MEDIA, MÚSICA E CIBERESPAÇO - musica.ufma.brmusica.ufma.br/musicom/trab/2011_GT3_05.pdf · Marshall McLuhan, que já afirmara em A Galáxia de Gutemberg ... La Pupuña , Madame

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  • III ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAO E MSICA POPULAR

    Negcio da msica em tempos de interatividade

    30 de agosto a 1 de setembro de 2011 Faculdade Boa ViagemRecife-PE

    1

    MEDIA, MSICA E CIBERESPAO:

    os novos modos de recepo e consumo de rock em Belm do Par1

    Enderson Oliveira 2 Mauro Maia 3

    Resumo: Neste artigo, partindo da premissa de que a evoluo tecnolgica dos media pode corroborar para modificaes em outras tecnologias e em processos socioculturais, investigamos de que modo ocorre a recepo e consumo de produtos musicais (ou no) das bandas paraenses que so nosso objeto de estudo (na verdade, pontos de partida para a anlise): La Pupua, Madame Saatan, Norman Bates e Suzana Flag. Sem objetivar fazer qualquer tipo de discusso esttica das canes destes grupos, buscamos ainda discutir de que modo as novas possibilidades miditicas presentes na capital paraense, ligadas a uma nova reconfigurao da indstria e comrcio fonogrficos, alteram a importncia das apresentaes ao vivo para as bandas observadas e para o pblico que as consome em Belm do Par.

    Palavras-chave: Media; Recepo; Consumo; Indstria fonogrfica; Belm do Par.

    01. Consideraes Iniciais

    As cleres transformaes que vem ocorrendo nos diversos meios de produo e difuso

    artstica, como na msica, por exemplo, atrai cada vez mais a ateno do pblico, curiosos e tambm

    de ns, pesquisadores. Deste modo, ricas fontes e objetos de anlise podem ser observados: um

    interessante campo de pesquisa em comunicao parece estar se fortalecendo.

    Atentos a este quadro podemos fazer referncia afirmao de Walter Benjamin em A

    obra de arte na era de sua reprodutibilidade tcnica (1985), em que j observava que, com a

    1 Trabalho apresentado ao GT 03: Mdia, msica e mercado, do III Musicom Encontro de Pesquisadores em Comunicao e Msica Popular, realizado no perodo de 30 de agosto a 1 de setembro de 2011, na Faculdade Boa Viagem, em Recife-PE.

    2 Graduado em Comunicao Social, habilitao Jornalismo pela Universidade da Amaznia Unama/Par. Mestrando em Cincias Sociais, rea de concentrao Antropologia pela Universidade Federal do Par UFPA. Bolsista CAPES. Link para Currculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8173728927821737. E-mail: [email protected].

    3 Orientador da pesquisa. Professor da Universidade da Amaznia Unama. Mestre em Cincias Sociais pela Universidade Federal do Par UFPA. Link para Currculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2524178013434361. E-mail: [email protected].

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    reproduo tcnica do som e sua utilizao no cinema, a reproduo tcnica atingiu tal padro de

    qualidade que no somente podia transformar em seus objetos a totalidade das obras de arte

    tradicionais, submetendo-as a transformaes profundas, como conquistar para si um lugar prprio

    entre os procedimentos artsticos (BENJAMIN, 1985, p. 167). Destarte, com o passar do tempo,

    media4, tipos de formatos das canes e demais possibilidades, como sites que servem como meios de

    divulgao de canes e grupos musicais, no s conquistaram seu espao no cotidiano de um grande

    nmero de pessoas como colaboraram para mudanas nos modos de recepo musical e at mesmo

    interpessoal.

    Cremos ser importante observarmos ainda outra referncia, de um terico mais polmico

    e tido por muitos como visionrio e por outros tantos como prolixo e ultrapassado: o canadense

    Marshall McLuhan, que j afirmara em A Galxia de Gutemberg (1977) que novos meios tecnolgicos

    podem criar, alm de novos modos de recepo, novos ambientes. Em suas palavras, qualquer nova

    tecnologia de transporte e comunicao tende a criar seu respectivo meio ambiente humano (...).

    Ambientes tecnolgicos no so recipientes puramente passivos de pessoas, mas ativos processos que

    remodelam pessoas e igualmente outras tecnologias (1977, p. 15). Interessante observarmos isto,

    afinal, no caso especfico do objeto deste artigo, uma constatao permanece: so justamente as mdias

    que possibilitaram e possibilitam at hoje a existncia e fortalecimento dos produtos sonoros, das

    canes, da msica (VARGAS, 2009, p.179).

    Msica que, alm de ser uma das linguagens artsticas mais antigas e mais presentes no

    cotidiano das pessoas, pode ser compreendida como um canal, um meio pelo qual se pode expressar

    uma construo verbal ou no acompanhada de outros sons que, em cadeia, compe uma obra, uma

    cano. Envolvendo organizador-emissor (compositor, intrprete) a um receptor (ouvinte) (CAND,

    2001, p.13), tem-se portanto um processo comunicacional completo, em que se espera a competncia

    comunicacional do ouvinte para receber de modo satisfatrio a mensagem codificada atravs da

    construo sgnica das canes, isto , decodific-las, interpret-las. Para estas interpretaes, que se

    constituem certamente em um tema instigante, mas que no representam nosso objeto de anlise neste

    trabalho, muito influem os modos de se receber e consumir msica.

    4 Utilizamos o termo ingls media por crermos que o mesmo de uma s feita faz referncia tanto aos meios

    fsicos, materiais, como CDs, aparelhos de mp3, mp4 celulares, Ipods etc., quanto meios no materiais, como programas como MSN Messenger e e-mails e tecnologias como bluetooth, que possibilitam o envio ou repasse de canes em formato mp3 a outra pessoa. O termo media, como o compreendemos, tambm contempla em seu lxico os diversos tipos de mdias que existem, desde as tradicionais como rdio, TV e jornal impresso at as chamadas novas mdias, mdias contemporneas. Por sua abrangncia semntica, portanto, que cremos que media se adeque melhor aos meios, canais a que nos referimos nesta pesquisa, bem mais que uma pura e simples correspondncia mdia em uma traduo livre.

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    Neste ponto completamos a apresentao de nosso objeto: ora, com a alterao nos meios

    e padres comunicacionais referentes ao consumo de msica, principalmente a partir do

    fortalecimento em escala global da internet e as inovaes que a mesma possibilitou, modificaes em

    vrios paradigmas sociais, culturais e comunicacionais ocorreram, em especial nas reas urbanas, em

    cidades como Belm do Par.

    Levando em conta este panorama que cremos haver (s)urgido a necessidade de se

    investigar como ocorre atualmente na cidade a recepo e o consumo5 dos produtos musicais ou no

    das bandas que se constituem em nosso objeto de estudo: La Pupua , Madame Saatan, Norman

    Bates e Suzana Flag. Na verdade, pontos de partida para uma compreenso mais ampla, que vai alm

    de uma simples reflexo sobre a influncia dos media ou mesmo do atual estgio/estado das produes

    musicais de rock paraense, se espraiando por outros campos, como a cultura e o mercado

    fonogrfico da cidade.

    02. Sobre o mtodo da pesquisa

    Para o desenvolvimento desta pesquisa observamos de fevereiro de 2010 a janeiro de

    2011 o contedo veiculado em sites e blogs das bandas e demais sites de compartilhamento de

    contedo musical, de divulgao e de redes sociais que nos possibilitaram evidenciar modos de

    atuao das bandas e do pblico, bem como de que modo ocorria/ ocorre esta relao entre ambos.

    Houve ainda a aplicao de questionrios e entrevistas com vinte e cinco consumidores de produtos

    musicais ou no de cada uma das bandas analisadas e a realizao de entrevistas com produtores e

    msicos das mesmas.

    Por se estabelecer como objeto de estudo o consumo dos produtos de quatro bandas de

    Belm, a pesquisa se constitui em um estudo de caso, definido por Yin (apud DUARTE e BARROS,

    2005, p.216) como uma inquirio emprica que investiga um fenmeno contemporneo dentro de

    um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenmeno e o contexto no claramente evidente

    e onde mltiplas fontes de evidncias so utilizadas. No estudo de caso, o interesse primeiro no

    5 Compreendemos a recepo como mais que uma simples etapa no processo comunicacional, mas como um momento em si mesmo do processo de produo no seu sentido mais amplo (HALL, 2003, 390). Segundo o prprio Stuart Hall, somente a partir do campo da recepo que se pode fazer referncia ao consumo, afinal se nenhum sentido apreendido, no pode haver consumo (2003, p. 388). Esta compreenso de consumo a que nos referimos est de acordo com a concepo de Nestor Garca Canclini (apud DIAS e RONSINI, 2008: p.89): isto , um conjunto de processos socioculturais nos quais se realiza a apropriao simblica dos produtos culturais e miditicos e as maneiras em que relacionam esses bens com sua vida cotidiana.

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    pelo caso em si, mas pelo que ele sugere a respeito do todo (CASTRO apud DUARTE e BARROS,

    2005, p.218).

    Analisar as relaes que aqui apresentamos em uma cidade como Belm, inserida no

    contexto contemporneo e suas diversas nuances, mesmo afastada geograficamente dos grandes

    centros econmicos e polticos do pas significa atentar tambm ou propiciar subsdios para uma

    anlise mais ampla, que observe e leve em conta diversas outras nuances em outras regies ou mesmo

    em um quadro nacional.

    03. Msica, media e ciberespao

    A relao entre msica e tecnologia possui como marco inicial o ano de 1877, quando

    Thomas Edison criou o fongrafo. A partir de ento, a difuso das canes passou a estar diretamente

    relacionada a algum suporte, algum meio: surgiram o gramofone, LPs, fitas cassete e CDs, dentre

    outros meios. Com o passar do tempo, no entanto, a importncia destes suportes parece ter se tornado

    discutvel, afinal so tantas as modificaes nos media, que os modos de receber e consumir canes

    tambm so alterados.

    Sem objetivarmos apresentar um amplo panorama acerca da evoluo da relao entre

    msica e mdias, torna-se imperativo observarmos que, com o desenvolvimento e criao de aparatos,

    ferramentas como CDs, DVDs, programas de computadores e a internet, notamos importantes

    modificaes no comrcio musical. Tais alteraes so intensificadas com a criao do mp3, que

    possibilitou uma importante mudana paradigmtica, como afirma Ana Paola Oliveira: a msica

    agora cabe no bolso (2006: p. 05), frase-smbolo das alteraes que ocorreram nas formas de audio

    e consumo das canes nos ltimos 25 anos. Observando melhor tal assertiva, podemos considerar que

    a mesma aponta para uma poca em que as novas tecnologias e, sobretudo, suas aplicaes no

    universo cultural contemporneo tm provocado o surgimento de formas de escuta e acesso bastante

    diferentes das conhecidas at ento (GOULART e VARGAS, 2008, p.190).

    Estes novos modos a que nos referimos emergem principalmente a partir da ampliao

    das fronteiras do ciberespao, que se espraia alm da internet, abrangendo aparelhos, formatos de

    msica etc. que, por fim, modificam no somente formas e paradigmas do fazer msica por parte

    de intrpretes, compositores e produtores, como de receb-la e consumi-la.

    Assim, no perodo contemporneo podemos observar uma srie de novas caractersticas

    sobre as relaes entre msica e media, que vo desde o fato de a msica no possuir mais

    necessariamente um suporte material (JANOTTI JR., 2006, p.173; VICENTE, 2009, p.158) para poder

    circular, podendo transitar em diversos aparatos diferentes, passando pela existncia de funes

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    como a shuffle, presente em vrios aparelhos de som e programas de udio, que altera aleatoriamente a

    sequncia de msicas de um CD ou outros tipos de suporte at a utilizao de fones de ouvido em

    aparelhos de mp3, mp4 ou algo do gnero e, claro, o uso em larga escala de downloads de msicas na

    internet, principalmente os gratuitos, entre tantas outras modificaes nos modos de receber e

    consumir as canes na contemporaneidade, presentes tambm na cidade de Belm.

    04. Belm do Par, msica e cenrios

    No de hoje que a msica de Belm (re)conhecida por sua diversidade de ritmos e

    modos alternativos de produo e difuso musical. Das chamadas bandas de baile nas dcadas de 1960

    e 1970, passando pelo fortalecimento de um cenrio musical criativo e atuante na dcada de 1980 at a

    efervescncia e/ou consolidao de estilos to diversos como guitarradas, lambada, calipso e

    tecnobrega na contemporaneidade, todos de certo modo utilizam-se de modos alternativos de produo

    e difuso musical, atraindo grande pblico consumidor.

    H atualmente em Belm um grande nmero de bandas autorais bem como um

    crescimento no nmero de lugares e media que corroboram para a divulgao das mesmas. Seja

    atravs de espaos fsicos, sites, programas de rdio, h maior possibilidade de difuso e,

    consequentemente, novos e diversos modos de recepo e consumo de msica na cidade.

    neste cenrio que se destaca na capital paraense, ao lado do tecnobrega (ou

    tecnomelody), bastante massificado e atualmente o principal ritmo popular do Estado, o rock, destaque

    em basicamente dois sites: o N Figueredo (http://www.nafigueredo.com.br/) e o Bel Rock

    (http://www.belrock.com.br/)6, alm do Msica Paraense.org (http://www.musicaparaense.org.br/),

    que se constitui em uma espcie de audiocoletnea da msica paraense, o blog da Associao

    Comunitria de Rock Paraense, mais conhecida como Pr Rock http://prorockblog.blogspot.com/ e o

    Par Msica (http://www.paramusica.com/), site ainda em desenvolvimento que fruto da parceria

    tambm da Associao Par Pr-Msica, Frum Paraense de Msica Independente e Sebrae/Par e

    que visa potencializar, profissionalizar e divulgar a msica paraense, tanto no que diz respeito sua

    produo quanto gesto. Devemos observar ainda o fato deste site ser bilngue, o que aponta para o

    cunho internacional(izado) do projeto, inserindo-o na lgica comunicacional contempornea, em que

    6 Ver mais sobre o site Bel Rock e sua relao com o mercado fonogrfico de Belm em OLIVEIRA, Enderson e SANTOS, Elias. Web 2.0, produo e consumo de msica na contemporaneidade: uma anlise do portal Bel Rock, de Belm do Par. Anais do 6 Encontro de Msica e Mdia, realizado de 15 a 17 de setembro de 2010 em So Paulo.

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    no somente as fronteiras geogrficas tornam-se mais discutveis como a cultural local passa a ser

    muitas vezes bem mais glocal.

    04.1. As bandas

    Privilegiamos na pesquisa observar a utilizao dos media contemporneos por bandas

    que possuem uma trajetria mais ampla, possuem certo reconhecimento na cidade: no so, portanto,

    iniciantes na cena musical paraense. Assim, analisamos os modos de atuao do:

    a) La Pupua, grupo que surgiu a partir do curso de Licenciatura em Msica na

    Universidade do Estado do Par. Influenciada principalmente pela msica latina, guitarradas e surf

    music, composta por Luiz Flix (guitarra, percusso e voz), Adriano Sousa (bateria), Diego Muralha

    (guitarra), Diego Pires (baixo), Kleber PSB (Percusso) e Rodolfo Santana (teclado). O estilo do

    grupo, segundo os prprios integrantes da banda, a guitarrada progressiva, numa associao ao

    rock progressivo, cujo principal cone foi/ a banda inglesa Pink Floyd, dos quais os integrantes de La

    Pupua se declaram fs7. O La Pupua teve a cano Ex-quadrilha da fumaa includa na coletnea

    Oi! A nova msica brasileira, organizada pelo DJ e produtor ingls Lewis Robinson no fim de 2010

    e incio de 20118;

    b) Madame Saatan, banda de heavy metal, que possui Sammliz Lages como vocalista, Ed

    Guerreiro (guitarra), caro Suzuki (baixo) e Ivan Vanzar na bateria. Desde 2008 esto em So Paulo,

    onde parecem ter consolidado de vez sua presena na cena musical independente do pas. Apesar da

    distncia fsica de Belm, muitas de suas canes possuem citaes/referncias realidade regional,

    sem se deixar cair em regionalices;

    c) Norman Bates, uma das mais tradicionais bandas do rock paraense, formada por

    Elielton Nicolau Amador (guitarra), Manuel Planria Malvar (baixo), Vagner Nugoli (bateria),

    Carlos Bremgartner (vocais) e Giovani Villacorta (guitarras e voz). Em setembro de 2010 o Norman

    7 Desta admirao e influncia resultou em 2007 o lbum The Charque Side of the Moon, claro pastiche do clssico lbum Dark Side of the Moon, de 1973, do Pink Floyd. Ver mais em OLIVEIRA, Enderson. Um novo lado da lua: The Charque Side of the Moon, identidades e esttica ps-moderna. 2009. Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Intercom Nacional 2009. Disponvel em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/R4-0729-1.pdf.

    8 Alm do La Pupua, o Par possui mais cinco representantes na coletnea: Mestre Curica, um dos principais cones das guitarradas do Estado, Pio Lobato, guitarrista, produtor e pesquisador, Maderito & Joe, cones do eletromelody, variao mais acelerada do tecnomelody (tecnobrega), Gaby Amarantos, uma das principais representantes do tecnobrega e da cena musical paraense atualmente e a cantora Dona Onete com o Coletivo Rdio Cip, grupo, de rap, msica experimental e eletrnica. O Estado do Par s fica atrs de Pernambuco em nmero de representantes na coletnea.

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    Bates participou da gravao do DVD Bodas de Ouro, em comemorao ao seu aniversrio de 15

    anos de carreira e tambm aos aniversrios das bandas paraenses Delinquentes (25 anos) e

    Rennegados (10 anos);

    d) Por fim, observamos a banda Suzana Flag, de rock pop, que originalmente da cidade

    de Castanhal, prxima a Belm. Possui como vocalista a cantora Susanne Mey, alm de Joel Melo

    (guitarra), Ricardo Ramones (bateria) e Andrey Monteiro (contrabaixo). Lanou seu primeiro disco

    (Fanzine) em 2002, e ganhou prmios como o London Burning, um dos mais importantes da msica

    independente do pas de revelao em 2004, alm de participar de vrios festivais independentes do

    pas, como o Abril Pro Rock 2005 e em 2006 da coletnea em tributo ao cantor Odair Jos, junto a

    bandas como Pato Fu e Mundo Livre S/A;

    05. Os novos modos de recepo e consumo de rock em Belm do Par

    Como j afirmamos anteriormente, a utilizao dos chamados novos media muitas vezes

    possibilita e/ou incita novas experincias, novos modos de estar junto; modos estes que para Jess

    Martn-Barbero so proporcionados, em primeiro plano, pelas transformaes de sensibilidade

    produzidas pelos acelerados processos urbanos de modernizao e pelos cenrios da comunicao que,

    em suas fragmentaes e fluxos, conexes e redes, apresentam a cidade virtual (1997, p.206, grifo do

    autor).

    Esta cidade virtual, que possui forte relao ao ciberespao, sendo de uma s feita seu

    ponto de partida e complemento, possui particularidades e nuances que se constituem em elementos

    que, se melhor observados, podem se compreendidos em caractersticas peculiares aos novos modos

    de consumo de msica na contemporaneidade.

    Uma destas caractersticas que foi observada em nossa pesquisa o fato de que em geral

    o indivduo que possui algum tipo de aparelho que armazena msica (mp3, mp4, Ipod, celular etc.)

    tambm costuma baixar canes via internet9, o que aponta para o carter de bolso (OLIVEIRA,

    2006, p. 05) a que as msicas passaram a estar, se no condicionadas, ao menos fortemente

    relacionadas. Ora, desta relao chegamos concluso de que os indivduos em geral fazem

    downloads das canes no somente para terem acesso s mesmas, mas tambm para poderem

    9 Cerca de 90% das pessoas que responderam ao questionrio da pesquisa possuam algum mp3, mp4, Ipod, telefone celular ou outro aparelho em que armazena e compartilha msicas. A mesma porcentagem afirmou costumar baixar msica via internet.

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    carreg-las consigo. Com esta prtica, corrobora-se para o fortalecimento da ideia de que a msica

    pode adquirir mais ainda o carter de fundo, de trilha sonora no cotidiano das pessoas, o que j

    fora referido por Adorno em O fetichismo na msica e a regresso na audio (1999, p. 67).

    Destarte, so criados no somente novos hbitos e prticas de escuta, mas at mesmo

    novos cenrios e paisagens de/ para recepo musical: no tarefa to difcil vermos nas ruas,

    colgios, transportes coletivos e outros locais pessoas ouvindo msicas usando ou no fones de

    ouvidos, portando seus celulares ou ipods, mp4 ou algo do gnero; carregando, por fim, suas canes.

    De acordo com Gisela Castro,

    a crescente miniaturizao dos aparelhos musicais portteis, que j fazem parte do vesturio urbano atual; associada onipresena dos fones de ouvido ou dos potentes sistemas de som nos automveis e residncias, vm redesenhando a nossa ambincia sonora e tambm a nossa escuta (2005, pp. 30-31).

    Muito desta nova ambincia musical que parece j ter se consolidado se deve

    disponibilidade das canes em meios digitais, especialmente de modo on line: sites que

    disponibilizam canes, de modo gratuito ou no, como MySpace, LastFM, Trama Virtual, Palco

    Mp3, Four Shared, Youtube, Conexo Vivo, Bandas de garagem e, no caso especfico de Belm, como

    j foi dito, os sites N Figueredo, Bel Rock, Msica Paraense.org e Par Msica, entre outros,

    portanto, tornam-se centrais neste novo processo, afinal esta disponibilidade de canes que ocorre em

    vrios sites se apresenta como mais um meio para se conhecer as bandas e, possivelmente, se

    interessar por elas, podendo, por fim, fomentar no somente o consumo de outras canes e vdeos dos

    msicos como at mesmo por suas apresentaes ao vivo.

    O que evidenciamos com este tipo de utilizao a confirmao de que cada vez mais a

    cano torna-se um produto promocional, em que seu valor material vem tendo sua importncia

    diminuda na contemporaneidade, j que atualmente sua fluidez, a possibilidade de marketing viral

    e suas apresentaes ao vivo que traro maior reconhecimento e mesmo retorno financeiro ao msico.

    Ora, esta caracterstica da indstria e mercado fonogrfico contemporneos acompanha a tendncia

    global de se privilegiar, para atingir maior retorno financeiro, uma viralizao de determinada

    cano, single, buscando instigar o pblico lbum a comparecer s apresentaes ao vivo, aos shows.

    Esta observao pode ser sintetizada pela afirmao de Scott Ian, guitarrista da banda estadunidense

    Antrax que afirmou que seu (...) disco o cardpio, mas o show a refeio (SANDALL apud

    HERSCHMANN, 2008, p. 01).

    Deste modo, no rock em Belm tambm evidenciamos a mesma aposta nas

    apresentaes, shows, festas. Da o grande nmero de apresentaes que ocorrem semanalmente em

    vrias casas de shows e outros espaos da cidade bem como o fortalecimento do Festival Se Rasgum,

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    um dos mais importantes da msica independente do pas e que acompanha a tendncia de

    crescimento no nmero de eventos deste tipo na contemporaneidade, em que assistimos a uma

    reorganizao das fronteiras musicais, o estabelecimento de uma nova geografia da cano

    independente (OLIVEIRA, 2010, p. 09).

    O crescimento e ampla difuso dos novos media, portanto, que anteriormente, em uma

    viso mais apocalptica acarretaria, se no o trmino da importncia das apresentaes ao vivo, ao

    menos sua diminuio, atualmente se constitui justamente em um dos principais propulsores dos

    mesmos. Isto, contudo, encarado com preocupao por Edgar Brofam, diretor da Warner Music ao

    afirmar que a indstria da msica est crescendo, entretanto, a indstria fonogrfica, no

    (HERSCHMANN, 2008, p. 01).

    Devemos atentar ainda para o fato de que possvel considerar como maior estmulo para

    os consumidores comparecerem s apresentaes dos grupos e/ou intrpretes que admiram a

    possibilidade de vivenciar experincias e sensaes consideradas por eles como sendo de

    significativa importncia no cotidiano (PINE e GILMORE apud HERSCHMANN, 2008, p. 05), da

    avaliarem como fundamentais as apresentaes ao vivo, a performance das bandas10.

    No entanto, ainda que, de acordo com a pesquisa, a participao dos entrevistados nos

    shows das bandas analisadas tenha continuado basicamente a mesma11, um problema referente s

    apresentaes das bandas analisadas foi observado: em muitos casos, o principal fator que colabora

    para o no comparecimento das pessoas nos shows o fato de simplesmente as bandas no se

    apresentarem na cidade, afinal cada uma possuiu peculiaridades quanto s suas apresentaes no ano

    de 2010, ano em que desenvolvemos a pesquisa.

    Assim, devemos notar que a Madame Saatan voltou a Belm depois de dois anos para

    participar do V Festival Se Rasgum, em novembro de 2010, com status de principal atrao do evento

    enquanto a Norman Bates se apresentou de modo espordico, com shows no incio do ano e tambm

    em outras apresentaes comemorativas de seu aniversrio de quinze anos, que originou o DVD j

    citado anteriormente.

    J as outras duas bandas observadas se apresentaram em 2010 de modo sequencial; isto

    , a Suzana Flag, tambm para promover seu novo lbum (Souvenir, 2010), faz apresentaes quase

    10 Cerca de 55% das pessoas que responderam os questionrios afirmaram considerar as apresentaes ao vivo fundamentais, caracterizando assim seu principal interesse pelos shows.

    11 Cerca de 80% das pessoas afirmaram que a participao nos shows ou permaneceu a mesma ou aumentou.

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    que semanalmente desde o segundo semestre do ano passado em um restaurante de Belm e j se

    apresentou em outros projetos no primeiro semestre que visavam a mesma rotina para a divulgao

    do CD, algo tanto quanto semelhante ao La Pupua, que possuiu at metade do ano uma boa

    sequncia de apresentaes, apesar de estar passando por um curioso processo de diviso em mais

    duas bandas, The Vassos e Flix e Los Carozos, cujos integrantes so quase os mesmos do prprio La

    Pupua.

    A no participao em shows, portanto, muitas vezes no resultado unicamente do

    desinteresse por parte do pblico: ou no h as apresentaes ou mesmo a oferta to grande que as

    mesmas tornam-se comuns, em que o principal passa a ser no a banda, o show em si. Isto

    demonstra as dificuldades em se atingir e manter uma boa infraestrutura e sequncia de apresentaes

    no Estado e a necessidade de mais apoio e mesmo melhor estrutura por parte de bandas, produtores e

    responsveis pelos locais de apresentao na cidade.

    Imbricados a estas dificuldades encontramos outras, como a produo e consumo dos

    CDs das bandas. Atravs das entrevistas e questionrios aplicados, observamos que ainda se compra

    CDs das bandas12, embora poucos sejam lanados. Como fazer um CD tem alto custo e atualmente a

    pirataria e os downloads so uma realidade presente no cotidiano de muitas pessoas, prefervel

    apostar no chamado marketing viral das canes e nas apresentaes ao vivo do que lanar lbuns com

    certa regularidade.

    Observando isto surgiram na cidade novos movimentos e mesmo associaes, com o

    mesmo objetivo: a profissionalizao e elevao no somente da produo, como recepo no

    mercado de seus produtos, isto , as canes. A msica no h um bom tempo somente arte, possui

    cada vez mais um mercado e uma indstria que incita a renovao por parte de msicos, produtores e

    tambm consumidores.

    Nesta nova indstria fonogrfica, inserida em uma nova configurao da indstria

    cultural, para alcanar maior nmero de consumidores cada vez mais se deve buscar alternativas no

    ligadas somente msica, como, no caso especfico de Belm, a oferta (em pequena escala,

    observemos) de produtos no musicais (camisas, btons e outros tipos de souvenirs com as marcas La

    Pupua, Suzana Flag e Madame Saatan), vendidos muitas vezes nos locais das apresentaes e em

    lojas especializadas. Estes produtos, alm de colaborar para o crescente carter de commodity da

    msica, tambm apontam para um processo de identificao por parte do pblico que pode, tambm a

    partir destes produtos, se classificar, se definir como f ou no das bandas.

    12 Cerca de 60% das pessoas entrevistadas afirmaram ainda comprar CDs das bandas.

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    Este processo de identificao ganha um aliado no perodo contemporneo: as chamadas

    redes sociais, em que os indivduos podem se reunir on line em torno de afinidades, interesses e gostos

    comuns, como o apreo pelas bandas observadas. Isto tambm importante para as mesmas, afinal as

    redes sociais tambm so importantes para se manter maior proximidade com o pblico, consumidores

    em potencial.

    Destarte, uma mesma banda em geral possui cadastro no site MySpace e tambm pode

    fazer a divulgao de um show ou lbum em sites como o Twitter, disponibilizar fotos e criar fruns

    de discusso no Orkut, postar seus vdeos em sites como o Youtube e matrias, relatos ou entrevistas

    em sites e blogs. De uma s feita possvel, portanto, marcar presena em diversos media e assim,

    aumentar a possibilidade de se divulgar em maior escala sua produo e sua agenda, alm de outros

    tipos de contedo.

    Uma das principais redes sociais utilizadas pelas bandas e observadas em nossa pesquisa

    o site Orkut13, que de uma s feita agrega ferramentas e possibilidades como chat, postagem de fotos

    e outros links, fruns de discusso e envio de mensagens tanto pblicas quanto particulares,

    possibilidades que talvez colaborem para sua ampla utilizao.

    Outra rede social que tambm possui grande apelo junto ao pblico e grande importncia

    para a divulgao dos contedos das bandas observadas o Twitter14. Sua ampla utilizao parece ser

    compreensvel, afinal no perodo contemporneo cada vez mais so necessrios meios mais

    interativos, que possibilitem maior proximidade entre msicos e pblico bem como meios que

    ofeream mais possibilidade de postagem de diversos contedos de uma s feita, e o twitter atende

    estas necessidades.

    No perodo contemporneo tambm se tornam mais possveis a construo de sites

    oficiais e blogs, muitas vezes de baixo custo ou mesmo com domnio gratuito. Contudo, ao menos em

    Belm do Par, observamos que ambos so pouco e mal utilizados pelos grupos musicais, uma vez

    que, das bandas analisadas, somente a Suzana Flag e a Madame Saatan possuem sites oficiais

    13 At dia 12 de fevereiro de 2011, a comunidade da banda Norman Bates contava com 332 membros, enquanto a da banda Suzana Flag possua 971 membros e, em seu perfil, 561 amigos cadastrados. No Orkut observamos a prevalncia das bandas La Pupua e Madame Saatan. Para se ter ideia, o perfil do La Pupua possua 953 amigos e sua comunidade 2.321 membros enquanto o perfil da Madame Saatan contava com 502 amigos e 3348 membros em sua comunidade oficial.

    14 As bandas possuem os seguintes perfis e nmeros de seguidores (at o dia 12 de fevereiro de 2011): @LaPupuna (710 seguidores), @bandasuzanaflag (802 seguidores), @madamesaatan (2228 seguidores) e, o mais recente, @NormanBatesPA (42 seguidores).

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    enquanto os blogs carecem de maior contedo e mesmo renovao15, sendo preteridos por sites mais

    interativos e cujo contedo veiculado no precisa ser to amplo, como o Twitter.

    Cremos ser importante observarmos ainda que no decorrer de nossa pesquisa conhecemos

    mais um media que tambm pode ser utilizado para a divulgao das bandas: o Chatroulette

    (http://www.chatroulette.com/), site em que, atravs de um sorteio, pode-se entrar em contato com

    pessoas de qualquer parte do planeta. Este site foi utilizado por Bernie Walbenny e Sammliz Lages,

    produtor e vocalista, respectivamente da banda Madame Saatan, que o utilizaram para divulgar a

    produo da banda para pessoas de outros pases como Mxico e Rssia, como afirmaram em

    entrevista realizada no dia 14 de setembro de 2010. O ciberespao, portanto, permite que mediaes

    antes impensveis estejam a um click de se tornarem reais.

    06. Consideraes Finais

    As interrelaes entre e msica e mdias no so recentes, mas parecem se fortalecer no

    perodo contemporneo, em que suas imbricaes a outras reas apresentam-se como propiciadoras de

    um importante campo de pesquisa, afinal percebe-se ao observar

    a multiplicidade e a complexidade de elementos que se colocam na msica popular, que no possvel separ-la do universo no qual est inserida: culturalmente, sua capilar insero na sociedade lhe confere extrema importncia como objeto de estudo nas cincias sociais; tecnicamente, so as mdias que lhe deram forma e sustentaram at hoje; na esttica, ao avali-la, de forma clara e consequente, nas interfaces que produz, revela-se um produto artstico de grande riqueza. Por isso, importante a reflexo sobre a dinmica da inovao e do experimentalismo na cano popular, longe do pessimismo iluminista, do folclorismo romntico ou da rigidez erudita, mas analisando as relaes que a cano tem com a cultura miditica e seus desdobramentos criativos (VICENTE, 2009, p. 179).

    Em uma poca em que as discusses acerca de crise do mercado fonogrfico e outras

    questes a elas relacionadas passam cada vez mais a serem discutidas, buscamos neste artigo, mais

    que mostrar uma espcie de case(s) ou mesmo um nicho de mercado musical da cidade de Belm do

    Par, apresentar uma anlise regional, mas que permita uma compreenso maior, inserida e

    compreendida em um contexto global mais amplo.

    15 Os sites so, respectivamente, http://www.suzanaflag.ecleteca.com.br/ e http://www.madamesaatan.com/. Quanto aos blogs, para se ter ideia, a ltima atualizao do blog da banda Madame Saatan (http://madamesaatan.blogspot.com/) foi dia 23 de setembro de 2008 enquanto da Suzana Flag (http://suzanaf.blogspot.com/) foi dia 29 de dezembro de 2006. As bandas La Pupua e Norman Bates no possuem blog.

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    Destarte, devemos observar ainda que a utilizao de novos media para a recepo e

    consumo de msica no perodo contemporneo se constitui em uma questo controversa e importante,

    que

    produz problemas para a grande indstria, mas no necessariamente efeitos negativos para os artistas, pois essas redes (...) ajudam a proporcionar mais informaes aos fs, que assim podem descobrir msicas, artistas e selos fonogrficos que no tm tanta difuso como as majors (...) (BUSTOS e ARREGOCS apud HERSCHMANN, 2008, p. 10)

    Apesar das grandes modificaes causadas pelos media, as dificuldades encontradas pelas

    bandas na cena musical paraense permanecem, ainda carecendo de maior incentivo e at mesmo

    profissionalizao em muitos casos, fazendo assim com que vrias bandas lancem poucos CDs e

    mesmo faam poucas apresentaes na cidade ou ainda as faam em demasia, mas de modo

    desvalorizado. Busca-se tatear um caminho rumo profissionalizao, mas em geral se encontra

    dificuldades, embora a riqueza da diversidade de ritmos, gneros, estilos e bandas seja evidente.

    Ainda assim, devemos reconhecer que o momento da produo e profissionalizao

    musical na cidade parece promissor se observarmos o crescimento e visibilidade do Festival Se

    Rasgum, sites que esto sendo criados para divulgar a cena musical da cidade, associaes e parcerias

    parecem ajudar a fomentar e produzir no somente vrias bandas, como tambm a cena musical como

    um todo16.

    O que fica, por fim, a necessidade de se criar canes e outros tipos de produtos de

    qualidade, que agradem o pblico e que o incite a consumir outros produtos (musicais ou no). Mas s

    isso no basta: preciso se fazer visvel, estar prximo a este mesmo pblico, divulgar suas

    produes, evitar falhas e apresentar notcias ou informaes equivocadas, desatualizadas. Em poucas

    palavras, preciso qualidade, responsabilidade e proximidade.

    Levando isto em conta, cremos que a banda Madame Saatan parece estar frente no

    somente das outras bandas aqui analisadas, mas tambm de muitas outras, do Estado ou no. Alm de

    possuir site prprio e perfil nos mais diversos sites de contedo musical, a nica, dentre as bandas

    16 Como afirmou o jornalista Elielton Nicolau Amador, que tambm guitarrista e produtor da banda Norman Bates, produtor da banda Suzana Flag e coordenador do site Par Msica em entrevista concedida no dia 04 de setembro de 2010, acrescentando que, possuindo a internet como aliada, disponibilidade de locais para realizao de shows, alm de um grande nmero de bandas autorais, Belm rene condies para ter sua produo musical difundida em maior escala, como anteriormente no ocorreu. Resta aguardamos para confirmar ou no esta hiptese.

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    analisadas, que possui um canal com seus vdeos no site Youtube. Sua posio de destaque na cena

    musical nacional, os prmios que j recebeu e sua presena em diversas redes sociais, no somente de

    divulgao de contedo musical, mas tambm de perfis pessoais, corrobora para uma relao mais

    prxima do pblico, ainda que distncia17. exemplo, portanto, de banda que soube/sabe aproveitar

    as diversas alternativas que os media possibilitam atualmente, e muitas vezes de modo gratuito.

    Olhar para o local, observando-o em suas particularidades, mas tambm levando em

    conta o que o mesmo comunica acerca de um panorama mais global, se constituiu por fim em um dos

    principais objetivos deste texto que agora chega ao seu final. Mais que analisar de modo positivo ou

    no a atuao das bandas aqui observadas na cidade de Belm do Par, buscou-se traar um panorama

    (de modo nenhum definitivo, portanto passvel de revises e correes) sobre a cena musical de uma

    cidade distante geograficamente dos grandes centros econmicos nacionais, mas com as mesmas

    possibilidades e alternativas disponibilizadas pelo ciberespao no perodo contemporneo.

    07. Referncias

    ADORNO, Theodor. O fetichismo na msica e a regresso na audio. In: Adorno. Coleo Os Pensadores. So Paulo: Nova Cultural, 1999.

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    DUARTE, Mrcia. Estudo de caso. In: BARROS, A. e DUARTE, J. (orgs.). Mtodos e Tcnicas de Pesquisa em Comunicao. So Paulo: Atlas, 2005. p.215-235.

    17 A banda est desde 2008 em So Paulo, o que talvez colabore para tanto o grupo quanto o pblico paraense buscarem maior proximidade entre si, ainda que de modo on line.

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