View
8
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Assiste-se, atualmente, a emergência de um paradigma de gestão urbana que tem dado destaque a (re)produção de um espaço urbano cada vez mais fragmentado nas cidades. Onde o Estado atua na consecução de grandes projetos de desenvolvimento urbano (SWYNGEDOUW ET AL, 2002) associado à iniciativa privada via inovações políticas, administrativas e espaciais. O objetivo deste estudo é demonstrar o papel das formas espaciais e/ou inovações espaciais (SANTOS, 2007; CORREA, 2010) no processo de acumulação e expansão do capital via produção do espaço urbano na metrópole de Recife (HARVEY, 2011). Para tanto baseia-se em uma metodologia transdimensional com dimensões de análise como: política, institucional, simbólica, urbanística, fundiária (SÁNCHEZ et al. , 2011).
Citation preview
MEGAEVENTOS E EXPANSÃO GEOGRÁFICA DO CAPITAL: A COPA
DO MUNDO DE 2014 E A PRODUÇÃO CONTRADITÓRIA DO ESPAÇO NA
METRÓPOLE DE RECIFE
Alexandre Sabino do NASCIMENTO
Universidade Federal de Pernambuco
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGEO/UFPE
Grupo de Pesquisa em Inovação Tecnológica e Território - GRITT
RESUMO
Assiste-se, atualmente, a emergência de um paradigma de gestão urbana que tem dado destaque a (re)produção de um espaço urbano cada vez mais fragmentado nas cidades. Onde o Estado atua na consecução de grandes projetos de desenvolvimento urbano (SWYNGEDOUW ET AL, 2002) associado à iniciativa privada via inovações políticas, administrativas e espaciais. O objetivo deste estudo é demonstrar o papel das formas espaciais e/ou inovações espaciais (SANTOS, 2007; CORREA, 2010) no processo de acumulação e expansão do capital via produção do espaço urbano na metrópole de Recife (HARVEY, 2011). Para tanto baseia-se em uma metodologia transdimensional com dimensões de análise como: política, institucional, simbólica, urbanística, fundiária (SÁNCHEZ et al. , 2011).
Palavras-chave: Megaeventos; Produção do Espaço; Acumulação do Capital; Metrópole; Recife.
INTRODUÇÃO
Desde os anos 80 os municípios brasileiros vêm fortalecendo seu papel de gestores de
políticas públicas ligadas ao seu desenvolvimento autônomo. Uma das ações que passam a fazer
cada vez mais parte das agendas de gestores das metrópoles no mundo, e agora também do Brasil,
são a promoção e realização de Megaeventos e seus Grandes Projetos de Desenvolvimento Urbano
– GPDUs correlatos, ligados em muitos casos a projetos políticos de desenvolvimento urbano e a
busca de competitividade e investimentos dentro de uma “guerra de lugares” no chamado mercado
de cidades. A metrópole de Recife capital do estado de Pernambuco não fica de fora desse processo
e nos últimos anos puxada por um projeto de cunho “novo desenvolvimentista” do estado de
Pernambuco passou a disputar seu lugar no hall das metrópoles ligadas a uma nova economia,
centrada na produção e consumo do espaço. Tenta-se, neste artigo, visualizar como se procede nesta
metrópole uma nova fase do processo de acumulação do capital, que se dá via espoliação
(HARVEY, 2003; 2011) e/ou o papel das formas geográficas como difusoras do capital e
transformadoras das estruturas sociais. (SANTOS, 2007).
Assiste-se, também, a difusão e ascensão de novos modelos de gestão urbana e concepção
de cidades que pautam as políticas urbanas nas mais diversas cidades pelo mundo representando
uma ordem distante (global) ligada a este ajuste estrutural do capitalismo contemporâneo
(FERNANDES, 2001). A metrópole de Recife não escapa a esta lógica e passa por um ajuste
urbano que age como imperativo modernizante e/ou (re)estruturante em espacialidades e
temporalidades distintas na realidade sócio-espacial desta cidade, analisada, nesta pesquisa, como
espaço concreto numa escala local e que devido suas peculiaridades espaço-temporais impõem
novas relações e implicações de ordem espacial, política, cultural e econômica para a reflexão sobre
as tramas estabelecidas em diferentes contextos onde as escalas local e global se entrelaçam
(SANTOS 2002,2005).
Representando o segundo maior grande evento esportivo da era moderna a Copa do Mundo
vem ganhando uma dimensão nunca imaginada antes, produzindo nos países e cidades que a sediam
- como demonstrado em experiências recentes (Pan-americano 2007, Copa 2010) - mudanças
substanciais na paisagem e estrutura urbana que geralmente implicam em mudanças de conteúdos
socioeconômicos em subespaços das cidades receptoras. Mudanças essas que se relacionam com as
mudanças no planejamento urbano moderno que, nas últimas décadas, passa de uma matriz
compreensiva com ações diretas do Estado com seus zoneamentos, planos diretores e preocupação
com o interesse geral, para uma matriz de planejamento estratégico empresarial, flexível, com
intervenções urbanísticas pontuais, limitadas no tempo e no espaço (Grandes Projetos de
Desenvolvimento Urbano – GPDUs), e orientadas pelo e para o mercado, priorizando a negociação
e o compromisso em detrimento da norma e interesse geral, o contrato perante a lei (Matriz de
Responsabilidades das esferas de governo para a Copa de 2024). Assim têm-se também a gestão da
cidade como um negócio ou uma empresa, e uma coadunação/coalizão dos interesses públicos com
os privados, refletido na maioria dos GPDUs na forma de instrumentos como parcerias público-
privadas - PPPs, Operações Urbanas Consorciadas etc. (SÁNCHEZ et al., 2011; VAINER, 2009).
Como questão que norteia nosso trabalho temos que, apoiados em formas complexas de
articulação de atores públicos e privados (PPPs; Lei Geral da Copa; Operações Urbanas
Consorciadas e outras Inovações Espaciais, Institucionais e Jurídicas etc.), como os megaeventos
esportivos (Copa de 2014) e seus GPDUs correlatos (arenas esportivas, obras de mobilidade e
requalificação de áreas degradadas ou “vazias”) contribuem para acirrar as desigualdades sócio-
espaciais na metrópole estudada via (re)produção de um espaço fragmentado, homogeneizado e
hierarquizado, e facilitar o processo acumulativo do capital? (HARVEY, 2011; SÁNCHEZ et al,
2002; LEFEBVRE, 1991).
Tratando-se de um processo complexo que envolve as diferentes dimensões sociais e
processos que se dão em temporalidades e espacialidades diferenciadas dentro da própria metrópole
podemos estabelecer algumas perguntas norteadoras de nossa análise como: qual a relação, e em
que base se estabelece, entre megaeventos esportivos e planejamento urbano estratégico ou
empreendedorismo urbano nas cidades? Como se dar a ligação dos GPDUs ligados a Copa de 2014
com o capital incorporador do tipo imobiliário/financeiro em Recife e suas consequências? Qual a
ligação do planejamento estratégico de cunho neoliberal com a produção de um espaço fragmentado
objeto de uma modernização excludente no contexto da globalização?
O presente trabalho tem como objetivo analisar o processo de implementação de GPDUs
associados ao megaevento esportivo Copa de 2014 que articulam valorização financeira e interesses
comerciais e turísticos, numa ampla coalizão em torno da reprodução do espaço na metrópole de
Recife, frente a antigos e novos processos de valorização imobiliária. Tendo em vista o processo
histórico de estruturação urbana, entende-se a Copa como um importante fator catalisador de
projetos políticos de desenvolvimento urbano que, em maior ou menor grau, preexistiam ao
megaevento nas cidades estudadas, para os quais flexibilizam-se regulação e engenharias
financeiras, o que pode levar à intensificação da segregação sócio-espacial que já caracteriza esta
metrópole.
Para alcançarmos esse objetivo temos que passar por alguns pontos de análise como
identificar a relação entre a Copa de 2014 e seus GPDUs correlatos com a execução de políticas
públicas que beneficiam projetos de cidade ligados ao capital incorporador do tipo
imobiliário/financeiro na metrópole de Recife e suas consequências. Com, também, relacionar o
planejamento estratégico de cunho neoliberal vigente em muitas metrópoles no mundo, atualmente,
com a produção de espaços fragmentados e modernizações excludentes no contexto da
globalização. Cabe investigar se o evento gera embates por um ordenamento urbano distinto
daquele intencionado pelos grupos hegemônicos, identificando se existirem as ações e
posicionamentos da sociedade civil em relação a Copa de 2014.
Temos como hipótese de trabalho, a ser comprovada ou não, a de que a escolha da
metrópole estudada como cidade-sede da Copa de 2014 com suas consequentes políticas de
adaptação, modernização e renovação urbanas ligadas a habitação, ao consumo, a infraestrutura
para mobilidade e entretenimento nas áreas estudadas das cidades onde se desenvolvem GPDUs,
têm como consequência a modernização excludente de territórios ligados à ação de capitais
(imobiliários, comerciais, simbólicos e financeiros) que contribuem para acirrar as desigualdades
espaciais dessas cidades (destacamos no estudo as cidades contidas na Região Metropolitana de
Recife: Recife, Camaragibe e São Lourenço da Mata pelo porte das intervenções nelas realizadas),
por representarem uma articulação complexa entre atores públicos e privados hegemônicos e seus
consequentes projetos de modernização urbana seletiva.
Será feito pelo escopo do trabalho uma abordagem panorâmica enfocando alguns dos
principais GPDUs em diferentes estágios de execução como: Arco Metropolitano, Cidade da Copa,
Novo Recife que são bastante expressivos desta reestruturação espacial por qual passa a metrópole e
sua ligação com a produção de formas e inovações socioespaciais. Observam-se assim os projetos
ligados a três diferentes dinâmicas espaciais: os projetos localizados em áreas valorizadas e
consolidadas das cidades; os ligados a áreas degradadas ou estagnadas economicamente e; aqueles
relacionados a novas fronteiras imobiliárias e de expansão territorial.
Deve-se avisar de início, que não está no escopo deste trabalho analisar esses projetos,
planos e ações de forma exaustiva ou no seu âmago, e sim ver se/como suas metas, objetivos, ações
e desdobramentos afetam a áreas de estudo e representam de alguma forma nuances dos novos
paradigmas de gestão urbana abordados na pesquisa e/ou uma nova forma de atuação do Estado que
se dar na maioria das vezes pela consecução de GPDUs (SWYNGEDOUW ET AL, 2002)
associado à iniciativa privada via inovações políticas (Lei Geral da Copa), administrativas
(Secretaria Especial da Copa – SECOPA) e espaciais (Smart City: Cidade da Copa) ligadas ao
processo de acumulação e expansão do capital por meio da produção do espaço urbano (HARVEY,
2011).
Daí a necessidade de entender e acompanhar o processo e a ligação desses megaeventos
esportivos e seus projetos de desenvolvimento e modernização correlatos com a produção e
reprodução da estrutura desigual e segregada de cidades, tomada a cabo por GPDUs. Comparar as
experiências, identificar os processos de repercussão local, nacional e global dos seus impactos na
produção das desigualdades urbanas e as formas pelas quais essas intervenções são definidas como
prioridades das políticas urbanas, nas cidades sedes destes eventos, é uma tarefa urgente para a
reflexão sobre os caminhos e as formas de construção de cidades mais justas e menos desiguais em
que sua população tenha o tão propalado direito à cidade. Destaca-se que os GPDUs são aqui
tratados, ao mesmo tempo, como processos e como produtos – como formas-conteúdo, que afirmam
um determinado modelo de gestão urbana (SANTOS, 2002; LEFEBVRE, 1991; SÁNCHEZ et al.,
2011).
Chama-se a atenção para o fato de que as relações (im)postas entre as cidades e os
megaeventos esportivos evidenciam situações para além das atividades desportivas como a
ampliação dos espaços públicos e da qualidade de vida urbana que refletem diretamente na
reprodução das relações de produção dos espaços receptores (LEFEBVRE, 1991; RAEDER, 2010;
SÁNCHEZ et al., 2011). Desta forma essa intencionalidade de se ajustar aos interesses globais tem
como consequência a reestruturação espacial da cidade, que seletivamente escolhe os lugares já
portadores de vantagens de mercado/competitivas – ou portadores de sistemas técnicos, levando a
segregação sócio-espacial, já existente, a ficar cada vez mais gritante.
Deve-se levar em conta que Recife destaca-se, negativamente, dentre as cidades mais
desiguais do país apresentando dados preocupantes como, em 2008, encabeçar a lista das cidades
mais desiguais do país em relatório da ONU, e com índice GINI (baseado na Desigualdade de
Renda Domiciliar per Capita) em 2008 no valor de 0,6383 figurando segundo a FGV na 17ª posição
do seu ranking de desigualdade entre as 27 capitais brasileiras (NERI, 2009).
Torna-se necessário entender a lógica deste tipo de evento para compreender as
transformações ocorridas na cidade quanto ao seu ordenamento urbano e suas formas de gestão e
planejamento, entendendo que a mesma está inserida num contexto de modernização capitalista, e
que existe um conjunto de “boas” práticas urbanas, presentes em diversas cidades do mundo que
explicitamente ou implicitamente estão se instalando nesta metrópole, cabendo analisar e
compreender o que os apologistas deste tipo de eventos chamam de legado. Entendendo-se que a
metrópole se propõe a ser um destino turístico globalizado e alvo de investimentos externos
mediante expectativas de desenvolvimento (BRANDÃO, 2007; FERREIRA, 2007; HARVEY,
2005) e que a difusão de inovações técnicas (objetos e normas) não se dá uniformemente ou de
modo homogêneo, existindo uma heterogeneidade que se origina da forma como essas se inserem
desigualmente no tempo e espaço da mesma (SANTOS, 2002).
Lembrando que as transformações estruturais urbanas ligadas aos megaeventos esportivos
estão relacionadas a um modelo de produção do espaço que visa a projetar as cidades e países-sede
como “globais”, ou como territórios propensos a atrair grande aporte de capital. As metrópoles que
receberam tais eventos adotaram uma perspectiva urbana que canalizou grandes obras promovidas
pelo Estado com o objetivo de transformar as áreas obsoletas em espaços propícios a receber as
atividades da ‘economia pós-industrial’, tais como o setor de serviços, os complexos de lazer e
entretenimento, a rede hoteleira e outros. Os Grandes Projetos Urbanos ligados aos megaeventos
são instrumentos de redefinição de usos do solo em áreas centrais, suburbanas ou periféricas, como
macro projetos de produção de novos vetores de expansão urbana para o capital imobiliário.
Sob essa perspectiva, pesquisadores e movimentos sociais discutem o projeto de cidade
desenvolvido na lógica de construção dos megaeventos esportivos. A conversão dos municípios em
mercadorias e empresas foi tema de debates no Fórum Social Urbano, uma iniciativa de
organizações sociais realizada em março de 2010 no Rio de Janeiro.
Analisar os GPDUs nas cidades nordestinas sedes de jogos da Copa 2014 é uma das
principais portas para entender o processo de produção e transformação das nossas cidades.
Comparar experiências, identificar os processos de repercussão local, regional e nacional dos seus
impactos na produção das desigualdades urbanas e as formas pelas quais essas intervenções são
definidas como prioridades das políticas urbanas é uma tarefa urgente para a reflexão sobre os
caminhos e as formas de construção de cidades mais justas.
2. Cidades, megaeventos e produção do espaço: em busca de possíveis teorizações e formas de
análise
Fundamentando-se de que urbanização e o planejamento urbano são realidades sociais, e que
toda realidade social é (espacialmente) historicamente determinada, acredita-se de acordo com
Kosik (1976) que o conhecimento tem suas dimensões teóricas, interpretativa e avaliativa. Para este
[…] O conhecimento da realidade histórica é um processo de apropriação teórica – isto é,
de crítica, intepretação e avaliação dos fatos – processo em que a atividade do homem, do
cientista é condição necessária ao conhecimento objetivo dos fatos. Essa atividade que
revela o conteúdo objetivo e o significado dos fatos é o método científico (KOSIK, 1976, p.
45).
Desta forma, quanto ao método de interpretação e análise utilizado nesta pesquisa baseia-se
primeiramente em uma abordagem de cunho neomarxista, onde se elegeu a mesma por possuir uma
série de princípios e preocupações não encontrados – para o autor – em outras abordagens tais
como: análise de objetos e da relação entre eles; avanço da aparência (paisagem) à essência (espaço
relacional); possuir como instrumentos essenciais de análise: produção, reprodução, consumo, troca,
propriedade, Estado etc.; entender a cidade: como expressão da sociedade moderna; analisar os
processos de fragmentação, homogeneização e hierarquização; análise de categorias como: forma,
função, processo e estrutura e entender o espaço como: concebido, percebido e imaginado.
E como método escolheu-se o método Regressivo-Progressivo de Lefebvre por acreditarmos
na sua adequação a pesquisa, como podemos observar na citação de Soja (1993) falando sobre a
retomada da dialética na obra de Henri Lefebvre, o mesmo diz:
A dialética está novamente em pauta. Mas já não se trata da dialética de Marx, tal como a
de Marx não era mais a de Hegel (...). A dialética de hoje já não se apega à historicidade e
ao tempo histórico, ou a um mecanismo temporal como ‘tese-antítese-síntese’ ou
‘afirmação-negação-negação da negação’ (...). Reconhecer o espaço, reconhecer o que ‘está
acontecendo’ ali e para que é usado, é retomar a dialética; a análise revelará as contradições
do espaço. (LEFEBVRE, 1976 apud SOJA, 1993, 14-17).
Como algumas das políticas públicas estudadas encontram-se em fase de implementação
esta análise pautou-se, sobretudo, na capacidade ordenadora dessas políticas no que se refere aos
territórios por elas abrangidos, pois se acredita que é possível interpretar os conteúdos em
movimento examinando a dialética da forma e do conteúdo. Para tanto, baseia-se nos quadros de
referência teórica disponíveis da abordagem neomarxista e de outras perspectivas que se mostrem
elucidativas de nossa problemática, e que nos permitam inferir sobre possibilidades e limites desses
processos.
Quanto às teorias utilizadas temos como teoria de base a da Produção do Espaço de Henri
Lefebvre a qual servirá para a análise da produção contínua do espaço e sua ligação com o seu
principal produtor na cidade que é o Estado (CARLOS, 2011; GOTTDIENER, 1997; LEFÉBVRE,
1978, 1991, 1999), relação essa que possui características próprias e segue metas, sendo a principal
compatibilizar a produção do espaço com a reprodução das relações capitalistas de produção, em
um jogo de seguidos reordenamentos.
Sobre essa relação Lefebvre afirma
(...) O espaço produzido pelo Estado deve dizer-se político, com características próprias e
metas específicas. Ele reorganiza as atribuições (sociais de produção) em função do suporte
espacial; ele reencontra e choca o espaço econômico pré-existente: polos de crescimento
espontâneos, cidades históricas, comercialização do espaço fracionado e vendido em lotes,
etc. Ele tende a reconduzir não somente as atribuições sociais inerentes à produção
industrial, mas as atribuições de dominação inerentes à hierarquia dos grupos e dos lugares.
No caos das classes, ele tende a impor uma racionalidade, a sua, que tem o espaço por
instrumento privilegiado (LEFÉBVRE, s/d, p. 02).
Da citação cabe destacar o uso e valorização diferencial de fragmentos da cidade em
temporalidades diferentes como o choque entre o novo e o velho bairro do Recife, a produção de
polos de desenvolvimento como os: jurídico, médico, economia criativa etc., produção de cidades e
bairros planejados, tudo isso ligado a produção de uma racionalidade espacial ligada a produção do
espaço homogêneo, fragmentado e hierarquizado (LEFEBVRE, 1991).
Conta-se também com o rico acervo bibliográfico de diferentes estudos de caso análogos ou
aproximados das temáticas de empreendedorismo e/ou governança urbana, e de Grandes Projetos de
Desenvolvimento Urbano e seus impactos (ARANTES, 2009; COMPANS, 2005; FERNANDES,
2001; HARVEY, 2004, 2005; SÁNCHEZ et al., 2011; MOULAERT et al, 2002; RAEDER, 2010;
SMITH, 2005; SÁNCHEZ, 2001/2003; VAINER, 2009.) entre outros somados a profusão de
análises urbanas acadêmicas da cidade de Recife e de sua região metropolitana tomadas como
objeto.
Assim, no tocante aos GPDUs e seu papel, no livro “O Brasil em evidência: a utopia do
desenvolvimento” o atual governador do estado de Pernambuco Eduardo Campos fala das últimas
décadas do século XX e do desmantelamento do Estado e da falta de impulso para o crescimento
econômico no Brasil, e em especial no Nordeste, e saída da longa crise vivida pelo país. O mesmo
destaca a recente retomada do crescimento e das políticas impulsionadoras deste processo e diz
“Note-se que a recente retomada do crescimento se deu, justamente, em função de um conjunto de
políticas públicas direcionadas à elevação da renda dos mais pobres e à implementação de políticas
de desenvolvimento voltadas para o fortalecimento da infraestrutura, o aumento do nível de
investimento em grandes projetos e a geração de emprego” (CAMPOS, 2012, p.12).
Assim temos o papel dos grandes projetos sendo levantado por um representante do Estado,
que comanda um dos estados que mais se desenvolveu nos últimos anos, mas com uma série de
contradições dentro deste processo. Sobre o papel dos GPDUs o livro “The globalized city:
economic restructuring and social polarization in European Cities” de Moulaert et al. (2002) analisa
como os processos de globalização e liberalização econômica se articulam com o surgimento de
novas formas de governança urbana, e sobre a relação entre os projetos de desenvolvimento urbano
em grande escala e as relações políticas, sociais e econômicas de poder na cidade. Os autores
pesquisaram 13 projetos de desenvolvimento urbano em grande escala (GPDUs) em 12 países da
União Europeia e chegaram a algumas conclusões, das quais destacamos:
a) Os grandes GPDUs são cada vez mais utilizados para estabelecer medidas de
excepcionalidade em procedimentos e políticas de planejamento, fazendo parte da chamada pelos
autores de "Nova Política Urbana" neoliberal, que é associada com as novas formas de governança
interurbana e suas intervenções caracterizadas por processos menos democráticos e prioridades
orientadas pelas elites ou frações de capital dirigentes. (MOULAERT et al., 2002)
Pudemos perceber isso na região metropolitana de Recife com as obras de mobilidade para a
Copa de 2014 com a remoção de centenas de famílias: a ampliação do Terminal Rodoviário de
Cosme e Damião motivou que a prefeitura marcasse as residências de 200 famílias e fizesse um
cadastro sem esclarecer o motivo (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011).
Neste dossiê elaborado pelos Comitês Populares da Copa e articulado pela relatora especial da
Organização das Nações Unidas (ONU) para a Moradia Adequada a urbanista e professora Raquel
Rolnik pode-se encontrar algumas das práticas ligadas ao paradigma relacionado como “[...] quando
o Poder Público já não mais negocia, apenas mostra sua força diante do cidadão mais desprovido.
São aplicadas estratégias de guerra e perseguição, como a marcação de casas a tinta sem
esclarecimentos, a invasão de domicílios sem mandados judiciais, a apropriação indevida e
destruição de bens móveis [...] Este relato está focado em 21 casos de vilas e favelas nas cidades de
Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo e tem como
pano de fundo comum o propósito da higienização, da ‘faxina social’, para o uso futuro de terras de
alto valor imobiliário ou onde o Estado deseja repassar a mais-valia decorrente de seus vultosos
investimentos à iniciativa privada”.(Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011, p.
24).
Assim vemos surgir o projeto Cidade da Copa, um megaprojeto ligado a Copa do Mundo de
2014, a ser implantado em São Lourenço da Mata, numa área de 239 hectares. Com investimentos
estimados em R$ 1,6 bilhão para construção do Estádio para 46 mil pessoas, a partir da PPP
(Parceria Público-Privada), formada pela a Odebrecht Participações e Investimentos, ISG
(International Stadia Group) e a AEG Facilities, prevê, além da construção, exploração, operação e
manutenção do estádio pelo prazo de até 33 anos. (LEAL & SOUSA, 2012).
c) como na sua maioria são projetos pontuais os mesmos são integrados precariamente nos
processos e sistemas de planejamento urbanos, tem-se como consequência um ambiguidade quanto
a seu verdadeiros impactos na cidade ou na área onde os mesmos estão localizados (SÁNCHEZ et
al., 2002). Neste ponto temos “As obras em área antes desocupada dão como fato consumado a
abertura de uma frente de expansão urbana sem planejamento prévio, e com impactos ainda em
estudo [...] a Cidade da Copa, onde deverá se inserir o estádio, está localizada em São Lourenço da
Mata e tem licenciamento ambiental ainda em tramitação na Agência Estadual de Recursos
Hídricos – CPRH”. (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011, p. 64).
d) em grande parte dos GPDUs acentua-se a polarização socioeconômica através da ação
dos mercados imobiliários (com subida de preços e deslocamento de habitação social ou de baixa
renda), há também mudanças nas prioridades dos orçamentos públicos, que são cada vez mais
redirecionados de objetivos sociais para investimentos no ambiente construído e a reestruturação do
mercado de trabalho e captura de investimentos privados.
Temos também que “[...] São grandes obras viárias, em sua maior parte relacionadas pelo
Poder Público aos estádios da Copa ou a projetos de mobilidade que incluem ligações a instalações
aeroportuárias [Arco Metropolitano], sempre abrindo novas frentes imobiliárias em suas margens
ou em seus destinos”. (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011, p. 25).
Em seu livro “O enigma do capital” Harvey (2011) destaca o conceito de “destruição
criadora” e a necessidade premente do sistema produzir novos espaços para fugir de sua crise de
acumulação por meio da absorção do excedente na transformação urbana. Harvey aponta o lado
sombrio deste processo “O lado sombrio da absorção do excedente por meio da transformação
urbana implica, entretanto, episódios repetidos de reestruturação urbana com ‘destruição criadora’.
Isso destaca a importâncias das crises como momentos de reestruturação urbana. Tem uma
dimensão de classe, pois são geralmente os pobres, os desfavorecidos e os marginalizados do poder
político que sofrem especialmente com esse processo” (HARVEY, 2011, p. 144).
Harvey, também, chama a atenção de como a qualidade de vida urbana torna-se hoje uma
mercadoria tão importante quanto o próprio direito à cidade. Sobre esse processo de reconstrução
urbana mundial o mesmo assevera “A qualidade de vida urbana tornou-se uma mercadoria para
aqueles com dinheiro, assim como para a própria cidade, num mundo onde o turismo, o
consumismo, o marketing de nicho, as indústrias culturais e de conhecimento, e também a perpétua
dependência em relação à economia política do espetáculo, tornaram-se os principais aspectos da
economia política do desenvolvimento urbano” (HARVEY, 2011, p. 143). Assim vemos em Recife
a criação de equipamentos de lazer e entretenimento, cidades planejadas, requalificação de áreas
degradadas etc.
Temos assim uma expansão geográfica da produção imobiliária com empresas agora
capitalizadas na bolsa após sua abertura de capital, seguindo outros ramos da economia, produzindo
cada vez mais. Destaca-se aqui o pensamento de Harvey sobre isso quando diz “O ambiente
construído que constitui um vasto campo de meios coletivos de produção e consumo absorve
enormes quantidades de capital tanto na construção quanto na manutenção. A urbanização é uma
forma de absorver o excedente de capital” (HARVEY, 2011, p. 75). A tese de Harvey é provar
como os processos gerais de produção do espaço são presas de processos de formação e resolução
de crises, para tanto o mesmo utiliza a ideia de ordenação espaço-temporal que aborda a absorção
dos excedentes de capital e trabalho que são características do processo de sobreacumulação, em
um dado tempo, em um sistema territorial pelos seguintes fatores: deslocamento temporal via
investimentos de capital de longo prazo ou gastos sociais, para retardar a circulação de valores de
capital; deslocamentos espaciais por meio da abertura de novos mercados, novas capacidades
produtivas e de recursos, sociais e de trabalho (HARVEY, 2003). O mesmo prefere a combinação
destes dois fatores. Assim o mesmo indica através da análise dos fluxos de capital dentro dos
circuitos do capital a passagem destes fluxos do circuito primário (produção e consumo imediatos)
para os circuitos secundário (capital fixo e de formação de fundo de consumo) e terciário (gastos
sociais e de pesquisa e desenvolvimento) que absorvem o capital excedente em investimentos de
longa duração.
No circuito secundário do capital os fluxos tomam dois caminhos: capital fixo (instalações
fabris [FIAT em Goiana], entroncamentos ferroviários [Transnordestina], rodovias [Arco
Metropolitano] e portos [Suape] etc.) e a produção de fundo de consumo (como a habitação
[MCMV]). Avulta-se aqui que esse circuito é um grande absorvedor de capital e trabalho,
principalmente em condições de expansão geográfica. (HARVEY, 2003).
Deve-se tomar atenção para o fato de que as agendas e ações ligadas a estes projetos
gerarem um desenho fundamentado no crescimento de "ilhas de desenvolvimento" ligadas por obras
de mobilidade que leva à assertiva de que a produção do espaço através da inovação (espacial,
financeira, jurídica etc.) favorece a obtenção de uma alta lucratividade, dinamizando a atividade
imobiliária e a polarizando. Em consequência, a competição entre as empresas do setor imobiliário
gera o aumento do preço do solo, motivando a busca por terrenos mais distantes dos principais
centros urbanos ou em outros municípios e estados. A expansão em direção às periferias (ou,
inclusive, áreas rurais), às cidades médias e às fronteiras agrícolas parece estar promovendo
mudanças importantes na rede de cidades brasileiras. (LEAL & SOUZA, 2012; FIX, 2011).
Assim se dá uma produção do espaço fragmentado, produção de espaços seletivos, algo
próximo do processo de produção do espaço estudado por H. Lefebvre quando o mesmo afirmava
que existiam três momentos: homogeneização, fragmentação e hierarquização.
Atente-se também para a ascensão de novas formas de gestão pública como o
Empreendedorismo Urbano (HARVEY, 2005; COMPANS, 2005), paradigma de gestão pública
advindo do processo de reestruturação produtiva como forma de manter a reprodução ampliada do
capital nas cidades que possui uma relação muito estrita com os megaeventos. Como podemos ver
com Compans quando comenta “Esse padrão de comportamento diz respeito à assunção de um
papel dirigente do governo local (ou supralocal) na promoção do desenvolvimento econômico –
seja na inversão direta de recursos na modernização da infraestrutura urbana, seja na elisão de
constrangimentos de natureza legal ou burocrática à valorização dos capitais privados -, a
participação crescente do setor privado na gestão dos serviços e equipamentos públicos, à busca de
construção do consenso social em torno de prioridades “estratégicas” de investimentos e à
introdução de uma racionalidade empresarial na administração dos negócios públicos”
(COMPANS, 2005, p.20).
Analisa-se também o papel das novas formas espaciais urbanas (ou inovações espaciais)
ligadas às novas qualidades da cidade e do urbano e sua relação com a reprodução das relações de
produção capitalistas (SPÓSITO, 2010; CORREA, 2010; LEFEBVRE, 1991,1999; SANTOS 2002,
2005 e 2007).
Milton Santos (2007 [1979]) no seu livro Economia Espacial já falava do papel das formas
como ferramentas do capital, sugerindo como algumas delas adquiriram certo poder que nunca
haviam possuído antes, e de como as mesmas carregavam uma intencionalidade, sobre isso o
mesmo afirma “[...] o mecanismo do planejamento tornou-se mais sutil. Os povos e países
envolvidos, que têm passado da lavagem cerebral das teorias ocidentais acerca do crescimento e do
espaço ou que se encontram indefesos perante elas, podem nem sequer suspeitar dos efeitos do
planejamento [...] As formas este novo cavalo de Tróia, tornaram-se um meio de penetração nos
países subdesenvolvidos”. (SANTOS, 2007, 188-9). Assim temos, atualmente, uma série de
projetos na região metropolitana de Recife que a primeira vista não mostram sua intencionalidade
nem sua ligação como Arco Metropolitano projeto parecido com os implementados em São Paulo
(Rodoanel) e Rio de Janeiro que compreende uma nova rodovia de 77 quilômetros estimada em R$
1,21 bilhão. O Arco será uma via expressa e pedagiada que funcionará como alternativa rápida ao
estrangulado trecho urbano da BR-101. Liga-se a isso a Cidade da Copa empreendimento que
exigirá investimentos públicos em infraestrutura urbana de grande monta, para além das obras de
mobilidade previstas, enquanto extensas áreas da Região Metropolitana de Recife – RMR
permanecem com problemas estruturais de abastecimento de água, rede de esgoto e acessibilidade,
entre outros. (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011).
Sobre isso Santos (2007) afirma “[...] a execução de projetos de planejamento aparentemente
isolados mas que, contudo, visam ao mesmo alvo: acelerar a modernização capitalista e frustrar, se
necessário, projetos nacionais de desenvolvimento” (SANTOS, 2007, p. 189).
Assim destaca-se também o papel das formas espaciais e/ou inovações espaciais (SANTOS,
2007; CORREA, 2010) no processo de acumulação e expansão do capital via produção do espaço
urbano (HARVEY, 2011), onde se destaca o papel da tríade: condomínios fechados e/ou cidades
planejadas, shoppings centers e equipamentos de lazer e entretenimento, com obras de mobilidade
neste processo, e a busca de uma “nova” mercadoria especial que é a qualidade de vida urbana
contraposta à crise e caos urbano.
Destacamos que o paradigma/modelo de empreendedorismo urbano e/ou governança urbana
como outros paradigmas divulgados mundialmente por consultores são tratados, aqui, como técnica
na concepção de Santos (2002) onde são analisadas através de sua difusão mundial, como
verticalidades e dentro de redes que representam uma inteligência planetária, com atores e
instrumentos de transposição, difusão e afirmação de tais modelos, onde existe uma expertise
internacional produtora de projetos de megaeventos e modelos de governança (SÁNCHEZ et al.,
2011), que se apresentam aos territórios como norma, produzindo na concepção lefebvriana o
espaço do reprodutível, repetitivo e um cotidiano alienado.
ESTRATÉGIAS DE PESQUISA (METODOLOGIA)
Optamos por uma pesquisa do tipo qualitativa tendo por base conhecimentos teórico-
empíricos que lhe deem sua cientificidade, tendo a metrópole de Recife como ambiente e fonte de
dados permanentes e o pesquisador como instrumento chave. Sendo que na avaliação das políticas
públicas para as subáreas de estudo, na dimensão de se inquerir se as mesmas estão a causar
valorização ou rendas diferenciais e processos de segregação sócio-espacial nas distintas áreas
levam a ser necessário avaliar dados (variáveis) estatísticos secundários, fazendo uma triangulação
entre pesquisa qualitativa e quantitativa, sabendo que as duas não se excluem mutuamente. Neste
momento serão avaliados dados desagregados dos bairros ou subáreas que serão obtidos dos censos
(áreas de ponderação e/ou setores censitários dependendo do caso), sendo mais a frente explicada a
metodologia para isso. Quanto ao objetivo da pesquisa a mesma é do tipo explicativa entendendo a
mesma com base em Gil (2007) como aquela centrada na preocupação de identificar fatores
determinantes ou contributivos ao desencadeamento dos fenômenos, sendo a relação espaço e
tempo fundamental neste tipo de pesquisa, como já havíamos analisado a partir de Kosik (1976).
Como uma parte das políticas públicas estudadas encontram-se em fase de implementação,
esta análise pauta-se, sobretudo, na capacidade ordenadora dessas políticas no que se refere aos
territórios por elas abrangidos, pois se acredita que é possível interpretar os conteúdos em
movimento examinando a dialética da forma e do conteúdo. Para tanto, se baseia em quadros de
referência teórica e estudos de caso disponíveis, que nos permitem inferir sobre possibilidades e
limites desses processos (KOSIK, 1976; LEFEBVRE, 1999; SANTOS, 2002).
Quanto aos instrumentos de coleta de dados a pesquisa é duplamente bibliográfica e
documental, neste ponto realiza-se uma busca de fontes de dados secundários (internos e externos).
Primeiramente, fez-se uma pesquisa bibliográfica e cartográfica procurando identificar a maioria
dos projetos e literatura que contemplem a área estudada. Essa pesquisa foi feita nas Universidades,
bibliotecas, jornais e demais acervos públicos. Pretendeu-se com isso dar inicio a construção da
base teórica e empírica norteadora da pesquisa.
Foi e ainda será necessária, também, uma pesquisa documental em órgãos públicos e
instituições responsáveis pelo planejamento e gestão das cidades ou de outra escala (governo do
estado ou federal) envolvidos com projetos nas subáreas estudadas, onde pesquisou-se/se pesquisará
sobre os projetos, programas e ações para as subáreas, seus devidos andamentos, a existência de
conflitos, ou não, de interesses e outras informações que se acharem pertinentes. Com agentes
representativos destas instituições/firmas citadas serão realizadas quando necessário e dependendo
dos agentes entrevistas semiestruturadas.
Fez-se/Pretende-se fazer visitas ao campo com documentação escrita e fotográfica, para que
com isso se possa ter uma verdadeira apreensão da realidade. Nestas visitas, foram/serão feitas
observações do tipo assistemáticas procurando seguir o objetivo da pesquisa sem se ater a uma
periodicidade definida, onde serão observadas as características do solo urbano quanto ao seu uso e
ocupação (andamento das obras; obstáculos a mobilidade; infraestrutura; disposição e uso dados aos
equipamentos coletivos), como também acompanhamento dos sujeitos sociais envolvidos.
Destaca-se também que pela transitoriedade e dinâmica do objeto e tema a pesquisa não
apresenta um caráter linear de utilização de passos de pesquisa fixos, sendo mais processual,
variando com as possibilidades concretas que se coloquem ao pesquisador. Desta forma, a pesquisa
apresenta um processo de idas e vindas, à medida que novas informações forem coletadas e novas
situações se colocarem, dando uma nova luz aos seus objetivos e a realidade a qual estuda. Que
pode ser justificado pelo caráter dinâmico da produção científica.
Com base em (RAEDER, 2010; SÁNCHEZ et al., 2011) toma-se como recurso
metodológico para compreensão das transformações nas cidades estudadas e base para sua
comparação uma tipologia de análise destes impactos numa perspectiva sócio-espacial, tendo como
enfoque revelar em que medida os investimentos públicos realizados em função do evento
contribuem para a redução ou agravamento das desigualdades sócio-espaciais, desta forma toma-se
algumas categorias ou eixos considerados importantes para esta análise, baseados nas matrizes de
competências das duas cidades descritas: requalificação de áreas degradadas ou “vazios” urbanos;
obras de mobilidade para o evento; os projetos das arenas esportivas e seus entornos, e as remoções
e reassentamentos de famílias desalojadas pelas obras citadas (RAEDER, 2010). Ainda do ponto de
vista metodológico e comparativo o trabalho intenta realizar uma reflexão transdimensional da
problemática estudada e sua inserção nas cidades analisadas baseada em Mascarenhas, Bienenstein
e Sáchez (2011) e MOULAERT et al., 2002, buscando articular as dimensões de análise que
orientam a pesquisa, que são: política (contexto político, coalizões, divisão de responsabilidades
entre entes federados – matriz de reponsabilidades - e movimentos de contestação do evento);
institucional (investiga os processos decisórios, modos de implementação do projeto – parcerias,
inserção de novos dispositivos legais e institucionais, as disputas [políticas, econômicas e
simbólicas] nas diversas escalas; simbólica (investiga a economia simbólica envolvida na
implementação do megaevento, buscando desvelar suas principais motivações, sua ordem de
justificação, a retórica na divulgação e legitimação do projeto, as campanhas a ele associado, a
produção do consenso e seu impacto no imaginário popular); arquitetônico-urbanística (trata das
referências urbanísticas tomadas como modelo e seus possíveis impactos, dos instrumentos
urbanísticos e/ou fundiários associados ao uso e ocupação do solo [analisados como técnicas], como
a flexibilização da legislação urbanística e ambiental, ou definição de “áreas de especial interesse
urbanístico”); dimensão fundiária: tem como objetivo verificar os impactos na dinâmica imobiliária
com a evolução dos preços nas regiões afetadas bem como as transformações na estrutura fundiária
das respectivas regiões dos projetos; dimensão sócio-ambiental: aborda, sobretudo, aspectos
relativos ao acesso social e controle público dos equipamentos, as relações entre os espaços
públicos e privados, os processo de segregação sócio-espacial via habitação e a avaliação de
impactos sócio-ambientais; dimensão econômico-financeira (analisar panoramicamente os valores
investidos na implementação do megaevento, os montantes investidos pelos agentes públicos e
privados, se houve alterações de valores dos projetos e matrizes de responsabilidades das cidades
para a conclusão das obras, e análise comparativa aos recursos empregados em infra-estrutura de
consumo coletivo e infraestruturas ligadas exclusivamente a realização dos jogos em áreas
seletivas). (SÁNCHEZ et al., 2011). Atenta-se que pode-se no decorrer da pesquisa dentro da
análise de seu andamento privilegiar algumas dessas dimensões, com risco de se perder em rigor e
totalidade, pois como demonstrado em trabalhos de seus mentores as dimensões são
complementares e interdependentes.
Para intentar compreender a dimensão espacial do processo de desenvolvimento capitalista
na cidade entendemos com Brandão (2007) e Santos (2005) que a categoria divisão social e
territorial do trabalho seja básica na investigação da dimensão espacial do desenvolvimento, posto
que permeia todos os seus processos em todas as escalas, sendo a mesma também capaz de revelar
as mediações e as formas concretas em que se processa e manifesta a reprodução social do espaço,
expressando a constituição socioprodutiva interna aos subespaços estudados. Desta forma podem-se
medir as mudanças e/ou permanências de conteúdo social, como também os possíveis processos de
exclusão/inclusão social e segregação sócio-espacial nas cidades e seus subespaços estudados. A
dinâmica urbana reflete a estrutura social no mesmo sentido em que constitui-se como um
mecanismo específico de reprodução das desigualdades das oportunidades de participar na
distribuição da riqueza gerada na sociedade. Esta reflexão e formulação, presentes em autores como
David Harvey (1981) em “A justiça social e a cidade” e Santos (1993) em “A urbanização
brasileira” constitui-se em um fundamento analítico a ser perseguido. Este estudo baseia-se para
isso em algumas variáveis como: atividade econômica e rendimento de trabalho, anos de estudo,
lugar de nascimento, deslocamentos realizados para o trabalho ou estudo, grupos ocupacionais,
condição de ocupação, bem como informações sobre o número de componentes das famílias
residentes em domicílios particulares permanentes, existência de bens duráveis e infraestrutura de
saneamento básico nesses domicílios, entre outros dados que se achem necessários com o
andamento da pesquisa, em que pese não serem as únicas determinantes na produção de processos
de exclusão/inclusão social, como também o adensamento nas subáreas, mas são sem dúvida fatores
determinantes para sua caracterização. Assim, tentar-se-á conhecer as mudanças e permanências no
perfil da população nas áreas foco da pesquisa como passo importante na identificação e discussão
das desigualdades (MELAZZO, 2006). Pretende-se problematizar alguns aspectos do processo de
distribuição da renda e a posse e condições dos domicílios no interior dos subespaços urbanos
estudados a partir dos resultados dos chefes de domicílio observados nos Censos Demográficos do
IBGE nos anos de 1991, 2000 e 2010. Alerta-se que este estudo apenas restringe-se a apresentar os
resultados empíricos obtidos ao lidar com as variáveis selecionadas de chefes de domicílio,
desagregadas por setores urbanos, mas que procurar-se-á fazer também análises mais trabalhadas
com cruzamentos de variáveis distintas e confecção de mapas utilizando-se para isso de programas
como o SPSS 17.0 e Philcarto que permitam explicitar e demonstrar de forma melhor os objetivos e
questões levantadas.
Considerações Finais e/ou Futuras Proposições
Optou-se por uma pesquisa qualitativa que objetiva inquerir se a Copa de 2014 significa um
extraordinário instrumento de legitimação de grandes projetos de transformação do tecido urbano,
com vistas a intensificar retornos privados em termos de valorização imobiliária e financeira, haja
vista a dimensão dos recursos públicos envolvidos e o regime jurídico excepcional de que são
beneficiários, justificando-se os elevados custos aos cofres públicos e as consequências em termos
de aprofundamento de disparidades e de segregação sócio-espaciais que tais projetos deverão
provocar pela “modernização” da cidade e pelos empregos a serem gerados com tais projetos, a
exemplo de experiências ocorridas em diversas outras cidades no planeta (HARVEY, 2005;
SWYNGEDOUW et al, 2002).
Vem ocorrendo no estado de Pernambuco, e, particularmente, na Região Metropolitana de
Recife – RMR estratégias ligadas à produção do espaço em infraestruturas para a Copa de 2014 e
outros projetos desenvolvimentistas que acabam por liberar um conjunto de ativos (terras, taxação,
inclusive força de trabalho) a custo baixo ou zero para que o capital sobreacumulado possa dar-lhe
um uso lucrativo, geralmente sem consideração dos efeitos sociais de tais inversões.
Atenta-se que a maioria dos trabalhadores das cidades da Região Metropolitana de Recife
encontrar-se empregada ou ocupada em atividades dentro do circuito inferior da economia
(SANTOS, 2005; 2007) e a inserção de novas formas espaciais em alguns subespaços da metrópole
pode levar ao desmantelamento da economia local e completa dependência do circuito inferior com
relação ao circuito superior criado e reforçado, gerando um curto-circuito da economia local a qual
emprega a maioria das pessoas, que por conta de sua baixa escolaridade terão problemas em se
enquadrar dignamente e de forma positiva nesta nova economia, e poderão engrossar o quadro de
trabalhadores inseridos na precarização do mundo do trabalho, isso para os absorvidos.
Assim, temos como vimos com Harvey (2011) uma inserção de megaprojetos de
desenvolvimento urbano e regional na RMR que esboçam um projeto de governo ligado a uma
matriz “novo desenvolvimentista” (BRESSER-PEREIRA, 2010) que refletem uma urbanização
como forma de absorver o excedente de capital sob a produção de formas geográficas no espaço
urbano das cidades atrelado ao processo de acumulação e expansão do capital.
Como este artigo faz parte de nosso projeto de doutorado acreditamos que para dar conta de
toda a complexidade desta análise caminhos terão que ser tomados e produtos terão que ser
produzidos em uma sequência que podem perfilar-se em “sucessivos” momentos.
Para proceder a tal investigação, será efetuado nas cidades selecionadas extenso
levantamento de documentos coletados em fontes oficiais e jornalísticas, de depoimentos obtidos
junto a atores envolvidos e de informações estatísticas desagregadas à escala dos bairros ou
subáreas afetadas pelos projetos. Com isso, a pesquisa produzirá um banco de dados sistematizados
sobre tais áreas que incluirão informação sobre a formação do espaço urbano das áreas selecionadas
segundo a tipologia de intervenção a ser proposta, acervo iconográfico, banco de dados
socioeconômicos e urbanísticos que poderão contribuir para o acervo do Observatório de
Pernambuco sediado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPE, subsidiando o
desenvolvimento de outras pesquisas que considerem o problema da apropriação privada de rendas
produzidas por investimentos públicos em urbanização.
De posse destas informações, a presente pesquisa pretende desenvolver uma metodologia de
análise de impacto de megaprojetos no tecido urbano, construída com base em uma tipologia de
impactos voltada a apreciar em que medida os investimentos públicos realizados em função do
evento contribuem para a redução ou agravamento de desigualdades sócio-espaciais. Desta forma,
serão selecionadas categorias de análise baseadas nas matrizes de competências das duas cidades
descritas, tais como: requalificação de áreas degradadas ou estagnadas; obras de mobilidade para o
evento; projetos das arenas esportivas e seus entornos, e remoções e reassentamentos de famílias
desalojadas pelas obras citadas (RAEDER, 2010). A proposta metodológica associará estas
categorias a um enfoque multidimensional da problemática estudada baseado em Mascarenhas,
Bienenstein e Sáchez (2011), de modo a propiciar uma compreensão global do processo de tamanha
complexidade. Tais dimensões já foram apontadas na metodologia (político-institucional;
urbanística; dimensão fundiária; dimensão sócio-ambiental e dimensão econômico-financeira)
(SANCHEZ et al. , 2011). A metodologia a ser desenvolvida pode ser avaliada e auxiliar futuras
pesquisas nesta área.
Análises dos dados sistematizados e dos resultados da aplicação da metodologia de impactos
urbanos dos projetos serão revertidas na elaboração de ao menos dois artigos a serem submetidos a
eventos nacionais e periódicos de referência em planejamento urbano e regional e em geografia, e
um artigo submetido a periódico internacional.
Finalmente, pretende-se no decorrer do doutorado, realizar a transferência das análises dos
levantamentos realizados à sociedade através da participação em seminários e workshops
organizados pelo movimento social, assim como a publicação de artigos e ensaios de penetração
popular sobre o tema.
BIBLIOGRAFIA
ARANTES, O.; VAINER, C. B. & MARICATO, E. A cidade do pensamento único: desmanchando
consensos. São Paulo: Vozes, 2009.
ARTICULAÇÃO NACIONAL DOS COMITÊS POPULARES DA COPA. 2011. Megaeventos e
Violações de Direitos Humanos no Brasil – Dossiê. Brasil.
BRANDÃO, Carlos A. Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global.
Campinas, SP: Editora UNICAMP, 2007.
BRESSER-PEREIRA, L. C. 2010. Do antigo ao novo desenvolvimentismo na
América Latina. FGV-SP (Texto para Discussão n.274, Novembro de 2010).
CAMPOS, E. 2012. Desenvolvimento e solidariedade. In. O Brasil em evidência: a utopia do
desenvolvimento. MARTINS, P. E. M. & MUNTEAL, O. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; FGV.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A condição espacial. São Paulo: Contexto, 2011.
CAVALCANTI, M. A. de Holanda, CASTILHO, C. Jorge Moura de. Grandes eventos e produção
do espaço: uma análise de São Lourenço da Mata/PE como sede da Copa do Mundo de 2014 –
apontamentos iniciais. s/l, s/d.
COMPANS, Rose. Empreendedorismo urbano: entre o discurso e a prática. São Paulo: Unesp,
2005.
CORREA, Roberto Lobato. Inovações espaciais urbanas: algumas reflexões. In: Formas espaciais e
política(s) urbana(s). Cidades – Revista científica/Grupo de Estudos Urbanos, Vol. 7., n. 11, 2010.
FERNANDES, Ana Cristina. Da reestruturação corporativa à competição entre as metrópoles:
lições urbanas sobre os ajustes de interesses globais e locais no capitalismo contemporâneo. In:
Aliança e Competição entre Cidades. Espaço & Debates - Revista de Estudos Regionais e Urbanos,
Ano XVII, 2001, nº 41.
FERREIRA, José S. Whitaker. O mito da cidade-global: o papel da ideologia na produção do
espaço urbano. Petrópolis, RJ: Vozes; São Paulo, SP: Editora Unesp; Salvador, BA: ANPUR, 2007.
FIX, M. A. B.. 2011. Financeirização e transformações recentes no
circuito imobiliário no Brasil. 2011. Tese (Doutorado em Desenvolvimento
Econômico) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas.
Campinas.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2007.
GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. 2a ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1997.
HARVEY, David. O novo imperialismo. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
________. Espaços de Esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
________. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005.
________. O enigma do capital: e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011.
KOSÍK, Karel. Dialética do concreto. Rio do Janeiro: Paz e Terra, 1976.
LEFEBVRE, Henri. O espaço e o estado. In: De l´Etat. (Vol. IV). Paris: Union Générale d’
Éditions, 1978. p. 259-324. (Tradução).
_________ . The Production of Space. London, Blackwell, 1991.
_________ . A revolução Urbana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
LEAL, Suely M. R. & SOUSA, J. C. R. M. de. 2012. Uma análise das tendências
dos novos empreendimentos imobiliários em Pernambuco: as cidades
planejadas. Recife: UFPE (No prelo).
MELAZZO, Everaldo Santos. Padrões de desigualdades em cidades paulistas de porte médio: a
agenda das políticas públicas em disputa. 2006. 230 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade
de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente.
MOULAERT, F., SWYNGEDOUW, E., RODRÍGUEZ, A. (Org.). The globalized city: economic
restructuring and social polarization in European Cities. Oxford: Oxford University Press, 2002.
NERI, Marcelo C. Performance social das 27 capitais brasileiras entre mandatos de prefeitos: com
especial menção ao Rio, sede olímpica de 2016 e as sedes da Copa de 2014. Rio de Janeiro:
FGV/IBRE, CPS, 2009.
RAEDER, Sávio. Jogos & cidades: ordenamento territorial urbano em sedes de megaeventos
esportivos. Brasília: Ministério do Esporte/ 1º Prêmio Brasil de Esporte e Lazer de Inclusão Social,
2010.
SÁNCHEZ, F.; BIENENSTEIN, G.; LIMA JR, P.; OLIVEIRA, F. Jogos Panamericanos Rio:
uma análise transdimensional do projeto urbano. Anais do XII ENANPUR. Belém: ANPUR, 2007.
SÁNCHEZ, F. ;MASCARENAS, G.; BIENENSTEIN, G.;. O jogo continua: megaeventos
esportivos e cidades. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
SANTOS, Milton. Natureza do Espaço. São Paulo: EDUSP, 2002.
________Da totalidade ao lugar. São Paulo: Edusp, 2005;
________Economia espacial: críticas e alternativas. 2. Ed. São Paulo: EDUSP, 2007.
SMITH. Neil. The new urban frontier: gentrification and revanchist city. London & New York:
Routledge, 2005.
SMOLKA, Martin O capital incorporador e seus movimentos de valorização. In: Cadernos
IPPUR/UFRJ, ano II, n.1, jan/abr. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987b, p. 41-78.
SOJA, Edward. Geografias pós-modernas: a rearfimação do espaço na teoria social crítica. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
SPÓSITO, M. E. B. Formas espaciais e papéis urbanos: as novas qualidades da cidade e do
urbano. . In: Formas espaciais e política(s) urbana(s). Cidades – Revista científica/Grupo de Estudos
Urbanos, Vol. 7., n. 11, 2010.
SWYNGEDOUW, E. Let the people Govern? Civil Society, Governmentality and Governance-
Beyond-the-State. Urban Studies, special issues (SINGOCOM), 2003.
VAINER, C. Megaeventos podem transformar Rio em 'cidade de exceção'. <
http://www.olharvirtual.ufrj.br/2010/index.php?id_edicao=290&codigo=3 > Acessado em 15 de
julho de 2012.
VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Nobel, 2001.
SITES CONSULTADOS
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/08/06/carlos-vainer-discute-megaeventos-cidade-
de-excecao-396846.asp
http://ongcidade.blogspot.com.br/2012/01/megaeventos-agenda-p-o-conselho-das.html
http://www.portalpopulardacopa.org.br/index.php
http://comitepopularpe.wordpress.com/
http://forumsocialurbano.wordpress.com/
http://copa2014curitiba.wordpress.com/2011/08/03/fontes-sobre-megaeventos-esportivos-
bibliografia/
http://multimidia.brasil.gov.br/biblioteca/biblioteca.html#matriz
http://www.portal2014.org.br/noticias/1888/
CONHECA+OS+PROJETOS+DE+MOBILIDADE+DAS+CIDADESSEDE.html