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MEGAEVENTOS E EXPANSÃO GEOGRÁFICA DO CAPITAL: A COPA DO MUNDO DE 2014 E A PRODUÇÃO CONTRADITÓRIA DO ESPAÇO NA METRÓPOLE DE RECIFE Alexandre Sabino do NASCIMENTO Universidade Federal de Pernambuco Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGEO/UFPE Grupo de Pesquisa em Inovação Tecnológica e Território - GRITT RESUMO Assiste-se, atualmente, a emergência de um paradigma de gestão urbana que tem dado destaque a (re)produção de um espaço urbano cada vez mais fragmentado nas cidades. Onde o Estado atua na consecução de grandes projetos de desenvolvimento urbano (SWYNGEDOUW ET AL, 2002) associado à iniciativa privada via inovações políticas, administrativas e espaciais. O objetivo deste estudo é demonstrar o papel das formas espaciais e/ou inovações espaciais (SANTOS, 2007; CORREA, 2010) no processo de acumulação e expansão do capital via produção do espaço urbano na metrópole de Recife (HARVEY, 2011). Para tanto baseia-se em uma metodologia transdimensional com dimensões de análise como: política, institucional, simbólica, urbanística, fundiária (SÁNCHEZ et al. , 2011). Palavras-chave: Megaeventos; Produção do Espaço; Acumulação do Capital; Metrópole; Recife.

Megaeventos e Expansão Geográfica Do Capital

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Assiste-se, atualmente, a emergência de um paradigma de gestão urbana que tem dado destaque a (re)produção de um espaço urbano cada vez mais fragmentado nas cidades. Onde o Estado atua na consecução de grandes projetos de desenvolvimento urbano (SWYNGEDOUW ET AL, 2002) associado à iniciativa privada via inovações políticas, administrativas e espaciais. O objetivo deste estudo é demonstrar o papel das formas espaciais e/ou inovações espaciais (SANTOS, 2007; CORREA, 2010) no processo de acumulação e expansão do capital via produção do espaço urbano na metrópole de Recife (HARVEY, 2011). Para tanto baseia-se em uma metodologia transdimensional com dimensões de análise como: política, institucional, simbólica, urbanística, fundiária (SÁNCHEZ et al. , 2011).

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MEGAEVENTOS E EXPANSÃO GEOGRÁFICA DO CAPITAL: A COPA

DO MUNDO DE 2014 E A PRODUÇÃO CONTRADITÓRIA DO ESPAÇO NA

METRÓPOLE DE RECIFE

Alexandre Sabino do NASCIMENTO

Universidade Federal de Pernambuco

Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGEO/UFPE

Grupo de Pesquisa em Inovação Tecnológica e Território - GRITT

RESUMO

Assiste-se, atualmente, a emergência de um paradigma de gestão urbana que tem dado destaque a (re)produção de um espaço urbano cada vez mais fragmentado nas cidades. Onde o Estado atua na consecução de grandes projetos de desenvolvimento urbano (SWYNGEDOUW ET AL, 2002) associado à iniciativa privada via inovações políticas, administrativas e espaciais. O objetivo deste estudo é demonstrar o papel das formas espaciais e/ou inovações espaciais (SANTOS, 2007; CORREA, 2010) no processo de acumulação e expansão do capital via produção do espaço urbano na metrópole de Recife (HARVEY, 2011). Para tanto baseia-se em uma metodologia transdimensional com dimensões de análise como: política, institucional, simbólica, urbanística, fundiária (SÁNCHEZ et al. , 2011).

Palavras-chave: Megaeventos; Produção do Espaço; Acumulação do Capital; Metrópole; Recife.

INTRODUÇÃO

Desde os anos 80 os municípios brasileiros vêm fortalecendo seu papel de gestores de

políticas públicas ligadas ao seu desenvolvimento autônomo. Uma das ações que passam a fazer

cada vez mais parte das agendas de gestores das metrópoles no mundo, e agora também do Brasil,

são a promoção e realização de Megaeventos e seus Grandes Projetos de Desenvolvimento Urbano

– GPDUs correlatos, ligados em muitos casos a projetos políticos de desenvolvimento urbano e a

busca de competitividade e investimentos dentro de uma “guerra de lugares” no chamado mercado

de cidades. A metrópole de Recife capital do estado de Pernambuco não fica de fora desse processo

e nos últimos anos puxada por um projeto de cunho “novo desenvolvimentista” do estado de

Pernambuco passou a disputar seu lugar no hall das metrópoles ligadas a uma nova economia,

centrada na produção e consumo do espaço. Tenta-se, neste artigo, visualizar como se procede nesta

metrópole uma nova fase do processo de acumulação do capital, que se dá via espoliação

(HARVEY, 2003; 2011) e/ou o papel das formas geográficas como difusoras do capital e

transformadoras das estruturas sociais. (SANTOS, 2007).

Assiste-se, também, a difusão e ascensão de novos modelos de gestão urbana e concepção

de cidades que pautam as políticas urbanas nas mais diversas cidades pelo mundo representando

uma ordem distante (global) ligada a este ajuste estrutural do capitalismo contemporâneo

(FERNANDES, 2001). A metrópole de Recife não escapa a esta lógica e passa por um ajuste

urbano que age como imperativo modernizante e/ou (re)estruturante em espacialidades e

temporalidades distintas na realidade sócio-espacial desta cidade, analisada, nesta pesquisa, como

espaço concreto numa escala local e que devido suas peculiaridades espaço-temporais impõem

novas relações e implicações de ordem espacial, política, cultural e econômica para a reflexão sobre

as tramas estabelecidas em diferentes contextos onde as escalas local e global se entrelaçam

(SANTOS 2002,2005).

Representando o segundo maior grande evento esportivo da era moderna a Copa do Mundo

vem ganhando uma dimensão nunca imaginada antes, produzindo nos países e cidades que a sediam

- como demonstrado em experiências recentes (Pan-americano 2007, Copa 2010) - mudanças

substanciais na paisagem e estrutura urbana que geralmente implicam em mudanças de conteúdos

socioeconômicos em subespaços das cidades receptoras. Mudanças essas que se relacionam com as

mudanças no planejamento urbano moderno que, nas últimas décadas, passa de uma matriz

compreensiva com ações diretas do Estado com seus zoneamentos, planos diretores e preocupação

com o interesse geral, para uma matriz de planejamento estratégico empresarial, flexível, com

intervenções urbanísticas pontuais, limitadas no tempo e no espaço (Grandes Projetos de

Desenvolvimento Urbano – GPDUs), e orientadas pelo e para o mercado, priorizando a negociação

e o compromisso em detrimento da norma e interesse geral, o contrato perante a lei (Matriz de

Responsabilidades das esferas de governo para a Copa de 2024). Assim têm-se também a gestão da

cidade como um negócio ou uma empresa, e uma coadunação/coalizão dos interesses públicos com

os privados, refletido na maioria dos GPDUs na forma de instrumentos como parcerias público-

privadas - PPPs, Operações Urbanas Consorciadas etc. (SÁNCHEZ et al., 2011; VAINER, 2009).

Como questão que norteia nosso trabalho temos que, apoiados em formas complexas de

articulação de atores públicos e privados (PPPs; Lei Geral da Copa; Operações Urbanas

Consorciadas e outras Inovações Espaciais, Institucionais e Jurídicas etc.), como os megaeventos

esportivos (Copa de 2014) e seus GPDUs correlatos (arenas esportivas, obras de mobilidade e

requalificação de áreas degradadas ou “vazias”) contribuem para acirrar as desigualdades sócio-

espaciais na metrópole estudada via (re)produção de um espaço fragmentado, homogeneizado e

hierarquizado, e facilitar o processo acumulativo do capital? (HARVEY, 2011; SÁNCHEZ et al,

2002; LEFEBVRE, 1991).

Tratando-se de um processo complexo que envolve as diferentes dimensões sociais e

processos que se dão em temporalidades e espacialidades diferenciadas dentro da própria metrópole

podemos estabelecer algumas perguntas norteadoras de nossa análise como: qual a relação, e em

que base se estabelece, entre megaeventos esportivos e planejamento urbano estratégico ou

empreendedorismo urbano nas cidades? Como se dar a ligação dos GPDUs ligados a Copa de 2014

com o capital incorporador do tipo imobiliário/financeiro em Recife e suas consequências? Qual a

ligação do planejamento estratégico de cunho neoliberal com a produção de um espaço fragmentado

objeto de uma modernização excludente no contexto da globalização?

O presente trabalho tem como objetivo analisar o processo de implementação de GPDUs

associados ao megaevento esportivo Copa de 2014 que articulam valorização financeira e interesses

comerciais e turísticos, numa ampla coalizão em torno da reprodução do espaço na metrópole de

Recife, frente a antigos e novos processos de valorização imobiliária. Tendo em vista o processo

histórico de estruturação urbana, entende-se a Copa como um importante fator catalisador de

projetos políticos de desenvolvimento urbano que, em maior ou menor grau, preexistiam ao

megaevento nas cidades estudadas, para os quais flexibilizam-se regulação e engenharias

financeiras, o que pode levar à intensificação da segregação sócio-espacial que já caracteriza esta

metrópole.

Para alcançarmos esse objetivo temos que passar por alguns pontos de análise como

identificar a relação entre a Copa de 2014 e seus GPDUs correlatos com a execução de políticas

públicas que beneficiam projetos de cidade ligados ao capital incorporador do tipo

imobiliário/financeiro na metrópole de Recife e suas consequências. Com, também, relacionar o

planejamento estratégico de cunho neoliberal vigente em muitas metrópoles no mundo, atualmente,

com a produção de espaços fragmentados e modernizações excludentes no contexto da

globalização. Cabe investigar se o evento gera embates por um ordenamento urbano distinto

daquele intencionado pelos grupos hegemônicos, identificando se existirem as ações e

posicionamentos da sociedade civil em relação a Copa de 2014.

Temos como hipótese de trabalho, a ser comprovada ou não, a de que a escolha da

metrópole estudada como cidade-sede da Copa de 2014 com suas consequentes políticas de

adaptação, modernização e renovação urbanas ligadas a habitação, ao consumo, a infraestrutura

para mobilidade e entretenimento nas áreas estudadas das cidades onde se desenvolvem GPDUs,

têm como consequência a modernização excludente de territórios ligados à ação de capitais

(imobiliários, comerciais, simbólicos e financeiros) que contribuem para acirrar as desigualdades

espaciais dessas cidades (destacamos no estudo as cidades contidas na Região Metropolitana de

Recife: Recife, Camaragibe e São Lourenço da Mata pelo porte das intervenções nelas realizadas),

por representarem uma articulação complexa entre atores públicos e privados hegemônicos e seus

consequentes projetos de modernização urbana seletiva.

Será feito pelo escopo do trabalho uma abordagem panorâmica enfocando alguns dos

principais GPDUs em diferentes estágios de execução como: Arco Metropolitano, Cidade da Copa,

Novo Recife que são bastante expressivos desta reestruturação espacial por qual passa a metrópole e

sua ligação com a produção de formas e inovações socioespaciais. Observam-se assim os projetos

ligados a três diferentes dinâmicas espaciais: os projetos localizados em áreas valorizadas e

consolidadas das cidades; os ligados a áreas degradadas ou estagnadas economicamente e; aqueles

relacionados a novas fronteiras imobiliárias e de expansão territorial.

Deve-se avisar de início, que não está no escopo deste trabalho analisar esses projetos,

planos e ações de forma exaustiva ou no seu âmago, e sim ver se/como suas metas, objetivos, ações

e desdobramentos afetam a áreas de estudo e representam de alguma forma nuances dos novos

paradigmas de gestão urbana abordados na pesquisa e/ou uma nova forma de atuação do Estado que

se dar na maioria das vezes pela consecução de GPDUs (SWYNGEDOUW ET AL, 2002)

associado à iniciativa privada via inovações políticas (Lei Geral da Copa), administrativas

(Secretaria Especial da Copa – SECOPA) e espaciais (Smart City: Cidade da Copa) ligadas ao

processo de acumulação e expansão do capital por meio da produção do espaço urbano (HARVEY,

2011).

Daí a necessidade de entender e acompanhar o processo e a ligação desses megaeventos

esportivos e seus projetos de desenvolvimento e modernização correlatos com a produção e

reprodução da estrutura desigual e segregada de cidades, tomada a cabo por GPDUs. Comparar as

experiências, identificar os processos de repercussão local, nacional e global dos seus impactos na

produção das desigualdades urbanas e as formas pelas quais essas intervenções são definidas como

prioridades das políticas urbanas, nas cidades sedes destes eventos, é uma tarefa urgente para a

reflexão sobre os caminhos e as formas de construção de cidades mais justas e menos desiguais em

que sua população tenha o tão propalado direito à cidade. Destaca-se que os GPDUs são aqui

tratados, ao mesmo tempo, como processos e como produtos – como formas-conteúdo, que afirmam

um determinado modelo de gestão urbana (SANTOS, 2002; LEFEBVRE, 1991; SÁNCHEZ et al.,

2011).

Chama-se a atenção para o fato de que as relações (im)postas entre as cidades e os

megaeventos esportivos evidenciam situações para além das atividades desportivas como a

ampliação dos espaços públicos e da qualidade de vida urbana que refletem diretamente na

reprodução das relações de produção dos espaços receptores (LEFEBVRE, 1991; RAEDER, 2010;

SÁNCHEZ et al., 2011). Desta forma essa intencionalidade de se ajustar aos interesses globais tem

como consequência a reestruturação espacial da cidade, que seletivamente escolhe os lugares já

portadores de vantagens de mercado/competitivas – ou portadores de sistemas técnicos, levando a

segregação sócio-espacial, já existente, a ficar cada vez mais gritante.

Deve-se levar em conta que Recife destaca-se, negativamente, dentre as cidades mais

desiguais do país apresentando dados preocupantes como, em 2008, encabeçar a lista das cidades

mais desiguais do país em relatório da ONU, e com índice GINI (baseado na Desigualdade de

Renda Domiciliar per Capita) em 2008 no valor de 0,6383 figurando segundo a FGV na 17ª posição

do seu ranking de desigualdade entre as 27 capitais brasileiras (NERI, 2009).

Torna-se necessário entender a lógica deste tipo de evento para compreender as

transformações ocorridas na cidade quanto ao seu ordenamento urbano e suas formas de gestão e

planejamento, entendendo que a mesma está inserida num contexto de modernização capitalista, e

que existe um conjunto de “boas” práticas urbanas, presentes em diversas cidades do mundo que

explicitamente ou implicitamente estão se instalando nesta metrópole, cabendo analisar e

compreender o que os apologistas deste tipo de eventos chamam de legado. Entendendo-se que a

metrópole se propõe a ser um destino turístico globalizado e alvo de investimentos externos

mediante expectativas de desenvolvimento (BRANDÃO, 2007; FERREIRA, 2007; HARVEY,

2005) e que a difusão de inovações técnicas (objetos e normas) não se dá uniformemente ou de

modo homogêneo, existindo uma heterogeneidade que se origina da forma como essas se inserem

desigualmente no tempo e espaço da mesma (SANTOS, 2002).

Lembrando que as transformações estruturais urbanas ligadas aos megaeventos esportivos

estão relacionadas a um modelo de produção do espaço que visa a projetar as cidades e países-sede

como “globais”, ou como territórios propensos a atrair grande aporte de capital. As metrópoles que

receberam tais eventos adotaram uma perspectiva urbana que canalizou grandes obras promovidas

pelo Estado com o objetivo de transformar as áreas obsoletas em espaços propícios a receber as

atividades da ‘economia pós-industrial’, tais como o setor de serviços, os complexos de lazer e

entretenimento, a rede hoteleira e outros. Os Grandes Projetos Urbanos ligados aos megaeventos

são instrumentos de redefinição de usos do solo em áreas centrais, suburbanas ou periféricas, como

macro projetos de produção de novos vetores de expansão urbana para o capital imobiliário.

Sob essa perspectiva, pesquisadores e movimentos sociais discutem o projeto de cidade

desenvolvido na lógica de construção dos megaeventos esportivos. A conversão dos municípios em

mercadorias e empresas foi tema de debates no Fórum Social Urbano, uma iniciativa de

organizações sociais realizada em março de 2010 no Rio de Janeiro.

Analisar os GPDUs nas cidades nordestinas sedes de jogos da Copa 2014 é uma das

principais portas para entender o processo de produção e transformação das nossas cidades.

Comparar experiências, identificar os processos de repercussão local, regional e nacional dos seus

impactos na produção das desigualdades urbanas e as formas pelas quais essas intervenções são

definidas como prioridades das políticas urbanas é uma tarefa urgente para a reflexão sobre os

caminhos e as formas de construção de cidades mais justas.

2. Cidades, megaeventos e produção do espaço: em busca de possíveis teorizações e formas de

análise

Fundamentando-se de que urbanização e o planejamento urbano são realidades sociais, e que

toda realidade social é (espacialmente) historicamente determinada, acredita-se de acordo com

Kosik (1976) que o conhecimento tem suas dimensões teóricas, interpretativa e avaliativa. Para este

[…] O conhecimento da realidade histórica é um processo de apropriação teórica – isto é,

de crítica, intepretação e avaliação dos fatos – processo em que a atividade do homem, do

cientista é condição necessária ao conhecimento objetivo dos fatos. Essa atividade que

revela o conteúdo objetivo e o significado dos fatos é o método científico (KOSIK, 1976, p.

45).

Desta forma, quanto ao método de interpretação e análise utilizado nesta pesquisa baseia-se

primeiramente em uma abordagem de cunho neomarxista, onde se elegeu a mesma por possuir uma

série de princípios e preocupações não encontrados – para o autor – em outras abordagens tais

como: análise de objetos e da relação entre eles; avanço da aparência (paisagem) à essência (espaço

relacional); possuir como instrumentos essenciais de análise: produção, reprodução, consumo, troca,

propriedade, Estado etc.; entender a cidade: como expressão da sociedade moderna; analisar os

processos de fragmentação, homogeneização e hierarquização; análise de categorias como: forma,

função, processo e estrutura e entender o espaço como: concebido, percebido e imaginado.

E como método escolheu-se o método Regressivo-Progressivo de Lefebvre por acreditarmos

na sua adequação a pesquisa, como podemos observar na citação de Soja (1993) falando sobre a

retomada da dialética na obra de Henri Lefebvre, o mesmo diz:

A dialética está novamente em pauta. Mas já não se trata da dialética de Marx, tal como a

de Marx não era mais a de Hegel (...). A dialética de hoje já não se apega à historicidade e

ao tempo histórico, ou a um mecanismo temporal como ‘tese-antítese-síntese’ ou

‘afirmação-negação-negação da negação’ (...). Reconhecer o espaço, reconhecer o que ‘está

acontecendo’ ali e para que é usado, é retomar a dialética; a análise revelará as contradições

do espaço. (LEFEBVRE, 1976 apud SOJA, 1993, 14-17).

Como algumas das políticas públicas estudadas encontram-se em fase de implementação

esta análise pautou-se, sobretudo, na capacidade ordenadora dessas políticas no que se refere aos

territórios por elas abrangidos, pois se acredita que é possível interpretar os conteúdos em

movimento examinando a dialética da forma e do conteúdo. Para tanto, baseia-se nos quadros de

referência teórica disponíveis da abordagem neomarxista e de outras perspectivas que se mostrem

elucidativas de nossa problemática, e que nos permitam inferir sobre possibilidades e limites desses

processos.

Quanto às teorias utilizadas temos como teoria de base a da Produção do Espaço de Henri

Lefebvre a qual servirá para a análise da produção contínua do espaço e sua ligação com o seu

principal produtor na cidade que é o Estado (CARLOS, 2011; GOTTDIENER, 1997; LEFÉBVRE,

1978, 1991, 1999), relação essa que possui características próprias e segue metas, sendo a principal

compatibilizar a produção do espaço com a reprodução das relações capitalistas de produção, em

um jogo de seguidos reordenamentos.

Sobre essa relação Lefebvre afirma

(...) O espaço produzido pelo Estado deve dizer-se político, com características próprias e

metas específicas. Ele reorganiza as atribuições (sociais de produção) em função do suporte

espacial; ele reencontra e choca o espaço econômico pré-existente: polos de crescimento

espontâneos, cidades históricas, comercialização do espaço fracionado e vendido em lotes,

etc. Ele tende a reconduzir não somente as atribuições sociais inerentes à produção

industrial, mas as atribuições de dominação inerentes à hierarquia dos grupos e dos lugares.

No caos das classes, ele tende a impor uma racionalidade, a sua, que tem o espaço por

instrumento privilegiado (LEFÉBVRE, s/d, p. 02).

Da citação cabe destacar o uso e valorização diferencial de fragmentos da cidade em

temporalidades diferentes como o choque entre o novo e o velho bairro do Recife, a produção de

polos de desenvolvimento como os: jurídico, médico, economia criativa etc., produção de cidades e

bairros planejados, tudo isso ligado a produção de uma racionalidade espacial ligada a produção do

espaço homogêneo, fragmentado e hierarquizado (LEFEBVRE, 1991).

Conta-se também com o rico acervo bibliográfico de diferentes estudos de caso análogos ou

aproximados das temáticas de empreendedorismo e/ou governança urbana, e de Grandes Projetos de

Desenvolvimento Urbano e seus impactos (ARANTES, 2009; COMPANS, 2005; FERNANDES,

2001; HARVEY, 2004, 2005; SÁNCHEZ et al., 2011; MOULAERT et al, 2002; RAEDER, 2010;

SMITH, 2005; SÁNCHEZ, 2001/2003; VAINER, 2009.) entre outros somados a profusão de

análises urbanas acadêmicas da cidade de Recife e de sua região metropolitana tomadas como

objeto.

Assim, no tocante aos GPDUs e seu papel, no livro “O Brasil em evidência: a utopia do

desenvolvimento” o atual governador do estado de Pernambuco Eduardo Campos fala das últimas

décadas do século XX e do desmantelamento do Estado e da falta de impulso para o crescimento

econômico no Brasil, e em especial no Nordeste, e saída da longa crise vivida pelo país. O mesmo

destaca a recente retomada do crescimento e das políticas impulsionadoras deste processo e diz

“Note-se que a recente retomada do crescimento se deu, justamente, em função de um conjunto de

políticas públicas direcionadas à elevação da renda dos mais pobres e à implementação de políticas

de desenvolvimento voltadas para o fortalecimento da infraestrutura, o aumento do nível de

investimento em grandes projetos e a geração de emprego” (CAMPOS, 2012, p.12).

Assim temos o papel dos grandes projetos sendo levantado por um representante do Estado,

que comanda um dos estados que mais se desenvolveu nos últimos anos, mas com uma série de

contradições dentro deste processo. Sobre o papel dos GPDUs o livro “The globalized city:

economic restructuring and social polarization in European Cities” de Moulaert et al. (2002) analisa

como os processos de globalização e liberalização econômica se articulam com o surgimento de

novas formas de governança urbana, e sobre a relação entre os projetos de desenvolvimento urbano

em grande escala e as relações políticas, sociais e econômicas de poder na cidade. Os autores

pesquisaram 13 projetos de desenvolvimento urbano em grande escala (GPDUs) em 12 países da

União Europeia e chegaram a algumas conclusões, das quais destacamos:

a) Os grandes GPDUs são cada vez mais utilizados para estabelecer medidas de

excepcionalidade em procedimentos e políticas de planejamento, fazendo parte da chamada pelos

autores de "Nova Política Urbana" neoliberal, que é associada com as novas formas de governança

interurbana e suas intervenções caracterizadas por processos menos democráticos e prioridades

orientadas pelas elites ou frações de capital dirigentes. (MOULAERT et al., 2002)

Pudemos perceber isso na região metropolitana de Recife com as obras de mobilidade para a

Copa de 2014 com a remoção de centenas de famílias: a ampliação do Terminal Rodoviário de

Cosme e Damião motivou que a prefeitura marcasse as residências de 200 famílias e fizesse um

cadastro sem esclarecer o motivo (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011).

Neste dossiê elaborado pelos Comitês Populares da Copa e articulado pela relatora especial da

Organização das Nações Unidas (ONU) para a Moradia Adequada a urbanista e professora Raquel

Rolnik pode-se encontrar algumas das práticas ligadas ao paradigma relacionado como “[...] quando

o Poder Público já não mais negocia, apenas mostra sua força diante do cidadão mais desprovido.

São aplicadas estratégias de guerra e perseguição, como a marcação de casas a tinta sem

esclarecimentos, a invasão de domicílios sem mandados judiciais, a apropriação indevida e

destruição de bens móveis [...] Este relato está focado em 21 casos de vilas e favelas nas cidades de

Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo e tem como

pano de fundo comum o propósito da higienização, da ‘faxina social’, para o uso futuro de terras de

alto valor imobiliário ou onde o Estado deseja repassar a mais-valia decorrente de seus vultosos

investimentos à iniciativa privada”.(Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011, p.

24).

Assim vemos surgir o projeto Cidade da Copa, um megaprojeto ligado a Copa do Mundo de

2014, a ser implantado em São Lourenço da Mata, numa área de 239 hectares. Com investimentos

estimados em R$ 1,6 bilhão para construção do Estádio para 46 mil pessoas, a partir da PPP

(Parceria Público-Privada), formada pela a Odebrecht Participações e Investimentos, ISG

(International Stadia Group) e a AEG Facilities, prevê, além da construção, exploração, operação e

manutenção do estádio pelo prazo de até 33 anos. (LEAL & SOUSA, 2012).

c) como na sua maioria são projetos pontuais os mesmos são integrados precariamente nos

processos e sistemas de planejamento urbanos, tem-se como consequência um ambiguidade quanto

a seu verdadeiros impactos na cidade ou na área onde os mesmos estão localizados (SÁNCHEZ et

al., 2002). Neste ponto temos “As obras em área antes desocupada dão como fato consumado a

abertura de uma frente de expansão urbana sem planejamento prévio, e com impactos ainda em

estudo [...] a Cidade da Copa, onde deverá se inserir o estádio, está localizada em São Lourenço da

Mata e tem licenciamento ambiental ainda em tramitação na Agência Estadual de Recursos

Hídricos – CPRH”. (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011, p. 64).

d) em grande parte dos GPDUs acentua-se a polarização socioeconômica através da ação

dos mercados imobiliários (com subida de preços e deslocamento de habitação social ou de baixa

renda), há também mudanças nas prioridades dos orçamentos públicos, que são cada vez mais

redirecionados de objetivos sociais para investimentos no ambiente construído e a reestruturação do

mercado de trabalho e captura de investimentos privados.

Temos também que “[...] São grandes obras viárias, em sua maior parte relacionadas pelo

Poder Público aos estádios da Copa ou a projetos de mobilidade que incluem ligações a instalações

aeroportuárias [Arco Metropolitano], sempre abrindo novas frentes imobiliárias em suas margens

ou em seus destinos”. (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011, p. 25).

Em seu livro “O enigma do capital” Harvey (2011) destaca o conceito de “destruição

criadora” e a necessidade premente do sistema produzir novos espaços para fugir de sua crise de

acumulação por meio da absorção do excedente na transformação urbana. Harvey aponta o lado

sombrio deste processo “O lado sombrio da absorção do excedente por meio da transformação

urbana implica, entretanto, episódios repetidos de reestruturação urbana com ‘destruição criadora’.

Isso destaca a importâncias das crises como momentos de reestruturação urbana. Tem uma

dimensão de classe, pois são geralmente os pobres, os desfavorecidos e os marginalizados do poder

político que sofrem especialmente com esse processo” (HARVEY, 2011, p. 144).

Harvey, também, chama a atenção de como a qualidade de vida urbana torna-se hoje uma

mercadoria tão importante quanto o próprio direito à cidade. Sobre esse processo de reconstrução

urbana mundial o mesmo assevera “A qualidade de vida urbana tornou-se uma mercadoria para

aqueles com dinheiro, assim como para a própria cidade, num mundo onde o turismo, o

consumismo, o marketing de nicho, as indústrias culturais e de conhecimento, e também a perpétua

dependência em relação à economia política do espetáculo, tornaram-se os principais aspectos da

economia política do desenvolvimento urbano” (HARVEY, 2011, p. 143). Assim vemos em Recife

a criação de equipamentos de lazer e entretenimento, cidades planejadas, requalificação de áreas

degradadas etc.

Temos assim uma expansão geográfica da produção imobiliária com empresas agora

capitalizadas na bolsa após sua abertura de capital, seguindo outros ramos da economia, produzindo

cada vez mais. Destaca-se aqui o pensamento de Harvey sobre isso quando diz “O ambiente

construído que constitui um vasto campo de meios coletivos de produção e consumo absorve

enormes quantidades de capital tanto na construção quanto na manutenção. A urbanização é uma

forma de absorver o excedente de capital” (HARVEY, 2011, p. 75). A tese de Harvey é provar

como os processos gerais de produção do espaço são presas de processos de formação e resolução

de crises, para tanto o mesmo utiliza a ideia de ordenação espaço-temporal que aborda a absorção

dos excedentes de capital e trabalho que são características do processo de sobreacumulação, em

um dado tempo, em um sistema territorial pelos seguintes fatores: deslocamento temporal via

investimentos de capital de longo prazo ou gastos sociais, para retardar a circulação de valores de

capital; deslocamentos espaciais por meio da abertura de novos mercados, novas capacidades

produtivas e de recursos, sociais e de trabalho (HARVEY, 2003). O mesmo prefere a combinação

destes dois fatores. Assim o mesmo indica através da análise dos fluxos de capital dentro dos

circuitos do capital a passagem destes fluxos do circuito primário (produção e consumo imediatos)

para os circuitos secundário (capital fixo e de formação de fundo de consumo) e terciário (gastos

sociais e de pesquisa e desenvolvimento) que absorvem o capital excedente em investimentos de

longa duração.

No circuito secundário do capital os fluxos tomam dois caminhos: capital fixo (instalações

fabris [FIAT em Goiana], entroncamentos ferroviários [Transnordestina], rodovias [Arco

Metropolitano] e portos [Suape] etc.) e a produção de fundo de consumo (como a habitação

[MCMV]). Avulta-se aqui que esse circuito é um grande absorvedor de capital e trabalho,

principalmente em condições de expansão geográfica. (HARVEY, 2003).

Deve-se tomar atenção para o fato de que as agendas e ações ligadas a estes projetos

gerarem um desenho fundamentado no crescimento de "ilhas de desenvolvimento" ligadas por obras

de mobilidade que leva à assertiva de que a produção do espaço através da inovação (espacial,

financeira, jurídica etc.) favorece a obtenção de uma alta lucratividade, dinamizando a atividade

imobiliária e a polarizando. Em consequência, a competição entre as empresas do setor imobiliário

gera o aumento do preço do solo, motivando a busca por terrenos mais distantes dos principais

centros urbanos ou em outros municípios e estados. A expansão em direção às periferias (ou,

inclusive, áreas rurais), às cidades médias e às fronteiras agrícolas parece estar promovendo

mudanças importantes na rede de cidades brasileiras. (LEAL & SOUZA, 2012; FIX, 2011).

Assim se dá uma produção do espaço fragmentado, produção de espaços seletivos, algo

próximo do processo de produção do espaço estudado por H. Lefebvre quando o mesmo afirmava

que existiam três momentos: homogeneização, fragmentação e hierarquização.

Atente-se também para a ascensão de novas formas de gestão pública como o

Empreendedorismo Urbano (HARVEY, 2005; COMPANS, 2005), paradigma de gestão pública

advindo do processo de reestruturação produtiva como forma de manter a reprodução ampliada do

capital nas cidades que possui uma relação muito estrita com os megaeventos. Como podemos ver

com Compans quando comenta “Esse padrão de comportamento diz respeito à assunção de um

papel dirigente do governo local (ou supralocal) na promoção do desenvolvimento econômico –

seja na inversão direta de recursos na modernização da infraestrutura urbana, seja na elisão de

constrangimentos de natureza legal ou burocrática à valorização dos capitais privados -, a

participação crescente do setor privado na gestão dos serviços e equipamentos públicos, à busca de

construção do consenso social em torno de prioridades “estratégicas” de investimentos e à

introdução de uma racionalidade empresarial na administração dos negócios públicos”

(COMPANS, 2005, p.20).

Analisa-se também o papel das novas formas espaciais urbanas (ou inovações espaciais)

ligadas às novas qualidades da cidade e do urbano e sua relação com a reprodução das relações de

produção capitalistas (SPÓSITO, 2010; CORREA, 2010; LEFEBVRE, 1991,1999; SANTOS 2002,

2005 e 2007).

Milton Santos (2007 [1979]) no seu livro Economia Espacial já falava do papel das formas

como ferramentas do capital, sugerindo como algumas delas adquiriram certo poder que nunca

haviam possuído antes, e de como as mesmas carregavam uma intencionalidade, sobre isso o

mesmo afirma “[...] o mecanismo do planejamento tornou-se mais sutil. Os povos e países

envolvidos, que têm passado da lavagem cerebral das teorias ocidentais acerca do crescimento e do

espaço ou que se encontram indefesos perante elas, podem nem sequer suspeitar dos efeitos do

planejamento [...] As formas este novo cavalo de Tróia, tornaram-se um meio de penetração nos

países subdesenvolvidos”. (SANTOS, 2007, 188-9). Assim temos, atualmente, uma série de

projetos na região metropolitana de Recife que a primeira vista não mostram sua intencionalidade

nem sua ligação como Arco Metropolitano projeto parecido com os implementados em São Paulo

(Rodoanel) e Rio de Janeiro que compreende uma nova rodovia de 77 quilômetros estimada em R$

1,21 bilhão. O Arco será uma via expressa e pedagiada que funcionará como alternativa rápida ao

estrangulado trecho urbano da BR-101. Liga-se a isso a Cidade da Copa empreendimento que

exigirá investimentos públicos em infraestrutura urbana de grande monta, para além das obras de

mobilidade previstas, enquanto extensas áreas da Região Metropolitana de Recife – RMR

permanecem com problemas estruturais de abastecimento de água, rede de esgoto e acessibilidade,

entre outros. (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, 2011).

Sobre isso Santos (2007) afirma “[...] a execução de projetos de planejamento aparentemente

isolados mas que, contudo, visam ao mesmo alvo: acelerar a modernização capitalista e frustrar, se

necessário, projetos nacionais de desenvolvimento” (SANTOS, 2007, p. 189).

Assim destaca-se também o papel das formas espaciais e/ou inovações espaciais (SANTOS,

2007; CORREA, 2010) no processo de acumulação e expansão do capital via produção do espaço

urbano (HARVEY, 2011), onde se destaca o papel da tríade: condomínios fechados e/ou cidades

planejadas, shoppings centers e equipamentos de lazer e entretenimento, com obras de mobilidade

neste processo, e a busca de uma “nova” mercadoria especial que é a qualidade de vida urbana

contraposta à crise e caos urbano.

Destacamos que o paradigma/modelo de empreendedorismo urbano e/ou governança urbana

como outros paradigmas divulgados mundialmente por consultores são tratados, aqui, como técnica

na concepção de Santos (2002) onde são analisadas através de sua difusão mundial, como

verticalidades e dentro de redes que representam uma inteligência planetária, com atores e

instrumentos de transposição, difusão e afirmação de tais modelos, onde existe uma expertise

internacional produtora de projetos de megaeventos e modelos de governança (SÁNCHEZ et al.,

2011), que se apresentam aos territórios como norma, produzindo na concepção lefebvriana o

espaço do reprodutível, repetitivo e um cotidiano alienado.

ESTRATÉGIAS DE PESQUISA (METODOLOGIA)

Optamos por uma pesquisa do tipo qualitativa tendo por base conhecimentos teórico-

empíricos que lhe deem sua cientificidade, tendo a metrópole de Recife como ambiente e fonte de

dados permanentes e o pesquisador como instrumento chave. Sendo que na avaliação das políticas

públicas para as subáreas de estudo, na dimensão de se inquerir se as mesmas estão a causar

valorização ou rendas diferenciais e processos de segregação sócio-espacial nas distintas áreas

levam a ser necessário avaliar dados (variáveis) estatísticos secundários, fazendo uma triangulação

entre pesquisa qualitativa e quantitativa, sabendo que as duas não se excluem mutuamente. Neste

momento serão avaliados dados desagregados dos bairros ou subáreas que serão obtidos dos censos

(áreas de ponderação e/ou setores censitários dependendo do caso), sendo mais a frente explicada a

metodologia para isso. Quanto ao objetivo da pesquisa a mesma é do tipo explicativa entendendo a

mesma com base em Gil (2007) como aquela centrada na preocupação de identificar fatores

determinantes ou contributivos ao desencadeamento dos fenômenos, sendo a relação espaço e

tempo fundamental neste tipo de pesquisa, como já havíamos analisado a partir de Kosik (1976).

Como uma parte das políticas públicas estudadas encontram-se em fase de implementação,

esta análise pauta-se, sobretudo, na capacidade ordenadora dessas políticas no que se refere aos

territórios por elas abrangidos, pois se acredita que é possível interpretar os conteúdos em

movimento examinando a dialética da forma e do conteúdo. Para tanto, se baseia em quadros de

referência teórica e estudos de caso disponíveis, que nos permitem inferir sobre possibilidades e

limites desses processos (KOSIK, 1976; LEFEBVRE, 1999; SANTOS, 2002).

Quanto aos instrumentos de coleta de dados a pesquisa é duplamente bibliográfica e

documental, neste ponto realiza-se uma busca de fontes de dados secundários (internos e externos).

Primeiramente, fez-se uma pesquisa bibliográfica e cartográfica procurando identificar a maioria

dos projetos e literatura que contemplem a área estudada. Essa pesquisa foi feita nas Universidades,

bibliotecas, jornais e demais acervos públicos. Pretendeu-se com isso dar inicio a construção da

base teórica e empírica norteadora da pesquisa.

Foi e ainda será necessária, também, uma pesquisa documental em órgãos públicos e

instituições responsáveis pelo planejamento e gestão das cidades ou de outra escala (governo do

estado ou federal) envolvidos com projetos nas subáreas estudadas, onde pesquisou-se/se pesquisará

sobre os projetos, programas e ações para as subáreas, seus devidos andamentos, a existência de

conflitos, ou não, de interesses e outras informações que se acharem pertinentes. Com agentes

representativos destas instituições/firmas citadas serão realizadas quando necessário e dependendo

dos agentes entrevistas semiestruturadas.

Fez-se/Pretende-se fazer visitas ao campo com documentação escrita e fotográfica, para que

com isso se possa ter uma verdadeira apreensão da realidade. Nestas visitas, foram/serão feitas

observações do tipo assistemáticas procurando seguir o objetivo da pesquisa sem se ater a uma

periodicidade definida, onde serão observadas as características do solo urbano quanto ao seu uso e

ocupação (andamento das obras; obstáculos a mobilidade; infraestrutura; disposição e uso dados aos

equipamentos coletivos), como também acompanhamento dos sujeitos sociais envolvidos.

Destaca-se também que pela transitoriedade e dinâmica do objeto e tema a pesquisa não

apresenta um caráter linear de utilização de passos de pesquisa fixos, sendo mais processual,

variando com as possibilidades concretas que se coloquem ao pesquisador. Desta forma, a pesquisa

apresenta um processo de idas e vindas, à medida que novas informações forem coletadas e novas

situações se colocarem, dando uma nova luz aos seus objetivos e a realidade a qual estuda. Que

pode ser justificado pelo caráter dinâmico da produção científica.

Com base em (RAEDER, 2010; SÁNCHEZ et al., 2011) toma-se como recurso

metodológico para compreensão das transformações nas cidades estudadas e base para sua

comparação uma tipologia de análise destes impactos numa perspectiva sócio-espacial, tendo como

enfoque revelar em que medida os investimentos públicos realizados em função do evento

contribuem para a redução ou agravamento das desigualdades sócio-espaciais, desta forma toma-se

algumas categorias ou eixos considerados importantes para esta análise, baseados nas matrizes de

competências das duas cidades descritas: requalificação de áreas degradadas ou “vazios” urbanos;

obras de mobilidade para o evento; os projetos das arenas esportivas e seus entornos, e as remoções

e reassentamentos de famílias desalojadas pelas obras citadas (RAEDER, 2010). Ainda do ponto de

vista metodológico e comparativo o trabalho intenta realizar uma reflexão transdimensional da

problemática estudada e sua inserção nas cidades analisadas baseada em Mascarenhas, Bienenstein

e Sáchez (2011) e MOULAERT et al., 2002, buscando articular as dimensões de análise que

orientam a pesquisa, que são: política (contexto político, coalizões, divisão de responsabilidades

entre entes federados – matriz de reponsabilidades - e movimentos de contestação do evento);

institucional (investiga os processos decisórios, modos de implementação do projeto – parcerias,

inserção de novos dispositivos legais e institucionais, as disputas [políticas, econômicas e

simbólicas] nas diversas escalas; simbólica (investiga a economia simbólica envolvida na

implementação do megaevento, buscando desvelar suas principais motivações, sua ordem de

justificação, a retórica na divulgação e legitimação do projeto, as campanhas a ele associado, a

produção do consenso e seu impacto no imaginário popular); arquitetônico-urbanística (trata das

referências urbanísticas tomadas como modelo e seus possíveis impactos, dos instrumentos

urbanísticos e/ou fundiários associados ao uso e ocupação do solo [analisados como técnicas], como

a flexibilização da legislação urbanística e ambiental, ou definição de “áreas de especial interesse

urbanístico”); dimensão fundiária: tem como objetivo verificar os impactos na dinâmica imobiliária

com a evolução dos preços nas regiões afetadas bem como as transformações na estrutura fundiária

das respectivas regiões dos projetos; dimensão sócio-ambiental: aborda, sobretudo, aspectos

relativos ao acesso social e controle público dos equipamentos, as relações entre os espaços

públicos e privados, os processo de segregação sócio-espacial via habitação e a avaliação de

impactos sócio-ambientais; dimensão econômico-financeira (analisar panoramicamente os valores

investidos na implementação do megaevento, os montantes investidos pelos agentes públicos e

privados, se houve alterações de valores dos projetos e matrizes de responsabilidades das cidades

para a conclusão das obras, e análise comparativa aos recursos empregados em infra-estrutura de

consumo coletivo e infraestruturas ligadas exclusivamente a realização dos jogos em áreas

seletivas). (SÁNCHEZ et al., 2011). Atenta-se que pode-se no decorrer da pesquisa dentro da

análise de seu andamento privilegiar algumas dessas dimensões, com risco de se perder em rigor e

totalidade, pois como demonstrado em trabalhos de seus mentores as dimensões são

complementares e interdependentes.

Para intentar compreender a dimensão espacial do processo de desenvolvimento capitalista

na cidade entendemos com Brandão (2007) e Santos (2005) que a categoria divisão social e

territorial do trabalho seja básica na investigação da dimensão espacial do desenvolvimento, posto

que permeia todos os seus processos em todas as escalas, sendo a mesma também capaz de revelar

as mediações e as formas concretas em que se processa e manifesta a reprodução social do espaço,

expressando a constituição socioprodutiva interna aos subespaços estudados. Desta forma podem-se

medir as mudanças e/ou permanências de conteúdo social, como também os possíveis processos de

exclusão/inclusão social e segregação sócio-espacial nas cidades e seus subespaços estudados. A

dinâmica urbana reflete a estrutura social no mesmo sentido em que constitui-se como um

mecanismo específico de reprodução das desigualdades das oportunidades de participar na

distribuição da riqueza gerada na sociedade. Esta reflexão e formulação, presentes em autores como

David Harvey (1981) em “A justiça social e a cidade” e Santos (1993) em “A urbanização

brasileira” constitui-se em um fundamento analítico a ser perseguido. Este estudo baseia-se para

isso em algumas variáveis como: atividade econômica e rendimento de trabalho, anos de estudo,

lugar de nascimento, deslocamentos realizados para o trabalho ou estudo, grupos ocupacionais,

condição de ocupação, bem como informações sobre o número de componentes das famílias

residentes em domicílios particulares permanentes, existência de bens duráveis e infraestrutura de

saneamento básico nesses domicílios, entre outros dados que se achem necessários com o

andamento da pesquisa, em que pese não serem as únicas determinantes na produção de processos

de exclusão/inclusão social, como também o adensamento nas subáreas, mas são sem dúvida fatores

determinantes para sua caracterização. Assim, tentar-se-á conhecer as mudanças e permanências no

perfil da população nas áreas foco da pesquisa como passo importante na identificação e discussão

das desigualdades (MELAZZO, 2006). Pretende-se problematizar alguns aspectos do processo de

distribuição da renda e a posse e condições dos domicílios no interior dos subespaços urbanos

estudados a partir dos resultados dos chefes de domicílio observados nos Censos Demográficos do

IBGE nos anos de 1991, 2000 e 2010. Alerta-se que este estudo apenas restringe-se a apresentar os

resultados empíricos obtidos ao lidar com as variáveis selecionadas de chefes de domicílio,

desagregadas por setores urbanos, mas que procurar-se-á fazer também análises mais trabalhadas

com cruzamentos de variáveis distintas e confecção de mapas utilizando-se para isso de programas

como o SPSS 17.0 e Philcarto que permitam explicitar e demonstrar de forma melhor os objetivos e

questões levantadas.

Considerações Finais e/ou Futuras Proposições

Optou-se por uma pesquisa qualitativa que objetiva inquerir se a Copa de 2014 significa um

extraordinário instrumento de legitimação de grandes projetos de transformação do tecido urbano,

com vistas a intensificar retornos privados em termos de valorização imobiliária e financeira, haja

vista a dimensão dos recursos públicos envolvidos e o regime jurídico excepcional de que são

beneficiários, justificando-se os elevados custos aos cofres públicos e as consequências em termos

de aprofundamento de disparidades e de segregação sócio-espaciais que tais projetos deverão

provocar pela “modernização” da cidade e pelos empregos a serem gerados com tais projetos, a

exemplo de experiências ocorridas em diversas outras cidades no planeta (HARVEY, 2005;

SWYNGEDOUW et al, 2002).

Vem ocorrendo no estado de Pernambuco, e, particularmente, na Região Metropolitana de

Recife – RMR estratégias ligadas à produção do espaço em infraestruturas para a Copa de 2014 e

outros projetos desenvolvimentistas que acabam por liberar um conjunto de ativos (terras, taxação,

inclusive força de trabalho) a custo baixo ou zero para que o capital sobreacumulado possa dar-lhe

um uso lucrativo, geralmente sem consideração dos efeitos sociais de tais inversões.

Atenta-se que a maioria dos trabalhadores das cidades da Região Metropolitana de Recife

encontrar-se empregada ou ocupada em atividades dentro do circuito inferior da economia

(SANTOS, 2005; 2007) e a inserção de novas formas espaciais em alguns subespaços da metrópole

pode levar ao desmantelamento da economia local e completa dependência do circuito inferior com

relação ao circuito superior criado e reforçado, gerando um curto-circuito da economia local a qual

emprega a maioria das pessoas, que por conta de sua baixa escolaridade terão problemas em se

enquadrar dignamente e de forma positiva nesta nova economia, e poderão engrossar o quadro de

trabalhadores inseridos na precarização do mundo do trabalho, isso para os absorvidos.

Assim, temos como vimos com Harvey (2011) uma inserção de megaprojetos de

desenvolvimento urbano e regional na RMR que esboçam um projeto de governo ligado a uma

matriz “novo desenvolvimentista” (BRESSER-PEREIRA, 2010) que refletem uma urbanização

como forma de absorver o excedente de capital sob a produção de formas geográficas no espaço

urbano das cidades atrelado ao processo de acumulação e expansão do capital.

Como este artigo faz parte de nosso projeto de doutorado acreditamos que para dar conta de

toda a complexidade desta análise caminhos terão que ser tomados e produtos terão que ser

produzidos em uma sequência que podem perfilar-se em “sucessivos” momentos.

Para proceder a tal investigação, será efetuado nas cidades selecionadas extenso

levantamento de documentos coletados em fontes oficiais e jornalísticas, de depoimentos obtidos

junto a atores envolvidos e de informações estatísticas desagregadas à escala dos bairros ou

subáreas afetadas pelos projetos. Com isso, a pesquisa produzirá um banco de dados sistematizados

sobre tais áreas que incluirão informação sobre a formação do espaço urbano das áreas selecionadas

segundo a tipologia de intervenção a ser proposta, acervo iconográfico, banco de dados

socioeconômicos e urbanísticos que poderão contribuir para o acervo do Observatório de

Pernambuco sediado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPE, subsidiando o

desenvolvimento de outras pesquisas que considerem o problema da apropriação privada de rendas

produzidas por investimentos públicos em urbanização.

De posse destas informações, a presente pesquisa pretende desenvolver uma metodologia de

análise de impacto de megaprojetos no tecido urbano, construída com base em uma tipologia de

impactos voltada a apreciar em que medida os investimentos públicos realizados em função do

evento contribuem para a redução ou agravamento de desigualdades sócio-espaciais. Desta forma,

serão selecionadas categorias de análise baseadas nas matrizes de competências das duas cidades

descritas, tais como: requalificação de áreas degradadas ou estagnadas; obras de mobilidade para o

evento; projetos das arenas esportivas e seus entornos, e remoções e reassentamentos de famílias

desalojadas pelas obras citadas (RAEDER, 2010). A proposta metodológica associará estas

categorias a um enfoque multidimensional da problemática estudada baseado em Mascarenhas,

Bienenstein e Sáchez (2011), de modo a propiciar uma compreensão global do processo de tamanha

complexidade. Tais dimensões já foram apontadas na metodologia (político-institucional;

urbanística; dimensão fundiária; dimensão sócio-ambiental e dimensão econômico-financeira)

(SANCHEZ et al. , 2011). A metodologia a ser desenvolvida pode ser avaliada e auxiliar futuras

pesquisas nesta área.

Análises dos dados sistematizados e dos resultados da aplicação da metodologia de impactos

urbanos dos projetos serão revertidas na elaboração de ao menos dois artigos a serem submetidos a

eventos nacionais e periódicos de referência em planejamento urbano e regional e em geografia, e

um artigo submetido a periódico internacional.

Finalmente, pretende-se no decorrer do doutorado, realizar a transferência das análises dos

levantamentos realizados à sociedade através da participação em seminários e workshops

organizados pelo movimento social, assim como a publicação de artigos e ensaios de penetração

popular sobre o tema.

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