14
REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 47 Memórias do Carnaval Alessandra Anselmi, Beltrina Côrte, Vera Brandão & colaboradores 1 s depoimentos que seguem foram enviados como colaboração para este número especial sobre o Carnaval. Os três primeiros foram extraídos do Portal Memória Viva , que criou a série de vídeos com o intuito de homenagear os primeiros sambistas do Grupo Acadêmico Sociativo Independente, Faculdade do Samba Voz do Morro, mais conhecida pela sigla Grasifs. A escola foi fundada em 28 de janeiro de 1956 e defende nas cores vermelho e branco sua importância dentro do Carnaval da cidade de Rio Claro (SP). Este ano, a Grasifs - Voz do Morro leva para avenida uma releitura de um samba feito há 30 anos. A Velha Guarda da escola está eufórica em poder cantar novamente o mesmo samba de quando eram jovens. Todos os depoimentos são respostas ao convite aberto à nossa rede social, incluindo os alunos do Mestrado de Gerontologia da PUC-SP. Chegaram online depoimentos de Rio Claro (SP), Feira de Santana (BA), São Luís do Maranhão (MA), Uberaba (MG) e São Paulo (SP), enviados pelos seguintes colaboradores do Portal: Denise Araújo, Lidiane Mendes de Almeida, Sonia Cristina Rovaris, Maria Lígia Mathias Pagenotto e Farah Rejenne Mendes de Sousa. A emoção e a riqueza das memórias de Carnavais vividos são os “confetes – pedacinhos coloridos de saudades” 2 , que colorem e enfeitam esta edição especial. 1 Além dos colaboradores que assinam os depoimentos, contamos com o apoio de Amarilis Maria Muscari Riani Costa e Camila Cardoso. O

Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

47

Memórias do Carnaval

Alessandra Anselmi, Beltrina Côrte, Vera Brandão

& colaboradores1

s depoimentos que seguem foram enviados como colaboração para este número especial sobre o Carnaval. Os três primeiros foram extraídos do Portal Memória Viva, que criou a série de vídeos com o

intuito de homenagear os primeiros sambistas do Grupo Acadêmico Sociativo Independente, Faculdade do Samba Voz do Morro, mais conhecida pela sigla Grasifs. A escola foi fundada em 28 de janeiro de 1956 e defende nas cores vermelho e branco sua importância dentro do Carnaval da cidade de Rio Claro (SP). Este ano, a Grasifs - Voz do Morro leva para avenida uma releitura de um samba feito há 30 anos. A Velha Guarda da escola está eufórica em poder cantar novamente o mesmo samba de quando eram jovens. Todos os depoimentos são respostas ao convite aberto à nossa rede social, incluindo os alunos do Mestrado de Gerontologia da PUC-SP. Chegaram online depoimentos de Rio Claro (SP), Feira de Santana (BA), São Luís do Maranhão (MA), Uberaba (MG) e São Paulo (SP), enviados pelos seguintes colaboradores do Portal: Denise Araújo, Lidiane Mendes de Almeida, Sonia Cristina Rovaris, Maria Lígia Mathias Pagenotto e Farah Rejenne Mendes de Sousa. A emoção e a riqueza das memórias de Carnavais vividos são os “confetes – pedacinhos coloridos de saudades”2, que colorem e enfeitam esta edição especial.

1 Além dos colaboradores que assinam os depoimentos, contamos com o apoio de Amarilis

Maria Muscari Riani Costa e Camila Cardoso.

O

Page 2: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

48

Memória Viva – Arte, cultura e história3, por Alessandra Anselmi

O Memória Viva é um projeto do Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro “Oscar de Arruda Penteado”, que disponibiliza e mapeia toda a sua documentação histórica. Por meio do projeto Memória Viva: arte, cultura e história, a autarquia busca preencher as lacunas da história pelo registro em vídeo da história oral, lançando luz sobre os fragmentos ocultos da história da cidade – fatos que se perderiam no tempo e no espaço se não fossem retratados por seus cidadãos.

O projeto utiliza-se de software livre e tem como parceiros a UNESP (Campus de Rio Claro), o Ponto de Cultura Rio Claro Cidade Viva e o Grupo Kino Olho. O principal objetivo é registrar a vida e a história de cidadãos até aqui silenciados e desvalorizados historicamente, apontando para um novo conceito de história, viva, em que outras pessoas até então desvalorizadas e fora das mídias tradicionais sintam-se importantes e com isso olhem para sua vida e para a vida da cidade como partícipes.

Essas histórias, por serem plurais, sobrevivem até que sejam transmitidas para uma nova geração ou perdidas para sempre; e grande parte desse conhecimento nunca é passada para frente. Um idoso que falece é toda uma biblioteca que se queima. Cada testemunho oral torna-se um recurso para a elaboração de documentos e arquivamento, proporcionando a análise de diferentes contextos históricos e facilitando o entendimento dos processos sociais.

É com essa preocupação que as outras histórias, ignoradas pela historiografia oficial, são narradas por seus protagonistas, apreendidas e registradas pelo uso de recursos audiovisuais.

O Memória Viva é formado por uma equipe de estagiários responsável pelo levantamento de possíveis temas e depoentes, entrevistas, gravações, edição do material e finalização do documentário, utilizando a metodologia da História Oral. Ao longo do processo de produção, os entrevistados apresentam histórias, mostram documentos e fotografias que, de alguma forma, comprovam as falas, e ainda sugerem outros personagens, cujas histórias devem ser registradas e divulgadas pelo Portal. A íntegra do material é incorporada ao acervo do Arquivo, enquanto o material editado é divulgado no Portal Memória Viva e em eventos da autarquia e da cidade, como forma de tornar públicas histórias até então desconhecidas.

2 Confete/ Pedacinho colorido de saudade/ Ai, ai, ai, ai,/ Ao te ver na fantasia que usei/

Confete/ Confesso que chorei/Chorei porque lembrei/ Do carnaval que passou/ Daquela Colombina que comigo brincou/ Ai, ai, confete/ Saudade do amor que se acabou. (Marchinha de David Nasser e Jota Jr, 1951). http://letras.mus.br/marchinhas-de-carnaval/528842/ 3 Síntese extraída com autorização do texto de autoria de Ana Carolina Rios Gomes, Carolina Pinto da Silva e Maria Teresa de Arruda Campos, publicado na Revista do Arquivo nº6.

Page 3: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

49

O projeto tem um número considerável de documentários finalizados, além dos que estão sendo produzidos no momento. Como consequência desse trabalho, a iniciativa Memória Viva: arte, cultura e história está entre as 40 do País, e entre as dez na categoria Gestor Público, classificadas como finalistas da 3ª Edição do Prêmio Cultura Viva. O prêmio reconhece e procura dar visibilidade a práticas culturais de todo o território nacional, visando promover a difusão da diversidade cultural. Criado em 2005, o prêmio integra as ações do Programa Memória Viva – idealizado pelo Ministério da Cultura e patrocinado pela Petrobras, com coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. Depoimentos4

Durval Augusto – o Durvalzinho do Pandeiro Do “pandeiro” porque sempre gostei de música, nas fotografias pode ver que desde pequeno sempre estou com instrumentos de música na mão... Então, lá por volta de 1954, em Rio Claro, nós, crioulos, não podíamos fazer Carnaval de rua não, simplesmente não tínhamos acesso. Daí um dia eu falei: quer saber de uma coisa, nós vamos

arrumar um jeito de ir para a avenida de qualquer jeito. Na primeira tentativa, em 1956, a polícia veio e tomou nossos instrumentos e nos mandou dispersar. No ano seguinte, estávamos lá de novo e dessa vez tivemos sucesso. Fui o primeiro a colocar a escola de samba na avenida. Foi na Rua 3, e nós ficamos ali no meio, fazendo batalha do confete, que era um aparelho que assoprava os confetes, como um canhão. Eu sinto orgulho de saber que consegui colocar a minha escola de samba na rua porque isso representou muito para nós, o início de uma mudança na história da comunidade negra. Conquistamos um espaço na avenida para nos manifestar pelo samba. Meu nome ficou lá em cima, ainda mais que era eu que fazia as letras dos enredos. Quando meu pai faleceu, comprei uma casa na Avenida 3, e para chegar lá tinha uma grande subida, e o pessoal dizia assim: vamos subir o morro para ir na casa do Durvalzinho, então foi assim que surgiu o nome da escola, a “Voz do Morro”.

Antonio Marcos Farias, “Marcão” Da infância o que me lembro é que o meu pai e minha tia Neia eram os condutores da família no que se refere ao samba. Tinham violão, alguma coisa de cavaquinho meu pai fazia, e a percussão era o que realmente não faltava. Havia os colegas do meu pai que iam lá para casa fazer o samba; e a gente, a molecada, ia aprendendo na base da caixa de

4 Os depoimentos (autorizados) foram transcritos do documentário produzido pela equipe: Lesley de Souza Silva, Carolina Pinto da Silva, Willian Brandão, Júlio César Pedroso, Kátia Guidotti e Maria Teresa de Arruda Campos.

Page 4: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

50

fósforo, improvisava sempre um pandeiro, um tambor, e fazia o samba, vamos dizer caseiro. O aprendizado de vida que a escola de samba Grasifis, uma das mais antigas do Estado de São Paulo trouxe para mim, já que dediquei muito tempo na escola -, foi um aprendizado muito grande na parte de desenvolvimento de enredo, elaboração de enredo, conhecimento de alegorias, fantasia, alguns conhecimentos específicos, enfim, você passa a aprender como ver o Carnaval, não somente um monte de gente fantasiada, aquilo ali tem que ter um sentido, e a gente passa a ver o Carnaval com outros olhos, acho que essa é a grande lição que a gente vai levar, assim como tentar deixar para o futuro, porque o Carnaval é muito difícil, ele exige muito da gente! Antonio Gerson Santana, o Gersão

O samba daquele tempo, em 1957, era muito mais bonito do que o samba de hoje, era um samba nem muito rápido nem muito lento, era um samba que dava para você levar no pé o tempo todo, hoje não, hoje é aquele foguete, não tem mais aquela pegada, o samba era saudoso, era bom, o tempo passou, mudou tudo. Naquela época também não tinha bandeira não, se a gente queria sair de vermelho saía, se queria sair de preto saía.... Na bateria

tinham umas 20 pessoas mais ou menos, e os instrumentos eram arcaicos, latão de carboreto, tamborim de madeira, mas tudo bem feitinho, e o pessoal que batia o tamborim, batia maravilhosamente, sabia fazer samba, o samba era samba mesmo... Não isso que é hoje!

Maria Antonieta, por Maria Lígia Mathias Pagenotto5

Eu adorava o Carnaval. Minhas lembranças das festas são todas felizes. Carnaval para mim era sinônimo de diversão, encontrar os amigos, dançar, dar muita risada. Quando criança frequentava o Carnaval no Jockey Clube de Uberaba. Ia a todas as matinês. Nessa época, a gente se divertia com confete, serpentina e com as músicas, sempre marchinhas, que tocavam no salão. Eu não me fantasiava, mas usava algum enfeite, geralmente uma máscara. A diversão ficava por conta dos amigos que se encontravam lá,

dançavam, brincavam. Já mais tarde lembro de sair no corso, com os amigos da cidade. Um amigo do meu tio, fazendeiro, tinha uma caminhonete. As crianças se amontoavam na carroceria e iam cantando, fazendo farra. Era uma diversão bem democrática, pois participavam crianças, adolescentes, adultos, velhos.

5 Jornalista e mestre em Gerontologia pela PUC-SP. E-mail: [email protected]

Page 5: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

51

Com o tempo, o corso acabou, e ficou mesmo só o Carnaval nos clubes e salões de baile. Eu gostava muito, continuava frequentando com os amigos, usava lança-perfume, dançava muito. Em Uberaba nunca houve tradição forte de Carnaval na rua. Durante um tempo, além do corso, o pessoal que trabalhava na roça saía com suas carroças. Eram os roceiros, que desfilavam na rua. Eles saíam já nos anos 30. A partir de uma época, surgiram as escolas de samba. Elas começaram a desfilar de forma organizada, com aval da prefeitura. Nessa época, final dos anos 60, início dos 70, fundei um bloco, junto com uns amigos, o Bloco dos Palhaços. Não era nada muito organizado. O combinado era que cada pessoa fizesse sua própria fantasia de palhaço, e a ideia era que todos saíssem vestidos iguais. Mas não havia nenhum tipo de cobrança, era tudo muito democrático e podia entrar quem quisesse – adulto ou criança. A gente saía na “avenida”, antes das escolas de samba. Íamos cantando e brincando com as pessoas. Algumas se animavam e furavam o cordão de isolamento, entrando no meio. Lembro que no primeiro ano saíram 25 pessoas apenas e um cachorro... Mas insistimos, e no ano seguinte já havia 50 pessoas. O bloco foi crescendo e durou uns 15 anos, mais ou menos. Aos poucos, porém, as pessoas foram deixando os blocos, a prefeitura não estimulava, e foi acabando essa tradição. Um dos blocos bem antigos, que persistem até hoje, é o da Maria Giriza. É formado só por homens vestidos de mulher. Fui duas vezes assistir ao Carnaval do Rio e achei muito bonito, mas é um grande espetáculo, como se você estivesse assistindo a um show. É bem diferente de participar ali, dançando. Hoje já não ligo muito para Carnaval... Não tenho muitas condições de dançar, porque tenho problemas nos joelhos. Falta companhia para ir aos bailes dançar. O divertido era a companhia dos amigos, que hoje não gostam mais. Mas não sinto falta, aproveitei muito, me diverti bastante, só tenho ótimas lembranças. Depoimento de Maria Antonieta Borges Lopes, professora de história, 73 anos, de Uberaba (MG). Mércia, por Denise Araujo6

Quando criança, lembro que a mamãe comprava para nós confete e serpentina, nos levava às matinês e para ver os desfiles. Eu achava lindo, encantador, ver as escola de samba. Era algo que me dava alegria, me fazia feliz. E quando adulta, meus pais me levavam para dançar nos clubes. Vinha minha prima Luiza, e então nós nos enfeitávamos, e lá

6 Mestranda em Gerontologia pela PUC-SP. E-mail: [email protected]

Page 6: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

52

íamos dançar. Lembro dos músicos que tocavam a noite toda as marchinhas carnavalescas. Dançávamos até quatro da manhã. Eu vinha cantando pelo caminho, já fazendo planos para a noite seguinte. Foi uma época boa que me ajudou muito, e sempre que lembro, me sinto feliz. Não danço mais o Carnaval, mas ainda acredito que ele faz bem para o povo, que ainda deixa muita gente feliz. Sempre fui feliz, criança adolescente, jovem e idosa. Depoimento de Mércia Picaço, 65 anos, São Paulo. Dos passos do Bailarino – O “samba no pé” de um colecionador de

Carnavais!, por Lidiane Mendes de Almeida7

Decio Otero, reconhecido pelos bailarinos como Maestro, é figura ilustre no meio artístico por ter dançado ao lado de bailarinos como Margot Fonteyn e Michael Sommes. Foi o primeiro bailarino do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e de Frankfurt, Alemanha. É o fundador do Ballet Stagium, que hoje, após 40 anos de sua criação, representa um ícone no movimento artístico

no Brasil. Décio Otero ganhou diversos prêmios, entre eles o da Unesco e o Prêmio de Ordem ao Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura. Além disso, é considerado um dos mais representativos coreógrafos brasileiros.

“Quando era jovem amava Carnaval. Naquela época era emocionante porque dava a oportunidade para a pessoa se transfigurar em outra coisa que ela sempre gostou de fazer e nunca foi. Ou mascarado, ou o homem que se fantasiava de mulher ou a mulher em homem, ou tinha o ideal de uma figura mitológica. O Carnaval servia exatamente para essa emancipação, para essa oportunidade de ser, porque o amanhã seria diferente”.

Ele nos conta que no pós-guerra, entre as décadas de 30 e 40, participava dos corsos de Carnaval. A brincadeira consistia no desfile de automóveis sem capota repletos de foliões que percorriam as avenidas centrais um atrás do outro. Ao se cruzarem, os ocupantes dos veículos (geralmente grupos fantasiados) lançavam confetes e serpentinas.

Enquanto relembra, demonstra a emoção que era viver essa folia de outrora: “As pessoas chegavam no Carnaval para extravasar, para cantar, para serem felizes. Ali na avenida, a cozinheira se transformava em rainha. Eu gostava tanto de Carnaval que quando já havia criado a companhia profissional

7 Psicóloga pela PUC-SP e bailarina. E-mail: [email protected]

Page 7: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

53

Stagium, na década de 80, entramos em uma fase de participação total no Carnaval, e o Ballet Stagium desfilou várias vezes. Optamos por levar o balé clássico para a avenida, pois o Stagium sempre utilizou a dança do povo, a dança folclórica, para levar para o Teatro Municipal. No Carnaval queríamos fazer o reverso, levamos para a avenida o clássico e foi um sucesso extraordinário”. “No momento do desfile, na avenida, é uma emoção muito grande, parece que você vai representando para várias plateias. A primeira vez que você dança a coreografia toda é um público que aplaude, a segunda vez já é outro público, da outra vez é um outro teatro, e outro. O momento do desfile é muito emocionante”. Décio Otero e Marika Gadali - Escola de Samba Nenê da Vila Matilde

Décio Otero foi o primeiro coreógrafo brasileiro a introduzir as sapatilhas de ponta da avenida, e desfilou diversas vezes, uma delas pela Nenê de Vila Matilde. Por ter morado na Europa mais de uma década, compreende que o Carnaval é algo intrínseco ao brasileiro: “Tudo isso que vem de dentro do povo brasileiro, que é por natureza muito festeiro, muito alegre, muito comunicativo, essa coisa que vai para fora, essa extroversão. Ele quer ser feliz, na verdade ele vive o Carnaval o ano inteiro!”.

Apesar de considerar que é atração turística de primeira qualidade, assume que o Carnaval que se faz hoje não é o mesmo de antigamente, de quando desfilava pelas avenidas. Conta que sua admiração pela festa diminuiu de uns dez anos, porque se transformou em evento muito comercial.

“O samba e o Carnaval perderam a característica de manifestação popular. Antigamente as pessoas iam para brincar, cantar, extravasar. Hoje, acho estranho, porque vão para brigar, colocar fogo e roubar os votos. No Carnaval de antigamente existia uma coisa natural, eram os blocos, os desfiles de bom amador. Agora encontramos um acesso de profissionalismo, você sente que determinada escola de samba está investindo muito para vencer. Não tiro o valor, acho muito bonito, é um espetáculo que realmente deve ser apreciado, principalmente por estrangeiros. Mas ele se distanciou e decresceu no sentido de que deixou de ser espontâneo, livre, para ser uma comerciata muito grande”.

Décio Otero se apresentou até os 60 anos. Atualmente, dirige espetáculos e compõe coreografias. Mesmo não estando em cena, nos palcos ou avenidas, ainda dança, e muito! Observa, melhora e transmite, com muito amor, tudo o que adquiriu, como experiência e sabedoria. Maestro, como o chamam - que significa aquele que rege, que conduz -, é envolvido, presente e atuante. A experiência que reuniu “de outros Carnavais” e sua dedicação em transmiti-la, contribuem muito para o desenvolvimento artístico da dança e da cultura no Brasil.

Page 8: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

54

Uma salva de palmas para o Maestro.

Depoimento de Décio Otero, bailarino, diretor e coreógrafo, São Paulo.

O Carnaval e os idosos – Feira de Santana – BA, por Sonia Cristina Rovaris

8

Tarefa difícil foi saber quando começou o envolvimento de idosos na brincadeira com o Carnaval, pois na região a diversão faz parte do rol de festas típicas. A Micareta de Feira, conhecida como Carnaval fora de época, é comemorada na cidade 15 dias após a Páscoa. Foi a primeira do Brasil, criada em 1937 por um grupo de feirenses inconformados pela não realização do Carnaval, impossibilitado por fortes chuvas no período. A Micareta, antes chamada de Micareme (nome derivado de uma festa francesa), acontecia apenas no primeiro domingo após a Quaresma. Com o passar dos anos, a tradicional festa teve muitas transformações, envolvendo clubes e entidades sociais, organizados com cordões de mascarados, blocos carnavalescos e o famoso trio-elétrico. Tornou-se uma das maiores manifestações populares do interior da Bahia. Cacilda

Diz que frequentou a festa com o marido, filhos, e sempre foi um espaço para demonstrar alegria, esbanjar contentamento e felicidade. Mas seu envolvimento maior foi quando começou a trabalhar na Universidade Aberta à Terceira Idade – UATI, vinculada à Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, com pessoas idosas, e perceber a falta de lazer para esse segmento na cidade. Os idosos acabavam apreciando a festa com sentimentos e lembranças dos bons Carnavais da juventude. No ano em que a festa carnavalesca conhecida como Micareta completou 60

anos, grupos de idosos encampados pela UATI, com iniciativa da professora

8 Assistente Social e mestranda em Gerontologia pela PUC-SP. E-mail: [email protected]

Page 9: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

55

Lindoia Pinto, resolveram criar o “Bloco da Maturidade” na Micareta de Feira, reunindo vários idosos. Nos primeiros anos, a festa para os idosos acontecia em local separado do circuito e em horário mais cedo, justificando que seria um local menos badalado, pensando na diminuição da resistência física das pessoas acima de 60 anos. O espaço destinado foi a Praça da Kalilândia, contemplando idosos, crianças e deficientes, com abertura a partir do primeiro dia de festa, sempre na quinta- feira a partir das 17h30, com duração de aproximadamente três horas. Nesse espaço acontecia o concurso do Rei Momo e Rainha da Terceira Idade, com desfile das candidatas dos blocos apresentados pelos Grupos da Terceira Idade, que são mais de 20, avaliados pelos jurados. Dona Cacilda diz que por várias vezes participou da mesa de júri, e já recebeu homenagens na festa. As músicas de marchinhas animavam e contagiavam, com uma charanga desfilávamos nas ruas em ritmo de muita alegria cantando e dançando as marchinhas de Carnaval (...) era a confirmação de que o reinado da terceira idade em Feira de Santana era possível, pelo contagiante entusiasmo dos seus participantes. Nos anos seguintes não deixamos mais de integrar a festa carnavalesca, criando os Blocos Juventude Dourada, Feliz Idade. Atualmente o bloco é denominado Me Leva que eu Vou. Afirma que a diferença do último bloco é que passou a desfilar no circuito Maneca Ferreira, palco principal da festa na avenida Presidente Dutra, participando como todos os foliões. O significado dessa oportunidade está na manifestação da alegria, da vontade de participar e interagir com as canções tocadas na festa, recordação da juventude, da história de vida de cada um. Segundo ela, o maior orgulho foi que nos últimos oito anos a festa tomou proporção maior com a parceria e incentivo da Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer do Município, que transformou o espaço da Praça da Kalilândia em um local especial para o baile da terceira idade e o concurso da Miss Micareta da 3ª Idade. As candidatas recebem apoio com maquiagem e figurinos, e na passarela esbanjam alegria representando seus grupos. Nesse período, nossa mobilização é intensa, acontecem reuniões para organização da participação das candidatas idosas. Houve até uma época em que o serviço de transporte foi oferecido para permitir e incentivar uma participação maciça do idoso. O incentivo do Poder Executivo permitiu a valorização com a inserção do público folião idoso, oportunizando-nos desfrutar dos mesmos espaços, local em que é registrada pela imprensa a grande folia que a festa apresenta. Cacilda Miranda da Silva, 64 anos, UATI/UEFS

Page 10: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

56

Olímpia Dona Olímpia foi uma das foliãs do Bloco Juventude Dourada e Bloco da Feliz Idade. Aos 82 anos exibe com orgulho e felicidade seus abadás (camisetas usadas nos blocos). Diz que apesar de não poder mais pular, só de lembrar se alegra, pelos bons momentos durante os 15 anos que frequentou intensamente a festa. Sua participação na festa carnavalesca teve início nas atividades da Universidade Aberta à

Terceira Idade – UATI, após a morte de seu marido. Ele era um homem bom, mas bastante reservado, motivo que antes não despertou envolvimento com a festa. Seu pai, um italiano de Genova, conheceu sua mãe baiana, casaram-se e foram morar em Manaus, Amazonas. Quando retornaram à Bahia, estudou em colégio interno e chegou a ser habilitada para lecionar, mas, por influência do marido, tratou de cuidar somente dos afazeres da casa e dos filhos. Por causa da morte precoce, aos 52 anos, e passado algum tempo, foi influenciada por outras amigas para participar dos grupos da terceira idade, vivenciando, a partir de então, toda alegria e diversão que a festa proporciona. Hoje, acometida por dores e com a mobilidade reduzida, oriundas da artrose, não chega a lamentar sua inviabilidade e não participação, pois as lembranças recordam bons momentos dos 15 anos de muita alegria, descontração e felicidade. Foi bom, muito bom, me alegro só de pensar. Depoimento de Olímpia, 82 anos, Feira de Santana, Bahia.

Outros Carnavais em São Luís e interiores do Maranhão, por Farah Rejenne Mendes de Sousa9. O Carnaval no Maranhão tem características peculiares, fruto de sua colonização e história. As brincadeiras nas ruas do centro histórico eram, até os anos 60, livres e familiares. Havia diversos bailes de máscaras nos antigos casarões, o que foi proibido

posteriormente. Com o tempo a influência, especialmente a carioca, das grandes escolas de samba desfilando pelas avenidas, se sobrepôs às celebrações tradicionais. Em anos mais recentes grupos de artistas, intelectuais e o próprio povo buscam resgatar as raízes dessas celebrações. 9 Terapeuta ocupacional e mestre em Gerontologia pela PUC-SP. E-mail: [email protected]

Page 11: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

57

Os blocos são a expressão mais autêntica do Carnaval: blocos tradicionais e os grupos de tambor de crioula (dança de negras antiga, da época das senzalas, marcada pelo ritmo dos tambores e o bailar das mulheres, chamadas coureiras). O corso, que eram carros alegóricos sobre caminhões que desfilavam, hoje está reduzido somente à Casinha da Roça, que é uma alegoria feita toda em palha, como se fosse mesmo uma casa de caboclo, com dançarinas de tambor de crioula dentro. É uma alegoria muito viva, em que mulheres vão cozinhando na rua e distribuindo comida ao pessoal.10 Para contar toda a história da rica manifestação cultural, e de outras dos diferentes lugares do nosso imenso Brasil, precisaria de outra edição carnavalesca... Mas vejamos os depoimentos:

Maria Nunca dancei Carnaval, tinha vontade demais de dançar, mas meus pais não deixavam. Naquele tempo, uma moça no Carnaval do interior não tinha mais valor de nada, era uma coisa assim sem regulamento. Aí eu fiquei só com a vontade. Hoje não

dá mais. As coisas estão tudo doidas. Era tudo bonito. Uma vez fizeram uma festa para mim e para minha irmã. Meu pai não estava em casa. Mas coincidiu dele chegar nesse dia seis horas da tarde. Não deixaram eu ir de jeito nenhum. Eu fiquei tão revoltada. Era uma coisa triste a vida de antigamente. Não tenho lembranças boas de nada de minha infância, de minha juventude. Nada. Tudo era podado. Antigamente os filhos obedeciam aos pais. Querendo ou não. Era castigado, ou apanhava. Não vai sair tantas vezes. Agora não, o povo vai e não quer nem saber. A vida que vivo é essa de hoje. Só faço o que dá no meu limite. Sempre fui uma pessoa tranquila. E não adianta forçar para fazer uma coisa que não quero que aí mesmo que não faço. A minha mãe me criticava muito. E eu dizia: a senhora não pode me criticar, pois a senhora diz que eu sou nascida de oito meses. Toda vida fui assim. Quando tenho qualquer problema, a primeira coisa que falha é a minha voz. A tendência agora é piorar cada vez mais por causa da idade, se nunca fui uma pessoa ávida na juventude, vou ser agora depois de velha? A tendência é piorar. Só que ela não entendia isso. Hoje ela está entendendo. Ah, uma música que lembro é essa: As águas vão rolar, Garrafa cheia eu não quero ver sobrar; Eu passo mão na saca saca saca rolha, E bebo até me afogar, Deixa as águas rolar, Se a polícia por isso me prender, Mas na última hora me soltar... Como era bom. Depoimento de Maria Vilanova Oliveira, 75 anos, São Luís do Maranhão.

10

http://agenciadeviagem.blogspot.com.br/2009/02/historia-do-carnaval-de-sao-luis.html

Page 12: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

58

Nilde Eu só olhei o Carnaval. Eu saía para olhar os blocos nos tempos passados, ano de 1955, 1957... Eram aqueles caminhões, com as carrocerias cheias daquelas meninas que se vestiam com vestidos bonitos, cheios de babados para fora do caminhão, e aí a gente ia ver aqueles blocos passarem. Não era assim brincando solto na rua. Passava nessa época só um bloco, o bloco dos sujos, que vinha atrás

de todo jeito, era com lata, maisena... E menino danado que enchia uma bomba com água de esgoto, água da rua, e ficava jogando nos outros. Era aquela sujeira mesmo. Eu não dançava, só olhava. Eu ia para a casa de uma amiga da família, e a gente ficava na janela olhando. Mas a gente tinha vontade era de dançar. Era ali na rua do Hospital Português. Eu até que sabia algumas músicas, mas com esse esquecimento... Não lembro agora no momento, quem sabe depois? Ah tem essa aqui: Se alguém me convidar, pra tomar banho em Paquetá... Tempo bom, que saudades! Depoimento de Nilde Pestana dos Santos, 72 anos, São Luís do Maranhão. Neildes

Eu gostava muito de Carnaval, não para participar dos bailes, para dançar. Mas para assistir. Minha irmã, quando era mocinha, tinha uns 14 ou 15 anos, me vestia com aquelas roupas, não era fantasia. Me lembro muito bem que eu tinha uma sainha branca, toda cheia de naipes do baralho. Era aplicado na fazenda.

Passeei muito, como eu passeei... Mas naquele tempo de Carnaval, era um Carnaval mais seguro, mais divertido em todos os tipos, em todas as letras. Não o de hoje, que não vale nada. Primeiro que a mulher não se veste mais. Naquele tempo a mulher ainda andava vestida. E eu brinquei muito. Brincava na minha casa. Depois que eu me casei, ia eu e meu marido, que também gostava, e nós nos vestíamos de fofão para brincar. A gente passeava, e depois quando vinha um bloco a gente entrava para brincar. Mas gostava muito de Carnaval, aquele Carnaval de anteontem é que traz saudades para a gente hoje. Brinquei até quando fiquei grávida da minha primeira filha, que já vai fazer 53 anos. Aí depois parei um pouquinho, mas ainda brinquei um pouco, pois deixava minha filha com minha sogra. Íamos eu e meu marido, nunca sozinha. Quando era mocinha ia com minha irmã, ela me vestia, mas depois que casei, só com meu marido. Mas o Carnaval foi muito bom naquele tempo. E músicas antigas têm muitas, milhares. Tem aquela: Eu vou pra Maracangalha, eu vou, eu vou de chapéu de palha... E muitas e muitas outras. Tem uma música que lembro

Page 13: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

59

quando terminei com meu ex-marido, quando a gente ainda namorava, que foi na época do carnaval: Para que outro amor, Labariri? Se eu não posso esquecer? Para que maltratar a mim mesmo, Se tudo me lembra de você? Não vou cantar mais, que não dá mais pra mim. Mas o Carnaval foi muito bom naquele tempo, brinquei muito, muito, muito. As marchinhas eram muito bonitas, faziam sentido. Hoje não tem mais música, hoje são só coisas imorais, deturpadas. Hoje não dá para se divertir. Tem briga, tem morte, naquele tempo podia até ter uma briguinha, mas hoje as pessoas aplaudem, dá nojo de ver. E antigamente tinha ainda os corsos, as escolas de samba, os blocos, a casinha da roça. Passava onde era a biblioteca, ali que era o centro, perto da minha casa, 1963. E na rua do Passeio também. Canto da Viração, tudo enfeitado. Uma vez choveu tanto que até perdi um lado do meu sapato numa enxurrada. Fui só com uma banda pra casa. E minha mãe me disse bem-feito. Mas quem me levou foi minha irmã. Só sei que foi muito bom. Depoimento de Neildes Almeida Lins, 75 anos, São Luís do Maranhão. Terezinha

Ah, dancei muito corso, naqueles caminhões enfeitados. Brinquei muito Carnaval assim. As brincadeiras eram bacanas. Era cantar, dançar, se rebolar lá em cima. Brincava muito. Era lá na rua Grande que passavam os corsos, dia de terça-feira. Como era o nome daqueles carros enfeitados? Alegóricos? Tinha um outro nome. Mas brinquei muito, mas quando já era grandinha. Quando criança

eu só ia olhar. Grandinha eu namorava, com meu ex-falecido. Uma música que eu lembro dessa época boa é a “Varre, varre, vassourinha, vai varrendo pelo chão...”. O resto agora não me lembro. Outra é: “As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, eu passo a mão na saca, saca, saca rolha, e bebo até me afogar. Deixa as águas rolar”. Como era bom! Depoimento de Terezinha de Jesus Ferreira Ribeiro, 78 anos, São Luís do Maranhão. Data de recebimento: 19/01/2013; data de aceite: 19/01/2013.

__________________________ Alessandra Anselmi - formada em Relações Públicas pela Metodista em 1996, e em Marketing e Vendas pela Anhembi Morumbi em 2012. Atualmente é

Page 14: Memórias do Carnaval - Revista Longeviver

REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista

60

coordenadora de Marketing e Comunicação e responsável pelo gerenciamento de redes sociais do Portal do Envelhecimento/OLHE - Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento. Atua com locução e fotografia. E-mail: [email protected] Beltrina Corte – jornalista, doutora em Ciências da Comunicação pela USP. Docente da PUC-SP e editora de conteúdos do Portal do Envelhecimento. E-mail: [email protected] Vera Brandão – pedagoga, doutora em Antropologia pela PUC-SP. Pesquisadora CNPq; editora do Portal do Envelhecimento. E-mail: [email protected]