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50 anos Jornal de Piracicaba Quarta-feira, 4 de julho de 2007 Página E-1 Faculdade de Odontologia de Piracicaba PATRICIA OZORES POLACOW [email protected] E m setem- bro de 1950, o de- putado Va- lentim Amaral apresentou à Assembléia Legislativa do Estado o projeto de lei nº. 1260/50, que propunha a cria- ção de uma Faculdade de Farmácia e Odontologia em Piracicaba, proje- to que recebeu parecer contrário da Comissão de Constituição e Justiça. A cidade não desistiu. A cam- panha oficial pela criação da facul- dade teve início em 1º de agosto de 1953, durante sessão comemorati- va pelo aniversário de Piracicaba no Clube Coronel Barbosa, quando o médico e jornalista piracicabano Fortunato Losso Netto fez um dis- curso convocando os presentes, en- tre os quais várias autoridades lo- cais, a unir forças para conquistar a escola para a cidade. Foram anos de luta árdua, de campanha nos jornais, viagens, reuniões, telefonemas, formulação de projetos, contatos com autori- dades políticas. A FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba) – que hoje completa 50 anos – é re- sultado de uma luta comunitária. Em julho 1954, o governador Lucas Nogueira Garcez, de passa- gem pela cidade, prometeu traba- lhar pela criação da faculdade. No mesmo ano o projeto oficial foi en- viado à Assembléia Legislativa do Estado, que o aprovou em janeiro de 1955. A FOP começou a ser or- ganizada, mas a luta da comuni- dade continuou, pois para que a instalação da escola ocorresse era necessário aprovar seu orçamen- to e designar um prédio para seu funcionamento. Estes empecilhos foram superados pelo empenho conjunto de muitas pessoas, entre as quais Samuel Neves, João Basí- lio, Luciano Guidotti, Fortunato Losso Netto, Lázaro Pinto Sam- paio, Domingos José Aldrovandi, José Ozores, Carlos Henrique Li- beralli, Bento Dias Gonzaga e Carlos Aldrovandi. À frente das entidades que apoiaram a criação da FOP esteve o Rotary. Carlos Henrique Liberalli foi designado como primeiro diretor, em 1955. Em outubro de 1956 fo- ram nomeados seus primeiros professores e funcionários, contratados no ano seguinte. Em abril de 1957 as instalações – onde funcionara o Externato São José – foram vistoriadas. Em julho do mesmo ano, o presidente da República Juscelino Ku- bitschek assinou o decreto-lei nº 41.781, que autorizou o funcionamento da escola. No mesmo mês, ocorreram os primeiros exames para admissão de alunos e, no dia 22, houve a aula inaugural para a primeira turma. O curso de farmácia não chegou a funcionar. Retirou- se “farmácia” do nome da escola em 1967. Em 1967, a FOP foi encampada pela Unicamp (U- niversidade Estadual de Campinas), num processo traumático. A reserva da cidade em relação à en- campação se devia, principalmente, à ameaça de que a Unicamp retirasse da FOP seus profissionais mais capacitados: “Quando se criou a Unicamp, Pi- racicaba e Rio Claro eram institutos isolados. Não existia a Unesp. Campinas agregou as faculdades que ficavam mais perto. Ela precisava das áreas biológicas e da saúde”, conta o professor Fausto Bérzin, presidente da Comissão Comemorativa dos 50 Anos da FOP. A comunidade piracicabana se organizou contra o que julgava um acordo desigual. O jornalista Fortuna- to Losso Netto alertava para a possibilidade de que os alunos da FOP tivessem que freqüentar as disciplinas básicas do curso em Campinas. Antevendo o crescimento do movimento contra a encampação, o reitor da Unicamp, Zeferino Vaz, pro- curou mostrar aos piracicabanos que a anexação não iria esvaziar a FOP. Com o apoio de Liberalli, ele veio várias vezes a Piracicaba, participar de conferências e encontros, nem sempre serenos, nos quais a ques- tão foi intensamente debatida. Como moeda de troca, Vaz prometeu investimentos em ensino, pesquisa e novas instalações. De fato, em 1977, foi inaugurado o novo prédio da FOP/Unicamp, onde a faculdade fun- ciona até hoje. FOP A Faculdade de Odon- tologia de Piracicaba e o Conselho Coordenador das Entidades Civis (CCECP) têm um berço em comum. As dificuldades para a implantação da es- cola levaram as então chamadas “forças vivas” de Piracicaba à constata- ção de que a cidade preci- sava de mais organização política para gerir seu progresso e resolver seus problemas. A criação do conselho aconteceu em abril de 1956 e teve à fren- te Fortunato Losso Netto, Philippe Westin Cabral de Vasconcelos e Alcides di Paravicini Torres. Além da organização para a instalação da FOP, outras lutas e aconteci- mentos, então recentes, da história de Piracicaba co- laboraram para o apare- cimento do Conselho Coordenador. Exemplos são a controversa demoli- ção do teatro Santo Este- vão, as campanhas pela construção e implementa- ção das estradas que liga- vam a cidade às princi- pais estradas estaduais e às cidades vizinhas, a campanha contra a polui- ção do rio Piracicaba, en- tre outros. Ao longo dos anos, FOP e CCECP mantive- ram os laços estabeleci- dos desde seu aparecimen- to. Segundo os pesquisa- dores Márcia e Ruy Costa, que preparam um livro sobre a história do Conse- lho Coordenador, “o con- selho continuou apoiando as ações da FOP, como aconteceu com a Campa- nha dos Bons Dentes. E depois, também, alguns professores e alunos da FOP vieram a ser presi- dentes do conselho, como Fausto Bérzin”. Em 2007 o Conselho Coordenador completa 51 anos de participação direta em mais de 400 ações, apresentando e de- batendo propostas, acompanhando e geren- ciando a prestação de serviços e cobrando a so- lução de problemas. (Pa- trícia O. Polacow) Atendimento à comunidade sempre foi uma das marcas da FOP Liberalli, Zeferino Vaz e Plinio Alves de Moraes, responsá- vel por conseguir a verba e pela doação do terreno do atual prédio da FOP Alunos da primeira turma da FOP, em 1957, aprendem o ofício na prática

Mau Halito na revista FOP(Faculdade de Odontologia de Piracicaba)

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CREDIBILIDADE DESDE 1900: UM COMPROMISSO COM O LEITORJornal de Piracicaba Página E-1 Quarta-feira, 4 de julho de 2007Uma luta coletivaPATRICIA OZORES POLACOW [email protected] setembro de 1950, o deputado Valentim Amaral apresentou à Assembléia Legislativa do Estado o projeto de lei nº. 1260/50, que propunha a criação de uma Faculdade de Farmácia e Odontologia em Piracicaba, projeto que recebeu parecer contrário da Comissão de Constituição e Justiça. A cidade não desistiu. A campanha

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Page 1: Mau Halito na revista FOP(Faculdade de Odontologia de Piracicaba)

50 anosCREDIBILIDADE DESDE 1900:UM COMPROMISSO COM O LEITOR

Jornal de Piracicaba

Quarta-feira, 4 de julho de 2007

Página E-1

Faculdade de Odontologia de Piracicaba

PATRICIA OZORES POLACOW

[email protected]

Em setem-bro de1950, o de-putado Va-l e n t i m

Amaral apresentou à AssembléiaLegislativa do Estado o projeto delei nº. 1260/50, que propunha a cria-ção de uma Faculdade de Farmáciae Odontologia em Piracicaba, proje-to que recebeu parecer contrário daComissão de Constituição e Justiça.

A cidade não desistiu. A cam-panha oficial pela criação da facul-dade teve início em 1º de agosto de1953, durante sessão comemorati-va pelo aniversário de Piracicabano Clube Coronel Barbosa, quandoo médico e jornalista piracicabanoFortunato Losso Netto fez um dis-curso convocando os presentes, en-tre os quais várias autoridades lo-cais, a unir forças para conquistara escola para a cidade.

Foram anos de luta árdua, decampanha nos jornais, viagens,reuniões, telefonemas, formulaçãode projetos, contatos com autori-dades políticas. A FOP (Faculdadede Odontologia de Piracicaba) –que hoje completa 50 anos – é re-sultado de uma luta comunitária.

Em julho 1954, o governadorLucas Nogueira Garcez, de passa-gem pela cidade, prometeu traba-lhar pela criação da faculdade. Nomesmo ano o projeto oficial foi en-viado à Assembléia Legislativa doEstado, que o aprovou em janeirode 1955. A FOP começou a ser or-ganizada, mas a luta da comuni-dade continuou, pois para que ainstalação da escola ocorresse eranecessário aprovar seu orçamen-to e designar um prédio para seufuncionamento. Estes empecilhosforam superados pelo empenhoconjunto de muitas pessoas, entreas quais Samuel Neves, João Basí-lio, Luciano Guidotti, FortunatoLosso Netto, Lázaro Pinto Sam-paio, Domingos José Aldrovandi,José Ozores, Carlos Henrique Li-beralli, Bento Dias Gonzaga eCarlos Aldrovandi. À frente dasentidades que apoiaram a criaçãoda FOP esteve o Rotary.

Carlos Henrique Liberalli foidesignado como primeiro diretor,em 1955. Em outubro de 1956 fo-ram nomeadosseus primeirosprofessores ef u n c i o n á r i o s ,contratados noano seguinte.Em abril de 1957as instalações –onde funcionarao Externato São José – foram vistoriadas. Em julho domesmo ano, o presidente da República Juscelino Ku-bitschek assinou o decreto-lei nº 41.781, que autorizou ofuncionamento da escola. No mesmo mês, ocorreram osprimeiros exames para admissão de alunos e, no dia 22,houve a aula inaugural para a primeira turma.

O curso de farmácia não chegou a funcionar. Retirou-se “farmácia” do nome da escola em 1967.

ENCAMPAÇÃO

Em 1967, a FOP foi encampada pela Unicamp (U-niversidade Estadual de Campinas), num processo

traumático. A reserva da cidade em relação à en-campação se devia, principalmente, à ameaça deque a Unicamp retirasse da FOP seus profissionaismais capacitados: “Quando se criou a Unicamp, Pi-racicaba e Rio Claro eram institutos isolados. Nãoexistia a Unesp. Campinas agregou as faculdadesque ficavam mais perto. Ela precisava das áreasbiológicas e da saúde”, conta o professor FaustoBérzin, presidente da Comissão Comemorativa dos50 Anos da FOP.

A comunidade piracicabana se organizou contra oque julgava um acordo desigual. O jornalista Fortuna-to Losso Netto alertava para a possibilidade de que os

alunos da FOP tivessem que freqüentar as disciplinasbásicas do curso em Campinas.

Antevendo o crescimento do movimento contra aencampação, o reitor da Unicamp, Zeferino Vaz, pro-curou mostrar aos piracicabanos que a anexação nãoiria esvaziar a FOP. Com o apoio de Liberalli, ele veiovárias vezes a Piracicaba, participar de conferênciase encontros, nem sempre serenos, nos quais a ques-tão foi intensamente debatida. Como moeda de troca,Vaz prometeu investimentos em ensino, pesquisa enovas instalações. De fato, em 1977, foi inaugurado onovo prédio da FOP/Unicamp, onde a faculdade fun-ciona até hoje.

Uma luta coletivaFOP

FOP econselho têm

‘berço emcomum’

A Faculdade de Odon-tologia de Piracicaba e oConselho Coordenadordas Entidades Civis(CCECP) têm um berço emcomum. As dificuldadespara a implantação da es-cola levaram as entãochamadas “forças vivas”de Piracicaba à constata-ção de que a cidade preci-sava de mais organizaçãopolítica para gerir seuprogresso e resolver seusproblemas. A criação doconselho aconteceu emabril de 1956 e teve à fren-te Fortunato Losso Netto,Philippe Westin Cabralde Vasconcelos e Alcidesdi Paravicini Torres.

Além da organizaçãopara a instalação da FOP,outras lutas e aconteci-mentos, então recentes, dahistória de Piracicaba co-laboraram para o apare-cimento do ConselhoCoordenador. Exemplossão a controversa demoli-ção do teatro Santo Este-vão, as campanhas pelaconstrução e implementa-ção das estradas que liga-vam a cidade às princi-pais estradas estaduais eàs cidades vizinhas, acampanha contra a polui-ção do rio Piracicaba, en-tre outros.

Ao longo dos anos,

FOP e CCECP mantive-

ram os laços estabeleci-

dos desde seu aparecimen-

to. Segundo os pesquisa-

dores Márcia e Ruy Costa,

que preparam um livro

sobre a história do Conse-

lho Coordenador, “o con-

selho continuou apoiando

as ações da FOP, como

aconteceu com a Campa-

nha dos Bons Dentes. E

depois, também, alguns

professores e alunos da

FOP vieram a ser presi-

dentes do conselho, como

Fausto Bérzin”.

Em 2007 o Conselho

Coordenador completa

51 anos de participação

direta em mais de 400

ações, apresentando e de-

batendo propostas,

acompanhando e geren-

ciando a prestação de

serviços e cobrando a so-

lução de problemas. (Pa-

trícia O. Polacow)

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Atendimentoà comunidade

sempre foiuma das

marcas daFOP

Liberalli,Zeferino

Vaz ePlinio

Alves deMoraes,

responsá-vel por

conseguira verba e

peladoação doterreno do

atualprédio da

FOP

Alunos daprimeiraturma daFOP, em1957,aprendemo ofício naprática

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QUARTA-FEIRA, 4 DE JULHO DE 2007 FOP 50 anos JORNAL DE PIRACICABAE-2

Unicamp surgiu em 1966

Criada por lei em 1962, a Unicamp(Universidade Estadual de Campi-nas) –– à qual a FOP (Faculdade deOdontologia de Piracicaba) per-tence –– foi instalada no dia de 5 de

outubro de 1966, data do lançamento da pe-dra fundamental de seu campus central.Nascida de um plano-piloto idealizado porZeferino Vaz, seu fundador, a Unicamp esca-pou à tradição brasileira da formação deuniversidades pela simples justaposição decursos e áreas ao longo do tempo; a diferen-ça é que sua existência foi precedida por umprojeto. No ano passado a universidade com-pletou 40 anos.

O projeto de instalação da Unicamp veioresponder à crescente demanda por pessoalqualificado numa região do país, o Estado deSão Paulo, que já na década de 60 detinha 40%da capacidade industrial brasileira e 24% desua população economicamente ativa. Antesmesmo de se iniciar sua instalação, a Unicampjá havia atraído para seus quadros mais de 200professores estrangeiros das diferentes áreasdo conhecimento e cerca de 180 vindos das me-lhores universidades brasileiras.

CONTEMPORANEIDADE – Hoje a Uni-camp é uma das principais universidades bra-sileiras e da América Latina. É conhecida tantopela excelência de seu ensino quanto pela reali-zação de pesquisas avançadas nas áreas em queatua: as ciências exatas, tecnológicas, biológi-cas, humanas e as artes. A Unicamp respondesozinha por cerca de 15% de toda a pesquisauniversitária brasileira e por 10% da produçãode teses de pós-graduação no país.

Seus campi estão em Campinas, Piracicabae Limeira e seus 34 mil alunos estão distribuí-dos entre 58 cursos de graduação e 127 progra-mas de pós-graduação. A qualidade da forma-ção oferecida pela Unicamp tem relação diretacom a estreita relação que mantém entre ensi-no e pesquisa, mas também com o fato de que87% de seus professores atuam em regime dededicação exclusiva e 96% têm titulação míni-ma de doutor.

A Unicamp é uma instituição que mantémfortes vínculos com a sociedade por meio deinúmeras atividades de extensão e serviços, emparticular na área de saúde. Sua área hospita-lar é referência e cobre uma população de maisde cinco milhões de pessoas.

Ao mesmo tempo, a importância sócio-eco-nômica de suas pesquisas no campo da física,da química, da biologia, da computação e dasengenharias atraiu para o seu entorno váriosoutros centros de pesquisa, além de um impor-tante parque empresarial nas áreas de teleco-municações, biotecnologia e tecnologia da in-formação. (Marcela Benvegnu)

Não são apenas os alunosque viram nascer a FOP(Faculdade de Odonto-logia de Piracicaba) quese orgulham de um dia

ter passado por ali, mas tambémaqueles que ingressam em suas tur-mas em outras épocas. E há aquelesque se sentem honrados de ao invésde seguir na carreira clínica, ajuda-ram no funcionamento da institui-ção, vivenciando o seu dia-a-dia. Fazparte dessa leva Sérgio FranciscoMazzoneto, 70, que atuou por 40 anosna área de prótese dentária, e Enil-son Antônio Sallum, 38, atualmentecoordenador da área de graduação.

Mazzonetto se recorda que ti-nha tudo para cursar agronomia na

Esalq (Escola Superior de Agricul-tura Luiz de Queiroz), devido à suainfância na fazenda. Mas com a no-tícia de que a FOP iria fazer o pri-meiro vestibular, não pensou duasvezes em agarrar a oportunidade.Em meio a 90 candidatos e 20 vagas,foi classificado em 19º lugar. Depoisdisso, dedicou toda a sua carreiraprofissional à instituição.

Com o diploma na mão, em 1960,Mazzonetto foi convidado a fazerparte do quadro de funcionários, naárea de materiais dentários. Ele dizque nesse período o trabalho erasem remuneração, devido à fase dereestruturação da FOP. “Faltavamaterial humano e eu estava emcontato com o que havia de mais

moderno, mesmo que não ganhassenada. Era melhor do que sair e mon-tar consultório”, conta ele, que de-pois foi monitor de prótese e em se-guida assistente voluntário nessaárea. O próximo passo foi sua atua-ção como como professor de prótese.

Da FOP, Mazzonetto só saiu quan-do decidiu se aposentar, fato adiadoem dois anos, porque os alunos fize-ram um abaixo-assinado solicitandosua permanência até 1992. “Não melembro de ter inimigos nesse tempotodo. Eu não saia de lá. A turma erapequena, a amizade era muito gran-de. Peguei amor por aquilo. Almoça-va e jantava aquilo”, completa.

Pertencente a uma outra gera-ção de formados pela FOP, Enilson

Antônio Sallum, 38, diz que esco-lheu a odontologia pelo seu aspectohumano, principalmente pela pos-sibilidade de levar o bem às pes-soas. Por outro lado, na coordena-ção do setor de graduação da insti-tuição, ele descobriu a paixão pelaárea científica, levando o conheci-mento aos milhares de alunos quepassam por ali, colaborando para acomplementação do conhecimentoem sala de aula. “A FOP é uma insti-tuição que ocupa posição de desta-que. Na área científica, é uma dasque mais produz. E sempre foi pio-neira no currículo de graduação”,diz ele, que viu na profissão algo amais que o talento para curar e ti-rar a dor das pessoas.

Faculdade já formou 4.594 profissionais LEANDRO CARDOSO

[email protected]

AF O P(Facul-d a d ed eO d o n -

tologia de Piracicaba), criadano dia 20 de janeiro de 1955, co-meçou a funcionar em 4 de julhode 1957, sendo incorporada àUnicamp (Universidade Esta-dual de Campinas) dez anos de-pois, no dia 31 de janeiro de 1967.Em 50 anos de história, a FOPformou 2.960 alunos no curso degraduação em odontologia e1.634 nos oito programas de pós-graduação (mestrado e doutora-do) que oferece. Nos 21 cursos deespecialização e atualização dis-ponibilizados à comunidadeacadêmica, 3.228 alunos já seformaram. A faculdade coorde-na ainda o Colégio Técnico dePrótese, no qual atualmente 60estudantes estão matriculados.

O campus da FOP em Pira-cicaba tem uma área total de 85mil metros quadrados, dosquais 19 mil metros quadradosde área construída. Os prédiosabrigam, além de alas adminis-trativas e salas de aula, sete de-partamentos e 35 laboratórios,conforme informações da as-sessoria de comunicação da fa-culdade. A biblioteca da unida-de ocupa uma área de 1.000 me-tros quadrados, onde estão ca-talogados 11.710 volumes com

material de apoio aos trabalhosde estudo e pesquisa.

O corpo docente da FOP éformado por 84 professoresdoutores, dos quais 32, ou 38%do total, possuem pós-doutora-do no exterior. O elevado graude especialização dos professo-res se traduz em referência naqualidade do ensino. Na áreade pós-graduação, três dos qua-tro programas considerados deexcelência em odontologia noBrasil pela Capes (Coordena-ção de Aperfeiçoamento de Pes-soal de Nível Superior) são dafaculdade piracicabana: os cur-sos de clínica odontológica, deestomatopatologia e de odonto-logia. Prova da importância dapós é o fato de a FOP figurar, co-mo unidade isolada, no rankingdas 20 universidades brasilei-ras com a maior produção deartigos científicos sobre saúdee biologia ente 2001 e 2003.

Para 2007, o orçamento dafaculdade é de R$ 31,1 milhões,montante repassado à institui-ção de ensino pelo governo es-tadual. A maior parte do recur-so, cerca de 90%, é empregadana folha de pagamento de pro-fessores e funcionários. O res-tante do dinheiro, pouco maisde R$ 3 milhões, é direcionadopara gastos de custeio (manu-tenção e material de consumo)e para o pagamento de contra-tos de fornecimento de água,energia elétrica e telefone.“Não sobra nada para fazer in-vestimentos. A diferença é que

temos uma forte capacidade decaptação de recursos externos.Visitamos outras universida-des e vemos que a maioria nãotem esse perfil”, afirmou o pro-fessor Marcelo de Castro Mene-ghim, diretor associado.

Além do orçamento esta-dual, a FOP conta com recursosdecorrentes dos cursos de espe-cialização e de financiamentosde pesquisas. Os valores oriun-dos do pagamento de mensali-dades dos programas de espe-cialização e atua-lização ajudamno custeio da es-cola, conformeFrancisco HaiterNeto, diretor dafaculdade. “Partedesses recursos fi-ca para a institui-ção somar na ma-nutenção”, afir-mou. Apenas estes cursos são pa-gos, uma vez que os de graduaçãoe pós-graduação são gratuitos. Aprevisão é que neste ano estes re-cursos extras somem R$ 250 mil.

Entre 2005 e 2006, estudan-tes da FOP conseguiram R$ 2milhões para o financiamentode pesquisas junto à Fapesp(Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado de São Paulo).Recursos da Capes chegaram aaproximadamente R$ 600 milno período, mesmo valor dire-cionado pelo CNPq (ConselhoNacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico) a pes-quisadores da FOP. “Quando se

apresenta um projeto de pes-quisa, os avaliadores analisamse é preciso solicitar a comprade equipamentos, de materialde consumo e de produtos im-portados. E isso gera benefícioà faculdade, já que esses equi-pamentos usados nas pesquisassão doados aos laboratórios dainstituição”, explicou Haiter.

Aumentar a verba estadualdirecionada à FOP é pratica-mente impossível, segundo odiretor. As três universidadespúblicas paulistas (Unicamp,USP e Unesp) recebem 9,57% daarrecadação de ICMS (Impostosobre a Circulação de Mercado-

rias e Serviços) do Estado. “AUnicamp como um todo recebe2,1% disso e a nossa parte, nesteano, é R$ 31,1 milhões. Não temcomo aumentar”, falou. Em2006, as universidades pediramque o índice de repasse aumen-tasse para 10% do ICMS, mas oprojeto não passou na Assem-bléia Legislativa. Agora, a Uni-camp tenta aumentar em 0,05ponto percentual a sua partici-pação no bolo do imposto paraque seja construído um segun-do campus da universidade emLimeira. A proposta ainda estáem tramitação na Assembléia.

Com o novo campus na cida-

de vizinha, a 39 quilômetros dePiracicaba, a intenção é abrir1.000 vagas em cursos tecnológi-cos. Apesar do aumento aindanão ter sido aprovado, o gover-no estadual direcionou R$ 20milhões para a etapa inicial dasobras do prédio de Limeira, cu-jo custo total é estimado em R$80 milhões. O 0,05 ponto percen-tual a mais representaria cercade R$ 20 milhões por ano, valorque seria usado inicialmentepara a edificação do novo cam-pus e posteriormente incorpo-rado ao orçamento geral da Uni-camp para a manutenção dosnovos cursos.

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ExpedienteEditora responsável: Rosemary BarsEditora-adjunta: Simone Toledo Leme CândidoEdição: Cristiane SanchesEditor de fotografia: Bolly VieiraDiagramação: Altair BarbeiroTratamento de imagens: Cristiano Prata Gerente comercial: Wilson TietzGerente-geral: Nobumitsu Chinen

Futuro está na engenharia genética

Trinta e oito dos 50 anos daFOP (Faculdade de Odon-tologia de Piracicaba) fo-ram acompanhados deperto pelo professor José

Ranali, 58, ex-diretor da instituiçãoque há dois anos é chefe de gabineteda reitoria da Unicamp (Universida-de de Campinas). Desde que inicioua graduação, em 1969, não deixoumais a faculdade. Tornou-se profes-sor em 1973, cursou mestrado e dou-torado em farmacologia na FOP e foidiretor entre 1994 e 1998. Nestes 38anos, conta ele, os novos conheci-mentos e descobertas tecnológicasna área da saúde permitiram avan-ços significativos nos meios de diag-nóstico, formas de tratamento e nouso de materiais na odontologia. Pa-ra os próximos 30 anos, Ranali vis-lumbra uma guinada ainda mais ra-dical: a nova odontolo-gia vai incorporar ele-mentos da engenhariagenética e possibilitarmudanças no controlede doenças.

“Em 30 anos, podemos esperaruma mudança radical no enfoque dotratamento. O dentista do futuro te-rá que ter uma formação profissio-nal muito forte nas áreas de micro-biologia, fisiopatologia da dor e eminformática para saber trabalhar da-dos e analisar o paciente como umtodo, além de também estar prepara-do para ajudar em sistemas de auto-mação para a construção de próte-ses”, afirma. A aposta na engenha-ria genética é pela sua capacidade depossibilitar o mapeamento do pa-ciente desde o início da vida, proce-dimento que estabelecerá o poten-cial de cada um à ação dos microor-ganismos que causam cáries, doen-ças periodontais e que podem levar àperda do dente. “A prevenção seráainda mais precoce”, diz o professor.

Nos casos em que a prevençãonão for suficiente para evitar os pro-blemas, a engenharia genética, de

acordo com Ranali, deverá ter condi-ções de proporcionar a reconstitui-ção biológica do tecido dental perdi-do, abolindo a necessidade de obtura-ção ou restauração dos moldesatuais. “Hoje já temos tentativas deconstrução de órgãos a partir de cé-lulas-tronco, que podem ser direcio-nadas à reconstrução de um dente.Ainda não há um domínio total sobreesta área, mas é um avanço que pode-mos esperar nos próximos anos”,afirma Ranali. A nanotecnologia,acredita o professor, também deve sealiar à odontologia num futuro pró-ximo, principalmente na administra-ção de medicamentos de ação contradores e inflamações crônicas, sinto-mas típicos da doença periodontal.

A relação atual entre odontolo-gia e engenharia genética, especial-mente no seu uso clínico, ainda é tí-mida na avaliação do ex-diretor daFOP. “Alguns avanços já existem,

mas neste foco serão necessários aomenos dez ou 20 anos para que che-gue ao clínico de maneira sistemáti-ca e regular”.

Cirurgicamente, ressalta o pro-fessor, a odontologia já utiliza méto-dos com resultados mais positivosna correção de deformidades faciais,como a artroscopia (técnica menosinvasiva usada em articulaçõesorais e mandibulares). Os avançosmais significativos, porém, diz ele,ocorreram na seara dos implantes.

Novas técnicas, incorporadas àsclínicas nos últimos anos, revolucio-naram o tratamento reabilitador, deacordo com Ranali. “Hoje não se falamais em dentadura. Temos técnicasde implante muito mais apuradas.Certamente elas ainda não chega-ram a toda população, mas isso ocor-re de forma consistente. Os mate-riais ainda têm um custo relativa-mente alto, mas a tendência é que fi-

quem mais acessíveis”. A populariza-ção dos procedimentos que ainda es-tão por vir, conforme o professor, nãodepende apenas do avanço da tecnolo-gia. “No Brasil, temos que atender àspessoas com tratamento curativo e aomesmo tempo mudar essa cultura deprevenção, que não se dá apenas comtratamento preventivo. É necessárioque haja o desenvolvimento econômi-co do país para tirar as pessoas da li-nha da miséria e dar educação, que éa principal ferramenta para melho-rar questões de saúde”, opina.

A Faculdade de Odontologia dePiracicaba, segundo José Ranali, vaicontribuir na formação do novo pro-fissional da área, papel que já desem-penha atualmente ao oferecer condi-ções para que estudantes e professo-res se dediquem à elaboração de pes-quisas de qualidade em diferentesáreas de atuação profissional e aca-dêmica. (Leandro Cardoso)

A honra de servir à FOP

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Orçamento daFOP para este

ano é de R$ 31,1

milhões:insuficiente

parainvestimentos

Para Ranali,a prevenção

será cada vezmais precoce

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QUARTA-FEIRA, 4 DE JULHO DE 2007FOP 50 anosJORNAL DE PIRACICABAE-3

Produção científica é intensaMURILO BIAGIOLI

[email protected]

AF O P(Facul-dade deOdonto-logia de

Piracicaba) da Unicamp (Uni-versidade Estadual de Campi-nas) aparece como referênciada odontologia brasileira, prin-cipalmente quando se fala emprodução científica. As princi-pais descobertas desse ramo damedicina no país são feitas pelainstituição, que concentra 23%dos artigos científicos do Brasilna área publicados nos bancosde dados internacionais e queservem de parâmetros para odesenvolvimento da atividade.

Entre 1998 e 2003, foram pu-blicados 1.013 estudos da FOPem bancos de dados da literatu-ra internacional na área de saú-

de e biologia, conforme dadosda revista especializada Braz JMed Biol Res –– no país foram4.404. O quadro fez com que ainstituição fosse a única facul-dade isolada no ranking das 20universidades mais produtivasdo Brasil, estando em 18º lugar.

O professor doutor JaimeAparecido Cury, na FOP desde 21de março de 1974, disse que a fa-culdade sempre se destacou emciência, até pelo fato de ter sidofundada por pesquisadores. Noentanto, de acordo com ele, os úl-timos três anos foram ainda maisimportantes para a odontologiabrasileira, que produziu mais doque todo o século passado.

“Houve mudanças nos crité-rios de avaliação dos cursos depós-graduação, que ficarammais claros a partir de 1998, fi-zeram a odontologia se destacare possibilitou um salto de quali-dade significativo”, afirmou.

Cury faz parte do departamentode ciências fisiológicas da FOP eé o atual coordenador do CA-O-dontologia do CNPq (ConselhoNacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico).

Para ele, uma das diferen-ciações foi o fato de as universi-dades, principalmente a odonto-logia brasileira, passarem aadotar na Capes (Coordenaçãode Aperfeiçoamento de Pessoalde Nível Superior) e no CNPqcritérios internacionais de ava-liação da produção científicados docentes. Com isso, desen-volveram planos de metas, espe-cialmente para a publicação deartigos científicos em revistasde alto nível, o que exige tam-bém mais investimentos e pro-fissionais qualificados.

“Um dos indicadores disso éque hoje a FOP é referência e,sozinha, concentra na áreaodontológica 25% dos pesquisa-

dores do CNPq, mostrando coe-rência e correspondência dosindicadores”, falou.

De acordo com o professor,o incentivo às pesquisas sem-pre partiu dos próprios cientis-tas, dispostos e dedicados, e aoambiente de tra-balho. Uma cultu-ra adquirida dosprimeiros “fopia-nos”, que tinhamhá 40 anos publi-cações reconheci-das e citadas porpesquisadores do exterior.

A qualidade da FOP, confor-me Cury, está ainda no sistemada Unicamp em avaliar os pro-fessores a cada três anos. “Osdocentes são obrigados a entre-gar relatórios de atividades comensino e produção científica, oque mantém o nível sempre al-to”. A faculdade possui ainda86% de seus cerca de 90 docen-

tes em regime integral (77), sen-do que 38% deles possuem pós-doutorado no exterior (34).

O professor considerou ain-da que a tendência da FOP é con-tinuar crescendo, mas desde queo país mantenha sua linha de fi-nanciamento de pesquisas que,segundo Cury, são caras e depen-dem de materiais importados.“Caso contrário, sem dinheiro de

financiamento o nível cairá”, de-clarou.

Além dos financiamentos apesquisas, outra preocupaçãodo educador é a manutençãodos recursos humanos, ou seja,a necessidade de uma políticade renovação para manter pro-fessores e pesquisadores e ga-rantir o futuro do ensino e dasinovações científicas.

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Inovação é palavra-chave nas pesquisas

Abusca pela inovaçãopassou a ser um dosprincipais parâme-tros para a elabora-ção de pesquisas na

FOP (Faculdade de Odontologiade Piracicaba) e tem garantidotrabalhos importantes não ape-nas para a área médica, mastambém para o cotidiano daspessoas. Próteses mais moder-nas e tratamentos mais eficazespara doenças da boca são al-guns dos exemplos das mudan-ças, nem sempre percebidas pe-la população.

No entanto, quando se vis-lumbra uma contribuição futu-ra, uma das descobertas maisrelevantes da FOP é a identifi-cação humana. O coordenadordos programas de pós-gradua-ção Mário Alexandre Coelho Si-nhoreti afirmou que a técnicacriada pelos pesquisadores éuma opção ao tradicional e podeser implantada sem grandes

custos, desde que haja umaorientação aos dentistas para secriar um banco de dados.

“Geralmente as identifica-ções humanas são feitas por im-pressão digital ou arcada dentá-ria, que podem ser modificadaspor causa de acidentes. Pelo es-malte do dente, que apresentapadrão similar ao observadonas impressões digitais, é possí-vel fazer essaidentificação”,disse. A descober-ta é pioneira nomundo e atual-mente usada emlaboratórios. Se-gundo Sinhoreti,bastaria uma análise microscó-pica para fazer as comparaçõese definir a identidade da pessoa.

Atualmente, de acordo como coordenador, os estudos maisrecentes são desenvolvidos demaneira sigilosa. Apesar daspesquisas nos diferentes seto-

res da FOP –– a pós-graduaçãotem cursos de clínica odonto-lógica, odontologia, estomato-patologia, materiais dentá-rios, biologia bucodental, ra-diologia odontológica e mes-trado profissional em odonto-logia e saúde coletiva ––, to-das possuem um fator em co-

mum. “É preciso que sejaminovadoras.”

Essa inovação, conforme Si-nhoreti, garante a publicaçãoem revistas internacionais euma produção contínua, quedistancia a FOP das outras fa-culdades da área. Dos sete cur-

sos de pós listados acima, ostrês primeiros são de excelên-cia, de um total de quatro exis-tentes no país. “Nosso primeiroobjetivo é formar o professor edepois o pesquisador”, falou.

As descobertas científicasacabaram se tornando uma es-pécie de conseqüência dos es-tudos desenvolvidos. Traba-lhos que mostram que situa-ções estressantes, alteraçõesemocionais ou ansiedade con-tribuem para o mau hálito;que o fruto da planta Rhediabrasilienis, conhecida comobacuri ou bacupari, pode com-bater o câncer, já que possuiatividade antitumoral, e queaté criam perspectivas positi-vas para a elaboração de umavacina anticárie, tomando co-mo base crianças brasileirasde apenas um ano e que pos-suem anticorpos capazes de in-terferir na colonização da bac-

téria causadora da cárie.Para o coordenador da

pós, existe uma cultura depesquisa já enraizada na FOP,que contribui para explicaros avanços científicos alcan-çados. “Vários fatores leva-ram a isso, como os professo-res da FOP que fizeram pós-doutorado no exterior e trou-xeram para cá uma cultura depesquisas mais aprofunda-das, mantendo os laços comas universidades estrangei-ras”, declarou.

Segundo Sinhoreti, ao menos50, dos cerca de 90 professores daFOP, já passaram por universida-des fora do Brasil. “É comumainda alunos da pós-graduaçãofazerem a parte experimental daespecialização no exterior e oresto no país. Quando retornam,trazem esse conhecimento. Éuma roda-viva, que vai aumen-tando.” (Murilo Biagioli)

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FOP deixa marcas em ex-alunos

Em 1957, há exatos 50anos, a FOP (Facul-dade de Odontologiade Piracicaba) abriaa sua primeira tur-

ma. Daquele ano para cá, a fa-culdade recebeu milhares dealunos, que hoje estão espalha-dos pelo mundo. Muitos atuamem consultórios, outros parti-ram para uma carreira acadê-mica e alguns até desistiram docurso no meio da trajetória. In-dependente do caminho peloqual optaram, todos têm em co-mum a marca de terem sidoalunos da FOP.

Ex-diretor daFaculdade deOdontologia deBauru, EymarSampaio Lopes,71, foi aluno daprimeira turmade odontologia daFOP. “Éramos uma turma de 20alunos e todos se formaram em1960. Foi um período maravilho-so”, conta em entrevista ao Jor-nal de Piracicaba por telefone.“Quando me formei fui fazer es-pecialização em outra universi-dade porque tinha intenção devoltar e trabalhar na FOP, quenaquela época já era reconheci-da como das melhores universi-dades do país. Meus planos aca-baram não dando certo porqueme transferi para a USP (Uni-versidade de São Paulo) e depoispara a Faculdade de Odontolo-gia de Bauru.”

Lopes afirma que mesmosem poder voltar à faculdade –seja como aluno dos cursos demestrado ou doutorado e mes-mo como professor – esteve nainstituição inúmeras vezes de-pois de graduado. “Tenho mui-

tos amigos que ministram aulasaí. Sempre tive uma relaçãomuito grande com a FOP. Tenhomuito prazer em ir a Piracicabae ver como a faculdade cres-ceu”, revela. “A minha forma-ção foi na FOP. Sem os ensina-mentos dos meus professores ese eu não tivesse acreditado na-quela primeira turma, não seriao que sou hoje.”

ESPECIALIZAÇÃO

Outra carreira, marcada pe-lo sucesso e pelos ensinamentosda FOP, é a de Angelo Seco, 39,que se divide como profissionalem seu consultório odontológi-co em Piracicaba e como coorde-nador do curso de odontologiada Unip, de Campinas. Seco seformou na Universidade Fede-ral de Porto Alegre, em 1992, elogo entrou no mestrado da FOP.

“Era o melhor curso da época”,conta o profissional, que em1995 já fazia seu doutorado –uma tese ligada a ortodontia –pela mesma faculdade. “Foi em2000 que comecei a dar aulas nocurso de odontologia da Unip deCampinas e dois anos depois, as-sumi a direção do curso.”

Seco conta que passou de1993 a 1993 na FOP. Foi na facul-dade que fez todos os seus cur-sos de especialização, os quais,segundo ele, foram necessáriose indispensáveis para sua atua-ção. “Foi a base de tudo. Apren-di até conceitos administrati-vos, pois participei como repre-sentante dos alunos no conselhouniversitário da FOP”, conta odentista, que hoje ministra cur-sos na Associação dos Cirur-giões Dentistas de Campinas edá aulas de prótese e implante.(Marcela Benvegnu)

Os 50 anos de fundação – completadosneste 4 de julho pela FOP (Faculdade deOdontologia de Piracicaba) – serão come-morados hoje com uma sessão solene, apartir da 10h, no salão nobre da institui-ção. A informação é do professor FaustoBérzi, presidente da comissão organiza-dora das festividades do cinqüentenárioda faculdade.

Segundo ele, serão homenageados noveex-diretores da instituição, além de funcioná-rios antigos e ex-presidentes do centro acadê-mico, na sessão que será presidida pelo dire-tor da FOP, professor Francisco Haiter Neto.

A solenidade – que será encerrada comcoquetel – contará ainda com a participa-ção especial do coral da Cosan e da bateriada FOP, que recepcionará os convidados.

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FOP faz sessão solene hoje

Cury: incentivo à

pesquisa sem-pre partiu dos

professores

Descobertascientíficas se

tornaramconseqüência

dos estudos

Seco fez todosos seus

cursos deespecialização

na FOP

Page 4: Mau Halito na revista FOP(Faculdade de Odontologia de Piracicaba)

E-4 QUARTA-FEIRA, 4 DE JULHO DE 2007 FOP 50 anos

LEANDRO CARDOSO

[email protected]

Pr o f e s -sor-titu-lar daárea deradiolo-

gia, Francisco Haiter Neto,43, assumiu a direção da FOP(Faculdade de Odontologiade Piracicaba) em 29 de agos-to de 2006 para quatro anosde mandato. Natural de Le-me, Haiter se graduou nasFaculdades Integradas deUberaba (MG) e tem pós-dou-torado pela Universidade deWashington. Fez mestrado naFOP e foi contratado comoprofessor da instituição em1989. Os 50 anos de fundaçãoda faculdade, de acordo como diretor, devem ser marcadospor uma aproximação aindamaior da instituição de ensi-no com a sociedade. “A FOPtem a função e o objetivo deatender à comunidade. A for-mação do profissional tem queestar focada no atendimento àpopulação”, disse. Uma dasprincipais metas neste sentidoé a construção doCentro ClínicoMultidisciplinar,cujo funciona-mento aumenta-rá em 40% o nú-mero de atendi-mentos prestadospela FOP.

Jornal de Pi-racicaba – Qual é a atual si-tuação do projeto do novoprédio?

Francisco Haiter Neto –Apresentamos o projeto do Cen-tro Clínico Multidisciplinar pa-ra as autoridades municipais,estaduais e federais para conse-guirmos a verba necessária. Es-tamos na fase final de elabora-ção da proposta que será levadacom o apoio do prefeito BarjasNegri aos ministérios da Saúde,Educação e da Ciência e Tecno-logia com o objetivo de viabili-zar a construção desse prédio,já que temos a contrapartida deR$ 1 milhão da Unicamp para aobra. A construção custaria, nototal, entre R$ 3,5 milhões e R$ 4milhões. Depois ainda precisa-remos de mais dinheiro para fi-nalizar a instalação dos equipa-mentos, mas para isso tambémestamos trabalhando em buscade recursos. A previsão é de queaté o final deste ano tenhamosalguma resposta positiva sobrea liberação dos recursos. O pro-jeto executivo prevê 90 consul-tórios, salas e laboratórios deapoio, além de um anfiteatro.

JP – A FOP atende hojecerca de 38 mil pacientes porano entre as clínicas de gra-duação e especialização e emoutros departamentos e ser-viços. Com o novo prédio,qual deve o ser o aumento nonúmero de atendimentos?

Haiter – Com o prédio, estenúmero aumentaria em 40%. Onovo prédio terá o objetivo detrabalhar com os alunos de pós-graduação, que são profissio-nais já formados que estão se

especializando na faculdade.Nossa meta é aproveitar estamão-de-obra que já temos e quenão oferece um grande atendi-mento direto à população. Noscursos de pós, os estudantes au-xiliam os professores no ensinoda graduação, mas eles pode-riam também fazer o atendi-mento direto à população e terum horário reservado para isso,já que são profissionais forma-dos que poderiam nos ajudar aaumentar o número de atendi-mentos à comunidade em geral,principalmente a parcela maiscarente.

JP – O acesso da populaçãoa serviços gratuitos na áreada odontologia ainda é restri-to na maioria das cidades?

Haiter – De uma maneirageral, as cidades estão procu-rando, por meio dos seus cen-tros de odontologia especializa-da, aumentar esse atendimento,mas ainda existe a limitação damão-de-obra. Por isso estamoscolocando profissionais já qua-lificados, que estão se qualifi-cando ainda mais, para reforçaresse atendimento, completandoa estrutura de saúde da cidade.

JP – O projeto Pró-Saúdetambém é parte deste reforço?

Haiter – Certamente. O Pró-Saúde vai equipar com todos osrecursos necessários sete UBS(Unidades Básicas de Saúde) darede municipal de Piracicaba elevar até elas alunos de gradua-ção, orientados por professores,para atenderem a população emseu local de origem. O pacientenão se deslocará à faculdade.

Irá às UBSs para ter acesso aosatendimentos básicos de promo-ção de saúde bucal. E no prédioda FOP localizado no centro dePiracicaba teremos mais 20equipamentos para os atendi-mentos mais complexos, quetambém serão realizados poralunos de graduação. No prédiodo Centro também teremos sa-las de capacitação dos dentistasda rede públi-ca. Oferecer aoprofissional darede públicauma atualiza-ção de conhe-cimentos setraduz na ca-pacitação des-ses dentistas.

JP –Quando oprojeto come-ça a funcio-nar?

Haiter – O Pró-Saúde estáem fase de implantação. 2007 é oprimeiro ano, quando estão sen-do comprados todos os equipa-mentos e reestruturada a gradecurricular do curso de gradua-ção para que as atividades doprojeto sejam inseridas. A par-tir de 2008, os alunos irão àsUBSs fazer atividades de pro-moção de saúde bucal, ensinan-do a educação para a saúde.Com todos os equipamentos,alunos de terceiro e quarto anosjá vão começar a atender essespacientes no prédio do Centro enas unidades. O Pró-Saúde é de-senvolvido em parceira entre aFOP e a Prefeitura de Piracica-ba e custeado com verba daOMS (Organização Mundial da

Saúde). O recurso é de R$ 1,1 mi-lhão para três anos de funciona-mento e prevê todo o processo:implantação, equipamentos,material de consumo e gastosde adaptação das instalações. AFOP apresentou o projeto e foiuma das 17 faculdades de odon-tologia do Brasil, entre as 172existentes, que conseguiramser contempladas.

JP – Háoutros pro-jetos desen-v o l v i d o spor meio deparcer iasna cidade?

H a i t e r– Temostambém oSempre Sor-rindo, quef u n c i o n a

desde 2000 em parceira entre aFOP, a prefeitura e empresa Bel-go. Crianças de sete a dez anosda rede municipal de ensino sãoatendidas de graça no nosso pré-dio do Centro. São em torno de3.000 por ano. A prefeitura dis-ponibiliza o transporte, a Belgocusteia o atendimento e a FOPentra com os equipamentos, re-cursos humanos e a orientaçãoaos alunos. As crianças saemdurante o horário de aula, sãoatendidas e voltam para a esco-la. Os recursos da Belgo tambémcusteiam o atendimento dascrianças que precisam de trata-mentos de maior complexidade.

JP – Quais outros servi-ços oferecidos pela FOP à co-munidade?

Haiter – Não podemos es-quecer que a FOP participa emvárias áreas de atuação socialjunto à comunidade, como porexemplo nos serviços de medi-ção de flúor na água, que são fei-tos pela área de bioquímica; oatendimento às gestantes e be-bês, o serviço de radiologia e ode dor orofacial. A inserção daFOP na sociedade tem duas vias:atender a população e servir co-mo referência para assessorarPiracicaba e cidades da regiãoem questões e assuntos para osquais está altamente capacitada.

JP – Como se dá essa atua-ção regional da FOP?

Haiter – Se dá em diversosníveis. Há a relação oficial pormeio de convênios e pelo papelda universidade na comunida-de. Recebemos visitas de coor-denadores da área de odontolo-gia de outras cidades que co-nhecem como fazemos o plane-jamento para atendimento e le-vam os modelos para os seusmunicípios. Os pacientes de ci-dades vizinhas que apresen-tam problemas mais gravesvêm ser atendidos aqui. Alémdisso, a FOP forma profissio-nais em graduação, pós e espe-cialização de todo o Brasil. Nagraduação, menos de 5% dosalunos são de Piracicaba. Te-mos estudantes de todos os Es-tados, inclusive os que vêm deoutros países.

JP – A faculdade tambémdisponibiliza cursos de capa-citação profissional?

Haiter – No ano passado játivemos e nesse ano teremos de

novo um curso de capacitaçãopara dentistas da rede munici-pal de saúde. Quanto mais se ca-pacita estes profissionais queestão em contato direto com apopulação, aumenta e muito onível do atendimento. O impac-to positivo é revertido em bene-fício direto para a população.Temos também os cursos técni-cos profissionalizantes no pré-dio do Centro. Gratuitamente,30 pessoas são formadas porano na área de próteses odonto-lógicas. Agora estamos nosreestruturando para voltar aoferecer o curso de THD (Técni-co em Higiene Dental), que fun-cionou até 2003. Queremos ex-pandir o ensino técnico na cida-de, dando subsídio para toda aregião na formação das equipesde saúde bucal, ainda deficitá-rias, dentro das unidades dePSF (Programa Saúde da Famí-lia). A idéia é retomar o cursoem 2008, com 30 vagas.

JP – Desde que o senhorestá à frente da direção daFOP, quais têm sido as deci-sões internas para melhoraro funcionamento do campus?

Haiter – Buscamos viabili-zar recursos dentro do orça-mento anual da FOP, que é de R$31,1 milhões em 2007, para refor-mar alguns laboratórios e exe-cutar melhorias em nossa infra-estrutura. Num futuro breve,com recursos da reitoria, va-mos asfaltar o estacionamentoque fica na parte frontal do ter-reno da faculdade. Temos aindacomo prioridades a reforma dobiotério e do laboratório de ana-tomia, além da construção deum local específico para guar-dar produtos químicos adequa-damente. Outros projetos nãoenvolvem modificações, mas aparte de currículo dos alunos.Temos as adequações dentro daLei de Diretrizes Curricularespara inserir as disciplinas doPró-Saúde e a reestruturaçãodas áreas de pré-clínica.

JP – Quais são os desafiosda FOP para os próximosanos?

Haiter – Temos dois desa-fios básicos: ampliar nossas ins-talações e manter o nível de ex-celência em ensino e pesquisa.Cada vez mais os laboratóriosprecisam receber equipamen-tos e não temos área para isso.Aumentar o espaço físico é umgrande desafio, juntamente coma construção do Centro ClínicoMultidisciplinar. Outro desafioé manter nosso nível de excelên-cia. Chegar ao topo tem um cus-to, mas se manter nele o custo éainda maior. Mas isso eu confioaos nossos professores pesqui-sadores. É um desafio que va-mos conseguir alcançar porcausa da qualidade e da dedica-ção do nosso corpo docente. Sóquatro cursos de pós-graduaçãono Brasil são considerados deexcelência. Três são da FOP: osde clínica odontológica, de esto-matopatologia e de odontologia.Ser de excelência significa sercomparado a qualquer curso in-ternacional.

Mais perto da comunidade

Procurados por dentis-tas, alunos de odonto-logia ou de outrasáreas biológicas, oscursos de extensão da

FOP (Faculdade de Odontologiade Piracicaba) são a alternativapara os profissionais que bus-cam maior qualificação pormeio de atualização ou especia-lização técnica. Anualmente,cerca de 300 alunos passam emmédia pelas mais diferentes mo-dalidades de cursos oferecidospela instituição de ensino.

Os cursos de extensão, ex-plica o professor Frederico An-drade e Silva, 58 – responsávelpela Coordenadoria de Exten-são da FOP – foram criados ofi-cialmente no Brasil a partir daConstituição de 1988. “O artigo207 da Constituição fala que asuniversidades gozam de autono-mia didática, científica, admi-nistrativa, de gestão financeirae patrimonial e que obedecerão

ao princípio da indissociabili-dade entre o ensino, a pesquisae a extensão”, lembra.

Segundo o coordenador, oscursos de extensão da FOP so-mam 31 modalidades e estão di-vididos em três categorias: deespecialização (16), de atualiza-ção (14) e de mestrado profissio-nalizante (a instituição ofereceum curso ligado àárea da saúde pú-blica). “Esses cur-sos recebem gen-te do Brasil intei-ro”, conta o coor-denador.

Os cursos deespecialização –que exigem a graduação doparticipante – têm duração quevaria de um a dois anos. “Essescursos oferecem tecnologiacientífica e cultural a longoprazo, têm duração mínima de360 horas”, esclarece Silva. Jáos de atualização, ele completa,

são concluídos entre seis me-ses e um ano e têm carga horá-ria média de 60 horas. E podemser freqüentados por alunos degraduação ou técnicos. “Sãoaqueles que visam atualiza-ções profissionais de momen-to”, conta.

Entre os cursos de especiali-zação mais procurados, diz ocoordenador, estão os de endo-dontia (tratamento de canal),ortodontia e prótese dentária.Na área de atualização, lembraSilva, as três categorias tam-bém figuram entre as mais re-quisitadas, já que a FOP dispo-

nibiliza cursos preparatóriospara as três especializaçõesmencionadas.

A FOP ainda oferece umaenorme variedade de cursoscomo: dentística, implanto-dontia, disfunção têmporo-mandibular e dor orofacial,microbiologia médica e oral,radiologia odontológica e ima-genologia, periodontia, saúdecoletiva, odontogeriatria,odontopediatria, marketing egestão em saúde, estética emdentística, diagnóstico bucal eoutros tantos “São sempre cur-sos presenciais, pois têm ativi-dades psicomotoras, quer di-zer, o exercício clínico, que apessoa não pode fazer à distân-cia”, observa Silva.

De acordo com o coordena-dor, a procura desses cursos porex-alunos da FOP é bem grande.Cerca de 30% dos matriculadosjá passaram pelas salas de aulada faculdade.

O goiano Hugo Felipe do Va-le, 21, graduado pela faculdadeem 2006, é um desses casos. Des-de março ele freqüenta o cursode especialização na área de pe-riodontia, que dura 21 meses,buscando ampliar seu repertó-rio profissional. “Dentro domercado de trabalho eu vejouma greande necessidade gran-de de especialização”, analisa odentista.

Os cursos da FOP, explica ocoordenador, incluem discipli-nas teóricas, laboratoriais e hu-manidades. “Primamos pelaformação do homem, e não so-mente pela formação de técni-cos”, analisa. “Um exemplo dis-so é que nós temos um ofereci-mento de bolsas enorme”. Ou-tro importante aspecto, comple-menta Silva, é que os cursos daFOP são – de maneira contínua– reformulados e atualizadosconforme as necessidades domercado de trabalho. (MarceloRocha)

Cursos de extensão somam 31 modalidades

Número de

atendimentos

deve crescer

40% com

novo prédio

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Andrade e Silva é

responsávelpela Coorde-

nadoria deExtensão

Haiter:‘Desafio é

ampliar asinstalações e

manter o nívelde excelência

em ensino epesquisa’

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JORNAL DE PIRACICABA