82
Mecânica dos Fluidos 2011 Santa Maria - RS Luciano Caldeira Vilanova

Mecânica dos Fluidos.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • Mecnica dos Fluidos

    2011Santa Maria - RS

    Luciano Caldeira Vilanova

  • RIO GRANDEDO SUL

    INSTITUTOFEDERAL

    Presidncia da Repblica Federativa do Brasil

    Ministrio da Educao

    Secretaria de Educao a Distncia

    Ficha catalogrfica elaborada por Denise B. dos Santos CRB 10/1456Biblioteca Central UFSM

    Coordenador InstitucionalPaulo Roberto Colusso/CTISM

    Professor-autorLuciano Caldeira Vilanova/CTISM

    Coordenao TcnicaIza Neuza Teixeira Bohrer/CTISM

    Coordenao de DesignErika Goellner/CTISM

    Reviso Pedaggica Andressa Rosemrie de Menezes Costa/CTISMFrancine Netto Martins Tadielo/CTISMMarcia Migliore Freo/CTISM

    Reviso TextualDaiane Siveris/CTISMLourdes Maria Grotto de Moura/CTISMVera da Silva Oliveira/CTISM

    Reviso TcnicaEduardo Lehnhart Vargas/CTISM

    Diagramao e IlustraoGustavo Schwendler/CTISMLeandro Felipe Aguilar Freitas/CTISMMarcel Santos Jacques/CTISMMuren Fernandes Massia/CTISMRafael Cavalli Viapiana/CTISMRicardo Antunes Machado/CTISM

    Colgio Tcnico Industrial de Santa MariaEste Material Didtico foi elaborado pelo Colgio Tcnico Industrial de Santa Maria para o Sistema Escola Tcnica Aberta do Brasil e-Tec Brasil.

    Comisso de Acompanhamento e Validao - Colgio Tcnico Industrial de Santa Maria/CTISM

    V696m Vilanova, Luciano Caldeira Mecnica dos fluidos/Luciano Caldeira Vilanova. 3. ed. Santa Maria, RS: Colgio Tcnico Industrial de Santa Maria, Curso em Automao Industrial, 2010. 82 p. : il. 1. Fsica 2. Mecnica dos fluidos I. Ttulo.

    CDU 531.3

  • e-Tec Brasil3

    Apresentao e-Tec Brasil

    Prezado estudante,

    Bem-vindo ao e-Tec Brasil!

    Voc faz parte de uma rede nacional pblica de ensino, a Escola Tcnica Aberta

    do Brasil, instituda pelo Decreto n 6.301, de 12 de dezembro 2007, com o

    objetivo de democratizar o acesso ao ensino tcnico pblico, na modalidade

    a distncia. O programa resultado de uma parceria entre o Ministrio da

    Educao, por meio das Secretarias de Educao a Distncia (SEED) e de Edu-

    cao Profissional e Tecnolgica (SETEC), as universidades e escolas tcnicas

    estaduais e federais.

    A educao a distncia no nosso pas, de dimenses continentais e grande

    diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao

    garantir acesso educao de qualidade, e promover o fortalecimento da

    formao de jovens moradores de regies distantes dos grandes centros

    geograficamente ou economicamente.

    O e-Tec Brasil leva os cursos tcnicos a locais distantes das instituies de ensino

    e para a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a concluir o

    ensino mdio. Os cursos so ofertados pelas instituies pblicas de ensino

    e o atendimento ao estudante realizado em escolas-polo integrantes das

    redes pblicas municipais e estaduais.

    O Ministrio da Educao, as instituies pblicas de ensino tcnico, seus

    servidores tcnicos e professores acreditam que uma educao profissional

    qualificada integradora do ensino mdio e educao tcnica, capaz de

    promover o cidado com capacidades para produzir, mas tambm com auto-

    nomia diante das diferentes dimenses da realidade: cultural, social, familiar,

    esportiva, poltica e tica.

    Ns acreditamos em voc!

    Desejamos sucesso na sua formao profissional!

    Ministrio da Educao

    Janeiro de 2010

    Nosso contato

    [email protected]

  • e-Tec Brasil5

    Indicao de cones

    Os cones so elementos grficos utilizados para ampliar as formas de

    linguagem e facilitar a organizao e a leitura hipertextual.

    Ateno: indica pontos de maior relevncia no texto.

    Saiba mais: oferece novas informaes que enriquecem o assunto ou curiosidades e notcias recentes relacionadas ao

    tema estudado.

    Glossrio: indica a definio de um termo, palavra ou expresso utilizada no texto.

    Mdias integradas: sempre que se desejar que os estudantes desenvolvam atividades empregando diferentes mdias: vdeos,

    filmes, jornais, ambiente AVEA e outras.

    Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes nveis de aprendizagem para que o estudante possa realiz-las e

    conferir o seu domnio do tema estudado.

  • e-Tec Brasil7

    Sumrio

    Palavra do professor-autor 9

    Apresentao da disciplina 11

    Projeto instrucional 13

    Aula 1 Esttica dos fluidos 151.1 Conceitos bsicos 15

    1.2 Estudo da presso em fluidos em repouso 16

    1.3 Medies de presso e manometria 20

    1.4 Fora hidrosttica 28

    Aula 2 Aplicao das equaes da quantidade de movimento e da energia mecnica em mecnica dos fluidos 31

    2.1 Conceitos bsicos 31

    2.2 Equao da quantidade de movimento 35

    2.3 Equao da energia mecnica 40

    2.4 Equao de Bernoulli 43

    Aula 3 Escoamentos internos 493.1 Escoamento interno em tubos e dutos 49

    3.2 Perda de carga em escoamentos internos 52

    Aula 4 Escoamentos externos 634.1 Conceitos bsicos 63

    4.2 Arrasto 64

    4.3 Sustentao 72

    Referncias 80

    Currculo do professor-autor 81

  • e-Tec Brasil9

    Palavra do professor-autor

    A Mecnica uma cincia muito ampla, e seus fundamentos servem de base

    para praticamente todas as outras reas do conhecimento. Muitos estudiosos

    que so sempre lembrados como Nicolau Coprnico, Galileu Galilei, Isaac

    Newton, Robert Hooke, Johannes Kepler, Albert Einstein e outros dedicaram suas

    vidas a descrever leis fsicas que do sustentao mecnica de hoje. Sendo a

    mecnica a base para uma infinidade de tecnologias, a maioria dos cursos nas

    reas exatas do conhecimento envolve disciplinas desta rea.

    A Mecnica dos Fluidos, neste contexto, est dentro de uma parte da Mecnica

    conhecida como cincias trmicas a qual envolve sistemas para a armazenagem,

    a transferncia e a converso de energia. Vista dessa forma muito acadmica,

    a Mecnica dos Fluidos pode parecer algo muito etreo e de pouca aplicao

    prtica fora da academia. Contudo, se observarmos o nosso entorno, veremos

    a Mecnica dos Fluidos em quase tudo que encontramos no nosso campo de

    viso. O ar escoando e pesando sobre nossas cabeas, o sangue escoando

    por nossos corpos, o gs escoando, sendo comprimido e expandido nos refri-

    geradores domsticos e comerciais, a mistura de ar e combustvel fluindo para

    dentro de motores, a gua sendo bombeada para a irrigao em uma lavoura

    ou passando pelas ps de uma turbina de uma geradora hidroeltrica. Podemos

    afirmar, ento, que uma infinidade de processos que conhecemos e utilizamos

    nos dias atuais baseiam-se em leis da Mecnica dos Fluidos.

    O desenvolvimento tecnolgico s possvel pelo conhecimento das leis que

    governam os processos e pelo controle e superviso dos mesmos. O domnio

    sobre esses conhecimentos possibilitou a automao de uma infinidade de

    processos industriais essenciais, como os utilizados na indstria petroqumica e

    de alimentos. Nesses processos, leos, vapores, outros gases e lquidos fluindo

    ou em repouso, em sistemas ou subsistemas dessas indstrias, precisam ser

    monitorados, os dados verificados e interpretados, para que os controles auto-

    mticos faam as devidas correes e o produto final esteja sempre dentro das

    especificaes de qualidade.

    Ao profissional de automao seria impossvel projetar, implantar e dar manu-

    teno a um sistema para controlar e supervisionar um processo que envolva

    a Mecnica dos Fluidos sem um conhecimento bsico das leis que envolvem

  • Mecnica dos Fludose-Tec Brasil 10

    esta cincia. por esse motivo, caros alunos, que esta disciplina faz parte do

    currculo deste curso.

    Procuramos neste texto tratar o assunto de uma forma muito resumida, mas a

    complexidade do tema requer uma fundamentao matemtica mnima, mas

    necessria. Buscamos explicar os fenmenos atravs de exemplos que julgamos

    ser conhecidos de todos e suprimimos uma srie de conhecimentos bsicos

    que fazem parte de outros textos, como flutuao, escoamentos de fluidos

    compressveis e anlise dimensional, tudo de forma a tornarmos esta disciplina

    mais aprazvel na forma de ensino a distncia. Esses temas, no entanto, podem

    ser encontrados nas referncias apresentadas neste texto.

    Isaac Newton em uma de suas mais clebres frases dizia: Se vi mais longe, foi

    por me erguer sobre os ombros de gigantes. Ele referia-se aos conhecimentos

    de outros cientistas precursores, os quais lhe permitiram o descobrimento de

    outras leis da Fsica antes desconhecidas. A vocs, caros alunos, cabe o mesmo

    compromisso de se debruarem sobre os ombros desses mesmos gigantes e,

    superando seus mestres, produzirem a evoluo de nosso conhecimento.

    Uma boa leitura e um bom estudo a todos.

    Prof. Luciano Caldeira Vilanova

    Doutor em Engenharia

  • e-Tec Brasil11

    Apresentao da disciplina

    A disciplina Mecnica dos Fluidos est inserida nos estudos de engenharia

    entre os fenmenos de transporte ou cincias trmicas e pode, por alguns

    autores, ser chamada de transferncia de momento ou de quantidade de

    movimento. Os fenmenos de transporte englobam, alm do objeto deste

    texto, as transferncias de energia por calor e massa.

    A Mecnica dos Fluidos, nesse mbito, volta-se ao comportamento de fluidos

    em repouso e em movimento e s foras agindo sobre esses sistemas. A histria

    mostra que os estudos mais importantes nessa rea so datados do final do

    sculo XIX e incio do sculo XX. A teoria da camada limite apresentada por

    Ludwig Prandtl, em 1904, um marco referencial nesse contexto. Reynolds,

    Froude e Von Krmn tambm dedicaram seus estudos a esses fenmenos e

    so nomes comuns nos textos desta rea.

    Problemas de Mecnica de Fluidos podem envolver foras sobre superfcies

    submersas, escoamento de lquidos comuns como a gua em pequenos dutos

    ou leitos de rios, at o escoamento de leos pesados em grandes oleodutos.

    Outros casos de interesse so o escoamento do ar sobre superfcies como a

    asa de um avio e o aeroflio de um carro de corrida sobre a estrutura de

    uma grande ponte ou ainda a previso do escoamento de ar sobre placas de

    circuito impresso dentro de gabinetes de mquinas e computadores.

    Com esta disciplina, espera-se que o aluno tenha a compreenso mnima

    desses fenmenos e seja capaz de, atravs de modelos matemticos bsicos,

    propor pequenos projetos ou solues que envolvam a Mecnica dos Fluidos.

  • e-Tec Brasil13

    Disciplina: Mecnica dos Fluidos (carga horria: 30h).

    Ementa: Estudo das foras atuando sobre fluidos em repouso e sob escoa-mento, modelos matemticos que descrevem o comportamento dos fluidos e a

    caracterizao dos escoamentos internos e externos. Tcnicas e instrumentao

    para a medio de presses de fluidos em repouso ou sob escoamento.

    AULA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM MATERIAISCARGA

    HORRIA(horas)

    1. Esttica dos fluidos

    Definir conceitos bsicos em Mecnica dos Fluidos.Estudar a presso e a sua variao ao longo de uma massa fluida em repouso.Estudar o efeito da presso em corpos submersos.

    Ambiente virtual:plataforma moodle;Apostila didtica;Recursos de apoio: links, exerccios.

    05

    2. Aplicao das equaes da quantidade de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos

    Definir conceitos bsicos para o estudo dos fluidos em regimes de escoamento.Descrever os modelos matemticos do comportamento dos fluidos em escoamento atravs das equaes da quantidade de movimento, da equao da energia mecni-ca e da equao de Bernoulli.

    Ambiente virtual:plataforma moodle;Apostila didtica;Recursos de apoio: links, exerccios.

    10

    3. Escoamentos internos

    Estudar o escoamento de fluidos viscosos no interior de tubos ou dutos.Determinar a perda de carga em tubos e dutos.

    Ambiente virtual:plataforma moodle;Apostila didtica;Recursos de apoio: links, exerccios.

    10

    4. Escoamentos externos

    Estudar o escoamento de fluidos viscosos no exterior de formas geomtricas conhecidas.Determinar a fora de arrasto em corpos imersos em fluidos sob escoamento.Determinar a fora de sustentao em corpos imersos em fluidos sob escoamento.

    Ambiente virtual:plataforma moodle;Apostila didtica;Recursos de apoio: links, exerccios.

    05

    Projeto instrucional

  • e-Tec Brasil

    Aula 1 Esttica dos fluidos

    Objetivos

    Definir conceitos bsicos em Mecnica dos Fluidos.

    Estudar a presso e a sua variao ao longo de uma massa fluida

    em repouso.

    Estudar o efeito da presso em corpos submersos.

    1.1 Conceitos bsicosNo estudo da mecnica dos fluidos importante definir o que um fluido.

    Lquidos e gases so fluidos tecnicamente, outros materiais como o vidro

    podem ser considerados fluidos.

    A definio mais comum de fluido : uma substncia que se deforma conti-

    nuamente sob ao de uma tenso de cisalhamento.

    A diferena entre substncias slidas e fluidas est representada na Figura1.1.

    Entende-se por tenses de cisalhamento t [kPa] a distribuio por unidades de rea de uma fora atuando paralelamente a uma determinada superfcie. Em

    uma substncia slida a aplicao dessa tenso, como mostra a Figura1.1,

    produz uma deformao Da [m] proporcional tenso aplicada (campo els-tico), podendo inclusive levar ao rompimento do slido (campo plstico). Os

    fluidos, quando submetidos a estas tenses de cisalhamento, apresentam

    um comportamento conhecido como escoamento, ou seja, uma deformao

    contnua e independe da intensidade da tenso aplicada e que ir existir por

    menor que sejam essas tenses.

    e-Tec BrasilAula 1 - Esttica dos fluidos 15

  • Figura 1.1: Tenses de cisalhamento em um slido e em um fluidoFonte: CTISM

    Outros materiais se comportaro como fluidos em determinadas condies

    e como slidos em outras, dependendo da grandeza da tenso aplicada. O

    estudo do comportamento das deformaes desses materiais chamado de

    reologia e no ser abordado neste texto.

    Quando os fluidos esto em repouso ou mesmo em movimento, algumas

    propriedades so necessrias para caracterizar o seu comportamento. Pro-

    priedades como a presso em um ponto ou a densidade em um ponto da

    massa fluida so muito utilizadas.

    Contudo, essas propriedades refletem o comportamento molecular da subs-

    tncia considerando-a como um meio contnuo. Isso significa dizer que estas

    quantidades so a mdia dessas propriedades em um pequeno volume em

    relao s dimenses fsicas do sistema, mas que ainda assim contenha um

    significante nmero de molculas necessrias para caracterizar o mesmo. Essa

    anlise dita como sendo uma denominada anlise macroscpica.

    1.2 Estudo da presso em fluidos em repousoPresso o termo utilizado para definir a distribuio por unidades de rea de

    uma fora normal a uma superfcie [kPa]. A grandeza presso semelhante

    grandeza tenso de cisalhamento. A nica diferena o sentido da aplicao

    da fora em relao superfcie. Enquanto na primeira, a fora perpendicular

    superfcie, na segunda a fora paralela superfcie.

    Para se avaliar a presso em um determinado ponto de uma massa fluida

    em repouso, considera-se um pequeno elemento fluido de forma cbica

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 16

  • submerso nessa massa, de acordo com a Figura 1.2. A cada superfcie desse

    elemento fluido determina-se um ndice de 1 a 6, sendo: superfcies inferior e

    superior, ndices 1 e 2, respectivamente; superfcies laterais esquerda e direita,

    ndices 3 e 4, respectivamente e superfcies frontal e posterior, ndices 5 e 6.

    As arestas do elemento fluido medem x, y e z e so pequenas o bastante em relao s grandezas fsicas do sistema. O peso W [N] do elemento fluido dado pelo produto do peso especfico g [N/m3], uma propriedade do fluido, pelo volume do elemento V [m3]. As foras que atuam em cada uma das seis superfcies do elemento so dadas pelo produto da presso sobre a superfcie

    pela rea da superfcie.

    Figura 1.2: Foras de superfcie e de corpo atuando sobre um elemento fluidoFonte: CTISM

    e-Tec BrasilAula 1 - Esttica dos fluidos 17

  • Se o fluido est em repouso, ento o somatrio (representado por S) das foras agindo sobre o elemento no sentido de cada eixo x, y e z deve ser nulo. Para se obter a fora que atua sobre a superfcie, basta que se multiplique a pres-

    so do fluido pela rea da superfcie do elemento (yz, xz ou xy [m2]), ou seja:

    As Equaes (1) e (2) do conta que p4 = p3 e p6 = p5 e representam a Lei de

    Pascal, a qual afirma que as presses em um mesmo plano horizontal no variam em um fluido em repouso (Figura 1.3).

    Figura 1.3: Distribuio de presso em um mesmo plano horizontal para um fluido em repousoFonte: CTISM

    Na direo z, no entanto, o balano de foras (Equao 3) conta com o termo peso do elemento W [N], e o somatrio das foras mostra que:

    Onde p1 [kPa] e p2 [kPa] so as presses no fluido nos planos de referncia 1 e 2 e g [N/m3] o peso especfico do fluido. Se considerarmos que a medida da aresta vertical z a relao entre as coordenadas neste eixo de duas cotas z1 [m] e z2 [m] correspondentes s posies das superfcies de referncia 1 e 2, ento a Equao 4 pode ser reescrita da seguinte forma:

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 18

  • Logo, pode-se concluir que a variao da presso em um fluido em repouso

    em relao a um eixo vertical z proporcional s diferenas de coordenadas sobre este eixo dos planos considerados de acordo com a Figura 1.4.

    Figura 1.4: Variao da presso em um fluido em repouso em relao a dois planos de referncia 1 e 2Fonte: CTISM

    A Equao 5 considera que o peso especfico do fluido seja constante ao

    longo do eixo vertical z, mas essa uma simplificao que ser considerada nesta seo e define a principal caracterstica dos fluidos incompressveis.

    Porm, o peso especfico o produto da massa especfica pela acelerao da

    gravidade que varivel de acordo com as distncias verticais dos planos de

    referncia. Essa variao, no entanto, pode ser desconsiderada na maioria

    dos problemas envolvendo lquidos, mesmo quando as distncias verticais

    forem considerveis.

    Por outro lado, essa simplificao no pode ser aplicada para os gases os quais

    apresentam forte variao do seu peso especfico em funo da temperatura

    e das presses a que esto submetidos. Esses fluidos so denominados com-

    pressveis, ou seja, a sua propriedade peso especfico varivel.

    Assista a um vdeo sobre Presso Hidrosttica em http://www.youtube.com/watch?v=S4zAkHA_AkQ

    e-Tec BrasilAula 1 - Esttica dos fluidos 19

  • A distribuio de presso representada pela Equao 5 chamada de dis-

    tribuio de presso hidrosttica ou simplesmente presso hidrosttica. Em

    aplicaes com lquidos, comum representar-se uma superfcie livre, como

    possvel observar na Figura 1.3 e na Figura 1.4. Essa superfcie considerada

    como um plano de referncia, e a presso que atua sobre ela normalmente

    a presso atmosfrica. A presso que atua sobre a superfcie de referncia

    chamada presso de referncia po [kPa] que, substituda na Equao 5 em lugar de p2 [kPa] e p [kPa] em lugar de p1 [kPa], permite escrever a lei da distribuio da presso hidrosttica em fluidos incompressveis em repouso:

    Ou ainda, em funo da altura ou da profundidade em um sistema fluido de

    acordo com a Figura 1.4:

    A altura h [m] tambm conhecida como altura de carga e pode ser inter-pretada como a altura de uma coluna de lquido de peso especfico g [N/m] necessria para manter uma diferena de presso p po, ou seja:

    A altura de carga uma definio muito importante e comumente utilizada

    para definir a capacidade de gerao de presso de bombas e ventiladores.

    1.3 Medies de presso e manometriaPelo texto, pode-se perceber a importncia das presses no estudo de Mec-

    nica dos Fluidos e, por esse motivo, muitas tcnicas e instrumentos foram

    desenvolvidos para a medio dessa propriedade em uma massa fluida. A

    esta cincia convencionou-se chamar manometria.

    A propriedade de presso do fluido pode ser ainda expressa na forma de pres-

    ses absolutas e presses manomtricas. A presso absoluta medida tendo

    como referncia a presso de zero absoluto, enquanto a presso manomtrica

    medida tendo como referncia a presso atmosfrica. Na Figura1.5, pode-se

    visualizar de uma forma grfica a relao entre essas presses.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 20

  • Figura 1.5: Representao grfica da presso absoluta e presso manomtricaFonte: CTISM

    Pela Figura 1.5, pode-se verificar que presses absolutas so sempre positivas,

    pois a sua referncia o eixo de zero absoluto (vcuo absoluto). A presso

    atmosfrica uma presso absoluta e representa a presso exercida pela massa

    fluida da atmosfera sobre todas as superfcies de um plano local da terra.

    Presses manomtricas, por sua vez, tm como referencial a presso atmos-

    frica e, assim, podem ser positivas ou negativas. A ltima pode ser tambm

    chamada de presso de vcuo ou simplesmente vcuo. Em problemas que

    envolvem a Mecnica dos Fluidos, comum que se expresse a propriedade

    presso na forma de presso manomtrica.

    A medio da presso realizada com a utilizao de manmetros, que podem

    medir tanto presses absolutas como presses manomtricas, dependendo

    unicamente da escala de indicao desses instrumentos. Os manmetros de

    tubos verticais ou inclinados que utilizam colunas de lquidos so uma tcnica

    usual para a medio de presso e podem ser divididos em tubos piezomtricos

    e manmetros de tubo em U.

    e-Tec BrasilAula 1 - Esttica dos fluidos 21

  • O tubo piezomtrico a forma mais simples dos manmetros e consiste em

    um tubo vertical ou inclinado aberto para a atmosfera na sua extremidade

    superior e fixado a um recipiente cuja presso se deseja verificar, conforme

    a Figura 1.6.

    Figura 1.6: Tubo piezomtricoFonte: CTISM

    A determinao da presso por esse mtodo, uma vez que envolve uma coluna

    de massa fluida em repouso, feita pela Equao 7, ou seja, se chamarmos a

    presso manomtrica em A de pA [kPa], ento podemos reescrever a Equao7 para esta presso:

    onde pA [kPa] a presso manomtrica, p [kPa] e po [kPa] so presses abso-lutas e g [N/m3] o peso especfico do fluido no recipiente A.

    Esse tipo de manmetro s pode ser utilizado para medio de presso em

    reservatrios com lquidos e nunca com gases, pois estes sairiam pela extremi-

    dade aberta e se perderiam na atmosfera. As presses manomtricas a serem

    medidas devem ser positivas e no podem ser muito elevadas, de modo que

    a coluna de lquido no apresente uma altura muito elevada, pois isso no

    razovel para a sua construo nem para a obteno das leituras.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 22

  • O problema da medio da presso em recipientes contendo gases pode ser

    eliminado utilizando-se o manmetro de tubo em U, podendo, neste caso, a

    presso no recipiente ser negativa ou positiva, porm dentro de parmetros

    que permitam alturas razoveis de colunas de lquido para serem construdos.

    O manmetro de tubo em U est representado na Figura 1.7. A determinao

    da presso manomtrica pA [kPa], da mesma forma que nos tubos piezom-tricos, feita atravs da Equao 7 igualando-se as presses nos pontos 1 e

    2 da Figura 1.7. Assim, a presso absoluta p1 [kPa] em 1 dada pela soma da presso absoluta p [kPa] em A mais a contribuio da altura h1 [m] do fluido 1, ou seja:

    J a presso p2 [kPa] dada pela soma da presso atmosfrica absoluta po [kPa] mais a contribuio da altura h2 [m] do fluido 2, ou seja:

    Igualando-se p1 = p2 e fazendo pA = p po, possvel obter-se a equao para determinao de pA [kPa]:

    Logo:

    e-Tec BrasilAula 1 - Esttica dos fluidos 23

  • Logo:

    Figura 1.7: Manmetro de tubo em UFonte: CTISM

    Quando o fluido dentro do reservatrio for um gs, a contribuio da coluna

    h1 [m] pode ser considerada desprezvel e a Equao 12 pode ser escrita como:

    A grande vantagem do manmetro em U a possibilidade de medir-se a

    presso em recipientes contendo gases. Contudo, esse instrumento pode

    ser utilizado para medir a diferena de presso entre dois reservatrios, ou

    entre dois pontos em um determinado sistema, como mostra as Figuras 1.8

    e 1.9. A deduo da equao para medir o diferencial de presso em A e B

    semelhante s dedues j apresentadas neste texto.

    Assista a um vdeo sobre Construo de Manmetro em

    http://www.youtube.com/watch?v=HzXjvt3jdCc

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 24

  • Figura 1.8: Manmetro diferencialFonte: CTISM

    Figura 1.9: Manmetro diferencialFonte: CTISM

    e-Tec BrasilAula 1 - Esttica dos fluidos 25

  • O peso especfico dos fluidos g [N/m3] frequentemente representado em funo da densidade relativa D, sendo a seguinte relao considerada:

    Di =

    Onde:

    gGUA = 10.000 N/m,

    gi = Peso especfico do fluido i considerado [N/m].

    Os manmetros apresentados at aqui so amplamente utilizados, mas apre-

    sentam muitas desvantagens em relao a sua aplicao quando comparados

    a outros dispositivos mecnicos ou eltricos, como o medidor de presso de

    Bourdon (Figura 1.10) ou os transdutores piezoeltricos ou de extensores resistivos (Figura 1.11). Na prtica, esses dispositivos so mais geis e mais

    prticos para a realizao da medio das presses do que os primeiros e,

    por isso, so os mais utilizados em plantas industriais.

    Figura 1.10: (a) Medidor de presso de Bourdon e (b) esquema do medidor de pressoFonte: CTISM

    gigGUA

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 26

  • Figura 1.11: (a); (b) e (c) Transdutor de extensmetros resistivosFonte: CTISM

    e-Tec BrasilAula 1 - Esttica dos fluidos 27

  • 1.4 Fora hidrosttica Quando uma superfcie est submersa em uma massa fluida, foras oriundas

    do fluido agem sobre esta superfcie, mesmo que elas estejam em repouso.

    O estudo dessas foras particularmente importante no projeto de grandes

    tanques de armazenamento de fluidos, navios e represas.

    Nas sees anteriores, verificou-se que a presso em uma superfcie de refern-

    cia varia linearmente com a profundidade ou com a distncia dessa superfcie

    superfcie livre da massa fluida. Se considerarmos como referncia uma

    superfcie plana do fundo de um reservatrio, a fora que atua sobre essa

    superfcie depender da presso sobre a superfcie e da sua rea, ou seja:

    A presso exercida pela massa fluida em toda a superfcie horizontal cons-

    tante, podendo ser calculada pela Equao 7, e a fora resultante dessa

    presso conhecida como fora hidrosttica e atuar no centro geomtrico

    da superfcie, tambm conhecido de centride (Figura 1.12a).

    Contudo, a presso que atua sobre as paredes verticais do reservatrio varia

    linearmente com a distncia da superfcie livre do reservatrio, uma vez que

    esta proporcional distncia h do ponto de referncia da parede superfcie livre, partindo, assim, da presso atmosfrica na linha da parede vertical que

    limita a superfcie livre at a presso de fundo pF = gh (Figura 1.12b).

    Figura 1.12: Presso e fora hidrosttica exercidas no fundo horizontal e nas paredes verticais de um tanque abertoFonte: CTISM

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 28

  • Resumo Nesta aula, realizaram-se estudos sobre a ao de foras sobre superfcies sub-

    mersas em fluidos em repouso. Considerou-se que o peso especfico desses

    fluidos permanece constante com a profundidade da massa fluida, o que define

    os fluidos incompressveis. Mostrou-se que a variao da presso no fluido varia

    linearmente com a profundidade, fenmeno conhecido como distribuio da

    presso hidrosttica. Distinguiram-se ainda as presses absolutas de presses

    manomtricas, considerando-se o referencial da escala.

    Apresentaram-se tambm mtodos de medio de presso por meio de man-

    metros de coluna de lquido e discutiram-se as suas vantagens e desvantagens

    em relao a outros dispositivos prticos.

    Discutiu-se ainda a ao de foras sobre superfcies planas horizontais e

    verticais submersas.

    Atividades de aprendizagem1. Descreva como se comporta a distribuio da presso hidrosttica em

    uma massa fluida.

    2. O que se entende por altura de carga?

    3. Explique em uma figura as diferenas entre presso manomtrica e pres-so absoluta.

    4. Qual a presso manomtrica em kPa em um recipiente contendo leo cujo tubo piezomtrico apresenta uma leitura de 0,30 m. Considere a

    densidade relativa do leo igual a 0,9.

    5. Por que os medidores de presso mecnicos ou eltricos so mais prti-cos que os manmetros de coluna de lquido?

    6. No lado da suco de uma bomba, um medidor de presso de Bourdon mede 40 kPa de vcuo. Qual a presso absoluta equivalente, se a presso

    atmosfrica absoluta igual a 100 kPa?

    7. Deduza a equao para determinar a presso no reservatrio B em fun-o da presso no reservatrio A da Figura 1.8.

    e-Tec BrasilAula 1 - Esttica dos fluidos 29

  • 8. Qual a presso sobre o casco de um submarino que viaja a 50 m abaixo da superfcie livre? Considerando a presso atmosfrica igual a 100 kPa, quan-

    tas vezes a presso sobre o casco maior do que a presso atmosfrica?

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 30

  • e-Tec Brasil

    Aula 2 Aplicao das equaes da quantidade de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos

    Objetivos

    Definir conceitos bsicos para o estudo dos fluidos em regimes de

    escoamento.

    Descrever os modelos matemticos do comportamento dos fluidos

    em escoamento atravs das equaes da quantidade de movimento,

    da equao da energia mecnica e da equao de Bernoulli.

    2.1 Conceitos bsicosEm anlises de escoamentos em Mecnica dos Fluidos, comum utilizarem

    volumes de controle, ou seja, dependendo do objetivo da anlise e das con-

    dies conhecidas do sistema em estudo, define-se uma regio do espao

    de interesse limitada por superfcies de controle ou fronteiras por onde pode

    ocorrer fluxo de massa.

    Figura 2.1: Volume de controleFonte: CTISM

    e-Tec Brasil

    Aula 2 - Aplicao das equaes da quantidade

    de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos 31

  • Em uma massa fluida contida em um volume de controle, a fora peso asso-

    ciada ao da gravidade denominada fora do corpo. O peso W [N] capaz de influenciar no movimento do fluido, da mesma forma como se observa a

    influncia do peso sobre o movimento de uma bola arremessada. Foras de

    superfcie so as que atuam sobre a matria interna e adjacente s superfcies

    de controle. Essas foras so capazes de produzir ou modificar o escoamento.

    A fora resultante que atua sobre a massa fluida contida em um volume de

    controle a soma de foras de superfcie e foras de corpo.

    Figura 2.2: (a) fora de corpo e (b) foras de superfcieFonte: CTISM

    As diferenas de comportamento dos fluidos em escoamento podem ser

    justificadas por suas propriedades intrnsecas. Fluidos como a gua e o leo

    apresentam algumas propriedades muito semelhantes como a massa espec-

    fica [kg/m3]. Contudo, seus comportamentos so bem diferentes quando esto em regime de escoamento. Logo, outra propriedade deve influir nesses

    processos. A viscosidade [N.s/m2] uma dessas propriedades dos fluidos que

    influenciam muito no comportamento dos escoamentos.

    Para definir a viscosidade de um fluido, deve-se imaginar a seguinte experincia

    apresentada na Figura 2.3:

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 32

  • Figura 2.3: Comportamento de um fluido entre placas paralelasFonte: CTISM

    As duas placas paralelas esto separadas por um fluido a uma distncia b. A placa inferior fixa, e a superior mvel. Quando uma fora F aplicada na placa mvel sobre o fluido, uma tenso de cisalhamento aplicada sobre

    a superfcie superior do fluido, fazendo-o escoar. Da mesma forma, cada

    nfima camada da lmina de fluido faz surgir uma tenso de cisalhamento

    aplicada camada imediatamente inferior a ela. Um perfil de velocidade u (y) pode ser observado, partindo da velocidade nula (u (0) = 0) na camada adjacente placa fixa at uma velocidade U [m/s] igual a velocidade da placa mvel (u (b) = U). Quando este perfil apresenta uma relao linear como o da Figura 2.3, o fluido denominado Newtoniano, e a tenso de cisalhamento

    proporcional relao U/b.

    O coeficiente de proporcionalidade da equao referida representa a viscosi-

    dade do fluido. Assim, quanto maior a viscosidade do fluido, maiores sero os

    efeitos do atrito viscoso no escoamento, ou melhor, maiores sero as tenses

    de cisalhamento entre as camadas de fluido.

    Sempre que houver escoamento haver tambm tenses de cisalhamento

    devido viscosidade do fluido. Contudo, como forma de simplificao, quando

    a influncia da viscosidade sobre o escoamento for pouco importante em

    relao as foras de corpo ou de superfcie, o fluido pode ser considerado

    e-Tec Brasil

    Aula 2 - Aplicao das equaes da quantidade

    de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos 33

  • como invscito, ou seja, sem viscosidade. Na prtica, fluidos como a gua ou o leo podem ser considerados invscitos e os escoamentos desses fluidos

    so chamados de escoamentos invscitos.

    Em geral, escoamentos de lquidos podem ser modelados tambm como

    escoamentos incompressveis, pelo fato de que o peso especfico desses fluidos apresenta pouca variao com a presso em uma determinada condio.

    Quando as propriedades do escoamento em um volume de controle no

    variam com o tempo, o escoamento chamado de regime permanente ou estacionrio.

    Quando a velocidade do fluido tem o sentido normal (perpendicular) super-

    fcie de controle e a mesma em toda a superfcie, o escoamento denomi-

    nado unidimensional.

    Nos modelamentos de escoamento comum definirem-se linhas de fluxo, que so as linhas formadas por pontos de tangncia aos vetores que indicam

    o sentido da velocidade do escoamento. Quando o escoamento for a regime

    permanente, as linhas de fluxo sero exatamente o caminho percorrido por

    uma partcula fluida no escoamento, visto que a sua velocidade e seu vetor

    velocidade no variam com o tempo.

    Figura 2.4: Linhas de fluxo em um escoamento externoFonte: CTISM

    Essas modelagens apresentadas no texto tornam as anlises de escoamentos mais

    simples e podem ser aplicadas a uma grande variedade de sistemas. Contudo,

    em alguns casos, preciso maior cuidado para assumir essas simplificaes.

    Assista a um vdeo sobreFluidos Mecnicos em

    http://www.youtube.com/watch?v=j6yB90vno1E&feature=Pl

    ayList&p=BD6071B837419278&index=0

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 34

  • 2.2 Equao da quantidade de movimento Por definio, quantidade de movimento de um corpo representa o produto

    da massa do corpo m [kg] pela sua velocidade V [m/s]. J a segunda lei do movimento de Newton afirma que a fora resultante FR [N] atuando sobre um corpo em movimento igual ao produto da sua massa m [kg] pela acelerao a [m/s2] do corpo:

    Considerando que a grandeza acelerao igual taxa temporal da variao

    da velocidade do corpo em movimento entre dois pontos 1 e 2, pode-se

    escrever a seguinte equao:

    Onde V2 [m/s] e V1 [m/s] so as velocidades de um corpo ou, em Mecnica dos

    Fluidos, de um elemento da massa fluida em duas posies de uma linha de

    fluxo do escoamento e t [s] o tempo que esse elemento da massa fluida leva para percorrer o trajeto entre essas duas posies.

    Pode-se, assim, reescrever a Equao 14 da seguinte forma:

    A Equao 16 representa que a fora resultante que atua sobre um elemento

    fluido igual variao temporal da quantidade do movimento desse elemento.

    Reagrupando os termos da direita da Equao 16 poderemos reescrev-la em

    funo da vazo mssica m [kg/s] de um fluido em escoamento em regime permanente e, assim, obteremos a equao da quantidade de movimento

    para um volume de controle:

    e-Tec Brasil

    Aula 2 - Aplicao das equaes da quantidade

    de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos 35

  • Onde a vazo mssica de fluido, ou seja, a massa de fluido que

    passa por uma rea de referncia na unidade de tempo.

    Um caso tpico de utilizao da equao da quantidade de movimento que se

    pode apresentar a determinao da fora do jato dgua de um injetor de

    uma turbina Pelton sobre a p da turbina. A Figura 2.5 apresenta o esquema de uma turbina Pelton, do injetor e da p da turbina. Esse tipo de turbina utilizado em inmeras usinas hidroeltricas brasileiras. Pode-se verificar, por

    essa figura, que o jato que sai do injetor atinge a p e o seu movimento segue

    o caminho do perfil da pea.

    Figura 2.5a: Turbina PeltonFonte: CTISM

    m = m.

    t

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 36

  • Figura 2.5b: Turbina Pelton instaladaFonte: CTISM

    2.2.1 Exemplo de aplicaoA determinao da fora resultante aplicada sobre a p de uma turbina Pelton pelo jato dgua que sai do injetor da turbina necessria para se obter a

    capacidade de gerao de energia da turbina, tendo em vista que a potncia

    de gerao P [W] o produto do torque T [Nm] obtido da fora resultante pela velocidade angular do eixo [rad/s]. A velocidade angular do eixo deve ser constante e para um gerador de 4 polos para uma frequncia de 60 Hz

    deve ser igual a 1800 rpm.

    Para determinar a fora sobre a p, basta que se contabilize a quantidade de

    movimentos na entrada e na sada de um volume de controle.

    De acordo com o esquema apresentado na Figura 2.6, o jato de gua que

    sai do injetor da turbina com 1 m de raio tem uma velocidade de 3 m/s e um

    dimetro igual a 0,085 m. Por simplificao, vamos adotar o escoamento como

    permanente, incompressvel ( = 1000 kg/m3) e unidimensional na entrada e na sada do volume de controle. A presso em toda a superfcie de controle

    atmosfrica. A anlise ser realizada apenas no plano xy.

    e-Tec Brasil

    Aula 2 - Aplicao das equaes da quantidade

    de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos 37

  • Figura 2.6: Vistas (a) lateral; (b) frontal e (c) corte mostrando o comportamento da gua na colher. (d) Volume de controle e dados fornecidosFonte: CTISM

    Consideremos um volume de controle que inclui a p da turbina e parte

    da gua escoando sobre a p. Aplicando-se a equao da quantidade de

    movimento para esse volume de controle, a fora resultante no sentido do

    escoamento que, nesse caso, paralelo ao eixo de referncia x ser dada por:

    Onde V1 e V2 so as velocidades da gua entrando e saindo do volume de controle e FR a fora resultante imposta pelo jato dgua sobre a p ou, por outro ponto de vista, a fora de todo o sistema de gerao acoplado tur-

    bina que se ope ao movimento do eixo e que deve ser vencida para manter

    a rotao constante. Como o escoamento permanente, ento |V1|=|V2|. Porm, os sinais so diferentes, pois seus sentidos so contrrios. Logo V1 = 3 m/s e V2 = -3 m/s.

    Em um escoamento a vazo mssica ser dada por:

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 38

  • Onde a massa especfica do fluido [kg/m3], A a rea normal ao escoa-mento [m2] e V a velocidade do escoamento [m/s]. Das condies fornecidas no problema, pode-se determinar a vazo mssica a partir do dimetro do

    injetor e da velocidade V1. Logo considere = 3,14:

    Onde a rea da seo circular do jato dgua ser:

    A fora em Newtons ser ento:

    O sinal negativo de FR indica a fora que se ope ao movimento e que ser vencida pelo jato dgua para manter o movimento do rotor da turbina. Essa

    fora produz um torque [Nm] T = FR.raio do rotor:

    A potncia de gerao desta turbina dada por:

    e-Tec Brasil

    Aula 2 - Aplicao das equaes da quantidade

    de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos 39

  • Onde P a potncia de gerao de energia [W], a velocidade angular [rad/s], T o torque sobre o rotor da turbina [Nm] e N a velocidade de rotao do rotor da turbina [RPM]. Logo:

    2.3 Equao da energia mecnica Outra forma til de estudar as caractersticas do escoamento dos fluidos

    a utilizao da equao da energia mecnica para um volume de controle.

    Essa equao contabiliza as vrias formas de energia envolvidas em um fluxo,

    como a energia cintica, a energia potencial, as perdas de energia que podem

    ocorrer nesse escoamento devido fora de atrito viscoso (devido visco-

    sidade do fluido), energia fornecida ao volume de controle por bombas e

    compressores ou a retirada do volume de controle por turbinas. Assim, con-

    tabilizando as energias entre dois pontos 1 e 2 do escoamento, a equao

    da energia mecnica ser:

    Os termos da Equao 18 da energia mecnica tm unidades de compri-

    mento [m] e podem ser associados com alturas de carga, onde o termo da

    elevao z [m] associado energia potencial e pode ser chamado de altura de elevao. O termo da velocidade V 2/ 2g [m] associado energia cintica e conhecido como carga de velocidade e representa a distncia necessria

    para que o fluido acelere do repouso at a velocidade V. O termo da presso p/g [m] conhecido como carga de presso e representa a altura de uma coluna de lquido necessria para produzir uma presso p [kPa] e g [N/m3] uma propriedade do fluido chamado peso especfico. Os termos hp [m], ht [m] e hL [m] representam alturas de carga adicionadas ou subtradas do volume de controle por uma bomba, uma turbina e por perdas de carga oriundas de

    atrito viscoso, respectivamente.

    Uma aplicao prtica da equao da energia mecnica pode ser realizada

    na determinao da potncia de uma bomba destinada a elevar gua de

    um reservatrio em um nvel baixo para outro reservatrio em um nvel mais

    elevado.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 40

  • 2.3.1 Exemplo de aplicaoA determinao da potncia de uma bomba para bombeamento de um fluido

    armazenado em um reservatrio para outro a um nvel mais elevado um

    problema comum no ambiente industrial e domstico.

    O propsito da bomba em um sistema de elevao de fluido proporcionar-lhe

    energia para aumentar a sua energia potencial, ou seja, moviment-lo de

    um nvel de energia potencial baixo para um nvel de energia potencial alto.

    De acordo com o esquema da Figura 2.7, a gua deve ser bombeada de um

    reservatrio para outro com um nvel de elevao de 9 m entre as suas super-

    fcies livres. As perdas por atrito viscoso na tubulao impem uma perda de

    carga nesse processo equivalente a uma altura de 4,26 m. A vazo volumtrica

    da bomba Q [m3/s] de 0,085 m3/s. Por simplificao, considera-se que o escoamento permanente e incompressvel. A presso sobre as superfcies

    livres dos reservatrios a presso atmosfrica, e a velocidade do fluido nas

    superfcies dos reservatrios nula.

    Figura 2.7: Esquema do sistema de bombeamento de guaFonte: CTISM

    Um balano de energia entre os pontos 1 e 2, utilizando-se a equao da

    energia mecnica, deve ser utilizado neste problema:

    e-Tec Brasil

    Aula 2 - Aplicao das equaes da quantidade

    de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos 41

  • Reagrupando os termos e isolando o termo da altura de carga hp correspondente energia que deve ser fornecida pela bomba, chega-se seguinte relao:

    Os termos de presso e de velocidade anulam-se pelas hipteses descritas, pois

    p2 = p1 = po, logo, p2 p1 = 0 e V2 = V1 = 0. O termo da altura de carga ht referente turbina tambm zero, pois no existem turbinas nesse sistema. Logo,

    Ou seja, para elevar gua a uma altura de 9 m e numa vazo de 0,085 m3/s, a

    bomba deve ser capaz de elevar a energia potencial do fluido a uma altura de

    carga equivalente a 13,26 m para compensar as perdas de carga na tubulao.

    Em termos da presso mnima que a bomba deve fornecer para realizar este

    bombeamento, considerando ggua = 10.000 N/m3:

    Ou seja, a bomba deve ser especificada para uma presso mnima de 132,6 kPa.

    A potncia da bomba Pp [W] ser dada ento pelo produto da presso pela vazo volumtrica Q [m3/h]:

    Ou seja, para executar esse servio de bombeamento entre esses dois reser-

    vatrios na vazo requerida, a potncia mnima da bomba de 11,271 kW,

    ou 15 HP (1 kW = 1,341 HP).

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 42

  • 2.4 Equao de BernoulliA equao de Bernoulli um caso especial da equao da energia mecnica e considera um escoamento em regime permanente de um fluido incompressvel

    e invscito. Dessa forma, os termos referentes s alturas de carga hp [m], ht [m] e hL [m] so nulos para essa equao, sendo esboada assim:

    Essa equao est escrita na forma de alturas de carga, mas pode tambm

    ser escrita em termos da presso, multiplicando-se todos os termos pelo peso

    especfico e substituindo-se a relao g/g pelo termo [kg/m] que representa a massa especfica do fluido, ou seja, uma propriedade do mesmo.

    Isso permite afirmar que, nesse tipo de escoamento, a soma das alturas de carga

    correspondentes s energias permanece constante ao longo de uma linha de fluxo:

    A soma dessas presses chamada de presso total, e os termos so chamados

    de presso esttica p [kPa], presso dinmica V2/2 [kPa] e presso hidrost-tica gz [kPa]. A equao de Bernoulli afirma que a presso total permanece constante ao longo de uma linha de fluxo.

    A presso total a presso que seria exercida pelo fluido em escoamento

    sobre uma superfcie perpendicular ao mesmo, e sua medida poderia ser

    feita por um manmetro apontado a montante do escoamento no ponto

    Q da Figura 2.8. Nesse ponto, o fluido encontra-se estagnado e, por isso, chamado ponto de estagnao.

    A presso esttica refere-se presso termodinmica efetiva medida em um

    manmetro ou tubo piezomtrico. No caso de um fluido escoando em uma

    tubulao, a presso esttica seria a medida tomada por um manmetro

    posicionado na parede da tubulao, ponto P da Figura 2.8.

    e-Tec Brasil

    Aula 2 - Aplicao das equaes da quantidade

    de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos 43

  • Figura 2.8: Medio de presso esttica e dinmicaFonte: CTISM

    A diferena de altura h apresentada na Figura 2.8 representa a presso dinmica.

    A presso hidrosttica refere-se presso devida ao peso da coluna de fluido

    em relao a uma altura de referncia, a mesma propriedade estudada no

    captulo de esttica dos fluidos e nesta aplicao ser sempre nula, visto que

    os pontos P e Q se encontram no mesmo nvel.

    Se aplicarmos a equao de Bernoulli entre os pontos P e Q da Figura 2.8, teremos:

    Considerando que VQ = 0, porque o ponto Q um ponto de estagnao do fluido e zQ = zP, pois Q e P esto em uma mesma altura, ento:

    onde, pP [Pa] e VP [m/s] so a presso esttica e a velocidade do escoamento, respectivamente.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 44

  • Uma utilizao prtica da equao de Bernoulli pode ser feita na medio da velocidade de escoamento com a utilizao de um tubo de Pitot (Figura 2.9 b). O tubo de Pitot um dispositivo que funciona segundo o esquema da Figura 2.8 e utilizado em avies para determinar a velocidade do voo

    (Figura 2.9 a). A partir da Equao 22 a velocidade do escoamento e a do

    voo ser dada por:

    Figura 2.9: (a) Vista do tubo de Pitot na fuselagem de um avio comercial; (b) detalhe do tubo de Pitot e (c) esquema de um tubo de PitotFonte: (a) http://www.airplane-pictures.net/ (b) http://www.billcasselman.com (c) CTISM

    Assista a vdeossobre Tubo de Pitot emhttp://www.youtube.com/watch?v=VHwAa3GPcCQ

    http://www.youtube.com/watch?v=Ck9tlXF8KVc

    http://www.youtube.com/watch?v=AN1foVEBpHo&feature=related

    e-Tec Brasil

    Aula 2 - Aplicao das equaes da quantidade

    de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos 45

  • 2.4.1 Exemplo de aplicaoUm tubo de Pitot como o da Figura 2.9c mede um diferencial de presso em um escoamento de ar em uma tubulao. A altura h medida no manmetro diferencial em U de gua igual a 0,5 m. Qual a velocidade do escoamento?

    Por simplificao, considera-se o escoamento sobre o tubo de Pitot como permanente, invscito e incompressvel para que se possa aplicar a equao

    de Bernoulli. O nico dado disponvel a medio da altura no manmetro diferencial que, como se verificou, proporcional diferena entre a presso

    total e a presso esttica, ou seja, a prpria presso dinmica do escoamento.

    Da seo de esttica dos fluidos sabe-se que um diferencial de presso pode

    ser escrito em funo de uma altura de coluna de lquido. Assim:

    onde h [m] a altura medida no manmetro diferencial e gGUA = 10.000N/m3 o peso especfico do fluido utilizado no manmetro e ar = 1,23 kg/m3 a massa especfica do ar em escoamento. Finalmente, substituindo-se os valores

    na Equao 23:

    ResumoNessa aula iniciamos o estudo dos fluidos em escoamento e definimos conceitos

    iniciais que simplificam a soluo dos problemas que so bastante complexos.

    Atravs da equao da quantidade de movimento ou de momentos, foi poss-

    vel calcular a fora exercida por um escoamento sobre superfcies interpostas

    no fluxo, considerando que a fora resultante sobre uma superfcie atingida

    pelo escoamento igual variao temporal da quantidade de movimento

    deste fluxo. Utilizando a equao da energia mecnica, demonstramos que a

    energia total se conserva em um volume de controle, e este mtodo deve ser

    utilizado em problemas em que o atrito viscoso importante ou em casos nos

    quais bombas ou turbinas adicionam ou retiram energia do fluido escoando.

    Por fim, em um caso mais simplificado, utilizamos a equao de Bernoulli, considerando que a presso total se conserva em escoamentos permanentes,

    no viscosos e incompressveis e utilizamos esse princpio para determinar a

    velocidade de um escoamento.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 46

  • Atividades de aprendizagem1. Na seo 2.2.1, se o gerador necessitasse de uma velocidade de 3200rpm,

    qual seria a velocidade do jato dgua do injetor para manter a mesma

    potncia de gerao de energia?

    2. Considerando a equao da energia mecnica, determine a mxima po-tncia de gerao (sem perdas de carga hL = 0) que a turbina mostrada no esquema que segue poderia produzir. Considere a vazo volumtrica

    de gua na turbina Q = 5 m3/s.

    Fonte: CTISM

    3. Qual seria a diferena de presso que seria medida em um tubo de Pitot de um avio que voa a 800 km/h. Apresente o resultado em metros de

    coluna de gua e em Pascais (Pa). Considere a acelerao da gravidade na altitude do vo g = 9,7 m/s e AR = 1,23 kg/m3.

    e-Tec Brasil

    Aula 2 - Aplicao das equaes da quantidade

    de movimento e da energia mecnica em Mecnica dos Fluidos 47

  • e-Tec Brasil

    Aula 3 Escoamentos internos

    Objetivos

    Estudar o escoamento de fluidos viscosos no interior de tubos ou dutos.

    Determinar a perda de carga em tubos e dutos.

    3.1 Escoamento interno em tubos e dutos3.1.1 Escoamento laminar e turbulentoUm cientista britnico chamado Osborne Reynolds estudou o escoamento

    em tubos ou dutos utilizando um experimento muito simples (Figura 3.1). Em

    um tubo transparente, Reynolds adaptou uma sonda de corante de forma a

    introduzir um contraste no escoamento para verificar suas condies. Com

    esse experimento o cientista verificou que o contraste de corante apresen-

    tava comportamentos diferentes, de acordo com as diferentes caractersticas

    do tubo, do fluido e do escoamento. Para identificar o tipo de escoamento,

    Reynolds props um parmetro adimensional conhecido como nmero de

    Reynolds que relaciona as seguintes propriedades do fluido: massa especfica e viscosidade; geometria do tubo e velocidade mdia do escoamento. O nmero

    de Reynolds para tubos circulares dado pela seguinte relao:

    onde Re o nmero adimensional de Reynolds, [kg/m3] a massa especfica, V [m/s] a velocidade mdia do escoamento, D [m] o dimetro da tubulao e [N.s/m2] a viscosidade do fluido.

    Atravs do nmero Reynolds, pode-se determinar se o escoamento laminar, transiente ou turbulento. O escoamento ser laminar se Re < 2100 a 2300 e ser turbulento para Re > 4000. Para Re entre esses limites, o escoamento poder ser turbulento ou laminar, ou seja, transiente.

    e-Tec BrasilAula 3 - Escoamentos internos 49

  • Quadro 3.1: Tipos de escoamentosNmero de Reynolds Tipo de escoamento

    Re < 2100 a 2300 Escoamento laminar

    Re > 4000 Escoamento turbulento

    Figura 3.1: (a) Experimento de Reynolds para ilustrar o tipo de escoamento e (b) listras tpicas de coranteFonte: CTISM

    3.1.2 Regio de entrada e escoamento completa-mente desenvolvidoNo escoamento de um fluido atravs de um tubo ou de um duto, o perfil de

    velocidade de escoamento na entrada do sistema normalmente uniforme

    (Figura 3.1a). Na medida em que o fluido avana na direo do escoamento,

    os efeitos da viscosidade so percebidos pela aderncia de uma camada de

    fluido sobre a parede do tubo, e h o surgimento de tenses de cisalhamento

    entre as camadas adjacentes. A camada do escoamento que influenciada

    por esse efeito da viscosidade chamada de camada limite. A velocidade

    da camada aderida parede do tubo zero e a velocidade do fluido cresce

    no sentido da direo do centro do tubo onde mxima, de acordo com

    a Figura 3.1b. O perfil de velocidade apresenta ento em um determinado

    comprimento do tubo ou duto um comportamento varivel que vai de um

    perfil uniforme na entrada at assumir um perfil parablico, a partir do qual

    se diz que o escoamento est completamente desenvolvido. A regio onde

    o perfil de velocidade varivel chamada de regio de entrada.

    Assista a um vdeosobre Fluidos Mecnicos em

    http://www.youtube.com/watch?v=3vbFcVwzaEI&feature=PlayList&p=BD6071B837419278&

    index=13

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 50

  • Figura 3.2: Perfil de velocidade do escoamento na regio de entrada e no escoamen-to completamente desenvolvidoFonte: CTISM

    O comprimento da regio de entrada xent [m] depende do tipo de escoamento ser laminar ou turbulento e pode ser determinado pelas seguintes relaes:

    3.1.2.1 Escoamento laminar completamente desenvolvidoEmbora no sejam comuns na prtica como forma de simplificao, muitos

    escoamentos podem ser considerados completamente desenvolvidos, perma-

    nentes e laminares. Considerando ainda o fluido como Newtoniano, o perfil de

    velocidade em funo do raio em um tubo circular pode ser determinado por:

    onde u (r) [m/s] a velocidade a uma distncia r [m] qualquer da linha de centro do escoamento, D [m] o dimetro do tubo e Vc [m/s] a velocidade na linha de centro do escoamento.

    e-Tec BrasilAula 3 - Escoamentos internos 51

  • Figura 3.3: Perfil de velocidade em um escoamento internoFonte: CTISM

    Nessas mesmas condies de escoamento, outra relao importante o

    comportamento da vazo volumtrica e da perda de carga em um compri-

    mento l [m] da tubulao, dadas pela seguinte relao conhecida como Lei de Pouseuille.

    onde p [kPa] a perda de presso na tubulao, [N.s/m2] a viscosidade do fluido e D [m] o dimetro da tubulao.

    Muitos escoamentos no podem ser considerados como laminares e as simplifi-

    caes adotadas nas sees anteriores do texto podem gerar erros importantes

    nas anlises dos escoamentos. Escoamentos turbulentos so muito comuns

    e desejveis na prtica, como por exemplo, os processos de mistura ou de

    transferncia de calor em resfriadores ou trocadores de calor.

    3.2 Perda de carga em escoamentos internos Na anlise de escoamentos internos em tubos ou dutos comum que se

    necessite determinar a perda de carga hL [m] que a tubulao impe ao sistema fluido. Essa perda de carga oriunda dos efeitos da viscosidade do

    fluido e pode ser determinada contabilizando-se os efeitos localizados hLOC [m] impostos por componentes como curvas, ts, joelhos, vlvulas ou outros

    componentes que estejam montados no fluxo fluido e pelos efeitos viscosos

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 52

  • 3.2.1 Perdas de cargas normaisAs perdas de cargas normais ocorrem em funo do efeito viscoso do fluido

    em escoamento e dependem de fatores como a velocidade do escoamento,

    a geometria da tubulao (comprimento e dimetro), a rugosidade da parede

    da tubulao e das propriedades de viscosidade e massa especfica do fluido.

    Algebricamente, possvel contabilizar as perdas de cargas normais utilizando

    a equao de Darcy-Weisbach:

    onde L [m] o comprimento linear da tubulao, V [m/s] a velocidade mdia do escoamento, D [m] o dimetro da tubulao, g [m/s2] a acelerao da gravidade e f o fator de atrito.

    O fator de atrito um parmetro adimensional que depende do nmero de

    Reynolds e da rugosidade relativa. A rugosidade relativa a relao entre a rugosidade aparente [m], que representa um fator caracterstico da rugosi-dade da parede, e o dimetro do tubo:

    Tabela 3.1: Rugosidades aparentes

    TuboRugosidade aparente -

    Ps Milmetros

    Ao rebitado 0,003 0,03 0,9 9,0

    Concreto 0,001 0,01 0,3 3,0

    Ferro fundido 0,00085 0,26

    Ferro galvanizado 0,0005 0,15

    Tubo estirado 0,000005 0,0015

    Plstico e vidro 0,0 (liso) 0,0 (liso)

    normais impostos pela tubulao linear hN [m]. Assim, a perda de carga total do sistema ser dada pela seguinte equao:

    e-Tec BrasilAula 3 - Escoamentos internos 53

  • O fator de atrito determinado atravs do diagrama de Moody, que fornece o fator de atrito (ordenada y da esquerda) a partir do nmero de Reynolds na abscissa (eixo x) e da rugosidade relativa (ordenada y da direita). Pelo diagrama

    da Figura 3.4, pode-se verificar que o fator de atrito para escoamentos lami-

    nares (Re < 2100) independe da rugosidade e pode ser dado diretamente por:

    Pode-se ainda verificar que, para regimes identificados na figura como ple-

    namente turbulentos, o fator de atrito no depende de Re, mas apenas da

    rugosidade relativa.

    Figura 3.4: Diagrama de MoodyFonte: CTISM

    3.2.2 Perdas de cargas localizadasAs perdas de cargas localizadas so devidas aos componentes ou geometrias

    que compem a tubulao que no sejam o tubo reto. A contabilizao dessas

    perdas relacionada a um fator experimental chamado coeficiente de perda KL. O coeficiente de perda est muito relacionado geometria dos componentes e pouco relacionado s condies do escoamento. Na Figura 3.5 verificamos

    que o fluido, ao passar por uma vlvula, assim como em qualquer outro compo-

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 54

  • nente, tem dificuldades devido s restries que se apresentam e que obrigam

    a vrias mudanas de direo do fluxo para o fluido transpassar o componente.

    Figura 3.5: Detalhes do escoamento em uma vlvulaFonte: CTISM

    Dessa forma, esse componente oferece uma restrio equivalente a um deter-

    minado comprimento reto de tubulao, ou seja, o seu efeito o mesmo

    que um aumento da tubulao de uma quantia igual ao comprimento equi-

    valente do componente. A determinao algbrica da perda localizada por

    um componente dada por:

    A Figura 3.7 apresenta os coeficientes de perda proporcionais aos compri-

    mentos equivalentes de vrios componentes encontrados comercialmente.

    J a Figura 3.6 apresenta os coeficientes de perdas para algumas geometrias

    de entradas e sadas de escoamentos. A determinao da perda total hL se d pela contabilizao de todas as perdas associadas a componentes localizados,

    mais as perdas normais da tubulao.

    e-Tec BrasilAula 3 - Escoamentos internos 55

  • Figura 3.6: Valores de coeficientes de perda para escoamentos em entradas e sadasFonte: CTISM

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 56

  • Figura 3.7: Coeficientes de perdaFonte: CTISM

    3.2.3 Exemplo de aplicao Na aula anterior estimou-se a potncia de uma bomba para elevar gua entre dois

    reservatrios em nveis diferentes, considerando-se a perda de carga. Contudo,

    a perda de carga naquele exemplo fora fornecida. Em muitos casos de projetos

    de tubulaes, a perda de carga precisa ser estimada assim como a altura de

    carga que deve ser adicionada por uma bomba para que o escoamento seja

    mantido. O esquema a seguir representa uma tubulao de ferro galvanizado

    por onde a gua escoa a uma vazo volumtrica Q = 0,045 m3/min. A massa

    e-Tec BrasilAula 3 - Escoamentos internos 57

  • especfica dessa gua = 999 kg/m3 e a viscosidade m = 1,12 x 10-3 N.s/m2. Por simplificao, o escoamento ser considerado incompressvel e plena-

    mente desenvolvido nas regies retilneas da tubulao. A torneira (2) est

    completamente aberta, e a presso atmosfrica. Pode-se determinar a perda

    de carga incluindo as perdas normais e localizadas e a presso na entrada do

    sistema (ponto 1).

    Figura 3.8: Esquema de tubulao para clculo da perda de cargaFonte: CTISM

    A determinao da perda de carga total obtida pela contabilizao das

    perdas normais e perdas localizadas. As perdas normais so obtidas por:

    onde o comprimento linear da tubulao ser obtido pelo somatrio dos

    comprimentos individuais de cada trecho, sendo:

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 58

  • A velocidade V [m/s] da gua no tubo ser obtida por:

    O fator de atrito f obtido pelo diagrama de Moody. Contudo, preciso ainda que se determinem a rugosidade relativa /D e o nmero de Reynolds. Da Tabela 3.1 obtm-se que a rugosidade para o tubo de ferro galvanizado

    que = 0,15 mm, ento:

    O nmero de Reynolds dado por:

    Observando o diagrama de Moddy, verificamos que o fator de atrito f = 0,035.

    Figura 3.9: Diagrama de Moody para determinao do fator de atrito f = 0,035Fonte: CTISM

    e-Tec BrasilAula 3 - Escoamentos internos 59

  • Finalmente, pode-se obter a perda de carga normal por:

    O total das perdas de cargas localizadas ser obtido pela soma das influncias

    de cada componente da tubulao (singularidades). Uma tabela pode ser til

    para relacionar os componentes do sistema e os valores de KL so obtidos pela Tabela 3.2.

    Tabela 3.2: Perdas de carga localizadas no sistema

    Componente Quantidade KL hLOC = KL =Total de perda por

    componente

    Curva 90raio normal rosqueada

    4 1,5 0,54 2,15

    Vlvula globototalmente aberta

    1 10 3,59 3,59

    Vlvula gavetatotalmente aberta

    1 0,15 0,05 0,05

    O total das perdas localizadas ser ento hLOC = 2,15 + 3,59 + 0,05 = 5,79 m, e a perda de carga total ser:

    Para se determinar a presso no ponto (1), a equao da energia mecnica

    pode ser utilizada:

    A presso na sada da torneira p2 = patm = 0 (manomtrica), hp e ht tambm so nulos, pois no existem bombas ou turbinas nesse sistema. Considerando

    tambm que a rea da sada da torneira a mesma rea da tubulao, ento

    V1 = V2 fazendo com que os termos das velocidades tambm se anulem. Por

    V 22g

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 60

  • ltimo, por convenincia, consideraremos z1 = 0 m e z2 = 3 m que a diferena de alturas entre (1) e (2). A equao da energia mecnica fica resumida a:

    Ou ainda:

    importante ressaltar que, se no houvesse perdas neste sistema, a pres-

    so em(1) seria simplesmente p1 = gz2 = 10.000 x 3 = 30.000 Pa contra os 143.900 Pa calculados. Assim, fcil perceber a importncia de se considerarem

    as perdas de carga nesse sistema e a magnitude do erro que se cometeria,

    caso essas perdas fossem desprezadas.

    ResumoNesta aula, aplicamos os fundamentos de mecnica dos fluidos no escoamento

    interno de tubos e dutos. Definimos, no incio, que os escoamentos podem ser

    laminares ou turbulentos, dependendo de caractersticas como a velocidade,

    a geometria e a rugosidade da tubulao e das propriedades da viscosidade e

    massa especfica dos fluidos. Discutiram-se os efeitos viscosos no escoamento

    dos fluidos atravs da regio de entrada e da camada limite e as perdas de

    carga associadas ao projeto da tubulao. Finalmente, determinaram-se as

    perdas de cargas normais produzidas pelo efeito viscoso do fluido e as perdas

    localizadas dependentes das singularidades da tubulao.

    Atividades de aprendizagem1. Determine a diferena de presso que existiria no ponto (1) entre dois

    sistemas como o exemplo acima em cujo ponto de entrada se conside-

    rasse uma entrada com cantos delgados em um caso, e em outro, uma

    entrada com cantos arredondados de acordo com a Figura 3.6.

    e-Tec BrasilAula 3 - Escoamentos internos 61

  • 2. De acordo com a figura que segue, determine a potncia necessria bomba para elevar gua a 61 metros do reservatrio 1 ao reservatrio 2,

    por uma tubulao de ferro fundido, considerando as perdas de carga.

    Considere: Q = 6 m3/min, = 999 kg/m3 e m = 1,12.10-3 N.s/m2.

    Fonte: CTISM

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 62

  • e-Tec Brasil

    Aula 4 Escoamentos externos

    Objetivos

    Estudar o escoamento de fluidos viscosos no exterior de formas

    geomtricas conhecidas.

    Determinar a fora de arrasto em corpos imersos em fluidos sob

    escoamento.

    Determinar a fora de sustentao em corpos imersos em fluidos

    sob escoamento.

    4.1 Conceitos bsicosQuando um corpo est submerso em um fluido em escoamento, surgem

    foras de interao entre ambos. Muitas vezes, o fluido est em repouso,

    e o corpo que se movimenta atravs da massa fluida, como no caso de

    um avio em voo ou um submarino em mergulho. Em outras, o corpo est

    imvel, imerso no fluido em escoamento, como o vento soprando sobre uma

    ponte ou o rio escoando sobre os pilares dessa ponte. Contudo, em ambas

    as situaes, pode-se fixar a referncia no corpo e tratar o assunto como se

    o fluido estivesse escoando.

    Por simplificao, considera-se que a velocidade do fluido antes de atingir um

    corpo, distante o bastante para no ser influenciada pelo mesmo, constante.

    A essa velocidade convencionou-se chamar velocidade a montante U [m/s].

    A geometria dos corpos submersos tem ainda grande influncia sobre o

    escoamento e sobre as foras envolvidas na interao do corpo com o fluido

    escoando. Corpos aerodinmicos, como a asa de um avio, provocam efei-

    tos menores no escoamento se comparados a corpos rombudos como uma

    antena parablica. Assim, entende-se que muito mais fcil carregar, em um

    dia de ventos muito fortes, uma asa de um avio, no sentido do seu perfil

    aerodinmico, no fluxo do vento do que carregar uma antena parablica com

    sua concavidade apontada para o mesmo.

    Assista a um vdeo sobre Princpio de Bernoulli emhttp://www.youtube.com/watch?v=kXBXtaf2TTg

    e-Tec BrasilAula 4 - Escoamentos externos 63

  • As foras que atuam sobre o corpo submerso em um escoamento so oriun-

    das da interao do fluido com a superfcie do corpo, ou seja, da tenso de

    cisalhamento t [kPa] produzida pela viscosidade do fluido e da tenso normal superfcie p [kPa] produzida pela presso do escoamento sobre o corpo.

    As foras produzidas por essas tenses, se decompostas em componentes

    paralelos ao fluxo e normais a ele, produzem foras resultantes chamadas de

    arrasto D [N] (Drag), no sentido do fluxo, e sustentao L [N] (Lift), perpendi-cular ao fluxo. A Figura 4.1 representa a velocidade a montante e as foras de

    arrasto e de sustentao em um perfil aerodinmico como a asa de um avio.

    Figura 4.1: Velocidade a montante, foras de arrasto e sustentao na asa de um avioFonte: CTISM

    4.2 Arrasto 4.2.1 Camada limite em escoamentos externosA camada limite, como j foi tratada nas sees anteriores, a regio prxima

    superfcie por onde o fluido escoa e onde se manifestam os efeitos das

    foras viscosas do escoamento. Assim, nessa regio, um perfil de velocidade

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 64

  • pode ser percebido pelo fato de que uma camada do fluido adere superf-

    cie com velocidade nula (condio de no deslizamento), e a velocidade nas

    camadas adjacentes vai crescendo at se igualar velocidade a montante

    do escoamento. Fora dessa regio de influncia das foras viscosas, o fluido

    comporta-se como se no houvesse a superfcie, e a sua velocidade igual

    velocidade a montante U [m/s]. A distncia da superfcie at a camada onde a velocidade praticamente igual velocidade a montante do escoamento

    conhecida como a espessura da camada limite d [m] (Figura 4.2).

    Figura 4.2: Espessura da camada limiteFonte: CTISM

    Se considerarmos uma partcula retangular escoando fora da camada limite

    em um escoamento permanente, verifica-se, de acordo com a Figura 4.3,

    que esta partcula no sofre deformao medida que escoa nesta regio.

    Contudo, uma partcula de mesmas propores e geometria escoando no

    interior da camada limite sofre uma deformao devido s diferenas de

    velocidade em suas camadas inferior e superior. Se a superfcie plana mos-

    trada na figura for suficientemente longa, a uma determinada distncia da

    borda de ataque, ocorrer a transio do escoamento de uma camada limite

    laminar para camada limite turbulenta. A partcula, ao escoar na camada

    limite sofrer deformaes muito mais acentuadas e aleatrias nessa regio,

    caracterizada por vrtices com direes e tamanhos aleatrios. A distncia

    da transio da camada limite laminar para turbulenta dado pelo nmero

    de Reynolds, baseado no comprimento crtico xc [m], ou seja,

    e-Tec BrasilAula 4 - Escoamentos externos 65

  • onde U [m/s] a velocidade a montante, xc [m] a distncia da borda de ataque at a transio, [kg/m3] a massa especfica do fluido e m [N.s/m2] a viscosidade do fluido.

    O tipo de camada limite tem influncia sobre o arrasto do corpo. Quando o

    corpo tem um perfil aerodinmico, como a asa de um avio, a camada limite

    turbulenta tende a aumentar o arrasto do corpo. No entanto, quando o corpo

    rombudo, como uma esfera ou um cilindro, a camada limite turbulenta

    diminui o arrasto. Isso ocorre porque o arrasto no depende somente das

    foras viscosas do escoamento, mas tambm das diferenas de presso que

    surgiro entre a borda de ataque e de sada do corpo.

    Figura 4.3: Camada limite laminar e turbulentaFonte: CTISM

    4.2.2 Coeficiente de arrasto Os efeitos das foras viscosas manifestam-se na forma da camada limite e

    seriam os nicos a contribuir na fora de arrasto se no houvesse variaes

    de presses entre a borda de ataque e de sada do corpo no escoamento.

    Contudo, esse fenmeno s ocorreria no caso idealizado de um escoamento

    sobre uma superfcie plana de pequena espessura e grande comprimento.

    Essa contribuio na fora de arrasto chamada de arrasto de atrito. De outra forma, quando a superfcie for parte de um corpo que possui espessura

    considervel como uma esfera, um cilindro ou outra forma qualquer, outra

    contribuio na fora de arrasto ser percebida: a do arrasto de presso.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 66

  • Na Figura 4.4 est representado o descolamento da camada limite sobre uma

    esfera devido aos efeitos da variao da presso ao longo do curso da camada

    limite. Esse fenmeno ocorre porque toda partcula fluida que percorre a

    camada limite em torno do cilindro sofre, a partir da borda de ataque, uma

    diminuio da presso ao longo da metade dianteira da esfera e um aumento

    da sua velocidade, ou seja, uma transformao de energia de presso em

    energia cintica.

    Essa variao da presso, na metade dianteira da esfera, denominada varia-

    o favorvel ao escoamento. Se o fluido fosse invscito, a partcula atingiria

    a borda de sada na metade traseira da esfera sem que houvesse perdas de

    energia no caminho, a presso tornaria a crescer e a velocidade a diminuir

    nessa metade da esfera, ou seja, uma variao de presso dita variao des-

    favorvel ao escoamento. Contudo, devido aos efeitos das foras viscosas,

    a partcula na camada limite perde energia no seu trajeto e no consegue

    atingir a borda de sada, descolando-se da superfcie e causando o fenmeno

    conhecido como descolamento da camada limite. Esse fenmeno produz

    como efeito uma esteira de baixa presso atrs do corpo que induz um arrasto

    conhecido como arrasto de presso.

    Figura 4.4: Descolamento da camada limite sobre uma esferaFonte: CTISM

    O descolamento e a formao da regio da esteira atrs do corpo dependem

    do nmero de Reynolds do escoamento. Para Re muito pequenos, o escoa-mento simtrico em torno do cilindro (Figura 4.5a). O aumento de Re pro-

    duz uma regio de baixa presso estacionria pelo descolamento da camada

    limite (Figura 4.5b). Para Re ainda maiores (Re 100), a regio de separao

    aumenta e perde a simetria, formando uma regio de esteira oscilatria com

    vrtices alternados de baixo para dentro e de cima para dentro (Figura 4.5c).

    Assista a vdeoscomplementares emhttp://www.youtube.com/watch?v=Vjk9Ux2COx0

    http://www.youtube.com/watch?v=vQHXIHpvcvU

    http://www.youtube.com/watch?v=0H63n8M79T8

    http://www.youtube.com/watch?v=jiWa4uzOynk

    e-Tec BrasilAula 4 - Escoamentos externos 67

  • Se Re for suficientemente grande, um redemoinho turbulento ocorre atrs do

    cilindro, formando a regio da esteira, que ser larga e de maior arrasto, se

    a camada limite for laminar (Figura 4.5d), e mais estreita e de menor arrasto,

    se a camada limite for turbulenta (Figura 4.5e).

    Figura 4.5: Padres de escoamento tpicos sobre um cilindroFonte: CTISM

    O arrasto total a soma dos efeitos do arrasto de atrito e do arrasto de pres-

    so. A formao da esteira indica maior influncia do arrasto de presso no

    arrasto total. Corpos com perfis aerodinmicos buscam eliminar o efeito do

    descolamento da camada limite, de forma a diminurem o arrasto total. Por

    exemplo, o perfil aerodinmico de um veculo moderno diminui a formao

    da esteira e o arrasto, proporcionando maior economia de combustvel, pois

    o veculo gasta menos energia para se deslocar em um meio fluido de ar.

    Assista a vdeoscomplementares em:

    http://www.youtube.com/watch?v=vqhxihpvcvu&feature=playlist&p=bd6071b837419278

    &index=9

    http://www.youtube.com/watch?v=sj3w4bg5tx8

    http://www.youtube.com/watch?v=7kkftgx2any

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 68

  • A determinao do arrasto total pode ser dado pela seguinte equao:

    onde D [N] a fora de arrasto, [kg/m] a massa especfica do fluido, U [m/s] a velocidade a montante, A [m/s] a rea frontal do corpo e CD o coeficiente de arrasto.

    O coeficiente de arrasto determinado por numerosos experimentos em

    tneis de vento, tneis de gua ou outros dispositivos, e seus resultados

    apresentados em tabelas como mostra o Figura 4.6

    Figura 4.6a: Coeficientes de arrasto para diversas formas de interesseFonte:CTISM

    e-Tec BrasilAula 4 - Escoamentos externos 69

  • Figura 4.6b: Coeficientes de arrasto para diversas formas de interesseFonte:CTISM

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 70

  • 4.2.3 Exemplo de aplicaoO arrasto aerodinmico em um automvel funo do seu perfil aerodin-

    mico. Veculos mais aerodinmicos produzem menores arrastos e, dessa forma,

    consomem menos combustvel, pois necessrio menos energia para vencer

    o menor arrasto. Os projetos mais cuidadosos dos veculos atuais reduziram

    os coeficientes de arrasto dos antigos veculos de uma faixa de 0,8, para os

    veculos produzidos por volta de 1920, para uma mdia de 0,27, nos veculos

    produzidos atualmente. A partir dos 48 km/h, o arrasto passa a ter uma influ-

    ncia considervel na potncia de um veculo. Considerando que a potncia

    gasta para vencer o arrasto o produto da fora de arrasto pela velocidade

    do veculo, determine a potncia necessria para superar o arrasto de dois

    veculos de rea frontal igual a 2,8 m2 trafegando em uma estrada a 80 km/h

    (22,22 m/s). Um produzido em 1920 e outro em 2010. O deslocamento dos

    veculos ocorre sob condies do ar padro e de temperatura e presso ao

    nvel do mar = 1,23 kg/m3.

    Fig. 4.7: Exemplos de veculos produzidos em 1920 e 2010 respectivamenteFonte: CTISM

    e-Tec BrasilAula 4 - Escoamentos externos 71

  • A potncia necessria para vencer o arrasto aerodinmico ser ento:

    onde P [W] a potncia, D [N] a fora de arrasto e U [m/s] a velocidade a mon-tante. Nesse caso, para o ar calmo, a prpria velocidade do veculo 22,22 m/s.

    Como a fora de arrasto dada por:

    Substituda na equao da potncia:

    Para o veculo de 1920:

    Para o veculo de 2010:

    Ou seja, os veculos atuais precisam de aproximadamente um tero da potncia

    que os antigos precisavam para vencer o seu arrasto.

    4.3 SustentaoQualquer objeto, movendo-se imerso em um fluido, estar sujeito a foras

    que provm da interao do fluido com a superfcie. Se o objeto for simtrico

    e produzir um campo de escoamento simtrico (linhas de fluxo simtricas), a

    fora resultante dessa interao atuar na direo da velocidade a montante

    e ser a prpria fora de arrasto. Caso contrrio, se o campo de escoamento

    no for simtrico, como no caso de um perfil no simtrico de uma asa ou

    aeroflio, um perfil de asa simtrico, mas com um determinado ngulo de

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 72

  • ataque em relao ao sentido do fluxo ou de uma esfera em rotao, surgir

    tambm uma fora perpendicular ao fluxo chamada de sustentao.

    Muitos objetos so projetados de forma a aumentar a sustentao, como o

    caso tpico das asas de avies; outros so projetados de forma a diminuir a sus-

    tentao, como os aeroflios dos carros de competio, de forma a forar uma

    aderncia mais intensa ao solo e a facilitar o seu controle nas curvas. De toda

    maneira, a forma do objeto o principal fator de influncia na sustentao, e

    a fora de sustentao resultante devida distribuio da presso na super-

    fcie do mesmo, como se pode ver na Figura 4.1 apresentada anteriormente.

    Figura 4.8: Campos de escoamento simtricos e no simtricos em aeroflio simtrico, no simtrico e em esferasFonte: CTISM

    A determinao da sustentao total pode ser dada pela seguinte equao:

    e-Tec BrasilAula 4 - Escoamentos externos 73

  • onde L [N] a fora de sustentao, [kg/m3] a massa especfica do fluido, U [m/s] a velocidade a montante, A [m/s] a rea projetada do objeto e CL o coeficiente de sustentao.

    Aeroflios e asas so casos clssicos em Mecnica dos Fluidos de dispositivos

    projetados para aumentar ou diminuir a sustentao. Nesses casos, a rea

    projetada dada pelo comprimento do aeroflio ou da asa b multiplicado pela sua largura c (Figura 4.9).

    Figura 4.9: rea projetada do perfil de uma asa ou aeroflioFonte: CTISM

    A determinao do coeficiente de sustentao, assim como o coeficiente

    de arrasto, realizada por experimentos em tneis de vento ou de gua e

    funo principalmente da forma do objeto. Em asas e aeroflios, o ngulo

    de ataque um fator a considerar. A influncia do ngulo de ataque em um

    tpico perfil de asa representada na Figura 4.10. Pode-se perceber por esta

    figura que, na medida em que o ngulo de ataque aumenta, o coeficiente de

    sustentao tambm cresce at um determinado limite, denominado de limite

    de estol. Nessa condio ocorre uma sbita perda de sustentao, o que pode

    ser perigoso no caso de aeronaves que precisaro de uma altitude suficiente

    para recuperarem a sua sustentao. Para ngulos pequenos, o fluido escoa

    suavemente sobre o perfil e no h descolamento da camada limite, ou seja,

    como era de se esperar, a asa se comporta como um objeto aerodinmico.

    Para ngulos de ataque maiores, a camada limite acaba se descolando da

    superfcie, e o objeto se comporta como um objeto rombudo. Isto aumenta

    o coeficiente de arrasto e o mesmo perde a funo como asa ou aeroflio.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 74

  • Figura 4.10: Relao tpica entre o coeficiente de arrasto de uma asa e o ngulo de ataqueFonte: CTISM

    Outra tpica relao envolvendo asas e aeroflios a carga da asa [N/m2]. A

    carga da asa a relao entre a fora de sustentao L e a rea projetada da asa, ou seja:

    Valores tpicos para as cargas da asa de avies podem variar de aproximada-

    mente 70 N/m2 nos primeiros avies at mais do que 7000 N/m2 nos modernos

    jatos comerciais. Para um pequeno besouro, a carga da asa de aproxima-

    damente 50 N/m2. Deve-se observar que a carga da asa proporcional ao

    quadrado da velocidade.

    4.3.1 Exemplo de aplicaoA partir de 1912, surgiram alguns concursos como maneira de estimular a

    construo de avies de propulso humana (HPAs). Nos anos 70 o industrial

    ingls Henry Kremer deu o grande impulso aos avies de propulso humana,

    instituindo, em 1973, o Kremer International Marathon Competition. O concurso consiste num voo de duas voltas em um circuito oval externo ao

    redor de dois mastros distantes 800 metros um do outro, uma volta em forma

    de 8 e mais duas voltas no circuito externo, devendo ser completado em

    e-Tec BrasilAula 4 - Escoamentos externos 75

  • menos de 1 hora. O prmio oferecido de 50 mil libras esterlinas e foi entregue

    pela primeira vez quatro anos depois da sua instituio (23/08/77), quando

    a aeronave americana GOSSAMER CONDOR, projetada por Paul MacCready Jr. realizou o feito. As regras para a aeronave so as seguintes:

    A aeronave deve ser mais pesada que o ar. O uso de gases mais leves que

    o ar so proibidos.

    A aeronave deve ser totalmente propelida por fora humana, sendo

    proibida a utilizao de dispositivos de armazenamento de energia.

    Todos os sistemas eltricos e mecnicos da aeronave devem ter sido pro-

    jetados de forma a oferecer total segurana ao piloto.

    Nenhum tipo de droga ou estimulante ser tolerado, incluindo oxignio,

    sendo o piloto sujeito a testes antidoping regulamentados pela UK Sports Council.

    Nenhum tipo de catapulta ou dispositivo lanador ser permitido em

    nenhum momento do vo, incluindo pouso e aterrissagem.

    A aeronave deve ser exclusivamente controlada pelo piloto.

    Ajuda externa aeronave ou ao piloto far com que o vo seja conside-

    rado invlido.

    A tripulao considerada aquela que decola com a aeronave, no sendo

    permitida a sada ou entrada de nenhum tripulante durante o vo. O n-

    mero de tripulantes ilimitado.

    As condies climticas do vo devem ser aprovadas pela organizao, e

    o local de decolagem deve estar longe de construes que possam cau-

    sar efeito aerodinmico.

    A aeronave deve manter-se a no mnimo 5 metros de altura durante o vo.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 76

  • Figura 4.11: Aeronave de propulso humanaFonte: CTISM

    As caractersticas do voo e da aeronave de propulso humana Gossamer Condor so as seguintes:

    Com isso, pode-se determinar a carga de asa e o coeficiente de sustentao

    dessa aeronave.

    Algumas consideraes precisam ser feitas para uma soluo aproximada

    desse problema:

    A aeronave deve voar com velocidade constante e numa mesma altitude.

    As condies do ar so condies padro e presso atmosfrica padro

    ao nvel do mar = 1,23 kg/m3.

    Somente a asa da aeronave responsvel pela sustentao.

    Assista a um vdeo sobre o o Gossamer Condor emhttp://www.youtube.com/watch?v=sp7yv67B5Sc

    e-Tec BrasilAula 4 - Escoamentos externos 77

  • Para se determinar o coeficiente de sustentao, devemos admitir que a fora

    de sustentao L [N] deve ser igual ao peso da aeronave W [N]. Sendo assim, podemos escrever:

    Isolando o coeficiente de sustentao e substituindo o peso no lugar da fora

    de sustentao, obtm-se o CL:

    A carga de asa dada pela fora de sustentao que, nesse caso, igual ao

    peso dividido pela rea da asa A = 29,26 x 2,27 = 66,42 m2, logo

    ResumoNessa aula discutiu-se a interao entre objetos submersos e fluidos escoando

    externamente a estes objetos. Em conceitos bsicos, definiu-se a diferena

    entre objetos rombudos e aerodinmicos e a velocidade a montante. Discutiu-se

    ainda a ao de duas foras devido interao dos objetos submersos com

    o fluido: a fora de arrasto e a fora de sustentao. Na primeira das for-

    as discutidas, apresentou-se a influncia da camada limite no arrasto, pela

    formao da esteira, e a influncia da forma no surgimento dessa fora. Na

    seo da sustentao, discutiu-se sobre o efeito da forma de asas e aeroflios

    que so objetos projetados de maneira a maximizar ou minimizar a fora de

    sustentao de objetos sob escoamentos externos.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 78

  • Atividades de aprendizagem1. Explique por que a carga de asa (1,46 N/m2) na aeronave de propulso

    humana Gossamer Condor menor do que a carga de asa de um peque-no besouro (50 N/m2).

    2. Considerando que potncia o produto da fora pela velocidade, calcule a potncia necessria que deve ser fornecida pelo tracionador humano

    para manter a velocidade, sendo a rea frontal da aeronave de Gossamer Condor igual a 1 m2.

    3. Calcule a reduo de potncia para vencer o arrasto que um caminho comum com carreta fechada de rea frontal igual a 4,5 m2 rodando a

    100 km/h, perceberia se fosse instalado um defletor em sua cabine. Con-

    sidere que o deslocamento ocorre em condies de ar calmo. Utilize as

    informaes da Figura 4.6.

    e-Tec Brasil79

  • Referncias

    FOX, R. W.; PRITCHARD, P. J.; MCDONALD, A. T. Introduo Mecnica dos Fluidos. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.

    MUNSON, B. R. Fundamentos da Mecnica de Fluidos. 4. ed. So Paulo: EDGARD BLUCHER, 2004.

    MORAN, M. J. et al. Introduo Engenharia de Sistemas Trmicos. Rio de Janeiro: LTC, 2005.

    WELTY, J. R. et al. Fundamentals of Momentum, Heat, and Mass Transfer. EUA: 1984.

    Mecnica dos Fluidose-Tec Brasil 80

  • Currculo do professor-autor

    Luciano Caldeira Vilanova graduado em Engenharia Mecnica pela Universidade Federal de Santa Maria com Mestrado e Doutorado em Engenharia

    Mecnica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Sua subrea de

    pesquisa a Energia e seus trabalhos de ps-graduao envolveram um

    inventrio de emisses veiculares e um estudo de desempenho dos motores

    bicombustveis brasileiros. Como professor atuou por nove anos no Centro

    Federal de Educao Tecnolgica de Pelotas CEFET - RS. Desde 2008 professor

    do Colgio Tcnic