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7/17/2019 Menor Bom é Menor Preso http://slidepdf.com/reader/full/menor-bom-e-menor-preso 1/2 MENOR BOM É MENOR PRESO?  Nove em cada dez brasileiros são favoráveis à redução da maioridade penal, a despeito da oposição do governo federal, de juristas, da Igreja Católica e de organizações de direitos umanos!  No in"cio de abril, o universitário #ictor $ugo %eppman, de &' anos, foi abordado por um rapaz armado na porta de casa, em (ão )aulo! *esmo após entregar o celular, sem esboçar +ual+uer reação, acabou eecutado com um tiro na cabeça! - morte brutal logo ganou desta+ue na m"dia e reacendeu um debate +ue se arrasta á mais de duas d.cadas no /rasil, sempre de volta à baila +uando a classe m.dia se v0 v"tima de novo ato de barbárie1 a redução da maioridade penal! 2 assassino, soube3se mais tarde, era um adolescente infrator reincidente! 4le assumiu a autoria do crime, ocorrido tr0s dias antes de completar &5 anos! Como não avia atingido a idade para a responsabilização criminal, voltou a cumprir medida socioeducativa na 6undação Casa! -ntes dos 7& anos, deve estar solto, como determina o 4statuto da Criança e do -dolescente! %iante da repercussão na m"dia e em meio aos protestos convocados por amigos e familiares, o instituto %atafola saiu às ruas para aferir a opinião da população +uanto à possibilidade da redução da maioridade penal, prevista em mais de 89 projetos em tramitação no Congresso! 2 resultado1 ':; dos  paulistanos mostraram3se favoráveis à responsabilização criminal de jovens a partir dos &< anos, e não mais aos &5, como determina a atual legislação! - adesão maciça à ideia poderia ser influenciada pelo calor dos acontecimentos! *as, passados dois meses, o #o )opuli voltou às ruas com a mesma pergunta, dessa vez em uma pes+uisa de abrang0ncia nacional! - conclusão foi estarrecedora1 5'; dos entrevistados acam necessário encarcerar os adolescentes infratores! =m consenso popular +ue desafia as pol"ticas p>blicas em voga na sociedade! 2 resultado das  pes+uisas contraria a posição defendida pelos governos ?ula e %ilma, a opinião de juristas +ue energam na  proposta um @populismo penalA, o entendimento da Igreja Católica e de incontáveis organizações de defesa dos direitos da criança e do adolescente, a vislumbrar na redução da maioridade penal mais malef"cios +ue  benef"cios! Curiosamente, nenum outro tema pol0mico da agenda nacional mobiliza tamana concordBncia da população! (egundo diferentes pes+uisas, proposições como pena de morte e casamento ga, por eemplo, costumam dividir a população ao meio! -o menos um +uarto defende a legalização da macona ou a descriminalização do usuário de drogas! 2 +ue eplicaria, então, o aparente paradoo lógicoD )or +ue boa  parte da população +ue se mostra liberal em temas igualmente pol0micos . tão taativa +uando se trata de  prender adolescentes como bandidos comunsD @Não se pode dizer +ue todos os +ue apoiam a redução da maioridade penal são conservadores ou reacionários! %entro de um universo tão amplo, á seguramente cidadãos com posições progressistas em relação a direitos civis e individuais, mas +ue se sentem acuados pela viol0ncia e seduzidos por soluções mágicasA, avalia o cientista pol"tico *arcos Coimbra, diretor do #o )opuli! @No mundo todo, á uma  predisposição da opinião p>blica a acreditar +ue a viol0ncia só vai reduzir com mais repressão, mais prisões e penas mais duras! 4 não á uma defesa enfática do argumento contrário! Com a espetacularização dos crimes cometidos por menores na televisão, +uem se dispõe a dizer abertamente +ue a prisão para os adolescentes não . justaDA 4specialistas, 2NEs de direitos umanos e organismos internacionais bem +ue tentam demonstrar as falácias da proposta! @2s adolescentes são mais v"timas +ue autores de viol0ncia! 4m 79&&, eles foram responsáveis por, aproimadamente, &,5 mil omic"dios, 5,F; do total! No mesmo ano, F,: mil jovens entre &7 e &5 anos incompletos foram assassinados! *as +uando um garoto negro . morto na periferia poucos dão atenção! - m"dia costuma dar desta+ue apenas +uando cidadãos de classe m.dia ou alta são as v"timasA, critica *ário #olpi, coordenador do programa de Cidadania dos -dolescentes do =nicef, ligado às Nações =nidas! @4m 79&&, os omic"dios cometidos por menores representaram :,G; do total de casos no /rasil!  Nos 4=-, onde diversos estados tratam adolescentes como adultos, inclusive na eventual aplicação de pena de morte ou prisão perp.tua, eles foram responsáveis por &&; dos assassinatos!A  Na avaliação do advogado Hafael Custódio, da 2NE Conectas, o +ue está em jogo . a pol"tica penal +ue o /rasil pretende adotar! (e o foco . punitivo, o )a"s tende a seguir o eemplo americano de encarceramento em massa! rata3se de uma abordagem distinta do direito restitutivo, +ue preconiza a

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MENOR BOM É MENOR PRESO?

 Nove em cada dez brasileiros são favoráveis àredução da maioridade penal, a despeito da oposição

do governo federal, de juristas, da Igreja Católica ede organizações de direitos umanos!

 No in"cio de abril, o universitário #ictor $ugo %eppman, de &' anos, foi abordado por um rapazarmado na porta de casa, em (ão )aulo! *esmo após entregar o celular, sem esboçar +ual+uer reação, acaboueecutado com um tiro na cabeça! - morte brutal logo ganou desta+ue na m"dia e reacendeu um debate +uese arrasta á mais de duas d.cadas no /rasil, sempre de volta à baila +uando a classe m.dia se v0 v"tima denovo ato de barbárie1 a redução da maioridade penal! 2 assassino, soube3se mais tarde, era um adolescenteinfrator reincidente! 4le assumiu a autoria do crime, ocorrido tr0s dias antes de completar &5 anos! Como nãoavia atingido a idade para a responsabilização criminal, voltou a cumprir medida socioeducativa na

6undação Casa! -ntes dos 7& anos, deve estar solto, como determina o 4statuto da Criança e do -dolescente!%iante da repercussão na m"dia e em meio aos protestos convocados por amigos e familiares, oinstituto %atafola saiu às ruas para aferir a opinião da população +uanto à possibilidade da redução damaioridade penal, prevista em mais de 89 projetos em tramitação no Congresso! 2 resultado1 ':; dos paulistanos mostraram3se favoráveis à responsabilização criminal de jovens a partir dos &< anos, e não maisaos &5, como determina a atual legislação! - adesão maciça à ideia poderia ser influenciada pelo calor dosacontecimentos! *as, passados dois meses, o #o )opuli voltou às ruas com a mesma pergunta, dessa vezem uma pes+uisa de abrang0ncia nacional! - conclusão foi estarrecedora1 5'; dos entrevistados acamnecessário encarcerar os adolescentes infratores!

=m consenso popular +ue desafia as pol"ticas p>blicas em voga na sociedade! 2 resultado das pes+uisas contraria a posição defendida pelos governos ?ula e %ilma, a opinião de juristas +ue energam na proposta um @populismo penalA, o entendimento da Igreja Católica e de incontáveis organizações de defesa

dos direitos da criança e do adolescente, a vislumbrar na redução da maioridade penal mais malef"cios +ue benef"cios! Curiosamente, nenum outro tema pol0mico da agenda nacional mobiliza tamana concordBnciada população! (egundo diferentes pes+uisas, proposições como pena de morte e casamento ga, por eemplo, costumam dividir a população ao meio! -o menos um +uarto defende a legalização da macona oua descriminalização do usuário de drogas! 2 +ue eplicaria, então, o aparente paradoo lógicoD )or +ue boa parte da população +ue se mostra liberal em temas igualmente pol0micos . tão taativa +uando se trata de prender adolescentes como bandidos comunsD

@Não se pode dizer +ue todos os +ue apoiam a redução da maioridade penal são conservadores oureacionários! %entro de um universo tão amplo, á seguramente cidadãos com posições progressistas emrelação a direitos civis e individuais, mas +ue se sentem acuados pela viol0ncia e seduzidos por soluçõesmágicasA, avalia o cientista pol"tico *arcos Coimbra, diretor do #o )opuli! @No mundo todo, á uma predisposição da opinião p>blica a acreditar +ue a viol0ncia só vai reduzir com mais repressão, mais prisõese penas mais duras! 4 não á uma defesa enfática do argumento contrário! Com a espetacularização doscrimes cometidos por menores na televisão, +uem se dispõe a dizer abertamente +ue a prisão para osadolescentes não . justaDA

4specialistas, 2NEs de direitos umanos e organismos internacionais bem +ue tentam demonstrar asfalácias da proposta! @2s adolescentes são mais v"timas +ue autores de viol0ncia! 4m 79&&, eles foramresponsáveis por, aproimadamente, &,5 mil omic"dios, 5,F; do total! No mesmo ano, F,: mil jovens entre&7 e &5 anos incompletos foram assassinados! *as +uando um garoto negro . morto na periferia poucos dãoatenção! - m"dia costuma dar desta+ue apenas +uando cidadãos de classe m.dia ou alta são as v"timasA,critica *ário #olpi, coordenador do programa de Cidadania dos -dolescentes do =nicef, ligado às Nações=nidas! @4m 79&&, os omic"dios cometidos por menores representaram :,G; do total de casos no /rasil! Nos 4=-, onde diversos estados tratam adolescentes como adultos, inclusive na eventual aplicação de pena

de morte ou prisão perp.tua, eles foram responsáveis por &&; dos assassinatos!A Na avaliação do advogado Hafael Custódio, da 2NE Conectas, o +ue está em jogo . a pol"tica penal+ue o /rasil pretende adotar! (e o foco . punitivo, o )a"s tende a seguir o eemplo americano deencarceramento em massa! rata3se de uma abordagem distinta do direito restitutivo, +ue preconiza a

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recuperação dos infratores para a futura reinserção social! @J imposs"vel de isso ser feito num pres"diocomum, ainda mais com a atual superlotação! $oje, a população carcerária brasileira . superior a 889 mildetentos, e á um d.ficit de 799 mil vagas! 2 4stado não garante a segurança dos presos, eles são alvo deetorsões do crime organizado! )ara sobreviver nesse ambiente ostil, muitos se associam a facçõescriminosas!A

%e fato, não parece fazer sentido jogar os <9 mil jovens +ue cumprem medidas socioeducativas em pres"dios convencionais se o objetivo . tirá3los do crime! -inda +ue F:,:; deles sejam infratores

reincidentes, no encarceramento adulto a m.dia . ainda pior! (ete em cada dez presos +ue deiam o sistema penitenciário voltam ao crime, uma das maiores taas de reincid0ncia do mundo! *as não deia de ser leg"tima a preocupação da população com sua própria segurança, afirma Henato Kanine Hibeiro, professor deJtica e 6ilosofia da =niversidade de (ão )aulo! @(e a redução da maioridade penal não . boa, +ual . amelor opçãoD %eiar tudo como estáD 4stamos perdendo tempo com esse sim ou não para a mesma proposta, e os camados Lsetores progressistasM não apresentam alternativas!A

2 filósofo teme +ue a solução simplista de reduzir a idade penal apenas sirva para antecipar a práticadelituosa entre os adolescentes! Caso a maioridade passe a valer a partir dos &< anos, por eemplo, o +uegarantiria +ue o tráfico não passasse a aliciar jovens de &: ou &F anos, por eemploD %e toda forma, propõeuma alternativa1 @uando um adulto alicia um menor para praticar um roubo e o adolescente mata uma pessoa, o adulto deveria ser responsabilizado pelo omic"dio! 2 mesmo deveria valer para +ual+uer outrocrimeA!

- busca por opções tamb.m levou o vereador paulistano -ri 6riedenbac O))(P a propor outrainovação! 4m 799:, ele sofreu com o brutal assassinato de sua fila ?iana, de &< anos, caso em +ue ouve a participação de um adolescente! %efensor ardoroso da redução da maioridade penal, mudou de opinião! @Jineficaz, pois estimula os criminosos a recrutar adolescentes ainda mais novosA, pondera! @*as não possoconceber +ue um estuprador ou um omicida de &< anos cumpra no máimo tr0s anos de internação! )or isso, aco +ue para cinco crimes de maior potencial ofensivo Oomic"dio, latroc"nio, estupro, roubo à mãoarmada e se+uestroP o adolescente deve, sim, ser julgado e condenado! )ermanece numa instituição como a6undação Casa at. completar &5 anos e depois termina de cumprir a sentença num pres"dio comum!A

- proposta livraria da cadeia adolescentes envolvidos com pe+uenos furtos ou com tráfico de drogas, por eemplo! 4stes continuariam a cumprir medidas socioeducativas nos moldes atuais! *as o teto proposto pelo vereador ainda espera algu.m disposto a apresentá3lo no Congresso! 4 os mais conservadores insistem

na punição ampla e irrestrita! @Criança . +uem toma mamadeira, faz ii no colo da mãe e dorme no berço!uem rouba, mata e estupra . bandido e pontoA, esbraveja o senador *agno *alta, autor de um projeto +ue prev0 a responsabilização criminal de +ual+uer cidadão, independentemente da idade! %a -ssembleia?egislativa de (ão )aulo, o deputado estadual Campos *acado pua um abaio3assinado para tentar emplacar um plebiscito sobre o tema! @J uma forma de furar a blindagem do governo federal, +ue impede adiscussão do tema no Congresso! #amos deiar o povo decidir!A

(e a disputa pol"tica assemela3se a uma briga de foice, no meio jur"dico o cenário não . tão distinto!*inistros do (upremo ribunal 6ederal, como Eilmar *endes e *arco -ur.lio *ello, já se manifestaramcontra a alteração das regras! *esma opinião tem o presidente da -ssociação dos *agistrados /rasileirosO-*/P, Nelson Calandra! @2 sistema carcerário está superlotado, não . poss"vel botar mais gente!A *as uma pes+uisa feita pela entidade em 799<, com mais de : mil entrevistados, revelou +ue <&; dos ju"zes brasileiros são favoráveis à proposta! 4ntre os promotores, a diverg0ncia tamb.m . grande! @Kogá3los na

cadeia não resolverá nada, precisamos recuperar esses jovensA, opina o promotor paulista 6ernando $enri+uede *oraes -ra>jo, com &F anos de eperi0ncia na #ara de InfBncia e Kuventude! @J cocante a legislação permitir a impunidade dos adolescentes en+uanto a viol0ncia está grassando na sociedadeA, rebate o colega2sQaldo *onteiro da (ilva Netto!

4 um e+u"voco dizer +ue os menores infratores estão impunes! (e o cumprimento das medidassocioeducativas não está surtindo o efeito esperado, devemos reavaliar o trabalo feito com os jovens, e não jogá3los numa celaA, avalia a defensora p>blica paulistana Kuliana Hibeiro! @-s instituições +ue abrigam osinfratores não funcionam ade+uadamente! 2s monitores portam3se como carcereiros! - escola re>ne em umamesma sala adolescentes de diferentes n"veis de aprendizado! 2s psicólogos e assistentes sociais estãosempre sobrecarregados! 4 são corri+ueiras as den>ncias de agressão contra os internos! Cansei de ver garotos com sinais de espancamento, cabeça racada!!! J esse tratamento +ue precisa ser revisto, e não alegislação!A

Hodrigo *artins, publicado na Carta Capital 2nline 7GR&7R79&:!