167
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL UERJ ESPECIAL MÍDIAS , MIGRAÇÕES E I NTERCULTURALIDADES

MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIALUUUUUEEEEERRRRRJJJJJ

ESPECIAL

MÍDIAS, MIGRAÇÕES EINTERCULTURALIDADES

Page 2: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

LOGOS

2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

CATALOGAÇÃO NA FONTEUERJ/Rede Sirius/PROTAT

L832 Logos: comunicação e universidade. - Vol. 1, Edição Espe-cial (2005) - . - Rio de Janeiro: UERJ, Faculdade deComunicação Social, 2005 -

ISSN 0104-99331. Comunicação - Periódicos. 2. Teoria da informação -

Periódicos. 3. Comunicação e cultura - Periódicos. 4.Sociologia - Periódicos. I. Universidade do Estado do Rio deJaneiro. Faculdade de Comunicação Social.

CDU 007

Page 3: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

3

LOGOS

Edição Especial - 2005

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

REITORNival Nunes de Almeida

VICE-REITORRonaldo Martins Lauria

SUB-REITORA DE GRADUAÇÃORaquel Marques Vilardi

SUB-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISAAlbanita Viana de Oliveira

SUB-REITORA DE EXTENSÃO E CULTURAMaria Georgina Muniz Washington

DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADESMaricélia Bispo Pereira

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIALDiretor: João Pedro Dias VieiraVice-diretor: Hugo Rodolfo Lovisolo

CHEFE DO DEPARTAMENTO DE JORNALISMORicardo de Hollanda

CHEFE DO DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES PÚBLICASDenise da Costa Oliveira Siqueira

CHEFE DO DEPARTAMENTO DE TEORIA DA COMUNICAÇÃOMárcio Souza Gonçalves

Page 4: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

LOGOS

4 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

LOGOS - EDIÇÃO ESPECIALLogos: Comunicação & Universidade (ISSN 0104-9933) é uma publicaçãoacadêmica semestral da Faculdade de Comunicação Social da UERJ e deseu Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGC) que reúne artigosinéditos de pesquisadores nacionais e internacionais, enfocando o universointerdisciplinar da comunicação em suas múltiplas formas, objetos, teoriase metodologias. A revista destaca a cada número uma temática central,foco dos artigos principais, mas também abre espaço para trabalhos depesquisa dos campos das ciências humanas e sociais considerados relevantespelos Conselhos Editorial e Científico. Os artigos recebidos são avaliadospor membros dos conselhos e selecionados para publicação. Pequenos ajustespodem ser feitos durante o processo de edição e revisão dos textos aceitos.Maiores modificações serão solicitadas aos autores. Não serão aceitos artigosfora do formato e tamanho indicados nas orientações editoriais e que nãovenham acompanhados pelos resumos em português, inglês e espanhol.

EDITORES:Prof. Dr. João Luís de Araújo Maia e Profa. Dra. Denise da Costa Oliveira Siqueira

CONSELHOS EDITORIAL E CIENTÍFICO:Ricardo Ferreira Freitas (Presidente do Conselho Editorial), Luiz Felipe BaêtaNeves (Presidente do Conselho Científico), Danielle Rocha Pitta (UFPE), FátimaQuintas (Fundação Gilberto Freyre), Henri Pierre Jeudi (CNRS-França), HérisArnt (UERJ), Ismar de Oliveira Soares (USP), Luis Custódio da Silva (UFPB),Márcio Souza Gonçalves (UERJ), Michel Maffesoli (Paris V - Sorbonne), Nelly deCamargo (USP), Nízia Villaça (UFRJ), Patrick Tacussel (Université de Montpellier),Patrick Wattier (Université de Strassbourg), Paulo Pinheiro (UniRio), Robert Shields(Carleton University/Canadá), Ronaldo Helal (UERJ) e Alessandra Aldé (UERJ).

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:Universidade do Estado do Rio de JaneiroFaculdade de Comunicação Social - PPGC - Mestrado em ComunicaçãoRevista LogosA/C Profa. Dra. Denise da Costa Oliveira Siqueira e Prof. Dr. João MaiaRua São Francisco Xavier, 524/10º andar, sala 10129, Bloco FMaracanã - Rio de Janeiro - RJ - Brasil. CEP: 20550-013Tel.fax: (21) 2587-7829. E-mail: [email protected]

EDITORAÇÃO: Laboratório de Editoração Eletrônica (LED/FCS/UERJ)DIAGRAMAÇÃO: Cecília Santos - CAPA: Adriana MeloREVISÃO: João Maia (FCS/UERJ); Luciana Lorensone e Marcelo F. Rodrigues(Comuns/UERJ).

Page 5: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

5

LOGOS

Edição Especial - 2005

SumárioAPRESENTAÇÃO

Denise Cogo e Nicolás Lorite 0707070707

ARTIGOSCENÁRIOS E ITINERÁRIOS DE UMA PESQUISA INTERNACIONAL SOBRE MIGRAÇÕES

CONTEMPORÂNEAS E INTERAÇÕES COMUNICATIVAS E MIDIÁTICAS

Sobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. AlgunasSobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. AlgunasSobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. AlgunasSobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. AlgunasSobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. Algunasnotas sobre dinamización intercultural mediatizada desde lanotas sobre dinamización intercultural mediatizada desde lanotas sobre dinamización intercultural mediatizada desde lanotas sobre dinamización intercultural mediatizada desde lanotas sobre dinamización intercultural mediatizada desde laperspectiva internacionalperspectiva internacionalperspectiva internacionalperspectiva internacionalperspectiva internacionalNicolás Lorite 1414141414

A cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasA cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasA cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasA cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasA cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasmigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelonamigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelonamigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelonamigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelonamigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelona

Denise Cogo 2424242424

TRÊS PERSPECTIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS PARA O ESTUDO DAS RELAÇÕES ENTRE

MIGRAÇÕES E CONTEXTOS SOCIOMIDIÁTICOS

Mídia e memórias: elementos para pensar a problemática dasMídia e memórias: elementos para pensar a problemática dasMídia e memórias: elementos para pensar a problemática dasMídia e memórias: elementos para pensar a problemática dasMídia e memórias: elementos para pensar a problemática dasmemórias étnicas midiatizadasmemórias étnicas midiatizadasmemórias étnicas midiatizadasmemórias étnicas midiatizadasmemórias étnicas midiatizadas

Jiani Adriana Bonin 3838383838

El impacto de la migración internacional en el estudio de laEl impacto de la migración internacional en el estudio de laEl impacto de la migración internacional en el estudio de laEl impacto de la migración internacional en el estudio de laEl impacto de la migración internacional en el estudio de laaudiencia de televisiónaudiencia de televisiónaudiencia de televisiónaudiencia de televisiónaudiencia de televisión

Amparo Huertas 5151515151

Ruìnas Latino-americanas: Cidades imaginárias + imagináriosRuìnas Latino-americanas: Cidades imaginárias + imagináriosRuìnas Latino-americanas: Cidades imaginárias + imagináriosRuìnas Latino-americanas: Cidades imaginárias + imagináriosRuìnas Latino-americanas: Cidades imaginárias + imagináriosmulticulturais (Uma proposta de trabalho)multiculturais (Uma proposta de trabalho)multiculturais (Uma proposta de trabalho)multiculturais (Uma proposta de trabalho)multiculturais (Uma proposta de trabalho)

Fabricio Silveira 6161616161

Page 6: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

LOGOS

6 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

EXPERIÊNCIAS DE RECEPÇÃO MIDIÁTICA DAS MIGRAÇÕES DESDE BARCELONA E

PORTO ALEGRE

“Y“Y“Y“Y“Yo tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueñoso tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueñoso tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueñoso tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueñoso tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueñosa la “realidad”. Un análisis cualitativo de algunas primerasa la “realidad”. Un análisis cualitativo de algunas primerasa la “realidad”. Un análisis cualitativo de algunas primerasa la “realidad”. Un análisis cualitativo de algunas primerasa la “realidad”. Un análisis cualitativo de algunas primerasentrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelonaentrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelonaentrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelonaentrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelonaentrevistas realizadas con inmigrantes en BarcelonaSara Losa 7474747474

Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropria-Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropria-Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropria-Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropria-Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropria-ções da rede mundial de computadores por imigrantes latino-ções da rede mundial de computadores por imigrantes latino-ções da rede mundial de computadores por imigrantes latino-ções da rede mundial de computadores por imigrantes latino-ções da rede mundial de computadores por imigrantes latino-americanos e europeus em Porto Alegreamericanos e europeus em Porto Alegreamericanos e europeus em Porto Alegreamericanos e europeus em Porto Alegreamericanos e europeus em Porto AlegreLiliane Dutra Brignol 8585858585

Da janela de Barcelona: experiências interculturais e usosDa janela de Barcelona: experiências interculturais e usosDa janela de Barcelona: experiências interculturais e usosDa janela de Barcelona: experiências interculturais e usosDa janela de Barcelona: experiências interculturais e usosmidiáticos operados por imigrantes brasileirosmidiáticos operados por imigrantes brasileirosmidiáticos operados por imigrantes brasileirosmidiáticos operados por imigrantes brasileirosmidiáticos operados por imigrantes brasileiros

Elizara Carolina Marin 9696969696

Interculturalidade, mediações e redes digitaisInterculturalidade, mediações e redes digitaisInterculturalidade, mediações e redes digitaisInterculturalidade, mediações e redes digitaisInterculturalidade, mediações e redes digitais

Hiliana Reis 109109109109109

APORTES DESDE A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL NO PANORAMA ESPANHOL

Globalismo, fluxos demográficos e interGlobalismo, fluxos demográficos e interGlobalismo, fluxos demográficos e interGlobalismo, fluxos demográficos e interGlobalismo, fluxos demográficos e inter-relações culturais-relações culturais-relações culturais-relações culturais-relações culturais

A. Efendy Maldonado 122122122122122

La influencia de las rutinas en el tratamiento informativo de laLa influencia de las rutinas en el tratamiento informativo de laLa influencia de las rutinas en el tratamiento informativo de laLa influencia de las rutinas en el tratamiento informativo de laLa influencia de las rutinas en el tratamiento informativo de lainmigracióninmigracióninmigracióninmigracióninmigración

Manel Mateu 135135135135135

Fotografiando la diversidad culturalFotografiando la diversidad culturalFotografiando la diversidad culturalFotografiando la diversidad culturalFotografiando la diversidad cultural

Eduard Bertran 147147147147147

Las migraciones en la radio para todos: el caso españolLas migraciones en la radio para todos: el caso españolLas migraciones en la radio para todos: el caso españolLas migraciones en la radio para todos: el caso españolLas migraciones en la radio para todos: el caso español

María Gutiérrez 159159159159159

Page 7: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

7

LOGOS

Edição Especial - 2005

ApresentaçãoInterculturalidade. Sob essa rubrica vem se

buscando explicar, na última década, desde diferentes camposdo conhecimento científico, uma variedade de experiênciase práticas societárias em que o cultural se imbrica com opolítico, o social e o econômico para sintetizar asespecificidades de um momento histórico em que a culturaprotagoniza um conjunto de interações com os processoscomunicacionais e midiáticos contemporâneos.

Desde a exigência de sua construção crítica nocampo da pesquisa comunicacional, a interculturalidade éassumida como um dos eixos que dá título a esse númeroespecial da Revista Logos, dedicado a recolher uma sínteseda produção científica desenvolvida no marco do ProjetoAcadêmico Interuniversitário de Cooperação InternacionalBrasil-Espanha (Unisinos – UAB) intitulado “Mídia einterculturalidade: estudo das estratégias de midiatizaçãodas migrações contemporâneas nos contextos brasileiro eespanhol e suas repercussões na construção midiática daUnião Européia e do Mercosul”. A elaboração dessaconstrução crítica está pautada por perspectivasmetodológicas que permitam analisar as midiatizações eos processos de dinamização sociocultural das migraçõescontemporâneas nos contextos de Porto Alegre-Brasil-Mercosul e Barcelona-Espanha-União Européia.

Financiado, no Brasil, pela CAPES (entidade doGoverno Brasileiro voltada para a formação de recursoshumanos) e, na Espanha, pelo MEC (Ministerio deEducación y Ciencia), o projeto vem sendo tecido, desde2003, através de um conjunto de ações de pesquisa,docência e extensão desenvolvidas por investigadores dogrupo de pesquisa Mídia e Multiculturalismo(www.midiamigra.com.br) e Processocom do Programade Pós-Graduação em Ciências da Comunicação daUniversidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São

Page 8: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

LOGOS

8 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil, e o Observatorio yGrupo de Investigación em Comunicación y Migración -MIGRACOM (www.migracom.org) do Departamento deComunicação Audiovisual e Publicidade da UniversidadeAutônoma de Barcelona (UAB), em Barcelona, Espanha.Professores doutores, pesquisadores assistentes, alunosde mestrado e doutorado e bolsistas de iniciação científicacompõem uma equipe de 30 pesquisadores que temassegurado um intercâmbio científico alimentado pormissões de trabalho e estudo anuais no Brasil (Unisinos)e Espanha (UAB), mas também de toda uma dinâmica depesquisa científica envolvendo rotinas de trabalhoacadêmico levadas a cabo em ambas as universidades forados períodos de missões. Essa equipe aparecerepresentada, nessa publicação, por treze autores queparticipam desse número especial da Revista Logosintitulado Mídia, migrações e interculturalidade.

Desse trabalho coletivo, vêm resultando produtosacadêmicos como essa e outras publicações; experiênciasde docência, em nível de mestrado e doutorado, em ambasas universidades como o seminário Metodologias deInvestigação Audiovisual Aplicada, ministrado noPrograma de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação– mestrado e doutorado - da Unisinos; a disciplinaInvestigación en recepción en América Latina:experiencias y perspectivas teórico-metodológicas,ministrada no curso de Doutorado em ComunicaciónAudiovisual y Publicidad da UAB; e o Curso InternacionalInterculturalidad, migraciones y medios decomunicación: experiencias mediáticas para laintegración de los inmigrantes en la Unión Europea y elMercosur, ministrado, em duas edições, em Barcelona,em parceria com o Col·legi de Periodistes de Catalunya,por professores das equipes brasileira e espanhola.

Da cooperação acadêmica entre os pesquisadores,emergem, ainda, iniciativas de aplicação e difusão deconhecimento científico como a organização da mesa

Page 9: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

9

LOGOS

Edição Especial - 2005

sobre Imigração e Meios de Comunicação: boas práticaspara a integração, no Congresso Mundial sobreMovimentos Humanos e Imigração no Fórum dasCulturas de (Barcelona, 2004); da mesa Meios deComunicação e interculturalidade: propostas midiáticasa integração dos Imigrantes, no Fórum Social Mundial(Porto Alegre, 2005); e da mesa Mídia e Práticas deIntegração Sociocultural dos Migrantes no Fórum Socialdas Migrações (Porto Alegre, 2005). Ou, ainda, aconstrução de uma base de dados sobre mídias e migraçõesem que vai sendo reunido um acervo documental demídias de migrantes, de matérias sobre migrações nasmídias e de pesquisas e publicações sobre mídias emigrações (www.intermigra.unisinos.br).

No desenvolvimento dessas ações, ainterculturalidade aparece, de um lado, sendo construídacomo eixo conceitual para o estudo da produção, recepçãoe dinamização comunicacional e midiática das migraçõescontemporâneas em Porto Alegre e Barcelona, doiscontextos urbanos contemporâneos representativos demacro-cenários – Mercosul e União Européia – onde ofenômeno migratório emerge, de modo crescente, comoagenda pública e midiática e como fenômeno socioculturaldinamizado pelas próprias mídias.

A aproximação com a realidade empírica dasmigrações nesses dois contextos assim como a necessidadede tecer perspectivas comparativas vêm desafiando aequipe de pesquisadores a se afastarem da tentação doespeculativo e ensaístico para a proposição de modosconceituais de pensar, a partir das realidades empíricasdos migrantes, as especificidades comunicacionais emidiáticas que (re) configuram as experiências deinterculturalidade das migrações contemporâneas.

De outro lado, por essa mesma interculturalidadese move conjuntamente esse grupo de investigadores noBrasil e na Espanha para experimentarem cotidianamentemodalidades e lógicas partilhadas de produção de

Page 10: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

LOGOS

10 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

conhecimento científico que permitam construir umasíntese possível de uma experiência híbrida-internacionalque traduza a complexidade desse encontro acadêmico-intercultural Porto Alegre-Rio Grande do Sul-Brasil-Mercosul e Barcelona-Catalunha-Espanha-União Européia.Síntese que abriga, ainda, a preocupação dos investigadoresem aportarem referenciais para a construção de modalidadesde projetos acadêmicos de cooperação internacionalcentrados na produção coletiva de conhecimento científicoe em propostas de interação entre academia e sociedade.

Sob o título Mídias, migrações einterculturalidade, esse número especial da Revista Logosoferece, a partir de quatro blocos temáticos, uma síntesedessa dinâmica de cooperação acadêmica internacional. Umprimeiro bloco - intitulado Cenários e itinerários de umapesquisa internacional sobre migrações contemporânease interações comunicativas e mediáticas - é constituídopor dois textos que tentam apresentar as perspectivasteórico-metodológicas e epistemológica que orientam, noâmbito do projeto internacional, a produção deconhecimento científico sobre mídias e migrações.

O primeiro texto desse bloco propõe essaformulação enfatizando o desenho da pesquisa emdesenvolvimento sobre recepção e dinamizaçãocomunicacionais e midiáticas de imigrantes latino-americanos e europeus em Porto Alegre e Barcelona, aopasso que o segundo se constrói a partir da pesquisa emandamento, se valendo de resultados obtidos deentrevistas realizadas com uma amostra de imigrantesnos dois contextos.

Em um segundo bloco - Três perspectivas teórico-metodológicas para o estudo das relações entre migraçõese contextos sociomidáticos – reúne um conjunto dentreum elenco de aspectos teóricos e metodológicos que vãosendo formulados e discutidos pelos pesquisadores daUnisinos e UAB no marco do contexto atual da pesquisaem comunicação, mídia e migrações.

Page 11: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

11

LOGOS

Edição Especial - 2005

O terceiro bloco - denominado Experiências derecepção midiática das migrações desde Barcelona ePorto Alegre - está centrado, desde diferentes perspectivas,na análise de resultados das entrevistas realizadas comesses imigrantes à luz dos pressupostos teóricosorientadores da pesquisa sobre recepção e dinamizaçãocomunicacionais e midiáticas. Nesse bloco, inclui-se,ainda, um estudo sobre os usos do computador entreestudantes africanos e latino-americanos de universidadessediadas em Porto Alegre.

Um último bloco - Aportes desde a produçãoaudiovisual no panorama espanhol - recolhe reflexões desdea produção audiovisual das migrações no contexto espanhol,apresentando uma amostra dos “estudos de caso” quetambém vão constituindo o acervo de reflexões em torno doeixo mídia, migrações e interculturalidade, ao qual se orientao projeto acadêmico de cooperação internacional.

Profª Dra. Denise Cogo (Unisinos)Profª Dra. Denise Cogo (Unisinos)Profª Dra. Denise Cogo (Unisinos)Profª Dra. Denise Cogo (Unisinos)Profª Dra. Denise Cogo (Unisinos)Prof. DrProf. DrProf. DrProf. DrProf. Dr. Nicolás Lorite (UAB). Nicolás Lorite (UAB). Nicolás Lorite (UAB). Nicolás Lorite (UAB). Nicolás Lorite (UAB)Organizadores da Revista e Coordenadores do Projeto AcadêmicoInteruniversitário de Cooperação Internacional Brasil-Espanha(Unisinos-UAB) financiado por CAPES-MEC.

Page 12: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

LOGOS

12 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

ARTIGOS

Page 13: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

13

LOGOS

Edição Especial - 2005

CENÁRIOS E ITINERÁRIOS DE UMAPESQUISA INTERNACIONAL SOBREMIGRAÇÕES CONTEMPORÂNEAS E

INTERAÇÕES COMUNICATIVAS EMIDIÁTICAS

Page 14: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Nicolás Lorite

14LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Sobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación.Algunas notas sobre dinamización interculturalmediatizada desde la perspectiva internacional

Nicolás Lorite*

RESUMOEm 2003, um grupo de pesquisadores do Brasil e da Espanhainiciaram um projeto de pesquisa internacional sobremediatizações das migrações contemporâneas na União Européiae MERCOSUL, aprovado no final de 2003 pelos ministérios deEducação do Brasil (CAPES) e Espanha (MEC). A comparaçãodas dinâmicas de pesquisa em contextos diferentes está servindopara revisar, atualizar e aprofundar certas questões do métodocientífico das ciências da comunicação, começando peloquestionamento do “apriorístico” e o verificável da realidadesociomediática. Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: metodologia; dinamizaçãointercultural; migração.

ABSTRACTIn 2003 the Brazil-Spain group begun a joint international researchproject on the mediatization of modern migrations in the UE andMercosur. The Education Ministry in Brazil (CAPES) and Spain(MEC) have approved this project at the end of 2003. Researchprocesses in different contexts help us to analyse and question thescientific method of communication science. In this article wequestion two important concepts as “aprioristic” and “verifiable”of sociomediatic reality. KeywordsKeywordsKeywordsKeywordsKeywords: methodology; interculturaldinamization; migration.

RESUMENEn el 2003 un colectivo de investigadores de Brasil y Españainiciamos un proyecto de investigación internacional sobremediatizaciones de las migraciones contemporáneas en la UniónEuropea y el MERCOSUR, aprobado a finales del 2003 por losministerios de Educación de Brasil (CAPES) y España (MEC).La puesta en común de las dinámicas investigadoras encontextos diferentes está sirviendo para revisar, actualizar yprofundizar ciertas cuestiones del método científico de lasciencias de la comunicación, empezando por el cuestionamientode lo apriorístico y lo verificable de la realidad sociomediática.Palabras clave: Palabras clave: Palabras clave: Palabras clave: Palabras clave: metodología; dinamización intercultural;migración.

Page 15: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

15

Sobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. Algunas notas sobredinamización intercultural mediatizada desde la perspectiva internacional

Edição Especial - 2005

INTRODUCCIÓN

En el 2003 un colectivo de investigadores deCiencias de la Comunicación de los grupos deinvestigación Midia y Multiculturalismo yPROCESOCOM de la Universidad do Vale do Rio dos Sinos(Unisinos) y del MIGRACOM (www.migracom.org) de laUniversidad Autónoma de Barcelona (UAB), iniciamosun proyecto de investigación internacional sobremediatizaciones de las migraciones contemporáneas enla Unión Europea y el MERCOSUR, aprobado a finalesdel 2003 por los ministerios de Educación de Brasil(CAPES) y España (MEC) para el bienio 2004-2005, yprorrogable al bienio 2006-2007.

La puesta en común de las dinámicasinvestigadoras en contextos diferentes está sirviendo pararevisar, actualizar y profundizar ciertas cuestiones delmétodo científico de las ciencias de la comunicación, desdela riqueza comparativa internacional, y en particular desdelas perspectivas teóricas, metodológicas, epistemológicasy sociocomunicativas. A continuación, apunto de maneramuy esquemática,,,,, algunas reflexiones sobre lo apriorísticoy lo verificable de la realidad sociomediática, aunquesubrayo que lo hago desde el ensayo personal y comoavance de lo que pueden ser algunas de las conclusionesmás significas del estudio final.

ALGUNOS INTERROGANTES DE PARTIDA

¿Es posible combinar lo apriorístico con loverificable, lo hipotético con lo pragmático, al estudiarel papel que desempeñan los medios de comunicacióncomo dinamizadores de las relaciones interculturales?¿Es necesario efectuar semejante simbiosis hipotético-pragmática de la teoría a la práctica? ¿Puede llevarse acabo al revés, de la práctica a la teoría? ¿Es posibleuna tercera vía híbrida, científica fluyendo de manerasimultánea en ambas direcciones? Y en cualquier caso

Page 16: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Nicolás Lorite

16LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

¿qué vía tiene mayor valor y credibilidad en elpanorama científico actual de las Ciencias en generaly de las de la Comunicación en particular? Pero ¿nosguiamos por el panorama científico actual oreivindicamos el clásico? ¿Y hasta qué periodo alcanzauno y otro? ¿Se da un intersección entre ambos?

Y en cualquier caso ¿tiene valor científicoquedarse sólo en las perspectivas teórica y especulativacomo modelos explicativos de la realidad o tiene másvalor situarse sólo en el polo opuesto de la pragmáticaactiva o la realidad real?

Y mientras vamos pensando y respondiendo alas preguntas anteriores surgen nuevas cadenas deinterrogantes: ¿Debe importarnos que sea creíblenuestra investigación internacional por todos losinvestigadores locales, nacionales e internacionales?Pero ¿todos los investigadores son creíbles? ¿Y todoslos que son creíbles vienen respaldados por unainvestigación científica? ¿y cuales son locales,nacionales e internacionales? ¿Partimos todos de losmismos criterios de credibilidad científica? ¿Quédiferencia hay entre un científico internacional creíble,respaldado por la investigación “escaparate”, y otrocientífico local, desconocido, habituado a la culturacientífica del rigor clásico? Y en cualquier caso ¿quées una investigación rigurosa?

Desde esa paradójica vinculación que sigueteniendo la Academia con la Ilustración en la era deInternet, se sigue considerando investigación rigurosala que viene respaldada por un marco teórico biendocumentado, una metodología experimentada ycontrastada, un objeto de estudio bien acotado y unmarco de hipótesis bien descrito y estructurado.

Nuevas preguntas que van emergiendo desdenuestra perspectiva investigadora internacional yteniendo en cuenta el objeto de estudio comparativosobre papel de los medios como dinamizadores de la

Page 17: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

17

Sobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. Algunas notas sobredinamización intercultural mediatizada desde la perspectiva internacional

Edição Especial - 2005

interculturalidad: ¿diseñamos un marco teórico y unahipótesis previamente o lo hacemos durante y despuésdel trabajo de campo? Pero ¿necesitamos teoría ehipótesis antes del trabajo de campo? Y si lonecesitamos ¿hemos de partir de un corpus teórico deconceptos inamovibles,,,,, a pesar de la dificultad queentraña atenerse a dicha inmovilidad al abordar unobjeto de estudio mutante como el de lasmediatizaciones de las migraciones contemporáneasen entornos como la Unión Europea y el MERCOSUR?

¿”Matamos” definitivamente a Popper, Kunt,Martín-Barbero, García Canclini, Mattelart, Castells yotros autores de referencia obligada,,,,, o seguimoshaciendo uso de ellos para dar a entender que tambiénlos conocemos y paralelamente mostramos otrosautores locales que realmente han investigado el objetode estudio analizado, pero que sólo los conocen en suentorno próximo porque no han entrado en la cultura“escaparate”? Claro que igual no hay que ser tanextremistas y discernir objetivamente la justificaciónde los universales y los locales para nuestro objeto deestudio internacional.

¿Y como se hace todo ello desde las Cienciasde la Comunicación? ¿Puede y debe hacerse sola yexclusivamente desde la Ciencias de la Comunicaciónal adscribirse nuestra investigación al campo de lacomunicación? ¿Debemos asumir un rol comoinvestigadores del campo de la comunicación(comunicólogos se les denomina a veces, yo me sientomás cómodo denominándome como investigadoraudiovisual) y debe plantearse el método de trabajo ylos enfoques teóricos y metodológicos desde un prismadistinto al de los sociólogos, antropólogos,sociolingüistas, etc. que abordan temas similares? ¿Esun proceder investigador pluri e interdisciplinariodesde la mirada sociocomunicativa audiovisual osimplemente textual?

Page 18: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Nicolás Lorite

18LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

DINÁMICAS REALES DE LA INVESTIGACIÓN INTERNACIONAL

Y mientras intentamos responder laspreguntas anteriores resolvemos urgentemente otrosaspectos metodológicos para no dejar de lado el trabajode campo. Esto no quiere decir que obviamos lasrespuestas, de hecho las respuestas a todas lascuestiones anteriores ya las venimos respondiendo enlas investigaciones personales y colectivas realizadasanteriormente por los miembros del equipo deinvestigación internacional que nos hemos congregadoahora en torno a este objeto de estudio.

Cabe advertir que mientras decidimos que fuerala entrevista personal la técnica metodológica adecuadapara estudiar la recepción y dinamización interculturalmediatizada de las migraciones contemporáneas,acordamos descartar otras metodologías con las quehemos investigado o venimos investigando las relacionessociomediáticas, los diferentes investigadoresimplicados en el proyecto internacional, como la delestudio cuali-cuantitativo simultaneo de la realidadsocial desde la producción-emisión-recepción-dinamización, la observación casual y la investigaciónaudiovisual aplicada en el estudio de lastransformaciones sociomediáticas, desde unos años 70estructuralistas y marxistas a una positivista década delos 90, pasando por algunas crisis metodológicas comolas de los 80 y la que se vive en el momento actual.

De todas formas, algo que cada vez tenemosmás claro al acotar la metodología de nuestro estudiointernacional,,,,, es que debemos ser lo mas honestosposibles y explicar con el máximo de detalles posiblesnuestro encuadramiento en una tipología determinada.Dejamos fuera otras posibilidades investigadoras y nosdecantamos para este objeto de estudio por el métodocientífico híbrido que acepta la posibilidad de debatir laconstrucción del entramado teórico-epistemológico ala vez que desarrollamos el trabajo de campo.

Page 19: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

19

Sobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. Algunas notas sobredinamización intercultural mediatizada desde la perspectiva internacional

Edição Especial - 2005

Es una toma de decisión que evita caer eternay exclusivamente en el sendero apriorístico yespeculativo del texto sobre el texto. Tampoco permitedespistarse por ese otro “cómodo” camino del textosin contexto. Ni siquiera por ese tercer recorridoinvestigador, tan en boga actualmente, del texto sobreel texto con un leve toque de aire real extraído de un“paseo intelectual” por la cotidianidad social.

Los tres caminos estrictamente especulativosy apriorísticos anteriores son fáciles de identificarporque de ellos emanan una serie de propuestasensayísticas sin base metodológica, que están próximasa la particular visión ficticia del autor antes que a la dela sociedad estudiada. Lo sorprendente de estos textosde los textos y es que sigan sentando cátedra. Hay quereconocer que están muy bien redactados y sus autoresno sólo escriben muy bien sino que dominan a laperfección la “literatura” científica y la cultura“escaparate”. Construyen párrafos ilustres que uno leevarias veces y los percibe de una seriedad exquisita.Son similares a ciertos discursos políticos. Al releerloshasta parece entreverse que también se ha pensado elámbito de difusión y los receptores potenciales.

En el polo opuesto de este terreno especulativo,en el que uno está tentado a caer fácilmente cuando le dauna cierta pereza de hacer trabajo de campo, de acercarsea la sociedad, está el del militante de la pragmática realista.En este espacio “realista” se instalan varias tendencias olíneas de inmersión “real” en la sociedad.

Una línea está ubicada en un extremo“kamikaze”, denominada así porque sólo comulga conla realidad real, según su concepto de realidad real,claro está. La otra está situada en otro extremo, que esposible aplicarle el calificativo de pragmática“apostólica” porque sus defensores acuden a la realidadguiados por una especie de “catecismo” metodológico.En una línea se aterriza y convive con la sociedad desde

Page 20: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Nicolás Lorite

20LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

una militancia kamikaze obsesionada por conocer larealidad por si misma, en la otra se recorren las callescon el “catecismo” metodológico bajo el brazo casicomo hacen los creyentes de algunas sectas religiosascuando llaman a nuestras puertas.

Lo ideal es el mestizaje de lo apriorístico con loverificable pero prediciendo el orden y valor que se leotorga a cada uno, contando con las posiblestransformaciones sociomediáticas, empezando por lainformáticas, y teniendo en cuenta limitaciones comolas del tiempo destinado a redactar el informe final dela investigación, el soporte económico para llevarla acabo, el ajuste de las dinámicas de interaccióninternacional y acoplamiento entre sí de losinvestigadores y de los grupos de investigaciónimplicados y la dura gestión administrativa de todo ello.

ESTUDIO DE LA RECEPCIÓN

¿Como acotamos una metodología lo másobjetiva posible para estudiar la recepción desde estadoble perspectiva comparativa? ¿A quienesentrevistamos en Barcelona y en Porto Alegre? ¿Cuántaspersonas en cada lugar? ¿De dónde deben ser? ¿Dóndehacemos la entrevista? ¿Qué les preguntamos? ¿Cómocomparamos luego los resultados de las entrevistas dePorto Alegre con las de Barcelona?

Acordamos utilizar la entrevista personal comotécnica metodológica porque con ella logramos el objetivoprincipal de: “Descubrir, a partir del conocimiento de latrayectoria migratoria del entrevistado así como de lapresencia y los usos de los diferentes medios decomunicación en esta trayectoria, el papel de dinamizadorintercultural de estos medios. Se trata de investigar comoy si se proyecta, en ciudadanos de diversas procedenciasgeográficas, residentes en la ciudad de Barcelona, unaidea común de contextos macroeconómicos, políticos yculturales como la Unión Europea y el MERCOSUR.”

Page 21: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

21

Sobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. Algunas notas sobredinamización intercultural mediatizada desde la perspectiva internacional

Edição Especial - 2005

Nos centramos, por tanto, en la perspectivade la recepción como indicador principal de nuestroobjeto de estudio para obervar, en concreto, comointerpretan el rol dinamizador intercultural de losmedios de comunicación una muestra de tipologíassociológicas de personas/inmigrantes de diferente sexoy edad, llegados de distintos entornos geográficos,culturales, sociales, lingüísticos y religiosos, residentesen dos urbes, receptoras de nuevas migraciones en laactualidad, como son Barcelona y Porto Alegre.

La entrevista realizada a una muestra objetivade entrevistados de Porto Alegre y Barcelona persiguecomprender si los entrevistados:• Se sienten ciudadanos de la Unión Europea y del

MERCOSUR y qué significa y representa estaidentidad para ellos.

• Si este sentimiento está vinculado con su procedenciageográfica y su cultura de referencia y de que manera.

• Si este sentimiento de pertenencia a un espacio enconcreto está alimentado, proyectado, construido porlos medios de comunicación.

• Si desearían ser, algún día, ciudadanos de la UniónEuropea, los entrevistados del MERCOSUR.

• Si distinguen entre Europa y Unión Europea.• Como nació y se construyó la idea de viajar y emigrar

a Europa.• Si en su país de origen ya tenía un sueño de la zona

receptora, de Barcelona o Porto alegre.• Si consideran que se había formado una idea idílica de

Europa antes de viajar y como se construyó a partir delos medios de comunicación o si se hizo de otra manera.

• Si ahora que están en Barcelona (Unión Europea) oPorto Alegre (MERCOSUR) se realizó su sueño, sicambió, si se modificó y en qué.

• Si analizan, desde su experiencia barcelones-europeao portoalegrense-mercosureña, la aspiración quetienen y tenían y como la valoran.

Page 22: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Nicolás Lorite

22LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

• Si ven algún conflicto, choque y/o contradicciónentre la realidad de la sociedad de acogida y lasociedad que imaginaba antes de inmigrar.

• Si se consideran inmigrantes en relación a unentorno más amplio y diversificado.

• Si el sentimiento de pertenencia a un lugar, quesupera las fronteras nacionales Unión europea,MERCOSUR), se construye a través de los medios decomunicación.

• Si los medios de comunicación desempeñan algúnpapel en la construcción de una identidad común.

• Si consideran importante la proyección de estasmarcas de identidad cultural colectiva a través delos medios.

• Si consideran los medios de comunicación comodeterminantes en sus procesos de dinamizacióninterpersonal e intergrupal, activa y mecánica.

De momento no es posible avanzar nada mássobre el objeto de estudio porque andamos en el procesode encuestación, codificación y análisis. De todas formas,con todo el expuesto hasta aquí, hay elementos másque suficientes para empezar a repensar lareconstrucción del panorama investigador internacionaldesde el análisis comparativo. ¿Sabemos ya si estamosen la vía apriorística o formamos parte de la verificable?¿tal vez estamos todos en la vía híbrida? …

Page 23: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

23

Sobre lo apriorístico y lo verificable en comunicación. Algunas notas sobredinamización intercultural mediatizada desde la perspectiva internacional

Edição Especial - 2005

REREREREREFFFFFEEEEERRRRREEEEENNNNNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSCOGO, Denise; LORITE, Nicolás. Incursões metodológicas para

o estudo da recepção midiática: o caso das migraçõescontemporâneas desde as perspectivas européia e latino-americana. Ciberlegenda, n.14, 2004. http: //www.uff.br/mestcii/rep.htm.

LORITE, Nicolás; MARTÍN, Luisa. Claves para un debateinterdisciplinar sobre la construcción sociocomunicativa dela inmigración. In: La inmigración en España, Girona:Universidad de Girona, 2005 (en prensa).

LORITE, Nicolás (dir). Tratamiento informativo de lainmigración en España 2002. Madrid: Colección Inmigracióny Refugio, Instituto de Migraciones y Servicios Sociales,Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales, 2004.

LORITE, Nicolás. “Éthique, médias et rôle formateur etinformateur des journalistes en Catalogne (Espagne)”. In:BRUNET, P.; DAVID-BLAIS, M. (dir.) Valeurs et éthique dansles médias. Approches internacionales. Canadá: CollectionÉthique et philosophie de la communication, Les Presses del’Université Laval, 2004.

LORITE, Nicolás. “Como miran los medios la inmigración ytransmiten la diversidad”. Barcelona: Portal de laComunicación, Incom, Congreso sobre Diversidad yComunicación, Forum de las culturas, 2004.

Nicolás LoriteNicolás LoriteNicolás LoriteNicolás LoriteNicolás Lorite es director del Observatorio y Grupo deInvestigación sobre Migración y Comunicación (MIGRACOM)de la Universitat Autònoma de Barcelona (www.migracom.org).Doctor en Ciencias de la Información, Profesor Titular deComunicación Audiovisual de la UAB. Co-dirige el ProyectoInteruniversitario de Cooperación Internacional Brasil-Españasobre medios, migraciones e interculturalidad financiado porCAPES (Brasil) e MEC (España).

Page 24: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Denise Cogo

24LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

A cidadania nas interações comunicacionais emidiáticas das migrações contemporâneas em Porto

Alegre e Barcelona

Denise Cogo*RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOA partir das noções de subjetividade, espaços de vida e movimentos sociaiscomo definidoras das migrações contemporâneas, este artigo analisa asinterações comunicacionais e midiáticas de migrantes latino-americanose europeus em Barcelona e Porto Alegre nas suas relações com os processosde cidadania. A análise toma como base os dados de entrevistas comouma amostra de migrantes realizadas no marco da pesquisa de recepçãosobre mídias e migrações desenvolvida pelos pesquisadores do ProjetoAcadêmico Interuniversitário de Cooperação Internacional Brasil-Espanhae em materiais midiáticos sobre migrações reunidos na base de dadossobre do mesmo projeto (http://www.intermigra.unisinos.br). Palavras- Palavras- Palavras- Palavras- Palavras-chave: chave: chave: chave: chave: comunicação, migrações contemporâneas, cidadania

ABSTRACTOn the basis of subjectivity, life spaces and social movements beingdefining notions in contemporary migrations, this paper analysesthe communicational and mediatic interactions of Latin Americanand European migrants in Barcelona and Porto Alegre in theirrelationship with the processes of citizenship. The analyses are basedon data from interviews with a sample of migrants that were carriedout for research concerning media reception and migration byunder the auspices of the Brazil-Spain Academic CooperationProject ando n mediatic material concerning migrations that wascollected in the data base of the same Project. (http://www.intermigra.unisinos.br) Key words : Key words : Key words : Key words : Key words : communication,contemporary migrations, citizenship

RESUMENA partir de las nociones de subjetividad, espacios de vida y movimientossociales como definidoras de las migraciones contemporáneas, esteartículo analiza las interacciones comunicativas y mediáticas demigrantes latinoamericanos y europeos en Barcelona y Porto Alegre ysus relaciones con los procesos de ciudadanía. El análisis se basa en losdatos de las entrevistas realizadas a una muestra de migrantes en elmarco de la investigación sobre medios y migraciones desarrollada porlos investigadores del Proyecto de Cooperación Académica Brasil-Españay en los materiales mediáticos sobre migraciones reunidos en la base dedatos de dicho proyecto (http://www.intermigra.unisinos.br). Palabras-Palabras-Palabras-Palabras-Palabras-claveclaveclaveclaveclave: comunicación, migraciones contemporánea, ciudadanía.

Page 25: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

25

A cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasmigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelona

Edição Especial - 2005

INTRODUÇÃO

Nesse artigo, analiso as interaçõescomunicacionais e midiáticas das migraçõescontemporâneas nas suas relações com os processosde cidadania, vivenciadas por uma amostra deimigrantes latino-americanos e europeus de distintasnacionalidades em Barcelona e em Porto Alegre. Paraesta análise, são utilizados dados de 20 de um total de68 entrevistas com imigrantes, realizadas no marcoda pesquisa de recepção sobre mídias e migrações doProjeto Acadêmico Interuniversitário de CooperaçãoInternacional Brasil-Espanha, assim como observadosum conjunto de materiais midiáticos de distintasnaturezas sobre migrações, reunidos na base de dadosdo projeto (http://www.intermigra.unisinos.br)1

SUBJETIVIDADE, ESPAÇOS DE VIDA E MOVIMENTO SOCIAL: PARA

UMA COMPREENSÃO DAS MIGRAÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Nas noções de subjetividade, espaços de vidae movimentos sociais, ancoro meu entendimento daexperiência das migrações contemporâneas paracompreender como essas três dimensõessocioantropológicas concorrem, de forma inter-relacionada, para a configuração de modalidadesespecíficas de interações comunicacionais e midiáticasdesse universo de imigrantes latino-americanos eeuropeus entrevistados em Porto Alegre e Barcelona.

Como uma primeira dimensão, a subjetividadeinforma como essas migrações passam a se definir pelasua capacidade de portar e sintetizar uma pluralidade deposições, vínculos, relações, conflitos e disputassociopolíticas, econômicas e culturais nas sociedadescontemporâneas. Sem a pretensão, contudo, deapagamento das causas “objetivas” e circunstânciasmateriais, assim como dos processos de dominação edesigualdade, que envolvem as experiências migratórias,os deslocamentos culturais e hibridizações que

Page 26: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Denise Cogo

26LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

resultam do exercício da subjetividade dos migrantesnão implicam, portanto, uma compreensão de sujeito“desvinculado de raízes de todo tipo e livre pra cruzarde forma nômade os confins entre as culturas e asidentidades.” (MEZZADRA, 1995, 47).

É, entretanto, pela perspectiva da subjetividade,conforme sugerem os relatos dos migrantesentrevistados nos dois contextos, que parece possívelafrontar discursos governamentais, acadêmicos,midiáticos etc., que enfatizam uma visão sistêmica dasmigrações contemporâneas em detrimento dos traçosde turbulência e imprevisibilidade que as (re)configuramcontemporaneamente.

Desde a subjetividade, podem ser desestabilizados,ainda, discursos essencialistas e/ou universalistas em queas migrações contemporâneas se constroem associadas auma cultura da violência (criminalidade, conflitos etc.)ou, ainda, à vitimação e/ou debilidade da figura domigrante. Ou, desde outra perspectiva, aqueles discursosque tendem a privilegiar as representações folclóricas,festivas e/ou exóticas da diferença para representar asmigrações ou mesmo enfatizar o caráter paradigmático emítico do desenraizamento e hibridização do sujeito pós-moderno, encarnado pelos migrantes.

Migrantes procedentes de múltiplos destinos,portadores de distintos níveis de escolaridade e qualificaçãoprofissional e, não raramente, experimentando múltiplostrânsitos transnacionais e culturais; projetos de migraçãoimpulsionados por motivações econômicas, políticas,profissionais, familiares, afetivas etc; experiênciasmigratórias movidas por distintos desejos depertencimento e integração a redes e organizações deimigrantes e às próprias sociedades e culturas de trânsitoe/ou permanência ou, ainda, sustentados por diferentesvinculações sociais e/ou jurídicas (clandestinidade,naturalização, visto de residência etc.) compõem umquadro de experiências extraído dos relatos dos

Page 27: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

27

A cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasmigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelona

Edição Especial - 2005

migrantes entrevistados em Porto Alegre e Barcelona.A partir das múltiplas possibilidades de entrelaçamentodessas experiências, a subjetividade se (re) afirma comoum modo de definição das migrações contemporâneasque vai ser dinamizada e (re) configurada no marcodas interações comunicacionais e midiáticas dosmigrantes europeus e latino-americanos.

Nessa perspectiva, a apropriação estratégicada entrevista “como situação comunicacional” porparte de alguns dos migrantes pesquisados se revelouum útil desarticulador de algumas dessas visões sobremigrações que os entrevistados supunham estarcontidas nas perguntas ou questões formuladas ou naspróprias visões dos entrevistadores. É quando insistem,em alguns casos, em demarcar traços de suas históriasde vida em que os projetos de migração aparecemdissociados de motivações puramente econômicas ouprofissionais, ancorando-se em desejos de “ser livre”,de “aventura” ou de “relações afetivas interculturais”.Ou, ainda, quando preferem se auto-reconhecer como“cidadãos do mundo” mais do que se identificar com afigura de migrante.

A fluidez, fragmentação e transitoriedadedas experiências de mobilidade de grande parte dosmigrantes entrevistados em Barcelona e Porto Alegreapontam igualmente para a impossibilidade de integrarem uma definição única e ao mesmo tempo diversa amultiplicidade de situações e percepções que envolvema idéia de residência ou permanência, configurando,assim, uma segunda dimensão de entendimento dasmigrações contemporâneas que sintetizo na noção deespaços de vida (DOMENACH, PICOUET, 1995).

Como categoria que delimita simbolicamentee ao mesmo tempo demarca espacial e temporalmenteo desenvolvimento das atividades de um indivíduo, anoção de espaço de vida vem contribuir para oentendimento dessas configurações das migrações

Page 28: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Denise Cogo

28LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

contemporâneas ao outorgar um sentido amplo àsdiferentes conexões dos sujeitos migrantes e atribuir,ao mesmo tempo, uma dimensão restrita a essasconexões se, por exemplo, for considerado apenas olocal de residência da família ou o local de trabalho.

Embora não seja utilizável diretamente namensuração das migrações, os espaços de vidapermitem, desde uma perspectiva qualitativa, operaruma “hierarquização” das múltiplas formas demobilidade, motivadas por critérios diversos comoduração, freqüência, periodicidade de utilização decada lugar, renda, atividade, formação, modo dedeslocamento, distância etc. (DOMENACH,PICOUET, 1995, 10).

Tendo por base as noções de subjetividade eespaços de vida, as migrações contemporâneasassumem, ainda, o caráter de movimentos sociais, umaterceira e última dimensão que proponho para oentendimento das interações comunicacionais emidiáticas dos imigrantes estudados em Porto Alegree Barcelona. Mais do que unicamente movimentossocietários, as migrações se constroem comomovimentos culturais que protagonizam açõescoletivas pautadas na “defesa ou na transformação dafigura do Sujeito na perspectiva de possibilitar umacombinação de individualidade com papéisinstrumentais” (TOURAINE, 1997, 147).

Ao atribuírem um caráter transnacional aosmovimentos sociais, as migrações contemporâneascolaboram igualmente para (re) configurar suas modalidadesde organização, assim como as estratégias de construção,negociação, disputa e visibilidade de suas agendas decidadania. Como desestabilizadores da “arquitetura domundo nacional”, os migrantes entrevistados exercitam acidadania em seu duplo aspecto: como espaço “objetivo”, decaráter institucional e soberano, e “subjetivo”, relacionadoa movimento e ação (MEZZADRA, 1995, p. 50).

Page 29: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

29

A cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasmigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelona

Edição Especial - 2005

Além disso, na perspectiva da “cidadanização”(MEZZADRA, 2005, 31) como um dos eixos centraisdas atuais políticas de integração dos imigrantes, atriangulação subjetividades, espaços de vida emovimento sociais sugere que, desde uma perspectivaqualitativa, as práticas de cidadania, relatadas pelosimigrantes em Barcelona e Porto Alegre, nem semprese desenvolvem como uma petição de integração total.O universalismo do direito e os particularismos dopertencimento, as dimensões individuais e coletivasda experiência política se articulam nessas práticaspara configurarem demandas de cidadania, muitasvezes parciais, fragmentadas e ambivalentes(MEZZADRA, 2005, 31).

Nas experiências migratórias analisadas, asvivências dos imigrantes incorporam, por um lado, aodebate público, via ou não movimentos sociais, ademanda por cidadania intercultural, entendida comoaquela passível de ser construída a partir de um diálogocapaz de produzir um “lugar” ou uma “ética” quepermita a combinação entre universalismos eparticularismos (CORTINA, 2005, 146).

Por outro lado, os entrevistados apontam paravivências de cidadania cosmopolita como ideal deuniversalização da cidadania social através do exercíciode constituição de redes de apoio e solidariedade ou,ainda, das próprias dificuldades e enfrentamentos paraa inclusão de diferenças culturais de natureza étnica,nacional, religiosa, na perspectiva de criação decomunidades transnacionais pautadas por uma causacomum, conforme postula o chamado ideal decidadania cosmopolita. É o que se observa quando osentrevistados em Barcelona reconhecem, no interiordas subjetividades migrantes, as diferenças de statussocial alcançado pelas chamadas migrações deaposentados que se estabelecem na Espanha oriundosdos países do norte da Europa como demarcadora de

Page 30: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Denise Cogo

30LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

sua não-inclusão pública na categoria “migrante”,como ocorre, por exemplo, quando são nomeados pelosmeios de comunicação.

INTERAÇÕES COMUNICACIONAIS E MIDIÁTICAS

Compreendida desde a inter-relação entre asnoções de subjetividade, espaços de vida e movimentossociais, as múltiplas experiências de cidadanização dasmigrações contemporâneas se revela como (re)configuradora de um conjunto de interações de ordemcomunicacional e midiática dos migrantes latino-americanos e europeus entrevistados em Barcelona ePorto Alegre.

A tessitura ou não de redes de relações intra,inter ou supragrupos étnicos e/ou nacionais para ancoraros “projetos” de migração individual e ou coletiva; aconstrução de “mapas” e “itinerários” de localização,circulação e/ou permanência nos cenários e culturasurbanas de trânsito ou de permanência; o exercício derelações e conflitos interculturais, vivenciados no âmbitode instâncias interpessoais (família, amigos, outrosgrupos de migrantes etc.) e institucionais (trabalho,setores governamentais, polícia, organizações de apoioàs migrações etc.); os sentimentos de pertencimentoidentitários, delineados no desenrolar do projeto de vidae de migração, constituem modalidades que compõemum quadro de interações comunicacionaisexperimentadas pelos entrevistados que decorrem de suasexperiências de imigração2.

No caso de algumas entrevistas realizadas emBarcelona, no período de vigência de um projeto deregularização de imigrantes empreendido pelo governoespanhol, alguns entrevistados revelaram sonhos eprojetos de vida que se demarcavam nitidamente porum “antes” e um “depois” da obtenção da “cidadaniajurídica”, representada pelo “permiso de residencia”,sugerindo a centralidade da clandestinidade como

Page 31: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

31

A cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasmigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelona

Edição Especial - 2005

experiência conformadora dessas interações e uma certaadesão ou aposta dos imigrantes em uma “cidadanização”pautada na demanda de integração total3.

No marco dessas interações comunicacionais,desenha-se, ainda, um conjunto de interaçõesmidiáticas que ganham especificidades como pautas emodalidades de consumo e usos de meios decomunicação, derivadas dos modos de ser migrante evivenciar as experiências de migrações no cotidiano.Os relatos dos imigrantes entrevistados em Barcelonae Porto Alegre indicam que os meios de comunicação,especialmente a Internet, são utilizados como suporteao “projeto” de migração, tanto para aqueles que nãodispõem de contatos nos lugares escolhidos paramigrar, como para aqueles que usam os meios paraacionar grupos e redes de referência como suporte aesse projeto migratório. As próprias facilidades decontato interpessoal favorecidas pelas migrações deretorno e pela proximidade geográfica e/ou fronteiriça,como é o caso de Porto Alegre no contexto do Mercosul,alimentam esse conhecimento midiático através deredes comunicacionais que fazem circular e atualizamtodo um fluxo de informações sobre os lugares edinâmicas de migração.

Os usos cotidianos de uma multiplicidade demídias, pelos imigrantes entrevistados, sustentam,igualmente, a opção pela permanência, (re) atualizaçãoe, em alguns casos, o distanciamento ou mesmoruptura com as nações e culturas de origem e com oslugares de migração, assim como fomentam desejos eexperiências de integração nas sociedades de acolhida,incluindo a localização de pessoas da mesmanacionalidade, de redes de imigrantes e de organizaçõesde apoio à migração. Há, inclusive, aqueles casos deimigrantes que optam por seguir consumindoexclusivamente mídias (jornais pela Internet, canaisem tv por assinatura etc.) de seu país de origem. Os

Page 32: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Denise Cogo

32LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

meios colaboram, ainda, para o desenvolvimento detáticas de sobrevivência exigidas pelos distintosestatutos jurídicos e condições de cidadania dessesmigrantes (clandestinidade, processos deregularização, obtenção de dupla cidadania etc.).

A condição de imigrante altera e/oureconfigura, igualmente, muitas rotinas etemporalidades que constituem padrões de acesso,apropriação e usos de meios de comunicação, para osquais concorrem as especificidades dos lugares e espaçosde moradia (mais ou menos compartilhados), a duraçãodas jornadas de trabalho, o poder aquisitivo, as questõeslingüísticas e as próprias culturas midiáticasdesenvolvidas pelos imigrantes. Nesse último caso,situam-se alguns imigrantes de origem latino-americana entrevistados em Barcelona que afirmaramnão se identificar com a estética, linguagem e grade deprogramação das televisões públicas espanholas.

As interações com os meios de comunicaçãopodem motivar, por fim, aprendizados e competências,mais ou menos formais, para uso de mídias oupotencializar igualmente a constituição de redescomunicacionais, constituída por imigrantes e não-imigrantes, para o compartilhamento do acesso a recursose dispositivos midiáticos, especialmente a Internet.

O exercício dessas competências aponta para anecessidade de pluralização de imaginários midiáticossobre as migrações não-ancorados na hegemonia de umamatriz de “europeidade” que, desde a perspectiva dosmigrantes entrevistados em Porto Alegre, se revela namemória midiática sobre o legado econômico e culturaldeixado pelas migrações de matriz européia, representadaspor alemães e italianos que colonizaram sobretudo o Suldo Brasil, no século XIX e início do século XX. Ou, ainda,imaginários midiáticos não mais sustentados unicamentepela associação entre migrações contemporâneas ecultura da violência, conforme os relatos dos imigrantes

Page 33: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

33

A cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasmigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelona

Edição Especial - 2005

entrevistados em Barcelona quando evocam a chegadade imigrantes em pateras4 como a principal lembrançasobre imagens de imigração difundidas pelos meios decomunicação espanhóis.

Na perspectiva de disputa pela pluralização deimaginários midiáticos sobre as experiênciasmigratórias contemporâneas, as migrações convertem-se em lugares de luta e exercício de cidadaniacomunicativa e midiática através do desenho deestratégias e táticas de democratização do acessopúblico e/ou privado aos meios de comunicação paravisibilidade de uma agenda sobre as migraçõescontemporâneas. As políticas midiáticas construídaspelas redes e organizações de migrantes voltam-se, porum lado, à ocupação de espaços nos meios decomunicação massivos (jornal, rádio, televisão etc.) e,por outro, à produção e co-gestão de um conjunto demídias alternativas e/ou comunitárias dirigidas aoscoletivos migrantes.

Nesse processo de co-gestão de mídiaspróprias, os migrantes adotam estratégiascomunicativas que ora apelam a um sentido comumpautado no pertencimento étnico ao dirigirem suaspublicações a nacionalidades específicas (equatorianos,chilenos, argentinos etc.) ora se ancoram na latino-americanidade para propor um sentido depertencimento transversal a diferentes etnias. Emalguns casos, tratam de incorporar políticaslingüísticas através de edições bi ou plurilíngües desuas publicações, como é o caso do boletim Família daPompéia do Centro Ítalo-brasileiro de Apoio aoImigrante (CIBAI-Migrações), de Porto Alegre, quecircula com páginas editadas em português, espanhole italiano5.

Em Porto Alegre, destaca-se, ainda, desde umaperspectiva da nacionalidade, o site do Centro Culturale Social chileno (http://www.chilepoa.com.br) e, em

Page 34: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Denise Cogo

34LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Barcelona, boletins como o Huellas, da Asociación deInmigrantes Ecuatorianos em Catalunya para laSolidariedad y la Cooperación (http://www.llacta.org/organiz/llactacaru/huellas/ boletin015.pdf). Desde umaperspectiva da latino-americanidade, outros doisexemplos chegam do El Guia Latino (http://www.elguialatino.com/v7/), produzido em São Pauloe dirigido a imigrantes latino-americanos, e ElParacaidista (http://www.elparacaidista.com/), que seintitula como “la guia del recién llegado a Miami”.

NONONONONOTTTTTAAAAASSSSS(1)(1)(1)(1)(1) Até o momento, foram entrevistados 40 imigrantes na regiãometropolitana de Porto Alegre e 28, em Barcelona. Está previstaa realização de um total de 80 entrevistas em cada contexto.Para este artigo, foram considerados os dados de transcriçõesde 14 entrevistas realizadas na região metropolitana de PortoAlegre e de seis entrevistas realizadas em Barcelona. Informaçõessobre metodologia da pesquisa, incluindo a seleção da amostrade entrevistados, estão registradas na documentação que vemsendo reunida no âmbito do projeto. A metodologia não serádetalhada neste artigo devido a limitações de espaço.(2)(2)(2)(2)(2) Embora tenham sido sistematizados a partir da leitura dasentrevistas, exemplos específicos de cada uma dessasmodalidades de interação não serão retomados aqui em funçãodos limites de espaço deste artigo.(3)(3)(3)(3)(3) Entrevistas realizadas em abril, maio e junho de 2005.(4) (4) (4) (4) (4) Pequenas embarcações que transportam imigrantes desdepaíses africanos, como Marrocos, para a costa espanhola.(5)(5)(5)(5)(5) Essa segunda estratégia parece mais presente no contextobrasileiro que espanhol, possivelmente, devido à presença deentidades confessionais de apoio à imigração ligadas à IgrejaCatólica que, desde sua vertente de esquerda, tem sido uma dasinstituições a liderar esse projeto de construção de uma unidadelatino-americana no contexto dos movimentos sociais daAmérica Latina, especialmente no Brasil.

Page 35: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

35

A cidadania nas interações comunicacionais e midiáticas dasmigrações contemporâneas em Porto Alegre e Barcelona

Edição Especial - 2005

REREREREREFFFFFEEEEERÊNRÊNRÊNRÊNRÊNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSCOGO, Denise Maria. A midiatização das migrações

contemporâneas no contexto brasileiro e as matrizesculturais de construção da União Européia e do Mercosul.Anuário Internacional de Comunicação Lusófona 2005,Lisboa, p. 161-188.

COGO, Denise Maria; Lorite García, Nicolás. Incursõesmetodológicas para o estudo da recepção midiática: o casodas migrações contemporâneas desde as perspectivaseuropéia e latino-americana.. Ciberlegenda, Rio de Janeiro,v. 1, n. 4, 2004.

CORTINA, Adela. Cidadão do mundo: para uma teoria dacidadania. São Paulo: Loyola, 2005.

DOMENACH, Hervé, PICOUET, Michel. . . . . Les migrations. Paris:Presses Universitaires de France, 1995.

LUCAS, Javier de. Globalización e identidades. Barcelona: Icaria,2003.

MEZZADRA, Sandro. Derecho de fuga: migraciones, ciudadaníay globalización. Oxford, 2005.

PAJARES, Miguel La integración ciudadana – una perspectivapara la inmigración. Barcelona: Icaria, 2005.

TOURAINE, Alain. ¿Podremos vivir junto? Iguales y diferentes.Madrid: Editora PPC, 1997.

* Denise CogoDenise CogoDenise CogoDenise CogoDenise Cogo é doutora em Ciências da Comunicação (USP),professora titular do Programa de Pós-Graduação em Ciênciasda Comunicação da Unisinos, em São Leopoldo, RS, Brasil, ondecoordena o grupo de pesquisa Mídia e Multiculturalismo.Pesquisadora e consultora do CNPq, CAPES e Fapergs e co-coordenadora do Projeto Acadêmico Interuniversitário deCooperação Internacional Brasil-Espanha sobre mídias,migrações e interculturalidade financiado pela CAPES (Brasil)e MEC (Espanha).

Page 36: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

LOGOS

36 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Page 37: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

37

LOGOS

Edição Especial - 2005

TRÊS PERSPECTIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS PARA O ESTUDODAS RELAÇÕES ENTRE MIGRAÇÕES

E CONTEXTOS SOCIOMIDIÁTICOS

Page 38: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Jiani Adriana Bonin

38 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Jiani Adriana Bonin*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOEste artigo tem como objetivo pensar algumas proposições paracompreender a problemática da memória étnica na sua relaçãocom as mídias. Interessa-nos, mais especificamente, alinhavaralgumas proposições em torno do conceito de memória coletivae dar alguns passos no sentido de sua problematização para refletirsobre as conformações que as memórias étnicas adquirem hojeno âmbito do processo de midiatização dos grupos migrantes.Palavras chavePalavras chavePalavras chavePalavras chavePalavras chave: mídia; memória étnica; memória coletiva.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTThe objective of this article is to consider some proposals forunderstanding the problem of ethnic memory and itsrelationship with media. Our interest, more specifically, is toarrange some proposals around the concept of collectivememory and take some steps toward its problematization to beable to examine the form that ethnic memories adopt todayconsidering the mediatization processes of migrant groups. KeyKeyKeyKeyKeyWWWWWords: ords: ords: ords: ords: media, ethnic memory, collective memory

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNEste artículo tiene como objetivo pensar algunas propuestaspara comprender la problemática de la memoria étnica y surelación con los medios de comunicación. Nos interesa, masespecíficamente, hilvanar algunas propuestas en torno alconcepto de memoria colectiva y dar algunos pasos en la líneade las problemáticas para pensar como se constituyen lasmemorias étnicas hoy en el ámbito de los procesos demediatización de los grupos migrantes.Palabra clave:Palabra clave:Palabra clave:Palabra clave:Palabra clave: mediosde comunicación, memoria étnica, memoria colectiva.

Mídia e memórias: elementos para pensar aproblemática das memórias étnicas midiatizadas

Page 39: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

39

Mídia e memórias: elementos para pensar aproblemática das memórias étnicas midiatizadas

Edição Especial - 2005

INTRODUÇÃO

Alguns autores vêm chamando a atenção parao fenômeno de emergência da memória como umadas preocupações centrais das sociedades atuais; deuma cultura da memória1, que se globaliza, fortementemarcada pela ação da Indústria Cultural. Um âmbitoque vemos como importante para pensar astransformações que se operam na conformaçãocoletiva/individual da memória com a midiatização éo relativo à memória étnica. Nesse sentido,constatamos um investimento histórico e atual demídias e gêneros em torno desta modalidade dememória, seja relacionada a descendentes deimigrantes de grupos que vieram no período decolonização2, seja de outros grupos de imigração maiscontemporânea (como os fluxos migratórios deimigrantes de países do Mercosul)3, o que nos permitepensar numa específica configuração de culturamidiática da memória. Nesse processo, as mídias não“transportam” a memória étnica de maneira inocente,elas a condicionam e fabricam na sua própria estruturae forma, instituindo-se, para usar os termos de Mata(1999), como marca, modelo, matriz, racionalidadeprodutora e organizadora de sentido.

No âmbito desse processo, algumas questões vêmnos instigando à investigação, relacionadas à particularconfiguração e ao modelamento das memórias de gruposétnicos de imigração histórica e contemporânea pelamídia, aos palimpsestos4 de memórias midiatizadas quese instituem na recepção e ao esquecimento, constitutivodeste processo. No marco dessas preocupações, interessa-nos especificamente, neste artigo, alinhavar algumasproposições em torno do conceito de memória coletiva edar alguns passos no sentido de sua problematização parapensar as conformações que as memórias étnicasadquirem hoje no âmbito do processo de midiatização.

Page 40: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Jiani Adriana Bonin

40 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

PENSANDO A MEMÓRIA ÉTNICA EM SEU LASTRO COLETIVO

Pensar a midiatização da memória étnica nosdesafia a refletir sobre a problemática da memória emsua conformação/vinculação coletiva – memóriacoletiva; evocada por sujeitos individuais, tal memóriacarrega marcos coletivos de constituição - relacionadosà pertença a um grupo étnico, à ação da mídia e/ou deoutros agentes sociais. Maurice Halbwachs é o autorque trabalhou o conceito de memória coletiva parapensar, desde uma perspectiva sociológica, a dimensãopropriamente social da memória. Para ele, a memóriaindividual se assenta e se organiza com base emquadros sociais; carrega consigo a dimensão social dadapela linguagem, pela inserção do indivíduo numcontexto social e em relações de pertencimento;ampara-se e se constitui nas relações que o indivíduomantém com os demais membros de seus grupos depertença. Argumenta o autor que a recordação/reconstrução de um acontecimento passado se faz apartir de dados e noções comuns que se encontramno indivíduo e nos demais, e isso só é possível se osmembros fizerem e continuarem fazendo parte de umamesma configuração social. Recordar significa voltara evocar, mediante a interação social, a linguagem, asrepresentações, as classificações coletivas, ou seja,reatualizar a memória do grupo social depertencimento. A memória coletiva, nessa perspectiva,é pensada como a seleção, interpretação e transmissãode certas representações do passado sob o ponto devista de um grupo social determinado.

O pensamento do autor privilegia, portanto, adimensão coletiva de conformação da memória.Entretanto, e concordando com Montesperelli (2004),pensamos que não exclui sua interação com a dimensãoindividual da memória. Sob essa ótica, o autor propõeque, se a memória coletiva tira sua força e sua duraçãodo fato de ter por suporte um grupo de pessoas, são os

Page 41: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

41

Mídia e memórias: elementos para pensar aproblemática das memórias étnicas midiatizadas

Edição Especial - 2005

indivíduos que se lembram, na condição de membrosdo grupo. Dessa massa de lembranças comuns, que seapóiam umas sobre as outras, não são necessariamenteas mesmas que aparecerão com mais intensidade paracada um deles. Assim, cada memória individual é umponto de vista sobre a memória coletiva, e esse pontode vista muda conforme o lugar que o indivíduo ocupano grupo e conforme as relações que mantém comoutros meios sociais.

Tomando isso em conta, a idéia de umamemória da sociedade5 ou mesmo de uma memóriade um grupo unificada é problemática; se tal memóriaexistir, só poderá ser fruto de cruzamentos eintegrações de distintas memórias6 (e esquecimentos).

O conceito de memória coletiva conserva suafecundidade para refletir sobre formas de consciênciado passado (ou de inconsciência, em caso deesquecimento), de algum modo, compartilhadas porgrupos sociais, como aquelas relativas aos gruposétnicos. É possível admitir, e aqui compartilhamos davisão de Candau (2002), que a sociedade/os gruposproduzem certas “percepções fundamentais”, queexistem configurações de memória características degrupos ou sociedades – para as quais o autor propõe anoção de marcos sociais de memória. Mas, no interiordessas configurações, cada indivíduo impõe seu próprioestilo, estreitamente dependente de uma parte de suahistória e da organização de seu cérebro, que sempreé única. A memória coletiva pode também compartilharmais esquecimentos do que propriamente lembranças.

Pierre Nora traz outros elementos para pensaras articulações entre memória individual e memóriacoletiva e as contradições e conflitos que as atravessam.O que se denomina como memória coletiva,argumenta, com freqüência, é produto de umaarticulação de estratos de memória distintos; sepodemos admitir que certos lugares de memória nos

Page 42: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Jiani Adriana Bonin

42 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

falem de determinadas modalidades de memória coletiva,como a memória étnica, estes são em geral a condensaçãode memórias plurais, mais ou menos antigas, comfreqüência, conflitivas e que interatuam entre si. Oslugares de memória seriam a obra de memórias múltiplas,às vezes, convergentes, divergentes e inclusiveantagônicas. Por conseqüência, a memória coletiva nãoé nunca unívoca. A noção de lugares de memória remetea uma unidade significativa, de ordem material ou ideal,a que a vontade de homens (grupos) e/ou o trabalho dotempo converteram num elemento simbólico de umadeterminada comunidade. A idéia de fabricação, deprodução do lugar subjaz a essa definição e permite pensarque os lugares de memória são móveis e passíveis dereinterpretações diversas e, inclusive, de se tornaremlugares de esquecimento. A noção de lugares de memóriarefere-se a lugares que pertencem à memória, que sãoproduto dela, que vêm dela, e não, lugares em que amemória se encarna. Candau (2002) propõe pensartambém os lugares de amnésia, aqueles que, dado seupassado, poderiam ter se convertido em lugares dememória, mas nos quais a memória não se encarnou.

Seguindo vários autores, é fundamentalpensar nos modos como as estruturas de poder e aslutas em torno da hegemonia pela definição damemória e do esquecimento impactam e marcam osmarcos sociais da memória. A questão do poder sobrea memória suscita também a discussão sobre amanipulação da memória e a imposição da amnésia.Sob esse aspecto, a memória coletiva é o resultado,nunca adquirido definitivamente, de conflitos ecompromissos entre vontades de distintas memórias.Diferentes grupos e agentes competem pela hegemoniasobre os discursos plausíveis e relevantes relativos àmemória dentro da sociedade em seu conjunto7.

Estas vontades/grupos/agentes distintos seenfrentam na esfera pública, onde lutam pela hegemonia

Page 43: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

43

Mídia e memórias: elementos para pensar aproblemática das memórias étnicas midiatizadas

Edição Especial - 2005

sobre os discursos plausíveis e relevantes de memóriadentro da sociedade e seu conjunto8. Os aparatos emodalidades de transmissão da memória desempenhampapel relevante também nas lutas em torno da supremaciada memória, e aqui joga papel fundamental às mídias,como arenas centrais de publicização e de visibilização(ou de esquecimento) da memória dos grupos.

Até aqui, vimos rastreando algumas proposiçõespara pensar a dimensão coletiva da memória, apoiando-nos em autores que, desde o ponto de vista de umasociologia e antropologia da memória, têm algo a nosdizer sobre esta problemática Entretanto, o que aquinos interessa pensar é a conformação de memóriasétnicas sob a ação da mídia e, sob esse enfoque, asproposições necessitam ser tensionadas para pensarcomo a midiatização opera transformações nos marcossociais ou lugares de memória étnica.

MIDIATIZAÇÃO E MEMÓRIA ÉTNICA

Os conceitos de midiatização e de culturamidiática vêm se impondo no âmbito da reflexãocomunicacional para fazer frente ao desafioepistemológico-teórico de se pensar as profundasalterações que se instituem nos mais diversos âmbitosde conformação social com a formação, consolidaçãoe expansão histórica do campo das mídias9. Com anoção, não se alude apenas a um estágio mais avançadono intercâmbio dos produtos culturais, fruto doincremento de tecnologias e instituições destinadas àprodução de mensagens e ao incremento do uso destestecnologias e meios; o que se busca tornar inteligívelé o caráter estruturador das práticas sociais e deconformador de desenhos das interações sociais queos meios adquirem; as alterações substantivas emtermos do redesenho dos modos como a sociedade seestrutura, produz significados, comunica-se, sereproduz-se e transforma-se – e, nesse contexto, o que

Page 44: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Jiani Adriana Bonin

44 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

nos interessa, a memória (especificamente étnica) –no decorrer do processo de expansão e inscrição dasmídias nos diversos âmbitos do social. Mudanças que,no dizer de Mata (1999), estão exigindo querecuperemos a materialidade dos processossignificantes, que reponhamos a centralidade dosmeios na análise cultural, mas já não comotransportadores de algum sentido acrescentado (asmensagens), mas como “marca, modelo, matriz,racionalidad productora y organizadora de sentido”(Mata, 1999, p.84). Mas como podemos pensar astransformações da memória étnica no âmbito doprocesso de midiatização? Esta é uma interrogaçãoextremamente complexa e não temos a pretensão dedar conta dela neste artigo. Interessa-nos por oraalinhavar alguns pontos.

Martín Barbero (2001, 2002, 2003) e AndreasHuyssen (2002), refletindo sobre as transformações atuaisda memória, argumentam que, para entendê-las, énecessário pensá-las em relação ao fenômeno datransformação da estrutura da temporalidade social e daexperiência do tempo, provocada pela complexa intersecçãoentre mudança tecnológica, mídia e novos padrões deconsumo, trabalho e mobilidade global, assim como emrelação ao fenômeno da planificada obsolescência dosobjetos cotidianos pelo mercado – da qual faz parte aacelerada sincronicidade produzida pelos meios.

Vivemos numa sociedade cujos objetoscotidianos que, durante séculos, haviam sido feitospara durar, se tornam rapidamente obsoletos –condição de funcionamento do sistema – o que seprojeta também sobre as idéias, os costumes, os estilos,os gostos, a memória. Frente à memória que, emoutros tempos, os objetos acumulavam, e através daqual conversavam as gerações, hoje a maioria dosobjetos são descartáveis10. Essa mesma amnésia éreforçada pelos meios de comunicação. As mídias,

Page 45: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

45

Mídia e memórias: elementos para pensar aproblemática das memórias étnicas midiatizadas

Edição Especial - 2005

nesse processo, como lugares de fabricação dopresente, estariam contribuindo para debilitar opassado, a consciência histórica. A aceleraçãotecnocultural, fortemente moldada pelas mídias,estaria levando à perda da noção do tempo e à instalaçãode um presente contínuo, em “una sequencia deacontecimientos que no alcanza a cristalizar emduración, y sem la cual ninguna experiência logracrear, mas allá de la retórica del momento, umhorizonte de futuro” (Lechner, 1995, citado por MartínBarbero, 2004, p.32). Um sentido de continuidadehistórica ou, no caso, de descontinuidade, ambosdependentes de um antes e de um depois, cede lugar àsimultaneidade de todos os tempos e espaços,prontamente acessíveis no cotidiano.

A obsolescência acelerada, as alterações datemporalidade e o debilitamento das ancoragensidentitárias, das quais participam os meios comoprotagonistas importantes, parecem levar à vitória dopresente e carregam o risco da amnésia; entretanto, comoargumentam Martín Barbero (2001a, 2001b) e Huyssen(2002), paradoxalmente, estariam gerando também umdesejo de passado – fenômeno de boom, ou febre dememória referido por Martín Barbero, de cultura damemória, no dizer de Huyssen, em que as mídias jogamum papel fundamental – cujo sentido não se esgota naevasão, mas expressa a forte necessidade de tempos maislargos e a materialidade de nossos corpos reclamandomenos espaço e mais lugar. A febre de memória estariaexpressando a necessidade de ancoragem temporal de quesofrem as sociedades (e os grupos), cuja temporalidade ésacudida pela revolução tecnológica informacional, quedissolve as coordenadas espaço-temporais do mundo davida. Nela se manifesta a transformação profunda por quepassa a estrutura de temporalidade, que a modernidadenos legou, desestabilizando o lugar do passado como lastroe fazendo da novidade a fonte de legitimidade da cultura.

Page 46: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Jiani Adriana Bonin

46 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Estaria correndo risco de desaparecer nesteprocesso o passado como continuidade da experiência,que não se confunde com uniformização nem comnostalgia, mas aponta para um mínimo de horizontehistórico que faz possível o diálogo entre gerações e aleitura/tradução entre tradições. Tradição pensada naversão benjaminiana como herança, não-acumulávelnem patrimonial, mas radicalmente ambígua em seuvalor e em permanente disputa por sua apropriação,reinterpretada e reinterpretável, atravessada e sacudidapelas mudanças e os conflitos permanentes e as inérciasde cada época. A memória que se encarrega da tradição,nessa perspectiva, não é a que é a relacionada a tempoimóvel, mas a que faz presente um passado quedesestabiliza (Martín Barbero, 2002, 2005).

Montesperelli (2004) também argumenta quea sociedade pós-moderna e a aceleração do cursohistórico estariam levando a uma condição em que opassado seria incapaz de iluminar o presente, levandoa uma progressiva presentificação da experiência.Outra ameaça apontada seria a excedência cultural, asuperabundância de referências no seio de sociedademediatizada, “no se olvida por cancelación, sino porsuperposición, sin producir ausência, sinomultiplicando las presencias. Uma masasobreabundante de informaciones determina que ellector o el telespectador ya no se encuentre emcondiciones de recordar lo ocorrido. (Eco, 1990, p.19,citado por Montesperelli 2004, p.60).

É importante atentar também para a questãode que a experiência multifacetada da recepção hoje,configurada por múltiplas referências midiáticas, pormúltiplos palimpsestos midiáticos de memória, assimcomo as especificidades da gramática narrativa dosrelatos midiáticos instituem uma experiência defragmentação/proliferação dos relatos, como se anarração explodisse em pedaços. Essas questões nos

Page 47: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

47

Mídia e memórias: elementos para pensar aproblemática das memórias étnicas midiatizadas

Edição Especial - 2005

permitem pensar que os relatos de memória devemestar se transformando sob a ação desses fenômenos,que podem levar à fragmentação dos relatos dememória e mesmo de produção de lugares de amnésia.É preciso, entretanto, nuançar tais considerações,pensando as especificidades em termos dos relatos degênero – pensemos aqui nas peculiaridades, porexemplo, do relato da telenovela, cuja duração temporalé larga, diferentemente do relato noticioso televisivo,cuja duração é curta e de composição fragmentada –considerando também particularidades em termos demídia impressa e televisiva.

Na esteira dessas proposições, julgamos que amemória étnica, que nos interessa particularmente,deve estar sofrendo transformações em sua natureza,qualidade e sentido, marcada pela transformação daestrutura espacial e temporal e em cujo processo amídia joga um papel fundamental. A mídia pode estarcolaborando para um apagamento do sentido do tempoe da memória e transformando a relação com o sentidodo passado étnico. Pensamos, em conformidade comCandau (2002) que, nesse processo, a produção delugares de memória deve estar se tornando mais difusa,dispersa e fragmentária; que a mídia atua como agentefundamental de produção de lugares de memória e deamnésia – produção marcada por suas matrizes, seusgêneros, suas modalidades narrativas (que apresentamdistinções quanto aos gêneros) e sua racionalidade deprodução de sentido. Entretanto, também pensamosque os lugares de memória e amnésia não são resultadoapenas da ação da mídia, mas articulam-se e sãocruzados pelas dinâmicas dos contextos em que osagentes vivem, onde operam mediações na constituiçãodas memórias étnicas. Estas e outras questões estão asuscitar (e vêm merecendo, de nossa parte),investimento reflexivo e investigação empírica.

Page 48: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Jiani Adriana Bonin

48 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

NONONONONOTTTTTAAAAASSSSS(((((1)1)1)1)1) Entre eles, Huyssen (2000), Candau (2002) e Montesperelli (2004).(2)(2)(2)(2)(2) No caso desses grupos, para dar exemplos, em nossa pesquisaanterior, constatamos um investimento na cobertura noticiosada RBS TV em temas relativos à memória da imigração alemã eitaliana, em vários programas locais produzidos pela emissora.Também, em observações exploratórias, constatamos esteinvestimento em outras emissoras regionais como a TVE e oSBT, assim como a TV-COM da RBS. Na investigação conduzidapor Cogo (2004) sobre imigração e mídia impressa, também severificou a presença de temas relativos à memória da imigraçãoalemã e italiana, particularmente em mídias regionais do RioGrande do Sul e de Santa Catarina. Em emissoras nacionais,tivemos as telenovelas Terra Nostra e Esperança (Rede Globo),cujas tramas tematizaram a memória da imigração italiana; nocinema, por exemplo o filme O Quatrilho.(3)(3)(3)(3)(3) As pesquisas de Cogo sobre a midiatização da migraçãocontemporânea também permitem ver investimentos da mídiaem temas relativos a memórias de grupos étnicos de imigraçãocontemporânea. Por exemplo, em Cogo (2004), a presença dessetipo de tema em jornais regionais e de âmbito nacional.(4)(4)(4)(4)(4) Utilizamos a noção de palimpsesto para pensar a trama devários textos de memória que se cruzam e se tensionam naexperiência do receptor.(5)(5)(5)(5)(5) Na perspectiva de Halbwachs, é pertinente fazer referênciaa grupos, e não, a toda a sociedade quando se fala de memóriascoletivas: grupos identitários, culturas, instituições comporiamuma pluralidade de memórias coletivas dentro de um mesmosistema social.(6)(6)(6)(6)(6) Como observa Jedlowski (1989), citado por Montesperelli (2004).(7 )(7 )(7 )(7 )(7 ) Jedlowski, 2000 e de maneira análoga, Benjamin,argumentam nesse sentido, segundo Montesperelli (2004).Também Halbwachs (1990) atenta para as lutas em torno dadefinição da memória coletiva.(8)(8)(8)(8)(8) Inclusive, podemos pensar, no caso da memória étnica, emlutas que se dariam internamente aos grupos étnicos em tornoda leitura “legítima” do seu passado, que podem carregar consigoprojetos e políticas de identidade e de memória. Sob esse aspecto,torna-se importante pensar também como, no caso da memóriaitaliana, repercutem as ações históricas para empreender umaidentidade nacional, como a campanha da nacionalização no Brasil- que determinou o fechamento das escolas e das sociedades decaráter étnico, a proibição da língua, se expressam em termos deamnésias e reconfigurações da memória deste grupo; comotambém as lutas pela conformação de uma identidade regional,gaúcha, subsumindo memórias particulares a esta; as iniciativasintegracionistas de imigrantes, a ação da mídia, enfim, comomarcam as configurações atuais da memória dos sujeitos étnicos.

Page 49: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

49

Mídia e memórias: elementos para pensar aproblemática das memórias étnicas midiatizadas

Edição Especial - 2005

(9)(9)(9)(9)(9) A midiatização atenta para o lugar estratégico que tal campopassa a ter na configuração das sociedades contemporâneas,possibilitado, pela sua capacidade de “atravessar todos os outroscampos sociais, condicioná-los e adequá-los às formasexpressivas e representativas da mídia” (Maldonado, 2002, p.6.)Nas sociedades modernas, as mídias se instituem como umcampo social central, lugar de passagem, definição e publicizaçãodos outros campos, ainda que com especificidades nesseatravessamento do campo midiático (Esteves, 1998, citado porMaldonado, 2002).(10)(10)(10)(10)(10) Lembremos que o espaço joga um lugar fundamental naordenação da memória coletiva, como salienta Halbwachs (1990).A memória ancora-se nos espaços (ou lugares). Quando os gruposestão inseridos numa parte do espaço, eles o transformam à suamaneira, imprimem a sua marca nesse espaço. Os objetos tambémsão suportes de memória, insertam o passado no presente.

REREREREREFFFFFEEEEERÊNRÊNRÊNRÊNRÊNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSBERGER, Christa. Proliferação da memória: a questão do

reavivamento do passado na imprensa. In: BRAGANÇA, Aníbal;MOREIRA, Sônia Virgínia (orgs.) Comunicação, acontecimentoe memória. São Paulo: Intercom, 2005. p.60-69.

CANDAU, Joel. Antropologia de la memória. 1ª ed. Buenos Aires:Nueva Visión, 2002.

COGO, DenIse. et. al. Mídia, migração e interculturalidade.Relatório de pesquisa. São Leopoldo, Unisinos, 2004.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice,1990. 189 p.

HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura,monumentos, mídia. Rio de Janeiro:Aeroplano, 2000.

___. Resistência à memória: usos e abusos do esquecimentopúblico. In: BRAGANÇA, Aníbal; MOREIRA, Sônia Virgínia(orgs.) Comunicação, acontecimento e memória. São Paulo:Intercom, 2005. pp.22-36.

LAPIERRE, Jean William (1998). Prefácio. In: POUTIGNAT,Philippe; STREIFF-FENART, Joceline. Teorias da etnicidade.São Paulo: UNESP, 1998. p. 9-14.

Page 50: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Jiani Adriana Bonin

50 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

MALDONADO, A. Efendy. Produtos midiáticos, estratégias,recepção. A perspectiva transmetodológica. Ciberlegenda,Rio de Janeiro, n.9, p.1-15, 2002. Disponível em: <http//www.ciberlegenda.br> Acesso em: 19/11/2002.

MARTÍN BARBERO, J. Dos meios às mediações: comunicação,cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.

___. Razón técnica e razón política: espacios/tiempos nopensados. Revista latinoamericana de ciencias de lacomunicación,,,,, n.1, p.22-37, jul./dez., 2004.

___. Tecnicidades, identidades, alteridades: des-ubicaciones yopacidades de la comunicación en el nuevo siglo. Diálogosde la Comunicación,Lima, n.64, p.8-23 nov. 2002.

MATA, María Cristina. De la cultura massiva a la culturamediática. Diálogos de la comunicación, n. 56, p. 80-91,out. 1999. Disponível em <www.felafacs.org/dialogos>.Acesso em: 20 de março, 2002.

MONTESPERELLI, Paolo. Sociologia de la memória. 1ª ed.Buenos Aires: Nueva Visión, 2004.

* Jiani Adriana BoninJiani Adriana BoninJiani Adriana BoninJiani Adriana BoninJiani Adriana Bonin é professora e pesquisadora do Programade Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos,São Leopoldo, RS, Brasil; co-coordenadora do grupoProcessocom e membro integrante do Projeto AcadêmicoInteruniversitário de Cooperação Internacional Brasil-Espanhasobre mídias, migrações e interculturalidade financiado pelaCAPES (Brasil) e MEC (Espanha).

Page 51: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

51

El impacto de la migración internacional enel estudio de la audiencia de televisión

Edição Especial - 2005

Amparo Huertas Bailén*

RESUMONo âmbito dos estudos culturais encontramos os primeirostrabalhos sobre o consumo mediático do imigrante, com certodomínio das proposições psicológicas sobre as antropológicas.Desde a perspectiva comercial, em alguns países as pesquisasde audiência já quantificam o consumo de este segmento dapopulação: esta informação começa a ser muito valiosa parapublicitários e anunciantes. Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: índices de audiência;coletivo imigrante; estudos culturais.

ABSTRACTThe first work on the use of media by migrants is to be found inthe field of cultural studies with a definite focus on thepsychological aspects rather than on the anthropological ones.From a commercial perspective, as in some countries audienceresearch already quantifies this population segment, thisinformation is beginning to become highly valuable to themarketing and advertising sectors. Key words: Key words: Key words: Key words: Key words: Televisionaudience; immigration; cultural studies.

RESUMENEn el marco de los estudios culturales encontramos los primerostrabajos sobre el consumo mediático del inmigrante, con ciertodominio de los planteamientos psicológicos sobre losantropológicos. Desde la perspectiva comercial, en algunospaíses los sondeos de medición ya cuantifican el consumo deeste segmento de la población: esta información comienza aser muy valiosa para publicitarios y anunciantes. PalabrasPalabrasPalabrasPalabrasPalabrasclaveclaveclaveclaveclave: audiencia de televisión; inmigración; estudios culturales.

El impacto de la migración internacional en el estudiode la audiencia de televisión

Page 52: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Amparo Huertas Bailén

52 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Este artículo está dividido en dos partes biendiferenciadas. En primer lugar, trata del modo en quese ha estudiado al inmigrante, en calidad de espectadorde televisión, en el ámbito académico y, a continuación,se aborda el tratamiento de este segmento de lapoblación desde la perspectiva comercial. En gran partede la literatura especializada en comunicación se eludeeste segundo tipo de investigaciones por considerarlasde escaso interés científico dada su estrecha relacióncon lo que se denominan los estudios de mercado.Además de ser útiles para establecer las parrillas deprogramación, la otra función principal de lasmediciones de audiencia, buque insignia de estaperspectiva, es facilitar a anunciantes y publicitariosel diseño de campañas eficaces, con un alto númerode impactos y un bajo coste económico. Ello es unhecho incuestionable, pero también es cierto que estetipo de sondeos juega un papel primordial en laconstrucción social del público televisivo, lo que nosobliga, como investigadores de la comunicación, aprestarles atención. Además, no hay que olvidar queen los sondeos se usan muestras de gran tamaño,inabarcables en los análisis cualitativos.

En el entorno académico, el estudio de larecepción y del uso de la televisión de las personasque viven alejadas de su país de origen se encuentratodavía dando sus primeros pasos. Para explicar estedesinterés, algunos autores apelan al hecho de que laantropología no haya tenido gran incidencia en lainvestigación de la audiencia televisiva. Si bien es ciertoque en el marco de los estudios culturales se ha dadoun destacado uso de metodologías de carácteretnográfico, como por ejemplo la entrevista enprofundidad o la observación participante, losplanteamientos de carácter psicológico han dominadosobre la mirada antropológica en la historia de lainvestigación de la audiencia (HUERTAS, 2002).

Page 53: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

53

El impacto de la migración internacional enel estudio de la audiencia de televisión

Edição Especial - 2005

No obstante, en el área de los estudiosculturales encontramos diferentes trabajos próximosa nuestro tema de interés, el consumo mediático delinmigrante. En general, estas aportaciones indaganen torno a procesos de comunicación en los que seproduce una hibridación de culturas. Uno de los másambiciosos y complejos es el de Katz y Liebes (1990).Se trata de un estudio que, aunque el paso del tiempoha puesto en evidencia sus limitaciones metodológicas,tiene un gran valor por introducir una nueva manerade mirar la audiencia.

Con el objeto de conocer el modo en quediferentes comunidades interpretaban y evaluaban, apartir de su cultura y de su propia experiencia personal,un producto de éxito producido en Estados Unidos, Katsy Liebes realizaron entrevistas a seis grupos socialesdistintos: cuatro afincados en Israel (israelíes de origenruso, árabes ciudadanos de Israel, judíos procedentes deMarruecos y, por último, miembros de las comunidadesestablecidas en aquel país basadas en la economía solidariay que reciben el nombre de kibbutz), otro formado poramericanos de segunda generación residentes en LosÁngeles y otro compuesto por japoneses que permanecíanen su país natal. El programa escogido para analizar surecepción fue la serie de ficción Dallas, emitida en EstadosUnidos entre 1978 y 1991.

La metodología aplicada consistió en larealización de entrevistas en profundidad a familiasque, previamente y en sus casas, habían visionado uncapítulo de la famosa serie. En las sesiones no semezclaban miembros de distintos grupos sociales y,en la mayoría de ocasiones, las familias reunidas ya seconocían personalmente con anterioridad. Esteconocimiento previo y el visionado conjunto seconsideran, hoy en día, poco recomendables. Que loscomponentes de la muestra de un estudio se conozcanentre sí suele propiciar homogeneidad en los

Page 54: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Amparo Huertas Bailén

54 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

resultados y, respecto al visionado, se recomienda crearsituaciones lo más parecidas al entorno natural.

A la hora de presentar los resultados, Katz yLiebes distinguían entre “referencial reading”(interpretación referencial) y “critical reading”(interpretación crítica). Cuando los componentes dela muestra hablaban sobre la serie implicándoseemocionalmente, y como si se tratara de vivenciasreales, eran clasificados dentro de la modalidad“interpretación referencial”. En cambio, los discursosdonde era evidente el reconocimiento de la serie comoficción, como un producto televisivo, eranconsiderados como críticos. Las manifestaciones másreacias fueron las expuestas por los rusos residentesen Israel, seguidos por los americanos y, en tercerlugar, los residentes en comunidades kibbutz. Acontinuación se situaron los judíos marroquíes y losárabes. Ahora bien, unas y otras posturas no siemprerespondían a las mismas razones, por lo que ladistinción entre “interpretación referencial” e“interpretación crítica” resultó ser una clasificacióninsuficiente. Así, por ejemplo, mientras que los rusosbasaban sus críticas en el hecho de que la serie sólopotenciaba el sistema económico capitalista, losamericanos formaban su opinión a partir de lasdecisiones y comportamientos de los personajesficticios. Otra de las conclusiones generales apuntabaque, cuanto mayor era el nivel de estudios, mayoresprobabilidades había de posturas de rechazo.

La recepción de Dallas también fue estudiadaen otro trabajo que ha tenido una notable trascendencia,el realizado por Ang (1985). En el seno de los estudiosculturales, existe una gran preocupación por el poderde las industrias culturales estadounidenses, de ahí elinterés por la influencia de productos norteamericanosde éxito en culturas ajenas. El estudio de Ang estuvoclaramente marcado por una perspectiva psicológica y

Page 55: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

55

El impacto de la migración internacional enel estudio de la audiencia de televisión

Edição Especial - 2005

se centró en el proceso de identificación. Le interesaban“los aspectos del programa que producían unasatisfacción emocional a los espectadores”(NIGHTINGALE, 1999, 133-34). La muestra fueescogida a partir de las respuestas que obtuvo tras lapublicación de un texto de reclamo en la prensa.

Otro grupo de investigaciones, tambiénpertenecientes al ámbito de los estudios culturales,que son útiles en la construcción de los pilares delestudio del inmigrante como audiencia es el formadopor aquellos trabajos que han analizado cómo seconsume la televisión en los hogares de diferentesculturas. Aunque las muestras no están compuestaspor personas que se han desplazado fuera de su paísde origen, el hecho de aplicar metodologías similaresen países diversos permite realizar comparaciones dela función y el uso de los medios en diferentescontextos culturales. Uno de los autores másdestacados es James Lull (1990).

Ahora bien, aunque escasos, tambiénencontramos ejemplos que tratan de manera específicael consumo de productos televisivos por parte depersonas que viven alejadas de su territorio geográficoy simbólico. Entre estos, destaca la investigadora MaryGillespie (1995), quien realizó un estudio sobre lasfamilias hindúes residentes en un barrio londinense.Gillespie investigó cómo estas familias utilizan latelevisión por cable o satélite, y el video, y comprobósu utilidad para mantener su fe y sus tradiciones enun país mayoritariamente cristiano. Las familiashindúes visionaban con regularidad grabaciones deuna popular serie de su país de origen, Mahabarata.Respecto a los adolescentes asiáticos, Gillespie exploróen detalle el modo en que la televisión se convierte enun elemento central en la formación y transformaciónde la identidad dentro del grupo. Menos conocido esel estudio de Minu Lee y Chong Heup Cho (1990),

Page 56: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Amparo Huertas Bailén

56 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

quienes analizaron los motivos por los que las mujerescoreanas y residentes en Estados Unidos visionabanseries de ficción producidas en su país de origen. Laprincipal conclusión apuntó hacia lo que se podríadenominar “recepción emotiva”, ya que la mayor partede la muestra expresó que durante el consumo sesentían como si nunca hubieran abandonado su país.

En Latinoamérica este tipo de planteamientosestán extendiéndose con gran rapidez. Uno de lostrabajos más recientes es el de Ana Uribe (2004), quienestudió la recepción de telenovelas mexicanas por partede inmigrantes de origen mexicano residentes en LosÁngeles. Otro ejemplo es el de Grimson (1999), quienanaliza el uso de los medios por parte de inmigrantesbolivianos en Buenos Aires. Entre sus conclusiones,Grimson advierte de las diferencias derivadas del lugarde origen (rural o urbano) y de las determinadas porla edad (por ejemplo, los jóvenes, a diferencia de losadultos, desarrollan procesos de identificación congrupos musicales y presentadores).

En definitiva, este conjunto de investigacioneslo que pone en evidencia es que al grupo social formadopor los inmigrantes procedentes de un mismo país enningún caso se le puede aplicar el concepto de“comunidad interpretativa”, sin hacer más distinciones.Este término, definido por Lindlof (1988), señala que lapertenencia a un grupo cultural/social determinadoinfluye en la recepción y valoración de los productostelevisados. La recepción mediática es diversa y compleja.En ella, no sólo intervienen aspectos sociales y culturales.Es indudable que en la vida cotidiana particular eindividual quedan reflejadas las características de lasociedad en general, pero también es cierto que lasvivencias personales juegan un papel esencial en laformación del individuo. Y la consideración de estasexperiencias es todavía más necesaria cuando se analizael fenómeno de la inmigración.

Page 57: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

57

El impacto de la migración internacional enel estudio de la audiencia de televisión

Edição Especial - 2005

En lo que se refiere a la perspectiva comercial,y centrándonos en las mediciones de audiencia, elinterés por la cuantificación aparece en la década delos 90 del siglo XX en Estados Unidos. Cuando losgrupos de hispanos y de afroamericanos comienzan atener unas dimensiones de interés comercial, Nielsen–empresa dedicada a la medición de la audiencia enaquel país- crea una muestra nacional específica,representativa de estos dos segmentos de la población,y bajo el nombre de Ethnic TV comienza a generardatos sobre su consumo televisivo. Es decir, estaprimera inclusión de muestras específicas en lossondeos cuantitativos es muy reciente.

En marzo del 2005 esta compañía hizo públicoun informe encargado a diferentes expertos con elobjeto de saber en qué apartados podía mejorar su tareainvestigadora. Muchas de las recomendaciones finaleshacen referencia a la diversidad cultural. El informeno sólo alerta sobre la necesidad habitual de ampliarlas muestras de este grupo de la población, sino quetambién apela a cuestiones que todavía no están muyextendidas en las empresas encargadas de hacerestudios de mercado. Entre las más destacadas, aparecela necesidad de preparar a los encuestadores para poderentrevistar sin problemas a personas de diferentesculturas, la utilidad de hacer diferentes diseños delmaterial a presentar a los encuestados con rasgosestéticos distintos para adecuarlos a los diversos grupossociales y, por último, promocionar dentro delorganigrama de la empresa a personas procedentes dediferentes culturas.

El hecho de que en el informe se incluyeraeste tipo de consejos se debe a que, en gran parte, surealización fue una respuesta a las demandas delcolectivo de inmigrantes. Los afroamericanos ehispanos habían iniciado una campaña de oposición aNielsen en febrero de ese año. A través de un

Page 58: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Amparo Huertas Bailén

58 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

movimiento ciudadano denominado “Don’t count usout” (traducido como “Queremos ser contados”), estecolectivo reivindica el derecho a ser tratado conigualdad en todos los ámbitos.

En España, el Estudio General de Medios(EGM), elaborado por la Asociación para laInvestigación de la Comunicación de Masas (AIMC),realiza entrevistas personales a más de 43.000 personasal año para saber el consumo de medios de la poblaciónespañola. La inclusión de una pregunta sobre lanacionalidad del entrevistado, para permitir obtenerdatos específicos de este sector de la población, se hizopor primera vez en el año 2002. En realidad, esta fechano ha de sorprender, ya que la preocupación porincorporar a la totalidad de personas residentes enEspaña, independientemente de su nacionalidad osituación legal, en el Censo de Población y Viviendasrealizado por el Instituto Nacional de Estadística (INE)aparece el año 2001.

En lo referente a las cuestiones metodológicas,el Estudio General de Medios apunta como principalesdificultades a la hora de estudiar el consumo de mediosdel inmigrante el recelo de éstos ante el entrevistador,motivado en la mayoría de ocasiones por su situaciónlegal, y los problemas derivados del idioma a la horade hacer las entrevistas.

Pero analicemos los resultados de este estudioreferentes al año 2004, información muy valiosa parael investigador social. Sobre todo, destacaremosaquellas características que diferencian al extranjerodel español:• Los extranjeros acceden con más regularidad a Internet

y van más asiduamente al cine. Por el contrario, lalectura de diarios y suplementos y la escucha de laradio presentan índices inferiores a los de losespañoles. El consumo de revistas y de la televisión(cobertura estatal) es similar en ambos casos.

Page 59: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

59

El impacto de la migración internacional enel estudio de la audiencia de televisión

Edição Especial - 2005

• Si diferenciamos entre radio generalista (programaciónvariada) y radio musical, esta última es la preferida porlos extranjeros. En cambio, los españoles prefieren elprimer tipo.

El Estudio General de Medios diferencia entrecuatro grupos: Africanos, Europeos, Americanos yAsiáticos. La comparación entre ellos permite observar que:• Los asiáticos, muy probablemente por cuestiones del

idioma, son los que menos medios de comunicaciónconsumen.

• Los americanos son, por el contrario, los que mayorconsumo de medios realizan. Los datos publicadosno permiten distinguir entre la población americanaque habla castellano y la que no.

• Los africanos, muy probablemente por los problemassocioeconómicos de su país de origen, son los quemenos acceden a Internet.

En resumen, ambas perspectivas, la académicay la comercial, contribuyen en el conocimiento delcomportamiento del inmigrante ante los medios decomunicación. Las conclusiones de estas primerasaportaciones están formando los pilares de un objetode investigación de creciente interés y, lo que es másimportante, pueden determinar la manera de observara este público. Sabemos que la manera deaproximarnos a un objeto de estudio determina en granparte los resultados. Y, en un ámbito social como es elde la inmigración, conviene estar alerta ante lasposibles miradas xenófobas.

Page 60: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Amparo Huertas Bailén

60 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

REREREREREFFFFFEEEEERRRRREEEEENNNNNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSANG, Ien. Watching Dallas. London: Routledge, 1985.

GILLESPIE, Marie. Televisión, Ethnicity and Cultural Change.London: Routledge, 1995.

GRIMSON, Alejandro. Migrantes bolivianos y tecnologíasaudiovisuales. Circulación cultural y uso de los medios. In:GRIMSON, Alejandro; VARELA, Mirta. Audiencias, culturay poder. Buenos Aires: Eudeba, 1999. p. 227-242.

HUERTAS, Amparo. La audiencia investigada. Barcelona: Gedisa,2002.

KATZ, Elihu y LIEBES, Tamar. The export of meaning: Cross-Cultural Readings of Dallas. New York: Oxford UniversityPress, 1990.

LEE, Minu y CHO, Chong Heup. Women Watching Together: anEthnographic Study or Korean Soap Opera Fans in U.S.Cultural Studies. Chal Hill: University of North Carolina,Board, n.4 (1), p. 30-44, 1990.

LINDLOF, Thomas R. Media audiences as interpretativecommunities. In: Andreson, J. (comp.). CommunicationYearbook. v. 11. Newbury Park: Sage, 1998. p. 81-107

LULL, James. Inside family viewing: ethnographic research ontelevision’s audience. London: Routledge, 1990.

NIGHTINGALE, Virginia. El estudio de las audiencias. El impactode lo real. Barcelona: Paidós, 1999.

URIBE, Ana. As telenovelas mexicanas no México de Afuera. In:VASSALO DE LOPES, Immacolata (coord.). Telenovela.Internacionalizaçao e Interculturalidade. São Paulo:Ediciones Loyola, 2004.

* Amparo Huertas Bailén * Amparo Huertas Bailén * Amparo Huertas Bailén * Amparo Huertas Bailén * Amparo Huertas Bailén es Doctora en Ciencias de laInformación (Periodismo). Profesora Titular del Departamentode Comunicación Audiovisual y de Publicidad, de la UniversidadAutónoma de Barcelona. Especializada en el estudio de laaudiencia de televisión y la programación radiofónica.Colaboradora de MIGRACOM.

Page 61: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

61

Ruínas Latino-Americanas - Cidades imaginárias + imagináriosmulticulturais (Uma proposta de trabalho)

Edição Especial - 2005

Fabrício Silveira*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOO artigo discute a possibilidade metodológica da realização de“cartografias subjetivas da experiência urbana e migratória”.Sugere a cidade de Porto Alegre e um grupo de imigranteslatinos aí residentes como operadores empíricos da proposição.Nossa hipótese é a de que, quando implementado, esse exercíciode investigação poderá revelar certos traços de uma mítica eidealizada capital latino-americana. Palavras-chave :Palavras-chave :Palavras-chave :Palavras-chave :Palavras-chave :Imaginários urbanos; cidades; multiculturalidade.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTThe article argues the methodological possibility of creatinga “subjective cartography of urban and migratory experience”.It suggests the city of Porto Alegre and a group of Latinimmigrants resident there as empirical operators of theproposal. Our hypothesis is that, when implemented, thisexercise of inquiry will disclose certain traces of a mythicaland idealized Latin American capital. Keywords:Keywords:Keywords:Keywords:Keywords: Urbanimaginaries; cities; multiculturalism.

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNEl artículo propone la posibilidad metodológica de larealización de “cartografias subjetivas de la experiência urbanay migratória”. Sugiere usar la ciudad de Porto Alegre, y enconcreto un grupo de inmigrantes latinos residentes en laciudad, como protagonistas empíricos de la proposición.Nuestra hipótesis es que la realización de ese ejercicio deinvestigación permite revelar ciertos rasgos de una mítica eidealizada capital latinoamericana. Palabras c lavePalabras c lavePalabras c lavePalabras c lavePalabras c lave:Imaginários urbanos; ciudades; multiculturalidad.

Ruínas Latino-Americanas - Cidades imaginárias +imaginários multiculturais (Uma proposta de trabalho)1

Page 62: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Fabrício Silveira

62 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Dentre os inúmeros comentadores eintérpretes dos escritos do filósofo alemão WalterBenjamin, existe pouco consenso. Um deles – talvez oúnico, poderíamos dizer, caso aceitássemos correr orisco do exagero e das afirmações excessivamentetaxativas – é o fato de que as cidades por ele visitadasao longo das décadas de 1920 e 30 adquirem amplossignificados culturais, afetivos e políticos. O amploconjunto de textos deixados por Benjamin nos conduzà percepção de uma certa geografia intelectual e íntima.Ao tomar Paris como campo de estudos – comomedium-de-reflexão2 – no Trabalho das Passagens, oautor situa a capital francesa justamente no coraçãodessa particularíssima topografia. Tanto Willie Bolle(2000), quanto Susan Buck-Morss (2002), por exemplo,concordam que vida e obra de Benjamin cruzam-se,confundem-se e traduzem-se graficamente num mapa.

O presente artigo pretende formular, então, apossibilidade metodológica da realização – muitomotivada por Benjamin – de algo como “cartografiasou mapas subjetivos da experiência urbana emigratória”. Tal elaboração poderia colocar-se dentreos esforços de interfaceamento dos projetos singularesde investigação que integram o projeto bilateral decooperação acadêmica Brasil-Espanha, intitulado “Mídiae interculturalidade. Estudo das estratégias demidiatização das migrações contemporâneas noscontextos brasileiro e espanhol e suas repercussões naconstrução midiática da União Européia e do Mercosul”3.

Nesse contexto e ao modo de uma nova‘projetação-pesquisa’, abriria-se 1) a perspectiva dedeflagrarmos (e incorporarmos no corpo de nossasinvestigações – ou de novas e sucessivas investigaçõesque possam se seguir) processos alegóricos ouinconscientes de leitura da cidade e/ou de ambientesurbanos. Processos semelhantes àqueles dos quaisBenjamin se vê investido. Para Néstor Canclini (2003:

Page 63: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

63

Ruínas Latino-Americanas - Cidades imaginárias + imagináriosmulticulturais (Uma proposta de trabalho)

Edição Especial - 2005

96), por exemplo, este tipo de aproximação temconseqüências para a construção da cidadania cultural,porque esta cidadania não se organiza somente sobreprincípios políticos, segundo a participação ‘real’ emestruturas jurídicas ou sociais, mas também a partirde uma cultura formada nos atos e interaçõescotidianos, e em projeção imaginária desses atos emmapas mentais da vida urbana.

Como decorrência lógica, 2) a cidade estariasendo entendida, fundamentalmente, como umaespécie de ‘arena’ comunicacional e multicultural. Ocenário da cidade seria o “teatro de uma guerra derelatos”, como diz Michel de Certeau. “Relatos de umaheterogeneidade cultural, sem dúvida, tensa, que éatravessada pelas clivagens de etnia, sexo, gênero,classe, idade etc; relatos que podem ainda abranger aação dos grandes relatos da TV e da publicidade, queesmagam ou atomizam os pequenos relatos de rua oude bairro”, como fala Cordeiro Gomes (2004: 07-08).Em nosso caso, por exemplo, Porto Alegre seriatambém um medium-de-reflexão.

Além disso, 3) do ponto de vista metodológico,afirma-se a possibilidade técnica da realização de“cartografias imaginárias” e da estipulação de confrontosdialético-temporais – para os quais, aliás, os recursosfotográficos (e, em suma, a provocação e o trabalhogenérico das imagens) serão sempre bem-vindos. Aliás,essa disposição se acentua quando Willi Bolle (1999:97-98) comenta que “as relações entre o mapa de umacidade e a geografia mental de seus habitantes sempreexerciam um fascínio especial sobre Benjamin. Em todasua obra, podem ser detectadas metáforas cartográficas,como ‘mapa da vida’, ‘esquema gráfico’, ‘rede decoordenadas’, ‘diagrama’ (...)” etc. Dessa forma, norecurso oportuno a essa ambientação epistêmica, podemse amarrar progressivamente nossos interesses pelosconvívios urbanos e pelos convívios multiculturais.

Page 64: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Fabrício Silveira

64 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Trata-se, então, de esboçarmos mapassimbólicos ou cartografias sentimentais de PortoAlegre. Para tanto, procuraremos, por exemplo, coletare ouvir relatos de imigrantes – mais especificamente,imigrantes latino-americanos, residentes há cerca deduas décadas, na capital gaúcha. De posse dessesrelatos, dessas histórias narradas, encontraríamos osfragmentos de uma cidade imaginária, submetida,tanto à perspectiva do tempo (a memória reconfiguradapelos anos que se passaram), quanto ao risco quaseinevitável de uma redutora equiparação cultural (oimigrante flagrado em seu mais tenro momento dechegada e de estranhamento – deslumbre, rejeição ouacautelamento – intercultural).

Os pontos urbanos porventura citadoscausariam tanta surpresa se fossem comparados à listade pontos turísticos de Porto Alegre? A cidade quechamou a atenção e acabou por registrar-se noimaginário afetivo dos imigrantes latinos, justamenteno momento em que se encontravam mais abertos aoimpressionamento provocado pela nova terra, é amesma cidade que ainda hoje chama a atenção e causaorgulho ao cidadão porto-alegrense mais comum?

Para dar conta dessas questões, parece-nosviável, metodologicamente, obtermos descrições decenários e confrontá-los, em seguida, aos registrosatuais desses mesmos locais citados, obtidos viadocumentação fotográfica ou então em função dosdocumentos cartográficos disponíveis. Seria possíveltambém armar a conjunção (ou a justaposição) dosregistros orais (memorialísticos, afetivos, imaginários,enfim) fornecidos por nossos informantes,concebendo, a partir daí, uma capital latino-americanamitificada e muito paradoxal – ficcionalizada, por certo–, composta de recortes temporais e das impressõessubjetivas por ela causadas. Certamente, esses espaçoscitadinos acionariam lembranças afetivas muito

Page 65: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

65

Ruínas Latino-Americanas - Cidades imaginárias + imagináriosmulticulturais (Uma proposta de trabalho)

Edição Especial - 2005

singulares; seriam compostas por cheiros, porexemplo, por situações características, por personagenstípicos, por lembranças dos horários do dia, talvez portraumas ou insucessos pessoais. Assim, qual seria acor dessa cidade? Que estados de espírito estariamassociados a ela? Como estaria povoada?

Trata-se, então, de dar forma a essa grandecomposição de impressões e fragmentos. De um lado,teríamos as falas de um pequeno conjunto deimigrantes latino-americanos. Essas falas nospermitiriam um primeiro mapeamento e um primeiroregistro de alguns pontos urbanos – por hipótese:pontos de acolhida de imigrantes, pontos de referênciacultural – tais como bares típicos, praças –, mastambém igrejas, prédios públicos etc. Em seguida,como complementação metodológica, teríamos apossibilidade de confrontar essa cidade narrada, essacidade incrustada na memória, os pontos nelaindicados, com o registro desses mesmos locais talcomo hoje se encontram (nas fotografias, nos mapasoficiais e nos documentos públicos).

Esta Porto Alegre tão típica – essa peça quasefrankensteiniana, entre o fictício e o virtual – estariaviva, estaria ocorrendo, simultaneamente, em muitos‘terrenos subjetivos’, estaria dispersa em muitasmemórias. Refazê-la agora, segundo os instrumentosmetodológicos que aqui sugerimos, apanhá-la numanarrativa que assim possa dar-lhe unidade (ao menosa unidade dessa experiência epistêmico-textual) seriatambém apanhá-la numa certa brecha cronológica, nasmúltiplas tensões entre o tempo efetivamentetranscorrido (para cada um dos sujeitos convidados àfala) e a envolvente factualidade do presente. Desseconfronto de temporalidades (ou temporalizações)subjetivas distintas, poderia emergir, então, aquilo queo crítico cultural John Kraniauskas chamou deinconsciente colonial (e que agora, talvez mais

Page 66: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Fabrício Silveira

66 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

apropriadamente, poderíamos rebatizar como‘inconsciente multicultural urbano’): o resíduo psíquicono qual a experiência migratória pode redundar.

Cabe reconhecer ainda que o elemento maispropriamente comunicacional (ou técnico-midiático)dessa investigação não se encontra colocado em suabase, como elemento deflagrador do processo depesquisa ou como elemento ao qual, muitonaturalmente, estaríamos direcionados. Aqui,pretende-se tão somente abrir-se à possibilidade de suaaparição. O elemento comunicacional pode surgir,então, nas falas recolhidas, seja como menção, porexemplo, a um cartão-postal que, porventura, tenhagravado a cidade na lembrança (e que tenha motivado,talvez, a curiosidade pela capital gaúcha ou até mesmosua escolha como destino de viagem); pode vir tambémcomo referência ao jornal de um determinado dia, lidonum determinado local ou numa determinada situaçãolocalizada, e que agora salta à mente como o primeiroemblema (talvez o mais forte emblema) da imersãonuma cultura diversa. Poderia ainda ser a lembrançado som de um aparelho radiofônico ou de uma televisãoligada compondo determinado ambiente. De qualquerforma, não se trata de fazê-los aparecer, forçosamente,mas de deixá-los aparecer, caso vierem. E casoapareçam, cabe-nos, então, tomá-los como objetosespeciais de reflexão. Outros fenômenoscomunicacionais poderiam ser acolhidos da mesmaforma: seja a lembrança de uma marca, um jinglepublicitário, uma mercadoria à venda numa vitrine,um produto qualquer, embalado em rótulos ou coresque tenham chamado a atenção, ou até mesmo umacanção popular que tenha se depositado firme nalembrança. Assim, os elementos comunicacionais(nossas madeleines4 contemporâneas) figurariamcomo complementos sugestivos, capazes de sintetizarou compor memórias – e é assim que nos cabe abordá-

Page 67: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

67

Ruínas Latino-Americanas - Cidades imaginárias + imagináriosmulticulturais (Uma proposta de trabalho)

Edição Especial - 2005

los: respeitando o modo delicado como seacondicionam às recordações pessoais.

Não se trata também de estabelecer umareflexão teórico-abstrata sobre a natureza ou a essênciada memória (seja a partir de Bergson ou Halbwachs,seja a partir de Bachelard ou mesmo em função deBenjamin). Antes, interessa-nos obter dados que nospermitam apenas compor a topografia imaginária deum espaço circunstancial de acolhida de imigranteslatinos. Encontraríamos aí algum tipo auto-impostoou auto-atribuído de ‘guetização’ etno-cultural? Ou,ao contrário, poderíamos assim cogitar o retratoalegórico de uma cidade latino-americana ideal (ouidealizada)? Por ora, cabe reconstruí-la não apenas parauma pessoa, mas para uma experiência – a experiênciamigratória, a experiência daquele que chega,estrangeiro, à cultura brasileira-gaúcha, e que, nela,impressiona-se e registra em si uma cidade (com todosos seus apelos, comunicacionais ou não).

SOBRE AS ENTREVISTAS

A estimativa é a de que possamos reunir umnúmero considerável de entrevistas com migranteslatino-americanos residentes em Porto Alegre, há cercade vinte anos. Essa demarcação (praticamente, um pré-requisito) temporal talvez seja suficiente para conferirum certo ‘efeito de perspectiva’ às falas, demandandotambém algum ‘trabalho da memória’. A princípio,acreditamos que uma dezena de entrevistas abertas –embora pautadas pelas questões abaixo listadas – sejasuficiente para montarmos um mapa memorialísticolatino-americano da cidade de Porto Alegre.Certamente, a própria qualidade (ou o própriorendimento) desse material irá regular o número deentrevistados procurados e a necessidade de novas enovas entrevistas. É preciso reconhecer também que,obviamente, os encontros entre pesquisador-pesquisado

Page 68: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Fabrício Silveira

68 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

não devem se restringir a uma aplicação meramenteburocrática de uma lista de perguntas; antes, espera-seque tenhamos efetivas situações dialogais, de trocassubjetivas, simpáticas ou até mesmo informais. Já foidito também que nossos movimentos técnico-metodológicos só se completarão no trabalho detextualização, de montagem narrativa dos cenárioslembrados e de inclusão das fotografias do presentedesses pontos urbanos. Esses procedimentos todoscombinados podem potencializar os paradoxais geo-historiogramas fotográficos da capital gaúcha. As dezinterrogações que abaixo se seguem tentam suscitaruma certa memorabilia, tentam destravar uma série deassociações (paralelos, comparações) interculturais queconfrontam a)a)a)a)a) capitais e cidades diferentes (Porto Alegree qualquer outra cidade natal latino-americana) nosmesmos momentos históricos ou b)b)b)b)b) a mesma cidadeflagrada em tempos distintos. Além disso, a própriaformação étnico-sociocultural dos entrevistadostambém irá pulverizar outros ângulos, acrescentandonovas e maiores complexificações às variáveis (aaaaa e bbbbb)acima citadas. Essa composição prismática de respostaspossíveis poderá nos ajudar no silenciamento de umaoutra pergunta, mais abrangente e talvez ainda maisgenuinamente benjaminiana – a pergunta, enfim, queimpulsionaria essa peça particular de investigação: oexame dessa ou de qualquer outra metrópole nospermitirá vislumbrar, de relance ao menos, a míticacidade perdida – a cidade em ruínas – das culturas latino-americanas em trânsito?

Para tanto, mais concretamente, supomos queas seguintes questões possam nos auxiliar:1. Quando você chegou a Porto Alegre?2. Por que escolheu a cidade?3. Como veio?4. Mais exatamente, o que você lembra da capital gaúcha,

na época em que aqui desembarcou? Pode descrevê-la?

Page 69: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

69

Ruínas Latino-Americanas - Cidades imaginárias + imagináriosmulticulturais (Uma proposta de trabalho)

Edição Especial - 2005

5. Nos primeiros dias, o que mais lhe chamou a atenção(lugares, práticas citadinas, hábitos dos porto-alegrenses)? Você sabe dizer como eram? Sabe dizerpor que lhe causaram tanto espanto?

6. Que lugares eram aqui freqüentados por seuscompatriotas ou companheiros de viagem? Por queessa preferência?

7. Onde seu grupo de amigos e/ou conterrâneoscostumava reunir-se? Havia algum motivo emespecial? E hoje, como se encontram tais lugares?Costuma ainda freqüentá-los?

8. Para você, quais eram os lugares mais tipicamente‘porto-alegrenses’?

9. Algum local lhe lembrava seu país (ou sua cidade)de origem? Qual? Seria possível descrevê-los ecompará-los em maiores detalhes?

10. Em sua avaliação, o que mais se transformou nacidade de Porto Alegre, positiva e negativamente,nos últimos anos?

Nossa expectativa, por fim, é a de que taiselaborações teóricas e metodológicas possam, numfuturo próximo, materializar resultados e dadosinteressantes. Só a implementação do trabalho de campoe a coleta, tanto de imagens fotográficas da cidade dePorto Alegre, quanto de depoimentos de imigrantes queaqui chegam (ou que aqui chegaram já há algumasdécadas) podem trazer indícios dos processos simbólicose subjetivos em função dos quais a experiênciamigratória e a experiência urbana se imbricam. Nomomento, fica, então, o projeto de trabalho e a promessade que a continuidade da investigação contemplará oque foi aqui somente esboçado.

Page 70: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Fabrício Silveira

70 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

NONONONONOTTTTTAAAAASSSSS(1) (1) (1) (1) (1) O presente artigo é parte do projeto de investigação “PortoAlegre em Código. Linguagens vivas da comunicação urbana”,desenvolvido pelo autor, a partir de agosto de 2004, junto aoPrograma de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, naUniversidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo/RS. Talprojeto se articula às atividades do projeto Brasil-Espanha.(2)(2)(2)(2)(2) Tradução do termo alemão reflexionsmedium, usado porBenjamin para designar a qualidade da obra de arte – ou dacidade, no caso – de proporcionar conhecimento crítico. Maisdetalhes em Bolle (1999).(3)(3)(3)(3)(3) Sobre esse macroprojeto, aprovado simultaneamente pelaCAPES (no Brasil) e pelo MECD (na Espanha), articulam-seinvestigações individuais e menores, tal como a pesquisa quedesenvolvemos sobre a paisagem semiótico-comunicacional dacapital gaúcha. Assim, diferentes proposições e diferentes gruposde trabalho colocam-se em rota de cooperação, construindo umespaço de trocas e complementações teóricas, metodológicas eepistêmicas. Este artigo não deixa de ser, justamente, umaevidenciação dessa convergência.(4)(4)(4)(4)(4) Imortalizadas por Marcel Proust como grandes evocadorasde lembranças, madeleines são um tipo de bolinho francês, secoe assado, muito apreciado, ainda hoje, dentro e fora da França.A receita pode ser encontrada em http://www.recettes-et-terroirs.com/recette_detail-19-1519.html.

REREREREREFFFFFEEEEERÊNRÊNRÊNRÊNRÊNCCCCCIAIAIAIAIAS BIS BIS BIS BIS BIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSBENJAMIN, Walter. Rua de Mão Única. Obras Escolhidas II. 5ª

ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

BOLLE, Willi. Fisiognomia da Metrópole Moderna.Representação da história em Walter Benjamin. 2ª ed. SãoPaulo: FAPESP/EDUSP, 2000.

_______. A metrópole como médium-de-reflexão. in:SELIGMANN-SILVA, Márcio (org.). Leituras de WalterBenjamin. São Paulo: FAPESP; Annablume, 1999.

BUCK-MORSS, Susan. Dialética do Olhar. Walter Benjamin e oProjeto das Passagens. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Chapecó:Argos Editora Universitária, 2002.

CANCLINI, Néstor Garcia. A globalização imaginada. São Paulo:Iluminuras, 2003.

Page 71: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

71

Ruínas Latino-Americanas - Cidades imaginárias + imagináriosmulticulturais (Uma proposta de trabalho)

Edição Especial - 2005

GOMES, Renato Cordeiro. A cidade como arena damulticulturalidade. Artigo publicado na edição 01, emdezembro de 2004, da revista eletrônica e-compós: http://www.compos.org.br/e-compos.

KRANIAUSKAS, John. “Cuidado, ruínas mexicanas! Rua de mãoúnica e o inconsciente colonial”. in: BENJAMIN, Andrew;OSBORNE, Peter (orgs.). A Filosofia de Walter Benjamin.Destruição e experiência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,1997.

SILVA, Armando. Imaginários Urbanos. São Paulo: Perspectiva;Bogotá: Convênio Andrés Bello, 2001 (trad.: Pérola deCarvalho e Mariza Bertoli).

* Fabrício Silveira * Fabrício Silveira * Fabrício Silveira * Fabrício Silveira * Fabrício Silveira é jornalista (UFSM), mestre em Comunicação eInformação (UFRGS) e doutor em Comunicação (UNISINOS).Atualmente, é professor no Programa de Pós-Graduação em Ciênciasda Comunicação (UNISINOS), onde desenvolve também atividadesde investigação e orientação de pesquisas de mestrado e doutorado.

Page 72: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Sara Losa

72 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Page 73: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

73

“Yo tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueños a la “realidad”. Un análisis cualitativode algunas primeras entrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelona

Edição Especial - 2005

EXPERIÊNCIAS DE RECEPÇÃOMIDIÁTICA DAS MIGRAÇÕES

DESDE BARCELONA E PORTOALEGRE

Page 74: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Sara Losa

74 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

“Yo tenía una imagen de Europa Hollywood”: de lossueños a la “realidad”. Un análisis cualitativo de

algunas primeras entrevistas realizadas coninmigrantes en Barcelona

Sara Losa*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOEste artigo propõe algumas pistas para uma análise qualitativaa partir de algumas primeiras entrevistas realizadas com pessoasresidentes em Barcelona e provenientes da União Européia ouAmérica Latina dentro do projeto bilateral de cooperaçãoacadêmica Brasil-Espanha. Serão analisadas em particular asrepresentações, expectativas e motivações relacionadas com asmigrações contemporâneas e sua relação com os meios decomunicação. Palavras chave: Palavras chave: Palavras chave: Palavras chave: Palavras chave: migração; meios de comunicação;representação.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTThis article suggests some directions for qualitative analysisderiving from the first interviews conducted with European andLatin American people living in Barcelona. These interviewsare part of a joint academic research project between Braziland Spain. Representations, expectations and motivations linkedwith contemporary migration will be analyzed focusing on theirrelationship with mass media. Key words: Key words: Key words: Key words: Key words: migration; massmedia; representation.

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNEste artículo propone algunas pistas para un análisis cualitativoa partir de algunas primeras entrevistas realizadas con personasresidentes en Barcelona y provenientes de la Unión Europea ode América Latina en el marco del proyecto bi-lateral decooperación académica Brasil-España. Se analizarán enparticular las representaciones, expectativas y motivacionesrelacionadas con las migraciones contemporáneas y su relacióncon los medios de comunicación. Palabras clave Palabras clave Palabras clave Palabras clave Palabras clave: migración;medios de comunicación; representación.

Page 75: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

75

“Yo tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueños a la “realidad”. Un análisis cualitativode algunas primeras entrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelona

Edição Especial - 2005

IIIIINTRONTRONTRONTRONTRODDDDDUUUUUCCCCCCCCCCIÓNIÓNIÓNIÓNIÓN

En este artículo, nos proponemos plantear unaserie de reflexiones a partir de algunas de las primerasentrevistas1 realizadas entre mayo y agosto del 2005con europeos y latinoamericanos residentes enBarcelona, para analizar la construcción de losimaginarios y representaciones que se derivan de larecepción mediática. Estas entrevistas forman partedel proyecto de investigación internacional realizadoen colaboración entre Brasil y España titulado“Interculturalidad y medios de comunicación: estudiode las estrategias de mediatización de las migracionescontemporáneas en los contextos brasileño y españoly sus repercusiones en la construcción mediática dela Unión Europea y del MERCOSUR”2.

Las ideas propuestas en este trabajo no debenser consideradas como conclusiones generales. Nuestraintención es formular algunas reflexiones intermediasde la autora surgidas durante el proceso deinvestigación y que no representan el análisis del grupode investigadores. Creemos que estas pistas de análisispuedan ser interesantes y constructivas como reveladordel funcionamiento y desarrollo del procesoinvestigativo, demostrando que el análisis es un trabajoconstante de reinterpretación y reajuste.

Los entrevistados han sido seleccionados apartir de una muestra elaborada a partir de datosdemográficos representativos de la situación de la ciudadde Barcelona (“Informe Estadístico de la Poblaciónextranjera a Barcelona” disponible en www.bcn.es/estadistica). Lamentablemente las limitaciones de esteartículo nos impiden explicar el proceso metodológicoque respalda la elaboración de la muestra y delcuestionario utilizados3. Ahora bien, se ha de aclararque la muestra utilizada para este artículo sigue criterioscualitativos y no tanto cuantitativos4.

Page 76: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Sara Losa

76 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

ANÁLISIS

La reapropiación, por parte de losentrevistados, de las imágenes que emergen de losmedios de comunicación y el discurso que elaboran apartir de estos datos son el hilo conductor que nosacompañará durante este análisis.

Los medios de comunicación tienen, sin lugara dudas, una gran centralidad en las sociedadesactuales. Es lo que Maria Cristina Matta llama lamediatización de la sociedad, o la cultura mediática, yque crea “un nuevo modo en el diseño de lasinteracciones, una nueva forma de estructuración delas prácticas sociales, marcada por la existencia de losmedios” (MATTA, 1999). La (omni) presencia de losmedios de comunicación en la vida cotidiana implicaque estos sean parte integrante de los procesos deconstrucción colectiva de significado. Considerandola mediatización como un fenómeno globalizantepresente en todos los ámbitos de la vida humana nopodemos aislar de entre los datos recogidos en lasentrevistas lo exclusivamente “mediático”.

Esta constatación ha sido confirmada yreforzada durante las entrevistas. Nos hemos dadocuenta que al momento de reflexionar sobre su propioconsumo mediático los entrevistados, de manerageneral, no parecen otorgarle un papel muy central.Pero a lo largo de la entrevista emerge claramente lainfluencia ejercida por los medios en sus discursos.Notamos así la influencia de una cultura mediáticageneralizada en la construcción y representación delas experiencias de vida personales de cada individuo.

Tal y como dice el título, la idea de este artículoes proponer un análisis del pasaje de los “sueños” a la“realidad” en el discurso de los entrevistados, y el papelque juegan los medios de comunicación en estas dosdimensiones. Queremos precisar que lo que llamamos“realidad” no es otra cosa que la suma de los puntos

Page 77: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

77

“Yo tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueños a la “realidad”. Un análisis cualitativode algunas primeras entrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelona

Edição Especial - 2005

de vista de los actores sociales implicados en unadeterminada situación (GUSFIELD, 1981). Uno deestos puntos de vista es el de los medios decomunicación. De hecho, si consideramos la realidadmigratoria actual, no podemos negar el papeldeterminante que juegan estos medios en laconstrucción de la percepción social de la situaciónpercepción social de la situaciónpercepción social de la situaciónpercepción social de la situaciónpercepción social de la situaciónporqué la definición que dan del fenómeno (utilizandotérminos en su mayoría con una connotación negativa)ayuda y favorece su construcción como problema socialglobal (GUSFIELD, 1981). Pero la “realidad”migratoria contemporánea comprende, además de ladefinición que dan y difunden los medios, la recepcióndel público y la reapropiación que este último hace dela información que recibe, a partir de su experienciapersonal y de las interacciones sociales.

Para abordar estas cuestiones a partir de losdatos de las entrevistas es útil comparar las imágenesque los entrevistados tenían de España o de Europaantes de emigrar, la manera en que estas imágenes sehan transformado con el tiempo y con la vivencia y lamanera en que, desde su posición de inmigrantes, ellosanalizan el fenómeno migratorio. ¿Qué esperabaencontrar el entrevistado al llegar a Europa? ¿Cómose habían construido estas expectativas? ¿Los mediosde comunicación han condicionado de alguna manerala visión de Europa del entrevistado? Hemos podidonotar que en la mayoría de los casos las imágenesconstruidas desde el país de origen no corresponden ala realidad encontrada.

Sin poder profundizar mucho estas preguntas,proponemos el ejemplo muy interesante de unadiseñadora brasileña. Describiendo su visión de Europaantes de viajar, dice “yo tenía una imagen de EuropaHollywood, Europa súper glamour, Europa todo elmundo con mucho vino, delicatessen, muy Chanel,yo pensaba que la gente aquí tenía mucha cultura, y

Page 78: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Sara Losa

78 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

yo estoy viendo que no es así, y fue una decepciónenorme para mi”. Vemos aquí como esta mujer habíaconstruido un verdadero “sueño europeo” que no haencontrado al llegar al viejo continente. Y tampoco loha visto concretizarse en sus planes profesionalesporqué al analizar la idea que tenía de desarrolloprofesional dice “... yo creo que tenía muchos másyo creo que tenía muchos másyo creo que tenía muchos másyo creo que tenía muchos másyo creo que tenía muchos mássueños que la realidadsueños que la realidadsueños que la realidadsueños que la realidadsueños que la realidad5, porqué yo veo que la realidadaquí por lo menos para el diseño es muy complicada,que quizás en Brasil no estaba tan mal”.

Frente a esta constatación la entrevistadareadaptareadaptareadaptareadaptareadapta sus sueños y dice “la intención era muyprofesional al principio y ahora la verdad es que soy máspersonal que profesional”. Además de modificar susexpectativas con relación a Europa esta mujer revalorizarevalorizarevalorizarevalorizarevalorizatambién lo que tenía en su país de origen antes de emigrary, hablando de sus sueños actuales, dice “yo cuando vuelvaa Brasil (...) quiero tener mi empresa, de nuevo, de nuevo, de nuevo, de nuevo, de nuevo, pero nocomo era antes, tener mi empresa pero para venderproductos, o para crear algo diferente (...)”.

Queremos destacar que al comparar lasdiferentes respuestas de los entrevistados, hemosconstatado que la dimensión de “sueño”, expectativao proyecto está mucho más presente en las personasprovenientes de Latinoamérica que de Europa. En elcaso de los entrevistados europeos ninguno de ellosdice haber tenido un sueño que motive la decisión decambiar de país. Esta constatación podría llevarnos asuponer que los europeos que deciden instalarse enotro país de la Unión Europea, a causa de la cercanía odel conocimiento previo de lo que van a encontrar, nodesarrollan una dimensión de expectativas y proyectosde vida tan grande como la que caracterizan en muchoscasos las migraciones de personas que provienen depaíses extra-comunitarios.

Analizando los discursos de los entrevistadossobre la “realidad” migratoria hemos constatado que

Page 79: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

79

“Yo tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueños a la “realidad”. Un análisis cualitativode algunas primeras entrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelona

Edição Especial - 2005

estos se articulan a dos niveles. Por un lado, emergeun nivel general que considera la inmigración cómofenómeno social generalizado y que parece alejado delas realidades individuales de cada uno. Por otro ladohay un nivel más personal, que surge de unareformulación o reapropiación de esta idea generaladaptándola a las motivaciones y experienciaspersonales. Estos dos niveles están estrechamenterelacionados entre ellos ya que, como veremos, lasexperiencias personales de los entrevistadoscondicionan inevitablemente la percepción que tienendel fenómeno migratorio en general.

Empezando por lo que definimos como “nivelgeneral” hemos considerado las visiones de losentrevistados sobre la manera en que los medios decomunicación tratan a la inmigración. Todos losentrevistados han contestado que la inmigración estátratada de manera negativa. Esta unanimidad en lasrespuestas enseña como, a pesar de que en los últimostiempos se haya verificado una pluralización en laproducción mediática de la realidad migratoria, noexiste todavía correspondencia de temporalidad entreproducción y recepción. La percepción de lainmigración parece seguir siendo unipolar, es decirúnica y negativa (LORITE, 2004).

Según una entrevistada “los medios muestransolo cosas negativas de sufrimiento, de conflicto, defalta de soluciones. Nunca es una cosa normal, siemprees puesto como un problema”. Según otro “la gentehabla de inmigrante y habla de un tipo de inmigrante.Ahora son inmigrantes los que vienen de países maspobres, que tiene dificultades en obtener sus papeles,en trabajar y eso”. A pesar de esta visión negativageneral, sólo una persona ha resaltado como ejemploconcreto la imagen de la patera6, contrariamente a loque revelan otros estudios que demostraron que lapatera es la imagen más mencionada y corriente para

Page 80: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Sara Losa

80 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

los entrevistados (COGO y LORITE, 2004). Conrelación a esto, la entrevistada dijo que “lo de la partea,siempre, es lo que más me impresiona. De la mujerque tenía un hijo de 3 años y que se murió congelado,allí. Eso sí que me choca. Siempre me acuerdo de esto”.

Al momento de definir lo que significa“inmigrante” los encuestados responden de maneramuy variada. Según un hombre, por ejemplo, ladefinición sería “pasar trabajo” mientras otra mujerdefine al inmigrante como “una persona, que estáafuera de su país intentando conseguir fuera, algo queno tiene dentro, y de alguna manera intentandoadaptarse y vivir de la mejor manera posible. De unamanera que merezca la pena”.

Teniendo presentes las visiones sobre lainmigración a nivel general, hemos analizado lasrespuestas a preguntas más personales como el hechode sentirse o no inmigrante. Es interesante notar quesolamente cuatro de los doce entrevistados no seconsideran inmigrantes, tres de los cuales están enEspaña desde hace más de 20 años. Para complementaro justificar esta afirmación los entrevistados tienen undiscurso de diferenciación con los “nuevos inmigrantes”que llegan ahora. Una mujer colombiana dice porejemplo que “Yo no me considero inmigrante. Por laedad que tenía (ndr. cuando vine) era una aventura y lomantengo. No me considero inmigrante y ahora menos.Actualmente es una persona que no tiene lasposibilidades de sobrevivir en su país y, pase lo que pase,se viene y por eso las consecuencias. (...) un inmigrantees un desesperado que no encuentra en su casa lamanera de sobrevivir y de tirar adelante una familia”.

Los restantes encuestados han contestado quesí se sienten inmigrantes. La mayoría de los que sedefinen inmigrantes están en España desde hace menosde cinco años, pero existen excepciones como las deuna mujer francesa que reside en España desde hace

Page 81: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

81

“Yo tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueños a la “realidad”. Un análisis cualitativode algunas primeras entrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelona

Edição Especial - 2005

35 años y que se siente inmigrante a pesar de tener lanacionalidad española.

Pero ¿como se articulan entre ellos los dosniveles de discurso? (el nivel general y el nivel máspersonal de la inmigración). Parece ser que la imagengeneral que los entrevistados tienen de la inmigraciónresulta de una combinación entre las imágenes / discursospropuestos por los medios de comunicación y unageneralización de las experiencias de vida individuales.

Cuando los entrevistados se consideraninmigrantes, suelen matizar su visión general de lainmigración para que incluya su caso personal. Esta“estrategia” muchas veces les lleva a una “des-dramatización” de esta definición general. Por ejemplo,una mujer que busca su realización profesional másallá de lo que tenía en su país de origen, incluye en sudefinición de inmigrante que emigrar debe “merecerla pena”, una mujer que vino a “buscarse la vida” y aintentar algo nuevo, define al inmigrante como“alguien que va a otro país para buscarse la vida”,mientras que una chica que vino para hacer unapráctica y después se quedó para aprender castellano,dice que un inmigrante es alguien que deja su país“para cualquier cosa”.

Al revés, cuando los entrevistados no seconsideran inmigrantes, suelen tener una visión másnegativa de la inmigración (y entonces más cercana ala visión de los medios) para diferenciarse de ella. Esel caso de la mujer colombiana que citábamos antes,ella no se considera inmigrante ya que la imagen quedan ahora de los inmigrantes es “un desesperado” yella vino por aventura. En este caso vemos que laimagen general que esta mujer tiene de la inmigraciónse opone radicalmente a su experiencia personal.También en el caso de un hombre argentino que diceque “Salir de mi país no fue una opción. Esa es ladiferencia” y hablando de los inmigrantes actuales dice

Page 82: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Sara Losa

82 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

“ahora, están los otros, los que viajan por viajar. Losque vienen ahora, ya no es por la cuestión económica.Hace ya dos años del corralito. Hace dos años habíanmuchas razones para que vinieran, pero en estemomento ya no. Tras los últimos cambios, ya no. Yoahora me estoy encontrando con gente muy joven quepodría estar tranquilamente allí”.

Notamos entonces, a través de estos ejemplos,como las vivencias personales de los entrevistadosinfluencian y determinan sus discursos a dos niveles:el general (la inmigración como fenómeno socialglobal) y el personal (la definición de la situaciónpersonal del entrevistado), mezclándose ycombinándose de diferentes manera con el discursomediático generalizado.

CCCCCOOOOONNNNNCCCCCLULULULULUSSSSSIÓNIÓNIÓNIÓNIÓN

En este artículo hemos intentado abrir algunaspistas de reflexión para el análisis cualitativo deentrevistas de recepción mediática a partir de algunostemas de reflexión. Hemos propuesto algunasinterpretaciones de los discursos y de lasrepresentaciones relacionados con los sueños yproyectos que acompañan las migracionescontemporáneas y los hemos comparados con lasdefiniciones generales de “inmigración” e“inmigrante”.

Para seguir con el análisis empezado aquípodríamos interrogarnos sobre las siguientes cuestiones:¿De qué manera los discursos sobre la inmigración (anivel general como personal) se reflejan en las(re)formulaciones identitarias de los entrevistados? ¿Losmecanismos de diferenciación / afirmación identitariase reflejan en el uso que los entrevistados hacen de losmedios de comunicación? ¿Las formas de utilización delos medios de comunicación pueden ser consideradascomo rasgos culturales?

Page 83: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

83

“Yo tenía una imagen de Europa Hollywood”: de los sueños a la “realidad”. Un análisis cualitativode algunas primeras entrevistas realizadas con inmigrantes en Barcelona

Edição Especial - 2005

NONONONONOTTTTTAAAAASSSSS(1)(1)(1)(1)(1) El número de entrevistas realizadas hasta el momento(agosto de 2005) es de 30 pero en este artículo trabajaremossolamente los datos de las entrevistas que han sido transcritasque son 12.(2)(2)(2)(2)(2) Proyecto Bi-lateral de Cooperación Académica entre Brasily España financiado por la Secretaria de Universidades delMinisterio de Educación, Cultura y Deportes (MECD) y por laComissão de Aperfeiçoamento de Pessoal e Ensino Superior(CAPES). Participan como colaboradores del proyectoinvestigadores de los grupos de investigación “Mídia eMulticulturalismo” e “Processos Comunicacionais:Epistemologia, Midiatização, Mediações e Recepção(Processocom)” del Programa de Post-Graduación en Cienciasde la Comunicación de la Universidad Vale do Rio dos Sinos(Unisinos- Brasil) y el “Observatorio y Grupo de Investigaciónen Comunicación y Migración (MIGRACOM)” del Departamentode Comunicación Audiovisual y Publicidad de la UniversidadAutónoma de Barcelona (UAB).(3)(3)(3)(3)(3) El lector puede tener más informaciones sobre estos datosconsultando el sitio del MIGRACOM (www.migracom.org) o delgrupo Mídia e Multiculturalismo (www.midiamigra.com.br).(4)(4)(4)(4)(4) A pesar de la pequeña muestra de entrevistados utilizada eneste trabajo, hemos intentado conseguir un cierto grado devariedad entre los entrevistados, buscando cubrir por lo menostodas las variables de la muestra. Hemos entrevistado a 4hombres y 8 mujeres, de edades distintas y nivel socio-económicodiferente, que sean provenientes de Europa y de América Latina(Inglaterra, Italia, Alemania, Francia, Venezuela, Argentina,Brasil, Bolivia y Colombia). Además la mayoría de nuestrosentrevistados residen en el distrito de Ciutat Vella (4) o en eldel Eixample (6). Considerando la muestra del proyectointernacional notamos que este último dato se conforma y seacerca a la realidad demográfica de Barcelona ya que la mayoríade los extranjeros de la ciudad residen en estos distritos. (VerINFORME ESTADISTICO DE LA POBLACIÓN EXTRANJERA ABARCELONA ENERO 2005, p. 21).(5) (5) (5) (5) (5) Los destaques en las citaciones de entrevistas son del autor.(6)(6)(6)(6)(6) La patera es una embarcación precaria en la cual se reúneun número de personas, en general mayor que la carga permitida,para cruzar un trecho de mar y llegar a otro país de forma ilegal.

Page 84: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Sara Losa

84 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

REREREREREFFFFFEEEEERRRRREEEEENNNNNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSBARTH, Frederick. Ethnic groups and boundaries, London,

George Allen & Unwin, 1969.

COGO, Denise. Las estrategias de mediatización de lasmigraciones contemporáneas en la prensa brasileña y lasmatrices culturales de construcción de la Unión Europea ydel MERCOSUR, Girona, Actas del 4° Congreso sobreInmigración en España, 10-13 noviembre 2004.

COGO, Denise; LORITE, Nicolás. Incursões metodológicas parao estudo da recepção midiática: o caso das migraçõescontemporâneas desde as perspectivas européia e latino-americana, Ciberlegenda, n. 14, 2004.

CUCHE, Denys. La notion de culture dans les sciences sociales,Paris, La Découverte, 2001.

GUSFIELD, Joseph. The culture of public problems, Chicago,University of Chicago Press, 1981.

JABLONSKA ZABOROWSKA, Alexandra. La representación de losprocesos de construcción de la identidad en los contextosinterculturales de dos películas mexicanas sobre la Conquista,ciudad, La representación intercultural, Castellón de la Plana,Publicacions Universitat Jaume I, V. 1, mayo 2004, p.43.

LORITE, Nicolás (dir). Tratamiento informativo de lainmigración en España. 2002, Madrid: ColecciónInmigración y Refugio, MTAS, Secretaría general de AsuntosSociales, IMSERSO (ED.), Grafo S.A, 2004.

MALDONADO, A. Efendy. Explorações sobre a problemáticaepistemológica no campo das ciências da comunicação,Ciberlegenda, n. 10, 2002.

___. Trayectorias metodológicas suscitadoras, Ciberlegenda, n. 14, 2004.

MATTA, Maria Cristina. De la cultura masiva a la culturamediática, Lima, Diálogos de la comunicación, FELAFACS,n. 56, 1999, p. 80-90.

* Sara LosaSara LosaSara LosaSara LosaSara Losa es licenciada en antropología e inglés por la universidadde Neuchâtel, Suiza, especializada en cuestiones migratorias ymovimientos sociales. Participa del Proyecto Interuniversitario deCooperación Internacional Brasil-España sobre medios, migracionese interculturalidad como investigadora asociada subvencionada porel Programa Leonardo Da Vinci de la Unión Europea.

Page 85: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

85

Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropriações da rede mundial decomputadores por imigrantes latino-americanos e europeus em Porto Alegre

Edição Especial - 2005

Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobreapropriações da rede mundial de computadores por

imigrantes latino-americanos e europeus em Porto Alegre

Liliane Dutra Brignol*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOAtravés da análise de resultados parciais de pesquisa de recepção,desenvolvido através do projeto internacional Brasil-Espanha, oartigo reflete sobre usos da Internet demandados pela experiênciade imigração por latino-americanos e europeus na regiãometropolitana de Porto Alegre. Ainda que parte significativa dasapropriações seja destinada a manter vínculos com o país deorigem, é possível observar usos interculturais da rede quepermitem entendê-la como potencializadora da integração dosimigrantes. Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave: imigração; Internet; integração.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTThrough the analysis of the partial results of reception research,this article reflects upon the uses of the Internet resulting fromthe experience of Latin Americans and Europeans immigrants inthe metropolitan region of Porto Alegre Whilst a significant partof the appropriation is directed toward retaining links with thecountry of origin, it is possible to observe intercultural uses of theweb which allows it to be seen as a positive factor in the integrationof immigrants. Key WKey WKey WKey WKey Words:ords:ords:ords:ords: immigration; Internet; integration.

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNA través del análisis de resultados parciales de la investigaciónde recepción, llevada a cabo desde el proyecto internacionalBrasil-España, el artículo refleja los usos de Internet demandadospor las experiencias de inmigración de latinoamericanos yeuropeos en la región metropolitana de Porto Alegre. Aunqueparte significativa de las apropiaciones sea destinada a mantenervínculos con el país de origen, es posible observar también usosinterculturales de la red que permiten entenderla comopotenciadota de la integración de los inmigrantes. Palabras clave:Palabras clave:Palabras clave:Palabras clave:Palabras clave:inmigración, Internet, integración.

Page 86: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Liliane Dutra Brignol

86 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

O artigo surge a partir de uma interface como Projeto Acadêmico Interuniversitário de CooperaçãoInternacional Brasil-Espanha, entre a Universidade doVale do Rio dos Sinos e a Universidade Autônoma deBarcelona. Com o título “Mídia e interculturalidade:estudo das estratégias de midiatização das migraçõescontemporâneas nos contextos brasileiro e espanhol esuas repercussões na construção midiática da UniãoEuropéia e do Mercosul”, a pesquisa, iniciada noprimeiro semestre de 2004, tem como um dos objetivosa realização de um estudo de recepção entre imigrantespara mapeamento do consumo de mídias.

O projeto orienta-se ao estudo das estratégiasde midiatização das migrações contemporâneas naregião metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grandedo Sul, e em Barcelona, na Catalunha, e suasrepercussões na construção midiática da UniãoEuropéia e Mercosul. Trata-se de buscar, no universoda recepção midiática, a partir do conhecimento sobrea trajetória da imigração e a presença, a percepção eos usos dos diferentes meios de comunicação, o papeldinamizador intercultural desses meios, investigandoprincipalmente como projetam nos cidadãos dediferentes procedências geográficas uma idéia comumsobre contextos macroeconômicos, políticos eculturais, como a União Européia e o Mercosul.

A reflexão sobre as relações estabelecidasentre os usos da Internet e a experiência da migraçãoproposta neste artigo baseia-se na análise deentrevistas aplicadas pelos pesquisadores do projetoBrasil-Espanha a imigrantes latino-americanos eeuropeus residentes na região metropolitana dePorto Alegre. Embora, até agosto de 2005, um totalde 41 entrevistas já tivesse sido atingido pela equipebrasileira, a análise feita aqui se detém na leitura einterpretação de 20 dessas entrevistas transcritasdurante o período.

Page 87: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

87

Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropriações da rede mundial decomputadores por imigrantes latino-americanos e europeus em Porto Alegre

Edição Especial - 2005

A amostra de entrevistados é composta porcinco imigrantes de países da União Européia (umportuguês, um alemão, um espanhol e dois italianos)e 15 imigrantes de países que compõem o Mercosul(cinco argentinos, três chilenos, três uruguaios, trêsperuanos e um colombiano). Destes, oito são mulherese 12 são homens. Dezesseis moram na cidade de PortoAlegre; um reside em Canoas; um, em Novo Hamburgoe dois, em São Leopoldo.

INTERNET E DINAMIZAÇÃO INTERCULTURAL

Em pesquisa do Migracom realizada em 2002,em que foram analisadas as versões digitais dos diárioscoletados, pôde-se perceber que, na rede mundial decomputradores, um tratamento melhor da migraçãodepende de questões técnicas previstas pela produçãode sites, como a concepção e o desenho denavegabilidade e a manutenção interativa constantedo conteúdo, o que, em alguns dos casos, não foiverificado, mantendo-se o mesmo tratamentounidirecional do jornalista para os seus leitores dojornal impresso (LORITE, 2004, p.187).

Em outra investigação voltada para meiosexclusivamente digitais, Lorite revela como a Internetseguia, nos casos analisados, a tendência de manter asmesmas fórmulas de produção de conteúdo queconduzem ao permanente tratamento superficial dosnovos coletivos sociais (2002). Nas páginas dasprefeituras da província de Barcelona, a maioria eraessencialmente informativa, cumprindo apenas funçõesunidirecionais: apesar de pensadas como mediadorasde relações cidadãs, poucas ofereciam interatividade oudeclaravam objetivo de integrar os coletivos imigrantes.Exceções foram observadas com propostas interativasde fóruns e chats, pensados como ferramentas decomunicação entre todos os cidadãos, indistintamentede sua origem ou condição de cidadania.

Page 88: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Liliane Dutra Brignol

88 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Os sinais nas páginas espanholas da presençados imigrantes como usuários imaginados desde aprodução começam a ser percebidos, ainda de mododiscreto, com a presença, por exemplo, de duas ou maisopções de idiomas nos sites, sobretudo nos espaçoscriados por instituições governamentais. Em um‘passeio virtual’ por páginas na Internet, em umaanálise exploratória, são encontrados sites queoferecem ‘correios cidadãos’, dispondo de contas de e-mail para qualquer pessoa interessada em se comunicarpela Internet, além de ofertas de oficinas paracapacitação de usos da web.

É possível perceber ainda como uma idéia dediversidade vai sendo referida com um efeito depositividade. É exemplo o que é encontrado no site daPrefeitura de Barcelona (www.bcn.es), em que a cidadeé apresentada como “la ciudad de todos y todas, de losjóvenes, de las mujeres, de los niños y niñas, de laspersonas mayores, de las personas con disminucionesy de las personas que llegan de todo el mundo”. Há,inclusive, um link para ‘Barcelona Diversa’, em queconstam dados sobre migração, como o PlanoMunicipal de Migração e os direitos e deveres dosimigrantes. A presença da diversidade é maisfortemente sentida quando se passa a explorar espaçoscriados por ONGs, entidades civis, centros culturais,sindicatos e associações comunitárias, em que, muitasvezes, os próprios grupos minoritárias assumem opapel de produtores de conteúdo, dando maisvisibilidade para suas questões e, conseqüentemente,para as diferenças culturais e para a presença decoletivos imigrantes variados e suas especificidades.

APONTAMENTOS SOBRE USOS MEDIADOS PELA IMIGRAÇÃO

Essa visibilidade é menos percebida nos sitesbrasileiros, pelo que se pode observar ao navegar naspáginas mais citadas durante as entrevistas feitas aos

Page 89: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

89

Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropriações da rede mundial decomputadores por imigrantes latino-americanos e europeus em Porto Alegre

Edição Especial - 2005

imigrantes da Grande Porto Alegre. Ainda assim, a redemundial de computadores vai se configurando comoum meio de comunicação que, por suas lógicas deprodução diversas das mídias de consumo massivo,surge como uma alternativa para um tratamentodiferenciado das migrações e, mais do que isso,possibilita a consolidação de um espaço de interaçãoentre seus usuários que pode servir, não apenas parainformar, mas também dinamizar relaçõesinterculturais entre esses sujeitos de diferentesprocedências geográficas.

É isso o que aponta a análise inicial dasentrevistas aplicadas no Brasil. Uma primeiraobservação a ser considerada é a de que os usos daInternet são determinados pela competência em lidarcom o computador. Dos 20 entrevistados, seis nãoacessam a rede mundial de computadores, embora amaioria identifique vantagens nas possibilidades decomunicação oferecidas. Aparecem, como limitadores,questões relacionadas à idade - os mais velhosapresentam mais dificuldade para compreender aslógicas de funcionamento da Internet -, e problemasfinanceiros - que inviabilizam não apenas o acesso aocomputador, ainda caro no Brasil, mas tambémimplicam a priorização da sobrevivência diária emdetrimento da busca de alternativas de comunicação.

Quatro dos sujeitos, três europeus com maisde 70 anos e uma latino-americana com 62 anos,enquadram-se nessa perspectiva de afastamento daInternet como meio de comunicação em função dafalta de competência para manejar o computador e aInternet. Interessante destacar que suas falas revelama participação dos mais jovens no estímulo àaproximação do meio de comunicação e o interesse nasuperação das dificuldades para a capacitação ao uso.

Outras duas entrevistadas sem usos daInternet são mulheres latino-americanas com

Page 90: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Liliane Dutra Brignol

90 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

atividades autônomas ligadas a vendas e um poderaquisitivo baixo, pelo que demonstraram suascondições de consumo indicadas na entrevista. Umadelas, uruguaia, de 36 anos, é casada com umbrasileiro, tem cinco filhos e mora em um bairro pobreda periferia de Porto Alegre. A outra, uma peruana, de34 anos, foi casada por oito com um brasileiro, masestava em processo de separação na época da entrevistae deixaria o apartamento alugado em que morava emPorto Alegre para mudar-se para a cidade litorânea deTramandaí, onde já comercializava artesanato do Peru.Ambas buscam a regularização de sua condição decidadania no país.

Entre os 14 sujeitos com usos efetivos, em umprimeiro movimento, foi identificada a aproximação àInternet para o contato com o país de origem. Aexperiência da migração configura, assim, umelemento a demandar a apropriação da rede mundialde computadores. A partir da sensação de deslocamentoque acompanha a experiência da migração, responsávelpela tensão entre a tentativa de resgate e manutençãodos vínculos com o passado e a emergência de novasexperiências favorecidas pela mudança (HALL, 2003),a Internet aparece como um meio de comunicaçãomais sedutor por suas características de potencialinteratividade, incluindo aí procedimentosconversacionais como o correio eletrônico e chats, ede pluralização da esfera da produção, com adiversificação de conteúdos oferecidos e umaconseqüente facilidade de acesso à emissão.

Ao identificar a imigração demandandoapropriações específicas da Internet para quem está longede seu local de origem, percebe-se que parte dos imigrantesindicou os usos iniciais da rede mundial de computadoresestimulados pelo desejo de buscar informações sobre aterra natal e também como alternativa mais econômicapara manter vínculos com parentes e amigos.

Page 91: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

91

Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropriações da rede mundial decomputadores por imigrantes latino-americanos e europeus em Porto Alegre

Edição Especial - 2005

Todos os imigrantes entrevistados apontaram o e-mail como a ferramenta de comunicação da Internet maispresente em seu cotidiano. A necessidade de trocarmensagens com os que ficaram distantes é tomada, portanto,como um estímulo para se aventurar no ciberespaço: amaioria só criou um endereço de correio eletrônico eaprendeu a utilizá-lo depois que deixou seu país.

A Internet é usada também como meio parabuscar informações sobre o país para o qual se pretendeimigrar. Os sujeitos mais recentemente chegados aoBrasil indicaram que pesquisavam sites nacionais embusca de referências econômicas, sociais e culturais.Na aproximação a uma das hipóteses que norteia apesquisa, trata-se de um uso que ajuda a configurarum imaginário sobre o país que, somente depois,poderá ser confrontado com a experiência cotidiana.

Depois da chegada ao Brasil, a condição deimigrante, ao mesmo tempo em que demanda usos daInternet, condiciona as possibilidades de acesso. Paraaqueles que ainda não conseguiram se estabelecer nopaís, estratégias de usos são desenvolvidas e espaçospassam a ser apropriados como alternativas de inclusãoà rede mundial de computadores. Assim, os cibercaféssão referidos como os locais mais procurados para aconsulta a sites, envio e consulta de e-mails e usos deprogramas de trocas de mensagens online. Depois doscibercafés, que cobram uma taxa em torno de R$ 5 porhora de uso do computador, o acesso à Internet apareceem locais públicos como a Biblioteca Pública de PortoAlegre, escolas, cursos e mesmo no ambiente de trabalho.

A consulta a sites, sobretudo de notícias, dopaís de origem configura-se como outro uso daInternet principalmente entre os imigrantes com umtempo menor de permanência no Brasil. Os veículosde comunicação de produção nacional são criticadospela superficialidade no tratamento das questõesinternacionais envolvendo os países da América Latina

Page 92: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Liliane Dutra Brignol

92 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

e da União Européia. Na lembrança dos entrevistadossobre notícias de seus países no rádio, TV e jornais,apenas catástrofes, questões econômicas que envolvemo Brasil, crimes e crises políticas. Essa insatisfação fazcom que os sites surjam como alternativa para aparticipação, ainda que a distância dos acontecimentoscotidianos dos países que deixaram para trás.

Entre os sites citados, estão o do diário argentino‘El Clarín’ (www.clarin.com), do jornal ‘El tiempo’(www.eltiempo.com), da Colômbia, entre outros denotícias - a maioria versões online de publicaçõesimpressas. As justificativas para a escolha desses espaçosaparece na fala dos imigrantes: são “conhecidos” e“respeitados”, ou seja, possuem sua credibilidade fundadana solidez de veículos de comunicação já tradicionais.Através dessa tendência, é possível perceber que, comoafirma Fragoso (2003), contrariando os sonhos de usoda web para a circulação horizontal e irrestrita deinformações, “um número cada vez maior de usuáriosevita o terreno movediço das páginas independentesdirecionando seus navegadores para endereços enraizadosem instituições conhecidas e, preferencialmente, nascidas‘fora da rede’” (FRAGOSO, 2003, p. 9). Essa constataçãofaz pensar sobre a permanência na web de uma estruturamuito parecida com a de outras mídias, em que se percebesegmentação e especialização de conteúdo, em umatendência de centralização.

EXPERIÊNCIAS DE INTEGRAÇÃO CIDADÃ PELA INTERNET

Paralelamente a esse movimento decentralização dos acessos na web, observa-se que háuma multiplicação das possibilidades de produção, coma proliferação de sites pessoais, weblogs e sites comtemáticas específicas, fazendo pensar sobre umapossibilidade de liberação do pólo da emissão (LEMOS,2003, p. 22), pela oportunidade de publicação deconteúdo a qualquer um que disponha de acesso à

Page 93: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

93

Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropriações da rede mundial decomputadores por imigrantes latino-americanos e europeus em Porto Alegre

Edição Especial - 2005

Internet, mesmo que este, muitas vezes, sejaconsultado por um número restrito de pessoas.

Essa potencialidade da Internet pode sernotada no surgimento e expansão dos usos de espaçoscriados por ONGs e entidades de apoio à imigraçãopara tratar de questões ligadas ao tema do fluxocrescente de pessoas ao redor do mundo. Alguns dessesprojetos são mapeados pelo projeto Brasil-Espanha epodem ser consultados na base de dados Intermigra(www.intermigra.unisinos.br).

Entre as 20 entrevistas analisadas, dois sitescriados por imigrantes foram referidos. O primeiro delesé um projeto pessoal de um peruano de 40 anos,jornalista, que, há quatro anos, está no Brasil, dandoaulas de inglês e espanhol. O Hablo (www.hablo.com.br)tem uma proposta de servir como suporte no processode aprendizagem de seus alunos, mas, ao mesmo tempo,reúne textos, poesias, letras de música, mantém umfórum e uma sala de bate-papo para participação dosusuários cadastrados e oferece uma lista de links parameios de comunicação de 21 países de língua hispânica.

Segundo o idealizador do projeto, o objetivonão é apenas servir de instrumento para o ensino dalíngua, mas também transformar-se em um espaço dedivulgação da cultura peruana: “é um site feito comaulas de espanhol como segunda língua, mas a maiorparte do conteúdo vai ser sobre o Peru. Tem 60 vídeos,a maior parte deles para ver, escutar coisas da nossacultura, que são da TV peruana. A internet é meu meiode comunicação e de propaganda”, defende. São maisde 170 usuários cadastrados e, conforme indica oentrevistado, a maioria entra em contato depois deconhecê-lo em comunidades de espanhol no Orkut(www.orkut.com), sistema de redes sociais na Internet.

A outra iniciativa de uso da Internet comoespaço comunicacional para integração de imigrantesé o Chile Poa (www.chilepoa.com.br), do Centro

Page 94: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

Liliane Dutra Brignol

94 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Cultural e Social Chileno de Porto Alegre, umaorganização associativa sem fins lucrativos que tem oobjetivo de difundir a cultura chilena, como anunciam“através de eventos de música, teatro, artes plásticas,dança, literatura, artesanato, esportes e cursosculturais que sejam do interesse dos sócios, para a suaintegração social entre os imigrantes chilenos e acomunidade brasileiras”.

Aqui o tema da imigração aparece de formamais direta, não apenas no ideal de integraçãobuscado pelos sócios do centro e explicitado no site,mas também em sua página de abertura, que oferecelinks para endereços de onde buscar informaçõessobre a tramitação de permanência no Brasil eregistro de roubo de documentos, além de indicar osite, e-mail e endereço da Igreja da Pompéia, sede doCentro Ítalo-brasileiro de Apoio ao Imigrante (Cibai-Migrações), no centro de Porto Alegre, comoalternativa para quem precisa de assistência. O Cibai,como indica um dos líderes do Centro Culturalentrevistado, é parceiro para as atividades, o quedemonstra que a organização é atravessada pelaslógicas religiosas.

Mesmo com uma estrutura muito simples eproblemas técnicos como o direcionamento de links,o site reúne dados sobre o Chile e informações sobreas atividades promovidas pelo centro, além de trazerum recorte de notícias sobre acontecimentos do país.Sua proposta é informar sobre a presença chilena emPorto Alegre, aproximar os imigrantes e difundir suasações para a população em geral. Nessa dinâmica,aparece uma vinculação entre a lógica de redes daInternet e o modo como se articulam os imigrantes,em uma prática observada no fenômeno da imigração,de organização de redes sociais, muitas vezes,valorizando mais questões da cultura local do queantes de deixarem sua terra de origem.

Page 95: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

95

Internet, integração e cidadania: uma reflexão sobre apropriações da rede mundial decomputadores por imigrantes latino-americanos e europeus em Porto Alegre

Edição Especial - 2005

Os dois exemplos observados oferecem,portanto, pistas para se pensar como os coletivos seapropriam da Internet e de que forma as característicasda mídia, como a potencial interatividade e aaproximação entre as esferas de produção e usos, vãopermitindo que essas apropriações atuem na suaparticipação na área metropolitana de Porto Alegre.

Esse mapeamento inicial apontou possíveisusos dinamizadores interculturais da Internet, aindaque parte significativa das apropriações tenha sidodestinada a manter vínculos com o país de origem. Como aprofundamento da análise do conjunto de entrevistas,interessa saber se essas e outras dinâmicas, quecertamente precisam ser mais exploradas, podem atuarefetivamente na integração cidadã dos imigrantes.

REREREREREFFFFFEEEEERÊNRÊNRÊNRÊNRÊNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSFRAGOSO, Suely. Um e muitos ciberespaços. Recife: Compós,

2003. Anais do XII Congresso Anual da Compós.

HALL, Stuart. Da diáspora: identidade e mediações culturais.Belo Horizonte: UFMG/Unesco, 2003.

LEMOS, André. Cibercultura. Alguns pontos para compreendera nossa época. In: LEMOS, André; CUNHA, Paulo (org).Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003.

LORITE, Nicolás (dir). Tratamiento informativo de la inmigraciónen España 2002. Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales, 2004.

_______. Internet como medio al servicio de los valores de lainterculturalidad en el ámbito local en España. IV CongressoIberoamericano de Periodismo en Internet. Peru: 2002.

* Liliane Dutra BrignolLiliane Dutra BrignolLiliane Dutra BrignolLiliane Dutra BrignolLiliane Dutra Brignol é jornalista (UFSM) e mestre em Ciênciasda Comunicação (Unisinos). Atua como pesquisadora no grupoMídia e Multiculturalismo do Programa de Pós-Graduação emCiências da Comunicação da Unisinos e integra a equipe doProjeto Interuniversitário de Cooperação Internacional Brasil-Espanha sobre mídias, migrações e interculturalidade.

Page 96: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

96 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Elizara Carolina Marin

Da janela de Barcelona: experiências interculturais eusos midiáticos operados por imigrantes brasileiros

Elizara Carolina Marin*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOO artigo aborda as experiências interculturais de imigrantesbrasileiros que vivem em Barcelona (Espanha), configuradasnuma articulação de estratégias de negociação e associação e,também, focaliza os usos das mídias como meio para restabelecerlaços de pertencimento com o lugar de origem e estabeleceroutros vínculos no novo lugar. Palavras-ChavePalavras-ChavePalavras-ChavePalavras-ChavePalavras-Chave: mídia; imigração;produção de sentidos.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTThis article addresses the intercultural experiences of Brazilianimmigrants that live in Barcelona (Spain), taken as anarticulation of negotiation and association strategies and,further, focuses on the uses of media as the means by whichties of belonging to their place of origin are re-established andother links to the new location are made. Key WKey WKey WKey WKey Words:ords:ords:ords:ords: Media,Immigration, Meaning production.

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNEl artículo aborda las experiencias interculturales deinmigrantes brasileños que viven en Barcelona (España),configuradas a partir de la articulación de estrategias denegociación y asociación. También se centra en los usos de losmedios de comunicación como puentes para establecer lazosde pertenencia con el lugar de origen y otros vínculos en elnuevo lugar. Palabras-c lave :Palabras-c lave :Palabras-c lave :Palabras-c lave :Palabras-c lave : medios de comunicación,inmigración, producción de sentidos.

Page 97: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

97

Da janela de Barcelona: experiências interculturaise usos midiáticos operados por imigrantes brasileiros

Edição Especial - 2005

PALAVRAS INICIAIS

Barcelona é uma cidade de trânsitos e fluxos,de todos os tipos de trabalho, de todas as técnicas, detodas as etnias e nacionalidades, de modernidades etradições, de incluídos e excluídos, de belezas e rudezas.Barcelona pertence à região da Catalúnia, na Espanha,conhecida por agregar imigrantes do mundo inteiro,tais como, Adão, Adriana, Clóvis, Denis, Helena, Edílson,Julieta, Mário, Norma e Rosangela1, brasileiros, que láchegaram em busca de novos horizontes.

Se a Espanha, em seu processo histórico,possui marcas fortes de emigração, o contexto atualdemonstra que também é um País de imigração. Osdados do Informe Estadistico de la PoblacionExtranjera a Barcelona2, de janeiro de 2005,demonstram que há 230.942 imigrantes somente nacidade de Barcelona. Destes, 99.482 são da Américado Sul, dentre os quais 4.688 são brasileiros.

Em Barcelona, realizei uma pesquisa comimigrantes brasileiros que possuem experiências comotelespectadores no Brasil e na Espanha3. Procureiexplorar uma amostra plural (social e cultural), com oobjetivo de identificar experiências interculturais e usosdas mídias; programas televisivos aos quais assistem erelação de gostos. Entrevistei dez pessoas, situadas entreum ano e meio a quatorze anos de estada em Barcelona.

CIDADÃOS EM TRÂNSITO

Adão, Adriana, Clóvis, Denis, Helena, Edílson,Julieta, Mário, Norma e Rosângela são pessoas queimigraram não só pelas dificuldades encontradas naesfera do trabalho (instabilidade no emprego, baixossalários, desemprego, impossibilidade de se mantercom a atividade que gostaria de exercer, por exemplo:a música), mas também pelas medidas governamentais,mais especificamente, pelas adotadas pelo curto

Page 98: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

98 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Elizara Carolina Marin

governo de Fernando Collor de Melo, e, ainda, movidospelo sonho de morar e estudar no exterior e/ou deganhar dinheiro.

Imigrar é abrir mão do enraizamento,necessidade humana tão importante e desconhecida, masfortemente sentida pelos sujeitos sociais que imigram.Simone Weil (1979:347) entende que o “ser humano temuma raiz por sua participação real, ativa e natural naexistência de uma coletividade que conserva vivos certostesouros do passado e certos pressentimentos do futuro”.Participação natural fundamentada no lugar donascimento, no ambiente de origem.

É possível observar que o espaço-tempo da vidafamiliar e afetiva tem peso na formação humana (MiltonSantos, 2004). Os entrevistados, ao se expressarem,denotam a falta da família, dos amigos, do cotidiano edo ambiente familiar, sentimentos que se ampliam paraa dimensão do país de origem. Sem exceção, elesassinalam a falta que sentem do “povo brasileiro”, “docalor humano que, no Brasil, tem”, “das portas docoração, da casa e da alma, todas abertas”. Em seussentimentos e em suas (re)formulações, manifesta-se osentido de povo (brasileiro) cordial, já ensejado porSérgio B. de Holanda (1973).

Desenraizados e no novo lugar – aqui entendido, apartir do assinalado pelo geógrafo brasileiro Milton Santos(2004), como o intermédio entre o mundo e o indivíduo,assim, cada lugar é, a sua maneira, o mundo –, são unânimesem relatar as dificuldades enfrentadas, nos primeiros tempos,com as diferenças culturais, com a língua, com o acesso aotrabalho e à moradia. Para os que foram buscar trabalho, háa invibialidade de exercerem a função desempenhada noBrasil, a necessidade de se submeterem à realização de tarefasantes não-desempenhadas (trabalhos em restaurantes e barescomo garçom/garçonete, ajudante de cozinha e cozinheira,como faxineira, camareira e recepcionista) e a impossibilidadede viajar para visitar a família no Brasil, em virtude de nãopossuírem residência na Espanha.

Page 99: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

99

Da janela de Barcelona: experiências interculturaise usos midiáticos operados por imigrantes brasileiros

Edição Especial - 2005

Imigrar é deparar-se com uma outra culturaque, nos primeiros tempos, assombra, oprime e pareceintangível. Para os que conseguem ultrapassar o períodode estranhamento, angústia e dificuldade, como é o casodos entrevistados, os ânimos vão se compondo comprojetos para o futuro, experimentando possibilidadesno entorno vivido e desenvolvendo interações com olugar e as pessoas. Tais interações se configuram numaarticulação de estratégias de negociação e associação.

Negociam sentidos uma vez que mesclamvalores e costumes do lugar de origem com os do novolugar. Na oralidade, há visibilidade da “hibridação”.Ao português, mescla-se o espanhol. Aos diversostemperos e aromas do lugar, mesclam-se sabores ecostumes brasileiros.

Eles reorganizam suas identidades culturais,articulando estratégias de associação, tornadasvisíveis por meio da constituição da AssociaçãoAmigos do Brasil – neste espaço, eles cantam,dançam, assistem a filmes brasileiros e organizambloco de carnaval; dos encontros dominicais e festivosentre brasileiros; das trocas de informações sobre oBrasil e dos CDs de músicas brasileiras; da busca porbeber e comer em quiosques, bares e restaurantesbrasileiros; da constituição de família entre brasileiros– dos dez entrevistados, quatro casaram-se emBarcelona; da colaboração que prestam para auxiliaroutros imigrantes brasileiros que chegam, oumanifestam necessidades.

Em seus relatos, não há pura assimilação,tampouco perda de traços culturais. Eles carregamcostumes, ritmos, linguagens, sentimentos pelos quaisforam marcados no percurso da vida e os reelaboramnos trânsitos do novo lugar. Com o passar dos anos,não mais se sentiram em casa aqueles que puderamretornar ao Brasil para visitar os familiares. Todavia, osentimento de pertencimento é o de ser brasileiro.

Page 100: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

100 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Elizara Carolina Marin

A imigração está revestida pela dor individual ea exclusão social, mas é necessário dizer que o cotidianoe a vida destes imigrantes se enriquecem de novasdimensões. No novo mundo, eles satisfazem carênciasde consumo, de trabalho, de reconhecimento. Helena,que está há quatorze anos em Barcelona, narra:“Consegui trabalho através de uma amiga brasileira.Depois, fui conhecendo pessoas e fui trabalhar nahotelaria. Trabalhava à noite na recepção, com o passardo tempo, fui mudando de posto e aumentando aresponsabilidade. Atualmente, gerencio a parte deserviços gerais. Nos três primeiros anos, não tinha casapara morar. Agora digo que, economicamente, fiz muitacoisa”. Denis, no Brasil, não conseguia sobreviver daprofissão de músico; em Barcelona, sente-sereconhecido e atua com concertos de música brasileira.

Quase todos, após estabelecerem redes derelações no lugar e capturar confiança daqueles paraquem prestam serviços, conseguiram obter melhorescondições de trabalho, de salário e também acesso abens culturais que a cidade oferece. Somente Adriananão conseguiu se estabilizar num único local de trabalhoe necessita atuar em diversos locais e tarefas. Todavia,ela observa: “O que ajudei (financeiramente) minha mãeem um ano, eu não pude ajudar em dez anos de minhavida no Rio (de Janeiro)”. É preciso dizer que asconquistas ocorreram, não sem esforço, nem mesmosem que eles se submetessem a um cotidiano de jornadasextensas, de até quatorze horas, e de pouco tempo livre.

Os estudos culturais, especialmente pelaabordagem de Stuart Hall (2002), acentuam que ostrânsitos migratórios e imigratórios, em grandemedida acentuados pela globalização, provocam odeslocamento da identidade de cidadão, centrado emuma cultura nacional, para uma identidade de cidadãoem trânsito. Nesta pesquisa, apresentam-se identidadesnão mais situadas no Brasil, tampouco situadas na

Page 101: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

101

Da janela de Barcelona: experiências interculturaise usos midiáticos operados por imigrantes brasileiros

Edição Especial - 2005

Espanha, mas no trânsito entre os dois países. Essescidadãos em trânsito vivenciam a experiência queGarcía Canclini (2003) denomina de “hibridaçãocultural”, ou seja, experimentam a coexistência entrea cultura de origem e a cultura do novo lugar, o queStuart Hall (2002) designa “tradução”. Mundostransportados para outros mundos; identidadestransportadas para outras fronteiras. Esses cidadãosque vivenciam a transitoriedade entre o lugar depertencimento e o novo lugar, são cidadãos“traduzidos”. Não mais pertencem a um só mundo,mas a dois (ou mais!) mundos.

USOS DAS MÍDIAS

De fato, uma disseminação de invençõescomunicacionais passa a povoar o cotidiano daspessoas: rádio, cinema, telefone, televisão, vídeo, CDs,Internet. As novas tecnologias tornaram-se um traçocaracterístico da nova fase do capitalismo, o processode transnacionalização – a que vem se chamando de“globalização” –, inclusive como aparato ideológicolegitimador. Configura-se um processo, nas palavrasde Octávio Ianni (2000: 148), em que se forma e impõe,crescente e generalizadamente, o “príncipe eletrônico”,ou seja, “uma entidade nebulosa e ativa, presente einvisível, predominante e ubíqua, permeandocontinuamente todos os níveis da sociedade, em âmbitolocal, regional, nacional e mundial”.

O desenvolvimento contínuo de tecnologias ede dispositivos comunicacionais responde a umanecessidade humana. Desde os povos primitivos, ohomem sempre buscou criar novos modos derelacionamento com a natureza, com o outro e comas esferas objetivas da vida, tal como faz com aalimentação e com os esforços para provê-la.Entretanto, é preciso atentar para as lógicas quepresidem a informatização do mundo, para Milton

Page 102: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

102 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Elizara Carolina Marin

Santos (2001), a “tecnoesfera”, pois se trata de umprocesso de hegemonização do capital.

O cotidiano de imensos contingentes humanosestá permeado pelas mídias, gerando o que Muniz Sodré(2002:24) denomina de um ethos midiatizado. A noçãode cultura midiática ultrapassa a concepção – fortementeenraizada no senso comum e nas teorias do campo dacomunicação – de transformações tecnológicas e deprodutora de mensagens. Sua dimensão dinâmica éconfiguradora de novos modos de interacionalidade, denovas formas de estruturação das práticas sociais.Significa dizer que a midiatização da sociedade é umprocesso coletivo de produção de significados, atravésdo qual a sociedade se comunica, reproduz-se e setransforma (MATA, 1999).

No cotidiano dos imigrantes entrevistados,separados do lugar de origem pela distância, decorrenteda busca por uma vida melhor, mas estreitamenteligados aos seus laços culturais, o elo se mantém pelosentimento, pela identidade brasileira construída, pelamemória do vivido, pela saudade do que ficou e,também, se (re)constrói e fortalece pelos usos dasmídias. Significa dizer que a experiência de ser cidadãoem trânsito cria competências para os usos dos meios.

No contexto dos entrevistados, evidencia-se ouso generalizado do computador e da Internet –somente Adriana não possui computador no local demoradia, mas procura acessar e enviar e-mail aosfamiliares e aos amigos fazendo uso dos locutórios:empreendimentos difundidos na cidade de Barcelona,que dispõem de serviços de Internet e de telefonia.Esses se caracterizam como mídias que possibilitamnão só “buscar coisas do dia-a-dia do Brasil e da minhacidade” (Adão), mas também tornar mais acessível ocontato com parentes: “Ultimamente o computadortem uma importância enorme, porque me informomais sobre o Brasil, mato saudades. Ele é uma peça

Page 103: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

103

Da janela de Barcelona: experiências interculturaise usos midiáticos operados por imigrantes brasileiros

Edição Especial - 2005

fundamental. Eu vejo a minha família através de umcomputador, converso com eles em tempo real e mesai muito mais barato” (Julieta). O que não significadizer que não lancem mão do telefone para estabelecercontato com os familiares no Brasil.

Para Denis, que atua como músico, o seutrabalho está estreitamente ligado com o computadore com a Internet: “A minha vida é no computador”.Por meio do computador, ele estuda, organiza osrepertórios musicais, elabora a publicidade de seutrabalho; e, da Internet, realiza pesquisas, identificalançamentos de CDs, “baixa” músicas, estabelececontatos e divulga o seu trabalho. No novo lugar, Denisestrutura e consolida sua atuação profissional, laçandomão da midiatização da sociedade.

O site da Rede Globo apresenta-se como umendereço de busca de informações sobre o cotidiano,sobre economia, notícias, receitas culinárias,programas veiculados na mídia televisiva e sobre a vidade personagens midiáticos.

Em relação à mídia impressa, eles relatam quehá redução do consumo de revistas, todavia háaumento do consumo de jornais, facultado peladinâmica da cidade de Barcelona, que midiatizadiversos espaços sociais e disponibiliza acesso a jornais.Nos metrôs e nos trens, há os jornais gratuitos – Què!;Metro Directe; 20 Minutos –, nos bares e nosrestaurantes – em geral, El País e La Vanguardia.

Escutar música brasileira no tempo livre e nosdeslocamentos da casa a outros espaços urbanos é umaatividade freqüente. Embora o consumo, as trocasentre amigos, a aquisição nas viagens para o Brasilsejam, predominantemente, de música brasileira, hátambém aquisição de CDs de cantores e de gruposmusicais de outros países, inclusive da Espanha. Nosrelatos de Adão, Adriana e Rosangela, apresentam-sereconfigurações de concepções e gostos sobre música,

Page 104: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

104 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Elizara Carolina Marin

a partir da experiência da imigração. No Brasil, hácantores e ritmos que eles não consumiam. As palavrasde Adão elucidam: “Mas quando você vem para cácomeça a ver as coisas de um outro ponto de vista, quetoda a manifestação de cultura é válida, cada um temum nível (...). No Brasil, você tem tanta música, tantavariedade, que se vê um pouco atordoado. E aqui vocênão tem isso. Então, você acaba vendo que têm outrascoisas legais que não é só tachar: música de corno,pagodeiro, bicheiro. Elas também têm sua harmonia,têm seu valor, têm que ter seu espaço. E, infelizmente,você vai se dar conta disso aqui, o valor do patriotismo”.

As pesquisas no campo da comunicação têmdemonstrado que, no âmbito das mídias em geral,sobressai a televisão, dada a centralidade que assumeem termos de poder econômico, de usos e de produçãode sentidos no cotidiano das sociedadescontemporâneas. Ela tem se traduzido como um meiode entretenimento, informação e publicidade presenteno cotidiano de indivíduos e coletividades em todo omundo. Para o contexto dos entrevistados, a televisãotambém é um veículo de socialização, dereconhecimento da cultura e dos espaços do novo lugare, marcadamente, de aprendizado do idioma,especialmente nos primeiros tempos. Eles revelam aimportância da televisão como uma via para aprendere exercitar a fala, numa cidade que os desafia com ademanda de aprendizado não de uma, mas de duaslínguas: o espanhol e o catalão.

Para Helena, no princípio, a televisão serviacomo um recurso para assimilar a língua. Apósquatorze anos em Barcelona, com a assinatura da RedeGlobo Internacional, a televisão torna-se um recursopara ouvir o português, para restabelecer a identidadenacional e o enraizamento nos trânsitos dos mundosvividos. “A televisão me dá isso, de saber o que passano país. Os novos acontecimentos. Eu passei muito

Page 105: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

105

Da janela de Barcelona: experiências interculturaise usos midiáticos operados por imigrantes brasileiros

Edição Especial - 2005

tempo aqui, 12 anos que eu não sabia nada do Brasil.Quando saiu a Globo e eu tive oportunidade de colocaraqui, daí que eu me interei do que estava passandodentro do País. E isso para mim é muito importante, écomo se estivesse, nesse horário, dentro do País. Éum pedacinho do Brasil dentro da tua casa. Então, eume sinto em casa um pouco, digamos assim”.

Na experiência de Helena, também háreconfiguração de concepções sobre a programação daRede Globo. Ela passou a assistir a programas que, noBrasil, se recusava a assistir. Dentre eles, alguns elagrava, quando impossibilitada de vê-los.

Com a programação da TV espanhola, semexceção, os entrevistados não estabelecem vínculos dereconhecimentos; ao contrário, de recusa. Esta semanifesta também em menores tempos de consumotelevisivo se comparado ao que consumiam no Brasil.Conforme relatam, eles não estabeleceram pactos desentido com algum canal ou programa definido.Procuram assistir aos noticiários, a alguns filmes, aalguns programas de humor e a talk show. As críticascentram-se na excessiva repetição da programação, nodecorrer do dia e das semanas em torno dos mesmostemas; na excessiva presença, do que na Espanhadenominam de Imprensa Rosa ou Programas doCoração, que versam sobre a vida privada de pessoasdo cenário social e midiático espanhol; nosprolongados tempos com publicidade (em geral blocosde quinze minutos); na presença de programas quevisibilizam o sexo. Já, nos canais públicos da Espanha(TVE1 e TVE2) e nos canais da Catalúnia (TV3 e BTV),eles consideram que há documentários históricos eculturais e programas de debates e informações paraos cidadãos e com os quais se identificam.

Para relatar o que consumiam da TV brasileira,ora mencionavam programas – Jornal Nacional, Jornalda Globo, Globo Repórter, Globo Rural, Fantástico,

Page 106: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

106 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Elizara Carolina Marin

Super Cine, Faustão, Vídeo Show, Sem Censura,Telenovelas –, ora nomes de apresentadores – BorisCasói, Jô Soares, Marília Gabriela, Serginho Groisman,Silvio Santos –, basicamente em torno da Rede Globo.Na lembrança de muitos, a recepção televisiva tinha osabor de um encontro familiar.

As significações em torno da TV brasileiradizem respeito à dinamicidade, aos “programasinteligentes”, à perfeição técnica em termos de imageme áudio, à “imaginação grandiosa para fazerpropagandas”, às tramas das telenovelas e àidentificação com os conteúdos. Isso não significa dizerque não haja críticas especialmente dirigidas à redehegemônica, ou seja, à Rede Globo – “manipuladora”,“descarta os velhos e os feios para ficar com os novos eos bonitos”, “corrida a todo custo para o que dá ibope”,“perda de espontaneidade no jornalismo”.

As significações, os pactos, as recusas, as críticase os usos da oferta televisiva brasileira e espanhola sãoforjadas pelos entrevistados por meio das competênciasengendradas no consumo, tanto de uma, quanto deoutra, e das “mediações” sociais, históricas e culturaisque marcam suas vidas (Martín-Barbero, 2001). Taiscompetências e “mediações” atuam como matrizesconfiguradoras das produções de sentido.

A luz do exposto, é possível dizer que essesimigrantes, no cotidiano em trânsito, vão seapropriando da “tecnoesfera” e dando a esta novoscontornos. As mídias se traduzem para eles como viasde reestruturação das experiências e práticas, derestabelecimento da identidade nacional e doenraizamento, de aprendizado intercultural, desocialização e ferramenta de trabalho.

O pensamento crítico sobre os usos,desenvolvido por Michel de Certeau (1988), traduzidopelas invenções que, no cotidiano, se insinuam, nestapesquisa encontra acolhida. Os cidadãos em trânsito

Page 107: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

107

Da janela de Barcelona: experiências interculturaise usos midiáticos operados por imigrantes brasileiros

Edição Especial - 2005

demonstram que as práticas sociais vão muito alémda adesão, da reprodução, da instrumentalização dosprodutos gerados pela “tecnoesfera”. Provavelmenteporque a produção de sentido não se dá de uma formalinear – do produtor para o consumidor –, mas pormeio de uma “combinatória de operações” em que,seguramente, a experiência cultural e social contamuito. No horizonte desta pesquisa, cidade, imigrantee mídia enlaçam sentidos.

NONONONONOTTTTTAAAAASSSSS(1)(1)(1)(1)(1) Os nomes foram trocados por outros para preservar aidentidade dos entrevistados.(2) (2) (2) (2) (2) Disponível em: www.bcn.es/estadistica.(3)(3)(3)(3)(3) Pesquisa oportunizada pelo doutorado sanduíche, financiadopela CAPES, e realizado no Laboratório de Pesquisa MIGRACOM,da Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha), no períodode janeiro a junho de 2005.

REREREREREFFFFFEEEEERÊNRÊNRÊNRÊNRÊNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSCERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: artes de fazer. V.1.

Petrópolis: Vozes, 1988.

GARCÍA CANCLINI, Néstor. Culturas Híbridas: estratégias parasair e entrar na modernidade. São Paulo: Editora daUniversidade de São Paulo, 2003.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Riode Janeiro: DP&A, 2002.

HOLANDA, Sérgio B. de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: JoséOlímpio, 1973.

IANNI, Otávio. Enigmas da modernidade-mundo. Rio de Janeiro:Ed. Civilização Brasileira, 2000.

MATA, M. C. De la cultura massiva à la cultura midiática.Diálogos. Lima: FELAFCS, 1999. p.80-91.

Page 108: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

108 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Elizara Carolina Marin

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Rio deJaneiro: Editora UFRJ, 2001.

SANTOS, Millton. A natureza do espaço. Técnica e tempo, razãoe emoção. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,2004.

SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho: uma teoria dacomunicação linear e em rede. Petrópolis: Vozes, 2002.

WEIL, Simone. A condição operária e outros estudos sobre aopressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

* Elizara Carolina MarinElizara Carolina MarinElizara Carolina MarinElizara Carolina MarinElizara Carolina Marin é docente do CEFD, UFSM, RS, Brasil;mestre em Estudos do Lazer, CEF, UNICAMP, Campinas, SP;doutoranda em Ciências da Comunicação, UNISINOS, SãoLeopoldo, RS; e membro integrante do grupo de pesquisaProcessocom e do Projeto Acadêmico Interuniversitário deCooperação Internacional Brasil-Espanha sobre mídias,migrações e interculturalidade.

Page 109: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

109

Interculturalidade, mediações e redes digitais

Edição Especial - 2005

Interculturalidade, mediações e redes digitais

Hiliana Reis*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOA busca por formação profissional qualificada atrai um fluxoconsiderável de alunos internacionais às universidadesbrasileiras, o que despertou interesse para realizar uma pesquisaqualitativa em universidades gaúchas. Se as mediaçõesacadêmicas, familiares e culturais articulam o interesse dessaamostra pelo uso do computador, também revelam uma forteestrutura de exclusão socioeducativa na África e na AméricaLatina. Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: interculturalidade; redes digitais;universo acadêmico.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTThe desire for a quality professional education attracts aconsiderable influx of international students to Brazilianuniversities, a fact which has provoked interest in undertakinga piece of qualitative research in Universities of Rio Grande doSul. If academic, family and cultural mediations articulate theinterest of the sample in the use of computer, also reveal thestrong structure of socio-educational exclusion in Africa andLatin America. Key WKey WKey WKey WKey Wordsordsordsordsords: interculturality; digital networks;academic world.

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNLa búsqueda de formación profesional cualificada atrae un flujoconsiderable de alumnos internacionales a las universidadesbrasileñas, lo que despertó interés para realizar unainvestigación cualitativa en universidades gauchas. Si lasmediaciones académicas, familiares y culturales articulan losintereses de esta muestra por el uso del ordenador, tambiénrevelan una fuerte estructura de exclusión socioeducativa enÁfrica y en América Latina. Palabras clavePalabras clavePalabras clavePalabras clavePalabras clave: interculturalidad,redes digitales, universo académico

Page 110: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

110 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Hiliana Reis

APRESENTAÇÃO

O processo de globalização tem acentuado ofluxo migratório de estudantes internacionais aoBrasil, em busca de novas oportunidades de estudo ede qualificação profissional. Os resultados parciais deuma pesquisa qualitativa, centrada em estudos decasos, realizada junto a estudantes internacionais daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos(UNISINOS), sinalizaram as mediações culturais quenorteavam as suas prioridades de uso e sustentavamas suas redes de interação digital. Em que seassemelhavam e em que se distinguiam os usos eapropriações dos recursos disponibilizados pela rededigital? Foram entrevistados no total 12 estudantes,sendo cinco africanos, originários de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique e sete latino-americanos,provenientes da Argentina, México, Nicarágua,Paraguai e Uruguai.

A COMUNICAÇÃO INTERCULTURAL

A vivência, ainda que temporária, em umaoutra cultura, configura-se como um processodesafiador e instigante. Ser “estrangeiro” significaconviver com o “outro”, ou seja, com as diferenças,quando não, com estereótipos. Miquel Rodrigo Alsinaentende a comunicação intercultural como a que serealiza “entre pessoas que possuem referenciais tãodistintos que se autopercebem como pertencentes aculturas diferentes” (1999:12). O que se produz é umfenômeno de atribuição identitária, a partir da qual asdiferenças são evidenciadas. Entretanto, se asdiferenças são necessárias para que se manifeste a“outra cultura”, as semelhanças também integram oprocesso; caso contrário, não haveria espaço para aconvivência e o diálogo, condição essencial para queocorram as relações entre culturas. Define-se cultura

Page 111: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

111

Interculturalidade, mediações e redes digitais

Edição Especial - 2005

como redes de significados compartilhados (Geertz,1989), os quais dão sentido às experiências de vida.

A comunicação intercultural beneficia-se coma versatilidade das possibilidades trazidas pelastecnologias de informação e comunicação, aquientendidas como veículos, recursos ou mediações quepotenciam a negociação e a produção de sentidos e,até mesmo, vê-se por ela desafiada. As tecnologias, porsua vez, trazem valor agregado ao permitirem acirculação de emoções e de afetos que interferem nasformas de uso e na escolha dos conteúdos eferramentas, disponibilizados pela rede digital.

FRONTEIRAS DE EXCLUSÃO E INCLUSÃO

Com algumas diferenças de percurso, assituações familiares, culturais e estruturais similaresincidiram na escolha do grupo entrevistado pelaformação universitária no Brasil e no uso da mídiadigital. A falta de condições apropriadas ao estudo e àpesquisa, a falta de domínio de idiomas, a limitação derecursos econômicos, a exclusão digital de algunssegmentos e as migrações familiares e pessoais foramindicadores comuns ao perfil da amostra.

Embora todos os entrevistados fossempoliglotas, alguns deles não atingiram o nível decompetência desejado para obtenção de bolsas emuniversidades norte-americanas e européias, queexigem domínio de inglês ou francês. Diante dessacontingência, a língua materna, no caso dos africanos,a facilidade de compreensão e o interesse pelo idiomaportuguês, por parte dos latinos, direcionaram aescolha desses estudantes para o Brasil.

O modelo de seleção vigente nas universidades,ainda hoje, postula um alto nível de conhecimento dealguns idiomas, o que não favorece, mas excluiestudantes de uma grande maioria dos países doHemisfério Sul, ainda que sejam poliglotas, como é o

Page 112: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

112 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Hiliana Reis

caso da maioria dos estudantes da amostra. Os africanos,por exemplo, além do português, dominam duas aquatro línguas nativas. Essa competência lingüística,nesse caso, não tem visibilidade, e os critérios utilizadosnos exames de proficiência são criticados porpesquisadores da área. Segundo pesquisas realizadassobre a temática (Blom e Gumpertz, 1972), a consciêncialingüística se amplia entre pessoas bilíngües. Por quenão valorizar essa competência? O alto nível de domíniodo idioma local exigido aos estudantes estrangeiros éuma forma de dominação cultural, que privilegia umaelite, e diminui as oportunidades de exercício dacidadania a uma grande parcela da população mundial,em termos de formação acadêmica e profissional.Mantêm-se os guetos, ou modificam-se os critérios deseleção para incluir os que não tiveram condições deacesso a outros idiomas?

Embora sejam diferentes na sua estrutura,as semelhanças entre o português e o espanholatuaram nesta amostra como fonte de aproximaçãode culturas. As universidades, a nosso ver, deveriammediar o interesse pelo conhecimento, e não imporbarreiras à aquisição do saber. Por que nãoprivilegiar outro modelo de seleção e oferecer cursospara o aprendizado de idiomas, portais de acesso aoconhecimento? A oportunidade de estudar em outropaís torna-se de per si uma excelente ferramentapara o aprendizado de idiomas e para a imersãocultural. Todos os entrevistados liam, comfreqüência relativa, a mídia impressa nacional,assistiam aos programas da televisão e aos filmesbrasileiros. Por outro lado, a estudante paraguaia,que vivia em uma cidade fronteiriça com o Brasil,aprendeu a falar português através de novelas erevistas brasileiras. Essas mídias, com destaque paraa televisão, transformaram-se em fontes de mediaçãoe de interação com a cultura local.

Page 113: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

113

Interculturalidade, mediações e redes digitais

Edição Especial - 2005

A ESCOLHA PELA UFRGS E UNISINOSApesar de recorrerem à Embaixada ou ao

Consulado para efetivar os trâmites de matrícula, tantoos latinos como os africanos guiaram-se porinformações obtidas com amigos e familiares queconheciam as duas universidades ou que nelasestudaram. O motivo apontado pela escolha da UFRGS,pelos estudantes latino-americanos, inscritos na pós-graduação, foi a excelência das condições de pesquisadessa universidade e a fama de seriedade dos gaúchos.A proximidade geográfica para alguns, a atençãorecebida por parte de funcionários da universidadequando buscaram informações por e-mail e osconteúdos disponibilizados no site tambémconcorreram para efetivar a escolha de dois estudantesda amostra. Dos doze entrevistados, apenas doisestudantes, que estavam no doutorado e que tinhammaior familiaridade com a internet, realizaram buscaspela mídia digital. As informações disponibilizadas nosite da UFRGS, segundo eles, eram consistentes e bem-estruturadas. As respostas imediatas e personalizadasde funcionários aos pedidos de informação solicitadostambém contribuíram para que elegessem essauniversidade, em detrimento de outras que nãodisponibilizavam as informações necessárias ou queremeteram ao “Fale Conosco”.

O sonho de estudar fora do país foi explicitadoem diferentes momentos das narrativas da amostra, oque revela a presença do imaginário coletivo noscritérios de escolha do país e da universidade. Um dosestudantes da UFRGS, ainda que tivesse recebidoinformações de um conhecido que havia estudadonessa instituição, mencionou como fator importantena escolha da universidade o nome da cidade: PortoAlegre. A identificação com a capital africana ondemorava foi decisiva, pois pensava que viria para umacidade praiana e, além do mais, alegre. Essa lógica de

Page 114: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

114 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Hiliana Reis

seleção indica, também, que as informações recebidasna Embaixada do Brasil, pelo constatado, foraminsuficientes. Alguns africanos se queixaram do climaexcessivamente quente, no verão, e frio, no inverno.Um deles, ao chegar, estava de bermuda com ostermômetros registrando 10º (dez graus), e um doslatinos ficou bastante desconcertado quando os taxistaslhe davam o preço da corrida em “pila”. Havia sidoinformado que a moeda corrente era o real!

A amostra da UNISINOS compunha-se,basicamente, de estudantes da graduação. O único queestava na pós-graduação foi também o primeiroafricano dessa universidade a matricular-se nesse nívelde ensino. A diferença entre os alunos de pós e os degraduação reflete-se nas variáveis de escolha pelauniversidade. Enquanto os estudantes da UFRGSpriorizaram a excelência da pesquisa e do ensino, osda UNISINOS pautaram-se pela qualidade dos cursosofertados, pela proximidade com o país de origem epelo interesse em aprender português, no caso dasestudantes latinas.

A MEDIAÇÃO ESCOLAR COMO FATOR DE INCLUSÃO DIGITAL

O estudo das mediações culturais, entendidascomo produção de sentidos e locus em que seconfiguram as identidades, permitiu identificar lugaressignificativos da cultura de origem e da cultura do“outro” e detectar semelhanças e diferenças nospercursos do grupo analisado. Ao assumir que os mediaatuam como potencial para a transformação culturale identitária, a pesquisa indica também que as práticasculturais, ao privilegiarem determinados valores,conformam núcleos, demarcam escolhas e preferênciasà sua comunidade, incluindo, nessa dinâmica, os usose apropriações do universo digital.

Enquanto a maioria dos estudantes latinos foibeneficiada por políticas educacionais de inclusão

Page 115: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

115

Interculturalidade, mediações e redes digitais

Edição Especial - 2005

digital, em seus países de origem, com os africanos oprocesso foi inverso: quatro dos cinco entrevistadossomente tiveram acesso ao computador, nas universidadesbrasileiras. Um deles nunca tinha entrado em um elevadorou andado de ônibus, em seu país de origem.

Se o entretenimento foi o leit-motiv para duasuruguaias terem o primeiro contato com ocomputador, através de videogames, em casa devizinhos, o aprendizado se deu durante o cursosecundário, e o uso restringia-se à digitação de textosescolares. A escola, portanto, desempenhou um papelrelevante à inclusão digital da amostra, para o primeiroaprendizado do computador, a partir do que foi criandonovas necessidades e competências de uso.

Apenas um dos latinos, que se destaca entreo grupo pela condição econômica, teve acesso aocomputador aos seis anos de idade, incentivado pelopai, segundo ele, “um homem à frente do seutempo”. Essa observação leva-nos a inferir a presençade um imaginário social que associa o uso docomputador à modernidade e que atribui a essaferramenta e, por conseqüência, aos usuários, umdiferencial, independentemente de como seráutilizado. No imaginário social ibero-americano,conforme observamos em outro estudo (Reis, 2000),o domínio da técnica computacional, ainda queprecário, atua como fator de distinção e conferepoder aos usuários. O computador transforma-se nototem da pós-modernidade.

O estudante mexicano, que não dispunha derecursos econômicos, só teve acesso ao computador no finaldo curso de graduação, e o interesse foi motivado pelanecessidade de digitar o Trabalho de Conclusão de Curso. Oestudo, para os latinos, foi uma importante mediação parao uso do computador, sendo que o ingresso no mercado detrabalho também propiciou a expansão da aprendizagem deoutras ferramentas, tais como o Excell e o e-mail.

Page 116: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

116 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Hiliana Reis

Essa situação não se confirmava entre osafricanos que, embora trabalhassem desde aadolescência, só aprenderam a usar o computador nasuniversidades brasileiras ou na casa dos jesuítas. Doscinco africanos, apenas um possuía computador naÁfrica; outros dois o adquiriram no Brasil, e os demaisdependiam do computador da universidade ou deterceiros. Embora houvesse diferenças significativasno tempo e nas competências de uso digital entre essesestudantes, o acesso à universidade permitiu o uso docomputador e gerou sua necessidade. O interesse peloestudo e pela pesquisa, aliados à disponibilização daferramenta, contribuíram para apagar as barreiras deexclusão digital que separavam os latinos dos africanos.

A FORMAÇÃO DE REDES

As análises realizadas durante a pesquisaindicaram que as práticas socioculturais maissignificativas ao grupo derivavam do fato de seremestudantes universitários estrangeiros e, deste lugar,estabeleciam as prioridades de uso do computador eda mídia digital. As principais matrizes de mediaçãode uso do computador por esse grupo eram :• digitação de textos, busca de informações

relacionadas ao estudo e à pesquisa;• práticas de diálogo e interação com familiares e

amigos;• busca de informações político-culturais de seus países

de origem. Os alunos de graduação utilizavam a internet

para consultas à base de dados, relacionadas àsdisciplinas, utilizavam o e-mail, consultavam jornaisde seus países de origem e ouviam música pela web.Por outro lado, os pesquisadores que estavam na pós-graduação faziam um uso mais sistemático docomputador do que os que estavam na graduação.Freqüentemente, realizavam buscas de textos sobre o

Page 117: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

117

Interculturalidade, mediações e redes digitais

Edição Especial - 2005

objeto de suas pesquisas, consultavam sites específicos,sobretudo da CAPES, revistas especializadasinternacionais em inglês e em espanhol; contatavam-se com pesquisadores internacionais, para discussãode temas relacionados às áreas de interesse comuns.Foram os únicos da amostra que apontaram diferençasentre os internautas.

O e-mail tornou-se uma ferramentaindispensável para manterem os laços afetivos comfamiliares e amigos distantes e para alimentar suas raízesculturais. Através do e-mail, os africanos contatavam erepassavam informações, de caráter político-culturalsobre os países de origem, aos primos e amigos quetrabalhavam em Portugal ou que estudavam na França,que viviam na Alemanha, no Canadá, nos Estados Unidose, inclusive, em outros Estados do Brasil. Através desserecurso, passaram de usuários a emissores,ressignificando e atribuindo novos sentidos àsmensagens midiáticas. Ao complementarem-se eminfinitas combinações multimediáticas, “os suportestecnológicos não se excluem, ao contrário, secomplementam em processos de inter emultirrelacionamentos” (Sousa, 2000:77) e oferecemaos seus usuários uma nova maneira de estarem juntos,de se relacionarem, embora separados no espaço e notempo. Porém, os africanos e alguns latinos não podiamse comunicar com a família próxima, pais, mães eirmãos, por e-mail. A exclusão digital familiar é um dadoevidente na amostra, quando não, acrescido deanalfabetismo ou de semi-analfabetismo, fatoscorroborados por dados estatísticos.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

A análise dos dados coletados sobre os usos eapropriações da mídia digital ampliou o espectro dapesquisa, ao fornecer uma variedade de fatoresculturais, que se articulavam às práticas midiáticas da

Page 118: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

118 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Hiliana Reis

amostra analisada, e que foram fundamentais para acompreensão da pluralidade de culturas e dos matizesque conformam as sociedades do Terceiro Mundo.Histórias de vida similares, valores, práticas e interessescomuns pautam o cenário tanto dos estudantes latinoscomo dos africanos, guardadas as devidas proporções.As migrações em busca de novas oportunidades deestudo e de emprego evidenciam-se em duas geraçõesdos entrevistados, o que pode ser interpretado comoindício de que as condições de oferta de estudos naAmérica Latina e África continuam precárias.

As condições de excelência da pesquisa daUFRGS, a qualidade dos programas ofertados, a rapidezdas respostas da instituição, entre outras forammediações que direcionaram a escolha dessauniversidade, pela amostra. Outra consideração dignade ser mencionada é a de que a família, amigos econhecidos foram fontes primárias de referência paraa escolha da UFRGS e da UNISINOS. Nota-se que asrelações pessoais ocupam um lugar especial nasculturas latina e africana, processo para o qual ospesquisadores, especialmente os da Comunicação,devem estar atentos. Para a amostra, a confiabilidadeda fonte gera a credibilidade da informação.

As dinâmicas de uso da mídia digital, por essegrupo, relacionavam-se ao fato de serem estudantesuniversitários internacionais e, desse lugar, priorizaramsuas escolhas, relacionadas as suas áreas de estudo oude pesquisa. A nítida diferença de usos da rede digitalentre os estudantes de graduação e de pós-graduaçãoleva-nos a supor que o uso da internet não se justificaapenas pela disponibilidade de informações, masrelaciona-se às práticas culturais do grupo.

Se, como estudantes, priorizavam a busca deinformações, como estrangeiros, a análise do uso damídia digital permitiu também observar que a famíliae as amizades ocupavam um lugar muito importante

Page 119: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

119

Interculturalidade, mediações e redes digitais

Edição Especial - 2005

na vida desses estudantes, o que pode ser categorizadocomo dado de identidade cultural comum, tanto aoslatinos como aos africanos. O e-mail era muito utilizadopara dialogarem com amigos que vivem nos países deorigem e no estrangeiro, tornando-se uma ferramentade uso restritivo e de caráter privado. Como disseramalguns dos entrevistados, é um excelente recurso paraafastar a solidão de quem vive no estrangeiro, facilita avivência em outra cultura e permite a manutenção dosafetos. Esse recurso cumpria importante função namanutenção dos laços afetivos desse grupo, emboramuitos deles não pudessem se comunicar com a família,devido à exclusão digital.

Os acordos internacionais firmados pelogoverno brasileiro com os países da América Latina eda África garantiram a esses estudantes o direito àformação acadêmica, e lhes permitiu usufruir osrecursos e o aprendizado das tecnologias dacomunicação e da informação, cujas conseqüências seestendem à vida profissional. E, nesse cenário, a mídiadigital serviu de mediação entre o mundo interno eexterno, permitindo o deslocamento às suas casas, asua cultura e o contato com familiares e amigos.Ampliou também as fontes de estudo e de informaçãoe as fronteiras impostas pela sala de aula ou, mesmo,pela biblioteca tradicional.

Os acordos e parcerias de caráter científico-cultural, mantidos pelo governo brasileiro com ospaíses da América Latina e África tornam-se umimportante elo para o exercício dos direitos cidadãosde uma parcela de latino-americanos e, sobretudo, deafricanos. A nosso ver, esses acordos necessitam serrevistos e ampliados para que seus benefícios possamcontribuir para o desenvolvimento regional, tendocomo prioridade a inclusão das minorias étnicas eexcluídas socioeconomicamente.

Page 120: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

REREREREREFFFFFEEEEERÊNRÊNRÊNRÊNRÊNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSS

ALSINA, M. La comunicación intercultural. Barcelona: Antropos,1999.

BLOM, Jan-Petter e Gumpertz, John J. Directions insociolinguistics: the ethnography of communication.London: Basil Blackwell, 1972.

GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: EditoraGuanabara, 1989.

HALL S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio deJaneiro: DP&A, 2002, 7ª ed.

LOPES, M. I. V. et alt. Vivendo com a telenovela: mediações,recepção e teleficcionalidade. São Paulo: Summus, 2002.

MARTÍN-BARBERO, J. América Latina e os anos recentes: oestudo da recepção em comunicação social. In: Sousa, M.W.(org.). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: ECA-USP/Brasiliense, 1995. p. 39-68.

REIS, H. Ampliación de los procesos comunicativos en laenseñanza a distancia: análisis de tres modelos de tutoría.Tese de Doutorado, Universitat Autònoma de Barcelona(UAB), Bellaterra, 2000.

SOUSA, M. W. Novos cenários no estudo da recepção mediática.In: Eugenio Trivinho (org.) et al. Sociedade mediática.Significação, mediações e exclusão. Santos: Ed. UniversitáriaLeopoldanum, 2000. p. 77-89.

* Hiliana ReisHiliana ReisHiliana ReisHiliana ReisHiliana Reis, doutora em Comunicação Audiovisual (UAB), éprofessora no Curso de Jornalismo da UNISINOS, diretoraadjunta do Instituto Humanitas Unisinos – IHU e pesquisadorado Projeto Acadêmico Interuniversitário de CooperaçãoInternacional Brasil-Espanha sobre mídias, migrações einterculturalidade.

Page 121: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

APORTES DESDE A PRODUÇÃOAUDIOVISUAL NO PANORAMA

ESPANHOL

Page 122: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

122 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

A. Efendy Maldonado

Inter-relações culturais, midiatização, migrações eglobalismo

A. Efendy Maldonado*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOAs interações comunicacionais são analisadas no eixo central damidiatização televisiva, que situa os sistemas e culturas midiáticascomo dimensão central da estruturação sociocultural. O grandeêxodo de populações latino-americanas para a União Européia érefletido na perspectiva das inter-relações culturais e dos processossociais no contexto espanhol. O intenso fluxo migratório é o aspectosociológico problematizado na sua inter-relação com a produçãoda televisão pública espanhola que o fabrica e difunde. Palavras-Palavras-Palavras-Palavras-Palavras-chave: chave: chave: chave: chave: midiatização; interculturalidade; televisão; migrações.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTThe great exodus of the Latin American population to theEuropean Union is reflected in the perspective of cultural inter-relations and social processes in the Spanish context. Thecommunicational interactions are analyzed along the centralaxis of mediatization, which locates mediatic systems andcultures as the central dimension of the socio-cultural structure.The intense migratory flow is the sociological aspectproblematized in its inter-relationship with the mediaticproducts that create and disseminate it. Key-WKey-WKey-WKey-WKey-Words :ords :ords :ords :ords :mediatization; interculturality; migrations

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNLas interacciones comunicacionales son analizadas en el ejecentral de la mediatización televisiva, que ubica los sistemas yculturas mediáticas como dimensión central de laestructuración socio-cultural. El gran éxodo de poblacioneslatinoamericanas para la Unión Europea es pensado en laperspectiva de las interrelaciones culturales y de los procesossociales en el contexto español. El intenso flujo migratorio esel aspecto sociológico problematizado en su interrelación conla producción de la televisión pública española que lo fabrica ydifunde. Palabras-clave: Palabras-clave: Palabras-clave: Palabras-clave: Palabras-clave: mediatización, interculturalidad,televisión; migraciones.

Page 123: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

123

Inter-relações culturais, midiatização,migrações e globalismo

Edição Especial - 2005

UUUUUMAMAMAMAMA SSSSSEEEEEMANAMANAMANAMANAMANA DDDDDEEEEE IIIIIMAMAMAMAMAGGGGGEEEEENNNNNSSSSS EEEEE SOSOSOSOSONNNNNSSSSS NANANANANA T T T T TV V V V V PÚBPÚBPÚBPÚBPÚBLLLLLIIIIICACACACACA DDDDDAAAAA E E E E ESSSSSPPPPPANANANANANHAHAHAHAHA

A pesquisa1 sobre a produção midiática mostrouque, lamentavelmente e apesar de todos os esforços dasentidades que trabalham sobre políticas de comunicaçãosocial nas universidades, governos locais e Estado, acobertura midiática continua sendo tendenciosaapresentando os migrantes em condições de vida socialproblemáticas. O recurso à criminalização fácil,vinculando os latinos à cultura da violência: “...aassassina junto de dois jovens paraguaios” (TVE1:Gente, 6/9/05, 20h27 horas) é utilizado cotidianamenteem telejornais e programas de “televisão-lixo”. Ascoberturas midiáticas têm um atravessamento forte damatriz estrutural-funcionalista estadunidense,reduzindo significativamente as possibilidades deprodução de informação e conhecimento sobre asrealidades socioculturais abordadas. A riqueza ecomplexidade dos processos de inter-relação culturalque acontecem atualmente na Espanha sãoenfraquecidas e enquadradas em esquematizaçõespróprias do olhar etnocêntrico das elites mundiais.

Para detalhar e aprofundar essas operacionalizaçõesmidiáticas, apresenta-se a continuação à análise de umasemana do telejornal do horário nobre da principal emissorapública da Espanha. Nela situam-se elementos constantes ecaracterísticos da produção midiática sobre migrações.

Telediario 2- TVE1 (12-19 de junho de 2005)1.1.1.1.1. A média de cobertura sobre imigração, América

Latina e relações interculturais com a UniãoEuropéia deu 9,68 % que é um indicador do pesoque essas temáticas têm no jornalismo espanhol. Odia de maior cobertura foi a quarta feira, 14 de junho,com 19,76 % e o de menor, o domingo, 19 de junho(atípico pelas eleições em Galícia), que teve 0% deinformação sobre os temas que pesquisamos. Dosoito dias analisados, temos quatro em que a coberturajornalística supera o 10%: domingo 12 de junho,

Page 124: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

124 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

A. Efendy Maldonado

com 10,32 %; terça 14, com 19,76 %; quinta 16,com 14,15 % e sábado 18, com 11,43%. Os outrosdias estão entre 6 e 9% de cobertura. Estesindicadores mostram a relativa importância epresença das temáticas no Telediario2 da TVE1.

2.2.2.2.2. A matriz do jornalismo funcionalista estadunidenseestá presente de maneira preponderante em 18 das 21matérias produzidas pelo telejornal nos oito diaspesquisados. A produção destinou três notícias oureportagens para estes temas por dia, em cinco dias doperíodo (domingo, terça, quinta, sexta e sábado). Ascoberturas funcionalistas sofisticadas (qualidadetécnica) constataram-se em onze produções. Nelas,temos uma fabricação forte (recursos, técnicas,movimentos, estrutura e montagem); três têm umaprodução média e três são fracas até para o padrãofuncionalista. Somente quatro das 21 informações(19,04 %) midiáticas quebram o esquema da matrizhegemônica, produzindo mensagens contextualizadas,respeitosas das fontes e das referências. Essasmensagens dão aos imigrantes ou personagens dosacontecimentos a voz e a relevância jornalística quetêm; mostram aspectos históricos, econômicos,culturais e políticos de fundo e colocam os recursos eprocedimentos técnicos ao serviço da realidade. Issoimplica que, no meio do emaranhado funcional, épossível encontrar informação valiosa que educa,denuncia, mostra, acrescenta e oferece possibilidadesde interpretação e conhecimento sobre o concreto realno telejornal pesquisado. O bom nível do “Telediario2/TVE1” é constatado no fato de que 15 das 21produções (71,42 %) reúnem qualidade jornalística;três são de regular estruturação e três são fracas.

Page 125: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

125

Inter-relações culturais, midiatização,migrações e globalismo

Edição Especial - 2005

12 de junho F+ F+- R+

13 de junho F- F+

14 de junho R+ F+ R+

15 de junho F- F+- F+ F+ R+

16 de junho F+ F+

17 de junho F+- F+ F-

18 de junho F+ F+ F+

19 de junho Nenhuma Nenhuma Nenhuma

R=Mensagem fabricada fora da matriz funcionalista;F=Mensagem construída dentro da matriz funcionalista;+=qualidade de produção;-=fraqueza de produção;

+-=produção regular

3.3.3.3.3. A temática das pateras (pequenas embarcações) foiapresentada em cinco dos oito dias (segunda; terça,quinta, sexta e sábado). É uma temática recorrente quemistura dramatismo, epopéia e irracionalismo,facilitando a produção do telejornal mediante a repetiçãoperiódica de naufrágios, afogados, presos e miseráveisem trânsito. As coberturas apresentam configuraçõesvariadas, umas com habilidade técnica e outras fracas ehá também medíocres. O campo de efeitos de sentidodessas informações gera posicionamentos dos públicosa favor da repressão e o controle da repressão mostrandoos imigrantes como seres infra-humanos, que não têmcondições de viver na UE.

4.4.4.4.4. As mensagens sobre violência e delinqüência foramtrês: a segunda do 1º dia; a terceira do quarto dia e aterceira do sétimos dia. “Moça fuzilada”; “Violênciano estádio” e “Narcotráfico” foi uma combinação fortepara vincular os latino-americanos a pessoas fora dalei. Este recurso de amplo uso na mídia estadunidenseé utilizado sem escrúpulos para fabricar e representarcaracterísticas “do latino-americano”.

Page 126: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

126 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

A. Efendy Maldonado

55555..... O país latino-americano com maior divulgação foi aArgentina. Durante os oito dias pesquisados, o telejornalemitiu cinco mensagens (notícias e reportagem), duassobre o fim das leis de impunidade para os ditadores eseus cúmplices; uma sobre violência no estádio do clubeBoca Junior, uma sobre Maradona e uma sobrenarcotraficantes argentinos. Um conjunto que, na suamaioria, enfatiza aspectos problemáticos e negativos(genocídio, violência, narcotráfico e mito esportivo) darealidade desse país. É importante salientar que areportagem sobre a anulação das leis que permitiam aimpunidade dos ditadores é uma das produçõesjornalísticas melhor configuradas.

No segundo lugar por matérias emitidas, está oBrasil com três informações: uma reportagem de qualidadesobre a escritora Nélida Piñón (prêmio príncipe deAstúrias); a cobertura funcionalista e de merchandisingsobre o carnaval de Carlinhos Brown em Madri e umanotícia telegráfica sobre a demissão de José Dirceu.Literatura, música e política apresentam um conjuntosimbólico preponderantemente positivo em termos deconteúdo e funcionalista em termos de fabricação formal.

A Colômbia tem duas informações nestaamostra: a primeira aborda o narcotráfico numaperspectiva um tanto leve sobre controle ecológico dasplantações, é uma produção de matriz funcionalistaque pouco contribui para um conhecimento adequadoda cultura e da realidade desse país. A segunda, semmencionar a nacionalidade, apresenta a doiscontraventores da lei e os obriga a usar o cinto desegurança, colocando-os como representantes deirresponsabilidade, um deles, incluso, colocando emrisco a segurança do filho.

Uruguai tem uma referência breve numanotícia sobre rede de narcotraficantes, colocando-onuma classificação extremadamente redutora sobre asua configuração sociocultural.

Page 127: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

127

Inter-relações culturais, midiatização,migrações e globalismo

Edição Especial - 2005

América Latina tem uma referência nainformação sobre fuzilamento de uma moça ibero-americana, provavelmente vinculada à delinqüência,que fortalece o campo de efeitos negativos sobre nossaregião e seus habitantes; a matriz de construção éfuncionalista e redutora.

Estados Unidos está presente na amostra comuma reportagem de qualidade sobre linchamento; aprodução da TVE1 realiza um trabalho de pesquisabibliográfica, histórica e política interessante. É umainformação de qualidade que mostra um aspectoextremadamente negativo sobre o racismo e axenofobia na sociedade estadunidense.

66666..... A produção do telejornal do horário nobre da TVE1,nos oito dias investigados, apresentou quatroproduções de qualidade que rompem a matrizfuncionalista de descontextualização, redução,fragmentação, distorção e manipulação da realidade.As reportagens sobre “exploração do trabalhoinfantil”; “Inconstitucionalidade das leis deimpunidade na Argentina”; “Linchamento nosEstados Unidos” e “Prêmio literário Príncipe deAstúrias” para a escritora brasileira Nélida Piñóncomprovam a competência do jornalismo televisivopúblico espanhol para produzir informações designificativa qualidade formal, como também derespeitoso e aprofundado conhecimento dosconteúdos abordados. Nem tudo é negativo nacobertura midiática sobre imigração,interculturalidade e América Latina; de fato, é possívelilustrar-se e conhecer aspectos relevantes dasrealidades na assistência de telejornais. O fato de que,em termos formais, a hegemonia funcionalista tenhasido comprovada uma vez mais (na amostra estudada)não implica que vários desses conteúdos sejampositivos; como também que alguns desses materiais

Page 128: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

128 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

A. Efendy Maldonado

contribuam para um saber qualificado sobre o mundo,mediante produções que buscam expressar da melhorforma a riqueza do real e se estruturem por meio demontagens de qualidade tecnocultural.

A importante contribuição econômica querepresenta o trabalho dos imigrantes na sociedadeespanhola é um aspecto minimizado que aparece empoucas análises jornalísticas. A dimensão econômicaé tratada principalmente nos aspectos de trabalho não-regulamentado: vendedores de rua problemáticos,pequenos negócios que não respeitam os horários eregulamentos municipais e praticam uma competênciadesleal com os comerciantes espanhóis. Dandocontinuidade a essa estratégia de abordar a relaçãoeconomia/imigração no ano 2005, foi tratado oprocesso de regularização dos trabalhadoresimigrantes, política que incorporou ao mercado detrabalho mais de meio milhão de trabalhadoresassalariados e excluiu outros tantos concentrou aprodução midiática sobre a imigração de modo intensodurante o primeiro semestre de 2005.

A diversidade cultural e as inter-relações entregrupos humanos de América e Europa são trabalhadaspor poucos programas na sua multidimensionalidade;apesar das conotações negativas registradas e decampos de sentido conservadores (xenófobos), oconjunto da produção midiática apresenta-se toleranteà presença dos novos cidadãos, mostrando ao mesmotempo as significativas limitações da matrizfuncionalista para informar e conhecer o mundo.

FLUXOS E CONFIGURAÇÕES GLOBALIZANTES

O êxodo atual de milhões de latino-americanospara a Espanha mostra um dos aspectos cruéis doordenamento estrutural neoliberal conservador defundamentalismo de mercado. Os países que

Page 129: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

129

Inter-relações culturais, midiatização,migrações e globalismo

Edição Especial - 2005

experimentaram processos de desestruturação ouviolência sistêmica durante os anos noventa, quase todosos centro-americanos e os mais pobres de América doSul: Equador, Bolívia, Paraguai, Peru e Colômbia“expulsaram” uma porcentagem significativa de seuscidadãos para o exterior. No caso do Equador, essefenômeno significou a saída de 25% de sua população,aproximadamente três milhões de pessoas, segundoestimativas dos registros dos departamentos do ministériode Governo que atendem aos assuntos de migração dopaís, ONU/ACNUR, CEPAL e BID (relatórios anuais 2004).

O fato de que só 3% da população mundial sejaemigrante é algo que chama a atenção dos analistas,pesquisadores e cientistas sociais considerando asextremas diferenças de vida entre os poucos países ricose a grande maioria de países pobres. É importante paraconfigurar esta problemática pesquisar elementosesclarecedores dessa realidade como a desinformação; aignorância sobre a existência de condições de vida melhorem outras formações sociais e a forte repressão política,ideológica e militar na maioria dos países subalternos.

O indicador de três por cento de migrantesno mundo não ilustra a importância desses processosse consideramos as mudanças provocadas pelaemigração na maioria dos países latino-americanos epela imigração na União Européia. Entre estas duasrealidades, temos elementos complementares de umaproblemática de êxodo e transformação populacionalque se complementam. As exportações tradicionais,desde o século XVI de matérias primas, produtosnaturais, artesanato e bens de consumo da AméricaLatina para a Europa que tornou possível aacumulação originária do capital e o contemporâneosistema de hegemonia global, deu passo, na décadados anos 1990, à exportação de mão-de-obra, pessoasfísicas concretas que fluem para ocupar os postos quea dinâmica econômica da UE demanda.

Page 130: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

130 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

A. Efendy Maldonado

Constata-se um aumento considerável dasmigrações de América Latina para a Europa e osEstados Unidos, especialmente para a Espanha que estáfortemente vinculada por história, nexos, interesses,língua e fluxos humanos com nossas sociedades.Durante a primeira metade do século XX,principalmente por causa da guerra civil, logo peladitadura e o atraso econômico e social que impôs paramilhões de espanhóis, estes tiveram que emigrar paraArgentina, México, Uruguai, Venezuela, Brasil e outrospaíses latino-americanos. Essas trocas que têm origemna colonização espanhola de boa parte de América têmtido épocas de intensos fluxos migratórios; o séculoXX é demonstrativo disso, e estes primeiros anos doséculo XXI mostram que a onda migratória continua.Na América Latina, o conjunto de fatores que exerceminfluência sobre a decisão de fugir do lugar de origemtem a ver com fatores que apontam várias das principaisentidades encarregadas de pensar a região. Na mídia,isso está presente de modo restrito, mas suas produçõesapresentam fatos, fenômenos e processos queexpressam a força migratória contemporânea:

ONU pede à América Latina queONU pede à América Latina queONU pede à América Latina queONU pede à América Latina queONU pede à América Latina que

incorpore o critério social à economiaincorpore o critério social à economiaincorpore o critério social à economiaincorpore o critério social à economiaincorpore o critério social à economia

A ONU pediu aos países da América Latina nesta

quinta-feira que incorporem aspectos sociais a suas

políticas econômicas visando a melhorar a distribuição

da riqueza e a lutar contra a desigualdade entre ricos e

pobres: “A boa distribuição das receitas parte são só de

uma boa política social, mas também da incorporação deincorporação deincorporação deincorporação deincorporação de

critérios sociais na política econômicacritérios sociais na política econômicacritérios sociais na política econômicacritérios sociais na política econômicacritérios sociais na política econômica”, disse o

subsecretário de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU,

o colombiano José Antonio Ocampo. As declarações foram

feitas no âmbito da apresentação do último informe dainforme dainforme dainforme dainforme da

ONU sobre o estado social do mundo em 2005ONU sobre o estado social do mundo em 2005ONU sobre o estado social do mundo em 2005ONU sobre o estado social do mundo em 2005ONU sobre o estado social do mundo em 2005, que revela

que as desigualdades entre os países e dentro deles não só

continuam, mas aumentaram na última década.

Page 131: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

131

Inter-relações culturais, midiatização,migrações e globalismo

Edição Especial - 2005

Nesse sentido, indicou que o caso mais dramático é o da

Argentina, que há anos ostentava um dos níveis de assimetrias

mais baixos e agora enfrenta um dos mais altos. Outro dos

países onde existem importantes disparidades na distribuição

da riqueza é na Venezuela, produto de distintos períodos

governamentais anteriores ao atual governo.

“A metade dos países latino-americanos apresentaram

uma deterioração na distribuição de ingressos”,distribuição de ingressos”,distribuição de ingressos”,distribuição de ingressos”,distribuição de ingressos”, afirmou

O campo, referindo-se aos dados da Comissão Econômica

para a América Latina e Banco Mundial.

O campo admitiu ser difícil precisar a percentagem

do aumento na desigualdade, embora tenha indicado que

no país latino-americano, os 10% mais ricos da

população dispõem de 40% a 50% da riqueza.

No entanto, os 10% mais pobres têm entre 1% e 2%

das receitas, o que leva a desigualdade a ser entre 30 e

40 vezes maior.

(EFE)

(O Globo On-line, 25/8/2005).

Os dados que não têm condição de expressar acomplexidade do real, neste exemplo, contudo,mostram indicadores alarmantes sobre as condiçõesde vida na América Latina; as desigualdades sãoextremas, situando numa mesma formação socialpessoas em condições de vida de exagerada abundânciae cidadãos na miséria. É esclarecedor apontar os casosde sociedades como a Argentina e a Venezuelana que,dadas as suas favoráveis condições de estruturaçãohistórica (em relação às da maioria da região) ecompetências socioculturais avançadas, durante váriasdécadas do século XX, conseguiram manter-se emindicadores de desenvolvimento humano menoscríticos. Essas formações sociais, contudo, nãoresistiram ao embate do globalismo e, a partir daimplementação de políticas de fundamentalismo demercado, entraram em processos de degradação social

Page 132: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

132 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

A. Efendy Maldonado

e econômica fortes. A onda neoliberal gerou diferençasextremas que não existiam e levou à pobrezanumerosos setores das classes médias da AméricaLatina. O conjunto de diagnósticos da CEPAL, ONU,BID, BM2 e principalmente das instituições de pesquisadas universidades da região demonstram a involuçãonas condições de vida de uma alta porcentagem denossa população.

A perversidade sistêmica fez que a tragédia semostrasse como ventura, o abandono dos filhos, afragmentação das famílias, das comunidades e deimportantes conjuntos sociais históricos são minimizadona produção midiática. Os choques culturais; a exploraçãodo trabalho; o racismo; a segregação social; a repressão ea injustiça ficam ocultas numa nuvem democrática queatua como recurso retórico para evitar o conhecimentoe o confronto com a realidade estrutural. As análises defundo sobre o modelo de sociedade hegemônicaglobalizada imposta para a grande maioria da populaçãomundial ficam diminuídas, ocultas ou “censuradas” naprogramação comercial e pública de nossos países e daPenínsula Ibérica.

Nesse contexto de exploração, exclusões,depredação, roubo e injustiça, os sistemas midiáticostêm uma função importante na produção deimaginários e informações que condicionam osprocessos. Estudar, pesquisar e educar sobre aspráticas, estratégias e estruturações midiáticas éfundamental para esclarecer o funcionamento, papele impacto sociocultural dos sistemas midiáticos; oconhecimento produzido a partir dessas atividades éum caminho indispensável para superar a crise e osproblemas contemporâneos e propor saídas queconsiderem o fator sociocultural midiático comoelemento-chave de conservantismo e mudança. Atransformação das mídias é uma condição necessáriapara uma democratização profunda e ampla do mundo.

Page 133: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

133

Inter-relações culturais, midiatização,migrações e globalismo

Edição Especial - 2005

NONONONONOTTTTTAAAAASSSSS(1)(1)(1)(1)(1) O autor deste texto pesquisou os produtos midiáticos daTelevisão Espanhola (uma rede com duas emissoras de alcancenacional), na primeira rede, o telejornal “Telediario 2” do horárionobre; na segunda rede, o programa “Els Nous Catalas” numformato esquerda; centro direita e direita, respectivamente).(2)(2)(2)(2)(2) Uma fonte atualizada e relevante de informação sobre osprocessos socioculturais contemporâneos são os relatóriosperiódicos dessas entidades na rede mundial de computadores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADELL, J.; FECÉ, J.; GUARNÉ, B; PROPIOS, C; SELVA, M. et. al.(2004). Representación y cultura audiovisual en la sociedadcontemporánea, Barcelona: Editorial UOC.

AMIEL, Vicent (2005). Estética del montaje, Madrid: Abada.

ARDÈVOL, Elisenda; MUNTAÑOLA, Nora (coord.) (2004).Representación y cultura audiovisual en la sociedadcontemporánea, Barcelona UOC.

AREND, Hannah (2004). Sobre la revolución, 2ª ed. Madrid:Alianza Editorial.

BARKER, Ch. (2003). Televisión, globalización e identidadesculturales, Barcelona: Paidós.

BAUMAN, Zygmunt (2005). Vidas desperdiciadas, la modernidady sus parias”, Barcelona: Paidós.

BOURDIEU, Pierre (2003). Contrafuegos/Reflexiones para servira la resistencia contra la invasión neoliberal, 3ª ed.Barcelona: Anagrama.

CHOMSKY, Noam (2005). Hegemonía o supervivencia/Laestrategia imperialista de Estados Unidos, Barcelona:Ediciones B.

DORFMAN, Ariel (2003). Rumbo al sur deseando el norte,Barcelona: Planeta.

EAGLETON, Terry (2005). Después de la teoría, Barberá del Vallès(Barcelona): Random House Mondadori.

Page 134: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

134 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

A. Efendy Maldonado

HARVEY, David; SMITH, Neil (2005). Capital financiero,propiedad inmobiliaria y cultura, Bellaterra (Barcelona):Universitat Autònoma de Barcelona.

REBOLLO, Jorge Grau (2002). Antropología audiovisual,Barcelona: Ediciones Bellaterra.

ROLLET, Catherine (2004). La población en el mundo/ 6000millones, ¿y mañana?, París: Larousse, p. 126.

SANTOS, Boaventura de S. (2005). El milenio huérfano/Ensayospara una nueva cultura política, Madrid-Bogotá: Trotta-ILSA.

SARTORI, Giovanni (2005). Homo videns/La sociedadteledirigida, Madrid: Suma de Letras.

SLOTERDIJK, Peter (2004). Crítica de la razón cínica, 2ª ed.Madrid: Ciruela.

VIRNO, Paolo (2003). Virtuosismo y revolución/La acción políticaen la era del desencanto, Madrid: Traficantes de sueños.

* Alberto Efendy Maldonado Gómez de la TAlberto Efendy Maldonado Gómez de la TAlberto Efendy Maldonado Gómez de la TAlberto Efendy Maldonado Gómez de la TAlberto Efendy Maldonado Gómez de la Torreorreorreorreorre é doutor emciências da comunicação pela USP; pesquisador do PPGCC-UNISINOS; professor visitante em universidades de AméricaLatina; é consultor em várias publicações acadêmicas ecientíficas. Foi coordenador do Núcleo de Teoria da ComunicaçãoINTERCOM 1998-2000; membro fundador do GT EpistemologiaCOMPÓS; GT Teorias e Metodologias da Comunicação da ALAIC.Coordenador do Grupo de Pesquisa PROCESSOCOM: CNPqCAPES, Unisinos; pesquisador visitante do MIGRACOM(Observatório e Grupo de Pesquisa em Comunicação) da UAB.Sua produção bibliográfica consta nas principais bancos dedados, revistas e livros da área.

Page 135: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

135

La influencia de las rutinas productivas en eltratamiento informativo de la inmigración

Edição Especial - 2005

La influencia de las rutinas productivas en eltratamiento informativo de la inmigración

Manel Mateu i Evangelista*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOAs rotinas produtivas condicionam e conotam o tratamentoinformativo dos acontecimentos referentes à imigração e aosimigrantes. Determinam então uns conteúdos e mensagens ondea multiculturalidade não se vê refletida suficientemente. Tudoisso projeta na opinião pública uma imagem conflitiva dosimigrantes. Para facilitar a incorporação plena da cidadania nasociedade de acolhida, os meios e seus profissionais devemreciclar-se e formar-se na interculturalidade. Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave:rotinas produtivas; tratamento informativo; multiculturalidade.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTProduction routines determine the mediatic treatment of eventsrelated to immigration and migrants. Most of the time theseroutines determine content and messages in whichmulticulturalism is not important enough and the result is thatpublic opinion receives a conflicting image of migrants. In orderto help facilitate a full incorporation into citizenship formigrants in European societies the mass media and itsprofessionals need to be retrained and educated in interculturalmatters. Key wordsKey wordsKey wordsKey wordsKey words: Production routines; mediatic treatmentof information; multiculturalism.

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNLas rutinas productivas condicionan y connotan el tratamientoinformativo de los acontecimientos referidos a la inmigracióny los inmigrantes. Determinan pues, unos contenidos y mensajesdonde la multiculturalidad no se ve reflejada suficientemente.Todo ello, proyecta en la opinión pública una imagen conflictivade los inmigrantes. Para facilitar la incorporación plena deciudadanía en la sociedad de acogida los medios y susprofesionales están proponiendo medidas en España para sureciclaje y formación en la interculturalidad. Palabras clave:Palabras clave:Palabras clave:Palabras clave:Palabras clave:rutinas productivas; tratamiento informativo; multiculturalidad

Page 136: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

136 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Manel Mateu i Evangelista

DETERMINANTES PRINCIPALES

Las rutinas de producción de los periodistas yde los profesionales de los medios de comunicaciónsiguen delimitando el tratamiento informativo decualquier noticia y condicionando el contenido deaquello que se quiere trasladar al lector en el caso dela prensa, a la audiencia en el caso de la radio y latelevisión, y a los que podríamos denominar visitanteso navegantes en el caso de internet.

Las principales influencias y limitaciones queafectan los tratamientos y contenidos informativos decolectivos como los inmigrantes siguen siendoespaciales y/o temporales y dependen de lasidiosincrasias productivas inherentes a cada medio decomunicación que a su vez vienen dadas por losequipos tecnológicos utilizados en las distintas fasesde producción, la política editorial del medio y la tomade decisiones económicas, políticas y periodísticas asícomo por las vinculaciones entre producción-políticaeditorial y toma de decisión.

Desde hace años también viene siendodeterminante la intervención de las agendas de losmedios y el diseño de la propia agenda de los periodistas,así como los libros de estilo y los criterios periodísticosde cada medio, la cobertura informativa, el formato quedecidan los jefes de redacción y/o directores de programay realizadores, la puesta en escena y libertad delperiodista y de los profesionales que ejecutaran elformato con su estructura y contenidos específicos.

Todo este conglomerado de variables queintervienen en la producción de las informaciones quese difunden a diario sobre la inmigración pero tambiénsobre cualquiera de las temáticas tratadas en losmedios, se siguen dando en un entorno mediático declaro predominio de las fuentes oficiales y demanifiestas dificultades de disponibilidad de tiempo yinversión empresarial para el reciclaje profesional.

Page 137: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

137

La influencia de las rutinas productivas en eltratamiento informativo de la inmigración

Edição Especial - 2005

¿Cómo condicionan dichas variables las rutinasproductivas? Limitan la calidad de la información ytrasladan al ciudadano incorrecciones e inexactitudestanto semánticas como conceptuales. La falta de tiempo,medios y espacio le comportan al profesional caer enerrores que adulteran y llegan a faltar a la verdad de loshechos, ya sea por imprecisiones, por parcialidad de lainformación, por la falta de contraste de fuentes o poruna visión unilateral de los acontecimientos.

EL CASO DE LA INMIGRACIÓN

En el caso de los inmigrantes y de los hechosrelacionados con la inmigración, las informacionesdifundidas por los medios de comunicación españoles(prensa, radio y televisión) tienden a retratar y visualizarla parte más negativa y trágica de la inmigración comorecogen análisis periódicos como los que venimosefectuando desde el Observatorio de Migración yComunicación, MIGRACOM-UAB1, desde 1996, o biendesde informes periódicos como Inmigración yRacismo. Análisis de radio, televisión y prensa españolade la Fundación Iberoamérica Europa2.

En concreto, en el estudio sobre el tratamientoinformativo en España, llevado a cabo en el 2002 desde elMIGRACOM, se observa que a pesar que desde las rutinasempieza a darse una tendencia a ofrecer una miradamultipolar y bastante diversa de la inmigración, siguenimpactando en la opinión pública ciertas noticias y sobretodo imágenes negativas como la llegada en patera, balsas obarcos pequeños de inmigrantes desde África. O las actualesentradas a España en grupos numerosos que saltan las vallasde las fronteras de Marruecos con Ceuta y Melilla. De ahí,que la ciudadanía en general, perciba una imagen conflictivade la inmigración que conlleva vivir la realidad de losinmigrantes no como un fenómeno social que respondeprincipalmente a causas sociales, políticas, económicas,demográficas, etc. sino como un problema en sí mismo.

Page 138: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

138 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Manel Mateu i Evangelista

En las investigaciones realizadas por elMIGRACOM, para el Departamento de Bienestar Socialdel Gobierno de la Generalitat de Catalunya en 1996 y2000 y en el 2002 para el Ministerio de Trabajo yAsuntos Sociales del gobierno de España, sobre eltratamiento informativo de la inmigración, venimosconstatando un aumento cuantitativo en todos losmedios de las noticias relacionadas con la inmigracióny los inmigrantes. Crecimiento lógico, cuando lapoblación inmigrante no ha cesado de crecerespecialmente en la última década. También propiciadopor las diferentes reformas de la llamada Ley deExtranjería, tanto durante los ocho años de gobiernoconservador con el Partido Popular (PP)3 con JoséMaría Aznar como presidente, como con el gobiernoposterior del Partido Socialista de España (PSOE)4 conJosé Luis Rodríguez Zapatero de presidente.

A nivel cualitativo observamos que se hapasado de la mirada bipolar, positiva o negativa muysimple, festiva o delito, en el 96, a una mirada unipolaren el 2000, centrada en la avalancha o gran flujomigratorio en pateras y desde un tratamiento bastantenegativo, a una mirada multipolar en el 2002, abordadadesde muy diferentes propuestas positivas y negativasy centrada en temas sociales y políticos como laintegración y la regularización. De 2002 a 2005, hemospodido constatar que los periodistas y profesionalesde la información procuran abrir al máximo su miradadel fenómeno migratorio aunque se sigue efectuandotodo ello desde una mirada informativa eurocéntrica,con un tratamiento desde la órbita europea (nosotros)y los inmigrantes (ellos, o los otros), tal y comoexpusimos en el Forum de las Culturas de Barcelona20045 y en el Congreso de Inmigración en España.

El lenguaje textual y audiovisual que se usa adiario desde las rutinas de producción sigue siendoun factor discriminatorio en la información y por tanto

Page 139: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

139

La influencia de las rutinas productivas en eltratamiento informativo de la inmigración

Edição Especial - 2005

en la conformación de la opinión pública. Basta conseleccionar un caso al azar como el del 21 de setiembrede 2005 sobre los doce inmigrantes que resultan heridosen un asalto masivo en la valla fronteriza de Españacon Marruecos y en concreto en la ciudad española deMelilla en el norte del continente africano 6. En los textosde los medios escritos y en Internet, incluso en las vocesde los medios audiovisuales, siguen apareciendoexpresiones y calificativos como: “…inmigrantessubsaharianos…”, “…un camerunés de 17 añosfalleció...” (Diario El Mundo), “…con un saldo oficialde tres subsaharianos muertos en apenas 18 días” (diarioLa Vanguardia), “…algunos de los “sin papeles” hanresultado heridos...” (Televisión de Cataluña-TV3), “lamayoría de los “sin papeles” afectados...” (Diario ElPeriódico de Catalunya), “Varias decenas de inmigrantessubsaharianos intentaron anoche saltar la valla quesepara Melilla de Marruecos, según fuentes policiales...”(Diario El País). Estos hechos se han repetido el restode días de setiembre y durante los primeros días deoctubre con el trágico resultado de 6 ciudadanosafricanos muertos cuando saltaban la valla, y centenaresde heridos. Aunque para algunos medios de Internetcomo Periodistadigital.com el titular era: “Un millar denegros asalta la frontera de Melilla cuando lavicepresidenta concluía su visita relámpago a la valla”.

Son datos recientes que demuestran como lasrutinas se contaminan de repente de calificativos yexpresiones que no cesan de establecer una especie defronteras informativa eurocéntrica con “los otros”.

Para la esencia de la información no esdeterminante que los inmigrantes que intentan saltarla valla o barrera que separa la población española deMelilla de Marruecos en el norte de África, sean o nosubsaharianos, esa zona del continente africano nohomologa situaciones personales de súbditos de másde un país. Los medios han generalizado la expresión

Page 140: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

140 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Manel Mateu i Evangelista

subsaharianos para todas aquellas personas queintentan desde el norte de África entrar en Europa através de España. Se ha comprobado que muchas delas personas que huyen de la pobreza de África sonciudadanos de Nigeria, Camerún o República delCongo, países con situaciones diversas, y situados enel centro del continente africano.

La fuente informativa es la policial, enconcreto la Guardia Civil, y si los identificaron en elmomento de la detención o del traslado de los heridosa los hospitales, deberíamos saber con precisión sunacionalidad, ¿o acaso las autoridades policiales loscalificaron como subsaharianos por el color negro desu piel? ni mucho menos exclusivo de esa zona. Sisaltaban la valla de la frontera de noche y con unasprecarias escaleras construidas con ramas de árboles,tal y como muestran los documentos visuales ¿puededar a entender ello que no tenían medios económicospara entrar en España por vía aérea y con pasaporte? Yen el caso de disponer de documentos en regla habríaque preguntarse otras posibilidades como si puedendemostrar la relación familiar con algún inmigranteestablecido legalmente en España.

Por el contenido de las noticias se constataque es evidente que ninguno de estos medios decomunicación tuvo acceso a ninguna otra fuenteinformativa. Todos los medios reprodujeron lainformación de las agencias de noticias, que a su vez,difundieron la información recibida de fuentespoliciales. No hubo pues el contraste de fuentes querequiere cualquier información para objetivarla almáximo. En ningún medio se constata que losperiodistas preguntaran a los detenidos o heridos susituación e identidad personal, ni siquiera su versiónde los hechos. Esta suele ser la tónica habitual en lasnoticias sobre inmigración. Únicamente cuando lasituación se repite día tras día como ha sucedido en

Page 141: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

141

La influencia de las rutinas productivas en eltratamiento informativo de la inmigración

Edição Especial - 2005

Ceuta y Melilla con el balance global de 9 personasmuertas y centenares de heridas en 3 semanas,entonces los medios se movilizan para contar con lavoz de los inmigrantes.

ESPECIALIZACIÓN Y MEDIOS DE INMIGRANTES

Sin embargo, al tiempo que se reproducen esasinformaciones sobre la inmigración se observa comose amplia la mirada multipolar en los medios a la vezque la presencia de la transformación multiculturalde la sociedad española. Esto ha llevado también a queen algunas redacciones se ha extendido laespecialización temática de los periodistas de lassecciones de “Sociedad” y “Política” que informan delos hechos relacionados con los inmigrantes.

También, los diferentes colectivos extranjerosse han organizado en asociaciones que empiezan a serreferentes como fuente informativa y además empiezana publicar sus propios medios informativos, y aproducir igualmente programas en emisoras de radioy de televisión. Hace unos años que se emitenprogramas específicos con la temática inmigración anivel monográfico. No solo en el ámbito informativo,sino que también la ficción empieza a incorporar através de personajes y actores inmigrantes la realidadde la inmigración en nuestro país, aunque a veces seade una forma pintoresca y tópica. En España se hancontabilizado, cifras provisionales, a setiembre de 2005,casi trescientas publicaciones hechas por y parainmigrantes. Entre periódicos, revistas, boletines, yprogramas de radio y televisión local.

RECICLAJES INTERCULTURALES DE LOS PERIODISTAS

Desde las rutinas de producción de los medioshabría que tener en cuenta que la sociedad mestiza dehoy y del futuro, la fusión de culturas, necesita puestratamientos textuales, hipertextuales, audiovisuales

Page 142: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

LOGOS

142 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

y multimedia de calidad para proyectar lainterculturalidad presente. La riqueza humana estáen lo propio y lo ajeno, en lo local y lo global; y lasnuevas tecnologías comunicativas han de servir paraacabar con la desigualdad, la discriminación y enterrarde una vez por todas todo signo de racismo y xenofobiaen este siglo XXI. Así lo ponen de manifiesto gruposde profesionales y medios como la CorporaciónCatalana de Radio y Televisión (CCRTV) que aprobarápróximamente un Manual de Estilo para la televisióny la radio pública catalana, donde se contempla porprimera vez un apartado específico para el tratamientoinformativo de la inmigración.

Dentro de ese reciclaje continuo que deberíahacer todo informador y periodista para adecuar su rutinade producción a la realidad social está el documentarse ycalibrar al máximo la importancia de las situacionesaisladas de xenofobia y violencia racista contra losinmigrantes, protagonizadas, generalmente, por gruposde extrema derecha. Sobre todo, por la asociacióninconsciente, fruto de la falta de tiempo para la reflexión,que se hace entre inmigración, delincuencia y terrorismo.Los atentados del 11 de marzo de 2004 en Madrid, quemataron a 200 personas, han contribuido a que muchosespañoles desconfíen de los inmigrantes y crezca laintolerancia hacia la inmigración no comunitaria.

De ahí la importancia que los medios decomunicación y los periodistas sepan y procuren informarsobre como en el otro extremo, el de la integración sociale intercultural, empiezan a proliferar organizaciones nogubernamentales, asociaciones y entidades que trabajanpor construir unas bases de convivencia y garantizar lacohesión social entre los inmigrantes y la poblaciónautóctona. La diversidad y el pluralismo cultural debenencontrar reflejo en los medios de comunicación parapotenciar el conocimiento mutuo de lo diferente que enningún caso debería ser desigual.

Page 143: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

143

LOGOS

Edição Especial - 2005

Por ello, la apuesta por la multiculturalidad queactualmente se plantea en las redacciones de los mediosde información y comunicación españoles no debequedarse en un mensaje paternalista o exótico y debecompletarse a nivel social, con políticas decomunicación, y por tanto, con medios para laincorporación de los inmigrantes a través delreconocimiento de sus derechos políticos, sociales ycívicos como personas residentes en España. Prefierohablar de incorporación social y no de integración,porque muchos inmigrantes no llegan nunca a olvidarel país de origen, sus costumbres y su cultura. Lo quemantiene siempre viva la posibilidad de retorno a supaís de origen.

Asimismo hay que seguir profundizando enel tratamiento informativo con la mayor presenciacualitativa de los inmigrantes en los telenoticiarios,que empiezan ya a aparecer con voz propia en lasinformaciones, aunque no siempre, y con elcrecimiento de los programas no diarios que abordancomo sujeto la inmigración y los inmigrantes.

Para vencer las deficiencias de la informaciónsobre inmigración se viene insistiendo desde mediadosde los 90 en contextos de importante recepción deinmigrantes, como el catalán, con aspectos como quelos profesionales necesitan formación sobre los paísesy las culturas de origen de los inmigrantes.

También se insiste en la necesidad de mejorarel tratamiento desde una perspectiva ética, humana ysocial con mayor rigor y veracidad informativa. Huirdel sensacionalismo y recuperar el papel educativo delos medios tanto en la información como en la ficción.Primar el contraste y comprobación de losacontecimientos. Citar siempre las fuentes cuando nose pueden verificar los hechos, porque la inmigracióncolectiva está asociada a situaciones negativas enorigen y por ello existe una opacidad informativa de

Page 144: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

LOGOS

144 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

las fuentes oficiales. A modo de ejemplo, cito acontinuación algunas páginas de internet, el mediomás nuevo y algunos programas de televisión queofrecen visiones alternativas y de calidad sobre lainmigración y los inmigrantes.

www.revistainterforum.comwww.atime.es/actualidad.htmlwww.enar-eu.org/es/www.nodo50.org/derechosparatodos/www.fundea.orghttp://madrepatria.blogspot.com/http://paraextranjeros.com/www.webextranjeria.com/www.intermigra.info/extranjeria/www.adonde.com/afuera/espana.htmwww.ateiamerica.com/pages/emigratei/

direc_medios.htmwww.acpp.com/inmigra.htmwww.tvcatalunya.com/karakia/También en TV3 Televisión de Catalunya se

emite actualmente el programa “Tot un Món” Todoun mundo. Se pueden ver los programas emitidos através de:

www.3alacarta.comwww.rtve.es/tve/b/elsnouscatalans/index.htm

De Televisión Española (TVE).www.barcelonatv.com/infoidiomesEl programa Infos. Informativos en lenguas

extranjeras, actualmente se emite en 18 idiomas y 2variedades dialectales. De Barcelona Televisión.

http://andaluciasinfronteras.com/ De CanalSur Televisión. Los programas Solidarios y EuropaAbierta están en la misma línea de calidad.

Page 145: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

145

LOGOS

Edição Especial - 2005

NONONONONOTTTTTAAAAASSSSS(1)(1)(1)(1)(1) MIGRACOM (Observatorio y Grupo de Investigación sobreMigración y Comunicación) de la Universidad Autónoma deBarcelona, creado en 1995.(2)(2)(2)(2)(2) Fundación Iberoamérica Europa (FIE) es una entidad privadade cooperación y acción social, constituida en 1981.(3)(3)(3)(3)(3) Partido Popular (PP) partido conservador, que gobernóEspaña en la séptima y octava legislatura del 96 al 2000 y del2000 al 2004.(4)(4)(4)(4)(4) Partido Socialista Obrero Español (PSOE). Fue uno de losprimeros partidos socialistas que se fundaron en Europa. Hagobernado el país con Felipe González como presidente, latercera, la cuarta, la quinta y la sexta legislatura del 82 al 96.Después de 8 años en la oposición y un proceso de renovacióninterna, el nuevo secretario general del PSOE, José LuisRodríguez Zapatero, gana las elecciones de 14 de marzo de 2004,y recupera el gobierno para el PSOE.(5)(5)(5)(5)(5) Forum de las Culturas de Barcelona 2004. Dentro de estaexperiencia mundial de diversidad y conocimiento, se celebróel Congreso Mundial de Movimientos Humanos e Inmigración,que entre otros actos desarrolló la Experiencia Inmigración yMedios de Comunicación: buenas prácticas para la integración,que coordinamos a través del MIGRACOM. En dicha experienciapresenté una serie de recomendaciones para la coberturainformativa de los hechos relacionados con la inmigración. Comodiversificar las fuentes, abordar la inmigración como fenómenosocial y no como un problema, contextualizar las informacionesy apostar por la diversidad y pluriculturalidad comunicativa.(6)(6)(6)(6)(6) Melilla. Ciudad Autónoma española del norte de África.Situada en la parte noroeste del Magreb. Una doble valla separatodo el perímetro fronterizo entre Melilla y Marruecos. Ceutatambién es una Ciudad Autónoma española situada en el nortede África.

REREREREREFFFFFEEEEERRRRREEEEENNNNNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSBENHABIB, Seyla. Los derechos de los otros. Extranjeros,

residentes y ciudadanos. Barcelona: Gedisa, 2005.

LORITE, Nicolás (director). Tratamiento informativo de lainmigración en España. 2002. Madrid: Ministerio de Trabajoy Asuntos Sociales, 2004.

PAJARES, Miguel. La integración ciudadana. Una perspectivapara la inmigración. Barcelona: Icaria, 2005.

Page 146: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

146 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Manel Mateu i Evangelista

RODRIGO, Miquel. La Comunicación Intercultural. Barcelona:Anthropos, 1999.

VAN DIJK, T. A. Racismo y análisis crítico de los medios.Barcelona: Paidós, 1997.

* Manel Mateu i Evangelista Manel Mateu i Evangelista Manel Mateu i Evangelista Manel Mateu i Evangelista Manel Mateu i Evangelista es Doctorado en Ciencias de laComunicación y Licenciado en Periodismo por la UniversidadAutónoma de Barcelona (UAB). Profesor Asociado de la Facultadde Ciencias de la Comunicación de la UAB de Radio y Televisión.Responsable de investigación televisiva del MIGRACOM.Periodista de TV3, Televisión de Cataluña.

Page 147: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

147

Fotografiando la diversidad cultural

Edição Especial - 2005

Eduard Bertran*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOA fotografia como meio de comunicação visual tem uma sériede códigos ou princípios básicos sobre os quais orientar-se. Nomomento em que a fotografia encontra-se imersa na página deum jornal já não podemos considerá-la individualmente, perdeo status de unidade, e conseqüentemente deve-se considerar arelação estabelecida entre imagem e texto. Quando a informaçãoque publica um jornal faz referência à imigração, em nívelfotográfico, podemos estabelecer uma série de critérios dirigidosa uma forma positiva e de qualidade de relacionar-se visualmentecom os imigrantes. Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: imigração; imageminformativa; editor gráfico/ fotojornalista.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTAs a visual media photography is composed of a series of codesand basic principles. But a picture in a newspaper’s page cannotbe considered individually and its relationship with the text hasto be kept in mind. When a newspaper publishes news aboutimmigration a series of criteria can be established in order topropose way to deal visually in a positive manner with migrants.Key wordsKey wordsKey wordsKey wordsKey words: Immigration; Informative image; Graphic Editor /Photojournalist

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNLa fotografía como medio de comunicación visual tiene unaserie de códigos o principios básicos sobre los que regirse. En elmomento en que la fotografía la encontramos inmersa en lapágina de un periódico ya no podemos valorarlaindividualmente, pierde el estatus de unicidad, y enconsecuencia hay que tener en cuenta la relación que seestablece entre imagen y texto. Cuando la información quepublica un diario hace referencia a la inmigración, a nivelfotográfico, podemos establecer una serie de criterios dirigidoshacia una forma positiva y de calidad de relacionarsevisualmente con los inmigrantes. Palabras clave: Palabras clave: Palabras clave: Palabras clave: Palabras clave: Inmigración;Imagen informativa; Editor gráfico / Fotoperiodista.

EdEdEdEdEd

Fotografiando la diversidad cultural

Page 148: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

148 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Eduard Bertran

INTRODUCCIÓN

En los últimos diez años el estado españolha visto como ha ido cambiando la realidadsociológica de su población con la llegada de personasde distintos países, con diferentes religiones,costumbres, etc. Sirva como ejemplo que si en laciudad de Barcelona en el año 1996 la poblacióninmigrada representaba el 1,9% sobre el total deresidentes, en el año 2001 ya representaba el 7,6%.En este mismo periodo (es decir entre los años 1996y 2002) desde el MIGRACOM se realizaron diversosestudios sobre el tratamiento de la inmigración enlos medios de comunicación (prensa, radio ytelevisión) y los resultados cuantitativos referentes alas unidades informativas en prensa sobre lainmigración no comunitaria en las que estuvierapresente la utilización de la fotografía fueron muyclarificadores: en el plazo de seis años habíaaumentado en más de un 200%.

Para realizar estos estudios en el ámbito de laprensa, se analizaron cuatro diarios de informacióngeneral de características diferentes tanto desde laperspectiva de su orientación política (progresista,centrista, nacionalista) como de su ámbito de difusión(estatal, autonómico), como son El País, El Periódicode Catalunya, La Vanguardia y Avui. Se analizaronun total de cinco periodos de un mes de duracióndurante los años 1996, 1997, 2000 y 2002 (aunque eneste último año se amplió el número de diariosanalizados). Paralelamente se realizaron una serie deentrevistas con profesionales del sector.

METODOLOGÍA, ANÁLISIS Y MARCO TEÓRICO

La metodología de análisis utilizada se regia tantopor criterios cuantitativos como cualitativos, para ello seestablecieron los siguientes tres niveles de análisis:

Page 149: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

149

Fotografiando la diversidad cultural

Edição Especial - 2005

1. 1. 1. 1. 1. Consideraciones generales,2.2.2.2.2. Contrastar por ítems noticias y diarios,3.3.3.3.3. Comparar noticia y diarios.

Estos tres niveles nos permitieron establecer:11111. Cuales son los ámbitos genéricos de actuación de los

cuatro diarios analizados, sobre las noticias de lainmigración no comunitaria. Es decir, durante losperiodos analizados, que cantidad de unidadesinformativas relacionadas con la inmigraciónaparecían publicadas en los diarios analizados y cualesde ellas tenían fotos. Todo ello nos permitía establecercriterios comparativos entre los cuatro diarios, tantodesde la vertiente cuantitativa como cualitativa.

2.2.2.2.2. Encontrar si existe una serie de constantes en elmomento de abordar las informaciones cuya temáticaes la inmigración. Para encontrar estas constantesutilizamos 15 ítems: cantidad de fotografías en cadadiario por noticia analizada / sección en la queaparece publicada / página par o impar / tamaño dela fotografía / tipo de plano / tipo de composición /tipo de encuadre / punto de vista / tipo de luz /profundidad de campo / tipo de objetivo / fotografíarealizada en el exterior o interior / función de lafotografía / fuente de procedencia / temporalidad.

3.3.3.3.3. Establecer cuáles son los elementos comunes eindividuales, de los cuatro diarios analizados. Por lo tanto,este apartado a partir de los resultados obtenidos en losdos anteriores, nos permitía obtener unos resultadosbásicamente cualitativos respecto a como cada uno delos periódicos analizados presentaba a sus lectores lasinformaciones vinculadas con la inmigración.

En el marco teórico, a parte de desarrollar losconceptos clásicos de composición de la imagen,lenguaje de la cámara, relación cámara sujeto, se le

Page 150: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

150 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Eduard Bertran

dio mucho énfasis a las ideas de: foto-noticia, imageninformativa y tratamiento visual positivo / negativo.Partiendo de la base que la vista está considerada comoel sentido que ofrece una mayor credibilidad y enpalabras de Giovanni Sartori, en referencia a la televisiónpero también aplicables a la fotografía, “Con la televisión,la autoridad es la visión misma, es la autoridad de laimagen. No importa que la imagen pueda engañar aunmás que las palabras. Lo esencial es que el ojo cree enlo que ve; y por lo tanto, la autoridad cognitiva en laque más se cree es lo que se ve” (SARTORI, 1997).

Hablaremos de foto-noticia cuando lafotografía nos presenta la versión realista de los hechoscon todos sus componentes visuales, es decir, que ellector del diario sin el texto pueda tener una primeraaproximación al contenido de la noticia. Por lo tanto,tenemos que lograr que la fotografía produzca unmensaje visual claramente comprensible, en relacióncon el acontecimiento mostrado. Es muy importanteeste concepto de foto-noticia, ya que en muchasocasiones la fotografía se convierte en un meroelemento decorativo y/o dinamizador de la página, esdecir que la fotografía no tiene ninguna cargainformativa. Esta pobre utilización de la fotografía esproducto de la poca importancia que en ocasiones tienela fotografía en las redacciones de los periódicos. Esimportante puntualizar que esta problemática no esexclusiva de las informaciones que hacen referencia ala inmigración, lamentablemente es algo que ocurrecon excesiva normalidad.

Evidentemente esta fotografía no la vemossola, sino que al estar en la página del diario seestablece una estrecha relación con los titulares, textoy pie de foto. Es en este momento cuando trabajamosel concepto de imagen informativa. Consideramos queuna imagen es informativa cuando se complementa ala perfección con la el texto, por lo tanto no está al

Page 151: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

151

Fotografiando la diversidad cultural

Edição Especial - 2005

servicio de, sino que es significativa y del mismo modoilustra lo más ampliamente posible los elementos másdestacados del hecho noticiado. Por lo tanto, lafotografía y el texto tienen que formar un magníficomatrimonio donde no exista un ganador y un perdedor,para poder establecer de esta forma, una simbiosisperfecta. Del mismo modo que la fotografía no tieneque estar al servicio del texto, esto no tiene porquedescribir elementos que ya aparecen en la imagen. Esdecir las fotografías nos transmiten el qué, el como yen parte el dónde, por lo tanto el texto no tiene porque incidir en estos aspectos.

Para corroborar la importancia en la relaciónentre texto y fotografía, sirva como ejemplo como unamisma fotografía, publicada en dos diarios distintos,en la que aparecía un inmigrante esposado yacompañado por la policía, en función del pie de fotopuede interpretarse de una forma totalmente distinta.Al leer atentamente el mencionado pie de foto podemosobservar una ligera diferencia, aunque realmente seconvierta en una gran y grave disparidad. En uno deellos podemos leer “Un marroquí detenido ayer enAlgeciras acusado de tráfico ilegal por la entrada de 63inmigrantes” y en el otro “Agentes de la Guardia Civiltrasladan uno de los inmigrantes detenidos ayer”. Porlo tanto una misma persona se convierte en el primercaso en lo que podríamos considerar el verdugo (esquien transporta a los inmigrantes) y en cambio en elsegundo es la victima. En consecuencia, nospreguntamos ¿cuál es el correcto? Dicha fotografía erade agencia y por lo tanto, el pie de foto ya venia dadopor la misma. Por consiguiente, a qué se debe estecambio ¿prisas producto de las rutinas de producción?¿Poca importancia que se le da al pie de foto, aunquecomo en este caso pueda cambiar por completo elsentido de la fotografía? Evidentemente la respuesta alas dos preguntas es sí.

Page 152: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

152 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Eduard Bertran

Page 153: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

153

Fotografiando la diversidad cultural

Edição Especial - 2005

El último concepto desarrollado fue el detratamiento visual positivo. Desde un punto de vistaamplio el tratamiento visual positivo lo vincularemoscon el concepto de calidad. En el ámbito de la fotografíala calidad la encontraremos en el momento en que laimagen sea realmente informativa, actual y tenga encuenta todas las posibilidades que le ofrece el lenguajevisual. Es decir positivo no quiere decir abordarexclusivamente noticias que traten temas favorablesal colectivo de inmigrantes.

Para todo ello es muy importante que el editorgráfico (la persona con mayor criterio visual de laredacción), sea la persona que, en última instancia,decida la fotografía a publicar.

RUTINAS PRODUCTIVAS

A lo largo del análisis y de las entrevistasrealizadas a los profesionales pudimos comprobar comoel rol del profesional de la imagen (fotoperiodista y editorgráfico) todavía queda subyugado a determinadosintereses de la redacción. Cuando un fotoperiodista llegaa la redacción, realiza una primera selección de imágenes,para poderlas mostrar al editor gráfico. En ocasiones elpropio editor gráfico dirá que clarísimamente tiene queser una en concreto. Si existen desavenencias entre editorgráfico y fotógrafo, habitualmente son fácilmentesubsanables, ya que estas dos personas hablan un mismolenguaje, el lenguaje de la imagen. El problema loencontramos cuando los criterios del editor gráfico nocoinciden con la imagen que tenía pensada la sección.En este momento de conflicto, y en la mayoría deocasiones, acaba prevaleciendo la opinión de la sección,ya que tienen mayores recursos y más poder dentro delas redacciones. Lo triste es pensar que la persona que enocasiones elige que fotografía publicar, no es la personaidónea ya que no tiene los suficientes conocimientos dellenguaje visual.

Page 154: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

154 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Eduard Bertran

Otra gran problemática, en este caso relacionadacon la diversidad de temas en los que puede trabajar unfotoperiodista en un mismo día, es la falta de análisis yreflexión. Es muy importante tener en cuenta que en unmismo día un fotógrafo puede estar cubriendo una ruedade prensa, colas de inmigrantes para renovar papeles, unpartido de fútbol,...Imaginemos una noticia relacionadacon la inmigración: en la redacción se ha recibido unallamada telefónica sobre colas de inmigrantes en unadeterminada comisaría. El fotoperiodista tiene el encargode ir a ésta comisaría en la que hay inmigrantes haciendomás de doscientos metros de cola. Hecho concreto ypuntual asociado al valor noticia: colas de inmigrantes,lo de menos es que hay personas sin papeles. Por lo tantoel planteamiento fotográfico es que se vean bien losdoscientos metros de cola, después que la foto sea muyestética, buscar un punto de vista, encuadre... Elfotoperiodista va a tener presente que se tiene que vermucha gente, pero a la vez que sus capacidades creativasqueden reflejadas. Y a partir de ahí, el fotógrafo no va apensar que el planteamiento podía haber sido otro, eltema es la cola, esa es la visión del inmigrante en aquelmomento. En consecuencia el fotoperiodista cae en latrampa del estereotipo.

Llegado a este punto nos podemos preguntarsi es culpa del fotoperiodista el haber caído en estarepresentación fácil del inmigrante. Evidentemente enla mayoría de ocasiones no podemos señalar alfotoperiodista como el causante de una imagendeficiente, ya que probablemente no habrá tenido eltiempo suficiente para trabajar y reflexionarfotográficamente sobre esta situación ya que al cabo depoco tiempo se tendrá que ir a realizar otras fotografíasen un lugar diferente y con una temática totalmentedistinta. Si dispusiera de más tiempo podría salirse dela foto “oficialista” de las colas, implicarse más ymostrarle al lector un planteamiento visual diferente.

Page 155: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

155

Fotografiando la diversidad cultural

Edição Especial - 2005

CONCLUSIONES Y PROPUESTAS

Las conclusiones más destacables tanto desdeel ámbito de la toma fotográfica como desde laproducción de la noticia son:• La forma que tiene el fotoperiodista de acercarse a

los inmigrantes y a las actividades que estánrealizando, son básicas en la elaboración de la imagenmental que transmiten los periódicos. En ocasionesesta forma de presentarlos potencia ideas yestereotipos que subyacen en nuestra sociedad comopueden ser: dejadez, conflictividad,....

• La aparición de elementos visuales entre el inmigrante yel fotoperiodista, y que el lector pueda interpretar comobarreras defensivas, transmiten una sensación de receloentre el colectivo de inmigrantes y los autóctonos.

• Como confirmación de lo comentado en el anteriorpárrafo y desde la vertiente técnica, al utilizar elteleobjetivo y a una distancia de toma lejana, lapercepción que tiene el lector es la de mirar alinmigrante con miedo y recelo, por consiguiente,no tiene ningún interés de relacionarse con el.

• No se puede presuponer que una persona esinmigrante, simplemente por su color de piel o formade vestir. Esta forma simplista de abordarvisualmente la noticia, confirma la potenciación deestereotipos que en ocasiones realizan los mediosde comunicación. No podemos perder de vista queel fotógrafo tiene el papel de notario de nuestra época.Es decir el lector del diario ve la realidad a través delos ojos del fotoperiodista.

• Durante los diferentes períodos de análisis se puso enevidencia que no se puede encontrar ningún vinculoentre información destacada en portada o interior deldiario, con lenguaje visual positivo o negativo.Paralelamente el tamaño de la fotografía no es unaspecto determinante en el planteamiento visualofrecido por los distintos periódicos analizados.

Page 156: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

156 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Eduard Bertran

• La línea editorial progresista del diario conlleva unamayor presencia de noticias relacionadas con lainmigración. Paralelamente los periódicos deorientación nacionalista transmiten una imagennegativa de los inmigrantes.

• El fotoperiodista en el momento de realizar unafotografía, en función de las necesidadesinformativas, compositivas y expresivas decide untipo de encuadre. En consecuencia, la fotografía nopuede estar sometida a las necesidades de lamaquetación de la página.

• La fotografía no tiene que tener un papelexclusivamente dinamizador de la página. Lafotografía tiene que ser informativa.

• Toda fotografía tiene una autoría que debemencionarse. De la misma forma al utilizar el archivohay que indicarlo, toda fotografía tiene un autor, undía y un lugar de realización.

Como propuestas más significativasdestacaremos:• Hablaremos de tratamiento fotográfico positivo sobre

la inmigración, cuando las imágenes tengan laimpronta de la calidad. Una calidad que siemprevincularemos en el momento en que la imagen searealmente informativa, actual y tenga en cuenta todaslas posibilidades que le ofrece el lenguaje visual y que ala vez se complemente perfectamente con el contenidotextual de la información. Sin perder de vista locomentado anteriormente respecto al tratamientopositivo, es decir, que el concepto de positivo no esexclusivo de tratamiento favorable. Es decir el conceptode calidad es el que tiene que vertebrar todo el procesofotográfico / informativo (toma de imagen, puesta enpágina y relación con el texto).

• Tiene que haber un mayor número de imágenes enque los inmigrantes puedan explicar susproblemáticas, situaciones personales, etc., es decir

Page 157: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

157

Fotografiando la diversidad cultural

Edição Especial - 2005

fotografías en las que se pueda personalizar alinmigrante. Es una forma visual de romper distanciasentre los autóctonos y los inmigrantes. Otra formade romper estas barreras visuales es la de realizar unmayor número de imágenes en el interior de susviviendas, centros de reunión y / u oración.

• Que no aparezcan solo cuando son detenidos por la policíao están realizando trámites burocráticos, hay quemostrarlos en situaciones y actividades normalizadas.

• Es necesario confirmar que una persona es inmigrante,y no presuponerlo por su color de piel o forma de vestir.

• Siempre que sea posible, es mejor que no aparezcanelementos que el lector pueda interpretar como unabarrera entre él y el inmigrante. Paralelamentetambién se tiene que vigilar cuando el inmigranteaparece de espaldas, ya que en determinadas ocasionesnos puede trasmitir la sensación de distanciamiento.

• La gestión del archivo del diario tiene que ser másdinámica, al lector se le tiene que ofrecer unasimágenes lo más variadas posibles.

• La selección y decisión de las fotografías a publicar, latiene que realizar la persona con más conocimientosy recursos visuales en este caso el editor gráfico.

En definitiva la fotografía como elementoauxiliar, de una estrategia de integración, sería unelemento fundamental de integración, aunquerecogiendo las palabras mencionadas en una mesaredonda por Javier Bauluz, uno de los fotoperiodistasespañoles más implicados en la representaciónfotográfica de la inmigración: “como tantas veces, elfotoperiodismo servirá para ver y así poder creer,aunque el poder de la imagen nunca llegará atransmitir lo que significa vivir en la piel de uninmigrante”.

Page 158: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

158 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Eduard Bertran

REREREREREFFFFFEEEEERRRRREEEEENNNNNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSALONSO, Manuel. Fotoperiodismo formas y códigos. Madrid:

Ed. Síntesis, 1995.

BAEZA, Pepe. Por una función crítica de la fotografía de prensa.Barcelona: Ed.Gustavo Gili, 2001.

BERTRAN, Eduard Información visual e Inmigración. Barcelona:Tesis Doctoral-UAB, 2003.

LORITE, Nicolás (dir). Tratamiento informativo de lainmigración en España. 2002. Madrid: Ministerio de Trabajoy Asuntos Sociales, 2004. p.166-170.

______. Tractament dels immigrants no comunitaris als mitjansde comunicació a Catalunya. Barcelona: Generalitat deCatalunya, 2000.

______. Tractament de la immigració no comunitaria en prensa,ràdio i televisió. Barcelona: Generalitat de Catalunya, 1996.

SARTORI, Giovanni. Homo videns. La sociedad teledirigida.Madrid: Ed. Taurus, 1997.

VILCHES, Lorenzo. Teoría de la imagen periodística. Barcelona:Ed.Piados, 1993.

* Eduard BertránEduard BertránEduard BertránEduard BertránEduard Bertrán es Doctor en Ciencias de la Comunicación(UAB), Licenciado en Bellas Artes (UB). Profesor Asociado enfotoperiodismo (UAB), Profesor Titular de fotografía en el Institutd’Estudis Fotogràfics de Catalunya. Responsable de fotografíadel MIGRACOM.

Page 159: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

159

Las migraciones contemporáneas en l

a radio para todos: el caso español

Edição Especial - 2005

Las migraciones contemporáneas en la radio paratodos: el caso español

Maria Gutiérrez*

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMOOOOOO objetivo deste artigo é analisar as formas e modos em que aimigração, como conteúdo, está presente na atual programaçãoradiofônica das principais emissoras públicas e privadas. Osprocessos migratórios e suas conseqüências, dada a sua dimensãosocial, devem deixar de ser uma temática exclusiva dos jornaise incorporar-se às grades de programação desde outro tipo deprodutos. Novas estratégias programáticas permitirão a produçãode espaços informativos especializados destinados tanto àsociedade de acolhida como aos novos cidadãos.Palavras-chave:::::programação radiofônica; estratégias de programação;imigração.

ABSABSABSABSABSTRTRTRTRTRAAAAACTCTCTCTCTThis article analyzes the presence of immigration as content ofcurrent Spanish radio programs on both public and private radiostations..... Due to their social dimension migration processes andtheir consequences need to be part of new range of programsand not limited to being only a theme for television news. Newprogram strategies will permit the production of specializedinformative spaces addressed to the adopting society as well asto new citizens. Key wordsKey wordsKey wordsKey wordsKey words: Radio programs; program strategies;immigration.

RRRRREEEEESSSSSUUUUUMMMMMEEEEENNNNNEl objetivo de este artículo es analizar las formas y modos enque la inmigración, como contenido, está presente en la actualprogramación radiofónica de las principales emisoras públicasy privadas..... Los procesos migratorios y sus consecuencias, dadasu dimensión social, deben dejar de ser una temática exclusivade los noticieros e incorporarse a las parrillas de programacióndesde otro tipo de productos. Nuevas estrategias programáticaspermitirían la producción de espacios informativosespecializados destinados tanto a la sociedad de acogida comoa los nuevos ciudadanos. Pa labras c lave : Pa labras c lave : Pa labras c lave : Pa labras c lave : Pa labras c lave : programasradiofónicos; estrategias de programación; inmigración.

Page 160: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

160 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Maria Gutiérrez

La radio, en tanto que medio de comunicación,propone modelos de interpretación de la realidad socialque la audiencia acaba por integrar de forma casinatural. Desde esta perspectiva, puede favorecer,potenciar y estimular la modificación de conductas yde valores de fuerte tradición en la comunidadreceptora de su programación. Esta cualidad, ni buenani mala a priori, quizás haya sido el principal detonantepara la apertura de un debate crítico sobre su funciónsocial en situaciones informativamente complejascomo es el caso de las migraciones contemporáneas y,más en concreto, de la inmigración.

Este interés tiene una explicación. España,hasta no hace mucho país de emigrantes, se ha acabadopor convertir a causa de los actuales flujos migratoriosen país de acogida. La población ha vivido el inicio deeste proceso de cambio de forma impactante, e inclusoen ocasiones traumática. La falta de un modelo socialpara afrontar una situación presentada mediáticamentecomo imparable ha generado muchos conflictos de losque los medios han ido informando puntualmente.Pero la radio, al igual que la prensa y la televisión,también ha adolecido de un protocolo para eltratamiento informativo de este tipo deacontecimientos, lo que ha favorecido la consolidaciónde algunas imágenes que aún perduran en el tiempocomo sinónimos de inmigración, patera y norte deÁfrica. Pese a que ahora la realidad es distinta, ya quea la población extranjera de origen africano se hanunido otros colectivos que han entrado en el Estadoespañol mayoritariamente por vía aérea como es el casode los latinoamericanos, la patera continúa siendo unsignificativo símbolo de la inmigración en España.

Sin duda, la reconstrucción radiofónica deesos primeros momentos estaba basada en el asombro,entendiendo éste como la extrañeza o sorpresa ante laaventura que emprendían cientos y cientos de personas

Page 161: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

161

Las migraciones contemporáneas en la radio para todos: el caso español

Edição Especial - 2005

en busca de una vida mejor. Así que este tipo deacontecimientos quedaron constreñidos al ámbito delos servicios principales de noticias o radiodiarios.Obviamente, con el tiempo, las tramas noticiosas sefueron complicando y fue justo en ese momentocuando los periodistas comenzaron a reflexionar sobrecómo la audiencia podía interpretar sus narracionesinformativas. Y lo más importante, si estos discursosfavorecían el proceso de integración de los reciénllegados o más bien lo entorpecían. Consecuenciadirecta de dichos debates ha sido la paulatina mejoraen el tratamiento de la información (LORITE, N. 2004).Pero, ¿qué ocurre con la programación de las emisorasradiofónicas para todos los públicos, denominadas enEspaña generalistas?

Son varias las razones que hacen inevitable elabordar esta cuestión:• los cambios en el tejido social. Según datos

provisionales del Instituto Nacional de Estadística(INE) en relación al padrón municipal a 1 de enerodel 2005, un 8,4% de la población residente en elestado español es extranjera, es decir, 3’69 millonesde ciudadanos proceden de otros lugares del mundo.Es interesante resaltar que en sólo un año elporcentaje ha aumentado en 1’38 puntos respectoal 2004. Ahora bien, no lo ha hecho del mismo modoen todas las comunidades autónomas en las que sedivide el Estado español. Así, las que presentan unmayor incremento de población extranjera censadason, en este orden, Cataluña, Comunidad Valenciana,Madrid y Andalucía, pero este dato por sí mismo noinforma sobre su incidencia en el conjunto de lapoblación. Desde esta perspectiva, se detecta que untotal de 7 comunidades (Islas Baleares: 15’8%;Comunidad de Madrid: 12’9%; Región de Murcia:12’3%; Comunidad Valenciana: 12’3%; Cataluña:11’4%; Canarias: 11’2% y La Rioja: 10’3%) superan

Page 162: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

162 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Maria Gutiérrez

la media española frente a 11 que se sitúan por debajoy, tan sólo, una que lo iguala (Comunidad Foral deNavarra). Andalucía, pese a haber incrementado enmás de 95.000 personas el total de poblaciónextranjera, ésta sólo supone un 5’3% respecto al totalde la comunidad.

• la audiencia de las emisoras de radio para todos.Según el último resumen del Estudio General deMedios (EGM) del período comprendido entre abrildel 2004 y marzo del 2005, la radio generalistaalcanza los 11.383.000 oyentes diarios frente a los9.995.000 que contabiliza la radio temática. A la luzde los datos, es obvio que la población española sigueprefiriendo una oferta radiofónica en la que primala información, el deporte y el infoentretenimiento.Hay que aclarar que, hoy por hoy, la radio temáticaespañola sigue siendo eminentemente musical.

De los argumentos expuestos, surge otrapregunta: ¿cómo presenta la radio generalista la nuevasociedad española? Tan sólo un análisis de las diferentespropuestas programáticas permitirá determinar sugrado de aproximación.

LA RADIO GENERALISTA Y LA INMIGRACIÓN

Pese a la amplia oferta de estaciones quese engloban bajo el término generalista, lahomogeneización de la programación es el trazocaracterístico que mejor las define. Ni el ámbitode di fus ión (estata l o autonómico) , n i sutitularidad (pública o privada) comportan grandesdiferencias entre ellas en el aproximadamente 80%de sus emisiones semanales. Es en el 20% restantedonde cada emisora presenta sus peculiaridadesy parece desmarcarse de la competencia. Eseaproximadamente 20% de la programación másdiversificada se articula generalmente en tresgrandes ejes:

Page 163: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

163

Las migraciones contemporáneas en la radio para todos: el caso español

Edição Especial - 2005

• los programas culturales, aunque su presencia puedereducirse a un único espacio semanal,

• los programas musicales, que van desde los quecontienen música variada hasta los especializadosen un estilo particular, y

• los programas informativos especializados entemáticas concretas, como por ejemplo, lagastronomía o los viajes.

La influencia de las industrias culturales en lasagendas temáticas de las redacciones radiofónicasresponsables de los programas culturales y musicaleses indudable. Los estrenos cinematográficos y lasnovedades discográficas suelen ser los contenidos máshabituales en este tipo de programas. Las excepcionesson poco significativas y se encuentran en algunaemisora pública. De tal forma que el mestizaje cultural-musical, que se ha generado como consecuencia de losflujos migratorios y de la convivencia entre colectivosde distintas procedencias, difícilmente encuentra unlugar en las parrillas de programación. Esto sólo ocurrecuando el producto cultural se sostiene sobre unentramado comercial. Pensemos, por ejemplo, en lascampañas de promoción de la música latina en Europa.

Sobre los programas informativos especializadosen temas sociales, la ausencia continúa siendo elsustantivo que mejor define la situación en las estacionescomerciales o privadas, pero también en las de titularidadpública. Por ejemplo, Radio Nacional de España-Radio1, la emisora pública de ámbito de difusión estatal, desdehace algunas temporadas, mantiene en antena elprograma semanal “La hora de América”, presentado ydirigido desde la corresponsalía que la cadena tiene enWashington. Según la dirección del programa, su objetivoes estimular el intercambio cultural entreHispanoamérica y España, centrándose en la literatura,los espectáculos y la música. Sin desmerecer la presenciade un programa de estas características, éste

Page 164: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

164 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Maria Gutiérrez

obviamente no es el marco más adecuado para plantearcuestiones de integración y convivencia.

Ahora bien, en el grupo de las emisoraspúblicas, algunas de ellas sí cuentan con informativosrealmente especializados en temas sociales con especialdedicación a la inmigración. Dicha presencia nonecesariamente tiene una correlación directa con elíndice de población extranjera de su ámbito decobertura. Uniendo ambos factores (presencia deprogramas que tratan la inmigración y porcentaje depoblación extranjera en el ámbito de cobertura) sepuede establecer la siguiente tipología:• alto índice de población extranjera y presencia

temática en la parrilla. Estos requisitos se dan en laemisora de la comunidad autonómica de Madrid,Onda Madrid, y en la de Cataluña, Catalunya Ràdio.En la primera se emite esta temporada el programasemanal “Madrid sin fronteras”. En cambio, enCatalunya Ràdio el espacio también semanal “Ventsdel nord, vents del sud”, estrenado en la pasadaedición, no se ha mantenido en antena.Consecuentemente, en la temporada 2005-2006 noemite ningun informativo especializado.

• bajo índice de población extranjera y presencia temáticaen la parrilla. Sur Radio, la emisora pública autonómicade Andalucía, cuya población censada tan sólo suponeun 5’3%, emite, los viernes por la noche y desde hacealgunas temporadas, el programa “Bienvenidos”.

Como puede observarse, el número deproductos especializados es significativamente bajo.Además puede sorprender que comunidadesautónomas con altos índices de población extranjeracensada como son Cataluña y la Comunidad Valencianacuenten en su oferta del 2005-2006 con programasque refuerzan el sentimiento de identidad de lacomunidad en cuestión, como “Sense fronteras”(Catalunya Ràdio), que informa sobre la vida de

Page 165: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

165

Las migraciones contemporáneas en la radio para todos: el caso español

Edição Especial - 2005

catalanes que habitan fuera de Cataluña, y “Moros ycristianos”, programa de Radio 9 que aborda una fiestade gran tradición en una zona de su territorio. Hayque añadir que Radio Galega emite semanalmente uninformativo para los gallegos que viven fuera de Galicia.En este último caso, la población extranjera alcanzatan sólo un 2’5%. Hay que tener presente que entrelos objetivos de las emisoras autonómicas públicasfigura la promoción de la cultura propia.

A la luz de los datos, puede aventurarse quepara los programadores esta nueva tipología deaudiencia parece no existir. Pero su olvido u omisióntemática puede comportar otro tipo de consecuencias:• el desconocimiento por parte de la sociedad de acogida

de las características socio-culturales de los diferentescolectivos de inmigrantes, buena parte de ellos conalgunos años de permanencia, no favorece su procesode integración puesto que continúan viviendo en unasuerte de anonimato social, por tanto no reconocidoscomo ciudadanos de pleno derecho, y

• la invisibilidad mediática puede perjudicar laconvivencia, de ahí simples problemas devecindad acaben presentados como conflictos enlos radiodiarios o servicios principales denoticias, formato en el que la reflexión y el debateno tienen espacio.

¿NUEVAS POLÍTICAS PROGRAMÁTICAS?Las parrillas de programación evidencian la

falta de interés en espacios radiofónicos que abordendesde una perspectiva ciudadana los cambios sociales.Ciertamente una estructura fundamentada engrandes magazines condena a horarios de bajaaudiencia otro tipo de oferta temática, mucho másespecífica. De hecho, ésta es la situación de losprogramas presentes en las emisoras públicasautonómicas antes comentadas.

Page 166: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

166 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades

Maria Gutiérrez

Parece obvio que los programadores de lasemisoras generalistas privadas o comerciales estén máspreocupados por los índices de audiencia que porafrontar nuevos retos, como podría ser laincorporación de un programa específico sobreinmigración. Ahora bien, los responsables de lasemisoras públicas, con independencia del ámbito dedifusión, deberían de actuar con sentido deresponsabilidad social.

Desde una perspectiva mediática los cambiosdemográficos suponen también cambios en lacomposición de la audiencia. Esta realidad no aparecereflejada en las nuevas propuestas programáticas. Laincorporación como oyentes de personas procedentesde otros lugares es un proceso que requiere unaplanificación, y es obvio que de momento este asuntono es prioritario en las políticas programáticas de lasemisoras generalistas españolas, públicas o privadas.

REREREREREFFFFFEEEEERRRRREEEEENNNNNCCCCCIAIAIAIAIAS BS BS BS BS BIIIIIBBBBBLLLLLIIIIIOOOOOGGGGGRÁFRÁFRÁFRÁFRÁFIIIIICACACACACASSSSSGUTIERREZ, M. y HUERTAS, A., España. Programación radial para

todo público, Quito: Chasqui, nº 86, Junio, 2004, pp.52-57.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA: www.ine.es

LORITE, N. (dir.). Tratamiento informativo de la inmigraciónen España. 2002. Madrid: Ministerio de Trabajo y AsuntosSociales, Instituto de Migraciones y Servicios Sociales(IMSERSO), 2004.

VILLATORO, V. Els mitjans de comunicació davant laimmigració. La responsabilitat d’informar, la responsabilitatde conviure, Barcelona: Quaderns del CAC. n 12, 2002, p. 3-11 (www.audiovisualcat.net)

* Maria GutiérrezMaria GutiérrezMaria GutiérrezMaria GutiérrezMaria Gutiérrez es profesora titular de ComunicaciónAudiovisual de la Universidad Autónoma de Barcelona. Es coautorade los informes anuales sobre programación radiofónica delConsell de l’Audiovisual de Catalunya y del libro Teoría y Técnicadel Lenguaje Radiofónico. Colaboradora del MIGRACOM-UAB.

Page 167: MÍDIAS MIGRAÇÕES E INTERCULTURALIDADES · LOGOS 2 LOGOS - Mídias, Migrações e Interculturalidades CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/Rede Sirius/PROTAT L832 Logos: comunicação e

167

LOGOS

Edição Especial - 2005

OrientOrientOrientOrientOrientação editorialação editorialação editorialação editorialação editorialLogos: Comunicação & Universidade é uma publicação semestraldo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGC) daFaculdade de Comunicação Social da UERJ. A cada número há umatemática central, foco dos artigos principais; trabalhos de pesquisaabordando outros temas serão aceitos a critério do Conselho Editorial.

1. ORIENTAÇÃO EDITORIAL1.1. Os textos serão revisados e poderão sofrer pequenascorreções ou cortes em função das necessidades editoriais,respeitado o conteúdo.1.2. Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores.1.3. É permitida a reprodução total ou parcial dos textos darevista, desde que citada a fonte.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS2.1. Os trabalhos devem ser apresentados impressos em duasvias, acompanhados de disquete ou CD-ROM, gravados em editorde texto Word for Windows 6.0 ou 7.0 (ou compatível paraconversão), em espaço duplo, fonte Times New Roman, tamanho12. Os artigos devem conter de 12 a 15 páginas (incluindo asreferências bibliográficas e notas). As resenhas de obras recentesdevem conter de três a cinco páginas.2.2. Uma breve referência profissional do autor com até cincolinhas deve acompanhar o texto.2.3. Os artigos devem ser precedidos por um resumo de no máximocinco linhas, com três palavras-chave e versão em inglês e espanhol.2.4. As citações devem vir entre aspas, sem se destacar do corpodo texto, devendo acompanhá-las imediatamente as notasbibliográficas entre parênteses. Exemplo: (SOBRENOME DOAUTOR, ano de publicação da obra, página correspondente).2.5. Eventuais notas explicativas devem ser numeradas no corpo dotexto. É desejável que sejam em quantidade reduzida. Devem serorganizadas em seguida à conclusão do trabalho e antes da bibliografia.2.6. Ilustrações, gráficos e tabelas devem ser apresentados emfolha separada, no original, gravados no mesmo disquete ou CD-ROM, como um apêndice ao artigo, com as respectivas legendase indicação de localização apropriada no texto.2.7. As referências bibliográficas, organizadas na última página,não deverão exceder dez obras, obedecendo às normas da ABNT.Exemplo de referência de livro: (SOBRENOME DO AUTOR,Nome. Título da obra. Cidade: Editora, ano.). Os títulos de artigosde periódicos devem seguir o mesmo padrão, sendo o nome dapublicação em itálico. Exemplo: (SOBRENOME DO AUTOR,Nome. Título do artigo. Periódico, Cidade: Editora/Instituição,v.XX, n.XX, p. XX-XX, mês, ano).