Mediação e Gênero Debert e Beraldo

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    ARTIGOS

    cadernos pagu(29),julho-dezembro de2007:305-337.

    Os modelos conciliatrios de soluo deconflitos e a violncia domstica*

    Guita Grin Debert**Marcella Beraldo de Oliveira***

    Resumo

    Os modelos conciliatrios de soluo de conflitos tm ganhadouma importncia cada vez maior nas propostas interessadas emdar celeridade ao Judicirio e ampliar o acesso da populao justia. Esse artigo prope uma reflexo sobre esse modelo,pautado no acordo e na conciliao, quando est em jogo aviolncia domstica. Tomando como base estudos etnogrficossobre a Delegacia de Defesa da Mulher e os Juizados EspeciaisCriminais, o argumento central que a conciliao ganhacontedos muito distintos nessas duas instncias do sistema dejustia. O contraste entre valores e simbologias postas em ao no

    fluxo dos processos nessas duas instncias oferece elementos paraa compreenso do contexto que levou promulgao da LeiMaria da Penha, sancionada no dia 7de agosto 2006, que retiroudo mbito dos Juizados Especiais Criminais os delitos queenvolvem violncia domstica e familiar contra a mulher.

    Palavras-chave:Violncia Domstica, Conciliao, Delegacia de Defesada Mulher, Juizados Especiais Criminais.

    * Recebido para publicao em agosto de 2006, aceito em fevereiro de 2007.

    **Antroploga, professora Titular do Departamento de Antropologia ecoordenadora do Ncleo de Estudos de Gnero Pagu, ambos da [email protected]***Doutoranda em Cincias Sociais no Instituto de Filosofia e Cincias Humanasda Unicamp. [email protected]

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    Domestic Violence and Different Forms of Conciliation

    Abstract

    Alternative conflict resolution based on forms of conciliation havebeen identified as a possible response to problems of access tocourts deriving from the numbers, costs and length of proceedingsin the Brazilians judicial system. This paper focuses on thesealternative forms of justice, regarding domestic violence matters.Using ethnographic methods of studies at Womens Police Stationsand at Small Claim Courts, the main argument is that the forms ofconciliation can be very different, specifically, in these twoinstitutions of the judicial system. The contrasts between moralvalues and the simbols used differently by these two institutions

    offer some elements for us to understand the context in which wascreated the Law calledMaria da Penha, sanctioned on August 17thof 2006. After this Law, cases of domestic violence against womenwere excluded from Small Claim Courtsin Brazil.

    Key Words: Domestic Violence, Conciliation, Womens PoliceStations, Small Claim Courts.

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    No artigo intitulado Harmonia Coerciva, Laura Naderconsidera que os estilos conciliatrios de soluo de conflitos, quepassaram a ganhar importncia nos Estados Unidos a partir dadcada de 70, so parte de uma poltica de pacificao. Os anos60 estiveram voltados para a crtica s leis, marcados pelas lutaspelos direitos civis, direitos dos consumidores, direitos ambientais,direitos da mulher. Contudo, nos ltimos 30anos, nas palavras deLaura Nader (1994:21), aquele

    pas teria passado de uma preocupao com a justia parauma preocupao com a harmonia e a eficincia; de umapreocupao com a tica do certo e do errado para umatica do tratamento.

    O modelo de justia centrado nos tribunais, cuja lgica terganhadores e perdedores, foi substitudo por outro, no qual oacordo e a conciliao desenham um novo contexto em que s hvencedores. O entusiasmo transformador dos anos 60, nosEstados Unidos, foi substitudo por uma intolerncia em relaoao conflito. No se trata mais de evitar as causas da discrdia, massua manifestao. Proclamou-se que os tribunais estavamabarrotados e que os advogados e o povo norte-americano erammuito litigantes; exaltaram-se as virtudes dos mecanismosalternativos regidos pela ideologia da harmonia; e criou-se umcontexto de averso lei e de valorizao do consenso. De acordocom a autora, considerar que a harmonia benigna uma formapoderosa de controle social e poltico. Quem est errado e age emconfronto com a lei sempre o mais interessado numa soluoconciliatria.

    As formas de resoluo de conflitos baseada na conciliaotm ganhado um interesse cada vez maior no contexto brasileiro

    contemporneo e os Juizados Especiais Cveis e Criminais so,certamente, os exemplos mais evidentes da forma como esseinteresse foi institucionalizado. No entanto, preciso reconhecerque a prtica da conciliao ou os mecanismos extrajudiciais de

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    resoluo de conflitos esto presentes, de maneira informal, hmuito mais tempo em diferentes instituies do sistema de justiacomo, por exemplo, nas Delegacias de Polcia e no MinistrioPblico.1

    Opor, como prope Nader, duas economias polticasjurdicas distintas por um lado a que tem como base a consensoe, por outro, a que tem como base o conflito simplificar ossignificados polticos que os procedimentos conciliatrios podemganhar em diferentes contextos.

    Tomando como base os Juizados Especiais Criminais(JECrim)e as Delegacias de Defesa da Mulher (DDM), neste artigomostramos que a conciliao pode ter contedos muito distintosquando a violncia entre casais est em jogo.

    Nos JECrim, a defesa da famlia tida por seus agentescomo uma instituio baseada em relaes de afeto ecomplementaridade de deveres e obrigaes diferenciados deacordo com o gnero e a gerao de seus membros orienta osprocedimentos conciliatrios, reproduzindo as hierarquias e osconflitos prprios desta instituio. As DDM, em contrapartida,

    criadas para defender a mulher enquanto titular de direitos civis,so uma resposta s reivindicaes dos movimentos feministasempenhados em realar as relaes de poder e dominao quepermeiam a vida familiar.

    Essas delegacias so uma das faces mais visveis dapolitizao da justia na garantia dos direitos da mulher erepresentam uma forma de pressionar o sistema de justia nacriminalizao de assuntos que eram tidos como questesprivadas. O que no significa que as delegacias de defesa damulher no corram o risco de novamente verem essas mesmasquestes passarem por um processo de reprivatizao, como, defato, aconteceu a partir de 1995, com a criao dosJECrim.

    1 Sobre as delegacias de polcia ver, sobretudo, a etnografia de Kant de Lima,1995; sobre o Ministrio Pblico, ver Sadek, 2001.

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    As etnografias realizadas antes da criao desses juizadosindicam que, muitas vezes, na prtica cotidiana das delegacias,ocorre uma conciliao entre vtima e agressor.2 No entanto, importante destacar que a concepo da mulher como sujeito dedireitos organiza os procedimentos adotados nessas delegacias,mesmo quando h uma reconciliao do casal. A agendaigualitria e a averso s formas de dependncia pessoalorientam, inclusive, as crticas que as policiais fazem ao trabalhopor elas desenvolvido ou clientela que recorre de modo escusos delegacias.

    Para mostrar que a conciliao pode obedecer a economiasmorais muito distintas, a primeira parte deste artigo apresenta umconjunto de dados que apontam para o processo de feminizaodos JECrim. Esses juizados mudaram a dinmica das Delegaciasda Mulher que para surpresa de seus prprios propositores setransformaram no lcus para onde so encaminhadas asdenncias de violncia domstica, como mostram os dados doJECrimde Campinas.

    Com base no material levantado sobre as DDM localizadas

    em diferentes municpios de So Paulo e em anlises sobre asDelegacias da Mulher em diferentes regies do pas, o segundoitem mostra as mudanas ocorridas nessas delegacias especiaiscom a criao dos Juizados.

    A terceira parte oferece um relato do modo como aviolncia domstica tratada no JECrim de Campinas. Essequadro permite compreender os significados da luta feminista queresultou na Lei Maria da Penha, sancionada no dia 7de agosto2006, retirando os delitos que envolvem violncia domstica efamiliar contra mulher do mbito dos Juizados Especiais

    2 Sobre as Delegacias da Mulher, ver, sobretudo, Amaral et alii,2001; Azevedo,1985; Ardaillon, 1989; Blay and Oliveira, 1986; Brando, 1999; Brockson, 2006;Carrara et alii,2002; Debert e Gregori, 2002; Debert, 2002; Grossi 1994, 1998;MacDowell dos Santos, 1999; Machado e Magalhes, 1999; Muniz, 1996;Nelson, 1996; Oliveira, 2006; Rifiotis, 2001, 2003; Saffiotti, 1995, 2002; Soares,1999; Soares et alii,1996; Surez e Bandeira, 1999; Taube, 2002.

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    Criminais.3Na parte final do artigo apontamos para as vantagensdessa Lei, mas tambm para seus limites quando se pensa numasociedade mais justa e igualitria.

    Os JECrime a violncia domstica4

    Orientado pelo princpio da busca de conciliao, os JECrimforam criados pela Lei 9.099 de 1995, com objetivos centrais de

    ampliar o acesso da populao Justia, promover o rpidoressarcimento da vtima e acelerar as decises penais,desafogando o Judicirio. Outro objetivo era despenalizar,oferecendo ao autor do delito, considerado de menor potencialofensivo, a oportunidade de no ser processado criminalmente(Grinover et alli, 1997).Os profissionais do direito se referem Leicomo sendo um benefcio concedido ao acusado.

    O modelo conciliatrio de soluo de conflitos, que orientaesses juizados, difere do modelo acusatrio clssico do direitopenal brasileiro.

    A Constituio de 1988, artigo 98, inciso I, inovou ao inserirna dinmica dos juizados especiais as figuras da conciliaoe da transao penal, estranhas a tradio jurdica brasileira

    3 A Lei 11.340/2006 recebeu o apelido de Lei Maria da Penha emhomenagem a essa cearense tornada paraplgica pela ao criminosa do maridoe que se tornou um dos exemplos mais trgicos da incidncia da violncia contraa mulher no pas e da impunidade dos agressores. Aps 19 anos doacontecimento do crime, por fora da ao de grupos de defesa dos direitoshumanos e feministas junto Comisso Interamericana de Direitos Humanos daOrganizao dos Estados Americanos, o agressor foi punido.4 Existe uma dificuldade entre os prprios estudiosos da violncia em definir ofenmeno enfrentado: ora qualifica-se como violncia contra a mulher, ora comoviolncia domstica, violncia intra-familiar, ou violncia de gnero. No hconsenso. No texto utilizamos este termo fazendo referncia ao tipo de violnciaque as delegacias de defesa da mulher recebem.

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    (...) que seguem a tradio do direito romano, conhecidacomo a civil law tradition(Kant de Lima et alli, 2003:6).5

    A conciliao, prevista na lei, ocorre durante uma audinciano Frum Audincia Preliminar de Conciliao. EmCampinas, essas audincias ocorrem nas Varas CriminaisComuns, pois nesta cidade no existe um espao fsico reservadoexclusivamente ao JECrim. Alm disso, as audincias so

    conduzidas pelo prprio juiz titular da vara criminal ou pelopromotor, porque ainda no foi criada a figura do conciliador e osmesmos profissionais que atuam nas Varas Criminais Comuns seencarregam do JECrim.6 Em outros Juizados Especiais Criminaisdo Estado de So Paulo a situao semelhante, no h espaofsico reservado aos JECrim, os mesmos profissionais alternamduas lgicas distintas na conduo dos delitos: nos casos demenor potencial ofensivo a conciliatria e nos crimes comuns aacusatria. Esse movimento foi denominado por Faisting (1999)de dupla institucionalizao do Poder Judicirio.

    Durante a audincia de conciliao do JECrim no existe

    uma ao penal em andamento. Essa audincia anterior ainstaurao do processo e no decide se o acusado culpado ouno pela agresso. Isso j est presumido. Ao aceitar a penaalternativa proposta na transao penal, ao mesmo tempo, oacusado est assumindo a culpa ou o dolo.

    Esses juizados foram criados para julgar os crimes chamadosde menor potencial ofensivo cuja pena mxima no ultrapassa adois anos de recluso7: crimes de leso corporal dolosa leve

    5 Sobre os Juizados Especiais Criminais ver tambm Amorim, 2003; Azevedo,2000, 2001; Burgos, 2001; Campos, 2001, 2002, 2003; Cardoso de Oliveira,1996, 2002, 2004; Faisting, 1999; Sadek, 2001; Cunha, 2001; Kant de Lima etalli,2003; Izumino, 2003; Vianna et alli,1999; Arajo, 2003.6 Para uma viso mais completa dos JECrim em Campinas ver Beraldo deOliviera, 2006.7 At o final de 2001, os crimes de menor potencial ofensivoeram classificadoscomo tendo pena mxima at um ano de recluso. A partir da Lei Federal

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    (artigo 129 do Cdigo Penal)e o de ameaa (artigo 147 do CdigoPenal), figuras penais mais freqentes na tipificao dacriminalidade que chega s delegacias da mulher.8

    Pesquisas realizadas nos Juizados Especiais Criminais noRio de Janeiro (Kant de Lima, Amorim e Burgos, 2003), em PortoAlegre (Campos, 2002 e Azevedo, 2000), em So Carlos (Faisting,1999)e em So Paulo (Izumino, 2003)demonstram que a maioriados crimes que chega a esses juizados justamente o de lesocorporal leve e de ameaa.

    A pesquisa realizada no Frum Central de Campinas, em20019, tambm mostrou que esses crimes so os que maisaparecem: 31,1%dos casos so de leso corporal dolosa leve e24,6%de ameaa (tabela 1).

    10.259, de 2001, que implementa os Juizados Especiais Criminais e CveisFederais, este conceito foi alterado, passando de um ano de recluso para doisanos.8 Em 2004, com a Lei 10.886, acrescentou-se o pargrafo 9 ao artigo 129 leso corporal , tipificando a violncia domstica no Cdigo Penal: se a lesofor praticada contra ascendente, descendente, irmo, cnjuge ou companheiro,ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agentedas relaes domsticas, de coabitao ou de hospitalidade. Pena de deteno,de 6 (seis) meses a 1 (um)ano. Esta Lei no alterou substancialmente a formade tratar a violncia domstica no sistema de justia brasileiro, pois, ao tipificar aviolncia domstica em um pargrafo especfico do artigo de leso corporal,apenas aumentou a pena mnima cominada de trs para seis meses,diferenciando da leso corporal leve simples, mas reiterando o crime deviolncia domstica como de menor potencial ofensivo, permanecendo nos

    Juizados Especiais Criminais. A Lei Maria da Penha altera a pena do pargrafo9 do artigo 129, de modo que a pena mxima cominada seja de trs anos,retirando, assim, da classificao dos crimes de menor potencial ofensivo.9 Os dados de Campinas, utilizados neste artigo, esto em Beraldo de Oliveira,2006.

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    Tabela 1Tipos penais julgados na 2Vara Criminal do Frum Central de

    Campinas pela Lei 9.099/95

    Tipo Penal Freqncia %Total* 426 100Leso corporal dolosa leveAmeaa

    Delito de trnsitoOutras contravenes penais10Contra a administraoContra a honraUsurpao, esbulho e possesPericlitao da vida e da sadeContra os costumesLeso corporal culposaSem informao11

    133105

    513416129852

    51

    31,124,6

    11,983,72,82,11,91,20,512

    Fonte: Cartrio da 2Vara Criminal do Frum Central deCampinas.* Soma dos meses de janeiro, fevereiro, abril e maio dosanos de 2000 e 2001.

    importante destacar que dos 133 casos de lesocorporal, indicados na tabela 1, 59,4% so provenientes daDelegacia da Mulher de Campinas; dos 105 casos de ameaa,65,7% tambm so enviados por esta delegacia. Isto , a maioriados casos de leso corporal e de ameaa atendidos peloJECrim no so resultado de brigas de bar, de trnsito ou, ainda,entre desconhecidos, mas so fruto de uma criminalidade na quala vtima mulher. Assim, os JECrim acabam por se transformar

    10 Essa categoria, outras contravenes penais, inclui os crimes de vias defato (art.21, CP), perturbao do sossego (art. 42, CP), perturbao da

    tranqilidade (art. 65, CP) e importunao ofensiva ao pudor (art 61, CP).11A tabela 1 foi construda com base nas informaes do Livro de Registro deFeitosproduzido pela 2 Vara Criminal do Frum Central; e em alguns casos, ocampo destinado ao preenchimento do tipo penal encontrava-se em branco eaqui aparece classificado como sem informao.

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    em uma instncia que passa a ter um papel central noatendimento violncia contra a mulher que denunciada.

    Os estudos sobre osJECrim tm mostrado, ainda, que nessesjuizados a maioria dos acusados homens e a maioria das vtimas mulher. Em Campinas, foi possvel verificar as seguintespropores em 2001:

    Tabela 2Termos Circunstanciados de Ocorrncia

    por sexo do autor e da vtima

    AUTOR VTIMASEXOFreqncia

    % Freqncia

    %

    Total*MulherHomemMulher e Homem juntosPessoa jurdicaSem informao

    22321

    14571

    49

    1009,4653,10,522

    22313921

    9-

    54

    10062,3

    9,44-

    24,2

    Fonte: Cartrio da 2

    Vara Criminal do Frum Central deCampinas.* Soma dos meses de janeiro, fevereiro, abril e maio do anode 2001.

    A pesquisa realizada no Rio de Janeiro por Kant de Lima,Amorim e Burgos (2003)mostrou uma proporo ainda maior deautores do sexo masculino e de vtimas do sexo feminino: 82,2%dos autores so homens e 79,9% das vtimas so mulheres.Azevedo (1999), em estudo realizado em Porto Alegre, tambmverificou que a maioria das vtimas nos Juizados EspeciaisCriminais so mulheres, correspondente a 62% do total de

    processos observados. No entanto, chamamos a ateno para oprocesso defeminizao noJECrim,na medida em que as vtimasnessa instituio so mulheres e so vitimadas pelo fato de seremmulheres.

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    Criados para dar celeridade justia, simplificando einformalizando os procedimentos adotados nos crimesconsiderados de menor potencial ofensivoque chegavam s varasjudiciais, os JECrim, para surpresa de seus propositores edefensores, passaram a assumir uma demanda que, comomostraremos, raramente chegava Justia e que, atualmente, socanalizados para os juizados atravs das delegacias especiais depolcia .

    A cidade de Campinas conta com 12distritos policiais, masa Delegacia da Mulher a responsvel pelo maior nmero deprocessos remetidos aoJECrim(tabela 3).

    Tabela 3Movimentao doJECrimno Frum Central de Campinas de

    acordo com a delegacia de procedncia

    TCOs provenientesda DDMdeCampinas

    Ano

    Freqncia deTCOs*** queentram no Frum

    Freqncia %

    Total2000 (trs meses)*2001 (trs meses)**

    1.637838799

    746406340

    45,648,542,6

    Fonte: Distribuidor Criminal do Frum Central de Campinas.* meses de julho, agosto e setembro.** meses de fevereiro, abril e maio.*** Termos Circunstanciados de Ocorrncia.

    A criao dos JECrimalterou a dinmica das delegacias: asocorrncias registradas nas Delegacias da Mulher, por exemplo,so enviadas rapidamente ao Judicirio, porque, a maioria tipificada como leso corporal e ameaa, crimes consideradosde menor potencial ofensivo que dispensam o Boletim deOcorrncia e o Inqurito Policial. Elabora-se um documento maissimplificado, o Termo Circunstanciado de Ocorrncia (TCO),com

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    o relato dos fatos e a caracterizao das partes, podendo serencaminhado, com presteza, aos juizados (Cf. Debert, 2002).

    Em Campinas, se a presena em nmeros elevados de casosviolncia domstica impressiona os agentes e estudiosos dosJECrim, fica evidente que so as Delegacias da Mulher quepermitem que esse tipo de criminalidade alcance os juizados. difcil saber se esse quadro se reproduz em outros municpios dopas. Entretanto, inegvel que as DDM tiveram um papelsimblico fundamental na divulgao do fato de que agredir aesposa ou companheira crime que ser punido pela justia.

    Entretanto, o JECrimmuda o significado poltico deste tipode crime e nos interessa refletir sobre como essa mudana operada.

    As Delegacias de Defesa da Mulher e o discurso de gnero

    Antes da Lei 9.099, voc tinha a agresso, no importandoo resultado dessa agresso, obrigatoriamente, sendo levadaao poder judicirio. Obrigatoriamente. (...) O que acontecianesse meio? Acontecia que s vezes a mulher voltava

    delegacia e dizia Pelo amor de Deus, meu problema estresolvido! aquela histria que a gente conhece. Eacontecia que s vezes, ilegalmente, a delegada, ou seja lquem fosse, (...) sumia (...) desaparecia com o Boletim deOcorrncia. Ou fazia-se o que a lei mandava fazer e,chegando ao Ministrio Pblico, antes do processo, [opromotor] propunha o arquivamento. Era muito comumtambm [o promotor] sugerir o arquivamento em nome dapoltica criminal de manuteno da paz familiar e o juiz,mais que depressa, p... So todos machistas. Nenhumtem a viso de perceber que essa violncia gera outra.Esquecem isso. Eles querem se livrar desse problema

    domstico, que um problema que d trabalho. Mas,enfim, as coisas aconteciam.O cidado acabava sendo chamado para uma conversa,era autuado em flagrante pela Delegacia da Mulher. Ficavapreso trs dias, verdade, mas ficava preso trs dias. Ficar

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    preso, nem que seja uma hora, uma coisa que difcil.Ele era levado frente de uma unidade policial e tomavacincia de que aquilo que ele estava praticando era crime.Porque a primeira resposta deles : eu sou trabalhador,vocs esto me tratando como criminoso. O senhor criminoso, tanto quanto traficante, homicida. Ento, tinhaum efeito preventivo razovel.

    Ps Lei 9.099 possvel a composio entre as partes. A

    Lei no foi feita para isso, foi feita para outros fins, maslevou de roldo isto a violncia domstica. E o maiorndice da violncia domstica leso leve e ameaa. A Leiprev essa fase da composio, ela obrigatria. E essafase feita porque eles no entendem nada de violncia degnero Ah, meu filho, vamos parar com essa encrenca a.D um ramalhete de flores para ela e est tudo resolvido.O advogado quer se livrar, o cartorrio quer se livrar, todomundo quer se livrar. Ningum preparado em violnciade gnero. Ento [o agressor] no pode mais ser autuadoem flagrante, os dois so levados na presena daautoridade, tm que fazer isso, tm que caminhar para essacomposio.

    A gente levou 12 anos fazendo aparecer que a violnciadomstica era crime. De repente, isso foi banalizado. Ento,os homens comearam a agredir as mulheres por conta deuma cesta bsica, por conta de um ramalhete de flores Eu vou l, dou um ramalhete de flores para voc e esttudo certo.Eu tenho certeza, no posso provar numericamente, mastenho certeza no que a violncia domstica aumentou,mas o grau de violncia aumentou. Porque aquilo quevinha num caminhar e era inibido pela delegacia, agoratirou a inibio, caminha para a morte.

    Essas crticas veementes, de uma delegada de So Paulo,aosJECrimmostram que a resoluo extrajudicial de conflitos noesteve ausente das prticas das DDM, como ocorre nos demaisdistritos policiais. Essa forma de operar uma conciliao entre as

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    partes no implica, necessariamente, na prisodos agressores porum perodo curto de tempo, tampouco no ato de surrupiar umboletim de ocorrncia para dar um caso por encerrado. Muitasvezes, a simples enumerao dos procedimentos a seremadotados para a punio do agressor, feita pelos agentes dadelegacia, pode levar desistncia da vtima de prosseguir norelato da agresso sofrida, antes mesmo de qualquer registro.

    Atualmente, o Brasil conta com mais de 300Delegacias daMulher espalhadas em cidades de tamanho e perfil ocupacionalmuito diferentes. Essas DDM possuem equipamentos e infra-estruturas variados e gozam de um grau de prestgio diverso nosistema de segurana estadual. Com a criao das DDM, atendncia nos distritos policiais do Estado de So Paulo eraencaminhar as ocorrncias relacionadas aos crimes entre casais,nos quais a vtima a mulher, para as DDM. Nesse sentido, se osistema de segurana reconhece que agresses fsicas e ameaascometidas contra a esposa so crimes, a tendncia canalizar essetipo de ocorrncia a uma delegacia especializada.

    Apesar dessas diferenas, os estudos sobre as delegacias

    apontam vrias semelhanas principalmente no que diz respeitoao pblico que a elas recorre e s representaes das agentes dadelegacia quanto s caractersticas desse pblico e do trabalho quedesenvolvem.12

    impressionante a semelhana que os estudos revelam notocante s representaes das agentes policiais sobre razes quelevam as mulheres a procurar a delegacia. Como aponta SandraBrockson (2006), que pesquisou a DDM de So Carlos, para asagentes da delegacia, falar das mulheres em geral assumir umaposio de solidariedade com um grupo oprimido. Por outro lado,a posio de solidariedade com o grupo raramente se mantmquando, essas mesmas agentes, narram casos especficosatendidos pela DDM. A tendncia das agentes dividir a clientela

    12Ver Blay e Oliveira, 1986; Brando, 1999; Carrara et alli,2002; Amaral et alii,2001; Rifiotis, 2001; Soares, 1999.

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    em tipos caracterizados, de uma maneira muito sucinta. Segundouma escriv entrevistada por Oliveira (2006:270),

    as decididas, que vo at o fim com os processos contraagressores, as que recorremapenas ocasionalmente DDM,pois so agredidas em virtude de circunstncias raras dentrodo contexto domstico, e as recorrentes, que sempre soagredidas, mas nunca levam at o fim sua queixa contra os

    parceiros.

    Elaine Reis Brando, estudando uma delegacia do Rio deJaneiro, considera que a principal razo que leva procura dapolcia a dificuldade das mulheres de classes populares emconcretizar um regime familiar tido por elas como ideal. Esseregime caracterizado pela autora nos seguintes termos:

    Ao contrrio da modalidade conjugal conhecida comocasal moderno, encontrada em certos segmentos dascamadas mdias, parece haver nas classes trabalhadorasuma forte demarcao dos papis conjugais, valorados

    diferencial e hierarquicamente, segundo os padres demoralidade das redes de parentesco e de localidade(Brando, 1999: 60).

    Segundo a autora, o recurso polcia seria um meio depromover o reajustamento do parceiro expectativa socialpredominante nas camadas populares, de modo que essasmulheres passam a delegar autoridade policial a tarefa decorrigir os homens acusados de agresso e de inadequao aospapis conjugais esperados.

    O atendimento a esse tipo de demanda motivo dedesconforto para os agentes da delegacia que vem, nesses casos,

    um desvirtuamento de seu papel policial em nome de prticas queestariam relacionadas a um trabalho de assistente social. Comoaponta uma policial:

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    As populaes de baixa renda e baixo nvel escolar so asque mais recorrem DDM, pois acham que tudo se resolvena delegacia (...) muitas mulheres vo tambm DDMparadesabafar, contam suas histrias, mas no querem quefique nada registrado. (...) grande o nmero de mulheresque recorrem DDM para buscar orientao ou paraassustar os parceiros agressores.

    A literatura sobre o tema mostra, ainda, que a tendncia dosagentes policiais responsabilizar a clientela pelo desvirtuamentodo trabalho policial e pela monotonia do cotidiano nas delegacias,porque o trabalho de investigao que, na opinio das agentes, o que d entusiasmo prtica policial para a qual foramtreinadas substitudo pela conciliao das partes em conflito,num contexto em que boa parte das vtimas tem averso punio dos culpados. Alm disso, as pesquisas enfatizam que hum acordo entre os agentes na considerao da ineficcia, amdio e longo prazo, da conciliao feita na delegacia.

    Brando (1999:124-125) aponta que as agentes da delegaciado Rio de Janeiro esto conscientes do alto grau de recorrncia

    das agresses que levam a uma volta das vtimas delegacia.Com muita sensibilidade, a autora diz que praxe que osdetetives orientem as mulheres para que voltem delegacia casoseja necessrio, tranqilizando, momentaneamente, a vtimareceosa de suspender o B.O.Contudo, paradoxalmente, quando avtima volta, ela acaba sendo repreendida pela suspenso anterior,vamos ver se desta vez voc prossegue, diz a policial,repreendendo uma das mulheres que retornaram delegacia pararegistrar o mesmo tipo de ocorrncia. Os agentes da polciaconsideram que essas mulheres esto brincando com o aparatopblico, so coniventes com os agressores e com a situao de

    violncia da qual so vtimas.Assim, as mulheres que desistem so vistas como umaespcie de cidads que no souberam se apoderar de seusdireitos, seja por uma ignorncia intransponvel, seja por umdficitmoral de carter.

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    A viso das agentes sobre as razes que estariam levandoboa parte das mulheres a recorrer delegacia, por um lado, e apercepo que elas tm da desconfiana em relao polcia quereina nas demais esferas do sistema da justia criminal, por outro,oferecem uma dinmica especfica aos procedimentos adotadosnas DDM: independente das caractersticas do municpio, do tipode equipamento e dos recursos humanos disponveis, a maioriadas queixas tipificada como leso corporal leve e ameaa e,como vimos, so encaminhadas aos juizados especiais criminais.

    As agentes das DDMsabem que a famlia uma instituioviolenta e, muitas vezes, elas mesmas se colocam como vtimasdessa violncia. comum ouvir relatos de agentes afirmando queeram escravizadas pelos maridos, exmia piloto de tanque e defogo e de filho; vtima da violncia domstica surda. Nessescasos, a busca de um trabalho remunerado vista como a melhorforma de ganhar autonomia e ser uma mulher independente (cf.Debert, 2002). Em anlise cuidadosa, na qual avalia o grau deinfluncia do discurso feminista sobre a cultura jurdica daspolicias, MacDowell Santos (1999)mostra que essa influncia no

    Estado de So Paulo, pioneiro na criao dessas instituies, com126delegacias funcionando na capital e no interior tem variadode acordo com a conjuntura poltica. No momento da criao dasdelegacias, a relao com o movimento era intensa e o discursofeminista era predominante. Em outros momentos essa relao sedesfez, contudo, a autora identifica na sua pesquisa umaapropriao, por parte das agentes, de um discurso de gnero,sem evidenciar a aliana com o movimento feminista.

    Ressaltamos essa apropriao, porque ela envolve apercepo da mulher como um sujeito de direitos. Essa visoorganiza, tambm, as concepes sobre o que seria o ideal dotrabalho a ser realizado por uma delegacia de defesa da mulher,bem como a decepo com a maneira pela qual esse trabalhoest, de fato, sendo realizado, dado o tipo de demanda que chega instituio.

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    A apropriao do discurso de gnero feita de modoespecfico quando combinada com o ethos profissional policial.Contudo, o modo como agentes da polcia percebem a violnciaembutida no contrato conjugal e na famlia oferece um contedoespecfico e diferente dos procedimentos adotados nosJECrim.

    A conciliao no JECrim

    Tratar a violncia contra a mulher no judicirio na lgicaconciliatria traz conseqncias singulares. A Lei 9.009/95dispeque o autor do delito de menor potencial ofensivo s poder serbeneficiado com a transao penal (geralmente, pagamento deuma cesta bsica) uma nica vez no perodo de cinco anos.Contudo, a reincidncia no est ausente das agresses entrecasais. Alguns agentes do JECrim, assim como da Delegacia daMulher, tm conscincia deste fato e da inadequao doprocedimento adotado pelos juizados no tratamento dosagressores reincidentes. Segundo uma advogada que atua noJECrim:

    Esse modelo conciliatrio no o melhor modelo paratratar esse tipo de criminalidade, pois o marido reincide, eleno tem medo, ele obriga a mulher, at piora a situao damulher recorrer justia (...)eu tenho um cliente que j estbeneficiado quatro vezes com cesta bsica, duas em menosde seis meses, s vezes na mesma Vara Criminal. A mulherprocurou e quebrou a cara! Ela no volta mais justia!

    Porm, diferentemente do que ocorre com a reincidncianas delegacias, onde a delegada indignada diz para a vtimavamos ver se desta vez voc prossegue, no Juizado Criminal deCampinas, os diferentes agentes tentam induzir a vtima no-representao.13

    13Kant de Lima et alli (2003:12-13), que pesquisaram dois Juizados EspeciaisCriminais na cidade do Rio de Janeiro, observaram um alto percentual dedesistncia das vtimas. Porm, os pesquisadores mostram que este percentual

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    Numa das audincias no Frum Central de Campinas,relatadas por Beraldo de Oliveira (2006), o agressor passava pelasegunda vez por uma audincia de conciliao do JECrim numperodo inferior a cinco anos, como verificado nos autos. Aprimeira audincia ocorreu no ano anterior, por crime de lesocorporal contra uma vtima diferente da atual. O desfechoanterior foi a transao penal. O autor encontrava-se novamentena mesma situao: vtima mulher e crime de leso corporalenviado pela DDM. No corredor de espera da sala de audincia, aatual vtima, que no estava mais morando com ele, comenta seuinteresse em prosseguir com o caso:

    Quero ir at o final com isso, quando a gente comeaalguma coisa, tem que ir at o fim.[No entanto, o juiz inicia a audincia dizendo]Temos aqui um caso de leso corporal vindo da delegaciada mulher. As verses sobre o fato relatado na delegaciaso verses conflitantes. No posso saber como ocorreurealmente. No estava l para saber. Tudo bem que temos

    o exame do IML para provar que houve leso, mas notemos testemunhas para saber como ocorreu. No tenhocomo saber quem est certo, a sua verso contra a dela.Antes de tudo, quero explicar que se esse caso for levadoadiante, as conseqncias no sero muito bombsticas.Alm disso, vocs com idade superior a minha, deveriam

    apresenta uma enorme variao entre os juizados estudados. Em um deles, ondice superior a 50%, no outro no passa de 25%. Os autores afirmam queessa diferena se deve principalmente ao fato de o primeiro ter priorizado aceleridade, medida na estatstica do Tribunal pela capacidade de encerrarprocessos. No outro Juizado prevalece uma orientao para que os conciliadoresevitem a desistncia, porque um ndice elevado de desistncia seria percebidocomo fracasso do trabalho da instituio, na medida em que no teria qualquerrepercusso sobre o conflito e, portanto, sobre a pacificao das relaes deviolncia, contrariando, segundo a compreenso ali reinante, um dos objetivosmaiores do JECrim. Essa pesquisa mostra que no podemos generalizar a atitudedos operadores do direito em todos os juizados, mas importante destacar oimpacto da no-representao nos casos de agresses entre casais.

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    saber resolver isto sozinhos. Acho uma atitude correta ir ata DDM, nada justifica ele agredir a senhora, mas um casoque se for levado pra frente s trar mais dor de cabea.

    A procuradora do Estado, no meio da audincia, talvezpercebendo o espanto do pesquisador, que ela sabia estarpesquisando violncia domstica, comentou:

    A vtima deve desistir e isso que o juiz est tentando fazer.Se ela continuar, ele ter que ser denunciado peloMinistrio Pblico, porque no pode ser beneficiadonovamente com a cesta bsica (...).E, a, se o processo foriniciado, ela poder ser processada por falso depoimento eela no est sabendo disso! Pois no h provas de que elebateu nela, no h testemunhas (...). ela que vai se darmal no processo![A vtima finalmente desiste de representar e fala para ojuiz]Eu quero que fique claro que estou desistindo, mas poderiacontinuar, que essa uma escolha minha. Quero que ele

    saiba disso!

    Assim, a audincia de conciliao pode ser transformadanum espao privilegiado para a induo das vtimas a desistiremda causa levada Justia. Na etapa da conciliao se tornapossvel a acolhida e, ao mesmo tempo, a retirada da violnciadomstica do Judicirio. As pesquisas sobre os JECrim apontamque a maioria dos crimes que entram neste procedimentoconciliatrio no se transforma em processo penal.14A induo

    14 As pesquisas realizadas nos JECrims de outros estados demonstram que o

    desfecho dos processos nos Juizados so, principalmente, o da desistncia. Apesquisa realizada por Kant de Lima, Amorim e Burgos (2003: 10) no Rio deJaneiro mostra que 4,6% dos processos so encerrados em audincia deinstruo e julgamento, 33,2% dos litgios so resolvidos atravs de composiocvel, 22,9% atravs de transao penal e 39,3% pela desistncia. Em PortoAlegre, Azevedo (2001:104) demonstra que a renncia, ou a no-representao

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    no-representao uma forma de retirar, definitivamente, ocarter propriamente criminoso dos crimes que ocorrem noespao domstico.

    Os casos enviados pelas Delegacias da Mulher para osJuizados so caracterizados pelos seus agentes como de cartermais social do que criminal. Nesse sentido, os acusados noseriam propriamente criminosos. O que est em questo no adiferena entre as agresses sofridas, mais ou menos graves, masa posio que esse tipo de crime ocupa na hierarquia dacriminalidade em geral.

    Um promotor entrevistado caracteriza a agresso entrecasais nos seguintes termos:

    O problema que isso um problema social e no legal!Casos desse tipo a vtima tem que denunciar vrias vezespara o cara comear a pensar em mudar. No a primeiravez que ele vem aqui, passa por uma audincia e entotudo mudou. Ele no vai mais bater. Isso no ocorre. Almdisso, a vtima j passou por muitas brigas at chegar aqui.

    A conduo desses casos no juizado permeada porambigidades: o promotor diz que para mudar a situao davtima necessrio denunciar isso vrias vezes e, ao mesmotempo, tenta fazer com que ela desista de prosseguir se o agressor reincidente, j que, nesse caso, uma ao penal poderia seriniciada.

    muito mais freqente nos JECrim POA do que a transao penal ouconciliao. Mas que a deciso terminativa desses juizados, em maior nmeronos anos de 1996 e 1997, o arquivamento. Em So Paulo, Izumino (2003:299) observou que em 44,4% dos casos o tipo de deciso, entre 1999 e 2003, aextino de punibilidade, o que se refere principalmente deciso da vtima norepresentar criminalmente. No novidade o fato da maior parte das ocorrnciasterem sido encerradas dessa maneira, desfecho mais comum apontado por todasas pesquisas (Azevedo, 2000; Viana, 1999; Kant de Lima, 2003; Faisting, 1999;Campos, 2001; Hermann, 2000).

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    Minimizar a importncia da reincidncia e induzir a mulher ano-representar contra seu agressor invisibilizar a violnciadomstica no Judicirio. Apesar dos agentes, em entrevistas, noduvidarem que bater em mulher crime, o modo de tratar essacriminalidade no JECrim devolve o fato delituoso para sersolucionado no mbito familiar.

    As audincias de conciliao no JECrim de Campinas sogeralmente muito rpidas, no ultrapassando dez minutos. Aproposta de transao penal quase sempre o pagamento de umacesta bsica para uma instituio de caridade.

    Os prprios juizes reconhecem que essa pena pode significaruma banalizao da punio da violncia contra a mulher.Segundo o juiz da 3aVara Criminal de Campinas: Uma vez, umdesses maridos me disse: eu tenho ento que pagar uma cestabsica? Se eu soubesse que era to barato bater na minha mulherteria batido mais vezes.

    As delegacias do visibilidade ao fato de que a violnciacontra a mulher crime. Os JECrim operam de forma inversa,reprivatizando a violncia domstica. Essas duas instituies,

    criadas com objetivos diferentes, atuam de forma distinta ante oconflito domstico e abrigam agentes com concepesdiferenciadas sobre a mulher e sobre a famlia, como pode serobservado no relato de uma audincia em Campinas:

    [No Frum Regional de Vila Mimosa o porteiro chamou aspartes pelo nome e orientou-as a entrarem na sala deaudincia. A mulher, muito gorda, entra na sala deaudincias, espalhafatosamente, arrastando as cadeiras echamando ateno de todos, que olhavam de maneirajocosa para ela. Em seguida entra o marido. Sentam-se mesa, marido e esposa. O promotor, que conduz a

    audincia, pergunta para a vtima]A senhora quer dar uma chance para ele?[Ela responde prontamente e bem alto]Quero sim!

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    [O marido fala para o promotor]Eu no fiz nada para ela, tudo mentira!

    A mulher no se defende e confirma a desistncia emprosseguir com o caso. As partes assinam o termo de renncia esaem da sala. Logo em seguida, o promotor faz um comentrio aoprocurador do estado: claro que ela ia desistir, quem vai quererficar com essa mulher? Se separar deste, no arruma outronunca!.

    Na atuao desses profissionais durante a audincia deconciliao, observada no JECrim de Campinas, parece que terum marido o desejo natural da mulher, independente do modocomo esse papel social desempenhado. Essa concepo dosdesejos naturais da mulher fica ainda mais evidente nas palavrasde uma advogada de Campinas, atuante nos JECrim:

    Se eu sou advogada do homem, vamos pagar uma cestabsica e acabou. Se eu sou advogada da mulher, vou agirde outra forma. Eu tenho, nos meus trinta anos de

    advocacia, boa formao, no s eu, como vriosadvogados que eu conheo, tento conciliar o casal.Conversar com o marido, conversar com a mulher, eu falo:leva a tua mulher para tomar cerveja, a mulher fala maseu no gosto, aprende a gostar, vai junto com teu marido, teu companheiro! Ele gosta de pescar, vai pescar junto!Cative, ganhe a confiana dele! Porque que vocs noesto se dando bem? Porque eu chego em casa, minhamulher est fedida, cheirando a alho, cebola, desarrumadae coisa e tal! Ento voc tem que chamar a mulher e dizer,Olha, no bem por a. E ela fala Mas como que euvou me arrumar, no tenho tempo. Bom, a parte pior dagente mesmo! Sempre! Ento voc tem que tentar conciliar

    de uma forma que voc cative o seu marido. esse o nicocaminho! No tem outro! fazer com que a mulher use acabea, conquiste o marido, seja a companheira dele ecarregue a pedra sozinha. A ela vai ter um casamentoduradouro, e razovel!

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    A viso estereotipada do significado da conciliao expressapela advogada est em sintonia com a pressa em dar um desfechopara o caso, que parece no merecer uma ateno da justia,porque deveria ser resolvido no cotidiano da vida familiar, quedeve ser preservada esse o desejo de todos, da esposa, dajustia e do marido.

    Em artigo do jornal Zero Hora (21/07/2001:3), aDesembargadora Dra. Maria Berenice Dias, do Tribunal de Justiado Rio Grande do Sul, aponta, com razo, as armadilhas criadaspela necessidade de representao da vtima nos casos de crimesentre casais:

    No foi dada ateno merecida ao fato de a Lei n.9.099/95, ao criar os juizados especiais, ter condicionado odelito de leso corporal leve e culposa representao doofendido. Com isso, omitiu-se o Estado de sua obrigaode agir, transmitindo vtima de buscar a punio de seuagressor, segundo critrio de mera convenincia. Ora, emse tratando de delitos domsticos, tal delegaopraticamente inibe o desencadeamento da ao quando o

    agressor marido ou companheiro da vtima. De outrolado, quando existe algum vnculo entre a ofendida e seuagressor, sob a justificativa da necessidade de garantir aharmonia familiar [grifo nosso], alto o ndice deabsolvies, parecendo dispor de menor lesividade osilcitos de mbito domstico, quase se podendo dizer que setornaram crimes invisveis. Mas tudo isso no basta paraevidenciar que a Justia mantm um vis discriminatrio epreconceituoso quando a vtima mulher.

    No JECrim, no importa a defesa da mulher enquantosujeito de direitos, mas a preservao da famlia e da relao

    marido e mulher. Dessa forma, essa instituio reifica a hierarquiaentre casais de modo a no importunar o trabalho da Justia.Juizes ou promotores, sensveis s agresses e ao modo

    como as mulheres so tratadas por seus companheiros, tendem a

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    repreender o acusado, impondo-se uma espcie de funomissionria, no sentido de estabelecer as regras que devemorientar o convvio entre marido e mulher.

    Durante uma audincia de leso corporal na 1a VaraCriminal do Frum Central de Campinas, aps a vtima termanifestado sua desistncia em prosseguir com o caso, apromotora, sentada de frente para o agressor, olhou-o fixamentee, de modo incisivo, disse: O senhor deveria agradecer suamulher por ter desistido de prosseguir com este caso. Ela estsendo muito generosa com o senhor por no-representar. Nobata mais nela, viu!.

    Os operadores do direito, raramente, reconhecem que esse um crime altamente sexualizado, no qual prevalecem ahierarquia de gnero e os preconceitos, ou seja, que a maioria dasvtimas desses crimes so as mulheres e que so vitimadassimplesmente pelo fato de serem mulheres! Desse modo, aviolncia contra a mulher ganha novamente invisibilidade. Eles que devem resolver o problema deles. S deveriam recorrer sefosse caso de leso grave diz um juiz entrevistado,

    considerando que um problema familiar deve ser resolvido emcasa. A mulher no pensada como sujeito de direitos, diferenteda DDM, onde lhe perguntam se ela ir ou no exercer seusdireitos. O que importa a conciliao do casal, que implica adissoluo da figura de vtima e de ru, em que a vtima estlitigando pela punio de um crime no qual foi lesada. No caso daviolncia entre casais, a famlia interpelada para resolver umproblema que no deveria ter chegado ao mbito do Judicirio.

    Os agentes do JECrimsabem que a justia no pode criar aboa famlia. O importante que esses crimes saiam da esfera doJudicirio para no emperrar o julgamento de crimesconsiderados mais importantes.

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    A conciliao e as economias polticas jurdicas

    Carmem de Campos mostra, com razo, que a ausncia deum paradigma de gnero leva banalizao da violnciadomstica no JECrim e reprivatizao do conflito, porquedevolve o poder ao agressor. No entanto, segundo a autora, a

    Lei 9.099/95no inaugura um procedimento novo, apenas

    desloca a conciliao informal da Delegacia de Polcia parao Poder Judicirio, dotando-lhe de carter formal, por seragora feita frente ao juiz que tem poderes legalmenteconstitudos para tal (Campos, 2002:20).

    Neste artigo, procuramos mostrar que no fluxo do processoda delegacia aos juizados est envolvido um deslocamento muitomaior do que sepoderia imaginar. No se trata apenas de locaisdiferentes em que a conciliao pode ocorrer, da fora do poderlegal de delegados e de juizes ou do poder simblico que cada umdeles exerce sobre a clientela que recorre ao sistema de justia. Aocontrrio, nesse processo h uma mudana radical nos atores

    envolvidos, nas aes descritas e na lgica que orienta a soluodo conflito nelas envolvidos.

    A vtima de sujeito de direitos constituda em esposa oucompanheira; da mesma forma que o agressor passa a ser maridoou companheiro. O crime se transforma em um problema socialou em dficit de carter moral dos envolvidos que, naviso dajustia, pode ser facilmente corrigido atravs do esclarecimento e,nos casos mais difceis, pode ser compensado com uma pequenapena. A lgica que orienta a conciliao nos juizados implica emuma soluo rpida, simples, informal e econmica para os casosque no deveriam ocupar espao no Judicirio, tampouco o

    tempo de seus agentes.As pesquisas sobre as delegacias tm demonstrando que orecurso das vtimas delegacia pode levar a uma conciliao,mesmo que temporria, do casal. Contudo, procuramos mostrar

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    que essas distintas economias morais esto em jogo nas DDM enosJECrim.

    Centrada na questo da violncia contra a mulher, asdelegacias foram criadas para responder a demanda de um sujeitode direitos e suas agentes so capazes de se indignar com o fatode a mulher abrir mo do exerccio destes direitos. J o juiz noJECrim, apesar de ter um poder simblico maior do que o dasdelegadas, no foi formado, no est preparado, nem se esperaque ele esteja atento para a questo da violncia contra amulher, mesmo que, na prtica, esse tipo de criminalidade sejarecorrente, como mostram os dados apresentados sobre o JECrimde Campinas. A percepo do juiz sobre o que a famlia e sobrea importncia do seu papel social orientam as decises tomadasnoJECrim.

    A indignao com o modo pelo qual a violncia domsticaera tratada e a viso de que esse crime merece um tratamentodiferenciado fez com que os movimentos feministas reivindicassemmudanas que levaram promulgao da Lei n 11.340de 07deagosto de 2006, apelidada de Lei Maria da Penha. Como

    descrito no Artigo 1, essa Lei

    dispe sobre a criao dos Juizados de Violncia Domsticae Familiar contra a Mulher e estabelece medidas deassistncia e proteo s mulheres em situao de violnciadomstica e familiar.

    A Lei alterou o tratamento dos crimes de violnciadomstica contra a mulher15 no sistema de justia. Entre asalteraes, num primeiro momento, destacam-se: o aumento dapena mxima, que passa a ser de trs anos de deteno, o queretira essa violncia do rol dos crimes de menor potencial

    ofensivo, no sendo mais enviada aos Juizados EspeciaisCriminais; passa a admitir a priso em flagrante para os casos de

    15Crime disposto no artigo 129, 9, do Cdigo Penal.

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    violncia domstica contra a mulher; impede a aplicao de penade cesta bsica e passa a exigir novamente como antes da Lei9.099/95 a instaurao do inqurito policial. Espera-se que essasalteraes restituam s delegacias prticas que eram realizadasantes da Lei de 1995, criandocondies para que elas possam serexecutadas a contento.

    Os novos Juizados de Violncia Domstica e Familiar contraa Mulher so fruto de uma politizao da justia. Mas, diferentedas DDM, o foco dos Juizados criados pela Lei Maria da Penharecaiu sobre a famlia, sobre a violncia contra a mulher somenteno contexto domstico e familiar. Como ser a atuao dessesjuizados na defesa dos direitos da mulher? Essa questo quemerece ateno. a mulher como sujeito de direitos ou so asformas esperadas no desempenho por homens e mulheres doscript familiar que orientaro as decises dos juizes? Qualquerresposta generalizante seria apressada, dada as diferenas quemarcam o pas e a atuao das diferentes esferas do sistema dejustia. Contudo, a nova Lei est centrada na violncia contra amulher nas relaes de conjugalidade e familiar, retirando do

    mbito dessas instituies a violncia impetrada contra asmulheres, pelo fato de ser mulher, nos espaos pblicos, nasrelaes de trabalho, entre outras.

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