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Universidade da Amazônia “Campus” Alcindo Cacela - Av. Alcindo Cacela, 287 - Belém - Pará - 66060-902 - Fone: (91) 4009-3000 “Campus” Quintino - Trav. Quintino Bocaiúva, 1808 - Belém - Pará - 66035-190 - Fone: (91) 4009-3300 “Campus” Senador Lemos - Av. Senador Lemos, 2809 - Belém - Pará - 66120-000 - Fone/Fax: (91) 4009-7100 “Campus” BR - Rodovia BR - 316, km 3 - Ananindeua - Pará - 66645-901 - Fone: (91) 4009-9200 http://www.unama.br EDITORIAL Produzir, construir, gerar conhecimento. Esta é uma das principais missões de uma Universidade, lugar por excelência de um conhecimento cheio de vários saberes: os falados e os silenciados. Mas, acima de tudo, de um conhecimento que deveria superar os muros da academia e conduzir a questionar o mundo e suas práticas discursivas, alcançando proposições que melhorem a gestão da res pubblica e, incluindo os invisíveis da sociedade, de lá voltem para, numa sinergia constante, renovar os saberes com mais sabores. Uma revista acadêmica é sempre expressão desse conhecimento e dessa busca de significá- lo e ressignificá-lo para que gere uma dinâmica de valorização das discussões e debates acadêmicos e de condução de novas produções de saberes. Neste sentido, a Revista Dromo&RI tem por objetivo ser um espaço de divulgação do conhecimento produzido no Curso de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia (UNAMA) sob dois vieses importantes: pensar a realidade internacional a partir da Amazônia e pensar esta realidade a partir da relação visibilidade/invisibilidade dos agentes numa contemporaneidade marcada pela dromocracia cibercultural. Com efeito, os escritos que aqui serão publicados pretendem ser ensaios de leituras dos fatos, agentes e estruturas internacionais a partir desta relação com os estudos voltados para a área de semiótica, comunicação, entre outros, num ambiente cada vez mais glocalizado. Como a área de Relações Internacionais é por excelência multi e transdisciplinar, acadêmicos, docentes e pesquisadores de vários campos de estudos poderão utilizar deste espaço para levantar questões, apresentar discussões, analisar resultados de suas pesquisas e, acima de tudo, estabelecer um canal privilegiado de diálogo fértil com vários saberes. Dessa forma, à Revista Dromo&RI desejo não só vida longa. Desejo vida profunda e fecundidade acadêmica. Que ela seja diferenciada pelo locus amazônico de produção de conhecimento, pelos temas instigantes e pela disseminação desse conhecimento para além dos muros da Universidade, questionando práticas discursivas e levando a ações de emancipação. Boas leituras! Professor Mestre Mário Tito Almeida Diretor do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade da Amazônia Coordenador do Curso de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia Coordenador Geral do Grupo de Pesquisa Dromocracia e Relações Internacionais da Universidade da Amazônia Diretor da Revista Dromo&RI

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Universidade da Amazônia “Campus” Alcindo Cacela - Av. Alcindo Cacela, 287 - Belém - Pará - 66060-902 - Fone: (91) 4009-3000 “Campus” Quintino - Trav. Quintino Bocaiúva, 1808 - Belém - Pará - 66035-190 - Fone: (91) 4009-3300

“Campus” Senador Lemos - Av. Senador Lemos, 2809 - Belém - Pará - 66120-000 - Fone/Fax: (91) 4009-7100 “Campus” BR - Rodovia BR - 316, km 3 - Ananindeua - Pará - 66645-901 - Fone: (91) 4009-9200

http://www.unama.br

EDITORIAL

Produzir, construir, gerar conhecimento. Esta é uma das principais missões de uma

Universidade, lugar por excelência de um conhecimento cheio de vários saberes: os falados e os

silenciados. Mas, acima de tudo, de um conhecimento que deveria superar os muros da academia e

conduzir a questionar o mundo e suas práticas discursivas, alcançando proposições que melhorem a

gestão da res pubblica e, incluindo os invisíveis da sociedade, de lá voltem para, numa sinergia

constante, renovar os saberes com mais sabores.

Uma revista acadêmica é sempre expressão desse conhecimento e dessa busca de significá-

lo e ressignificá-lo para que gere uma dinâmica de valorização das discussões e debates acadêmicos

e de condução de novas produções de saberes. Neste sentido, a Revista Dromo&RI tem por objetivo

ser um espaço de divulgação do conhecimento produzido no Curso de Relações Internacionais da

Universidade da Amazônia (UNAMA) sob dois vieses importantes: pensar a realidade internacional

a partir da Amazônia e pensar esta realidade a partir da relação visibilidade/invisibilidade dos

agentes numa contemporaneidade marcada pela dromocracia cibercultural.

Com efeito, os escritos que aqui serão publicados pretendem ser ensaios de leituras dos

fatos, agentes e estruturas internacionais a partir desta relação com os estudos voltados para a área

de semiótica, comunicação, entre outros, num ambiente cada vez mais glocalizado. Como a área de

Relações Internacionais é por excelência multi e transdisciplinar, acadêmicos, docentes e

pesquisadores de vários campos de estudos poderão utilizar deste espaço para levantar questões,

apresentar discussões, analisar resultados de suas pesquisas e, acima de tudo, estabelecer um canal

privilegiado de diálogo fértil com vários saberes.

Dessa forma, à Revista Dromo&RI desejo não só vida longa. Desejo vida profunda e

fecundidade acadêmica. Que ela seja diferenciada pelo locus amazônico de produção de

conhecimento, pelos temas instigantes e pela disseminação desse conhecimento para além dos

muros da Universidade, questionando práticas discursivas e levando a ações de emancipação.

Boas leituras!

Professor Mestre Mário Tito Almeida

Diretor do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade da Amazônia

Coordenador do Curso de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia

Coordenador Geral do Grupo de Pesquisa Dromocracia e Relações Internacionais da Universidade

da Amazônia

Diretor da Revista Dromo&RI

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IDEIA DE UMA CARTA DAS NAÇÕES

UNIDAS DE UM PONTO DE VISTA

COSMOPOLITA PARA A PAZ PERPÉTUA

ENTRE AS NAÇÕES

CARDOSO DE CASTRO, Brenda T.1

[email protected]

RESUMO

O presente artigo traz uma reflexão da Carta das Nações Unidas a partir de duas obras

kantianas: Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita e Para a paz

perpétua. Pretende-se identificar em alguns capítulos da Carta de São Francisco a influência dos

princípios kantianos, visando assim reafirmar a teoria de Immanuel Kant, por fim, faz-se uma

breve análise dos empecilhos para esta na atual Organização das Nações Unidas e uma crítica à

própria carta a partir da visão de Kant. Conclui-se que os ideais kantianos tiveram profunda

influência nos princípios norteadores da Carta das Nações Unidas, considerando até mesmo os

entraves esta sofre atualmente, urgindo por reformas e novos modos de alcançar o seu objetivo

de manter a paz perpétua entre as nações.

Palavras-chave: Idealismo. Carta das Nações Unidas. Kant. Paz perpétua. Cosmopolitismo.

ABSTRACT

This paper presents a discussion of the Charter of the United Nations from two Kantian works:

Idea for a Universal History with a Cosmopolitan Purpose point of view and Perpetual Peace.

It is intended to identify in some chapters of the San Francisco Charter the influence of Kantian

principles, thus aiming to reaffirm the theory of Immanuel Kant, finally. Then, a brief vision of

the obstacles to this in the current United Nations and a critique of own letter from Kant's

vision are made. It concludes that the Kantian ideal had profound influence on the guiding

principles of the UN Charter, considering even the barriers that currently suffer, urging for

reforms and new ways of reaching their goal to maintain perpetual peace among nations.

Keywords: Idealism. Charter of the United Nations. Kant. Perpetual Peace. Cosmopolitanism.

1 INTRODUÇÃO

Enquanto tinha início e terminava a Guerra da Independência dos Estados

Unidos; no Haiti, ocorria a Revolta Escrava; na França eclodia a Revolução Francesa e

se findava a Idade Moderna, Immanuel Kant passava para suas obras seus ideais e

princípios que mais tarde seriam classificados como utópicos: de um mundo de paz

entre as nações.

1 Mestre em Ciência Política (PPGCP/UFPA) e Bacharel em Relações Internacionais (UNAMA).

Professora Adjunta do Curso de Graduação em Relações Internacionais (UNAMA).

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PARA A PAZ PERPÉTUA ENTRE AS NAÇÕES

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Kant conseguiu vislumbrar um mundo em que todas estas nações se

respeitassem e coexistissem e, é interessante perceber que, o que viria tomar forma

apenas dois séculos depois, foi idealizado por um alemão que vivia em uma

fragmentada Alemanha que não tinha fronteiras ou um só soberano definido.

É interessante observar que até mesmo o conceito de Estado-Nação era

relativamente recente para Kant, já que havia passado apenas um século da Paz de

Vestfália e a separação do Estado e a Igreja e estava-se ainda trilhando para os

movimentos de unificação que eclodiriam incentivadas também pelo sentimento de

nacionalismo e pertencimento.

Talvez não seja então muito difícil entender a motivação de Kant, vivendo em

uma Alemanha com diversos estados independentes e em um período de diversas

revoluções, num período de transformações políticas e a construção do conceito de

Estado-Nação, pareceu a ele lógico estender esta ideia de uma história universal que

caminha à evolução, visando um mundo cosmopolita e, por fim, uma paz perpétua, uma

história que é um curso regular da melhoria da constituição estatal (KANT, 2003).

A Organização das Nações Unidas é reconhecida como o maior exemplo

concreto da Teoria Kantiana e como a sua Carta representa justamente o momento de

sua criação e tudo que seus signatários esperavam dela, faz-se conveniente identificar

nesta os princípios de Kant e a lógica histórica que ele defendia.

Esta análise será feita primeiramente pelo contexto da assinatura da Carta e

fazendo relações com as obras e o que diziam sobre esta fase da história universal. Em

seguida, há de se debruçar sobre os capítulos do documento e analisar se estão presentes

os artigos defendidos na Paz Perpétua.

2 CONFLITO E COOPERAÇÃO NA LÓGICA DA HISTÓRIA UNIVERSAL DE

KANT

Em São Francisco, nos Estados Unidos, ao final do mês de junho de 1945 era

assinada a Carta das Nações Unidas por 51 (cinquenta e um) países. Entre eles: a China,

a França, os Estados Unidos, o Reino Unido e a URSS. Os “vencedores” da Segunda

Guerra Mundial que acabara de ter fim.

A ideia de criar um organismo internacional que visasse a promoção da paz e

segurança internacional, porém, não era novo. Após a Primeira Guerra Mundial e o

Tratado de Versalhes (1919) fora criada a Liga das Nações.

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Contudo, esta foi um dos motivos que levou ao segundo conflito na década de

1930. A sua má implementação e a não concretização de todos os Quatorze Pontos de

Woodrow Wilson2 acabaram levando a Liga das Nações a não ter seu papel efetivado na

manutenção da paz e em 1946 foi dissolvida e deu origem à Organização das Nações

Unidas. Observam-se aqui duas iniciativas de cooperação internacional logo após dois

grandes conflitos mundiais nunca antes ocorridos com tamanha proporção e englobando

tantos países.

Kant, na 7ª proposição da Ideia de uma história universal, discorre que a partir

da sociabilidade insociável ocorrem conflitos entre os homens e no âmbito dos Estados:

Todas as guerras são, pois, outras tantas tentativas (não certamente na

intenção dos homens, mas no propósito da Natureza) de suscitar novas

relações entre os Estados e, mediante a destruição ou, pelo menos, o

fracionamento de todos, formar novos corpos que, por seu turno,

também não se podem manter em si mesmos ou junto dos outros e,

por isso, sofrerão novas revoluções análogas; até que, por fim, em

parte pelo melhor ordenamento possível da constituição civil no plano

interno, em parte por um acordo e legislação comuns no campo

externo, se erija um estado que, semelhante a uma comunidade civil,

se possa manter a si mesmo como um autômato. (KANT, 2003, p. 12)

Logo, para Kant, as guerras em nenhum momento negam ou impedem a sua

teoria de se concretizar, ao contrário, confirmam que os próprios conflitos entre os

Estados os levam a buscar novas formas de cooperação e relacionamento. E as duas

Organizações Internacionais aqui apresentadas também não são as primeiras evidências

deste argumento.

Entre o fim das Guerras Napoleônicas (1815) e o início da Primeira Guerra

Mundial (1914), havia outra forma de equilíbrio de poder, o Concerto da Europa. Os

seus fundadores foram as principais potências europeias do período (a Áustria, a

Prússia, o Império Russo, a Grã-Bretanha e, os membros da Quádrupla Aliança e, mais

tarde, a França), o que lhe dava uma espécie de poder para articular a manutenção da

paz e segurança (SARAIVA, 2007; VISENTINI, PEREIRA, 2010).

Assim, consegue-se identificar presente na história a lógica de Kant: o conflito

leva à busca de uma cooperação que, por ser imperfeita, acabará resultado em novos

conflitos e, assim, sucessivamente. Contudo, para ele há um fim nesta história que seria

2 O então presidente dos Estados Unidos no período do Tratado de Versalhes criara quatorze pontos a

serem observados a fim de evitar um novo conflito, apenas quatro foram levados em consideração, o que

mais tarde foi destacado como uma das causas que levou ao segundo conflito.

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intensificado pelo interesse econômico que pressionaria que estes se organizassem em

um grande corpo político, o qual ele chama de “Estado de cidadania mundial”.

3 A CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS: PREÂMBULO PARA A PAZ

(PERPÉTUA?)

Na seção primeira, o primeiro artigo preliminar para a paz perpétua entre os

Estados dita que não é válido um tratado de paz que tenha sido celebrado com alguma

reserva secreta sobre uma guerra futura, ou seja, deste modo não se trataria de um

tratado de paz, se não apenas o fim de hostilidades, um armistício (KANT, 2006).

No preâmbulo da Carta fica explícito desde o início este objetivo: “preservar as

gerações vindouras do flagelo da guerra”, e, no Artigo 1 ressalta como propósito

“manter a paz e a segurança internacionais” (NAÇÕES UNIDAS, 2001). Outros

princípios são ainda citados como complementares a este objetivo: “desenvolver

relações amistosas entre as nações, (...) conseguir uma cooperação internacional para

resolver os problemas internacionais”. Este ponto é citado por Kant (2006) no Artigo

preliminar 5 quando afirma que nenhum Estado deve interferir, através da força, na

constituição e no governo do outro.

A princípio, não há indício algum de que haja reserva sobre guerra futura, já que

a Carta ressalta em repetidos momentos a repulsa ao confronto e de que todos os modos

devem-se evitar ameaças à paz, uso da força e reprimir atos de agressão. Reprimir?

Mais à frente, no Capítulo VI e VII da Carta, é tratada a questão da ameaça à

paz. O Capítulo VI destaca a solução pacífica de controvérsias por meio de negociação,

inquérito, mediação, conciliação, etc. Não obstante, o próprio fato recente da guerra traz

receios e preocupações que são tratadas no capítulo que vem após: Capítulo VII – Ação

relativa a ameaças da paz, ruptura da paz e atos de agressão.

Neste, são autorizadas (no caso do esgotamento da solução pacífica de

controvérsias) recomendações e medidas provisórias, sendo estas relativas a relações

econômicas, diplomáticas, entre outras, mas não que envolvam o emprego de forças

armadas. Contudo, quaisquer destas somente serão autorizadas pelo Conselho de

Segurança (formada pelos previamente citados “vencedores” da Segunda Guerra

Mundial, voltaremos a esta questão posteriormente). O Artigo 42 deste capítulo é o que

melhor nos serve para a reflexão desta seção:

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No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas

previstas no Artigo 41 seriam ou demonstraram que são inadequadas,

poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a

ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a

segurança internacionais (NAÇÕES UNIDAS, 1945, grifo nosso).

Ainda que em todos os artigos e capítulo anteriores fosse rechaçado o uso da

força ou qualquer ação hostil, o Capítulo VII deixa em aberto e a encargo da decisão do

Conselho de Segurança a ação que julgar necessária. Ainda que não dita

explicitamente, este artigo tem sido usado em diversas situações de intervenção militar.

É comprometedor afirmar que a Carta deixa uma reserva secreta para uma causa

de guerra no futuro, pois até mesmo neste momento a ação é defendida como necessária

para manutenção da paz. Contudo, não se pode ignorar esta lacuna.

Por outro lado, Kant (op. cit.) reflete que um estado cosmopolita de segurança

pública entre os Estados não há de eliminar todo o perigo, mas há de ter como princípio

a igualdade de suas recíprocas ações e reações mútuas, a fim de não se destruírem.

Como o próprio também já refletira sobre a ocorrência de conflitos, pode-se admitir que

a Organização das Nações Unidas tivesse surgido, sim, com o princípio de manter uma

paz perpétua3, ainda que contando com possíveis situações em que seja necessário o

condenado uso da força em última instância a fim de salvaguardar este objetivo.

Ainda que se mostre como uma situação paradoxal e que em casos reais tenha

ocorrido o uso desproporcional desta força, deve-se levar em consideração o Artigo

preliminar 3 em que Kant destaca a importância do fim de exércitos permanentes, pois o

simples fato da preparação para uma eventual guerra já significa uma ameaça em si. No

atual cenário internacional mostra-se inviável a aplicação deste. É como se, neste caso,

prevalecesse o provérbio si vis pacem, para bellum4.

4 UMA ORGANIZAÇÃO REPUBLICANA E FEDERATIVA: PRINCÍPIOS

BÁSICOS PARA KANT

3 Seitenfus (2000) define como uma das características de uma Organização Internacional o seu caráter

permanente, já que, para atingir o seu objetivo – no caso da ONU, manter a paz – ela não pode ter início

com o seu fim já premeditado, destarte, pode-se conceber o uso correto do termo “paz perpétua” de Kant.

4 Resta-nos, assim, ponderar sobre o real significado de paz. Se a ausência da guerra ou a transformação

desta em um resultado construtivo. A paz, per se, quase se equipara ao desafio de definir o amor, e, assim

como este, o conceito em si é definido pelo seu antagonista. Para Kant, a “paz perpétua”, como analogia

ao descanso eterno da vida, tenta mostrar-se não apenas como oposto à guerra, mas como um fim do

curso da humanidade. A paz como um processo, uma busca e um fim.

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Kant (2006, p. 68) defende que uma constituição republicana promoveria uma

paz perpétua entre os países, pois parte de três princípios básicos desta: liberdade de

todos os membros, dependência a uma legislação comum e a lei de igualdade de todos.

Na Carta das Nações Unidas estes elementos são constantes. Desde o preâmbulo

onde se destaca a igualdade das nações grandes e pequenas até no artigo 2º, alínea 1, em

que se defende que a organização é “(...) baseada no princípio da igualdade soberana de

todos os seus membros” (NAÇÕES UNIDAS, 1945).

Nestas duas passagens observa-se a presença do princípio da igualdade de todos

os membros (Estados pequenos ou grandes), assim como a liberdade entre os membros

por meio da igualdade soberana, o que, apesar de utilizar a definição de igualdade, nada

mais significa na prática do que a liberdade, a não subserviência a outro Estado. Kant

condensa todos estes princípios e elementos na passagem:

“liga de povos, onde cada Estado, inclusive o mais pequeno, poderia

aguardar a sua segurança e o seu direito, não do seu próprio poder ou

da própria decisão jurídica, mas apenas dessa grande federação de

nações (Foedus Amphictyonum), de uma potência unificada e da

decisão segundo leis da vontade unida.” (KANT, 2003, p.12)

Surge aí o segundo elemento imprescindível para ele: leis da vontade unida, uma

legislação comum. Em um âmbito macro pode-se interpretar este como sendo nada mais

nada menos que o próprio Direito Internacional, que vem a regular estas relações e que

se espera a sua observância interna dos países que o aceitam (pacta sunt servanda).

Ainda que este Direito sofra limitações e possua desafios, assim como a própria Carta

da ONU, ele representa, sim, as leis da vontade unida, criadas a partir de um

consentimento.

O único órgão que representa na sua totalidade estes três princípios é a

Assembleia Geral das Nações Unidas, onde fazem parte todos os países membros e

onde cada membro tem um voto (órgão plenário).

Os demais órgãos representam elementos de desigualdade, como o Conselho de

Segurança da ONU, onde cinco países possuem poder de veto frente ao voto dos

demais, além de serem permanentes, enquanto os demais são rotativos, sendo um órgão

restrito, regido pelo princípio da eficácia (NAÇÕES UNIDAS, 1945).

Outro fator indispensável para Kant é de que o Direito das Gentes deve ser

fundamentado em uma federação de Estados livres. Ele defende que este Estado

cosmopolita não seria um Estado de povos, pois isto implicaria a submissão a um

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legislador superior, ele defende então que se dê por meio de uma federação de Estados

livres, os quais manteriam sua soberania. Kant afirma que:

“Esta federação não requer nenhum poder do Estado, pois apenas quer

manter e garantir a liberdade de um Estado para si mesmo e,

simultaneamente, a de outros Estados federados, sem que estes devam,

por este motivo submeter-se a leis públicas e à sua coação” (KANT,

2006, p. 76)

Assim, é o que também se vê explícito no que concerne à soberania dos Estados

na Organização das Nações Unidas, o respeito e o princípio da não intervenção em

assuntos internos no artigo 2, alínea 7, o qual defende que “nenhum dispositivo (...)

autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da

jurisdição de qualquer Estado” (NAÇÕES UNIDAS, 1945). Fica explícito que tal como

uma federação de Estados, a Organização das Nações Unidas não está acima das

decisões internas e da soberania de cada Estado membro.

Conclui-se que a Organização das Nações Unidas segue na regra geral os

princípios defendidos por Kant, ainda que alguns casos excepcionais fujam à regra, que,

por acaso, são determinantes para o sucesso da organização.

Estas exceções, como o Conselho de Segurança e o princípio da eficácia, são,

inclusive as principais questões que colocam a ONU atualmente como necessitando de

uma reforma.

O questionamento que Estados fazem aos cinco permanentes (seja em relação ao

poder de veto, ao número restrito de membros ou à rotatividade5) demonstra o conflito

que surge com a tentativa de um novo arranjo, prevista por Kant, necessitando, assim,

por uma nova configuração de disposição entre estes Estados.

5 CONCLUSÃO DE UM PONTO DE VISTA COSMOPOLITA

A lógica da história defendida por Kant em suas obras Ideia de uma história

universal de um ponto de vista cosmopolita e Para a paz perpétua foi extremamente

importante para a difusão e a criação e evolução da cooperação internacional.

5 Mello (2005) aborda as propostas de reforma para o Conselho de Segurança desde a Comissão dos

Notáveis em 2004, as quais se resumem a algumas opções: a) aumentar o número de membros totais de

15 para 24 (total), sendo destes 11 permanentes e 13 rotativos; b) de 15 para 24 membros no total,

continuando os 5 permanentes, mas aumentando de 2 para 4 anos o mandato de 8 membros rotativos. O

poder de veto, como se pôde observar não é discutido no âmbito de estender-se a outros membros, tanto

por ser muito mais difícil que esta proposta seja implementada, quanto pelo fato de já questionar-se até a

legitimidade do veto atual.

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Atualmente personalizadas na Organização das Nações Unidas e formalizadas na sua

carta de criação de 1945, princípios constantemente ressaltados pelo autor foram

fundadores deste propósito: a igualdade, a liberdade, a soberania, o direito internacional.

É fato que a ONU ainda está longe do ideal kantiano. Desde alguns pequenos

pontos de discordância com o autor como o uso da violência, alguns órgãos restritos e

que submetem os demais membros a alguns com maior peso de voto (caso do Conselho

de Segurança) entre outros, a própria organização tem se remodelado.

A própria discussão atual sobre a reforma da Carta é um ponto interessante que

se observa que, o que o cenário internacional de 1945 moldou como necessário para

evitar outra guerra mundial, está obsoleto e que surgiram novas necessidades e desafios

para a organização.

É extremamente falacioso dar a ONU como falida e a cooperação internacional

como impossível por conta das falhas desta e, ainda mais, considerar a lógica kantiana

como um idealismo utópico, reduzindo este a uma concepção simplista de um mundo

perfeito e em paz. O próprio trata diversas vezes do egoísmo humano, das guerras e

conflitos como inerentes à humanidade. O que diferencia Kant de um pensador realista

está, na verdade, numa visão do futuro, na crença no progresso.

Ele prefere optar por acreditar que até mesmo as mazelas pelas quais o mundo

tem vivido em toda sua história tem um propósito final: a sua evolução, seu

desenvolvimento, até chegar ao seu máximo, que culminaria na paz perpétua.

Contudo, até mesmo Kant tem uma visão pessimista (ou realista¿) ao admitir que

talvez este seja um horizonte impossível, mas que ainda que o que defende não exista, é

algo pelo qual vale a pena mirar-se. Ele propõe uma visão otimista e que vê no realismo

uma oportunidade de uso a seu bem próprio.

A Organização das Nações Unidas completou este ano 70 anos de existência, já

é mais, e com muito mais efeitos construtivos que a Liga das Nações, mas ainda assim

observamos ordens mundiais que duraram muito mais, até mesmo séculos, vistas como

inquestionáveis que tiveram seu fim.

É uma experiência nova que tenta se firmar juntamente com o crescimento do

Direito Internacional, uma instituição diferente da concepção clássica, que fica entre a

supranacionalidade e o respeito à soberania.

Kant conseguiu vislumbrar estas transformações talvez por ter vivenciado um

grande momento de transição histórica, para nós pode parecer pretensiosamente utópico

conceber uma maneira de se cooperar a fim de obter uma paz perpétua entre as nações.

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É cedo para dar como fracassada uma organização que não conseguiu impedir,

por exemplo, a invasão do Iraque em 2003, apesar de ter vetado a ação e que assiste a

crises humanitárias como na Síria sem muita capacidade de atuar, pois, como o próprio

Immanuel Kant disse: é apenas a metade do caminho.

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história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

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SARAIVA, José Flávio Sombra. História das relações internacionais

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VISENTINI, Paulo G. Fagundes. PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História Mundial

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CONCEPTIONS OF DROMOCRACY IN A

LOGICALLY CONFORMED SOCIETY

ORLET, Jeremias1

[email protected]

CARDOSO DE CASTRO, Brenda T.2

[email protected]

In the chill climate in which we live, we must go against the

prevailing wind. We must dissent from the indifference. We

must dissent from the apathy. We must dissent from the fear,

the hatred and the mistrust. We must dissent from a nation that

has buried its head in the sand, waiting in vain for the needs of

its poor, its elderly, and its sick to disappear and just blow

away. We must dissent from a government that has left its

young without jobs, education or hope. We must dissent from

the poverty of vision and the absence of moral leadership. We

must dissent because (…) we can do better, because (…) we

have no choice but to do better.

Thurgood Marshall, Acceptance Speech

RESUMO

Este presente artigo visa analisar o conceito de dromocracia, tendo como base investigativa a teoria do

construtivismo e a teoria crítica, que são da ciência das Relações Internacionais. Com isso, esses três

elementos têm sido interligados de tal forma que descrevem a evolução econômica, política e,

especialmente, das relações sociais no decorrer das décadas. Enquanto que Paul Virilio e Eugênio

Trivinho proporcionam exemplos compreensivos acerca do estudo da velocidade e como ela é o

‘motor da sociedade’, as teorias construtivistas e críticas explicam os meios por quais a sociedade tem

sido dominada pelo poder exercido, através da dromocracia, pelas hegemonias.

Palavras-chave: Dromocracia. Construtivismo. Teoria Crítica. Dominação.

ABSTRACT

This article aims to dissect the concept of dromocracy, as defined by the constructivist and critical

theories from the science of International Relations. Thus, these three notions have been linked in such

manner so as to describe the changes economic, political and especially, social relations have

experienced throughout the ages. While Paul Virilio and Eugênio Trivinho enlighten this essay with

comprehensive examples of the art of velocity and how it is the ‘motor of society’, constructivist and

critical theorists explain the methods by which society has been dominated through the power that the

hegemons wield through dromocracy.

Keywords: Dromocracy. Constructivism. Critical Theory. Domination.

1 Undergraduate of International Relations at Universidade da Amazônia, Ananindeua – Pará.

2 Master’s degree in Political Science at Universidade Federal do Pará and bachelor’s degree in International

Relations at Universidade da Amazônia.

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CONCEPTIONS OF DROMOCRACY IN A LOGICALLY CONFORMED SOCIETY

REVISTA DROMO&RI Belém. vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 22-31

1 INTRODUCTION

Time. It changes things. We have been living in a world that is constantly moving,

growing and evolving. Ever since the beginning of time, man has strived for the art of

velocity; the ability that he could never possess in its physical entirety, but now wields the art

through machines and high levels of technology. Due to this issue, we have gained more and

more scientific know-how on the most specific details of our existence. Moreover, we have

expanded our sphere of influence, in fact, we have dominated peoples, machinery and, to a

certain point, the future. Have we as individuals, now more and more inserted in a

compressed society, evolved in our humanity?

Provided that we have achieved our goals and advanced positively in so many areas:

social, economic, informational, political and technological; it is ironic that speed and

connectivity have wired us together and enabled us to be everywhere at any time while, at the

same measure, distanced us from our instincts. It has kept us from progressing individually

and carved us into a premeditated structure with a designated way of thinking and acting, so

that we can be easily maneuvered from one set of characteristics to another, like a feather in

the sky, drifting to wherever the wind blows.

The internet, through technology, has made this possible and, along with the speed of

our latest transportations, we are now more connected than ever; sharing distinct

particularities from one culture to the next at an unexpected rate and at intangible amounts.

This is exactly what the dominating forces that control the worldwide decisions yearn for and

have succeeded at, ever since they have manipulated the speed of knowledge.

This present article will be divided into two different parts. The first is dedicated to the

outlining of examples about the way society has evolved based off the Constructivist theory.

The second part will question, with basis on the Critical theory, main historical events and

their validity in the international relations. There are, however, two that will be pointed out in

the article; the first is about the Nazi domination before and during the Second World War.

The second is that of the current most powerful country in the world, the United States of

America.

A profound analysis will be made on how these two power hegemons have dictated

their influence globally, grounded off the use of technology and how whatever the

mainstream media broadcasted, was the truth imposed in our minds and our current vision of

the past. Having said that, as Dromocracy and Dromology are the subjects headlined in this

article, they will be present throughout the entire essay supporting the IR theories discussed.

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JEREMIAS ORLET

REVISTA DROMO&RI Pará, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 24-33

2 THE MOLDING OS SOCIETY THROUGH DROMOLOGY FROM A

CONSTRUCTIVIST POINT OF VIEW

Nowadays, the worst kind of blasphemy is critical thinking in fact, (…) the very

concept of objective truth is fading out of the world and lies will pass into history3 (ORWELL,

1936). Coupled with this line of thought, a comprehensive view of this issue cannot be

formed due to the way society is forthwith built up. Nonetheless, through the discernment of

the Constructivist ontology, we know that social structures exist only in process and that new

sets of assumptions about the world and human motivation can show up as long as individuals

are cognizant that, what it takes to build up on social relationships and new conceptions, are

the three social elements: shared knowledge, material resources, and practice.

Provided that these steps take place, the subjects of this emancipation will interact

with the agency and therefore modify the social structure. Constructivism offers alternative

understandings of a number of the central themes in international relations, including: the

meaning of anarchy and balance of power, the relationship between state identity and interest,

an elaboration of power, and the prospects for change in world politics. Alexander Wendt

explains that: “Social structures are defined, in part, by shared understandings, expectations,

or knowledge. These constitute the actors in a situation and the nature of their relationships,

whether cooperative or conflictual” (WENDT, 1995, p. 73).

With this in mind, over the past decades, we have become more cooperative in light of

the development of closer economic, cultural and political relations among all the countries in

the world, through the widely known process of globalization. States have indirectly worked

together to construct identical lines of rationalization and, while being assisted by their

capacity to be ‘dromo-able’ that is, the act of organizing scientific and informational

knowledge while keeping up with the velocity the international system presents. It is under

this concept that Paul Virilio warns against this new ‘second nature’ humans have attained,

where the problem is not in the episto-technical mindset, but us as humans that end up being

enslaved to technology (VIRILIO; LOTRINGER, 2008, p. 78).

There are many examples of how we have historically molded the future based off of

the level of technology we possessed. Ever since the beginning stages of the human race, man

has made use of tools mainly to develop faster, stronger and high tech methods to outsmart

his adversary: nature and other men. War has been one of the main death-machines man has

ever known starting with the spear and arrow to the current gun and atomic bomb, both

3 The implied objective of this line of thought is a nightmare world in which the Leader, or some ruling clique,

controls not only the future but the past. If the Leader says of such and of such an event, ‘It never happened’ well

then it never happened. If he says that two and two are five – well, two and two are five. Orwell brilliantly

portrays this manipulation of truths in his book: Nineteen Eighty-Four.

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CONCEPTIONS OF DROMOCRACY IN A LOGICALLY CONFORMED SOCIETY

REVISTA DROMO&RI Belém. vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 22-31

envisioning the fastest way to kill the most people and at the same time, contributing to the

establishment of more socially shared concepts on the need for speed as long as the effects

presented can be shown to presuppose still deeper social relations (MEARSHEIMER, 1994).

In this context, it is worthwhile to consider that these social conceptions were

transmitted and shared mainly through mouth-to-mouth communication and a few books –

hardly ever translated into other languages – mudding the possibility of the free and extensive

flow of information. In other words, knowledge was not shared noticeably, which kept ideals

from becoming mainstream.

Nonetheless, changes slowly occurred within the peoples of the world and, as the

years went by, led to more than militaristic weapons, like the great inventions of the past few

centuries, some notable examples of this are: The Telephone (1876), the Radio (1896), the

Computer (1946) and what brought the Internet to life and made the globe a village; the

World Wide Web (1991) (BLAINEY, 2004, translated by the author). It is interesting for us

to observe that what really led to the creation of this resourceful equipment was the

fundamental structures of international politics that shared ontological and epistemological

ideals, proving that society is structured on more than a social basis rather than a strictly

material one, and hence, these structures shape actors' identities and therefore their interests.

It is under these terms that we will analyze the communicative approach, the war for

information and the current cybernetic state we are in, where truths are rapidly created, but on

the other hand, are even more so destroyed. Paul Virilio calls this "Dromology". This can be

backtracked from the Latin term, ‘dromos’, signifying ‘race’, and dromology studies how

innovations in speed influence social and political life (VIRILIO, 1977, translated by the

author).

As a consequence of this modernization, we are now inserted in a world where the

ideology of science and of technology – through shared knowledge and its effects – have

taken control of our interests and beliefs and, on a higher level, now determine the course of

the international system.

Actors acquire relatively stable identities, role-specific understandings and

expectations about self by participating in collective meanings (WENDT, 1992) and through

the velocity of knowledge, a subjective reality has been created and reflects off a society of

individuals. It’s the dictatorship of movement (VIRILIO, 1996, p. 28, translated by the

author).

We, through technology and cyberculture, are controlled by powerful entities. If one

looks back into history, one would comprehend this and would also understand that liberty is

a wasted conception, used to please the multitudes. In the next section, this notion will be

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JEREMIAS ORLET

REVISTA DROMO&RI Pará, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 24-33

explored by comparison and exemplification and, most importantly, the link with the critical

theory shall be made.

3 THE CRITICAL THEORY AND THE USE OF CYBERSPACE BY THE

HEGEMONS

As shown previously, the task of creating new identities begins with the long,

laborious effort to build new historic blocs within national boundaries while exerting the

complete use of the state’s dromo-able capacity to inflict newly shared concepts upon the

population. It is in this way that we begin to perceive the rise of a dominant force in the

international system. Antonio Gramsci questions this by saying:

'Do international relations precede or follow (logically) fundamental social

relations? There can be no doubt that they follow. Any organic innovation in

the social structure, through its technical-military expressions, modifies

organically absolute and relative relations in the international field too.'

(GRAMSCI, 1971, p.176)

He is saying that basic changes in international power relations or world order, which

are observed as alterations in the military-strategic and geo-political balance, can be traced to

fundamental changes in social relations, proving what has been shown previously. The key to

take into consideration here is how these dominating forces have, throughout history, spread

their ideology, thus unveiling a hegemonic power, by speeding up the simultaneous

transmission of specific intellectual dogmas into the building of a tightly-knit, highly efficient

machine that combines cultural, military, diplomatic, intelligence, economic, scientific and

political operations45

(KENNEDY, 1961).

All these are included in four of the great blocks of activity where speed organizes

itself: the military (the industry of war), business (the manipulation of wealth), travel (the

violence of projection), and entertainment (the culture industry)6 (POTTER, 1987). In this day

and age, activities of this sort can be easily pointed out by simply observing the dominating

ideologies as they spread out in such a way that they take on to themselves the definition of

'common sense': capitalism, democracy, globalization, cultural concepts (language, religion

and ethics) are the main trends of our well-planned reality.

Ultimately, world domination by dromologic means is the greatest level of state

hegemony we are to witness in the near future. Another great critical theorist, Robert Cox,

5 Excerpt from the "The President and the Press" speech by John F. Kennedy before the American Newspaper

Publishers association, 27 April 1961 6 Daniel L Potter, in his article titled ‘Comparative Literature’ from the Cornell University in 1987.

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CONCEPTIONS OF DROMOCRACY IN A LOGICALLY CONFORMED SOCIETY

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chimes into the debate by expressing his opinion on the matter when he considers Gramsci’s

definition of hegemony by saying that,

World hegemony, furthermore, is expressed in universal norms, institutions

and mechanisms which lay down general rules of behavior for states and for

those forces of civil society that act across national boundaries - rules which

support the dominant mode of existence. (COX, 1996, p. 62)

Hegemony is enough to ensure conformity of behavior in most people most of the

time. To illustrate a past endeavor to attain the genuine status of a hegemon, we will take a

look at the Germanic State in the past century. Led by none other than the ‘Führer’, Adolf

Hitler, Germany attained dromoable capacity by, above all, using modern tactics of

domination. His enthusiasm was transmitted by his cohorts through the newest techniques of

propaganda (innovative technological measures: television, cinema, and radio broadcasts),

speedy economic growth, mass mobilization and weapons of war.

All these gained dromoable aptitude and consequently created shared concepts

between the Führer and the German people7, thus performing the function of developing and

sustaining mental images, technologies and organizations which welded the members of

different classes into the construction of an historic bloc8 where everyone was connected by a

common identity with common interests.

In contrast, a more recent and alarming example is that of the dominating power in the

latter years of the twentieth century up until our present time: The United States of America.

They have, for the most part, dominated the militaristic and economic sectors of the

international system. Additionally, ever since the rise of other more competent players in

these two categories, the USA has strengthened its power over the nations through a more

social aspect: cultural domination. Furthermore, the USA would not have been able to rule the

world in this matter if it wasn’t for its dromoable capacity over which it disseminates its own

culture through standards of freedom, liberty, equality, democracy and capitalism.

In this manner, it is worthwhile to consider that these tendencies designate the

invisible regime of technological speed as the decentralized epicenter of the structuring of

human life, while cyberculture designates the contemporary socio-historical lifestyle9

(TRIVINHO, 2001a, translated by the author). This shapes us into extensions of the

dominating power, without however, a voice of our own.

7 A metaphysical unity between the Führer and the people: "Germany is Hitler, and Hitler is Germany."

8 In Latin, ‘Blocco Storico’, is a dialectical concept in the sense that its interacting elements create a larger unity

(…) whereas intellectuals play a key role in the building of a new bloc (…) and to do this they would have to

evolve a distinctive culture (…) in constant interaction with the members of the emergent block. 9 Trivinho expands this idea by explaining how the modus operandi of dromology works. He shows us that social

media and digital information cannot be understood without exposing its link with the technological speed

compassed by the social environment it is in. All things considered, we also cannot analyze dromocracy without,

at the same time, relating it to the internet and cyberculture.

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JEREMIAS ORLET

REVISTA DROMO&RI Pará, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 24-33

It is by this hang up that the process of dromocratization has progressively entered into

the human lifestyle, making it easier to implement ideals that may soon become shared

knowledge. In our time, the use of cyberspace has become a method used to legitimize a

paradigm and thus cause global repercussion throughout most of the dromoable classes in

society. A current, yet simple example of this was when the USA (dominating power) had a

sudden hunch to invade Iraq and subsequently obligate it to disarm itself of the alleged

nuclear, chemical, and biological weapons, which were said to be present in the country and

that were an immediate and intolerable threat to world peace.10

These concepts were transmitted through most news reports, online articles,

international radio and TV broadcasts. Having said that, while at first the worldwide

population was skeptic of the military invasion and the facts behind it, they quickly changed

their opinion due to the socially implemented fear disseminated by technology, which in turn

furnished the USA with the collective support they needed to carry the assault out.

From this perspective, we find that contemporary historiography is grounded on

unorthodox theoretical principles of the reconstruction of the human adventure and it shall be

certainly recognized - perhaps in the near future – that the actual history of capitalism, liberty

and most social ideals has not been comprised solely on the consolidation of democracy and

so-called ‘freedom of speech’, rather, it can be linked to the poignant and enduring

confrontations society has conducted against the tortuous yet progressive and (TRIVINHO,

1999, translated by the author) irresistible forces dromocracy, in conjunction with dominating

States, have inflicted upon the world.

4 CONCLUSION

As strange as it may seem, we don’t notice the changes between the relationships of

the subject and the agency as much as we would like to. This is because we were not meant to.

New values preached within society are not our own: family, friends and the success of these

relationships are defined by the status quo placed upon them, in turn, keeping them shallow

and meaningless; lacking the actual proximity between the subjects, not through the

cyberspace and globalization, but through sincere tangible actions.

This change can be understood by what dromocracy, the critical and constructivist

theories have exposed within this article. It can be perceived by the state society is in

nowadays, where social affairs are based off the level of technology a nation possesses and

the amount of ideals it is able to spread. One of the main common values shared by most

10

Read Washington’s Post Staff Writer, Barton Gellman, for more information on ‘Iraq's Arsenal Was Only on

Paper’ available at: www.thewaschingtonpost.com.

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CONCEPTIONS OF DROMOCRACY IN A LOGICALLY CONFORMED SOCIETY

REVISTA DROMO&RI Belém. vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 22-31

segments of technology is capitalism; it controls minds, through repetition and subliminal

messages organized by the dominating authority. We are led to like something because of

capitalistic motives.

As the years go by, everything we see and possess continues to take on to themselves

unending amounts of updates and improvements, making us more interested in the future of

things and how they will function in the next couple of years. In the same measure, we

ourselves will suffer large changes due to the different influences we culturally build up on.

We must tread carefully, lest we be caught up in our dromoable instincts, and at the same time,

be found unprepared to go up against the prevailing wind, the dominating force’s teachings

and the instructions of the majority11

and, in the end, lose our sense of critical thinking,

leading future generations into an abyss.

It is under this probability that the need for cooperation and the ascent of dialogue

between the peoples of the world becomes apparent. Moreover, the danger dromocracy

generates, suggests that we take a step back in time, not ignorantly forgetting the modern

technics we have so carefully invented, but instead, using them to shield us from conspicuous

paradigms and erroneous moral judgment in international endeavors.

With this in mind, if we take a quick look into the amount of information available on

this topic, we will notice that it is insufficient to gain acceptance in a global scale.

Nevertheless, where there is life, there is hope and as long as we are guided by common

values and unselfish ambitions, technology and speed will not only allow us to progress

positively as a whole, but also force us to invoke the humanity we still have within us.

BIBLIOGRAPHY:

BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo, SP: Editora Fundamento

Educacional, 2009.

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Gramsci; London: Lawrence & Wishart, 1971. Print.

HITCHENS, Christopher. Why Orwell Matters. New York: Basic Books, 2002

11

Mark Twain (1835-1910) said and I quote: “Whenever you find yourself on the side of the majority, it is time

to pause and reflect.” Notably, this has been an extreme mistake society has accepted. We have forgotten our

individual desires and originality. We do not see the simple things as special and unique, but instead we tend to

lust after what the ‘other’ has and we exclude the beauty we have within us.

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JEREMIAS ORLET

REVISTA DROMO&RI Pará, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 24-33

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A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NA ERA

DA DROMOCRACIA: ENTRAVES E

PERSPECTIVAS Christiane Ramos

1

[email protected]

William Monteiro Rocha2

[email protected]

RESUMO

O presente artigo aborda a situação internacional contemporânea na era da dromocracia, considerando

as relações sociais internacionais como essencialmente particularistas, globalizadas e

interdependentes, características as quais dificultam os entendimentos coletivos que podem levar à

construção de identidades cooperativas, ao invés das competitivas. Neste sentido, serão abordados os

conceitos de dromocracia, dromoaptidão e dromoinaptidão, com ênfase na importância destas

definições para as relações internacionais. Alinhando os conceitos às abordagens teóricas neoliberais

de Joseph Nye, bem como às ideias de Giovanni Grevi acerca da necessidade de cooperação para

resolver as questões globais. Objetivo geral é discutir a situação da cooperação internacional em

tempos de velocidade, a qual é dificultada por características das relações sociais construídas no pós-

Guerra Fria. Para a produção da análise do que se pretende, utilizamos fontes bibliográficas. As

relações sociais internacionais contemporâneas são baseadas em interesses particulares, sendo que a

situação da cooperação é influenciada pela interconexão entre Estados e outros atores, além da

globalização que, aliadas à questão da velocidade, são capazes de gerar conflitos acerca do valor da

cooperação e dos entendimentos coletivos no cenário global..

Palavras-chave: Cooperação. Dromocracia. Globalização. Interdependência. Relatividade.

ABSTRACT

This article discusses the contemporary international situation in age dromocracy considering

international social relations as essentially particularistic, globalized and interdependent

characteristics which hinder collective understandings that can lead to building cooperatives

identities, instead of competitive. In this sense, will address the concepts of dromocracy,

dromoability and dromoinability, emphasizing the importance of these definitions for

international relations. Aligning the concepts of neo-liberal theoretical approaches of Joseph

Nye, as well as Giovanni Grevi ideas about the need for cooperation to solve global issues.

General objective is to discuss the situation of international cooperation in speed times, which

is complicated by features of social relationships built in the post-Cold War. To analyze the

production of what is intended, we use literature sources. International contemporary social

relations is based on particular interests, and the status of cooperation is influenced by the

1 Acadêmica do curso de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia (UNAMA) e monitora da

disciplina de Teoria Contemporânea das Relações Internacionais. É membra do grupo de estudos “Cibercultura e

Relações Internacionais” (UNAMA/PUC-SP). E-mail: [email protected]. 2 Docente da Universidade da Amazônia (UNAMA), Graduado em Relações Internacionais pela UNAMA,

Mestre em Desenvolvimento Sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade

Federal do Pará (UFPA) e Doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (DINTER-

UNB/UFPA). E-mail: [email protected].

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A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NA ERA DA DROMOCRACIA: ENTRAVES E PERSPECTIVAS

REVISTA DROMO&RI Belém, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 32-46

interconnection between states and other actors, as well as globalization, together with the

issue of speed, can generate conflicts about the cooperation value and collective

understanding on the global stage.

Key-words: Cooperation. Dromocracy. Globalization. Interdependence. Relativity.

1. Introdução

As definições de conflito e cooperação fazem parte da abordagem dos estudos de Relações

Internacionais desde a criação da disciplina no início do século XX e têm evoluído, ou pelo

menos vêm sendo transformadas de acordo com o contexto histórico e sócio-espacial ao qual

são reinventadas.

Os Grandes Debates teóricos de Relações Internacionais foram de extrema relevância na

consolidação deste campo de estudos, cujo conhecimento está calcado nas correntes

positivistas - realismo e liberalismo. O realismo passou a ser a tradição dominante nas

análises das relações internacionais por alguns motivos, dentre eles, porque o saber produzido

pelos teóricos tradicionalistas realistas possui uma base empírica, podendo, portanto, ter suas

ideias comprovadas em meio às relações sociais que foram praticadas no século das grandes

guerras (séc. XX).

Em outro extremo está a teoria liberal, também denominada idealista. O liberalismo é uma

abordagem normativa das relações internacionais, ou seja, não explica as dinâmicas tal como

se apresentam, mas como deveriam ser: um ambiente de cooperação e reconhecimento mútuo

da necessidade de encontrar respostas para as questões globais em conjunto.

A política internacional ganhou novos contornos com o fim da Guerra Fria. Os

paradigmas dominantes, apesar de ainda serem abordagens importantes, estão cada vez mais

sendo desafiados por novas visões e análises de mundo. Nye (2009) e Grevi (2009) apontam

para um fenômeno determinante que influencia as escolhas e ações dos atores no cenário

global, a interdependência complexa.

Para Nye, a interdependência complexa é um quadro que permite analisar as relações

entre os atores sem, contudo, desconsiderar abordagens importantes tanto do realismo, quanto

do idealismo. Neste sentido, levar em consideração a interdependência complexa significa que

imaginar o mundo é montar um quadro analítico ideal, no qual se testariam as possibilidades

racionais de ação no plano internacional (2009, p. 264).

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CHRISTIANE RAMOS

REVISTA DROMO&RI Pará, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 34 - 38

Ainda de acordo com Nye, co-fundador do neoliberalismo, interdependência complexa

"refere-se a situações nas quais os protagonistas ou os acontecimentos em diferentes partes de

um sistema afetam-se mutuamente" (2009, p. 250-251).

Segundo Grevi, a interdependência complexa se tornou algo tão intrínseco às relações

sociais que, atualmente, vive-se a era da interdependência (2009, p. 09), da qual não se pode

desvencilhar, caso contrário, tal tentativa geraria certo caos às dinâmicas internacionais e

perda de ganhos absolutos ao agente.

O neoliberalismo - o liberalismo que foi reformulado por Robert Keohane e Joseph Nye

na década de 1970 - possui uma visão dupla acerca deste constrangimento à ação dos atores.

À medida que pode ser um insumo para a cooperação, poderia, ao mesmo tempo, representar

fontes de conflito.

Desta forma, a ação do ator A pode ser prejudicial aos interesses do ator B. Haveria duas

maneiras de amenizar os conflitos internacionais. Se todos os atores se dessem ao trabalho,

em vão, de não manter relações sociais, ou se cooperassem. A cooperação gera

reconhecimento mútuo e compartilhamento de informações, resultando no conhecimento dos

interesses e capacidades alheias.

A abordagem do presente trabalho considera os estudos de política internacional de

Giovanni Grevi (que aborda um cenário internacional futuro, o qual denomina "interpolar") e

cujas ideias lembram de maneira clara a teoria do célebre neoliberal, Joseph Nye. O objetivo

geral é discutir a situação da cooperação internacional em tempos de velocidade. Buscaremos

responder a seguinte questão: a cooperação internacional gera ganhos mútuos ou favorece

apenas àqueles mais dromoaptos?

Com isto, a trabalho está organizado da seguinte maneira: a primeira parte tratará de abordar o

cenário internacional no pós-Guerra Fria, caracterizando-o como essencialmente pós-

moderno, dada a complexidade das percepções relativistas e particulares que surgiram neste

período e que ainda dominam as relações internacionais contemporâneas. A segunda parte

abordará o processo de globalização aliado ao conceito de dromocracia, dromoaptidão e

dromoinaptidão. A quarta parte examinará o papel da interdependência complexa nas práticas

sociais das relações internacionais, tomando-a como um constrangimento capaz de moldar e

transformar as preferências dos atores. Na quarta parte, faremos uma análise sobre os entraves

e perspectivas para a cooperação internacional neste sistema mundial pós-moderno –

complexo, onde as compreensões particulares dos acontecimentos tornam-se cada vez mais

consideráveis, tornando vagos os consensos sobre a cooperação.

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2. O cenário mundial no pós-Guerra Fria

O final da Guerra Fria é considerado um marco nos estudos de Relações Internacionais. O

término daquele período que intimidou as ações dos diversos agentes no cenário internacional

abriu caminhos para uma reformulação nas interações sociais em âmbito global. Percebeu-se a

ampliação da agenda de discussões globais, que já não se concentra apenas em resolver os

entraves causados pelos grandes grupos de interesses internacionais (Estados), que

centralizavam os temas na política da contenção e na tentativa de resolução das ameaças de

conflitos que poderiam gerar uma temida guerra mundial.

Essa expansão de temas da agenda global foi impulsionada pela influência de agentes

internacionais que começavam, à época, a livrar-se da “escuridão” a qual eram submetidos no

contexto de Guerra Fria. Ora, se a preocupação girava em torno do Estado, os demais agentes

da política internacional permaneciam em um ambiente onde eram “marginalizados” e postos

em segundo plano quando o objetivo era apresentar uma solução para as relações conflituosas

praticadas na vida internacional.

A década de 1970 foi um período que testemunhou diversos acontecimentos relevantes no

cenário internacional. As crises econômicas foram umas das mais importantes. Mostraram que

o imaginário belicoso essencialmente realista da política internacional estava equivocado ou

perdia legitimidade. Contudo, as consequências das crises do petróleo fizeram com que

emergissem discussões e importância intensas sobre as ações e influencias que emanam dos

arranjos econômicos internacionais, dos atores não-estatais, dos indivíduos e das

coletividades.

Foi instaurado, portanto, um período de extrema relevância nos estudos das relações

internacionais, percebendo-se que as percepções acerca das características da política mundial

diversificavam de acordo com a natureza de cada ator. Um exemplo claro disto neste século

foram os ataques de 11 de Setembro de 2001, no qual os radicais islâmicos, liderados por

Osama bin Laden, mostraram ao mundo que deslegitimavam o poder dominante das

potenciais mundiais, principalmente os Estados Unidos, em razão da crença de contra-

dominação que os libertaria das correntes ocidentais.

É incontestável, assim, que as interpretações sobre a política internacional não são

unívocas, pois variam de ator para ator e, além disso, é necessário levar em consideração o

contexto histórico, político, econômico e social ao qual as identidades são construídas. Não

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existe uma verdade absoluta acerca das dinâmicas internacionais, apenas cosmovisões e

particularismos. O realismo tem sido deslegitimado – apesar de ainda ser importante – mas os

conflitos internacionais não diminuíram ou deixaram de existir, pois são altamente

influenciados pelas relações de poder desiguais – e não por desequilíbrio na suposta balança

do poder.

Neste sentido, faz-se importante uma breve explanação sobre a analítica de poder em

Foucault. Segundo ele, “O poder não existe. Quero dizer o seguinte: a ideia de que existe, em

um determinado lugar, ou emanando de um determinado ponto” (FOUCAULT, p. 248). O

poder não é analisado como um atributo ou instrumento, mas como a capacidade de exercício.

Não se pode possuir o poder, já que ele não é palpável, nem quantificável, o poder se faz

perceptível em meio às relações sociais, muitas das quais se mostram desiguais por causa das

capacidades de captura de exercício através das práticas discursivas e produções de verdades

relativas e particulares. O poder não é passível de posse, é uma pratica social.

Lyotard considera que a deslegitimação da técnica e da ciência tenha influenciado a

Europa principalmente a partir da década de 1950, com a instauração de um período da era

pós-industrial. De acordo com o estudioso francês, o cenário construído desde esse período

“caracteriza-se exatamente pela incredulidade perante o metadiscurso” (1988, p. 08). O que se

percebe atualmente são conflitos de saberes com objetivos hegemônicos e/ou legitimadores.

Para Richard Ashley, teórico pós-moderno das Relações Internacionais, “the dominant

mode of international political community is already present right on the surface of

international politics. It is present in the dispositions, techniques, skills, and rituals of realist

Power politics”3 (1987, p. 421). Portanto, considera-se, ainda, que as interpretações realistas

acerca das relações internacionais, bem como as produzidas e reproduzidas através desses

discursos tenham influenciado a mentalidade e práticas sociais entre os atores internacionais,

de modo a legitimar a produções de verdades advindas das teorias, principalmente quando se

trata da necessidade do conflito para uma dita configuração e reconfiguração de poder na

política internacional.

A pós-modernidade é um movimento de estudo das Ciências Sociais que transpassou as

fronteiras do conhecimento e influenciou também as relações sociais. O cenário internacional

atual é um ambiente de legitimação e deslegitimação de saberes. Os consensos são formados a

partir de produções de verdade. Se todo discurso é uma tentativa de dominação, então os

3 A forma dominante da comunidade política internacional já está presente mesmo na superfície da política

internacional. Ela está presente nas disposições, técnicas, habilidades e rituais da política de poder realista

(Tradução nossa).

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ideais de cooperação poderiam ser vistos como resultados de interesses particulares. Ainda

assim, a política mundial é um emaranhado de atores, percepções e interesses, os quais entram

em conflito em todos os momentos, em diversas áreas da vida social. Deslegitimar a

necessidade de cooperação seria levar a humanidade a um precipício. Um mundo orientado

por percepções e interesses particulares se mostrou altamente custoso no século XX4, e terá

consequências ainda maiores na era da dromocracia.

3. Globalização e Dromocracia: Dromoaptidão e Dromoinaptidão

De acordo com Barbosa,

A globalização caracteriza-se [...] pela expansão dos fluxos de informações –

que atingem todos os países, afetando empresas, indivíduos e movimentos

sociais -, pela aceleração das transações econômicas - envolvendo

mercadorias, capitais e aplicações financeiras que ultrapassam as fronteiras

nacionais - e pela crescente difusão de valores políticos e morais em escala

universal (2014, p. 12-13).

Desde os primórdios do processo de mundialização – termo utilizado pelos europeus

para denominar a globalização – por volta do século XIV e XV com as grandes navegações,

os seres humanos passaram a sentir de maneira mais intensa a necessidade de expandir

influencias para além dos territórios que dominavam, a Europa. A navegação instaurou uma

fase crescente de controlar os espaços que determinaram posteriormente de Terceiro Mundo.

Da mesma forma que na época da Guerra Fria houve uma corrida armamentista para a

dominação do cenário global5, naquele período, as potências européias lançaram-se ao Mar

em busca dos elementos que determinavam a riqueza de um Estado, ou seja, de metais

preciosos.

Existe uma concepção errônea acerca da globalização que considera este fenômeno

mundial apenas em aspectos econômicos, contudo ela envolve as relações sociais, os modos

de produção, as culturas, os Estados e os indivíduos. Na concepção de Santos,

4 No século XX presenciou-se as maiores catástrofes mundiais motivadas por interesses humanos divergentes: a

Primeira Guerra Mundial, a guerra das trincheiras; a Segunda Guerra Mundial, com todas as revelações

posteriores do Holocausto e a diminuição da importância da vida humana; a Guerra Fria, na qual os conflitos

periféricos derramaram sangues de seres humanos que pediam paz e fim das grandes ideologias de dominação; a

Partilha da África (Neocolonialismo), as questões relacionadas às armas nucleares, à fome, à saúde, os conflitos

intraestatais, o terror, etc. 5 A luta entre as potências européias (Espanha, Portugal, Inglaterra, etc.) pelo domínio do Mar e conquista de

espaços desconhecidos assemelha-se à corrida armamentista da Guerra Fria à medida que consideramos os

propósitos dessas ações. Os Estados procuravam elevar seus poderes de acordo com a concepção de riqueza e

poder de cada época. O método utilizado para isto era a comparação de capacidades, o que fazia com que

entrassem em competições alucinadas para a determinação da ordem e da hegemonia mundiais.

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A globalização primeiramente se refere à rede de produção e troca de

mercadorias que se estabelece em nível mundial. Também designa o

fenômeno do intercâmbio político, social e cultural entre as diversas

nações, atualmente intensificado pelas profundas transformações

decorrentes da aplicação das inovações científicas e tecnológicas na

área da comunicação. Ela é concebida, por muitos de seus ideólogos,

como um novo patamar civilizatório e como um processo inexorável.

Representaria também uma nova forma de organização das

sociedades, capaz de superar as identidades nacionais e os

particularismos, religiosos, étnicos e regionais (2001, p. 172-173).

Sendo, portanto, este fenômeno um processo ambíguo. Por um lado possui a aspiração

de conectar os diversos espaços do mundo, com vistas às trocas comerciais, sociais e

culturais, e, por outro, funciona como uma espécie de exclusão, na qual aqueles que não estão

adaptados à aceleração e à fugacidade tendem a ser excluídos dos benefícios que poderiam ser

gerados pela mundialização. Na verdade, o processo de globalização recebe intensas críticas,

pois os discursos produzidos acerca deste sistema diferem das práticas proporcionadas por ele

mesmo. Enquanto a ideologia da globalização mostra que um mundo globalizado,

interconectado e liberal é a nova forma da política internacional contemporânea, o que se tem,

na realidade, é o benefício daqueles mais adaptados aos processos de mudança instantâneas

deste ambiente dromocrático.

O cenário global do pós-Guerra Fria é essencialmente pós-moderno, intensamente

globalizado e dromocrático, aliás, as relações humanas são dromocráticas ou dromológicas

desde os primórdios da humanidade. Para entender o conceito de dromocracia, precisamos

recorrer ao vocabulário grego. Dromos significa rapidez, velocidade; Cracia (Kratia) significa

poder. Neste sentido, torna-se clara a ideia que envolve os estudos da velocidade.

Dromocracia representa os estudos acerca da dominação da velocidade como um recurso de

poder e dominação. De acordo com Trivinho,

O conceito de dromocracia expressa bem aquilo de que se trata: a

velocidade técnica e tecnológica equivale a um macrovetor dinâmico

exponencial de organização/desorganização e reescalonamento

permanente de relações e valores sociais, políticos e culturais na

atualidade (2005, p. 70).

Seguindo neste raciocínio, dromoaptidão e dromoinaptidão derivam da expressão

dromocracia. Os dromoaptos são os agentes capazes de se moldarem às transformações que

ocorrem de maneira instantânea nas relações sociais e no espaço cibernético, bem como

aqueles que possuem a tecnologia e a informações como meios de dominação, permitindo-

lhes moldarem as preferências dos demais atores com o fim de realizar seus interesses

particulares. Os dromoinaptos, por sua vez, são os excluídos, os atores suprimidos pela

capacidade de exercício de poder dos dromoaptos. Exatamente por gerar um cenário de

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desigualdades, esta era da globalização caracterizada pela dromocracia requer um estudo

acerca das consequências destas características para o cenário internacional, sobretudo no que

se refere à concepção da cooperação e dos entendimentos coletivos que podem gerar o agir

cooperativo.

4. Cooperação e conflito nas Relações Internacionais: uma análise entre Nye e

Grevi

Os estudos de Relações Internacionais possuem duas grandes tradições que têm travado

grandes debates teóricos desde a criação da disciplina, em 1919 – realismo e liberalismo. A

década de 1970 tenha sido talvez, o momento mais importante para a concepção desses

estudos. Os embates foram responsáveis pelo que hoje se conhece por “síntese neo-neo”, ou

seja, mesmo contendo essências divergentes quanto à forma de explicar os acontecimentos

internacionais, alguns paradigmas de ambas foram revistos: o neorrealismo (realismo

contemporâneo), principalmente com Gilpin, aceitou, em certa medida, que as relações entre

os atores (Estados e empresas transnacionais) possuem um nível de interdependência que

permite com que os Estados utilizem as empresas transnacionais como divulgadoras e

disseminadoras da política externa da unidade estatal; para o neoliberalismo (liberalismo

contemporâneo), apesar de o sistema internacional ser um ambiente interdependente e

complexo, o Estado ainda é o principal ator das relações internacionais, contudo, isto não

impede que outros atores surjam e que se tornem protagonistas e tomadores de decisões nas

principais questões internacionais. As discussões sobre arranjos internacionais e governança

global também fazem parte do Debate NEO-NEO.

Para este trabalho, é importante concentrar na teoria neoliberal das Relações

Internacionais, principalmente no que se refere à produção de conhecimento do célebre co-

fundador da vertente, Joseph Nye e também do estudioso de política internacional italiano,

Giovanni Grevi. Para ambos, a política mundial da contemporaneidade e a perspectiva futura

da configuração do sistema internacional sofre/sofrerá influências profundas de um

constrangimento ao qual Nye intitula como interdependência complexa.

Os teóricos liberais defendem a cooperação ao invés do conflito, isto porque agir de

maneira hostil no cenário internacional pode ser altamente prejudicial ao ator, mas nem por

isso possuem uma visão ingênua ou inocente da política mundial. Os liberais contemporâneos

não legitimam mais a idéia de harmonia de interesses, até mesmo porque em um ambiente

mundial repleto de atores de diversas naturezas, seria utópico demais acreditar que todos

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tivessem os mesmos objetivos e agissem de maneira cooperativa para alcançá-los. A política

internacional é um espaço de cooperação, mas também de conflitos, e quem afirma isto é

Joseph Nye, quando profere que “as lutas pelo poder continuam, até mesmo em um mundo de

interdependência” (2009, p. 250).

Giovanni Grevi afirma que “interdependence [...] involve issues that are central to de

basic well-being and even survival of large parts of the world population” (2009, p. 26).

Interdependência complexa é um constrangimento sistêmico que afeta todos os atores do

sistema internacional em maior ou menor grau, sendo que a ação do ator A afetará o ator B, e

as ações do ator B afetarão o ator A. os efeitos das ações na política mundial são mutuamente

sentidos. Os liberais não defendem a interdependência complexa como algo “bom” ou “ruim”,

não fazem juízo de valor quanto à ela. A interdependência existe e os atores devem aprender a

agir no sistema internacional de acordo com ela.

A interdependência complexa possui várias dimensões, contudo, é importante tratar aqui

acerca da sensibilidade e da vulnerabilidade dos atores em um sistema internacional

interdependente e complexo. A interdependência é um quadro no qual os atores estão

inseridos. Dentro deste quadro operam duas características (custos) que os afetam. A

sensibilidade define, em termos de velocidade ou intensidade, o quanto um ator sentirá uma

mudança na política internacional ou a ação de um ator (que poderá lhe causar certos

problemas). A vulnerabilidade, por sua vez, refere-se aos mecanismos de resolução de

problemas advindos da sensibilidade. Por exemplo: o ator A e o ator B sentirão os efeitos da

ação do ator C no cenário mundial (sensibilidade), porém a dependência do ator A em relação

ao ator C é menor do que a relação que o ator B possui com o mesmo ator (C)

(vulnerabilidade). Se o ator C entra em crise, obviamente afetará o ator A e o ator B, contudo,

a dependência dos dois em relação ao C é divergente. Alguns atores são mais dependentes de

outros no ambiente internacional.

Exatamente por isso a interdependência pode ser utilizada como um recurso de poder

pelos menos vulneráveis. Assim como Nye, Giovanni Grevi aborda o tema da

interdependência. Segundo o autor,

The international system is marked by deepening, existencial interdependence.

interdependence is existencial when its mismanagement can threaten not only

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the prosperity but the political stability and ultimately, in extreme cases, the

very survival of the actors that belong to the system6 (2009, p. 24).

Os recursos de poder, no entanto, variam de acordo com o tempo, espaço e,

principalmente, com as relações sociais praticadas. Atualmente vivemos uma época marcada

pelo domínio cibernético. Neste aspecto, Nye determina três faces do poder. Na primeira face

aborda o poder como a capacidade de um ator fazer com que o outro pratique ações que não

fazem parte do escopo das preferências dele. Na segunda, por meio da dominação da agenda,

um ator acaba impedindo que outro faça certas escolhas excluindo as possibilidades de

escolha. E, a terceira requer um envolvimento e persuasão profunda. Trata-se da capacidade

de um ator fazer com que o outro nem mesmo chegue a ter certos tipos de preferências (NYE,

2012, p.171).

Nestas três faces é perceptível que Nye se distancia das abordagens materialistas acerca do

poder para abordá-lo como capacidade de influência. Apesar de que concepção quantificável

de poder ainda seja uma característica importante da política internacional, no ambiente

cibernético, além da necessidade de competência tecnológica, o ator deve ser capaz de

seduzir, induzir e provocar certas ações em relação aos demais.

O ciberpoder não é diferente de outros recursos de poder tradicionais, porém é um recurso

“recent and subject to even more rapid technological changes than other domains”7 (NYE,

2010, p. 04) e, por isso, sua manipulação e ordem torna-se, em muitos casos, inviável ou

difusa. Não há uma concentração das fontes de poder cibernéticas, pois os Estados, grupos

terroristas, indivíduos e empresas podem desenvolver, em graus diferentes, essa capacidade.

Acontece, portanto, uma difusão de poder, o qual estava concentrado apenas nas mãos dos

Estados, mesmo que isso não proporcione uma equalização do poder entre os atores (NYE,

2012, p. 178).

No espaço cibernético, ainda que seja possível identificar as fontes de ameaças e ataques,

torna-se cada vez mais frágil a segurança desse território. O “lugar” possui muitos “donos” ou

usuários e manter a privacidade ou a segurança torna-se papel daqueles atores altamente

desenvolvidos tecnologicamente. Todos os atores podem chegar a utilizar esse recurso de

poder, contudo nem todos possuem a capacidade de manter a segurança de suas redes de

informações. Pensando nessas ameaças, Nye considera que os Estados, mesmo que longe dos

6 O sistema internacional é marcado pelo aprofundamento, a interdependência existencial. A Interdependência é

existencial quando sua má gestão pode ameaçar não só a prosperidade, mas a estabilidade política e, em casos

extremos, a própria sobrevivência dos atores que pertencem ao sistema (tradução nossa). 7 Recente e sujeito a ainda mais rápidas mudanças tecnológicas que outros domínios (tradução nossa).

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moldes Westfalianos, continuam como principais atores, pois o objetivo base de cada Estado é

manter a segurança, mesmo que em locais desterritorializados e virtuais (2012, p.187).

Quando se trata do espaço cibernético e levando em consideração os custos da

interdependência complexa, pode-se considerar que as modificações recorrentes provocadas

pelos meios tecnológicos e informacionais influenciam todos os atores do cenário mundial,

contudo, há aqueles atores dromoaptos, que se moldam a essas mudanças, tomando-as como

um caminho para atingir objetivos em razão de seu avanço tecnológico.

5. Análise: entraves e perspectivas acerca da cooperação internacional no ambiente

internacional do pós-Guerra Fria

O final da Guerra Fria foi um acontecimento importante no cenário internacional por

causa de diferentes aspectos: diversificação dos atores, alargamento da agenda de temas

globais, instauração de novas abordagens de relações internacionais e redefinição das fontes

de poder. O cenário global contemporâneo se tornou um ambiente de inovações tecnológicas,

mas ao mesmo tempo de surgimento de resistência daqueles atores que eram marginalizados

ou negligenciados.

Três aspectos são importantes para entender o cenário global contemporâneo:

É um ambiente pós-moderno, onde as resistências às grandes narrativas e ideais de

dominação são frequentes. As percepções são cada vez mais particularizadas. A cosmovisão

torna-se mais importante à medida que o ator se afasta das práticas discursivas dominantes

para agir de acordo com o saber produzido por ele. Quando todos os atores resolvem agir de

maneira relativizada, o que se instaura é um espaço de conflitos e divergências acerca dos

consensos que regem a ordem internacional. O Terrorismo e os fundamentalismos estão

presentes para nos provar isso.

O segundo aspecto importante da política internacional é que ele é globalizado. Porém,

não se trata neste caso da exaltação da globalização. O juízo que se faz dela é de um processo

altamente excludente, na qual os atores dromoinaptos, ou seja, aqueles que não conseguem

alcançar a exigências proporcionadas pela velocidade e pela interconexão, são postos à

margem da política internacional, sendo dominados por aqueles que exercem maior poder no

campo cibernético, que por sua vez, transborda para outras áreas da prática social.

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Em seguida, o outro aspecto é a interdependência. Os atores no cenário global possuem

diferentes capacidades de poder. Além disso, alguns são mais vulneráveis que outros às

mudanças ocorridas no ambiente internacional. Considerando-se os dois principais custos da

interdependência abordados por Nye, sensibilidade e vulnerabilidade, pode-se chegar à

conclusão que há certa assimetria acerca dos constrangimentos da interdependência. Os atores

mais adaptados conseguem ditar as regras e formular os temas da agenda internacional, e isso

lhes confere um passo à frente dos menos desenvolvidos neste âmbito.

Nesta era da dromocracia, na qual os atores sentem a necessidade de se tornarem mais

velozes e, para isso, podem agir de maneira conflituosa para alcançar seus objetivos, é

necessário encontrar ou construir um meio pelo qual os atores possam vislumbrar a

possibilidade da ação cooperativa. A cooperação não é uma necessidade porque devemos

harmonizar interesses, mas porque é capaz de evitar as catástrofes humanas que já

presenciamos em tempos passados.

Ainda que a política internacional seja composta por coletividades e influenciada por elas,

a cooperação age como uma maneira de respeito e identificação da natureza humana das

pessoas. O ciberespaço é virtual, mas as consequências dos conflitos virtuais de interesses

possuem a capacidade de ultrapassar este campo, influenciando as questões do ambiente

material. Uma guerra tradicional pode ser provocada pelas questões do meio cibernético.

Para transpassar esses problemas trazidos pelas características das relações sociais

internacionais contemporâneas, Grevi – que não fala especificamente do ciberespaço – aborda

uma sugestão que cabe a qualquer contexto atual: “multilateral cooperation will be of the

essence”8 (GREVI, 2009, p. 25). Não se exclui, portanto, a importância dos atores

internacionais no ordenamento do ambiente cibernético, porém, as atitudes de cooperação

devem ser construídas a partir de entendimentos coletivos acerca do tema. Os assuntos de

guerra e paz, fome, saúde, cultura, educação, entre outros, somente puderam ser

institucionalizados através do estabelecimento de relações que puderam garantir

continuidades das possibilidade de cooperação, e com o ciberespaço não poderia ser diferente.

6. Considerações finais

O objetivo deste trabalho não foi formular uma nova concepção acerca da política

mundial, pelo contrário, selecionamos algumas características advindas do ciberespaço e que

afetam a política internacional para incitar o debate acerca da situação da cooperação no

8 A cooperação multilateral será a essência (tradução nossa).

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cenário mundial. A concepção de um cenário global de relações pós-modernas, globalizadas e

interdependentes são processos históricos que datam de séculos passados – no caso da

globalização – bem como percepções teóricas que influenciam as práticas sociais – a pós-

modernidade.

A interdependência complexa, no entanto, é um quadro analítico que permite aos atores

internacionais visualizar as possibilidades de apostar nos jogos da política internacional.

Através dessa concepção, um ator saberá que agir de maneira cooperativa gera ganhos

absolutos. A competição se tornou custosa demais para que os atores se arrisquem.

No cenário delineado no presente trabalho, percebe-se que a cooperação internacional

pode ser por vezes, desenvolvida a partir de entendimentos particulares sobre as questões

internacionais. Portanto, o comportamento cooperativo ser difundido como uma maneira de

legitimação da vontade de atores dominantes.

À medida que a cooperação requer entendimentos mútuos sobre a necessidade desta ação,

sua prática é altamente questionável quando pretende docilizar os grupos de atores menos

adaptados às questões dromocráticas e de velocidade. Os neoliberais defendem a cooperação

porque ela gera ganhos mútuos, porém não se pode vislumbrar o processo cooperativo quando

ele possui por objetivo gerar a desigualdade de exercício de poder entre os atores

internacionais.

Se o objetivo da cooperação é promover o desenvolvimento sustentável e garantir a paz e

segurança internacionais, então, talvez fosse o momento de se pensar acerca de reformas dos

fóruns de negociação global, ou, pelo menos rever a participação dos diversos atores

internacionais que possuem capacidade de participar das decisões globais que regem o

mundo. Isso não significa dar status de Estados aos atores que estão aquém (ou além) dos

moldes estatais, mas tão somente garantir que a necessidade daqueles dromoinaptos será

atendida no ambiente regido pela cooperação desigual, tal como a que se apresenta nos dias

atuais.

A cooperação é uma construção social, não existe de maneira determinada. Os agentes

sociais são capazes de produzir suas próprias realidades. Repousa nisso a esperança de que

haja um ambiente global no qual a justiça social prevaleça, deslegitimando-se, desta maneira,

as crenças de que os conflitos sejam a melhor solução para resolver a questão do poder no

cenário global.

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REVISTA DROMO&RI Belém, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 32-46

Referências bibliográficas:

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AS CULTURAS ANÁRQUICAS DO CIBERESPAÇO: UMA

PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA DO

CIBERTERRORISMO ALMEIDA, Lucas Silva

1

[email protected]

RESUMO

Sabe-se que o uso do ciberespaço é bastante variado quando se tem em mente o enorme número de

atores que usam esta ferramenta de diversas maneiras. Porém, em termos científicos, muito se tem

analisado sobre as ferramentas do ciberespaço e não sobre quem as usa, agregando novos significados

ao escopo ciberespacial. Esta pesquisa tem como objetivo analisar as Culturas Anárquicas do

Ciberespaço e da Sociedade Internacional como interdependentes uma da outra, na qual os atores

analisados para esta construção serão os terroristas. É um estudo do tipo qualitativo, com caráter

exploratório, desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica e com resultados gerados a partir da

indução. Conclui-se que a forma como os atores utilizam o ciberespaço ─ como uma estrutura militar

─ pode variar a partir das relações entre os atores estudados, e que, no caso dos terroristas, é uma

estrutura de caráter hobbesiano. Os terroristas buscam usar o ciberespaço para criar o ciberterrorismo,

uma forma de equilibrar as capacidades destrutivas entre eles e os Estados (principal ator da Sociedade

Internacional). Além disso, o uso do ciberespaço por esses grupos fortalece suas ideologias e o número

de pessoas que podem ser alcançadas, facilitando o recrutamento de novos terroristas. Por fim, através

do ciberespaço, os grupos terroristas buscam legitimar suas ações como atores que desafiam a atual

ordem da Sociedade Internacional.

Palavras-Chave: Terrorismo; Dromocracia; Construtivismo; Bunker ; Ciberespaço

ABSTRACT

It is known that the use of cyberspace is quite varied when having in mind the huge number

of actors who use this tool in several ways. However, in scientific terms, much has been

discussed about the cyberspace tools and not on those who use them, adding new meanings to

cyberspace scope. This research aims to analyze the anarchic Cultures of Cyberspace and the

International Society as interdependent of each other, in which the actors analyzed for this

construction will be terrorists. It is a qualitative study, with exploratory, developed from

literature and results generated from the induction. The conclusion is that the way the actors

use cyberspace as a military structure ─ ─ may vary from the relations between the actors

studied, and in the case of terrorists, is a Hobbesian character structure. Terrorists seek to use

cyberspace to create the cyber terrorism, a way to balance the destructive capabilities between

them and the States (main actor of the International Society). In addition, the use of

cyberspace by these groups strengthens their ideologies and the number of people that can be

achieved by facilitating the recruitment of new terrorists. Finally, through cyberspace,

terrorist groups seek to legitimize their actions as actors who challenge the current order of

the International Society.

Keywords: Terrorism; dromocracy ; constructivism ; bunker ; cyberspace

1 Acadêmico de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia, Ananindeua – Pará -

[email protected]

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CONSTRUTIVISTA DO CIBERTERRORISMO

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Introdução

Os estudos sobre o uso e regulamentação do ciberespaço têm ganhado espaço entre

vários pesquisadores de diferentes áreas. Dentro do campo das Relações Internacionais, o

ciberespaço é analisado como uma plataforma de inserção de diferentes atores, sendo este

espaço uma continuação da Sociedade Internacional. Estados e Protagonistas transnacionais

têm suas capacidades, teoricamente, horizontalizadas, o que instiga muitos pesquisadores a

reverem conceitos como soberania e anarquia, e como os protagonistas transnacionais podem

interferir ou construir novos significados nessas instituições através do ciberespaço.

Nesse sentido, este artigo tem como objetivo analisar a construção das culturas de

anarquia no ciberespaço por meio do ciberterrorismo, e como esses grupos se estruturam no

ciberespaço de maneira que venha a afetar a construção ou destruição da Sociedade

Internacional. Para tal, este artigo divide-se em três partes: a primeira consiste na análise de

Soberania e Anarquia, e como essas instituições ganham valores a partir da construção de

Culturas de Anarquia, com base na abordagem construtivista de Alexander Wendt.

A segunda parte trata sobre a Sociedade Civil Global e a formação de espaços

militares. Nessa parte, é explicado o que é a Sociedade Civil Global, seus atores e como ela

tem feito frente a outros atores na Sociedade Internacional. Da mesma forma, como suas

estratégias de mudança política podem incluir o uso da violência, ela pode gerar um espaço

militar. Sobre os espaços militares, é usada a abordagem de Paul Virilio e a construção de

bunkers, assim como se tenta construir o entendimento da “cibernetização” desses espaços.

Por fim, a terceira parte trata sobre a construção de bunkers ciberespaciais, que nada

mais é que o uso do ciberespaço como uma arma tanto de ataque como de defesa, que visa

equilibrar as capacidades de destruição dos atores estatais e transnacionais no ciberespaço,

sendo especificado o uso dessa estrutura pelos terroristas, e como ela pode influenciar tanto o

ciberespaço quanto o “espaço-material”.

O método usado neste artigo foi o método indutivo. De acordo com Lakatos e Marconi

(2003, p.86), esse é um processo que parte de dados específicos, que quando analisados

conjuntamente geram uma verdade maior do que os próprios dados. A partir do método

indutivo, será criada uma ponte entre as abordagens de Paul Virilio sobre o efeito

dromocrático e o construtivismo de Wendt, de forma a demonstrar como os atores agem da

mesma forma sob contextos diferentes. Para tal, será feita uma pesquisa bibliográfica, que de

acordo com Severino (2007, p.122), é baseada na contribuição e dados de textos de outros

autores.

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Sobre o grau de investigação da pesquisa, ela se caracteriza como exploratória

(SEVERINO, 2007, p.123), que levanta as informações sobre um objeto de estudo e estuda

suas manifestações. No caso deste artigo, os objetos de estudo serão a forma como os

terroristas se estruturam no ciberespaço para que possam mudar a realidade da Sociedade

Internacional. Por fim, a pesquisa é de caráter qualitativo (TEIXEIRA,2005, p.124), que visa

diminuir a distância entre os fatores estudados. Neste caso, as abordagens dos atores das

relações Internacionais dentro de um contexto dromocrático.

Conclui-se que as construções dessas estruturas no ciberespaço dependem das relações

dos diversos atores da Sociedade Internacional no “espaço-material”, sendo o ciberespaço

uma continuidade de como esses atores se enxergam e se entendem, seja de maneira

cooperativa ou conflituosa.

Soberania e Anarquia: uma análise construtivista de Alexander Wendt

Segundo Wight (2002, p.98), “dificilmente pode ser negada a existência de um sistema

de estados”, da mesma maneira como não se pode negar que eles são os principais atores

analisados nas Relações Internacionais. Bull (2002) e Wight (2002) defendem a ideia de que,

por haver certo número de indivíduos comuns (Estados) mantendo relacionamentos com

determinados objetivos comuns e mantendo o funcionamento de instituições em comum,

pode-se caracterizar esse sistema como uma sociedade, denominada Sociedade Internacional.

Para Wight (2002, p.99), “a comprovação mais essencial da existência de uma

sociedade internacional é a existência do direito internacional”. O direito internacional,

segundo Jackson e Sorensen (2007, p. 3766), faz com que todos os Estados sejam

juridicamente iguais no cenário político internacional; faz com que sejam soberanos.

A soberania é uma das instituições que compõe os Estados-nações, que concede a

estes atores autoridade dentro de seus limites territoriais e reconhecimento internacional

(Rudolph, 2005; Wendt, 1999 ?). Segundo Nye (2009, p. 287), a questão da soberania está

sendo altamente debatida no cenário atual da política mundial devido à presença de outros

atores no cenário internacional que limitam o uso da força; que definem decisões econômicas;

e que interferem em assuntos internos por meio de instituições ou tratados.

Complementando a visão de Nye (2009), Jackson e Sorensen (2007) enumeram três

situações que alguns autores usam para questionar a soberania: (I) Forças ou atividades que

ignoram o limite territorial (mercado global, preocupações ecológicas, comunicação global,

armas nucleares, terrorismo e tráfico de drogas); (II) A questão dos direitos humanos e dos

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direitos humanitários, que é associado ao princípio de não-intervenção dos Estados; e (III) O

controle dos meios de violência, teoricamente monopolizado pelos estados.

Embora aparentemente pareça que os estados “perderam” sua soberania, a verdadeira

percepção que se deve ter sobre esse assunto é que a noção de soberania está mudando (NYE

2009; JACKSON e SORENSEN, 2007; RUDOLPH 2005), e deve-se analisar como suas

funções estão sendo alteradas. Prova disso é que, até então, não existem “formas rivais de

organização política” (JACKSON e SORENSEN, 2007, 378) que sejam legitimadas a ponto

de substituir o atual sistema. Uma análise que também pode ser usada para defender essa ideia

é feita por Rudolph (2005, p. 3) ao perguntar até que ponto as influências sofridas pelos

estados são resultados de seus próprios interesses, especificamente no contexto da

Globalização.

De qualquer forma, a instituição da soberania continua sendo de suma importância à

sociedade internacional, caracterizada como um sistema que possui anarquia (que não possui

autoridade central). Entretanto, a soberania ganha um valor social, se analisadas as culturas

desse sistema. Segundo Wendt (1999), há três culturas de anarquia que regem o modo como

os Estados se enxergam e, consequentemente, como se relacionam.

Cultura, de acordo com Wendt (1999), é uma estrutura social construída através de

“shared ideas”. Devido à impossibilidade de conter o campo de “ideas”, Wendt (1999, p.

140) estreita o foco da discussão à palavra “Knowledge” (Conhecimento), que segundo o

autor tem o sentido sociológico de qualquer crença que um agente (estatal, dentro do

construtivismo wendtiano) aceita como realidade.

Wendt afirma que Conhecimento pode ser tanto privado (private) como compartilhado

(shared). Conhecimento Privado consiste em crenças que indivíduos têm, que outros não

possuem. Já o Conhecimento Compartilhado (shared knowledge) é tanto um conhecimento

comum como compartilhado por indivíduos.

Atualmente, os Estados sabem muito um sobre o outro, e por terem acesso às

informações (que formam um background de “crenças comuns”) é que se assumem por

garantidas algumas assertivas da política mundial. Sobre essas “crenças comuns”, Wendt

(1999, p. 159) as define como crenças de alguns atores em relação às racionalidades

estratégicas, preferências e crenças mútuas.

O interessante é que essas crenças não precisam ser verdadeiras. Apenas se é

necessário que os atores acreditem que sejam verdadeiras, a fim de que haja um

“intertravamento” entre essas crenças (Wendt 1999, p. 160). Por um lado, Cultura é crenças

dentro da cabeça de indivíduos, mas que podem ser coletivizadas, quando essas estruturas de

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conhecimento são influenciadas ao ponto de gerar padrões de comportamento sobre

indivíduos ao longo do tempo.

As estruturas de conhecimento coletivo dependem da crença de atores em algo que os

induza a se engajarem em práticas que reproduzam essas estruturas. Assim, Cultura possui,

segundo Wendt (1999), uma mistura de “common knowledge” (conhecimento comum) e

“collective knowledge” (conhecimento coletivo), que é compartilhado entre os agentes em

contexto de anarquia.

Dessa forma, Wendt (1999, p.249) analisa como a Cultura pode ser construída em um

sistema anárquico (sem autoridade central), o que caracteriza três tipos de Culturas

Anárquicas: Hobbesiana, Lockeana e Kantiana. A Cultura Hobbesiana tem como essência a

visão do “Outro” como “inimigo”. A Cultura Lockeana faz prevalecer a visão de “Rival” e a

Kantiana, de “amigo”.

Porém, cada uma dessas culturas depende da postura dos agentes em relação de uns

para com os outros com respeito ao uso da violência (Wendt 1999, p. 257-8). A Cultura

Hobbesiana, então, será caracterizada pela “violência sem limites”, a destruição do Outro. A

Cultura Lockeana faz uso da violência para garantir certos interesses próprios, mas sem que

isso destrua o Outro. Já a Cultura Kantiana evita o uso da violência para resolver disputas

entre os agentes, facilitando a cooperação dos agentes diante de ameaças às suas seguranças

coletivas.

Espaço militar; atores militares? Sociedade Civil Global e o Bunker cinético do

Ciberespaço

É possível observar que existem mais de uma Cultura Anárquica presentes no atual

Sistema Internacional, embora possa-se identificar com mais facilidade a Cultura Lockeana,

realçada pela existência do direito internacional. Por mais que a visão tradicional sobre a

conjuntura da política internacional seja focada nos Estados (e pode-se dizer que também na

sociedade internacional), não se pode deixar de analisar o papel dos protagonistas

internacionais (NYE, 2009).

Nye (2009, p. 292) afirma que os protagonistas transnacionais conseguem influenciar

uma “mudança no sistema internacional”, principalmente no que se refere às questões

econômicas e sociais. Normalmente, há grande associação entre os protagonistas

transnacionais e as ONGs (Organizações Não Governamentais). Porém, de maneira mais

ampla, pode-se observar esses atores como pertencentes à Sociedade Civil Global.

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A Sociedade Civil Global, segundo Lage (2012, p.164), “é o espaço – imbricado com

outros espaços e contextos de atuação dos agentes não estatais, o espaço de resistência, de

movimentação social, de lutas por mudança”. Benessaieh (2011), acredita que, além de um

espaço, a Sociedade Civil Global englobe diversos canas de ações sociais transnacionais que

atravessam o nível local e nacional.

Kaldor et. Al (2005) acreditam que a Sociedade Civil Global seja um espaço que

indivíduos, grupos e organizações possam debater sobre assuntos públicos e exercer

influência política. Keane (2001) acrescenta que, além de diversas instituições e ONGs, há

também uma multiplicidade de estilos de vida envolvidos nesse espaço.

Os atores que exercem influência nesse espaço, por sua vez, podem ser vistos como

pertencentes aos elementos participantes dos “movimentos sociais, nacionalistas,

fundamentalistas, organizações não governamentais, corporações transnacionais, instituições

financeiras, grupos de cidadãos, grupos criminosos e terroristas, comunidades epistêmicas”

(LAGE, 2012, p. 165).

Dentro do estudo da Sociedade Civil Global, Lage (2012) propõe três críticas

normalmente associadas ao tema: (1) A ambiguidade do conceito; (2) A questão da

reconfiguração/transformação do Estado; e (3) os traços não democráticos da Sociedade Civil

Global.

Sobre as duas últimas formas de crítica, pode-se inferir que o Estado não pretende ser

substituído como protagonista na política internacional, mas se pretende reformar o modo

como ele se relaciona com o “espaço-político”. Quanto aos traços não democráticos da

Sociedade Civil Global, Lage (2012) defende a ideia de que seus espaços de atuação e seus

atores é que irão adaptá-la a uma realidade condizente com os objetivos dos atores

envolvidos.

Normalmente, de acordo com Keane (2001), a Sociedade Civil Global tem tendência a

não ser violenta, mas pela grande quantidade de atores debaixo dessa nomenclatura é possível

que alguns deles possam usar da violência como técnica de mudança. Pode-se perguntar se os

atores da Sociedade Civil Global podem transformar um espaço de influência política em um

espaço militar.

Sobre isso, Virilio (1994, p. 17) afirma que o campo militar “é sempre um campo de

ação, de duelos e de batalhas”. Virilio (1994) diz, ainda, que os especialistas militares tentam

usar suas tropas e o espaço de inserção em suas potencialidades máximas, assim como os

meios de comunicação e destruição.

Virilio (1994, p. 18) defende o pensamento de que os arsenais modernos estão cada

vez mais rápidos, e que as diferenças entre uns e outros diminui, mas essa homogeneização

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está ligada a uma última atualização: a miniaturização dos recursos militares e a

“cibernetização” do sistema. Como pode ser observado hoje, Virilio frisa que os campos

militares estão sob uma transformação radical, na qual a “conquista pelo espaço” não se refere

mais à conquista do “habitat humano”, mas a um “continuum that has only a distant link to

geographical reality” (VIRILIO, 1994, p. 18).

A velocidade agrega, no espaço militar, valor para os meios de comunicação e

destruição que conduzem uma transformação social secreta e permanente (VIRILIO, 1994).

Veículos e projéteis são apenas partículas que desenvolvem, interminavelmente, uma área

energética (energy’s area), que se utilizam da violência como meio de orientação. A violência

se torna uma energia que move, aumenta e sustenta a duração do espaço militar.

Assim, o “locus of violence, of its radiation and the conquest or remaining energies”

(VIRILIO, 1994, p. 20) se tornam vetores para uma maior violência, e logo, um novo modelo

de Cultura entre os atores envolvidos. Os usos dessas técnicas no espaço cinético, conforme

demonstra Virilio (1994), acarretam desequilíbrios entre os diversos atores no cenário político

mundial, sejam eles Estados ou protagonistas transnacionais.

Porém, conforme Virilio (1994) defende, a “cibernetização” faz com que esses atores

tenham suas capacidades de uso da violência mais equilibradas, tanto entre Estados como

entre a Sociedade Civil Global, fazendo o ciberespaço ter uma função de um bunker, um local

de proteção e de abrigo para elaborar uma nova estratégia de ataque. Assim, pode-se dizer que

o Ciberespaço, como locus anárquico (SILVA, 2013), também possui Culturas de Anarquia

que serão construídas em momentos distintos por diferentes atores, mas que coexistem num

mesmo “espaço”.

Ciberterrorismo: A face hobbesiana do ciberespaço

Pode-se entender pela pesquisa de Nalbandov (2012) que o terrorismo passou por uma

transição após os atentados do 11 de setembro. Antes, segundo o autor, o terrorismo era mais

focado em um caráter de mudança política e social, atrelado ao país em que os grupos

buscavam realizar essas mudanças. Agora, o terrorismo tornou-se irrestrito tanto ao que guia

seu pensamento ideológico quanto à questão dos limites territoriais, e focado na destruição do

sistema em que vivem para a construção de um novo.

Segundo Nye (2009, p.324), o terrorismo “é como o teatro e a competição por

audiência”, em que os terroristas buscam utilizar a força dos Estados, os principais atores na

Sociedade Internacional, contra eles mesmos. Assim, no “espaço-material”, os Estados e suas

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respectivas formas de governos são quem definem quem é um terrorista (NEHER, 2013, P.

79).

Os terroristas não considerados como atores legítimos pelos Estados, e muitas vezes

pela própria Sociedade Civil Global. Pelo seu caráter destrutivo e de desejo de construção de

uma nova ordem ou sistema, os terroristas se tornam atores de natureza hobbesiana e usam

essa lógica de cultura anárquica para internalizar seus valores tanto na Sociedade

Internacional como no Ciberespaço.

De acordo com Wendt (1999), a lógica de internalização hobbesiana possui três graus

distintos: o primeiro, no qual os atores envolvidos (na análise de Wendt, os Estados) seguem

determinadas normas, não porque concordam com elas, mas sim porque são obrigados a

segui-las; o segundo nível de internalização existe quando os atores obedecem às normas

porque elas buscam um interesse próprio, e não porque são legítimas; por fim, o terceiro grau

aceita as normas como legítimas, fazendo com que o “Outro” possa interagir na construção de

identidades do “Eu”.

Quando o terrorismo transitou do “espaço-físico” para o ciberespaço, acabou-se

criando uma maior dificuldade para as “forças da lei” identificarem e prevenirem os

terroristas e seus atentados (NALBANDOV, 2012, p. 91). Nisso, as mídias têm grande

influência, sejam elas apenas informativas ou mídias sociais (LIANG, 2015; GATTES;

PODDER, 2015; NEHER, 2013; ROGAN, 2007). Mais do que isso, o ciberespaço permite a

legitimação dos terroristas como atores protagonistas, colocando-os no mesmo nível de

Estados e demais atores.

Virilio (1994) permite interpretar que o ciberespaço possa ser um bunker

ciberespacial, as mídias (de informação e sociais) passam a ser um caráter de construção do

Outro, e logo, das Culturas de Anarquia. Como demonstra Liang (2015, p. 2), a internet vem

sendo tratada como espaço que pode amplificar em seu usuário características como “self-

radicalization” e “self-recruitment”, embora poucos paralelos entre o “espaço-material” e o

ciberespaço ainda possam ser feitos.

Liang (2015) defende a ideia de que a criação de novos terroristas no ciberespaço são

apenas complementos a tentativas de radicalização no “espaço-material”. De qualquer forma,

as mídias passam a fazer parte do bunker ciberespacial, em que a construção de informações

depende do continuum criado no “espaço-material”: a construção das Culturas Anárquicas na

Sociedade Internacional e de seus atores.

Assim, pode-se dizer que o bunker ciberespacial é formado por três camadas: a

primeira camada abrange aqueles que constroem a ideia no bunker. A segunda camada é

formada por aqueles que saem do bunker para interagir com outros bunkers (confronto ou

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cooperação diretos no ciberespaço). E a terceira camada se refere àqueles que saem dos

bunkers para o “espaço-material” e mudam a realidade da Sociedade Internacional, tanto para

a construção de novos conflitos como de novos processos de cooperação.

Levando em consideração a construção do bunker ciberespacial e dos graus de

internalização da lógica da cultura anárquica hobbesiana, pode-se entender que (I) os

terroristas aceitam as condições impostas pela Sociedade Internacional devido à falta de poder

bélico para confrontar diretamente o Ator Principal (O Estado). Daí a necessidade de

recorrerem ao bunker ciberespacial para que novas estratégias possam ser construídas em um

espaço que fornece proteção e anonimato a esses atores.

Quanto ao segundo grau de internalização da cultura anárquica hobbesiana e a

interação bunker versus bunker, pode-se entender que o uso do ciberespaço, ainda não

totalmente regulamentado pelo direito internacional (que garante a igualdade soberana aos

Estados), amplifica o raio de ação e a capacidade destrutiva dos grupos terroristas, já os

deixando independentes da capacidade bélica no espaço-material.

Por fim, quanto ao terceiro grau de internalização da cultura anárquica hobbesiana e a

possibilidade de um terrorista deixar seu bunker e agir no “espaço-material” é o que se pode

considerar como a construção de uma cultura hobbesiana na Sociedade Internacional, no qual

a guerra se torna uma shared idea (só existe uma guerra se os atores envolvidos pensarem que

estão em guerra), dando aos terroristas, subjetivamente, a legitimidade para combater e alterar

tanto os Estados, como toda a ordem da Sociedade Internacional.

Considerações Finais

Este artigo buscou trazer uma abordagem construtivista da estruturação dos ideais e

das práticas ciberterroristas. Através da abordagem construtivista de Alexander Wendt,

percebe-se que a instituição da soberania tem um valor que surge a partir da criação das

Culturas de Anarquia, divididas em Hobbesiana (caracterizando a guerra), a Lockeana

(rivalidade, mas respeito à existência) e Kantiana (Paz).

Muitas abordagens dentro das Relações Internacionais têm tentado demonstrar que

esta instituição, tão importante para o reconhecimento de um Estado, está perdendo seu valor

ou força. Foi proposto neste artigo que, em vez de se perder, a noção de soberania está sendo

transformada. Porém, mesmo que hajam formas de substituir essa noção devido à falta de uma

nova organização sistemática que venha a substituir os Estados, não se deve ignorar a

existência de outros atores no cenário internacional.

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Esses outros atores, caracterizados durante o artigo como pertencentes à Sociedade

Civil Global, podem alterar a realidade política, social, econômica e organizacional dos

sistemas nos quais estão inseridos. Por vezes, os membros da Sociedade Civil Global utilizam

da violência para gerar mudanças, a exemplo dos terroristas. A transformação de um espaço

em um campo militar gera implicações no uso dos poderes bélicos e dos meios de

comunicação.

Enquanto usuários das ferramentas disponíveis do ciberespaço, os terroristas

conseguem tanto se proteger como atacar seus alvos. Mais do que isso, o ciberespaço

amplifica o alcance desses grupos, influenciando a mudança (ou destruição) do atual sistema

para a construção de um novo. Logo, o ciberespaço é usado como uma zona de segurança,

tanto de ataque quanto defesa desses atores, assim denominada no artigo de bunker

ciberespacial, em referência aos estudos de Paul Virilio.

Por mais que o artigo tenha se limitado a tentar explicar a dinâmica do bunker

ciberespacial sendo utilizado por terroristas, vale ressaltar que outros atores (estatais e

transnacionais) também pertencem ao ciberespaço, e de acordo com a Cultura de Anarquia

criada por esses atores, outros bunkers ciberespaciais vêm a existir. Assim como Alexander

Wendt defende a existência de múltiplas culturas de anarquia num mesmo espaço, também se

pode apreende que há diferentes bunkers ciberespaciais interagindo ao mesmo tempo, cuja

existência dependerá simplesmente de quais atores sejam analisados.

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AS CULTURAS ANÁRQUICAS DO CIBERESPAÇO: UMA PERSPECTIVA

CONSTRUTIVISTA DO CIBERTERRORISMO

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AS CONSEQUÊNCIAS DA DROMOCRACIA E

A AUSÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO

SÓCIO-ECONÔMICO NA REGIÃO

AMAZÔNICA BRASILEIRA: DESAFIOS E

ENTRAVES SOB À LUZ DA TEORIA

CONSTRUTIVISTA DAS RELAÇÕES

INTERNACIONAIS CASTRO, Raylson Max da Silva

1

[email protected]

FERREIRA, Lygia Socorro Sousa2

[email protected]

RESUMO

O presente artigo irá descrever como a Dromocracia, conceito criado originalmente pelo civil francês

Paul Virillo, serviu como base para essa produção de conhecimento, com o intuito de compreender a

região da Amazônia Brasileira; descobrir o porquê desta região ser considerada “dromoinapta” no

quesito de desenvolvimento socioeconômico ao levar em consideração as outras regiões do Brasil. O

arcabouço histórico da região amazônica brasileira mostra o descaso e a ausência de ações de inclusão

de desenvolvimento, desde a metade do século XX, e que reverbera nos dias de hoje. Em seguida,

busca-se uma análise, sob à base da Teoria Construtivista, visões de conceitos, que dentro das teorias

positivistas não eram inseridos, questões como: a cultura, economia sustentável, segurança humana, e

entre outros conceitos que concerne o fenômeno social e, a partir deste ponto, discutir juntamente

entre Dromocracia e Teoria Construtivista das Relações Internacionais os desafios e perspectivas do

desenvolvimento da região.

Palavras-Chave: Dromocracia. Amazônia. Teoria Construtivista. Relações Internacionais. Brasil.

ASBTRACT

This article will describe how dromocracy concept originally created by the French civil Paul Virillo

(1977), was the basis for this article seeks to understand the region of the Brazilian Amazon; discover

why this region is considered "dromoinapta" in the category of socio-economic development to take

into account the other regions of Brazil. The historical framework of the Brazilian Amazon region

shows the indifference and lack of development inclusion initiatives since the mid-twentieth century,

and that reverberates today. Then search an analysis, on the basis of Constructivist Theory, visions of

inserted concepts, that within the positivist theories were not entered, issues such as: culture,

sustainable economy, human security, and among other concepts concerning the phenomenon social

1Acadêmico do 6º semestre do curso de Bacharelado em Relações Internacionais pela Universidade da

Amazônia – UNAMA. Contato: [email protected]

2Doutoranda em Comunicação e Semiótica - PUC-SP. Professora Adjunta dos Cursos de Relações

Internacionais, Comunicação Social e Administração – UNAMA. Professora Adjunta do Curso de

Comunicação Social - FAPAN-FAPEN. Professora Colaboradora - UFRA-Pa. Contato:

[email protected]

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AS CONSEQUÊNCIAS DA DROMOCRACIA E A AUSÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO NA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA: DESAFIOS E ENTRAVES SOB À LUZ DA TEORIA CONSTRUTIVISTA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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and, from this point, discuss together between dromocracy and Constructivist Theory of International

Relations challenges and prospects of the development of the region.

Keywords: Dromocracy. Amazon. Constructivist Theory. International Relations. Brazil.

1. Introdução

Ao falar dos efeitos da Globalização pós Guerra Fria, são notórias as transformações

rápidas no mundo, em vários conceitos, tanto na área política, econômica, social, segurança e

entre outros, dado como uma nova era, de um novo sistema cada vez interligado nas suas mais

diversas variáveis e que vinha para ficar como modelo de desenvolvimento e crescimento de

uma determinada região, de um determinado estado-nação no Sistema Internacional. Porém,

mesmo diante de uma crise política, social e econômica nos dias de hoje, o capitalismo parece

não ter força para suprir e superar essas crises para um melhor desenvolvimento nessas

esferas.

Na região amazônica Brasileira, uma das biodiversidades mais ricas do mundo, a

“sensação” de globalização parece paulatinamente ganhar presença na região, porém, essa

mesma “sensação” de globalização parece separar do restante de outras regiões do Brasil, uma

vez que, seu contexto histórico mostra como a região não tem prioridade ou se tem, é uma

prioridade mínima para discutir e debater sobre desenvolvimento socioeconômico na região.

As políticas voltadas para o modelo de desenvolvimento dos governantes da época, ao se

referir no arcabouço histórico, serviu como análise para discutir de como o desenvolvimento

agora, pós-guerra fria, encontra-se ainda em desafios de desenvolvimento humanístico na

população amazônida.

O artigo presente pretende objetivar através do arcabouçou histórico Pós- Guerra Fria

a Região Amazônica que será analisado através do prisma da Dromocracia e da Teoria

Construtivista das Relações Internacionais o porquê que o desenvolvimento – se chegou, foi

mínimo e não supri a necessidade dos cidadãos -, não chegou à região, onde essa região, é

uma das mais ricas em biodiversidade do mundo, e como o governo federal, muita das vezes

não prioriza e não discute ações sérias para um modelo de desenvolvimento para a população

local.

Estas abordagens são cruciais para entender-se o presente desta região, analisando o

passado, através de conceitos novos como a Dromocracia e que implicam diretamente no

campo de estudo das Relações Internacionais Contemporâneas e que serve como futuros

reflexões de solucionar um problema que se é antigo.

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RAYLSON MAX DA SILVA CASTRO

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O artigo proposto será dividido em três tópicos e sub-tópicos além da conclusão. O

primeiro analisará, em um contexto histórico, a inclusão e exclusão da Região Amazônica

Brasileira e mostrar, resumidamente, o modelo de desenvolvimento antes pós-guerra fria,

aprofundar pós-guerra fria até chegar os dias atuais. Em seguida, faz-se uma análise da

Dromocracia como papel de vetor de velocidade na questão social, cultural e espacial e os

conceitos da Teoria Construtivista das RI’s que implicarão na análise desse artigo. E por fim

os dois conceitos (Dromocracia e Teoria Construtivista) que implicaram como forma de

descrever os problemas e futuras reflexões de soluções de problemas no conceito de

desenvolvimento sócio-econômico na região da Amazônia Brasileira.

2. A Política Externa Brasileira e a reverberação nas políticas para a região da Amazônia

Brasileira Pós-Guerra Fria: Contexto Histórico e efeitos da Globalização

Para poder entender o porquê da Globalização não chegar de forma rápida na região da

Amazônia brasileira, onde a globalização daria um norte para o desenvolvimento

socioeconômico adequado, mas nos demais estados e regiões do Brasil chegou este

desenvolvimento, principalmente na região centro-sul, é preciso olhar para trás, em seu

arcabouço histórico, como a região da Amazônia brasileira soube lhe dar com este novo

fenômeno e os avanços e desafios para superar esses gargalos socioeconômicos.

O artigo analisará o contexto histórico da região amazônica brasileira, bem como os

presidentes no período de seus mandatos, e como as políticas externas adotadas pulverizaram

o desenvolvimento na região amazônica, onde as transformações no mundo estavam passando

por tranformações pós guerra fria. Em seguida, serão apresentados os conceitos

epistemológicos da Teoria Construtivistas das Relações Internacionais, da Dromocracia e a

análise sob os prismas dessas teorias das ações dos governos no período do Governo Sarney

até o Governo Lula.

A região que detém da floresta amazônica, a chamada Pan-Amazônica compostos

pelos países sul-americanos (Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Brasil, Guiana, Guiana

Francesa e Equador) é, de fato, um dos biomas mais grandiosos do mundo. Porém, o Brasil,

possui a maior parte da Amazônia (61%), onde o tamanho é proporcional a tamanho de países

europeus, como Alemanha e França, por exemplo. (Ministério da Defesa, 2013).

A Amazônia Brasileira, desde o seu contexto histórico e político, foi vista como área

de integração do Brasil. A Política Externa é vista e adotada como política pública e também

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AS CONSEQUÊNCIAS DA DROMOCRACIA E A AUSÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO NA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA: DESAFIOS E ENTRAVES SOB À LUZ DA TEORIA CONSTRUTIVISTA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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não deve deixar de ser discutido, uma vez que, essas políticas externas reverberam como

políticas domésticas também na região amazônica brasileira.

2.1 As atividades da Política Externa Brasileira no período Pós Guerra Fria e as

políticas internas voltadas para Amazônia entre os anos de 1985 a 2010.

Para Cristina Pecequilo, quando avaliamos a evolução das Relações Internacionais do

Brasil, percebemos que a política externa envolve duas tradições, que foram ajustadas,

variadas e alternadas ao longo da história devido as transformações sociais, econômicas e

políticas pelas quais o Brasil passou: a bilateral-hemisférica e a global multilateral. Tais

tradições correspondem aos padrões de açãoes e valores compartilhados pelo Brasil no

sistema internacional diante de seus parceiros e estão associados aos eixos norte e sul além

das visões de primeiro e terceiro mundo. (Pecequilo, 2012)

A tradição Bilateral-Hemisférica dominou o campo diplomático de 1902 a 1961

etemos como prioridade na ação diplomática dois focos: EUA e cone sul. E relacionado ao

intercâmbio preferencial com Estados Unidos são cunhados os termos de alinhamento

pragmático e automático que se referem à forma de como o Brasil construiu sua relação com

este país, com uma política de barganha ou concordância e relativa subordinação-benefício

das iniciativas norte-americanas. (Pecequilo, 2012)

A Corrente global-multilateral substitui o primeiro padrão, expandindo as parcerias

além do hemisfério para sustentar as transformações domésticas do Brasil em um país de

porte médio definidas pela Política Externa Independente (PEI). (Pecequilo, 2012)

Para Amado Luiz Cervo os países abrigam sempre suas políticas externas e seu

modelo de inserção internacional dentro de paradigmas, sendo assim no Brasil temos tr^s

paradigmas. (Cervo, 2011)

O paradigma desenvolvimentista (1930-1989), momento no qual a depressão atingiu

os países capitalistas avançados e os jogaram no protecionismo e soluções nacionalistas. O

Brasil e América Latina mostraram grande dinamismo econômico e finalmente encontraram o

caminho ao mundo moderno. A sociedade ficou mais complexa. O país foi construído durante

essa fase, com forte industrialização e crescimento econômico em um modelo de inserção

internacional que durou 60 anos. (Cervo, 2011)

O segundo paradigma, chamado normal / Neoliberal (1990-2002), foi o momento de

abertura dos mercados, liberalização da economia, privatizações e retrocesso. Diante disso, o

ponto mais importante foi a total resignação em adotar fórmulas elaboradas nos países

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avançados. O termo normal é mais apropriado porque foi o desejo do Brasil naquele

momento, ou seja, ser normal e estar atualizado com a última moda. (Cervo, 2011)

O terceiro paradigma, chamado de paradigma estado-logístico, deu início a partir do

ano 2000 onde encontramo perdura até os dias de hoje. Trata-se de um entendimento do

contexto internacional e reserva ao Estado a função de estrategista e não motorista. Em

verdade, traz para o Brasil o modo como os Estados Unidos fazem política exterior. Defesa do

interesse nacional, apoio às indústrias e disponibilização da infraestrutura necessária para o

empreendimento de uma nova inserção internacional. (Cervo, 2011)

Segundo Pecequilo (2012) e Cervo (2011), no final do governo José Sarney (1985-

1989), pós Guerra Fria, ainda era de um modelo de paradigma desenvolvimentista com perfil

Global Multilateral, ou seja, a crise econômica e a instabilidade interna também no campo

político, reverberaram na ausência de políticas voltadas para a região da Amazônia na época.

A tentativa da criação do Ministério Extraordinário para o Desenvolvimento e

Reforma Agrária (Mirad) no governo Sarney, o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária) criado em 1970, extinto em 1987, depois ressurgi em 1989 através do

Congresso Nacional, porém apresentando falhas e/ou estagnações devido à ausência de

investimentos financeiros e político no órgão, o que deixou praticamente parado. (José

Sarney; Ministério do Desenvolvimento Agrário – 2011, 2012)

Em seu mandato, Fernando Collor de Mello (1990-992) que buscou, através do perfil

bilateral juntamente com o Paradigma Neoliberal, promover a ascensão do País através de um

realinhamento com os Estados Unidos com implementações, sob à luz do consenso de

Washington, de privatizações, diminuição do estado, abertura econômica,

desregulamentação.) e que acabou não agradando a sociedade brasileira naquela época, e pois

fim seu mandato resultado de um impeachment. (Cervo; Pecequilo, 2011-2012)

Com abertura econômico, muitas ONG’s entraram massivamente em vários

ministérios no período de seu governo, principalmente, no que diz respeito ao conceito de

meio ambiente, porém foi inexpressivo na região amazônica. (INPA, 2011)

Itamar Franco (1992-1994) também adotou o paradigma e perfil similar de modelo de

Política Externa de José Sarney, porém com uma ressalva: estabilizou os efeitos negativos de

Fernando C. de Mello além de política de regionalização ser solidificada como a continuidade

do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e políticas voltadas para o âmbito regional. (Cervo;

Pecequilo, 2011-2012)

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AS CONSEQUÊNCIAS DA DROMOCRACIA E A AUSÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO NA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA: DESAFIOS E ENTRAVES SOB À LUZ DA TEORIA CONSTRUTIVISTA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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O ex-presidente, ainda sob o viés da cooperação como forma de integração de uma

américa latina sólida no sistema internacional, reforçou o tratado Amazônica em 1978, ainda

no período militar, como um tratado que serviu de espelho para uma solidificação de união

dos países latinos americanos. O tratado serviu também como forma de se “comunicar” com

os países que fazem fronteiras com a região amazônica, porém, o desenvolvimento

socioeconômico, estava em passos curtos diante da globalização que estava emergindo

fortemente no sistema internacional daquela época. (FUNAG, 2008)

No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso 1995-1999 foi adotado o perfil

bilateral hemisférico e ainda sob o prisma neoliberal, as ações brasileiras, somadas a

Diplomacia presidencial, consistiram-se da retomada da implementação e de projetos de

privatizações; no segundo mandato do Pte. FHC (1999-2002), houve uma crítica ao perfil da

Globalização, onde teve autonomia pragmático e que levou uma prática de globalização

solidária, que dividisse os benefícios da interdependência, com atenção aos custos sociais.

(Cervo; Pecequilo 2011-2012)

É notável a geografia física do espaço da região da amazônica brasileira como motor

de alocar famílias brasileiras neste espaço. Os modelos de aquisições de terras,

desapropriações, como meta de alcançar mais de 270.000 famílias foi um ensaio do

despreparo do governo nos dois períodos, tanto como desenvolvimento econômico e social. A

sustentabilidade, um novo modelo que já estava presente no sistema internacional desde

aquela época, não foi usada como forma de desenvolvimento humano, por questões

tecnoburocráticas do governo federal, para assim dar o desenvolvimento na região, onde olhar

humanístico estava ausente nessa população, onde 15% da população brasileira estavam em

55% do território do Brasil. (Tourneau; Bursztyn, 2010)

A Região Amazônica, tanto em âmbito brasileiro como dos países compostos pela área

da floresta amazônica, além de sofrer com atrasos em obras no que tange a desenvolvimento

sustentável, chegou a ser bastante questionada no por outros países fora dessa região no

período pós-guerra fria. Devido à ausência de políticas sólidas na região, os interesses de

outras nações passaram a ser notórias no bioma, pois questionava-se a ausência de soberania

dos países da região para dar uma melhor qualidade de vida para a população pan-amazônica

e a questão em si de cuidar da floresta. Um dos episódios mais conhecido, no que tange a

questão de Internacionalizar a Região Amazônica, é de que os países não seriam capazes de

aplicarem políticas sociais voltadas para o desenvolvimento sustentável humano na região.

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RAYLSON MAX DA SILVA CASTRO

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"Como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia.

Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio,

ele é nosso. Como humanista, sentindo e risco da degradação ambiental que sofre a

Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais

que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista,

deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do

mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto

a Amazônia para o nosso futuro(...) Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a

internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve

pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças

produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o

patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um

proprietário ou de um país(...) Como humanista, aceito defender a

internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro,

lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa." (Cristóvam Buarque, 2007).

Já no século XXI, o presidente Luis Inácio Lula da Silva (2002-2010) continuou seu

desenvolvimento pragmático com estado-logístico, perfil multilateral global, que se deu ao

início de uma nova era dos Eixos Combinados. (Cervo; Pecequilo, 2011-2012)

Deu continuidade ao processo de substituição do bilateralismo dos anos 1990 por uma

versão atualizada do eixo global-multilateral. Na escala de prioridades da política externa, o

eixo horizontal de parcerias Sul-Sul, ligadas à tradição global multilateral surge no topo da

agenda, refletindo a recuperação da identidade nacional como um país de Terceiro Mundo. Os

eixos não somente se combinam, como se complementam, agregando assertividade e

confiança à diplomacia, que amplia suas alternativas e possibilidades de ação internacional.

Em seu primeiro mandato (2002-2005), o ex Pte. assumiu com o propósito de ser um

global player, com sua Política Externa mais agressiva, elevando os BRIC’s, adotando

políticas humanísticas em âmbito internacional, ascendendo o desenvolvimento com

respaldos econômicos, com cooperação entre EUA-Brasil, porém sem alinhamento

automático com os norte-americanos, superando gargalos econômicos devido suas políticas

sob à ótica de uma Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana –

(IIRSA) como instrumento de política no território brasileiro. Uma maior fluidez, através da

multilateralização, se dar na política externa brasileira com um enfoque de desenvolvimento

que reverbera na política doméstica.

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AS CONSEQUÊNCIAS DA DROMOCRACIA E A AUSÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO NA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA: DESAFIOS E ENTRAVES SOB À LUZ DA TEORIA CONSTRUTIVISTA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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No seu segundo mandato, Lula (2006-2010) se validou em seus eixos combinados,

multilateralizando-se relações com diversos países do globo, e tornando-se mais ainda a

política externa como política pública. (Cervo; Pecequilo, 2011-2012)

O Plano Amazônia Sustentável (PAS) com a tentativa de organizar e dar diretrizes as

políticas para uma Amazônia legal conjunta com governadores do estados da região norte do

país, porém estagnado entre os anos de 2003 e 2007 e só foi dado o “start” em 2008

(Ministério do Meio Ambiente). As duas fases do Plano de Ação para Prevenção e Controle

do Desmatamento na Amazônia Legal – PPCDAM com o intuito de reduzir índices de

desmatamento na região (Planalto, 2004), além das quatro fases do Plano Pluri Anual (Mdic;

Ministério do Planejamento; Planalto, 2009 – 2010 – 2011) foram fatores que levaram a

pulverização de ganhos sociais através dessas políticas voltadas para o desenvolvimento.

As questões da Política Externa Brasileira, por ser cada vez mais multilateralizada

fortemente em seu governo, fez com o que o desenvolvimento social, chegasse na

aplicabalidade em políticas domésticas na população da região amazônica.

O envolvimento da região amazônica nesse contexto traz as questões de modelos

desenvolvimentistas sustentáveis, uma vez que, resultados anteriores, onde a política

doméstica não estava dando certo para o desenvolvimento da população na região amazônica

brasileira, as questões agrárias, fundiárias e outros conceitos que mexeram diretamente na

sociedade da região amazônica, foram catalisadores para os conflitos por terras naquela

época. As políticas internas adotadas nos governos anteriores serviam apenas para

desenvolvimento de segurança territorial, com assentamentos humanos irregulares dessa

sociedade e à segurança humana desses civis brasileiros na região foram totalmente

ignorados.

“Tudo isso denota a carência de um modelo de desenvolvimento regional que saiba

integrar as instâncias econômicas, políticas, culturais, ambientais e agrárias do

processo de transformação social da região. O resultado disso tudo são programas

fragmentados, com múltiplas ações desconexas entre si e que não focam a promoção

e a conquista de direitos e, por isso, caracterizam-se por serem clientelistas e

paternalistas, reafirmando ainda mais o tipo de política pública que vem sendo

implementada na região desde a época do descobrimento do país.” (Mário Tito,

2013)

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RAYLSON MAX DA SILVA CASTRO

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3. Dromocracia e Teoria Construtivista das Relações Internacionais: conceitos

epistemológicos

A Dromocracia, do francês Paul Virilio (1977), conceito este de duas palavras gregas

(dromo = velocidade e cratós = poder), busca exatamente explicar como a velocidade é um

fator de fenômeno social, explicitado em sua obra “Velocidade e Política”, e que a região

amazônica, o efeito da globalização e do desenvolvimento socioeconômico pós-guerra fria,

não chegou de forma expressiva, comparado a outras regiões do Brasil, tornando-se

“dromoinaptos” nessa questão de desenvolvimento e que não foram capazes de manipular o

vetor da velocidade e não tornando-se “dromoaptos”.

A Teoria Construtivista das Relações Internacionais, uma das teorias que analisará, a

partir dos pressupostos da virada linguística de Anthony Giddens, conceitos que na época de

1930-1980, onde as teorias positivistas das Relações Internacionais (também conhecida como

debate Neorealista x Neoliberalista) ganhou destaque por um bom tempo, pois, essas dois

prismas pincelaram as relações internacionais em suas respectivas épocas. Emanuel Adler

(1997) e Alex Wendt (1987) serão as bases para se buscar uma resposta válida para a situação

na Amazônia brasileira.

Neste tópico, será abordado como esses dois conceitos atuais e contemporâneos no

campo de estudo das ciências sociais e que claro, perpassa pelo campo das Relações

Internacionais tem a ver com o tema proposto. Por um lado está um conceito da velocidade e

poder, a Dromocracia, que advém do francês Paul Virillo (1977) e que se é estudado e ganha

força no Brasil através do professor Eugênio Trivinho.

3.1 Dromocracia: o efeito colateral da Globalização.

Um dos selos da contemporaneidade é a velocidade. A dromocracia, palavras de duas

origens gregas: dromos (velocidade) e cratós (poder). É o imperador da velocidade, que dar o

norte do ritmo da vida do ser humano e da sociedade em geral. O francês Paul Virilio,

sociólogo é o autor que mais refletiu sobre este conceito, em especial em sua obra

“Velocidade e Política”, de 1977.

Vivemos na era do glocal, segundo o sociólogo, pois um misto do local e do global,

sem se reduzir a tais. Ele diz que ultrapassa os conceitos globalistas e regionalistas, definindo

o tradicional conceito de sociedade e estados nacionais fronteiras que definem.

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AS CONSEQUÊNCIAS DA DROMOCRACIA E A AUSÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO NA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA: DESAFIOS E ENTRAVES SOB À LUZ DA TEORIA CONSTRUTIVISTA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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Paul Virilio aborda que a velocidade organizou, na política, a vida social, cultural e

histórica. Na dromocracia há duas vertentes: "dromoaptos" e "dromoinaptos". São

questionados na medida em que dominam o fator da velocidade. Pode se dizer, que a

globalização é atingida em uma determinada região mais facilmente se detém esses vetores e

são mais velozes, nesse caso, os dromoaptos.

Eugênio Trivinho, pesquisador da PUC – SP, um dos maiores influentes nesta área, ele

diz que vivemos na dromocracia cibercultural. É uma definição de conceito muito

tendenciosa para entender como funciona a relação no sistema internacional atual. Pode se

entender, que os atores mais “dromoaptos” em quem domina a tecnologia ciberespacial, têm

fortes indícios de dominar também as relações no âmbito internacional e conseguir moldá-las

de acordo com seus interesses.

3.2 As Teorias Pós-Positivistas nas Relações Internacionais: A Teoria Construtivista

Ao longo da década de 1950, especialmente do advento da bipolaridade da guerra fria,

as ciências sociais passaram a ser dominadas pelos pensamentos norte-americanos. A

sociologia pensava em um modo europeu e um determinado momento passou a ser dominada

pelos americanos.

O consenso ortodoxo em que Anthony Giddens (1992), diz que, toda o pensamento de

uma sociadade, vai se dar a partir do paradigma estruturalista e positivista, onde a

mentalidade do povo americano é designado como matematizado, da causa, da comprovação,

ou seja, do pragmatismo-estruturalista-positivista. Ao falar de positivismo, é falar algo

matematizado. (Sarfati, 2005)

O conceito da “Virada Linguística” é quando as ciências sociais matematizadas

passam a ser vistas como ciências sociais mutáveis, pois ela é construída pelo consenso das

pessoas. As ideias dos paradigmas pós-positivistas são definidas como uma contínua

construção, onde, por exemplo, o sistema não é inexoravelmente estruturalmente anárquico,

para os pós-positivistas será definido na medida em que os atores agem para ser assim.

(Sarfati, 2005)

Na década de 80, as teorias positivistas não conseguiam explicar a realidade na sua

totalidade e não considerava outros elementos fundamentais no mundo pelo fato de

considerarem elementos quantificáveis. A base das leis das físicas foram estabelecidas nas

ciências sociais. (Sarfati, 2005)

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Para os pós-positivistas, não existe um mundo independente dos fenômenos. Não pode

descrever nada sobre a realidade se não tiver envolvida nela. A linguagem foi construída

socialmente. Não existe também, um mundo objetivo dos fenômenos separados do mundo

subjetivo do sujeito. Pois o primeiro é a parte da própria interpretação do segundo. Não é

possível a descrição fidedigna de uma realidade, pois a verdade não existe exatamente e que

nada de existente é neutra de interesses.

“Todo o ponto de vista, é a vista de um ponto.” (Leonardo Boff, 1997)

Após esses conceitos básicos no final da guerra fria e a questão de mudança nas

Relações Internacionais, podemos compreender o conceito da Teoria Construtivistas das

Relações Internacionais.

Para essa a teoria, a realidade social e o conhecimento da realidade são produtos de

uma permanente construção, onde os agentes estão em uma contínua mudança e que não

possuem identidades devido à mudança contínua. Mas eles possuem uma identidade

relacional, onde é definido a identidade dependendo da relação.

A estrutura não é, ela está sendo porquê os agentes estão sendo o resultado das

relações dos agentes onde, por exemplo, a realidade social é fruto de uma construção histórica

e que, uma vez o mundo produzido pelo homem, a realidade é subjetiva, todos se

introjectaram socialmente. O mundo é objetivado, e todos socialmente construíram a realidade

do mundo.

Três fatores que determinam esse pensamento:

1 – As escolhas: a realidade é fruto das escolhas. O sistema internacional é fruto das

escolhas dos agentes devido as funções dos valores que estão em jogo.

2 – O sistema internacional é moldado pelas identidades dos agentes. Identidades

relacionais

3 – Tudo foi construído socialmente. Existe uma construção social de algo. Exemplo

do conceito soberania.

Sendo assim, os construtivistas criticam os positivistas (idealistas e realistas) porque

eles reduzem a realidade por condições materiais. Os construvistas vão além e afirmam que

mais do que isso, a realidade é formada por condições imateriais, situações abstratas e que

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tem papel preponderante no sistema internacional. Adler (1997) diz que o construtivismo é o

meio termo entre positivistas e pós-positivista, mas critica os positivistas, por ter reduzido a

análise da realidade por condições materiais, restritas e, ao mesmo tempo, levanta as

condições do sistema internacional por estados. Adler não nega os avanços positivistas, mas

essas teorias negam outros aspectos que são relevantes no mundo contemporâneo.

Wendt (1987), diz que a Anarquia, um dos conceitos em que Waltz (1979) usa, não é

algo existente, anteriormente aos estados. Pelo fato dos estados, nas suas relações entre si,

eles geram ou não geram anarquia dependendo do momento e do nível da relação entre várias

identidades.

As premissas construtivistas podem classificadas em três colocações pontuais (Wendt,

1994):

I – Constituição mútua de agentes e estruturas. Os agentes são condições de que

alguém tem vontade própria para determinar/influenciar a relação dos outros e, quando há

uma relação entre os agentes, eles geram uma estrutura. A estrutura é o resultado da relação

entre os agentes, mas, ao mesmo tempo, a estrutura é aquela que condiciona, que influencia

no comportamento dos agentes. Os agentes modificam a estrutura e a estrutura modifica o

agente em um processo de retroalimentação continuada. (Wendt, 1992)

II – Compreensão de condicionalidade das estruturas não-materiais sobre as

identidades e interesses dos atores. As condições não materiais (Crenças, Normas, Valores,

Ideias e o papel do Líder) molda uma identidade dos atores. Pra moldar os interesses, o modo

de como eles agem(atores), é preciso levar as condições das estruturas não-materiais.

Dependendo do interesse, os agentes vão se mutabilizar. O interesse de um estado depende

desses fatores para que se molde uma estrutura.

III – A importância Equitativa, ou seja , de mesmo nível entre estrutura normativas e

materiais, ambas moldam o comportamento dos atores internacionais e esta interação entre os

atores que constroem os interesses e as preferências destes agentes se são por dois motivos:

dependendo dos interesses, dependerá da interação e que dependerá do momento da relação.

As identidades precedem os interesses, pois sua identidade ela é relacional.

4. Análise

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Os dois conceitos apresentados são fatores preponderantes para o projeto de análise do

tema da ausência de desenvolvimento sócioeconômico. A Dromocracia, segundo Virillo

(1977), que traduz uma era da velocidade e que organizou nas áreas culturais, econômicas,

políticas, históricas não se enquadrou na região amazônica brasileira. Na era pós-guerra fria,

por questões de “dromoinaptidão” devido a ausência de políticas voltadas para o

desenvolvimento humano na Amazônia e sim, como um desenvolvimento exploratório, onde

as questões de políticas domésticas de securitização e integração da região a “qualquer custo”,

impactou na sociedade da região.

Outra reflexão bastante pertinente, são as ações das identidades dos perfis dos líderes

(papel dos presidentes) em cada mandato de governo citado neste presente artigo, e que

nenhum presidente foi capaz de desenvolver políticas sólidas, por exemplo, de

desenvolvimento sustentável na região, acabando não valorizando a população dessa região

em uma ótica humanística qualitativa, como no restante do país.

A contribuição da Teoria Construtivistas das Relações Internacionais nesse tema,

implica em dois fatores:

Primeiro, a comunidade epistêmica como um fator catalisador nesse processo de

desenvolvimento socioeconômico na região. Segundo Adler e Hass (1992), as comunidades

espistêmicas tem um papel fundamental para envolver, desenvolver assuntos internacionais e

que se pode desenvolver em âmbito interno para futuras negociações, por exemplo. A questão

dessas comunidades, fazem com que chame a atenção do estado, para que sejam tomadas

medidas contundentes para pôr em práticas modelos de segurança humana desenvolvimentista

no aspectro da população amazônida como uma referência mundial.

“Dessa forma, vemos que a construção de boas práticas depende do estabelecimento

de razões práticas, ou seja, de uma validação epistêmica sobre o que seria o correto

diagnóstico de um problema e sua solução.” (Gilberto Sarfati, 2005)

E segundo, pelo papel do Líder que, de acordo com os perfis e paradigmas da Política

Externa Brasileira adotados em cada período do governo Pós Guerra-Fria até o fim do

mandato do Governo Lula em 2010, mostrou-se claramente que as personalidades dos líderes

mudaram de acordo com seus interesses e que a identidade relacional foi um fator de

“desordem” na política externa brasileira, pois, mesmo mudando de alinhamentos automáticos

e pragmáticos, a política doméstica de desenvolvimento não eram fortes para a região

amazônica pois, não se via um modelo humanístico de desenvolvimento e sim, de

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assentamento humano na região à qualquer custo. As identidades dos perfis dos líderes foram

frágeis ou não buscaram uma solução inovadora diante do cenário amazônico de conflitos de

terras e reformas agrárias.

5. Considerações finais

O artigo mostrou claramente como as mudanças na Amazônia, de acordo com os

efeitos da Globalização, mesmo com a política externa branda, ganhando novas formas de

desenvolvimento, e suas políticas domésticas voltadas na região Amazônica brasileira, ainda

sim, tantos anos se passaram, a região continua dromoinapta em sua questão socioeconômica

do restante das demais regiões do país.

É certo que mudança na política de meio ambiente adotadas pelos países em âmbito

global, pode resultar em mundo melhor para todos no Sistema Internacional através da

governança global. Quando se olha para o Brasil, as medidas tomadas na arena internacional,

onde os países tentam buscar e passar a imagem de um país pacífico e esta disposição para

combater os efeitos colaterais do meio ambiente, se questiona o porque de não adotar medidas

agressivas de desenvolvimento na Amazônia, como se tem aptidão em âmbito global.

A Amazônia Brasileira é pobre e rica ao mesmo tempo, mas, para tornar-se equitativo

a relação de “ganha-ganha” é preciso que os futuros líderes presidenciais, olhem com muito

mais atenção pois, caminhar com o futuro da população, tanto na região amazônica brasileira

quanto na região pan-amazônica, é caminhar também com a biodiversidade mais rica do

planeta.

6. REFERÊNCIAS

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Amazônia: Desafios e Perpectivas. Julho de 2013. Disponível em:

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RAYLSON MAX DA SILVA CASTRO

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A DIPLOMACIA NAVAL: UM ELO DA

POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA COM A

POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL NO

SÉCULO XXI TORRES, José Gilberto Quintero

1

[email protected]

RESUMO

Neste artigo se apresenta um estudo sobre o emprego da Diplomacia Naval brasileira, visando

a atingir objetivos políticos e não militares como decorrência da interação da Política

Nacional de Defesa com a Política Externa, levando em conta a projeção internacional do

Brasil neste século, sob a égide da Estratégia Nacional de Defesa. Parte-se da exposição de

conceitos sobre o convívio da Política Externa com a Diplomacia e de apreciações nocionais

sobre o Poder Naval e a Diplomacia Naval no esquema realista, para dar-lhe o arcabouço

explicativo à convivência de tais políticas no século XXI. Para efeitos do desenrolamento do

Trabalho se conduziu uma investigação de caráter exploratório e qualitativo. Os dados foram

coletados através de pesquisa bibliográfica e documental selecionados pela conveniência e

acessibilidade. As informações foram tratadas pela análise de conteúdo, revelando que existe

uma estrutura jurídico-institucional que, em tese, poderia facilitar internamente a relação

assinalada; no entanto, parecesse existir uma tendência das burocracias militar e diplomática,

a agir de jeito estanque ao tratar temas de defesa internacional. Por fim, se propõem maneiras

e ações a cumprirem-se no desenvolvimento da interação de ambas as políticas tendo, como

instrumento comunicador à Diplomacia Naval em prol de atingir os interesses nacionais.

Palavras-chave: Relações Internacionais. Política Internacional. Política Externa. Diplomacia

Naval. Poder Naval.

ABSTRACT

This article presents a study on the use of Brazilian Naval Diplomacy, in order to achieve

political and not military objectives as a result of the interaction of the National Defence

Policy with the Foreign Policy, taking into account the international projection of Brazil in

this century under the aegis the National Defense Strategy. It starts with the exhibition

concepts about the living with the Foreign Policy and Diplomacy of notional assessments on

naval power and Naval Diplomacy in realistic scheme, to give you the explanatory framework

for coexistence of such policies in the twenty-first century. For the purposes of Labour

1 JOSÉ GILBERTO QUINTERO TORRES. Contra-Almirante da Armada de Venezuela (na reserva). Doutor

em Ciências, menção Ciências Políticas (Universidade Central da Venezuela, 1999), Magister Scientiarum em

Relações Exteriores (Instituto de Altos Estúdios Diplomáticos Pedro Gual, Venezuela, 2002). Professor Titular

da Universidade da Amazônia (UNAMA) em Relações internacionais. - [email protected]

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A DIPLOMACIA NAVAL: UM ELO DA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA COM

A POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL NO SÉCULO XXI

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unwinding it conducted an exploratory qualitative research. Data were collected through

bibliographical and documentary research selected by convenience and accessibility.

Information was treated by content analysis, revealing that there is a legal and institutional

framework that, in theory, could facilitate the internally marked relationship; however,

seemed to be a tendency of diplomatic and military bureaucracies to act in a watertight way

when dealing with international defense issues. Finally, they propose ways and actions to

fulfill in the development of interaction both with policies such as communicator instrument

to Naval Diplomacy towards achieving the national interests.

Keywords: International Relations. International policy. External politics. Naval diplomacy.

Naval Power

A INTERAÇÃO DA DIPLOMACIA E A POLITICA EXTERNA

DO ESTADO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

As ligações e o convívio entre os integrantes das unidades políticas com os seus pares

além das suas divisas têm existido sempre, desde que se formou pela primeira vez uma

sociedade humana como resposta à característica básica do gregarismo do homem. Destarte, e

tal como o assinala KRIPPENDORFF (1985, p. 24), “as tribos pré-históricas estabeleceram

relações com seus vizinhos, os impérios de princípios da história se comunicavam com os

povos confinantes, e as repúblicas gregas o faziam entre si”. Esse tipo de relações seguia um

padrão de conduta que delimitava as sociedades entre o interno e o externo, estando a

diferencia de cada um nas regras da comunicação.

Nesse ambiente deve-se apontar que, desde os primórdios o homem usa da força física

para sobreviver ou para se defender e defender seu território; para satisfazer necessidades

psicológicas como auto-afirmação, medição de capacidade competitiva tanto física quanto

racional, para expressão de sentimentos ou revelação de temperamento (AVELLAR, 2010).

De jeito que, a belicosidade pode ser considerada um apanágio da vida humana que

tem variado sua manifestação desde a força física brutal até o emprego das armas nos seus

diversos tipos. Assim, quando se apresentavam situações nas relações onde não havia

possibilidade de diálogo ou de entendimento, a solução se orientava pelas opções do apelo

para a luta física ou para o poder das armas. Aparece, então, a violência como produto da

relação desigual quando a insatisfação se apropria do homem ao não dispor de meios para

competir com o outro em condições de igualdade.

A organização social foi evoluindo e levou à aparição do Estado como a forma mais

avançada do progresso, falando em termos organizacionais e políticos, e sua coexistência na

arena internacional originou a chamada sociedade internacional, que a dizer de LEU, está

caracterizada por:

“Um conjunto de Estados soberanos que monopolizam, dentro das fronteiras

estatais, o poder atribuído a uma autoridade central; que não abdicam seu poder,

para fora, mas que não o podem exercer, em forma análoga a como o exercem infra-

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JOSÉ GILBERTO QUINTERO TORRES

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territorialmente, tendo que admitir, em ausência de uma autoridade central dentro do

conjunto que formam, que exercem nesse meio descentralizado o seu poder

compartilhadamente, o qual torna relativo o poder soberano”. (LEU, 1988, p. 37)

Nessa sociedade além da coexistência dos Estados também concorrem as organizações

intergovernamentais, as empresas transnacionais, as multinacionais e alguns grupos de

pressão internacional.

A inter-relação dos membros da sociedade internacional gera a configuração de

fenômenos políticos e de relações sociais que são obstaculizadas ou facilitadas por

circunstâncias e causas diversas de corte material ou imaterial, e se leva a efeito num espaço

físico que, hoje em dia, abrange a extensão do planeta, tudo o qual se conhece como estrutura

internacional (LEU, 1988, p. 75).

A interação entre os Estados sugere a ideia de desenrolamento de processos de

intercâmbio entre dois ou mais Estados, através de um conjunto de transações que atravessam

suas fronteiras. Desse jeito surgem as relações internacionais entendidas como o conjunto de

comunicações e intercâmbios (econômicos, políticos, ideológicos, culturais, jurídicos,

diplomáticos e militares) entre Estados e sistemas de Estado, sem excetuar às forças sociais

que têm o poder de agir na cena internacional e todo movimento de pessoas, bens e idéias

além das fronteiras nacionais.

No desenrolamento histórico das relações internacionais aparece um marco importante

como o é a Paz de Westphalia em 1648, que cristalizou o sistema de Estados territoriais, ou

ordem westphaliana, que tem permitido estabelecer relações entre Estados soberanos,

organizações políticas cada qual com autoridade suprema sobre um território (DE CASTRO,

2005, p. 102).

A conduta do Estado no exterior está regida pela chamada Política Externa, que se

inscreve como a atividade pela qual o Estado atua, reage e interage na arena internacional

visando atingir o interesse nacional.

O desenho dessa política e um processo complexo que se inicia com a consideração do

contato de dois ambientes: o doméstico que facilitará a marcação do interesse nacional e o

internacional ou externo onde será implementada, conjugada com a análise da situação a se

enfrentar, na busca de enlaçar a nação além de suas fronteiras com o mundo (EVANS E

NEWNHAM, p. 179-180).

A Política Externa pode ser concebida de três fases sequenciais para relacionar-se com

os acontecimentos e as situações acontecidos fora do país:

1) Como um grupo de orientações referidas aos princípios e tendências gerais que

sustentam a conduta do Estado nos assuntos internacionais.

2) Como um conjunto de compromissos e de planos de ação concretos, que serão

desenrolados pelos respectivos funcionários diplomáticos para promover ou

preservar situações no estrangeiro que sejam coerentes com o ponto anterior.

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A DIPLOMACIA NAVAL: UM ELO DA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA COM

A POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL NO SÉCULO XXI

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3) Como uma forma de comportamento, ou seja, os passos precisos que os

funcionários diplomáticos de um Estado dão ao abordar os eventos ou situações

no exterior (ROSENAU, 1976, p. 16)

No tratamento da conduta externa do Estado surgem considerações sobre

desigualdade, simetria ou assimetria dos fluxos, vinculações de subordinação,

interdependência ou interconexão e os critérios comportamentais dos Estados dentro dos

esquemas de harmonia, cooperação e desarmonia, por causa das diferenças que elas

apresentam e pelos diferentes papéis que desempenham no sistema internacional.

Desse modo, a desigualdade entre os Estados gera as chamadas relações assimétricas e

simétricas do poder em sua interação. Nas primeiras ocorre que um sujeito ativo, que dispõe

de meios de coerção, decide e ordena e outro ou outros sujeitos passivos atuam de acordo com

a prescrição comportamental do primeiro. Nas simétricas, os participantes todos dispõem de

meios de coerção e, por tanto, não existe a separação entre sujeito ativo e passivo (GARCÍA,

s/d).

Em face destes fatos temos que uns dos assuntos mais importantes no desenrolamento

das relações internacionais é a simetria ou a assimetria dos fluxos nas mesmas, entendidos no

sentido da discrepância política, militar, econômica e científico-tecnológica (SENGHASS,

1974)

Os sujeitos da sociedade internacional, na rede de relações que geram, guardam entre

si uma vinculação de subordinação, interdependência ou interconexão para seguir a

classificação de KEOHANE e NYE, (1988). A relação de subordinação se estabelece quando

existem efeitos de custos desiguais; no caso de dispêndios recíprocos estamos em presença de

interdependência, enquanto que quando não implicam efeitos significativos se fala em

interconexão.

Destarte, as situações descritas originam, fundamentalmente, três tipos de

comportamentos entre os Estados: harmonia, cooperação e desarmonia. Seguindo a

KEOHANE (1984), a harmonia está referida a uma situação na qual as políticas externas dos

atores, orientadas pelo seu próprio interesse sem levar em conta o dos outros,

automaticamente facilitam o êxito dos objetivos dos outros atores participantes.

A cooperação se apresenta quando os atores acertam seu comportamento às

preferências dos outros, mediante um processo de coordenação política. Por sua vez, a

desarmonia tem a ver com uma situação na qual os atores observam as políticas de cada um

dos diferentes sujeitos como um estorvo ao êxito de seus próprios objetivos e responsabilizam

aos outros pelo entrave.

Na praxe das relações internacionais aprecia-se que as nações poderosas asseguram a

cooperação dos Estados mais fracos, principalmente, através do emprego de expressões

comportamentais que, MOON (1983) encaixa dentro dos esquemas de prêmio e castigo, como

são, respectivamente, a assistência econômica e militar ou o emprego da força ou o

isolamento.

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JOSÉ GILBERTO QUINTERO TORRES

REVISTA DROMO&RI Belém, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 60-72

Ora deve-se assinalar que, esse conjunto de interações dos Estados se leva a efeito em

um cenário onde eles praticam relações na ausência de uma soberania comum entre entidades

sem qualquer governante superior, o qual gera “um conjunto de práticas, frequentemente

envolvendo o uso da força efetiva ou ameaçada” (DE CASTRO, 101), que é conhecido como

Política Internacional. A possibilidade do emprego da força surge por causa da presencia dos

interesses nacionais de cada um dos participantes que, ordinariamente, não são compatíveis,

na conjugação das políticas externas.

Então surge a necessidade de procurar a viabilidade à execução da Política Externa,

mediante um conjunto de atividades que buscam mudar o ambiente externo em geral ou as

políticas e ações dos outros Estados em particular, para atingir os objetivos propostos pelos

desenhadores dessa política (ROSENAU, 293). Isso é o que se conhece como Diplomacia,

que pretende dar coerência à conduta externa do Estado e procurar, por meios pacíficos, a

conciliação de interesses divergentes, através da negociação. De jeito que ela, num sentido

amplo, é uma ciência que ensina as regras e os usos que regem as relações internacionais e

uma arte que marca as aptidões que requer a condução dos assuntos estatais de cunho

internacional (MORENO, 2001, p. 21-22).

ALGUMAS APRECIAÇÕES SOBRE DIPLOMACIA NAVAL

Levando em consideração que o sistema internacional não tem uma autoridade política

suprema que detenha o monopólio do uso legítimo da força, então se reconhece que os

Estados desse sistema organizam e mantêm suas Forças Armadas, as quais constituem um

instrumento importante de sua Política Externa, por causa da tendência natural de cada país

para rejeitar qualquer iniciativa que atente contra seus próprios interesses, e de exercer seu

direito à defesa.

Esta proposição permite afirmar que as Forças Armadas jogam um papel significativo

no funcionamento do sistema internacional, até porque são a expressão da vontade de defesa

do Estado e o ente preservador dos interesses estatais na arena internacional quando fossem

esgotadas as vias diplomáticas.

Em termos amplos, as Forças Armadas podem ser empregadas pelo Estado como um

instrumento tanto político quanto bélico de sua Política Externa. No primeiro caso, o objetivo

perseguido é influir na conduta de outro autor, em prol dos interesses do que tomou a

iniciativa. Para isso Frederico O Grande apontava uma vez que “a diplomacia sem a força é

como uma orquestra sem instrumentos” (Frederico O Grande, apud EVANS E NEWNHAM,

1998, p.129).

Enquanto no emprego bélico, o objetivo é apoderar-se de uma posição ou destruir um

alvo (derrotar as forças invasoras) (BLECKMAN e KAPLAN, s/d, p. 13)

Ao tratar os assuntos relacionados com a Política Internacional, ocupa especial

localização nas ações protagonistas da execução da Política Externa, o Poder Naval do

Estado, tradicionalmente, representado pelas Forças Navais, cujo propósito é garantir o uso do

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A DIPLOMACIA NAVAL: UM ELO DA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA COM

A POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL NO SÉCULO XXI

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mar como meio de comunicação próprio visando o controle e o emprego do transporte

aquático, a segurança das áreas marítimas patrimoniais ou negando aquele uso quando for

necessário para o resguardo dos interesses do país; quer dizer, defender a soberania da nação

nesse meio contra qualquer um inimigo que possa usar o mar para lançar um ataque.

Historicamente, o emprego do Poder Naval tem ocorrido tanto nos tempos de paz

como nas situações de crise, de conflito e de guerra, no chamado emprego político do mesmo.

Para Moreno (1989, p. 8) parece um paradoxo mencionar o emprego diplomático de uma

unidade destinada a fazer a guerra; os navios de guerra, com seus canhões, mísseis, torpedos,

radares e aeronaves, são excepcionais instrumentos políticos de um país, especialmente em

termos diplomáticos.

As Forças Navais pode-se dizer que, são os únicos dispositivos militares capazes de

atuar livremente em tempos de paz sem objeções de qualquer nação. Moreno (1989, p. 7)

assim o assinala: “A tradição permite até que navios de guerra aportem numa cidade

estrangeira armados e prontos para o combate sem que a população local se sinta ameaçada ou

que essas unidades estejam ferindo a soberania nacional”. Contrastando esta situação com a

dos outros componentes do poder militar do Estado, este fato não tem comparação.

Os navios de guerra, sendo território soberano, politicamente falando, têm uma carga

simbólica de alto patamar. Efetivamente, refletem “o grau de desenvolvimento tecnológico

atingido por um país, o poder militar existente, a capacidade de projeção desse poder, e

também as características definidoras do povo, normalmente, bem externadas pela tripulação”

(PINTO, 1989, p. 45-46). Igualmente, o direito de “passo inocente” permite que eles possam

transitar, inclusive, pelos mares territoriais estrangeiros (KEARSLEY, 1992, p.21). Em fim,

são elementos do poder nacional no mar, para lutar e defender a soberania da nação nesse

meio contra qualquer um inimigo que puder usar o mar para executar ações marcadas pela

violência, e para influir sobre outras nações (BAGUS, Halaman, 2008).

São essas circunstancias que, no tratamento do tema da Política Internacional, cujo

sistema é o cenário de contato entre a Política Externa e a Diplomacia de cada Estado, levam

a definir a Diplomacia Naval como um meio de comunicação, que revela uma forma do

empenho político estatal, no desenvolvimento das relações de poder entre os Estados,

concretizado no emprego ativo do Poder Naval ao serviço do interesse nacional, visando

exercer a sua influência nos assuntos internacionais e executando atividades operacionais num

marco que vai desde situações de normalidade (não há antagonismos em confronto) até de

crise (interesses nacionais gravemente afetados por ações de outro país) nas relações

internacionais, sem entrar na esfera da guerra (DITZLER, 1989, p.6).

Desse jeito, acompanhando (PINTO, 1989) nas suas reflexões, se tem que em situações de

normalidade, as atividades operacionais se desenvolvem nos estádios de:

a) Visitas a portos estrangeiros para “mostrar a bandeira”, com o intuito de estimular o

relacionamento entre as nações, angariar prestígio, mostrar o nível de

desenvolvimento tecnológico do poder militar nacional.

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b) Realização de exercícios em áreas de interesse nacional, próximas ao país-alvo, com a

finalidade de exercer uma influência positiva, demonstração de poder.

c) Execução de operações em conjunto com as Forças Navais estrangeiras, que permite

uma troca de informações com outras Marinhas, demonstração de eficiência do Poder

Naval, o prestígio e exibição da qualidade da força naval, da excelência do preparo do

pessoal.

d) Proteção dos interesses marítimos mediante operações que têm como objetivo garantir

a presença naval em ações de salvamento marítimo, combate ao contrabando,

fiscalização da poluição, assistência às populações ribeirinhas, vigilância das áreas

marítimas petrolíferas e cuidado da Zona Econômica Exclusiva.

Essas atividades obedecem à analise estratégica para o emprego do Poder Naval,

atendendo as pautas dos planos de ação da Política Externa, visando atingir os objetivos da

presença naval, da persuasão para incrementar o relacionamento e os vínculos entre países e a

dissuasão a outras regiões em tons suaves.

No que tange às situações de crise, como a primeira fase da escalada do conflito, o

emprego do Poder Naval em cumprimento dos objetivos da Política Externa, tem que

considerar - na fase de planejamento- que o uso do mar, desde os fundos até o espaço aéreo

por acima dele, tem virado uma fonte potencial de conflito internacional (KEARSLEY, 1992,

p. 13), por diversos motivos, entre os quais estão: o aumento da importância dos oceanos

como fonte de alimentos; como meio para desenvolver ações militares tais como colocação de

minas, operações de vôo, instalação de sistemas de detecção sônica submarina; disputas legais

sobre a Zona Econômica Exclusiva e o Mar Territorial; poluição; execução de ações da

violência, em áreas costeiras, v.gr. a pirataria, a sabotagem e o sequestro; a crescente

dificuldade de manter a neutralidade marítima em tempos de crise ou guerras entre outros

Estados, por causa da estendida interdependência internacional (MOINEVILLE, 1983, p. 15-

16 apud KEARSLEY, 1992, p. 14).

O manejo das crises está nas mãos dos diplomatas do Estado, que têm a

responsabilidade de negociar entre as partes para impedir o emprego certo da força, o estouro

da guerra. Entretanto, o Poder Naval, em seu papel diplomático, desenvolverá operações que

buscarão proporcionar tempo para que aqueles façam a sua parte com firmeza.

Assim, o intuito dessas manobras será cooperar para a solução da crise através da

dissuasão sem realizar qualquer ação direta contra a contraparte, garantindo a presença naval

em determinada área, onde a crise pode afetar os interesses nacionais na região.

Neste ponto é conveniente trazer a colação a opinião de NYE quando anota que, a

força militar pode produzir resultados objetivamente observáveis, ainda quando não seja

usada em guerra, até porque o êxito e a competência em lograr os efeitos dissuasivos

transmitem imagem e prestígio bem sucedidos nessas atividades (NYE, 2011, p. 40 apud

ROWLANDS, 2012, p. 92).

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A DIPLOMACIA NAVAL: UM ELO DA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA COM

A POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL NO SÉCULO XXI

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A CONVIVÊNCIA DA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA E DA

POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL NO SÉCULO XXI.

A interação entre dois Estados pode entender-se como o resultado de uma

concorrência de ações de uma e da outra parte, com as quais se tenta influir na contraparte

mediante a alteração de seus cálculos estratégicos. Vale dizer que, a conduta de um Estado se

constitui em uma reação frente ao comportamento do outro Estado.

No entanto, as ações do Estado não são o resultado concordado ao estimar seus

interesses estratégicos, senão a resultante das negociações levadas a efeito pelos atores

posicionados por hierarquias no governo do mesmo (ALLISON G. e HALPERIN, M. apud

VÁSQUEZ, 1994, p. 200-205).

Em linhas gerais, o funcionamento das Forças Armadas de um Estado está orientado

pela chamada Política de Defesa, a qual é o conjunto de diretrizes e guias que regem a sua

atuação. Tomando as idéias de HUNTINGTON (1966) pode-se dizer que essa política maneja

sua existência entre dois mundos: Um o da Política Internacional, onde interagem o balanço

do poder, o aguçado emprego da diplomacia para dar-lhe viabilidade à Política Externa, as

alianças e o brutal uso da força para influenciar no comportamento de outros Estados. O

outro, o da Política Doméstica, o mundo dos interesses grupais, dos partidos políticos, das

classes sociais com seus conflitos de interesses e de objetivos. Qualquer uma decisão

importante na Política de Defesa influi e é influída por ambos os mundos, o externo e o

interno.

O âmago da Política de Defesa, de acordo com o Autor mencionado, é a concorrência

entre os objetivos externos do governo, como uma entidade coletiva em um mundo onde

coexistem outros governos, e os objetivos domésticos governamentais e dos outros grupos da

sociedade.

Destarte, a concomitância da Política Externa e da Política de Defesa, em assuntos tão

delicados das relações internacionais como a segurança nacional, gera uma luta

intergovernamental causada porque os desenhos e as execuções de ambas as políticas seguem

um processo de tomada de decisões que é eminentemente político, o que acarreta desacordos

ou conflitos de interesses. De acordo com HILSMAN (1990), em todo processo político o

poder relativo das pessoas e dos grupos envolvidos é tão importante para o resultado final,

como a simpatia pelos objetivos que se perseguem ou, também, a força moral e o bom critério

de seus argumentos.

Compartilha-se uma concepção intuitiva de que, a prolongada intolerância, a

dificuldade insuperável e a indecisão sobre temas urgentes e fundamentais, poderiam chegar a

ser tão insuportáveis que ameaçariam a estrutura do sistema de governo, pelo qual as ações a

serem desenvolvidas devem apontar à preservação do mesmo, levando em conta que o que

está em jogo é a sobrevivência do Estado. (TORRES, 1999, p. 22).

Agora ao estudar o caso Brasil no século XXI em face a estas colocações, pode-se

enfocar a tarefa desde duas visões:

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JOSÉ GILBERTO QUINTERO TORRES

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a) A institucional, que tem a ver com a interação do Ministério de Relações Exteriores-

órgão centenário, com amplo reconhecimento no sistema internacional, altamente

hierarquizado e estruturado- com o Ministério da Defesa- criado em 1999, em fase de

desenvolvimento em procura de amostrar a sua importância e a sua finalidade na

política brasileira (RUIVO, 2010)-, o qual dá idéia da magnitude da interação de duas

grandes burocracias, a militar e a civil.

b) A operativa, que se refere ao jeito do trabalho conjunto em procura de resultados

favoráveis à consecução dos objetivos da segurança e da defesa nacionais.

Para compreender a situação atual é preciso revisar o comportamento histórico do

Brasil nestas áreas: Desde finais do século XIX, o Brasil não teve conflitos de defender suas

fronteiras através das forças singulares, sendo seu último confronto militar em 11 de junho de

1865, com o Paraguai. De maneira que, aparentemente, a percepção existente desde esses

tempos é que as principais ameaças não implicaram questões relacionadas com a segurança e

defesa, dando-lhe à diplomacia o papel incumbente na superação da vulnerabilidade e da

neutralização dos fatores externos.

Para JÚNIOR, a Política Externa ao longo de quase todo o século XX, foi conduzida

de maneira independente da existência de meios de força, de jeito que a Política Externa e de

Defesa têm sido tratadas como assuntos essencialmente estanques. Porém, em 2005, mediante

o Decreto Nº 5.484 de 30 de junho, foi aprovada a “Política Nacional de Defesa” como um

“documento condicionante de mais alto nível do planejamento de ações coordenadas pelo

Ministério da Defesa, com objetivos e orientações para os setores militar e civil em prol da

Defesa Nacional” (PND).

Também se pautam áreas geográficas de interesse para o Brasil com marcada

importância na vocação marítima brasileira, abrangendo o Atlântico Sul e os países lindeiros

da África, a Antártica e o Mar do Caribe. Nessa imensa área, além da camada do pré-sal,

grandes reservas de petróleo e gás, está o grande potencial pesqueiro, mineral e de outros

recursos naturais. Face este panorama é lógico pensar que o Poder Naval tem uma alta e

profunda incumbência na preservação da segurança e defesa do espaço aquático do Brasil.

Em 2008, mediante o Decreto Nº 6.703 de 18 de dezembro, foi aprovada a “Estratégia

Nacional de Defesa” que “é focado em ações de médio e longo prazo e objetiva modernizar a

estrutura nacional de defesa, atuando em três eixos estruturantes: reorganização das Forças

Armadas, reestruturação da indústria brasileira de material de defesa e política de composição

dos objetivos das Forças Armadas” (END).

Apesar da existência dos documentos assinalados e da criação do Ministério da

Defesa, pela Lei Complementar Nº 97 de 9 de junho de 1999, como também da definição de

objetivos da Política Externa brasileira na PND no que tange à solução pacífica das

controvérsias e fortalecimento da paz e da segurança internacionais, seguindo a RUIVO

(2010), persiste a ausência de conversação na tomada de decisões e estratégias, levando a

cada Ministério a exibir um comportamento, na agenda de defesa internacional, como si

possuíssem políticas próprias independentes, o quisessem demonstrar suas forças e

competências, de forma individual: a diplomacia continua descartando a utilização do poder

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A DIPLOMACIA NAVAL: UM ELO DA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA COM

A POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL NO SÉCULO XXI

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militar como complemento à busca de soluções negociadas e o Ministério de Defesa

centralizando as questões de defesa da paz e da segurança internacional como têm ocorrido na

Missão de Paz no Haiti.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após da análise da Diplomacia Naval no marco da Política de Defesa e da Política

Externa de um Estado, partindo dos conceitos teóricos de relações internacionais e do

emprego do Poder Naval finalizando com o estudo do caso Brasil, pode-se afirmar que neste

século, e por causa da intensificação da projeção do Brasil no Sistema Internacional, com a

decorrente inserção e participação no processo de tomada de decisões internacionais, é difícil

pensar que permaneça alheio à ação de antagonismos na procura dos seus interesses.

Por tal motivo, o Brasil deve desenvolver medidas e ações, enfatizadas no campo

militar com o propósito de conseguir a defesa do território, da soberania e a proteção de seus

interesses nacionais contra ameaças – possíveis ou evidentes- principalmente externas,

harmonizando o gigantismo brasileiro com a declarada vocação pacifista e de transformação

em uma potência não-hegemônica.

No convívio operativo da Política Nacional de Defesa e da Política Externa, levando

em consideração que de seu acionar vai depender a sobrevivência do Estado, deve-se exigir

uma eficiente comunicação biunívoca entre ambas as partes e um proveitoso trabalho em

equipe, derrubando assim as barreiras dos interesses particulares de ambas as burocracias e

dos preconceitos ideológicos forjadores de falsas concepções respeito à implantação das

políticas de Estado sem perder de vista a subordinação das Forças Armadas ao poder político

constitucional.

Em fim, a Diplomacia Naval concebida como o emprego ativo do Poder Naval ao

serviço do interesse nacional se constitui numa conexão fundamental entre a Política Nacional

de Defesa com a Política Externa do Brasil no século XXI para enfrentar os retos colocados

na END relativos à possibilidade de intensificação das disputas por áreas marítimas, pelo

domínio aeroespacial e por fontes de água doce, de alimentos e de energia, o qual gerará

conflitos que para sua solução se precisará do concurso da ação diplomática e da participação

militar, desenvolvendo estratégias de presença e dissuasão nos teatros operacionais que se

gerarão.

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CIDADE INTELIGENTE: O FUTURO DA

AMAZÔNIA BRASILEIRA

ARAÚJO, Fernando Moreira1

[email protected]

PRIETO, Félix Gerardo Ibarra2

[email protected]

RESUMO

A região amazônica brasileira diante da conjuntura internacional que lhe sobrevêm, a

internacionalização, necessita de uma dinâmica tecnológica peculiar as suas

necessidades. É neste contexto que este artigo visa através de estudos de caso, pesquisa

documental e bibliográfica corroborar a necessidade de um aparato tecnológico que de

forma inteligente, seja aplicado, para sua segurança e preservação. Este trabalho aponta

algumas ameaças históricas do governo brasileiro em defender seu território e uma

conscientização a análise de discursos a respeito da Amazônia brasileira. Bem como,

compreender a necessidade de uma cidade inteligente na região

Palavras Chave: Dromocracia. Tecnologia. Inteligência. Amazônia. Cidade.

ABSTRACT

The Brazilian Amazon region faces a sort of international conjuncture that the

circunstances befall it: internationalization. It needs a peculiar technological dynamics

to their demands. In this context, this article aims through case studies, document and

literature review confirm the need for a technological resourceful apparatus that can be

applied to their safety and preservation. This work points out some historical threats of

the Brazilian government to defend its territory and an awareness analyzing speeches

about the Brazilian Amazon And, understand the need for an intelligent city in the

region.

Keywords: Dromocracia: Dromocracy. Technology. Intelligence. Amazon. City.

1.INTRODUÇÃO

1 Acadêmico do Curso de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia -

[email protected] 2 Doutor em Relações Internacionais e Professor titular da Universidade da Amazônia -

[email protected]

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CIDADE INTELIGENTE: O FUTURO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

REVISTA DROMO&RI Belém, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 73-84

A irreversível dominação través da tecnologia coloca em debate no campo das

relações internacionais os interesses de estudos em relação ao compartilhamento de

tecnologias, que visam os mais diversos fins na: político, econômico, de

sustentabilidade, de educação e dentro tanto outros. Porém este ensaio corresponderá à

tecnologia como objeto de poder, em função da segurança dos Estados.

Portanto, trata-se de uma discussão a respeito das cidades inteligentes, que

consequentemente, afiliam-se ao poder tecnológico de um Estado. Sendo presente neste

ensaio a relação e a influência entre ciberespaço e espaço físico, e vice e versa.

A construção teórica será aplainada através dos estudos da dromocracia,

perpassando pelas correntes neorrealistas das Relações Internacionais e pela escola de

Estudos de Segurança Internacional (ESI).

Posteriormente, serão abordadas as descrições de dois exemplos de cidades

inteligentes: a cidade de Santander, na Espanha e o Sapiens Park que está em construção

em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.

E por fim apontar a necessidade de uma cidade inteligente na Amazônia Legal

Brasileira. Sabendo que este é o inicio de uma séria de outras publicações que irão

refinar a temática.

2- O Poder e a Tecnologia

Diante do que foi proposto na introdução deste ensaio, é necessário entender o

poder como o catalisador das motivações para a manutenção de uma base de relações

entre atores heterogêneos. Dos quais alguns detém um nível elevado de poder e outros

não, porém é tácito, que todos possuem algum tipo de poder. Estes atores concentram-se

no cenário internacional, os principais são os Estados, entretanto reconhecem-se outros

com relação de influência.

A fecundação do poder pode produzir frutos dos mais diversos e em

circunstâncias das mais distintas: “O poder como essência e como matéria e seu

dinamismo voraz trazem em si as sementes de varias formas de dominação e de controle

sobre os indivíduos, sobre resultados esperados utilitariamente e sobre instituições no

campo doméstico e no exterior” (CASTRO,p.161-162, 2012)

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FERNANDO MOREIRA ARAÚJO

REVISTA DROMO&RI Belém, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 73-84

Relacionando o poder aos parâmetros da segurança, pode-se assim, perceber a

relação de condição entre os dois termos “A segurança enquadra a questão como um

tipo especial de política ou como política que vem de cima, portanto pode-se definir um

espectro abrangendo questões públicas, que vão desde o não politizado [...] passando

pelo politizado” (BUZAN, 2012, p.324)

Há um vínculo politizado entre poder e segurança, que está intrínseco a

indivíduos habitantes de determinado território. Sendo a parcela de maior contribuição

para manutenção deste vínculo, o Estado. Isto é corroborado no que é afirmado por

Castro, p.165, 2012: “O poder no sentido restrito está ancorado nos vários cenários do

estudo tradicional da ciência política contemporânea envolvendo os órgãos do Estado

em todos os seus níveis, e também fora dele, com direto interesse e conjugação”.

Essa visão clássica dos neorrealistas das relações internacionais, é entendida até

hoje na contemporaneidade, porém, com diferenciais no objeto de poder da segurança, a

tecnologia. Assim afirma Raza 2012 que diz: “A tecnologia é tão impregnada na

segurança moderna que constitui um pano de fundo quase inevitável [...] é normal e

normativo na construção de capacidades de segurança”.

Os estudos da segurança na contemporaneidade não abrem mão de suas raízes

realistas, porém, é necessário o incremento de elementos, como os tecnológicos, para

corresponderem às estruturas atuais de segurança.

A evolução desta relação é remontada, nesta pesquisa, ao estudo da

dromocracia. Que tem em sua essência aspectos de interesses logísticos, estratégicos e

táticos, que foram sempre vividos desde os primeiros processos migratórios da

humanidade. E que é acentuado, nos estudos de segurança ao analisar as guerras.

É fundamental entender a relação, velocidade e segurança, como faces conexas

do mesmo processo para o desenvolvimento da abordagem proposta. Não se deve levar

a dromocracia como um fenômeno novo, pois, sua essência é encontrada em longas

datas da história, podendo ser delimitado para este estudo, a análise da dimensão

dromológica da existência da movimentação geográfica de objetos, valores e corpos do

nomadismo tribal.

No decorrer da história os vetores técnicos e tecnológicos de dromocratização da

vida humana fomentaram a coordenada básica do sucesso cinético sobre o território. É

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nesta dicotomia que se encontram as realidades a serem apresentadas. O espaço cinético

por muitas vezes aparenta ser obscuro e incerto. Entendendo isto dar-se o devido

esforço ao tema.

Retomando a ideia do vínculo politizado, da relação de poder da segurança, e

lança-la face ao paradoxo entre o ciberespaço e o território físico, verifica-se, o que

afirma Cervi, p.13, 2013: “Trata-se de uma mudança na forma de contatos entre

representantes e representados, mas não necessariamente uma mudança de

comportamento político”.

As verificações do tempo em um determinado espaço, no decorrer do progresso,

se alternaram e desenvolveram princípios funcionais e procedimentos operacionais de

produção de resultados, cada qual em um período específico, e de forma direcionado.

Entretanto a existência desta atividade é condicionada em sua essência a uma

obtenção de poder, entendendo, que seja no território físico ou cinético, os diferentes

esforços aplicados em ambos os espaços, foram e serão direcionados à aquisição de

poder, visando a segurança, que tem por objeto neste estudo a tecnologia.

3- Cidades Inteligentes

Os polos tecnológicos são relacionados, em maior parte, às questões econômicas

e empresariais. E fica despercebida pelos gestores a importância destes na resolução de

problemáticas urbanas, sendo uma delas a segurança.

Duarte (2005) aponta a inexperiência das sociedades na relação das mesmas com

as tecnologias de informação. É empírico a exclusão de partes significativas destas

sociedades, pelo fato de, não terem uma instrução, uma vivência adequada com tais

recursos. O progresso tecnológico, a partir de uma perspectiva dromocrática, possui um

regime extremamente dinâmico que não se reflete e adequa a realidade de muitos.

Porém este fluxo é irreversível e certeiro, como foi no passado é no presente e

sem variação de perspectiva, será o caminho do futuro. Por isto se dá a relevância de

compreender a realidade de cidades que se tornam inteligentes, bem como, aquelas que

já nascem de baixo desta perspectiva.

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Cidade Inteligente é uma expressão que se refere aos sistemas que captam as

mais variadas informações sobre a vida de uma cidade assim afirma o Professor Luis

Muñoz da Universidade de Cantabria, na Espanha.

A atividade de Inteligência no Brasil por muito tempo confundiu-se apenas com

o sigilo de informações, mas atentando-se a este estudo, corrobora-se a importância

desta atividade nos parâmetros da segurança. Como afirma Oliveira (1999) serve como

“políticas e estratégias setoriais, sob o prisma da segurança do Estado e da sociedade.

[...] a capacitação para o desempenho técnico da atividade de Inteligência, é área em que

a doutrina, a lógica e a tecnologia prevalecem”.

A conexão entre os recursos e a produção do conhecimento para o específico

fim, faz da atividade de inteligência, elemento hibrido, nos diversos pontos da temática.

E dentro da perspectiva dromocrática, a lógica e a tecnologia fazem interface com o que

diz Trivinho 2007 “Dromos, prefixo grego que significa rapidez, vincula-se, obviamente

– com base na dimensão temporal da existência-, ao território geográfico”. Entendendo-

se a lógica e a estratégia como umbilicais neste processo de conexão.

3.1- Santander - Uma Cidade Dromoapta3

Santander, na Espanha é conhecida como a cidade inteligente. Está localizada na

costa norte da Espanha

A cidade possui um elevado sistema de sensores, que atende a população em

diversas necessidades, das questões de transporte público às questões governamentais.

Os mais de 12 mil sensores espalhados pela cidade interferem diretamente na qualidade

de vida dos cidadãos. E tais serviços não são exclusivos dos habitantes de Santander, os

turistas, são beneficiados no seu deslocamento pela cidade através de aplicativos que os

antem localizados e informados.

A prefeitura de Santander tem um controle dos serviços de iluminação pública,

coleta de lixo, transporte público e poluição do ar. O monitoramento fomenta no

equilíbrio das despesas públicas, assim, evitando despesas excedentes.

Outro serviço interessante desta arquitetura tecnológica é a capitação de áudio

das ruas da cidade, em função da segurança. O conjunto de sensores ao captar sons

3 Aquela que está inserida na realidade da dromocratica.

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como o de um tiro, ou pessoas gritando, direcionam estes áudios através da plataforma

pública aos órgãos de segurança da cidade. Segundo Annika Sallstrom, especialista em

engajamento do usuário do Centro Tecnológico de Distâncias, os cidadãos estão

dispostos a abrir mão de sua privacidade, quando produção sonora é capitada, visando a

segurança pública.

Na IX Conferência Internacional de Redes de Sensores Inteligentes e Rede de

Sensores e Processamento de Informações a cidade foi protagonista e considerada como

modelo a ser seguido. A sua estrutura tecnológica construída durante anos de dedicação

foi um esforço da Universidade de Cantabria e o Poder Público, o investimento, foi de

mais U$$ 11 milhões e hoje é reconhecida como uma cidade inteligente (DETROZ;

PAVEZ; VIANA, 2014). Segundo o prefeito da cidade de Santander na gestão 2014,

Iñgio Hernáz, a parceria foi o catalisador para a construção de toda essa estrutura, bem

como, o envolvimento social, que garantiu o sucesso da proposta (MEREGE, 2014).

3.2 – Sapiens Parque- Uma Cidade Inteligente no Brasil

Ao norte da Ilha de Florianópolis em Santa Catarina, a construção de um dos

maiores empreendimentos tem por objetivo ser destaque internacional. O uso da

tecnologia de forma inteligente visa ser “um programa de desenvolvimento regional,

baseado na sustentabilidade social, econômica e ambiental e voltado para a produção

científica, tecnológica e educativa” (SILVA 2011 apud RIMA 2003).

O berço da iniciativa deste projeto é a cooperação entre o Governo do Estado de

Santa Catarina e a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras

(CERTI) que começou em 2002.

O projeto possui cinco elementos basilares que norteiam a visão empreendedora:

preservação dos ambientes naturais; edifícios sustentáveis que visam a economia de

energia e água, indústria da tecnologia e da informática consideradas limpas, turismo

sustentável e a geração de emprego e diminuição da exclusão social. (SILVA 2011).

A cidade de inteligência tecnológica, segundo o jornal Noticias do Dia de

Florianópolis, teve um investimento de R$ 30 milhões da ordem pública e R$ 130

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milhões dos conglomerados privados. A estimativa é de que a cidade comportará 25 mil

habitantes nos próximos 10 anos.

Fonte: Diário Catarinense

4- AMAZÔNIA

A Amazônia Legal Brasileira rica em recursos naturais, diversidade cultural e

social, por si só, chama a atenção de diferentes atores internacionais, o que a faz estar

no centro de fóruns internacionais, principalmente no que se refere à temática

ambiental.

Miyamoto (2008, p.69) colabora, dizendo que devem ser consideradas inciativas

plausíveis que complementaram a região em 1957, destacando-se a “criação da Zona

Franca de Manaus (proposta pelo Deputado Federal Francisco da Silva e instituída pela

Lei nº 3.173 de 06 de junho de 1957, como Porto Livre, e, depois, em Zona Franca pelo

Governo Federal, através do Decreto-Lei nº 288, de28 de fevereiro de 1967)”. O autor

ressalta que tal iniciativa, teve por parte do governo brasileiro, o propósito de exibir a

garantia do Estado brasileiro, como mantenedor da região.

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Em 1990 foi idealizado o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) que

posteriormente formou-se em Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM). Silva e

Menezes (2008, P1-2) fazem uma abordagem próxima desta pesquisa, ao referenciarem

a tecnologia como objeto de poder: “a informação sistematizada nas mãos dos

governantes é estratégica e simboliza poder”, a implementação do projeto, ocorreu em

1997 e começou a operacionalizar e 2005.

A intercessão entre meio ambiente e tecnologia, na Amazônia Legal Brasileira,

está para a realidade dromocrática. Entretanto, todo cuidado é necessário, pois não está

se falando de uma região qualquer, mas sim, se uma das regiões mais cobiçadas do

mundo.

A marginalização da Amazônia dentro de suas fronteiras é o grande

impedimento para que esforços sejam direcionados a região. Da mesma forma que é

considerado um histórico significativo de iniciativas que procurara garantir a Amazônia

por direito ao Brasil, também é considerado um presente apático a uma causa que aos

poucos tem se tornado mais internacional do que nacional, a internacionalização da

Amazônia.

É um verdadeiro desafio unir meio ambiente, tecnologia e dromocracia.

Relacionar a diversidade cultural, recursos naturais com esta perspectiva em função da

segurança, é necessário levar em consideração o histórico marcado por exploração e

outros fenômenos como a migração desordenada.

Partindo disto percebe-se uma anacrônia entre os elementos, isto é, um histórico

que não corresponde ao poder através da velocidade da ação de tecnologias. Contudo há

carência de atividade de inteligência, melhor articulada na região.

5-CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Esta pesquisa conferiu em fazer um apanhado teórico a partir da relação entre

poder e tecnologia aplicado às cidades inteligentes. Verificando os reflexos

internacionais que uma cidade pode produzir. Sobre estas, foram abordados dois casos,

Santander e o Sapiens Parque, em pesquisa descritiva. Que teve por finalidade apontar a

possibilidade da criação de cidades inteligentes tanto em construção quanto cidades já

formadas. Outro percepção é necessária quanto ao último caso que foi descrito, que

rompe com os estereótipos da incapacidade tecnológica brasileira de produzir

tecnológicas de ponta para a segurança do seu território.

Verifica-se, que mesmo a Amazônia possuindo uma forte expressão em

tecnologia e inteligência, através do SIPAM, o histórico da região e a cultura de

segurança e tecnologia atual formam um distanciamento entre os elementos necessários

para atenderem as perspectivas de segurança do século XXI.

A Amazônia Legal Brasileira carece de um espaço, uma cidade inteligente. Seu

futuro estará melhor garantido se, assim o fizer. O aproveitamento de outras iniciativas

como a Zona Franca de Manaus e o sistema SIPAM, são fundamentais. Estes marcaram

determinado período da história da Amazônia brasileira, qual será o próximo

investimento em tecnologia que registrará a história amazônica no inicio deste século?

A tecnologia como objeto de poder dentro de uma arquitetura inteligente e

tecnológica, fomentada por um fluxo dromoapto, pode ser, a transição de uma realidade

de descaso para uma realidade estratégica. A Amazônia brasileira necessita de um

complexo tecnológico adaptado a sua realidade. É necessário o despertar da comunidade

cientifica, poder público e privado (nacional), para a realização disto, o Sapiens Parque

comprova que é possível tal realização, a cidade de Santander na Espanha, ensina como

adaptar a realidade de um espaço à conjuntura de inteligência tecnológica. Contudo a

temática exige mais debates e esforços que terão continuidade nas próximas edições.

REFERÊNCIAS

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CIDADE INTELIGENTE: O FUTURO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

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TROPA DE GUERRA: UMA AÇÃO

SISTEMATIZADA DE MOBILIZAÇÃO DE

PESSOAS NO GRÃO-PARÁ. (PRIMEIRA

METADE DO SÉCULO XVIII)

Wania Alexandrino Viana1

[email protected]

Resumo

Este artigo tem por objetivo analisar a composição e atuação da tropa de guerra contra grupos

indigenas “hostis” na capitania do Grão-Pará na primeira metade do século XVIII. Partimos do

pressuposto de que a tropa de guerra só pode ser entendida por meio da compreensão de uma

política ampla e sistematizada da Coroa portuguesa para manter e defender seus territórios.

Trata-se de chamar a atenção para tropa como espaço de conexão interna e externa a capitania.

Palavras-chaves: Grão-Pará. Tropa de guerra. Século XVIII.

Abstract

This article aims to analyze the composition and the performance of war troop against

indigenous people “hostile” in the captaincy of Grão-Pará in the beginning of the eighteenth

century. We assume that the war troop can only be comprehend through understanding of a

wide political and systematized of Portuguese crown to maintain and defend their territory. It is

to draw attention to troop as a space for internal and external connection to the captaincy.

Key-words: Grão-Pará.War troops. Eighteenth Century.

Amazônia. Comecemos assim...

“Amazônia, ainda sob o aspecto estritamente físico, conhecemo-la

aos fragmentos. Mais de um século de perseverantes pesquisas, e uma

literatura inestimável, de numerosas monografias, mostram-no-la sob

incontáveis aspectos parcelados. (...) Restam-nos muitos traços

vigorosos e nítidos, mas largamente desunidos. Escapa-se-nos, de

todo a enormidade que só se pode medir, repartida: a amplitude, que

se tem de diminuir, para avaliar-se; a grandeza, que só se deixa ver,

apequenando-se, através dos microscópios: e um infinito que se dosa,

pouco a pouco, lento e lento, indefinidamente, torturantemente. (...) A

inteligência não suportaria, de improviso o peso daquela realidade

portentosa. (...). É uma guerra de mil anos. O triunfo virá ao fim de

trabalhos incalculáveis em futuro remotíssimo, ao arrancarem-se os

derradeiros véus da paragem maravilhosa, onde hoje se nos esvaem

os olhos deslumbrados e vazios” 2

1 Graduada em História pela Universidade Federal do Pará (2010). Mestrado pela mesma instituição

(2013). Doutoranda em História Social da Amazônia, da UFPa 2 CUNHA, Euclides. Um paraíso Perdido. Ensaios Amazônicos. Seleção e coordenação de Hildon Rocha.

Brasília: Senado Federal, 2009, p.335-336.

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TROPA DE GUERRA: UMA AÇÃO SISTEMATIZADA DE MOBILIZAÇÃO DE PESSOAS NO GRÃO-

PARÁ. (PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII)

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Essas foram as palavras de Euclides da Cunha sobre a Amazônia em 1907, como

parte do prefácio do livro Inferno Verde de Alberto Rangel. As impressionantes

descrições que associam a grandeza das florestas, o excesso da exuberância imensurável

cuja a experiência real rompe com quaisquer estruturas de pensamentos préconcebidas.

Euclides da Cunha nasceu em 1866, no interior do Rio de Janeiro e veio para a

Amazônia em dezembro de 1904, a frente da Comissão Mista Brasileira Peruana. O

objetivo principal dessa comissão era de reconhecimento dos rios Juruá e Purus e a

resolução de fronteira entre Brasil e Peru. Nomeado pelo então ministro das relações

exteriores do Brasil, José da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco.

Portanto, tratava-se de um sujeito imbuído do pensamento cientificista,

positivista e republicano do contexto. Alinhado a principal preocupação diplomática de

Barão que se caracterizava pela sistemática resolução de problemas de fronteira. A

Amazônia, nesse aspecto figurava-se como espaço ainda a ser descoberto, ocupado,

integrado, cientificamente catalogado e demarcado. Na descrição Euclidiana a

Amazônia aparece como “realidade portentosa”, para qual seria necessário uma “guerra

de mil anos” para concebê-la para dominá-la.

Estas palavras soam bastantes atuais, quando tratamos da história da Amazônia.

Sobretudo, a difícil apreensão sobre sua realidade existente. Como se Euclides da

Cunha quisesse organizar metodologias para captar os fragmentos que para o autor

embasa a realidade do todo. Em outras palavras, a diversidade e vastidão geográfica da

Amazônia inibe o conhecimento do conjunto.

As impressões de Euclides da Cunha sobre a Amazônia foram lembradas

décadas mais tarde em 2013, pelo Ministro da Defesa Celso Amorim. Na ocasião

proferia seu pronunciamento no VII Encontro Nacional da Associação Brasileira de

Estudos de Defesa que ocorria em Belém do Pará. Amorim lembrava as palavras de

Euclides “o que se me abria às vistas desatadas naquele excesso de céus por cima de

um excesso de águas, lembrava (...). Uma página inédita e contemporânea do

gênesis...”, e completava, “Atentei outra vez nos baixios indecisos, nas ilhas ou pré-

ilhas meio diluídas nas marejadas – e vi a gestação de um mundo”. 3

O que se observa da percepção construída sobre a Amazônia é permanência do

discurso da grandeza. De fato, devemos considerar que estamos no referindo a uma área

compartilhada por nove países – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, França,

Peru, Suriname e Venezuela- e que por essa razão o problema de fronteira e defesa é

3 A Defesa da Amazônia Mensagem do Ministro da Defesa, Celso Amorim, VII Encontro Nacional da

Associação Brasileira de Estudos de Defesa – Belém, 05 de agosto, 2013, p.3 e7.

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WANIA ALEXANDRINO VIANA

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evidente. Essa característica fica clara quando o ministro ressalta que “a defesa da

Amazônia exige mais de nossos governos e de nossas sociedades”. Destacando a

necessidade da cooperação entre os países amazônicos, no que diz respeito ao

“estabelecimento de políticas de defesa que possibilitem soluções regionais para os

problemas que ali existem, garantindo a proteção da Amazônia e afastando possíveis

ingerências externas”. No discurso chama atenção para os desafios do século XXI,

como os crimes transfronteiriços e a manutenção da soberania que “requer Forças

Armadas bem equipadas e adestradas para a proteção do nosso patrimônio e dos nossos

recursos”. Trata também, da “alocação adequada de recursos para a defesa é

indispensável nesse processo”. De acordo com os dados apresentado pelo ministro

“Entre 2005 e 2013, as despesas de custeio e investimento apresentaram crescimento

nominal de 182% - de R$6.193 bilhões em 2005, passamos para R$17.469 bilhões em

2013. 4

Conforme podemos observar, existe uma intenção clara do Ministro em chamar

atenção para a necessidade de efetiva defesa de espaços e fronteiras tão dilatadas, como

Amazônia. Assim, como está evidente, que com as palavras de Euclides da Cunha,

legitimava e afirmava o desafio que constitui defender áreas, cujo “excesso de céus” e

“excesso de águas” é uma realidade. Embora conforme o pronunciamento de Celso

Amorim, a defesa da Amazônia seja urgente e necessária.

Todavia, este não é um problema do século XXI. Compreender os desafios da defesa

na Amazônia trata-se, sobretudo, de uma incursão histórica, considerando claro que os

contextos, os problemas, os recursos, os aparatos de defesa são distintos. Porém, a

dilatação da área parece encontrar correspondência em outros discursos, em outros

momentos históricos. Estamos nos referindo ao passado colonial. Aos problemas de

defesa, aos desafios para manuntenção do território, e principalmente as ações da coroa

Portuguesa para recrutar homens para compor tropas militares, principalmente tropas de

guerra que tinham a função imprescindivel de estar nas fronteiras e em conflitos com

grupos indígenas hostis.

O “lastimável” estado militar e de defesa do Grão-Pará colonial

No dia 7 de agosto de 1747, chegava à cidade de Belém para assumir o posto de

governador e capitão-general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de

Mendonça Gurjão. Uma das primeiras medidas adotadas pelo novo governador foi a

determinação de visitas nas fortalezas do Estado, para se informar da situação militar da

capitania. Os resultados dessas visitas foram passados em carta de 29 de outubro do

4 Idem.

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TROPA DE GUERRA: UMA AÇÃO SISTEMATIZADA DE MOBILIZAÇÃO DE PESSOAS NO GRÃO-

PARÁ. (PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII)

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mesmo ano, na qual apresentou ao monarca o “lastimável” estado militar em que se

encontrava a região.

Entre os problemas presentes no parecer do engenheiro Carlos Varjão Rolim

estavam, por exemplo, a péssima condição da fortaleza da Barra, Gurupá, Tapajós,

Pauxis e Rio Negro, ausência de “quartéis ou casas em que se recolham o cabo e

soldados que ali assistem de guarnição”. Problema com as chuvas frequentes que

demoliam com facilidade o reboco das suas muralhas e as estruturas defensivas. Além

disso, a significativa falta de soldados “para o serviço ordinário de escoltas, e outras

operações precisas”, sobretudo para diligências nas fronteiras e de guerra. 5

A descrição passada a Gurjão apresenta três problemas enfrentados pela colonização

lusa na região: primeiro, a precariedade da infraestrutura de defesa como fortalezas e

fortes; segundo, a insuficiência de soldados para guarnecê-los; e, terceiro, as

especificidades da região que, ao que parece, contribuíam para a deterioração mais

rápida de fortalezas e fortins, além da disparidade existente entre uma vasta área e

poucos aparatos de defesa.

Defender a região do Grão-Pará colonial significava para a Coroa portuguesa, além

da resolução das estruturas físicas das fortalezas, o provimento de homens nas tropas

pagas. Essa força atuava em duas frentes fundamentais: as fronteiras e as guerras contra

índios hostis. Para equacionar essa questão a Coroa empreendeu uma ação sistematizada

de mobilização de homens para comporem as forças militares. Estamos nos referindo as

ações de recrutamento.

A imprescindível necessidade em manter os territórios conquistados e, por outro, a

impossibilidade da Coroa em suprir com soldados do reino todas as companhias

militares transformaram o recrutamento em um elemento principal de mobilização

interna e externa à conquista. Uma ação que em grande medida, foi efetivada de forma

violenta e compulsória. Para Fernando Dores Costa o recrutamento constitui uma

“mudança forçada da condição de vida dos indivíduos”.6 Portanto, cconsideramos aqui

o recrutamento como uma ação sistematizada que conecta pessoas e espaços

geográficos. Nessa perspectiva, entendido como um elemento central de mobilização no

que diz respeito às constituições de tropas militares no Grão-Pará.

Defesa: uma solução em muitas partes da conquista.

5 Carta do governador Francisco Pedro de Mendonça Gurjão para o rei. Pará 29 de outubro de 1747.

AHU, Avulsos Pará, caixa 29, doc. 2804. 6 COSTA, Fernando Dores. A Guerra da Restauração 1641-1668. Lisboa: Livros Horizonte, 2004, p.29.

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WANIA ALEXANDRINO VIANA

REVISTA DROMO&RI Belém, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 102-112

O recrutamento desencadeado pela Coroa portuguesa transformou o provimento das

tropas pagas em um complexo sistema de mobilização de homens que integrariam as

forças de defesa na conquista. Nesse sentido, com o objetivo de aumentar as fileiras das

exíguas tropas coloniais, verificamos o acirramento do recrutamento compulsório. Que

ocorria dentro e fora da capitania, como por exemplo, o exilio penal que transformava o

condenado a degredo em soldado nas colônias, o recrutamento em capitanias do Brasil e

em outras partes do império português.

Para Timothy Coates o “degredo era uma forma de colonização coerciva”.7 Em

Portugal a pena de degredo era uma prática que estava presente desde o século XVI.

Elisa Maria Lopes da Costa lembrou que com o sistema de degredo a Coroa tinha a

possibilidade de aumentar as fileiras militares nas conquistas, fomentar o povoamento,

Além de “regular o comportamento das pessoas punidas com tal condenação”. Por essa

razão, “os adultos, homens deveriam assentar praça ou trabalhar nas obras públicas”.8

Esses sujeitos banidos de seu local de nascimento foram incorporados ao projeto de

defesa e ocupação das conquistas lusas, os “viajantes involuntários” como tratou

Janaína Amado.9 Na Amazônia essa presença também foi significativa. Amado ressalta

a existência de um grande número de degredados na região “enviados desde Portugal,

desde várias regiões brasileiras, e desde outra colônia lusitana, cuja presença foi

marcante até 1822”.10

Como ressaltou Rafael Chambouleyron o degredo se constitui

como “instrumento para povoar o território e compor as tropas”. 11

Sebastião Rodrigues de Oliveira foi um exemplo notório de como serviço militar e

degredo estão interligados no contexto colonial. Era natural da ilha da Madeira, de onde

fora recrutado como soldado para as capitanias do Brasil, servindo desde 1686 em

Pernambuco, Palmares, e Rio Grande. Veio para o Maranhão em “cuja viagem

naufragou, e perdeu toda a sua fazenda, e papéis de serviço e de importância”. No Pará

ocupou o “posto de alferes, capitão da infantaria paga da capitania do Pará e capitão da

7 COATES, Timothy. Degredados e órfãs: Colonização dirigida pela Coroa no Império Português,

1550-1755. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998,

“Introdução” p. 28. 8 COSTA, Elisa Maria Lopes da. “O povo cigano e o degredo: contributo povoador para o Brasil

colônia”. Textos de História Revista da Pós-Graduação em História da UNB. Vol. 6, n. 1 e 2, 1998, p. 38

e 43. 9 AMADO, Janaina. Viajantes involuntários: degredados portugueses para a Amazônia colonial. História,

Ciência, Saúde- Manguinhos. vol.VI (suplemento, setembro de 2.000), pp. 813-823. 10

AMADO, Janaina. “Viajantes involuntários: degredados portugueses para a Amazônia colonial”, p.818. 11

CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, Ocupação e Agricultura na Amazônia Colonial (1640-

1706). Belém: Açaí/PPHIST/CMA, 2010, p. 44.

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TROPA DE GUERRA: UMA AÇÃO SISTEMATIZADA DE MOBILIZAÇÃO DE PESSOAS NO GRÃO-

PARÁ. (PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII)

REVISTA DROMO&RI Belém, vol. 1, n°1, agosto/dezembro 2015. p. 102-112

fortaleza da Barra”. 12

No ano de 1711, pela ocasião da morte de sua mulher D. Maria

de [Briços?], pela qual foi responsabilizado foi preso por ordem do governador

Cristovão da Costa Freire. Em seguida “foi sentenciado pelo dito governador e ouvidor

geral Antonio da Costa Coelho” em “cinco anos de degredo para Angola”. Todavia,

insatisfeito com a pena, o soldado apelou ao Conselho de Guerra. No dia 10 de janeiro

de 1714, o Conselho decidiu pela revogação da “sentença no perdimento dos bens” e

pela comutação do degredo de Angola para o “estado do Maranhão”, não podendo ir ao

“Pará durante o tempo total do degredo”. Mesmo com a condenação de degredo, após

cinco anos, conseguiu restituir o seu posto de capitão da Fortaleza da Barra no Pará.13

Como vemos, o recrutamento e o degredo foram ações relacionadas na colônia.

O caso de Sebastião Rodrigues é um exemplo claro da mobilização de pessoas pelo

serviço das armas. Essa mobilidade só é possível pela percepção de um espaço mais

global. Foi, portanto, as experiências militares acumuladas em 35 anos de serviço das

armas por Sebastião Rodrigues em diferentes partes da conquista que permitiu a ele não

apenas o conhecimento do aparelho burocrático ao qual recorreu várias vezes para

restituir seu posto de capitão de fortaleza no norte da colônia, como também a

importância do conhecimento militar para a conquista.

Além do recrutamento interno à capitania do Grão-Pará nas fontes encontramos

soldados provenientes de outros espaços. Em uma consulta de 1714, consta que foram

enviadas de Pernambuco muitas “pessoas que foram obrigadas e presas para ir servir”

no Maranhão.14

Em 1712 uma carta régia ordenava ao capitão-mor do Ceará que

enviasse à capitania de São Luís “sem demora 400 índios de guerra” e “alguns

soldados”. Rafael Chambouleyron computou notadamente na última década do século

XVII, o envio de quase 900 soldados da Madeira para serem distribuídos entre

Maranhão e Pará.15

Em consulta de 1722 o conselho ultramarino sugere que os 400

soldados que pedia o governador João da Maia da Gama poderiam sair dos “casais que

V.M. manda ir da ilha do Pico”, nos Açores.16

Além daqueles que vinham com os

12

Carta do governador João da Maia da Gama, para o rei. Pará 16 de agosto de 1725. Anexo: certidões,

carta, requerimento e despacho. AHU, Avulsos do Pará, Cx. 8, D. 748. 13

Requerimento de Sebastião Rodrigues de Oliveira, para o rei. Pará, 23 de fevereiro de 1724. Anexo:

despacho, certidões e treslado. AHU, Avulsos do Pará, Cx. 8, D. 672. 14

Consulta do Conselho Ultramarino para o rei. Lisboa 29 de novembro de 1714. AHU, Avulsos do Pará,

Cx. 6, D. 509. 15

CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, Ocupação e Agricultura na Amazônia Colonial (1640-

1706). Belém: Ed. Açai/ Programa de Pós-graduação em História Social (UFPA)/ Centro de Memória da

Amazônia (UFPA), 2010, p.56 e 57. 16

“S.e o q. escreve o gov.

or e capp.

m gn.

l do Estado do Maranhaõ aserca dos poucos soldados q. tem a cid.

e

de Sam Luis do Maranhaõ e cidade do Grão Parâ para guarnecerem as fortalezas e prezidios dellas”.

Lisboa, 2 de dezembro de 1722. AHU, Consultas do Maranhão e Pará, códice 209 (1722-1758) ff. 5v-6v.

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WANIA ALEXANDRINO VIANA

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governadores conforme representou em 1729, Alexandre de Souza Freire ter trazido em

sua companhia 60 soldados dos 200 que haviam sido destacados para a capitania. 17

A Amazônia estava inserida, portanto, em uma política de recrutamento e defesa cuja

perspectiva espacial é o império e não apenas as capitanias do Pará ou Maranhão. Aqui

percebemos a circulação de sujeitos proporcionada pelo serviço militar que integrava

Angola, São Tomé, Ilha do Príncipe, Ilha da Madeira, Lisboa, Maranhão e Brasil como

vêm eram espaços que se conectavam numa percepção global das partes do império pela

coroa Portuguesa.

O recrutamento é uma ação sistemática e complexa e, definitivamente, não se limita

apenas aos moradores da capitania do Grão-Pará; ao contrário, constitui um elemento

fundamental de mobilização de pessoas no conjunto do império português. Por outro

lado, embora não possamos indicar os destinos de todos os soldados que serviram na

capitania do Pará, algumas fontes indicam que a tropa de guerra se constitui de soldados

de diversas proveniências, sobretudo pelos deslocamentos – forçados em sua grande

maioria – de homens para promover a defesa do território.

Considerações Finais

Os dados dos Mapas e Listas de toda gente de guerra da capitania do Pará, apontam

que durante toda primeira metade do século XVIII, a Coroa na dispunha de 300

soldados para a defesa18

. Considerando que as atividades em que um soldado devia estar

inserido eram diversas- tropas de guerra, resgates, descimentos, guarnição de fortalezas,

fronteiras, tropas de guarda costas- é evidente que o principal desafio é promover a

defesa com pouca ou quase nenhum aparato militar.

Por outro lado, o recrutamento compulsório transformou essa prática em uma ação

arbitrária e indiscriminada, que arrolava toda a população masculina em idade militar,

sem nenhuma disciplina ou conhecimento da arte militar, o que em grande medida

tornava as forças defensivas inoperantes. Por essas razões a incorporação de índios

guerreiros em tropas portugueses foi tão fundamental para a colonização desses espaços.

O conhecimento indígena sobre a floresta, os caminhos dos rios e sobre a própria guerra

que se faz no sertão foi imprescindível. Infelizmente não tive espaço, neste artigo para

17

Carta do governador Alexandre de Sousa Freire para o rei. Belém, 3 de Outubro de 1729. AHU,

Avulsos Pará, caixa 11, doc. 1043. 18

Esses mapas e esses dados podem ser verificados nos seguintes documentos. AHU, Avulsos Pará: Cx.

5, D. 451; Cx. 6, D. 481; Cx. 8, D. 724; Cx. 9, D. 852; Cx. 9, D. 859; Cx. 10, D. 946; Cx. 11, D. 974; Cx.

11, D. 974; Cx. 11, D. 1043; Cx. 12, D. 114; Cx. 19, D. 1776; Cx. 20, D. 1873; Cx. 24, D. 2262; Cx. 25,

D. 2317; Cx. 27, D. 2580; Cx. 28, D. 2681; Cx. 29, D. 2804.

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TROPA DE GUERRA: UMA AÇÃO SISTEMATIZADA DE MOBILIZAÇÃO DE PESSOAS NO GRÃO-

PARÁ. (PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII)

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tratar desta questão, porém, as pesquisas têm apontado cada vez mais, que na primeira

metade do século XVIII, a defesa se efetiva por meio da participação indígena.

O esforço da Coroa portuguesa em operacionalizar a defesa por meio da mobilização

sistemática de homens para as tropas fica evidente quando verificamos a presença no

Grão-Pará de soldados de diversas proveniências – do reino, vindos de outras capitanias

do Brasil, vindos das ilhas notadamente da Madeira, ou feitos internamente – sugere a

abrangência do recrutamento que, além da mobilização, deve ser entendido como

mecanismo que conecta diferentes sujeitos e espaços geográficos, dentro de uma

perspectiva global.

Partindo desses pressupostos, constatamos o caráter dinâmico da tropa de guerra.

Esta força de defesa se organiza e se mobiliza em função do que a experiência colonial e

urgência do momento apontavam ser mais conveniente. Essas características de

adaptabilidade, mobilidade e dinâmica dos efetivos militares foram fundamentais e

garantiram a presença militar lusa na região, mesmo com poucos soldados. O

movimento de tropas, os deslocamento de soldados, a construção de pontos

militarmente fortificados transformaram o espaço produzindo novas paisagens e

conformaram o território.

Ponderando todos os perigos do anacronismo, podemos conjecturar que a Amazônia

de Euclides da Cunha, “portentosa” cuja, grandeza só se deixa ver aos “fragmentos”, foi

o mesmo espaço para o qual, a defesa parecia imprimir enormes desafios no século

XVIII. O “lastimável estado militar” da capitania do Grão-Pará, nas palavras do

governador Gurjão em 1747, se explica também pela dilatação territorial e a imprecisão

do conjunto do domínio português. Esse domínio que é também percebido aos

fragmentos. Ora, as fortalezas, as guarnições em alguns pontos estratégicos,

demonstram que a presença lusa na região não dar conta do seu conjunto.

Os desafios do século XXI, presentes no discurso do ministro da Defesa Celso

Amorim, parece perseguir também o domínio do conjunto. A porosidade das fronteiras

Amazônicas são exemplos atuais da difícil efetivação da defesa no todo. Talvez isso

explique a estratégia discursiva do ministro em recuperar de Euclides da Cunha, o

deslumbre do excesso. O “excesso de céus por cima de um excesso de águas”

imensurável, inapreensível.

Este trabalho talvez seja mais um para compor a “guerra de mil anos” de que trata

Euclides da Cunha. E, talvez Euclides tenha razão, a Amazônia é “a grandeza, que só se

deixa ver, apequenando-se”. Então vamos “pouco a pouco, lento e lento”, conhecer a

impressionante realidade desse espaço. A defesa é apenas um aspecto, que somados a

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outros, denudará os “véus da paragem maravilhosa, onde hoje se nos esvaem os olhos

deslumbrados e vazios” 19

.

Fontes

Carta do governador Francisco Pedro de Mendonça Gurjão para o rei. Pará 29 de

outubro de 1747. AHU, Avulsos Pará, caixa 29, doc. 2804.

Carta do governador João da Maia da Gama, para o rei. Pará 16 de agosto de 1725.

Anexo: certidões, carta, requerimento e despacho. AHU, Avulsos do Pará, Cx. 8, D.

748.

Requerimento de Sebastião Rodrigues de Oliveira, para o rei. Pará, 23 de fevereiro de

1724. Anexo: despacho, certidões e treslado. AHU, Avulsos do Pará, Cx. 8, D. 672.

Consulta do Conselho Ultramarino para o rei. Lisboa 29 de novembro de 1714. AHU,

Avulsos do Pará, Cx. 6, D. 509.

“S.e o q. escreve o gov.

or e capp.

m gn.

l do Estado do Maranhaõ aserca dos poucos

soldados q. tem a cid.e de Sam Luis do Maranhaõ e cidade do Grão Parâ para

guarnecerem as fortalezas e prezidios dellas”. Lisboa, 2 de dezembro de 1722. AHU,

Consultas do Maranhão e Pará, códice 209 (1722-1758) ff. 5v-6v.

Carta do governador Alexandre de Sousa Freire para o rei. Belém, 3 de Outubro de

1729. AHU, Avulsos Pará, caixa 11, doc. 1043.

Mapas e Listas Militares. AHU, Avulsos Pará: Cx. 5, D. 451; Cx. 6, D. 481; Cx. 8, D.

724; Cx. 9, D. 852; Cx. 9, D. 859; Cx. 10, D. 946; Cx. 11, D. 974; Cx. 11, D. 974; Cx.

11, D. 1043; Cx. 12, D. 114; Cx. 19, D. 1776; Cx. 20, D. 1873; Cx. 24, D. 2262; Cx. 25,

D. 2317; Cx. 27, D. 2580; Cx. 28, D. 2681; Cx. 29, D. 2804.

Referências Bibliográficas

AMADO, Janaina. Viajantes involuntários: degredados portugueses para a Amazônia

colonial. História, Ciência, Saúde- Manguinhos. vol.VI (suplemento, setembro de

2.000), pp. 813-823.

AMORIM, Celso. Defesa da Amazônia. VII Encontro Nacional da Associação

Brasileira de Estudos de Defesa – Belém, 05 de agosto, 2013.

CHAMBOULEYRON, Rafael. Povoamento, Ocupação e Agricultura na Amazônia

Colonial (1640-1706). Belém: Açaí/PPHIST/CMA, 2010.

19

CUNHA, Euclides. Um paraíso Perdido. Pp. 335-336.

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TROPA DE GUERRA: UMA AÇÃO SISTEMATIZADA DE MOBILIZAÇÃO DE PESSOAS NO GRÃO-

PARÁ. (PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII)

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COATES, Timothy. Degredados e órfãs: Colonização dirigida pela Coroa no Império

Português, 1550-1755. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos

Descobrimentos Portugueses, 1998.

COSTA, Fernando Dores. A Guerra da Restauração 1641-1668. Lisboa: Livros

Horizonte, 2004.

COSTA, Elisa Maria Lopes da. “O povo cigano e o degredo: contributo povoador para

o Brasil colônia”. Textos de História Revista da Pós-Graduação em História da UNB.

Vol. 6, n. 1 e 2, 1998.

CUNHA, Euclides. Um paraíso Perdido. Ensaios Amazônicos. Seleção e coordenação

de Hildon Rocha. Brasília: Senado Federal, 2009, p.335-336.