16

MÓDULO FRENTE - api.linguisticaaplicada.com.br

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |2

PROPOSTA DE REDAÇÃO MÓDULO FRENTE

34 REDAÇÃO

TEXTOS MOTIVADORES TEXTO I

Uma alimentação saudável, diferentemente do que muitos pensam, não é uma alimentação cheia de restrições ou sem sabor. Uma alimentação saudável é aquela que garante, principalmente, que seu organismo esteja recebendo todos os nutrientes de que ele precisa. Para ser uma alimentação realmente saudável, é preciso pensar em variedade, equilíbrio, quantidade e na segurança dos alimentos que estão sendo ingeridos.

Neste texto, falaremos a respeito da importância de se ter uma alimentação saudável, dicas para se alimentar melhor e alguns erros cometidos por muitas pessoas quando o assunto é alimentação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/saude-bem-estar/alimentacao-saudavel.htm. Acesso em: 2 set. 2021.

TEXTO II

As tendências globais se confirmam no Brasil. O País passou por uma rápida transição demográfica, epidemiológica e nutricional que afetou o padrão de consumo alimentar e a saúde da população. Nas últimas décadas, o Brasil reduziu significativamente a taxa de desnutrição crônica entre menores de 5 anos (de 19,6% em 1990 para 7% em 2006), atingindo, antes do prazo, a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

Entretanto, a desnutrição crônica ainda é um problema em grupos mais vulneráveis, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, a prevalência de desnutrição crônica entre crianças indígenas menores de 5 anos era de 28,6%. Os números variam entre etnias, alcançando 79,3% das crianças ianomâmis.

Ao mesmo tempo, aumenta progressivamente o consumo de alimentos ultraprocessados (alimentos com baixo valor nutricional e ricos em gorduras, sódio e açúcares) e a prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil. Uma em cada três crianças de 5 a 9 anos possui excesso de peso, 17,1% dos adolescentes estão com sobrepeso e 8,4% são obesos. Apesar da Política Nacional de Alimentação Escolar, a escola ainda é considerada um ambiente obesogênico, com lanches de baixo teor de nutrientes e alto teor de açúcar, gordura e sódio.

Disponível: https://www.unicef.org/brazil/ma-alimentacao-prejudica-saude-das-criancas-unicef. Acesso em: 2 set. 2021. TEXTO III

Disponível em: https://www.segs.com.br/seguros/saudavel-para-manter-o-equilibrio-e-evitar-doencas. Acesso em: 2 set. 2021. TEXTO IV

Quando falamos de educação (ou melhor: reeducação) alimentar para crianças e adolescentes, precisamos lembrar que este é um período de altas necessidades nutricionais para o ser humano. E essas necessidades precisam ser satisfeitas para que este indivíduo possa crescer e se desenvolver de forma adequada. Ao planejar ações envolvendo educação alimentar na adolescência, deve-se entender que é nesta idade em que os jovens adquirem independência e começam a assumir certas responsabilidades. Do ponto de vista nutricional, isso deixa o adolescente numa posição vulnerável.

Outro aspecto importante é reconhecer que, por mais que se invista em palestras ou campanhas informativas, a dieta da família e dos amigos são os principais fatores de influência na criação dos hábitos dos adolescentes. Aspectos psicológicos e socioeconômicos também têm grande influência na formação desses hábitos. Dessa forma, além de educar os adolescentes a respeito da qualidade dos produtos consumidos, é preciso disciplinar as refeições. Afinal, nessa faixa etária é muito comum os jovens negligenciarem o café da manhã ou jantar, por exemplo. Com a desculpa da “falta de tempo”, muitas famílias substituem comida caseira pela comida industrializada ou o suco natural pelo refrigerante, por exemplo. Por isso, é fundamental fazê-los entender que a praticidade para os pais pode se transformar em problemas de saúde para os filhos.

É por isso que as ações de educação nutricional e alimentar devem ser permanentes. Ao tratar com grupos de adolescentes despreocupados com o futuro de sua própria saúde, é fundamental combinar diálogo, reflexão e vigilância constantes. Só assim será possível promover a mudança de hábitos. Disponível em: https://previva.com.br/ma-alimentacao-entre-adolescentes-preocupa/. Acesso em: 2 set. 2021.

PROPOSTA DE REDAÇÃO A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Caminhos para promover uma alimentação saudável entre crianças e adolescentes no Brasil”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |3

FOLHA DE REDAÇÃO MÓDULO FRENTE

34 REDAÇÃO

RASCUNHO

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |4

A CONCLUSÃO MÓDULO FRENTE

34 REDAÇÃO

AUTORIA EM TEXTOS DISSERTATIVOS

1. O QUE É AUTORIA? Para Foucault, a noção de autor é discursiva (isto é, o autor é de alguma forma construído a partir de um conjunto

de textos ligados a seu nome, considerado um conjunto de critérios, dentre eles sua responsabilidade sobre o que põe a circular, um certo projeto que se extrai da obra e que se atribui ao autor. Essa visão relaciona-se diretamente com a teoria linguística da Responsabilidade Enunciativa (a autoria é marcada pelo grau de responsabilização do que é dito, por meio de vozes textuais).

1.1. A AUTORIA

Segundo a teoria linguística, o autor é aquele que exerce uma tomada de posição, assume um ponto de vista em relação ao seu discurso. Dessa forma, evidenciamos que ideologia e discurso são inerentes, indissociáveis, ambos pertencem ao sujeito. No processo de significação e Interpretação, o sujeito realiza, de acordo com a sua visão ideológica, as palavras, os textos, os discursos, os quais não podem ser interpretados sem considerar suas condições de produção especificas. A ideologia está imersa nos discursos, uma vez que ela se sustenta no já dito, na repetição; há, no processo ideológico do discurso, um entrecruzamento de vozes, e são essas vozes entrecruzadas que dão acabamento ao discurso.

TEMA: “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira” Exemplo 1 – Redação de Julia Motta

Por conseguinte, a identificação e o combate das enfermidades mentais são dificultados. Isso ocorre porque, de acordo com o psiquiatra Neury Botega, os sintomas mais comuns das principais fragilidades psicológicas são parecidos com os de outras condições menos graves, como a TPM. Desse modo, como as doenças mentais são estigmatizadas e não debatidas entre os habitantes do Brasil, quando um cidadão começa a apresentar os sintomas, ele é mais propenso a pensar que se trata de algo corriqueiro, que não merece muita atenção, e falha em procurar ajuda especializada. Porém, sem o tratamento específico e precoce, os desequilíbrios da mente se tornam extremamente incapacitantes, prejudicando a saúde física, a disposição, a qualidade de vida e até a longevidade dos afetados.

1.2. A COMPETÊNCIA III NO ENEM E AS RELAÇÕES SOBRE AUTORIA DE TEXTO

Os aspectos de autoria também são usados como critério de avaliação da redação no Enem, a competência 3 – argumentos em defesa de um ponto de vista – é a forma como você, em seu texto, seleciona, relaciona, organiza e interpreta informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa do ponto de vista escolhido como tese. É preciso, então, elaborar um texto que apresente, claramente, uma ideia a ser defendida e os argumentos que justifiquem a posição assumida por você em relação à temática da proposta de redação.

1.2.1. O PROJETO DE TEXTO

Em especial, trata da inteligibilidade do seu texto, principalmente, de sua coerência e da plausibilidade entre as ideias apresentadas, o que é garantido pelo planejamento prévio à escrita, ou seja, pela elaboração de um projeto de texto. A inteligibilidade da sua redação depende, portanto, dos seguintes fatores: • Relação de sentido entre as partes do texto. • Precisão vocabular. • Seleção de argumentos. • Progressão temática adequada ao desenvolvimento do tema, revelando que a redação foi planejada e que as ideias desenvolvidas são, pouco a pouco, apresentadas, de forma organizada, em uma ordem lógica. • Desenvolvimento dos argumentos, com a explicitação da relevância das ideias apresentadas para a defesa do ponto de vista definido. IMPORTANTE 1

Na organização das ideias selecionadas para serem abordadas em seu texto, procure definir uma ordem que possibilite ao leitor acompanhar o seu raciocínio facilmente, o que significa que a progressão textual deve ser fluente e articulada com o projeto do texto. PARTES IMPORTANTES 1. TÓPICO FRASAL (discurso que faça uma abordagem do tema, da falha em relação ao tema e do agente dessa falha, bem como traduza a sua opinião sobre a questão principal do tema) 2. DISCURSO DE AUTORIDADE OU RAZÃO (para melhor apoiar a sua ideia, cite um discurso que corrobore o que você também defende). 3. JUSTIFICAÇÃO (selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista). 4. CONCLUSÃO (a conclusão é a última parte do argumento. Em sentido amplo, consiste em uma premissa final fundamentada por outras duas premissas iniciais. É o ponto de vista a que se chega a partir dados observados)

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |5

IMPORTANTE 2

Evite apresentar informações, fatos e opiniões de forma vaga no texto, sem desenvolvimento e sem articulação com as outras ideias apresentadas. 1.3. RESUMINDO

Na organização do texto dissertativo-argumentativo, você deve procurar atender às seguintes exigências: • Apresentação clara da tese e seleção dos argumentos que a sustentam. • Encadeamento das ideias, de modo que cada parágrafo apresente informações coerentes com o que foi apresentado anteriormente, sem repetições ou saltos temáticos. • Desenvolvimento dessas ideias por meio da explicitação, explicação ou exemplificação das informações, fatos e opiniões, de modo a justificar, para o leitor, o ponto de vista escolhido. O quadro a seguir apresenta os seis níveis de desempenho que serão utilizados para avaliar a Competência 3 nas redações do Enem 2019:

O que será considerado na Competência III, portanto, é a forma como o texto é trabalhado – se é escrito de modo organizado, consistente e estratégico. Levando isso em conta, podemos afirmar que, para atingir o nível máximo na Competência III, o importante não é apenas o que o participante mobiliza para a escrita de seu texto, mas como ele mobiliza (seleciona, relaciona, organiza e interpreta) aquilo que apresenta. Assim, na avaliação das redações do Enem 2019, entenderemos autoria como o resultado de uma boa organização e de um bom desenvolvimento do texto. 1.4. A AUTORIA NOS TEXTOS

Pode-se dizer provavelmente que alguém se torna autor quando assume (sabendo ou não) fundamentalmente algumas atitudes: dar voz a outros enunciadores, desenvolver todas as ideias apresentadas (projeto de texto) e manter distância em relação ao próprio texto. 1.4.1. DANDO VOZ AOS OUTROS

TEMA: “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira” Exemplo 2 – Redação de Alan Albuquerque

Ademais, a manutenção dessa ignorância é fortalecida pelos ideais narcisistas valorizados hodiernamente, os quais, muitas vezes, desvalorizam o diferente. Segundo o filósofo Byung Chul-Han, o século XXI é dominado por uma sociedade do desempenho, na qual a individualidade é extremada em detrimento do altruísmo. Nesse panorama, o indivíduo, imerso em si mesmo, não consegue enxergar e aceitar a pluralidade de seres humanos que o circundam. Dessa forma, o cidadão brasileiro, inserido nessa lógica, nega o doente mental e classifica-o como anormal, reforçando estigmas danosos.

A ideia principal do parágrafo é organizada em torno da “ignorância”, como sendo fruto de “ideais narcisistas

valorizados hodiernamente”. Para desenvolver essa ideia, o autor/escritor fundamentou o seu argumento no discurso de Byung Chul-Han - “sociedade do desempenho” com base na questão da “individualidade” ser “extremada em detrimento do altruísmo”.

Observa-se que as marcas de autoria podem ser percebidas através de elementos linguísticos que denotam a presença do autor no texto; essas marcas podem ser representadas por pronomes, verbos, adjetivação, bem como o uso de substantivos abstratos.

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |6

1.5. AUTORIA NAS REDAÇÕES DO ENEM Exemplo 3 - Trecho da redação de João Pedro Fidelis Belluzo, nota mil no Enem 2018 — Foto: Reprodução/Inep

Exemplo 4 – Trecho da redação de MATTHEUS MARTINS WENGENROTH CARDOSO, nota mil no Enem 2019.

1.5.1. AS MARCAS DE AUTORIA (CONTEXTO GERAL)

Uma das marcas de autoria é justamente a voz ou as vozes presentes no texto. A voz textual é um fenômeno linguístico e comunicativo presente em todas as formas textuais e tem função de indicar os enunciadores do texto, ou seja, o sujeito que fala ou escreve no discurso. Nesse fenômeno, o autor assume um posicionamento sobre determinado assunto, e discursa com base na perspectiva assumida. Esse aspecto linguístico é um fenômeno comum, que ocorre porque o ato da fala é planejado e permite que o autor tenha várias concepções diferentes sobre o mesmo assunto. Durante esse processo, o autor pode pensar e analisar sobre qual é a melhor perspectiva para transmitir determinada informação ou opinião e pode realizar esse processo implícita ou explicitamente.

As vozes presentes no texto são formas de discurso, ou seja, uma exposição sobre um assunto. Essa visão textual, em linhas gerais, põe em evidência, especialmente em textos argumentativos, dois movimentos: demonstrar-justificar uma tese e refutar uma tese ou certos argumentos de uma tese adversa. Suas características são: 1. Apreensão das vozes – memória discursiva. 2. Constituição em oposição a outro discurso; 3. Insere o texto no sistema de valores e concepções de uma dada época. 4. Faz do texto um objeto histórico 5. Discurso direto e discurso indireto – reprodução do que outros disseram; Exemplo 5 - Trecho da redação de Eduarda Judith Dias Jacome Silva, nota mil no Enem 2018

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |7

1.6. PROJETO DE TEXTO COM DESENVOLVIMENTO CONSISTENTE DOS ARGUMENTOS EM TODO TEXTO

Fonte: INEP - Material de leitura – Módulo 05

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |8

SOBRE O EMPREGO DA VÍRGULA MÓDULO FRENTE

34 REDAÇÃO REVISÃO SOBRE O EMPREGO DA VÍRGULA Regras importantes Quando Usar a Vírgula

• Para separar elementos

• Depois do vocativo

• Entre o aposto

• Depois dos advérbios “sim” e “não”

• Na intercalação de texto

• Nas orações subordinadas adverbiais

• Nas orações subordinadas adjetivas explicativas

• Na omissão de verbos

• Acompanhando local e data

Leia abaixo a redação de Juan Sampaio, que recebeu nota 1000 no Enem 2020, sob o tema “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Logo em seguida, em respeito à norma culta, pontue todo o texto.

Durante a Idade Média as doenças mentais eram associadas à falta de fé resultando no julgamento de muitas pessoas como hereges. Apesar de datar de séculos passados o estigma dos transtornos mentais ainda é perceptível no contexto atual com destaque ao caso do Brasil. Nesse sentido a persistência dessa discriminação é causada devido tanto à falta de empatia como à insuficiência estatal no acolhimento das vítimas. Assim é evidente a necessidade de intervir sobre essa triste realidade de caráter medieval.

A princípio o exercício escasso da empatia na sociedade brasileira contribui com a manutenção do estigma das doenças mentais. Segundo o filósofo prussiano Immanuel Kant os indivíduos devem agir conforme o dever moralmente correto levando em consideração a existência do outro e criando uma lei universal. Entretanto esse princípio chamado de imperativo categórico não é plenamente executado no Brasil visto que as práticas preconceituosas contra pessoas com problemas psicológicos contradiz a moral de respeito às diferenças individuais. Nessa perspectiva serve de exemplo o pensamento errôneo no qual o indivíduo que sofre de certas condições psíquicas como a bipolaridade seria incapaz de agir na sociedade desvalorizando seu caráter. Dessa forma nota-se que esse desrespeito precisa ser desmotivado.

Ademais a atitude insuficiente do Estado em acolher as vítimas precariamente potencializa a estigmatização. De acordo com os preceitos da Constituição Federal o governo tem a obrigação de garantir a igualdade de tratamento entre os cidadãos independente de quaisquer condições pré-existentes. Porém essa justiça não é comprida (sic) como deveria já que milhares de indivíduos sofrem com preconceito associado a condições mentais. Tal fato está relacionado à falta de centros dedicados a receber denúncias e a punir os agressores carência essa mais evidente nas zonas rurais. Com isso milhares de brasileiros mentalmente doentes permanecem desamparados indo contra as ideias de igualdade da Constituição. Portanto percebe-se a prioridade de desestimular o estigma relativo a doenças mentais. Para tanto é necessário que o Ministério da Educação realize projetos escolares que ensinem o comportamento empático para com aqueles com condições psíquicas clínicas por meio de aulas e de palestras que ensinem o respeito ao próximo para que a capacidade dessas pessoas não seja duvidada permitindo a consolidação do imperativo categórico. Além disso o Ministério da Segurança deve instalar centros de apoio em especial no campo que recebam denúncias e investiguem casos de estigmatização. Dessa maneira o pensamento medieval de desqualificação dos mentalmente doentes será melhor combatido.

Fonte: cartilha 3.0, de Lucas Felpi.

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |9

CONCRETISMO MÓDULO FRENTE

34 LITERATURA 2. OS ANOS 50 E O CONCRETISMO

Após as fases do Modernismo brasileiro, o grande movimento literário que se instaurou no país, ainda com manifestos e posturas ideológicas e estéticas, foi o Concretismo. Iniciado em 1954, esse movimento teve, em 1968, a teorização básica de suas diretrizes a partir do Plano-Piloto escrito pelos autores que fundamentaram o Concretismo: Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari.

Haroldo, Décio, Augusto – 1952

Leia alguns fragmentos do Plano-Piloto, que aparecerão interrompidos por comentários explicativos e exemplos de poemas concretistas para que haja maior compreensão da teoria vinculada ao exercício prático dos autores. 2.1. PLANO-PILOTO PARA A POESIA CONCRETA

poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas. dando por encerrado o ciclo histórico do verso (unidade rítmico-formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural. espaço qualificado: estrutura espácio-temporal, em vez de desenvolvimento meramente temporístico-linear. daí a importância da idéia de ideograma, desde o seu sentido geral de sintaxe espacial ou visual, até o seu sentido específico (fenollosa / pound) de método de compor baseado na justaposição direta – analógica, não lógico-discursiva – de elementos. “il faut que notre intelligence s’habitue à comprendre synthético-ideographiquement au lieu de analytico-discursivement” (apollinaire). einsenstein: ideograma e montagem.

Nesse trecho do manifesto, é possível reconhecer como a primeira grande ruptura dos concretistas se deu na concepção de que a poesia se faz com versos. Os poemas concretos retiram a concepção de linguagem linear ao eliminar a escrita sequencial, o que também exige uma outra forma de interpretação. Não mais o leitor fará o caminho tradicional da leitura: da esquerda para a direita, de cima para baixo, do início para o fim, pois não há mais essa disposição retilínea, esse modo “temporístico-linear” como convencionalmente pensamos um texto poético. Com isso, a poesia concreta instaurou outro raciocínio de compreensão do texto, o que possibilita aos leitores ler de modo menos convencional e previsível: é preciso “percorrer” o poema em inúmeras direções, não mais seguir as “rotas” convencionais do olhar. O exemplo seguinte é significativo para compreender o fim do verso e a necessidade de ler em inúmeras direções.

CAMPOS, Augusto de. Código, 1973. In: Viva vaia: poesia 1949-1979. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 209. QUESTÃO 1 (Enem 2015) Da sua memória mil e mui tos out ros ros tos sol tos pou coa pou coa pag amo meu ANTUNES, A. 2 ou + corpos no mesmo espaço. São Paulo: Perspectiva, 1998. Trabalhando com recursos formais inspirados no Concretismo, o poema atinge uma expressividade que se caracteriza pela a) interrupção da fluência verbal, para testar os limites da lógica racional. b) reestruturação formal da palavra, para provocar o estranhamento no leitor. c) dispersão das unidades verbais, para questionar o sentido das lembranças. d) fragmentação da palavra, para representar o estreitamento das lembranças. e) renovação das formas tradicionais, para propor uma nova vanguarda poética. 2.1.1. A IDEOLOGIA DA LITERATURA CONCRETISTA

Do ponto de vista ideológico, percebe-se a preocupação dos concretistas em traçar os precursores e os mentores do raciocínio criado e desenvolvido por eles. No cenário internacional, a relevância de grandes poetas como Mallarmé, Pound, Cummings e Apollinaire; já no cenário nacional, destacam-se os nomes de Oswald de Andrade e de João Cabral de Melo Neto. A “lição” apreendida de tais poetas fez com que os concretistas elevassem ao máximo a disposição da palavra na página, a carga gráfica e visual de cada vocabulário, bem como

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |10

a valorização dos espaços brancos e a economia verbal. Tente reconhecer esses elementos nos poemas a seguir:

PIGNATARI, Décio. Poesia pois é poesia: 1950-1975. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004. p. 128

CAMPOS, Augusto de. Viva vaia: poesia 1949-1979. São Paulo: Ateliê editorial, 2001. p. 106

Ideograma: apelo à comunicação não-verbal. o poema concreto comunica a sua própria estrutura: estrutura-conteúdo. o poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e /ou sensações mais ou menos subjetivas. seu material: a palavra (som, forma visual, carga semântica). seu problema: um problema de funções relações desse material. fatores de proximidade e semelhança, psicologia da gestalt. ritmo: força relacional. o poema concreto, usando o sistema fonético (dígitos) e uma sintaxe analógica, cria uma área lingüística específica – “verbivocovisual” – que participa das vantagens da comunicação não-verbal, sem abdicar das virtualidades da palavra. com o poema concreto ocorre o fenômeno da metacomunicação: coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não-verbal, com a nota de que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-conteúdo, não da usual comunicação de mensagens.

O fundamental, no excerto anterior, é o conceito da poesia como uma unidade “verbivocovisual” (verbi = verbo, palavra escrita + voco = som, palavra pronunciada + visual = potencial imagético da palavra, a sua categoria icônica, a palavra vista como uma imagem em si). Toda essa simultaneidade de “funções” potencializa a linguagem ao máximo no que diz respeito aos seus valores sonoros e gráficos a fim de gerar campos semânticos extremamente ricos. Para que seja possível uma completa absorção desse sentido da Poesia Concreta, entre no site oficial do poeta Augusto de Campos. Nele, há poemas que se mostrarão simultaneamente como palavra-som-imagem: http://www2. uol.com.br/augustodecampos/home.htm.

QUESTÃO 2 O poema a seguir pertence à poesia concreta brasileira. O termo latino de seu título significa “epitalâmio”, poema ou canto em homenagem aos que se casam.

Considerando que símbolos e sinais são utilizados geralmente para demonstrações objetivas, ao serem incorporados no poema “Epithalamium - II”, A) adquirem novo potencial de significação. B) eliminam a subjetividade do poema. C) opõem-se ao tema principal do poema. D) invertem seu sentido original. E) tornam-se confusos e equivocados.

Outro fator relevante apresentado no trecho do manifesto é a valorização da linguagem verbal aliada à não verbal. Vários poemas dos concretistas exemplificam isso, como o belo poema de Augusto de Campos:

CAMPOS, Augusto de. Viva vaia: poesia 1949-1979. São Paulo: Ateliê editorial, 2001. p. 133

Muitas vezes, o caráter não verbal era explorado

ao máximo pelos autores, o que levou certos poetas a abandonar, gradativamente, a palavra para experimentações bem icônicas e ideogrâmicas como exemplifica o trabalho de Pedro Xisto.

XISTO, Pedro. Epithalamium. III. Invenção: Revista de Arte de Vanguarda. São Paulo, n.5, ano 6, dez. 1966.

A poesia concreta visa ao mínimo múltiplo comum da linguagem, daí a sua tendência à substantivação e à verbalização: “a moeda concreta da fala” (sapir). daí suas afinidades com as chamadas “línguas isolantes” (chinês).

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |11

[...] ao conflito de fundo-e-forma em busca de identificação, chamamos de isomorfismo. paralelamente ao isomorfismo fundo-forma, se desenvolve o isomorfismo espaço-tempo, que gera o movimento. o isomorfismo, num primeiro momento da pragmática poética concreta, tende à fisionomia, a um movimento imitativo do real (motion). QUESTÃO 3 (Enem–2009) Texto I

OITICICA, Hélio. Metaesquema I, 1958. Guache s/ cartão. 52 cm x 64 cm. Museu de Arte Contemporânea – MAC/USP. Disponível em: <http://www.mac.usp.br>. Acesso em: 01 maio 2009. Texto II Metaesquema I Alguns artistas remobilizam as linguagens geométricas no sentido de permitir que o apreciador participe da obra de forma efetiva. Nesta obra, como o próprio nome define: meta – dimensão virtual de movimento, tempo e espaço; esquema – estruturas, os Metaesquemas são estruturas que parecem movimentar-se no espaço. Esse trabalho mostra o deslocamento de figuras geométricas simples dentro de um campo limitado: a superfície do papel. A isso podemos somar a observação da precisão na divisão e no espaçamento entre as figuras, mostrando que, além de transgressor e muito radical, Oiticica também era um artista extremamente rigoroso com a técnica. Disponível em: <http://www.mac.usp.br>. Acesso em: 02 maio 2009 (Adaptação). Alguns artistas remobilizam as linguagens geométricas no sentido de permitir que o apreciador participe da obra de forma mais efetiva. Levando-se em consideração o texto e a obra MetaesquemaI, reproduzidos anteriormente, verifica-se que A) a obra confirma a visão do texto quanto à ideia de estruturas que parecem se movimentar, no campo limitado do papel, procurando envolver de maneira mais efetiva o olhar do observador. B) a falta de exatidão no espaçamento entre as figuras (retângulos) mostra a falta de rigor da técnica empregada dando à obra um estilo apenas decorativo. C) MetaesquemaI é uma obra criada pelo artista para alegrar o dia a dia, ou seja, de caráter utilitário. D) a obra representa a realidade visível, ou seja, espelha o mundo de forma concreta. E) a visão de representação das figuras geométricas e rígidas, propondo uma arte figurativa.

Dois aspectos são significativos nos trechos citados: o da concisão vocabular e o da relação forma-fundo-movimento. Para os concretistas, dizer menos é uma forma de gerar maior número de interpretações, pois com um mínimo de significantes (palavras) é possível que o leitor encontre inúmeros significados (sentidos). Inclusive sentido entre o que são palavra e espaço vazio, pois o espaço em branco da página não é apenas fundo, mas significação, parte constituinte do texto a ser lido. Cabe ao leitor considerar não só as lacunas, mas também os “movimentos” das palavras em sua elaboração, já que esse deslocamento também ajuda a compor o “mínimo múltiplo comum”, a escrita da síntese, como exemplifica o poema “ruasol”, de Ronaldo Azeredo:

AZEREDO, Ronaldo. ruasol. Revista Terra: 30 anos de Poesia Concreta (Fragmento).

Em vez de escrever um poema narrativo-descritivo sobre o nascimento e o pôr do sol vistos a partir de uma rua, o poeta “encena” esse discurso por meio do “mínimo múltiplo comum” da linguagem, da concisão vocabular. O texto, constituído apenas por substantivos, tem a sua parte verbal retratada pelo movimento das palavras que, analogamente, espelham o movimento do sol na paisagem. O final do poema, terminado com o polissêmico espaço em branco, sugere como o deslocamento do sol acontece naquela rua retratada e em todas as demais “ruas”, mas também acena para o reaparecimento do sol no outro dia (o “s”, nesse caso, seria o surgimento da palavra “sol”), o que demonstra o caráter cíclico do que está sendo poeticamente “ilustrado” pela própria linguagem. Esses mesmos recursos de dinamização da linguagem encontram-se no poema “Velocidade”, também de Ronaldo Azeredo:

AZEREDO, Ronaldo. In: AGUILAR, Gonzalo. Poesia concreta brasileira: as vanguardas na encruzilhada modernista. São Paulo: Edusp, 2005. p. 201.

O Movimento Concretista dos anos 1950

mostrou-se como uma produção abrangente graças ao diálogo estabelecido com outras linguagens, como a do cinema, a da música e a das artes plásticas. Toda essa variedade de discursos e tamanho entrecruzamento de saberes, bem como a inserção dos postulados estéticos por meio de um “Plano piloto”, levaram o Concretismo a

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |12

ser considerado o último movimento literário de vanguarda do século XX. Os seus desdobramentos em outras vertentes, como a Poesia Práxis e o Poema / Processo, além de sua repercussão no Brasil e no mundo até os dias de hoje, salientam como o Concretismo teve e tem ainda uma contribuição no panorama da história da Literatura Brasileira. QUESTÃO 4 (PUC-PR) de sol a sol soldado de sal a sal salgado de sova a sova sovado de suco a suco sugado de sono a sono sonado sangrado de sangue a sangue O poema concretista, acima indicado, apresenta as seguintes inovações no campo verbal e visual:

a) abolição do verso tradicional; desintegração do sistema em seus morfemas; a palavra dá lugar ao símbolo gráfico. b) apresentação de um ideograma; uso de estrangeirismos, esfacelamento da linguagem. c) ausência de sinais de pontuação; uso intensivo de certos fonemas; jogos sonoros e uso de justaposição. d) uso construtivo dos espaços brancos; neologismo; separação dos sufixos e dos prefixos; uso de versos alexandrinos. e) apresentação de trocadilhos; uso de termos plurilinguísticos; desintegração da palavra e emprego de símbolos gráficos.

Afirma-se como a alternativa que condiz ao discurso presente no enunciado a demarcada pela letra “A”, haja vista que a principal característica presente na arte concreta é a abolição da linguagem verbal, uma vez que essa foi substituída por um jogo o qual comporta amplamente três aspectos: o sonoro, o visual e o semântico.

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |13

REPERTÓRIO SOCIOCULTURAL – PARTE V MÓDULO FRENTE

34 REDAÇÃO

Nº COMPOSITOR CONTEXTO TEMÁTICO

1 Ary Barroso OBRA MUSICAL Aquarela do Brasil (1939)

1. Composta por este grande nome da música brasileira, a música virou um dos símbolos do samba-exaltação. O movimento ufanista, que marcou os anos 1940, foi explorado por Getúlio Vargas durante o Estado Novo. 2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: nacionalismo, símbolos nacionais, ideologia patriota. 3. PARTE DA LETRA DA MÚSICA

“abre a cortina do passado Tira a mãe preta do serrado Bota o rei congo no congado

Brasil, Brasil, Pra mim, Pra mim”.

2

Geraldo Vandré OBRA MUSICAL Pra não dizer que não falei das flores (1968)

1. Uma das músicas mais lembradas do momento de ditadura militar, Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, tem todos os motivos para ser lembrada como é hoje. O compositor apresentou a canção em um festival, no ano de 1968, no meio do regime autoritário. A sua letra deixa claro o convite para a população se mobilizar contra a ditadura militar. 2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: resistência aos desmandos políticos, convite à denúncia e ao enfrentamento social ao regime político vigente. 3. PARTE DA MÚSICA:

“Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas, campos, construções Caminhando e cantando e seguindo a canção Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

3 Caetano Veloso e Gilberto Gil (1968) OBRA MUSICAL Tropicália

1. Esses dois ícones da música brasileira são representantes do tropicalismo, movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. E esta canção é uma das principais representações desta fase, que merece toda atenção. "Grande parte do objetivo do movimento pode ser entendido como uma transposição das propostas que, durante as décadas de 1920 e 1930, os artistas ligados ao Movimento Antropofágico promoveram". 2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: contexto político-social do Brasil, relações de poder, denúncia da realidade social. 3. PARTE DA MÚSICA:

“Sobre a cabeça os aviões Sob os meus pés os caminhões

Aponta contra os chapadões Meu nariz”

4 Caetano Veloso OBRA MUSICAL Alegria, Alegria (1968)

1. Foi lançada em 1967 e trabalhava com a ironia a partir de fragmentos do cotidiano. A letra critica o abuso do poder e da violência, as más condições do contexto educacional e cultural estabelecido pelos militares durante a Ditadura. O tropicalismo, movimento sócio cultural iniciado a partir de 1967, surgiu principalmente na música, mas acabou influência toda a cultura nacional, pois retomava basicamente elementos da Antropofagia, do Modernismo Brasileiro, e outros elementos da contracultura, da ironia, rebeldia, anarquismo e humor ou terror anárquico. A paródia, a crítica à esquerda intelectualizada, a não aceitação de qualquer forma de censura, a sedução dos meios de comunicação de massa o retrato da realidade urbana e industrial, a exploração do ser humano, tudo isso, todos esses elementos montado com uma colagem de fragmentos do dia a dia nas grandes cidades do país, eram, de fato, os princípios norteadores da arte tropicalista. Através de comparações aparentemente desconexas e fazendo uso de metáforas, faz a denúncia dos contrastes regionais, sociais ou econômicos. 2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: poder institucional, Estado de exceção, denúncia social. 3. PARTE DA MÚSICA:

“Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro

Eu vou [...]

“Eu tomo uma coca-cola Ela pensa em casamento Em caras de presidente

em grandes beijos de amor em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot”.

5 Chico Buarque OBRA MUSICAL Apesar de Você (1970)

1. A música foi lançada na década de 70, durante o governo do general Médici. Para driblar a censura, ele afirmou que a música contava a história de uma briga de casal, cuja mulher era muito autoritária. A desculpa funcionou e o disco foi gravado, mas os oficiais do exército logo perceberam a real intenção e a canção foi proibida de tocar nas rádios. Trecho: 2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: crítica social, denúncia da realidade brasileira, relação político-social.

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |14

3. PARTE DA MÚSICA: “Quando chegar o momento

Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido

Esse grito contido Esse samba no escuro”

6 Mauro Duarte e Paulo Cesar Pinheiro OBRA MUSICAL Canto das três raças (1976)

1. Esta marcante canção virou um dos maiores sucessos do repertório de Clara Nunes e até hoje reverbera em regravações de artistas contemporâneos. A imponente letra narra a saga dos negros na História do Brasil. Canto das três raças trata da formação do Brasil desde seu início de colonização, tratando do branco, do negro e do índio. Os três constituintes de formação do Brasil, o branco português saudoso de sua terra, Portugal, que aqui teve que vir com promessas de terras, longe às vezes de sua família, logo canta sua tristeza saudosa. O negro que aqui foi trazido pelo branco, negro africano, escravo, que aqui veio como mão de obra para trabalhar para os brancos e "construir" o Brasil, este que apesar de um escravo maltratado criou seus quilombos, como forma de resistência; e, por fim, o índio que aqui estava, onde aprendemos em escola "descobrimos o Brasil" ora esta visão do colonizador, pois aqui o índio já habitava e, por sua vez, foi subjugado ao português, que não fazia mais do que explorá-lo ou praticar o escambo com esses (trocas). 2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: formação nacional, perfil ético do povo brasileiro, origens da nação. 3. PARTE DA LETRA DA MÚSICA

“Ninguém ouviu. Um soluçar de dor No canto do Brasil

Um lamento triste sempre ecoou”

7 Elis Regina OBRA MUSICAL Como nossos pais (1976)

1. Como Nossos Pais” é uma canção composta por Belchior, lançada no álbum Alucinação, de 1976, mas que fez sucesso na voz de Elis Regina, que a gravou no aclamado álbum Falso Brilhante, também de 1976. Composta em meio à Ditadura militar no Brasil, a letra retrata a desilusão de uma juventude reprimida, mas também fala de esperança e luta por mudanças. 2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: protagonismo juvenil, mudanças sociais, relações familiares, autocracia, participação política, juventude. 3. PARTE DA LETRA DA MÚSICA

“Na parede da memória esta lembrança É o quadro que dói mais

Minha dor é perceber que apesar De termos feito tudo o que fizemos Ainda somos os mesmos e vivemos Ainda somos os mesmos e vivemos

Como nossos pais”.

8 Chico Buarque e Gilberto Gil OBRA MUSICAL Cálice (1978)

1. A canção é bastante crítica e politizada, usando frases com duplo sentido, que conseguiam passar pela censura, mas quando cantadas ganhavam outros significados. Como ele exemplifica, a palavra cálice refere-se à oração de Jesus antes de sua flagelação e morte. Mas, embora pareça um texto bíblico, ao ser cantado como 'cale-se', fazia referência à censura e a ditadura que havia no Brasil naquele período. 2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: cerceamento de liberdade e de direito, busca pela manutenção do poder e do controle social. 3. PARTE DA LETRA DA MÚSICA:

“Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta

Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta De que me vale ser filho da santa

Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta

Tanta mentira, tanta força bruta Como é difícil acordar calado”

9 Zé Ramalho OBRA MUSICAL Admirável Gado Novo (1979)

1. Clássica canção, “Admirável Gado Novo” foi escrita em 1979, mas continua muito atual. A letra faz crítica ao sistema capitalista e aos políticos brasileiros. Para analisar com um maior grau de fidelidade interpretativa, é preciso relacionar à música à crítica Literária Marxista. Essa linha crítica “analisa a Literatura em termos das condições históricas que a produzem”, envolvendo a luta de classes e tendo como objetivo a compreensão das ideologias presentes em qualquer obra literária. De acordo com Marx, o aspecto material da sociedade condiciona o social, o político, bem como intelectual e artístico em geral, ou seja, as relações sociais de uma forma geral dependem necessariamente das relações de produção. Dessa forma ele define o conceito de infraestrutura como as relações e forças de produção que são sustentadas, isto é, legitimadas por uma superestrutura “que assegura que a situação em que uma classe social tem poder sobre as outras seja vista pela maioria dos membros da sociedade como natural ou nem mesmo seja vista”. Assim temos em “Admirável Gado Novo” uma forte crítica social, tendo em vista que o Brasil passava por um dos períodos mais negros da sua história. Vemos expressados nela a luta de classes, tão discutida por Marx, e um aspecto imprescindível nesse contexto que é a manutenção desse modelo social através da alienação das massas, metaforizada na figura do gado. Vemos assim uma sociedade controlada, condicionada a viver em uma ordem estabelecida através do conformismo.

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |15

2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: painel das relações sociais no Brasil, luta de classes, exploração do homem pelo homem, alienação e crítica a política da época. 3. PARTE DA MÚSICA:

““É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber”.

10 Aldir Blanc e João Bosco OBRA MUSICAL O Bêbado e o Equilibrista (1979)

1. Gravada por Elis Regina, em 1979, representava o pedido da população pela anistia ampla, geral e irrestrita, um movimento consolidado no final da década de 1970. A letra fala sobre o choro de Marias e Clarisses, em alusão às esposas do operário Manuel Fiel Filho e do jornalista Vladimir Herzog, morto durante o período. 2. EIXOS TEMÁTICOS TRANSVERSAIS: resistência, esperança social, denúncia da realidade brasileira. 3. PARTE DA MÚSICA:

“Mas sei, que uma dor Assim pungente

Não há de ser inutilmente A esperança

[...] Que sonha com a volta

Do irmão do Henfil Com tanta gente que partiu

Num rabo de foguete Chora! A nossa Pátria Mãe gentil

Choram Marias e Clarisses No solo do Brasil”

GABARITO OFICIAL

Nº DA QUESTÃO LETRA CORRETA

LITERATURA CONCRETISTA

QUESTÃO 1 D

QUESTÃO 2 A

QUESTÃO 3 A

QUESTÃO 4 A

Linguística Aplicada – @prof.sergiolima |16

REDAÇÃO NOTA 1000 MÓDULO FRENTE

34 REDAÇÃO

Leia abaixo o texto de Juan Sampaio, que recebeu nota 1000 no Enem 2020, sob o tema “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”.

Durante a Idade Média, as doenças mentais eram associadas à falta de fé, resultando no julgamento de muitas pessoas como hereges. Apesar de datar de séculos passados, o estigma dos transtornos mentais ainda é perceptível no contexto atual, com destaque ao caso do Brasil. Nesse sentido, a persistência dessa discriminação é causada devido tanto à falta de empatia, como à insuficiência estatal no acolhimento das vítimas. Assim, é evidente a necessidade de intervir sobre essa triste realidade de caráter medieval.

A princípio, o exercício escasso da empatia na sociedade brasileira contribui com a manutenção do estigma das doenças mentais. Segundo o filósofo prussiano Immanuel Kant, os indivíduos devem agir conforme o dever moralmente correto, levando em consideração a existência do outro e criando uma lei universal. Entretanto, esse princípio, chamado de imperativo categórico, não é plenamente executado no Brasil, visto que as práticas preconceituosas contra pessoas com problemas psicológicos contradiz a moral de respeito às diferenças individuais. Nessa perspectiva, serve de exemplo o pensamento errôneo no qual o indivíduo que sofre de certas condições psíquicas, como a bipolaridade, seria incapaz de agir na sociedade, desvalorizando seu caráter. Dessa forma, nota-se que esse desrespeito precisa ser desmotivado.

Ademais, a atitude insuficiente do Estado em acolher as vítimas precariamente potencializa a estigmatização. De acordo com os preceitos da Constituição Federal, o governo tem a obrigação de garantir a igualdade de tratamento entre os cidadãos, independente de quaisquer condições pré-existentes. Porém, essa justiça não é comprida (sic) como deveria, já que milhares de indivíduos sofrem com preconceito associado a condições mentais. Tal fato está relacionado à falta de centros dedicados a receber denúncias e a punir os agressores, carência essa mais evidente nas zonas rurais. Com isso, milhares de brasileiros mentalmente doentes permanecem desamparados, indo contra as ideias de igualdade da Constituição. Portanto, percebe-se a prioridade de desestimular o estigma relativo a doenças mentais. Para tanto, é necessário que o Ministério da Educação realize projetos escolares que ensinem o comportamento empático para com aqueles com condições psíquicas clínicas, por meio de aulas e de palestras que ensinem o respeito ao próximo, para que a capacidade dessas pessoas não seja duvidada, permitindo a consolidação do imperativo categórico. Além disso, o Ministério da Segurança deve instalar centros de apoio, em especial no campo, que recebam denúncias e investiguem casos de estigmatização. Dessa maneira, o pensamento medieval de desqualificação dos mentalmente doentes será melhor combatido.

Fonte: cartilha 3.0, de Lucas Felpi.