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EWREVISTAIXiR - Ministro, poElemos começar a c0nkar um
pouco da sua trajet6ria de vida.
O Senhor é ~ a t u r a l da Bahia? -
' O SR. MINISTRO ILMAR GALV~O Sim, Bahia.
l3iTREVLSTAWR - Natural da Bahia: estudou no R i o de '
Janeiro, na antiga Universidade do Brasil. Por que a opção pelo
Direito? Alguém da sua família jb tirifia tradição na Area do Direito,
na Justiça?
O SR. MINISTRO ILMAR G I ~ L V ~ ~ O - N ã o . Nasci na Bahia, em
uma das menores cidades, um dos menores Municípios da Bahia, no
,interior, de uma familia muito humilde me jamais houvesse um membro
concluido um curso superior. Eu tinha uma vontade m i l i t o grande d e
cursar Engenharia. Eu tinha muita facilidade para Matemática, entao,
imaginava que minha carreira ter ia de ser na ~ngenharia, Mas as
perspectivas eram muito pequenas, pais eu tinha seis irmaos menores;
arrimo de fmilia; minha mãe viúva. E r a muito d i f í c i l imaginar me
pudesse um dia sair 19 de Jaguaquasa, ir para uma ca@i,tal. Naquela,
época, só havia curso superior nas capitais: Salvador, Recife, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo.
A t & que um dia surgiu uma oportunidade de eu fazer um
concurso para o Banco do Brasil. Eu apenas havia feito o curso de
primeiro grau, naquela &oca era o ginasial. ua r i a v r - U U ~ E L J
cursos, de modo que fiquei sem estudar, trabalhando.
remunerados, apenas para ajudar em casa. ~ t & , que surg
concurso do Banco do B r a s i l . Fui muito bem classificado nessi
Entao, pude escolher uma agência para trabalhar. Naquela 6pwca, o I
Banco do Bxasil era uma carreira muito impoxtante. As pessoas
escolhiam, às vkzes, entre fazer o curso, superior e ficar no Banco
do Brasil, pois eram mais ou menos equivalentes. Assim, escólhi,
provisoriahente, uma cidade pr6xima de Jaguawara, Jequik, onde pude
fazer o segundo grau. Curse i o segundo grau, já no Banco do Brasil,
em outras condi~6es bem melhores, ,podendo a judar minha m?ie jd de uma
maneira mais efetiva.
Passei dois anos em JequiB; terminei o segundo grau.
Então, no Banco do Brasil, pedi transfersncia para uma das agências
das capitais: Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo ou ~ i o de'
Jane i ro . O Banco do Brasil me mandou para São Paulo. Fui para aquele
Egtado com muito gnirho e desejo de ali me preparar para o vestibular
de Engenharia. Entrei em um cursinho. Já estava mais ou menos
~ r ó x h o do vestibular, quando surgiu uma oportunidade
'ia permuta dom um colega do Rio de Janeiro. Fui para o
nado, 1:
azer un
I 19, um colega de Banco, que acabou vindo a ser Ministro do
Plaae~amento, R e i s Velloso, disse-me: por q-ue você vai fazer
Engenharia, voc& gasta do Banco? Eu disse-lhe: gosto. Então, não
faça Engenharia; faça Direito ou Economia; eu estou cursando
lia. Eu
lava, c
ria a1
Preside i Banco
:om a idéia de, real1
esse ? pro jato
do' 81 Ney Ga Ivão, ,
rnuãar de curso. Nunca pensei
ão rapidamente, numa
1 L U L ~ V ~ L ~ ~ . S a i d a l i e fu i d Faculdade de Direita para me matricular . no vestibular nacional de D i r e i t o ; a l i b s , matriculei-me também na
$
esiaduak, hoje, URJ, uma grande universidade. Tive a sorte de passar '
muita b m no vestibular. Fiz .o Curso.
Um 'dos trabalhos que j& desempenhado, em Jaguaquara,
foi dê auxiliar de cart6rio. .Aprendi a datilografar. F i q u e i mui'
bom em datilografia. O r a , trabalhei em cartório e at8 gaste
Direito, realmente, seria 6timo para mim. ~ i z o cuiso de ir ai to,
cinco anos, com a idt-ia de, depois, fazer um mestrado no R i o
Janeiro. ~ t & j B tinha ido Funda~2ío G e t i i l i o Vargas, que oferecia um
mestrado em Direito Econômico, com curso no exterior.
Estava nessa fase quando um colega da Banco c
f Ai nomeado para ir ao A c r e gerenciar uma agência. Ele me cc i r rv~uuu
30 Bras
----L =I---
eu jd havia t'erminado o curso em dezembro e esse, conviti
ixo , - para fazer um trabalho com o qual eu 1
arizado no Rio de Janeiro: o exame de balanços de t
E- f o i
E l e C veria que eu organizasse esse trabalho. hxl para passar tr
meses. O Banco era uma coisa indescrltível. Veio, então, um f a
vo na minha vida.
ENTREXíSTADQR - Em que ano foi isso?
3
+
O SR. MINISTRO IILMAII GALVEQ - I s so f o i em 1964, quinze
dias antes da revoluç%o.
ENTRL'VISTADOR - Logo depois da sua formatura?
O SR. MINISTRO ILMAR GRLVE~O - Sim. Terminei o curso em
dezembro e ia fazer o mestrado. Fui para o Acre em fevereiro, para
voltar logo, em 90 dias.
Para se chegar ao A c r e , era preciso dois dias de
viagem. Fui via Belgm, dormi em m a u s e, no out ro dia, peguei um
avi%o e voei o dia todo até chegar. Quando o avião sobrevoou R i o
Branco, fiquei assustado. Era mais ou menos uma clareira na beira da
r i o . Rio Branco, realmente, era umã cidade muito carente de tudo:
calçamento, Bgua potável, energia elétrica etc. F i q u e i assombrado,
mas fu i .
Alguns colegas da aghc i a local, que foram me esperar
no aeroporto, disseram-me que havia um casamento naquele mesmo dia e
me convidaram a acompanhCi-10s. Respondi-lhes que sim. Fui parira a
agência, onde havia uma dependência, pois não havia n h hotel em R i o
Branco. Para dizer a verdade, não havia nem restaurante na cidade.
E r a m a tragédia. Fiquei muito mal alojado numa dependência na
aggncia do Banca, mas era por pouco tempo. Depois, f u i para e s s e
Quando Ingressei na- casa, havia uma garota recebendo
os convidados. Olhei para ela e impressionei-me. E a minha atual
m u l h e r . Apresentaram-me como 0 novo funcionário do Banco do Brasil,
4
Doutor Ilmar, advogado.,, Piquei LLLII ~ U U L V 11- festa
embora. No dia seguinte, procurei saber quem era ela
e era :
:ercXcic
noivo. Descobri que e la morava 8 ie uni empres6rio t
l& meu trabalho. local , o qual eu iria entrevistar no ea
E l e me convidou para ir a sua casa tmar uín café, 01 [uer co:
. ! ., - px6xima. Fui, e 16 me encontrei novamente com a Teca - miqcrezinna.
isso evoluiu numa velocidade bem grande, em pouco tt
imaginava vítcinado para o casamento, fiquei realmente derifuk
Quando os trgs meses estavam para finda1
preocupado em voltar par& o Rio de Janeiro, que era t4 -.
Quando iria ver a Teca novamente? Houve, ent%o, um
politicor o Governador dó Acre era tido como contra-revol~ 10. /
A relrelução aconteceu naquele mgs, em 31 de marco, e ficcuiiub o i t o
dias, no Acre, sem saber o que tinha acontecido. Sabiamos ,
que ocorrera uma revolução. Falava-se que o R i a de Janeiro naq
sido bombardeado etc. Fiquei preocupado com a minha me, porq
nessa
deixe:
altura ., e l a estava morando no R i o com os meuS irrn%os, eu os
então,
.,-. 7 -=.-3
n%o havia comunica~ão, não houve j e i t o A í ,
saber, não se sint~,,,,,,, urna estação de r6ai0, não havia televls, , era u precariíssimo. Acabei sabendo, através ae
a a= ~rontificou a ligar para outro radioamador
depois para o R i o , estabeleceu um contatc
foi um negócio trabalhosa, acabei falando lã em caça: não houve
bombardeio, está tudo normal.
Bom, o certo é que o tempo foi se escoando, e eu
preocupado em voltar, sa i do Rio de Janeiro, eu sonhava, às vezes,
sair do R i o de Janeiro. Sonhava e acordava assim assustado, não sal
não. Eu gostava demais do R i o de ~aneiro. Quem não gosta do R ~ D de
Janeiro? E coincidiu que a minha mulher também adora o Rio de
Janeiro. De modo que temos uma residgncia aqui e outra no R i o , para
passar . f ésias.
~i houve, a revolução. Eu estava prestes a retomar, o
Governador que assumiu, um militar, f o i ao Banco d'i B r a s i l e me
convidou para ser Secretdrio de seu Governo. Eu expliquei: minha
dificuldade é que sou do Banco. E ele disse: nós te requisitamos.
Requisitaram-me, e eu fiquei no Acre, a i me aliviou. F i q u e i no Ãcrt
Logo fiquei noivo e no ano seguinte, em março, eu me casei. ~iQucl
por 19, estava nesse trabalho quando terminou O mandato daquele
Governador militar e entrou outro governador. / ,
WTREVXSTAWR - Como f o i o impacto do regime militar?
O SR. MINISTRO ILMAR GAZIVA0 - O regime militar, no
Acre, trouxe grandes inovações, inclusive o chamado Fundo de "
Participação. O Acre não tinha corno sobreviver, não tinha renda,
então ficava na esperança de uma verba que o Governo transferisse
para o governo do Acre; atk que veio o Fundo de Participacão, a
~ s t r i b u i ç Z o de renda da União. A União era obrigada a depositar
ENTREVISTADOR - Algum deputado chegou a ser cassado
naquela oportunidade?
O SR. MINISTRO ILMAR GALVÃO - Lsga, não, mas depois
houve cassações, ndo que ' houvesse corrupto nem nada, mas eram
cassaçbes para ajustar a Assembl4ia ao regime, como fez no R i o
Grande do Sul . No Rio Grande do 57.11, houve a necessidade de tirar
alguns deputados.
ENTREVISTAWR - Oito w nove deputados.
O SR. MINISTRO ILMAR GALVÃO - Foram cassados assim;
nbo fararn corruptos, subversivos.
ENTREVISTADOR - Para ajustar o cblégio e le i to ra l?
O SR. MINISTRO LLMAR GALVÃO - Exato, para ajustar o
colggio eleitdral .
p governador me convidou.,-"-,;{omaImente eu não iria
servir ao governo militar, porque, na faculdade, pertenria h ala
esquerda. &l&m ae bancArio, eu t a m b h estava ligado ao sindicato. Eu
era sindicalizado e , vamos dizer assim, um ativista. Entao, t a n t o na
faculdade quanto no banco, eu poderia até &sk:---lg punido pela
revOlução. Não a f u i p6rque não estava mais no R i o de Janeiro.
31-lj1~'~; colegas, que estavam na mesma situacso que eu, foram mandados
para Cuiabá, outros para o Arnapd. Eu já estava no Acre, e fiquei Xá,
muito s a t i s f e i t o da vida.
I Comecei, entSo, &atividade assim: não havia faculdade -
de Direito, não havia j u i z , não havia promotor no A c r e . Po r qu@?
8
Quem iria sair daqui, ou de São Phulo, ou mesmo de, kliabb, paea sè-r
I j u i z no Acre, numa sittuaqão daquela? ~ssim, IA havia pete, mmarc-
sem juiz. avia apenas um ju iz na Capital, e ele respondia par tudas
&. O Tribunal possuía sete membros; s6 havia t r@'~, e não se
conseguia nofiear os outros. L I
I Crm colega, ,que acabou 'sendo pai de um ,concunfiãdo,
a id&ia de criarmos uma faculdade de Dire i to . E r a realmente uma
id4ia quase absurda, mas havia sete bacharkis em Rio B s a n c o ~
contando gomigo. Pensamos que, cano &ramos setei daria para começar
o curso e resolvemos montar a faculda'de de D i r e i t o . ~ons$guirnas uma
l e i estadual que a criava, Fui encarregado de ir ao ~ i o de -pneiro
p a r a ~ ~ ~ g ~ - , o Conselho Federal de Educação r e c o n h e c w essa faculdade.
Cheguei 1a, muito acanhado, e propus esse
reconhecimento. Lembro-me que um rnemkro do Conselho, a quem foi
distribuido o processo, chamou-me e d i s s e que eles nãó estavam ali
para reconhecer "faculdades vagabundas:. E l e usou esse termo. NZo
vou mencionar o do f i y l r B ~ ~ , porque ,z;e inclusive j6 morreu.
Expliquei a esse professor que nSo era a s s i m : -tratava= de um
Estado remoto, nas f ron te i r a s remotas do Peru e da Bolivia .e não;
havia n inguh para exercer os cargos, nem desembargadore~~
grecis$vmos que os acreanos assumissem esses cargos, q ~ e f l ~ s s m , ~
juizes e tal .' Não houve j e i to .
I Na entanto, ~ b a i ' a n g Madureira de Pinho, era $a?nb& ,
membro do conselho; a esposa do ~ i n i s t r o ~ l d i r Passarinho, Doutora
9
'*'esis - ela atualmente mora em Brasilia -, que era sua chefe de
gabinete, ouviu a conversa e me-disse+ que iria relat~_r_p- processo
para padureira de Pinho apovay. p i para a casa da minha mãe, no
R i a ae Janeiro, e, quando voltei, r c a l ~ ~ n t e estava aprovado.
Retornei ao Acre, e foi uma sensação a faculdade de
Direita. N6s a criamos, mas não havia prédio, n%o havia nada. O
d i re to r invadiu um caldgio primário antigo. Eu diga que invadiu
porque ele levou todas as coisas e se colocou 16 dentr% sem
autorizaçãci, pcirgile ri ent2ío Governador não tinha muita simpatia pela '
faculdade. No entanto, invadiu-se o prédio e nele colocamos ã
faculdade; ninguém oí~sou tirB-ia, e assim funcionamos precariamente. I
FnrSo c ,envolvi-me cbrii a faculdade, ensinei, depois fui , : 1 d i r e t o r . Essa faculdade se transformou numa universidade. Jarbas
I ~assarinho, então Ministro da Educe~TG, a fcderalizou. JA havia, no
A c r e , tres faculdades: Direita, Economia - criada t a m b h assim - e Educação. Ele uniu as tr&s e formamos uma universidade. ki,
inclusive, redlgl a l e i que criava a Universidade do A c r e . A
Deputada Eurides Brito trabalhava no ~inist&xio, foi t a m b h lã,
levitntou aquilo, organizou tudo e pronto, federalisou, saiu a lei
federalizando a Universidade do Acre, que hoje 4 uma grande
universidade. E uma Faculdade de ~ireito Com alto nivel, jd com
muitos mestres e doutores; j d com muitos alunos, juizes federais, e
at8 cam grande destaque; primeiro lugar em concurso de j u i z federal.
Antes que houvesse juiz f d e r a l f6rmado no Amazonas, aluno da
Universidade do Acre jd havia, realmente, feito 60ncurso e era juiz
federal. E hoje 6 . ma universidade muito grande. ~i~ugi-16 at&' vir
para Erasilia. aqui fui para, a UnB, onde ensinei ainda por dezoito
anos. Saí ao final dos setenta anos: estou aposentado t~~ 16. L
Mas, voltando atrbs, eu estava emp6lgad0, naquela
&oca, em ser advogado do Banco, pois não era advogado do Banco. Era
func imdr io burocrata, tdcnico de balanço, de pgricias etc. Mas eu
queria ser advogado; era o meu sonho ser advogado da Banco do Brasil
e ficar por 16 mesmo, au Rondônia ou Acre. A i saiu a nomeação. Eu me
candidatei, porque tinha umd vaga em Rondônia e fui nomeado. Fui a
Rondônia, escolhi uma casa para morar c q minha mulher, já estava
casado. Então, estava nesse embalo de ir para Rondania quando se
oriou a Justiça Federal em 1966.
Um dia estou 16, chega um senadar do Acre muita m e u
amigo, tinha sido meu padrinho de casamento, amigo do Castelo
Branco, General os& Guiornard dos Santos - num dessas viagens que
ele fazia ao Acre - e me disse: olhe, Ilmar, tomei a liberdade de
indicar o seu nome para ser juiz federal do Acre. O Presidente
Castelo me &rguritou: Senador, a Senhor tem um nome para ser juiz
federal no Acre? A i , eu parei e me lembrei de você e di s se : tenho. E
dei seu nome. Eu cai das nuvens'. Eu estava interessadiçsirno em
advogar. 56 tinha estagiado três anos no Rio de Janeiro. Gostei
daqugla vida atender A> pessoas, de resolver o problema e t a l . Eu
gostei àa'quilo. Estava imaginando que a t k ia ganhar dinheiro como ' ,
advogado no Amãzorias, porque n3o havia advogado, eu estava
imaginando que ia ganhar dinheiro, quando chega a nomeação de juiz
federal. \
Eu disse: Senador, meu plano era out ro , era ir para o
Banco do Brasil ser advogado; era o que eu sonhava fazer da minha
vida. Ele disse assim: vamos fazer o seguinte, você não vai me
deixar mal. Eu disse: não, realmente, n%o posso deixar a Senhor mal.
- Então, o Senhor assume o cargo e , daqui a um ano, se não gostar, o
Senhar volta para o Banca. hi ainda disse assim: mas não pode, o
Banco do Brasil ... - Não, eu sou amigo do Castelo Branco, Ilmar
vocS volta. Eu d i s s e : estd bem. Minha Earnilia t a m b h , mima mulher
meu sogro: não, j u i z federal, aquela coisa. Lfi vou eu ser juiz ser11 > -
, nunca ter,me passado pela cabeça a Magistratura. Numa. De modo que
" f u i ser j u i z federal do Acre. Passei nò Acre, como juiz federal, di
1967 até 1979, doze anos.
Urna jurisdição tranqgilissirna, porque sem trabalho. 1
Aproveitei para es tudar . Ensinava na faculdade. Então, entre o
ensino e a estudo, eu realmente aproveitei aqueles anos e tive,
digamos assim, uma formação jurídica mais sólida, porque a faculdade
é muito pouco.
KNTREVISTADOR - O Juizado Federal a l i jurisdicionava o
Estado inteiro?
0- SR. MINISTRO ILMAFI GALVÃO - O Estado inteiro, Não
I havia nada, depois surgiram umas ações de desapropriação, criminais.
As a ~ õ e ç criminais na ~ustica Federal são, por
exemplo, sobre importação, contrabando de uma garrafa de uísque ou
cigarro estrangeiro, f u r t o de pneu em uma separtiç80 federal. Eram
as coisas mais insignificantes da vida.
I Agora, a remuneraçdo de Juiz Federal era 16 embaixo,
Um dia, o Presidente do Tribunal Federal de Recursos me perguntou: O
Senhor es tá aqui? Eu Ihe d isse que estava e havia ido 1.8 para
resolver alguns problemas. Mas o Senhor não me pediu? Respondi: N ã o
1 hd cornunicaç8o de 16 para c6, Ministro. EU tenho de vir. Se
1 esperasse o Senhor autorizar a minha viagem, eu não viria.
I Aproveitei e disse m a i s : O ~ribunal' tem um Juiz Federal no ~ c r e
porque eu havia recebido do meu sogro ilmã casa para morar, pois a I I
meu ganho não dá para pagar um alumel de casa - eu ganhava
setecentos e tanto, ~ B Q sei se m i l cruzeiros, uma coisa assim, 56
sei que era na casa dos setecentos, e qualquer aluguel de casa 1B 1
.era seiscentos, oitocentos, 'então, não dava.
Quando casei, meu sogro comprou, logo, uma casa e deu
para minha mulher, para moramos. Com essa casa, a remuneração dava;
não> tinhamos outros gastos. R i o Branco 4 muito pequeno, não havia
realmente como gastar dinheiro. O problema maior era nas ferias,
1 poroue tinham de ser no Ria de Janeiro. EntSo, eu tinha de dar iIm
jeito de vir ao R i o de Janeiro para passar as f+ria$. Nessa época, -
13
/
eu tinha um apartamentozinho no Rio, em rpãnema, ai vinha passar as
F i q u e i doze anos no Acre , que me serviram, porque.
foram doze anos aproveitados para estudos. Não havia computador,
que, hoje, & uma facilidade muito grande para o j u i z . N ã o tinha a
quem consultar nada. H o j e , se eu tenho a l m a dúvida, na condiç%o de
juiz, quando eu digo ao meu filho - que vai, agora, para os Estados
Unidos: Jorge, i sso assim, assim? Papai, olhe a q u i a resposta. Um
jovem ainda rec&-formado sabe mais a t 4 do que um minis t ro . Por
incrível que pareça, isso não & exagero. Porque q u e m sabe manipular
o cmputador t em tudo h m 3 o . N2o tinha computador, jmnal, l i v r o ,
nada. Quando &u ia ao R i o , comprava livros e levava.
Então, fiquei no Acre estudando. Ein 1979, eu já tinha ,
uma filha de doze anos, que entendeu cursar engenharia; como fez - é
a Clarisse, que hoje trabalha no Superior Tribunal de Justiça, cm o
F'ernando Gonçalves. Então, a mãe disse: Olha, Ilmar, agora é hora de
ir embora. E eu agarrado acr Acre. Fui presidente do Conselho
Desportivo; presidente do conselho universitdrio. O Acre j B era
outra coisa nessa Bpoca, doze anos depois. Fui reitor: assumi vArias
vezes a reitaria. Enquanto a LOMAN permitia, Quando saiu a LOMAN,
pensei que não podia mais. Ent%o, sai da diretoria da Faculdade de
Direito; nZo assumi mais a reitoria e fiquei nessa idéia de ir
embora, conforme minha mulher havia falado.
EU vrm a posse ao Mlniscro utto Hocna ,na 'i'rmu
lisa ra: çíssima iara vi: Federal de Recursos. Era uma cr
uma posse.
Uma vez, eu me propus a v i r dessas posses - nao
foi' essa do Ministro Otto Rocha, mas outra -, telegr
~ribunal, e o Corregedor mandou uma resposta d i ~ e i r u u qi
mfui par
le, se
viesse, seria por minha conta. assim, pãra ver como era nagu
&oca esse regime de Qastos, N ã o havia dinheiro.
Dessa vez, claro, não v i m , parque nzo vinha para c&
para posse de a l g u h no Tribunal Federal de Recursos - nãa sei quem
f ai, não me lembro mais - e desembolsar, fazer dois dias de viagem,
vinha até Cuiabd, depois para c&. Mas, ai, para a posse do Otto \
Rocha, eu v i m . NSlo me lembro por que, mas eu v i m . Chegue5 \ aqui,
havia um Juiz Federal, Costa Filho - pai da Daniela, no ElaFanhão,
Juiza Federal, hoje -, que me disse assim: Ilmar., vocS t e m de vir
pãra cá, para ~rakilia. Eu havla pensado em ir para a Bahia, mas
minha
M o <
era i:
mulher
mer i a
- nko <quis, porque ela nao tinha nada a ver cbrri a B a A i , i
ir' para o Ceará, porque não queria mais ir para
ram va
1 catar
gas' que iam surgindo. Para Santa catarina, eu
inense que. estava em R i o Branco - até j b morreu,
que me disse: Ilmar, Santa Catarina 's6 tem
coisa, ,-- - voce que 6 do Nordeste não vai ser bom, não vai entro
2 lá, 3 ! eles discriminam o nordestino. N%o sei
<era verdade. Penso que não. Chegou a me dizer isso; eu me assustei e
n8o f u i -
Então, vim para c&. Na passe do Otto Rocha, disseram-
me que i r i a s u r g i r a vaga do Otto e que eu me candidatasse a essa \
vaga. Logo, candidatei-me A vaga do 61to. i311 Brasília, vai ser
ótimo, porque vou morar em um apartamento funcional; meus f i l h o s vão
ter escola perto - da 304 N o r t e , onde morava o Costa Filho, olhando,
lá de cima, ele me Bisse, a l i 4 a escola dos meus filhos, no meio da
quadra. Escola pfiblica, nSo paga nada, ótima. pensei, realmente,
ficar naq~iele f i m de mundo, no Acre, tendo tudo isso aqui, em
Braçilia, a disposição: apartamento funcional, carro oficial.
Candidatei-me, f u i Lwar 16, e o Pecanha Martins, o
velho ~ e ~ a n h a , pai do atual, sue era o Ministro-Presidente, chegou
lá e me di s se què ia encaminhar o meu pedido, m a s n%o adianta nada
porque t e m se te candidatos, um f i l h o não sei de quem, outro que fez
Escala Superior de Guerra, tem o pessoal do SNI, agora, você não tem
a menor condição.
Voltei para o Acre, bem desanimado, m a s falei com a
minha mulher e ela fa lou com o Gavernador, que já era outro. O
Geraldo esquit ta era o Governador, amigo do Geisel, que jA era o
Presidente da Republica. O Mesquita d i s se que viria a BrasiLia e que
resolveria esse caso, dispas-se a vir, veio. Amigo da minha mulher,
muito amigo, d g o de campanhas eleitorais do passado. O meu sogro
era político, fazia campanha do Z& Guiomar; que e'ra Senador. Então,
chegou aqui e xalou com o ~ei ,sc l ; e o Geisel guardou aquele papel;
ele bwltou para o Acre e disse: você s6 não vai se der um azar,,, Ri,
eu fiquei animado. O tempo foi passando, passaram sete meses, sem
decidir essa questão. EntZo, eu fiquei assim, vi'm aqui, passei por
aqui, de volta das f8rlas no Rio de ~aneiro, f u i ao ~inistkrio da
Justica saber, 13 de março, o Geisel ia sair dia 15 de margo. Fui 16
e a pessoa, n3o me lembro quem era, na vexdade, a diretor do DJ,
chamada Diretoria Judiciária do Ministério da Justiça.
ENTREVISTAJXIR - Essa vaga ficou todo esse tempo sem
ser preenchida?
O SR, MINISTRO T L W GAPivKO - Ficou esperando; estava
num, irnpasse. F u i ao Mirlistgrio da Justica, a pessoa lá me disse: i
Ouça no rádio Voz do Brasil", porque vai sair hoje, por
coincidgncia. - Perguntei por quê? - E o kesuinte: o Presidente
G e i s e L mandou buscar o decreta de nomeação de um deles, um dos
candidatos, não Vou dizer ao Senhor quem S. Ouça, hoje. Ela me
animou muito para ouvir. Pensei que tinha alguma coisa a ver comigo,
mas ela não disse. EU fui para casa, fiquei atento, e saiu a m i n h a
Depois vim a saber, através do Çarcia Vieira , um dos
sete candidatos que depois veio para o Tribunal, que isso foi uma
via-crúcis. Meu sogro, que era Presidente da C h a r a dos Deputados,
Geraldo Freire, ia com o Armanda Falcão, Ministro da Justiça h
época; o Armando Falcão mandava fazer o decreto e levava para o
1 aqui. Ai mostrava. O Falcão f e z umas três tentativas - contado pelo
Garcia, eu não sabia disso. E contou-me o Professor Carvalho, da
I Casa Civil: d a n d o o Geisel foi limpar as gavetas para sair,
I encontrou o papel, me mandou ao Minist4rio da Justiça trazer o
decreto de sua remoção. Veja o que & o critério, isso foi decisivo
na m i n h a vida. Senáo, como eu viria para Brasilia? Eu não tinha
ç o n d i ~ ã o .
Então v i m satisfeito da vida, fui morar na 263 Sul e
transferi-me para a Universidade de Brasilia, fui dãr aula. Minhi
filha, depois de tetminar o curso fundamental, f o i cursa]
Engenharia, conforme ela queria, inclusive fui colega da
Maranhão, fio Colégio Sacrg-Coeux. .-
Bom, quando assumi nesta Cor te , era Presidente d(
I Tribunal o Ministro %ri, que me falou: m a s t e m umã coisa, você ter6
I de ficar respondendo pelo Acre, porque eu n8o tenho j u i z para ir
1 para 16. E eu respondi : pais não. A t & gostei, porque ia 16 todo mês.
F i q u e i aqui na Segunda Turma e toda m ê s ia ao Acre. Foi uma loucura,
porque logo em seguida veio o Jarbas Nobre e me pediu para instalar
Depois de instalada a Justiça Federal naquele: Estado,
ele disse: agora voc& f icar6 respondendo por Rondônia t a m b h . Assim,
fiquei respondendo por Rondhia , pela A c r e e atuando na Segunda
Turma, que tinha processo que não acabava mais, porque o Otto passou
uns cinco anos no Tribunal Federal de Recursos, convocado, e os
processos 'iam acmulando por não ter quem o substituísse. Eu cheguei
aqui - & interessante assinalar isso, a meu ver d uma solução,
apesar de a m i n h a mulher pens'ar que não - e vi aquela quantidade de
processos. O Dire tor de Secretaria, A Bpoca, Ilton Pereira, que hoje
está no Conselho da J u s t i ç a Federal, era meu çecret6rio e disse:
Doutor Ilmar, vou lhe falar uma coisa, os advogados dizem que era a6
o me faltava, esses processos todos sem sentença, e ainda vem um
juiz do Acre para substituir o Otto.
Aquilo mexeu comigo,, -ent%~ eu disse: aqui & o
sewLnte, quem pedir, voc& tira o processo e manda lá pra casa; se
apareces um advogado ou uma parte e pedir um processo, mande ld para
casa. É uma ordem do ~entil Cardoso, que foi t & c n i c ~ do Bangu, no
Rio Be Janeiro. Ele d i z i a que o jogador que péde recebe. Quem se
desloca tm preferência de receber a bola. Essa regra, eu introduzi
aí.
Outro dia , falando para os juízes f edesais, eu ' disse
. i s sa , e lenho falado 'af& para os Mihistros do Tribunal Federal de
Recursos. Vamos julgar os casas, os pedidos de prioridade, porque
quem vempedir prioridade deve ter algum motivo, ele estA querendo.
Eu tenho aqui alguns casos cujas pblrtes j á estão beirando os 80 anos I
e querem ver o resultado. Mas nSo adianta, 4 uma quantidade muito
Com um ano e meio coloquei os processos em dia. Eu ia
ao A c r e toda m8s-, passava lá três dias, outros trgs dias. m
Rondania, fazia as audiências, porque 16 nZo havia muitos processos.
1 Ent%o, foi possível fazer i s s o . ~ssim, com um ano e meio, pus em dia
I os processos daqui; n2o deixe i processo atrasado nem em Rondõnia e
I no Acre.
E já começou a aparecer meu nome no Tribunal Federal
de Recursos, pois eu não conhecia ninwkm IA,; v i m do Acre , era um
1 ilustre desconhecido. Meu nome comecou a aparecer por causa das
I sentenças. Da vez m quanfio aparecia um Ministro referindo-se aquela
sentenca, e eu digo que agora n8o tem mais, porque acabara os I
processos.
1 O MiniStro Madeira, 1á do Norte do Maranhão, ama-se
1 ' comigo, pais t5nhamos afinidades coma nordestino e Artista. Uma
I vez, o Ministro Madeira disse: - Ilmar, aquela sentença? E l e me
I perguntava sobre aquela sentença que todo dia aparecia. Eu di s se que
1 ela agora não aparece mais parque não tem mais processo. Agora tenho
I um ou ou t ro e tal. Coloquei em d i a .
Quis fazer um churrasco para celebrar; depois alguém <
me disse para n%o faze r , pois ficaria parecendo .aos outros colegas
um acinte; vocs est6 celebrando que coloquei em 'dia os processos,
enquanto havia colegas que não estavam em dia. Eu nem f i z nada para
comemoras.
O meu nome cornec
lista, tive u m voto, que e
tive seis votas; e, na terceira lista, sa i na cabeça da list
coloc
: Souza
aparece aao numa
s i iu soube
Estava presente aqui, no Tribunal Federal de Rkcursos, o Profess
Frederico Marques, processual ista, esc
mencionado no l i v r o de Saulo Ramos -, ele pergunt,, ,, Alcino
advogado já falecido, era muito meu amigo -, que
dele , quem era este rapaz que! estava na cabeca fia L I ~ L U ; e ~ r : ULB
obras
-11 = R
estava
que era o J i f i z da Segunda Vara, Doutor ITmar , pess!
Frederico Marques, entdo, di s se : você me Leva lá pç
tradsmitir essa noticia a ele.
Eles foram h Justiça Federal, que já fwci
pr6dio novo - antes era no Ministério da Sabde, ZP andar. hf esta
.o boa;
eu quero
em uma audiência, quando' vi entrar aquela figura multo al.
Alcino, logo conclui que deveria ser o Frederico Marques, ~JVLYUC
i ser amigo do F~ederico; suspendi a a
ntei-lhe: camo vai, Prbfessar? A que d w o
se: eu v i m aqui para Lhe dar uma not ic ia
- -
udi &nc i Alcino
a hon
.. Mui
.la. O Senhor já soube algum noticf a ld '
me dize
onhece-
disse i
. - que não estava sabendo o que ele queria I
ie Inrormou que eu acabara de entrar em uma l i s ta ,
u r r n i e i r o ruaar. Fiquei muito satisfeito. Isso pouco tempo depois d e
t s i l ia , em 1979; entrei' nesta lista cindo an
depols. Eu era um descohhecido e e n t r e i na cabeca da lista. Clar",
ele rn Então,
indo pc ira Br4
eu devo isso a alguns amigos 16 de dentro que formei depois: JosP;
Cândido, Carvalho Filho, Ferrante, o próprio Bueno, Pádua Ribeiro e
outros com quem fu i me entrosanda.
Sai na l i s t a . E a nomeação? O tempo foi passando,
passando; aquela ~ingtístia; eu pensando que não havia condlcões por
estar concorrendo com o Euclides, de Minas Gerais, e com o João I
Gomes, de São Paulo. ~ l q u e m disse para os meus f i l h o s que eu não
tinha a menor candiçbo de ser indicado, pois, concorria com
mineiro e um pauliata. Eu ficava naquela expectativa. Um dia d i s ç ~
' minha mulher para irmos ao Supremo fa la r com 6 Madeira. 'Na &oca, o
Presidente era Sarnèy. Fui. falar com o Madeira. Fui para a sessão,
sentei-me, esperei a sessão terminar. Quando ia me le
chegau uma pessoa para conversar com o Madeira, que n%o b c r ~ a v a uc
conversar. Quando não agüentei mais, levantei-me e-disse
mulher: vamos L&, Quando cheguei perto dele, ele me perguntou o c
eu estava faeendo 16. Disse- lhe que estava L6 para 8ar u
palavrinha com ele, mas que n%o o interromperia. Uma pessBa
perguntou a ele como era o meu nome: que nome ele havia falado. Ele
respondeu que era Llmar. E l e perguntou se era Ilrnar Galvão. Ele
respondeu que sim. Então, ele me disse: Ilmar, prazer em conhecê-lo.
Eu sou Saulo Ramos. Estou em Brasilia, por coincid&ncia, a pedida do
Fredesicb Marques para pedir ao Sarney nomear você. Eu nSo conhecia
Frederico Marques. hi o conheci naquele dia. Eu Q vi pela primeira e
Últ4ma vez, pois depois ele morreu.
2 2
Vou atravessar a praça, a pd, daqui a pouco; vou falar
com o ZB que Fxederico Marques f e z esse pedido. DB-me o seu
telefone. hi lhe dei o meu telefone. Era uma sexta-feira. E l e ainda
me perguntou se eu po8ia' ir ao Teatro Nacional. Eu $erwtei ao
. Saulo Ramos por qud. E l e me d i s s e que o Presidente Sarney irfa e
quem sabe se ele pudesse me apresentar a ele. Eub lhe respondi que
não iria fazer isso. d
I F'hi para casa. Umas oito horas da noite, 4 telefone
tocou. Eu atendi, era o Saulo Ramos. Perguntei ao Doutor Saulo se
, estava tudo bem e o que ele mandava.
Ele disse: - O sarnêy me disse que estava empatada a 1 I
coisa. Ent%a, eu disse: - Mas, Z&, O Madeira desempata, não B? EI I
disse: - O Madeira desempata. Então, pronto. O Ilmar & candidato d I
Madeira. E s t á resolvido. Na segunda-feira, sai o decreto: na terça-
feira, ~iãrio Oficial.
L& fui eu para o Tribunal Feaeral de Recursos bate
iessa turma .toda. Esses fatos continuaram bela vida afora, como há
?sçes f a tos na vidá de todo mundo. E depois vem o Supremo. Eh j6
estava & ~ u p e r i o r '~riãuA1 de Justi~a, tribunal formado por pessoas ' .
do maior valor.
ENTRE'ViSTAIMR - Como foi a sua vivhcia. no Tribunal
Federal de Recursos?
O SR. MINISTRO I L W GALVAO - Foi Um periodo
maravilhosa. Todos eram amigos. Era uma amizaãe m i t o grande. N6s
nos encontrAvamos, reunimos, participávamos, familias se davam.
Eu estava no Superior Tribunal de Justiça, no meio de
Jus4 Dantas , Washington Bolivar , William ,Pãtterso*l, pessoas da maior I
gualidadè, ju izes de primeira qualidade. Poderia dizer e nome de dez
rapidamente: Nilson Naves.
Eu era vizinho do Marco ~ur$lio. N62 r n o r ~ v m o s na SQS
313. Os dois apartamentos ficavam de portas abertas. A meninada dele
corria de lá da ponta, entrava no meu apartamento, e ia at6 a o u t r a
ponta correndo atrds dos meus. Os meninos faziam isso 'todo dia;
conviviam-se.
O Marco Aur4lia de vez em quando entrava em casa, nd,
o convidávamos a tomar um ulsque. Ele via o m e u Wabalho. Eu tinha *
um critério, pois, quando era juiz federal, estabeleci uma regra na
secretaria: eu levava seiç processos p6r dia e trazia todos
julgados. Eu começava às seiç horas da m a n h ã e ia at& uma hora aa '
tarde. Eu dizia à K b t i a - que trabalha, hoje, no Conselho - que
queria essas sentenças datiló-grafadas ilaquele dia, para assind-las
no mesmo dia . Eram feitas A máquina, Quando havia um errinho,
colocava embaixo: "risquei determinada palavra" ou "emendei
, determinada palavra". N ã o padia bater de novo, porque não havia
tempo para isso.
Então, wn dia, o Marco ~urélio disse-me - num baile de #
Carnaval, no Iate, estAvamos todos juntos, em fevereiro de 1991 -
que havia uma vaga, no Suprmo ~ribunal Federal, do Aldir
Passarinho. Eu disse que sabia. E l e me perguntou o que eu achava
dessa vaga. hi Lhe disse que para essa vaga havia um grande
candidata: Inocencio Marques Coelho, do Pasd. ni era amigo do
InmQncio, rapaz inteligentissjmo, de cultura juridica vasta. Para
mim, o melhor candidato era ele. Então, ele me disse, com aquele
je i tão , que estava falando de mim: que queria falar a meu respeito e
que eu achava dessa vaga ser para mim.
. Vamos deixar de brincadeira, Marco ~urélio. Vamos
parar èsça conversa aqui e vamos voltar a ela daqai a quinze dias se
vocs quiser, de hoje a 15. Eu vou a sua casa e n6s vamos continuar
essa conversa. Quinze dias depois, eu fui I A . E l e me perguntou se eu
aceitava. Eu disse: rapaz, isso não é assim não. E l e fa lou : 8 . Diga
se aceita. Se você aceitar, vou encaminhar a seu nome, parque o
Presidente Collor notou que, no Supremo, sairam cinco Ministros do I
Norte e do Nordeste e nunca mais se nomeio nenhum Ministro do N o r t e
e do Nordeste. Veja, sairam cinco: Xavier, do Amazonas; Madeira e .-
A L d i r ~assarinho, do Maranhão; aqueles dois pernambucanos, Falcão e
o outro que ainda estd conosco. Ele está querendo colocar alguém do
Norte ou (do Nordeste nessa vaga do Passarinho. A i eu andei indaganqo
por ai, e me disseram: por que não a Ilmar? Ele estfi no Superior
Tribunal de ~ u s t i ~ a , baiano e vinculado A Amazania. Eu di s se : o que
2 5 c .
eu tenho de fazer? E l e me respondeu: vocS tem de arranjar um apoio
politico. O presidente nomeia só para nomear, ele quer vender. ~i dá
> \
boata politicamente. Tem de estar com apoio ~olitico. Eu sai catando
apoio político. Ningu&m acreditava.
hi d i z i a : estou cogitado Bara ir ao Supremo e preciso
de um apoio. Houve at& alguns que n%o acreditaram e foram perguntar
se era verdade. Essas coisas da vida.
No dia IQ de maio, surgiu a vaga - Passarinho saiu- em
abril - e eu fu i chamado ao Ministgr io da Justiça. 0 Jarbas I
Passarinho me disse: Ministro Xlmar, o Presidente quer falar com
Senhor, e nãa tenho dúvida de que 8 sobre a vaga no Supremo.
Senhor sabe que eu tenho um candidato, o Inocência, mas o Pxr
quer fa la r com o Senhor.
Eu disse: interessante, ele ê o meu candidako também
aqueie por quem eu torço. Então, vamos 1A. Ele me levou lá e ronhecl
o C o l l o r naquele dia. Entrei no :gabinete dela, começamos a conversar -
sobre uma ç&rie de coisas e , no final, ele disse: o Senhor sabe p o r
que v&io aqui? Eu respondi que desconfiava. Ele disse: pois 4, 4 a I
indicação para o Supremo Tribunal. O Senhor aceita? Respondi: eu
aceito. O que eu iria dizer. Isso é a consagraçda de um j u i z . Não
posso dizer que nbo aceito.
A i ele apertou uma campainha, chamou o Jarbas
passarinho e disse: o Minis t ro Jlmar Galvao acaba de dizer que
aceita a sua indicaçbo para o Supremo Tribunal, de modo que o S a o r
2 6
comunique ao Presidente do Superior Tribunal ãe ~ustiça, ao
presidente do Supremo e, tarnbh, ao líder do Governo no Senado.
Lembro-me de que o grande Jarbas Passarinho, a quem
admiro, ainda disse assim: Presidente, hoje 6 D i a do Trabalho,
feriado; n%o tem ninsukrn.
- - Eles e i t ~ o em casa. ~ o d o s eles estão em casa. O
Senhor trarfsmita para eles em casa.
A$, lá vou eu para o Supremo Tribunal, quase em umà.
crise de depressão. Achei aquilo, realmente, uma colsa inesperada na
minha vida. Contei coin o apoio d o , Aldir Passarinho, que disse:
Ilrnar, todo mundo vai para o Supreaio por indicacão de a l g u h .
Achei realmente que era uma responsabilidade muito
grande. Fiquei ld; goste i muito: trabalhei o que pude: e sai com o
meu serviço em dia. NZo posso dizer que não tinha um processo
porque, para os processos que entraram 60 dias antes, eu n%o podia
assim.
n a i s colocar em pauta nem trabalhas neles, pais j b tinha uma da4 \
limite. "=- pude julgá-los, mas n8o deixei um procrd-- - la ficou nada, graças a Deus.
Atualmente a 'çitua~ão esta um caos. antes
i se, de lá para c&, aumentou a estatística. F
pude.
A l a u
irá; n$
N%o se:
não er
iz o q~
DJTREVJSTADDR - O que o Senhor pensa a respeito aess
'%o de compatSncias da Justiça Federal e dessa exp:
judic ialidade?
\ /
O SR. MINISTRO 1- GALV~O - A Constituição trouxe
uma cpantidade Smensa de! novos processos. A crise economica também
propiciou isso. A msitua~ãa seria m u i t o mais grave se não houvesse as
ações coletivas, em que apenas uma aç3o cuida do interesse de mil
servidores, de mil trabalhadores. Isso diminuiu bastante apesar de,
hoje, haver uma regra no C6digo de Processo Civil estabelecendo que
o j u i z divida essas acões grupos de dez. /
O n t e m mesmo d i s c u t i esse assunto com minha filha
Candice, que B j u i z a federal. Ela disse-me que queria seguir a minha
carreira. Respondi-lhe: minha filha, não faça isso! Vocs sabe que
passei a minha vida toda sem ir a m a reuniao de pais e mestres, sem
conhecer os professores dos filho;, sem fazer um mercado etc. ~ h h a
mulher f a z i a tudo isso porque eu não tinha tempo. Meu tempo era
totalmente absorvido com o m e u trabalho.
Disse-lhe: não faça i s so ! Vocg 4 mulher e ter8 os seus
filhos? Sua mãe f o i do M i n i s t k r i o Público e pbde cri&-10s com
tranqüilidade. E eu n3o pude n e m acompanhar a criação de mcês. Mas
ela quis ser juiza .e, hoje, 6 j u i z a federal.
O n t e m discut imds , minha filha e eu, a respeito dessa
possibilidade de se dividi r um processa, por exemplo, de quinhentos
servidores , que é um processo s6. O C6digo de Processo Civil manda
desrnembrd-10 em grupos de dez. Então, aquela vantagem da ação
coletiva desapareceu, porque distribuiu em grupos dez . E h6 uma
sér ie de regras absurdas dificultando tudo e estabelecendo,
28
inclusive, que a competência para essas aç6es civis de inprobidade 6
do juiz do lugar onde ccõrreu o &no. Os autores só podem ser I
aqueles domiciliados na jurisdição do j u i z . Quer dizer, criou uma
competgncia pelo autor, o que n%o existia. Isso dificultou bastante.
Mas o certo 4 que a situacão está ruim, est& p4ssima.
H& uma lei instituindo que 'os processos de q u e m tem mais de sessenta
e cinco anós devem ser julgados com prioridade. Porém, ninguém tem
tempo paYa i s so . Conheyia uma ministra de um Tribunal que diz que s6
atende aos pedidos de prioridade e , a s s i m mesmo, não tem condiçSo de
julgar todos eles. ~ntão, para aqueles que n2io têm a quem pedix a
pribridade, o processo fica para a eternidade.
Presenciei, outro dia, um minist~o dizer que, em
julho, o STJ recebeu mil e trinta ou mil e cinqUenta processos. Um
outro ministro indagou-lhe: quando serão julgados esses processos
com o
muito c
0 pro
que entraram em julho? E l e respondeu-Jbe: nunca. Como nunca? Parque,
de pr ; que t a o s em hão, julgaremos durante,
2s. É uii r i a y o ~ i o de tioidb; é um negócio incrível.
blema do Poder JudiciArio estA seriissimo. Es!
morosloaoe e o grande problema. A questão relativa corhipção de
juiz 4 pontual, É um juiz que, geralmente - se sabe -, não está
. Agora, a morosidade ...
m W f S T A W R - Como se resolve isso?
O SR. MINISTRO IZMAR G A L V ~ - Fala-se em reduzir o
número, de recursos. Tçso prejudicaria o ideal de justiça. Por que se
2 9
recorre? Vivemos numa Federação. Hb um tribunal no R i o Grande do sul
e outro no A c r e . Cada um deles 6ecide de acordo com a sua concepç%o
do que é o direito. Então, h6 necessidade de um tribunal que
uniformize essas decisões. Qual $ a funçao primordial do STJ e do
STF? É a unlfomkzação da interpretação da l e i . Ora, como se
uniformizará? Não h& um processo neste pais que nEio possibilite o
ingresso de um recurso espe~ ia l , porque k ofensa h lei. Qual & o
processo em que não se pode alegau que a lei f o i ofendida? É muito
dif icil encontrar essa _hip6tese. Então esta ai assa situação. Agora,
reduzir, como o Supremo Tribunal se viu, agora, As voltas com ur
quantidade de processo muito grande, quando então cr iou a chamac
repercussão geral, o que acontece? Tem-se uma causa que foi \
manifestamente errada e 1136 se. pode levar a um t r i h
uniformize, porque não tem repercussão geral. Por exemplo, há un
grande quantidade de processos de multa de trânsito no STJ - eu n:
sabia disso -, e multa de trSnsito 4 insignificante, mas vai para
STJ, porque ofendeu a lei. A meu ver, pode-se tirar alguma coisa,
sim, não pelo valor da causa, porque o valor é u m fator muito
relativo, para quem tem grande patrimõnio é ate pequeno.
WREVISTAWR - É verdade. A medida do potencial
I
o£ ens ivo .
O SR. MINISTRO ILMAR G ~ L V ~ O - Exato, m a s o valor
grande para quem não tem um patrimbnio . As vezes, a quantia de cem
mil -& a vida de um pobre e não 4 nada para um rico. Então, o valof
3 O
da cauad nbo é c r i t k r i o . Por que s6 o r i c o terá direito -
recurso especial julgado? Quer dizer, o Poder ~udicidxia 6 1
rico, e não B para o pobre? Acho d i f i c i l a soluç%o di s so .
~ o i criado o 'STJ porque havia a chamada arguir
relevância'. Axgllição de relevância era para gu&? Para que o Supremt
Tribunal decidisse sobre cer tos assuntos que n8o ser objetc
de apreciação pelo Supremo, por exemplo, ação possess6ria, a,
despejo. Mas, As vezes, uma acão de despejo B uma ação impor~ann
para a l q u b : pode não ser para uns ou para outros, frias
a l g u h .
Nisso, a Ordem dos Advogados reclamou mui.
exemplo, JosB Afonso ' da Silva tem um livro sobre
extraordinário, escrito em 1963, em que, naquela época, ele :
ser um absurdo que um recurso extraordfnbrio ficasse barrado no
Supremo Tribunal porque apreciava certa matéria, essa ou aquela. aue
n%o interessava a um, mas poderia interessar ao out ro .
O que se fez, então, com a donstituiç%o de ~ ~ o o ?
Alids, isso f o i feito pelo N e l s c r n ~ o b i m , que era o sub-relator,
juntamente c6n1 o Deputado ~ ~ P d i o , de Pernambuco, que se empenhou em
lar tuna solução. hi era da Comissão e posso dizer que se propôs
acabar com a argllição de relevância; todos os processos seriam
julgados, mas não pelo Supremo, que s6 julgaria questões
constitucionais, unifomizaç20 da interpxetação da Constituição, e
esses crimes de Presidente da RepubLica etc.
3 1
A i criamos ufn tribunal para julgar os casos de ofensa
à lei federal : e STJ. O Jobim colocou: mínimo de trinta e trgs
ministros. Fui da Comiss%o de Construção do prédio novo. O pro je to
era uma lâmina 56 , com quarenta gabinetes para acomodar os trinta e
tr&s ~inistros, a Presidgncia e algo mais que fosse necessdrio.
Então, uM dia, numa reunião da Comissao de Construc$lo, junto com a
OAS, que era a construtora, e O ~inistro Washington Bolfvar,
Presidente do STJ, eu perguntei: para construir uma outra l h i n a de
gabinetes, que está no projeto do Niemeyes, depende de quê? E o
diretor da OES respondeu: as fundações 'j6 estão prontas, porque
tivemos de fazer a garagem abrangente, e não se poderia fazer a
garagem sem fazer logo as fundações do segundo pr4dio.
Eu ainda falei para o Ministro Washington: Ministro,
por que n3o deliberamos construir logo o segundo prgdio, ai já
teremos oitenta gabinetes. 0 Ministro conversou com o diretor e
arranjaram uma verba - parece que quatro milhões, até disso me
lembro -- 1á no ~ongresso, entrou no orçamento um cr6dito suplementar
de quatro rnilhBes, s a i u a segunda lâmina - eles chamavam de lâmina
de gabinete -, já prevendo o congestionamento entso se aumentaria
o número de Ministros, pois não precisa a CcrnstituiçZo aumentar, $
uma lei de iniciativa do Supremo Tribunal Federal.
Se fizermos uma comparação da 8istribuiçCio de
processos no STJ em 1989/90 com a de hoje, jfi se multiplicou por
várias vezes e continuam os trinta e trgs Ministros. 6 humanamente
32
impossivel. Então, fala-se em seduzir os recursos. Se se reduzir os
recursos a zero, dividir por cinco, ficar s6 vinte por cento, talvez
o serviço ande m dia. Agora, da maneira que está não & possivel.
Mas ocuparam os gabinetes, cada Ministro ficou com dois espaços
fisicos. Outro dia, falando com um deles,, ele disse que isso é
bobagem, se aumentar o nÚmer6 de Minfstros, diminui a quantidade de
prcicess'os e desocupa o espaço f5sico.
Não sei nem se deveria estar dizendo i s so aqui,
pareck a t k que estou fazendo campanha, mas não 8 . Estou preocupado
hoje, na corrdição de advogado, vendo o sofrimento de quem depende de
decisão dos tribunais. É uma coisa!
Outro dia , procurei um deaembargador, a pedido de ex-
donos de banca no R i o de Janeiro, era h ação contra o Banco
Central. Eu disse m e tinha ido ' Lb entregar um memoxial. e fazer um
apelo para julgar isso, pais os ex-propriet6ribs já estão esperando, \
s6 a apelaçZo, por sete anos. Sete anos para uma apelação? E eles j b
estão com oitenta anos e queriam ver s resultado disso antes de
morrerem. Faz mais de ano que fiz èssé apelo e até hoje não houve
çoluç%a. 0 j u i z se v& AS voltas com uma quantidade incrivel de
processos.
ENTMVISTAWR - Como / o Senhor v& a relação entre o
STJ e o STF? O Senhor acha que t e m complementaridade de
competgnc ias ?.
O SR. MXMSTRQ ILMAR GALVÃO - Bn rna tk r i a de
in terpre i ta~ão da lei, o STJ B a Última p a l a n a . Aliás, tl o grande
Tribunal deste Pais. H o j e é o Tribunal, sem ddvida nenhuma, mais
importante.
Agora mesmo estA havendo .uma série de estudos em
algum lugar aqui em ~rasilia, que não pude ir, sobre D i r e i t o
~dministrativo e a jurisprudência do STJ . Uma semana de estudos da
jurisprud&ncia. Entâo, é realmerite o grande Tribunal. Hoje não se
pode pensar na interpretação de uma l e i , no que essa lei quer dizer
sem primeiro olhar o que diz o STJ, a sua jurisprudência. h o grande
~ribunal, 4 o mais ilnportante. Entendeu? Não acredito at& que seja
da cidadania por isto, porque o cidadão está morrendo sem ver
resultado. Isso é brincadeira. Mas & o grande Tribunal deste País
hoj e .
I O Supremo 4 um Tribunal, claro, importante, tem sua
competência no dpice do sistema juridico, haç o STJ é do dia-a-dia,
tl. tudo, '4 farnilia; s6 .não entra o trabalho. A l i b s , o STJ são três
tribunais.
O Ministro Carlos Velloso, quando a Comissão ia propor
, a oxganizacao do STJ, propôs a criação de tres tribunais: um r
tribunal de ~ i r e i t o Privado: de ~ireito Penal Criminal e um de
Direito Pdblico. São tr&s tribunais que nbo se comunicam.
Virtualmente esse Tribunal se reúne, vamos dizer, pelo seu ~ l e n A r i a ,
com todos os seus Membros, para- decidir uma questão. Penso que o
34
Plen6rio mesmo é s6 para eleger Presidente e dar posse. E o chamada
Órgão Especial, que julga, As vezes, um processo-crime contra
governador - não me lembro bem da compet&ncia, mas julga embargos de
divergência. Então é, uma coisa rara. Na verdade, o ~ i w e i t o ~úblico
S%W duas Turmas. F i z parte de uma delas. Direita Público 6 Direito
Público. Essas duas Turmas se reúnem, :formam a sessão e julgam os
embargos de divergência. ~ i r e i t o Privado & ~ireito Privado, e
D i r e i t o criminal, como t e m menos ' trabalho, engloba tamb&m uma
rnatkria prmidenei6ria e , parece, ações de possessório.
Mas não precisava, podia ser duas Tumas julgando só
D i r e i t o Penal. Direito Privado, em vez de duas, quatro ou cinco
Turmas. Direito público, em verz de &as, quatro ou cinco. E por que
d o seis Turmas julgando ~ i r e i t o FÚbJico? A i daria vazão maior. Não
tenho dilvida nenhuma. Não quero ser o arauto dessa campanha, mas B
~ 4 s i v e l a nécessidade. Se houver discrepaacia de julgamento, h& os
- ivergên
ia.. Se uma hirma julgar de uma maneira, outra
leva para a sessbo e ju lga os embargos de
~tualmente, por que não pode ser depois?
ENTREVISTADOR - visivel a necessidade ae akentar 6
n h e r o de Ministros.
O SR. MINISTRO ILMAIE GAILVA0 - Sern díivida. Trinta e
-r& Ministros respondiam pela movimento de 1990. Pedem es ta r hoje
respondendo pelo movimento de 2007? Dezessete anos depois? $ 56
fazer a bstatfstica. Agora, suprimir recurso é uma barbaridade. ,
3 5 \
Réspondendo a sua pergunta, o S u g r w Tribunal
Federal, no m e u entender, não pode estar reformando decisão do STJ,
a não ser quando *ofendak direito fundamental previsto na
~onstituição, que & coisa rarlssima.
Por exemplo, não pode o ~Cpremo Tr ibuna l .Federal, como
sempre entendemos assim, apreciar uma questão de ofensa ao artigo +.
105r do cabimento ou não de recurso especial, houve um ensaio no
Supremo para se apreciar e s s a quest%o. Lembro-me de que o Supremo
Tribunal Federal afastou a possibilidade de se apreciar uma questão
de ofensa ao artigo 105, que é o a r t i g o do recurso especial - artigo
105, 131, "a", "b" e "c": ofensa a lei, dissidio jurisprudencial
i houve
de se
etc. se o STJ disse Que não houve! dissidio, ou então, que nãc
ofensa, acabou-se ali. O Supremo Tribunal Federal não tem
envolver nisso, e me parece que não envolve.
Habeas corpus. Pox que o Supremo aprecia habeaa
corpua? Não adianta nem rememorar isso. .
E N T W I S T A W R E s s a t d t i c a f o i debatida na
Constituinte. ,
O SR. MINISTRO ILMAR GALVÃO - nepois da Constituinte,
o Supremo Tribunal teve uma deciçbo que reputo infeliz. Afirmou que,
se a decis%o f o r de &eçembasgador, a compet@ncia & do ST3 para
haiseas co~pust se a ofensa partir do Tribunal de Justiça, 4 do
Supremo. O desembargador 4 o Tribunal de Justiça, por isso causou um
disparate mui to grande, fias depois uniformizou, porque veio uma
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emenda constitucional. e , graças a Deus, resolveu isso. ã decisão do
habeaa corpua no tribunal é para o ST3, depois vai para 0 Sugrmo -
e n%a deveria ir mais.
I E N T ~ I S T A D O R - Então 8 uma antiga tradição o habeas
e e m a ir para o Supremo.
O SR- MINISTRO I L N G GAEVAO - Sim. O Supremo todo dia
estd julgando-e reformando decisão do STJ, o que, a meu ver, não t a
muito cabimento. Mas i s so & de somenos, pela quantidade.
O Poder Judicibrio, hoje, 6 privilegiado. B a s t a dizer
que o Supremo Tribunal tem a maior remunsraçdo da Repilblica, 8 o
teto. Os juizes são bem remuneradas.
EU fu i juiz - como eu disse - no Acre e em Rondânia, i
1 ld ia todo m&s, a diária era uma coisa tão inf ima que tanto fazia
. requerer ou não, n%o dava para pagar nada. H'oje, a pessoa se
: * desloca, t e m uima di6ria razodivel, n80 h&, necessidade dessa ambição
entre um juiz ou out ro nesses casos, porque surpreende muito que
isso aconteça, c vem em detrimento do Poder JudiciAtio, quando os
juizes, de modo geral, e o ~inistério Hiblico est%o tao bem
remunerados.
N ã o 4 como no meu tempo. Eu ehtrei em ,1967, até 1971
lembro-me de que O dinheiro ia para .o Acre -via Amazonas, era uma
mesa de rendas da Amazônia, um departamento do Ministério da
Fazenda, e algumas pessoas 16 em Manaus ficavam dizendo para eu
mandar umá proeuracao para receber. Eu nunca mandei procuração para
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receber por ser uma remuneraçao insignificante, eu estava ensinando
na universidade e já ganhava. I
Quando vim para ~rãs i l ' ia ' um professor ganhava o mesmo
que um j u i z . Naquela &oca ainda era muito Baixa a remuneração, m i l
e duzentos não sei o quê - não sei se eram cruzeiros; não eram
reais. Hoje, eu sou aposentádo e recebo - com tudo que se pode
juntar, porque fui diretor de faculdade, exerci cargo de reitór'e
tudo - trss mil e POUCO, quando um Ministro do Supremo recebe vintr
e quatro mil e quinhentos. Quer aizer, a ma>istwatüra hoje ests
mito b e m remunerada.
Mas & isso. Gra~as a Deus terminei o m e u tempo L pel{
menos pensa - ainda com uma higidez Sisica e mental, tanto que estoi
aqui. Eu n%o pude parar, por uma questão de hábito, é não tenhc
vocação para escrever Livros; se tivesse, haveria tantas cois
escrever.
iaKmiXaSTADOR - Mas hd muitas coisas para contar.
O SR. MINISTRO ILPIAR GALVÃO r - Tenho coisas para
contar. I
Ent%o precisei ajudar o meu filho advogado, aqui. E l e
me pediu ajuda, e aqui estou dando pareceres e acmparihando um
processo e Outro. Hoje mesmo estou trazehdo aqui um parecer w e
terminei hoje e mandarei para fora.
antes
?ssos q
ae encerram
pósso deixar de perg : lhe c
atenção, os processos em que o Senhor se envolveu ao julgar.
O SR. MINISTRO WVXO - No Suprema Trlauna~,
corno eu disse, fui uma pessoa, vamos dizer assim,
ei r F - n C
hada ei
111 m*,nm resolver e julgar os casos que me eram entregue,. ,,,.,o que 6, ..,,,,a t ive - é um fenameno interessante - muito p 5e pric
rarissimos advogados foram at rdç de mim. Alguns suraiii, ureuclraii la i
verificaram que jA havia s ido julgado. Aconteceu i ssó i coisa
nunca deixei de receber um advogado. Nunca. Eu cumprla rielrnence a
lei inserida no Cbdigo dos Advogados. O advogado t e m direito de ser
recebido pelo juiz. Nunca marquei dia para advogado. I rei, fo:
assim: ele ligava de Sã'o Paulo numa sexta-feira e a tunclonari,
informava que era um advogado. Pode vir. Ficava para
de tarde - eu não podia receber sábado. Nunca deixei. L-LLJul
agora assumiu d cargo e me perguntou: m e u pai , qual '6 O const
o Senhor me dá? Eu digo: receba os advogados. São 6s zoniçta!
iça comi do' processo. Não se iniba de receber, e, se houver d
:u sempre fiz, 0 Hilton d i z i a : tem dois advogados. Ez Ltrar O:
r não. : lais. Entravam os dois. Qual & o seu caço? E eu anotav
o Senhor,. qual & o seu caso? Na vista um do outro pa .car um;
coisa i sen ta . Quanto mais receber audigncia coletiva, rnelnor.
Agora, o Senhor me pergunta sobre os processoS. h
:emore julguei todos os processos. NZo deixei nenhum - vamc ts dize:
assim: não, esse 6 muito cabeludo, nlo vou pegar. Não houve Isso
comigo. ~odgstia parte. N ã o ficou um psocésso lá. O Ministro
Carloç ~ r i t t o , que me sucedeu, sabe disso.
Agora, o que marcou, mais foram os proceçsos? O caso
realmente rumoroço f o i o processo-crime con,tra o Presidente ColLor e
mais quatorrze auxiliares: PC ari ias e out ros . Esse processo tinha
cento e quarenta volumes. Havia u m balcão no Supremo, w mandei
espalhar os volumes em cima dele, um por um, para facilitar a
consulta. E depois que a denúncia chegou em minhas mbos, esse
prbcesso foi julgado em um ano e tr8s meses - q u e m quiser pode
conferir - ; contando o tempo que ficou ria mão do Revisor, d Supremo
Tribunal Federal julgou em um ano e três meses. Os jornalistas
perguntavam: por que o Senhor julgou t%o reipido? Porque vocês
ficavam cobrando. De vez em quando, um dizia: o Ministro Tlmas
, Gãlvão estava sentado em cima do processo. Isso mexeu com meus
br ios . E foi .o primeiro caso de julgamento de um político. A
Imprensa, de vez em quando, diz assim: o Supremo nunca julgou um
polLtico. Julgou o Presidente Collor. Absolveu, m a s julgou. Na mesmo
processo, condenou outros: Paulo César Farias e umas moças que
falsificaram conta bancdria. Julgou. Julgou esse, e julgou rápido,
como está sendo julgado rápido esse ao- ~inistro Joawirn Barbosa,
porque, realmente, a l i B uma co3sa quatro vezes maior, são quarenta
pessoas. Nao é brincadeira. Então, julgamos. Esse f o i o mais
Mas, pelo fato de eu não 'recusar, não deixas de
julgar, aconteceu de eu ter sido o primeiro a julgar processos de
D i r e i t o ~ribut&rio, Lembro-me de 'que o ~inistro Çepúlveda Pertence
d i z i a assim: o Ilmar adora ICMS. Mas não era. Eu dizia: Ministro,
&o 4 gue eu adore, t5 me estd lA Q Grocessú, estA na hora de
julgar, eu pego t ju-lgo. E o l e a d h g case. R& vazios processos de
D i r e i t o TributArio em que fui o primeiro Relator. 'É preciso abrir a
caminho para os outros: C
FGTS foi um fenômeno interessante. Entrou no Poder
Judici&rio, pela Justiça Federal, quase um milha0 de precessos.
Desse número, j6. estava 16 Yio Supremo Tribunal perto de cento e
cinqüenta mil recursos - ser& que estou exagermdo, meu Deus do Céu?
Recebemos s deliberarrios lá. E eu disse: vamos julgar um logo, logo!
Para sustar esses processos por ai afora, porque, quando o SuprWo
deliberar, o juiz já decide e acabou-se. .Ai, ele me disse: prepa7-
um, pegue um daquele mais amplo. Ele e s t & af hoje vivo para vt
i sso , para kmbrar. E eu peguei um. Quando eu estava no me: /
estudando, eu disse: Moreira Alves, você tem de preparar um lecur!
ta&&, porque a coisa nSo B fácil. fi muito dinheiro, muita gente,
muito processo. Então, ele disse: est6 bem, vou fazer um; quando
voc6 estiver com o seu gxon'o - o meu já estava -, me avise, pa:
inclui-las na pauta e julgarmos no mesmo dia. Assim aconteceu. E'
teve prioxidade, julgou a primeira; passou. Eu julguei o segunda
passou com uma pequena ressalva, porque o Tribunal não aceitou uma
coisinha 16, que nem me lembro m a i s .
Pronto. Dali em diante, com aquela decisão, todos os
outros processos foram julgados por despacho, porque havia uma lei,
em boa hora elaborada pelo Sálvio de Figueireao, que permitia ao 4
relator, por despacho, dar ou negar provimento, ou não conhecer de
recurso sobre matéria j6 decidida no Plenário. d um exemplo de que 4
possível descongestionar sem vedar o direito de recurso. Com aqui lo ,
eu f i z u m despacho impessoal e mandei rodA-10. E r a s6 preencher o
nome das partes e ir para o Plenário. Enquanto estava julgando, eu
ia assinando aqueles despachos. Da mesma maneira que entraram, os
processos sairam, foram embora. ~uitas pessoas no Brasil recebera
ou estza recebendo o seu FGTS graças a isso, senão ainda estar ia
16. Era humanamente inrpossivel levar cada um daquelks processos para I
o plen&rio do Supremo ~ribunal ou para a Turma. Como seria jui~ar
cento e tantos mil processos na Tuma, se n3o houvesse essa saída?
Por isça eu diga: çdlvio de Fiqueiredb f o i o salvador da pátria, o
homem que resolveu o problema do FGTS.
A s s i m , a estatística f o i 16 para cima. Foram julgados
no rn&s mil e tantos processos, mas não Se diz que julgou por
despacho repetido, porque. na verdade, era humanamente impossível
julgar mil processos. N ã o tem condição, mas h$ meios, sem se vedar o
direito de recurso. ]Em mantos daqueles n6s demos provimento? Se nho
houvesse o recurso, o infeliz não te r ia d i r e i t o ao FGTS. NBo era s6
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apliear, fazer a despacho não corhecendo. avia o despacho de não
conhecer e de dar provimento, na forma da decisbo tomada pelo
P l e d r i a em tal data.
Foram esses casos. Eu tenho comigo a lembrança desses
casos ,do C o l l o r , do FGTS, porque f u i um das colaboradores, julguei
um dos processos junto- com o Moreira Alves no dia, o que desobstruiu
o Suprema Tribunal e todos os Juizados Federais do Brasil, e t a m b h
essa mat&ria tributAria, que eu n%o deixei nada.
Urna questão que jurgilei no Supremo at& hoje não
chegou ao final, f o i sobre terras de índios. Proferi dois votos &i
dois processos - um do R i o Grande do Sul , outro do Mato Grosso -
sobre terras de indios, definirido o que sãs essas terras, porque
hoje há 2ima noCãn de que t&rra de indio é o local onde um perito
antsopdlogo encontra, por exemplo, um pedaço de cerâmica e diz que
ali f o i um cemit&sio de índio, o que ndo é assim, porque a
Constituição diz que área indigeria & aquela ocupada' pelo ín
' dia da ConstituiçZo, em outubro de 8 8 . senão, Copacabana e Leblon
seriam Areas indigenas, pbrque, no passado, os índios estiveram
os Tam~ios. ISSO f i cou definido, mas at4 hoje, lamentavelmente, não
, ali,
foram julgadas essas duas açPles, porque pediram vista.
BWRWXSTADOR - E hd uma série de reservas senda
criadas na Justi~ã. Os quilombos t a m b h . 8 I
O SR. MINISTRO ILMAR GALVÃO - Quilombo a mesma coisa.
Veio uma norma na Constituição dando direita aos quilombos, os
remanescentes dos ex-'eÇcravos, que. ocupam a terra - não & que
ocuparam; a grande diferença & essa. Eles t €m d i r e i t o , mas o que fez
o governo? Regulamentou por decreto, criando direitos e obrigações,
e não 8 possivel c r i a r direitos e obrigaçbes por meio de decreto.
Então, isso está para ser decidido pelo Supremd. Estou dando essa
opinião porque, na verdade, acabei me manifestando 1& dentro dos
autos tambh. N3o contra os remanescentes de ex-escravos.
ENTREVISTmR - Mas h& diversos processos na J u s t i ç a .
O SR. M~EJISTRO ILMÀR GALVÃO - ISSO proliferou. ENTREVISTADOR - Isso tornou uma proporç'ão
O SR. MINISTRD ILMAR GALVÃO - De duas mil e tantas
áreas no Brasil.
ENTREVISTADOR - Existem hoje desenhos de possiveis
quilombos dentro de áreas urbanas,
O SR. MINISTRO T L W GALVÃO - Claro, como se fosse
possivel. onde estbo os remanescentes de ex-escravos, que estavam Y
ocupando na data da Constituiç%o. N ã o B que no passado, em 1920,
e t c . , foi ali que nasceu. Não importa, 6 onde estd.
ENTREVTSTAWR - Mas, mesmo assim, h& muitos possiveis
quilombos que sequer t ê m documentaç%o hist6rica comprobat6ria da
ocupaç%o .
O SR. MINISTRO I L ~ GALVÃO - Sim, mas precisa prova.
ENTREVISTAIDOR - Prova-se, por depoimentos orais, onde
a ação oral é até plantada.
O SR. MINISTRO IZrM GAEVAB Aí tem m a disposiç%o,
que chamou a atenção, dizendo que 4 o remanescente de ex-escravo que
se define, & a chamaas autedefinição. É razoável f sso? Sim, parque
se eu for dizer que alguém 6 ou não B preto fica r u i m . Eu sei l& ,se
eu tenho sangue preto? Não sei. Sangue de af ro-de~cendente? Mão sei.
É intkressante o caço da Daiane dos Santos - $ incrível, n%o sei
como a pessoa pode treinar, j6 fico achando difitil o treino, parque
vai treinar fazer awilo e, se bater de cabeca, quebra o pescoço.
Ela fez o " m e de DNA e tem uma fração maior de sangue europeu,
. saiu a cor da pele escura, mas o sangue europeu, para você Ver como
é. Entga, a pessoa 6 me t m de sè de£ inir . Causou espécie que a L e i
tenha permitido cr prSprio se autodefinir como afro, eu chamo de
descendente de ex-escravo. isso n%o é um absurdo, porquk, na
a uma
verdade, essa hist6ria de ficar discutindo se 6 preto, ele é que tem
de dizer se B. Então, isso 6 outra questão.
Tenho d i t o , aqui, da minha experihcia de advocacia,
y e o proaucor rural brasileixo k um infeliz. Não sei corno alguém se '
. atividade desta, a agropecuária, porque tem de
entrentar o XNCRÃ, dizendo que a t&ra 4 pública; t e m de ènfrentar
IBAMA, dizendo que elem não pode fiesmatar, não Dode fazer isso, par
, por exemplo, milho, é necess~rid um laudo de impacto da
tem de enfrentar a FUNAI, porque encontraram - coma disse -
um pedaço de cerhica e o antr6pólogo disse que ali era um cemitélrio
de indio. Era, mas não é mais. O 5ndio abandonou. Tanto que a lei
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I
mesma estabelece os chamados aldeamentos. Houve uma quantidade
imensa de aldeamentos extintos. Por qu@? Porque o indin foi embora.
Alguns f o r a m exterminados, como aconteceu com os Botocudos, em ~ i n a s
Gerais. Dom João VI, mando veio ao Brasil, expediu tr&8 ordens para
o Governador de ~ i n a s ~erais ellminar os Botocudos, pois eles haviam
assassinado uns portugueses. A s s i m , acredito que foram eliminados. E
o Governadof ainda oferecia um prêmio: seria acresci& aos seus
salários uma quant ia por cabeça de Botocudo. Ent%o, vejam, alguns
foram exterminados, O certo 6 que houve extinção de aldeamento. No
Rio de Janeiro, em Copacabana, f o i Men de Sâ, f o i ~ s t & c i o de Sá? S
IA. O cesto é que os Tamoios abandonaram o Forte de CoGacaban
havia ali uma aldeia, segundo jA se apurou historicamente, tem a
um livro sobre os índios.
Ent%o, conforme eu disse, era terra ocupada por
indlos; hoje não B mais. Vamos preservar o que & terra de indios.
Agora, v& os quilombos. O produtor rural. no Brasil tinha de
enfrentar o quilombo. Agora, tem de enf ren ta r a maior força, que & o
i MST. Essa é uma organização que, a meu ver, não quer mais saber de
texras, estA querendo outras coisas, d interesse M o ' & tanto pela
terra. as essa 4 uma observa~30 de quem está de longe e nunca foi
examinar um acampamento desses. Acampamentos abastecidos pelo INCRA,
que fornece barracas. ~iquei escandalizado quando soube sue o INCRA,
ao ser informado sobre um acampamento de sem-terras, leva barracas
de lona, comida, cestas bbsicas, rem&diris, tudo. Penso que o homem
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sem-terra deve ser assistido realmente, uav apenas com o objetivo de
lhe ser 'entregue u m t r a t o de terra, mas também assistgncia, uma nova
atividade.
E o 1arnentAvel de tudo isso: o prmrietbrio ruxal
ainda é sujeito $ desapropriação, se a terra não for produtiva, ou
seja, se não atingir um determinado indice fixado pelo INCRA. Para
atingir esse índice d neceaçfifio, c laro , haver financiamento de
bancos, etc. Então, o sujeito se endivida para fazer a terra
produtiva. Como nbo quer se endividar, a terra não f ica produtiva e
ele B desapropriado, és vezes jd na idade de sessenta e cinco,
setenta'anos - oonhe~o uns casos -? e não recebe a indenização. Ele B
desapropriado, mas não recebe a indenização, recebe um depósita que
a I N C M faz no i n i c i o dd ação, m a s não 8 nunca a indeniza~ão. Então,
um homem ,aos sessenta e oito, na maioria dos casos, perde O seu I
Im6ve1, imóvel de família, que veio cio avo, do pai, passou para a ,
mão dele e passaria para o filho, muitas f amf lias sbo conhecidas até
' pelo sobrenome da fazenenda. O sobrenome da farnflia B o nóme da
fazenda, que passou de avi3 para filho: ele n%o recebe a indenização,
ou s6 a recebe dez, doze, quinze anos depois, para não falar r
paxcelamento de dez anos, prevista na Constituicão . Depois de,muii
coisa, veio esse parcelamento. E l e não ver& mais esse dinheirt
P io r , a l e n%o tem condiçã.~ de iniciar outra atividade, porque :
soube fazer isto desde a sua mocidade: trabalhar no campo.
Cbnheço inúmeros groprietdrios que vivem no Acre, onde
foram fei tas muitas desapropriações e distribuidas as terras. As
pessoas para as quais foram as terras distribuídas tinham de
trabalhar e derrubaram a mata. Então, essa distribuição de terras
para assentados foi um dos grandes fatore? de devastação das matas
da Amazônia. I
Conheci, por éxemplo, um homem que tinha uma fazerida e
cornecou a vida trazendo gado tia Bolívia. V i n h a tocando boi a pi.,
vadeando rios, desde a Boliviã at& o Acre, para abastecer a cidade
de R i o Branco. O gado chegava magro, acabado, e tinha de ficar r
pasto por muito tempo, por ter andado bastante. Esse indivíduo, q~
3. vida inteira trabalhou a s s i m , estava com 65 ou 66 anos quarido>veio
a desapropriação do seu im6vel. A pessoa nbo tem mais condição e vai
começar o que mais na vida? Perde o imbvel, o instrumento de
trabalho, n%o v@ o dinheiro e n%o tem mais condiçao de iniciar outra
atividade. A culpa d i s so 6 a lentidão do Poder Judic$Ario.
N%o sei se os senhores sabem, mas, numa aç%o de
desapropriação, para o expropriado receber a indenlzaç%o , passam-se
muitos anos. Hd casos de quinze anos de espera.
ENTREVISTADOR - H& casos de ação de desapropriação de
cinwenta, sessenta anos.
O SR. MINISTRO ILMAR GALVÃO - Conheço iim caso
interessante: a deçãpropriação 80 Ealeão, da ponta da Ilha do
Governador. Getúlio Vargas, em 1937, a desapropriou para implantar a
Base A é r e a do Galeão. Ainda não era u aeroporto, mas a base akrea.
Um amigo £o? advogado nessa causa, 'muito tempo depois.
De vez em quando eu lhe perguntava se já haviam recebido a
indenizacão - os herdeiros, os filhos dos filhos, n3o mais o
proprietári'. Todos os primeiros advogados já haviam morrido, Creio
que, até hoje, essa indenização não £oi paga*. É lastimável. Tudo
isso por conta dessa lentidsa, dessa dificuldade do Código
Processo Civil brasileiro, cheio de recursos de todò jeito. E assim
não se julga.
No Poder Judicidrio, um ano & um dia. Quando a l b b
diz que eçtA com um Causa para ser julgada há um ano, respánao-lhe
meu filho, um ,ano é urq dia; nao se preocupe. Dois anos s%o doi;
dias, porme a normal & sete, oito, nove, dez, doze anos. É isso.
JA conversei demais e devo te r dito coisas que n m
eram para ser di tas . Has, hoje, não sou mais juiz e não tenho de, 1
responder perante 'ninguém. Então, posso dar a minha opiniso, porque
lenho experiCncia. Fui j u i z de t rgs Tribunais Federais Superiores e
jui-z federal. Passei essas carências todas lá no Acre, de 1963 a
1979 - 12 anos -, ù que impressionou o Presidente Geisel. E, depois
disso, ainda -passei sete anos e meio indo lá todoe os meses. T e n h o
experiência.
O Ministro Washington Bolivar, uma vez, afez-me um oficio nos
~eguintes termos : dcelentísskmo Senhor Doutor I imar Galvão,
dignissimo juiz áa ?r Vara do ~istrito,-Federal, do Estado do Acre, . - * .
,do Estado .e ~ond6nia e de ~ s t a - s 'li~i&?rof e&. ~ashirrghn -~óliv$r < ,
I erQm o presideot5, m e u grande amigoj um j'uiz '&xeniplar. , - , - . -
I ' . ~ R E S É I S T ~ R - ~ u i t o beffi, arris-o, era &som. L .
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que devia falar ,< i