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A mudança no clima do planeta está em plena transformação. Não tem mais ca- minho de volta. Em pleno século XXI, estamos condenados a vivenciar o au- mento da temperatura, a extinção de milhares de espécies da fauna e flora e, assim, conviver com nossa própria destruição. As conseqüências da industriali- zação e da ganância da sociedade para manter o alto padrão de vida estão le- vando o planeta para uma realidade sem precedentes. O fato é que já estamos sentindo os efeitos e agora temos que nos adaptar. O tema a seguir é bastante complexo e delicado. No entanto, o fato do nosso pú- blico-alvo ser ciclistas ou, no mínimo, entusiastas ajuda a abordar o assunto de forma consciente e inteligente. Nosso objetivo é que de alguma forma você, após ler esta reportagem, possa persuadir os menos informados e perceptivos às causas ambientais. TUDO DEPENDE DE VOCÊ Se você dirige até o trabalho, escova os dentes e toma banho desperdiçando água, não separa o lixo e outros inúmeros detalhes da vida moderna, pode mudar para uma atitude mais consciente. Muitas das ações diárias estão condicionadas para contribuir para o acúmulo de lixo e aumento dos gases poluentes, amea- çando a própria vida humana. Um dos principais problemas que vamos enfrentar nos próximos anos é a escas- sez de água. Muitas comunidades atualmente vivem em dificuldade com o ra- cionamento de água, como é o caso grave da região semi-árida (chuva numa parte do ano e seca noutro). Cada vez mais essas áreas ficam secas. Outra região afetada é o sul. Desde 2004, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná sofrem com a falta de água, principalmente na zona rural, matando toda a colheita. Em 2006, a seca foi tão forte que atingiu até as Cataratas do Iguaçu, que registraram o nível mais baixo em vinte anos, segundo pesquisadores ligados ao Green- peace. Com a falta de recursos naturais necessários, como a água da chuva, as planta- ções não vingam, a estiagem prevalece e os agricultores vão à falência. A ten- dência é tudo ficar mais raro e caro. E não pense que isso vai acontecer daqui a dezenas de anos. Apesar de toda a atenção dada pela imprensa com o agravamento dos efeitos do aquecimento global, a comunidade científica está há muitos anos alertando sobre tais perigos. No entanto, só agora os países mais ricos (maiores poluen- tes) têm sentido uma pressão da sociedade para mudar a postura diante do pro- blema. Como registro, vale a pena mencionar o Protocolo de Kyoto, criado no Japão em 1997, mas posto em prática apenas em 2005. A meta proposta foi re- duzir em 5,2% as emissões de gases poluentes até 2012. Pena que os Estados Unidos, principal causador desses males, não entraram no acordo. AQUECIMENTO A TODO VAPOR Seca, estiagem, calor sufocante, derretimento das geleiras na Antártica, furacões, terremotos, Tsunami, guerras por petróleo. Parece que já estamos acostumados a viver numa era com tanta tragédia e destruição. Em julho de 2006, Santa Cata- rina decretou estado de emergência em 195 municípios por causa da estiagem. Cenário alarmante. Nos últimos dez anos, 40 tornados atingiram o estado. Em março de 2004, o sul do Brasil foi surpreendido pelo primeiro furacão da histó- ria. O fenômeno, batizado de “Catarina”, causou espanto na comunidade cientí- fica, que considerava o Atlântico Sul um paraíso de ventos calmos. Resultado: O aquecimento global já causa catástrofe, destruição e morte. E o vilão da história é o próprio homem. Aqui você vai saber como reagir, se adaptar e sobreviver a essa nova realidade. Texto: André Piva E EU COM ISSO? DESMATAMENTO - Santarém (Pará), dezembro de 2003 O desmatamento no mundo todo gera cerca de 25% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. No Brasil, este índice chega a 75%. Somente entre 2002 e 2005, mais de 70 mil quilômetros quadrados de florestas foram destruídos na Amazônia. Por causa principalmente do desmatamento, o Brasil é o 4º maior emissor de gases de efeito estufa ©Greenpeace/Steve Morgan 46 bikeaction Meio ambiente 80 ok ht.qxd:Layout 1 3/31/07 3:28 PM Page 1

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DESMATAMENTO - Santarém (Pará), dezembro de 2003 O desmatamento no mundo todo gera cerca de 25% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. No Brasil, este índice chega a 75%. Somente entre 2002 e 2005, mais de 70 mil quilômetros quadrados de florestas foram destruídos na Amazônia. Por causa principalmente do desmatamento, o Brasil é o 4º maior emissor de gases de efeito estufa ©Greenpeace/Steve Morgan 46 bikeaction Texto: André Piva

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A mudança no clima do planeta está em plena transformação. Não tem mais ca-minho de volta. Em pleno século XXI, estamos condenados a vivenciar o au-mento da temperatura, a extinção de milhares de espécies da fauna e flora e,assim, conviver com nossa própria destruição. As conseqüências da industriali-zação e da ganância da sociedade para manter o alto padrão de vida estão le-vando o planeta para uma realida de sem precedentes. O fato é que já estamossentindo os efeitos e ago ra temos que nos adaptar.O tema a seguir é bastante complexo e delicado. No entanto, o fato do nosso pú-blico-alvo ser ciclistas ou, no mínimo, entusiastas ajuda a abordar o assunto deforma consciente e inteligente. Nosso objetivo é que de alguma forma você,após ler esta reportagem, possa persuadir os menos informados e perceptivos àscausas ambientais.

TUDO DEPENDE DE VOCÊSe você dirige até o trabalho, escova os dentes e toma banho desperdiçandoágua, não separa o lixo e outros inúmeros detalhes da vida moderna, pode mudarpara uma atitude mais consciente. Muitas das ações diárias estão condicionadaspara contribuir para o acúmulo de lixo e aumento dos gases poluentes, amea-çando a própria vida humana. Um dos principais problemas que vamos enfrentar nos próximos anos é a escas-sez de água. Muitas comunidades atualmente vivem em dificuldade com o ra-cionamento de água, como é o caso grave da região semi-árida (chuva numaparte do ano e seca noutro). Cada vez mais essas áreas ficam secas. Outra regiãoafetada é o sul. Desde 2004, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná sofremcom a falta de água, principalmente na zona rural, matando toda a colheita. Em

2006, a seca foi tão forte que atingiu até as Cataratas do Iguaçu, que registraramo nível mais baixo em vinte anos, segundo pesquisadores ligados ao Green-peace.Com a falta de recursos naturais necessários, como a água da chuva, as planta-ções não vingam, a estiagem prevalece e os agricultores vão à falência. A ten-dência é tudo ficar mais raro e caro. E não pense que isso vai acontecer daqui adezenas de anos. Apesar de toda a atenção dada pela imprensa com o agravamento dos efeitos doaquecimento global, a comunidade científica está há muitos anos alertandosobre tais perigos. No entanto, só agora os países mais ricos (maiores poluen-tes) têm sentido uma pressão da sociedade para mudar a postura diante do pro-blema. Como registro, vale a pena mencionar o Protocolo de Kyoto, criado noJapão em 1997, mas posto em prática apenas em 2005. A meta proposta foi re-duzir em 5,2% as emissões de gases poluentes até 2012. Pena que os EstadosUnidos, principal causador desses males, não entraram no acordo.

AQUECIMENTO A TODO VAPORSeca, estiagem, calor sufocante, derretimento das geleiras na Antártica, furacões,terremotos, Tsunami, guerras por petróleo. Parece que já estamos acostumados aviver numa era com tanta tragédia e destruição. Em julho de 2006, Santa Cata-rina decretou estado de emergência em 195 municípios por causa da estiagem.Cenário alarmante. Nos últimos dez anos, 40 tornados atingiram o estado. Emmarço de 2004, o sul do Brasil foi surpreendi do pelo primeiro furacão da histó-ria. O fenômeno, batizado de “Catarina”, causou espanto na comunidade cientí-fica, que considerava o Atlântico Sul um paraíso de ventos calmos. Resultado:

O aquecimento global já causa catástrofe, destruição e morte. E o vilão da históriaé o próprio homem. Aqui você vai saber como reagir, se adaptar e sobreviver aessa nova realidade.

Texto: André Piva

E EU COM ISSO?

DESMATAMENTO - Santarém (Pará), dezembro de 2003O desmatamento no mundo todo gera cerca de 25% das emissões mundiais de gases de

efeito estufa. No Brasil, este índice chega a 75%. Somente entre 2002 e 2005, mais de 70 milquilômetros quadrados de florestas foram destruídos na Amazônia. Por causa principalmente

do desmatamento, o Brasil é o 4º maior emissor de gases de efeito estufa©Greenpeace/Steve Morgan

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bairros arrasados, 32 mil desabrigados, 11 mortos e um prejuízo de mais de umbilhão de reais.“Isso é urgente. Porque são milhões de reais na preparação, no plantio, nos cui-dados, na colheita. E a população inteira do Brasil precisa de alimentos bons ebaratos. O quadro de mudanças climáticas traz alimentos ruins e caros. Há pra-gas, as coisas madurecem antes do tempo, é uma inversão das condições cli-máticas à alimentação. Isso vai repercutir em toda a cadeia econômica, desde acompra na feira ao supermercado. E todo custo de vida encarece. Em um paíscomo o nosso, que luta pela fome, miséria e desigualdade social, isso é real-mente importante. E o país de farta alimentação e barato, se esse quadro preva-lecer, não será mais farto nem barato”, reflete o geógrafo Francisco Aquino, daUniversidade Federal do Rio Gran de do Sul, em entrevista ao Greenpeace.A extinção da biodiversidade é outro problema que surge com o aquecimentoglobal. O Brasil pode ser afetado com a morte e o desaparecimento de milharesde espécies. A elevação dos oceanos também é preocupante. Se o mar subirapenas um metro, 40% da população global que vive na costa será afetada. Nocaso do Brasil, o porcentual é ainda maior, pois 65% do litoral é ocupado – oque pode trazer prejuízos incalculáveis.O desmatamento da Amazônia é uma ameaça para a população de 20 milhõesde amazonenses. A região da maior bacia hidrográfica do mundo também estásofrendo com a estiagem e a grilagem de terra para a expansão de pasto, gado eplantações. Se o desmatamento continuar no ritmo que está, a projeção para oano 2100 (daqui a 93 anos), com a alta de até 5 graus na temperatura global, ébastante negativa para a Amazônia. Metade da floresta vai se transformar rapida-mente em cerrado, afetando o clima de todos os países da América Central. O

Brasil passa sede sendo o país da água, uma realidade contraditória. “Existemmuitas vulnerabilidades com o desmatamento ainda mais descontrolado. Temosque parar de acabar com a Amazônia”, diz o ativista Carlos Ritti, da campanha doclima do Greenpeace. Para minimizar os efeitos já provocados ao planeta, Carlos

MASSA DE GELO - Groelândia, julho de 2005Nos últimos 50 anos, as regiões polares registraram um aumento de temperatura de até 3,5graus. O derretimento de gelo causado por esse aquecimento provoca, entre outros efeitos,

a elevação do nível dos oceanos com efeitos trágicos para todas ilhas e regiões costeiras©Greenpeace/Steve Morgan

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TORNADOS NO SUL - Muitos Capões (RS), outubro de 2005. Um tornado com ventos demais de 200 quilômetros por hora atingiu a cidade gaúcha de Muitos Capões, deixando 21 casas

e prédios públicos completamente destruídos. Estudos indicam que parte do Sudeste e principalmente o Sul do Brasil são a segunda região do planeta mais propícia à formação de

tornados, que serão mais freqüentes com o aquecimento - ©Greenpeace/Rodrigo Baleia

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Nobre, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), acreditaque a ordem é reduzir em 50% a emissão de gases nocivos ao ambiente.

AINDA TEM SOLUÇÃO?Talvez sim, mas isso se rolar uma conscientização política e popular. Começando com o uso de energias alternativas, como o meio de transportemovido à propulsão humana – ou seja: a bicicleta nas grandes cidades. Alémde reduzir os congestionamentos, diminui a emissão de gás carbônico dosveículos, deixando a cidade mais limpa e humana. Vale lembrar que o Brasil(ainda) tem uma fonte rica em recursos naturais: rios, ventos e muito sol.Apenas esses elementos, se explorados corretamente, propiciam a produçãode energia solar e eólica (movida ao vento). Por último, o tão falado biocombustível, outra fonte renovável que surgiu naépoca da criação do Pro-álcool. Recentemente o assunto rendeu até a visitado poderoso presidente dos Estados Unidos (que, todos sabemos, está emguerra até hoje por causa do esgotamento do petróleo). Um detalhe sobre

essa questão do biocombustível é o acordo comercial – muitas vezes, nocivoao próprio país e ao meio ambiente; porém, aceitável por ser rentável para obolso de oportunistas corruptos.

MEIO AMBIENTE E TRANSPORTE URBANODiante de tantos problemas, como aliviar o tráfego e dissuadir o uso do automóvel em regiões metropolitanas? A cidade de Londres, por exemplo,conseguiu, mas precisou dispor de uma ampla rede de faixas especiais parauso exclusivo de táxis e bicicletas em horário de rush, enquanto cobra umpedágio salgado (aproximadamente 32 reais) para quem quiser circular nocentro de automóvel.A China, como a maioria dos países asiáticos, é outro exemplo a ser segui do,com um enorme parque ciclístico. Nas áreas urbanas, a metade dos residentes é proprietária de bicicletas. Apesar desse volumoso quadro deusuários e tráfego intenso (até com engarrafamento de bicicletas), o meio-ambiente e a qualidade do ar por lá são poupados graças ao uso da bike.Portanto, já ficou explícito que a bicicleta como transporte não poluente deve seradotada como alternativa nos deslocamentos urbanos. Ou seja: pedalar é umasimples maneira de combater o efeito estufa, proteger a camada de ozônio eamenizar outros tantos problemas ecológicos da atualidade.

TRANSPORTE SUSTENTÁVEL EM SÃO PAULOEm fevereiro, aconteceu a liberação do transporte da bicicleta em vagões dometrô e trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). O projeto“Ciclista Cidadão” é uma ação conjunta das duas empresas, por intermédio daSecretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos. O acesso acontece apenasnos finais de semana e feriados, mas já representa um grande passo. A iniciativaé baseada em experiências adotadas nos metrôs de importantes cidades comoNova York (EUA), Berlim (Alemanha), Madri e Barcelona (Espanha), Milão e Ná-poles (Itália), Hong Kong (China), além do MetroRio (RJ).A medida faz parte da lei 14.266, que cria o Sistema Cicloviário do Municí-pio de São Paulo, contribuindo para o desenvolvimento de mobilidade sus-tentável. A integração da bicicleta na cidade visa incentivar o uso dessemeio de transporte – que, a exemplo do trem, não polui. Além disso, a bici-cleta tem baixo custo e favorece o acesso da população a equipamentos delazer, saúde, educação e serviços. Outras ações e metas que já vêm sendo desenvolvidas: criação de ciclofai-

BARREIRINHA (AM), outubro de 2005. Devido a sua enorme biodiversidade, o Brasil é umdos países mais vulneráveis às mudanças climáticas. Com o aquecimento global e as conse-qüentes secas severas, a exuberante floresta poderá ser substituída por um ecossistema mais

seco e mais pobre: as savanas - ©Greenpeace/Daniel Beltrá

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SECA AMAZÔNIA - Manaquiri (Amazonas), outubro de 2005. Em 2005, a Amazônia regis-trou uma seca dramática, que afetou os Estados do Acre, Rondônia, Amazonas e Pará. Rios e

lagos se transformaram em córregos de águas contaminadas pela morte de milhões de peixes,tornando crítica a situação de milhares de famílias - ©Greenpeace/Alberto César

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xas e ciclovias, estabelecimento de locais específicos para estacionamento de bicicletas, articulação dotransporte por bicicleta com o Sistema Integrado de Transporte de Passageiros, infra-estrutura apropriadapara guardar bicicletas nos terminais de transporte coletivo urbano. Enquanto isso, podemos pressionarnossos deputados e aguardar pelas melhorias...Em São Paulo, são realizadas cerca de 130 mil viagens de bicicleta, segun do dados de uma pesquisa reali-zada pelo metrô em 2002 – o que corresponde a um aumento de 0,6% em relação à pesquisa anterior. Seconsi de- rada como modo de transporte complementar, associada a outros meios de locomoção, a participa-ção da bicicleta no quadro de viagens diárias tende a aumentar significativamente. A instalação de bicicletá-rios seguros em estações de metrô e trem, terminais de ônibus e locais com grande fluxo de pessoas vemsendo defendida pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) desde o início de 2005.

REALIDADE OBSCURAUm novo olhar para a bicicleta e para a cidade foi o tema discutido no último workshop realizado pela prefei-tura de São Paulo, no dia 14 de março, reunin do especialistas e personalidades políticas. O encontro para dis-cussões foi positivo, já que aconteceu num momento crucial para a sobrevivência da própria cidade.Segundo dados publicados pelo jornal O Estado de São Paulo do dia 18 de março, em matéria assinada porEduardo Nunomura, a realidade paulistana é desesperadora. A frota de veículos cresce oito vezes mais quea população da cidade. Imagine que em 1976 São Paulo tinha 13 mil quilômetros de ruas e avenidas e 1,4milhão de veículos... Se fossem alinhados, ocupariam um espaço de 5,2 mil quilômetros. Logo, 60% doasfalto e da terra daquela épo ca estariam desimpedidos. Estamos em 2007: são 5,6 milhões de veículos.Pára-choque a pára-choque, eles precisariam de 21,4 mil quilômetros de vias públicas. E sabe quanto há?17,2 mil quilômetros. Uma das leis da físi ca é irrevogável: dois corpos não ocupam o mesmo espaço.Quinhentos novos carros entram em circulação em São Paulo por dia. Acrescente a esse número 160 outrosveículos, de motos a ônibus e caminhões. Em um ano, cerca de 3.300 pessoas morrem por causa da polui-ção e 1.500 em acidentes (atropeladas ou dentro dos carros). “Qualquer coisa que signifique um uso maisracional e regrado do automóvel causa comoção na cida de e atinge até os 80% que não têm carro”, diz osecretário Eduardo Jorge. Como médico, vê o trânsito, a poluição e o carro como uma questão de saú depública. Ele propõe algo? Ciclovias.Há 300 quilômetros de ciclovias planejadas na cidade, dez vezes a extensão existente. Nos planos dele, umciclista-passageiro não pagaria para andar no transporte público. Receberia um bilhete ou passaria direto nacatraca do metrô, trem ou ônibus se deixasse a bike num bicicletário da estação ou terminal. Mas se umsecretário municipal pensa assim, por que a idéia não é posta em prática? “Quando falo com autoridades,governo, prefeitura e secretário de transportes, todos acham a idéia prioritária. Mas as respostas demoram.”Bogotá fez isso. Construiu mais de 300 quilômetros de ciclovias. Na periferia da cidade colombiana, sãoasfaltadas e correm paralelas a largas calçadas. No fim, acesso a terminais. Espremidas e ainda no chão deterra, ficam as pistas para automóveis. Os carros enfrentam um rodízio mais rigoroso que o paulistano: 40%não circulam no horário de pico duas vezes por semana.Lição de casa: assista documentários sobre meio ambiente. Duas sugestões: Mudanças de Clima, Mu-

danças de Vidas (Greenpeace, 2006) e Uma Verdade Inconveniente (Al Gore, 2006). REPENSE, RE-

CUSE, REDUZA, REUSE, RECICLE, PEDALE!

Agradecimentos: para a elaboração dessa reportagem, um agradecimento especial àqueles especialis-tas que de algum modo contribuíram com dados, conversas, mensagens e reflexões valiosas sobre otema: Eldon Jung (ABC), Cristiano Hickel, Mateus Manzini (Cicloviável), Giselle Xavier (Udesc Viacilo),Miguel Altieri, Fritjof Capra, Thomas Lovejoy, Jornal da Ciência, Jornal O Estado de São Paulo, Aca-prena (Associação Catarinen se de Preservação da Natureza), Greenpeace, Secretaria Municipal do Verdee do Meio Ambiente de São Paulo.

CHEIA AMAZÔNIA - Caireiro da Várzes (AM), junho de 2006.Amazônia: vilã e vítima das mudanças climáticas. O desmatamento contribui para oaquecimento global, que acaba obrigando a população local a viver entre extremos:grandes enchentes e secas devastadoras - ©Greenpeace/Alberto César

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