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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OEO documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
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APELAÇÃO CRIME Nº 905.045-7, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - 11ª VARA CRIMINAL
APELANTE: MAURÍCIO DE CASTRO CRISTO APELADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO
PARANÁ RELATOR : DES. JOSÉ CICHOCKI NETO
APELAÇÃO CRIME – EXTORSÃO – ART. 158, CAPUT, DO CP –
SENTENÇA CONDENATÓRIA – INSURGÊNCIA DO RÉU – PLEITO
ABSOLUTÓRIO – IMPOSSIBILIDADE – AUTORIA E MATERIALIDADE
DEVIDAMENTE COMPROVADAS - PALAVRA DA VÍTIMA
CORROBORADA PELOS DEPOIMENTOS DOS POLICIAIS E OUTROS
ELEMENTOS ACOSTADOS AOS AUTOS - RELEVÂNCIA E VALIDADE –
SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação
Crime nº 905.045-7, do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de
Curitiba - 11ª Vara Criminal, em que é Apelante MAURÍCIO DE CASTRO
CRISTO e Apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.
I - O representante do Ministério Público, no uso de suas
atribuições legais, ofereceu denúncia contra Mauricio de Castro Cristo como
incurso nas sanções do artigo 158, caput, c/c artigo 71 (em relação a cada uma
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das vítimas) e artigo 69 (quanto a ambas as vítimas), todos do Código Penal
pela prática, em tese, dos seguintes fatos delituosos:
1) “Em datas não precisadas nos autos, porém sabendo-se ser
durante o ano de 2005, por diversas vezes, na Rua Dr. Otacílio
Terra da Costa, nº 69, Barigui Estação, Cic, nesta Capital, o
denunciado MAURÍCIO DE CASTRO CRISTO, dolosamente, ciente
da ilicitude de sua conduta, com o intuito de obter para si indevida
vantagem econômica, constrangeu a vítima Helqueus de Moraes,
proprietário da loja Mercatudo Baratão, a entregar-lhe,
semanalmente, mercadorias diversas (dentre elas, panelas,
brinquedos e quinze aparelhos “Makita”, no valor de cinquenta reais
cada um – fls. 59/60), mediante grave ameaça, alegando ser chefe
da comunidade cigana do Paraná, identificando-se falsamente como
policial civil e afirmando que a vítima deveria obedecê-lo para
“assegurar a sua segurança e a de seu comércio”.
2) “Em data não precisada nos autos, porém sabendo-se ser
durante o ano de 2005, por diversas vezes, na Rua René Amberto
Emilio Conte, nº 46, Vila Verde Cic, nesta Capital, o denunciado
MAURÍCIO DE CASTRO CRISTO, dolosamente, ciente da ilicitude
de sua conduta, com o intuito de obter para si indevida vantagem
econômica, constrangeu a vítima Nelson da Rosa Branco a
entregar-lhe, semanalmente, cinco aparelhos “Makita”, no valor de
cinquenta reais cada um, mediante grave ameaça, identificando-se
falsamente como investigador da polícia civil e afirmando que se a
vítima não efetuasse as entregas nos prazos, “daria um jeito e
implantaria algo para prendê-lo” (fls. 02/04).
Instruído o processo, o MMº Juiz de Direito da 11ª Vara
Criminal do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba
proferiu sentença (fls. 245/254) na ação penal nº 2005.12085-4, julgando
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parcialmente procedente a denúncia condenando o acusado como incurso nas
sanções do artigo 158, caput, do Código Penal (2º fato) e, absolvendo das
sanções do artigo 158, caput, do Código Penal (1º fato), com fundamento no
artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, tornando a pena definitiva
em 04 (quatro) anos e 06 (seis) meses de reclusão em regime aberto e 20
(vinte) dias-multa, arbitrando o valor do dia-multa em 1/30 (um trigésimo) do
salário mínimo vigente na época dos fatos.
Deixou de aplicar a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, assim como a suspensão condicional da
pena. Concedeu o direito ao réu de apelar em liberdade. Não fixou valor
mínimo para reparação de danos.
Inconformado o réu apelou. Alegou que, não restam
verdadeiras as acusações, havendo relações jurídicas entre as partes de
diversas naturezas, quebradas por desentendimentos, levando a vítima a uma
denunciação caluniosa e, ainda, com insuficiência de provas.
Requereu a absolvição do apelante, com fulcro no artigo
386, incisos II, IV, V e VII, do Código de Processo Penal (fls. 264/280).
Em contrarrazões o Ministério Público manifestou-se pelo
desprovimento do recurso impetrado (fls. 282/284).
A douta Procuradoria Geral da Justiça opinou pelo
conhecimento e desprovimento da apelação, mantendo-se a sentença
proferida (fls. 297/302).
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É o relatório.
II - Presentes os pressupostos processuais, conheço do
recurso.
No mérito, não merece prosperar a postulação de
absolvição formulada.
A materialidade delitiva restou devidamente
consubstanciada através do Boletim de Ocorrência de fls. 07, do Auto de
Exibição e Apreensão de fls. 09, nos Termos de Assentada de fls. 98/99 e
100/101 e nas declarações das vítimas.
A autoria, da mesma forma, restou certa, conforme se
verifica do Auto de Reconhecimento de fls. 65, e das declarações prestadas
tanto na fase inquisitorial (fls. 08, 63/64, 98/101) quanto em Juízo (CD-Rom).
A vítima Nelson da Rosa Branco, em sede inquisitorial
(fls. 08), minudenciou com precisão a forma como os fatos se sucederam, in
verbis:
"Que o declarante informa que em data que não se recorda, mas
cerca de 01 ano, estava em sua residência, quando foi surpreendido por quatro pessoas que
adentraram em seu imóvel mediante força física e se intitulando policiais, os quais chegaram a
algemar o declarante dizendo que se caso não entregasse dinheiro aos mesmos iriam prendê-
lo, implantando algo no declarante; que diante de tal fato o declarante foi obrigado a pagar a
quantia de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) aos mesmo; que a partir de tal data, o declarante
começou a receber a ‘visita’ de um dos elementos, o qual se identificou como sendo Maurício
de Castro Cristo, e que era Investigador da Polícia Civil, onde apresentava uma carteira com
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símbolo de Detetive; que o declarante informa que tal pessoa compareceu em seu imóvel por
diversas vezes, não sabendo precisar quantas, utilizando diversos veículos; que o declarante
informa que desde janeiro do corrente ano, Maurício ordenou para que o declarante toda a
semana lhe entregasse 5 maquitas, as quais custam R$ 50,00 a unidade, sempre lhe
ameaçando dizendo que ‘caso não lhe entregasse no prazo, daria jeito e implantaria algo para
prender o declarante’; que diante de tais ameaças, e medo de represálias contra si mesmo e
contra sua família, o declarante começou a entregar as maquitas referidas para Maurício; que o
declarante informa que em razão de não aguentar mais tal extorsão, veio até esta Unidade
Policial noticiar o ocorrido, no entanto, esta com medo de represálias por parte de Maurício".
A vítima, Helqueus de Moraes por sua vez, declarou no
11º Distrito Policial da Comarca de Curitiba, que:
“(...) o declarante esclarece que é proprietário da Loja Mercatudo
Baratão e que questão de cinco meses atrás esteve na loja do declarante dois homens que
perguntaram se tinha maquita para vender. Que o declarante disse que não tinha naquele
momento, porém, viajava todas as semanas para o Paraguai e que poderia trazer. Que eles
encomendaram cinquenta maquitas ao preço de cinquenta reais cada uma. Que marcaram
para quarta feira da semana seguinte quando iriam concretizar o negócio. Que no entanto,
devido a cota legal, o declarante conseguiu trazer apenas cinco maquitas e quando foi na
segunda feira, compareceu na loja, sozinho, a pessoa posteriormente identificado como
Maurício de Castro Cristo e chamou o declarante até o carro dele, um pálio de cor branca,
quando dentro do carro ele, aparentando estar nervoso e as vezes trêmulo, retirou do bolso da
camisa uma carteira e disse-: ‘vou abrir o jogo com você. Eu sou policial e quero cinco
maquitas por semana, chova ou fala sol, para assegurar a sua segurança e do seu comércio,
para você poder vender a vontade, sem ser incomodado’. Que o declarante a princípio pensou
em recusar tal proposta, porém, ele já retirando do porta luvas uma carteira disse que era chefe
dos ciganos no Estado do Paraná. Que o declarante perguntou a ele em qual delegacia ele
estava lotado e ele respondeu que-: ‘eu trabalho no Paraná inteiro’. Que o declarante não
querendo aceitar a tal proposta e ao mesmo tempo temendo sofrer represálias por trabalhar
com mercadorias que trás do Paraguai, acabou aceitando a proposta dele. E assim naquele dia
já entregou a ele cinco maquitas e depois ele passou todas as semanas quando entregou nas
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duas primeiras cinco maquitas, no total de quinze, e depois passou a entregar apenas três e
por fim, deixou de entregar as maquitas e ele entrava na loja e pegava mercadorias diversas,
panelas, brinquedos e outros que encontrava. Que por fim há questão de quarenta dias atrás
ele deixou de passar na loja, pois a situação ficou insustentável para o declarante, era muito
caro o que pagava para ele, pois a loja do declarante era pequena e tinha que viajar até duas
vezes por semana para o Paraguai para poder cumprir com o pagamento a ele. Que o outro
homem que acompanhava o Maurício foi apenas aquela vez acima citada junto com ele, as
demais vezes ele estava acompanhado da esposa dele e umas duas ou três vezes ela foi
sozinha e chegava e dizia-: ‘sou a esposa do cigano e vim pegar as ferramentas’ e o declarante
entregava a ela. Que não sabe dela, porém, poderá reconhecê-la. Que esclarece que nunca
falsificou mercadorias, ou seja, não colocava nas maquitas que trazia, selos ou qualquer outra
identificação de empresas nacionais. Que nunca deu dinheiro em espécie ao Maurício. Que
nesta Depol reconhecer sem a menor sombra de dúvidas a fotografia do Maurício de Castro
Cristo como sendo a pessoa que extorquiu o declarante se fazendo passar por policial civil.
Que esclarece que as vezes ele ia até a loja do declarante com um veículo Ipanema de cor
branca, com rodas de ferro de cor preta, com antena, com sirene (ele acionou uma vez),
porém, não anotou placa. Que o declarante conversando com Nelson da Rosa Branco, soube
por ele que desde o início deste ano, ele, Nelson, vinha sendo extorquido pelo ‘policial civil’
Maurício de Castro Cristo, ou seja, pagava a ele cinco maquitas por semana, bem como, numa
ocasião teve que pagar em dinheiro, não sabendo quanto” (fls. 63/64).
Ainda em fase inquisitorial, a vítima supracitada
reconheceu indubitavelmente o ora apelante como sendo o responsável pela
prática do crime de extorsão (fls. 61).
Em Juízo (CD-Rom) Nelson da Rosa Branco, ratificou as
declarações prestadas na fase extrajudicial, reafirmando que o acusado teria
exigido o pagamento, semanalmente, de 05 (cinco) ‘makitas’, mediante a
afirmação de que assim poderia realizar seu comércio de ferramentas vindas
do Paraguai tranquilamente. In verbis:
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"Que a vítima trabalhava como carpinteiro e vendia ferramentas que
trazia do Paraguai; que foi abordado por quatro pessoas que se identificaram como policiais
civis; que por trazer mercadorias do Paraguai sem nota fiscal acabou pagando a quantia de R$
4.000,00 (quatro mil reais) para os supostos policiais, com medo de ser preso; que a partir dali,
começou a entregar, semanalmente, para Maurício (um dos indivíduos que teria o abordado
anteriormente) 05 (cinco) ‘maquitas’; que era ameaçado por Maurício, caso não entregasse as
ferramentas; que revendia produtos do Paraguai há aproximadamente um ano; os produtos
eram vendidos em sua própria casa; que não tinha data certa para repassar as ‘maquitas’,
sendo que o acusado aparecia e levava as ferramentas; que Maurício mostrou à vítima um
crachá de policial; que não informou de qual delegacia era vinculado; que entregou as
ferramentas durante, aproximadamente, um ano; que a notícia foi parar na polícia porque
negociou um veículo com um cigano nômade alcunhado de ‘Galego’ e ele ficou devendo R$
1.300,00 (hum mil e trezentos reais), e por tratar-se de um cigano nômade, deixou como
garantia um veículo Monza; que dias depois ele retornou querendo levar o veículo Monza e
deixar no lugar o veículo Fiat Fiorino; que não aceitando o ‘Galego’ deixou o veículo Fiat Fiorino
na casa de Antonio Donizete do Prado; que Dozinte solicitou que o veículo fosse para a casa
da vítima, o que foi consentido; que o veículo Fiat Fiorino era de Maurício e este registrou
queixa de furto; que o veículo foi apreendido pela polícia; que a vítima foi chamada a prestar
esclarecimentos e na oportunidade registrou o Boletim de Ocorrência por extorsão contra o réu
Maurício; que ficou com um prejuízo de R$ 20.000,00 (vinte mil reais); que antes de extorquir a
vítima o réu já tinha ido na casa de Nelson para comprar ferramentas; que nunca vendeu
mercadoria com nota para o réu; não sabe onde Maurício mora; que não sabe quem é a
pessoa que ficou com os R$ 4.000,00 (quatro mil reais); que Maurício induziu a vítima a
acreditar que ele era da polícia civil; que repassava a mercadoria para poder trabalhar
sossegada; que tinha medo de Maurício prendê-lo pela sua atividade irregular; que na época
vendia bastante pela ausência de nota; que nunca mais viu o réu depois do Boletim de
Ocorrência; que conhecia a vítima Helqueus por viajarem juntos; que Helqueus faleceu em um
acidente, logo após o relato dos fatos na delegacia; que reconhece os produtos apresentados
às fls. 32 como sendo aqueles que entregava semanalmente ao réu; que já respondeu perante
a Receita Federal por algumas mercadorias não declaradas”.
De outro modo, há que se esclarecer que a vítima
Helqueus de Morais veio a falecer antes mesmo do encerramento do inquérito
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policial. Portanto, suas declarações não foram confirmadas em juízo.
Cabe ressaltar, neste ponto, que a palavra da vítima
(Nelson) em sede de delito contra o patrimônio adquire relevante importância
probatória, principalmente quando corroborada por outros elementos
comprobatórios juntados aos autos, como efetivamente ocorreu.
Neste sentido já decidiu este Egrégio Tribunal de Justiça:
“APELAÇÃO CRIMINAL CRIME DE EXTORSÃO ARTIGO 158, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL IRRESIGNAÇÃO MINISTERIAL
PLEITO CONDENATÓRIO VIABILIDADE - PROVAS SUFICIENTES DE AUTORIA E MATERIALIDADE PALAVRAS DA VÍTIMA E DOS POLICIAIS RELEVÂNCIA E VALIDADE RECURSO A QUE SE DÁ
PROVIMENTO. 1. Nos crimes patrimoniais, na maioria das vezes
perpetrados às ocultas, a palavra da vítima tem relevante valor
probante, sobretudo quando em consonância com os demais
elementos trazidos aos autos. 2. Os depoimentos dos policiais que
efetuaram a prisão em flagrante delito do acusado possuem eficácia
probatória, não podendo ser desconsiderados pelo só fato de emanar
desses agentes públicos” (TJPR - Ap. Crim. 699.070-7 (15.263) - 5ª
Câm. Crim. - Rel. Des. Marcos Vinicius de Lacerda Costa - public.
15.04.2011 - grifo nosso).
Apoiando os fatos narrados pelas vítimas, o Investigador
de Polícia Paulo Apóstolo Dantas declarou na fase extrajudicial (fls. 98/99), que “é chefe do setor de investigação desta Depol e tinha a informação de que um cigano afirmava
ser policial civil, apresentava-se com documentos e insígnia afirmando ser investigador de
polícia e extorquia Helqueus de Moraes, comerciante de produtos oriundos do Paraguai,
dizendo que ‘vendia proteção’ a ele. Que exigia dele cinco maquitas por semana e ia até a Loja
Mercatudo Baratão usando um veículo Chevrolet Ipanema de cor branca com sirene. Que por
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diversas vezes campanou o local visando a prisão em flagrante do tal cigano, porém, sem
sucesso. No dia 01 de novembro de 2005, juntamente com o investigador Lopes, efetuaram a
apreensão do veículo Fiat Fiorino de placas BPG – 9147-PR, com registro de furto (inquérito
policial nº 386/05), que estava estacionado na casa de Nelson da Rosa Branco, que seria
comerciante de produtos oriundos do Paraguai e ele não se encontrava em casa e foi intimado
para comparecer nesta Depol e compareceu no dia 04 de novembro de 2005 e informou que o
veículo acima citado pertencia ao cigano Maurício de Castro Cristo que afirmava ser policial
civil e havia sido extorquido por ele quando pagou quatro mil reais e cinco maquitas por
semana para ter ‘proteção’ e para não sofrer represália. Maurício de Castro Cristo compareceu
nesta Depol e disse que havia adquirido maquitas de Nelson com o intuito de verificar se eram
falsas ou não, porém, dias depois, através de sua defensora afirmou que Nelson era
comerciante de produtos trazidos do Paraguay, em especial de máquinas de cortar cerâmicas
marca makita, as quais eram falsificas no Paraguay e trazidas para o Brasil onde eram
vendidas como verdadeiras, inclusive, com selo também falsificados. Por ocasião da apreensão
do veículo acima citado, o depoente pode verificar que a casa de Nelson da Rosa Branco, é
muito grande sendo usada como depósito de mercadorias do Paraguay, pois no quintal havia
diversas sacolas vazias e papéis de produtos paraguaios”.
Em perfeita harmonia com os fatos noticiados pelo chefe
do setor de investigação do 11º Distrito Policial desta Capital, o depoente
Nelson Luiz Lopes afirmou, também na fase extrajudicial (fls. 100/101), que: "(...) através do chefe do setor de investigação desta Depol soube que um cigano afirmava ser
policial civil, apresentava-se com documentos e insígnia e afirmava ser investigador de polícia
e extorquia Helqueus de Moraes, comerciante de produtos oriundo do Paraguai, dizendo que
‘vendia proteção’ a ele. (...) Nelson da Rosa Branco (...) compareceu no dia 04 de novembro de
2005 e informou que o veículo acima citado pertencia ao cigano Maurício de Castro Cristo que
afirmava ser policial civil e havia sido extorquido por ele quando pagou quatro mil reais e cinco
maquitas por semana para ter ‘proteção’ e para não sofrer represália".
Vê-se que os testemunhos dos policiais são claros e
coerentes e, portanto, têm elevado valor e eficácia probatória consoante a firme
jurisprudência dos Tribunais Superiores:
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"HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. PENA: 7 ANOS
E 4 MESES DE RECLUSÃO E 17 DIAS-MULTA. VALIDADE DOS DEPOIMENTOS PRESTADOS, EM JUÍZO, POR POLICIAIS QUE EFETUARAM A PRISÃO. PRECEDENTES DESTE STJ.
PRETENSÃO DE ABSOLVIÇÃO POR RECONHECIMENTO DE
INSUBSISTÊNCIA DAS PROVAS DOS AUTOS. REVOLVIMENTO
DE MATÉRIA FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA. ORDEM DENEGADA. 1. Conforme orientação há muito sedimentada nesta Corte Superior, são válidos os depoimentos dos policiais em juízo, mormente quando submetidos ao necessário contraditório e corroborados pelas demais provas colhidas e pelas circunstâncias em que ocorreu o delito, tal como se dá na espécie em exame. 2. A absolvição do paciente por
reconhecer a insubsistência do acervo probatório que dá suporte ao
decreto condenatório implica exame aprofundado das provas,
providência que refoge aos estreitos limites do Habeas Corpus. 3.
Ordem denegada, em consonância com o parecer ministerial" (STJ -
HC nº 156586 - 5ª Turma - Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho - DJ
de 24.05.2010 - grifo nosso).
"HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. ABSOLVIÇÃO.
FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO. TESTEMUNHO DE POLICIAIS. VALIDADE DA PROVA, MORMENTE QUANDO CONFIRMADA SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO.
CONTESTAÇÃO DO EXAME PERICIAL QUE AFASTOU A
DEPENDÊNCIA QUÍMICA DO ACUSADO. INVIABILIDADE DA VIA
ELEITA. 1. A alegação de insuficiência de provas para a condenação,
a pretensão absolutória esbarra na necessidade de revolvimento do
conjunto probatório, providência incompatível com os estreitos limites
do habeas corpus. 2. De se ver, ainda, os depoimentos dos policiais que efetuaram a prisão em flagrante constituem prova idônea, como a de qualquer outra testemunha que não esteja impedida ou suspeita, notadamente quando prestados em juízo
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sob o crivo do contraditório, aliado ao fato de estarem em consonância com o conjunto probatório dos autos. 3. Não há
como reconhecer a inimputabilidade do paciente quando o exame
pericial realizado constata que, ao tempo do crime, ele era
plenamente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. De mais a mais,
para se afastar essa conclusão, firmada pelas instâncias ordinárias,
seria indispensável o revolvimento do conjunto probatório, o que é
vedado na via eleita. 4. Embora o paciente tenha sido condenado
ainda na vigência da Lei nº 6.368/76, foram apontadas a reincidência
e a presença de circunstâncias judiciais desfavoráveis (maus
antecedentes, personalidade e conduta social), o que inviabiliza a
aplicação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/06 e impede seja estabelecido regime prisional menos
gravoso. 5. Ordem denegada" (STJ - HC n.º 98766 - 6ª Turma - Rel.
Min. Og Fernandes - DJ de 23.11.2009 - grifo nosso).
Deste modo, impende destacar que restou claro do
contexto fático-probatório, que o ora apelante agiu com o inequívoco ânimo de
obter vantagem econômica indevida, mediante grave ameaça – induzia a vítima
a pensar que se tratava de um policial e que mediante pagamento permitiria o
livre comércio de produtos trazidos do Paraguai sem nota fiscal.
Observe-se que a tipicidade da conduta descrita na
denúncia enquadra-se perfeitamente na previsão legal do artigo 158, caput, do
CP. O réu não se defende da capitulação jurídica denunciada, mas sim dos
fatos expostos na inicial. Por esse prisma, não há dúvida de que o delito
cometido foi o crime de extorsão.
Pondere-se que o elemento normativo do tipo consiste na
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locução "indevida", a qual representa vantagem contrária ao direito.
Sobre o tema, leciona Rogério Greco:
"(...) o agente deve constranger a vítima, impondo-lhe um
comportamento - positivo ou negativo -, determinando que faça, tolere que se faça, ou mesmo
deixe de fazer alguma coisa, a fim de que, com isso, consiga, para ele ou para outrem, indevida
vantagem econômica, que deve ser entendida em um sentido mais amplo do que a coisa móvel
alheia exigida no delito de roubo. Qualquer vantagem de natureza econômica, gozando ou não
do status de coisa móvel alheia, ou seja, passível ou não de remoção, poderá se constituir na
finalidade especial com que atua o agente" (Curso de Direito Penal. Parte Especial.
Impetus: p. 100).
Logo, diante dos fatos não há argumentos plausíveis que
possam conduzir a absolvição do apelante, razão pela qual mantenho a
decisão condenatória pelo crime de extorsão, pelos motivos acima explicitados.
Em face disso e por tudo o mais que dos autos consta,
conheço do presente recurso para, porém, lhe negar provimento, confirmando
in totum a bem lançada sentença monocrática.
III - DECISÃO:
Diante do exposto, acordam os Desembargadores
integrantes da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,
por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos da
fundamentação.
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Participaram da sessão e acompanharam o voto do
Relator a Excelentíssima Senhora Desembargadora SÔNIA REGINA DE
CASTRO, e a Juíza Convocada ELIZABETH PASSOS.
Curitiba, 06 de junho de 2.013.
ASSINADO DIGITALMENTE
Des. JOSÉ CICHOCKI NETO
Relator