. Nesse sentido, obras como O crepsculo dos dolos: A filosofia a golpes de martelo, de Nietzsche, Estamira, de Marcos Prado, e Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa poca, de Andr Lemos, apresentam relevantes crticas a essa realidade uniformizada e padronizada.

    No contexto desse processo, o conhecimento matemtico adaptou-se s necessidades surgidas na evoluo tecnolgica. Assim, a criao dos nmeros complexos se imps pela necessidade de resolver problemas concretos. A existncia de uma unidade imaginria rompe limites impostos ao conhecimento e abre horizontes em certo momento da histria humana. Desenvolveu-se toda uma geometria do plano complexo, traduzindo as operaes, as quais permitem fazer transformaes de translao, de rotao e de contrao ou expanso no plano.

    Transformaes como essas podem ser observadas no Painel de azulejos da FE/UnB, de Luis Humberto, Formas nicas de continuidade no espao, de Boccione, Improvisao n 23, de Kandinsky, A noiva do vento, de Oskar Kokoshka, e Norte ao Sul, de Torres Garca. No plano sonoro, transformaes podem ser verificadas em Pericn, de Conrado Silva, interpretada pela Orquestra de Laptops de Braslia (BSBLork), que trabalha com amplificao dinmica e permutao de alturas.

    Para se compreender essas transformaes, so de fundamental importncia algumas propriedades de polinmios de coeficientes reais de grau arbitrrio, destacando-se os conceitos de divisibilidade, razes, relaes entre coeficientes e razes e resoluo de equaes polinomiais, alm de noes bsicas de nmeros complexos. Os modelos polinomiais e a anlise grfica das funes, incluindo simetrias e translaes no plano cartesiano, aplicam-se, ainda, aos estudos de campos eltricos, magnticos e gravitacionais, como pode ser observado, por exemplo, em O homem; as viagens, de Carlos Drummond de Andrade.

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    As representaes grficas possibilitam interpretar os aspectos energticos das reaes qumicas e da solubilidade em gua. Permitem, ainda, o estudo das curvas e das figuras planas em seus aspectos analticos, as construes geomtricas no plano, alm dos conceitos de paralelismo e perpendicularismo. Nesse sentido, torna-se relevante tambm perceber a construo do espao presente no Memorial Darcy Ribeiro, Beijdromo, de Jos Filgueiras Lel, assim como a diviso do plano na pintura Norte e Sul, de Torres Garca.

    Nesta etapa, chama-se a ateno para o estudo das relaes intrnsecas das representaes do plano: cartesiana e polar. Localizar pontos no plano por meio de coordenadas cartesianas e tambm associ-los s suas coordenadas polares fundamental na compreenso das duas formas de representao do espao.

    Na Constituio Federal Ttulo II, captulo IV, artigos 14 a 16; captulo V, artigo 17 e Ttulo IV, captulo I, sees I a IV, artigos 44 a 56 , so apresentadas formas de organizao vinculadas s dimenses de grandeza poltica como, por exemplo, a noo de coeficiente eleitoral. Para validar essa noo, a estatstica e a probabilidade so utilizadas e, comumente, princpios de contagem (aditivo e multiplicativo) e agrupamentos (permutao, arranjo e combinao). Ainda assim, tais dados no implicam uma noo de verdade, sendo esperada a criticidade de cidads/os conscientes e participativos/as. Nesse sentido, Elevador do filho de Deus, de Elisa Lucinda, Zwkrshjisto, de Bruno Palma, Gerao Coca-Cola, de Legio Urbana, A ponte, de GOG e Lenine, Quem matou Herzog, de Cildo Meireles, Monlogo ao p do ouvido/ Banditismo por uma questo de classe, de Chico Science e Nao Zumbi, O manifesto comunista em cordel, de Antonio Queiroz de Frana, O papel e o mar, de Luiz Antonio Pilar, e Deuses de um mundo moderno, de Jos Clemente Orozco, so exemplos de obras que permitem a discusso crtica sobre as relaes de poder. O conhecimento das possibilidades de ao e suas limitaes fator relevante no entendimento das possibilidades futuras de manuteno da vida na Terra. Esse entendimento facilitado pelo uso dos princpios de contagem. O exerccio de contar, ao qual se aplicam princpios e mtodos estatsticos ou probabilsticos, auxilia a compreenso de aes relevantes e necessrias que devem ser realizadas no presente com o intuito de viabilizar contextos futuros. A compreenso dessas aes pode ser subsidiada pelo filme Encontro com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de c, de Slvio Tendler. Inserem-se, ainda, no contexto da contagem, as possibilidades de replicao do cdigo gentico de um indivduo e o estudo de casos relativos herana gentica. Assunto que se pode discutir com maior profundidade luz dos artigos encontrados na Revista DARCY n. 1 Dossi Darwin.

    Pensando em probabilidade e possibilidades, o texto teatral Liberdade, Liberdade, de Millr Fernandes e Flvio Rangel, sugere uma encenao focada no trabalho do ator, dispensando o uso exacerbado das tcnicas de suporte cnico. Apenas quatro atores representam todos os personagens que conversam diretamente com o pblico, misturando texto com msicas.

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    Ainda em relao forma, temos as formas musicais, representao da estrutura de uma pea musical especfica. Vrias maneiras de combinar e produzir sons foram incorporados em formas musicais j existentes, surgindo novos experimentalismos observados nas msicas populares e nas msicas de concerto dos sculos XX e XXI. Alguns exemplos podem ser percebidos na obra Sagrao da primavera, de Stravinsky; em Bachianas n 4, ria (Cantiga), de Villa Lobos; na msica Pericn, de Conrado Silva, interpretada pela Orquestra de Laptops de Braslia, BSBLork; na faixa Mistrios do Corpo, da obra Brincando de Corpo e Alma, de Hermeto Paschoal; na msica Monlogo ao p do ouvido/Banditismo por uma questo de classe, de Chico Science e Nao Zumbi; na msica coral de Gilberto Mendes e Dcio Pignatari, Moteto em r menor ou Beba Coca-Cola, e em Orao, de Lo Fressato, interpretada pelo grupo A Banda Mais Bonita da Cidade.

    Por fim, vale ressaltar a relevncia, para o exerccio da cidadania, da competncia de analisar problemas cotidianos e resolv-los, gerando cultura, transformando a realidade e a histria. Para resolver situaes-problema, muitas vezes so necessrios conhecimentos de vrias reas, unindo cincia, valores ticos e criatividade para descobrir novas sadas at mesmo para velhos e polmicos problemas.

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 9 ESPAOS

    Na primeira etapa, so apresentadas distintas concepes de espao considerando diversas abordagens filosficas e cientficas. Na segunda etapa, a sociedade brasileira central para compreender as relaes entre o espao fsico e o sociocultural. Nesta etapa, o espao colocado em questo diante do processo de mundializao, em especial, pensar os diversos impactos sobre os territrios, como o brasileiro, e a implicao das estratgias geopolticas, como as guerras.

    A obra This land is mine, de Nina Paley, pode subsidiar discusses relevantes a respeito da constituio de espaos e seus conflitos: territoriais, filosficos, religiosos, polticos e sociais. Nessa perspectiva, possvel pensar o espao geogrfico como poltico, estratgico e um produto social e historicamente construdo e, portanto, repleto de contradies. Essas questes podem ser observadas no documentrio Encontro com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de c, de Silvio Tendler, assim como no curta-metragem Man, de Steve Cutts, Estamira, de Marcos Prado, e no poema O homem; as viagens, de Carlos Drummond de Andrade. Em O crepsculo dos dolos: A filosofia a golpes de martelo, Nietzsche corrobora as crticas aos sistemas hegemnicos, assim como O manifesto comunista em cordel, de Antnio Queiroz de Frana.

    O sculo XX foi palco de revolues e guerras que reconfiguraram o cenrio mundial. Reflexes diversas sobre esses processos podem ser motivadas com as obras A noiva do vento, de Oskar Kokoshka, Guerra e Paz, de Cndido Portinari, Guernica, de Pablo Picasso, e Deuses de um mundo moderno, de Jos Clemente Orozco. O espao geogrfico existe como um dado inseparvel da vida global. Os contextos locais tornaram-se relevantes para compreender a produo, o comrcio, a cultura e a poltica mundial. importante analisar como se processa a insero do Brasil no mundo e a influncia do mundo no Brasil.

    Considerando essas conjunturas de cenrios internacionais e locais, evidencia-se a relevncia de compreender a configurao da economia mundial capitalista do ps-Segunda Grande Guerra e as consequncias socioeconmicas e espaciais dos processos de constituio do capitalismo mundialmente integrado, como pode ser pensado a partir de Elevador do filho de Deus, de Elisa Lucinda.

    Nesse contexto, fundamental a possibilidade de se conceber um projeto nacional. Outras reflexes em relao ao cenrio brasileiro podem ser despertadas com a obra Quem matou Herzog, de Cildo Meireles, que faz uma crtica censura durante a ditadura militar, e as fotografias xodos, de Sebastio Salgado, que trazem uma abordagem sobre

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    os deslocamentos populacionais em decorrncia de guerras e problemas polticos. Espaos de organizao poltica brasileira podem ser reconhecidos com a leitura da Constituio Federal Ttulo II, captulo IV, artigos 14 a 16; captulo V, artigo 17 e Ttulo IV, captulo I, sees I a IV, artigos 44 a 56.

    A histria da construo de Braslia e reflexes sobre seus espaos arquitetnicos podem ser exemplificados com o Memorial Darcy Ribeiro, o Beijdromo, de Jos Filgueiras Ll, e o Painel de azulejos da FE/UnB, de Lus Humberto. importante compreender a relao entre espaos, sustentabilidade, vulnerabilidade socioeconmica e ambiental e, tambm, a necessidade da existncia de uma justia ambiental e social. Parte desta problemtica est presente no romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, na linoleogravura Jogo do osso, de Glnio Bianchetti, nos contos O burrinho pedrs, de Guimares Rosa, e Amor,,de Clarice Lispector.

    As msicas A ponte, de Lenine e GOG, e Monlogo ao p do ouvido/Banditismo por uma questo de classe, de Chico Science e do grupo Nao Zumbi, colocam em destaque as desigualdades sociais e espaciais presentes em contextos urbanos contemporneos. Discute-se a primazia da urbanidade, da modernidade, do campo econmico sobre a poltica e do dinheiro sobre as vidas e existncias humanas.

    Convm pensar ainda que as tecnologias de informao e comunicao alteram as noes de espao, como aponta Andr Lemos no seu ensaio Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa poca. Os gneros musicais podem representar a problematizao da vida urbana, o que pode ser observado tambm na msica Beijinho no Ombro, de Valeska Popozuda.

    As dicotomias, tradio e modernidade, urbano e rural, nacional e global, constituem construes de espao e tempo e demarcam diferentes posies sociais. Por isso, importante perceber as reinvenes dessas relaes, como nas obras, manifestao popular brasiliense Seu Estrelo e Fu de Terreiro; a obra Tropiclia, de Caetano Veloso, e Samba de uma nota s, de Tom Jobim, O apanhador de desperdcios, de Manoel de Barro, e em Bachianas n 4, ria (Cantiga), de Villa Lobos.

    O espao cnico de fundamental importncia para a encenao teatral. A pea Liberdade, Liberdade, de Millr Fernandes e Flvio Rangel, encenada dentro de um edifcio teatral, porm, rompe com a construo realista de cenrios e espaos definidos para cada ato ou cena do espetculo. A iluminao, nesta obra, ganha outra funo, como definir a cena, no espao e na durao. De outro modo, um espao inventado em Zwkrshjisto, de Bruno Palma, e outra perspectiva, mais subjetiva, encontrada em Orao, interpretada por A Banda mais bonita da cidade.

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 10 MATERIAIS

    Nas etapas anteriores, buscou-se identificar as possibilidades de criao das coisas a partir das concepes de energia e de matria, assim como os usos e desenvolvimentos de variados materiais, tanto naturais quanto artificiais, em meio aos contextos filosficos, socioeconmicos, polticos e culturais. Por isso, nesta etapa, esta variedade de materiais deve ser analisada diante das responsabilidades humanas e dos impactos das relaes do ser humano com a natureza, tendo como modelo cientfico dos tomos aquele que considera ora o eltron como partcula ora como onda.

    Os sculos XIX e XX presenciaram o surgimento de novos materiais, derivados, principalmente, do petrleo, com mltipla aplicabilidade. At ento, a madeira, os metais, o vidro e a borracha natural eram as matrias-primas mais utilizadas. No entanto, novos materiais orgnicos, classificados como polmeros (polietileno, polipropileno, PVC, PVA, teflon, poliestireno e nylon 66), provocaram uma revoluo nas opes de matrias-primas.

    A transformao de materiais, por meio de reaes orgnicas de oxidao de alcois, combusto completa e incompleta, esterificao, saponificao e polimerizao, so importantes nesse contexto. Ento, um estudo qualitativo das propriedades coligativas proporciona uma compreenso de fenmenos fundamentais do cotidiano e de suas implicaes ambientais e tecnolgicas. Obras como Man, de Steve Cutts, O papel e o mar, de Luiz Antonio Pilar, Estamira, de Marcos Prado, Dossi Darwin, da Revista Darcy, O elevador do filho de Deus, de Elisa Lucinda, possibilitam ampliar as questes sobre o desenvolvimento tecnolgico e o meio ambiente.

    A aplicabilidade dos materiais orgnicos deve-se s propriedades fsicas (temperatura de fuso, temperatura de ebulio e solubilidade) das substncias de que so feitas, alm das propriedades qumicas, que influenciam, tambm, em suas caractersticas e propriedades. As propriedades fsicas e qumicas das substncias orgnicas so determinadas pela estrutura relacionada aos seus constituintes, como exemplificado em Nanopartculas verdes, da Revista Fapesp Ed. 223, set/2014. Tal artigo salienta a importncia da pesquisa em materiais do cerrado os quais atravs de interaes qumicas produz, por reaes de bioreduo, substncias e/ou nanopartculas importantes no desenvolvimento cientfico tecnolgico em diferentes reas do conhecimento.

    Essa etapa foca as funes: lcool, fenol, aldedo, cetona, ter, cido carboxlico, sais de cidos, ster, amina e amida. A obra Qumica orgnica, de Vincius de Moraes, alm de explicitar sobre orgnica faz referncias importantes sobre acidez, basicidade e indicadores de pH, assim como a obra, Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos, pode ilustrar alguns desses aspectos.

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    O uso de mltiplos materiais nas artes visuais pode ser percebido a partir do contato com a instalao Tropiclia, de Hlio Oiticica, a linoleogravura Jogo do osso, de Glnio Bianchetti, A noiva do vento, de Oskar Kokoshka, a performance Rhythm 05, de Marina Abramovic, o grafite Garoto faminto com a bola de futebol, de Paulo Ito, e a escultura Formas nicas em movimento, de Umberto Boccione.

    Isso pode ser percebido tambm nas obras Mural da Igrejinha (Braslia DF), de Luis Galeno, e Painel de azulejos da FE/UnB, de Lus Humberto. Na msica, o uso e a valorizao de materiais orgnicos, humanos e vivos na obteno de timbres diferenciados do usual permitem novas exploraes sonoras, que podem ser reconhecidas nas msicas Mistrios do corpo, de Hermeto Paschoal, e Cadeirada, interpretada por Barbatuques.

    A pea Liberdade, Liberdade, de Millr Fernandes e Flvio Rangel, prope-se a minimizar a utilizao das tcnicas de suporte cnico, como a maquiagem, o figurino e a cenografia. Desta forma, destaca a interpretao teatral e a palavra para fortalecer a ideia de liberdade. Essa proposta minimalista pode ser encontrada no conceito de teatro pobre desenvolvido no sculo XX, isto , minimizando a utilizao das tcnicas de suporte cnico e focando no trabalho psicofsico do ator.

    So comuns vida moderna aparelhos tecnolgicos que usam fontes de energia, tais como baterias e pilhas, e por outro lado, h processos eletrolticos (gneo e aquoso) que resultam em novos materiais. Em suma, na transformao de materiais, acontecem fenmenos espontneos ou no espontneos, nos quais ocorre liberao ou consumo de energia. Essa energia est ligada ao processo de transferncia de eltrons. Nas transformaes, os conceitos de oxidao, reduo, potencial de oxidao e potencial de reduo, agente oxidante e agente redutor so importantes para a compreenso dos fenmenos de xido-reduo.

    Os pesquisadores formulam teorias para explicar o equilbrio que os materiais atingem. Os conceitos de equilbrio qumico so utilizados no entendimento de diversos fenmenos ambientais. Fatores, como concentrao, estado fsico, presso e temperatura, interferem no equilbrio. Os conceitos de equilbrio qumico so, tambm, utilizados na explicao da titulao, processo til ao controle de qualidade de muitos materiais. O equilbrio ainda objeto de estudo para a supercondutividade no transporte de alta velocidade.

    Equilbrio e desequilbrio sonoro so atingidos com a manipulao de timbres, dinmica, ritmo, melodia, harmonia e demais materiais musicais. Tais aspectos so observados em obras como A ponte, de Gog e Lenine, Beijinho no ombro, de Valeska Popozuda, Domingo no parque, de Gilberto Gil, e Orao, do grupo A banda mais bonita da cidade.

    O grupo Barbatuques, em Cadeirada, consegue o equilbrio sonoro por meio de instrumentos no convencionais. O msico Gilberto Mendes, a partir de Moteto em r menor ou Beba coca cola, poema concreto de Dcio Pignatari, obtm esse equilbrio utilizando como nico material sonoro, as vozes humanas. As Bachianas n 4, ria (Cantiga), de Villa Lobos, buscam o equilbrio no uso de materiais rtmicos e meldicos,

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    tendo recebido arranjo de orquestra posteriormente. A manifestao cultural brasiliense Seu Estrelo e Fu de Terreiro procura o equilbrio utilizando a voz, instrumentos de percusso e recursos cnicos; em Samba de uma nota s, de Tom Jobim, a relao de equilbrio pode ser analisada entre melodia e harmonia; Pericn, de Conrado Silva, interpretado pela Orquestra de Laptops de Braslia, explora o desequilbrio a partir de sons eletrnicos e suas transformaes; Tropiclia, de Caetano Veloso, mescla vrias tendncias e materiais sonoros e visuais, explorando potica e, musicalmente, equilbrios e desequilbrios, criando e recriando cenas.

    O papel e o mar, de Luis Antnio Pilar, aborda situaes que envolvem o tema das drogas lcitas como o lcool e o tabaco. A legislao que regulamenta o uso de cigarros em ambientes pblicos e fechados tem como finalidade proteger a sade, principalmente dos no fumantes. A nicotina pode ser consumida atravs de reaes de combusto, cigarro tradicional, ou de reaes provocadas por baterias, dos cigarros eletrnicos. Estes e outros materiais podem causar desequilbrios ambientais.

    Os conceitos de carbono quiral e estereoqumica esto citados no artigo Rotas Alternativas, Revista Fapesp, ed. 220, jun/2014. O exemplo clssico desse conceito envolve o caso da Talidomida, ocorrido em 1960, quando vrias crianas nasceram com deformaes nos membros em virtude das mes serem medicadas com esse frmaco, utilizado para enjoos, em mulheres gestantes. Logo a importncia de se pensar sobre materiais e seus usos.

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    Terceira Etapa - Objeto de Conhecimento 11 ANLISE DE DADOS

    Nesta etapa, espera-se contribuir para o desenvolvimento de um indivduo crtico,

    capaz de formular perguntas pertinentes e de ir ao encontro de possveis respostas. A habilidade de tomar decises pode ser desenvolvida por meio da anlise de dados. Aes como coletar dados, criar e ler tabelas e grficos, relacionando-os s conjunturas poltica, econmica e socioambiental podem subsidiar leituras e releituras desses contextos, o que faz parte das proposies deste objeto.

    A anlise de dados est diretamente ligada ao conhecimento dos processos de elaborao de raciocnios ou estratgias de resoluo de situaes-problema, associadas interveno na realidade. A viagem do HMS Beagle, relatada no Dossi Darwin, Revista Darcy (n. 1, 2009), proporcionou a realizao de atividades cientficas que resultaram na constituio de uma teoria a partir da observao de fenmenos da natureza.

    Cincias produzem dados que necessitam de interpretao dentro de um contexto. Assim, so necessrios conceitos estatsticos, como mdias (aritmtica, geomtrica e harmnica), moda, mediana, desvios e varincia, que auxiliaro na interveno da realidade, exigindo o uso e a leitura adequados de grficos e tabelas. Esses conceitos, seus usos e interpretaes so importantes na anlise de dados a fim de uma avaliao sobre a responsabilidade atribuda cincia. importante tambm relacion-los diversidade cultural, como podemos observar no audiovisual Encontro com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de c, de Silvio Tendler. Analisar a Constituio Federal Ttulo II, captulo IV, artigos 14 a 16; captulo V, artigo 17 e Ttulo IV, captulo I, sees I a IV, artigos 44 a 56 pode auxiliar nos estudos sobre partidos polticos, eleies, sindicatos, movimentos sociais. Indicadores sociais podem auxiliar na reflexo sobre polticas pblicas para educao, cultura, sade, emprego, meio ambiente, mulheres, negros, indgenas, idosos e jovens, enfim, diversas categorias sociais. Exemplos de diversidade social encontram-se no programa educacional xodos: Leituras, narrativas e novas formas de solidariedade, de Sebastio Salgado.

    No sculo XIX, o positivismo postulava que os dados seriam apenas os fatos observveis, certos, positivos. Dessa forma, os dados sensveis, empricos, com existncia independente do sujeito, do observador, do pesquisador, constituiriam a fonte nica de conhecimento e critrio de verdade. Entretanto, o pensamento cientfico no sculo XX lana incertezas acerca da realidade, assim como alguns movimentos artsticos nesse mesmo perodo. A obra de Nietzsche, O crepsculo dos dolos, pode ser interpretada como uma certa crtica ao positivismo. A obra Deuses de um mundo moderno, de Jos Clemente Orozco, tambm representa essas questes.

    No campo artstico, o realismo busca uma fidelidade representativa que se relaciona com os ideais do positivismo. A encenao da pea teatral Liberdade, Liberdade, de Millr

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    Fernandes e Flvio Rangel, um exemplo de rompimento com alguns princpios do realismo, como os conceitos de quarta parede e caixa cnica.

    De forma semelhante, a ideia de personagem amplamente repensada e questionada neste perodo. Pode-se observar que o texto no traz nomes de personagens, mas dos atores que compunham o elenco original. Para subsidiar reflexes a respeito dos princpios positivistas, pode-se utilizar a obra Memorial Darcy Ribeiro, Beijdromo, de Jos Filgueiras Lel. Assim como tais princpios se relacionam com a ideia de neutralidade do campo da cincia e pode ser questionada em obras como Estamira, de Marcos Prado, e Rotas Alternativas, da Revista Fapesp.

    Integram tambm este objeto, conceitos relativos aos princpios de contagem (aditivo e multiplicativo), aos agrupamentos (arranjos, permutaes e combinaes) e ao conceito de probabilidade. No campo da matemtica, evidenciam-se as relaes desses conceitos com os de geometria e de padres numricos, estimulando o desenvolvimento de raciocnios dedutivo e indutivo. No campo das artes visuais, o Painel de azulejos da FE/UnB, de Lus Humberto, um exemplo de obra para se trabalhar arranjos, combinaes e permutaes.

    Vale lembrar novas modalidades de linguagem surgidas em relao ao desenvolvimento industrial, ao aumento da populao mundial e, consequentemente, do consumo. A arte publicitria e suas caractersticas e ideologias podem ser estudadas por meio da interpretao da msica Gerao Coca-Cola, do grupo Legio Urbana, do Moteto em r menor ou Beba Coca-Cola, de Gilberto e Dcio Pignatari, e do grafite Garoto faminto com a bola de futebol, de Paulo Ito.

    O ensaio Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa poca, de Andr Lemos, apresenta uma complexidade conceitual sobre as diversas relaes influenciadas pelas tecnologias da informao e da comunicao.

    A anlise de dados deve estar intimamente relacionada a contextos. Nesse sentido, os conceitos de identidade e diversidade cultural e suas interpretaes so relevantes na anlise de dados, como pode ser observado nas obras Qumica orgnica, do Vincius de Moraes; Norte ao Sul, de Torres Garca; Jogo do osso, de Glnio Bianchetti, e Zwkrshjisto, de Bruno Palma. Considerando diferentes contextos, leituras e categorias, a anlise de dados poderia contribuir para a constituio de um pensamento social brasileiro mais democrtico e autnomo em relao aos modelos externos.