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Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Sul Faculdade Senac Porto Alegre Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda LAURA DEPPERMANN MIGUEL MBARA-YÓ Uma Tradição Revisitada Porto Alegre 2014

MBARA-YÓ - Uma tradição revisitada

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Trabalho de Conclusão de Curso do Tecnólogo em Design de Moda da Faculdade SENAC-RS, por Laura Deppermann Miguel. Trata de uma coleção de Moda inspirada na Cerâmica e Cultura Marajoaras.

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  • Servio Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Sul

    Faculdade Senac Porto Alegre

    Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda

    LAURA DEPPERMANN MIGUEL

    MBARA-Y Uma Tradio Revisitada

    Porto Alegre

    2014

  • LAURA DEPPERMANN MIGUEL

    MBARA-Y Uma Tradio Revisitada

    Trabalho de concluso de curso, apresentado

    como requisito parcial obteno do grau de

    Tecnlogo em Design de Moda pela

    Faculdade Senac Porto Alegre.

    Orientador: Prof. Me. Raquel Barcelos de

    Souza

    Porto Alegre

    2014

    LAURA DEPPERMANN MIGUEL

  • MBARA-Y Uma Tradio Revisitada

    Trabalho de concluso do curso,apresentado

    como requisito parcial obteno do grau de

    Tecnlogo em Design de Moda pela

    Faculdade Senac Porto Alegre.

    Orientador: Prof. Me. Raquel Barcelos de

    Souza

    Aprovado pela Banca Examinadora em Novembro de 2014.

    Prof. Me. Raquel Barcelos de Souza

    Orientador Faculdade Senac Porto Alegre

    Prof. Me. Dbora Elman Faculdade Senac Porto Alegre

    Prof. Me. Renata Fratton Faculdade Senac Porto Alegre

  • Dedico este trabalho s minhas avs Paula (in memoriam) e Lia,

    pela inspirao, apoio e confiana. Dedico tambm ao meu tio Paulo

    Alexandre (in memoriam), por ter sempre acreditado em mim. E por

    fim, minha me, Ivone, pelo carinho, ajuda, pacincia, e por,

    principalmente, nunca ter me deixado desistir.

  • No estou apenas fazendo um vestido estou contando uma

    histria. O vestido importante, mas apenas parte da histria.

    Ralph Lauren

  • RESUMO

    O presente trabalho descreve o desenvolvimento de uma coleo de moda

    apresentada como Trabalho de Concluso do Curso Tecnlogo em Design de Moda

    da Faculdade Senac Porto Alegre. A coleo tem como tema principal a Cermica

    Marajoara, a configurao da Cultura Marajoara, a valorizao da cultura indgena

    paraense e o uso do grafismo indgena na arquitetura e moda brasileiros.

    Desenvolvida para o Vero 2014/2015, destinada a mulheres de 25 a 40 anos,

    com interesses culturais e estilo de vida independente e moderno. O trabalho segue

    as metodologias de Seivewright (2009), Renfrew & Renfrew (2010) e Treptow

    (2013). Os grafismos e as formas presentes na cermica inspiram a criao de trs

    famlias: Tangas, Igaabas e Muiraquits, que do forma coleo Mbara-Y.

    Palavras-chave: Coleo, moda, cermica marajoara, estampas.

  • ABSTRACT

    The following work describes the development of a fashion collection as a final

    paper for the Curso Tecnolgico em Design de Moda da Faculdade Senac Porto

    Alegre. The collections main themes are the Marajoaran Pottery tradition, the

    Marajoaran culture, the appreciation of the indigenous culture in the Brazilian state of

    Par and the use of indigenous graphisms in Brazilian architecture and fashion.

    Developed for the 2014/2015 summer collection, it is intended for women between

    the ages of 25 and 40 years old, interested in culture and an independent and

    modern lifestyle. The work follows the methodologies of Seivewright (2009), Renfrew

    & Renfrew (2010) and Treptow (2013). The graphisms and patterns in Marajoaran

    ceramics inspired the creation of three families that shape the collection: Tangas,

    Igaabas and Muiraquits.

    Keywords: Collection, fashion, marajoaran ceramics, prints.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Caderno de Esboos........................................................................... 15

    Figura 2 Caderno de Esboos........................................................................... 15

    Figura 3 Caderno de Esboos........................................................................... 15

    Figura 4 Quadro Metodolgico.......................................................................... 17

    Figura 5 Cermica de Icoaraci........................................................................... 18

    Figura 6 Porto da Casa Marajoara................................................................ 19

    Figura 7 Detalhe da Casa Marajoara.............................................................. 19

    Figura 8 Desfile Tufi Duek, 2012....................................................................... 20

    Figura 9 Linha do Tempo................................................................................... 21

    Figura 10 Tesos.................................................................................................... 24

    Figura 11 Mapa dos Tesos................................................................................... 25

    Figura 12 Tigela com Motivo Decorativo Interno e Externo................................. 27

    Figura 13 Vaso com Incises em Branco e Escises em Vermelho.................... 28

    Figura 14 Estatueta Antropomorfa....................................................................... 28

    Figura 15 Vaso Antropomorfo.............................................................................. 28

    Figura 16 Tanga Vermelha................................................................................... 29

    Figura 17 Tanga Decorada.................................................................................. 29

    Figura 18 Painel de Microtendncias................................................................... 32

    Figura 19 Painel de Microtendncias II................................................................ 33

    Figura 20 Painel de Pblico-Alvo......................................................................... 35

    Figura 21 Painel de Inspirao............................................................................. 36

    Figura 22 Silhueta I.............................................................................................. 37

    Figura 23 Silhueta II............................................................................................. 38

    Figura 24 Estampa I: Caranguejo........................................................................ 39

    Figura 25 Estampa II: Banquinho......................................................................... 40

    Figura 26 Estampa III: Faixa................................................................................ 41

    Figura 27 Processo de Serigrafia......................................................................... 43

    Figura 28 Fivela do Cinto..................................................................................... 43

    Figura 29 Placa do Colar...................................................................................... 43

    Figura 30 Cartela de Cores.................................................................................. 44

    Figura 31 Cartela de Materiais............................................................................. 46

  • Quadro 1

    Parmetro de Coleo.........................................................................

    47

    Quadro 2 Vestidos................................................................................................ 48

    Quadro 3 Blusas e Tops....................................................................................... 49

    Quadro 4 Coats e Saias....................................................................................... 50

    Quadro 5 Calas................................................................................................... 51

  • SUMRIO

    1 INTRODUO........................................................................................... 11

    2 METODOLOGIA........................................................................................ 13

    3 A ESTTICA INDGENA E A PRESENA DO GRAFISMO NA MODA

    BRASILEIRA.............................................................................................

    18

    4 MARAJ: HISTRIA E HERANA PARAENSE..................................... 21

    4.1 A GEOGRAFIA........................................................................................... 21

    4.2 A ILHA DE MARAJ ONTEM E HOJE...................................................... 22

    4.2.1 Civilizao Marajoara: Pr-Histria Brasileira............................ 23

    4.2.2 Arqueologia e descobertas.......................................................... 23

    4.2.3 Stios arqueolgicos: Tesos......................................................... 24

    5 A CERMICA MARAJOARA E O GRAFISMO........................................ 26

    5.1 TIPOS DE GRAFISMOS E SUAS APLICAES E SIGNIFICADOS ....... 27

    6 PESQUISA DE TENDNCIAS.................................................................. 30

    6.1 MICROTENDNCIAS................................................................................ 31

    7 PBLICO ALVO........................................................................................ 34

    8 APRESENTAO DA COLEO............................................................ 36

    8.1 BRIEFING.................................................................................................. 36

    8.2 ELEMENTOS DE ESTILO......................................................................... 37

    8.3 O DESENVOLVIMENTO DAS SILHUETAS.............................................. 37

    8.4 O DESENVOLVIMENTO DAS ESTAMPAS............................................... 38

    8.5 O DESENVOLVIMENTO DOS ACESSRIOS.......................................... 43

    8.6 CORES....................................................................................................... 44

    8.7 MATERIAIS................................................................................................ 45

    8.8 FAMLIAS................................................................................................... 47

    8.9 PARMETRO DE COLEO................................................................... 47

    9 QUADRO DE COLEO.......................................................................... 48

    CONSIDERAES FINAIS....................................................................... 52

    REFERNCIAS.......................................................................................... 53

    APNDICE A ESBOOS.......................................................................

    APNDICE B FICHAS TCNICAS........................................................

    57

    74

  • 11

    1 INTRODUO

    O presente Trabalho de Concluso de Curso traz uma coleo de moda que

    tem como tema a Cermica Marajoara e seus possveis desdobramentos grficos e

    formais. Fizemos uma pesquisa que abrange desde o antigo povo indgena

    marajoara, da Ilha de Maraj, no Par, at suas influncias na expresso grfica do

    sculo XX e sua continuidade na cultura contempornea do estado. A cermica

    marajoara considerada parte da identidade nacional, tendo sido explorada por

    designers no sc. XX e replicada por artesos h mais de 80 anos. Buscamos,

    portanto, fazer um breve levantamento histrico das aplicaes estticas a que estas

    peas deram origem, assim como colocaremos em questo o uso de grafismos

    tnicos indgenas na moda brasileira recente.

    O interesse pelo assunto surgiu durante o curso de Artes Visuais, onde a

    autora teve contato com a produo de arte cermica, seus mtodos de pintura e

    queima, despertando o interesse pelo desenvolvimento de uma pesquisa histrica

    sobre a tradicional cermica marajoara e o povo que a produzia. O livro Cultura

    Marajoara (2010) da pesquisadora Denise Schaan, utilizado naquele momento, veio

    a se tornar parte da bibliografia principal desse trabalho.

    Sabemos que a cultura e lngua brasileiras foram profundamente

    influenciadas pelos indgenas. Incontveis palavras de nosso vocabulrio tm

    origem tupi, e o conhecimento dos povos nativos atravessa geraes. inegvel a

    importncia de nossas razes indgenas, apesar da europeizao latente em nosso

    pas. Mesmo com etnias inteiras tendo sido dizimadas por doenas ou guerras

    trazidas pelo homem branco, tribos ainda sobrevivem com dificuldade no contexto

    contemporneo. A marginalizao do ndio o tira de sua terra e o coloca mesmo por

    vezes como parasita da sociedade, quando este tenta sobreviver dentro dos

    grandes centros urbanos, como nos diz Darcy Ribeiro (1995). Mas, acreditamos que

    a identidade e orgulho indgenas devem ser devolvidos a esses descendentes e

    absorvidos pela nossa sociedade. Com esse trabalho, pretendemos auxiliar, mesmo

    que em pequeno grau, na difuso da Cultura, tradio e histria indgena paraense e

    no despertar do interesse de jovens estudantes de moda para esta rea que oferece

    infinitas possibilidades a serem exploradas.

    Este trabalho objetiva, portanto, realizar um estudo do grafismo e das formas

    da cermica da fase marajoara, explorando a herana esttica e grfica de suas

  • 12

    peas para a criao de uma coleo de moda feminina, destinada a mulheres de 25

    a 35 anos, pertencentes s classes A e B que se identifiquem com a marca brasileira

    Animale, possibilitando, atravs da moda, uma aproximao do pblico consumidor

    e acadmico com a pr-histria indgena brasileira representada aqui pela cermica

    marajoara. Sendo assim, traamos como objetivos especficos os seguintes:

    a) realizar uma reviso bibliogrfica buscando entender a configurao da Cultura

    Marajoara;

    b) utilizar os elementos do grafismo e as formas da cermica marajoara de forma

    urbana e contempornea no desenvolvimento de uma coleo de moda com

    foco na esttica indgena pr-histrica do norte brasileiro;

    c) desenvolver trs estampas a partir do grafismo encontrado em exemplares

    cermicos da Ilha do Maraj;

    d) utilizar as formas da cermica no desenvolvimento de silhuetas e modelagem

    para a coleo.

    Nosso texto foi estruturado em oito captulos, compreendendo os objetivos

    propostos. O captulo 1 introduz o trabalho. O captulo 2 abrange os aspectos

    metodolgicos do desenvolvimento. No captulo 3 abordamos a Cultura Marajoara,

    assim como sua histria antropolgica e geogrfica. No captulo 4 so explorados

    os aspectos estticos e grficos da cermica marajoara. No captulo 5

    apresentamos o trabalho de alguns designers, artesos e artistas que tenham

    explorado o grafismo tnico brasileiro e o indianismo. No captulo 6, apresentada

    a pesquisa de tendncias e delineamento do pblico alvo. Por fim, no captulo 7,

    apresentamos o desenvolvimento de estampas, silhuetas e cores utilizados, bem

    como as famlias, tabela de parmetros e quadro de coleo, dando forma

    coleo final, Mbara-Y: uma tradio revisitada.

  • 13

    2 METODOLOGIA

    Este captulo apresenta as etapas percorridas no desenvolvimento da

    presente coleo de moda. Foram usadas como referncia para mtodos de

    desenvolvimento de coleo de moda as bibliografias de Seivewright (2009),

    Renfrew e Renfrew (2010) e Treptow (2013).

    Segundo o primeiro autor, o delineamento de uma coleo deve

    necessariamente passar por uma srie de etapas, que organizam e auxiliam o

    designer no decorrer do desenvolvimento. Ele afirma que A pesquisa uma

    ferramenta imprescindvel no processo criativo e fornecer inspirao, informaes e

    direcionamento, bem como uma narrativa para a coleo. (SEIVEWRIGHT, 2009).

    O desenvolvimento do trabalho em questo partiu da escolha da temtica. Foi

    escolhida uma bibliografia base, composta por livros, artigos, revistas cientficas e

    catlogos museais e acadmicos.

    Para Seivewright (2009), a pesquisa visual deve partir do tema, sobre o qual

    realizamos uma profunda anlise visual de peas relacionadas ao mesmo, onde

    buscamos elementos para a consequente pesquisa de materiais. Posteriormente,

    iniciamos uma coleta e arquivamento de informaes e influncias estticas, como o

    uso do caderno de esboos e ferramentas digitais como o Pinterest,Tumblr e blogs,

    alm de pesquisa em livros, catlogos e revistas cientficas j mencionados. A

    pesquisa temtica tambm orientou a escolha de silhuetas que sero usadas nas

    peas da coleo, assim como materiais e acabamentos que dialoguem e tenham

    relao com o tema escolhido.

    Uma vez definida a temtica e a escolha das imagens, partiu-se para a

    pesquisa de tendncias, que, de acordo com Treptow (2013), deve ser capaz de

    perceber mudanas e direes no comportamento da sociedade e suas tendncias

    de consumo. Fontes para esse tipo de pesquisa, chamada por ela de primria, so

    os escritrios de previso de tendncias, por exemplo, que acompanham tanto os

    setores de mercado quando aspectos demogrficos e psicogrficos da sociedade.

    Porm, como a mesma autora nos diz: [...] a pesquisa em moda no linear. Ela

    utiliza fontes primrias e secundrias sem obedecer a uma ordem especfica para

    acumular informaes (TREPTOW, 2013), de modo que fizemos tambm uso de

    trabalhos acadmicos da rea da sociologia para traar o que Renfrew & Renfrew

    (2010) chamam de esprito do tempo.

  • 14

    Segundo Treptow (2013), a pesquisa chamada por ela de secundria de

    suma importncia para o desenvolvimento de uma coleo, pois ela abrange

    aspectos mais especficos relacionados tendncias, como por exemplo, a visita

    feiras de tecidos ou observao de desfiles de moda. Munido dessas informaes, o

    designer deve ento utilizar-se do tema escolhido para desenvolver uma coleo

    com uma identidade prpria.

    A partir das pesquisas, definiu-se o briefing, que de acordo com Seivewright

    (2009), estabelece a proposta da coleo a partir de itens como estao, tema,

    marca, pblico-alvo, nicho de mercado e dimensionamento da coleo. importante

    saber com clareza o tipo de consumidor que procurar seu produto. Buscamos

    portanto, uma marca que se adequasse ao tema escolhido e que j tivesse um

    pblico consolidado e fiel.

    A marca escolhida para o desenvolvimento da coleo foi a Animale,

    empresa brasileira, de segmento premium, que atende o nicho prt--porter, que

    condiz com o esprito da coleo e carrega o DNA da moda nacional. No mercado

    desde 1991, a Animale passou a desfilar tambm no SPFW com a Linha Concept,

    assinada atualmente pelo designer Vitorino Campos, depois de mais de uma dcada

    de fidelidade ao Fashion Rio. Suas linhas compreendem moda praia, acessrios,

    lingerie, festa e casual. Hoje figurando entre as 5 maiores empresas de moda do

    Brasil, a marca de abrangncia nacional, possuindo 73 lojas prprias e mais de

    500 pontos de venda.

    Aps a definio do briefing, foi realizada uma pesquisa de campo atravs

    de contato com fornecedores para conhecimento da disponibilidade de materiais no

    mercado, certificando-nos de que a preferncia pela utilizao de alguns itens

    especficos era vivel. A partir desta esta anlise, foi definido com base nos

    resultados e com o uso de um painel de inspirao a escolha de cores a serem

    usadas na coleo. Durante a pesquisa de tecidos, foi consultada a bibliografia de

    Pezzolo (2009), que auxiliou na escolha de materiais. Na fase seguinte, com o uso

    do caderno de esboos, realizamos a explorao de silhuetas e variaes de

    elementos de estilo para repetio, que segundo Seivewright (2009), d unidade e

    possibilidades de criao e variao de peas. A seguir, imagens do caderno de

    esboos:

  • 15

    Figura 1 Caderno de esboos. Figura 2 Caderno de esboos.

    Fonte: caderno de esboos da autora.

    Figura 3 Caderno de esboos.

    Fonte: caderno de esboos da autora.

  • 16

    Uma vez definidos os elementos de estilo e os tecidos, passamos para uma

    pesquisa que compreendesse a aplicao de estampas aos tecidos selecionados. O

    linho sendo uma matria natural, a tcnica de estamparia indicada e escolhida neste

    trabalho foi a serigrafia. Uma vez que a metragem para a confeco das peas

    reduzida, optamos pela serigrafia artesanal, realizada em atelier pela autora deste

    trabalho.

    A seguir, foi desenvolvido o planejamento da coleo atravs da quantidade

    de modelos e mix de produtos, distribudos, segundo Treptow (2013), entre as

    categorias bsico, fashion e vanguarda. Unidos, estes dados deram origem tabela

    de parmetros, que serviu como base para a concepo e escolha final de peas

    que entraram para a coleo final.

    Prosseguimos, ento, para o esboamento das peas. De acordo com

    Treptow (2013), os desenhos de croquis podem ser feitos mo ou com o auxlio de

    softwares de imagem. Realizamos, portanto, nossos croquis com o desenho manual

    em nanquim sobre papel com a posterior aplicao de cores e estampas com o

    programa Adobe Photoshop. Realizamos os desenhos tcnicos em linguagem

    vetorial utilizando o programa CorelDraw, onde podemos observar com clareza

    detalhes utilizados na fase de modelagem, pilotagem e produo final.

    Elaboramos a modelagem a partir da tcnica plana, realizando ajustes

    necessrios com o uso de manequim e tcnicas de moulage. Antes de realizada

    cada pea, produzimos um piloto para conferncia de medidas e costuras. As fichas

    tcnicas foram elaboradas segundo padro, descrevendo a sequncia operacional

    para produo das peas escolhidas. (TREPTOW, 2013)

    Ao final da produo das peas, produzimos um editorial fotogrfico que

    transmite os conceitos temticos abordados no trabalho e o esprito da coleo.

    O quadro metodolgico a seguir representa a estrutura utilizada no trabalho:

  • 17

    Figura 4 Quadro Metodolgico

    Fonte: elaborado pela autora deste trabalho.

  • 18

    3 A ESTTICA INDGENA E A PRESENA DO GRAFISMO NO DESIGN E

    MODA BRASILEIRA

    O fascnio pela esttica e temas indgenas tem se mostrado de muito

    interesse desde a chegada dos primeiros exploradores s Amricas, e vem sendo

    revisitado de tempos em tempos por designers, artesos e artistas. Foi nos anos

    1930, durante o governo de Getlio Vargas, que a identidade nacional entrou

    novamente em pauta e um movimento nativista tomou conta das manifestaes

    estticas e culturais do Brasil. A esttica Marajoara enquadrava-se perfeitamente

    nessa fase, e decoraes com grafismos, gregas e geometrismos invadiram a

    decorao de casas brasileiras de norte a sul. A esttica tomou conta tambm da

    arquitetura, e grandes nomes como Oscar Niemayer, Gladstone Navarro e Lcio

    Costa1 apropriavam-se da linguagem e adaptavam-na ao movimento modernista.

    Segundo Mrcio Roiter, presidente do Instituto Art Dco Brasil, os estilos indgenas,

    marajoara, tupi, tupinamb e guarani, tomaram conta da identidade brasileira no

    exterior, como o pavilho do pas na exposio O Mundo Portugus, em Lisboa,

    1940, que fora inteiramente decorado com adereos de inspirao marajoara. Ainda

    hoje, pode-se visitar marcos da arquitetura da poca, como a Casa Marajoara2, na

    Rua Paissand, Rio de Janeiro, ou na mesma cidade, o Palcio da Cultura. Estes,

    entre outros nomes, foram responsveis pelo que hoje consideramos o Art Dco

    brasileiro. Apesar de a empolgao inicial ter se dissipado ao longo do sc. XX, o

    tema ainda ressurge frequentemente, e sua esttica resgatada tanto no design e

    arquitetura como na moda.

    Figura 5 Cermica de Icoaraci

    Fonte: Ansio Artesanato (2014).

    1 Arquitetos brasileiros de grande influncia no Brasil do Sc. XX.

    2 Casa icnica do estilo Neomarajoara do sc. XX. Construda em 1937 por Salles & Navarro Ltda.

  • 19

    Figura 6 Porto da Casa Marajoara, RJ.

    Fonte: Instituto Art Dco Brasil (2010).

    Figura 7 - Detalhe da Casa Marajoara, RJ.

    Fonte: Instituto Art Dco Brasil (2010).

  • 20

    Marcas brasileiras, como Tufi Duek, j trabalharam com a temtica e suas

    abordagens so interessantes. Abaixo, vemos peas da coleo de Primavera/Vero

    2012 da Tufi Duek, que teve como tema o universo indgena brasileiro:

    Figura 8 Desfile Tufi Duek, 2012

    Fonte: FFW (2012).

    O uso do grafismo e principalmente os tranados de palha e o uso de contas

    e miangas foram profundamente explorados na coleo. A pintura corporal tambm

    apareceu em forma de acessrios para os braos feitos de metal e couro.

  • 21

    4 MARAJ: HISTRIA E HERANA PARAENSE

    Estudos realizados ao longo do sc. XX apontam que a Ilha de Maraj tenha

    sido palco de seis civilizaes, entre elas a Marajoara, que deu nome ilha e

    caracteriza o mais importante perodo histrico do local. A histria indgena na Ilha

    data de 1500 a. C., enquanto resduos do perodo marajoara datam de 400 d.C. a

    1100 d.C. No painel abaixo, podemos observar a evoluo civilizatria, que tem os

    Marajoaras como pice:

    Figura 9 Linha do Tempo

    Fonte: Schaan (2009).

    4.1 A GEOGRAFIA

    Segundo gelogos especializados, h milhes de anos, o Rio Amazonas

    corria no sentido contrrio, de leste para oeste. Apenas com os movimentos

    continentais finais e a formao da Cordilheira dos Andes que o rio encontrou seu

    caminho atual rumo nascente. Na desembocadura do rio, no Oceano Atlntico,

    houve a formao do arquiplago hoje chamado de Maraj.

    Com mais de 50 mil quilmetros quadrados, a Ilha de Maraj considerada

    a maior ilha fluvio-marinha do mundo, sendo banhada tanto pelo Oceano Atlntico

    quanto pelos rios Amazonas e Tocantins. Encontra-se no estado do Par, e o

    acesso feito via barco ou balsa pela capital Belm.

    Sua geografia variada, composta por floresta amaznica, mangues e

    plancies de campo, proporcionam diferentes paisagens e atividades,

    compreendendo, por exemplo, a pesca, a caa de caranguejos, criao de bfalos e

    a prpria produo da cermica. Suas plancies so facilmente inundveis durante a

  • 22

    poca das cheias, nos meses de maio a outubro. A ditadura da gua, como chama

    Giovanni Gallo (1979), dita as estaes: gua, lama, seca; o que levou os povos

    marajoaras pr-histricos a construir os chamados tesos, considerados verdadeiros

    morros artificiais que permitiam ao povo algum domnio sobre a prpria terra.

    4.2 A ILHA DE MARAJ ONTEM E HOJE

    Uma vez ocupada por uma populao de at 100 mil indgenas de um

    mesmo povo, segundo apontam especialistas, hoje em dia a Ilha de Maraj

    comporta 487.161 habitantes distribudos em 16 municpios, segundo o Censo 2010,

    realizado pelo IBGE.

    Acredita-se que a palavra Maraj tenha surgido de um vocbulo tupi,

    mbara-y, que quer dizer anteparo do mar. Os indgenas da poca, como o povo

    Guarani ou os Nheengabas3, conviviam pacificamente com os visitantes europeus,

    que haviam estabelecido um sistema de trocas e comrcio com os povos nativos. O

    territrio, apesar de considerado portugus pelo tratado de Tordesilhas, s

    despertou o interesse dos colonizadores na metade do Sc. XVII. Outros imigrantes

    europeus foram assim expulsos pelos portugueses com o apoio de algumas tribos

    locais. Os colonizadores aproveitaram-se da rivalidade entre tribos para enfraquecer

    o poder dos indgenas e assim tomar a ilha.

    Nos dias atuais, a criao de gado bubalino4 de grande importncia

    econmica para a Ilha do Maraj, assim como o turismo e o extrativismo mineral e

    vegetal. A arte da cermica foi resgatada por artesos, e apesar de sua produo

    ter comeado no final do sc. XIX com artigos utilitrios e pouco trabalhados, a hoje

    famosa arte do Par teve como mentores o artista letrista Antnio Farias Vieira, que

    na dcada de 1950 comeou a produzir cermica com motivos marajoaras a partir

    de fotografias antigas, e Mestre Cardoso, pesquisador e ceramista que resgatou,

    junto ao atual Museu Paraense Emlio Goeldi, o estudo da cermica local.

    Hoje em dia, a maior parte da cermica fabricada em Icoaraci5 devido

    abundncia de barro e grande quantidade de artesos. Ainda assim, os municpios

    3 Povos de origens semnticas distintas, mas que vieram a ocupar a Ilha de Maraj no mesmo perodo de

    tempo. 4 Bfalos.

    5 Cidade do interior do Par famosa pela produo artesanal de alta qualidade de cermica inspirada na Arte

    Marajoara.

  • 23

    de Santarm e Ponta das Pedras tambm se destacam pela produo dos itens

    decorados.

    4.2.1 Civilizao Marajoara: Pr-Histria Brasileira

    A ocupao indgena do territrio brasileiro se deu ao longo de grande

    perodo de tempo, e modificou-se com o passar dos anos como diz Darcy Ribeiro:

    A costa atlntica, ao longo dos milnios, foi percorrida e ocupada por inumerveis povos indgenas. Disputando os melhores nichos ecolgicos, eles se alojavam, desalojavam e realojavam, incessantemente. Nos ltimos sculos, porm, ndios de fala tupi, bons guerreiros, se instalaram, dominadores, na imensidade da rea, tanto beira-mar, ao longo de toda a costa atlntica e pelo Amazonas acima, como subindo pelos rios principais, como o Paraguai, o Guapor, o Tapajs, at suas nascentes.

    (Ribeiro, 1995. p. 29)

    Entre as tribos que se fixaram, os ndios do Maraj tomaram grande

    importncia. Os marajoaras foram considerados at pouco tempo como uma

    civilizao pr-histrica por serem anteriores criao de uma escrita fontica.

    Porm, j haviam superado o estado paleoltico de outras tribos habitantes do

    continente. Hoje em dia, a denominao correta histria pr-cabralina (Cunha,

    2008), pois compreende um conceito de histria no europeia. Apesar deste dado,

    os grafismos encontrados na cermica so considerados por muitos estudiosos

    como linguagem no falada, pois possuam significados e narrativas.

    4.2.2 Arqueologia e descobertas

    No sc. XIX, pesquisas de naturalistas europeus e oriundos da capital Rio de

    Janeiro enviados ao norte passaram a se ater a descobertas de resduos cermicos

    encontrados na Ilha de Maraj. Expedies como as Thayer e Morgan 6 foram feitas,

    e os primeiros textos relacionados ao assunto comearam a aparecer. Charles

    Frederick Hartt, naturalista ingls, por exemplo, foi um dos primeiros tericos a

    escrever sobre o assunto, como o livro The Ancient Indian Pottery of Marajo, Brazil

    que fala da Cermica Marajoara, entre outras descobertas relacionadas aos

    indgenas, de maneira extremamente descritiva e didtica. No texto, Hartt explora a

    6 Expedies cientficas realizadas no final do sc. XIX ao norte brasileiro com intuito de pesquisar com base em

    estudos naturais e antropolgicos a veracidade da teoria de Darwin contrastando-a com a teoria crist do criacionismo.

  • 24

    esttica de vasos, tangas, urnas e objetos, como muiraquits7 e figuras humanoides,

    encontrados no que ento se imaginaram ser extensos cemitrios da extinta

    civilizao. Hartt mostrou-se absolutamente encantado pelo tipo de ornamentao

    encontrada na cermica recm-descoberta. Ela era geomtrica e abstrata,

    completamente diferente do que o pesquisador imaginaria em um local to cheio de

    belezas naturais e inspiradoras.

    4.2.3 Stios arqueolgicos: Tesos

    Consistiam em enormes elevadas artificiais construdas pelo povo marajoara

    provavelmente entre 300 d.C e 1300 d.C consistem em um acmulo de terra no

    centro das ilhas fluviais inundveis, podendo ser considerados sobre-ilhas. Seu

    intuito era permitir que a vida em comunidade e o plantio no fossem interrompidos

    durante a poca das cheias. Os tesos variam de tamanho, tendo os menores de 10

    a 70m de comprimento e 5m de altura, usados principalmente para a habitao,

    segundo pesquisas arqueolgicas, at os maiores, que podem alcanar at 200m de

    extenso e 10m de altura. Nestes ltimos foi encontrado o maior nmero de peas

    cermicas decoradas, como urnas funerrias e miniaturas humanoides e

    antropomorfas. Segundo Schaan, a partir de pesquisas arqueolgicas, chegou-se

    concluso de que estes tesos teriam sido ocupados diversas vezes, e a cada

    ocupao servido com propsitos diferentes.

    Figura 10 - Tesos

    Ilustrao representando a configurao dos tesos. Fonte: Schaan (2009).

    7 Artefato talhado em pedra (esp. jade, pela cor esverdeada) ou madeira, representando pessoas ou animais

    (r, peixe, tartaruga etc.) ao qual so atribudas as qualidades sobrenaturais de amuleto. (Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa. RJ: Objetiva, 2001)

  • 25

    No Teso do Pacoval, por exemplo, encontram- se intercaladas camadas de

    urnas funerrias (tambm chamadas igaabas pelos locais) e itens ritualsticos com

    camadas de cermica domstica e mais simples. Uma pesquisa aprofundada por

    parte de arquelogos tambm concluiu que as camadas mais antigas apresentavam

    cermica de maior qualidade e de grafismos e desenhos mais elaborados, e as

    camadas mais recentes apresentam itens mais simples, levando-se a crer que a

    extino da civilizao marajoara deu-se aps perodo de declnio. Hoje em dia,

    depois da explorao irresponsvel e saqueamento dos stios arqueolgicos, muitos

    tesos j esto praticamente nivelados com o terreno original, dificultando o trabalho

    de arquelogos e historiadores.

    Figura 11 Mapa dos Tesos

    Alguns dos mais importantes tesos do Maraj. Fonte: Schaan (2009).

  • 26

    5 A CERMICA MARAJOARA E O GRAFISMO

    As primeiras descobertas relacionadas cermica marajoara se deram no

    sc. XVII, depois da invaso dos portugueses ao norte e nordeste brasileiro, ento

    ocupado por franceses, holandeses e ingleses. Hartt foi um dos primeiros

    pesquisadores a escrever sobre o assunto e a comparar a cermica encontrada na

    Ilha com a de outros locais e culturas antigas. No trecho a seguir, vemos como Hartt

    (1871) nos apresenta uma teoria em relao produo da cermica, aceita at

    hoje por especialistas:

    Segundo Hartt, seguindo-se a tendncia de outras tribos amaznicas terem sua cermica e cestaria produzida por mulheres, passou a acreditar e defender que a cermica marajoara era inteiramente obra de mos femininas. Hartt encontra respaldo mesmo em outras culturas: Na conferncia Beginnings of art, or evolution in ornament, apresentada por ele no ano anterior, Hartt destaca que no apenas a mulher indgena amaznica, mas tambm outras mulheres de outras culturas tradicionalmente praticavam a arte da cermica: em tribos na frica, e tambm entre os Papuanos e os Fijianos, a mulher a artista ceramista. Llewellyn Jewett pensa que as urnas funerrias celtas eram feitas e ornamentadas por mulheres.

    (KERN, 2013. p. 333)

    Acredita-se, portanto, mesmo nos dias de hoje, que a cermica seria de fato

    produzida por mulheres, apesar de a sociedade marajoara apresentar muitas

    diferenas em relao a outros povos que viviam no Brasil na mesma poca. A

    cermica da fase marajoara diferencia-se de outras encontradas na mesma regio

    pelo seu apuro e cuidado no desenvolvimento dos desenhos e incises nas peas.

    Segundo Schaan (2009), enquanto outras fases, anteriores e posteriores,

    apresentam desenhos mais simples ou cermica de qualidade inferior, a beleza e

    percia da cermica marajoara coloca esta civilizao como a de maior importncia

    na ilha, e considerada o auge do desenvolvimento civilizatrio na mesma.

    Podemos ver na figura abaixo um exemplar da cermica marajoara com um

    complexo trabalho grfico, tanto na parte interior quanto exterior da pea. Alm do

    trabalho com engobo8, a pea ainda foi polida e apresenta aspecto liso e alto grau

    de conservao.

    8 Segundo Schaan (2010): cermica diluda em gua e tingida com pigmentos, para pintura de peas cermicas

    j secas, mas ainda no queimadas.

  • 27

    Figura 12 Tigela com Motivo Decorativo Interno e Externo

    Fonte: Amorim (2010).

    5.1 TIPOS DE GRAFISMOS E SUAS APLICAES E SIGNIFICADOS

    A cermica marajoara segue um padro temtico de carter repetitivo,

    porm criativo e inventivo. Sua rica ornamentao encanta pesquisadores e

    amantes do assunto desde o sculo XIX, quando as primeiras teorias sobre a

    mesma surgiram, como nos exemplifica o trecho a seguir:

    Hartt tinha muitas razes para se interessar por aquela virtualmente desconhecida cermica marajoara: as peas eram ornamentadas de modo sofisticado, s vezes com pintura, s vezes com incises, e os padres ornamentais, com a predominncia de gregas e linhas retas, evocavam as artes decorativas encontradas nas antigas culturas europeias.

    (KERN, 2013. p. 331)

    Temas frequentes so os referentes aos animais, como onas, botos,

    macacos, peixes, tartarugas, pssaros, mas principalmente jacars, lagartos e

    cobras. As cobras aparecem principalmente como excises na cermica,

    aparecendo frequentemente em pares, formando desenhos simtricos. A cobra um

    animal de forte simbologia dentro do indianismo brasileiro, sendo foco e protagonista

    de mitos em diversas tribos do pas. Segundo Schaan, a cobra, que inspiraria os

    desenhos mais curvos e orgnicos na cermica marajoara, simbolizaria a unio do

    feminino e masculino, sendo considerada ento como sagrada. notado que a

    maior parte dos animais representados na cermica so tipicamente predadores ou

    animais no comumente caados. Estas figuras, como a cobra, escorpies ou

    animais considerados perigosos aparecem muito em igaabas e urnas funerrias.

  • 28

    Figura 13 Vaso com Incises em Branco e Excises em Vermelho

    Fonte: Amorim (2010).

    Figuras humanoides e representaes semelhantes tambm so

    frequentemente encontradas. Estas figuras possuem formato flico, mas

    caractersticas femininas. Podemos observar novamente, portanto, a importncia

    simblica da unio do feminino e masculino na mitologia marajoara. Figuras

    antropomorfas, vasos com feies humanas ou ainda animais de duas cabeas

    tambm so largamente encontrados, levando pesquisadores a crerem que a

    religio e mitologia marajoaras eram extremamente ricas, e de grande importncia

    social.

    Figura 14 Estatueta Antropomorfa Figura 15 Vaso Antropomorfo

    Fonte: Catlogo do Museu Paraense Emlio Goeldi (2010).

  • 29

    Outros temas recorrentes incluem ainda os desenhos extremamente

    grficos, muito representados em cermica domstica ou nas tangas. As tangas

    marajoaras, estas podendo ser divididas entre Tangas vermelhas, completamente

    pintadas com engobo e polidas, e tangas decoradas, usualmente pintadas em

    engobo branco e decoradas com engobo vermelho e preto.

    Figura 16 Tanga Vermelha Figura 17 Tanga Decorada

    Fonte: Amorim (2010).

    Pesquisadores afirmam a partir de estudos que contemplam o tamanho,

    formato e partes mais gastas dessas peas, que estas seriam usadas por mulheres

    e seriam feitas sob medida a partir da adolescncia, quando a ndia utilizava a tanga

    decorada, at a maturidade, quando passaria a usar a tanga vermelha. No se sabe

    se essas tangas seriam usadas cotidianamente, mas imagina-se que tivessem

    carter ritualstico ou festivo.

  • 30

    6 PESQUISA DE TENDNCIAS

    Segundo Treptow, a pesquisa de tendncias uma etapa essencial do

    desenvolvimento de uma coleo, pois ela indicar o caminho a ser seguido no

    conceito da mesma. Bureaus de tendncias e estilo fazem pesquisas com at quatro

    temporadas de adiantamento, antecipando os desejos e rumos que o mercado e a

    sociedade tomaro, servindo como base para os mais diversos segmentos de

    mercado, entre eles o da moda.

    Tendo este conhecimento em vista, passamos a pensar em o quo acelerado

    tornou-se o mundo do consumo e em como a globalizao tem uniformizado a

    maneira como nos portamos e nos vestimos. Ao mesmo tempo em que os meios de

    comunicao e a internet possibilitam uma troca de informaes e conceitos em

    tempo real, elas tambm uniformizam a nossa experincia sensorial e nossos

    mecanismos de desejo. A possibilidade de se acompanhar semanas de moda

    internacionais distncia de um clique, ou fazer compras atravs de um aplicativo

    de celular de uma grande cadeia de lojas da Europa, nos tira a conscincia da

    origem e caminho que essas informaes ou peas tiveram para chegarem at ns.

    Os fluxos culturais, entre as naes, e o consumismo global criam possibilidades de identidades partilhadas como consumidores para os mesmos bens, clientes para os mesmos servios, pblicos para as mesmas mensagens e imagens entre pessoas que esto bastante distantes uma das outras no espao e no tempo. A medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas s influncias externas, difcil conservar identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas atravs do bombardeamento e da infiltrao cultural.

    Hall (1998. p. 74)

    Seguindo nesta linha de pensamento, a macrotendncia foi definida com base

    nos estudos da pesquisadora Renata Abranchs, do Bureau de Estilo Renata

    Abranchs, e intitulada Gnesis. Inspirada pela exposio de mesmo nome, do

    fotgrafo Sebastio Salgado (exibida em Porto Alegre em 2014, na Usina do

    Gasmetro). Esta macrotendncia compreende o retorno s origens naturais, como

    a prpria exposio nos mostra: o fotgrafo fez uma viagem internacional buscando

    a raiz e a origem do que hoje chamamos civilizao. Ao observar estas imagens de

    tribos africanas, ndios amaznicos, canyons americanos, quedas dgua

    canadenses e recnditos desconhecidos do leste europeu, pensamos, por fim: o que

  • 31

    nos trouxe at aqui? Quem, antes de ns, possibilitou que o mundo funcionasse da

    maneira como funciona hoje? O que estamos perdendo de nossas culturas e

    individualidades ao nos vestirmos como uma revista nos manda?

    Observamos, ento, a volta do interesse por assuntos como o tribalismo, o

    nomadismo, uso de materiais orgnicos e no-sintticos, o slow-fashion e a

    valorizao das culturas locais. uma tendncia mundial, que compreende desde

    rumos sociais e polticos at os mercados de consumo a curto e mdio prazos.

    6.1 MICROTENDNCIAS

    As microtendncias nos do uma imagem mais imediata de previses de

    consumo. Elas so observadas de maneira mais aproximada, atravs de desfiles,

    moda de rua, revistas e meios de comunicao. O painel de microtendncias foi

    realizado baseado em pesquisa de imagens no site FFW, tendo como referncia os

    desfiles So Paulo Fashion Week e Fashion Rio, Vero 2014-2015. Foram utilizados

    especialmente referncias dos desfiles da Animale, marca acolhida no presente

    trabalho, Lilly Sarti, Giuliana Romano, Pedro Loureno, Espao Fashion, Osklen,

    Lenny, Wagner Kallienko e Paula Raia. Foram pautados itens como o uso de couro

    e tecidos levemente transparentes, narrativas relacionadas cultura brasileira,

    silhuetas em H e o uso de modelagem ampla, assimetrias, recortes, fendas e

    vazados nas peas.

  • 32

    Figura 18 Painel de Microtendncias

  • 33

    Fonte: elaborado pela autora deste trabalho, com imagens do site FFW.

    Figura 19 Painel de Microtendncias II

    Fonte: elaborado pela autora deste trabalho, com imagens do site FFW.

  • 34

    7 PBLICO ALVO

    Com o objetivo de traar um possvel pblico-alvo para a coleo que seja

    condizente com o atual pblico consumidor da marca, utilizamos os dados de uma

    pesquisa publicada em 2013 pelo SEBRAE (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e

    Pequenas Empresas), visando o perfil consumidor das classes A e B para o ano de

    2014. Segundo a pesquisa, entre 2003 e 2011, cerca de 9,2 milhes de brasileiros

    ascenderam s classes A e B, e h uma previso de que at 2014, haja um aumento

    de mais 7,7 milhes. A classe B foi responsvel em 2011 por 42% do total de R$136

    bilhes gastos em moda. O consumo da classe A representou em torno de R$ 18,1

    bilhes, que significa 13,3% do consumo. Paralelamente, se observou um aumento

    de mais de 20% nas vendas de grifes de luxo no Brasil em relao ao ano anterior.

    Entre estes consumidores, a maior parte compra em shoppings ou comrcio

    especializado, ou ainda por e-commerce. A pesquisa tambm nos revela que, entre

    os pesquisados, a mdia de consumo mensal em artigos de vesturio de R$

    3.500. A partir destes dados, conclumos que h um nicho de mercado real e

    crescente para marcas do segmento Premium, como a Animale.

    A pesquisa ainda cita Stella Susskind, presidente da Shopper Experience,

    que afirma que a classe A possui acesso facilitado informao atravs da internet,

    relaes interpessoais e mdia impressa, e, portanto, tem maior conscincia em

    relao aos conceitos de bem estar e qualidade de vida. Em suas palavras: O

    consumo de luxo no est ligado necessidade, mas expectativa e percepo

    diferenciada.

    Visando tendncias futuras, a pesquisa ainda recomenda que as empresas

    explorem o universo simblico brasileiro, como a combinao de cores e tecidos

    tpicos de nosso pas ou conceitos ligados fauna, flora e cultura brasileiras.

    Estando em posse destas informaes, procuramos fundamentar a

    descrio das caractersticas de nosso pblico-alvo, demonstrando que ele existe. O

    perfil traado a seguir foi embasado nestes dados e relacionados com as

    macrotendncias descritas anteriormente.

    O pblico-alvo foi definido com base no pblico da marca escolhida, 25 a 40

    anos, classes A e B, pensando-se no estilo de vida, poder aquisitivo e interesses

    intelectuais e culturais da possvel cliente. A mulher Animale independente,

  • 35

    trabalha fora de casa, e precisa de roupas que migrem de um ambiente de trabalho

    a um coquetel sem dificuldade. Com olho atento para as tendncias e apreo por

    viajar e conhecer novas culturas, peas com conceitos tnicos mas ainda urbanas e

    modernas chamam sua ateno. Elas frequentam coquetis, festas, restaurantes e

    bares da moda e vivem no ritmo das grandes cidades. No incomum que passem

    por quatro lugares em um mesmo dia, mas ainda assim apreciam os momentos de

    calma do yoga e pilates ou um fim de semana tranquilo na praia.

    Possuem um estilo clssico, porm moderno e despretensioso. No gostam

    de ostentar, mas no se importam em pagar mais caro por qualidade. No tm muito

    tempo para compras, por isso mantm-se fiel s marcas com as quais se identifica e

    sente-se tratada com exclusividade. Abaixo, ilustramos atravs de um painel o

    pblico-alvo:

    Figura 20 Painel de Pblico

    Fonte: Garance Dor, Haarpers Bazaar, Pinterest, Tumblr, Starbucks, Animale. Painel elaborado pela

    autora deste trabalho.

  • 36

    8 APRESENTAO DA COLEO

    Neste captulo ser apresentada a coleo e todos os aspectos que a

    compem.

    8.1 BRIEFING

    A presente coleo de moda tem como foco o pblico feminino, de 25 a 40

    anos, classes A e B, e o mercado de pret--porter. A coleo foi desenvolvida tendo

    como base a marca Animale, para o Vero 2015. Tivemos como objetivo explorar as

    formas e grafismos da Cermica Marajoara, do norte brasileiro, atravs de

    modelagens e estampas criativas e para mulheres com um interesse cultural e de

    estilo moderno.

    Atravs do painel de inspirao a seguir, podemos visualizar a temtica.

    Optou-se por dividir a coleo em trs famlias, de acordo com sua fonte de

    inspirao.

    Figura 21 Painel de Inspirao

    Fonte: Kohler (2010), Save the Amaznia (s/d), Amorim (2010), Pinterest. Elaborado pela autora

    deste trabalho.

  • 37

    8.2 ELEMENTOS DE ESTILO

    Neste captulo apresentaremos os elementos de estilo que do unidade

    coleo. Relacionam-se diretamente com o tema e traduzem as macro e

    microtendncias de maneira visual.

    a) Linhas que remetem s formas da cermica;

    b) Cores presentes no engobo cermico;

    c) Estampas em serigrafia;

    d) Materiais que remetem cultura indgena;

    8.3 O DESENVOLVIMENTO DAS SILHUETAS

    Em nossa coleo, o estudo de silhuetas foi realizado baseado no formato de

    algumas peas cermicas, como por exemplo, as tangas ou vasos e igaabas. Havia

    um interesse de que estas silhuetas condissessem com a pesquisa de

    microtendncias, de modo que as mesmas foram comparadas e absorvidas.

    Figura 22 - Escolha de silhueta nadador com recortes, a partir de tanga:

    Fonte: Foto original: Amorim, 2010. Montagem: elaborado pela autora deste trabalho.

  • 38

    Figura 23 - Escolha da silhueta acinturada e com pouco volume a partir de

    igaaba:

    Fonte: Foto original: Amorim, 2010. Montagem: elaborado pela autora deste trabalho.

    8.4 O DESENVOLVIMENTO DAS ESTAMPAS

    As estampas foram desenvolvidas com base em fotografias de peas

    cermicas originais expostas no Museu Paraense Emlio Goeldi e do artesanato

    atual. As padronagens foram extradas de peas chave para a esttica da coleo e

    ento estilizadas com o auxlio do Programa Adobe Illustrator. Essas estampas

    foram serigrafadas a partir de tcnicas de serigrafia alternativa e no-industrial.

    Nas imagens a seguir, pode-se observar o raciocnio por trs do

    desenvolvimento das trs estampas. Foram selecionados elementos grficos de

    peas cermicas, que foram ento estilizados e transformados em mdulos.

  • 39

    Figura 24 - Construo do Mdulo Caranguejo, com suas duas variaes, a

    partir de foto de pea original:

    Fonte: Foto original: Amorim, 2010. Montagem e estampas: elaborado pela autora deste trabalho.

  • 40

    Figura 25 - Construo do Mdulo Banquinho, a partir de foto de pea

    original:

    Fonte: Foto original: Amorim, 2010. Montagem e estampa: elaborado pela autora deste trabalho.

  • 41

    Figura 26 - Construo do Mdulo Faixa a partir de pea cermica de

    artesanato de Icoaraci:

    Fonte: Foto original: Ansio Artesanato, 2014. Montagem e estampa: elaborado pela autora deste

    trabalho.

  • 42

    Abaixo, fotos do processo de serigrafia alternativa, realizado no Atelier de

    Serigrafia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul:

    Figura 27 Processo de Serigrafia

    Crditos: Daniel Luz.

  • 43

    8.5 O DESENVOLVIMENTO DOS ACESSRIOS

    Como complemento coleo, desenvolvemos acessrios fabricados em

    cermica negra, com pintura em vidrado branco. Realizamos dois dos acessrios

    desenhados nos croquis: um cinto e um colar. As peas usam a tcnica de inciso,

    exemplo da cermica marajoara original. Os desenhos foram inspirados em artefatos

    originais, com base em fotografias do Catlogo do Museu Emilio Goeldi. Abaixo,

    esquema com o desenvolvimento das duas peas:

    Figura 28 - Fivela do Cinto

    Fonte: Foto original: Amorim, 2010. Montagem: elaborado pela autora deste trabalho.

    Figura 29 - Placa do Colar

    Fonte: Foto original: Amorim, 2010. Montagem: elaborado pela autora deste trabalho.

    O cinto foi construdo de juta com forro de cambraia de linho e usa ganchos

    de metal.

    O colar composto por uma corrente metlica, uma tira de couro e terminais

    para unio das partes.

  • 44

    8.6 CORES

    A escolha de cores partiu da anlise de peas cermicas originais marajoaras

    e peas do artesanato de Icoaraci, assim como do ambiente amaznico e de

    mangue encontrado na Ilha do Maraj. Chegou-se, portanto, nas cores bsicas de

    engobo natural: o vermelho, o preto, o branco e o acinzentado. Completando a

    cartela, temos um tom de laranja-telha, que remete cor da cermica antes de ser

    queimada e pintada, e ao verde musgo, que remete ao ambiente de mangues e

    plantas aquticas encontradas nas margens dos tesos.

    Figura 30 Cartela de Cores

    Fonte: elaborado pela autora deste trabalho.

  • 45

    8.7 MATERIAIS

    A coleo foi confeccionada principalmente a partir de materiais naturais,

    como o linho, o algodo orgnico, couro de bfalo e placas de cermica.

    Em nossa coleo, usamos a sarja de algodo orgnico, por sua

    durabilidade, resistncia, versatilidade e correo ecolgica. O algodo, em suas

    espcies selvagens, tambm era e ainda utilizado pelos povos amaznicos na

    confeco de mantas e redes. Segundo Schaan (2010), acredita-se que os

    marajoaras dominavam a tecelagem e produziam essas peas para uso familiar.

    Optou-se pelo uso da verso ecologicamente correta aps pesquisa relacionada ao

    material. Segundo Pezzolo (2009), o uso de fertilizantes e pesticidas nas lavouras de

    algodo tornou-se abusivo, sendo essa uma prtica que mina o solo e

    extremamente prejudicial para o meio ambiente. O uso destes qumicos tambm

    prejudicial ao usurio final do tecido, visto que o pesticida permanece na fibra

    mesmo aps sua tecelagem e pode causar alergias e intoxicao. O algodo

    orgnico produzido no Brasil principalmente nos estados do sudeste e centro-

    oeste, em lavouras de ecossistema controlado e coleta manual.

    O linho, de uso que data de cerca de 8 mil anos atrs, teve sua cultura

    introduzida no Brasil no sculo XIX, principalmente na regio sul. Extremamente leve

    e confortvel e de propriedades semelhantes ao algodo, ainda considerado

    antialrgico e bactericida. Por outro lado, o linho tende a amassar com facilidade,

    motivo pelo qual foi menos usado a partir dos 1980, quando houve a popularizao

    de tecidos sintticos (Pezzolo, 2009). O linho tambm considerado matria prima

    sustentvel, visto que 100% aproveitado, desde as fibras longas, para a indstria

    txtil at a extrao do leo de suas sementes. Com o recente destaque que vem

    sendo dado matria prima natural, o linho tem voltado ao mercado fashion com

    crescente fora. Nesta coleo, ele utilizado devido sua leveza e caractersticas

    naturais, como a boa capacidade de absoro de gua e a propriedade de no

    absorver temperaturas altas.

    O couro de bfalo foi escolhido devido estreita relao com o Par. A Ilha

    de Maraj, como citado anteriormente, tem como uma de suas principais atividades

    econmicas atuais a criao de gado bubalino para extrao da carne e couro. O

    couro de bfalo conhecido por sua resistncia e maciez, obtidos pelo curtimento

    de crebro, um mtodo tradicional e menos poluente do que o curtimento moderno

  • 46

    do couro bovino, por utilizar-se apenas de midos do prprio animal e fumaa de

    madeira e nenhum qumico sinttico ou artificial (ScenicMesa, 2010). Alm disso, o

    couro de bfalo tem aparncia mais rstica e natural, pois no esticado durante o

    curtimento, a fim de no perder suas caractersticas. Em nossa coleo, o couro

    ser trabalhado em peas mais estruturadas e detalhes.

    Figura 31 Cartela de Materiais

  • 47

    8.8 FAMLIAS

    A coleo foi dividida em trs famlias, harmonizando diferentes materiais,

    estampas e modelagem. Foram nomeadas em referncia a objetos icnicos da

    cermica marajoara:

    Tangas: peas estampadas com os mdulos Caranguejo e Banquinho, com

    modelagem inspirada no formato das tangas e feitas de cambraia de linho e linho

    Jaipur.

    Igaabas: peas com acabamento em gregas, modelagem mais ampla e feitas de

    linho ou sarja de algodo.

    Muiraquits: Peas lisas, feitas de linho, sarja de algodo ou couro.

    8.9 PARMETRO DE COLEO

    Figura 32 Parmetro de Coleo

    Fonte: elaborado pela autora deste trabalho.

  • 48

    9 QUADRO DE COLEO

    Quadro 2 - Vestidos

  • 49

    Quadro 3 - Blusas e Tops

  • 50

    Quadro 4 - Coats e Saias

  • 51

    Quadro 5 - Calas

    Fonte: elaborado pela autora deste trabalho.

  • 52

    CONSIDERAES FINAIS

    A argumentao da temtica descrita no captulo quatro e o desenvolvimento

    dos passos metodolgicos descritos no captulo dois orientaram a criao da

    coleo de moda MBARA-Y: Uma tradio Revisitada, que est graficamente

    representada por meio de croquis no Apndice A.

  • 53

    REFERNCIAS

    AMORIM, Lilian Bayma de. Cermica marajoara: a comunicao do silncio. Belm: Museu Paraense Emlio Goeldi, 2010. Ansio Artesanato. Disponvel em: Acesso em: 11 nov. 2014. Aslan Armarinhos e Aviamentos. [Linhas de costura] 2014. Disponvel em: < http://www.aslan.com.br/scripts/produto/armarinho_aviamento.asp?LINHAS%20INDUSTRIAIS=Linha%20120%20%20Reta%20Bonfio%20-%20Branco&idProduto=1376&stCodCatProduto=09&stCodSubCatProduto=02> Acesso em: 12 nov. 2014. Aslan Armarinhos e Aviamentos. [Vis de Cetim] 2014.Disponvel em: Acesso em: 12 nov. 2014. Aslan Armarinhos e Aviamentos. [Ziper Invisvel] 2014.Disponvel em: < http://www.aslan.com.br/scripts/produto/armarinho_aviamento.asp?Z%CDPERES%20E%20FECHO%20DE%20CONTATO=Ziper%20Invisivel%20Coats%20S-43%2048%2030cm&idProduto=2117&stCodCatProduto=13&stCodSubCatProduto=04> Acesso em: 12 nov. 2014. Aslan Armarinhos e Aviamentos. [Ziper Metlico] 2014.Disponvel em: Acesso em 12 nov. 2014. Buffalo Leather Store. [Couro de Bfalo]. 2014. Disponvel em: < http://buffaloleatherstore.com/santa-fe/> Acesso em 12 nov.2014. CUNHA, Manuela Carneiro. Histria dos ndios no Brasil. Companhia das Letras. So Paulo, 2008. E-Fabrics. [Sarja de Algodo Orgnico]. 2014. Disponvel em: < http://www.e-fabrics.com.br/> Acesso em: 12 nov. 2014. FFW. [Animale Vero 2014/2015]. 2014. Disponvel em: Acesso em 14 set. 2014. ______. [Espao Fashion Inverno 2014] 2014. Disponvel em: Acesso em 14 set. 2014.

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    RENFREW, Elinor; RENFREW, Colin. Desenvolvendo uma Coleo. Porto Alegre: Bookman, 2010. Reasons to Breathe Tumblr. [Work Illustration]. 2011. Disponvel em: < http://reasonstobreathe.tumblr.com/tagged/illustrations/page/3> Acesso em 12 nov. 2014. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formao e o sentido do Brasil. So Paulo, Companhia das Letras, 2 edio, 1995. ROITER, Mrcio. O Rio em Curvas Concretas. Wish Report, So Paulo, 2008. Disponvel em: Acesso em 7 de nov. 2014. ______. A influncia marajoara no Art Dco brasileiro. Revista UFG / Julho 2010 / Ano XII n 8. Gois. 2010. SCENICMESA. EUA. 2014. Disponvel em: Acesso em: 15 out. 2014. SEBRAE. Moda: perfil e consumo nas classes A e B. 2014. Disponvel em: Acesso em 10 nov. 2014. SEIVEWRIGHT, Simon. Pesquisa e Design. Porto Alegre: Bookman, 2009. SPAAHN, Denise. Cultura Marajoara. So Paulo, Ed. Senac SP, 1 edio, 2012. TREPTOW, Doris. Inventando Moda: Planejamento de Coleo. So Paulo, Edio da Autora, 5 edio, 2013. VASCONCELOS, Elis. TENDNCIAS VERO 2015 GNESIS. 2013. Disponvel em: . Acesso em: 14 set. 2014.

  • 57

    APNDICE A

    CROQUIS

    BL 07: Cambraia de Linho. AS 04: Cambraia de linho, Sarja de Algodo e detalhe de Linho Jaipur.

  • 58

    BL 04: Cambraia de Linho. CL 01: Linho.

  • 59

    BL 01: Cambraia de Linho. CL: Sarja de Algodo e detalhe de Linho.

  • 60

    BL 05: Cambraia de Linho com detalhe de couro. CL 02: Linho.

  • 61

    TP 02: Couro de Bfalo. VT 01: Cambraia de Linho.

  • 62

    TP 02: Couro de Bfalo. VT 02: Linho Wash.

  • 63

    CO 01: Couro de Bfalo. AS 02: Cambraia de Linho e detalhe de Linho Jaipur.

  • 64

    BL 02: Cambraia de Linho e detalhe de Linho Jaipur. CL 04: Sarja de Algodo.

  • 65

    MO 01: Linho Wash.

  • 66

    TP 01: Linho Wash. CO 02: Cambraia de Linho. SA 05: Cambraia de Linho.

  • 67

    BL 06: Cambraia de Linho e detalhe de Couro de Bfalo. SA 06: Cambraia de Linho.

  • 68

    TP 01: Linho Wash. CL 02: Sarja de Algodo.

  • 69

    BL 08: Linho Wash. SA 01: Sarja de Algodo. CS 01: Cambraia de Linho.

  • 70

    VT 03: Linho Wash.

  • 71

    VT 04: Linho Wash.

  • 72

    VT 05: Linho Wash.

  • 73

    VT 06: Linho Wash.

  • 74

    APNDICE B FICHAS TCNICAS

  • 75

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