Memórias sargento

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Fuvest 2009 Leia o trecho de abertura de Memrias de um sargento de milcias e responda ao que se pede. Era no tempo do rei. Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo O canto dos meirinhos ; e bem lhe assentava o nome, porque era a o lugar de encontro favorito de todos os indivduos dessa classe (que gozava ento de no pequena considerao). Os meirinhos de hoje no so mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temvel e temida, respeitvel e respeitada; formavam um dos extremos da formidvel cadeia judiciria que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre ns um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Manuel Antnio de Almeida. Memrias de um sargento de milcias. a) A frase Era no tempo do rei refere-se a um perodo histrico determinado e possui, tambm, uma conotao marcada pela indeterminao temporal. Identifique tanto o perodo histrico a que se refere a frase quanto a mencionada conotao que ela tambm apresenta. b) No trecho aqui reproduzido, o narrador compara duas pocas diferentes: o seu prprio tempo e o tempo do rei. Esse procedimento raro ou freqente no livro? Com que objetivos o narrador o adota? UNICAMP 2008 - O trecho abaixo pertence ao captulo XXII (Empenhos), de Memrias de um Sargento de Milcias. Isto tudo vem para dizermos que Maria-Regalada tinha um verdadeiro amor ao Major Vidigal; o Major pagava-lho na mesma moeda. Ora, D. Maria era uma das camaradas mais do corao de Maria- Regalada. Eis a porque falando dela, D. Maria e a comadre se mostraram to esperanadas a respeito da sorte do Leonardo. J naquele tempo (e dizem que defeito do nosso) o empenho, o compadresco, era uma mola real de todo o movimento social. (Manuel Antonio de Almeida, Memrias de um Sargento de Milcias) a) Explique o defeito a que o narrador se refere. b) Relacione o defeito com esse episdio, que envolveu o Major Vidigal e as trs mulheres. FUVEST 2004 Considere o seguinte fragmento do antepenltimo captulo de Memrias de um sargento de milcias, no qual se narra a visita que D. Maria, Maria Regalada e a comadre fizeram ao Major Vidigal, para interceder por Leonardo (filho): O major recebeu-as de rodaque de chita e tamancos, no tendo a princpio suposto o quilate da visita; apenas porm reconheceu as trs, correu apressado camarinha vizinha, e envergou o mais depressa que pde a farda: como o tempo urgia, e era uma incivilidade deixar ss as senhoras, no completou o uniforme, e voltou de novo sala de farda, calas de enfiar, tamancos, e um

leno de Alcobaa sobre o ombro, segundo seu uso. A comadre, ao v-lo assim, apesar da aflio em que se achava, mal pde conter uma risada que lhe veio aos lbios. Rodaque = espcie de casaco. Camarinha = quarto. Calas de enfiar = calas de uso domstico. a) Considerando o fragmento no contexto da obra, interprete o contraste que se verifica entre as peas do vesturio com que o major voltou sala para conversar com as visitas. b) Qual a relao entre o referido vesturio do major e a sua deciso de favorecer Leonardo (filho), fazendo concesses quanto aplicao da lei? Unicamp2011. Os trechos abaixo, do Auto da barca do inferno e das Memrias de um sargento de milcias, tratam, de maneira cmica, dos pecados de duas personagens que, cada uma a seu modo, representam uma autoridade. Leia-os com ateno e responda s questes propostas em seguida. Frade - Ah, Corpo de Deus consagrado! Pela f de Jesus Cristo, queu no posso entender isto! Eu hei-de ser condenado? Um padre to namorado e tanto dado virtude! Assi Deus me d sade que eu estou maravilhado! Diabo No faamos mais detena. Embarcai e partiremos: tomareis um par de remos. Frade No ficou isso navena! Diabo Pois dada est j a sentena! Frade Par Deus! Essa seriela! No vai em tal caravela minha senhora Florena. Como? Por ser namorado e folgar com ua mulher se h um frade de se perder, com tanto salmo rezado? Diabo Ora ests bem aviado! Frade Mas ests bem corregido! Diabo Devoto padre marido,

haveis de ser c pingado... (Gil Vicente, Auto da barca do inferno. So Paulo: tica, 2006, p. 35-36.) Unicamp2011. Os leitores esto j curiosos por saber quem ela, e tm razo; vamos j satisfaz-los. O major era pecador antigo, e no seu tempo fora daqueles de quem se diz que no deram o seu quinho ao vigrio: restava-lhe ainda hoje alguma coisa que s vezes lhe recordava o passado: essa alguma coisa era a Maria-Regalada que morava na Prainha. Maria-Regalada fora no seu tempo uma mocetona de truz, como vulgarmente se diz: era de um gnio sobremaneira folgazo, vivia em contnua alegria, ria-se de tudo, e de cada vez que se ria fazia-o por muito tempo e com muito gosto: da que vinha o apelido regalada que haviam juntado ao seu nome. (Manuel Antonio de Almeida, Memria de um sargento de milcias. So Paulo: tica, 2004, Captulo XLV Empenhos, p. 142.) a) O que h de comum na caracterizao da conduta do Frade, na pea, e do major Vidigal, no romance? b) Que diferena entre as obras faz com que essas personagens tenham destinos distintos? Unicamp 2011. - Leia os seguintes trechos de Memrias de um sargento de milcias e Vidas secas, que descrevem o estado de nimo das personagens ao final de uma festa: Acabado o fogo, tudo se ps em andamento, levantaram-se as esteiras, espalhou-se o povo. D. Maria e sua gente puseram-se tambm em marcha para casa, guardando a mesma disposio com que tinham vindo. Desta vez porm Luisinha e Leonardo, no dizer que vieram de brao, como este ltimo tinha querido quando foram para o Campo, foram mais adiante do que isso, vieram de mos dadas muito familiar e ingenuamente. Este ingenuamente no sabemos se se poder com razo aplicar ao Leonardo. Conversaram por todo o caminho como se fossem dois conhecidos muito antigos, dois irmos de infncia, e to distrados iam que passaram porta da casa sem parar, e j estavam muito adiante quando os sios de D. Maria os fizeram voltar. A despedida foi alegre para todos e tristssima para os dois. (Manuel Antonio de Almeida, Memria de um sargento de milcias. So Paulo: tica, 2004, Captulo XX - O fogo no Campo, p. 71.) Baleia cochilava, de quando em quando balanava a cabea e franzia o focinho. A cidade se enchera de suores que a desconcertavam. Sinha Vitria enxergava, atravs das barracas, a cama de seu Toms da bolandeira, uma cama de verdade. Fabiano roncava de papo para cima, as abas do chapu cobrindo-lhe os olhos, o quengo sobre as botinas de vaqueta. Sonhava, agoniado, e Baleia percebia nele um cheiro que o tornava irreconhecvel. Fabiano se agitava, soprando. Muitos soldados amarelos tinham aparecido, pisavam-lhe os ps com enormes reinas e ameaavam-no com faces terrveis. (Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 8283.)

a) Explique as diferenas do estado de nimo das personagens ao final dos dois episdios. b) A partir dessa diferena, explique o significado que as duas festas tm em cada um dos romances.