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MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS MACHADO DE ASSIS

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MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

MACHADO DE ASSIS

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AUTOR E OBRA

FASE ROMÂNTICA

CONVENCIONAL

RESSURREIÇÃO,

A MÃO E A LUVA,

HELENA,

IAIÁ GARCIA

FASE REALISTA

MATURIDADE

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS

CUBAS,

QUINCAS BORBA,

DOM CASMURRO,

ESAÚ E JÁCO,

MEMORIAL DE AIRES

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REALISMO

▪ REALISMO ou NATURALISMO (de Gustave Flaubert e Emile Zola): romance que narra a si próprio, fala diretamente dos outros, 3ª pessoa, narrador-onisciente, objetividade

▪ REALISMO MACHADIANO: narrador fala de si, analisa as personagens, valoriza suas análises, suas conclusões, filosofante e digressivo, recriação do passado através da memória (elementos impressionistas)

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REALISMO

▪ Machado satiriza o cientificismo da época

▪ Cientificismo = do geral para o particular

▪ Universalismo = do particular para o geral

(Quereis ser universal? Cantai a vossa aldeia)

▪ Visão fatalista e pessimista, ainda que com riso e ironia (“com apena da galhofa e a tinta da melancolia”);

▪ o tempo, a dor, valem para todos

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REALISMO

▪ CRITICA DA VIDA ( crítica não no sentido de julgamento, que seria romântico, mas no sentido de constatação, através das próprias atitudes das personagens, de forma indireta)

▪ RELAÇÕES HUMANAS “FINGIDAS” (vaidade, poder, dinheiro, interesse, fama, adultério...)

Versus RELAÇÕES VERÍDICAS (o azar, a doença, a velhice, a morte, a fatalidade e o tempo: acabam ironizando as “fingidas”)

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NARRADORFO

CO

NA

RR

AT

IVO 1ª PESSOA

NARRDOR PERSONAGEM

DEFUNTO AUTOR

AUTOBIOGRAFIA

PO

SIÇ

ÃO ALÉM-TÚMULO

TRANS-TEMPORAL

“OUTRO LADO

DO MISTÉRIO” DIG

RE

SS

IVO COMENTÁRIOS

FLASHBACKS

ZIQUEZAQUE

DESCONTÍNUO

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AO LEITOR

Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.

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CAPÍTULO PRIMEIRO / ÓBITO DO AUTOR

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

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BRÁS CUBAS

▪ nasceu em 20/10/1805, no Rio de Janeiro, filho de Bento Cubas, de família burguesa (sem origem nobre), morre aos 64 anos de pneumonia de da ideia fixa ( o emplastro).

▪ Peralta quando criança, mimado pelo pai, irresponsável quando adolescente, homem medíocre, não realiza nada na vida (anti-herói), herdeiro, porém fracassado em suas ambições.

▪ Representa também os ricos proprietários de terras e escravos no Brasil do séc. XIX

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ESTRUTURA

• 160 cap. Curtos

• Fragmentária (memórias)

Capítulos curtos

• Não linear, descontínuo

• Ritmo do narrador Digressiva

• Recursos gráficos

• Clássico e modernoInovadora

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CAPÍTULO LV / O VELHO DIÁLOGO DE ADÃO E EVA

BRÁS CUBAS................................?

VIRGÍLIA...............................

BRÁS CUBAS................................................................................................

........................................................

VIRGÍLIA..........................................!

BRÁS CUBAS.................................

VIRGÍLIA..........................................................................................................................................................?

................................................. .......................................................

BRÁS CUBAS.................................

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CAPÍTULO CXXV / EPITÁFIO

________________________

AQUI JAZ

D. EULÁLIA DAMASCENA DE BRITO

MORTA

AOS DEZENOVE ANOS DE IDADE

ORAI POR ELA!

________________________

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CAPÍTULO CXXXVI / INUTlLIDADE

Mas, ou muito me engano, ou acabo de escrever um capítulo inútil.

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CAPÍTULO CXXXIX / DE COMO NÃO FUI MINISTRO D’ESTADO

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CAPÍTULO CXL / QUE EXPLICA O ANTERIOR

Há coisas que melhor se dizem calando; tal é a matéria do capítulo anterior. Podem entendê-lo os ambiciosos malogrados.(...)

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ESTILO

• Desvios para fora da fábula

• Comentários, reflexõesdigressões

• Comentários sobre a própria história, sobre o próprio estilo

metalinguagem

• Conversa com o leitor

• Forma de digressãoleitor incluso

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ESTILO

• Recriação de estruturas consagradas pela tradição (ex.: Humanitismo)

paródia

• Relação, diálogo entre textos

• Bíblia, mitologia, filosofia, artes...

Inter-

textualidade

• Ora narra, ora comenta

• Ruptura com a narrativa linear

Estilo

ziguezagueante

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Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...

CAPÍTULO LXXI / O SENÃO DO LIVRO

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CAPÍTULO CII / DE REPOUSO

Mas este mesmo homem, que se alegrou com a partida do outro, praticou daí a tempos... Não, não hei de contá-lo nesta página; fique esse capítulo para repouso do meu vexame. Uma ação grosseira, baixa, sem explicação possível... Repito, não contarei o caso nesta página

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CAPÍTULO CXXX / PARA INTERCALAR NO CAP. CXXIX

A primeira vez que pude falar a Virgília, depois da presidência, foi num baile em 1855. Trazia um soberbo vestido de gorgorão azul, e ostentava às luzes o mesmo par de ombros de outro tempo. Não era a frescura da primeira idade; ao contrário; mas ainda estava formosa, de uma formosura outoniça, realçada pela noite (...)

Convém intercalar este capítulo entre a primeira oração e a segunda do capítulo CXXIX.

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CAPÍTULO CXIII / A SOLDA

A conclusão, se há alguma no capítulo anterior, é que a opinião é uma boa solda das instituições domésticas. Não é impossível que eu desenvolva este pensamento, antes de acabar o livro; mas também não é impossível que o deixe como está. De um ou de outro modo, é uma boa solda a opinião, e tanto na ordem doméstica, como na política. Alguns metafísicos biliosos têm chegado ao extremo de a darem como simples produto da gente chocha ou medíocre; mas é evidente que, ainda quando um conceito tão extremado não trouxesse em si mesmo a resposta, bastava considerar os efeitos salutares da opinião, para concluir que ela é a obra superfina da flor dos homens, a saber, do maior número.

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CAPÍTULO CXLV / SIMPLES REPETIÇÃO

Quanto aos cinco contos, não vale a pena dizer que um canteiro da vizinhança fingiu-se enamorado de D. Plácida, logrou espertar-lhe os sentidos, ou a vaidade, e casou com ela; no fim de alguns meses inventou um negócio, vendeu as apólices e fugiu com o dinheiro. Não vale a pena. É o caso dos cães do Quincas Borba. Simples repetição de um capítulo.

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ESTILO

• Niilismo, ceticismo

• Descrença no ser humanopessimismo

• Sátira menipeia

• Pessimismo irônicoHumor e ironia

• Essência X aparência

• Constantes na tradiçãoUniversalismo e psicologismo

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Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

CAPÍTULO CLX / DAS NEGATIVAS

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Pessimismo irônico

▪ Pandora ou a Natureza

= visão alegórica da história humana: alternância dos opostos, mostrando que tudo passa, tudo vira tédio; a história é uma catástrofe, a natureza um flagelo, através de um desfile, de um carnaval

▪ A morte inesperada de Nhá Loló e a vaidade de Damasceno

▪ A beleza efêmera de Marcela e de Eugênia

▪ A vida mesquinha e a morte de D.Plácida

▪ A riqueza e a loucura de Quincas Borba...

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TEMPO E ESPAÇO

Rio de Janeiro

Sociedade da 1ª metade do século XIX

Corte; Casinha da Gamboa; Tijuca

Exceção: Europa

Flashbacks

Não-linear

Vaivéns da memória

Exemplo: começa pela morte, velório, enterro...

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CAPÍTULO PRIMEIRO / ÓBITO DO AUTOR

(...)Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.

CAPÍTULO IX / TRANSIÇÃO

E vejam agora com que destreza; com que arte faço eu a maior transição deste livro. Vejam: o meu delírio começou em presença de Virgília; Virgília foi o meu grão pecado da juventude; não há juventude sem meninice; meninice supõe nascimento; e eis aqui como chegamos nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 1805, em que nasci. Viram? Nenhuma juntura aparente, nada que divirta a atenção pausada do leitor: nada.

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(...) E de imperador! Era um gosto ver o Quincas Borba fazer de imperador nas festas do Espírito Santo. De resto, nos nossos jogos pueris, ele escolhia sempre um papel de rei, ministro, general, uma supremacia, qualquer que fosse. Tinha garbo o traquinas, e gravidade, certa magnificência nas atitudes, nos meneios. Quem diria que... Suspendamos a pena; não adiantemos os sucessos. Vamos de um salto a 1822, data da nossa independência política, e do meu primeiro cativeiro pessoal.

CAPÍTULO XIII / UM SALTO

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PERSONAGENS

Virgília - filha do comendador Dutra, amante de Brás Cubas casa-se com Lobo Neves por interesse. Mulher bonita, ambiciosa, que parece gostar sinceramente de Brás Cubas, mas jamais se revela disposta a romper com sua posição social.Damião Lobo Neves Marido de Virgília

Marcela - amor de Brás Cubas na adolescência, uma prostituta de elite Mulher sensual, mentirosa, amiga de rapazes e de dinheiro. Ganha muitas joias do adolescente Brás Cubas. Contrai varíola e fica feia.

Eugênia – a “flor da moita”. Filha de Dona Eusébia e Dr.Vilaça, menina bela, embora coxa. Era moça séria, tranquila, bela, dotada de olhos negros e olhar direito e franco.

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PERSONAGENS

Nhá Loló - moça simplória, tinha dotes de soprano - morre de febre amarela. Seu pai se chamava Damasceno, irmão de Cotrim

D. Plácida - empregada de Virgília confidente e protetora de sua relação extraconjugal (medianeira).

Quincas Borba, colega de escola de Brás, encontrará mais tarde mendigo que rouba-lhe um relógio, mas retorna-o ao colega após receber uma herança. Desenvolve um sistema filosófico, denominado Humanitismo, que pretende superar e suprimir todos os demais sistemas até tornar-se uma religião. Morre louco.

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PERSONAGENS

Sabina - irmã do narrador e que, como ele, valoriza mais o interesse pessoa e a posição social do que amizade ou laços de parentesco.Cotrim - casado com Sabina, é interesseiro, traficante de escravos e cruel com eles, mandando-os castigar até correr sangue, casado com Sabina, irmã de Brás; ambos interesseiros.

Prudêncio – moleque, filho de escravos da família Cubas; Brás Cubas fazia Prudêncio de cavalo na infância.

Bento Cubas, pai de Brás Cubas. Morre de desgosto.

Tios de Brás Cubas: João, oficial da infantaria, Ildefonso, padre.