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ARGO NAVIS DETERMINISMO E LIVRE-ARBÍTRIO NA ASTROLOGIA BENJAMIN N. DYKES Meio do Céu AS DOENÇAS DA ALMA E SEU REFLEXO SOCIAL GERSON PELAFSKY Fase Heliacal ANJOS E DEMÓNIOS, IMAGENS DE PODER? JORGE MOREIRA 2ª EDIÇÃO • SETEMBRO 2018

Meio do Céu ARGO NAVIS Fase Heliacal...A Astrolábio só é possível graças à generosidade de astrólogos dispostos a contribuir para que a astrologia seja um conhecimento propagado

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  • ARGO NAVISDETERMINISMO E LIVRE-ARBÍTRIO

    NA ASTROLOGIA BENJAMIN N. DYKES

    Meio do CéuAS DOENÇAS DA ALMA E SEU

    REFLEXO SOCIAL GERSON PELAFSKY

    Fase Heliacal

    ANJOS E DEMÓNIOS, IMAGENS DEPODER?

    JORGE MOREIRA

    2 ª E D I Ç Ã O • S E T E M B R O 2 0 1 8

  • TRÊS MARIASALGORAB - Sob os auspícios mitológicos

    do corvo

    Por Catarina Spagnol e Nicole Zeghbi

    03

    DE APOLO A DIONÍSIODAIMONES, DEUSES, SACERDOTES  - A

    teoria da adivinhação de Plutarco

    Por Simão Cortês 

    24

    MEIO DO CÉUAS DOENÇAS DA ALMA E SEU REFLEXO

    SOCIAL - Um estudo astrológico à luz de

    Ptolomeu e Platão

    Por Gerson Pelafsky

    45

    ASTROLOGIA NA PRÁTICA

    Por Pablo Ianiszewski

    Tradução Nicole Zeghbi

    Colaboração  Catarina Spagnol

    59 O QUE É HERMETISMO? - Realidade oupantonimia 

    FASE HELIACALANJOS E DEMÔNIOS - Imagens de

    Poder?

    38

    Por Jorge Moreira

    MAIS SOBRE O CÉUA RESPONSABILIDADE DA PALAVRA

    dentro do ofício do astrólogo 

    Por Bárbara Ariola

    78

    ARGO NAVIS81

    DETERMINISMO E LIVRE-ARBÍTRIO NA

    ASTROLOGIA -  Benjamin N. Dykes 

    Transcrição e tradução por Andréa Guerra

    Colaboração especial de Catarina SpagnolSinger Sargent, John - Orestes Perseguido pelas Fúrias - 1921

  • Diante das dificuldades, o desejo de compartilhar conhecimento e de unir os astrólogos solitários em um círculo com um incrível potencial de expansão,  serviram como fonte de inspiração para a gestação da segunda edição e para a continuidade do projeto da REVISTA ASTROLÁBIO. As diferentes nacionalidades dos autores, as traduções de textos e artigos inéditos  e a parceria com a CINASTRO refletem um pouco isso. Mas ainda há muitas portas e espaços por abrir. A Astrolábio só é possível graças à generosidade de astrólogos dispostos a contribuir para que a astrologia seja um conhecimento propagado com o respeito que ela merece. A Astrolábio deseja ser um reduto, um templo virtual onde as diferentes perspectivas se unem e se curvam para o céu, desaguando até um ponto em comum, a astrologia, enquanto oráculo mundano que é. Mira para além das diferenças e para além do horizonte, concentrando-se na linguagem das estrelas. Sob os sussurros celestes, há quem queira dizer, há quem queira ouvir. Enquanto um fala, o outro escuta e assim, todos aprendem ao mesmo tempo em que ensinam. Evoé!

    Equipe editorial: Catarina Spagnol

    Nicole Zeghbi

    Diagramação e Revisão Geral: Catarina Spagnol

    Nicole Zeghbi

    Colaboração: Andréa Guerra

    Contato:

    [email protected]

    A revista Astrolábio é uma produção independente,

    sem fins lucrativos. Os textos publicados são de inteira

    responsabilidade dos seus autores e não necessariamente refletem a

    opinião da revista. A reprodução dos artigos e textos aqui publicados só é permitida mediante autorização dos

    autores.

    Editorial

  • Algorab é a estrela alfa da constelação do Corvo e está simbolicamente ligada a

    esse pássaro. O corvo foi estigmatizado, em diferentes civilizações e períodos,

    pelo mau agouro, sendo desde muito tempo sinônimo de acontecimentos

    sombrios. Quais os mitos por trás dessa e de outras significações até hoje a ele

    associadas? São visíveis na narrativa do mapa a ponto de serem incluídas no

    enredo como testemunhos das estrelas fixas?

    ALGORAB  

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |    03

    Sob os auspícios mitológicos do corvo

    POR CATARINA SPAGNOL E NICOLE ZEGHBI

  • Seu poder sobre os acontecimentosna Terra já era reconhecido naBabilônia por volta de 1700 A.C eapesar de associadas à mitologiagrega, a maioria é proveniente dasgrandes civilizações da Mesopotâmia.Os gregos utilizaram como referênciatextos mesopotâmios que listava maisde 30 constelações, contendotambém observações sobre suasposições e movimentos. As estrelas fixas, assim nomeadas pelalentidão com que se movimentam nocéu, são ferramentas importantes naleitura astrológica, produzem efeitospoderosos, inalcançáveis aos planetase enriquecem a costura do enredo,matizando a natureza desses astroscom sua significação. Entretanto, para que hajaassertividade ou efetividade dasinfluências indicadas pelas estrelas énecessário que estejam em acordocom o testemunho da carta, pois 

    Estrelas fixassendo os planetas veículos da ação ouintérpretes do enredo apresentadopelo mapa, se as estrelas nãoobtiverem seu apoio, por maispoderosas que sejam, suas influênciasficarão na promessa. A astrologia clássica determina que asestrelas devem estar em conjunção ouoposição aos planetas e pontosimportantes do mapa, como oascendente e o MC, para ativação deseus efeitos, mais poderosos quandoos aspectos acontecem nos ângulos. 

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |    04

    A força e a importância de uma estrela dependem de sua magnitude,

    relacionada com a visibilidade e o brilho. Classificadas em uma escala

    de 1 a 6, as estrelas de primeira magnitude são as de maior brilho e as

    que estão além da sexta magnitude não são mais visíveis a olho nu, o que anula

    sua importância astrológica. São consideradas relevantes as estrelas com

    magnitude entre 1 e 3 com exceção à sazonalidade de algumas estrelas variáveis,

    como Algol.

  • na interpretação deverá serconsiderada a natureza de cada umdesses planetas.  Em linhas gerais, os efeitos de umaestrela no mapa dependem de suamagnitude, exatidão do aspecto,natureza do planeta associado à suaatuação e condições gerais do mapa. A simbologia mitológica costuma serpreterida na interpretação,sendo adotadas, automaticamente,apenas as significações simbólicaspertinentes à natureza planetária daestrela.

    Como não há consenso sobre o grau deproximidade a ser considerado noaspecto com as estrelas fixas, seráadotada aqui a regra utilizada pelamaioria dos astrólogos, 3° em ascensãoreta e de 1° em declinação. O parâmetrode modulação para ascensão reta édefinido pela magnitude da estrela,sendo até 3° para as de primeiramagnitude, até 2° para as de segundamagnitude e de até 1° para as deterceira magnitude. É certo que quantomais próximo o aspecto, maispoderosos os efeitos da estrela. As estrelas fixas foram agrupadas emconstelações de acordo com suanatureza.  A semelhança entre anatureza de uma estrela com a de umou dois planetas é determinante à suasignificação simbólica e à suainterpretação. Spica, por exemplo, é danatureza de Vênus e Marte, assim,

    Por meio das várias vertentesmitológicas do corvo, expostas aqui,pretende-se evidenciar, a partir debreve análise dos mapas de JosefMengele e Brandon Lee, a influênciada mitologia sobre os significados dasestrelas fixas nos mapas astrológicos.

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |  05

  • O CORVO

    NA MITOLOGIA

    Tipp

    i Hed

    ren

    em "O

    s P

    ássa

    ros"

  • " Q u e e s s e g r i t o n o s a p a r t e ,

    a v e o u d i a b o ! " , e u d i s s e .

    " P a r t e !

    T o r n a à n o i t e e à t e m p e s t a d e !

    T o r n a à s t r e v a s i n f e r n a i s !

    N ã o d e i x e s p e n a q u e a t e s t e a

    m e n t i r a q u e d i s s e s t e !

    M i n h a s o l i d ã o m e r e s t e ! T i r a -

    t e d e m e u s u m b r a i s !

    T i r a o v u l t o d e m e u p e i t o e a

    s o m b r a d e m e u s u m b r a i s ! "

    D i s s e o c o r v o , " N u n c a m a i s " .

    E d g a r A l a n P o e

    Como é comum em narrativasmíticas , a figura do corvo apresentadiferentes versões , que serãoapresentadas ao longo dessa reflexão . A primeira delas conta que Corônis ,que era filha de Flegias , rei doslapitas e irmão de Ixión , costumavapassear nas margens do lago Beobes ,na Tesalia , onde lavava os pés .   Foi em um desses momentos dedescontração , que ela foi avistada porApolo , o belo deus do Olimpo , queera filho de Zeus (Júpiter) e deLatona (Leto), e irmão de Diana(Ártemis). 

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   07

    Consta que Apolo era um deus deinúmeras qualidades e comatributos tão complexos que eramissão quase impossível relacioná-los entre si . De modo geral , Apoloé associado com o simbolismo daluz , mas a ele também eraatribuído o amadurecimentodosfrutos e a proteção dascolheitas contra camundongos epragas , assim como a proteção dosrebanhos . Entretanto , ashabilidades de Apolo nãoparavam por aí : ele era um hábilarqueiro e as suas flechas tinham opoder de afastar as doenças . Poroutro lado , as mesmas flechas que 

  • ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   08

    curavam , também eram capazes decausar aos homens a morte súbita .Para finalizar , vale mencionar queApolo também era associado àsprofecias e à música . Esse deus de múltiplos atributos ,com um simbolismo tão rico , quedesfrutava de grande prestígio noOlimpo a ponto de todos securvarem em sinal de respeito ,encantou-se pela bela Corônis . Casaram-se e certo dia , enquantoApolo ia para Delfos resolver algunsassuntos , deixou um corvo deplumas brancas como a neve paravigiá-la . Mas Corônis não mandavaem seu próprio coração , e nutriadesde muito tempo uma paixãosecreta por Isquis , o filho arcadio deElato . Embora já grávida de Apolo , elaousou encontrar-se  com o seuamado Isquis . A razão pela qualCorônis preferiu Isquis a Apolo nãoé clara . Segundo algumas versões ,ela estaria noiva de Isquis , que eraseu primo , por vontade do seu pai . 

    Para outros , ela temia o desprezodos homens por ser amante de umdeus e teria optado pelocasamento com um mortal . O fato que interessa a essa reflexãoé que o corvo presenciou oencontro amoroso e correuentusiasmado para Delfos informarApolo sobre o ocorrido . Porém ,Apolo já estava ciente do amor queCorônis sentia por Isquis e ao invésde elogiar a vigilância do corvo , odeus o amaldiçoou por não ter-lhearrancado os olhos assim que  seaproximou dela . Essa maldição fezcom que o corvo ficasse negro edesde entãotodos os seusdescendentes nascem da mesmacor . (1) Além de amaldiçoar o corvo , a fúriade Apolo também fez com quequeimasse Corônis por seu amorilegítimo com Isquis . Entretanto ,ele não abriu mão do seu filho ,Asclépio , e entregou-o para sereducado por Quirón no aprazível eregenerador monte Pélion ,(2) ondelhe foi ensinada a arte da cura .

  • Nesse ponto , é interessante ressaltarque Quíron era filho de Cronos(Saturno) e da ninfa Filira , pelosquais foi abandonado , sendo entãoachado e criado por Apolo ,  que lhetransmitiu todos seusconhecimentos . Quíron éconsiderado o último dos centauros ,famoso por sua inteligência ebondade , sendo possuidor degrandes habilidades médicas . (3) Algumas variações do mito narramque Corônis , ao invés de ter sidoqueimada por Apolo ,  foi liquidada aflechadas por Ártemis , a pedido doirmão .(4) Versões da narrativa à parte , o fato éque depois de todo o fatídicoincidente , Apolo ainda pretendiaconservar o corvo comoum emblema da adivinhação , masos sacerdotes se opuseram a isso .

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |  09

    Para eles , a adivinhação do sonhoera um meio mais simples e eficazde diagnosticar as doenças dosenfermos do que o som enigmáticodas aves .(5) Após ter perdido a mãe pela vozdifamadora do corvo , Esculápiocresceu e transformou-se em umpoderoso curandeiro e fez taisprogressos na medicina , que chegoumesmo a ressuscitar vários mortos .Conta-se que ele trouxe Glauco -filho de Sísifo -  novamente para avida e por isso , foi calcinado porZeus num ataque de inveja .(6) Outras versões do mito contam queZeus fulminou Asclépio a pedido dePlutão , o deus do submundo , queestava com medo de que o poderde ressuscitar os mortos pudesseprejudicar seriamente a ordem domundo . Entretanto , apesar da morteviolenta ,  Asclépio foi divinizado .(7)

  • ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   10

    A segunda versão da narrativamítica sobre o corvo contaque Apolo , ordenou à sua avede estimação que lhe fossebuscar água de uma nascentedistante para matar a suasede . A água deveria sertrazida numa taça (que é aorigem por trás daconstelação de mesmo nome).No entanto , o corvo encontrouno caminho uma figueira comfigos verdes , não resistiu edecidiu aguardar até queamadurecessem para devorá-los . Porém , quando chegou ànascente , ao ver uma cobrad 'água , lembrou-se queestaria em sérios apuros comApolo e engendrou umadesculpa para justificar a suademora : contou ao deus que apresença da cobra havia oobrigado a esperar pararecolher a água . Só que Apoloera um deus de muitosatributos e entre eles , estava opoder de ver através damentira . Assim ,  o deus , comocastigo , colocou o Corvo , aHidra (a cobra d 'água) e aTaça no céu , dando ordens àcobra para nunca deixar queo corvo alcançasse a água , deforma que este estivessefadado a sentir sede por todaa eternidade .

    (1) Graves, Robert. Los Mitos Griegos. p.193. (2) Brandão, Junito. Mitologia Grega, volume 2. p. 90. (3) Bulfinch T. O Livro da Mitologia. 4ed , Marin Claret, São Paulo,2011, 467p. – Edelstein EJ, Edelstein L. Asclepius. Collection and Interpretationof the Testimonies. The Johns Hopkins University Press, Baltimore,1998, vols I, II, 470p, 277p. – Guirand F. Greek Mythology. Paul Hamlyn, London, 1965, 153p. (4) Brandão, Junito. Mitologia Grega, volume 2. p. 90. (5) Graves, Robert. Los Mitos Griegos. p.197. (6) Graves, Robert. A deusa branca, uma gramática histórica domito poético. P. 71. (7) Brandão, Junito. Mitologia Grega, volume 2. p. 90.

    Apolo e Corônis

    Apolo 

  • Além das duas versões anteriormentenarradas do mito , algumascuriosidades sobre a figura do corvosão essenciais para que seja possíveltraçar paralelos e construir anarrativa astrológica nos mapas queserão apresentados na última partedessa reflexão . De acordo com uma das versõesapresentadas anteriormente , a figuramítica do corvo está inserida nocontexto existencial de Apolo ,Corônis e Esculápio . Dentro daestrutura da narrativa , o corvo foisacrificado porque não agiu segundoas expectativas de Apolo , mas nãodeixou de cumprir a sua função , queera ser o portador de uma verdadepara alguém que não estava presenteem uma situação . O corvo voou ecarregou o agouro de que Corônisnão amava Apolo , mas sim Isquis . Robert Graves , na obra “A deusabranca - uma gramática histórica domito poético”, traça um enriquecedorparalelo entre a narrativa mítica deEsculápio e de Bran , um dos deusesda mitologia nórdica , cuja nomesignificava gralha ou corvo ouamieiro . 

    Segundo Graves , é possível afirmarque as duas ascendências deEsculápio o relacionam com a figurado corvo , tal como Bran . A primeirarelação se deve ao fato dele ser filhode Corônis , palavra queetimologicamente significa corvo ougralha , que coincidentemente é otítulo da deusa Atená . A segundarelação da ascendência com o corvoé em virtude do pai Apolo ecoincidentemente , o corvo eraconsagrado a ambos .(8)   A imagem de Esculápio estádiretamente relacionada com a curae como já foi mencionado no tópicoanterior , o dom de ressuscitaros mortos não foi bem visto pelosdeuses e foi a razão da sua morte , deigual forma , Bran também foidestruído pelo inimigo Evnissyen , queo invejava por ter elaborado umapoção mágica capaz de  trazer devolta à vida Matholwch , que era o reida Irlanda .(9)   A

    polo

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    Alguns complementos essenciais

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   11

  • ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |  12

    (8) Graves, Robert. A deusa branca, uma gramática histórica do mito poético. P. 71.  (9) Graves, Robert. A deusa branca, uma gramática histórica do mito poético. P. 71. (10) Graves, Robert. Los Mitos Griegos. p.36.  (11) Graves, Robert. A deusa branca, uma gramática histórica do mito poético. P.145.

    Tanto Bran como Esculápio eram semideuses ,com numerosos santuários e ambos foramconsiderados padroeiros de curas eressurreições . Mas além dessas narrativas , há tambémoutros possíveis desdobramentosinteressantes que podem ser feitos sobre afigura mítica do corvo . Robert Graves contaque Bran era uma divindade-corvo que podeser facilmente associada a Cronos , pois suafoice apresenta semelhança evidente com obico de um corvo . Outra associação possívelentre Cronos e Bran é o fato do primeiro ,assim como Asclépio e Apolo , serfrequentemente  representado emcompanhia de corvos ou outras aves , pois nostempos primitivos não havia uma distinçãoevidente entre corvo , gralha e outros pássarosnegros que se alimentavam de carniça .(10)  Por fim , o último argumento de Graves paraestabelecer uma ligação de Cronos com afigura do corvo está na linguagem . 

    Ele afirma que embora os gregosposteriores quisessem pensar  que onome chronos significasse tempo , poisqualquer homem velho era chamado deCronos , a derivação mais provável para apalavra era da raíz de cron , ou corn , quedá ao grego e ao latim palavras paracorvo - corone e cornix . Diante dessas considerações , o queimporta é que Bran , Cronos , Saturno ,Esculápio e Apolo possuem suasimagens associadas à morte e o modocomo a morte se introduziu no mundo eo que virá depois dela sempre foram osgrandes temas da discussão religiosa efilosófica .(11) 

  • ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   33

    Sacrifícios rituais e destituições àparte , o corvo aparece ainda emmuitos poemas , contos e outrostextos mitológicos . Em “Os trabalho e os dias”, o poetaHesíodo escreveu : “Observa quandoouvires a voz do corvo que grasnatodo ano do alto das nuvens ; ela trazo sinal para arar e para o tempo doinverno chuvoso aponta , e morde ocoração do homem sem bois . Jáentão engorda no curral os bois dechifres recurvos . Pois é fácil dizer :“dá-me dois bois e um carro”, masfácil recusar : “mas os bois têmtrabalho a fazer”. O homem rico emideias pensa em construir um carro :tolo ! Não sabe que um carro se fazcom cem tábuas , e que antes vem ocuidado de juntá-las em casa .” (12)  

    Na obra “Metamorfose” de Ovídio , aave negra também está presente . Eisos trechos onde é possível encontrar

    a menção à figura do corvo : “(. . .)Anuíram os deuses do mar ; a

    Satúrnia sobe ao límpido céu no ágilcarro içado pelos pavões recém-

    tintos , ao morrer Argos , qual , há bempouco , ó corvo loquaz , antes branco ,de repente mudaste em ave de asasnegras . Outrora , ela era argêntea ede alvas penas nas asas , igualando-

    se a pombas sem mácula , aosgansos , cuja vígil voz o Capitóliosalvaria , e ao cisne amante dos

    riachos . A língua foi sua perdição ;língua loquaz causou-lhe a troca da

    cor branca na contrária . Em todaHemônia não havia outra mais belado que Corone de Larissa ; ela , a ti ,

    Délfico , aprouve , ao menos quandocasta ou não flagrada ; porém a ave

    de Febo flagrou o adultério e ,inexorável delatora , foi contar a

    oculta culpa ao dono ; movendo aspenas para tudo saber , diz , a gárrula

    gralha , enquanto o segue : “nãopalmilhas boa trilha , considera o queminha língua pressagia . Vê o que fui

    e o que sou , qual prêmio , e verásque a boa-fé me foi nefasta . Certavez , Palas fechara Erictônio , ente

    O corvo em outros textos mitológicos

    sem mãe, numa cesta tecida comvime da Ática, e o confiou às três 

      filhas do biforme Cécrope coma proibição de espiarem o

    segredo. (13)

  • ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |  14

    (. . .) De fato , ela é ave , mas cônsciada culpa , evita a luz e no breu opudor oculta e é repelida em todocéu por todas”. Dito isso , o corvoexprobra : “que tuas palavras tedesgracem ; desdenho dos teusvãos presságios”. E prosseguindoem seu caminho , conta ao amoque viu Corone se deitar comjovem Hemônio . Ao saber desseultraje , ao deus amante escapam acoroa de louro , o plectro e a cor dorosto , e , com o coração refervendode cólera , pega as armas desempre , estende o curvo arco aoextremo e aquele peito tantosvezes unido ao seu trespassa comseta certeira . (. . .) Mas , após espargirperfume inútil nela , e abraçá-la ,prestando-lhe devidas honras ,Febo , não suportando o fruto virarcinza , arrebatou do ventre emchamas o seu filho e o levou àcaverna do biforme Quíron ; e aocorvo , que esperava prêmio à verazlíngua , vetou de viver entre as avesde alva cor . “ (15)     

    Epicteto , em Encheirídion ,menciona o corvo : “Quando umcorvo crocitar maus auspícios , que arepresentação não te arrebate , masprontamente efetua a distinção ediz : “Isso nada significa para mim ,mas ou ao meu pequenino corpo , ouàs minhas pequeninas coisas , ou àminha reputação , ou aos meusfilhos , ou à minha mulher . Se euquiser , todas as coisas significambons auspícios para mim – pois sealguma dessas coisas ocorrer ,beneficiar-me delas depende demim”. (16)  

    Os corvos também aparecem na obrade Plutarco , nos trechos transcritos aseguir : “(. . .) Fez um funeral muitosentido a Filagro , seu mestre , ecolocou no túmulo um corvo empedra , ao que Cícero reagiu , dizendo :“Este , sim , foi um acto sábio , pois eleensinou-te mais a voar do que afalar .” . Quando , num julgamento ,Marco Ápio iniciou o seu discurso ,dizendo que um seu amigo lherecomendara que fosse cuidadoso ,eloquente e credível , Cícero disse :“Então és um homem duro como oferro , pois nada fizeste do que o teuamigo recomendou .” (17)    

  • ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |  15

    (. . .) O lugar tem também umpequeno templo de Apolo ,sobranceiro ao mar . Daíbandos de corvoslevantaram voo , grasnandoagudamente , eaproximaram-se do barcode Cícero quando este sedirigia para terra e ,colocando-se nos dois ladosda verga , uns grasnavam , osoutros bicavam asextremidades das cordas . Ea todos isto pareceu ummau presságio . Então Cícerodesembarcou , entrou emcasa e deitou-se paradescansar . A maior partedos corvos empoleirou-se àjanela , soltandotumultuosos grasnados , masum deles conseguiu chegarao leito onde Cícero seencontrava coberto com umpequeno manto e , aospoucos , com o bico ,destapou-lhe o rosto . Osservos , ao verem tal coisa ,censuraram-se por estarem ,como espectadores , àespera que o seu amo fossemorto , sem o defender ,enquanto os animaisvinham em seu socorro eapoiavam-no nesta desgraçaimerecida . Então , pelapersuasão e pela força ,pegaram nele e começarama levá-lo na liteira emdirecção ao mar .”  (18)  

    (12) Hesíodo. Os trabalhos e os dias. P. 109. (13) Ovídio. Metamorfose. P. 79 (14)Ovídio. Metamorfose. P. 81 (15)Ovídio. Metamorfose. P. 82 (16)Epicteto. Encheirídion. P. 27. Disponível em https://seer.ufs.br/index.php/prometeus/article/viewFile/816/721. Último acesso em 05.08.208 (17)   Plutarco. Vidas Paralelas - Demóstenes e Cícero. Tradução do grego, introdução e notas de Marta Várzeas. Disponível em https://digitalis-dsp.uc.pt/jspui/bitstream/10316.2/2405/9/plutarco_vidas_demostenes.pdf?ln=pt-pt Último acesso em 05.08.2018. P. 144 (18) Plutarco. Vidas Paralelas - Demóstenes e Cícero. Tradução do grego, introdução e notas de Marta Várzeas. Disponível em https://digitalis-dsp.uc.pt/jspui/bitstream/10316.2/2405/9/plutarco_vidas_demostenes.pdf?ln=pt-pt Último acesso em 05.08.2018. P. 175 - 176

  • Ao contrário do que se poderiaimaginar, o filho do lendário Bruce Lee,queria ser reconhecido pelo talentocomo ator e não pelos conhecimentosmarciais herdados de seu pai. Ironicamente, foi morto por um tirodisparado em uma cena, no dia 31 demarço de 1993, nas filmagens do filme"O Corvo", dirigido por Alex Proyas, quetinha a promessa de transformá-lo em herdeiro do filão cinematográfico deartes marciais. A arma, usada com munição deverdade (a arte imita a vida) em umacena anterior, foi limpa e teve amunição real substituída por cartuchossem projétil, com pólvora suficientepara causar a explosão e o barulhonecessários para a cena com Lee. Mas 

    POR NICOLE ZEGHBI

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   16

    A mitologia pertinente a cada estrelanão é feita de apenas uma versão e,ainda que fosse, em uma mesmahistória vigoram pontos de vista dediferentes personagens. Partindo desse pressuposto, por qualviés mitológico o Corvo se coloca nomapa de Brandon Lee?  

    Brandonn Lee

    um projétil de verdade (a vida imitandoa arte) ficou preso no cano do revólver equando Michael Massee disparou aMagnum 44, a pólvora do festim fezcom que fosse liberado. O tiro, que deveria ser cênico, perfurou oabdômen de Lee. Demorou algum tempo para que aequipe do estúdio percebesse o quehavia acontecido. Brandon Lee morreu dez horas depois,ainda na mesa de cirurgia. 

    Fontes: acervofolha.blogfolha.uol.com.br  //  pt.wikipedia.orgwww.guioteca.com  //  www.revistavanityfair.es

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  • MAPA NATAL

    Júpiter é a rotina artística recebida ou àserviço dessa fome , é a equipe noambiente de trabalho , a influênciavalorosa do gosto popular e o inimigo quese esconde entre os flashes , assim comonos bastidores . Projeta seu antiscion na VIII , em oposiçãoao Sol e a Lua , configurando o ambientede trabalho como fonte de perigo .Testemunho que o lote da morte , em23°♌23 ’ , confirma . Vale lembrar que a casa VII , por ser o antihoróscopo e o lugar de queda do Sol , étambém associada à velhice , à morte e àsituações que oferecem risco ao nativo . Através da carreira artística , conecta a Luae o Sol ao ascendente , é a rotina defilmagens que leva Brandon Lee deencontro à morte . No alto , o Corvo grasna o mau agouro – afome e a morte anunciadas pelo doadorda vida .   

    O mapa natal de Brandon Lee temAlgorab, a estrela alfa da constelação doCorvo, conjunta ao lote do trabalho 11°♎46’(Asc+♃-☉/dia) na casa X e junto ao Sol, pordeclinação. Os luminares - Sol com Algorab conjunto àLua - representam a fome, a avidez porpopularidade e a fama, que buscasatisfação na carreira artística.

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |  17

    Fonte: Astro databank

    Júpiter

  • 1993 – Ano da morte de Brandon Lee

    Em 1993 a profecção chega ao signo deTouro, fazendo de Júpiter e Vênusregentes do ano. O ascendente dirigido em 20°♒ 09’, nostermos de Marte, nomeia Júpiterparticipante e Marte distribuidor. O ascendente da RS, em grau muitopróximo ao M.C natal, coloca anotoriedade em pauta. O M.C da RS em 16°♌15’, signo da VIIInatal, em quadratura com Júpiter natal,em 16°♉56’ - o regente do ano. O lote da morte natal, 23°♌23’, fazoposição ao lote da fortuna dirigido,⨂24°♒22’, repetindo o testemunho emque as atividades artísticas se associamà influência valorosa do gosto popular ede que o inimigo que se esconde entreos flashes, assim como nos bastidores,expondo Lee à situações de risco. Marte, o pequeno maléfico, regente doascendente da RS e dos termos do ascendente dirigido, 09°♋56’,signo da VII natal, em quadratura comJúpiter, 14°♎40’, conjunto a Algorab e aolote do trabalho na XII. A casa X natal, libra, é a XII da RS. e a VII,Câncer, a IX - o trabalho nos bastidores,as ameaças que mesmo diante dosolhos não são vistas.

    Saturno da RS, 19°♒ 55’, conjunto ao ASCdirigido,  20°♒ 09’, ativa o regente doascendente natal. Mercúrio e Sol, regentes da VIII na RS e nonatal, em conjunção aplicativa a Saturnona IV, levam Brendon Lee do portal doHades ao subterrâneo. O signo da profecção na VII da RS e a Lua,regente da VII natal, 28°♉35’, conjuntaAlgol - em sextil com Vênus, 28°♓59 -regente do ano e do lote do trabalho, nacasa V que é a III natal - testemunham suarotina de trabalho e pessoas de suaconvivência nas filmagens oferecendoperigos ao corpo.

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |  18

    Brandonn Lee em

    cena do filme "O

    corvo"

    PREVISÕES

    RS

  • No enredo do filme do qual Leeparticipava, o corvo é aquele que transitaentre os mundos carregando as almas, éo guia do seu personagem na volta domundo dos mortos. Curiosamente, a presença da estrelaassociada ao lote do trabalho e ao Solpor declinação, poderia facilmentepassar desapercebida no seu mapa. Dentre as significações que a mitologiadá ao corvo, Algorab se determina pelavertente profética no mapa de BrandonLee, é o cheiro do medo na carne quepressente a morte, uma visita pedindoentrada em seus umbrais, um nuncamais. 

    TRÂNSITOS

    Os trânsitos no dia da morte deBrandon Lee testemunham o pesoprofético de Algorab. Sol 10°♈39’ e Vênus 12°♈33’ oposição aJúpiter, 14°♎40’, com Algorab na RS eao lote do trabaho, 11°♎46’ com Algorabno natal. Marte 18°♋09’ e Lua13°♋12’, no signo daprofecção mensal, fazem oposição aoASC 16°♑12” e ⊗17°♑29’  natal.

    ALGORAB E O CORVO

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   19

    31/03/1993

  • Ninguém diria que o médico deaparência calma e refinada, filhode uma família católicaburguesa do sul da Alemanha,seria conhecido comotodesengelou o anjo da morte(1). Depois de uma carreira bemsucedida no partido nazista,Josef Mengele ingressou na SS, o exército de elite, órgãoresponsável pelo comando doscampos de concentração. Nãopor acaso, uma dascaracterísticas imprescindíveisaos homens desse seleto grupo,era a “pureza racial”. No comando de Auschwitz,Mengele classificava osprisioneiros separando os queestavam aptos à servir em seus

    POR CATARINA SPAGNOL E NICOLE ZEGHBI

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |  20

    Josef Mengele

    experimentos daqueles queseriam enviados às câmarasde gás. Sendo a pureza de raça e aeugenia, principaiscaracterísticas do nazismo,os gêmeos univitelinos, pelasimilaridade de códigogenético, eram cobaiasperfeitas para a busca demelhoria genética, ideal devida e objetivo final dasbrutais experiênciasrealizadas por Mengele. De que forma esses fatos seinscrevem simbolicamenteem seu mapa e como serelacionam com a figura doCorvo?

    Segunda

    Guerra

    Mundial 1944

    - Rússia

    , soldado

    nazista

    morto

    .

    (1) Fonte: https://www.publico.pt/2017/12/02/culturaipsilon/entrevista/josef-mengele-devorouse-a-si-proprio-1794028

    todesengel

  • ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |  21

    Fonte: Astro databank

    MENGELE O MÉDICO CORVO A delta do Corvo está junto ao luminar quedispõe do ascendente, na casa IV. A Lua emLibra é recebida em oposição por uma Vênusem exílio, disposta por um Marte de casa VIII. Delineia-se um corvo situado dentro docontexto da casa IV, local do mapa que versasobre ancestralidade, raízes, terras, passado etudo aquilo que fica escondido embaixo daterra. O simbolismo visto anteriormente no tópicosobre os complementos a respeito da figuramítica do corvo, associado ao contexto dacasa sob o signo de Libra, a balança àprocura da perfeição estética, determina umcorvo a serviço da ancestralidade - o médicocorvo manipula os bisturis em prol dasupremacia de uma raça.

    Sol e Mercúrio na casa IX, junto ao MC, emtrígono com Júpiter em Escorpião na V,projetando sua antíscia* junto à Lua/Algorabna IV, são testemunho da ligação entreancestralidade e ciência no mapa do médicocorvo, da eminência que alcançaria comoministro da ideologia nazista e consequenteproximidade com o “rei”, o führer Adolf Hitler. Esse acesso à intimidade do “rei” era privilégiodos oficiais da SS, dos quais era exigidofidelidade total ao führer. Sob o lema, “MeinEhre heißt Treue” ou “minha honra é alealdade” Mengele, assim como fez o corvoque servia Apolo, mesmo colocando sua vidaem risco, manteve fidelidade incondicionalao Partido Nazista. Marte em Aquário na VIII, a que versa sobre amorte, em trígono com a Lua e recebendoJúpiter em quadratura, testemunha Mengelecomo anjo da morte, como soldado queguerreava em nome do avanço da medicinae de suas crenças, não se limitando à figurade ministro. 

  • Segundo Lilly em Astrologia Cristã, os signos antíscios são aqueles que são da mesma virtude e estão igualmente distantes do primeiro

    grau dos dois signos tropicais, Câncer e Capricórnio, e em que graus, enquanto o Sol lá se encontra, os dias e as noites têm a mesma

    duração.

    Ptolomeu diz que ‘os signos que se contemplam um ao outro’ são também signos de igual poder, desde que igualmente distantes dos

    trópicos. Ele explica que eles se ‘contemplam’ mutuamente em parte porque eles nascem e se põem na mesma parte do horizonte, e em

    parte porque: “…quando o Sol entra em qualquer um deles, os dias são iguais aos dias, as noites às noites, e a duração das suas próprias

    horas é a mesma.”

    Firmicus prossegue para sugerir, que quando os planetas não se aspectam entre si, deveríamos considerar se eles estão unidos pela

    relação de antiscia: “…Pois, quando eles enviam um antiscion de uma tal forma que eles estão em aspecto através do antiscion, em

    trígono, quadratura, sextil ou oposição, eles auguram tal e qual como se estivessem assim colocados na disposição normal…”.  

    Fonte: www.astrologiamedieval.com

    SOBRE A ANTÍSCIA

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   22

  • Em segredo(3), a Lua é consumida peloSol, governante da casa que versa, entreoutras coisas, sobre o alimento e afome. Tendo como companhia o corvo,fadado à sede eterna, o regente doascendente é condenado à insaciedadeda fome mesmo diante do alimento.   Mengele era o próprio corvo que senutria vorazmente do sofrimento e damorte. Nas palavras de Olivier Guez: “Mengelese autodevorou. Corroeu-se, corroeu-se.Sozinho.”

    A conexão entre o Sol (regente da II),Mercúrio (regente da III e da XII) e a Lua -conjunta a Algorab, é a voz do médicocorvo sentenciando o destino de vida emorte nos campos de concentração.  

    “Não palmilhas boa trilha, considera o que minha língua pressagia. Vê o que fui e o que sou, qual prêmio, e verás que a boa-fé me foi nefasta”, escreveu Ovídio sobre o corvo. A língua, no caso de Mengele, a voz do médico corvo era mais que um presságio da morte, era uma condenação. Eis a transcrição de algumas palavras do médico corvo capazes de provocar calafrios na espinha: “Quando nasce uma criança judia não sei o que fazer com ela: não posso deixar o bebê em liberdade, pois não existem judeus livres, não posso permitir que vivam no acampamento, pois não contamos com as condições que permitam o seu desenvolvimento normal, não seria humanitário enviá-las aos fornos sem permitir que a mãe estivesse ali para presenciar a sua morte. Por isso, envio juntos a mãe a criatura.” (2)

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   23

    (2)  Arellano, Fabián Esteban Retamal. O médico-demônio do terceiro Reich, Josef Mengele: “o anjo da morte” caiuem Auschwitz”. P. 43. Disponível em:http://repobib.ubiobio.cl/jspui/bitstream/123456789/1382/1/Retamal_Arellano_Fabian.pdf (3) Referência a antíscia.

    FON T E S :

    WWW . REV I S T AB I O E T I C A . C FM . ORG . BR / /

    WWW . REPOB I B . UB I OB I O . C L / /

    WWW . P ER I OD I CO S . S E T . EDU . BR / /

    WWW . I N FOE SCO LA . COM / / WWW . OS - COMPARSA S - DE -

    H I T L E R . WEBNODE . COM

  • DAIMONES, DEUSES, SACERDOTES

    Por S imão Cor tês

    Sempre que consideramos as razões parapraticar astrologia de uma formatradicionalista é interessante pensar sobreas teorias clássicas da adivinhação. Noúltimo número desta revista a CatarinaSpagnol escreveu um artigo muitocompleto sobre a visão estóica daadivinhação e a forma como esta correntefilosófica em particular justificava as suaspráticas. No entanto é preciso ter ematenção que os antigos, tal como nós,raramente concordavam nestes assuntose havia vários sistemas teóricos quejustificavam o funcionamento do processoadivinhatório e as relações resultantesdesse processo. Neste pequeno artigoquero discutir uma outra teoria antiga daadivinhação, a teoria platónica, emparticular como formulada por Plutarco,provavelmente um dos mais profundosfilósofos da adivinhação no contextoocidental.  N O M A D I C | 2 4

    A teoria da adivinhação de Plutarco

    De Apolo a Dionísio

  • A l é m d i s s o p r e t e n d o r e l a c i o n a r a s u a

    t e o r i a , e a s i n c r í v e i s c o n c l u s õ e s q u e

    d e r i v a m d e l a , c om a p r á t i c a a s t r o l ó g i c a d e

    h o j e em d i a .

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA | 25

  • Plutarco foi um filósofo que viveu naGrécia entre o primeiro e segundoséculo da nossa era. A sua obra éconstituída por dois grandesconjuntos de textos conhecidos porMoralia e Vidas. As Moralia são umconjunto de pequenos tratadossobre diversos temas filosóficos,desde o vegetarianismo à teologia, eas Vidas são biografias romantizadasde algumas das personalidadesmais importantes da história daGrécia e de Roma. Estas obras foramfundamentais para o pensamentoocidental, e influenciaram muitosescritores desde que foram escritas.Um bom exemplo é a peça Antónioe Cleópatra de Shakespeare, que ébaseada fortemente na “Vida deAntónio” de Plutarco, com certascenas copiadas quase palavra apalavra. Em muitos dos seus textosbiográficos a adivinhação tem umpapel proeminente, e nas Moraliaencontramos três textos emparticular em que este tema édiscutido de forma aprofundada:“Sobre o E em Delfos”, “Sobre oOráculo da Pítia” e “Sobre aDecadência dos Oráculos”. Vou-mebasear principalmente nestes textospara discutir a teoria plutárquica daadivinhação. 

    É importante, numa nota final, quecompreendamos a relação profundaque Plutarco tinha com aadivinhação. Um dos seus trabalhosno fim da vida foi como sacerdoteno Oráculo de Delfos, um dos maisimportantes oráculos gregos. EmDelfos, a Pítia, uma mulherconsiderada sagrada, respondia aperguntas supostamente segundo avontade de Apolo. O envolvimentode Plutarco com a adivinhação é,portanto, não só teórico comoexperiencial, o que nos oferece umajanela privilegiada para abordagensadivinhatórias da época.

    Issue 27 | 234 ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA | 26

  • ADIVINHAÇÃO E CIÊNCIA

    Um a c a r a c t e r í s t i c a t í p i c a d o t e m p o d eP l u t a r c o é j á um a d e s c o n f i a n ç a g r a n d e

    r e l a t i v a m e n t e a o s o r á c u l o s .  

    Não só Cícero fez esta crítica intelectual feroz àadivinhação, como na época existe uma ideiageneralizada de que os oráculos estão emdecadência, algo que o próprio Plutarco discuteno “Sobre a decadência dos oráculos”. Já naaltura, como hoje, a filosofia natural desconfiavada adivinhação, e Plutarco, como umintelectual da época, tem de ser capaz de lidarcom as críticas destes “cientistas” antes depoder começar a justificar a forma como aadivinhação funciona.

    A primeira coisa que precisamos de entendersobre a justificação de Plutarco é que noplatonismo podem existir diversas causas paraum mesmo evento, então o facto de um filósofonatural ser capaz de explicar um portento ouum presságio não implica que o acontecimentonão tenha valor adivinhatório. Um exemplodisto é dado na secção 6 da “Vida de Péricles”em que um carneiro com um só corno éencontrado nas terras de Péricles. Um adivinhodiz que isto é um portento que significa quePéricles derrubará os seus rivais políticos, masAnaxágoras, um dos grandes racionalistas daantiguidade, é capaz de explicar“cientificamente” a anomalia biológica que levaa que o carneiro tenha um só corno, fazendopouco do adivinho. Ao comentar este episódio,Plutarco diz:

    “Não há nada, na minha opinião, que impeçaambos, o naturalista e o adivinho, de estaremcorretos neste assunto; um adivinhoucorretamente a causa, o outro o propósito. É olugar adequado de um observar porque é queas coisas acontecem, e como é que as coisas setornam o que são; e do outro declarar opropósito porque as coisas acontecem, e o quesignificam.” (2)

    No início do primeiro século da nossa era,

    Cícero publicou o seu livro "Sobre a

    Adivinhação" (1)  em que critica fortemente

    as conceções estóicas de adivinhação,

    nomeadamente a ideia de que a

    adivinhação é uma ciência que pode ser

    aprendida através de técnicas exatas que

    nos permitem interpretar sinais que os

    deuses dão sobre o destino

     (1) Cicero. (1923) De Senectute De Amicitia De Divinatione, (trans.) W. A. Falconer, Cambridge, Massachusetts, London, England,Harvard University Press. Disponível em: http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A2007.01.0043%3Abook%3D1%3Asection%3D1 Acessado a 22/8/2018.

     (2) Plutarch. (1916) Plutarch’s Lives, (trans.) B. Perrin, Cambridge, Massachusetts, London, England, Harvard University Press.Disponível em: http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A2008.01.0055%3Achapter%3D1%3Asection%3D1 Acessado a: 22/8/2018. Traduzido do inglês por mim.

  • Ainda hoje,este conceito é muito importantepara adivinhos: Não importa quehaja uma explicação racionalistapara um evento, porque estaexplicação por si só não exclui apossibilidade de um significadoesotérico para esse mesmoevento. Um outro exemplo desteargumento encontra-se nasecção 48 do “Sobre aDecadência dos Oráculos”  (3)onde se discute qual a causa dasvisões da Pítia, se inspiraçãodivina ou o fumo que ela respiradurante o ritual. Lamprias afirmaque a Pítia entra em transe porcausa do fumo que respira nooráculo mas que o fumo é o meiopelo qual o divino atua paratrazer as suas mensagens. 

    (3 ) P lu ta rch . ( 1 874 ) P lu ta rch ’ s Mora l s , ( t r ans . ) va r i ous hands ( r e v . ) W . Goodwin , Cambr idge ,Pres s o f John Wi l son and son . Di spon í ve l em :ht tp : / /www .per seus . tu f t s .edu /hopper / sea rch re su l t s ?q =P lu ta rch Aces sado a : 22 /8 /2018 .

    Géra rd de La i r e s se - Gran ida en Da iph i l o

    P ie r r e Nico la s Leg rand de Lé ran t ,  A lexande r the Grea t and theOrac le o f De lph i

    Eugène De lac ro i x ,  Lycu rgus Consu l t i ng the Py th i a

    https://commons.wikimedia.org/wiki/File:G%C3%A9rard_de_Lairesse_-_Granida_en_Daiphilo.jpghttps://commons.wikimedia.org/wiki/File:G%C3%A9rard_de_Lairesse_-_Granida_en_Daiphilo.jpg

  • Aquilo que Plutarco nos dá de relevante para o debate entre astrologia e ciência de hoje em dia é aideia de que uma causa materialista (exotérica) não elimina necessariamente a existência de causasmisteriosas (esotéricas). Isto é especialmente importante para a astrologia já que é uma arte divinatóriaque se baseia no movimento dos planetas, que é calculado e conceptualizado através de ferramentascientíficas. Ou seja, o facto de haver uma descrição astrofísica dos comportamentos das esferas nosistema solar, não impede (na verdade até impele) o significado astrológico dessas mesmas esferas.

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA | 29

  • O Adivinho e o Divino

    É verdade que ocasionalmente encontramosfilósofos ateus no mundo clássico, mas sãocasos relativamente raros num contexto muitomais rico. Mesmo uma leitura superficial daobra de Plutarco nos permite perceber quepara ele o mundo é um conjunto complexo derelações entre elementos físicos, pessoas eentidades espirituais de todo o tipo que serelacionam com os seres humanos. O exemplomais famoso de uma categoria de espírito quese relaciona com o ser humano é o daimon. Égeralmente aceite que o conceito de daimonfoi popularizado por Sócrates. Na Apologia,Sócrates fala de uma voz que desde a infâncialhe dá certos conselhos sobre o que ele nãodeve fazer. A partir desta introdução o conceitoé muito desenvolvido na teologia platónica e odaimon ganha o estatuto de um espírito tutelar,uma espécie de anjo da guarda, que tomaconta de um ser humano em específico. Omelhor termo de comparação na sociedadebrasileira atual seria o anjo da guarda cristão, osguias espirituais do espiritismo ou da umbandae o Orixá de cabeça nas tradições afro-brasileiras em geral.

    O daimon é absolutamente fundamental nateologia de Plutarco e também nas suas ideiasde adivinhação. Um exemplo muitointeressante pode ser encontrado na seção 33da “Vida de António” (e mais tarde exploradopor Shakespeare), quando um astrólogo egípcioavisa António para se afastar de Octávio César.Vale a pena transcrever a passagem:

    Uma das coisas mais apaixonantes na literatura filosófica da antiguidade, é o facto deestes filósofos viverem num mundo conceptual completamente diferente do nosso.

    “Com ele estava um vidente do Egito, um daqueles que lê natividades. Este homem, por favor a Cleópatra ou por honestidade com António, foi franco com ele e disse- lhe que o seu destino, apesar de grande e esplêndido, era ofuscado pelo de César; e aconselhou António a afastar-se o mais possível desse jovem. ‘Porque o teu daimon’ disse ele ‘tem medo do dele; e apesar de ele [o teu daimon] ter um semblante sublime quando está sozinho, quando o dele se aproxima, o teu é intimidado e humilhado por ele’”

    (4)    Plutarch. (1916) Plutarch’s Lives, (trans.) B. Perrin,Cambridge, Massachusetts, London, England, HarvardUniversity Press. Disponível em:http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A2008.01.0055%3Achapter%3D1%3Asection%3D1 acessado a: 22/8/2018. Traduzido do inglês pormim.ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA | 30

  • Nós podemos tirar duas ideias muitointeressantes desta passagem. A primeira é a deque a vida humana não se desenrola só entreseres humanos. Existem causas divinas eespirituais para as relações que estabelecemose a forma como elas evoluem. Neste caso,apesar de António ser em todos os aspetos maiscompetente do que Octávio César, o seudaimon acobarda-se perante a presença dodaimon de César. Isto quer dizer que paraPlutarco a competência de António torna-seirrelevante se o seu daimon não for capaz deagir adequadamente. É fascinante pensar oquão diferente esta abordagem é das nossasabordagens modernas. 

    A segunda ideia que podemos retirar daqui, eque eu encontrei num artigo da Niara Martins(5)  deste ano, é a de que o adivinho não está afazer uma previsão sobre o mundo material,mas sim sobre o divino. Ou seja, ao contráriodos estóicos que acham que os sinaisadivinhatórios nos ensinam coisas sobre ascausas do destino no mundo material, aqui oastrólogo tem a função muito mais específicade ler o mundo dos espíritos. Isto porque, emtermos materiais, tudo indica que António émais competente do que César, mas o acessodo adivinho ao mundo dos espíritos permite-lhe dizer que António nunca poderá vencerporque o seu daimon está em desvantagem.

    (5 )   Mar t in s , Nia ra (2018 ) “ I t ends l i ke th i s : Poo - t ee -weet ? ” , por pub l i ca r .

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  • Isto pode parecer uma diferença subtilpara o leitor moderno, mas a suaimportância é tremenda. Uma das críticasmais ferozes que o Cícero faz à adivinhaçãoé: porquê estudar sinais que revelamcausas, quando podemos estudar ascausas diretamente?. Ou seja, porquêperguntar a um adivinho se uma batalhaserá vencida, se um bom general serácapaz de calcular através da suaexperiência e sabedoria as hipóteses reaisde vencer a batalha? Porquê confiar naanálise de um terceiro elemento, quando aanálise do contexto da batalha em si ésuficiente? Ainda hoje encontramos ecosdesta crítica quando mentalistasconseguem “adivinhar” tantas ou maiscoisas sobre pessoas do que um adivinho.Porquê estudar astrologia se um bomestudo da psicologia, economia esociedade humana nos pode fazerperceber, através de uma leitura fria, asações de uma pessoa e os resultadosdessas ações? Aliás, qualquer pessoaconsegue, com um enorme grau deprecisão, prever as ações dos seus amigos efamiliares mais próximos. Para quê gastartempo com astrólogos, então?

    Aquilo que Plutarco faz ao colocar oadivinho na posição de diálogo com odivino é dar-lhe um papel que maisninguém tem. Mesmo que o adivinho sejapior a prever o resultado de açõeshumanas, ele é o único que consegue olhar“através do véu” para as ações divinas. Oadivinho não serve para dizer ao general ashipóteses que ele tem de vencer a batalha,um bom general consegue essainformação de forma mais fiável através dasua experiência militar. 

    O adivinho serve para dizer ao general se omundo misterioso do divino estará do seulado durante a batalha ou não.Naturalmente isto implica que o adivinhocom uma perspetiva platónica aceite aexistência do divino, e a sua interferênciana vida humana. Mas o resultado é umateoria do papel da adivinhação quederruba facilmente as críticas de Cícero edos mentalistas contemporâneos. Ogeneral lê a situação, o mentalista lê apessoa, o adivinho lê os deuses.

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA | 32

  • Se ao menos….

    Há um último aspeto da teoria de Plutarcoda adivinhação que vale a pena discutirantes de pensar no que tudo isto significapara a prática de astrologia nos dias dehoje. No seu texto “Sobre o E em Delfos”,existe uma secção em que Nicander, umadas personagens do diálogo, discute osignificado da palavra “se” nas perguntasem grego. Em grego, todas as perguntasdirigidas a oráculos utilizavam a fórmula“se”, por exemplo “se vou vencer abatalha?”, “se vou conseguir riqueza criandogado?”, etc. Plutarco, na voz de Nicander,chama à atenção o facto de estaconstrução em grego ser ambígua, já que apalavra “se” serve tanto para fazerperguntas como para marcar orações comverbos no modo optativo, ou seja, oraçõesque revelam desejos. Em português existeuma construção semelhante: “se ao menoseu pudesse ser rico”.

    Aquilo que Plutarco tenta fazer com estepequeno jogo gramatical é revelar umestado psicológico típico da pessoa queprocura um adivinho: a pessoa não estásomente a fazer uma pergunta, a pessoaestá a pedir um desejo, mesmo que não seaperceba. Ou seja, quando um generalpergunta se vai vencer uma batalha, eleestá também a dizer “se ao menos eupudesse vencer esta batalha!” A pergunta que se põe, claro, é a quem éque este desejo está a ser dirigido. Mascomo na visão de Plutarco o adivinho servede mediador entre o humano e o divino, aresposta é evidente. O desejo está a serapresentado ao deus do oráculo, nestecaso a Apolo. Isto mais uma vez mudaradicalmente a perspetiva sobreadivinhação. 

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    https://culturavisivablog.wordpress.com/page/9/

  • O deus ou deusa do oráculo nãoestará a responder a uma simplespergunta sobre o futuro, estará aresponder a um pedido, a umdesejo profundo da alma doquerente. Nicander explicareferindo-se a Apolo:

    Mas o deus na sua sabedoria disse adeusaos logicistas que acham que nada resultada partícula “se” combinada com o que oconsulente pensa fazer, porque o deusconcebe todas as questões em conjuntocom isto como uma coisa real e aceita-ascomo tal. 

    Plutarch. (1874) Plutarch’s Morals, (trans.) various hands (rev.) W. Goodwin, Cambridge, Press of John Wilson and son.

    Disponível em: http://www.perseus.tufts.edu/hopper/searchresults?q=Plutarch Acessado a: 22/8/2018. Traduzido do

    inglês por mim.ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA | 34

  • Ou seja, Apolo interpreta as questões postasao oráculo de Delfos como perguntas edesejos ao mesmo tempo. Talvez seja por issoque técnicas como a astrologia Horáriaexigem que o querente estejaemocionalmente investido na pergunta quefaz. O que isto implica em termos práticos éque a resposta do oráculo não é tanto umaresposta sobre um futuro previsível, mas aposição do deus relativamente aos desejosdeste humano em particular. Por exemplo, seeu perguntasse ao oráculo de Delfos se me iriacasar um dia, a resposta não seria somenteuma previsão do futuro, mas a posição deApolo sobre a possibilidade de eu me casar.Para Plutarco, aquilo que nósverdadeiramente procuramos na adivinhaçãoé a bênção do deus, e não uma resposta exatasobre o futuro.

    Digamos, por exemplo, que um mercadorpergunta a um oráculo se deve fazer umaviagem pelo mar e o oráculo lhe diz que não.O mercador, pouco convencido dacompetência do oráculo, decide fazer aviagem e tudo corre bem e a viagem é muitolucrativa. Para Plutarco isto não invalida acompetência do oráculo já que o que omercador fez foi desrespeitar as intenções dosdeuses relativamente ao seu destinocometendo o terrível crime da húbris. Omercador pode ter ficado rico, mas fê-lo àcusta da bênção dos deuses e da sua própriaalma.

    Aquilo que se torna claro aqui é que paraPlutarco o papel de adivinho aproxima-se dopapel de sacerdote. O adivinho não sócomunica com o divino para transmitir as suasintenções aos mortais, ele transmite asansiedades, os pedidos e as orações dosmortais ao divino. No fim de contas, apergunta do consulente torna-se uma oraçãoe cabe ao adivinho transmitir a resposta dosdeuses a essa oração.

    O que podemos então tirar das teorias dePlutarco para a prática da astrologia nos diasde hoje? Parece-me que existem algumasideias fundamentais, que se bem aplicadaspodem gerar linhas interessantes na nossaprática.

    Em primeiro lugar a abordagem de Plutarco àciência da época permite-nos ultrapassar odebate mais cansativo do nosso tempo, aqueleentre astrologia e ciência. Podemos e devemossempre pôr em causa as nossas práticas, mas aprática de qualquer forma de adivinhação e ométodo científico reportam-se a níveis derealidade completamente diferentes. Porexemplo, apesar de cientificamente osplanetas nunca realmente retrogradarem emoverem-se sempre na mesma direção, natradição astrológica a retrogradação é umelemento interpretativo fundamental. Aquiloque a teoria de Plutarco diz sobre isto é: Podeaté ser verdade que os planetas nunca semovem realmente na direção oposta à suaórbita normal, mas continua a ser significativoque do ponto de vista da terra essa ilusão deótica aconteça e podemos utilizá-la parasignificar mensagens divinas. O facto de estateoria nos libertar da necessidade de umajustificação científica para a nossa prática é emsi suficiente para que ela tenha valor.

    Em segundo lugar, a ideia de que o adivinhose reporta ao divino e comunica as intençõesdo divino ajuda-nos a transcender o debateentre formas psicológicas modernas e formasliteralistas tradicionais de astrologia. Para osplatónicos o divino era imanente em todas asesferas da experiência humana, e portantopodemos dizer que tanto fatores psicológicoscomo fatores da vida externa são afetadospelas informações que tiramos da astrologia,mas não devem ser confundidos com essasinformações. É bom relembrar o exemplo doastrólogo egípcio que avisa António que o seudaimon é mais fraco do que o daimon deOctávio. Apesar de a informação serfundamentalmente do reino do divino, elatraduz-se de uma forma muito prática narealidade. O António perde a batalha do Áciocontra Octávio num dos momentos maisdramáticos da história do antigo Egito. Noentanto a natureza da informação é divina: oastrólogo não prevê que o António vai perder abatalha, mas por perceber a natureza darelação do seu daimon com o daimon doOctávio é capaz de inferir qual será o resultadoprático dos seus encontros.

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA | 35

  • Por fim, a abordagem optativa àadivinhação permite-nos justificarporque é que às vezes previsões que nospareciam tão óbvias (tanto em astrologiahorária como em astrologia natal) não seconcretizam. O papel da astrologia não éser uma ciência exata mas é ser umalinguagem simbólica que permite queos deuses comuniquem diretamente assuas respostas aos nossos desejos.  Épossível que nós, enquanto humanos,contrariemos os conselhos dos deuses(existem exemplos abundantes namitologia greco-romana) mas fazemo-lopor nossa conta e risco.

    Aceito que este último argumento tem operigo de tornar a astrologia ainda maisinfalsificável, já que podemos justificarqualquer “má previsão” dizendo que avontade dos deuses foi violada.Infelizmente uma característica dequalquer assunto que lida com o divinoé a incerteza. O único antídoto contra oabuso deste argumento para justificarincompetência é o cultivo da humildadee o cuidado para não cair na húbris. Poralguma razão os gregos consideravam ahúbris como a maior de todas astransgressões da vontade divina. A outracoisa de que precisamos de nos lembraré que a vontade dos deuses é tudomenos fraca, pelo que não será violadacom muita frequência. Este argumentojustifica o ocasional erro entre muitosacertos, e não o ocasional acerto entremuitos erros.

    É preciso que tenhamos em mentetambém que ao tomar uma abordagemcomo a de Plutarco, que não é sófilosófica mas também teológica,estamos a aceitar entrar numa relaçãoque implica não só o estudo profundoda astrologia mas também umadimensão de fé. O consulente precisa deter fé na palavra do astrólogo e oastrólogo precisa de ter fé, dentro doslimites do razoável, na sua capacidadede traduzir o divino para o mundano.

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  • Qualquer pessoa com interesse por astrologia tem de admitir que não existem nenhumascertezas quanto ao seu funcionamento ou as suas técnicas. O que tentei fazer neste artigo foiapresentar a teoria da adivinhação de Plutarco que até hoje foi a que mais ressoou comigo,apesar de ser pouco conhecida nos meios astrológicos. Não pretendo com este artigo dar umaresposta final aos dilemas filosóficos que se nos apresentam, nem pretendo que toda a genteopte por seguir Plutarco religiosamente. No entanto, acho que a beleza das teorias platónicas àsvezes fica perdida num mundo em que desejamos demasiado o concreto. Reconheço também que a teoria de Plutarco funciona em particular para pessoas que tenhaminclinações religiosas, que acreditem em espíritos, deuses ou no divino em alguma das suasformas culturais. Não pretendo portanto forçá-la em pessoas que não ressoem com estas crenças.Espero, no entanto, que algumas das pessoas que ressoam possam ter encontrado nas ideiasdeste mestre da filosofia algo de valioso. Espero também que algumas das que não ressoamtenham encontrado ideias interessantes que as estimulem a procurar o seu lugar neste complexoespectro de teorias a que chamamos filosofia.

    Conclusão

    Simão Cortês, 25, nasceu em Lisboae é um jovem astrólogo. Formou-seoriginalmente em ciências dalinguagem mas rapidamente seapaixonou por formas diferentes deconhecimento. Descobriu aastrologia num jantar, da formainformal e prosaica como sedescobrem os grandes amores. Demomento vive na Cantuária, ReinoUnido, a estudar no mestrado Myth,Cosmology and the Sacred queexplora adivinhação, cosmologia,filosofia da religião e temas afins.Tem particular interesse emastrologia, platonismo, teurgianeoplatónica e religiões afro-brasileiras.

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  • FASE HELIACAL

    Nos tempos em que vivemos, a Astrologiaque conhecemos perdeu a sua influênciaespiritual com o mundo natural que nosengloba, e em causa, uma certa distorção davisão empírica, hermética, mágica e filosóficamilenar que nos transcende. O estudante ouiniciado que procura um maioraprofundamento desta arte  terá que viajaraté aos grandes nomes clássicos e àsabedoria antiga, que nos supera pela suadimensão e riqueza de informação. Umaviagem nas suas raízes que se estendempelo tempo. Somos nós os tradicionalistas, enão os que apeledámos de astrólogos esábios da tradição. Somos nós queprecisámos dessa sabedoria, porque aAstrologia de hoje orienta-se para o egohumano ou invês de projectá-lo no Universo,esse que perdeu a ligação ao mundo natural.Mas não todos... Há quem eleve o espírito até aos mistériosdas estrelas errantes e aoscaminhos imensos do alto dos céus, quem 

    não  esqueceu, e procuram revelar o quefoi esquecido lá trás, aos que se aventuramno presente. Graças a Mercurius, que nosarrepia a mente com as suas dádivas!

    É impossível explorar o mundo naturalatravés da Astrologia sem referênciasespirituais. E, neste conxtexto, aquele queenvereda pelas esferas astrológicas, precisade realinhar-se na procura por sabedoria elevar a prática astrológica no caminhocerto. Deve procurar elevar-se acima dasexperiências terrenas e compreender ogrande espelho celestial, que o reflecte nassuas virtudes. Descobrirá uma nova dimensão, uma novaóptica sobre a influência espiritual ehermética da Astrologia, mas não deveficar só pelas calçadas do Passado, étambém preciso incorporá-la na realidadeactual e construir uma visão genuína eautêntica sobre essa, adoptar uma novafilosofia de vida, se assim o desejar.

    P O R J O R G E M O R E I R A

    ANJOS E DEMÓNIOS, IMAGENS DE PODER

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  • Os antigos neoplatonistas árabescompreendiam as causas dos fenómenosterrestes/celestiais através de uma divisãoterciária: dos Elementos (onde operavamatravés da Alquimia), do Mundo Celestial(onde operavam através da Astrologia) e doMundo Supra Celestial (onde operavamatravés da Magia Natural). A mestria atingida dentro desta trindadeoculta, providenciava um certo poderfilosófico e virtuoso sobre as dinâmicaspessoais e dos elementos, e acima de tudo, asabedoria e as fórmulas para atingir estadosdesejados – a compreensão da naturezahumana na sua relação com o mundonatural.

    A Magia é a operação do Espírito que actuasob o Espírito, a Astrologia é a operação doEspírito que actua sob o Corpo, e a Alquimiaé a operação do Corpo que actua sob oCorpo.

    Para entendermos como podemos operaratravés destes Mundos, é preciso em primeirolugar, promover uma relação íntima eexplorativa com cada um deles: no sentidode aprender, de experimentar/explorar, deintuir/absorver e de partilhar. As três ciências ocultas associadas apoiam-senas ciências consideradas racionais, ou antesconhecidas como Artes Liberais. E todas asoperacões manifestam-se pelas vontades epelo poder das imagens e do pensamento,pois o Universo é mental e governa anatureza à sua volta.

    Esta Trindade Oculta potencia a vontadeprimária de manifestação de acordo com osanseios do Ser. Caso este o faça através dopoder mental, da força do pensamento ouprojecção da imaginação, considera-se queestá a praticar aquilo que hoje chamamos dehipnose, mas antes apelado de feitiçaria.Outra forma possível, é através da harmonia eda destemperança das esferas celestiais e doselementos, com ajuda de imagens, números,figuras e símbolos – fabricação e uso detalismâs, que ajudam a controlar/conduzirdeterminadas influências. 

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    Study of the moon and stars. Ottoman miniature from 17th century. Istanbul.

  • E uma última, através de operações com ouso de essências do reino mineral, vegetale animal em rituais, curas ou na obtençãode algum princípio activo (ex:farmacologia).

    Portanto aquele que opera dentro destetrês mundos, possuiu o poder demanipulação dos diferentes elementos edas influências que o rodeiam para finspróprios, actuando sob a lei de Causa eEfeito. A sua efectividade estará sempredependente da sua força e vontade,compreendendo que as influências enaturezas celestiais trabalhammutuamente com as virtudes inferioresterrenas, para o bem e para o mal.

    Por vários milénios de história da Astrologiae Magia, há algo que toca o passado e osdias actuais, algo que advém desde oAntigo Egipto, do tempo em que a AntigaGrécia era o farol do mundo, dos Árabesiluminados, dos grandes ocultistas doRenascentismo até aos Magoscontemporâneos. Trata-se das 36 divisõesdo tempo solar, ou 36 Faces/Decanatos. 

    Poderíamos até considerar queressoam com as imagens do Tarot,pois interligam-se pelas simbologias edivisões. Algo que exploro no meulivro «Astrologia na Tarosofia», lançadopela Editorial Portugal Místico.

    É, pelo Sol, que recebemos a luzdo dia, e pela sua ocultação nohorizonte, a noite. A humanidadesempre viveu e testemunhou estadinâmica celestial e os efeitosprovocados ao longo do seumovimento. Um ano de 365.25 diasdividido em 36 secções de 10 dias – aRoda do Zodíaco que marca asalterações sazonais, as fases deescassez e abundância e e as fases demelancolia e ânimo.

    A primeira percepção de todas é a dotempo, marcado pela alteração entrea luz e a escuridão, que imortalizatodas as manifestações. Os ciclos entre a luz e a escuridãomarcam os acontecimentos e oseventos de 1 Ano Solar.

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    Cosm

    os egípcio

    . Deusa

    Nut dobrando

    -se

    para

    form

    ar o

    céu

    . - Te

    mplo

    egípcio

    Denderah

    .

  • Deuses, demónios, djinn´s, anjos, imagensde animais, pessoas e figuras mitológicasserviam como conceptualizações earquétipos com o propósito de identificardeterminados fenómenos celestiais, enão só. Os 36 Decanatos/Faces baseiam-se nestas correspondências e conceitos,  eajudam a intuir os sinais do tempo e asalterações ao longo do ano: são âncorasancestrais, que revelam um efeitomnemónico sobre os mais atentos edespertos, como janelas que se abrem,mostrando as influências do momento.Através da compreensão das Imagens, oastrólogo/neófito sintonizase no sentidode percepcionar as influências que oafectam de uma forma positiva ounegativa.

    No Antigo Egipto, cada Decanatorepresentava um período de tempo, no 

    qual, uma determinada divindade tinhauma influência potente. No caso doperíodo helenístico, atribuiam os Planetas acada Decanato, demonstrando a influênciade determinadas divindades e demóniosque se evidenciavam numa determinadaaltura. Cada Decanato  representa umlugar de Dignidade ou Força para cadaPlaneta. E no caso dos Decanatos, oconceito de Dignidade ou CondiçãoZodiacal é fundamental e de extremaimportância para as práticas mágicas como uso da Astrologia. Como carregam ossignificados dos diferentes aspectos da vidahumana, as suas posições são essenciais,pois determinam a qualidade ou impactode uma determinada acção. Se queremosefectuar uma operação ou actividaderelacionada com Marte (guerras,confrontação, domínio, conquista)queremos que Marte esteja com umaexcelente dignidade/condição zodiacal. Epara questões mágicas isso é de extremaimportância. Vejamos alguns sistemas deDecanatos e as respectivascorrespondências para a Ingresso do Sol no1º Decanato/Face de Aries, que anuncia aPrimavera.

    De acordo com as imagens de HeinrichCornelius Agrippa, nos «Três Livros deFilosofia Oculta», ascende a imagem de umhomem de cor escura, vestido de branco,de constituição larga e de olhos vermelho-sangue, com grande força eaparentemente zangado.

    De acordo com o livro «Picatrix» de Ghāyatal-Ḥakīm , ascende a imagem de umhomem de cor escura, constituição larga,com olhos vermelhos, segurando ummachado na sua mão, e demonstra força,autoridade, grande poder e insolência.

    Em «O Princípio da Sabedoria» de AbenEzra, ascende a imagem de um ser comuma cabeça em forma de cão, segurandouma vela na mão esquerda e uma chavena mão direita. Os olhos são pretos, epertence a uma raça de gigantes irascíveis.

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  • Em «Liber Hermetis» ou «Livro deHermes» de Hermes Trismegistus,ascendende a imagem de Aulathamas,tendo semelhança de um homem, comuma postura correcta, de pé sobre assuas garras, e acima da sua cabeçaergue um machado de batalha de 2lâminas.

    Como pode notar, as correspondênciasindicadas por cada sistema reflectem amesma a ideia, mensagem ouimpressão da essência do 1ºDecanato/Face de Aries,independentemente da época e daforma como eram vizualizadas ecompreendidas. É um lugar quepertence a Marte, e portanto, oprincípio masculino da naturezahumana destaca-se. Um homem de cor escura com unsolhos vermelho-fogo, segurando umaarma de batalha laminada e detemperamento colérico, fala sobre a ira,a coragem e o ímpeto de dominar osinimigos nas batalhas – a forçamasculina demonstrada da forma maiscruel e intimidadora. Marte energizatodas as qualidades essenciais desteDecanato, e um talismã feito com opropósito de vencer, de conquistar e deeliminar qualquer obstáculo deve serfeito sobre este posicionamento. A ideia de possuir um machado ou umaarma pesada de corte, é de facto umsímbolo importante e ao mesmo tempomágico. A lâmina é a arma primordialde corte, que cria dois de um, a Divisão.Até a própria vida, necessita de 'divisão'para expandir ou crescer, desde asdivisões celulares de um  embrião, àsescolhas de um indíviduo na suaevolução social, separando-se paracrescer noutro local, noutracomunidade, noutro emprego ounoutro país. O ímpeto que divide oucorta, para progredir ou expandir. 

    A melhor forma de trabalhar, operar oumeditar com os Decanatos/Faces é a 

    através da observação directa econtemplativa, até que atinja a compreensãode tais influências em si mesmo. Todos elesestabelecem uma certa harmonia eseguimento, desde Aries a Piscis. As Imagensfalam por si, e contam as histórias queantecedem a cada um dos Decanatos, e doque vem a seguir. Com a partilha deste artigo, tento promoverum olhar mais atento sobre asparticularidades dos Decanatos/Faces, pois éalgo que nos acompanha desde o AntigoEgipto até aos dias de hoje, passando porvárias culturas. O estudo das Imagens quelhes correspondem oferece uma perspectivaenriquecedora e interessante sobre ainfluência de cada Planeta num determinadoSigno. A 1º parte de um Signo demonstra uma fasemais instável, de experimentação, em que oselementos batalham entre si, até que atinjamum equilíbrio ou temperança. Na 2º parte dosigno, é revelado uma tentativa depolarização dos elementos e assuntos paraum só foco, ou união, no sentido de provocarestabilização e criação de umaidentidade/ideia. Na última parte do signo, aideia  formada procura a mudança eliberdade de movimento e expressão, paracriar expansão e progresso.

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    Astronom

    ia 1645 Th

    e Seve

    n Liberal A

    rts by Francis Cleyn

     

  • Todos os Decanatos/Faces personificam a relaçãomágica , metafísica e íntima do ser humano com omundo natural , abençoado ou perseguido pelasinfluências que o rodeiam , sejam essas mundanas ,astrológicas , espirituais ou de outrainteligência/dimensão . Astrologicamente falando ,as naturezas dos 7 planetas reflectem-se nas coisasexistentes da Terra , e esses operam de acordo comas suas diversas propriedades e constituintes . Assimcomo o temperamento de cada indivíduo , com osseus modos e maneiras de se expressar noambiente em que está inserido , capaz de alterar asinfluências que o rodeiam com uma certaqualidade e impacto .

    E as Imagens ajudam a ancorar os desejos emanifestações , da mesma forma que percebemosque a imagem da suástica está associada a Hitler ,como uma espécie de automatismo , provocandoum efeito menos positivo . Ou da Imagem doMacDonald´s ou Coca-Cola que estimula o prazerde comer e beber , de forma subliminar .

    Uma vez que os símbolos/imagens sejamincorporadas e codificadas , a mente estáprogramada e a nossa energia responde . O mesmoacontece com a compreensão das 36 Imagens dosDecanatos/Faces , que carregam poderosas fórmulasmágicas e sabedoria espiritual .

    Jorge Moreira é consultor , formador e escritor de Astrologia emPorto , Portugal . O seu estilo distingue-se pela sua habilidade poética e criativa emabordar os conteúdos e temas astrológicos para o público em geral .Inspirado nas mentes herméticas , brilhantes e imortais daAstrologia , destina-se a dignificar esta arte com o objectivo depolarizar os fundamentos astrológicos em algo mais funcional eadequado à época em que vivemos. Tem interesse e investiga ahistória , filosofia , e o conhecimento antigo da Astrologia , Alquimia e Magia. Regularmente , escreve para o portal mais famoso do Esoterismo eMisticismo em língua Portuguesa , o «Portugal Místico». Autor de publicações e artigos em jornais , websites e revistas , sobreAstrologia , Tarot , Kabbalah e Esoterismo. Os seus serviços actuamem diversas áreas mundanas , desde a delineação de assuntos decarácter pessoal e empresarial a questões mais espirituais. .

    ASTROLÁBIO REVISTA DE ASTROLOGIA   |   42

    Símbolos mágicos Do Opus Medico-Chymicum de JohannDaniel Mylius, 1618

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  • O céu foi desde a antiguidade mais remota

    um guia para a geopolítica, os sacerdotes

    assírio-babilônicos olhavam-no para dele

    derivar presságios sobre o rei, a guerra, as

    colheitas. Igualmente, a psicologia teve

    origem na observação do céu - Ptolomeu

    fala dos planetas governantes da alma, Lua

    e Mercúrio e descreve uma teoria sobre a

    psique que deriva da aplicação da filosofia

    aristotélica aos elementos da investigação

    astrológica.

    As doenças da alma e seu reflexo social u m e s t u d o a s t r o l ó g i c o à

    l u z d e P t o l o m e u e P l a t ã o

    A S T R O L Á B I O R E V I S T A D E A S T R O L O G I A | 4 5

    P O R G E R S O N P E L A K S K Y

    M . C .

  • ‘ ’SOBRE AS QUALIDADES

    DA MENTE ,

    a s q u e s ã o r a c i o n a i s e i n t e l e c t u a i s s ã o p o n d e r a d a s

    a p a r t i r d a s i t u a ç ã o d e M e r c ú r i o ; t o d a s a s d em a i s ,

    n o q u e c o n c e r n e à s f a c u l d a d e s me r am e n t e

    s e n s i t i v a s , e q u e i n d e p e n d em d a r a z ã o , s ã o

    c o n s i d e r a d a s a p a r t i r d o l u m i n a r q u e p o s s u i um a

    c o n s t i t u i ç ã o me n o s s u t i l e ma i s c o r p ó r e a , a d i z e r , a

    L u a e a s e s t r e l a s c om a s q u a i s e l a s e e n c o n t r a

    c o n f i g u r a d a , s e j a p o r a p l i c a ç ã o o u s e p a r a ç ã o ” .  

    T e t r a b i b l o s , L i v r o I I I , C A P . X V I I I

    A S T R O L Á B I O R E V I S T A D E A S T R O L O G I A | 4 6

  • Mercúrio é análogo à instância racionalda alma, discutida por Platão em suaRepública, enquanto que a Lua podeser associada às instâncias irracionaisda psique. Assim divide a psiquePlatão:

    ✦ A parte com a qual o homemaprende – amiga do estudo e dasabedoria.

    ✦ A parte pela qual prova emoções,irascível – amiga da vitória e da honra.

    ✦ A parte concupiscível, que inclina àssatisfações dos desejos e ao amor pelolucro.

    Fazendo um percurso teórico inverso,ou seja, carregando de volta esta teoriaastrológica sobre a alma até Aristótelese dele até Platão, seu mestre, podemoschegar às seguintes reflexões:

    A) Platão escreve que a alma é feita detrês instâncias que eventualmenteestão em conflito e levam o indivíduo àdesarmonia.

    B) A República, é descrita umaanalogia entre a alma e o estado: damesma forma como no indivíduo umaparte sua (instintiva, irracional ouligada aos apetites) pode dominar aparte racional da alma, levando a umatirania de uma parte sobre outra e aodescontrole pessoal, pode haver nassociedades a tirania ou oligarquia, comuma minoria dominando os demais einstaurando a doença social.

    C) A partir desta premissa, da mesmaforma como há uma analogia entrealma individual e estado, poderíamosaplicar os princípios mostrados porPtolomeu, a propósito das doenças daalma, para fazer um diagnóstico sócio-astrológico, fazendo um paralelo entrea astrologia natal (centrada noindivíduo) e a social (centrada nocoletivo).

  • SE ESSE

    RACIOCÍNIO ESTÁ

    CORRETO

    ao nos debruçarmos sobre mapas de umperíodo social ou estado que enfrentaturbulência, corrupção e abusos de uma minoriasobre um grupo maior, encontraremos os fatoresdescritos por Ptolomeu para as doençasindividuais da alma presentes nos mapas decunho social.

    A descrição de Ptolomeu para as doenças daalma coloca em relevo as aflições da Lua eMercúrio pelos planetas maléficos (Marte eSaturno); outros fatores mencionados são aausência de aspecto entre Lua e Mercúrio ouentre estes e o Ascendente (aqui, imagino queele tenha em mente o aspecto por signo) e apresença de Marte angular nas cartas dosnascidos durante o dia ou de Saturno na mesmacondição para os nascidos à noite.

    usando o referencial ptolomaico, a mera presençade maléficos em longitude zodiacal que antecedea Lua e Mercúrio como fator associado às doençasda alma, mas por hora deixarei de fora este fatorporque é difícil para um astrólogo atual discernirtal influência meramente por essa colocação; alémdisso, os aspectos adversos surgem de modo mais‘’eloquente’’ na minha pesquisa.

    As conjunções entre Júpiter e Saturno eram objetode preocupação entre os astrólogos antigos, postoque anunciavam mudanças no status quo políticoeconômico e religioso das nações. Por exemplo, Omapa abaixo, que corresponde ao ingresso solarno signo de Áries, calculado para Roma,  mostrapara a Itália a conjunção entre Júpiter e Saturnoem um signo angular do mapa (o que amplificaseu poder), e inspirou a diversos astrólogos daépoca uma visão apocalíptica, tanto que oimaginaram como o prenúncio do nascimento deum anticristo (Astrology and the seventennthcentury mind-Ann Geneva/ Manchester Universitypress -1995, p.134).

    É POSSÍVEL ATÉ CONSIDERAR ,

    A S T R O L Á B I O R E V I S T A D E A S T R O L O G I A | 4 8

  • calculada para 21 de Março de1504 às 3h25’, a Lua situada emsigno de Saturno e emoposição à conjunção destecom Marte, ambos em signode contrariedade e queda,respectivamente, apontamuma situação de corrupção damente coletiva, levada a cabopelos detentores do poder emRoma: o regente do MC éMarte, que está associado aSaturno e em aspecto adversocom Mercúrio e opostos à Lua. 

    conforme discutido, há uma analogia entre aalma e o estado, de maneira que asconfigurações apontadas relacionadas a doençae corrupção das instâncias da alma refletem noplano coletivo o abuso do poder, a corrupção, odespotismo, o domínio injusto de uma minoriasobre o povo. O poder em Roma era ao mesmotempo religioso e político, sendo o papa a umsó tempo pontífice e rei de Roma.

    Tudo isso prepara o terreno para a ascensão deum novo líder religioso, ascensão representadapela conjunção entre Júpiter e Saturno, como jáfoi mencionado. A conjunção está naproximidade entre a união entre Marte eSaturno, que ocorreu no mesmo ano,apontando guerra e derramamento de sangueassociados ao surgimento do novo "profeta" emquestão, Lutero.

    D E A C O R D O C O M A T E O R I A D E P L A T Ã O ,

    Mercúrio, que representa o aspecto racional dapsique, rege a casa da religião, a casa 9, e ficaimpedido de exercer seu poder, de manter atemperança, o equilíbrio, corrompido que estápelos dois maléficos em estado cósmicodesfavorável: Marte rege a casa do poder, o MC eem desequilíbrio mostra uma exacerbação dabusca de glórias e honras pelo mapa, mediantea vitória nas guerras (princípio irascível segundoPlatão).

    Saturno rege a casa 2 do dinheiro e também aLua e Vênus (situado na casa 2), mostrando odesequilíbrio da parte ligada aos apetites napsique, predispondo à cobiça e amor aodinheiro, segundo Platão. Portanto, odesequilíbrio instalado no plano coletivomediante a ação das autoridades eclesiásticaspredispõe a um clima de doença social e refletea opressão de uma minoria sobre a coletividade.

    N O C A S O D E S T A C A R T A D E I N G R E S S O ,

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  • Platão menciona sistemas políticoscomo a oligarquia e outros que eleidentifica como portadores de umadoença ou desarmonia socialcaracterizada por uma condição ondeuma minoria oprime outras camadas dapopulação; tal condição é análoga àdesarmonia presente na almaacometida por doença, onde uma parteda alma sobrepuja e domina as demais.Existiria então, de acordo com Platão,um paralelo entre doença da alma edoença social.

    Partindo desta concepção platônica darelação entre alma e estado, retornonovamente ao postulado Ptolomaicosobre as doenças da alma que aponta acorrupção de Lua e Mercúrio pelosmaléficos como um fator importantepara julgar as doenças da alma sob oprisma astrológico.

    A partir daí, eu proponho o mesmoparalelo de Platão entre alma esociedade, mas agora traduzido pelaastrologia Ptolomaica: Por exemplo, o terrorismo é umfenômeno histórico e  social ondedeterminados grupos pretendem imporpela força ao restante da sociedade suascrenças e concepções do mundo. Se ateoria platônica está correta e é possívelde fato fazer um paralelo entre alma eestado, se eu procurar em mapas deastrologia política de agrupamentosterroristas, eu provavelmente vouencontrar lá também presentes estesmesmos fatores descritos por Ptolomeupara as doenças da alma no indivíduo,certo? Estou usando uma espécie deraciocínio hipotético dedutivo àastrologia, como se ela fosse umaciência humana (1).

    N A R E P Ú B L I C A ,

    (1) Não afirmo que a astrologia seja uma ciênciahumana, mas algumas aplicações da astrologiapodem ter elementos em comum com as ciênciashumanas, sobretudo com a filosofia. 

  • Este é um mapa especulativo para a raiz de um importante agrupamento terrorista moderno, o Estado Islâmico.

    Ele apresenta os fatores relacionados a Lua e Mercúrio mencionados para as doença da alma: Lua em Aquário e Mercúrio em Capricórnio aflito por Marte.

    V E J A M O S A L G U N S M A P A S Q U E C O R R O B O R A R I A M E S T A H I P Ó T E S E .

    Se preferir conferir o mapa na íntegra, basta clicar sobre ele e acessar o link.

    A S T R O L Á B I O R E V I S T A D E A S T R O L O G I A | 5 1

    3 January 2014 Ar-Raqqah, Syria, 35n56, 39e01 Sem horário

    https://www.astro.com/astro-databank/Islamic_State_of_Irak_and_the_Levant_(ISIL)

  • O Primeiro mapa é de Andreas Baader; o segundo, de UlriqueMeinhof, fundadores do célebre grupo terrorista alemãoBaader-Meinhof – Vejam as assinaturas já comentadas dedesequilíbrio da alma que resulta na adesão a ideologiasviolentas e extremistas: Lua e/ou Mercúrio em signos demaléficos ou aspectados por estes.

    A propósito do contexto: O fato de que eu seja capaz de investigar um dado mapa semsaber sobre o contexto de vida do nativo e ainda assim acertarsobre sua vida é algo enganoso. Para exemplificar esteenunciado, peço que observem o mapa a seguir:

    O terceiro é o mapa de um monge que foi capturado eexecutado por terroristas islâmicos. Vejam que de acordocom minha hipótese teórica há nesta carta fatores dedesequilíbrio na alma que eventualmente poderiam conduziro nativo a abraçar ideologias políticas extremistas e agir demodo violento: Lua em signo de maléfico (Áries), aflita pormaléfico; Mercúrio igualmente em signo de maléfico ecombusto. A Lua rege uma das casas associada a religião,crenças e ideologias, a casa nove. Ocorre que este nativo foivítima de uma ação terrorista, não o perpetrador dela!

    O ponto que trago para discussão é de que não bastaria olharestas configurações em mapas e sair apontando indícios dedesequilíbrio psíquico ou extremismo político – umadiversidade maior de fatores seja intrínseca ou extrínseca aomapa concorreriam para isso. O que nos interessa é partir de casos concretos deextremismo político e entender astrologicamente como umasubjetividade perturbada encontra eco num ambiente socialigualmente doentio, fazendo com que certos indivíduospersonifiquem uma era. O espelhamento no mapa coletivode padrões semelhantes do mapa individual poderia ajudar aexplicar este paralelo individuo/coletivo.

    Conforme a explicação de Ptolomeu, podemos compreendermelhor o que leva indivíduos cuja alma apresentadesequilíbrio a adotarem ideologias que estimulam condutasviolentas e destrutivas:

    E X E M P L O D E T E R R O R I S T A S M O D E R N O S :

    M A P A D E A N D R E A S B A A D E R

    M A P A D E U L R I Q U E M E I N H O F

    M A P A D E B R O T H E R L U C A S T R O L Á B I O R E V I S T A D E A S T R O L O G I A | 5 2

  • “Sem dúvida , a maior parte das doenças mais moderadas , de

    certo modo já foram descritas pelo que foi dito sobre a

    natureza da alma e seu aumento pode ser discernido a partir do

    excesso de influências ; se chama com propriedade de doenças

    tais extremos da natureza os quais caem aquém ou excedem o

    que é mediano ( . . .) . Toda irregularidade do hábito moral , seja

    por deficiência ou superabundância pode ser apropriadamente

    denominada uma desordem moral . . .” .

    P T O L O M E U

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    http://www.sacred-texts.com/astro/ptb/ptb63.htm

  • Esta associação entre o incremento dacondição doentia no ser, os extremos danatureza e condutas nocivas, que Ptolomeuassocia aos fatores já comentados, éespecialmente iluminadora quando fazemosparalelos astrológicos entre as doenças daalma e condutas violentas pautadas noextremismo político.

    Eu apliquei novamente o método hipotéticodedutivo ao fenômeno do nazismo, visto quefoi fenômeno de extremismo políticocaracterizado por extremo irracionalismo eque além de gerar um regime ditatorial,causou grande impacto na história do séculoXX.

    Poderia colocar a proposição de hipótese esubsequente dedução através do seguinteenunciado:

    se a concepção platônica da almapermite relacionar os desequilíbrios destaa manifestações políticas e sociais decunho desequilibrado e destrutivo e se osfatores astrológicos apontados porPtolomeu que derivam da teoriaplatônica estão corretos, a isto se segueque ao me debruçar sobre mapas decunh