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soletre mobral

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  • APRESENTAO

    MOBRAL, ao longo dos anos de sua atuao, demonstrou o sucesso de seu projeto fundamental: a alfabetizao de adultos.

    A constatao desse fator dever de Justia e reconhecimento. Graas sua atividade, reduziu-se o ndice de analfabetismo, de 34% em 1970,

    para 19% atualmente. E, o presente ritmo de trabalho do MOBRAL, intensificando medidas que

    visam ao maior controle dos programas desenvolvidos e revitalizao sempre crescente das atividades de recrutamento e mobilizao do analfabeto, atravs

    das comisses municipais clulas bsicas de seu desempenho permite-nos prever, para 1980, um percentual de analfabetos

    em torno de 10%. O MOBRAL no s atingiu seu objetivo prioritrio, como gerou projetos

    paralelos de grande significao na luta peia melhor capacitao do homem brasileiro.

    Por esse motivo o trabalho do MOBRAL tem o pleno reconhecimento do nosso povo e alcana o respeito das naes irms.

    NEY BRAGA Ministro da Educao

    e Cultura

  • o analfabetismo era um mal tido como crnico no Brasil. Mas, no dizer do admirvel historiador Arnold Toynbee, os grandes

    desafos geram grandes respostas. Como atual Presidente do MOBRAL e seu Ex-Secretrio Executivo, de 1972 a 1974, no me restam dvidas quanto ao sucesso e adequao de

    todos os programas do MOBRAL. Seu ritmo, seu mpeto e sua fora inovadora,em nenhum momento desmentiram que esta soluo era a

    resposta acertada para a erradicao do analfabetismo no Brasil. A qualidade dos programas permanentemente avaliada por ns

    mesmos e por terceiros, em termos nacionais e internacionais. E todas as avaliaes realizadas jogam por terra as crticas dos que no podem

    conceber um programa em larga escala, compatvel com nveis claros e insofismveis de qualidade pedaggica.

    Se muito fizemos e mais faremos at o final da dcada, muito se deve ao apoio das autoridades, principalmente do Ministro Ney Braga. Mas,

    fundamentalmente, o sucesso do MOBRAL o sucesso do povo brasileiro em resolver, ele mesmo, os seus problemas, apenas apoiado e

    orientado em algumas aes peia cpula do MOBRAL. Vivemos do engajamento de todos. Por isso mesmo, um amplo esforo de divulgao do fenmeno de alfabetizao e da ao

    do MOBRAL indispensvel. O entusiasmo da Guavira Editores e dos empresrios que com ela colaboram para a edio deste documento, que satisfaz os anseios e

    dvidas do grande pblico, merece do MOBRAL, e de seu Presidente, os mais calorosos agradecimentos.

    Arlindo Lopes Corra Presidente do MOBRAL

  • o lanar agora este SOLETRE MOBRAL E LEIA BRASIL, Guavira Editores oferece ao pblico brasileiro um documento essencial. De todos

    os programas executados no Brasil durante a ltima dcada, o MOBRAL certamente aquele que passar para a histria como o de maior impacto

    revolucionrio. S com o tempo poderemos apreciar o valor de contribuio do MOBRAL para a acelerao do desenvolvimento integrado de uma nao emergente

    do peso do Brasil. Entre os medidores convencionais do progresso, os ndices do saber so os que mais dificilmente se deixam quantificar.

    Recentemente, John Cairns considerado pelos especialistas da UNESCO como uma das maiores autoridades mundiais em programas de educao de base .

    aps um estgio no Brasil, fez a seguinte observao: " O MOBRAL , sem nenhuma dvida, o mais notvel de todos os programas de larga

    escala atualmente em execuo no Terceiro Mundo." O livro que agora publicamos oferece ao leitor uma imagem global do

    Movimento. Peia primeira vez foi possvel reunir os dados essenciais que permitem compreender a filosofia e a metodologia do MOBRAL, os custos das operaes e

    os primeiros grandes resultados. Mas a conquista fundamental do MOBRAL continua sendo esta: o povo brasileiro tomou conscincia, atravs desse

    Movimento, de que a erradicao do analfabetismo da responsabilidade desse prprio povo, como um todo. Sem esta conscientizao, o esforo governamental

    seria forosamente artificial. Mas, como tudo o que humano forosamente imperfeito, o MOBRAL

    est sujeito a um processo de reviso permanente. Esta reviso tambm tarefa de todo o povo brasileiro. A proposta do livro simples: oferecer o MOBRAL ao debate comunitrio, recolher a contribuio do povo e aprimorar ainda mais o

    sistema.

    Gustavo de Faria EDITOR

  • O MOBRAL, em cinco anos de ao continuada, distribuiu 136 milhes de

    livros e 215 de jornais educativos. Esse material inundou as escolas urbanas e

    rurais em todos os municpios brasileiros.

  • Em termos nacionais, a contagem dos analfabetos realizada pelos Censos que, de 1872 a 1970, tm processado essa apurao.

    O conceito utilizado pelos Censos no Brasil, a cargo do I.B.G.E. Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Esta-tstica o mesmo que reconhe-cido pela entidade internacional a ONU , que publica os ndices de analfabetismo para todo o mundo em seu "Demographic Yearbook".

    CONCEITO INTERNACIONAL

    CONCEITO NACIONAL

    Segundo a UNESCO (rgo ofi-cial da ONU para Educao e Cul-tura), analfabeto a pessoa de 15 anos ou mais que nao saiba 1er ou escrever um pequeno texto em al-gum idioma. A UNESCO adota o termo semi-analfabeto para aquele que saiba 1er e nao saiba escrever ou saiba escrever e no saiba 1er um pe-queno texto. Em suas tabulaes ofi-ciais, entretanto, considera o semi-analfabeto, nos clculos dos ndices de analfabetismo. Pelo fato de al-guns pases adotarem seus prprios conceitos de "alfabetizado", como, por exemplo, o que considera como tal a pessoa que saiba 1er e escrever um pequeno texto na lingua nacional, no aparecem em suas tabulaes. Importante, ainda, lembrar que nem sempre nos recenseamentos realiza-dos, por diversos pases, o analfa-beto identificado pelos critrios de-terminados pela UNESCO.

    No Brasil so consideradas alfabe-tizadas as pessoas capazes de 1er e escrever um bilhete simples em qualquer idioma; as pessoas que apenas assinam o prprio nome so consideradas analfabetas.

    Como em qualquer parte do mundo, os recenseamentos so feitos atravs .de questionrios isto , pergunta direta ao recenseado nao se exigindo, no caso de alfabeti-zao, qualquer prova de sua habili-dade e, dependendo da estrutura scio-econmica em que esse se en-contre, a sua resposta ser positiva ou negativa. Provavelmente, os erros cometidos nesse tipo de inqurito, algebrica mente, se anulam.

    Como se v, os conceitos utiliza-dos, nacional e internacionalmente, pelo Brasil e pela ONU, so exata-mente os mesmos.

    Nada impede, porm, que eles venham a ser revistos, j que abor-dam conceitos estritamente conven-cionais. Na verdade, bem antes dos 15 anos, uma criana analfabeta , objetivamente, um analfabeto, que o sistema regular tende a rejeitar por se apresentar descompassado em re-lao s demais crianas da primeira srie do ensino fundamental.

    uma noo mais do que clara que a presena do analfabetis-

    mo significa um dos indcios mais evidentes do grau de subdesenvol-vimento de um Pas. Como se diz modernamente, a taxa de analfabe-tismo percentagem de analfabetos na populao um dos mais des-favorveis "indicadores sociais" de uma comunidade. Se esse percen-tual for consideravelmente alto, te-remos um verdadeiro "indicador de mal-estar sodai". So de tal ordem os malefcios provocados pelo anal-fabetismo, que ele visto como uma praga, merecendo, habitualmente, a utilizao do verbo erradicar: arran-car pelas razes. Para que no venha, mais tarde, a prejudicar a vida das populaes que dele conseguiram se livrar, mas sbre as quais ainda permanece alguma ameaa, seja por essas populaes ou seus descenden-tes.

    Ainda que todos saibam o que significa o caso de uma pessoa anal-fabeta, poucos conhecem, verdadei-ramente, quai a conceituao pre-cisa, utilizada pelos rgos que fa-zem a sua pesquisa, e sobre que parte da populao se faz a conta-gem dos analfabetos.

  • Os professores engajados no movimento de alfabetizao usam todos os tipos de transporte. O Brasil ocupado, pelas equipes, palmo a palmo. Por isso, o

    MOBRAL excepcional instrumento de pesquisa geral, porque penetra nos

    lugares mais remotos, em misso apostlica. Milhares de professores e de

    escolas formam a mquina de alfabetizao exemplo para o mundo.

  • Qualquer espao serve para instalar escolas casebres e salas modernas. Importante, mesmo, alfabetizar. O

    MOBRAL baixou a taxa de analfabetismo para menos de 20%.

    Eis a verdade dos nmeros.

  • Oanalfabetismo no Brasil, como j vimos, foi medido pelos Censos desde 1872 at 1970. Atual-mente, o I.B.G.E. realiza, tambm, aferies anuais, utilizando a tcnica de amostragem atravs da P.N.A.D. (Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares), que permite se visua-lize, nos anos intermedirios aos Censos, uma avaliao de alguns dos principais elementos do comporta-mento da populao brasileira.

    O analfabetismo no Brasil evoluiu, no perodo de 1872/1970, da ma-neira demonstrada no quadro 1.

    Como est claro neste quadro, o nmero absoluto de analfabetos total de analfabetos cresceu, de Censo para Censo, nos ltimos 50 anos, mas o nmero relativo o percentual de analfabetos vinha crescendo, sistematicamente, desde 1872, apesar do aumento substancial da populao, ainda que esta queda se efetuasse em um ritmo muito lento.

    O l t i m o C e n s o d i s p o n v e l quando da criao do MOBRAL em 1967 o Censo de 1960 apre-senta o Brasil com quase 40% de analfabetos, o que demonstrava uma situao incompatvel com uma so-ciedade empenhada em desen-volver-se rapidamente, e que no poderia, portanto, conviver com n-dices como estes, se se propusesse, de fato, a uma verdadeira arrancada no seu desenvolvimento scio-poltico-econmico.

    Por volta de 1970, a situao do Brasil, face ao resto do mundo, fica demonstrada pelos nmeros do quadro 2.

    Em relao, especificamente, ao ano de 1970, data do ltimo Censo realizado, interessante destacar al-gumas caractersticas bsicas do analfabetismo no Brasil. Observa-se que ele atinge, com maior ou menor incidncia, as mulheres e os homens, as diversas regies do Pas, as zonas rurais e urbanas e a fora de tra-balho.

    evidente que, em um trabalho de maior profundidade, pode-se es-tabelecer diversos "cruzamentos". Isto , alm de se analisar o analfa-betismo dentro de uma determinada regio, por sexo, peia caracterstica rural ou urbana, pode-se buscar ou-tras informaes capazes de esclare-cer mais alguns aspectos do fen-meno.

    Esses detalhes, no entanto, inte-ressam a documentos mais tcnicos e, no caso, basta mostrar aqueles itens que nos paream mais signifi-cativos da situao geral do analfa-betismo no Brasil.

    No quadro 3 , podemos veri-ficar que a Regio Nordeste, embora no seja a que tem a maior popula-o total, a que apresenta o maior ndice de analfabetismo, tanto do sexo feminino como do masculino. Nela se encontra quase a metade das mulheres analfabetas e cerca de 45% dos homens analfabetos. Outro as-pecto interessante refere-se s dife-renas entre os ndices de analfabe-tismo da populao masculina e fe-minina. Se olharmos o Brasil como um todo, verificaremos que o ndice de analfabetismo da populao fe-minina cerca de 2% maior que o da populao masculina. No en-tanto, quando descemos a uma an-lise regional, vemos que essa supe-rioridade no permanece constante. Ela oscila desde 3% na Regio Nor-deste, at 40% na Regio Sudeste.

  • Esse pequeno diferencial de 3% do analfabetismo feminino sbre o masculino na Regio Nordeste leva-nos a constatar que a pobreza , in-felizmente, o maior nivelador dos seres humanos. Homens e mulheres, quando afogados em situao de ex-trema penria, se encontram na mais injusta e indesejvel das igual-dades. Essa igualdade mais perni-ciosa que todas as outras surgidas nas regies mais desenvolvidas e que, atualmente, so combatidas com a maior energia.

    Embora a maior parte da popula-o brasileira seja urbana, na zona rural encontram-se quase dois teros dos analfabetos do Brasil. Levando-se em conta as concentraes de analfabetos, veremos que a Regio Sudeste responsvel por quase a metade da populao urbana analfa-beta e, na Regio Nordeste, por mais da metade da populao rural anal-fabeta.

    Comparando-se os ndices de analfabetismo das zonas urbana e rural, constatamos que a Regio

  • Cinco Anos. O bastante para o MOBRAL alfabetizar 8.657.054 brasileiros, que

    viviam dentro da escurido social.

  • Norte apresenta a maior distoro o indice de analfabetismo da zona rural trs vzes maior que o da zona urbana. Na Regio Nordeste ocorre menor distoro o ndice da zona rural o dobro do ndice da zona urbana.

    Em termos de Brasil, essa dife-rena do ndice de analfabetismo da populao rural de pouco mais de duas vezes e meia em relao ao n-dice de analfabetismo da zona ur-bana.

    Mais adiante, veremos como esses ndices de analfabetismo, sempre bem m a i o r e s n a r e a r u r a l , refletem-se, negativamente, no de-sempenho da Economia.

    A fora de trabalho (populao econmica ativa) do Brasil, corres-pondente a 29,5 milhes de pessoas do setor primrio (agricultura e pe-curia), era de 13,5 milhes de pes-soas, em 1970. Desses 29,5 milhes, 10,6 milhes eram analfabetos, e 7,7

    milhes estavam trabalhando no se-tor rural da economia brasileira.

    Somente essa situao j justifica, sobejamente, a arrancada contra o analfabetismo. Alis, uma idia sempre presente na vida nacional.

    Ao longo de toda a Repblica, brotaram inmeros movimentos na tentativa de difundir o ensino ele-mentar como instrumento de com-bate ao analfabetismo, j que a Lei Saraiva de 1882 somente permita o alistamento eleitoral a quem domi-nasse a leitura e a escrita. O advento da Repblica colocou em foco o problema da democracia liberal por meio do voto, mas o fato que a Constituio de 1891 incorporou a Lei de 1882, alijando o analfabeto da representao poltica.

    Em 1915, surge a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, nascida no Clube Militar do Rio de Janeiro, e desenvolveu-se um verdadeiro "en-tusiasmo pela educao", que, mani-festado em favor da difuso do en-sino elementar atuou, fundamen-talmente, no quadro poltico.

    Miguel Couto, sobrepondo-se luta pelo poder atravs do voto, pronuncia-se em dimenso humani-tria a favor da alfabetizao, em 1920, e v a educao como princi-pal problema nacional.

    Seguem-se inmeras manifesta-es de brasileiros ilustres na luta peia educao principalmente peia educao elementar at que, em 1930, marca-se o evento de cria-

    o do Ministrio da Educao e Sade Pblica. Com a Revoluo de 30 aparecem, em 1932, a Cruzada Nacional de Educao e, em 1933, a Bandeira Paulista de Alfabetizao. No entanto, somente no final dos anos 40, incio dos anos 50, o tema da educao de adultos redesco-berto, com o MEC solicitando aos Estados a simplificao do ensino supletivo.

    Durante os anos 50 foi bastante acentuada a controvrsia do voto do analfabeto e tambm lanadas algu-mas experincias de alfabetizao de adultos em massa, como o Plano Na-cional de Alfabetizao, o Movi-mento de Educao de Base (MEB), que permanece atuante at hoje, e a Cruzada ABC, que sobreviveu at 1970, quando o MOBRAL passou a atuar, efetivamente, no combate ao analfabetismo.

  • O MOBRAL matriculou 21.334.141 analfabetos, correspondentes populao da Argentina e ao dobro da populao da Austrlia. Matriculou mais que as populaes somadas do Chile, Bolvia,

    Equador e Paraguai.

  • Somos, agora, 107 milhes de brasileiros, com fora de trabalho de 34 milhes. O MOBRAL aumenta a populao ativa e

    mercado interno.

  • e foi, progressivamente, sendo ab-sorvido pelo MEC que, nesses lti-mos 10 anos, realizou considerveis progressos na formulao dos seus projetos em todos os nveis de en-sino.

    O MOBRAL no surgiu, portanto, como mais uma tentativa isolada de, em verdadeira cruzada, derrotar o analfabetismo. Surgiu dentro de um acentuado esprito reformista que atuava e atua , fundamental-mente, na expanso e apoio ao en-sino regular. Tanto isso verdade, que a primeira grande medida ino-vadora depois de 1964 foi a Lei do Salrio-Educao, instituindo uma Previdncia Social. Representado peia importncia correspondente ao custo do ensino primrio dos filhos dos seus empregados em idade de escolarizao obrigatria, o salrio-educao destinado a suplementar as despesas pblicas com a educao elementar (Artigo 1. da Lei).

    Em s u m a , c o m e a v a - s e a implantao de uma fase de grandes reformas e de expanso dos sistemas educacionais, criando-se uma nova fonte de recursos para o antigo en-sino primrio.

    Essas reformas tiveram continui-dade com a implantao pioneira dos "Ginsios Polivalentes", 400 unidades construdas em alguns Es-tados brasileiros, com uma nova mentalidade, onde predomina a busca de solues inovadoras para o antigo ginsio. Estava lanado o PREMEM Programa de Expanso de Melhoria do Ensino Mdio

    que, de certa forma, em muito con-tribuiu para que se tentasse uma nova e ampla lei de reforma do En-sino Fundamental, o que veio a se concretizar com a Lei 5.692, de 11.08.71. Essa Lei, promulgada em pleno esforo de operao do MO-BRAL teve, entre seus mritos, o de demonstrar que o sisterna regular l. e 2. graus e o sistema suple-tivo onde a alfabetizao do MO-BRAL o primeiro passo consti-tuem, na verdade, partes que se so-mam e se integram, jamais concor-rendo entre si.

    Extremamente relevante o fato de que a expanso do ensino ginasial e cientfico/clssico o antigo en-sino secundrio democratizou-se, excepcionalmente, depois de 1964.

    Em 1960, 65% das matrculas do ensino secundrio eram referentes ao ensino privado, enquanto, pelas ltimas estasticas disponveis, refe-rentes a 1972, a situao se inverteu totalmente, passando a haver uma predominncia macia do ensino pblico: 67% das matrculas perten-cem ao ensino pblico, ficando ape-nas 23% com o ensino particular.

    idia da difuso da educao elementar, como instrumento

    de combate ao analfabetismo, foi in-tensamente debatida durante toda a Repblica pelos aspectos polticos que encerrava e, tambm, pela idia de que se tratava de uma ver-dadeira Cruzada Cvica, uma Ban-deira, um Movimento Nacional. Em todas as colocaes, a tnica era a de que um problema dessa magnitude s seria resolvido se empolgasse todo o Pas, com a adeso plena de todos os brasileiros.

    A partir de 1964, o antigo "entu-siasmo pela educao" passa a ser considerado o ponto fundamental do processo de desenvolvimento brasileiro. Todos os Planos realiza-dos depois de 1964 consagram a Educao como setor prioritrio da vida nacional.

    O Ministrio do Planejamento, de grande destaque na Administrao Pblica, realiza o primeiro "Diagns-tico da Educao Brasileira", base do Plano Decenal de Desenvolvimento Econmico e Social, a vigorar no pe-rodo de 1967 a 1976. Tratava-se do primeiro esforo sistemtico de pla-n e j a m e n t o e r e n o v a o da administrao da Educao no Brasil

  • A alfabetizao funcional, porque ampara e estimula o

    homem na sua funo de trabalho. O treinamento

    profissional tambm consta de suas metas. Opera com modelo prprio para atender escala

    da fora de trabalho.

    O ensino superior foi motivo de um grande programa de expanso quantitativa, pois as matrculas tive-ram um crescimento explosivo, saindo de 142 mil alunos, em 1964, para 937.593, em 1974, o que repre-senta um crescimento de 660%.

    Este considervel aumento de oportunidades foi realizado durante uma reforma em profundidade, em que diversos grupos de trabalho, reunindo tcnicos de vrios Minist-rios, estabeleceram as bases para o novo sistema universitrio brasileiro. Esses trabalhos foram apresentados ao longo do ano de 1968, e deram origem a novas estruturas do ensino superior brasileiro.

    Outras medidas de grande relevo, tomadas em relao ao setor educa-cional, foram a utilizao dos recur-sos do Governo Federal enviados aos Estados e Municpios, que passaram a se destinar, obrigatoriamente, ao ensino regular (20% do Fundo de Participao dos Estados e Munic-pios); a determinao de concluso da cidade universitria da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro, obra iniciada h. cerca de 30 anos (Ilha do Fundo); a implantao da ps-graduao do ensino superior; o salrio-mnimo dos professores do 1. e 2. graus; a implantao do sa-lrio dos professores universitrios em regime de tempo integral e dedi-cao exclusiva; e a obrigatoriedade dos planos estaduais de -educao. Como fica claro, o esprito de expan-so e reforma envolveu todos os ra-mos do ensino no Brasil, sempre no

    desejo de fortalecimento dos siste-mas regulares de ensino.

    Todas essas medidas pem em re-levo a criao do MOBRAL peia Lei 5.379 do Congresso Nacional, em 15.12.67. Essa Lei no foi produto, apenas, dos estudos e prioridades definidas pelos gabinetes tcnicos do Governo Federal, mas contou, tam-bm, com a colaborao dos con-gressistas brasileiros, em uma poca em que o Congresso estava partici-pando, intensamente, do processo revolucionrio e refletia, tambm, as aspiraes e a viso de inmeros segmentos da opinio pblica. Surge, portanto, com a ampla cola-borao de inmeros setores da vida brasileira, e sua elaborao se deu em pleno apogeu da montagem da mstica da educao no Brasil. Essa mstica,da qual o MOBRAL o sm-bolo mais legtimo, e, tambm, bene-ficirio, faz parte da viso que os brasileiros, em sua totalidade, passa-ram a ter da Educao, como infra-estrutura prioritria do desenvolvi-mento nacional.

    O povo brasileiro incorporou s suas aspiraes de ascenso social uma verdadeira escalada educacio-nal, em que o MOBRAL atua du-plamente. Primeiro, porque aciona o esforo de todos para que seja defi-nitivamente erradicado o analfabe-tismo. Depois, porque demonstra que, a qualquer tempo, os sistemas educacionais esto abertos e desejo-

  • sos de que todos os brasileiros de-senvolvam as suas aptides. O MO-BRAL , na verdade, o resgate de uma dvida que as atuais geraes tm com as geraes passadas, que no dispuseram dos benefcios de um sistema educacional regular, que hoje se quer proporcionar a todas as crianas.

    At mesmo a controvertida pre-sena de crianas, nas salas do MO-BRAL, concorreu para acelerao de providncias e aumento dos re-cursos para o ensino fundamental. Esses recursos so provenientes de maior percentual para o salrio-educao e Fundo de Participao dos Estados e Municpios, sendo parte substancial obrigatoriamente destinada ao setor educacional.

    No h dvida de que existe, hoje, um "sonho brasileiro", que cada um de ns acalenta para si mesmo e para seus descendentes, quai seja o de participar, mais intensamente, do desenvolvimento nacional, e com posies de maior realce na socie-dade, na medida em que maior for o nvel de ensino que cada um conse-guir alcanar.

    Observe-se que os analfabetos, j recuperados, passam a ter um com-promisso de aperfeioamento e for-talecimento das bases dos sistemas regulares de ensino.

  • Quando o MOBRAL comeou (1970), o Brasil era esmagado por 40% de analfabetos. Mais da metade das

    mulheres, no Nordeste, eram analfabetas, e 45% dos homens. Na Grande Regio

    Norte (mais da metade do Brasil) o ndice de analfabetismo era trs vezes maior na rea rural que na urbana.

  • O MOBRAL penetrou nos 3.953 municpios brasileiros. E alfabetizou

    volume de pessoas equivalente populao da Sucia, Austria e

    Portugal. De cada grupo de 100 conveniados (isto , matriculados), 80

    chegaram ao final do curso e 40 foram alfabetizados. Cada pessoa arrancada do analfabetismo custou 110 cruzeiros. Foi

    assim que o Governo pode suportar o. custeio dessa cruzada cvica.

  • MOBRAL, criado por Lei em 1967, s iniciou realmente suas

    operaes em 08.09.70, dia consa-g r a d o , i n t e r n a c i o n a l m e n t e , Alfabetizao. Era fundamental . para o pleno sucesso do empreen-dimento, que existissem recursos su-ficientes para a montagem de um esquema que se soubesse, desde o incio, capaz de atender aos quase 20 milhes de analfabetos de mais de 15 anos, apontados pelas pesquisas do I.B.G.E.

    Os recursos viriam, fundamen-talmente, de uma parcela da Loteria Esportiva Federal, que tambm, na-quele ano, iniciava os seus primeiros testes. Esses recursos, inicialmente, eram de difcil previso e, para ga-rantia de um suprimento regular de d i n h e i r o , c r iou-se , a t ravs do Decreto-Lei 1.124, de 1970, a possi-bilidade de dedues no Imposto de Renda, para os empresrios que pre-tendessem colaborar com o MO-BRAL.

    Mais do que recursos, essas dedu-es permitiram o engajamento de um setor de grande dinamismo e responsabilidade na vida nacional que, ao valorizar o MOBRAL, ge-rava a adeso de inmeras outras parcelas da populao.

    O MOBRAL bom que se frise recebeu, apenas no seu primeiro ano, uma quantia igual a 6,75% do faturamento da Loteria Esportiva Federal.

    Em virtude do grande impacto da Loteria Esportiva Federal, o MO-BRAL teve a sua parcela imediata-mente reduzida para 5,4% do fatu-ramento da LEF, em proveito de ou-tros programas do Ministrio da Educao, passando a ser o menor dos beneficirios da Loteria. A imagem dis-torcida de que o MOBRAL o maior dos beneficirios da Loteria predomina, infelizmente, at hoje talvez pelo fato de o MOBRAL estar sempre presente no noticirio, e en-volver milhes de pessoas mesmo quando esses recursos, em 1976, re-presentavam apenas 4,3% do fatu-ramento da Loteria. Essa reduo foi realizada em proveito de um Fundo, administrado pela Caixa Econmica Federal, destinado a so-correr outros projetos na rea So-cial. No h dvida, portanto, de que o MOBRAL se ressente de falta de recursos, principalmente quando se torna cada vez mais difcil atingir os que, por inmeras razes, ainda permanecem analfabetos. Razes, s vezes, de natureza orgnica, j que essas pessoas apresentam dificulda-des na aprendizagem da alfabetiza-o, por serem portadoras de defi-cincias visuais, auditivas, cerebrais, etc.

    Voltemos ao incio do MOBRAL. Onde est o segredo do seu sucesso? Um sucesso tao rpido e tao mar-

  • cante, que se tornou de difcil explicao, j que no bastavam os recursos financeiros para garantir o xito de um programa social nessa escala: 20 milhes de pessoas a se-rem alfabetizadas e espalhadas por todo um Pas de dimenses conti-nentais.

    Afinal, os projetos sociais apresen-tam muito maior complexidade do que os projetos industriais. Uma f-brica, por exemplo, ou projetos vi-rios estradas de ferro e de roda-gem. Esses cuidam de coisas concre-tas, enquanto os projetos sociais tra-balham com pessoas, todas iguais, mas tambm profundamente dife-rentes em relao aos seus anseios, aspiraes e vontades.

    Alm disso, em nenhum Pas do nvel de desenvolvimento do Brasil, projetos de alfabetizao tinham al-canado xito, e o rgo oficial da ONU para Educao recomendava projetos experimentais, de pequeno porte e elevado custo por alfabeti-zado, incompatveis com as necessi-dades brasileiras.

    Mesmo internamente, havia no Brasil quem nao acreditasse no xito ou na necessidade desse projeto. Al-guns at mesmo temerosos das con-seqncias de serem levantadas, com demasiada rapidez, as aspiraes de uma grande massa, aprisionada, at ento, em horizontes brutalmente

    estreitos. O Governo Mdici, atravs de seu Ministro da Educao, Jarbas Passarinho, enfrentou o desafio, atraindo uma personalidade que imprimisse, ao Movimento, a credi-bilidade e a aceitao que lhe seriam indispensveis. Assumiu a Presidn-cia do MOBRAL, o Professor Mrio Henrique Simonsen, atual Ministro da Fazenda, que, imediatamente, se dedicou tarefa de equacionar o es-quema da operao que iria ser de-flagrada.

    Nesse esquema reside o segredo do sucesso do MOBRAL. O ponto-chave do xito do MOBRAL est no fato de entregar, aos Municpios, a tarefa de executar diretamente o projeto de alfabetizao. Cabe ao Ministrio, atravs do Prefeito e das lideranas locais, a tarefa de acionar toda a comunidade para um verda-deiro esforo conjunto um muti-ro; de recrutar os analfabetos, des-cobrir salas de aula em qualquer lo-cal possvel; contratar os alfabetiza-dores e prover as salas do material necessrio mais fcil de ser encon-trado no local: giz, quadro-negro, lpis, borracha, etc.

    Ao MOBRAL CENTRAL e s Coordenaes Estaduais, montadas na capital de todos os Estados e Ter-ritrios, cabe, atravs de convnios com os Municpios, pagar os profes-sores, enviar material didtico, trei-nar os alfabetizadores, ensinando-Ihes, corretamente, o mtodo de alfabetizao empregado pelo MO-BRAL, supervisionar e controlar a execuo dos convnios.

    O convnio o mesmo para todos os Municpios e alguns de seus as-pectos devem ser destacados:

    a) Os alfabetizadores so pagos por aluno presente nas salas de aula at o 4. ms de curso, curso esse que tem a durao de 5 meses. No sendo pago por aluno alfabetizado, o professor ser, naturalmente, ri-goroso com a aprovao, alm de lu-tar para que seus alunos permane-am em sala evitando a desero j que so descontados, do seu sa-lrio, os alunos ausentes. Nos Muni-cpios mais ricos, onde o salrio pago pelo MOBRAL considerado pe-queno, o prprio Municpio com-pleta esse salrio com recursos pr-prios, motivando, assim, os alfabeti-zadores.

    b) O material didtico a pea mais importante dentro da mecnica implantada. o mesmo para todo o territrio nacional, realizado com o mximo de cuidado grfico, o que representa um formidvel e ime-diato estmulo aprendizagem.

    Graas s tiragens de milhes de exemplares que adquire o MO-BRAL j comprou 136 milhes de livros e mais de 215 milhes de jor-nais , os preos pagos pelo MO-

  • na poca e da maneira mais satisfa-tria, a fim de que as metas esta-duais sejam cumpridas. E mais: apoiando-as com um amplo corpo de Supervisores que se deslocam cons-tantemente 1 para cada 6 Muni-cpios , o MOBRAL garante a qua-lidade e o acompanhamento dos seus programas, em permanente contato com os Municpios e as di-versas pessoas que, nesses Munic-

    pios, constituem as Comisses Muni-cipais do MOBRAL.

    Todos esses elementos referidos acima, aliados ao reconhecimento e mesmo ao desejo latente de todo o povo de erradicar o analfabetismo, conduziram a um notvel esforo de integrao nacional. E essa integra-o atua atravs de uma nica via a lngua nacional ensinada por um mesmo mtodo e do mesmo mo-delo de ao para todos os Munic-pios, fazendo com que nenhum es-foro nacional supere o MOBRAL na tentativa de consolidar, firme-mente, a unidade da nao brasi-leira.

    E, peia continuidade que d ao seu programa de alfabetizao fun-cional, atravs de inmeras outras atividades, o MOBRAL, mais do que o resgate de uma dvida social, uma vasta e talvez ltima tentativa para levantar o nvel de vida das populaes marginalizadas. um projeto de emerso social, poltica e econmica de uma parte consider-vel da populao adulta brasileira que, apenas, dava o seu suor ao Pas, e pouco ou quase nada recebia desse mesmo Brasil que ajuda a construir.

    BRAL so baixssimos, pois utilizam capacidade ociosa de diversos par-

    ues grficos e editores do Pas. Esse material faz parte de um m-

    KO que permite atender s particu-iridades de cada regio, a partir de alavras simples e usuais, como: ti-do, comida, etc. ... de uso freqente comum em todo o Brasil. c) As Coordenaes Estaduais

    rientam as Prefeituras para agirem

  • Outro aspecto importante do modelo MOBRAL o da captao de vocaes.

    Esse detalhe conduz poltica do Desenvolvimento Nacional.

  • STAVA lanado o Movimento. Mas o que, de fatg, produziu

    esse Movimento? Quai foi o seu ritmo? Quantos por ele foram en-volvidos?

    Basta observar as suas principais estatsticas com esprito crtico, para que estas respostas sejam obtidas.

    Como j foi dito, o MOBRAL tra-balha mediante convnios com os Municpios. Ao serem assinados es-ses convnios, nele se constata o nmero de pessoas que, naquele Municpio, em todas as suas salas, iro participar do programa de Al-fabetizao. Surge, ento, a figura do conveniado . Ao longo do curso, se no freqentar as aulas e o professor no recebe mais por esse aluno , ele passa a ser considerado como "evadido" ou "desertado". Nesses anos de atuao do MO-

    BRAL, o nmero de evases ou de-seres fica em torno de 18% em re-lao aos que iniciaram o curso. Nunca esse ndice superou 20%, e atualmente no chega a 10%.

    Resta saber quantos, tendo feito o curso, alcanaram o sucesso e foram considerados, de fato, "alfabetizados". Esses, em geral, representam, ape-nas, a metade daqueles que chega-ram ao fim do curso. Porque a ava-liao rigorosa e o MOBRAL quer encarar a realidade tal como ela se apresenta. Assim, se somarmos as perdas do programa, teremos, em mdia, nos 5 anos, a seguinte situa-o: para cada 100 pessoas conve-niadas, 80 chegam ao final do curso e, dessas 80, apenas a metade 40 pessoas so consideradas alfabeti-zadas. o que chamamos de "pro-dutividade" do MOBRAL. Em cada 100 conveniados, 40 so alfabetiza-dos. Esses 40% so satisfatrios em um programa de massa como o MOBRAL e demonstram a preocu-pao qualitativa de alfabetizao.

    Qual seria o sentido de uma orga-nizao apresentar ndices aparen-temente baixos de "produtividade", seno a certeza de que s importa fazer um trabalho srio, cada vez mais qualitativo, mesmo trabalhando com milhes de pessoas?

    O quadro que se segue mostra, para os anos 1970 a 1975, o que foi o desempenho do MOBRAL:

    A experincia nossa: os chamados cartazes geradores da mensagem que desbrava o analfabeto. A tcnica vem

    produzindo os melhores resultados em todas as reas.

    o Brasil despertando.

  • Esses nmeros revelam que o MOBRAL j matriculou, apenas no seu programa de alfabetizao, uma quantidade de pessoas equivalente a toda a populao da Argentina, quase o dobro da populao da Aus-trlia, ou as populaes do Chile, Bolvia, Equador e Paraguai soma-das. O nmero de alfabetizados equivale a toda a populao da Su-cia, da ustria e de Portugal.

    Pergunta-se: os nmeros apresen-tados pelo MOBRAL so dignos de confiana? No cabe ao MOBRAL responder, e sim ao IBGE, nico r-go que, no Brasil, periodicamente, avalia o analfabetismo. E os dados do IBGE, at 1973, que so os lti-mos disponveis, coincidiram com os nmeros apresentados pelo MO-BRAL. Os dados do IBGE so pes-quisados nacionalmente, mas mesmo aquelas investigaes realizadas em locais delimitados, como o recente Censo Escolar da Cidade do Rio de Janeiro, comprovaram que a taxa de analfabetismo sofreu reduo de

    10% em 1970 (j ento a menor do s), chegando a 5% em 1975.

    Verifica-se, uma vez mais, e atra-vs da iseno de entidades autno-mas, a veracidade das afirmaes do MOBRAL. Esse Censo mostrou, in-clusive, como o MOBRAL crite-rioso com as suas informaes, pois estimava, para 1975, na antiga Gua-nabara, um ndice de mais de 6%.

    Eis a avaliao basicamente quanti-tativa da ao do MOBRAL, com as explicaes dadas sobre o conceito de "produtividade". Os nmeros apresentados espelham um desem-penho altamente qualitativo.

    Antes de abordarmos especifica-mente esse ngulo, vamos tentar es-clarecer, ainda que superficialmente, como funciona o mtodo de alfabe-tizao do MOBRAL. Esse pro-grama chama-se, por extenso, Alfa-betizao Funcional , funcional porque pretende que a alfabetizao ampare e estimule o Homem a ser alfabetizado em sua funo no trabalho, na sociedade, e na vida, enfim.

    Esse conceito envolve o ajusta-mento do Homem para o trabalho, ao contrrio das tradicionais expe-rincias de alfabetizao, que pre-tendiam, de imediato, o ajustamento do Homem alfabetizado para um tra-balho, o que implicava no custo proi-bitivo dos programas. Alm dessa abordagem sobre os custos, o MO-BRAL entende que preparao para uma profisso definida uma etapa posterior a ser desenvolvida por ou-tras entidades. O MOBRAL, sempre fiel s suas caractersticas, procura avanar no treinamento profissional

    de uma maneira prpria e inova-dora,que ser, na verdade, capaz de atender s escalas da fora de tra-balho do Brasil. Em 107 milhes de brasileiros, a fora de trabalho igual a 34 milhes de pessoas e, por-tanto, justifica-se um verdadeiro MOBRAL PROFISSIONAL, que ser o elo entre o ensino proporcio-nado, atualmente, pelo MOBRAL, e o ensino tcnico favorecido pelas or-ganizaes com tradio no setor: SENAI. SENAC, etc.

    Como j foi dito, o mtodo do MOBRAL baseia-se em palavras de grande uso em todo o territrio na-cional, chamadas de palavras gera-doras: escola, comida, sapato, tijolo, e outras. So escolhidas porque fa-zem parte do dia-a-dia das pessoas (educao, alimentao, vesturio. emprego e habitao) e. em conse-qncia. tomam-se de fcil utiliza-o.

    De incio, o sistema enquadra o aluno que no l, ou sequer v es-crita uma palavra. Mas, ela, a pa-lavra, j est presente, em imagem, em cada cartaz apresentado pelo professor: o chamado cartaz gera-dor.

  • - As multides vo se alfabetizando. O risco de regresso, to repisado,

    mantido sob controle. O aproveitamento de 40%

    satisfatrio num projeto de massa.

    O cartaz gerador que, antes de ser lanado em classe, j foi conhecido, compreendido e interpretado pelo professor com a ajuda das suges-tes do Guia de Alfabetizador, livro essencial do Conjunto Didtico para o Curso de Alfabetizao Funcional do MOBRAL busca estimular dis-cusses e debates sobre o tema que ele apresenta. E essa temtica , di-retamente, ligada ao significado da palavra geradora, que ser deduzida do cartaz.

    Deslnibindo os alunos nas primei-ras aulas e estimulando-lhes moti-vaes internas, o debate sobre o cartaz gerador desperta-lhes, igual-mente, o interesse, levando-os ao, isto , descobrir, concluir e fi-xar. O papel do alfabetizador o de conduzir o grupo reflexo atravs de perguntas (surgidas de tcnicas adequadas de grupo), auxiliando-o na comunicao e expresso com clareza de seus pensamentos, expe-rincias e concluses. A sntese das concluses e idias principais surgi-das durante o debate constitui-se na etapa final de fixao dos conheci-mentos obtidos.

    So os seguintes os passos bsicos da Alfabetizao do MOBRAL: 1. Apresentao e explorao do cartaz gerador; 2. Apresentao da palavra gera-dora, destacada do cartaz; 3. Decomposio silbica da palavra geradora; decomposta a palavra ge-radora em slabas, torna-se necess-rio fazer o aluno perceber a funcio-nalidade dessas slabas, senti-las vi-

  • feira

    ainda, os programas que continuam a Alfabetizao Funcional: o Pro-grama de Educao Integrada, em 12 meses, correspondente s 4 pri-meiras sries do ensino do 1. Grau, e o programa MOBRAL CULTU-RAL.

    Em "Como Despertar o Gosto peia Leitura", Chadly Fituri, Consultor da ONU, diz com propriedade:

    "O que todos esperamos, ao 1er um livro, encontrar um homem que seja como ns somos, viver tristezas e alegrias que ns mesmos no temos coragem de provocar, sonhar sonhos que faam a vida mais excitante, talvez descobrir uma filosofia de vida que nos permita en-frentar os problemas e obstculos que nos assaltam."

    essa a base de propsitos do MOBRAL, no ensino de leitura sua clientela de adolescentes e adul-tos analfabetos. Adultos e adolescen-tes que anseiam pelo encontro do livro e do mundo sonhado e para os quais a leitura ser, alm da luz e do sonho, a ferramenta que lhes permi-tir vencer os obstculos e emergir profissional e socialmente.

  • A leitura de participao vai ao encontro do interesse imediato do adulto analfabeto e nos permite a economia de etapas. O gosto pela lei-tura no espera a aprendizagem da lei-tura. As duas fases so simultneas, atravs de um mtodo cjue postula, no incio e ao longo do processo de alfabetizao, o engajamento, a identificao do aprendiz com o ob-jeto de aprendizagem, o reconheci-mento do contedo enquanto se aprende a forma, porque ambos no podem ser dissociados. Assim se l vivendo, aprendendo e gostando.

    Ao aluno que aprende a 1er, no basta identificar, peia memria, a palavra lida. necessrio que essa identificao, mais que isso, essa vi-vncia, tanto prvia quanto posterior leitura, encante o aluno, tocando a sua sensibilidade e elevando-o para a verdadeira magia do aprendizado. E a palavra, despertada por lembran-as calcadas nas experincias e co-nhecimentos de cada um, desperta, por sua vez, novas exploraes de conhecimento.

    Temos, pois, em uso no MO-BRAL, a metodologia da leitura-significativa, da leitura-participao, por palavras geradoras. o mtodo que denominamos de ecltico, in-corporando pontos eficientes, em-bora por vezes contrastantes, de te-orias educacionais.

    Por tudo o que j se disse at agora, bvio que o MOBRAL est, permanentemente, preocupado com a progresso de seus alunos depois de alfabetizados. Isso escapa aos crticos de fraca imaginao que repisa m sempre o tema de regresso ao anal-fabetismo.

    Essa regresso, se que existe, nunca foi pesquisada em parte al-guma do mundo: Se existe, tambm no se pode precisar quando ocor-rer. 10 dias aps o curso? 2 meses? 2 anos? Apesar dessas incertezas, o MOBRAL pesquisa a hipottica exis-tncia da regresso, atravs do "acompanhamento" dos alfabetiza-dos, que recebem diplomas onde existem partes descartveis (cupons), que devem ser enviadas ao MO-BRAL CENTRAL de 6 em 6 meses, durante um perodo de 2 anos, indi-cando os fatos mais significativos ocorridos na vida de cada um, o que permitir avaliar-se, com preciso, to-dos os reais benefcios proporcionados peia ao do MOBRAL.

    interessante destacar que a nin-gum ocorre indagar sobre a exis-tncia ou no de regresso nos alu-nos que freqentaram a escola regu-lar 70% com apenas uma sala pretendendo, ao mesmo tempo, es-colarizar alunos de vrios nveis. Ocorre ainda que os repetentes da 1.a srie, num percentual de 24%, (ltima informao disponvel), de-terminaram um tal congestiona-mento, nesse ramo de ensino, que, segundo estudo da Universidade de

    Braslia, o fluxo de alunos da pri-meira para a segunda srie s ser corrigido no ano 2200.

    O MOBRAL se preocupa, pes-quisa e combate a ameaa da regres-so. Mas se interessa muito mais em agir no sentido da progresso de seus alunos.

    A Educao Integrada, segundo programa ensaiado pelo MOBRAL, corresponde ao antigo ensino pri-mrio compactado em 12 meses, aps a alfabetizao. reconhecido pelo Conselho Federal de Educao, pelo Parecer n. 44/73, e ministrado pelas Secretarias Estaduais e Muni-cipais de Educao. O MOBRAL oferece material didtico, treina-mento e, principalmente, um nimo colaboracionista com os sistemas re-gulares de ensino, o que, mais uma vez, escapa aos crticos habituais do M O B R A L , q u e t e i m a m e m apresent-lo como um sistema parte.

  • A qualidade no MOBRAL no jamais um subproduto dos seus pro-gramas. O setor de pesquisas, atra-vs de investigaes sistemticas, rea-liza o "controle da qualidade do produto final" (o alfabetizado), ex-presso essa que s encontra similar nos processos industriais mais sofis-ticados. A permanente superviso desenvolve-se em funo de amplo treinamento com o apoio de toca-fitas, reproduzindo em todo o Brasil programas gerados pelos diversos grupos tcnicos do MOBRAL. O treinamento dos alfabetizados tam-bm se faz com o apoio do rdio convnio com o Projeto Minerva , tendo alcanado, em 1972, 108.000 alfabetizadores em circuito nacional de radiodifuso com recepo orga-nizada e radiopostos montados em todo o territrio nacional.

    O MOBRAL CULTURAL o ter-ceiro programa em operao e cons-titui um desdobramento natural dos programas de alfabetizao e educa-o integrada. Poucos se lembram de que h um lao indissolvel entre Educao e Cultura. Desprezar as manifestaes culturais da popula-o que chamamos de "mobralense" desprezar as verdadeiras razes culturais do Brasil.

    O "mobralense", no tendo sido tocado por quaisquer processos de educao e cultura sistemticas, de-senvolveu cultura prpria, autntica, j que a injustia social que o margi-nalizava, pelo menos preservava os seus hbitos e costumes, que perma-necem existindo em estado de abso-luta pureza.

    Essa cultura deveria ser recolhida e estimulada como imperativo na-cional.

    O MOBRAL CULTURAL, at hoje um programa da maior singe-leza, uma prova viva de que a m-quina/MOBRAL, bem acionada, po-der extrair do esprito comunitrio das municipalidades um farto ma-nancial de atividades, que enrique-cero a vida dessas comunidades em todos os sentidos. Antes do seu lan-amento, o MOBRAL CENTRAL enviou circular aos Municpios, informando-lhes de sua inteno de montar mais esse programa. A re-ceptividade foi magnfica, pois cerca de 2.000 Municpios informaram, em apenas 15 dias, o seu desejo de participar do programa, oferecendo locais para utilizao dos futuros postos culturais. Esses poderiam ser instalados em qualquer local at mesmo na sala de aula do MOBRAL e iniciar suas atividades com uma minibiblioteca. O objetivo que a prpria comunidade, atrada por pequenos estmulos enviados pelo MOBRAL C E N T R A L , v am-pliando as manifestaes culturais, incluindo teatro, cinema, artesanato, grupos musicais, etc.

    Todas essas atividades justificam-se por si mesmas. Mas so tambm um poderoso auxlio no esforo de progresso do "mobralense", um empenho adicional no combate famigerada regresso e, principal-mente, o maior aliado no esforo de mobilizao da comunidade em prol daqueles que persistem na condio de analfabetos e que devem, ainda, ser atrados para o MOBRAL.

    Os postos culturais de cada locali-dade so abastecidos e revitalizados peia passagem das MOBRALTE-CAS os postos mveis , que promovem intensa movimentao nas cidades onde desenvolvem suas atividades. Essas unidades so ca-minhes equipados com videocas-sete, receptor de televiso, projetor de cinema, livros, pinacoteca, mate-rial de artesanato, palco desmont-vel onde o animador da MO-BRALTECA promove um verda-deiro "show" de cultura e consegue a adeso e amparo de todos os talen-tos locais. Anote-se que todas as MOBRALTECAS foram oferecidas ao MOBRAL por empresrios vito-riosos de inegvel lucidez.

    Alm dessas atividades, os postos culturais funcionam, tambm, como Balces de Emprego, atraindo as pessoas que se beneficiam das ativi-dades culturais.

  • O MOBRAL abre os braos para pases sul-americanos, asiticos e africanos, que

    enviam seus tcnicos ao Brasil.

  • Outro aspecto a destacar, nos-5 anos de operao do MOBRAL, que ele representa o sucesso de um projeto social o nico mesmo que floresceu em uma poca de ace-lerado crescimento econmico.

    Trata-se de uma prova cabal de que o crescimento econmico pode e deve ser acompanhado de projetos sociais, desde que esses representem as aspiraes reais do povo e o seu esquema de ao esteja impregnado, de alto a baixo, de entusiasmo e ra-cionalidade.

    O MOBRAL , de fato, o incio concreto de uma efetiva poltica municipalista brasileira e o embrio que deve ser intensa e cuidado-samente cultivado do desenvol-vimento comunitrio, que se iniciou da melhor e mais desejvel forma possvel. Esse esforo comunitrio pode ser aferido em cruzeiros, admitindo-se que, para cada cru-zeiro gasto pelo MOBRAL CEN-TRAL, existe, no mnimo, outro cruzeiro despendido peia comuni-dade.

    guisa de informao, convm ressaltar que o custo de um aluno conveniado, posto na sala de aula, de, apenas, Cr$ 45,00, enquanto o custo de um alfabetizado de Cr$ 110.00.

    Por todas essas caractersticas, no faltou ao MOBRAL o apoio interna-cional, a comear peia prpria UNESCO, que o avaliou atravs de peritos especialmente destacados para essa misso e por um amplo seminrio internacional realizado no

    Rio de Janeiro, em 1973. O resul-tado foi a ampla aprovao da expe-rincia do MOBRAL e o credencia-mento do Movimento como a enti-dade oficialmente capaz de oferecer treinamento em projetos de alfabeti-zao de adultos. A partir desse cre-denciamento, o MOBRAL j reali-zou um primeiro Seminrio para Pases da Asia, frica e Amrica La-tina, em 1974.

    O MOBRAL recebeu, tambm da UNESCO, meno honrosa do Pr-mio Reza Pahlevi, em 1972, entre-gue, pessoalmente, ao ento Presi-dente Mrio Henrique Simonsen, pelo Diretor-Geral da UNESCO em Paris.

    Ratificando o ponto de vista da UNESCO, outras entidades interna-cionais, como o BID e o BIRD, reve-laram, em documentos oficiais, sua admirao pelo MOBRAL.

    Palavras da maior importncia so as que encerram a exaustiva anlise que John Cairns, ex-diretor da Divi-so de Educao de Adultos da UNESCO, realizou depois de obser-vao direta do MOBRAL, no Bra-sil.

    "Por experincia prpria e pelo que observei no Brasil, eu o consi-dero como o mais notvel de todos os programas de larga escala no Terceiro Mundo".

    Essas so as atividades do MO-BRAL, que no representam desvios em relao ao Programa Fundamen-tal de Alfabetizao. Antes, signifi-cam as extenses da Alfabetizao e, principalmente, um auxlio conside-rvel ao maior problema com que, atualmente, o MOBRAL se de-fronta: o recrutamento dos analfa-betos remanescentes, que precisam ser envolvidos para que, at 1980, seja cumprida a meta de Erradicao do Analfabetismo.

    O MOBRAL, como sistema edu-cacional , na verdade, um sistema cujo sentido expansionista oposto ao dos demais sistemas.

    Os sistemas regulares se expan-dem devido presso da demanda cada vez maior de pessoas que bus-cam os vrios nveis de ensino. O MOBRAL, no. Passados os seus primeiros anos de atuao, quando os analfabetos foram recuperados, o MOBRAL passou a lutar contra difi-culdades crescentes na mobilizao dos restantes. Enquanto o ensino superior cresceu em 700%, peia mera expresso dos jovens que ba-tem sua porta, o MOBRAL deve fazer o oposto: vai de casa em casa, cadastrando e motivando os que persistem, por inmeros motivos, no analfabetismo.

  • Como coroamento da avaliao in-ternacional, nada mais relevante que os pedidos de assistncia tcnica que, espontaneamente, inmeros pases como o Senegal, Paraguai, Bolvia, Jamaica, Guin-Bissau, Paquisto, Afeganisto, Mali, Iraque e Ir, entre outros, vm solicitando ao MOBRAL. A ponto de o prprio Ministrio das Relaes Exteriores preparar amplo convnio de Assis-tncia Tcnica, para oferecer o MOBRAL como pea importante no aprofundamento das relaes do Brasil com esses pases.

    Aps cinco anos de atuao, a taxa de analfabetismo no Brasil encon-tra-se em torno de 18%, resultando que, SEM O MOBRAL, essa taxa s seria atingida, provavelmente, no fim dos anos 80. Os 12 milhes de analfabetos que o Brasil ainda su-porta so, em quantidade, equiva-lentes aos que possua por volta de 1930. E, seguramente, no bastaria o esforo de expanso do ensino fun-damental para impedir que, SEM O MOBRAL, o pas ainda revelasse, em 1980, uma taxa de analfabetismo em torno de 28%. O grfico ilus-trativo dessa situao e de como o MOBRAL interveio, decisivamente, no comportamento do fenmeno do analfabetismo no BRASIL.

    Analfabetos no Brasil

  • As estimativas que a seguir apre-lentamos, ratificadas pelo I.B.G.E. at 1973, por Regies (Norte, Nor-deste, etc), foram realizadas pelo MOBRAL, no s quanto aos dados je alfabetizao, mas t ambm quanto aos da populao de mais de 15 anos, por Estados da Federao. interessante destacar os avanos de cada Estado face aos nmeros que o CENSO de 70 contabilizou para cada unidade.

    Para concluir o que foram esses 5 anos de Mobral, nada melhor que as palavras de seu primeiro Presidente, Mrio Henrique Simonsen, que, em memorvel artigo publicado na im-prensa, em 1973 "O MOBRAL E OS UTOPISTAS" , destacava os seguintes tpicos que, em sua essn-cia, continuam absolutamente atuali-zados, definitivos e ajustados reali-dade brasileira:

    "Quem leu a clssica fbula de La Fontaine "O Moleiro, Seu Filho e ) Burro" sabe que no h exerci-do intelectual mais ftil do que a cr-:ica sem alternativas."

    Como o MOBRAL, pelos resulta-dos que obteve em dois anos e meio de atuao, hoje internacional-mente reconhecido como o maior movimento mundial de alfabetizao de adultos, natural que para ele se assestem as baterias dos crticos. E como nem todos aproveitaram as lies de mestre La Fonta ine , compreende-se que despontem, aqui e ali, os famosos exerccios da crtica sem alternativas.

    Em linhas gerais, essas crticas se concentram nos seguintes pontos: a) h inmeros adultos que entram es-peranosos no MOBRAL e que so-frem tremenda frustrao de aban-donar o curso, ou de chegar ao seu fim, sem aprender a 1er e escrever; b) as professoras do MOBRAL so mai pagas, e muitas delas mai pre-paradas; c) h salas de aulas miser-veis no MOBRAL, com deficincias incrveis de mobilirios e de ilumi-nao; d) h at casos isolados de fraude, em que foram distribudos diplomas a analfabetos; e) no adianta alfabetizar o indivduo sem ao mesmo tempo lhe assegurar uma formao profissional; f) e dirigen-tes do MOBRAL, olhando as estats-ticas e esquecendo o mundo de difi-culdades em que vivem os alunos e professores, exibem um otimismo eufrico, agressivamente contras-tante com as misrias do programa de alfabetizao.

    Alguns me dizem que nessas crti-cas h aprecivel dose de m-f. Ou-tros, que elas provm de vesculas mal reguladas.

    Prefiro interpret-las como o re-sultado de formidvel deformao filosfica. O pessimismo sistemtico atrai vrios espritos e, em certa poca, chegou a ser moda em crcu-los intelectuais sofisticados. Con-tudo, a moda parece ter mudado depois que algum observou que nada irrita tanto, a quem sente o prprio fracasso, do que o sucesso de outrem.

    Na base dessas crticas, parece-me residir a incompreenso de que h uma profunda diferena entre alfa-betizar 100 pessoas e alfabetizar 2 milhes de indivduos. Imaginemos que se queira alfabetizar 100 adul-tos. Com louvvel desvelo tratare-mos, em primeiro lugar, de encon-trar salas de aula bem equipadas, bem iluminadas e dotadas dos mais modernos recursos audiovisuais. Em seguida, de recrutar cinco alfabeti-zadoras, bem treinadas, comunicati-vas, e com a necessria acuidade psi-colgica para compreender as difi-culdades do analfabeto. Por ltimo, de selecionar professores especiali-zados que, aps a alfabetizao, iro ministrar os cursos de treinamento profissional, com estgios prticos em empresas, que logo a seguir ga-rantiro o emprego dos 100 felizar-dos.

  • Quanto custar cada alfabetizado? Talvez, digamos, 5 mil cruzeiros. Mas o custo unitrio no assusta. Afinal, so apenas 100 alunos. O to-tal ser de quinhentos mil cruzeiros, que podem, facilmente, ser cobertos por meia dzia de benemritos.

    Mas... se ao invs de 100, quiser-mos alfabetizar 2 milhes de adultos por ano? A a coisa se complica. Primeiro, surge o problema dos re-cursos. A 5 mil cruzeiros por aluno, teramos uma despesa anual de 10 bilhes de cruzeiros. Isso quase tanto quanto o total das despesas da Unio, dos Estados e Municpios com toda a educao primria, se-cundria e universitria. Dir-se-: "mas por que o Governo no destaca esses 10 bilhes de cruzeiros (que representam mais ou menos 3% do produto nacional) para a alfabetiza-o de adultos?" Os dirigentes do MOBRAL ficariam muito satisfeitos, mas todos eles possuem suficiente realismo econmico para saber que impossvel dividir um bolo em partes cuja soma ultrapasse o todo. De fato, essas mesmas pessoas que deseja-riam que o Governo gastasse mais na alfabetizao de adultos, tambm desejariam maiores investimentos em hidreltricas, petrleo, estradas, indstrias e, alm de tudo mais, que o consumo do povo aumentasse. Em suma: numa insacivel revolta con-tra a aritmtica, pregariam a diviso do produto nacional em fatias per-centuais de soma maior do que 100%. *

    Mas o dinheiro no seria o nico problema. Ao invs de 5, precisa-ramos de 100 mil professores erudi-tos, comunicativos e compreensivos. De outras tantas salas de aula bem equipadas e iluminadas. E assim por diante. Onde encontrar tudo isso? Ento, no desespero, cruzaramos os braos, dizendo: E impossvel." E desistiramos de alfabetizar milhes de brasileiros.

    preciso compreende r que , quando se passa de uma experincia de laboratrio para uma operao em larga escala, torna-se necessrio uma mudana radical de atitudes. A experincia de laboratrio pretende atingir a perfeio qualitativa, sem a preocupao da quantidade; como tal, no importa se os custos unit-rios so altos, nem se a natureza ofe-rece em vastas quantidades os mate-riais usados na experincia. Na ope-rao de grande escala, temos que olhar, atentamente, para os custos unitrios se eles forem altos, a operao no se realiza por falta de recursos financeiros e visualizar sua viabilidade logstica, sem a quai o programa fracassa por impossibilidade f-sica.

    claro que uma operao que precisa enfrentar essas duas preocu-paes a de viabilidade logstica e a dos custos unitrios reduzidos tem que aceitar uma srie de imper-feies inadmissveis numa expe-rincia de laboratrio.

    H um inevitvel coeficiente de insucessos e, se nos torturarmos com a sua existncia, s teremos uma sada: desistir de qualquer operao

    de larga escala. Na realidade, s h um meio sensato de se avaliar um programa desse tipo e que consiste em verificar: a) se, descontadas as perdas, o saldo dos casos bem suce-didos alcana as metas programadas; b) se, tambm, levado em conta o coeficiente de perdas, o custo unit-rio se contm dentro de limites ra-zoveis.

    essa a filosofia do MOBRAL. ... claro que, ainda assim, po-

    dem surgir casos isolados de frau-des. Numa sociedade de grandes nmeros impossvel evitar certa faixa de marginalidade e, por isso, todas elas se protegem com o C-digo Penal. O MOBRAL, sempre que identifica tais irregularidades, trata de aplicar punies exempla-res. Ridculo imaginar que essas raras excees configurem algum pecado mortal do MOBRAL. Seria o mesmo que pregar o extermnio da humanidade pelo fato de existirem alguns criminosos.

    ... Pelo ritmo em que vai o MO-BRAL, podemos esperar que, em 1980, o nosso ndice de analfabe-tismo adulto se situe abaixo de 10%. E o importante que esse resultado dever ser conseguido, apesar de todas as dificuldades que cercam o programa em matria de recujsos financeiros, materiais e humanos.

    Pois, se alfabetizar fosse fcil, o Brasil j no teria analfabetos".

  • sucesso irrecusvel do MOBRAL to nitidamente demonstrado ao longo das estatsticas e informaes gerais contidas neste livro

    choca-se com os resultados do programa de alfabetizao da UNESCO, cuja execuo foi aplicada no curso de 10 anos e envolveu

    11 pases Arglia, Mali, Repblica Malgaxe, Sudo, Etipia, Tanznia, Guin, Equador, ndia, Ir e Sria.

    O programa que fazia parte do setor de Desenvolvimento das Naes Unidas, como cooperao tcnica, foi criteriosamente analisado e

    aferido, em 1975, por um grupo de peritos, proporcionando substancioso estudo crtico.

    Os analistas esbarraram, desde logo, numa evidncia: em 1965 havia, no mundo, 735 milhes de analfabetos, e 10 anos depois esse nmero elevou-se para 800 milhes. No foi, sequer, alcanada a meta menor do programa a alfabetizao de, pelo menos, 1 milho de pessoas

    nos 11 pases nos quais foi realizada a experincia. "O mnimo que se poderia esperar ao projeto que o analfabetismo, no mundo, no

    piorasse. E isso no foi conseguido" declara um tpico do relatrio crtico.

    Todos os perfis foram mensurados o poltico e seus objetivos, administrao e organizao, professores e tcnicos convocados,

    currculos, mtodos, custos e pesquisa e as concluses foram negativas nos diversos planos da abordagem analtica. Entre as razes apontadas dizem os peritos da UNESCO , a maior

    delas " a de querer resolver, tecnicamente, problemas que so tcnicos somente em parte". Do relatrio, textualmente: "Devemos dar ao

    analfabetismo um enfoque menos funcional, mais multidimensional, combinando os programas com a poltica

    econmica e cultural dos Governos." parte o experimento da UNESCO, encontramos a China (1949) com

    taxas de analfabetismo oscilando entre 80 e 85 por cento, segundo registro de K. E. Priestley, expert da UNESCO. Apesar de imoderado

    esforo comunitrio, a China no conseguiu alcanar, em curto prazo, os elevados ndices de alfabetizao marcados pelo MOBRAL

    8.657.054 brasileiros alfabetizados, em apenas 5 anos de sua idade ativante.

    Na URSS (Censo de 1920), para um grupo de mil pessoas, 319 eram analfabetas. Pouco depois da Revoluo de 1917, o ndice de

    analfabetos era de 80% entre a juventude feminina e masculina. Embora Lenin colocasse a alfabetizao como bsica para construo do socialismo sovitico, aplicando, como na China, todos os tipos de

    presses do poder, a URSS s venceu o analfabetismo no curso de 20 anos.

    Construindo o seu prprio modelo e motivando o povo com a aplicao da livre comunicao, de modo a despertar, em cada

    brasileiro, sua potencialidade cvica, alcanou o MOBRAL elevados ndices de produtividade no campo da erradicao do analfabetismo,

    gerando, com o seu exemplo, lio universal. Podemos hoje, sem dvida, doar ao mundo a nossa experincia vitoriosa. O que,

    alis, j estamos fazendo.

  • Mobilidade marca da MOBRALTECA, que

    se desloca em caminhes, equipados

    com videocassete, receptores de tev,

    projetores de cinema, livros, pinacoteca, palco desmontvel e recursos

    humanos. O sistema alcana brasileiros de

    todas as profisses e em todos os pontos do nosso

    territrio.

  • O MOBRAL uma organizao que impressiona a todos aque-les que, tendo conscincia da vasti-do do territrio nacional (8,5 mi-lhes de km2) e das dificuldades de implantao de um programa qualquer programa que possa atingir a todos os Municpios, perce-bem o valor inestimvel da mquina que se conseguiu montar no Brasil. Essa mquina simples e, ao mesmo tempo, poderosa, pois foi ao en-contro de uma necessidade reconhe-cida por toda a populao.

    Muitos outros problemas podero ser resolvidos, desde que sejam son-dadas as comunidades em seu grau de receptividade para novas tarefas que, uma vez acionadas pelo MO-BRAL CENTRAL, tero um rpido desenvolvimento, garantido peia aceitao e engajamento dessas co-munidades.

    Desprezar a mquina que desper-tou a conscincia comunitria no Pas e, pela primeira vez, acionou di-reta e intencionalmente todas as municipalidades, no vislumbrar o potencial que se instalou no Brasil para melhoria imediata das condi-es de vida de populaes pratica-mente abandonadas. E, agora, com a vantagem de aproveitar o conceito e

    a verdadeira mstica que o MO-BRAL desencadeou no Pas, j que ele corresponde a uma das mais au-tnticas vocaes nacionais: os proje-tos grandiosos. Estaremos desperdi-ando um momento timo, onde a opor tunidade de um programa como esse e o seu custo mnimo no se reproduziro novamente.

    O importante que esses projetos grandiosos estejam impregnados ao mximo de racionalidade, nos seus objetivos e nos seus mtodos, e que correpondam, sempre, a um desejo latente das populaes atendidas. Precipit-los ou retard-los no descobrir que existe um instante certo, um tempo timo, um mo-mento ideal, para resolv-los. No h porque acelerar uma ao que, provavelmente, poder ser rejeitada peia comunidades, sempre que ficar patente um verdadeiro "choque cul-tural" entre o que pretendem as en-tidades da cpula e o que podem e desejam aceitar, naquele momento, as comunidades envolvidas.

    Esses outros programas que pos-sam ser desenvolvidos, no consti-tuem um desvio do rumo bsico a alfabetizao , j que essas novas funes sero indispensveis para a derrubada dos crescentes obstculos definitiva erradicao do analfabe-tismo. Os 12 milhes de maiores de 15 anos, que ainda permanecem analfabetos, so menos motivados ou esto muito dispersos pelo Pas dificultando o seu recrutamento ou at mesmo j conheceram o insu-cesso nas tarefas de alfabetizao, devido a nmeros fatores. Esses fa-

    tores so originrios das condies onde se processam as aulas: m ilu-minao das salas, professor pouco qualificado, e tc , ou ento, das pr-prias condies das pessoas que par-ticipam do programa: desnutridas, cansadas, com deficincias visuais, auditivas e mentais.

    Mesmo as pessoas que se encon-tram nessa ltima situao so en-volvidas pelo MOBRAL, atravs de outros programas, como o MO-BRAL CULTURAL, o PRODAC Programa Diversificado de Ativida-des Comunitrias e o PES Pro-grama de Educao Sanitria. Esses dois ltimos j ensaiam seus primei-ros passos. No pelo fato de uma pessoa no poder assimilar um c-digo simples, como a alfabetizao, que o seu desempenho na vida no possa ser melhorado. Os programas mencionados acima no se desti-nam, evidentemente, aos mais inca-pazes; apenas demonstram que at esses podero ser envolvidos.

    O acrscimo de tarefas quando bem acionadas no enfraquece ou desgasta a mquina/MOBRAL; antes, a fortalece, pelo crescente crdito que o Movimento recebe dos que dele participam, mantendo o seu ritmo, que , afinal, a prpria ra-zo de ser de um Movimento.

  • queles que, porventura, venham a condenar essas aberturas do MO-BRAL, como estranhas a uma orga-nizao destinada alfabetizao (a educao de que mais necessitamos), falta, na verdade, conhecimento das modernas teses que hoje dominam a Educao, em todo o mundo. So essas teses, em sntese, a da Educa-o Permanente e a da Cidade Edu-cativa.

    A Educao Permanente, como fi-cou mais do que claro ao longo deste documento, est presente em todos os mov imen tos do MOBRAL, quando este se preocupa, obsessiva-mente, com a progresso dos seus alunos.

    A Cidade Educativa o rumo das sociedades que, ganhando conscin-cia madura, sabem que a Educao est presente no s na Escola, mas em inmeras situaes da vida coti-diana. A Educao expandiu suas fronteiras e se desenvolve atravs de diversos modos, e em conjunto com todas as atividades humanas. Usa desde os meios de comunicao de massa at o contato entre pessoas o dilogo. Impregna e envolve os seres humanos a cada instante. E, mais uma vez, a sabedoria popu-lar antecipou-se aos cientistas, valendo-se de um ditado bastante

    popular no Brasil: "vivendo e aprendendo". Edgar Faure, Ministro francs que coordenou o trabalho mais recente em educao, deu-lhe o ttulo de "Aprender a Ser". So vi-ses idnticas, ainda que formula-das de modalidades aparentemente opostas, de enfocar a Educao e a Vida. Isso claro para qualquer pes-soa que sente as coisas dinamica-mente e percebe que as atividades humanas esto sempre a tuando umas sbre as outras.

    Essa percepo ampla do MO-BRAL foi plenamente encampada pelo Presidente Geisel quando, em seu primeiro pronunciamento Na-o, disse textualmente:

    "da erradicao definitiva do anal-fabetismo de adultos, transferindo-se desde logo os recursos que, paula-tinamente, venham a ficar dispon-veis para o ensino supletivo de 1. Grau, voltado para as necessidades dos recm-alfabetizados mais jovens e aproveitando-se, em ambos os ca-sos, a vlida experincia do MO-BRAL para campanhas nos setores da educao sanitria, da medicina preventiva, da coleta de dados esta-tsticos, da difuso da cultura, entre outras".

    O Programa de Educao Sanit-ria foi aprovado, recentemente (em novembro de 1975), pelo Conselho de Desenvolvimento Social, que a ele destinou mais 8 milhes de cruzei-ros. Esse programa consiste em atin-gir, em primeira escala (1. se-mestre de 1976), 200 Municpios de alguns Estados prioritrios ao Nor-deste Piau, Cear e Paraba

    Chega, ao MOBRAL, a ressonncia internacional de seus feitos: a

    UNESCO lhe conferiu o Prmio Reza Pahlevi. Como

    reconhecimento do sucesso de suas tcnicas.

  • para, atravs de 9.000 grupos parti-cipantes, durante o perodo de um ano, envolver as comunidades e ser-vios de sade locais, para efetuar mudanas substanciais nas atuais condies de sade e saneamento. Sero estimuladas e orientadas no-vas atitudes de preservao da sade individual e de melhores condies de higiene dos domicilios e de toda a comunidade.

    A clientela predominantemente aquela envolvida nos programas do MOBRAL e, avaliado esse pro-grama, dever o mesmo ser esten-dido a todas as regies do Brasil.

    Essa aprovao deu-se em pleno desenvolvimento de uma Comisso do Senado, que avaliava as ativida-des do MOBRAL, principalmente quanto presena de menores de 15 anos em suas salas.

    O Relator da Comisso, Senador Jos Lindoso, do Amazonas, ultra-passou o ponto focal da controvr-sia, compreendendo, atravs dos inmeros depoimentos prestados, a essncia do significado do MOBRAL para o Brasil.

    BID E BIRD tambm se associaram ao reconhecimento do mrito do MOBRAL.

    A nossa luta contra o analfabetismo transps muitas fronteiras, servindo de

    estmulo a muitas naes.

  • Macap, numa esquina da Amaznia, conta tambm com a presena do

    MOBRAL. Assim, irrompe na floresta o mais importante componente da

    integrao. A economia caminha passo a passo com a alfabetizao.

  • O seu relatrio altamente favo-rvel ao MOBRAL, mesmo no ponto de maior controvrsia: a presena de crianas em sala. As experincias rea-lizadas pelo MOBRAL, para aten-der adequadamente essas crianas, por um programa especifico Pro-grama de Recuperao de Exceden-tes , recebeu, no Relatrio do Se-nador Jos Lindoso, o seguinte t-pico, no item 6 das Constataes":

    "Nos ensaios relativamente ao Programa de Recuperao de Exce-dentes houve patritico interesse de en-contrar soluo para o problema de en-sino de excedentes, dentro do poder de criatividade que o esprito da legislao brasileira suscita, cuja praticabilidade, ao que percebemos, encontrou como principais bices, as limitaes cons-titucionais e a falta de recursos". (O glifo nosso.)

    Essas "Constataes" reiteram, logo no primeiro item, o valor, o mrito e o apoio que o MOBRAL deve continuar merecendo das auto-ridades e de todo o povo brasileiro, at o final da dcada.

    Em suas prprias palavras:

    "O MOBRAL, institudo em 1967, e tendo iniciado o seu trabalho de campo, efetivamente, em 1970, tem tido, nesses cinco anos, excelente de-sempenho na sua atividade priorit-ria, que a de alfabetizao funcio-nal, devendo continuar a merecer apoio das administraes pblicas, do empresariado, das municipalida-des e das comunidades para que, em 1980, tenha concludo a sua tarefa de reduzir a ndices mnimos o anal-fabetismo do Pas".

    O Relatrio do Senador Jos Lin-doso uma ampla, lcida e minu-ciosa anlise dos diversos programas do MOBRAL apreendeu, na sua plenitude, a essncia do significado do MOBRAL para o Brasil.

    Cerca de 13 pginas do Relatrio dedicam-se s estatsticas coligidas pelo Ministro Joo Carlos Vital, ho-mem que revelou, ao longo de toda a sua vida, uma verdadeira "obsesso de brasilidade", que se enriquece em cada novo cargo que ocupa, e que no esmorece, mesmo quando se de-fronta com cticos de qualquer tipo, e que no possuem, como ele, uma trajetria de relevantes servios prestados ao Pas. Um verdadeiro PhD Doutor em Brasil. E, como tal, entusiasta do MOBRAL.

    No relatrio, o Senador Jos Lin-doso ainda escreve:

    "O Brasil tem 3.953 Municpios. O Ministro Joo Carlos Vital, com

    uma tradio de estudos de proble-mas nacionais e de organizador e administrador, no recente I Simp-sio de Servio Militar, ofereceu ao

    Grupo elementos estatsticos que projetam as magnitudes dos Muni-cpios brasi leiros, r eve lando o grande vazio do imenso territrio do Pas, ocupado, apenas, com a parcela de 2,02% de nossa superfcie, onde se acham as grandes cidades.

    Nesse Relatrio, onde nos preo-cupamos com a realidade brasileira, para fazer o julgamento da institui-o que objeto da nossa investiga-o, sou tentado a apresentar o quadro da posio dos Municpios, considerando populao, superfcie, receita total e ocupaes".

    O exame do quadro municipal le-vou Joo Carlos Vital a classificar os Municpios em B-l, B-2, B-3 e B-4:

    B-l. Municpios acima de 500.000 habitantes em nmero de 11, ou seja, 0,03 do total dos Municpios, 0,2 de superfcie, 19% da populao, sendo 33% urbana e 0,5 rural, 56,5% da receita, 48% da ocupao na indstria, 56% no servio;

    B-2. Municpios de 100.001 a 500.000 habitantes, em nmero de 80, ou seja, pouco mais de 2% do to-tal dos Municpios, 2% da superfcie, 15% da populao total, sendo 23% urbana e 5% rural, 15% da receita, 23,5% da ocupao na indstria e 26% no servio.

  • J existe um tipo especial de sociologia com a marca MOBRAL. Povo participando.

  • A accio comunitria uma constante no movimento. Com o fator HOMEM.

  • B-3 Compreendendo Municpios de 30.001 a 50.000 habitantes em nmero de 358 e os de 50.001 a 100.000 habitantes, em nmero de 157. Representam 13% dos Munic-pios, 18,5% da superfcie, 26% da populao total, sendo urbana 21% e rural 31%; receita 12%; ocupao na indstria 15% e servio 11%.

    B-4. Compreendendo os Munic-pios de at 5.000 habitantes em n-mero de 672, ou 17%, e os de 5.001 a 10.000, em nmero de 1.007 Mu-nicpios, ou 27,25%, e os de 10.001 a 30.000 Municipios, ou seja, 1.598, representando essa classe 84% do to-tal dos Municpios brasileiros, 79,3% da superfcie, 40% da populao to-tal, sendo-64% rural e 23% urbana, 16,5% da receita, 13,5% da ocupa-o na indstria e 7% no servio.

    Nesses cinco anos os dados so de 1969/70 verificaram-se, segu-ramente, modificaes no quadro, mas ele continua vlido para se ter a imagem do Brasil.

    O MOBRAL conseguiu implan-tar-se nesse mundo cheio de dificul-dades, e nenhuma outra agncia de servio, mesmo os Correios e Tel-grafos, tem essa penetrao."

  • "neste mundo cheio de dificul-dades" que mais valiosa a ao de 30.000 voluntrios cadastrados nas Comisses Municipais do MOBRAL, que apoiaram a ao dos 105.000 al-fabetizadores que, em 1975, traba-lharam para o MOBRAL.

    preciso no esquecer que 2/3 (66%) das salas do MOBRAL fun-cionam na rea rural. As classes do MOBRAL operam normalmente noite (2/3), e as condies dessas sa-las demonstram em que situaes inspitas funcionam os cursos de alfabetizao. Apenas 27% das salas possuem luz eltrica, enquanto 40% operam com lampio e outras 33% em piores condies: lamparinas.etc. gua encanada, somente 35% das salas possuem; 55% utilizam poos e os 10% restantes no tm qualquer sistema de gua prprio. Essa situa-o deficiente tambm est presente nas condies sanitrias: 27% com banheiro; 28% com fossa e 45% no tm sanitrios.

    Como salientam, com lucidez, es-ses dois eminentes brasileiros Joo Carlos Vital e Jos Lindoso , trata-se de um outro Brasil esse que o MOBRAL faz agora vibrar e participar da vida nacional.

    Em termos sociais, os programas adicionais do MOBRAL devero, at o final da dcada, tentar suprir as necessidades desta parte do Brasil em semi-abandono.

    Em termos econmicos, o MO-BRAL um dos maiores ativadores do mercado interno.

    Primeiro porque, agindo social-mente para que essas populaes se integrem na vida nacional, esto despertando um desejo de participa-o em todas as outras atividades do Pas. Alargando os seus horizontes, estaro aumentando as suas expecta-tivas de consumo e, portanto, da aquisio de bens produzidos no Brasil. Essas expectativas estariam frustradas se a alfabetizao nada acrescentasse ao aumento da renda dos indivduos. No , no entanto, o que dizem as pesquisas econmicas. Essas mostram que o investimento na educao dos mais rentveis da economia, e, provavelmente, o de maior rentabilidade a curto prazo.

    No vamos, porm, teorizar sobre as inmeras pesquisas j realizadas sobre o tema.

    Vamos citar, apenas, o que j foi realizado pelo IPEA Instituto de Planejamento Econmico e Social da Secretaria de Planejamento da Presidncia da Repblica, sobre "Tecnologia e Rentabilidade na Agricultura Brasileira", de Claudio Contador.

    So suas as palavras: "O analfabetismo, de um modo

    geral, est associado a um efeito ne-gativo na taxa de retorno, enquanto a alfabetizao est associada a efei-tos positivos."

    "Os estabelecimentos gerenciados por analfabetos esto associados, predominantemente, a uma tcnica tradicional, enquanto aqueles dirigi-

    dos por alfabetizados j apresentam tcnicas bem mais modernas. O hiato tecnolgico entre estabeleci-mentos presumidamente idnticos, gerenciados por analfabetos e por alfabetizados, substancial. A dife-rena tecnolgica entre uns e outros considervel, a favor dos estabele-cimentos dirigidos por alfabetiza-dos. "

    "A evidncia sugere que o analfa-betismo limita a adoo de insumos modernos, mas uma educao pri-mria completa pouco acrescenta capacidade de alocar, eficiente-mente, os insumos modernos em relao aos produtores apenas alfa-betizados. A pesquisa indicou que a educao do responsvel tem um efeito importante, tanto nas diferen-as de retorno, como na tecnologia observada e no avano tecnolgico. Entretanto, os efeitos da educao no so uniformes em todos os n-veis. A educao formal superior e o primrio completo no demonstra-ram afetar, significantemente, a di-ferena de taxas de retorno entre os estabelecimentos, nem o nvel e nem a taxa do avano tecnolgico.

  • Uma vez que a educao secund-ria e superior tem uma contribuio marginal praticamente nula para as diferenas de retorno, tecnologia e avano tecnolgico, a medida pol-tica mais eficiente, sob o ponto de vista exclusivo da alocao de fatores e acelerao da modernizao rural, seria realocar os investimentos feitos em educao formal, secundria e superior num programa intensivo de alfabetizao e de cursos tcnicos ru-rais. Em princpio, o MOBRAL pro-cura atender ao primeiro tipo de educao,mas pouco tem sido feito no tocante a cursos rpidos de novas tcnicas e informaes sobre novos insumos, etc. O sistema de extenso rural procura estender, de maneira informal, o conhecimento sbre no-vas tcnicas, informaes sobre mer-cados, e t c , mas, apesar de sua penetrao junto aos meios rurais, a verdade que ainda restrito o que ensina."

    DISTRIBUIO DA POPULAO ECONOMICAMENTE ATIVA - POR ANOS DE ESTUDO

    (n.os absolutos no-cumulativos) BRASIL - 1970

    Populao economicamente ativa e analfabetos por setor de atividades

    Analfabetos Total % de analfabetos s/total

    PRIMARIO

    7.697.147 13.090.357

    58,8

    SECUNDRIO 1.105.977 5.295.434

    20,9

    TERCIRIO 1.834.597

    11.171.589 16,4

    TOTAL

    10.637.721 29.557.380

    36,0

  • A pesquisa fortemente apoiada em inmeros mtodos sofisticados de anlise econmica. Mas fica claro que a alfabetizao absolutamente imprescindvel para melhor produ-tividade e modernizao da agricul-tura brasileira. realado o papel do MOBRAL e exigida uma conti-nuidade um MOBRAL PROFIS-SIONAL.

    E, ao analisarmos os ndices de analfabetismo no Brasil, pelos diver-sos setores da Economia (Quadro ao lado), percebemos a urgncia da tarefa de alfabetizao no meio ru-ral.

    O Setor primrio da economia (agricultura e pecuria), em 1970, apresentava quase 60% de analfabe-tos (58,8%), da sua populao eco-nomicamente ativa.

    Se lembrarmos que 2/3 das salas do MOBRAL esto localizadas na rea rural e que s o MOBRAL atinge todos os Municpios, nada mais ser necessrio acrescentar, se-no lembrar que o grande e slido caminho do alargamento do Mer-cado Interno, e da melhor distribui-o da renda, o do aumento da produtividade de todos os brasilei-

    Quanto modernizao do setor rural, sua importncia ultrapassa o mero fortalecimento do Mercado In-terno, pois o aumento da produtivi-dade e da produo total talvez seja o meio mais eficiente de se atacar-o crnico problema da inflao do in-dispensvel crescimento das expor-taes brasileiras.

    Tudo isso representa, em termos econmicos, a melhor distribuio da Renda Nacional, que a tnica do Governo Geisel.

    Se pensarmos em termos indivi-duais, estamos aumentando a renda pessoal daqueles que, no Brasil, se encontravam em pior situao.

    Em termos regionais, vemos que a concentrao de analfabetos nas reas-problemas Norte e Nor-deste representava, em 1970, me-tade dos analfabetos nacionais. O MOBRAL tambm contribui, decisi-vamente, para a distribuio de renda em termos especiais, pois para essas regies dirige-se mais da me-tade de seus recursos.

    Por ltimo, o MOBRAL, benefi-cirio da Loteria Esportiva Federal, devolve aos Municpios o dinheiro canalizado pelas apostas, bom-beando-o de volta, de preferncia aos Municpios mais pobres.

    Em termos polticos, o MOBRAL encerra a controvrsia do voto do analfabeto erradicando o analfa-betismo , promovendo-o tambm a eleitor, e assim aumentando a legi-timidade da representao poltica do Brasil.

    Traba lhando di re tamente nos Municpios clula do Poder orga-nizado , est sendo fortalecido nas bases o processo poltico nacional, inclusive pela mobilizao das lide-ranas locais.

    Por tudo o que foi dito neste do-cumento, pelo que j se realizou e pelo muito que se pode e deve reali-zar .at o final da dcada, o MO-BRAL deveria ser fortalecido. E o foi, pelo recente Decreto-Lei n. 1.444, de janeiro de 1976, que ampliou as dedues do Imposto de Renda das empresas em favor do MOBRAL de 1% para 2%.

    Esse acrscimo recompe a receita do MOBRAL, abalada em razo do seu menor percentual da Loteria, e permitir o florescimento dos novos programas.

    E o Governo do Presidente Geisel ter assegurado, atravs da gesto de seu Ministro da Educao, Ney Braga, a derrota final do analfabe-tismo no Brasil.

  • Do tomo para a galaxia. Da chama para o sol.

    Do MOBRAL para o Brasil. Do Brasil para o mundo. Se a

    ignorncia, expressa no analfabetismo (Buda), o maior de todos os males,

    o MOBRAL est exterminando a praga e exportando exemplo.

    O diploma na mo da mocinha mais que foto.

    verdade de smbolo.