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Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará TRAJETÓRIA DAS PRISÕES EM BELÉM E ORIGEM DO PRÉDIO (SEDE) DA SUSIPE Produzido pelo servidor Eduardo Juan de Jesus * Belém-Pa 2010 * Graduado em História e mestrando em História Social da Amazônia (UFPA), lotado no gabinete da SUSIPE como Assessor.

Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

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Page 1: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará

TRAJETÓRIA DAS PRISÕES EM BELÉM E ORIGEM DO

PRÉDIO (SEDE) DA SUSIPE

Produzido pelo servidor Eduardo Juan de Jesus*

Belém-Pa

2010

* Graduado em História e mestrando em História Social da Amazônia (UFPA), lotado no gabinete da

SUSIPE como Assessor.

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ANA JULIA CAREPA

Governadora do Estado do Pará

GERALDO ARAÚJO Secretário de Estado de Segurança Pública

JUSTIANO ALVES JUNIOR Superintendente do Sistema Penitenciário do Estado do Pará

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SUMÁRIO

1 PRISÕES NO PARÁ ................................................................................................... 3

2 RECOLHIMENTO DAS EDUCANDAS .................................................................. 9

2.1 ARTHUR VIANNA; “UM VERDADEIRO TROPEÇO” ....................................... 12

3 BARÃO DE JAGUARARI ....................................................................................... 15

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1 PRISÕES NO PARÁ

Nossa proposta é iniciar uma recomposição da trajetória das prisões em Belém, a

partir de sua fundação. Esta temática sugere ser objeto de futuros estudos, aos quais

esperamos contribuir com esta reconstrução de uma parcela do conhecimento histórico.

Santa Maria de Belém, inaugura o histórico de suas prisões, com a reclusão de

seu fundador, Francisco Caldeira Castelo Branco, em 18 de novembro de 1619, Castelo

Branco fora metido em ferros e recolhido a uma habitação da fortificação da cidade. Sua

prisão tinha a finalidade de guardá-lo até a definição de sua pena, afinal o nascimento da

prisão como pena se daria no século XVIII, já na Idade Moderna. A reclusão como

punição originou-se no costume da igreja de punir o clero, o isolamento era ferramenta

decisiva para a reconstrução racional e a aproximação do indivíduo com Deus.

No século XVII as prisões passavam a figurar nas decisões governamentais, em

1680 o então governador Pedro Cezar de Menezes, mandou construir prisões

subterrâneas que receberiam dos piores criminosos a pessoas distintas. O governo de

Ignácio Coelho da Silva foi marcado pela construção de uma horrível e escura

masmorra subterrânea, que foram demolidas quarenta anos depois, após reiteradas

representações da Câmara de Belém. Após 1720 “duas casas de cadeia”, funcionavam

em frente ao palácio episcopal. Em 1751 o Senado da Câmara abrigava a cadeia pública,

como era costume no Brasil Colonial.

A proporcionalidade das penas ainda tardaria a ser aplicada, mesmo após as

décadas finais do século XVIII, em que surgiriam os conceitos revolucionários

publicados no Do Contrato Social (1757) de Rousseau e Dos Delitos e das Penas

(1774) de Cesare Beccaria. As cadeias públicas no Brasil, ainda adotavam os princípios

de punição, castigos físicos e privação de liberdade, em regra, não se almejava a

recuperação, mas apenas guardar os criminosos, as novas idéias eram reguladas por uma

realidade nacional escravocrata e hierarquizada, além do que o castigo era visto

geralmente como um privilégio e dever nas mãos de um grupo dominante.

O preso deveria custear sua estadia na prisão, normalmente através dos

familiares, a grande maioria acabava esquecida naquele ambiente insalubre. Pior sorte

era vivida por escravos presos, pois o custo de sua prisão recaia sobre seus senhores,

que em regra abandonavam seus escravos à própria sorte. Não era diferente na capital

fluminense, onde o mesmo bárbaro sistema permitia que alguns presos esmolassem a

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caridade dos transeuntes, longas correntes lhes davam acesso à via pública para este

fim.

A Cadeia Pública funcionara em 1767, ocupando determinada área do edifício

que fora convento dos religiosos da Piedade e continuou ali estabelecido quando este se

tornou quartel da companhia de esquadrão de cavalaria.

A expansão urbana após 1808 transformaria a rotina das casas penais, nas

capitais do Brasil os escravos transformados em prisioneiros foram amplamente

utilizados nas obras públicas. As poucas ações humanitárias nas cadeias públicas eram

desenvolvidas em princípio por irmandades religiosas, em Belém a Santa Casa de

Misericórdia, de maior destaque na Província, tinha entre outros objetivos preservar a

mão de obra dos presos que eram utilizados nas obras públicas.

O Código Criminal do Império de 1830 promoveu uma reforma prisional

caracterizada por prisões penitenciárias construídas em diversas províncias, a Casa de

Correção do Rio de Janeiro iniciada em 1834, foi a primeira da América Latina, em

Belém o Presídio São José ficou assim conhecido a partir de 1843, por denominação do

desembargador Manoel Paranhos da Silva Veloso, substituindo a cadeia pública que

funcionava no Senado da Câmara. A reforma prisional continuava e se manifestou em

1850, na divisão dos presos em duas categorias; criminal e correcional.

A segunda metade do século XIX destacava a teoria do “criminoso nato” de

Cesare Lombroso, que relacionava o crime ao estágio evolutivo das raças, e

diferenciava a capacidade de livre arbítrio destas, apoiada no evolucionismo darwinista,

a idéia foi bem recebida por intelectuais nacionais, como Raimundo Nina Rodrigues,

oriundo da escola de medicina baiana e José Veríssimo destacado publicista da região

norte. A teoria darwinista de seleção natural e hereditariedade, faria sucesso como

ideologia racial e social, legitimou o controle do estado burguês.

As transformações levavam o estado a desenvolver alternativas, em razão de o

sistema carcerário ser pouco desenvolvido a nível nacional, o Exército receberia muitos

acusados de crimes menores, se transformara no maior instrumento punitivo, seu efetivo

se equivalia em números á população carcerária do Brasil Império da segunda metade

do século XIX. A capital do Grão-Pará em 1890, implementava o novo Código Penal

republicano, o governo de Justo Leite Chermont deportava os capoeiras para o Amapá.

Na administração de Lauro Sodré o debate sobre as prisões servia para

caracterizar a adesão aos princípios liberais, e o investimento nos novos modelos

penitenciários representaria o movimento em direção ao ideal moderno e civilizado,

Page 6: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

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perseguido por várias capitais do mundo. A Lei nº101 de 22 de junho de 1893,

autorizava ao governo de Lauro Sodré, a construção do presídio, então se iniciou

ampliação da área do antigo convento pra adaptação ás condições da prisão fechada.

O Presídio São José também abrigava doentes e alienados mentais, o Diário

Oficial divulgava a quantidade destes, no mesmo 22 de junho publicava a construção de

dois compartimentos “para recolher loucos” e a existência de 14 doentes “em

tratamento”, mas após 1896, as obras do São José foram abandonadas com sacrifício do

dinheiro despendido, sem mais nenhum empreendimento oficial para solucionar o

problema prisional.

O parâmetro da prisão celular permanecia em quase todo o mundo como um

modelo de “luxo”, a reforma prisional não apenas na região Norte, mas no Brasil e em

toda a América Latina, caracterizou-se por obras paralisadas e custos elevados que

condenaram ao fracasso as reformas prisionais. Os relatórios governamentais da

província do Grão-Pará em 1899 ocupavam-se da questão, o governo republicano

acreditava na ciência para legitimar-se e ainda promover o progresso e a modernidade, o

chefe de Segurança Pública , Santos Vasconcelos , apontava que a paralisação da obra

por falta de recursos comprometeria a “revolução moral sobre os costumes do povo”,

pois a questão era “dissonante no movimento progressivo” e impedia “conseguir o fim

proclamado pela sciencia”, a fala de Vasconcelos destaca a confiança depositada sobre

a ciência de que esta garantiria a ordem pública, através da transformação das

penitenciárias em verdadeiros laboratórios da criminologia positivista. Naquele ano a

Cadeia São José abrigava 184 presos.

A Lei nº 1.747, de18 de novembro de 1918, autorizava o governo a criar uma

Escola de Reforma que compreenderia uma Colônia Correcional, que o Diário Oficial

publica em 03 de dezembro do mesmo ano, chegou a ser implantada, mas logo foi

extinta por falta de recursos, era localizada em Marituba á margem da estrada de ferro

de Bragança e contava com três sentenciados, era de acordo com o Código do Processo

Penal do período destinada a “corrigir pelo trabalho os vadios e vagabundos.”

O Decreto Federal nº 16665, de 06 de novembro de 1924, estabelecia normas

sobre o livramento condicional aos condenados a pena restritiva de liberdade, por tempo

não inferior a quatro anos de prisão, e ainda motivou o decreto nº 4264, de 01 de

fevereiro de 1926, do governador Dionísio Bentes, que constituiu o Conselho

Penitenciário do Estado, que funcionaria no próprio prédio da Cadeia de São José, a

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função de seus membros seria gratuita e presidida pelo desembargador Augusto de

Borborema.

Sob a Lei nº4713 de 26 de maio de 1974, a Superintendência do Sistema

Penitenciário do Estado do Pará (SUSIPE) é criada, vinculada à Secretaria de Estado de

Segurança Pública, a mesma Lei autorizou o Dr. Aloísio da Costa Chaves a inaugurar,

na Vila de Americano em Santa Isabel do Pará, em 16 de agosto de 1977, a

penitenciária Dr. Fernando Guilhon, de regime fechado, com 378 celas individuais.

No governo Jader Barbalho em 1986, a Lei nº5305 de 9 de abril, aprovou a

criação da Colônia Agrícola Heleno Fragoso em Santa Isabel do Pará, em 26 de maio de

1988, uma casa de reclusão de regime semi aberto. O Centro de Recuperação do

Coqueiro é inaugurado em dezembro de 1992. A Lei nº5769, de 9 de maio de 1993

autorizou a criação do Centro de Reeducação Feminino, inaugurado em 10 de julho de

1998, para recolhimento de mulheres infratoras, um de seus diferenciais era o de criar

condições pra que as internas permanecessem com os filhos em fase de amamentação.

A Casa do Albergado foi criada sob a Lei nº 5307, de 17 de abril de 1986,

localizada na área metropolitana de Belém, constituindo-se como uma das primeiras

Unidades Prisionais destinadas exclusivamente à custódia de presos oriundos do regime

aberto, reduzindo com isso, a antiga problemática relacionada com a falta de espaço

específico para essa modalidade de preso.

O governo Almir Gabriel foi caracterizado pela construção e inauguração de

estabelecimentos penais, a SUSIPE que administrava 02 Centros de Recuperação no

período anterior, passou a administrar 14 Centros de Recuperação, entre outras Casas

Penais, ao fim daquele governo. Sob a Lei nº5960, de 9 de abril de 1996, a penitenciária

de Americano, antiga Fernando Guilhon, se tornaria de caráter misto. No mesmo ano

foram inaugurados ainda os Centros de Recuperação; Silvio Hall de Moura, em julho,

localizado em Santarém, Mariano Antunes, em 1 de julho, localizado em Marabá e o

Regional de Itaituba, ainda no mesmo mês.

Em 3 de dezembro de 1998, foi inaugurado o Centro de Recuperação de

Americano II, no ano seguinte são inaugurados os Centros de Recuperação Regional; de

Paragominas, em 28 de agosto, o de Altamira, em 1 de julho e o de Bragança, em 18 de

novembro.

Em 1 de fevereiro de 2000, é inaugurado o Presídio Estadual Metropolitano I e

em 16 de setembro do mesmo ano, o Centro de Recuperação Regional de Castanhal. No

ano de 2002 são inaugurados quatro presídios, os Centros de Recuperação Regional; de

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Tucuruí em 16 de julho, de Tomé-Açu em 13 de setembro, e de Abaetetuba em 27 de

novembro, além da Cadeia Pública de Mosqueiro em 16 de julho.

No governo Simão Jatene, o Centro de Recuperação Especial Cel. Anastácio das

Neves é inaugurado em 29 de maio de 2003 e no mesmo ano o Centro de Recuperação

Regional de Redenção e a Cadeia Pública de Capanema em 16 de junho e 11 de julho

respectivamente.

No início de 2004, em 20 de fevereiro é inaugurado o Centro de Detenção

Provisória de Icoaraci e ao final do mesmo ano, em 30 de dezembro, o Centro de

Recuperação de Americano III, este último apresentava funcionamento automatizado e

se diferenciava como de segurança máxima. Ao fim de 2005, em 27 de novembro, é

inaugurado o Centro de Recuperação de Salinópolis, o Centro de Recuperação de

Mocajuba é inaugurado no ano seguinte em fevereiro.

Sob a administração da governadora Ana Julia, é inaugurada a Central de

Triagem da Marambaia em 17 de março de 2007 e o Hospital de Custódia e Tratamento

Psiquiátrico é inaugurado em abril do mesmo ano. Em 2009 o Diário Oficial nº 31423

de 21 de maio, define pela primeira vez, sede própria para a SUSIPE. Ainda em 2009 a

portaria n° 1299/09 de 15 de novembro, define o Pará como primeiro Estado a

regulamentar a visita íntima homoafetiva em unidades prisionais.

Após audiência pública realizada com a Superintendência do Sistema

Penitenciário do Estado do Pará (SUSIPE) e os moradores da Vila de Americano,

localizada no município de Santa Isabel, os Centros de Recuperação Americano I, II e II

(CRA I, II e III), passaram a ser denominados como: Centro de Recuperação

Penitenciário do Pará I, II e III (CRPP I, II, e III); e o complexo de Americano passou a

ser chamado de Complexo Penitenciário do Pará, atendendo a reivindicações dos

moradores da vila que alegavam o impacto cultural negativo e a discriminação como

fatores que prejudicavam o desenvolvimento da localidade.

A data de 29 de março de 2010 foi de grande relevância para a Superintendência

do Sistema Penitenciário do Estado do Pará, quando foi oficializada por meio de

homologação, o Regimento Interno da SUSIPE, através do decreto nº 2199 de 24 de

março de 2010.

A concentração de presos nas centrais de triagens existentes na Região

Metropolitana de Belém foi reduzida a partir de 28 de junho de 2010, quando foi

inaugurada a Central de Triagem Metropolitano I – CTM I, localizada no complexo

Page 9: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

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penitenciário do Pará, na vila de Americano e destinada à custódia de 250 presos

provisórios e ainda preparada para desenvolver audiências judiciais virtuais.

Em acompanhamento à evolução tecnológica e comunicacional, já presentes em

sistemas prisionais de outros estados, a Superintendência do Sistema Penitenciária do

Estado do Pará vê inaugurada em 02 de setembro do mesmo ano, o sistema de vídeo

audiência judicial virtual, através da audiência de vinte internos do CTM I, sendo o Pará

o primeiro estado das regiões norte e nordeste a implementar este sistema.

No dia 14 do mês seguinte é inaugurado o Espaço Primavera, destinado à

custódia de 480 internas. Um centro de reeducação feminino diferenciado por sua

proposta de considerar os anseios das internas, o que resultou na construção de áreas

ventiladas para interação das internas, lavatórios em cada cela e a cor lilás deste novo

espaço.

Em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil é inaugurado em 15 de

dezembro o sistema de vídeo conferência, fazendo conexão do interno com o advogado

de forma virtual, permitindo maior velocidade no atendimento dos processos pendentes

sem acontecerem necessidade de deslocamentos e dispêndios financeiros para o Estado.

O cenário que se projeta para 2011 e períodos posteriores apontam para a

concentração de esforços para a resolução de desafios e problemáticas de grande

repercussão social, destacando-se o aumento de vagas para o quantitativo cada vez

maior de presos no estado do Pará, ampliação das ações sociais que visem a

ressocialização do egresso da SUSIPE e a modernização das unidades prisionais em

todo o território paraense.

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2 RECOLHIMENTO DAS EDUCANDAS

Este trabalho é dedicado a recompor um traço do passado do histórico da

edificação que abriga a sede atual da Superintendência do Sistema Penitenciário do

Estado do Pará (SUSIPE). Nesta proposta nos deparamos com o Colégio Nossa

Senhora do Amparo, que consistiu na primeira função desempenhada neste prédio. O

colégio teve origem no trabalho de catequização da igreja junto às sociedades indígenas

na Amazônia.

A iniciativa de D. Frei Caetano Brandão, 6º Bispo da Diocese paraense, era de

instituir um seminário para meninas órfãs e pobres, similar aos das Ursulinas de Pereira,

em Portugal, o seminário da região norte aconteceu através de esmolas e doações, mas

certo tempo depois foi extinto.

No ano de 1804, o 7º Bispo D. Manoel de A. Carvalho trouxe de uma viagem

pastoral algumas meninas índias para as quais iria promover educação. Com intuito de

abrigá-las obteve esmolas e doações para criação de um asilo, localizou-se na Rua dos

Açougues, atual Rua Gaspar Viana. Em 10 de julho do mesmo ano, uma missa

inaugurava o Recolhimento das Educandas.

Arthur Vianna registra que o primeiro auxílio do governo ao Recolhimento das

Educandas aconteceu em 1824 e foi concedido por D. Pedro I, mas a pouca verba

disponível e o fim restrito de educar meninas gentias limitavam a instituição.

Em 1839, não encontrávamos no asilo nenhuma das índias trazidas por D.

Manoel de A. Carvalho, o abrigo contava para sua administração com uma regente e

mestra, três serventes e três escravas, que cuidavam de seis educandas pobres e sete

pensionistas, estas pagavam 25$000 réis anuais pelas suas subsistências e instrução.

O jornal Treze de Maio, foi o jornal pós-cabanagem mais importante,

apresentava-se como legitimador do poder e da ordem e pela moralização dos costumes,

publicava notícias oficiais, como quando em 06 de junho de 1840, divulgava o primeiro

regulamento interno do asilo, no contexto pós-cabanagem dava-se especial destaque ao

papel social da mulher.

A Lei nº 205 de 02 de novembro de 1851manteve o asilo sob a administração

diocesana, o definiu como repartição provincial, transferiu a responsabilidade ao

Presidente da Província, o denominou de Nossa Senhora do Amparo, onde o

administrador deveria exercer o cargo gratuitamente, “em serviço de Deus e de Nossa

Senhora do Amparo”, e o número de meninas desvalidas aumentaria para sessenta.

Page 11: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

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Em 1865 José Vieira Couto Magalhães, então no governo, adquire três

propriedades, entre elas uma edificação em construção, propriedade do Barão de

Jaguarari, localizada na Rua Santo Antônio, que hoje conserva o mesmo nome, esquina

com a R. dos Martyres, atual Frei Gil, feito o ajuste pela importância de 40.000$000

reis, através do ofício, dirigido ao tesouro, nº747 de 12 de janeiro daquele ano, a compra

foi concretizada em 27 de janeiro de 1866. A transferência do asilo para a Rua Santo

Antônio aconteceu em 19 de janeiro de 1867, ainda no governo de José Vieira Couto

Magalhães.

O governo precisava de uma estrutura física adequada a atender a demanda

crescente dos “expostos” da sociedade, neste caso as crianças do sexo feminino de

fragilidade material e moral, encaminhadas ao diocesano modelo educacional. O

funcionamento de uma escola normal nas dependências do asilo foi autorizado pelo

Presidente Dr. Joaquim Pires M. Portella através da Lei nº669, de 13 de abril de 1871,

funcionou somente para o sexo feminino e seria extinta no ano seguinte. Em 7 de

fevereiro de 1879, o regulamento seria modificado pelo presidente José Coelho da

Gama e Abreu, elevando para duzentas o número de educandas, formalizando a

admissão de meninas contribuintes como pensionistas, que em regra eram filhas das

famílias privilegiadas, pois a elite da época aprovava a formação do educandário.

A ampliação para o número de duzentas educandas, além de encontrar

obstáculos financeiros, agravava a situação higiênica e disciplinar por acúmulo forçado

das meninas em espaço físico insuficiente, resultado de a sociedade belenense

apresentar um sempre crescente número de “expostos”, pois é importante considerar

que no momento do registro de nascimento, se facultava omitir no documento o nome

do pai quando pudesse provocar constrangimento, ou quando este não autorizasse. Em

1881, variados eram os fatores que influenciavam diretamente na urgência de ser

erguida nova edificação.

José da Gama Malcher, então governador, atende à ampliação das instalações

do Colégio Amparo. Ergue-se, de frente para a R. 28 de setembro, nova edificação que

atualmente abriga a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos , a rua conserva o mesmo

nome.

A ampliação chegara a ser paralisada em 1882 por falta de material, mas mesmo

com morosidade os trabalhos são reiniciados em razão da urgência estrutural de atender

as educandas, que entre pobres e pensionistas alcançavam o número de duzentos e

trinta.

Page 12: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

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Carlos Augusto de Carvalho, em1885, após visita ao colégio em 1º de agosto,

suspendeu as obras definitivamente por concluir que a área a ser construída não

atenderia às necessidades do colégio além da inconveniente proximidade de um

hospital.

José Veríssimo o primeiro diretor geral de instrução pública do regime

republicano, documentou que o Colégio Amparo com mais de duzentas órfãs

desvalidas; “não as instrui nem sobretudo as educa ... limita-se a hospedá-las”.

O congresso legislativo, em 1893, autoriza através de lei a construção, em local

a ser definido, de um novo colégio para trezentas alunas, disponibilizando verba de

duzentos contos de réis para este fim. Às dez horas da manhã de 21 de abril de 1894,

aconteceu a cerimônia de lançamento da pedra fundamental na estrada da

Independência, atual Magalhães Barata. As obras foram iniciadas e as educandas foram

alojadas provisoriamente em uma casa particular na mesma avenida.

Ainda funcionando provisoriamente, o Colégio Amparo em 1897 recebeu a

denominação de Instituto Gentil Bittencourt através de decreto do Governador Paes de

Carvalho, este seu primeiro ato foi uma homenagem a Gentil Bittencourt, por ter no

colégio „bons trabalhos e de longa data prestados”, que após 1889 fora o primeiro

provedor e exercera até aquela data “o cargo sem remuneração alguma como era do

regulamento”. Em 26 de junho de 1906 na administração de Augusto Montenegro

mudar-se-ia de forma definitiva para o prédio recém construído, onde até os dias atuais

funciona como o tradicional colégio Gentil Bittencourt.

No ano de 1906, o antigo casarão da Santo Antônio foi totalmente desocupado.

Em 1907, deu lugar à Secretaria de Estado de Segurança Pública.

Em 2009, o Diário Oficial do Pará nº 31423 de 21 de maio, publicou Termo de

Afetação de Bem Imóvel, conforme o processo nº 2009/46748, conferindo à

Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará a responsabilidade de uso

e posse do antigo casarão, que pertencera ao Barão de Jaguarari e abrigara o Colégio

Amparo.

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2.1 ARTHUR VIANNA; “UM VERDADEIRO TROPEÇO”

Desde os primórdios da instituição havia um fato que

se agravou depois, sucessivamente, acabando por constituir

um verdadeiro tropeço, contra o qual debalde lutaram os

poderes públicos.

Completa a instrução dos programas e atingida a idade

regulamentar, ficavam as educandas no estabelecimento, por

não terem parentes ou protetores, constituindo uma

sobrecarga inútil.

As presidências procuravam remover este obstáculo, mas

seus esforços não atingiam a meta desejada. Desde longa

data se reconhecera improfícua a medida do dote, pela

insignificância deste para atrair os maridos.

Os regulamentos cogitaram do assunto e ordenaram

contratos de locação de serviços, entrega aos parentes e

emprego nas escolas públicas de preferência as professoras,

recursos esses inexeqüíveis.

Em 1869, o presidente Dr. João Alfredo Corrêa de

Oliveira, assim dissertava sobre o caso, ao passar a

administração ao vice-presidente dr. Abel Graça: “Penso com

outras pessoas e com um dos meus ilustres antecessores, que

o colégio está desviado inconvenientemente de sua

instituição. Reconheço que tem prestado e vai prestando

bons serviços, mas acredito que devia ter sido mantido pura

e simplesmente como instituição de caridade, onde as

meninas pobres e desvalidas recebessem a conveniente

educação e instrução, acomodadas à sua classe e futuro

destino.

Como está, acontece que a educação e instrução são

dadas de modo a tornar-se difícil a execução do regulamento

vigente, na parte em que proíbe a continuação das educandas

dentro do colégio, depois de terem atingido a idade de 18

anos, e manda que se retirem por algum dos quatro meios, a

Page 14: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

13

saber: casamento, contrato de locação de serviços em casa

de boas famílias, entrega a seus parentes e emprego nas

escolas públicas.

Ora, o casamento é um meio limitado pela quantia que a

assembléia provincial concede para o dote de quatro

colegiais por ano, à razão de 1:500$000 reis para cada uma;

é de mais a mais dependente da vontade dos noivos, que nem

sempre aparecem em condições de serem aceitos.

A entrega aos parentes é também um meio limitado, pois

que em geral não os tem, capazes de recebê-las, as meninas

pobres, que como tais são sustentadas e educadas.

O emprego nas escolas públicas depende da idade de 21

anos e, portanto, não só pode realizar ao tempo em que as

educandas devem sair do colégio.

Resta o contrato de locação de serviços, meio que

poderia ser empregado eficazmente, se não houvesse

repugnância da parte das famílias em receber criadas

habituadas a uma vida cômoda, antes de gozo do que de

trabalho, próprias mais para mandar do que para servir; e

se as mesmas mais educadas por sua vez, não se mostrassem

tão resistentes a tal destino.

Esta repugnância acabo eu de reconhecer praticamente,

pois que no intuito de abrir espaço a dezenas de meninas

órfãs e pobres, que estão no caso de receber o benefício,

nomeei uma comissão composta de cidadãos prestantes, para

promover o maior número possível de contratos de locação de

serviços, e empregar assim mais de vinte pensionistas, que

pela sua idade e segundo o regulamento, devem deixar os

seus lugares a outras.

O resultado foi nenhum e o meu ato sofreu censura

feita por quem entende erradamente que o trabalho honesto

desonra, e que as educandas do colégio seriam humilhadas e

desonradas, se tivessem tal destino, dado não por mim mas

pelo regulamento que executo, e segundo as regras do nosso

Page 15: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

14

direito civil a respeito dos contratos de serviços dos

órfãos menores.1

1Arthur Vianna interpreta a permanência das órfãs, no Colégio Nossa senhora do Amparo, após

alcançarem a maioridade em seu levantamento histórico sobre as origens do Instituto Gentil

Bittencourt. VIANNA, Arthur. Instituto Gentil Bittencourt. Belém, 1905. pp 10-11

Page 16: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

15

3 BARÃO DE JAGUARARI

A trajetória familiar do primeiro Barão de Jaguarari se confunde com a

história do Pará, inicia-se ainda no período colonial. Ambrósio Henriques da Silva

Pombo, o Barão de Jaguarari, é descendente da família de fidalgos, Silva Pombo,

chegada ao Grão-Pará do Brasil Colônia no século XVIII, oriunda do Reino da Galizia,

na Península Ibérica, herdou o nome de seu avô, Ambrósio Henrique, português, casado

com Dona Antônia Joaquina de Oliveira e Silva.

O avô Ambrósio Henrique, destacava-se como um dos mais importantes

negociantes e lavradores do Pará, a “relação nominal de habitantes” da província em

1778 o classifica como pessoa de “possibilidade inteira”. Exemplo de que tipo de

pessoa recebia tal classificação é o testemunho em 1772 do “Juiz de Fora do Pará”, José

Justiniano de Oliveira Peixoto, que em um “Auto de Justificação”, sobre o avô do Barão

de Jaguarari, o descreve como homem de negócios mais rico e importante do estado e

ainda que teria ocupado todos os cargos destinados aos “melhores da terra”.

Riqueza material, patentes, cargos públicos e alianças com representantes da

Coroa no Pará parecem ter possibilitado uma posição privilegiada na sociedade, através

das fontes históricas foi possível encontrar Ambrósio Henrique como pertencente ao

Senado da Câmara de Belém ao menos durante os anos de 1777 e 1778, como

Tesoureiro Geral da Real Junta da Fazenda no Pará em 1796 e 1797 e Deputado da

Junta da Fazenda na mesma Capitania. Ambrósio Henriques demonstrava

continuamente sua solicitude com a Coroa portuguesa, fornecera roupas e alimentos de

sua própria fazenda aos soldados, como forma de colaborar com a construção e

manutenção de Fortes na região, e auxiliou as diversas expedições da Real Fazenda pela

Capitania do Pará, seus atos favoreceram ter sido nomeado com as patentes que assumiu

nas Tropas Auxiliares da Capitania, estas tropas auxiliares ganhavam importância

estratégica com as ameaças de invasão do território colonial, por parte de Espanha e

França. Em 1777, fora Alferes de Infantaria Auxiliar, e promovido a Capitão da Tropa

Ligeira Auxiliar de Belém entre 1780 e 1794, continuou a receber promoções nos anos

seguintes, como a de Coronel do Regimento de Infantaria Auxiliar de São José de

Macapá, além de Coronel do 2º Regimento Auxiliar de Belém em 1796, merece

relevância lhe ter sido concedida em 22 de setembro de 1789 uma sesmaria na Ilha

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Mexiana, que futuramente seria herdada pelo Barão de Jaguarari, e ainda em 1804 ter

solicitado ao príncipe regente D.João, sua nomeação como Criado da Casa Real.

A família Henriques procurou reforçar suas relações pessoais com importantes

representantes da Coroa portuguesa, no início do XIX Ambrósio Henrique promoveu o

casamento de sua filha, à qual o dote alcançou a quantia de 20:800$000 réis, Maria do

Carmo Henriques da Silva e Oliveira com Joaquim Clemente da Silva Pombo, nascido

em Portugal, foi pecuarista e proprietário de terras herdadas de seu sogro (Ambrósio

Henriques). O matrimônio ocorreu em 1801, em ofício datado de 14 de junho de 1800,

Joaquim Clemente comunicava o futuro enlace matrimonial ao “bem feitor e meu

protector”, o Secretário de Estado da Marinha e Ultramar, D. Rodrigo de Sousa

Coutinho, o que demonstrava a distinção de que o genro de Ambrósio Henriques era

merecedor, em um período em que a ocupação de cargos públicos por portugueses na

província do Grão-Pará, funcionava como reforço do mecanismo de controle da Coroa

portuguesa sobre a colônia. Joaquim Clemente da Silva Pombo chegara à província em

1797 e no mesmo ano fora nomeado Juiz de Fora de Belém, considerando os limites das

fontes, constata-se que desempenhou também as funções de Ouvidor Geral da Capitania

do Pará (1803), Tesoureiro-mor do Erário Régio do Pará (entre 1804 e 1805). Sua

influência no próprio Império português ficou clara em 1804 ao alcançar o ponto mais

alto de sua magistratura, ocupando o cargo de Desembargador do Tribunal da Relação

da Bahia, um dos centros de Justiça no Brasil, ainda entre 1810 e 1817 pertenceu à

Junta de Sucessão do Governo do Pará.

Os Pombo se consolidaram como uma das mais tradicionais famílias de

proprietários rurais do Pará durante o XIX, ocupavam postos estratégicos que

favoreciam tal situação, exemplo disso era que Ambrósio Henrique ainda se destacava

como comerciante durante o período em que seu genro administrava a Alfândega da

província.

Um dos quatro filhos de Joaquim Clemente, fruto da união com Dona Maria do

Carmo, era Ambrósio Henriques da Silva Pombo, o Barão de Jaguarari, nascido em

Belém em 31 de julho de 1803, o mesmo nome do avô materno homenageava a

prestigiosa história construída no século XVIII pelo primeiro Ambrósio Henriques. Sua

tradição familiar de fidelidade à coroa portuguesa, não impediu que Ambrósio

Henriques da Silva Pombo, recebesse a Ordem Imperial do Cruzeiro em 1826, por

destacar-se na construção de um Brasil independente, fato reconhecido pelo então

Presidente José Félix Pereira de Burgos e ainda por força do decreto de 31 de julho de

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1830 ser agraciado com o título de Barão de Jaguarari, título de origem toponímica

tomado da Fazenda Jaguarari.

Terceiro proprietário da Capela dos Passos, construção do XVIII que serviu

como oratório público, provavelmente projeto de Antônio Landi, era dotada de coro

para a família e convidados, já que a parte térrea era ocupada pelos escravos. Tornou-se

costume para os alunos da escola de engenharia ás proximidades oferecer moedas ao

Senhor dos Passos antes de realizar as provas, a capela se localiza na travessa Campos

Sales até os dias atuais, a travessa não modificou seu nome.

O Barão de Jaguarari, como havia sido adiantado, herdou as terras das Ilhas

Mexianas, localizadas no Arquipélago do Marajó, onde sua família estabeleceu-se como

maior proprietária de terras, as que o Ambrósio (avô) recebera por sesmaria, foi também

Comandante do Regimento de Cavalaria Imperial e faleceu aos 33 anos, em 16 de

setembro de 1837, fez seu testamento em 1836, onde declarou ser solteiro e não ter tido

nenhum filho, as 22 contemplações do documento confirmavam suas relações

familiares, de amizade e de compadrio, também agraciou Nossa Senhora do Carmo do

Pará e sete escravos dentre tantos de sua propriedade.

A família Pombo em sua quarta geração já era dona de toda a Mexiana e tornou-

se referência em criação de gado na região. Floripes Chermont de Miranda Pombo

recebeu em 1894, prêmio do governo estadual por terem importado gado da Europa e

América do Norte, para incrementar a indústria pastoril no Pará.

Page 19: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

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O jornal Treze de Maio publicava na íntegra, o regulamento interno

formado por três capítulos, do Recolhimento das Educandas, preenchia a

edição de 06 de julho de 1840, principal publicação dos atos

governamentais, esta edição destacava a importância do papel social da

mulher no pós-cabanagem :

O Presidente da Provincia ordena, que no Recolhimento das Educandas provisoriamente se execute o seguinte.

REGULAMENTO Capítulo 1º

Artigo 1.º As cinco horas da manhã irá uma criada tanger o sino por algum tempo, a fim de despertar as Educandas, e, feito isto, irá pelas portas de seus quartos principiando pelo da Regente, batendo e disendo – louvado seja Nosso Senhor Jezus

Christo = até que de dentro lhe respondão = para sempre. Art. 2.º Logo que as Educandas se levantem, lavarão

seos rostos, vestir-se-haõ, e compostas que sejaõ (para o que se lhes dará meia hora) se encaminharão á Capella, á levar seos respeitos á Deos por meio da oração.

Art. 3.º Acabado este acto, trataraõ de varrer seos quartos, depois do que iraõ para o seu jardim recrearem-se com suas flores, até as sete horas da manhã.

Art. 4.º As sete horas servir-se-há o almoço, devendo comparecer todas em uma só meza, incluzive a Regente. Na sua falta, que só deverá ser por motivo de doença, será presidido este, bem como todos os mais actos, por uma das Educandas mais velhas.

Art. 5.º Acabado o almoço, que durará um quarto de hora, iraõ para seos deveres. Ás dez horas, as classes que freqüentarem as escollas, se uniraõ ás costureiras, e com ellas trabalharão até onze horas e meia.

Art. 6.º Ao meio dia deverá ser o jantar, assim como foi o almoço, conservando-se todas no maior silencio, e com o maior respeito. Se alguma necessitar de alguma coiza, dará uma pancada na meza, á cujo som acudirão as, que estiverem de semana, afim de satisfazerem o pedido.

Art. 7.º Acabado o jantar, encaminhar-se-haõ á Capella á dar graças, findo cujo acto iraõ para o seu repouzo.

Art. 8.º Ás duas horas iraõ para as suas costuras, e escolla, assim como no artigo 8º devendo durar a escolla até ás

quatro, e a costura até ás cinco horas da tarde, no fim de cujo tempo se levantaraõ e iraõ para o recreio de seo jardim.

Art. 9.º Depois do toque das Trindades reunir-se-haõ na Capella, afim de rezarem a oração ou orações, que a Regente determinar, no fim do que iraõ fazer serão todas juntas nas suas costuras, que duraraõ até as oito horas.

Art. 10.º As oito horas e meia será a ceia, regulada como se acha no Artigo 6º, no fim de cujo acto tornarão á Capella a dar

graças. Art. 11.º As nove horas tocará á silencio, com o qual

todas se recolheráõ á seos quartos sem mais poderem sahir até o dia seguinte ao toque de dispertar.

Art. 12.º Para todos estes actos seraõ chamadas pelo toque do sino, de cuja obrigação será encarregada, por turno, que durará uma semana, uma das meninas, que terá o título de campista, ficando só isenta de desperto das cinco horas da manhã, o qual será feito por uma criada da casa como está dito no artigo 1º.

Art. 13.º Assim mais por turno todas as semanas se nomeiaraõ duas Educandas para o cargo de refeitoreiras, as quaes tem por dever cuidar nos arranjos e aceio da mesa, para todos os actos da refeiçaõ,e estas saõ as que ficaõ obrigadas á servir as outras nestes actos.

Art. 14.º Depois do toque de silencio a Regente será obrigada á cruzar algumas vezes os corredores, e, achando fora de seo quarto alguma menina, dará parte ao Administrador do Recolhimento, para providenciar como for justo.

Art. 15.º Os Domingos e dias Santos saõ consagrados á Religiaõ, ao recreio do jardim, e á leitura de livros de instrucçaõ, que ficaõ á escolha do Administrador.

(...)

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Detalhe da atual Frei Gil de Vila Nova, na calçada direita o COLÉGIO NOSSA

SENHORA DO AMPARO, na calçada esquerda a Ordem Terceira de São

Francisco, início do século XX. *

Page 21: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

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Tradicional caminho que levava ao Convento de Santo Antônio, a atual RUA SANTO

ANTÔNIO, início do século XX. *

Page 22: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

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IGREJA DE SANTO ANTÔNIO e ORDEM TERCEIRA, espaço vizinho ao

Colégio Nossa Senhora do Amparo, a atual praça D. Macedo Costa, início do século

XX*

* Imagens do Arquivo Público do Estado do Pará (APEP), álbum de fotografias BELÉM DA

SAUDADE.

Page 23: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

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As palavras de Olavo Bilac abrem a coletânea História das Prisões no

Brasil2, o poeta faz referência ao aparelho penitenciário nacional desde sua

criação, evidencia a recorrência dos problemas da instituição ainda no

início do século XX.

Que vai fazer agora o governo? Vai demitir o

administrador da Casa de Detenção? Daqui a pouco será

obrigado a demitir o cidadão que o substituir, e as coisas

continuarão no mesmo pé - porque a causa dos abusos não

reside na incapacidade de um funcionário, mas num vício

essencial do sistema, num defeito orgânico do aparelho

penitenciário. E não há de ser a demissão de um

administrador, que há de consertar o que já nasceu torto e

quebrado. (Olavo Bilac, 1902)

Imagem do Presídio São José em 1950, Belém PA, disponível no site do IBGE,

http://biblioteca.ibge.gov.br/, capturado em 27 de abril de 10.

2 MAIA, Clarissa Nunes et al.(org). História das prisões no Brasil. Vol I. Rio de

Janeiro: Rocco, 2009.

Page 24: Memorial da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado

23

FONTES

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ÁLBUM DO PARÁ em 1899, álbum de fotografias

BELÉM DA SAUDADE, álbum de fotografias

1908 O PARÁ, álbum de fotografias

1899/ RELATÓRIOS Directoria Geral dos Trabalhos Públicos

Regimento Militar

Segurança Pública do Estado

D.de Serviço Sanitário do Pará

SUSIPE

NAP – Relação de início de funcionamento das Casas Penais

Análise técnica e histórico sobre o prédio sede da SUSIPE, arquivado no NAR /

SUSIPE

CENTRO CULTURAL TANCREDO NEVES - CENTUR

JORNAIS

Diário Oficial de 22 de junho de 1893 pp 611-612-617

Diário Oficial de 24 de junho de 1893 p 621

Treze de Maio de 06 de julho de 1840

SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA

Análise técnica sobre o prédio do Barão de Jaguarari, arquivado no DPHAC /

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Histórico do prédio do Barão de Jaguarari, arquivado no DPHAC / SECULT

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