Medeiros, Marcelo

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  • 8/16/2019 Medeiros, Marcelo.

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    RBCS Vol. 28 n° 83 outubro/2013

     Artigo recebido em 09/12/2011 Aprovado em 28/11/2012 

    Introdução

     Assim como em outros países, o Estado brasi-leiro tem grande capacidade de influenciar os níveisde desigualdade social, capacidade que dificilmen-te é igualada por outras instituições da sociedade.Mesmo considerando os demais determinantes, quevariam desde atributos individuais até causas estru-turais, não há dúvida de que a ação do Estado, di-reta ou indiretamente, constitui um dos principais

    fatores macrossociais de estratificação social. Apesardisso, o saldo resultante das várias ações do Esta-do no Brasil ainda é pouco conhecido: pesquisas jáse debruçaram sobre os efeitos de políticas estataisespecíficas sobre a desigualdade, cujas conclusõesapontam para efeitos positivos ou negativos, confor-me a política, mas, até onde sabemos, não há aná-

    ESTADO E DESIGUALDADE DE RENDANO BRASIL

    Fluxos de rendimentos e estratificação socialMarcelo MedeirosPedro Herculano G. Ferreira de Souza 

    lises do efeito conjunto de salários, transferênciassociais, tributos e outros fluxos diretos de renda de epara o Estado que permitam dizer se a atuação esta-tal brasileira aumenta ou diminui a desigualdade nadistribuição dos rendimentos familiares per capita .

    O objetivo deste artigo é testar a hipótese deque o Estado contribui diretamente para uma par-te substantiva da desigualdade de renda no Bra-sil. Mais especificamente, o interesse é em avaliara contribuição de fluxos monetários diretos entre

    pessoas e o Estado para a desigualdade de rendi-mentos familiares per capita  da população brasileiraem 2008-2009. A desigualdade de renda é tratadacomo um indicador de uma desigualdade mais am-pla, relacionada com a apropriação dos resultadosdas atividades de produção econômica, ou seja, daestratificação social. A expressão  fluxos monetários  é usada em um sentido particular e inclui váriostributos, transferências de benefícios assistenciaise previdenciários diversos, além de pagamentos de

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    salários ao funcionalismo público. Já o termo dire-tos  indica os fluxos entre o Estado e as pessoas sema intermediação de outras figuras jurídicas, como asempresas. A análise é feita levando-se em conside-ração o balanço final entre o que é distribuído dire-

    tamente pelo Estado – as transferências – menos oque é arrecadado pelo Estado – tributos.

     A relação entre sociedade e Estado obviamentenão se resume a fluxos monetários. Não é de se es-perar, portanto, que a contribuição do Estado paraa redução ou aumento da desigualdade também serestrinja a eles. Mesmo no caso de fluxos monetá-rios, nem todos ocorrem diretamente entre o Es-tado e as pessoas – podem ocorrer, por exemplo,entre o Estado e empresas, influenciando a distri-buição da renda pessoal indiretamente, à medida

    que empresas repartem lucros e pagam salários eimpostos, por exemplo. E nem todos os fluxos dire-tos são plenamente captados nos dados disponíveis,como é o caso bem conhecido dos rendimentos deaplicações financeiras. Consequentemente, uma li-mitação desta pesquisa é que ela trata somente deum subconjunto das influências do Estado sobrea desigualdade. Ainda assim é importante estudaresse subconjunto, pois a partir dele é possível fazerinferências sobre o contexto mais amplo da influên-cia do Estado sobre a estratificação social.

    Este estudo segue uma classificação dos fatoresou componentes da distribuição de renda similar àutilizada em outras pesquisas, mencionadas adian-te. A renda total da sociedade inclui os rendimentosdos trabalhadores do setor privado, previdência pri-vada e outras rendas privadas, desagregadas confor-me o caso. Uma vez isolados dos demais rendimen-tos, os fluxos monetários diretos entre as pessoas eo Estado podem ser inicialmente divididos entrepagamentos e arrecadações (recebimentos). Os pa-

    gamentos compõem-se de transferências (benefí-cios previdenciários e assistenciais, basicamente) esalários, ao passo que as arrecadações equivalem atributos diretos (impostos, contribuições e taxas).

    Há uma série de pesquisas analisando o perfildistributivo desses componentes. No que diz res-peito às transferências, os estudos tendem a conver-gir na conclusão de que os principais benefícios deassistência como o Programa Bolsa Família (PBF) eo Benefício de Prestação Continuada (BPC) con-

    tribuem para tornar a desigualdade menor (Barros,Carvalho e Franco, 2007; Hoffmann, 2009; Rocha,2008; Soares, Osorio, Soares, Medeiros e Zepeda,2009). Já a Previdência tem efeito inverso, comaposentadorias e pensões públicas sendo regressi-

    vas (Barros et al ., 2007; Ferreira, 2006; Hoffmann,2004, 2009; Rangel, Vaz e Ferreira, 2009; Silveira,2008), embora pouca atenção tenha sido dada àdiferenciação dos regimes públicos de previdência(regime geral, dos trabalhadores do setor privado,regimes próprios, do setor público). Os salários defuncionários civis e militares também são regressi-vos e respondem por uma parte relevante da de-sigualdade (Hoffmann, 2009; Souza e Medeiros,2013). Pesquisas sobre a arrecadação, por sua vez,sugerem que impostos diretos, como o imposto de

    renda, são progressivos, mas sua baixa carga impe-de que tenham efeitos expressivos de redução dadesigualdade (Pintos-Payeras, 2008; Rocha, 2002;Silveira, 2008; Soares, Silveira, Santos, Vaz e Souza,2010). Há evidências de que a arrecadação das con-tribuições previdenciárias seja progressiva (Afonsoe Fernandes, 2005), mas seu impacto direto sobre adistribuição da renda não foi analisado. A metodo-logia utilizada nesta pesquisa permite tratar todosesses componentes simultaneamente.

    Todavia, há uma limitação que deve ser des-tacada ainda nesta introdução. Os fluxos monetá-rios analisados são aqueles dirigidos diretamente àsfamílias e, portanto, são um indicador parcial daatuação do Estado sobre a estratificação social. Osinúmeros fluxos indiretos entre Estado e pessoas –bens, serviços, subsídios, remunerações de pessoas

     jurídicas, concessões e vantagens diversas – podemtanto aumentar como diminuir a desigualdade.Portanto, não seria prudente generalizar de formaindiscriminada os resultados obtidos para outras

    dimensões da desigualdade.

    Metodologia 

    Na sociologia há uma longa tradição de estrati-ficação da sociedade em função da posição dos indi-víduos na hierarquia de produção econômica. Comcerta frequência a identificação dessa posição é feitapor meio dos títulos ocupacionais dos trabalhado-

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    res. Para os propósitos deste estudo há deficiênciasnesse esquema de estratificação, a começar pelo fatode sua aplicação se restringir a trabalhadores e darpouca ou nenhuma atenção à ação redistributiva doEstado. Mesmo entre os trabalhadores, os esquemas

    de classe mais utilizados em análises empíricas des-consideram a clivagem entre os setores público eprivado (Goldthorpe, 2000; Wright, 2005).

     A abordagem adotada segue a proposta deSørensen e realiza a estratificação da sociedade emfunção da apropriação dos resultados da produçãoeconômica, que aqui se traduzem em rendimen-tos salariais, rendimentos recolhidos pelo Estadoe redistribuídos na forma de transferências sociaise outras formas de rendimento (Sørensen, 2000).Diferentemente dos esquemas baseados em títulos

    ocupacionais individuais, esse tipo de estratificaçãoé capaz de classificar também os não trabalhado-res de uma família e de lidar com o fato de doisindivíduos de uma mesma família pertencerem acategorias ocupacionais muito distintas. Além dis-so, a estratificação por renda não despreza os efeitosde políticas sociais, em particular a previdência e aassistência social. Discussões sobre algumas vanta-gens e limitações do uso desse tipo de esquema parao estudo da estratificação social no Brasil já foramrealizadas anteriormente (Medeiros, 2004).

    O procedimento metodológico seguido con-siste em uma decomposição do índice de Gini porfatores, isto é, por fontes de rendimentos (Rao,1969). O índice de Gini varia entre zero (igualdadeabsoluta) e um (concentração total em um únicoindivíduo) e é decomponível, de modo que a de-sigualdade total possa ser representada como o re-sultado da soma das desigualdades em cada fator,ponderadas pela participação desse fator na rendatotal. Ou seja, a decomposição do Gini permite se-

    parar o efeito de cada fator na desigualdade total.No nível mais detalhado de desagregação, os fato-res são distintas fontes de rendimento e tributos.O uso de uma medida de desigualdade equivalenteem termos de estrutura e sensibilidade provavel-mente alteraria os resultados específicos, mas não asconclusões substantivas.

     A decomposição do Gini baseia-se no cálculode dois parâmetros para cada fator: sua participaçãorelativa no total de rendimentos (φh) e seu coefi-

    ciente de concentração (Ch), que é uma medida do

    quão desigualmente distribuído ele é. A multipli-cação desses dois parâmetros (C

    h· φ

    h) dá a contri-

    buição de cada fator para a desigualdade total. Asoma das contribuições de todos os fatores equivale

    ao índice de Gini. Essa decomposição permite tam-bém o cálculo do índice de progressividade ( π

    h),

    obtido pela diferença entre o índice de Gini e o co-eficiente de concentração de cada fator ( πh= G-Ch).O índice de progressividade relaciona a concen-tração de um fator específico com a concentraçãoda renda total, podendo ter valores positivos queindicam que o fator, mesmo estando desigualmentedistribuído, contribui para reduzir a desigualdadetotal, ou negativo, indicando o oposto. Seus sinaissão trocados, no caso de tributos, para facilitar a

    interpretação.O termo progressividade  deve indicar progres-

    so na direção de algo; aqui, significa progresso naredução da desigualdade total existente. Logo,uma fonte de renda pode ser muito concentrada,mas, ainda assim, progressiva quando comparadaà distribuição total. O índice de progressividadede um fator mede o impacto sobre a desigualdadeobservada caso a participação relativa daquele fa-tor na distribuição aumentasse: valores negativosindicam regressividade, ou seja, que um aumentoda participação daquele fator no total aumentaria adesigualdade; positivos, o oposto, ou seja, progres-sividade. Em termos simplificados, mas não exatos,progressividade indica que os mais pobres detêmuma maior proporção daquele fator, portanto o au-mento de um fator progressivo, como tributos ouassistência social, reduziria a desigualdade.

    Os dados utilizados são provenientes da Pes-quisa de Orçamentos Familiares (POF) realizadaao longo dos anos de 2008 e 2009, com cobertu-

    ra amostral de âmbito nacional. Os valores estãodeflacionados e correspondem a reais de janeirode 2009. Rendas não monetárias não foram com-putadas. Vale lembrar que o período de referênciapara a captação da renda na POF é de doze mesese, portanto, os dados apresentados adiante repre-sentam a média mensal de valores deflacionados eanualizados.

     As distribuições analisadas são distribuições depessoas ordenadas segundo seu rendimento família

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     per capita . Para ilustrar a sensibilidade das distribui-ções à tributação, dois tipos de rendimento são uti-lizados, a renda familiar per capita   pré-tributação,ou seja, sem qualquer desconto tributário, e a rendafamiliar per capita  disponível pós-tributação, isto é,

    rendimentos descontados todos os tributos diretosfederais, estaduais e municipais – como o Impos-to de Renda de Pessoa Física (IRPF) e o Impostosobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU), en-tre outros –, taxas e contribuições previdenciárias.

     A estratificação da população e as decomposiçõessão sempre feitas ordenando-se as pessoas segundoa renda familiar disponível pós-tributação. Os tri-butos, neste caso, são tratados como uma fonte derendimento negativa.

    O conjunto dos fluxos monetários diretos é,

    inicialmente, dividido em duas categorias, Estado eSetor Privado. A primeira inclui os níveis de gover-no federal, estadual e municipal, ou seja, abrangesalários, aposentadorias, pensões, tributos, assistên-cia social e quaisquer outras transferências realizadasem qualquer um desses níveis. Esta categoria sub-divide-se em “arrecadações” e ”pagamentos”, que,por sua vez, são novamente divididas em fontes derendimento. As arrecadações consistem em tributosdiretos, conjunto formado por qualquer tipo de tri-butação direta, incluindo impostos e contribuiçõesprevidenciárias obrigatórias dos trabalhadores. Porparte do Estado: (i) trabalho público: rendimentossalariais dos funcionários públicos civis e militares,inclusive 13º salários, gratificações etc.; (ii) segurodesemprego e afins: o seguro desemprego públicopara trabalhadores do setor privado, saques e rendi-mentos do Fundo de Garantia por Tempo de Ser-viço (FGTS) e saques e rendimentos do PIS/Pasep;(iii) aposentadorias e pensões dos Regimes Própriosde Previdência Social (RPPS), isto é, a previdência

    social dos servidores públicos; (v) aposentadoriase pensões do Regime Geral de Previdência Social(RGPS), que correspondem à previdência públicados trabalhadores do setor privado vinculados aoInstituto Nacional de Seguro Social (INSS); (vi) as-sistência social: categoria que engloba as transferên-cias públicas que não dependem de contribuiçãoprévia, como o Programa Bolsa Família (PBF), oBenefício de Prestação Continuada (BPC) e outrosprogramas residuais ou locais de garantia de renda.

    O conjunto dos fluxos não estatais, reunido nacategoria Setor Privado, é formado por: (i) trabalhoprivado: rendimentos monetários do trabalho nosetor privado, incluindo salários, pro labore , rendi-mentos dos trabalhadores por conta própria, salá-

    rios de funcionários de empresas de economia mis-ta etc.; e (ii) outras rendas privadas, conjunto quereúne todos os demais rendimentos privados taiscomo aluguéis, rendimentos de aplicações financei-ras, doações, previdência privada, entre outros.

     A população foi ainda dividida em dois estra-tos: o mais pobre, formado pelos 50% mais pobresda população ordenada segundo a renda familiar

     per capita  depois de descontados impostos diretos,contribuições previdenciárias e o que mais fosseconsiderado tributos, e os 5% mais ricos dessa dis-

    tribuição. Foi realizada uma análise de sensibilidadedos pesos de cada fonte de rendimentos ao descon-to de tributos. Desconsiderá-los – isto é, não des-contá-los – alteraria a composição dos estratos e opeso de cada fonte, mas essas alterações não seriamsuficientes para modificar as conclusões substanti-vas do estudo.

     A composição da desigualdade

     A Tabela 1 apresenta algumas característicasgerais dos fluxos monetários estatais. As primeirascolunas mostram, por exemplo, que a soma dospagamentos realizados pelo Estado chega a pou-co mais de 41% da renda bruta pós-tributação,enquanto a tributação direta diminui o montantetotal em pouco menos de doze pontos percentuais,de modo que os fluxos estatais líquidos perfazemquase 30% da renda pós-tributação. Os maioresvolumes de recursos são transferidos via remune-

    ração dos funcionários públicos e, em segundolugar, pelo regime geral de previdência social. Astransferências da assistência social respondem por1% da renda.

     As duas últimas colunas da Tabela 1 trazemdados adicionais que ajudam a caracterizar melhoros diversos fluxos monetários. Cerca de dois ter-ços da população vive em famílias que receberamalgum tipo de pagamento público no período dereferência de doze meses e 72% vivem em famílias

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    que pagaram algum tipo de tributo direto. Comose pode observar, há grande heterogeneidade nosfluxos estatais: enquanto, por um lado, as aposen-tadorias (e pensões) do setor público e, em menorgrau, as remunerações dos funcionários públicos

    transferem somas elevadas para pequenas frações dapopulação, por outro, a assistência social e o regimegeral de previdência social transferem valores bemmenores, mas beneficiam parcelas mais amplas dapopulação.

    Essa heterogeneidade tem consequências distri-butivas, conforme mostram os dados da POF 2008-2009 (não apresentados na tabela). O Estado é im-portante na composição da renda da base e do topoda pirâmide social brasileira, mas tem maior pesoentre os mais ricos do que na metade mais pobre

    da população, mesmo quando descontados os tri-butos diretos: metade de todos os pagamentos dire-tos do Estado concentram-se nos 5% mais ricos dapopulação. Uma grande parte dessa diferença estárelacionada com o emprego no setor público, atual

    Tabela 1Composição dos Rendimentos Familiares per capita, População que Recebe Direta ou Indiretamente

    Cada Tipo de Rendimentos e Valores per capita para os Afetados – Brasil, 2008-2009

    Fator Valor per capita (R$ 2009)

    % da renda pós-tributação

    % de pessoasafetadas direta ouindiretamente

     Valor per capita para os afetados(R$ 2009)

    Estado 184 30

    Tributos diretos -71 -12 72 98

    Pagamentos 255 41 66 389

    Funcionalismo público 114 18 17 675

    Seguro desemprego 8 1 16 49

     Aposentadorias RGPS  87 14 28 311

     Aposentadorias RPPS  39 6 4 913

     Assistência social  6 1 21 29

    Setor Privado 434 70

    Trabalho privado 387 63 88 440

    Outras rendas 47 8 25 190

    Renda pré-tributação 689 112 –

    Renda pós-tributação 618 100 –

    Fonte: POF 2008-2009.

    – salários – ou passado – previdência do funciona-lismo civil e militar. Apenas 11% dos pagamentossão dirigidos à metade mais pobre da população.

     A concentração é tal que a soma dos pagamentosdo Estado para os 5% mais ricos da população

    (38%) é maior do que a soma de todos os paga-mentos feitos à grande maioria formada pelos 80%mais pobres (32%). Estes resultados não se alteramsubstantivamente quando impostos diretos são des-contados da renda das famílias.

     A Tabela 2 detalha como os fluxos de e para oEstado afetam a estratificação entre classes em doisextremos da distribuição de renda pessoal disponí-vel (descontados tributos), os 50% mais pobres eos 5% mais ricos. Nas linhas da tabela são listadasas diversas fontes de renda (fatores), as quais são

    agrupadas em duas grandes categorias, “Estado” e“Setor Privado”. Para cada estrato há uma colunaque apresenta o valor  per capita  daquela fonte derenda (isto é, a renda média nos 5% mais ricos enos 50% mais pobres) e o percentual da renda to-

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    tal depois de descontados todos os tributos diretos,tais como imposto de renda ou IPTU, e contribui-ções previdenciárias.

    Em termos de peso na renda final, a assistênciasocial tem alguma importância para o estrato mais

    pobre e, compreensivelmente, é irrelevante paraos mais ricos. O regime previdenciário dominantedos mais ricos é o regime especial para o funciona-lismo público (RPPS), ao passo que o dos mais po-bres é o regime geral para os trabalhadores do setorprivado (RGPS). O peso do emprego público émuito maior para os mais ricos do que para os maispobres. Para o estrato inferior, o trabalho no setorpúblico tem peso pouco maior que a assistência,respectivamente 7% e 5%, mas para o estrato altoo trabalho no setor público representa cerca de um

    quarto do rendimento final dessas famílias (26%).Esse quadro é pouco alterado pela carga tribu-

    tária direta. Cerca de 7% da renda familiar da me-

    tade mais pobre da população é paga na forma decontribuições previdenciárias obrigatórias e impos-tos diretos. Entre os mais ricos essa proporção sobrepara 17%, mais do que o dobro, mas ainda assimum valor insuficiente para alterar substantivamente

    o saldo dos fluxos de e para o Estado dos dois es-tratos de população. Calculado o saldo líquido depagamentos e arrecadações, o Estado continua ten-do peso maior entre as classes mais altas, estandorelacionado com 32% da renda dos 5% mais ricos e25% da renda dos 50% mais pobres.

    Os resultados da decomposição da desigualda-de da renda familiar per capita  segundo fatores sãoapresentados na Tabela 3. Em termos gerais, essatabela indica que o Estado é uma instituição comefeitos importantes sobre a desigualdade brasilei-

    ra, mesmo quando se consideram apenas os efei-tos diretos de seus fluxos monetários. Por um lado,contribui para aumentar a desigualdade à medida

    Tabela 2Composição dos Rendimentos Familiares per capita dos 50% mais Pobres e 5% mais Ricos – Brasil –

    2008-2009

    Fator50% mais pobres 5% mais ricos

     Valor per capita (R$ 2009)

    % renda pós-tributação

     Valor per capita (R$ 2009)

    % renda pós-tributação

    Estado 43 25 1227 32

    Tributos diretos -12 -7 -636 -17

    Pagamentos 55 32 1863 49

    Funcionalismo público 12 7 971 26

    Seguro desemprego 2 1 57 2

     Aposentadorias RGPS  28 16 356 9

     Aposentadorias RPPS  3 2 479 13

     Assistência social  9 5 0 0

    Setor Privado 131 75 2573 68

    Trabalho privado 124 71 2106 55

    Outras rendas 7 4 467 12

    Renda pré-tributação 185 107 4436 117

    Renda pós-tributação 173 100 3800 100

    Fonte: POF 2008-2009.

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    que paga salários, aposentadorias e pensões do fun-cionalismo e, por outro, contribui para reduzir adesigualdade por meio de seus tributos diretos, doregime geral de aposentadorias e das políticas de as-sistência social. O saldo resultante dessas duas atu-

    ações é regressivo, ou seja, a contribuição efetiva doEstado é no sentido de aumentar a desigualdade.

     A Tabela 3 mantém nas linhas a divisão porfontes de renda (fatores) anteriores e, nas colunas,apresenta o coeficiente de concentração de cadafonte de renda, a proporção ou peso da fonte derenda na renda total depois de descontados todosos tributos diretos, a contribuição absoluta paraa desigualdade total medida pelo coeficiente deGini (a unidade de medida absoluta, portanto, éa mesma do coeficiente de Gini) e a contribuição

    percentual da fonte de renda para a desigualda-de total. A última coluna apresenta o índice deprogressividade da fonte de renda, com valorespositivos, indicando tendência de contribuir paraa redução da desigualdade, e valores negativos, in-dicando regressividade, ou seja, contribuição parao aumento da desigualdade.

     Antes de analisar em detalhe a Tabela 3, valeuma ressalva. Pode ser tentadora uma interpretaçãoda decomposição dessa tabela com base em simula-ções de como seria a desigualdade se a participaçãoou a concentração de uma determinada fonte de

    renda ou tributo fosse menor. Mas isso não seriacorreto. Embora a renda seja decomponível em fa-tores, estes não são necessariamente independentes.

     A dependência pode ocorrer, por exemplo,se menos rendimentos do trabalho privado implicarmenos tributos, e com menos tributos o Estadonão puder manter os pagamentos dos funcionáriospúblicos, o que é plausível. Além disso, a reduçãodo peso de um fator implica o aumento do pesorelativo dos demais fatores, o que, por alterar osníveis de desigualdade, impede comparações entre

    os valores observados e simulados. Simulações desupressão total ou parcial de fatores levariam a re-sultados sem significado relevante.

    O coeficiente de concentração da renda fa-miliar  per capita disponível é 0,563 e correspon-de ao coeficiente de Gini da distribuição total,ou seja, à desigualdade total. A maior parte des-

    Tabela 3

    Decomposição da Desigualdade na Renda Familiar per capita segundo Fatores – Brasil, 2008-2009

    FatorCoeficienteConcentração

    % renda pós-tributação

    ContribuiçãoGini

    % Gini Progressividade

    Estado 0,603 30 0,179 32 -0,040

    Tributos diretos 0,691 -12 -0,079 -14 0,128

    Pagamentos 0,628 41 0,259 46 -0,065

    Funcionalismo público 0,733 19 0,136 24 -0,170

    Seguro desemprego 0,591 1 0,008 1 -0,028

     Aposentadorias RGPS  0,474 14 0,067 12 0,089

     Aposentadorias RPPS  0,822 6 0,052 9 -0,258

     Assistência social  -0,347 1 -0,003 -1 0,910

    Setor Privado 0,546 70 0,384 68 0,017

    Trabalho privado 0,524 63 0,329 58 0,039

    Outras rendas 0,730 8 0,055 10 -0,166

    Gini 0,563 100 0,563 100 –

    Obs.: Sinal do índice de progressividade dos tributos está invertido.

    Fonte: POF 2008-2009.

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    sa desigualdade é determinada no setor privado,mais especificamente, no mercado de trabalho. Sóos rendimentos do mercado de trabalho privadocontribuem com 58% da desigualdade, mais doque o dobro do efeito dos rendimentos do tra-

    balho público (24%). Isso se deve, fundamental-mente, à grande participação dos rendimentos dotrabalho privado na renda total e não ao fato dea distribuição dessa fonte de renda ser pior que adas demais fontes. Na verdade, os rendimentos dotrabalho privado são menos concentrados do quevárias outras fontes de renda, privadas ou estatais,e têm efeito progressivo na distribuição total, em-bora este seja um efeito reduzido.

    O coeficiente de concentração dos fluxos mo-netários diretos do Estado é 0,603, o qual, por ser

    mais alto que os 0,563 da concentração geral darenda, indica regressividade. A combinação dessaconcentração levemente regressiva a uma participa-ção expressiva no rendimento disponível das famí-lias (30%) faz com que os fluxos monetários diretosdo Estado contribuam com um terço (32%) da de-sigualdade total no Brasil, já computados os efeitosequalizadores dos tributos diretos.

    Uma subdivisão dos fatores relacionados como Estado ajuda a esclarecer o que torna regressivo osaldo final dos fluxos monetários estatais. Parte daação estatal promove a igualdade, mas uma partemais forte incrementa a desigualdade. Três fatoresestatais são menos concentrados do que a rendatotal: tributos diretos, assistência social e aposen-tadorias e pensões do regime geral (RGPS), nessaordem de importância. Por outro lado, três fatoressão ainda mais concentrados do que a renda total:remunerações do funcionalismo público, aposenta-dorias e pensões do funcionalismo (RPPS) e SeguroDesemprego, também ordenados, este último sen-

    do irrelevante no total.Tributos e assistência social são fortementeequalizadores: ambos têm efeito negativo no coefi-ciente de Gini: -14% (-0,079) e -1% (-0,003), res-pectivamente. Ou seja, mais do que simplesmenteprogressivos em relação à desigualdade do conjuntodos demais fatores, são distribuídos na direção in-versa da renda total. A baixa carga tributária diretae os montantes limitados transferidos pela assistên-cia social, porém, fazem com que esses dois fatores

    não sejam capazes de reverter substantivamente adesigualdade.

     Já os rendimentos do trabalho no setor públi-co e os benefícios de aposentadorias e pensões dofuncionalismo (RPPS) são bastante concentrados

    e regressivos. A combinação da concentração e daimportante participação conjunta dos dois fatoresna renda total faz com que ambos contribuam demodo relevante para a desigualdade: 24% (0,136)do Gini para o trabalho e 9% (0,052) para as apo-sentadorias dos servidores públicos. As aposenta-dorias do regime geral são progressivas em relaçãoà elevada desigualdade total, mas ainda assim sãomuito concentradas e contribuem para o aumentoda desigualdade com peso suficiente para reverterboa parte do efeito igualitarista dos tributos e das

    políticas de assistência.Os resultados indicam a existência de um dua-

    lismo de tratamento nos sistemas de emprego eproteção social brasileiros. Há um diferencial entreos salários e a previdência do setor público e do se-tor privado. Os fatores que se referem ao trabalhono setor público – salários, aposentadorias e pen-sões – são muito concentrados e regressivos. Aque-les que dizem respeito ao setor privado são tambémmuito concentrados, porém progressivos.

     Assim, o saldo final dos fluxos monetários dire-tos do Estado para as famílias é regressivo, ou seja,ajuda a fazer com que a desigualdade de renda noBrasil seja ainda maior. Os diversos fluxos são bas-tante heterogêneos, mas aqueles com consequênciasdistributivas positivas, como a assistência social,têm peso muito menor do que os fluxos regressi-vos. Nesse sentido, não deixa de ser curioso como aatenção e as críticas direcionadas a esses programassociais – pequenos em termos orçamentários, masmuito eficientes – sejam totalmente desproporcio-

    nais a seu tamanho, ao menos quando comparadoscom os outros fluxos monetários analisados aqui,que, além de tudo, agravam a desigualdade de ren-da no Brasil.

    Conclusão

    O Estado contribui diretamente para uma par-te importante da desigualdade de renda no Brasil e,

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    ESTADO E DESIGUALDADE DE RENDA NO BRASIL 149 

    ao que parece, amplifica, em vez de reverter, as dis-paridades sociais. Nem todas as ações do Estado sãoconcentradoras; parte delas contribui para reduzir adesigualdade. No entanto, o saldo final dos fluxosmonetários do Estado dirigidos diretamente a pes-

    soas sobre a desigualdade de rendimentos familiares per capita  disponíveis é regressivo e contribui paracerca de um terço da desigualdade total na distri-buição desses rendimentos.

    O fluxo de rendimentos de e para o Estado éimportante para as famílias em todos os estratos so-ciais. Para famílias muito pobres, benefícios sociaispodem equivaler a uma parcela substantiva de suasrendas, mas o fato é que os pagamentos do Estadotêm mais peso na renda dos 5% mais ricos da po-pulação do que entre os 50% mais pobres. Repetir

    os cálculos descontando-se tributos não altera essequadro. A maior parte dos pagamentos do Estadotambém se dirige aos mais ricos, em um padrãoque descreve uma assimetria perversa: apenas umdécimo dos pagamentos do Estado são apropriadospela metade mais pobre da população, enquanto ametade dos pagamentos é apropriada pelo décimomais rico da população.

    Em um primeiro elo da cadeia causal, issoacontece por causa do dualismo de tratamentonos sistemas de emprego e proteção social bra-sileiros. No que diz respeito à regulação estataldesses sistemas, a população brasileira divide-seentre funcionários públicos e o restante. Os fa-tores que dizem respeito ao trabalho no setor pú-blico – salários e previdência – são regressivos emais mal distribuídos que a renda total. Os fato-res relacionados com o trabalho no setor privadosão progressivos, ainda que muito concentrados.Por fim, as políticas com caráter deliberadamenteigualitarista – tributação e assistência – são mui-

    to progressivas, porém excessivamente modestaspara que tenham resultados expressivos sobre adesigualdade.

     A maior parte da desigualdade brasileira mani-festa-se na distribuição de salários, sejam eles públi-cos ou privados. Ambos são muito mal distribuídos,mas a concentração das remunerações dos funcioná-rios públicos civis e militares é maior do que no se-tor privado. Porém, como o volume salarial do setorpúblico é muito menor, sua contribuição final para a

    desigualdade equivale a menos da metade da contri-buição dos salários do setor privado.

    Situação semelhante ocorre na previdência. Ovolume de recursos movimentado no Regime Geralde Previdência Social, que atende aos trabalhadores

    do setor privado, é duas vezes maior que o movi-mentado pelos Regimes Próprios de Previdência dofuncionalismo público. Porém, como este último émuito mais concentrado, suas contribuições finaispara a desigualdade são semelhantes.

    É fácil entender – embora difícil justificar – porque a proteção social reproduz desigualdades notempo. O modelo de proteção social brasileiro é for-temente centrado na proteção dos trabalhadores for-mais. A grande maioria dos benefícios é determinadaem função de um histórico de contribuições, o que

    torna essa proteção um mecanismo de reproduçãode desigualdades preexistentes. Pessoas discriminadasno mercado de trabalho, por exemplo, contribuemmenos (ou nada) e têm os resultados dessa discrimi-nação perpetuados em suas aposentadorias porquehá muito pouco no desenho da proteção social volta-do à supressão dessas desvantagens.

    Tributos diretos poderiam reverter esse qua-dro, mas a carga tributária direta é insuficiente parafazê-lo. O país segue tendo um sistema tributáriotípico de países semi-industrializados de economiafechada, com uma participação no total reduzidados impostos sobre renda e praticamente nula dosimpostos sobre patrimônio e transmissão de heran-ças. A tendência desse modelo é a de que a capaci-dade de reversão da desigualdade do sistema tribu-tário direto seja limitada, ainda que seus tributosdiretos sejam progressivos.

    Os fluxos monetários do Estado dirigidos di-retamente às famílias representam apenas um con-

     junto de mecanismos por meio dos quais o Estado

    afeta a estratificação da sociedade. Há uma série defluxos indiretos, como subsídios a empresas e paga-mentos de juros a títulos, que podem aumentar adesigualdade social. Há também fluxos não mone-tários, como a prestação de serviços de saúde públi-ca, que podem diminuí-la. Esta pesquisa apresentaa limitação de tratar apenas dos fluxos monetáriosdiretos. Qualquer extrapolação desses resultadospara outras dimensões da desigualdade deve, por-tanto, ser feita com prudência.

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    RESUMOS / ABSTRACTS / RESUMÉS 239 

    ESTADO E DESIGUALDADEDE RENDA NO BRASIL:FLUXOS DE RENDIMENTOS EESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

    Marcelo Medeiros e Pedro Herculano

    G. Ferreira de Souza 

    Palavras-chave: Estratificação social; De-sigualdade de renda; Tributação; Funcio-nários públicos; Previdência social.

    Este estudo avalia o quanto o conjuntodos pagamentos e arrecadações tributá-rias diretas do Estado afeta diretamentea desigualdade de renda no Brasil. Paraisso, realiza-se, a partir de dados da POF2008-2009, uma decomposição de fato-res que medem as contribuições para adesigualdade de tributos diretos, salários

    dos setores público e privado, previdên-cia e assistência social e outras fontes derendimento. O conjunto de pagamentosdo Estado piora a desigualdade social,mas nem todas as ações do Estado sãoconcentradoras. Esses pagamentos favo-recem, particularmente, servidores pú-blicos ativos e inativos. Tributos diretose assistência social são progressivos, mastêm efeito limitado. O saldo final dosfluxos monetários diretos entre pessoas eEstado é regressivo e contribui para cercade um terço da desigualdade de rendi-

    mentos familiares per capita  disponíveis.

    ÉTAT ET INÉGALITÉ DE RENTE AU BRÉSIL: FLUX DE REVENUSET STRATIFICATION SOCIALE

    Marcelo Medeiros et Pedro Herculano

    G. Ferreira de Souza 

    Mots-clés: Stratification sociale; Inégalitéde rente; Taxation; Fonctionnaires; Sécu-rité sociale.

    Cette étude évalue l’impact direct del’ensemble des paiements et du produitdes impôts directs de l’État sur l’inéga-lité de revenu au Brésil. Pour cela, nousavons, à partir de données de la recherchesur le budget des familles (Pesquisa deOrçamentos Familiares   /POF) 2008-2009, effectué une décomposition de

    facteurs qui mesurent les contributionspour l’inégalité des impôts directs, dessalaires des secteurs public et privé, de lasécurité sociale et d’autres sources de re-venu. L’ensemble de paiements de l’Étataggrave l’inégalité sociale, mais ni toutesles actions de l’État sont concentratrices.Ces paiements favorisent, particulière-ment, les fonctionnaires actifs et inactifs.Des impôts directs et de l’assistance so-ciale sont progressifs, mais ils ont un effetlimité. Le solde final des flux monétairesdirects entre les personnes et l’État est

    régressif et contribue à environ un tiersde l’inégalité des revenus familiers parhabitant disponibles.

    THE STATE AND THE INCOMEINEQUALITY IN BRAZIL:INCOME FLOWS AND SOCIALSTRATIFICATION

    Marcelo Medeiros and Pedro

    Herculano G. Ferreira de Souza 

    Keywords:  Social stratification; Incomeinequality; Taxation; Public sector work-ers; Pensions.

    The authors examine the contributionof public transfers and direct taxes toincome inequality in Brazil. We apply afactor decomposition of the Gini to thePOF 2008-9 data to measure the contri-bution to inequality of direct taxation,wages of public and private sector work-ers, cash transfers, pensions and other

    incomes. State payments worsen incomeinequality but not all State actions are re-gressive. Wages and pensions for currentand retired public sector workers haveprofound inequality-generating effects,whereas direct taxation and welfare trans-fers are pro-poor, although their positiveinfluence is limited. The net contribu-tion of all direct monetary flows betweenthe State and individuals is regressive andcontributes to approximately one third ofthe inequality in per capita  net income.