Meditacoes Santo Affonso Maria de Ligorio Tomo II

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I-' ' vi :' MEDITAES PARA TODOS OS DIAS DO ANNO TOMO II

EU ! '

MEDITAESPARA TODOS OS DIAS E FESTAS DO ANNO T I R A D A S DA*S O B R A S A S C T I C A S DE SANTO AFFONSO MARIA DE LIGORIO BISPO E DOUTOR DA SANTA IGREJA PELO P. THIAGO MARIA CRISTINI DA CONGREGAO DO SS. REDEMPTOR VERSO PORTUGUEZA DO P.JOO DE JONG DA MESMA CONGREGAO

TOMO SEGUNDO DESDE O DOMINGO DA PASCHOA AT UNDCIMA SEMANA DEPOIS DE PENTECOSTES INCLUSIVE

V.

FRIBURGO EM BRISGAU (ALLEMANHA) 1921 - HERDER & CIA LIVREIROS-EDITORES PONTIFCIOS BERLIM, CARLSRUHE, COLNIA, MUNICH, VIENNA, LONDRES, S. LUIZ MO.

INDICE DO TOMO II. perseverana . . . . . Quinta-feira. Da Communho sacrlega Pag . . . . . Sexta-feira. Conformidade com a vontade . de Deus a exemplo de Jesus Christus I . . . . . . . . . Sabbado. Appario de Jesus resuscitado 3 6 a sua Me Maria Santssima . 9 11 Segunda semana depois da Paschoa: 14 Domingo. S em Deus se acha a verdadeira paz Segunda-feira. Da 17 caridade fraterna . . . . . . Tera-feira. Vaidade do mundo . . . . . . . 19 Quarta-feira. A pena que ter no inferno 21 24 quem se condemnar por ter perdido a vocao . . Quinta-feira. 27 Jesus no Santssimo Sacramento, o melhor dos amigos Sexta-feira. mister 29 soffrer tudo para agradar a Deus 32 Sabbado. Maria Santissima, modelo de caridade para com o prximo 34 . . . . . . . . . .

Imprimatur. Friburgi Brisgoviae, die 14 lunii 1921. Carolus, Archiepps. I. DOMINGOS, FESTAS E TEMPOS DO ANNO ECCLESIASTICO. Semana de Paschoa: Domingo. A resurreio de Jesus Christo e a esperana do christo Segunda-feira. A resurreio dos corpos no Juizo universal . Tera-feira. No cu goza-se uma felicidade perfeita Quarta-feira. Necessidade da

Esto reservado s todos os direitos.

Terceira semana 37 depois da Paschoa': 39 Domingo. Jesus, o 42 bom Pastor 44 . . . . . 47 Segunda-feira. 49 Motivos que temos de honrar a So Jos Tera-feira. Convivncia de So Jos com Jesus e Maria Quarta-feira. Solemnidade de So Jos Quinta-feira. Da orao depende a nossa salvao Sexta-feira. Da morte........................................ Sabbado. Do amor que So Jos teve a Jesus e Maria S. Affonso, Meditaes. II. a

5 Pag. Quarta semana depois da Paschoa : Domingo. O pensamento da eternidade . . . . . 54 Segunda-feira. Da tibieza . . . . . . . . 57 Tera-feira. O nada dos bens do mundo . . . . . 60 Quarta-feira. A salvao a nica cousa necessria . . . 62 Quinta-feira. A igreja onde est Jesus sacramentado o santurio mais augusto . . . . . . . . . 65 Sexta-feira. Quem ama Jesus Christo deve odiar o mundo . 67 Sabbado. Maria Santssima, modelo de pobreza . . . . 70 Quinta semana depois da Paschoa: Domingo. A tristeza dos Apstolos e as desolaes espirituaes . 72 Segunda-feira. A morte despoja-nos de tudo . . . . 75 Tera-feira. A gloria immensa que gozam no cu os religiosos . 77 Quarta-feira. Remorso do condemnado: Podia salvar-me to facilmente . . . . . . . . . . 8 0 Quinta-feira. A santa Missa um meio seguro para obter as misericrdias divinas . . . . . . . . 83 Sexta-feira. Felicidade de quem se conforma com a vontade de Deus . . . . . . . . . . 85 Sabbado. Poder de Maria Santssima para nos defender nas tentaes . . . . . . . . . . 88 Sexta semana depois da Paschoa: Domingo. As promessas de Deus e a efficacia da orao . . 91 Segunda-feira. Quem deseja a salvao, (deve temer a condemnao . . . . . . . . . . 94 Tera-feira. Infeliz de quem pecca contando com o perdo . 96 Quarta-feira. O dia da desilluso . . . . . . 99 Quinta-feira. Festa da Ascenso de Nosso Senhor Jesus Christo . 1022

Oitavo dia Sexta-feira. O amor um vinculo Nono dia Sabbado. O amor um thesouro que encerra todos os bens . . . . . . . . . . Semana de Pentecostes: Domingo. Amor de Deus para com os homens na misso do Espirito Santo .. . . Segunda-feira. A salvao o negocio mais importante e o mais descuidado . . . . . . . . Tera-feira. A pena dos sentidos no inferno Quarta-feira. Necessidade da observana regular para um reli gipso * Quinta-feira. Respeito devido dignidade sacerdotal . Sexta-feira. Devoo de Santo Affonso Paixo de Jesus Christo ^^jS^pbadp. Maria.Santssima, modelo de castidade Segunda semana depois de Pentecostes: W ^tt^i Festa d Santssima Trindade . . . . . ' \ .-'V Segunda-feira.. O corpo na tumba . . . . . . ifeira. Accusao da alma no juizo particularf

Pag. 119 121

123 126 128 131 134 136 139 142 144 146 149 151 154 157

I

Novena do Espirito Santo : Primeiro dia Sexta-feira. O amor um fogo que abrasa . 104 Segundo dia Sabbado. O amor uma luz que esclarece . 106 Terceiro diaDomingo na oitava da Ascenso. O amor uma agua que apaga a sede . . . 109 Quarto dia Segunda-feira. O amor um orvalho que fertiliza . 111 Quinto dia Tera-feira. O amor um repouso que restaura as foras.......................................... 113 Sexto di Quarta-feira. O amor uma virtude^que fortifica . 115 Stimo dia Quinta-feira. Pelo amor a alma torna-se morada de Deus . . . . . . . . 117

160 ;.'. Sagrado Corao de, 162 165 Jesus; fejiarta eira Corao amvel 167 170 de Jesus |ii;^W^Si'-Slmnidade d Corpo de Deus ^'^eXt'173 f'efra-; Corao amante de 175 Jesus . IjS^bbd. Corao de Jesus, suspirando por ser v ' ........................ 178 ^Segundo Domingo depois de Pentecostes: 180 Corao i83 P actq de Jesus......................... Qua S'ts^*|p.4 ~ Segunda-feira. Corao Q misericordioso de Jesus divi ^^wp|no dia . Tera-feira. na Liberalidade do Corao de Jesus . ^^^ftv ;^ltavo di Quarta-feira. . Corao agradecido de Jesus fggg; -'fjio . diaQuinta-feira. Corao de Jesus . desprezado . Terceira semana depois de . Pentecostes: ||P||;' Sexta-feira. Festa . . do Sagrado Corao de Jesus . . Sabbado. Corao de Maria, imagem . fiel do Corao de Jesus 188 S Quarta semana depois de S Pentecostes: ................................................................Do Q S mingo. A ovelha perdida e o Pastor S divino . S Segunda-feira, Devemos morrer....... Tera-feira. Da pureza de inteno e x . . . .. t a s e m a n a d e ps a r

o i s d e P e n t e c o s t e s : D S T Q Q S S S t i m a s e m a

na depois de Pentecostes: Domingo. As turbas famintas e a vaidade dos bns terrestres . 232 Segunda-feira. Importncia do ultimo momento da vida . . 235 Tera-feira. A paz que Deus faz gozar aos bons religiosos . 237 Quarta-feira. Quem ama a Deus, suspira por vl-o no cu . 240 Quinta-feira. Jesus no Santssimo Sacramento faz as delicias das almas desprendidas . . . . . , . . 242 Sexta-feira. Da vida penosa de Jesus Christo . . . . 244 Sabbado. Maria Santssima a medianeira dos peccadores para com Deus . . . . . . . . . 247 Oitava semana depois de Pentecostes: Domingo. Os falsos prophetas e a necessidade das boas obras . 250 Segunda-feira. Valor do tempo . . . . . 252 Tera-feira. Temos de escolher entre uma eternidade feliz e outra infeliz . . . . . . . . . . 255 Pag. Quarta-feira. Angustias do peccador moribundo . . . . 257 Quinta-feira. Da preparao para a santa communho e da aco de graas . . . . . . . . . 260 Sexta-feira. A meditao da Paixo de Jesus

Pena de damno Christo uma Importncia do que os rprobos escola ultimo fim soffrem no do divino . . . . . inferno amor . . 288 311 . . . . Tera-feira. A Quinta-feira. A . . 262 morte dos Santos Missa um Sabbado. Da preciosa sacrifcio de confiana que . . . . agradecimento devemos ter em 290 proporMaria, como Quarta-feira, cionado nossa Condies da divina Me............................................. orao . . . beneficncia . 265 . . . . . . . . 293 Nona semana Quinta-feira. Da 3'4 orao feita depois de Sexta-feira. Das diante do Pentecostes: humilhaes e Santssimo Domingo. O feitor desprezos que Sacramento . infiel e o dia das 296 Jesus Christo contas . . . Sexta-feira. O soffreu . 267 abandono de 317 Segunda-feira. Jesus sobre a Cruz , bado. a Misericrdia de e a pena de Santssima, Deus em chamar o damno no modelo de peccador inferno . . penitencia humildade , . . . . . ' . . . . . . . 319 298 . . Sabbado. Maria 269 II. DIVERSAS Santssima o Tera-feira. FESTAS DE refugio dos Remorso do peccadores . NOSSO SENHOR, condemnado: Eu 301 DE MARIA me condemnei por um Dada SANTSSIMA, DOS Undcima . . . . SANTOS semana depois . . . . APSTOLOS E DE de . 272 OUTROS SANTOS. Pentecostes: Quarta-feira. A Pag. vida dos Domingo. O III. DEVOO A religiosos mais Pharisu e o SANTO semelhante de Publicano........................................... AFFONSO. Jesus 303 MEDITAES, Christo.......................... Segunda-feira. NAS QUAES O 275 Malcia do SANTO Quinta-feira. peccado mortal................................... DOUTOR Santo 306 PROPOSTO Affonso, Tera-feira. A COMO MODELO alma culpada modelo de DAS DOZE diante do Juiz devoo a VIRTUDES divino . . . Jesus sacraFUNDAMENTAE 309 mentado . . S. Quarta-feira. . . . . . . . . xxvi de Abril. Offerecimento do 277 Festa de Nossa corao a Maria Sexta-feira. Senhora do Bom Santssima . Desejo de Jesus Conselho . 336 de soffrer por ns 323 I de Junho. Sobre . . . . xxx de Abril. a devoo ao 280 Motivos para Sagrado Corao Sabbado. O celebrar o mez de de Jesus devoto de Maria . . 338 Maria 325 XXI Santssima I de Maio. Festa de Junho. Festa deve imitardos apstolos So de So Luiz lhe as virPhilippe e So Gonzaga . . tudes .......................................... Thiago . . . 283 328 341 vi de Maio. Festa Domingo antes Decima semana de So Joo ante a do dia xxiv de depois de Porta Latina , Junho. Festa de Pentecostes: . Nossa Senhora Domingo. A runa 330 do Perpetuo de Jerusalm e o xxvi de Maio. Soccorro . fim de uma alma Festa de So . . . . descuiPhilippe Neri . . dada .................................................. . . . . 343 285 333 ' XXIV de Junho. XXXI de Maio. Festa de So Joo Segunda-feira.Mari

B e x e 1 m Je su s s u Ch b ris s to t . i . t . u . i . . . o . . s 35 m 1 e 2 d i P ....................... t 35 a 9 x X e M s M q M u M e t I a V l . v M e E z D c I o T n A v e n E h S a D m E R m E e S n E o R s V a A o , s d e e u q e u s e t c a a d d o a o u u m d i p s o p d o e s r i s e o r . v i P S r T Q stor

Oitava Meditao. Do grande meio para vencer as

tentaes 417

.

a d o C o r a o , r e s e r v a t r i o d e g r a a s M e z d e M a i o . O C o r a o

APPENDICE. I . M E D I T A E S P A R A A S P R I M E I R A S S E X T A S F E I R A S DO MEZ. M e z d e A b r i l . O S a g r

u n t r i a M e z d e J u n h o . A p o s t o l a d o p e r p e t u o d o C o r a o d e J e s u s . M e z d e J u l h o . C o

d e J e s u s , v i c t i m a v o l

r a o d e J e s u s , m o d e l o d e h u m i l d a d e I I . M E D I T A E S P A R A O D I A X X V D E C A D A M E Z S X X V d e A b r i l . J e s u s , o m e d i c o d a s n o s s a s

O B R E O M Y S T E R I O D A E N C A R N A O D O V E R B O

a l m a s x x v d e M a i o . P o b r e z a d o M e n i n o J e s u s . . . . . X X V d e J u n h o . O F i l h o d e D e u s t

o m o u s o b r e s i a s n o s s a s i n i q u i d a d e s X X V d e J u l h o . J e s u s m o d e l o d e o b e d i n c i a . . .

. .

I. DOMINGOS, FESTAS E TEMPOS DO ANNO ECCLESIASTICO. (Desde o Domingo da Paschoa at n Semana de Pentecostes inclusive.) ; > DOMINGO DA RESURREIO. A resurreio de Jesus Christo e a esperana do christo. '" "^Hac dies quam fecit Dominus: exultemus et laetemur inca > ... ' *Bste.f''' dia que fez o Senhor; regozijemo-nos e alegremo-nos : ' , nelle (Ps. 117, 24). i?)t/^a^.^aambs um. acto de f viva na resurreio de Jesus Christo ; ai^J^^i^^^l^.'^^'.Jhe beijar as chagas glorificadas, B^^^ifB^^'^1^1^^0 ^ sepul* vencedor da morte WIBlMm^^^^^^ti(\ seguida que a resurreio de Jesus o ^^^.n^l^wiyemos nossa esperana, e ganhemos animo ^'ia as tribulaes da vida presente. Lembremofe;':J.r;esustitarmos gloriosamente com Jesus Christo, piJ>ft!'-com elle a todos os affectos terrestres.t : 0

-j.'-!.IjraHTTe fnysterio que em todo o tempo paschal, especialmente no dia de hoje, deve occupaE*as calmas nir.tcs de'Deus, e enchei-as de dulcssima esperana, afelicidade de,Jesus resuscitado. J meditamos que Jesus, no tempo de sua Paixo, perdeu inteiramente as quatro espcies d bens que o homem pode possuir na terra. Perdeu os vestidos at extrema nudez; perdeu a? reputaro pelos deprezos majs abominveis; perdeu a florescente sade pelos maus tratos; perdeu finalmente vida preciosssima pela morte mais atroz que se pode imaginar. Agora porm, sahindo vivo do fundo do sepulcro, recebe com lucro abundantssimo tudo quanto perdeu. S, Affouao, McditaSes. It. j:

1

O que era pobre, eil-o feito riqussimo e senhor de toda a terra. O que a si prprio se chamava verme e opprobrio dos homens, eil-o coroado de gloria, assentado direita do Pae. O que pouco antes era o Homem das dores e provado nos soffrimentos, eil-o dotado de nova fora e de uma vida immortal e impassvel. Finalmente o que tinha sido morto do modo mais horrvel, eil-o resuscitado pela sua prpria virtude, dotado de subtileza, de agilidade, de clareza, feito as primcias de todos os que dormem com a esperana de resuscitarem tambm um dia imitao de Christo: Christus resurrexit a mortuism> primitiae dormientium1. Detenhamo-nos aqui para tributar a nosso Chefe divino as devidas homenagens. Faamos um acto de f viva na sua resurreio, e cheguemo-nos a elle para beijarmos em espirito os signaes das suas cinco chagas glorificadas. Alegremo-nos com elle, por ter sahido do sepulcro, vencedor da morte e do inferno, e digamos com todos os santos: O Cordeiro que foi immolado por ns, digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a fortaleza, a honra,; a gloria e a beno. II. Regozijemo-nos com Jesus Christo; mas regozijemo-nos tambm por ns mesmos, porquanto a sua resurreio o penhor e a norma da nossa, se ao menos, como diz So Paulo, morrermos primeiro interiormente ao affecto das cousas terrestres: Si commortui sumus, et convivemus 3 3 Se morrermos com elle, com elle tambm viveremos. O doce esperana! Vir a hora em que os mortos ouviro a voz do Filho de Deus *; e ento pelo poder divino retomaremos o mesmo corpo que agora temos, mas formoso e resplandescente como o sol. Ns tambm resuscitaremos! A esperana da futura resurreio o que consolava o santo Job no tempo de sua provao. Eu sei, disse elle, 1 i Cor. 15, 20. Apoc. S, 12. 2 Tim. 2, I I , Mo. 5, 28. e ns, "fligamos o mesmo no meio das cruzes e tribulaes da vida presente: eu sei que o meu Redemptor vive, e que no derradeiro dia surgirei da terra; e serei novamente revestido da minha pelle, e na minha prpria carne verei a meu Deus... esta minha esperana est depositada no . meu peito. Meu amabilissimo Jesus, graas Vos dou que pela vossa morte adquiristes para mim o direito posse de to grande bem, e hoje pela vossa resurreio avivaes a minha esperana. Sim, espero resurgir no ultimo dia, glorioso como Vs, no tanto por meu prprio interesse, como para estar para sempre unido comvosco, e louvar-Vos e amar-Vos eternamente. verdade que pelo passado Vos offendi com os meus peccados; mas agora arrependo-me de todo o corao e pela vossa resurreio peo-Vos que me livreis do perigo de recahir na vossa desgraa: Per sanctam resurrectionem tuam, libera me, Domine- Pela vossa santa resurreio, livrae-me, Senhor^. E Vs, Eterno Pae, que no dia presente nos abristes a entrada da eternidade bemaventurada, pelo triumpho que o vosso Unignito alcanou sobre a morte: augmentae com o vosso auxilio os2 3

desejos que a vossa inspirao nos instilla. 1 2 Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Christo e de Maria santssima. SEGUNDA-FEIRA. A resurreio dos corpos no Juizo universal. Canet tuba, et mortu resurgent incorrupti; et nos immutabi-murA trombeta soar, e os mortos resuscitaro incorruptveis, e ns seremos transformados (l Cor. 15, 52). Sumviario. ~ um ponto da nossa f que todos ns resurgiremos; porm o todos d maneira igual, mas cada um segundo a vida que tiver levado em terra. Felizes de ns,' s agora nos applicarmos mortificao -s---...._ _n

1 Iob 19, 25. Or. fesli curr.2

1

do nosso corpo, afim de guardai-o submisso ao esprito, Retomal-o-eraos resurgido segundo a medida da idade plena, de Christo, c dotado de dons perfeitssimos. Exceder o sol em claridade, na agilidade os ventos, e em subtileza e impassibilidade ser igual aos anjos. I. Porque o ultimo fim do homem a beatitude e esta no se pode gozar na vida presente, o Senhor dispoz que se possa obter na outra, onde ser eterna. O homem, porm, no dizer de Santo Thomaz, no seria plenamente feliz, se a alma no se unisse ao corpo, porquanto, sendo o corpo parte natural da natureza humana, a alma delle separada seria apenas uma parte do homem e no o homem inteiro. Por isso que no derradeiro dia haver a resurreio universal: Canet tuba, et mortui resurgent.A trombeta soar, e os mortos resuscitaro. Ao som da trombeta as almas formosas dos bemaven-turados descero do cu, para se unirem a seus corpos, com os quaes serviram a Deus. Resuscitaro, como diz So Paulo, em estado de homem perfeito, segundo a medida da idade plena de Christo*. Alm de serem dotados de sentidos perfeitssimos, os quaes tero cada qual a sua recompensa particular, sero ornados de

quatro qualidades ou dotes. Em primeiro logar os corpos dos bemaventurados sero impassveis; por isso no somente estaro livres da morte e da corrupo, mas tambm de qualquer leso, de sorte que, se fossem enviados ao inferno, nenhuma pena poderiam padecer.Em segundo logar sero subtis, isto , como que espiritualizados, de forma que a alma governar o corpo maneira de espirito, porque este lhe obedecer perfeitamente/' Em terceiro logar os corpos dos bemaventurados sero geis, podendo ser movidos e levados pela alma para qualquer parte, sem obstculo, com mxima e quasi imperceptvel ligeireza. O quarto dote finalmente ser a claridade, em virtude da qual o corpo glorificado despedir de si uma luz admirvel, muito mais brilhante do que a do sol, mas sem deslumbrar a vista. Se, alm disso, algum tiver dado a vida por Jesus Christo, ou conservado intacta a aucena da puteza, ou pela pregao tiver sido para outros mestres da salvao, receber a aureola de Martyr, de Virgem, ou de Doutor. Feliz daquelle que, mortificando-se ' na vida presente, fr digno de receber um dia em seu corpo todos esses dons, que agora nem 1

sabemos avaliar devidamente I II. Ecce mysterium vobis dico: omnes quidem resurgemus, sed non omnes immutabimurxEis que vos digo ,um mysterio: todos ns resuscitaremos, mas nem todos seremos mudados. Palavras terrveis, mas verdadeiras! Porquanto, como Jesus Christo mesmo disse, posto que todos os que estiverem nos sepulcros, tenham de resuscitar ao ouvir a voz do Filho de Deus, todavia haver entre elles grande differena. Os que obraram o bem, sahiro para a resurreio da vida; mas os que obraram o mal, sahiro resuscitados para a 2 condemnao . Minha alma, certo que naquelle dia tu tambm re-

suscitars; mas qual ser a tua sorte?... achar-te-s no numero dos escolhidos ou dos rprobos t ... Se queres estar entre os primeiros, mister, como diz o Apostolo, que, assim como Christo resuscitou dos mortos pela gloria do Pae, tambm ns andemos em novidade de vidas. Esta resurreio espiritual se deve manifestar na reforma de nossa condueta. Por isso o espirito deve oceupar-se s com o Pensamento da eternidade; os olhos s se devem abrir Para as cousas celestiaes; s mos s devem servir para praticar o bem, e os nossos afictos devem seguir alegremente o caminho dos mandamentos divinos. Numa palavra, como diz o mesmo Apostolo: Si consurrexistis cum Christo,

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* Io. 5, 29. Roni. 6, 4.

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quae sursum sunt, quaerite . . . quae sursum sunt sapite, non quae super terram tSe resuscitastes com. Christo, buscae as cousas que so l do alto... tende gosto pelas cousas que so l do alto, no pelas que esto na terra-. Meu amabilissimo Jesus, creio na resurreio da carne no ultimo di, porque Vs a revelastes; e porque a creio, bem como as demais verdades que a Igreja me prope para crer, quizera dar por ella o meu sangue e a minha vida. Ah, Senhor, pela vossa santa resurreio, dae-me a graa de mortificar aqui na terra o meu corpo; fazei que viva casto e longe de todos os prazeres prohibids, afim de ter um dia parterna resurreio gloriosa dos escolhidos. Amo* Vos, tJesus, 'meu Deus, amo-Vos sobre todas as cousas, de todo o corao. Peza-me de Vos haver offendido. No permittais que Vos torne a offender; fazei que Vos ame sempre, e depois, disponde de mim segundo o vosso agrado. \Doce Corao de Maria, sede minha salvao. (*VIII 1043.)1

*Saciar-me-ei, quando ap-parecer a tua gloria (Ps. 16, 15). Summario. Posto que no mundo se encontrem muitas cousas formosas, no so todavia perfeitas, e sempre deixam alguma cousa para desejar. Se, porm, tivermos a ventura de entrar no cu, o nosso corao estar perfeitamente satisfeito nessa ditosa ptria. Alli nada haver que possa desagradar, e haver tudo aquillo que se possa desejar. Ah, meu Jesus! peo-Vos o cu, no tanto para Vos gozar, como para Vos amar de todo o corao. I. So Bernardo, falando do paraso, diz: homem, se queres saber o que seja a ptria bemaventurada, fica sabendo que alli nada ha que desagrade, e que se encontra tudo aquillo que se possa desejar: Nihil est quod nolis; totum est quod velis. Se bem que nesta terra haja alguma cousa que agrada aos nossos sentidos, quantas cousas no ha que affligem ? Se agrada a luz do dia, afflige a escurido da noite. Se agradam a amenidade da primavera, a abundncia do outono, affligem o frio do inverno e o calor do vero. Accrescentae a isso os soffrimentos na enfermidade, 1 Apoc. 17, 4.

TERA-FEIRA. No cu goza-se uma felicidade perfeita. Satiabor cum apparuerit gloria tua

as perseguies da parte dos homens, as privaes da pobreza. Accrescentae as angustias interiores, os temores, as tentaes dos demnios, as duvidas da conscincia, a incerteza da salvao. Mas quando os bemaventurados entram no cu, no tero mais nada a soffrer: Absterget Deus omnem lacrimam ab oculis eorum*. Deus enxugar de seus olhos todas as lagrimas derramadas sobre a terra; e no haver mais morte, nem lucto, nem clamor, nem mais haver dr; porquanto as cousas d'outrora desappareceram. No cu no ha doena, nem pobreza, nem incommodos. Deixam de existir a alternao dos dias e das noites, do frio e do calor; um dia perpetuo e sempre sereno, uma primavera continua e sempre deliciosa. Col, 3, 1.

Alli no ha perseguies, nem cimes; neste reino de amor todos os habitantes se amam mutua e ternamente e cada qual goza da ventura dos outros, como se fosse a prpria. No ha receios, porque a alma confirmada na graa j no pode peccar; nem perder a seu Deus. O meu Jesus, pelo sangue que derramastes por mim, fazei-me digno de entrar um dia na ptria bemaventurada. No mereo o paraso, mas o inferno, porque Vs hei offendido tantas vezes pelos meus peccados; porm, a vossa morte me faz esperar de possuil-o um dia. II. Totum est quod velis. No cu no somente nada ha que desagrade, mas encontra-se tudo quanto se possa desejar. Alli tudo novo e saciar os nossos desejos:

1 Apoc. 18, 4.1 Apoc. 18, 4.

Ecce nova facio omnia1 Eis que fao novas todas as , cousas. Os olhos se deslumbraro com a vista daquella cidade, cuja belleza perfeita. Que maravilha nos no causaria a vista de uma cidade cujas ruas fossem caladas de cristal, cujas casas fossem palcios de prata, ornados de cimalhas de ouro e de festes de flores 1 Oh, quanto mais bella ainda a cidade celeste! Que delicioso no ser vr todos os seus habitantes vestidos com pompa real, porque todos effectivamente so reis, como os chama Santo Agostinho: Quot eives, tot reges! Que ser o ver a Maria, que apparecer mais bella que todo o paraisol Que ser o vr o Cordeiro divino! Um dia Santa Theresa viu apenas uma mo de Christo, e ficou arrebatada em xtase vista de to grande belleza. Os perfumes suavissimos e incomparveis do paraiso regalaro o olfacto. O ouvido ser deleitado pelas harmonias celestes. Um anjo deixou um dia ouvir a So Francisco um nico som da musica celeste, e o Santo julgou morrer de contentamento. O que no ser ouvir todos os santos e todos os anjos cantarem em coro os louvores de Deus? In saecula saeculorum laudabunt

te'*Elles te louvaro pelos sculos dos sculos-. O que no ser ouvir Maria celebrar as glorias de Deus! A voz de Maria, diz So Francisco de Sales, no cu o que num bosque a do rouxinol, que vence a de 'todas as aves. Numa palavra, o paraiso a reunio de todos os gozos que se podem desejar. 1 Apoc. 21, 5. 2 Ps. 83, 5. O meu Deus! eu desejo e Vos peo o paraiso, no tanto para Vos gozar, como para Vos amar. Supplico-Vos, para gloria de vossa misericrdia, fazei que os bema-venturados vejam abrasado em vosso amor um peccador que tantas vezes Vos offendeu. Tomo a resoluo de ser d'aqui por diante todo vosso e de no pensar seno em Vos amar. Assisti-me com a vossa luz e a vossa graa, que me d fora para executar esta resoluo que Vs mesmo pela vossa bondade me inspiraes. Maria, vs que sois a Me da perseverana, impetrae-me a fidelidade em minha !| promessa. ( TI 133.) QUARTAFEIRA. Necessida de da

persevera na. Qui autem perseveraverit usque in finem, hic salvus erit Quem perseverar at o fim, ser salvo (Matlh. 24, 13). Summario, Meu irmo, puzeste agora mos obra; comeaste a viver bem. D por isso graas ao Senhor. Lembra-te, porm, que ao que comea, a recompensa apenas promettida, mos dada somente ao que persevera at ao fim, Quantos comearam bem, talvez melhor do que tu, mas depois acabaram mal e agora ardem no inferno I Para obteres a perseverana, deves em primeiro logar pedil- a Deus, e de teu lado deves empregar os meios mais apropriados. I. So muitos os que comeam, diz So Jeronymo, mas so poucos os que perseveram. Um Saul, um Judas, um Tertulliano

comearam bem, mas acabaram mal, porque no perseveraram no bem. Devemos saber, continua o mesmo Santo, que Deus no pede somente o comeo de vida boa, mas quer tambm o fim: o fim que alcanar a recompensa. Diz So Boaventura que a coroa se d somente perseverana: Sola perseverardia coronatur. Pelo que So Loureno Justiniani chama a perseverana porta do cu: coeli ianuam. Ora, no poder entrar no paraiso quem no dr com a porta. Agora, meu irmo, abandonaste o peccado, e crs com razo ter recebido o perdo. s, pois, amigo de Deus; sabe todavia que no ests ainda salvo. E quando estars salvo ? Quando tiveres perseverado at ao fim: Qui perseveraverit usque in finem, hic salvus erit. Comeaste a viver bem: agradece-o ao Senhor; mas avisa-te So Bernardo que a recompensa celeste somente promettida

IO

SEM ANA DE 1'AS CHO A.

Q UI N TA V EI U A.

ao que principia, mas somente dada ao que persevera. No basta olhar s ao fim: preciso ir aps elle at alcanal-Oj segundo a expresso do Apostolo: Sic currite, Ut comprehendatis1 Correi de tal modo que o alcanceis. J metteste a mo ao arado, principiaste a viver bem; mas agora, mais do que nunca, teme e treme: Empenhaevos na obra de vossa salvao com temor e tremor 2, diz o Apostolo. E porque? Porque se olhares para trs o que no permitta Deus! e voltares para a vida de peccado, Deus te declarar excludo do cu: Nemo mittens manum ad aratrum et respiciens retro, aptus est regno Dei3 Nenhum que mette a sua mo ao arado .e olha para trs, apto para o reino de Deus. II. A perseverana to necessria para a salvao, um dom todo gratuito de Deus, que ns nunca podemos merecer. Mas, como ensina Santo Agostinho, obtela-o da misericrdia divina todos os que lh'a pedem e por seu lado empregam os meios prprios para levar uma vida bem ordenada. S queres perseverar e salvar-te, frequenta os santssimos Sacramentos; faze todos os

dias uma meditao e ouve uma santa missa; visita todos os dias a Jesus sacramentado e examina a tua Conscincia. Tem sobretudo grande devoo a Nossa Senhora, que se chama a Me da perseverana. Consagra-te tambm muitas vezes inteiramente aq Senhor, e dize-lhe com ternura, especialmente de manh, antes de te dares s occupaes: 1 i Cor. 9, 24. 2 Phil. 2, 12, Luc. 9, 62. f Deus eterno, eis-me aqui prostrado em presena de vossa infinita majestade, e adorando/Vos humildemente, consagro-Vos todos os meus pensamentos, palavras e obras deste dia, e tenho teno de fazer tudo por vosso amor, para vossa gloria, para cumprir a vossa divina vontade, para Vos servir, louvar, e bemdizer, para ser illumi-nado acerca dos mysterios de nossa santa f, para assegurar a minha salvao e esperar na vossa misericrdia, para satisfazer vossa divina justia pelos meus muitos e gravssimos peccados, em suffragio das almas santas do purgatrio e para obter para todos os peccadores a graa de uma verdadeira converso.3

Numa

palavra,

tenho

a

inteno de fazer tudo em unio com as intenes purssimas que em sua vida tiveram Jesus e Maria, todos os santos do cu e todos os justos da terra. Quizera que me fosse possivel assignar esta minha inteno com o meu prprio sangue e repetila a cada instante tantas vezes, quantos so os instantes de toda a eternidade. Recebei, meu Deus amado, esta minha boa vontade; dae-me a vossa santa beno com a graa efficaz de nunca commetter um peccado mortal em toda a minha vida, e particularmente neste dia, no qual desejo e tenciono ganhar todas as indulgncias que possa ganhar, e assistir a todas as missas que hoje vo ser celebradas no mundo inteiro, applicando-as todas em suffragio das almas santas do purgatrio, afim de que sejam livradas daquellas penas. Assim seja,1 (*II 141.) * QUINTA-FEIRA. Da Communho sacrlega. Qui manducat et bibit indigne, iudicium sibi manducat et bibit, non diiudicans corpus DominiO que come e bebe indignamente,

come e bebe para si a condemnao, no fazendo discernamento do corpo do Senhor (1 Cor. I I , 29). Summario. Antes de te approximares da Mesa eucharistica, examina sempre a tua conscincia, e se por desgraa tiveres remorso de alguma falta grave, purifica a tua alma pela confisso sacramental. Quanto s culpas veniaes, esfora-te por tiral-as de tua alma, ao menos as que forem ' Indulg. de ioo dias cada dia, e indulgncia plenria para quem .a recitar durante um mez inteiro, com tanto que se confesse, commungue, ore segundo as intenes do Summo Pontfice. deliberadas, e afasta de ti tudo o que nSo seja Deus. Ai daquelle que communga indignamente! Torna-se ru do Corpo e do Sangue de Jesus Christo, e portanto come-o e bebe-o para a sua prpria condemnaao.t

e

I. Consideremos o enorme peccado que commette aquelle que se atreve a chegar-se sagrada Mesa com peccado mortal na alma. Este peccado to enorme, que So Joo Chrysostomo, comparando-lhe todos os demais, no acha outro igual, e diz que quem o commette,

especialmente sendo sacerdote, muito peior do que o prprio demnio: Multo daemonio peior est qui, peccati conscius, accedit ad altare. So Pedro Damio explica a razo dizendo: Se com os outros peccados offendemos a Deus em suas crea-turas, com este offendemol-o em sua prpria pessoa. Que dirias do perverso que tirando a sacrosanta Hstia da Ambula sagrada, a atirasse a um vil monturo? Peior do que isso, diz So Vicente Ferrer, faz aquelle que tem a ousadia de commungar sacrilegamente; porque, de certo modo, attenta contra o corpo de Jesus Christo, obriga esta victima innocente a morar em seu corao cheio de corrupo, entrega o Cordeiro immaculado nas mos dos demnios que o insultam da mais horrenda maneira. Pelo que Santo Agostinho compara os sacrlegos aos prfidos Judeus, que crucificaram o nosso Redemptor. Com esta differena, porm: que os Judeus crucificaram o Senhor da gloria emquanto era terrestre e mortal, e os sacrlegos crucificam-no agora que reina no cu; aquelles s uma vez se atreveram a crucifical-o, estes renovam o

deicidio frequentes vezes; aquelles se tinham declarado inimigos figadaes de Christo, estes trahem-no ao mesmo tempo que, pelo mentos exteriormente, o reconhecem por seu Deus, simulando reverencia e devoo, e imitando a Judas, abusam do signal de paz: Osculo Filium hominis tradis 1 Com um beijo entregas o Filho do homem. disso que Jesus se queixa sobretudo, pela bocca de David: Si inimicus meus maledixisset mihi, 1 sustinuissem t utique . Se um inimigo, parece dizer Jesiis Christo, me tivesse ultrajado, eu o supportaria com menos pena; mas tu, meu intimo, meu ministro e prncipe entre o, povo; tu, a quem dei tantas vezes a minha carne para sustento: tu me vendes ao demnio por um capricho, por uma vil satisfaco, por um punhado de terra? II. Mas ai do sacrlego! ai de quem tem a ousadia de tornar-se ru do Corpo e do Sangue de Jesus Christo, chegando-se. indignamente Mesa sagrada 1 Falando o Senhor com Santa Brigida a respeito daquelles infelizes, repetiu-lhe as palavras proferidas com relao ao prfido Judas: Bonum erat ei, si natus non fuisset homo Me2

Seria melhor para elles, se nunca houvessem nascido. Sim, porque, como diz So Paulo: Quem come este po e bebe este clix do Senhor indignamente, come-o e bebe-o para sua prpria condemnaao: iudicium sibi manducai et bibit. Meu irmo, afim de que no te succeda tamanha desgraa, segue o aviso do mesmo Apostolo: Probet autem seipsum homos Examine-se,pois, a si mesmo o homem. Examina a tua conducta, e se a conscincia te accusar de alguma grave culpa, purifica-a por meio de

uma boa Confisso sacramental, antes de tomar o alimento da vida eterna. Quanto s culpas veniaes, deves tirar da alma ao menos as commttidas deliberadamente, e expulsar do corao tudo que no Deus. o que, na interpretao de So Bernardo, significam as palavras que Jesus Christo disse aos apstolos, antes de lhes dar a c$mmunho na ultima ceia: Qui ltus est non indiget nisi ut pedes lavet * Aquelle que est lavado, no tem necessidade de lavar seno os ps.

1

1 ' 54, 13. Matth. 26, 24. 1 Cor. ti, 28. Io. 13, 10.Ps

2 3

*

Meu dulcssimo Jesus, oh! pudesse eu lavar com minhas lagrimas, e at com meu sangue, as almas infelizes em que o vosso amor to ultrajado no santssimo Sacramento! Oh, pudesse fazer com que todos os homens se abrasem em vosso amor! Mas, se isto no me concedido, desejo ao menos, Senhor, e proponho visitar-Vos muitas vezes e receber-Vos em meu corao, para Vos adorar, como de presente o fao, em reparao dos desprezos que recebeis dos homens neste divinssimo mysterio. Pae Eterno, acolhei esta fraca homenagem, que hoje Vos rende o mais miservel dos homens, em reparao das injurias feitas a vosso divino Filho sacramentado; acolhei-a unida com a honra infinita que Jesus Christo Vos deu sobre a Cruz e * Vos d ainda,todos os dias no santssimo Sacramento. E vs, miiih Me Maria, obtende-me a santa perseverana. (*III 51.) SEXTA-FEIRA. Conformidade corri a vontade de Deus a exemplo de Jesus Christo. Descendi de coelo, non ut faciam voluntatem meam, sed volun-tatem eius qui misit meEu desci do cu, no para fazer a

minha vontade, mas a vontade daquelle que me enviou (Io. 6, 38). : Summario. to agradvel a Deus o sacrifcio da nossa prpria vontade, que Jesus Christo desceu sobre a terra para nos ensinar a maneira de o. fazer, e em toda a sua vida no fez outra cousa seno dar-nos disso as mais sublimes lies, com as suas palavras e com os seus exemplos. Eis, portanto, o que devemos ter em mira em todas as nossas aces: conformar a nossa'"'Vontade com a divina, especialmente no que mais repugna ao amor prprio. Vale mais um Bemdito ' , seja Deus, dito nas adversidades, do que mil agradecimentos na prosperidade. I. certo que a nossa salvao consiste em amar a Deus, nosso supremo Bem; porque a alma, que no o ama, j no vive, mas est morta1. A perfeio, porm, do amor consiste em conformar a nossa vontade com a 1 1 Io. 3, 14;,. divina; pois que, como diz o Areopagita, o efeito prkv ipal do amor unir as vontades dos que se amam, de sorte que no tenham seno um s corao e uma s vontade. isto o que antes de mais

nada com as suas palavras e com os seus exemplos veiu ensinar-nos Jesus Christo, que nos foi dado por Deus tanto para ser nosso Salvador como nosso modelo. Pelo que o Apostolo escreve que as primeiras palavras de Jesus, ao entrar no mundo, foram estas: Ecce venio ut faciam, Deus, voluntatem tuam 1 Eis que venho para fazer, Deus, a tua vontade. Meu Deus, recusastes as hstias e oblaes dos homens; no Vos agradaram os holocaustos que Vos offereciam pelos seus peccados. Quereis que Vos sacrifique morrendo este meu corpo, que Vs mesmo me haveis dado. i-me aqui, Senhor, estou prompto para fazer a vossa santssima vontade. No correr de sua vida Jesus Christo tem manifestado diversas vezes a sua submisso e conformidade de vontade, dizendo: Eu desci do cu no para fazer a minha vontade, seno daquelle que me enviou. Quiz que conhecssemos o grande amor a seu Pae pel-o vr ir morte por obedincia vontade deste. Por isso disse aos apstolos: Para que conhea o mundo que amo ao Pae, e assim como me ordenou o Pae, assim fao: Levantae-vos; vmo-nos d'aqui2. Depois no horto de

Gethsemani, parece que o Senhor, Qppresso pelo temor, pelo ahhorrecimento e pela tristeza, no sabe fazer outra orao seno esta: Meu Pae, no seja como eu quero, mas sim como tu 8. Meu Pae, se no pode passar est\- clix sem que eu o beba, faa-se a tua "vontadei. Numa palavra, to grande a excellencia da conformidade com a vontade de Deus, e Jesus Christo 1 Hebr. 10, 9.2 3

39. 4 Malth. 26, 42. * exige to rigorosamente que a pratiquemos, que protesta i ter por seus discpulos somente aquelles que cumprem a vontade divina *. II. Se agrada tanto o Deus o sacrifcio de nossa vontade, que enviou terra seu prprio Filho para nos ensinar a maneira de a sacrificarmos, tinha razo o santo abbade Niio de dizer que nas nossas oraes no devemos pedir a Deus que faa o que ns queremos, mas que nos d a graa para bem fazermos o que elle quer. a isso que se devem dirigir todos os nossos desejos, devoes, meditaes e communhes: o cumprimento da vontade divina, especialmente naquillo

Io. 14, 31. Malth. 26,

que repugna mais ao nosso amor prprio. Lembremo-nos sempre do que costumava dizer o Bemaventurado Joo de Avila: Um s Bemdito seja Deus," nas adversidades, vale mais do que mil agradecimentos na prosperidade. Toda a minha desgraa, meu Deus, foi no querer sujeitar-me no passado vossa santa vontade. Detesto e amaldioo mil vezes esses dias e momentos em que, para seguir a minha vontade, me oppuz vossa, Deus de minha alma. Eu Vol-a consagro agora sem reserva e quero unir esta minha offerta que vosso divino Filho fez de si mesmo e continua a fazer sobre os nossos altares. Recebei-a, meu Senhor, e ligae-me de tal modo ao vosso amor, que nunca mais me possa revoltar contra Vs. Amo-Vos, bondade infinita, e pelo amor que Vos tenho, me offereo todo a Vs. Disponde de mim, e de tudo o que me pertence, como Vos approuver. Resigno-me em tudo vossa divina vontade. Preservae-me da desgraa de contrariar as vossas disposies, e depois fazei de mim segundo a vossa vontade. Pae Eterno, pelo amor de Jesus Christo, attendei-me. Meu Jesus, escutae-me pelos merecimentos da vossa Paixo. E vs, o Maria Santssima,

1 Matth. 12, '50. ajdae-me; obtende-me a graa de executar a vontade divina, na qual consiste toda a minha salvao, e nada mais de vs desejo. (*III 465.) SABBADO. Appario de Jesus resuscitado a sua Me Maria Santissima. Secundum multitudinem dolorum meorum in corde meo, con-solationes tuae laetificaverunt animam meam Segundo as muitas dores que provou o meu corao, as tuas consolaes alegraram a minha alma (Ps. 93, 19). Summario. Era de justia que Maria Santissima, que mais do que qualquer outro tomou parte na Paixo de Jesus Christo, fosse tambm a primeira a gozar da alegria de sua resurreio. Imaginemos vl-a no momento em que lhe apparece o divino Redemptor glorificado, acompanhado de grande multido de Santos, entre os quaes se achavam So Jos, So Joaquim e Santa Anna. Oh! que ternos abraos! que doces colloquios ! Alegremo-nos com nossa querida Me e digamos-lhe: Regina coe/i, laetare, allcluia Rainha dos cus, alegrae-vos, aJleha h

I. Entre as muitas cousas que Jesus Christo fez, e os Evangelistas passaram em silencio, deve, com certeza, ser contada a sua appario a Maria Santissima logo em seguida sua resurreio. Nem necessidade havia de refril-a, porquanto evidente que o Senhor, que mandou honrar os paes, foi o primeiro a dar o exemplo, honrando sua Me com sua presena visvel. Demais, era de inteira justia que o divino Redemptor glorificado fosse, antes de mais ningum, visitar Santissima Virgem; afim de que, antes dos outros e mais do que estes, participasse da alegria da resurreio quem mais do que os outros participara da paixo. Um dia e duas noites a divina Me ficou entregue dr pela morte do Filho, mas firme e immovel na f da resurreio; e quando comeou a alvorecer o terceiro dia, posta em altssima contemplao comeou com ardentes suspiros a supplicar ao Filho que abreviasse a sua vinda. Affotiso, Meditaes. II. 2 Emquanto est assim absorta em seus vehementissimos desejos, eis que seu divino Filho se lhe manifesta em toda a sua gloria e claridade; fortalecendo-lhe a vista, tanto a do corpo como a da alma, para- que fosse capaz de ver e

de gozar a divindade. Oh! com to bella appario como no devia sentir-se satisfeita e contente! Quo ternamente no deviam abraar-se Filho e Me! quo doces e sublimes no deviam ser os colloquios que trocavam I Avisinhemo-nos, em espirito, de Nossa Senhora, que tambm nossa Me, e roguemos-lhe que nos permitia beijar as chagas glorificadas de Jesus Christo. Colhamos deste mysterio, como so bem recompensados por Deus aquelles que acompanham Jesus at ao Calvrio, quer dizer, que lhe so fieis nas tribulaes. Cada um pode fazer suas as palavras' da Bemaventurada Virgem: Secundum multi-tudinem dolorum meorum, consolationes tuae laetificaverunt animam meam Segundo as minhas muitas dores, as tuas consolaes alegraram a minha alma. II. Em companhia de.Jesus, seu Filho, a divina Me viu grande numero de Santos, entre os quaes o seu Esposo So Jos, e os seus santos paes, Joaquim e Anna.Alegraram-se todos com ella, reconhecendo-a por verdadeira Me de Deus e agradecendo-lhe os trabalhos e dores soffridas pela Redempo de todos. Oh!

que satisfaco no devia sentir a Virgem, vendo o fructo da Paixo do Filho em tantas almas resgatadas do limbo. Emquanto ella se regozija com Jesus Christo por to grande conquista, os anjos alli presentes, ledos e jubilosos, solem-nizam o dia cantando com melodia celeste: Regina coeli, laetare, alleluiaRainha do cu, alegrae-vos, alleluia. Unamo-nos aos coros dos anjos, unamo-nos com todos os fieis da Igreja, para nos congratularmos com a divina Me, e cantemos tambm: Regina coeli, laetare, alleluia. Rainha do cu, alegrae-vos; porque o que merecestes trazer em vosso purssimo seio, resuscitou como disse. Alegrae-vos, mas ao mesmo tempo, rogae por ns, para que sejamos dignos de ir cantar um dia no reino da gloria o eterno alleluia. o que Vos peo tambm, Eterno Pae. Sim, meu Deus, Vs que Vos dignastes alegrar o mundo com a resurreio de vosso Filho e Senhor nosso Jesus Christo, concedei-nos, Vos supplicamos, que pela Virgem Maria, sua Me,

alcancemos os prazeres da vida eterna. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Christo. DOMINGO DA PASCHOELA. S em Deus se acha a verdadeira paz. Venit Iesus, et stetit in mdio, et dixit eis: Pax vobis *Veiu Jesus, e poz-se no meio e disselhes: A paz seja comvosco (Io. 20, 9). Summario. Assim : s em Deus se acha a verdadeira paz,; porque, tendo Deus creado o homem para si, o Bem infinito, s elle pode fazel-o contente. Quem quizer gozar esta paz, deve repellir de seu corao tudo que no seja Deus, que feche as portas dos sentidos a todas as crealuras e viva como que morto aos affectos terrestres. isto exactamente o que o Senhor quiz dar a entender aos apstolos, quando, apparecendo para lhes annunciar a paz, quiz ambas as vezes entrar aonde estavam os apstolos, estando as portas fechadas. I- Refere So Joo que, achando-se os apstolos juntos numa casa, Jesus Christo resuscitado entrou alli, posto que as portas estivessem fechadas, e pondo-se no meio, disse-lhes

duas vezes: A paz seja comvosco. Repetiu as mesmas I P^vras oito dias depois, apparecendo-lhes mais uma vez, ! estando fechadas as portas. Pax vobisA paz seja com-SrVosco. Com estas palavras quiz Jesus Christo darnos a 1 e ntender que elle a nossa paz; elle que dos dous fes p**f

desftizendo em sua carne, com o sacrifcio de sua vida, | T tnconsistenie muro de separao, as Eph. inimizades 2. Com.effeito: s em Deus se acha a verdadeira paz; ;P rque, tendo Deus creado o homem para si mesmo, o 14. 1 Antiph. temp, pasch.

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SEGUNDA SEMANA DEPOIS DA PASCHOA.

SEGUNDAFEIRA.

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Bem infinito, s elle pode plenamente satisfazel-o. Delectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui1 Deleita-te no Senhor, e te outorgar as peties de teu corao. Quando algum acha as suas delicias s em Deus e no busca cousa alguma fora delle, Deus cuidar em satisfazer-lhe todos os desejos do corao. Insensatos portanto so aquelles que dizem: Bemaventurado o que pode gastar dinheiro vontade! que pode mandar nos outros! que pode gozar os prazeres que deseja. Loucura! Bemaventurado somente o que ama a Deus, o que diz deveras que Deus s lhe basta. A experincia demonstra bem patentemente, que muitos dos que o mundo chama felizes, por grandes que sejam as suas riquezas e altas as suas dignidades, todavia levam vida infeliz, nunca esto contentes, jamais gozam um dia de verdadeira paz. Ao contrario, tantos bons religiosos que vivem retirados em suas cellas, tantos solitrios que vivem num deserto ou numa gruta, sujeitos a enfermidades, fome, ao frio, esto contentes e exultam de alegria. E porque? Porque elles s se occupam com Deus, Deus os

consola. Ah! a paz que o Senhor faz provar a quem o ama, est acima de todas as delicias que o mundo pode dar! Pax Dei quae exsuperat omnem sensum2. II. Gustate et videte, quoniam suavis est Dominus* Gostae e vede quo suave o Senhor. Ah, mundanos! exclama o Propheta, porque desprezaes a vida dos santos, sem que a tenhais experimentado? Experimentae-a uma s vez: afastae-vos do mundo, daevos a Deus, e vereis quanto melhor sabe elle consolar-vos do que todas as grandezas e delicias, que andaes procurando para vossa perdio. Verdade que tambm os santos soffrem na vida presente grandes tribulaes; mas com a resignao vontade de Deus, nunca perdem a paz. Numa palavra, elles esto acima das adversidades e vicissitudes deste mundo, e por isso vivem sempre numa tranquillidade imperturbvel. Mas quem quizer estar sempre unido com Deus e gozar continua paz, deve banir do corao tudo que no seja Deus, guardar as portas dos sentidos fechadas a todas as creaturas e viver como que morto aos affectos terrestres. exactamente o que o Senhor

quiz dar a entender, quando, na appario aos apstolos, entrou duas vezes, como narra o Evangelho, estando fechadas as portas: cum fores essent clausae. Em sentido mystico, explica Santo Thomaz, devemos aprender disso que Jesus Christo no entra em nossas almas emquanto no tivermos fechado as portas dos sentidos, Pae Eterno, pelo amor de Jesus Christo, ajudae-me a romper todos os laos que me prendem ao mundo. Fazei com que eu no pense em outra cousa seno em Vos agradar. Felizes daquelles a quem s Vs bastaes! Senhor, dae-me a graa de no buscar nada fora de Vs e de no desejar seno o vosso amor. Por vosso amor renuncio a todos os prazeres terrenos, renuncio tambm s consolaes espirituaes. Nada mais desejo seno cumprir a vossa vontade e dar-Vos gosto. Fazei, Deus todopoderoso, com que havendo concludo a celebrao das festas paschoes, pela vossa graa conserve, na vida e costumes, o espirito das mesmas.1 O

Me de Deus, Maria, recommendae-me a vosso Filho, que no vos nega nada, (*II 301.) SE GU ND AFEI RA. Da ca rid ad e fra ter na . ' Diliges proximum tuuin tamquam teipsum 'Amars ao teu prximo como a ti mesmo (Mare. 12, 31). 'Sumtnario. Ningum pode amar a Deus, sem que tenha amor ao pro- ) porquanto o amor de Deus e o do prximo nascem da mesmaXlmo

1 Ps. 36, 4. Phil. 4, 7. 33, 9.

5

Ps.

Or. Dom, curr.

caridade, e o mesmo preceito que nos obriga ao primeiro, obriga-nos tambm ao segundo. Examinemos em que estima tivemos at agora um preceito to importante, e, se porventura tivermos de reconhecer faltas, faamos firme propsito de ser para o futuro mais exactos, lembrando-nos que da observncia da caridade depende o sermos christos, no s de nome, mas de facto. I. No -se pode amar a Deus sem amar ao mesmo tempo ao prximo. O mesmo preceito que nos manda o amor para com Deus, manda-nos igualmente o amor para com os nossos irmos : Et hoc mandatum habemus a Deo, ut, qui diligit Deum, diligat et fratrem suum 1 Ns temos de Deus este mandamento, que o que ama a Deus, ame tambm a seu irmo. D'onde infere Santo Thomaz de Aquino, que da mesma caridade nasce' o amor para com Deus e o para com o prximo, porque a caridade nos faz amar tanto a Deus como ao prximo, visto que assim o quer o prprio Deus.Deste modo comprehende-se o que So Jeronymo refere de So Joo Evangelista. Perguntando-lhe os seus discpulos, porque to repetidas vezes lhes recommendava o amor fraternal, respondeu o Santo: Porque o preceito do Senhor; sendo bem observado, basta para a salvao. Certo dia Santa Catharina de Sena disse ao Senhor: Meu Deus, quereis que eu ame ao meu prximo; mas eu no posso amar seno a Vs. Respondeu-lhe o nosso Salvador: Minha filha, aquelle que me ama, ama todas as cousas que eu amo. Com efeito, quem ama alguma pessoa, ama tambm os parentes, os servos, as imagens e at as vestes da pessoa amada, pela razo que esta ama taes cousas. E porque que ns devemos amar ao prximo? Porque aquelles a quem amamos so objecto da benevolncia de Deus. Por isso escreve So Joo que mentiroso o que diz que ama a Deus e odeia a seu irmo 2. Ao contrario, diz Jesus Christo que acceitar como feita a si prprio a caridade de que usarmos para com o mais pequenino de seus irmos, que taes so os nossos prximos *. Examina-te aqui, se tens at agora tido na devida estima o preceito to importante da caridade, e toma a resoluo de seres mais exacto para o futuro. Lembra-te que da observncia deste preceito depende o seres christo no s de nome, mas tambm de facto: In hoc cgnoscent omnes, quia discipuli mei estis: si dilectionem habueritis ad invicem2 Nisto conhecero todos que sois meus discpulos, se vos amardes uns aos outros. II. Indulte vos ergo, sicut electi Dei, vscera miseri-cordiae 8 Vs, como escolhidos de Deus, revesti-vos de entranhas de misericrdia. Eis-ahi o que, segundo So Paulo, deve fazer o christo para conservar a caridade para com o prximo. Elie diz: induite: revesti-vos, de caridade. Assim como o homem leva para toda parte o seu vestido, que o cobre inteiramente, assim deve levar comsigo a caridade em todas as suas aces e cobrir-se todo inteiro com ella. Diz ainda: induite

vscera miseri-cordiae revesti-vos de entranhas de misericrdia. O christo deve revestir-se, no somente de caridade, mas de entranhas de caridade, o que quer dizer que deve ter para com os seus irmos to grande ternura de affecto, como se cada um fosse o seu predilecto particular. Quem ama vivamente uma pessoa, pensa sempre bem delia, alegra-se pela sua prosperidade e entristece-se pelos seus males, como se fossem os prprios. Quando a pessoa amada commette uma falta, que empenho em defendel-a, ao menos em diminuir-lhe a culpai Quando, ao contrario, faz algum bem, o amigo se desfaz em louvores e enaltece-a at as estrellas. Eis o que faz a paixo. Ora, o que a paixo faz nas pessoas mundanas, deve fazel-o em ns a

1 i Io. 4, 21. 1 Io. 4, 20.

1

Matth.2 5

25, 40. Io. 13, 35. Col. 3, 12.

1 Eccles. i, 38.

santa caridade, e no s para com aquelles que nos fazem bem, mas ainda para com aquelles que nos tenham offendido. Ah, meu Redemptor, quo longe estou de me parecer comvosco! Vs no fostes seno caridade para com os vossos perseguidores, e eu rancoroso e odiento para com o meu prximo! Vs rogastes com tanto amor pelos que Vos crucificaram, e eu s penso em tomar vingana de quem me desagradou! Perdoae-me, meu Jesus, no quero mais ser o que fui. Proponho firmemente imitar-Vos de hoje em diante, custe o que custar; proponho amar a quem me offende e fazer-lhe bem. Daeme a graa de Vos ser fiel. O Maria, Me de Deus, rogae a Jesus por mim; dae-me uma parte de vosso amor para com o prximo; a vossa proteco a minha esperana. (*IV 178.) T E R A F E I

R A . V a i d a d e d o m u n d o . Quid prodest homini, si mundum universum lucretur, animae vero suae detrimentum patiatur? Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma? (Matth. 16, 26.) Summario. Os nossos parentes e amigos que esto na eternidade, l da outra vida nos recommendam que no

diligenciemos alcanar neste inundo seno os bens que nem a morte nos faz perder. Com efFeito de que aproveita ganharmos o mundo inteiro, se depois perdermos a alma? Ferdida a alma, perdemos tudo ! Penetrados desta grande mxima, quantos jovens se resolveram a encerrar-se nos claustros, quantos anachoretas a viver nos desertos, quantos martyres a dar a vida por Jesus Christo! I. Um philosopho antigo, de nome Aristippo, fez em certa occasio uma viagem por mar. O navio naufragou e o philosopho perdeu todos os seus .bens, mas arribou felizmente praia. Como era muito conhecido pelo seu saber, os habitantes do paiz o indemnizaram de tudo que tinha perdido. Pelo que escreveu depois aos amigos da ptria que, avisados pelo seu exemplo, se premunissem somente daquelles bens que nem com o naufrgio se perdem. isto exactamente o que l do outro mundo nos recommendam os parentes e amigos que esto na eternidade: isto , eme no diligenciemos alcanar neste mundo seno os bens que nem a morte nos faz perder. De que nos serve, diz Jesus Christo, ganhar o inundo

inteiro, se na morte, perdida a alma, perdemos tudo? Ouid prodest hornini, si universum mundum lucretur ? Penetrados desta grande mxima, quantos jovens resolveram encerrar-se nos claustros, quantos anachoretas foram viver no deserto, quantos martyres deram a vida por Jesus Christo 1 Com esta mxima Santo Ignacio de Loyola ganhou muitas almas para Deus; especialmente a bella alma de So Francisco Xavier, que estando em Paris se entragava a projectos mundanos. Francisco, disselhe um dia o Santo, pensa que o mundo traidor, que pro-mette e no cumpre. Ainda quando cumprisse o que te promette, nunca poderia contentar-te o corao. Suppo-nhamos que te contente: quanto tempo durar a tua felicidade? Mais que a vida? e afinal, o que poders levar para a eternidade? Ha porventura algum rico que tenha levado comsigo uma moeda sequer, ou um criado para a sua commodidade? Ha porventura algum rei que tenha levado comsigo um fio de purpura como distinctivo? Tocado destas reflexes, Francisco renunciou ao 1 Eccles. i, 40.

mundo, seguiu Santo Ignacio, e se fez santo. Vanitas vanitatum ^Vaidade das vaidades! era assim que Salomo chamava a todos os bens do mundo, depois de no se ter recusado prazer algum dos que o mundo pode offerecer: Vanitas vanitatum, et omnia vanitas 1 Vaidade

das vaidades, c tudo vaidade! II. Procuremos viver de maneira que se nos no possa dizer na morte o que foi dito quelle egoista do Evangelho: Stidte, hac nocte animam tuam repetent a te, quae aviem

parasti, cuius eruntp 1 Insensato, vais morrer, e que ser feito dos bens que amontoaste? Procuremos ser ricos no em bens mundanos, mas em Deus, em virtudes e em. merecimentos, bens estes que nos acompanharo para sempre no cu. Numa palavra, cuidemos adquirir o grande thesouro do amor divino; pois que, no dizer de Santo Agostinho, embora estejamos de posse de todas as riquezas,' seremos os mais pobres do mundo, seno possuirmos a Deus; o pobre, porm, que possue a Deus pelo amor, possue tudo. Ah, meu Jesus, meu Redemptor! graas Vos dou por me terdes feito conhecer o meu desvairamento e o mal que fiz, voltando as costas a quem por mim sacrificou o sangue e a vida. Em verdade que no mereceis da minha parte ser tratado como Vos tratei. Se a morte me surprendesse nesta hora, que haveria em mim seno peccados e remorsos de conscincia, que me fariam morrer em grande inquietao? Meu Salvador, confesso que fiz mal abandonando-Vos, o supremo Bem, pelas miserveis satis-faces deste mundo. Do fundo do corao

me arrependo. Ah! por essa dr que Vos fez morrer na cruz, dae-me to grande dr de meus peccados que me faa chorar durante o resto da minha vida, os agravos que contra Vs com-metti. Meu Jesus, meu Jesus, perdoae-me; prometto nunca mais desagradar-Vos e amar-Vos sempre. Senhor, no sou mais digno de vosso amor, porque o desprezei tanto no passado; mas Vs dissestes que amaes a quem Vos ama: Ego diligentes me diligo2. Amo-Vos; amae-me, pois, tambm. No quero mais estar na vossa desgraa. Renuncio a todas as grandezas e gozos do mundo, comtanto que me ameis. Meu Deus, attendeime por amor de Jesus Cbristo. Elie Vos pede que no me repillais do vosso corao. A Vs me consagro sem reserva; sacrifico-Vos a minha vida, as minhas satisfaces, os meus sentidos, a minha alma, o meu corpo, a minha vontade e liberdade. Acceitae-me; e no me desprezeis, como o merecia, por ter tantas vezes desprezado a vossa amizade. Virgem Santssima e 1 Eccle s. i, 42.

minha Me, Maria, pedi a Jesus por mim; em vossa intercesso deposito toda a minha confiana. (II 59.) QUARTA-FEIRA. A pena que ter no inferno quem se condemnar por ter perdido a vocao. Pro eo quod abiecisti sermonem Domini, abiecit te Dominus, ne sis rex Como tu rejeitaste a palavra do Senhor, o Senhor te rejeitou a ti, para que no sejas rei (1 Reg. 15, 23). Sitmmario. O remorso de ter perdido por prpria culpa qualquer grande bem, ou de ter sido causa de algum grande mal, uma pena to grande, que ainda nesta vida causa tormentos indizveis. Qual no ser, pois, no inferno o tormento de um religioso que se vir condem-nado quelle crcere, por ter perdido a vocao, e sem esperana de poder remediar a sa eterna runa? Desgraado

de mim! exclamar desesperado ; podia ser um prncipe no paraiso e tornei-me um dos rprobos mais infelizes! I. O remorso de ter perdido por prpria culpa algum grande bem, o de ter chamado voluntariamente sobre si qualquer grande mal, uma pena to grande, que ainda nesta vida causa um tormento insoffrivel. Imagina, pois, que tormento ter no inferno um joven, chamado por Deus, por favor singular, ao estado religioso, quando conhecer que, se obedecera a Deus, teria adquirido no paraiso um logar distincto, e em vez disso se vir encerrado naquelle crcere de tormentos, sem esperana de remdio sua ruina eterna! este o verme que, sempre vivo, sempre lhe roer o corao com um continuo remorso: Vermis eorum non ntoritur1O seu verme no morre-. Elie dir ento:

1 Mare. g, 43. 1 LUC. 12. 20. 2 prov gj

1 Eccles. i, 44.

insensato que fui! Podia fazer-me um grande santo; se tivera obedecido, agora estaria salvo; e eis que em vez disso, por minha prpria culpa, por um nada, estou con-demnado, e condemnado sem remdio! Conhecer ento o miservel para sua maior pena, e ver no dia do juizo universal collocados direita de Jesus, e coroados como santos, conhecer, digo, e ver tantos companheiros seus, que obedeceram vocao divina, e deixando o mundo, se recolheram casa de Deus, a que elle tambm tinha sido chamado. Ver-se- ento apartado do consorcio dos bemaventurados, e relegado no meio da chusma innumera dos miserveis rprobos, porque foi desobediente voz de Deus. E certo que o pensamento de sua vocao lhe ser no inferno como que outro novo inferno. II. J se sabe, como atrs se considerou, que infelicssima troca do cu com o inferno se expe facilmente aquelle que, para seguir o seu capricho, volta as costas ao chamamento divino.- Por isso, meu irmo, j que foste chamado' a fazer-te santo na casa de Deus, considera a que grande perigo te havias de expor, se voluntariamente

perdesses a tua vocao. Esta vocao, que Deus te deu em sua infinita bondade, afim de te apartar do meio dos fieis communs e de te dar um logar entre os prncipes do paraiso, tomar-se-ia por tua culpa, se lhe fosses infiel, como que um inferno parte para ti. Escolhe portanto, porque Deus Jesus Christo pe na tua mo a escolha; escolhe: ou ser um grande rei no paraiso, ou ento um condemnado mais desesperado que os outros, no inferno. No, meu Deus, no permittais que eu Vos desobedea e Vos seja infiel. Vejo a vossa bondade para commigo, e Vos agradeo, porque, em vez de m expulsardes da vossa face e de me desterrardes para o inferno, por mim tantas vezes merecido, me chamaes a fazer-me santo e preparaes para mim um logar excellente no paraiso. Vejo -que mereceria uma dupla pena, se no correspondesse a esta graa, que no concedida a todos. Senhor, quero obedecer-Vos; eis-me aqui, sou vosso, e vosso quero ser sempre. De boa vontade acceito todas as penas e incommodos da vida religiosa, a que me convidaes. O que veem a ser estas penas em comparao

com as penas eternas que tenho merecido? Eu j estava perdido pelos meus peccados; agora me dou todo a Vs. Disponde de mim e de minha vida como Vos aprouver. Acceitae, Senhor, um condemnado ao inferno, como eu era,, a servir-Vos e amarVos nesta vida e na outra. Quero amar-Vos tanto, quanto tenho merecido estar no inferno a odiar-Vos, Deus infinitamente amvel. Jesus meu, Vs despedaastes as cadeias com que o mundo me tinha preso a si; Vs me livrastes da escravido de meus inimigos. Meu amor, quero amar-Vos muito, e pelo amor que Vos tenho, quero servir-Vos sempre, e obedecer-Vos. Minha advogada, Maria, agradeovs por me terdes impetrado esta misericrdia. Ajudae-me e no permittais que eu torne a ser ingrato a meu Deus, que tanto me tem amado. Obtende de Deus que eu morra sem que haja de ser infiel a to grande graa. (IV 417.)

QUINTA-FEIRA. Jesus no Santssimo Sacramento, o melhor dos amigos. Amicus fidelis medicamentum vitae et immortalitatis O amigo fiel um medicamento de vida e de imraortalidade (Ecclus. 6, 16). Summario. Bem suave estar a gente na companhia de um amigo querido: e ser possvel que ns, neste valte de lagrimas, no achemos consolao perto do melhor de nossos amigos que nos pode encher de todos os bens f Eis que no Santssimo Sacramento nos podemos entreter com Jesus nossa vontade, abrir-lhe o nosso corao, expr-lhe ns nossas necessidades, pedir-lhe graas. Aproximemo-nos, pois, de Jesus com grande confiana e amor, unamonos a elle, e peamos-lhe sobretudo a graa de o podermos amar sempre com todas as nossas foras. .

2O SEGUNDA SEMANA DEPOIS DA PASCHOA. 3 Bera suave estar a gente na companhia de seu amigo querido; e no nos ser suave, neste valle de lagrimas, estarmos na companhia do melhor de nossos amigos, de um amigo que pode encher-nos de todos os bens, nos ama apaixonadamente e por isso se deixa ficar continuamente comnosco? Eis que no Santssimo Sacramento nos podemos entreter com Jesus nossa vontade, abrir-lhe o nosso corao, exprlhe as nossas necessidades, pedir-lhe graas. Podemos, numa palavra, neste mysterio tratar com o Rei do cu com toda confiana e singeleza. Foi nimiamente feliz Jos, quando Deus, como attesta a Sagrada Escriptura, se dignou descer por sua graa ao crcere para consolal-o: Descendit cum Mo in foveam, et in vinculis non dereliquit eum1A divina Sabedoria desceu com elle ao fosso, e no o deixou nas cadeias, Mas muito mais felizes somos ns por termos sempre comnosco, nesta miservel terra, nosso Deus feito homem, que, com o corao cheio de amor e de misericrdia, nos honra com sua presena real a cada instante de nossa vida. Que consolo para um pobre encarcerado ter um amigo terno, que vai entreter-se com elle, o consola, lhe anima a esperana, procura para elle soccorro e cuida em al-livial-o no seu infortnio? Eis aqui est o nosso bom amigo Jesus Christo, que neste Sacramento nos anima com estas palavras: Ecce ego vobiscum sum omnibus diebus2 Comvosco estou todos os dias. Eis-me aqui todo para vs, vindo do cu vossa priso de propsito para vos consolar, ajudar e pr em liberdade. Acolhei-me, fiquemos sempre juntos, uni-vos a mim; que ento no sentireis mais o peso de vossas misrias, e depois vireis commigo para o meu reino, onde vos farei plenamente felizes. 4 A toda alma, que o visita no Santssimo Sacramento, Jesus diz como outr'ora o Esposo dos Cnticos: Surge, propera, arnica mea, et venix Levanta-te, apressa-te, minha amada, e vem. Surge, levanta-te de tua misria, pois aqui estou para te enriquecer com minhas graas. propera, approxima-te, no temas minha divina majestade, que se humilhou neste Sacramento para dissipar teu temor e te inspirar confiana. Arnica mea, tu no s mais minha inimiga, mas minha amiga, j que me amas e eu te amo. Formosa mea, a minha graa te fez to bella minha vista. Et veni, vem pois, a mim, vem lanar-te nos meus braos, e pede-me com toda confiana o que de mim queres.Vamos, pois, a Jesus com muita confiana e amor, unamo-nos a elle e roguemoslhe graas. Verbo eterno, feito homem e sacramento por meu amor, quanta deve ser a minha alegria, quando penso que estou diante de Vs, que sois meu Deus, a Majestade suprema, a bondade infinita, diante de Vs, que to ternamente amaes a minha alma! vs, almas que amaes a Deus, onde quer que estejais, no cu ou na terra, amaeo tambm por mim. O Maria, minha Me, ajudaeme a amar ao meu Deus. E Vs, amantssimo Senhor, fazei com que eu ponha em Vs todos os meus affectos. Tornae-Vos senhor de toda a minha vontade, possui-me todo inteiro. Consagro-Vos o meu espirito, para que se occupe somente com a vossa bondade; consagro-Vos tambm o meu corpo, para que me auxilie a Vos agradar;

consagro-Vos a minha alma, para que seja toda vossa. Quizera, Amado de meu corao, que todos os homens conhecessem a ternura do amor que lhes tendes, para que I todos vivessem unicamente para Vos honrar e agradar, ;. como desejaes e mereceis. Ah 1 viva ao menos eu enlevado Se mpre no amor de vossa belleza infinita. Quero no futuro :. fazer tudo que puder para, Vos ser agradvel. Resolvido instou a fugir de tudo que souber Vos desagradar, custe 1 Sap. 10, 13. a Matth. 28, 20.

o que custar, ainda que haja de perder a vida. Oh quo ditoso seria, se tudo perdesse para Vos ganhar, meu Deus, meu thesouro, meu amor, meu tudo! (*I 387.) SEXTA-FEIRA. mister soffrer tudo para agradar a Deus. Caritas patiens est...omnia suffert... omnia susnetA caridade paciente ... tudo soffre ... tudo supporta ([ Cor. 13, 4). Stimmario. Para se tornarem agradveis a Deus, os santos desappos-saram-se de seus bens, renunciaram s mais altas dignidades da terra, e acolheram como thesouros as enfermidades, as perseguiSes, e despojamento de tudo, e a morte mais dolorosa e triste. E que fazemos ns para um fim to sublime ? O misria I recusamo-nos at a soffrer com pacincia uin leve incommodo, uma pequena contrariedade, um desprezo, uma palavra mordaz. Quo differentes dos santos somos ns I I. A maior preoccupao, para no dizer unic, dos santos foi: desejarem com todo o affecto soffrer por amor de Deus todo o trabalho, todo o desprezo e toda a dr afim de tornarem-se desta sorte agradveis ao Corao divino que tanto merece ser amado e tanto nos ama. Com effeito, toda a perfeio e todo o amor de uma alma para com Deus consiste em sempre procurar o> agrado de Deus e fazer o que mais lhe agrada. feliz de quem sempre pudesse dizer com Jesus Christo: Ego quae pia-cita sunt ei facio semperx Eu fao sempre o que lhe agrada. Que honra mais sublime, que consolao maior pode ter uma alma, do que fazer qualquer trabalho, ou acceitar alguma pena, alguma enfermidade, com o pensamento de dar assim gosto a Deus? Temos sobeja obrigao de dar gosto ao Deus que nos amou tanto, nos deu tudo o que possumos, e, no satisfeito com dar-nos tantos bens, chegou a dar-se a si mesmo, primeiro sobre a cruz, na qual morreu por nosso amor, e depois no Santssimo Sacramento do altar, no qual se nos d todo inteiro pela santa com-munho, de sorte que no lhe resta mais nada para dar. Para se tornarem, agradveis a Deus, os santos no souberam que fazer. Quantos jovens no deixaram o mundo para se darem inteiramente ao Senhor! Quantas donzellas, mesmo de estirpe regia, no renunciaram consrcios com os personagens mais altos, para se encerrarem num convento! Quantos anachoretas no se internaram no fundo dos desertos ou em espeluncas, para pensarem somente em Deus! Ainda para darem gosto a Deus, quantos martyres no acceitaram os aoutes, os ferros em braza e os tormentos mais cruis dos tyrannosl Numa palavra por amor de Deus, os santos desappossaram-se de seus bens, renunciaram s dignidades mais altas da terra, e acolheram, como se fossem thesouros, as enfermidades, as perseguies, o despojamento de tudo e a morte mais dolorosa e triste. E para um fim to sublime ns nos recusaremos a soffrer com pacincia um leve incommodo, uma pequena

contrariedade, um desprezo, uma palavra mordaz? II. Se temos verdadeiro amor a Deus, devemos preferir a sua satisfaco acquisio de todas as riquezas, das glorias mais altas e de todas as delicias da terra e mesmo do paraso. Poz-nos o Senhor neste mundo afim de que nos appliquemos a agradar-lhe e promover a sua gloria. O beneplcito de Deus deve, pois, ser o nico alvo de todos os nossos desejos, de todos os nossos pensamentos e obras. Com effeito, bem digno de ser contentado em todas as cousas o Corao de Deus, que tanto nos ama e to solicito por nosso bem. meu Senhor, como foi possvel que eu, ingrato, em vez de Vos dar gosto, Vos tenha causado tantos desgostos? Mas o horror, que me inspiraes, das offensas que Vos fiz, 1116 faz esperar que me queirais perdoar. Perdoae-me e no s- Affonso, Meditaes. II. 3

1 Io. 8, 48.

permittais que torne a ser ingrato para comvosco. Ah, meu Jesus, oxal nunca Vos tivesse offendido! Se pudesse nascer outra vez, quizera amarVos sempre! Mas o que foi feito, j se no pode desfazer. O que posso fazer consagrarVos toda a vida que me resta. Eu Vol-a dou toda e me consagro todo a vosso amor. Affectos terrestres, sahi do meu corao, cedei o logar a meu Deus, que o quer possuir todo. Sim, possui-me todo, meu Redemptor, meu amor, meu Deus.. D'aqui por diante no quero pensar seno em Vos agradar; ajudae-me com a vossa graa; a minha esperana est em vossos mritos. Augmentae em-mim cada vez mais o vosso amor e o desejo de Vos dar gosto. Fazei com que eu vena tudo para Vos agradar. In te, Domine, speravi, non 1 confundar in aeternum Em ti, Senhor, esperei, eternamente no serei confundido. Rainha do cu e minha Me Maria, attrahi-me todo para Jesus Christo. (II 303.) S ABB ADO. Maria Santssima, modelo de caridade para com o proximo. Hoc man datum habemus a Deo: ut qui diligit Deum, diligat et

fratrem suum Ns temos de Deus este mandamento, que o que ama a Deus, ame tambm a seu irmo (1 Io. 4, 21), Summario. O amor para com o proximo nasce do amor para com Deus. Ora, como nunca existiu, nem'jamais existir, quem mais que Maria Santissima amasse a Deus, assim nem houve, nem haver, quem piais que a Santissima Virgem tenha amado e ame o proximo. Basta saber que esta sua caridade a levou a offerecer morte, entre as dores mais acer-, bas, e pela nossa salvao, o seu Filho unignito. Felizes de ns se soubermos imitar uma Me to carinhosa. Ella usar para comnosco da mesma caridade que tivermos para com o proximo. I. O amor para com Deus e para com o proximo nos imposto no mesmo preceito: Ns temos de Deus este mandamento, diz So Joo, que o que ama a Deus, ame tambm a seu irmo. A razo obvia, diz Santo Thomaz; porque quem ama a Deus, ama todas as cousas amadas por Deus. Mas visto que no existiu, nem jamais existir, quem mais que Maria amasse a Deus, tambm no houve, nem haver, quem mais que a Santissima Virgem tenha amado o prximo. Sobre esta passagem dos Cnticos:

Ferculum fecit sibi rex Salomon ... media caritate con-stravit, propter filias Ierusalem1 O rei Salomo fez para si uma liteira... revestiu-a de caridade por causa das filhas de Jerusalm, o Padre Cornlio a Lapide diz que esta liteira foi o seio de Maria, no qual habitou o Verbo incarnado, enchendo sua Me de caridade, afim de que auxiliasse a qualquer que a ella recorresse. Vivendo neste mundo, foi Maria to cheia de caridade, que soccorria os necessitados, mesmo sem que lh'o pedissem ; como fez precisamente nas bodas de Can, quando pediu ao Filho o milagre do vinho, expondo-lhe a afflic-o daquella familia: Vinum non habent2 Elles no te em vinho. Oh, quanto ella se appressava, quando se tratava de soccorrer

o prximo! Quando, por officio de caridade, visitou a casa de Isabel, foi com pressa s montanhas: abiit in montana cum festinatione3. No poude, porm, demonstrar melhor a sua grande caridade que offerecendo morte o seu Filho pela nossa salvao, pelo que So Boaventura diz: tMaria amou o mundo de tal modo, que deu por elle o seu Filho unignito. Esta caridade de Maria para comnosco no menor agora que ella est no cu; muito ao contrario, como diz 0 mesmo So Boaventura, alli muito se tem augmentado, Porque conhece melhor as nossas misrias. Pobres de ns, se Maria no rogasse a nosso favor! Revelou Jesus Christo a Santa Brigida que, se as supplicas da divina Me no

1 Io. 8, 50.

1 Ps 30, I. 1 Cant. 3, 9.

Io. 2, 3.

Luc. I , 39.

intercedessem por ns, no haveria esperana de misericrdia. II. Bemaventurado aquelle (diz a divina Me), que presta, atteno aos meus preceitos, e observa a minha caridade, para depois, minha imitao, pratical-a .com os outros: Beatus homo qui audit me1 Bemaventurado o homem que me ouve. Affirma So Gregorio Nazianzeno que, para adquirirmos o affecto de Maria, no ha cousa melhor do que usar caridade para com o prximo. Por isso, assim como Deus nos exhorta: Sede misericordiosos, como vosso Pae misericordioso 2; assim parece que Maria diz a todos ' os seus filhos: Sede misericordiosos, assim como misericordiosa a vossa Me. certo que segundo a caridade que ns usarmos para com o prximo, Deus e Maria a usaro para comnosco, conforme diz Jesus Christo, que nos medir com a mesma medida com que tivermos medido aos outros3. Numa palavra, conclue o Apostolo, a caridade para com o prximo util para tudo, e nos faz felizes nesta vida e na outra, porque tem a promessa da vida presente e da futura^; \ e quem soccorre os necessitados faz com que o prprio \ Deus lhe fique sendo devedor5. Me de misericrdia, vs

0/0/ sois cheia de caridade para I com todos; no vos esqueais de minhas misrias. Vs \ as conheceis. Recommendae-me a Deus, que nada vos nega. Alcanae-me a graa de poder imitar-vos na santa j caridade tanto para com Deus como para com o prximo. E Vs, meu Jesus, tende piedade de mim; perdoaeme todos os desgostos que Vos dei, particularmente pela minha pouca caridade com o prximo. Perdoaeme, Senhor, e no me entregueis merc das minhas paixes, como ) mereceria. Se prevdes que para o futuro eu tenho de Vos I offender novamente, deixae-me antes morrer agora, que espero estar na vossa graa. Fazei-o pelos merecimentos da caridade de Maria Santssima, vossa querida Me. (*I 260.) SEGUNDO DOMINGODEPOIS DA PASCHOA. Jesus, o bom Pastor. Ego sum pastor bnus. Bnus pastor animam suam dat pro ovibus suis "Eu sou o bom pastor. O bom pastor d a sua vida pelas suas ovelhas (Io. 10, 11). Summario. O officio de um bom pastor n3o outro seno guiar as suas ovelhas para bons pastos e defendel-as contra os lobos.

Mas, meu dulcssimo Redemptor, que pastor levou jamais a sua bondade to longe como Vs, que quizestes dar a vida por ns, vossas ovelhas, e nos -livrastes dos castigos merecidos? No satisfeito com isso, quizestes ainda, depois da morte, deixar-nos o vosso corpo na santa Eucharistia, para sustento de nossas almas. Quem, pois, no Vos amar com todo o affecto? Mas infelizmente muitos Vos pagam com a mais negra ingratido. I. Assim diz Jesus Christo mesmo no Evangelho deste 'dia: Ego sum pastor bnusEu sou o bom pastor, O officio de um bom pastor no outro seno guiar as suas ovelhas para bons

0/ pastos e defendel-as contra os lobos. Mas, meu dulcssimo Redemptor, que pastor levou jamais a sua bondade to longe como Vs, que quizestes dar o vosso sangue e a vida para salvar as vossas ovelhas, ;C|ue somos ns, e livrar-nos dos castigos merecidos? Vs niesmo, diz So Pedro, levastes os nossos peccados em Vosso corpo pregado na cruz, afim de que, mortos para 0 peccado, vivamos para a justia: pelas vossas chagas fomos curados: Cuius livore sanati estisK Para nos curar fde nossos males, este bom Pastor tomou a si todas as !ossas dividas e pagou-as com o seu prprio corpo, Correndo de dr sobre a cruz.

1 Prov. 8, 34. * I Tim. 4, 8.

2 Luc. 6, 36. Prov. 19, 17.s

3 Luc. 6, 38.

0/0/ ' t Petr. 2, 24.

Este excesso do amor de Jesus para comnosco, as suas ovelhas, fazia Santo Ignacio Martyr arder do desejo de dar a vida por Jesus Christo, dizendo, assim como se l numa carta sua: Amor meus crucifixus estC9 meu amor foi crucificado. Quiz o Santo dizer: Como! meu Deus quiz morrer crucificado por meu amor, e eu poderei viver sem desejo de morrer por elle? Com effeito, que grande cousa fizeram os martyrs dando a vida por Jesus Christo, que morreu por amor delles! Ah! a morte que Jesus Christo padeceu por elles, suavizavalhes todos os tormentos, os aoutes, os cavalletes, as unhas de ferro, as fogueiras e as mortes mais dolorosas. No se contentou, porm, o nosso bom Pastor com dar a vida pelas suas ovelhas; ainda depois de sua morte quiz deixar-lhes na santssima Eucharistia o seu prprio corpo, j sacrificado uma vez na cruz, afim de que fosse o alimento e sustento das suas almas. O ardente amor que nos dedicava, diz So Joo Chrysostomo, levou-o a unir-se a ns e fazer-se uma cousa comnosco: Semetipsum nobis immiscuit, ut unum quid sitnus. II. O mercenrio, assim continua o Evangelho, e o

que no pastor, ve o lobo vindo e deixa as ovelhas e foge; e o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O mercenrio foge, porque mercenrio e no lhe importam as ovelhas. No assim que faz Jesus Christo, o bom pastor, ou antes o melhor de todos os pastores. Cada vez que ve as suas ovelhas assaltadas pelo lobo infernal e estas lhe bradam por soccorro, logo acode a defendel-as e a combater por ellas. Quando ve uma ovelha tresmalhada, que no faz, quantos-' meios no emprega para rehavel-a? Jesus Christo no deixa de buscal-a emquanto no a achar. E depois de a achar, a pe contente sobre seus hombros, chama aos seus amigos e visinhos (isto , os Anjos e os Santos), e convida-os a alegrarem-se com elle, por ter achado a ovelha que se tinha perdido: Congratulamini mihi, quia inveni ovem nieam quae perieratx. Quem, pois, no amar com todo o affecto a este bom Senhor, que se mostra to amoroso mesmo para com s peccadores que lhe viraram as costas e quizeram voluntariamente perder-se? Ah, meu amvel Salvador! eis-aqui a vossos ps uma ovelha perdida: afastei-me de Vs, mas Vs no me

abandonastes; fizestes todo o empenho para me rehaver. Que seria de mim, se Vs no tivsseis pensado em me buscar? Ai de mim, que passei tanto tempo longe de Vos! Pela vossa misericrdia espero agora estar na vossa graa. Se outr'ora fugia de Vs, j no desejo outra cousa seno amar-Vos e viver e morrer abraado aos vossos ps. Mas emquanto vivo, estou em perigo de Vos abandonar. Por piedade, prendei-me com os laos de vosso santo amor e no permittais que em tempo algum eu me desprenda de Vs. Padre Eterno, que pela humilhao de vosso Filho levantastes o mundo prostrado, concedei-me alegria perpetua, para que, assim como me livrastes da morte eterna, me faais gozar dos prazeres eternos. 2 Fazei-o pelo amor de Jesus Christo e de Maria Santssima, minha

querida Me. (*II 288.) SEGUNDA-FEIRA. Motivos que temos de honrar a So Jos3. Constituit eum dominum domus suae, et principem omnis pos-sessionis suae Constituiu-o senhor de sua casa, e prncipe de tudo que possuia (Ps. 104, 21). Summarw. Tomemos a SSo Jos por nosso protector especial, e no nos esqueamos de honralo cada dia e de nos recommendar a elle. Honrando ao santo Patriarcha, imitaremos os exemplos de Jesus e Maria, 1 Luc. 15, 6. Or. Dom. curr. 3 As meditaes de hoje e de amanh so consagradas a So Jos, como preparao para a festa do Santo, que se celebra na quarta-feira festa semana.a

TERCEIRA SEMANA DEPOIS DA PASCHOA. que foram os primeiros a honrarem-no sobre esta terra. Alm disso, pelo intermdio do Santo obteremos os favores mais assignalados, porquanto a experincia demonstra que So Jos obtm de Deus para seus devotos tudo que quer e os soccorre em suas necessidades. I. O exemplo de Jesus Christo, que nesta terra quiz honrar to grandemente a So Jos, era bastante para inspirar a todos uma grande devoo a este preclaro Santo. Desde que o Padre Eterno designou So Jos para fazer as suas vezes junto de Jesus, Jesus sempre o considerou e o respeitou como pae, obedecendo-lhe pelo espao de vinte e cinco ou trinta annos: Et ert subditus Mis* E lhes estava sujeito. O que quer dizer que em toda aquella serie de annos a nica occupao do Redemptor foi obedecer a Maria e a Jos. A Jos competia em todo aquelle tempo exercer o of-ficio de governar, como cabea que era da pequena famlia \-a Jesus, como sbdito, o officio de obedecer. De sorte que Jesus no dava um passo, no praticava cousa alguma, no tomava alimento, no ia repousar, seno segundo as ordens de So Jos. Punha a mais attenciosa diligencia em escutar e executar tudo o que lhe era imposto. O meu Filho, assim revelou o Senhor a Santa Brigida, era to obediente, que quando Jos dizia: Faze isto, ou faze aquillo, logo o executava. E Gerson accrescenta que em Nazareth Jesus muitas vezes preparava a comida, buscava agua, lavava a vasilha, mesmo varria a casa, Esta humilde obedincia de Jesus ensina-nos que a dignidade de So Jos superior de todos os Santos, excepo feita da divina Me. Pelo que um douto autor escreve com razo: E justssimo que seja muito honrado pelos homens aquelle que de tal maneira foi elevado pelo Rei dos reis. 2 Tesus mesmo recommendou a Santa Mar-garida de Cortona que fosse particularmente devota de So Jos, por ser elle quem o alimentou em sua vida: Eu 1 Luc. 2, 51. 1 Card. Camer. quero, disse-lhe (e imaginemos que nos diz o mesmo), que cada dia pratiques algum obsequio especial a meu amantssimo pae nutricio, So Jos. II. Para comprehendermos as grandes mercs que So Jos faz aos seus devotos, basta referir o que a este respeito diz Santa Theresa: No me lembro ( a Santa quem fala) de lhe ter pedido alguma cousa sem que m'a tenha obtido. Causaria assombro se eu enumerasse todas as graas que o Senhor me concedeu por intermdio deste Santo, e todos os perigos, tanto para o corpo como para a alma, dos quaes me livrou. Aos demais Santos parece que o Senhor lhes deu o serem protectores numa s necessidade particular; a experincia, porm, faz ver que So Jos protector universal. Parece que Jesus nos quer dar a entender que, assim como elle na terra se submetteu voluntariamente a So Jos, tambm no cu faz tudo que o Santo lhe pede. O mesmo conheceram tambm outras pessoas, s quaes aconselhei que se lhe recommen-dassem. Quizera persuadir a todos (continua a Santa) a serem devotos deste Santo, pela experincia adquirida dos grandes favores que elle obtm de Deus. No conheo pessoa que honrando-o de uma maneira particular, no se visse progredir muito na virtude. Desde muitos annos lhe peo na sua festa uma graa especial e sempre a tenho conseguido. A quem no me quizer crer, peo pelo amor de Deus que faa a experincia. Tomemos pois, exhorta-nos Gerson, tomemos So Jos por nosso especial protector e poderoso intercessor, e no deixemos de nos recommendar-lhe cada dia e varias vezes por dia. Multipliquemos as nossas oraes nestes dias de sua festa, pratiquemos em sua honra alguma mortificao e digamos muitas vezes: t Lembrae-vos, purssimo Esposo de Maria Virgem, o doce Protector meu So Jos, que jamais se ouviu dizer

H" que algum tivesse invocado a vossa proteco, e implorado o vosso soccorro, e no fosse por vs consolado. Com esta confiana venho vossa presena, a vs fervorosamente me recommendo. Ah ! no desprezeis a minha supplica, pae putativo do Redemptor, mas dignae-vos de a acolher piedosamente. Assim seja. 1 (*II 423.) TERA-FEIRA. Convivncia de So Jos com Jesus e Maria. Descendit cum eis et venit Nazareth, et erat subditus illis Desceu (Jesus) com elles e veiu para Nazareth, e lhes estava sujeito (Luc. 2, 51)', Summario. Que bella sorte'foi a de So Jos por ter vivido tantos annos em companhia de Jesus e Mariai Naquella familia no se tratava seno da maior gloria de Deus; no havia outros pensamentos ou desejos seno a vontade de Deus; no se falava seno sobre o amor que Deus tem aos homens e que os homens devem a Deus. Oh ! se ns tambm soubssemos aproveitarnos da opportunidade, teramos igualmente a ventura de viver com Jesus, presente na Santssima Eucharistia. Procuremos portanto visitai o frequentemente, e unamos os nossos affectos aos de Maria e Jos ! 1 Indulg. de 300 dias. I. Jesus, depois de ser encontrado no templo por Maria e Jos, voltou com elles para a casa de Nazareth, e viveu alli com Jos, at morte deste, obedecendo-lhe como a seu pae. Considera a santa vida que Jos alli levou em companhia de Jesus e Maria. Naquella familia no havia outro empenho seno a maior gloria de Deus, no havia outro pensamento e desejo seno o agrado de Deus, no se conversava seno sobre o amor que os homens devem a Deus e que Deus tem aos homens; particularmente por ter enviado ao mundo o seu Unignito para soffrer e terminar a vida num mar de dores e de desprezos pela salvao do gnero humano. Ah, com que lagrimas de ternura no deviam Maria e Jos, to bem entendidos nas divinas Escripturas, falar na presena de Jesus sobre a sua dolorosa paixo e morte! Com que ternura no deviam, Conversando, recordar que,

segundo a prophecia de Isaias, o objecto de seu amor havia de ser um dia o homem de dores e de desprezos; que os inimigos haviam de desfigurai-o a ponto de no mais ser conhecido pelo mais formoso que era; que haviam de rasgar-lhe de tal forma as carnes pelos aoutes, que seria como que um leproso todo coberto de chagas e feridas; que seu amado Filho havia de soffrer tudo com pacincia, sem sequer abrir a bocca para queixar-se de tantos ultrajes, que se deixaria levar morte como um cordeiro, e finalmente seria pregado num madeiro infame entre dous ladres, para terminar a vida pela fora dos tormentos. Considera, que affectos de compaixo e de amor deviam ser despertados por taes colloquios no corao de Jos. II. Avivemos a nossa f! Ns tambm, imitao de So Jos, podemos viver

continuamente na companhia de Jesus Christo, porquanto est verdadeiramente presente no Santssimo Sacramento do Altar. Procuremos, portanto, fazerlhe cada dia uma visita, e, sendo possvel, mais de uma. Achando-nos na presena de Jesus sacramentado, pensemos na sua dolorosa Paixo e unamos os nossos affectos aos de So Jos e de Maria Santssima. Todos os Santos estiveram abrasados no amor de Jesus sacramentado e de sua Paixo e assim fizeram-se Santos. santo Patriarcha Jos, pelas lagrimas que derramastes contemplando antecipadamente a Paixo de vosso Jesus, alcanae-me continua e terna memoria dos tormentos de meu Redemptor. E pelas santas chammas de amor que estes pensamentos e colloquios accendiam em vosso corao, obtende-me uma centelha delle para minha alma, a qual,- por seus peccados, tanto contribuiu para as dores

r1 de Jesus. Maria, vs que tanto padecestes em Jerusalm vista dos tormentos e da morte de vosso querido Filho, impetrae-rrfe uma grande dr de meus peccados. E Vs, meu dulcissim Jesus, que padecestes tanto e morrestes por meu amor, fazei com que nunca me esquea da vossa caridade. Meu Salvador, vossa morte a minha esperana. Creio que morrestes por mim. Pelos vossos merecimentos espero salvar-me. Amo-Vos de todo o meu corao, amo-Vos sobre todas as cousas, amo-Vos mais que a mim mesmo. Amo-Vos e por amor de Vs estou prompto a soffrer toda a pena.- Detesto, mais que todos os outros males, o desgosto que tenho causado a Vs, meu supremo Bem. No desejo mais outra cousa seno amar-Vos e agradarVos. Ajudae-me, meu Senhor, no per-mittais que eu torne a separar-me de Vs. (II 428.) QUAR TAFEIRA. Sole mnid ade de So Jos. Ite ad Ioseph, et quidquid ipse vobis dixerit, facite Ide a Jos, e fazei tudo que elle vos disser (Gcn. 41, 55). Summario. Aos outros Santos Deus concedeu o poderem proteger numa necessidade especial; mas a So Jos, como attesta a experincia, concedeu o ser protector em todas as necessidades. O nosso Santo nlfo somente tem vontade de auxiliar-nos, mas de certa maneira obrigao, pois que por nossa causa foi elle elevado a sua alia dignidade. Imaginemos portanto que o Senhor, vendo as nossas afflicSes, nos diz o que Phara disse ao povo do Egypto no tempo da fome: Se quizerdes ser soccorridos, ide a Jos! I. Deus concedeu aos demais Santos o serem protectores numa necessidade especial; mas a So Jos concedeu o ser protector universal. Assim disse Santo Thomaz, e Santa Theresa accrescenta que a experincia assim o demonstra. Soccorrer em todas as necessidades quer dizer que So Jos soccorre a todos que se lhe

recommendam. Prova evidente disso acha-se na ordem da Igreja que de todos seja rezado o Officio do Patrocnio de So Jos, onde se diz: Sperate in eo, omnis congregatio populi, effundiie coram Mo corda vestra1 Esperae nelle, toda a congregao do povo; derramae diante delle os vossos coraes. O nosso Santo nos soccorrer no somente por inclinao de vontade, mas ainda de certa maneira reconhece-se obrigado a proteger todos os fieis, e especialmente os que a elle recorrem; porquanto por causa delles que recebeu a honra insigne de fazer as vezes de pae junto a Jesus. Se no fora necessria a Redempo, So Jos ficara privado de to grande honra. Tendo-lhe Deus recommendado