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 1 Introdução: Pensei muito em como começar a escrever este memorial, não é uma tarefa fácil falar de nossas vidas, coisas que julgamos importantes para outros podem ser insignificante, mas é impossível falar da vida acadêmica sem falar dos fatores que nos trouxeram até aqui. Após ler alguns memoriais concluí que não poderia seguir outro caminho e resolvi começar com um breve relato sobre minha chegada ao mundo, passando pela minha infância e permeando a vida escolar, não tinha como falar de minha vida acadêmica sem da minha vida pessoal, pois para chegar até aqui tive que passar por várias coisas, foram muitas pedras no cami nho para chegar a este curso e os conhecimentos que ele já me trouxe e os que ainda vão me trazer. Permitindo - me assim um novo olhar sobre o mundo. Por isto, procurei ser mais original possível que afinal estou con tand o “minha vida” e se os fatos aqui narrad os ficar am gravados, é porque contribuíram para que eu me tornasse o que sou, e fazem parte da minha identidade pessoal e da profissional que um dia serei.

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Introdução:

Pensei muito em como começar a escrever este memorial, não é uma tarefa

fácil falar de nossas vidas, coisas que julgamos importantes para outros podem ser 

insignificante, mas é impossível falar da vida acadêmica sem falar dos fatores que

nos trouxeram até aqui.

Após ler alguns memoriais concluí que não poderia seguir outro caminho e resolvi

começar com um breve relato sobre minha chegada ao mundo, passando pela

minha infância e permeando a vida escolar, não tinha como falar de minha vida

acadêmica sem da minha vida pessoal, pois para chegar até aqui tive que passar 

por várias coisas, foram muitas pedras no caminho para chegar a este curso e os

conhecimentos que ele já me trouxe e os que ainda vão me trazer. Permitindo - me

assim um novo olhar sobre o mundo. Por isto, procurei ser mais original possível

que afinal estou contando “minha vida” e se os fatos aqui narrados ficaram

gravados, é porque contribuíram para que eu me tornasse o que sou, e fazem

parte da minha identidade pessoal e da profissional que um dia serei.

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1. MINHA INFANCIA

Começo o meu relato falando sobre meus pais. Um casal do campo que levava

a vida com muitas dificuldades, ás vezes mal tinha o que comer, este era um dos

motivos pelos quais eles viviam brigando, o outro sei que era o vício da cachaça

do meu pai. Mesmo assim tiveram três filhos sendo eu a segunda filha desta

família.

1.1 Berço de ouro

Minha chegada não foi das melhores, minha mãe ainda amamentava a minha

irmã mais velha, que estava com apenas um aninho, quando descobriu que estava

grávida de quatro meses de mim, mal deu tempo de acabar de tira-la do peito pois

eu apressada para fazer parte da família nasci de sete meses.

Foi um sufoco para minha mãe, praticamente dois bebes. Ela que nunca tinha

visto uma criança de sete meses, disse que eu era tão feia que não tinha nem

coragem de me pegar para amamentar, minha bisavó que me segurava no braço e

chegava até o peito dela, mas ela não tinha coragem nem de me olhar. Eles talvez

por ignorância não soubessem, mas acredito que ela teve depressão pós - parto.

Ela alega que eu parecia uma “lagartixa branca de parede“, acho que se não fosse

minha bisavó eu teria morrido, por falta de cuidados. Esta rejeição da minha mãe

durou muito, tanto que ela nunca tirou uma foto minha de criança, eu não sei como

eu era, só o que as pessoas me contam, só fui ter fotos depois de uns sete anos

de idade.

Hoje entendo a depressão da minha mãe, uma situação financeira muito difícil, um

marido que ela nunca gostou, casou por casar, e ainda duas crianças. Era

realmente muito complicado...

1.2 Lar doce lar 

Minha mãe não suportava aquela vida, queria separar, mas a família nãodeixava, então foi levando aquela vida, os tios ajudavam dando alguma coisa de

comer, minha bisavó também ajudava e assim foi, até que minha mãe ficou grávida

de novo. Para ajudar no orçamento da casa, minha mãe que era boa costureira,

Começou a costurar e assim pode garantir que tivéssemos algum alimento. Minha

bisavó vendo a luta de minha mãe para nos sustentar   comprou uma casinha na

cidade e deu para ela assim era mais fácil ela defender uns trocados e assim

quando necessitasse de alguma coisa não precisava colocar o dinheiro na mão do

safado do meu pai. E porque também era mais fácil para ela me levar ao médicopara fazer tratamento, que só ela não havia percebido que eu era muda e eles

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estavam esperando a hora certa para contar. Onde já se viu! Minha mãe não

perceber que com três anos eu não falava! Acho que ela não vivia, apenas

“vegetava“.

1.3 Mais um membro na família

Já estávamos morando na cidade quando o meu irmão nasceu, com isso

minha mãe foi fazer o parto no hospital, o que foi diferente do nascimento meu e

da minha irmã.

Ainda tenho vivo em minhas lembranças, que chorávamos muito quando minha

mãe chegou do hospital trazendo um bebê. Minha irmã chorava porque tinha só

uma criança e como eu era mais nova, logicamente minha mãe iria dar ele para

mim, ela queria duas crianças para que pudesse ter uma também, eu chorava

porque eu queria uma boneca para brincar e minha mãe trouxe um menino. Deve

ter sido uma cena cômica. Acho que ignorei a presença de meu irmão, sendo que

nós nunca ficamos separados e não tenho nenhuma lembrança dele, só me

lembro dele já com uns cinco anos de idade.

Assim fomos levando a vida, até que meu irmão começou a falar e minha mãe

percebeu que eu não falava, dando início a um longo tratamento. Fiz tratamento

com médico que “ensinava mudo falar“. Acredito que naquela época não tinha

nome especialidades médicas ou eles as desconheciam, por este motivo o

denominavam de medico de mudo, ainda ficou alguma sequela que não superei

com o tratamento como: Tra, tre, tri, tro, tru ou dra, dre, dri, dro, dru. Uso o (L) no

lugar do (R), mas já acostumei e não tem mais conserto, também depois que

resolvi falar ninguém mais me segurou.

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3. O CASTELO DESABOU

Quando estava com meus quatro anos e meio, em meio à pobreza brincando

no quintal lembro com muita clareza o dia que meu padrinho chegou à nossa casa

e falou com minha mãe: Minha bisavó tinha pedido para pegar um vestido que ela

só usava para ir à missa, não entendi porque naquele momento minha mãe deitou

 – se na cama e dormiu, o que não era seu costume sendo que estava de dia. Sei

que ela acordou logo, pois me lembro já chegando à roça na casa onde minha

bisavó morava com meus avos. Ela também estava dormindo, só que estava em

uma cama diferente parecia de madeira, a cama estava no meio da sala e minha

bisavó estava dentro da caixa com algodão no nariz e na boca. Anos mais tarde

fui entender toda aquela cena, é que minha mãe havia era desmaiado, porque

assustou ao saber que minha bisavó tinha falecido.

3.1 A separação

Com a morte da minha bisavó morreram também os sonhos da minha mãe ter 

uma vida melhor, pois era ela que era o esteio da família. Minha mãe não quis nem

saber, a primeira providência foi separar-se de meu pai. Só que ela caiu na

besteira de sair da casa por uns dias, para dar tempo para ele ir embora, e aí elavoltaria e ia trabalhar apenas para criar os três filhos. A notícia que ele já havia ido

embora chegou junto com a que ele tinha vendido a casinha, naquela época era

fácil vender as coisas sem documentação nenhuma. A pior noticia ainda estava por 

vir, havia gasto todo o dinheiro. Há Pouco tempo fui saber que ele conta nas

mesas dos bares onde frequenta e morre de rir: “vendi a casa e gastei todo o

dinheiro no bordel.” Ainda bem que não tenho nenhuma lembrança dele, sei que

existiu na minha vida, mas não me lembro dele em momento algum da minha

infância é como se eu tivesse tido uma amnésia parcial e apagado de minhamemória as recordações referentes a ele.

3.2 Nossos avôs

Diante daquela situação minha mãe não teve outra opção a não ser nos deixar 

na casa dos meus avôs e mudar para a cidade vizinha para trabalhar, também

naquela época uma mulher separada não era bem vista, ela precisava ficar fora da

cidade. Também tínhamos avô paterno, só que as lembranças dele são poucas a

única certeza que tenho e que ele ficava em uma cadeira de rodas e até os dias de

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hoje não sei o motivo pelo qual ele só tinha uma perna. Ele devia ser uma boa

pessoa, pois nunca ouvi minha mãe falar mal dele.

Estranho que até aquele momento não tinha dado conta que tínhamos avôs

maternos, só ficamos sabendo quando fomos morar com eles. O que não foi uma

coisa muito boa, para nenhuma das partes, nós longe da nossa mãe, e os meus

avôs tendo que cuidar de mais três crianças e a situação financeira deles não era

melhor do que a da minha mãe.

Mas nos receberam de braços abertos, sempre deram muito carinho, e nos

educaram como se fossemos seus filhos , tanto que meu irmão ficou com eles até

a idade adulta só saindo da companhia deles depois de casado.

3.3 Todos no mesmo barco

Mesmo com todo carinho que meus avôs nos receberam foi muito difícil para

ambas as partes, nós ficando sem nossa mãe e meus avós mal tinham comida

para eles, pois ainda morava dentro de casa quatro dos oito filhos que tivera e de

repente vindo mais três bocas.

Meu avô não tinha nenhuma renda, e não podia trabalhar, ele tinha as mãos

defeituosas devido um lepra que teve no passado, os filhos que trabalhavam para

os vizinhos e colocavam as coisas dentro de casa.

Minha avó devia gostar de ser pobre, pois nunca a vi triste ou reclamando da vida,

estava sempre com um sorriso no rosto judiado de sol

3.4 Derivados de milho

Naquela casa faltava tudo menos carinho, tem uma música que muito melembra a vida na casa de nossos avôs

“Era uma casa muito engraçada

 Não tinha teto, não tinha nada

 Ninguém podia entrar nela, não

Porque na casa não tinha chão

 Ninguém podia dormir na rede

Porque na casa não tinha parede

 Ninguém podia fazer pipi

Porque penico não tinha ali

Mas era feita com muito esmero

 Na rua dos bobos, número zero”

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A comida era derivada de milho: no café da manhã era mingau de fubá, no almoço

canjiquinha, no café da tarde broa de fubá e no jantar mingau de couve, as vezes

minha avó invertia a ordem, fazia mingau de couve no almoço e canjiquinha na

 janta.

Arroz era quando tinha visita ou era dia de festa, galinha era quando alguém

estava doente, ou nós ou a galinha.

Mas a união faz a força, meus avôs nunca permitiram que chegasse na hora da

refeição não estivesse todos sentados á mesa para partilhar o mingau de couve ou

qualquer coisa que fosse comer, e se por algum motivo faltasse alguém na hora de

comer o prato dele era feito e colocado na tampa do caldeirão em cima do fogão

de lenha, sempre achei este gesto muito bonito.

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4. HORA DE COMEÇAR A ESTUDAR

Completei sete anos em outubro de mil novecentos e setenta e cinco e no ano

seguinte fui para a escola. Era uma escola também na zona rural que ficava uns

seis quilômetros da casa onde morávamos. Tínhamos que ir de “viação canela“.

Era divertido, eu saia de casa sozinha, no caminho chamava à vizinha e íamos

chamando os outros alunos passando de casa em casa, quando chegávamos à

escola éramos uns quinze. Íamos brincando pela estrada.

4.1 A ESCOLA

A escola não era das melhores: eram duas salas e uma cantina, eram turmas

multiseriadas, as salas eram divididas uma era para o primeiro e o segundo ano, a

outra para o terceiro e quarto ano. Portanto só tinham duas professoras, e elas

davam aula para duas turmas diferentes ao mesmo tempo. Ah, Tinha uma servente

também. Como poderia me esquecer dela, sempre me chamava na cantina para

me dar algo para comer, minha cara devia ser de “passa fome.”

As professoras deviam gostar de trabalhar, vinham da cidade para dar aula ali e

era longe. As professoras eram bonitas, iam dar aulas limpinhas e cheirosas e

sempre usavam chinelos havaianos pretos. Nós só usávamos chinelos no dia que

íamos à missa, elas deviam tomar banho todos os dias, já nós que morávamos na

roça só lavávamos os pés e as parte intimas, que banho de corpo inteiro era só

aos sábados, devia ser para economizar para não precisar ter que buscar água na

bica e aquecer no fogão de lenha, porque o banho era em bacias, ninguém tinha

banheiro em casa.

A escola não tinha portão de entrada, ela ficava na beira de uma estrada, e o

material que a maioria dos alunos levava também eram simples. O meu era um

caderno brochura pequeno, devia de ser de 24 folhas, encapado com papel de

macarrão, um lápis preto com uma borracha em cima. Este era o material que

levava no embornal feito de pernas de calça comprida velha

 Imagem escola (www.fotosearch.com.br/...imagens / antigas-escola.html - )

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Foto semelhante à escola onde iniciei meus estudos

A escola chamava: ESCOLA ESTADUAL SANTA TEREZINHA. Como já havia dito

que as salas eram divididas em turmas multiseriadas, também só tinha duas filas

de carteira, uma ao lado da outra e deve ser por este motivo que as carteiras

eram feitas de forma que os alunos sentassem em dupla

Carteira escolar (WWW.ibiubi.com.br)

Modelos das carteiras em que estudei.

4.2 Só notam

No primeiro ano não tinha muito que aprender, tínhamos a cartilha da infância,

que era emprestada pela escola, mas nela aprendia as vogais e depois as

consoantes para depois aprender a juntar as sílabas. Tive muitas dificuldades em

diferenciar o A do O, até que um dia minha avó perdeu a paciência comigo e me

colocou de castigo: havia uma mesa grande na cozinha onde sentávamos reunidos

para fazer as refeições que era sempre mingau de couve ou canjiquinha. Minha

avó me colocou para ficar dando volta ao redor da mesa e falando em voz alta

“toda letra redonda é um O.” Foi uma lição e eu nunca mais esqueci. Depois desse

fato todas as vezes que fazia prova chegava a nossa casa e dizia pra minha avó

toda orgulhosa: Vovó a professora deu prova e tirei O. Ela sempre meparabenizava. Só que cheguei ao final do ano eu não passei aí minha avó foi saber 

que eu não tirava O de ótimo e sim O de zero, conclusão levei uma surra

daquelas.

4.3 Fazer novamente

No ano seguinte estava eu novamente lendo a cartilha da infância, só que

agora já sabia a diferença de A e de O, e que nem toda letra redonda era O podiaser zero, com mais idade e sendo repetente consegui passar pro segundo ano

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com um pouco de esforço. Assim fui até formar a quarta série.

Assim que aprendi a ler passei a gostar de livros, estava sempre lendo alguma

coisa. Como meus avôs eram analfabetos, eu ficava lendo revistinha de gibi para

eles, mais pro meu avô que passava parte do dia deitado. Outra hora pegava

 jornal, devia ser velho mais lia tudo, lia também revista de fotonovelas, até porque

não tínhamos televisão e as revistas de fotonovelas que os parentes mandavam,

era a nossa novela.

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5. AS DIFERENÇAS CULTURAIS

Ao formar a quinta série, minha mãe já tinha dado uma estabelecida na vida, já

tinha levado minha irmã para morar com ela para continuar os estudos foi minha

vez de sair da roça e ir para a cidade também, mudei para a cidade de São

Geraldo, onde morei por vários anos. Achei tudo muito estranho, não estava

acostumada a ver carros com frequência, pessoas sempre limpinhas, bem

arrumadas e calçadas. As casas tinham banheiro e chuveiros para tomar banho

todos os dias, também tinham luzes assim, quando chegava à noite não precisava

acender lamparinas. As pessoas falavam bem, era tudo diferente da roça. Fiquei

meio que deslumbrada e ao mesmo tempo perdida com tudo aquilo, na cidade á

vida era totalmente diferente do que eu estava acostumada, mas aos poucos fui

adaptando.

5.1 Mudança radical

Quando começou o ano letivo fui para uma escola perto de casa que tinha até

oitava série. Agora minha mãe não me deixava levar os cadernos no embornal,

comprou uma pasta de plástico canelada que fechava com elástico. Também não

usava só um caderno, era um para cada matéria, e encapados com papel de

presente, e a maior novidade é que alem do lápis, tinha também canetas azuis e

vermelhas e a borracha era branca quadrada parecia um doce de leite.

A escola se chamava: Escola Estadual Álvaro Giesta. Era uma escola conceituada

e por isso assim que começaram as aulas os professores deram conta que eu não

tinha capacidade de acompanhar os alunos daquela série. Chamaram minha mãepara conversar e explicaram a ela que eu não tinha condições de fazer a quinta

série e seria melhor que voltasse para a quarta serie. E assim foi feito, mais uma

vez foi provado que eu não sabia nada repeti a quarta série que já havia feito na

roça. Conclusão só na quarta série eu fiquei três anos. O bom que serviu de base

para os próximos anos que enfrentei com mais facilidade.

Foto da Escola Estadual Álvaro Giesta Sâo Geraldo/ MG

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Fonte: arquivo pessoal

5.2 Segunda fase do fundamental

No ano seguinte já na quinta série, devido a minha idade tive que estudar anoite mais o ensino tinha a mesma qualidade do turno da manhã.

Agora não era como o primário tinha um monte de matéria e de professores

também: Português, Matemática, História, Geografia, Ciências, Inglês, Religião,

OSPB, Educação para o lar, Educação moral e cívica. As aulas ficavam cada dia

mais prazerosas de assistir, e olha que nunca gostei de estudar, gostava de todas

as aulas, de Português tínhamos que fazer diário todos os dias, isso era divertido

cada dia uma história diferente, os meus sempre começavam assim: Querido

diário hoje...

Não sei qual gostava mais se era da aula de matemática ou do jeito do professor 

ensinar, sempre fechava as provas dele e eram poucos alunos que conseguiam

isto.

Geografia e história mal faziam pro gasto nunca foi meu forte. Inglês pouco é

ensinado, pelo menos apreendi a contar e cantar parabéns coisa que hoje as

crianças de seis anos já sabem. Religião passava por cima, nunca fui muito

rezadeira. OSPB e educação moral e cívica eram um pouco de história, porém

história política eu ficava fascinada. Agora Educação para o lar era o desejo de

todas as meninas, aprendíamos a cozinhar, colocar mesa, sentar para fazer as

refeições coisa que hoje se apreende em casa, mas seria interessante ainda

manter a matéria nas escolas para que os jovens de hoje fiquem mais educados.

Assim fui até concluir a oitava série.

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6 Hora de voar  

Após concluir a oitava série já com meus dezoito anos não quis mais estudar 

decidi que era hora de trabalhar, mesmo contra a vontade da minha mãe, ela

achava que devia estudar, bati o pé e fui trabalhar e quando dei conta que podia

ganhar dinheiro, peguei gosto pela coisa e não quis mais saber dos estudos

mesmo, eles passaram a ser uma coisa boba, sem ele eu ganhava dinheiro

também. Trabalhei com várias coisas diferentes, hora como doméstica, outras

como cabeleireira, mas o que gostava e fazia melhor era costurar, profissão que

apreendi só de ver minha mãe ensinar as pessoas. Foi paixão pela costura, todos

ficavam admirados ao ver uma menina com doze anos costurando igual gente

grande. Aproveitei as oportunidades que tive, fui para outras cidades, algumas

vezes a passeio, outras a trabalho, conheci pessoas diferentes, tive amores tudo

que me era permitido, aproveitei a vida, vivi como achava que devia ser.

6.1 o mundo mudou

Ao longo desta minha vida aconteceram várias coisa que marcaram não só a

mim, mas marcaram o mundo. No ano em que nasci em mil novecentos e

sessenta e oito foi um ano de guerra, muitos conflitos. Anos após a política era

ainda muito diferente da dos dias de hoje, existia apenas dois partidos políticos,

PMDB e ARENA era muita represaria, o povo tinha medo de manifestar, existia o

voto de cabresto, e o chefe da família que falava em quem você podia votar. Sobre

política ainda assisti a primeira eleição das diretas onde Tancredo foi eleito e pelo

fato não esclarecido faleceu antes de sua posse. Anos mais tarde foi eleito quase

por unanimidade Collor, que agora o povo já podia mostrar seu poder, assim veio o

iptima do Collor, tivemos muitos outros políticos uns bons outros nem tanto.

Vi também uma grande evoluções tecnológicas, como a dos telefones, máquinasde escrever, televisão, isso tudo já existiam, porém de forma precária. Não posso

deixar de citar as evoluções que sofreram a ciências, a medicina avançou de forma

avassaladora, descoberta do tratamento do câncer e da AIDS por exemplo foram

grandes avanços, pois antes as pessoas morriam até com pneumonia. E muitas

outras evoluções que talvez não chegue até nossos conhecimentos, somos um

pouco arcaicos ainda. O bom disto tudo é poder comparar o antes e o agora.

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7 Uma gravidez

Em meio está vida em mil novecentos e noventa e um já findando o ano,

descobri que estava grávida e fiquei muito feliz, apesar das condições financeiras

não serem as mais favoráveis, sempre quis ser mãe. Tudo que sempre sonhei era

ter seis filhos, mas não naquele momento, em que estava desempregada como

arrumar outro serviço estando grávida? Como o que não tem remédio remediado

esta, tive que esperar meu filho nascer, enquanto isto fazia alguns bicos para me

manter e sempre tirava um pouquinho do que tinha juntado antes, estava tudo

programado--nasce o neném em julho, arrumo alguém de confiança para cuidar 

dele em setembro posso voltar a trabalhar— Como as coisas não são exatamente

da maneira como pensamos, aconteceram alguns percalços pelo caminho

7.1 Meu parto

Meu filho só nasceu em meados de agosto, foi parto ANORMAL fórceps, só

que ele nasceu com uma síndrome rara e tive que mudar todos meus planos, não

sofri por ter um filho com deficiência e sim pela sensação de ser incapaz, me senti

à pior das criaturas, uma sensação de fracasso, não sabia nem gerar um filho

perfeito, que mulher era eu? Mas não foi eu quem o escolhi e sim ele que me

escolheu. Sabia que iria correr atrás do que fosse preciso, mover céus e terra. E

foi o que fiz. Passaram - se dois anos enquanto nós dois, eu e meu filho, íamos de

um lado para outro atrás de médicos de várias especialidades, meu filho precisava

da minha presença para ajudá-lo na luta diária por sua vida. Não medi esforços

por ele e tudo de melhor que podia foi feito e até os dias de hoje o que for preciso

corro atrás, sendo que hoje já com seus dezoito anos vejo meu filho como ummenino normal em relação ao nascimento. Todas as experiências que vivi com

meu filho marcaram profundamente minha visão sobre educação, passei a

perceber a importância do convívio escolar na vida de todas as crianças como

facilitador para um desenvolvimento harmônico, baseado na valorização e respeito

ao ser humano, principalmente para as portadoras de necessidades especiais.

7.2 Um basta

Fiquei apenas com um filho, que após passar por vários médicos procurando

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tratamento para meu filho eles me aconselharam que não séria uma boa idéia eu

tentar outros filhos, poderia nascer com deficiência maior ainda. Foi uma pena!

Também com o rumo que minha vida tomou não tive coragem de adotar nenhum e

o meu filho ficou sendo o primogênito e único. Ao menos tenho mais uma

experiência para contar: Que gerei um filho.

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8. Perder dói

Depois de dezesseis anos de casada, meu casamento como vários outros

terminou. Neste período de casada e com meu filho com deficiência a vida me

ensinou muitas coisas. Amadureci muito tinha que ser adulta para dar conta do

recado, tive muitos ganhos com isto mais também tive perdas de pessoas que

significaram muito na minha vida. Foram muitos tombos, que cada vez que me

levantava sentia – me mais forte para continuar lutando, em mil novecentos e

noventa e cinco perdi minha avó, dois anos mais tarde perdi meu avô, isso até da

para aceitar, afinal eles já estavam com idade avançada, pior foi perder minha irmã

em dois mil e cinco com apenas trinta e sete anos, isso é covardia chega ser 

brutal, não tem nem como tentar explicar, devia ser proibido enfartar nesta idade,

ainda mais quando você tem mãe. Minha mãe já tem ex- marido, mas ex- filho não

existe para nenhuma mãe, assim como não existe ex- irmã. Isso dói muito, tento

ocupar o tempo para não ficar louca. E procuro não lembrar, para evitar a dor.

8.1 Recomeço

Separada sozinha com meu filho retornei para Coimbra cidade onde nasci.

Voltei para minhas origens e também para perto dos meus familiares que ainda

moram lá, estava carente e queria colo de mãe. Ainda sofria também pela

separação com meu ex-marido, fatos que não deve ser relatado, mas que me

deixaram muitas mágoas, precisava sarar a ferida que estava aberta. Como diz na

música boate azul: “ a dor do amor é com outro amor que a gente cura”, foi o que

fiz, tratei logo de curar a minha dor e não demorou muito para eu curar minha dor 

me casando novamente. Motivo pelo qual contribuiu para que viesse morar em

Januária

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9. DE PEDRA EM PEDRA, FIZ UM CASTELO.

Há um ano se alguém falasse que eu iria estar em uma instituição fazendo

licenciatura em matemática, ou qualquer outro curso com certeza iria dar risada e

chamá-lo de doido. Era impossível, pois eu não tinha nem o ensino médio. Só que

a vida é uma caixinha de surpresa e aqui estou cursando matemática. Chega ser 

inacreditável, talvez se alguém me contasse, não acreditaria que era possível.

9.1 técnicas do chute

Fiz a prova do Enem como conclusão do ensino médio, mais para ver como

estava meus conhecimentos e não é que eu estava melhor do que pensava! Foi

gol! Alcancei o ponto de corte ainda com alguma sobrinha, achei que não fosse

dar, pois não tinha me preparado. A única coisa que tinha lido para fazer a prova

foi um material que peguei na internet: “As Treze Técnicas do Chute” e foi o que fiz

só chutei na prova. Era boa jogadora e não sabia.

Mais logo veio a noticia que poderia estar concorrendo às vagas do sistema de

seleção unificada. Pensei muito antes de me inscrever, porque se por azar ou sorteeu passasse não teria como fazer nenhum curso, pois não sabia nenhuma matéria,

por gostar de desafios me inscrevi para matemática e biologia, já sabendo que não

iria ser chamada, novamente para ver como ia ficar minha colocação também não

tinha nada a perder, havia quarenta vagas e fiquei em centésimo primeiro,

novamente era impossível, precisava que sessenta e uma pessoas desistissem,

acho que alguém lá em cima deve gostar muito de mim desistiram tanto que fiquei

no décimo lugar como colocada, no dia da convocação. Não acreditei quando

chamaram pelo meu nome: Célia Maria Faria Vasconcelos. Levantei minha mãopara verem que estava lá e fui para o banheiro chorar, não sabia nem por que

chorava, mas era felicidade.

Naquele momento passou um filme na minha cabeça, toda minha vida, de onde

vim, o que passei nesta vida, como cheguei ali, o que seria agora. Queria naquele

momento estar perto das pessoas que amo e sei que também me amam, queria

dividir aquele momento mágico, só que não tinha ninguém ali. Respirei fundo lavei

o rosto, me recompus e fui assinar os documentos, mas o nó não saia da

garganta, uma vontade de gritar “eu consegui.” Corri para fazer minha matrícula

vai que resolvessem tomar de mim a vaga, não é todo dia que um analfabeto entra

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na faculdade. Vaga garantida, matrícula feita, era hora de correr para casa para

ligar para minha mãe, meu sobrinho, meu irmão, para dar a noticia e para ganhar o

abraço do meu filho, que meu marido já havia me encontrado, estava euforica.

9.2 Lutar quando a regra é ceder 

Sabia que agora iria começar uma batalha, ter que aprender a matéria do

ensino médio junto com a do curso superior. Pensei que fosse me sentir uma

deficiente dentro da sala de aula, que iria ficar perdida, primeiro por não ter feito o

ensino médio e outro pelo fato de ser a mais velha da turma, os alunos podem ser 

meus filhos, poderia sentir rejeitada.

Fui bem aceita pelos meus colegas e com um pouquinho de esforço está dando

para acompanhar as aulas. Muitas vezes até me surpreendo por estar sabendo

coisa que achava que iria ter mais dificuldades para saber. Sem contar que estou

adorando, a cada dia descubro que apreender é uma coisa muito boa e imagino

que será melhor quando já estiver ensinando, que é para este caminho que este

curso vai me levar. Fazer com que eu me torne uma excelente professora de

matemática. Até esqueço que sou mais velha que eles. Tenho que tomar cuidado

para não ser ridícula, pois estou vivendo coisas de adolescente aos quarenta e

três anos. Só não me sinto velha porque a velhice esta na cabeça e a minha tem

que continuar jovem para eu consiga concluir meu curso.

Ainda acho que estou na vantagem em relação meus colegas, pois já tenho muitas

experiências de vida, que podem me ajudar até mesmo no curso. Fico imaginando

quando sentar na sala já com meus oitenta anos e contando isso tudo para meus

netinhos, será que eles vão admirar a vovó doida deles?

9.3 diamantes lapidados

Ainda tenho pouco tempo no curso superior, mas já deu para perceber que é

um mundo totalmente diferente do que estamos acostumados, nós todos somos

diamante e aqui estamos sendo lapidados para o mundo. Iremos sair daqui

totalmente diferente do que entramos com outra visão de mundo, aqui temos que

Aprender a andar com nossas próprias pernas. E aprender depressa. Sem

descobrir isso, você fatalmente ficará pelo caminho. É exatamente esse ponto que

vai diferenciar os futuros profissionais: a capacidade de buscar o conhecimento é

relevante a qualquer momento, sem precisar que outra pessoa lhe diga que issoou aquilo é importante.

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10. FINALMENTE

Sei que uma grande caminhada inicia–se com o primeiro passo, este já dei e

para concluir este curso percebo que muitos outros passos serão necessários...

Gostaria de lembrar que este curso será primordial na minha formação, auxiliando-

me na compreensão mais clara e apurada do mundo em que vivo e que, se por 

algumas vezes ele me levar a conflitos internos, ajudará também a encontrar 

respostas do melhor caminho para tentar resolvê-los. Penso que o conhecimento,

na minha vida particular, é doloroso, porém fundamental, só ele pode nos livrar de

uma vida alienada e massificada, ele produz suas marcas mais nos livra da

ignorância.

Esses três anos e meio que passarei aqui serão a realização de um sonho, sonho

este que trará alegria e sofrimento, mas do qual não irei me arrepender um só

minuto. A cada dia tenho mais certeza de quem sou e qual o meu papel como

futura professora, tenho convicção de que atingirei meus objetivos com os

conhecimentos aqui adquiridos. Tenho consciência que esse curso será mais um

passo para rasgar o véu da minha ignorância e que tenho muito a aprender.

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11. CONCLUSÃO

O conhecimento é como um vício, quanto mais adquirimos, mais queremos. Como

disse no começo deste relato, este curso me propiciou um novo e reflexivo olhar 

do mundo. Me fez ver que não tem idade para recomeçar ou estar na vida

acadêmica e que mesmo tendo convivido com muitos acadêmicos, a experiência

vivida é diferente da contada por alguém. Pude também perceber a importância

do aprendizado. Há algum tempo era a menoria que tinha estudo, porém os

papeis inverteram, e quem não correr vai sentir excluído. Não quero ser uma

excluída!

Voltar ao passado para escrever este memorial foi bom, apesar de dolorido, para

me poupar que deixei de relatar alguns fatos, poderia não suportar a dor e também

para preservar a identidade de pessoas que seriam citadas. Aqui pude perceber a

importância da união familiar, sei que deixaram muito a desejar mas foi por serem

humildes demais. Este é um fato que foi bom, por ter levado uma vida difícil

aprendi a dar valor a coisas que para muitos são insignificantes. Ruim é saber que

pessoas citadas não terão conhecimento da importância que tiveram em minha

caminhada, e também saber no final deste curso não estarão presentes para quepoço dizer lhes obrigada por tudo, mas estão sempre em minhas memórias.

Ressalto ainda que escrever este memorial doeu tanto quanto minha alma,

relatar os fatos bons é fácil, difícil é acordar o passado adormecido, mas se não

citasse alguns fatos, minha história não seria real.

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Bibliografia1. Letra musica Roberto Carlos

2. Casa do caipira (WWW.fazendinhacheirodomato.com.br)

3. Imagem escola (www.fotosearch.com.br/...imagens / antigas-

escola.html - )

4. Carteira escolar (WWW.ibiubi.com.br)