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Melipona (abelha sem ferrão) Informações Gerais sobre a Espécie Existem no mundo cerca de 20 mil espécies de abelhas. A maioria delas não formam colônias e são conhecidas como abelhas solitárias. As que formam colônias são chamadas de "abelhas sociais". Destas, de 300 a 400 não possuem ferrão, e estão reunidas num grupo chamado Meliponíneos. As abelhas sem ferrão são também conhecidas como "abelhas indígenas" ou "abelhas nativas". As abelhas nativas constroem ninhos em locais protegidos, como ocos de árvores, ninhos (abandonados ou não) de aves, tijolos ocos... São responsáveis por 40 a 90% da polinização das árvores nativas. As abelhas constroem discos de cria que lembram cachos e armazenam mel e pólen em potes. Elas podem ser divididas em dois grupos: as meliponas: são abelhas grandes, que chegam a medir 1,5 cm. Usam barro e própolis para construir a entrada dos seus ninhos. As mais conhecidas são a Jupará (Melipona compressipes manaosensis), a Uruçu (Melipona scutellaris), a

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Melipona (abelha sem ferrão)

Informações Gerais sobre a EspécieExistem no mundo cerca de 20 mil espécies de abelhas. A maioria delas não formam colônias e são conhecidas como abelhas solitárias. As que formam colônias são chamadas de "abelhas sociais". Destas, de 300 a 400 não possuem ferrão, e estão reunidas num grupo chamado Meliponíneos. As abelhas sem ferrão são também conhecidas como "abelhas indígenas" ou "abelhas nativas". As abelhas nativas constroem ninhos em locais protegidos, como ocos de árvores, ninhos (abandonados ou não) de aves, tijolos ocos... São responsáveis por 40 a 90% da polinização das árvores nativas. As abelhas constroem discos de cria que lembram cachos e armazenam mel e pólen em potes.

Elas podem ser divididas em dois grupos:

as meliponas: são abelhas grandes, que chegam a medir 1,5 cm. Usam barro e própolis para construir a entrada dos seus ninhos. As mais conhecidas são a Jupará (Melipona compressipes manaosensis), a Uruçu (Melipona scutellaris), a Uruçu-boca-de-renda (Melipona seminigra merrilae), a Uruçu-boi (Melipona nebulosa), a Uruçú Mirim (Melipona cesiboi), a Jandaíra (Melipona fulva), a Nariz-de-anta (Melipona lateralis), a Beiço (Melipona eburnea), e a Mandaçaia (Melipona quadrifasciata);

as trigonas: são abelhas pequenas, conhecidas como abelhas enrola-cabelo, canudo ou irapuá. A mais conhecida é a Canudo(Scaptotrigona sp). Como não têm ferrão, estas abelhas se defendem enrolando-se nos cabelos e pêlos, entram em ouvidos, nariz e olhos. A entrada de seus minhos tem formato de tubo e é construída com cera.

A meliponicultura é a criação de abelhas indígenas sem ferrão, permitindo a produção e comercialização de mel, pólen, própolis e

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cera. Estas abelhas tem grande importância para a polinização da flora e conseqüentemente a produção de frutos e sementes de qualidade, propiciando a conservação das espécies florísticas da região onde está sendo desenvolvida a criação, bem como, proporcionando ao homem o suprimento de alimento em quantidade e qualidade.

O mel produzido pelas abelhas sem ferrão é muito utilizado na medicina nativa para o tratamento de diversas doenças, é um excelente complemento alimentar, além de ser uma oportunidade de geração de renda.

Marco legal

O principal regulamento para a criação de melíponas é a Resolução CONAMA Nº346, de 06 de julho de 2004, que disciplina a utilização das abelhas silvestres nativas, bem como a implantação de meliponários.

O IBAMA, todavia, não regulamentou a Resolução e ainda se utiliza da sua Portaria N° 118-N de 15 de outubro de 1997, para licenciar os criadouros comerciais de animais silvestres. Existe uma proposta de portaria específica para a exploração de abelhas indígenas sem ferrão; porém, ainda não foi aprovada.

A legalização das atividades (meliponários) pela antiga AFLORAM junto aos órgãos licenciadores, se deram a nível estadual, por meio do Núcleo de Fauna - NUFAS/RAN, da Superintendência do IBAMA em Manaus.

As normas aplicáveis aos entrepostos de beneficiamento do mel são editadas pelo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que regulamentou a qualidade do mel em geral com a Instrução Normativa MAPA n° 11 de 20/10/00, pois não possui regulamentos específicos para o tratamento, inspeção e qualidade do mel de abelhas indígenas.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também regulamenta os Programas de Controle de

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Resíduos e Contaminantes em Mel de Abelha com a Instrução Normativa MAPA n°09 de 30 de março de 2007.

A Superintendência Federal da Agricultura no Amazonas (SFA/AM), ligados ao Serviço de Inspeção de Produtos Agropecuários (SIPAG) é o núcleo que fornece os atestados e as licenças para os entrepostos de beneficiamento de mel.

Desde abril de 2008, a Lei Estadual Ordinária nº 3245/2008 estabelece normas para a elaboração, sob a forma artesanal, de produtos comestíveis de origem animal e sua comercialização no Estado do Amazonas. A elaboração de mel ou de produtos oriundos de abelhas meliponíferas, sob a forma artesanal, será permitida exclusivamente aos produtores rurais que utilizarem matéria-prima de produção própria e/ou adquirida de terceiros, desde que a soma das duas não ultrapasse 4.000 (quatro mil) quilogramas por ano. Os produtos poderão ser comercializados em todo o Estado do Amazonas, cumpridos os requisitos desta lei.

É importante ressaltar que esforços vem sendo feitos juntamente com parceiros de organizações não governamentais como o Amigos da Terra Amazônia Brasileira, na direção de formular padrões de qualidade para o mel de melíponas.

Manejo

O aproveitamento do mel pelas populações é uma prática tradicional que é feita extraindo-se dos ocos dos paus ou criando abelhas sem ferrão em cabaças, cortiços ou até mesmo nos locais onde elas fazem seus ninhos. Muitas vezes causando prejizos e gerando impactos, pois na hora de retirar o mel, as colméias são parcialmente destruídas e as abelhas têm muito trabalho para refazer suas moradias e produzir novamente. Isso prejudica a produção e pode até matar a colônia.

Por isso é aconselhável criar abelhas de uma forma mais sustentável, em caixas racionais, facilitando assim o manejo das colméias.

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A metodologia utilizada para implantação da meliponicultura, consiste num processo de capacitação em serviço das pessoas interessadas, nas áreas identificadas com potencial de produção. Esta capacitação para a criação de abelhas indígenas foi estabelecida, segundo calendário, que compreende seis passos. São eles:

1° Passo: corresponde a primeira visita para conversa com o grupo de produtores para identificação da potencialidade da área. Geralmente o encontro é de 4 dias, onde são tratados temas teóricos como: produtos das abelhas, construções, colméias, meliponários, montagem de meliponários, transferência de colônias, divisão de colônias e produção de mel; e ensaios e práticas de: inserção de melgueiras, divisão de colônias, extração do mel, produção de alimento artificial, prática de alimentação, elaboração de calendário de alimentação e recomendações gerais.

2° Passo: a segunda visita tem duração de seis dias, nos quais há exposições teóricas sobre meliponicultura, montagem de meliponário, transferência de colônias, preparação de xarope (alimentação complementar), práticas de alimentação, ensaios de divisão de colônias, ensaios de produção de mel, estabelecimento de calendário de alimentação.

3° Passo: corresponde a terceira visita, realizada dois meses após a 2ª visita, com duração de três dias para avaliação de colônias, avaliação das atividades desenvolvidas pelos meliponicultores, correção de possíveis falhas, reforço dos conceitos discutidos na 1ª visita. 4° Passo: corresponde a quarta visita, realizada cinco meses

após a 2ª visita, com duração de quatro dias para :

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avaliação de colônias, avaliação das atividades desenvolvidas pelos meliponicultores, divisão de colônias, prática de alimentação, estabelecimento de calendário de alimentação.

5° Passo: corresponde a quinta visita, realizada oito meses após a 2ª visita, com duração de dois dias para : avaliação de colônias, avaliação das atividades desenvolvidas pelos meliponicultores, correção de possíveis falhas, reforço dos conceitos discutidos na 1ª visita.

6° Passo: corresponde a sexta visita, realizada onze meses após a 2ª visita, com duração de três dias para : divisão de colônias, avaliação das atividades desenvolvidas pelos meliponicultores, estabelecimento de calendário de alimentação.

É importante contar com o acompanhamento técnico para definição do local onde será instalado o meliponário na comunidade para que o posicionamento e distanciamento das colônias seja o mais adequado para a espécie a ser criada, assim como na transferência dos ninhos de abelhas para colméias racionais.

Produção

As colméias destinadas a produzir não devem ser alimentadas artificialmente por, pelo menos, 60 dias antes da colheita.

Melgueiras lotadas de potes fechados indicam que chegou a hora da colheita. Apenas o mel de potes fechados pode ser colhido.

Para fazer a coleta, é preciso abrir a tampa da caixa, retirar a melgueira e levá-la para um local limpo. Com a faca se faz um pequeno buraco no pote e com uma seringa ou uma bomba a vácuo retira-se o mel, que é colocado em uma vasilha limpa e esterilizada.Após ser lavada em água corrente, a melgueira com os potes vazios volta para a caixa. A higiene é fundamental para evitar que o mel se estrague. Algumas espécies armazenam água em

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potes. Essa água não deve ser misturada ao mel para não azedá-lo.

É aconselhado não criar abelhas tais como:

Irapoa (Trigona spinipes): essa espécie é prejudicial a algumas culturas, pois corta os botões florais de várias plantas principalmente os citrus, utilizando-se desse material para a construção do ninho;

as abelhas limão (Lestrimellita) também conhecida como Iratim, que não possuem estruturas para a coleta de alimentos, sobrevivendo do saque às outras colônias;

a Caga fogo (Oxytrigona tataira) que se defende liberando uma substância que em contato com a pele provoca sérias queimaduras (ácido fórmico).

Para uma boa produção é necessário selecionar as melhores colônias. É aconselhado não ter mais de 50 caixas num mesmo local.

Geralmente, no primeiro ano, os criadores se dedicam a multiplicar suas colméias. Quando atingem um número suficiente de caixas, reservam uma parte para produzir, e outra parte para continuar o processo de multiplicação.

Comercialização

O mel de melíponas é mais fluida, devido ao maior teor de água, diferentemente do mel tradicionalmente encontrado no mercado. A pouca oferta do mel nativo, coloca o produto no mercado com valores que podem ultrapassar os R$ 30,00 reais por quilo.

Pode-se coletar até três quilos de mel por colméia, dependendo da florada. Quando pequena, a criação serve para alimentar a família e o que sobra pode ser vendido na própria locadidade.

Algumas experiências mostram que vale investir na organização dos produtores e em criatórios maiores, tanto para atender ao mercado quanto para oferecer preços melhores. Algumas associações de produtores criam marcas e embalagens especiais e

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buscam vender para outros mercados, em que o mel da Amazônia é mais valorizado.

As associações participantes do Programa do Estadual dispõem da marca "Mel da Floresta" para comercialização de seus produtos. E, vêm realizando trabalhos no sentido de implementar padrões de produção de mel orgânico. A construção do entreposto de beneficiamento de mel em Boa Vista do Ramos permirá aos produtores colocarem no mercado 4 toneladas ano de mel nativo.

Experiências

ACAIÁ - Associação dos Criadores de Abelhas Indígenas da AmazôniaMunicípio : Boa Vista do RamosContato: LucenildoTel. : (92) 9117-6168/ 9143-6236Email : [email protected]

Comunidades Menino Deus e Nossa Senhora do Perpetuo SocorroMunicípio : ParintinsContato: Adilson da Costa Silva (da GRANAV, quem apoiou o processo junto as comunidades)Tel. : (92) 3533-1458 e (92) 9125-3546Email : [email protected]; [email protected]

Nota: O Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea - ProVárzea/IBAMA, Sub-projeto denominado "Abelhas e Polinização de Plantas da Várzea", desenvolvido pelo Grupo de Pesquisas em Abelhas (GPA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) ensina tecnologias de criação de abelhas para aproximadamente 30 comunidades do interior do Estado do Amazonas.

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Website da Associação Paulista Criadores de Abelhas Melificas Européias -Apacame