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Menino Yago, de Jorge Silva

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Capítulos iniciais de Menino Yago. Editora Emooby. Versão e-book para tablets.

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Page 1: Menino Yago, de Jorge Silva
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Copyright © 2011 By Jorge Silva

1a ed. 2004

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Qual a necessidade do trabalho? É verdade que o trabalho dignifica o homem? O trabalho dignifica a criança? Certamente não. Grande parte da mão de obra nos paises pobres é sustentada pelo trabalho infantil. Por muitas vezes, famílias que não se encontram em níveis tão profundos de pobreza inserem seus filhos no mercado de trabalho como forma de iniciar a construção de seu caráter através do esforço. Qual passa a ser então a identidade destas crianças? Yago não sabia exatamente como as coisas funcionavam. Nem mesmo sabia que tinha uma história... Essa é a história de Yago, um menino com menos de dez e mais de seis anos. Feliz e sonhador. Tinha todos os desejos das crianças de sua idade. E todas as dificuldades que os meninos pobres poderiam ter. Essa é uma história de esperança e inocência, cujo final está mais distante do que aqueles que nós imaginamos.

Gilson Ribeiro Mestre em Literatura Brasileira

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SUM

ÁR

IO5 MUDANÇAS 7 A CASA NOVA 9 PENSAMENTOS DE ADULTOS 10 O MISTÉRIO 13 O FIM DO MISTÉRIO 16 A RAIVA DOS VIZINHOS 19 O DESCANSO 21 A VIZINHA 23 ENCONTROS E DESENCONTROS 26 REUNIÃO DE FAMÍLIA 29 O PRESENTE 31 UMA SURPRESA 35 PALAVRAS DE ESPIÃO 37 O ENCONTRO PERTURBADOR 41 O PRIMEIRO ESTUDO 42 A PRIMEIRA PROFESSORA 43 OS DEVERES 45 ANIVERSÁRIO 47 SURPRESAS 48 GENTE CHATA 50 HISTÓRIA INCOMPLETA 51 SURPRESAS 53 COMIDA À VONTADE 55 A ESCOLA DE VERDADE 56 BOAS COMPANHIAS 57 AMIZADES 59 A MENTIRA 61 A MENTIRA - PARTE II 63 A MENTIRA - PARTE III 64 PROBLEMAS NA ESCOLA 65 CARTAS QUASE SEM DESTINOS 68 CARTAS COM DESTINOS 70 O SOFRIMENTO 72 PURA SORTE? 74 UMAS MELHORIAS ESCOLARES 76 A MENTIRA QUE MORREU 78 FESTEJOS 80 DESEJOS DE PAI E MÃE 81 NA TOCA DO MEDO 82 MAL-VINDO À ESCOLA 83 QUASE HEROÍNA OUTRA VEZ 85 SEM CHANCES 86 NA ESCOLA 88 IDEIAS DE ADULTOS 90 EM SEGURANÇA 92 GENTE MÁ E GENTE BOA 93 A MÁGICA DAS MENTIRAS 94 SEGREDO BEM GUARDADO96 BOAS NOVAS 98 OUTRAS MUDANÇAS 99 ESPERANÇAS

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MUDANÇAS

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Era um menino bacana e que não passava dos dez anos, e nem tinha menos de seis de idade. Se alguma forma de azar surgisse para aquela criança, o futuro diria, pois os pais haviam comprado uma casa humilde e longe da antiga moradia, que era num terreno sombrio demais.

Pais e filho moraram certo tempo ao lado de um cemitério. Não pagavam aluguel da antiga casa, que pertencia à administração do lugar sinistro. Yago recebera esse nome como homenagem a um parente muito próximo da família. Só não gostava tanto de ouvir histórias de bicho-papão e fantasmagóricas. Mas papai sempre insistia em contar as aventuras pelo cemitério e, às vezes, em plantões de trabalho, à parte da noite, um horário, portanto, muito bom para contar histórias de terror. O pai achava que os contos de terror funcionavam para incentivar o filho a entender um pouco mais sobre a vida dos adultos. A figura do avô materno era bem lembrada pelos pais que o viam como um homem de muitas qualidades: havia sido um funcionário exemplar da prefeitura e o homem que arrumara o serviço de coveiro para o pai de Yago. Assim, aquele bendito senhor proporcionara o lar nas dependências do cemitério para a filha viver com o genro. Mas morreu sem acompanhar o crescimento do neto e filho de Pedro e Rosa. Apenas conhecia o avô e avó através de histórias dos pais e de algumas fotos em um álbum montado pela família.

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A CASA NOVA

A rotina de coveiro de Pedro sofrera modificações. Passara a ir de ônibus ao serviço. Desse jeito, a distância do trabalho aumentara demais, já que a nova moradia ficava em outro canto da cidade. Pedro e Rosa não sabiam quase nada sobre a nova vizinhança. Não demorou muito para que Yago encontrasse outras crianças. O recente endereço ficava na Vila da Santa Fé, um conjunto de casas humildes, semelhante a um cortiço, um local para várias famílias sem boas condições financeiras. Os moradores viviam muito felizes por ali, porém, ainda não conheciam direito a família de Yago, um mistério que devia ser desvendado o mais rápido possível, já que ninguém ficava sem se conhecer entre os vizinhos. Pedro e Rosa não se preocuparam com as saídas de Yago no novo ambiente da moradia.

O trabalho de coveiro de Pedro e a vida de dona de casa, ainda uma empregada doméstica que era Rosa, funcionavam como uma fábrica que não pode parar nunca. Caso parasse a fábrica, o dinheiro ficaria difícil de juntar até para comprar brinquedos. Os dois haviam sido educados em escolas públicas até o quinto ano do ensino fundamental. Tinham se conhecido na adolescência. Optaram pelo abandono dos estudos por causa de uma nova vida a partir da gravidez que gerou Yago.

A comida não era muito boa e nem existiam vários brinquedos para Yago se divertir à beça. Sempre faltava dinheiro. Diversos períodos de solidão o acompanharam e tivera a chance de não ficar demais solitário agora. A nova moradia trouxera mais divertimentos.

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Os moradores e pais das crianças não se preocupavam com as brincadeiras da criançada pelos becos da vila. Pedro e Rosa até esqueceram que Yago existia como filho. Preocupavam-se demais em trabalhar para conseguir mais e mais dinheiro. Yago não estava nem um pouco triste com a falta de companhia dos pais, queria mais diversão. Inclusive comia na casa de diversos vizinhos porque conquistara a amizade de vários adultos. No entanto, a tristeza foi um problema que não ficou por muito tempo longe.

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PENSAMENTOS DE ADULTOS

A Vila da Santa Fé ficara bastante festeira com a aparição de Yago. O novo morador conquistara de vez mesmo o coração de muitos moradores. Yago armava muitas brincadeiras com os amiguinhos da área. Pique-e-esconde estava em primeiro lugar. Dois meses passaram após a mudança da casa do cemitério. Não levou muito tempo para uma notícia meio esquisita a um menino acostumado apenas a brincar e ouvir histórias fantasmagóricas. Pedro e Rosa achavam que estava na hora do filho viver como os adultos. A criança deveria aprender com os pais a ter responsabilidades, mesmo que houvesse o fim das novas amizades de Yago com aquela vizinhança.

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O MISTÉRIO

—Yago, meu filho, mamãe tem uma notícia pra você. A família estava reunida em casa, numa noite de domingo. Faltavam alguns meses para o aniversário de Yago. —O que foi, mamãe? Ficava muito feliz com a presença dos pais em casa. A maior parte do tempo Yago acabava entregue a outras famílias e perto de amigos, pois estar junto da própria família era uma rotina quase impossível. —Meu filho, sua mãe tem uma notícia boa pra você, pronunciava Pedro, muito sorridente, evitando não assustar Yago com a notícia que talvez desagradasse muito a criança. —Meu filho, eu e sua mãe arrumamos um lugar bom pra você ficar durante o tempo que a gente não fica em casa. Não compreendeu de início o que os pais queriam dizer. —Yago, seu pai e eu decidimos que já está na hora de você ir trabalhar. —Mãe, eu sou novinho pra trabalhar. —Você vai ser aprendiz de trabalho, meu filho. —Isso mesmo, Yago. Sua mãe arrumou um lugar maravilhoso pra você passar o dia. Lá você vai poder ganhar dinheiro. Não gostou nem um pouco da novidade que os pais trouxeram para dentro de casa. Aquilo não era novidade, mas sim uma história horrível dos adultos. Assim, estava meio confuso e de olhos esbugalhados, também com os ouvidos de pé para que não perdesse nenhuma informação preciosa. Os adultos escondiam alguma coisa importante.

O tempo andou um pouco. A reunião da família não durou muito. Ficara decidido que a criança começaria a trabalhar no início da próxima semana. Não haveria outro jeito. A criança trabalharia e pronto.

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Quis saber detalhes do trabalho que os pais arrumaram, mas nem sequer teve direito a respostas perfeitas. Pensou como os adultos são chatos quando querem assustar as crianças. Haviam produzido uma reunião familiar e com alimentos que despertavam o interesse de Yago. Bolo de chocolate e refrigerante trouxeram a paz necessária à notícia do trabalho. Depois apressaram o sono do menino. Achavam que estava tudo bem. Os planos dariam certo se conseguissem manter a criança sempre alegre para ser uma trabalhadora e esquecer de brinquedos. Retornaram à pequena sala. Aguardaram um certo tempo para que Yago dormisse e estivesse tudo mais tranquilo, longe da curiosidade de uma criança muito curiosa. Alguns minutos depois, Rosa constatou que não havia mais perigo para terminar as falas secretas daquela noite, especialmente para adultos, e nenhuma resposta honesta para uma criança esperta. —Pedro, eu acho que fomos maus demais com o Yago. —Não se preocupa, Rosa. Yago tem que aprender a ter responsabilidade desde pequeno. —Mas ele é muito novo pra trabalhar, Pedro. —Rosa, comecei a trabalhar com cinco anos de idade. Yago já está grandinho... —Eu sei disso, meu amor. Só que... e a vizinhança nossa? —Ninguém tem nada a ver com a nossa vida. Somos decentes e honestos. O que tem de ruim em uma criança trabalhar pra aprender a ter responsabilidade? E além de tudo... o serviço que o nosso filho vai fazer não é nadinha pesado. Yago sabe se virar... Ele é esperto. Eu acredito no meu filho. —Eu sei... mas temos que ter cuidado com a vizinhança. A gente não mora mais na casa do cemitério. A nossa vizinhança lá na casa do cemitério não falava tanto como a daqui fala. —A vida tá muito difícil de se viver. O salário que a gente ganha é pouquinho. Você já pensou no futuro desse garoto? —É, Pedro, espero que você saiba o que está fazendo pra depois não se

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arrepender. —Meu amor, eu sei o que é bom pro nosso filho. Coveiro de cemitério que nem eu e empregada doméstica... como você... é que o Yago nunca pode ser. —E você, Pedro, acha que o Yago vai ser o que quando crescer? —Empresário, meu amor. Yago vai aprender a rotina de trabalho e ganhar experiência... —Pedro, Yago não foi nem pra escola. Ele precisa ir pra escola em alguma hora qualquer. —A gente cuida disso mais tarde. Vamos dormir que tá na hora. A segunda-feira chegou e com a notícia que Yago tanto aguardava. O mistério dos pais sobre o trabalho ganharia um ponto final.

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Gostou dos primeiros capítulos? Nos próximos capítulos, a vida para Yago e seus pais fica meio difícil. Será que Yago terá a oportunidade de ir para a escola? Será que os pais vão obrigá-lo a trabalhar? Quantas crianças não têm a chance de estudar para ter um futuro promissor?

Não é tanto incomum em cidades grandes, como Rio de Janeiro e São Paulo, crianças trabalhando em sinais de trânsito. Segundo estatísticas oficiais, mais de 1 milhão de crianças e jovens (entre 7 e 14 anos) são obrigadas a trabalhar.

O trabalho infantil vem de longa data. No século 19, crianças faziam parte da mão-de-obra de indústrias britânicas, período marcado pela Revolução Industrial.