27
Página 1 de 27 15/09/2015 MEMÓRIA DESCRITIVA E JUSTIFICATIVA DE CORREÇÃO MATERIAL À DELIMITAÇÃO DA RESERVA ECOLÓGICA NACIONAL (Revisão de Setembro de 2015)

Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Página 1 de 27 15/09/2015

MEMÓRIA DESCRITIVA E JUSTIFICATIVA DE

CORREÇÃO MATERIAL À DELIMITAÇÃO DA

RESERVA ECOLÓGICA NACIONAL

(Revisão de Setembro de 2015)

Page 2: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

2 Câmara Municipal de Soure

Índice

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 3

2. OBJETIVO .................................................................................................................... 4

3. ENQUADRAMENTO ..................................................................................................... 5

4. METODOLOGIA ........................................................................................................... 6

5. ANÁLISE ....................................................................................................................... 7

5.1. Caracterização Geofísica ........................................................................................ 7

5.2. Caracterização da Bacia Hidrográfica .................................................................... 8

5.3. Caracterização da área objeto de correção – estudo hidrológico e hidráulico ..10

5.4. Fontes de Informação consultadas .......................................................................17

5.5. Relatórios Técnicos ................................................................................................19

6. CONCLUSÕES ............................................................................................................21

7. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................23

8. ANEXOS ......................................................................................................................24

Page 3: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

3 Câmara Municipal de Soure

1. INTRODUÇÃO

O Município de Soure pretende proceder a uma correção material à delimitação da Reserva

Ecológica Nacional (REN), aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 106/97, de 3 de

Julho, numa mancha classificada como “Zonas Ameaçadas pelas Cheias”, situada em território das

freguesias de Alfarelos e Granja do Ulmeiro, do concelho de Soure. Nesta mancha pretende-se a

correção de um setor delimitado a Norte pelo rio Mondego, a nascente pela ponte pedonal sobre o rio

Mondego (próximo da Estação Ferroviária de Alfarelos) e a poente pelo limite oeste da expansão da

TMIP, objeto de proposta de alteração ao PDM de Soure, correspondendo a uma área de 143.136,16

m2 (aproximadamente 14 ha).

Figura 1 – Localização da área objeto de correção material da REN na Carta Militar n.º 240 (3ª edição) – a verde

apresenta-se a proposta de limite da área objeto de correção material

De acordo com a planta da REN do concelho de Soure, a área que se pretende corrigir eliminando-a

de REN pertence ao sistema biofísico “Zonas Ameaçadas pelas Cheias”, conforme extrato da planta

de sobreposição da REN com a área objeto de correção (Figura 2).

Page 4: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

4 Câmara Municipal de Soure

Considerando que a correção material que se propõe tem como pressuposto a existência de um erro

na delimitação das “Zonas Ameaçadas pelas Cheias” para este local, este estudo baseia-se

essencialmente em pesquisa bibliográfica, consultas a pessoas e entidades locais ou com

intervenção local e análise de estudos específicos que apresentem dados concretos e fidedignos que

permitam validar este pressuposto, nomeadamente estudo hidrológico e hidráulico realizado para o

efeito.

Com base no mesmo propõe-se a área constante da Figura 2, a qual corresponde a um total de

143.136 m2.

Figura 2 – Delimitação da área objeto da presente correção material na Planta da REN (extrato da Planta da

REN, presente no Anexo II).

2. OBJETIVO

Pretende-se a admissibilidade da correção material de delimitação da Reserva Ecológica Nacional na

tipologia “Zonas Ameaçadas pelas Cheias”, para efeitos de correção de erro material, patente e

manifesto, em representação cartográfica da carta da REN em vigor (Anexo II).

Em termos descritivos, a correção proposta visa relocalizar o limite sul da mancha de REN no

coroamento do dique da margem esquerda do Mondego, por ser esse o limite correto e adequado à

área em análise, já que o mesmo não é galgável nos termos do projeto de regularização hidráulica do

Mondego.

Page 5: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

5 Câmara Municipal de Soure

No que à Vala de Alfarelos diz respeito, o troço em causa corresponde a um bacia de drenagem

muito pequena e sem afluências relevantes e cuja descarga está devidamente assegurada para o rio

Mondego ou, em condições de caudais intensos, sob o mesmo com encaminhamento para a Vala da

Ereira. Em conclusão, este troço da Vala de Alfarelos não é passível de transbordo das margens por

caudais excedentários (encontra-se completamente regularizada no âmbito do projeto de

regularização do Mondego), pelo que não apresenta a todo o tempo ameaça de cheias por

galgamento das margens para os terrenos circundantes, devendo esta situação ser refletida na carta

da REN em vigor.

3. ENQUADRAMENTO

A proposta que agora se apresenta e da qual faz parte esta Memória Descritiva, enquadra-se nos

termos previstos no n.º 1 do artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 166/2008, de 22 de agosto, com a redação

que lhe foi conferida pelo Decreto-Lei n.º 239/2012, de 2 de Novembro.

De acordo com o definido na alínea c) da seção III – Áreas de prevenção de riscos naturais, do anexo

I, presente no Decreto-Lei n.º 239/2012 de 2 de novembro, consideram-se “zonas ameaçadas pelas

cheias” ou “zonas inundáveis”, “as áreas suscetíveis de inundação por transbordo de água do leito

dos cursos de água devido à ocorrência de caudais elevados”. É referido ainda no ponto 2, que “a

delimitação das zonas ameaçadas pelas cheias é efetuada através de modelação hidrológica e

hidráulica que permita o cálculo das áreas inundáveis com período de retorno de 100 anos da

observação de marcas ou registos de eventos históricos e de dados cartográficos e de critérios

geomorfológicos, pedológicos e topográficos”.

A presente Memória Descritiva pretende efetuar um levantamento de dados históricos junto das

entidades envolvidas e analisar um conjunto de referências e estudos, de modo, a certificar e

constatar, com dados sólidos, a inexistência de risco de cheia na área em estudo.

De facto, considera-se que existe um desfasamento entre a atual delimitação da zona ameaçada por

cheia e as condições do território, designadamente devido às obras de regularização do Mondego e

seus afluentes, que localmente se refletem no rio Mondego, no rio Ega e na Vala de Alfarelos. Estas

obras ocorreram na década de 80 e as alterações no território e na sua drenagem não foram

refletidas na delimitação da REN, o que só por si demonstra a existência de um erro material na sua

delimitação, bem como justifica a necessidade da sua correção.

Aliás, da análise cartográfica dos elementos do PDM de Soure e da Carta da REN, apesar de

publicadas em 1994 e 1997, respetivamente, conclui-se que utilizaram como base cartográfica a

Carta Militar n.º 240 (1/25000), Edição 2, publicada em 1983, mas baseada em trabalhos de campo

de 1978, pelo que estes elementos não refletem ainda as intervenções acima mencionadas. Desta

forma, considera-se que a REN se encontra mal delimitada para aquele território e que, neste sentido,

carece de correção material.

Page 6: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

6 Câmara Municipal de Soure

Na presente situação e nos termos do artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 166/2008 de 22 de Agosto

(alterado pelo Decreto-Lei n.º 239/2012 de 2 de Novembro), a Câmara Municipal de Soure elaborou

uma proposta de correção material da REN a nível municipal, que vai submeter à Comissão de

Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro a quem compete aprovar e promover a

publicação em Diário da República. Neste caso, a aprovação carece ainda de pronúncia da Agência

Portuguesa do Ambiente (ex-Administração da Região Hidrográfica do Centro), que prossegue

atribuições de gestão das águas, incluindo o respetivo planeamento, licenciamento e fiscalização.

4. METODOLOGIA

Este estudo compreendeu os seguintes trabalhos:

Recolha e inventariação da informação existente sobre a área;

Recolhas periciais no terreno e junto de particulares e entidades públicas;

Análise e produção de cartografia temática para o auxílio à decisão.

Para o desenvolvimento da presente Memória Descritiva adotou-se a seguinte metodologia:

1. Tomou-se como referência a área cartografada na Carta da REN em vigor e que integra o Plano

Diretor Municipal de Soure (Resolução do Conselho de Ministros 58/94, de 27 de Julho), em

particular a mancha de “zona ameaçada por cheias” objeto de proposta de correção.

2. Foram consultados os Ortofotomapas digitais de Portugal Continental – falsa cor – 1995,

produzidos pelo ex-IGP e as Cartas Militares de Portugal do IGeoE à escala 1/25000 em formato

raster (carta n.º 240, edições 2 e 3);

3. Foi consultada a Administração de Região Hidrográfica do Centro, da Agência Portuguesa do

Ambiente (APA), assim como informação disponível no seu portal, nomeadamente o Sistema

Nacional de Informação dos Recursos Hídricos (SNIRH) e o Plano de Gestão das Bacias

Hidrográficas dos rios Vouga, Mondego e Lis.

4. Foram consultadas pessoas de maior idade para identificar memórias ou factos que comprovem

ou não a ocorrências de cheias e permitam identificar pontos afetados por essas cheias, assim

como as respetivas causas.

5. Procurou-se informação sobre ocorrências ou previsões de cheia junto da CP (Comboios de

Portugal), da ex-REFER – Rede Ferroviária Nacional (atual Infraestruturas de Portugal), da TMIP

– Transportes e Logística, dos Serviços Municipais de Proteção Civil, do Comando Distrital de

Operações de Socorro de Coimbra e junto dos Serviços Técnicos Municipais de Soure.

6. Foi consultado o estudo da “Delimitação das Áreas Ameaçadas por Cheias/Inundações e

identificação de pontos críticos de escoamento no concelho de Soure”, desenvolvido pela

Page 7: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

7 Câmara Municipal de Soure

Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (2010) em parceria com a

Câmara Municipal de Soure, assim como a Tese de Mestrado intitulada “Cartografia de áreas

inundáveis a partir do método de reconstituição hidrogeomorfológica e do método hidrológico-

hidráulico” (Santos, P., 2009).

7. Foi consultado o Estudo Hidrológico e Hidráulico desenvolvido para o Parque Logístico de

Alfarelos onde se avalia o impacte nas condições de escoamento do meio recetor causadas pela

extensão do Terminal da TMIP (Rodrigues, C., Jorge, Graça, 2015).

8. Finalmente procedeu-se a uma validação e correção da delimitação da mancha de “Zonas

Ameaçadas pelas Cheias” para o território em análise.

5. ANÁLISE

5.1. CARACTERIZAÇÃO GEOFÍSICA

O concelho de Soure integra-se totalmente na unidade morfo-estrutural Orla Mesocenozóica

Ocidental, estando individualizados segundo Almeida et al. (1990) quatro conjuntos morfológicos: as

serras e planaltos calcários, as colinas gresosas, a planície aluvial e o diapiro de Soure (FCTUC,

2010).

Figura 3 – Unidades morfo-estruturais para o concelho de Soure (FCTUC, 2010).

Page 8: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

8 Câmara Municipal de Soure

A área em estudo integra o conjunto morfológico referente à planície aluvial. De acordo com FCTUC

(2010), “as planícies aluviais constituem a terceira unidade morfo-estrutural mais representada em

área no concelho de Soure. A cada um dos quatro cursos de água principais (o rio Mondego e os

seus efluentes – os rios Ega, Arunca e Pranto) correspondem grandes manchas de depósitos

aluvionares que marginam o concelho a norte (rios Ega e Mondego) e a Oeste (rio Pranto). A planície

aluvial do rio Arunca é claramente a mais extensa na área do concelho, cortando-o meridianamente e

bifurcando em Soure ao longo do rio Anços”.

5.2. CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA

Em termos hidrográficos, o concelho de Soure e a área em estudo encontram-se inseridos na bacia

hidrográfica do rio Mondego, mais precisamente na planície aluvionar do Baixo Mondego. De acordo

com o Plano de Gestão das Bacias Hidrográficas dos rios Vouga, Mondego e Lis (PGBHVML, 2013),

o rio Mondego “nasce na Serra da Estrela a 1547 m de altitude, numa pequena fonte designada por

“O Mondeguinho” percorrendo cerca de 300 km até desaguar no Oceano Atlântico junto à Figueira da

Foz. Os principais afluentes do Mondego são o Rio Dão, na margem direita, e os rios Pranto, Arunca,

Ceira e Alva, na margem esquerda”. O rio Mondego é o quinto maior de Portugal e o primeiro de

todos que têm o seu curso inteiramente em Portugal. Com um comprimento de 258,3 km, caudal

médio de 108 m³/s na foz, apresenta uma bacia com área contabilizada em 6645 km².

Figura 4 - Bacia hidrográfica do rio Mondego (Plano de gestão da bacia hidrográfica dos rios Vouga, Mondego e

Lis, 2011).

Page 9: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

9 Câmara Municipal de Soure

Até Coimbra o seu curso faz-se através de um vale bastante encaixado em rochas metamórficas e

granito, sendo o seu troço terminal (localizado no Baixo Mondego) caracterizado por planície aluvial,

com terrenos férteis. O Baixo Mondego “corresponde à parte do rio que corre em vales abertos, em

zona de planícies, a jusante de Coimbra até à Figueira da Foz” (PGBHVML, 2013).

Conforme referido, o município de Soure abrange terrenos da bacia hidrográfica do rio Mondego,

incluindo as sub-bacias dos rios Ega, Pranto e Arunca, sub-bacias estas que confluem na planície

aluvionar, com o rio Mondego.

Os terrenos do município pertencentes ao plaino aluvial do rio Mondego ocupam essencialmente

áreas na margem esquerda deste rio, com exceção de uma parcela de terreno na margem direita das

proximidades da Granja do Ulmeiro. Na margem esquerda a restante rede hidrográfica drena

diretamente para o rio Mondego, tratando-se na maioria dos casos de canais elementares, a que

corresponde cerca de 6,5% da área total do concelho (FCTUC, 2010).

Figura 5 – Bacia hidrográficas definidas no concelho de Soure (FCTUC, 2010).

De mencionar ainda que existem inúmeras infraestruturas para aproveitamento hidráulico das águas

pluviais, com uma capacidade total de armazenamento em albufeiras de 540 hm³.

As barragens da Aguieira, da Raiva e Açude de Coimbra são os órgãos reguladores de caudais da

bacia e foram complementados na planície aluvionar do Baixo Mondego por diques de defesa com

uma extensão de 7,7 km, e uma dragagem de 16 hm³ e revestimentos de enrocamentos com um

volume de 0,5 hm³. Os caudais originários em grandes chuvadas implicam cheias relativamente

rápidas com tempo entre o início de cheia e o pico do caudal da ordem de poucas horas, estando

agora regulados por retenção nestes elementos construídos pelo homem, com o objetivo de proteger

a população e os seus bens, e salvaguardar os ecossistemas.

Page 10: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

10 Câmara Municipal de Soure

Importa referir que análises empíricas às maiores cheias ocorridas nos dois últimos séculos têm um

período de retorno de 20 anos.

5.3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA OBJETO DE CORREÇÃO – ESTUDO HIDROLÓGICO E

HIDRÁULICO

A área em causa insere-se em zona classificada como REN, sobre o vale aluvionar da vala de

Alfarelos, lateral à margem esquerda do rio Mondego (em troço regularizado). Para efeitos da

presente caracterização foram considerados dois setores de análise, correspondentes ao território

objeto de proposta de correção material da REN:

Setor 1 – Tem como limite nascente o alinhamento da ponte pedonal sobre o rio Mondego, junto à

Estação Ferroviária de Alfarelos e limite poente a atual área de implantação da TMIP, que coincide

com um Caminho Municipal rodoviário que passa sob a linha ferroviária do Norte.

Setor 2 – Área da futura expansão da TMIP e objeto de proposta de alteração ao PDM de Soure.

Em termos de delimitação, os setores supramencionados têm como limite Norte o rio Mondego e

como limite Sul a linha ferroviária do Norte até ao cruzamento com a EN347.

Relativamente ao Setor 1, importa destacar que neste setor tem início a vala de Alfarelos, onde

afluem as águas pluviais da zona mais próxima da povoação da Granja do Ulmeiro. Esta vala, por

falta de manutenção, apresentava-se constantemente obstruída pela vegetação nos últimos anos e

potencialmente originava sérios constrangimentos de escoamento e episódios de inundação, pelo

que foi recentemente alvo de limpeza e desobstrução por parte dos serviços da Câmara Municipal de

Soure (Figura 6).

Figura 6 – Aqueduto (foto da esquerda) de águas pluviais que desagua no início (foto central) da vala de

Alfarelos, no setor 1, até ao Caminho Municipal (foto da direita) rodoviário que passa sob a linha ferroviária do

Norte.

Este setor apresenta uma topografia muito plana e com uma área de bacia de drenagem muito

reduzida que se inicia na ponte pedonal já referida e é limitada a Norte pelo rio Mondego e a Sul pela

linha ferroviária do Norte, sendo drenada pela já referida Vala de Alfarelos numa extensão linear de

cerca de 500m até ao Caminho Municipal que serve e limita a TMIP atual.

Page 11: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

11 Câmara Municipal de Soure

Relativamente ao setor 2, este é igualmente atravessado pela vala de Alfarelos, que também neste

troço foi sujeita a limpeza por parte dos serviços da Câmara Municipal (Figura 7).

Figura 7 – Rede de drenagem da vala de Alfarelos, no setor 2 (Fotografia datada de 4 de Dezembro de 2014).

No entanto, para além da vala de Alfarelos, existe neste setor uma vala natural, com extensão total

de 524,05 m (cujo traçado foi alterado no passado), com um aqueduto na Linha do Norte e 2

aquedutos no Ramal de Alfarelos. No término do talude da Linha do Norte e talude do Ramal de

Alfarelos existem valas de base que retêm as águas pluviais provenientes dos taludes e escoam para

os outros órgãos de drenagem.

Figura 8 – Aquedutos existentes sob o ramal de Alfarelos e que ligam o setor 2 à Vala de Alfarelos, a montante

(esquerda) e a jusante (direita), respetivamente (Fotografias datadas de 2 de Junho de 2015).

Importa referir a existência desta vala em terreno natural, cujo curso natural foi sendo alterado pelo

homem, ao longo dos tempos, sendo o seu escoamento quase inexistente e no sentido contrário à

Page 12: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

12 Câmara Municipal de Soure

condição natural, de tal forma que se constata, no local, a existência de 2 aquedutos no aterro que

serve de plataforma ao Ramal de Alfarelos (Figura 8).

O aqueduto existente a montante (correspondente à passagem hidráulica 2), projetado e de

dimensões reduzidas, com função de transferência de águas captadas numa das laterais da

plataforma da via-férrea, recebia exclusivamente água proveniente da vala de base sendo que, neste

momento, recebe também águas provenientes do aqueduto da Linha do Norte e transfere o caudal

por meio de uma vala em terreno natural, meandrizada por sucessivas alterações ao seu leito, por

parte dos anteriores proprietários.

Figura 9 – Aqueduto de dimensões mais reduzidas, localizado a montante (fotografias datadas de Abril/Maio de

2015).

O outro aqueduto situado a jusante do referido anteriormente (correspondente à passagem hidráulica

1) é de dimensões significativamente maiores, o que demonstra que a vala existente no terreno, na

sua génese, estaria ligada a este, procedendo ao escoamento das águas recebidas no aqueduto da

Linha do Norte. No local a realidade é outra, e neste momento este aqueduto transfere unicamente as

águas captadas pela vala base que compõe uma bacia de retenção de águas pluviais, sempre que

ocorrem fortes chuvadas, devido à diferença de cotas entre a Linha do Norte e o ramal de Alfarelos, e

à orografia do terreno com pendentes irregulares, no sentido do ramal de Alfarelos.

Figura 10 – Aqueduto de dimensões maiores, localizado a jusante (fotografias datadas de Abril/Maio de 2015).

Page 13: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

13 Câmara Municipal de Soure

De referir que as valas existentes não tinham sido alvo de manutenção ao longo dos últimos anos,

como se constatou após limpeza do terreno e desassoreamento dos diversos órgãos de drenagem

existentes.

ESTUDO HIDROLÓGICO E HIDRÁULICO (JORGE, GRAÇA, RODRIGUES, C., AGOSTO, 2015)

Importa referir que foi elaborado um Estudo Hidrológico (Anexo III) específico para a bacia

hidrográfica deste setor (elaborado no âmbito da proposta de alteração ao PDM de Soure, atualmente

em curso) que pretendeu:

- Proceder à análise e articulação da pretensão de constituição do terminal de expansão das

instalações da TMIP com o projeto de Regularização do Baixo Mondego- Drenagem das zonas de

Encosta- Bacias 9E e 10E Alfarelos) (INAG, 1981);

- Avaliar as condições de escoamento da cheia centenária.

O estudo procedeu à atualização dos caudais de cheia, tendo por base informação atualizada para a

zona e a uma análise de sensibilidade ao cálculo do tempo de concentração das bacias drenantes.

Tal como em INAG (1981), considerou-se que o tempo de concentração de resposta do conjunto de

bacias é controlado pelo tempo de resposta da maior bacia, a bacia da Ribeira do Vale de Soure.

Da comparação dos caudais estimados no estudo com os previstos em INAG (1981), verifica-se que

“a atualização dos valores de precipitação e das condições de escoamento superficial traduzidas no

número de escoamento e coeficiente de escoamento e no tempo de concentração da bacia

conduzem, no conjunto, a valores menos conservadores dos considerados no dimensionamento do

sistema, fazendo corresponder sensivelmente o período de retorno de 100 anos ao período de

retorno de 25 anos então estimado”.

Figura 11 – Síntese da determinação de caudais de ponta de cheia.

Em termos conclusivos, o estudo supramencionado prevê “que a cheia centenária afluente ao

sistema de drenagem (16m3/s) atinja junto do sifão da vala de Alfarelos, localizado a jusante da Ponte

da estrada EN347, uma cota de 4,6m a que corresponde uma cota estimada de 5,1m no início da

vala de Alfarelos.

Page 14: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

14 Câmara Municipal de Soure

Nas condições descritas, o caudal centenário da Rib. do Vale de Soure, estimado em 6,4m3/s, atinge

um nível de cerca de 5,3m na vala sul adjacente à Linha de Alfarelos. Este nível pouco afeta as

condições de escoamento da Rib do Vale de Soure em virtude da inclinação do leito.

A plataforma de expansão do terminal da TMIP, localizada entre a Linha do Norte e a Linha de

Alfarelos, desenvolver-se-á a cotas mínimas de 6,6m, prevendo-se que a plataforma possa, inclusive,

subir para cotas próximas da plataforma da linha de Alfarelos, da ordem do 6,8m. Neste

enquadramento, considera-se que uma folga de cerca de 1,3m entre os níveis de cheia centenária na

vala sul adjacente à Linha de Alfarelos e a cota de plataforma do aterro do terminal é suficiente para

assegurar que não será inundada, sendo o mesmo aplicável à Linha de Alfarelos”.

Ainda assim, o estudo considera que “embora o projeto da expansão do terminal não provoque

impacte significativo nas condições de formação e escoamento de cheias no perímetro de

intervenção, nem nas áreas confinantes, considera-se oportuna a requalificação do sistema, em face

do desordenamento da rede hidrográfica na zona de influência do projeto”.

Neste sentido, prevê uma requalificação da rede hidrográfica conforme apresentado na figura

seguinte.

Figura 12 – Proposta de requalificação da rede hidrográfica.

A requalificação proposta consiste fundamentalmente no reperfilamento e estabilização dos taludes

das valas existentes e redireccionamento da Ribeira do Vale de Soure, nomeadamente:

- “Ribeira do Vale de Soure: abertura e estabilização dos taludes do leito da Ribeira, com re-

orientação na direção da passagem hidráulica de maior dimensão sob a LAlfarelos, LAPH1; propõe-

Page 15: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

15 Câmara Municipal de Soure

se o revestimento das margens do leito menor, com gabiões, em secção de rasto de 2,5m e taludes

1:0,5 e, pontualmente, a sua cobertura sob os ramais ferroviários e sob o acesso rodoviário a serem

construídos, sempre em troços de extensão visitável;

- Vala a sul da LAlfarelos: reperfilamento e estabilização da vala, mantendo a sua dimensão (~2,5m

rasto e 5m de boca); reforço da ligação à vala de Alfarelos através de uma nova PH dupla de

diâmetro 2*D1500, sob a linha ferroviária; proteção da confluência da Ribeira do Vale de Soure com

gabiões/colchões Reno;

- Vala a norte da LNorte, reperfilamento e estabilização da vala, que coletará os caudais de drenagem

da via da LNorte e eventualmente algum caudal de drenagem da plataforma do terminal; reforço da

ligação à vala sul da LAlfarelos, através de condutas de drenagem a pré-dimensionar em fase de

Estudo Prévio em função do projeto de drenagem da plataforma”.

Ao nível do funcionamento do sistema da vala de Alfarelos, importa salientar que, na área de

intervenção do presente estudo, a drenagem desenvolve-se sem dificuldade de escoamento, sendo

que, de acordo com informação fornecida pelos serviços da Agência Portuguesa do Ambiente, e de

acordo com informação de projeto do Aproveitamento Hidroagrícola do Baixo Mondego, não existe a

possibilidade de ocorrerem refluxos nesta Vala (provenientes do rio Mondego) aquando de um

episódio de elevada precipitação.

Figura 13 – Canal, com sifão, para drenagem da vala de Alfarelos para o rio Mondego (Fotografias datadas de 2

de Junho de 2015)

Em condições normais, a vala de Alfarelos possui uma descarga em sifão para o rio Mondego, a

cerca de 200 m a jusante da ponte da EN347 (sobre o rio Mondego). No entanto, existe uma cota

máxima de segurança no nível de água no rio Mondego (de 3,4 m), a partir da qual a vala de Alfarelos

passa a descarregar por sifão alternativo, encaminhando os respetivos caudais para a margem direita

do rio (vala da Ereira). Assim sendo, não é possível a ocorrência de qualquer refluxo para montante,

nesta vala de drenagem.

Em resumo, toda a área acima descrita é dominada e drenada pela Vala de Alfarelos cujo

Page 16: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

16 Câmara Municipal de Soure

escoamento é garantido e regulado pelo projeto hidráulico concretizado no terreno e que

nomeadamente salvaguarda os períodos de caudais elevados no rio Mondego, em que o

escoamento desta vala é feito por bypass para a Vala da Ereira, evitando assim qualquer

constrangimento hidráulico ao escoamento dos caudais da Vala de Alfarelos, assim esteja esta em

pleno funcionamento hidráulico, com boas condições de limpeza e manutenção.

Não obstante, verificou-se no terreno e sobre o levantamento topográfico que as passagens

hidráulicas referenciadas sob o ramal de Alfarelos e respetiva confluência com a vala de Alfarelos

apresentam cotas de base abaixo da cota de 5,3m determinada no Estudo Hidrológico e Hidráulico

(Rodrigues, C., Jorge, Graça, 2015) como a cota limite de propagação da água para montante, para o

início da vala de Alfarelos.

Tal facto traduz-se na possibilidade, de ocorrer passagem de água da vala de Alfarelos através das 2

passagens hidráulicas referenciadas para uma franja residual de terreno na área objeto de correção

material. Esta situação foi documentada na Figura 10 do Estudo Hidrológico e Hidráulico (Rodrigues,

C., Jorge, Graça, 2015).

Esta situação foi considerada na conceção da solução preliminar de requalificação da rede

hidrográfica local, apontada naquele Estudo e que visa objetivamente corrigir esta situação através de

um dimensionamento adequado das valas a reperfilar na área para garantir volume de amortecimento

suficiente para as afluências da ribeira de Vale do Soure e locais, mas também de alguma subida da

cota de propagação da água para montante.

Adicionalmente, verifica-se ainda que do levantamento pontual de cotas nas margens da vala de

Alfarelos (apresentadas em suporte digital) se determinou uma cota anormalmente baixa no ponto

cotado mais a montante da margem esquerda, que é de 5,07m. Esta situação não apresenta

coerência nem com a cota da margem direita, nem com os pontos mais a jusante que são bem mais

altos e dever-se-á provavelmente a uma degradação da margem nesta zona fruto de intervenções de

limpeza e acesso ao terreno, que contribuíram para um desgaste da crista da margem esquerda

nesta zona promovendo o seu rebaixamento.

Neste cenário, existirá atualmente nesta zona uma pequena área correspondente a uma estreita faixa

(não mais de 30m de largura) de terreno, situada entre o ramal ferroviário de Alfarelos e a vala de

Alfarelos que numa cheia centenária seria passível de inundação fruto do rebaixamento da margem

esquerda, mas cuja representatividade é muito baixa e decorre de uma degradação das

infraestruturas hidráulicas, neste caso da margem esquerda da vala de Alfarelos.

Neste contexto, considerando que de acordo com o projeto hidráulico (INAG, 1981) as margens da

vala de Alfarelos nesta zona não são galgáveis e que a cota determinada de 5,30m (correspondente

à cota de propagação de água para montante, para o início da vala de Alfarelos, numa cheia

centenária), deve ser salvaguardada, importa assim refazer aquela margem para cota acima dos

5,30m em coerência com o verificado mais para jusante.

Page 17: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

17 Câmara Municipal de Soure

5.4. FONTES DE INFORMAÇÃO CONSULTADAS

Para o desenvolvimento da presente Memória Descritiva promoveu-se o contacto direto junto das

entidades com intervenção na área (estatais e não estatais), promoveu-se a recolha de notícias e

testemunhos informais junto dos trabalhadores locais, população em geral e demais agentes

associados à área de intervenção, no sentido de apurar acontecimentos históricos que indiciassem a

ocorrências de cheias ou inundações na área de intervenção

Assim, inicialmente recorreu-se a informação disponibilizada no sítio da Agência Portuguesa do

Ambiente (APA), uma vez que esta dispõe de informações validadas pela Autoridade Nacional da

Proteção Civil (ANPC), nomeadamente relativas a marcos de referência, onde se descreve a

localidade, o concelho, as coordenadas militares que georreferenciam o local, a data do ocorrido, a

causa e fonte de informação que reportou. As informações recolhidas confirmam a ausência de

registos históricos nos sistemas de informação da APA, pelo que na zona de intervenção não existem

ocorrências documentadas.

Foi também consultado um documento validado pelo Sistema Nacional de Informação de

Recursos Hídricos (SNIRH), designado por marcas de referência, relativo a zonas de inundação,

que apresenta uma descrição do concelho, georreferenciação por coordenadas militares, data da

ocorrência, altura, cota, caudal e respetiva fonte. Por consulta deste documento constata-se que para

a zona de intervenção não existe nenhuma ocorrência.

Por consulta ao Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), da Agência

Portuguesa do Ambiente, foi ainda possível identificar o polígono da área inundável para o rio

Mondego, sendo que a área de intervenção não se insere nesta delimitação da área inundável.

Face à inexistência de dados hidrológicos específicos para a zona, a redefinição cartográfica desta

tipologia teve como base a informação de campo, através de levantamento feito junto das

populações. Assim, optou-se por recorrer ao contacto direto com habitantes locais, na maioria dos

casos com idade superior a 50 anos, que confirmam e validam a inexistência de cheias nos terrenos

afetos à área em análise.

De referir que na proximidade da área em estudo existem construções antigas cujos moradores não

têm registos de ocorrência de inundações.

Acresce ainda que no próprio terreno existiu até ao início de 2015 uma habitação ocupada por uma

família, que ali habitou durante cerca de 2 décadas e nunca foi atingida por cheia ou inundação.

Por outro lado, importa também salientar a existência, no local, de uma Estação de Tratamento de

Águas Residuais (desde 1989) onde, de acordo com informação da CM de Soure (entidade gestora

da mesma), nunca ocorreu qualquer episódio de inundação.

Relativamente ao registo de notícias encontradas, aponta-se como relevante a publicação do Jornal

de Notícias (Almeida, 2004) de um artigo intitulado “Cheias no Baixo Mondego causadas pela

precipitação”, onde se descreve o fenómeno ocorrido nas cheias/inundações de Janeiro de 2001.

Page 18: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

18 Câmara Municipal de Soure

Neste artigo, é descrito que a precipitação intensa e prolongada, culminou com o rebentamento de

diques, extravasando do leito central do Rio Mondego, inundando os campos e povoações próximas.

Relativamente ao Diário de Noticias, numa notícia intitulada “Ainda há quem chore as cheias de 2001”

(2006), esta recolheu testemunhos de habitantes de Montemor-o-Velho, que apontam como causa

das cheias, a abertura das comportas de bombagem do Foja, que regulariza diariamente, de acordo

com as marés, o caudal do Rio Velho para o canal central. Informação presente em (Diário de

Noticias, 25 de Junho de 2006).

Com base em testemunhos e recolha de informação junto de trabalhadores da companhia Comboios

de Portugal, estes asseguram também que em período algum, até mesmo durante períodos de

Inverno ou de ocorrências de maiores chuvadas, que a zona em causa, tenha sido afetada por cheias

ou inundações. Considera-se o peso e idoneidade deste relato como ponto de referência, que deve

ser considerado de extrema importância, dado que estes trabalhadores, enquanto desempenharam a

sua atividade profissional, executavam diariamente movimentos pendulares com origens e destinos

próximos, que obrigavam a passar continuadamente pelo ramal de Alfarelos. Este facto aponta para a

garantia de idoneidade do testemunho de não ocorrência de cheias ou inundações que tenham

provocado restrições ou interrupções da via-férrea. Não foi possível obter quaisquer estudos ou

elementos adicionais sobre esta matéria.

De referir também que o terminal TMIP - Transportes e Logística existente está em pleno

funcionamento há cerca de 18 anos, desde que começou a laborar, e o próprio proprietário assegura

que de forma ininterrupta, nunca estiveram em causa os trabalhos desenvolvidos ao nível da

plataforma existente, que tem como referência também a cota do ramal de Alfarelos.

Ainda com o objetivo de recolher informação e/ou registos de inundações na zona em estudo,

efetuou-se uma abordagem informal à Proteção Civil de Soure, que transmitiu não existirem registos

de inundações na zona específica em análise. Foi também contactado o Comando Distrital de

Operações de Socorro de Coimbra que, formalmente, transmitiu que não dispõe de qualquer registo

de ocorrência/pedido de socorro, relacionado com Cheias/Inundações, na área em estudo. No

entanto, importa referir que o concelho de Soure dispõe de um Plano Municipal de Emergência de

Proteção Civil (PMEPC), aprovado em 2010. De uma forma genérica, de acordo com este Plano, a

probabilidade de ocorrência de inundações e cheias no concelho de Soure é média-alta, sendo que o

dano potencial de um episódio de inundações no concelho situa-se na classe moderada. O trabalho

desenvolvido no PMEPC foi complementado com o trabalho realizado pela Faculdade de Ciências e

Tecnologia da Universidade e Coimbra, referente às Zonas Inundáveis do concelho de Soure, e que

se analisa de forma pormenorizada no capítulo 5.5. da presente Memória Descritiva. Neste contexto,

a Planta com a identificação da suscetibilidade a cheias e inundações no concelho de Soure,

presente no PMEPC, teve em consideração o trabalho suprarreferido, pelo que se considera que os

fundamentos adiante expostos podem ser replicados para a análise deste Plano Municipal de

Emergência.

Foi também contatada a Infraestruturas de Portugal, entidade gestora da infraestrutura ferroviária,

que formalmente transmitiu não terem encontrado registos de inoperacionalidade da infraestrutura

Page 19: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

19 Câmara Municipal de Soure

ferroviária, nos troços adjacentes ao Terminal Ferroviário de Alfarelos, da Linha do Norte e do Ramal

de Alfarelos, por motivos de cheia (no período compreendido entre 30 de Outubro de 2006 e 20 de

Julho de 2015 (a data de 30 de Outubro relaciona-se com o início da utilização a aplicação de

registos utilizada e não pelo facto de existir qualquer tipo de ocorrência relacionada com cheias no

local). Não foi possível obter quaisquer estudos ou elementos adicionais sobre esta matéria.

5.5. RELATÓRIOS TÉCNICOS

No relatório designado por “Delimitação das Áreas Ameaçadas por Cheias/ Inundações e

identificação de Pontos Críticos de Escoamento no Concelho de Soure”, realizado pela Faculdade de

Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra em articulação com a Câmara Municipal de

Soure, datado de Março de 2010, existem informações importantes que devem ser analisadas para o

caso prático em estudo.

Como está referido no capítulo C.2 – Elementos expostos a cheias e inundações, apenas se

reportam danos nas vias ferroviárias relativamente às grandes cheias do ano de 2001,

nomeadamente no Ramal de Alfarelos e na Linha do Norte. Esta ocorrência está diretamente

relacionada com o rebentamento do dique, na margem esquerda do designado “Rio Novo”, que tem

por base o canal construído, nos anos 80, no âmbito da obra de regularização do rio Mondego, por

sua vez, associado a um episódio histórico de chuvadas intensas e precipitação contínua, que durou

cerca de uma semana. Reforça-se, no entanto, o caráter excecional e anormal da ocorrência referida,

decorrente de um acidente provocado pelo rebentamento de um dique, sendo que em condições

normais, mesmo com períodos de precipitação intensa, tal situação não ocorreria.

Neste sentido está reportada a afetação da Linha do Norte e Ramal de Alfarelos pela inundação

histórica, atingidos pela confluência do Mondego e Sub-bacia do Ega, mas que em matéria de

localização ocorreu na zona imediatamente a montante da área agora em análise e com a qual não

tem continuidade topográfica. Com efeito, as cotas do terreno nesta área permitem com segurança

definir sentidos de drenagem opostos, tendo como linha de separação o alinhamento da ponte

pedonal sobre o rio Mondego, na zona da Estação de Alfarelos, ou seja, a zona entre a foz do Ega e

a ponte pedonal drena para Nascente e a partir da ponte pedonal a drenagem faz-se para Poente

sendo hidraulicamente assegurada pela Vala de Alfarelos.

Neste documento está descrito ainda, no capítulo C.3 – Validação Cartográfica para a Inundação

Histórica, que a área inundável obtida pela modelação hidrológica-hidráulica é superior à obtida por

reconstituição paleo-hidrogeomorfológica Confirma-se com base neste documento, a discrepância

entre os limites da inundação atual e da inundação histórica. No entanto constata-se o período de

retorno de 100 anos, validado pela correlação positiva entre o referido modelo e a cartografia

histórica.

Ainda relativamente ao limite atual da linha de limite cheia histórica da pesquisa efetuada, e tendo em

conta a informação disponível, resulta fundamentalmente de se ter trabalhado com a cartografia

militar à escala 1:25.000, enquanto a restante zona foi estudada com cartografia à escala 1:10.000. A

Page 20: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

20 Câmara Municipal de Soure

diferença reside nas equidistâncias das curvas de nível e a densidade de pontos cotados da

cartografia produzida a escalas mais pequenas, não permite uma boa representação morfológica do

leito maior e principalmente do leito menor. Esta situação poderá ter originado erros na definição da

linha de máxima cheia.

Estas informações são ainda fortalecidas por Santos, P. (2009), na sua Dissertação de Mestrado

intitulada “Cartografia de áreas inundáveis a partir do método de reconstituição

hidrogeomorfológica e do método hidrológico-hidráulico - Estudo comparativo na bacia

hidrográfica do Rio Arunca”.

Na referida Dissertação é efetuado o estudo comparativo entre as duas metodologias utilizadas na

definição de áreas inundáveis, nomeadamente os métodos usados no relatório desenvolvido pela

FCTUC (2010) designado “Delimitação Áreas Ameaçadas por Cheias/ Inundações e Identificação de

Pontos Críticos de Escoamento no Concelho de Soure”, ou seja, método de reconstituição

hidrogeomorfológica e método hidrológico-hidráulico, neste caso aplicado a troços em estudo

pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Arunca, afluente do Rio Mondego.

O que se destaca nesta Dissertação, é o facto de ter sido desenvolvida a reconstituição

hidrogeomorfológica, com base em características epigráficas das cheias/ inundações, através de

questionários, que permitem identificar pontos críticos de escoamento.

Importa salientar e relacionar os resultados obtidos com as notícias enunciadas anteriormente, em

que as populações, quando questionadas sobre as causas diretas na ocorrência de cheias e

inundações 96/127 respostas múltiplas, assinalaram como chuva muito intensa (tipo tromba-de-

água), concluindo-se novamente tratar-se de fenómenos pontuais.

No que diz respeito às causas indiretas, a população atribui a ocorrência de cheias, 66/149, à falta de

limpeza da linha de água. Para as dificuldades de escoamento, 69/182, apontaram novamente a falta

de limpeza das linhas de água como causa.

Estes são dados diretamente correlacionáveis com o que está noticiado nas fontes referidas

anteriormente. Por outro lado, representam a realidade largamente conhecida pela população local, o

que aponta como fenómenos pontuais e ausência de manutenção dos órgãos de drenagem, como

causas para a ocorrência de cheias/inundações.

De referir também que a análise e conclusões presentes na Dissertação validam, à semelhança do

Relatório da FCTUC (2010), a existência de disparidades entre os limites da inundação atual e da

inundação histórica, atribuindo como possíveis causas, a escala cartográfica disponível e

desatualizada. Mais se refere sobre determinadas zonas em que os dados recolhidos junto da

população revelam também a divergência entre os limites da cheia atual e da cheia histórica,

declarando que não têm ocorrido cheias que atinjam os limites definidos pelas evidências paleo-

hidrogeomorfológicas.

Page 21: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

21 Câmara Municipal de Soure

6. CONCLUSÕES

Para efeitos de identificação e cartografia das “Zonas Ameaçadas pelas Cheias” a integrar na

Reserva Ecológica Municipal do município de Soure, considera-se haver razão objetiva para propor a

presente correção material à referida mancha, pelas razões cumulativas apresentadas e que se

sintetizam:

a) Os elementos do PDM de Soure e a Carta da REN, apesar de publicados em 1994 e 1997,

respetivamente, utilizaram como base cartográfica a Carta Militar n.º 240 (1/25000), Edição 2,

publicada em 1983, baseada em trabalhos de campo de 1978, pelo que não refletem ainda as

intervenções relacionadas com as obras de regularização do Mondego e seus afluentes. Da

sua análise, conclui-se que a delimitação da REN – “Zonas Ameaçadas por Cheias”, em

vigor, foi delimitada com uma base territorial desatualizada apresentando o erro inerente.

b) Não há qualquer referência a episódios de cheia (de conhecimento factual ou de memória),

que não seja decorrente de acidentes decorrentes de rebentamento de diques (como

aconteceu em 2001), ou inundações decorrentes de falta de limpeza e manutenção dos

órgãos de drenagem naturais (valas) que determinam dificuldades de escoamento;

c) O projeto hidráulico de regularização do Mondego e afluentes, designadamente na área de

análise, foi dimensionado e concretizado para garantir a regularização de caudais,

salvaguardar pessoas e bens bem como o adequado escoamento de caudais secundários

afluentes, nomeadamente na Vala de Alfarelos, mesmo numa situação de caudais principais

elevados no rio Mondego e no rio Ega (afluente principal mais próxima da área de análise).

d) A realização das obras de limpeza e desobstrução realizadas recentemente, na área de

análise, proporcionam condições normais e favoráveis ao escoamento das águas na Vala de

Alfarelos, eliminando a potencial ocorrência de inundações mesmo em situações de extrema

pluviosidade por constrangimentos de escoamento. Sem prejuízo, será necessário

complementar esta intervenção com a constante limpeza da vala, quer a montante quer a

jusante, garantindo doravante a adequada manutenção da mesma;

e) Com base nos vários testemunhos recolhidos, não existem registos de ocorrência de cheias

na área em análise;

f) Com base nos elementos do estudo hidrológico e hidráulico do Parque Logístico de Alfarelos,

a área objeto de correção não é afetada pelo transbordo do leito da vala de Alfarelos numa

situação de cheia correspondente a um período de retorno de 100 anos, desde que reposta a

cota da margem esquerda da vala de Alfarelos, na zona de interesse identificada. No entanto,

considera-se oportuna a requalificação do sistema, em face do desordenamento da rede

hidrográfica na zona de influência do projeto.

g) Foram diagnosticados 2 situações que podem eventualmente colocar em causa o bom

funcionamento do sistema em situação de cheia, nomeadamente as cotas de inserção das 2

Page 22: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

22 Câmara Municipal de Soure

passagens hidráulicas existentes sob o ramal de Alfarelos (soleira situada abaixo da cota de

cheia centenária determinada) e ainda uma parte da margem esquerda da vala de Alfarelos,

sendo que a resolução da primeira se encontra contemplada na requalificação da rede

hidrográfica local proposta e ultrapassa os conceitos de delimitação das “zonas ameaçadas

por cheias”, no âmbito do RJREN, e a segunda deve ser garantida independentemente da

correção material da REN agora colocada a aprovação.

Em resumo, considera-se demonstrada a existência de um erro objetivo na delimitação da mancha de

“zonas ameaçadas por cheias” que se sobrepõe parcialmente à área em análise, o que justifica a

proposta de correção material agora apresentada, considerando que a área em causa está

hidraulicamente servida pelo sistema de drenagem da vala de Alfarelos e que o dique da margem

esquerda do Mondego que limita a zona a Norte não é galgável, logo não existe transbordo do cursos

de água presentes neste território para um período de retorno de 100 anos, pelo que não se

considera o mesmo uma zona ameaçada por cheias nos termos da legislação aplicável.

Page 23: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

23 Câmara Municipal de Soure

7. BIBLIOGRAFIA

Agência Portuguesa do Ambiente, APA.

Plano de gestão da bacia hidrográfica dos rios Vouga, Mondego, Lis, integrados na região

hidrológica 4. Agência Portuguesa do Ambiente. 2011.

Sistema Nacional e Informação de Recursos Hídricos, (SNIRH).

ALMEIDA, João – Cheias no Baixo Mondego causadas pela precipitação. Jornal de Noticias. 02

de Novembro de 2004.

Ainda há quem chore as cheias de 2001. Diário de Notícias. 25 de Junho de 2006.

Delimitação Áreas Ameaçadas por Cheias/ Inundações e Identificação de Pontos Críticos de

Escoamento no Concelho de Soure, Câmara Municipal de Soure e Faculdade de Ciências e

Tecnologias da Universidade de Coimbra (FCTUC). Março de 2010.

INAG – Regularização do Baixo Mondego. Hidroprojeto. 1981.

JORGE, Graça, RODRIGUES, Carmona – Estudos Hidrológicos e Hidráulicos – Parque Logístico

de Alfarelos. Agosto de 2015.

SANTOS, Pedro – Cartografia de áreas inundáveis a partir do método de reconstituição

hidrogeomorfológica e do método hidrológico-hidráulico, Estudo comparativo na bacia

hidrográfica do Rio Arunca. Coimbra, Julho de 2009. Dissertação de mestrado.

Page 24: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

24 Câmara Municipal de Soure

8. ANEXOS

Anexos de Instrução do processo de correção material:

Anexo I – Planta de localização

Anexo II - Carta da REN em vigor, com representação da proposta de correção material

Anexo III - Estudo Hidrológico e Hidráulico – Parque Logístico de Alfarelos

Page 25: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

25 Câmara Municipal de Soure

Anexo I – Planta de localização

Page 26: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

26 Câmara Municipal de Soure

Anexo II - Carta da REN em vigor, com representação da proposta de correção material

Page 27: Memória Descritiva e Justificativa de Correção Material à

Correção Material à Delimitação da REN no concelho de Soure

27 Câmara Municipal de Soure

Anexo III – Estudo Hidrológico e Hidráulico – Parque Logístico de Alfarelos