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Mensagem Quaresma 2015

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Papa Francisco

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  • QUINTA-FEIRA 05 DE FEVEREIRO DE 2015

    Dirio do MinhoEste suplemento faz parte da edio n. 30576 de 05 de Fevereiro de 2015, do jornal Dirio do Minho, no podendo ser vendido separadamente.

    para a quaresma p. 4-5

    do papa francisco

    MeNsagem

  • 4 MENSAGEM PARA A QUARESMA IGREJA VIVA

    jamais, com as nossas simples foras, alcanar: rezamos com eles e por eles a Deus, para que todos nos abramos sua obra de salvao.

    2. Onde est o teu irmo? (Gn 4, 9): As parquias e as comunidades

    Tudo o que se disse a propsito da Igreja universal necessrio agora traduzi-lo na vida das parquias e comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um nico corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frgeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se l longe no mundo, mas que esquece o Lzaro sentado sua porta fechada (cf. Lc 16, 19-31)?

    3DUDUHFHEHUHID]HUIUXWLFDUplenamente aquilo que Deus nos d, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visvel em duas direces.

    Em primeiro lugar, unindo-nos Igreja do Cu na orao. Quando a Igreja terrena reza, instaura-se reciprocamente uma comunho de servios e bens que chega at presena de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em Deus, fazemos parte daquela comunho onde a indiferena vencida pelo amor. A Igreja do Cu no triunfante, porque deixou para trs as tribulaes do mundo e usufrui sozinha do gozo eterno; antes pelo contrrio, pois aos Santos concedido j contemplar e rejubilar com o facto de terem vencido

    Amados irmos e irms,

    Tempo de renovao para a Igreja, para as comunidades e para cada um GRVpLVD4XDUHVPDpVREUHWXGRXPtempo favorvel de graa (cf. 2 Cor 6, 2). Deus nada nos pede, que antes no no-lo tenha dado: Ns amamos, porque Ele nos amou primeiro (1 Jo 4, 19). Ele no nos olha com indiferena; pelo contrrio, tem a peito cada um de ns, conhece-nos pelo nome, cuida de ns e vai nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de ns; o seu amor impede-Lhe GHFDULQGLIHUHQWHSHUDQWHDTXLORTXHnos acontece. Coisa diversa se passa connosco! Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), no nos interessam os seus problemas, nem as tribulaes e injustias que sofrem; e, assim, o nosso corao cai na indiferena: encontrando-me relativamente bem e confortvel, esqueo-me dos que no esto bem! Hoje, esta atitude egosta de indiferena atingiu uma dimenso mundial tal que podemos falar de uma globalizao da indiferena. Trata-se de um mal-estar que temos obrigao, como cristos, de enfrentar.

    Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questes que a histria continuamente nos coloca. E um dos GHVDRVPDLVXUJHQWHVVREUHRTXDOme quero deter nesta Mensagem, o da globalizao da indiferena.

    Dado que a indiferena para com o prximo e para com Deus uma tentao real tambm para ns, cristos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar.

    A Deus no Lhe indiferente o mundo, mas ama-o at ao ponto de entregar o seu Filho pela salvao de todo o homem. Na encarnao, na vida terrena, na morte e ressurreio do Filho de Deus, DEUHVHGHQLWLYDPHQWHDSRUWDentre Deus e o homem, entre o Cu e a terra. E a Igreja como a mo que mantm aberta esta porta, por meio da proclamao da Palavra, da celebrao dos Sacramentos, do WHVWHPXQKRGDIpTXHVHWRUQDHFD]pelo amor (cf. Gl 5, 6). O mundo, porm, tende a fechar-se em si mesmo e a fechar a referida porta atravs da qual Deus entra no mundo e o mundo nEle. Sendo assim, a mo, que a Igreja, no deve jamais surpreender-se, se se vir rejeitada, esmagada e ferida.

    Por isso, o povo de Deus tem necessidade de renovao, para no cair na indiferena nem se fechar em si mesmo. Tendo em vista esta renovao, gostaria de vos propor trs textos para a vossa meditao.

    1. Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros (1 Cor 12, 26): A Igreja.

    Com o seu ensinamento e sobretudo com o seu testemunho, a Igreja oferece-nos o amor de Deus, que rompe esta recluso mortal em ns mesmos que a indiferena. Mas, s se pode testemunhar algo que antes experimentmos. O cristo aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericrdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens. Bem no-lo recorda a liturgia de Quinta-feira Santa com o rito do lava-ps. Pedro no queria que Jesus lhe lavasse os ps, mas depois compreendeu que Jesus no pretendia apenas H[HPSOLFDUFRPRGHYHPRVODYDURVps uns aos outros; este servio, s o pode fazer quem, primeiro, se deixou lavar os ps por Cristo. S essa pessoa tem a haver com Ele (cf. Jo 13, 8), podendo assim servir o homem.

    A Quaresma um tempo propcio para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como (OH9HULFDVHLVWRTXDQGRRXYLPRVa Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo, no encontra lugar a tal indiferena que, com tanta frequncia, parece apoderar-se dos nossos coraes; porque, quem de Cristo, pertence a um nico corpo e, nEle, um no olha com indiferena o outro. Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro honrado, todos os membros participam da sua alegria (1 Cor 12, 26).

    A Igreja communio sanctorum, no s porque, nela, tomam parte os Santos mas tambm porque comunho de coisas santas: o amor de Deus, que nos foi revelado em Cristo, e todos os seus dons; e, entre estes, h que incluir tambm a resposta de quantos se deixam alcanar por tal amor. Nesta comunho dos Santos e nesta participao nas coisas santas, aquilo que cada um possui, no o reserva s para si, mas tudo para todos. E, dado que estamos interligados em Deus, podemos fazer algo mesmo pelos que esto longe, por aqueles que no poderamos

    Mensagem para a quaresma do papa francisco

    fortalecei os vossos

    GHQLWLYDPHQWHDLQGLIHUHQoDDdureza de corao e o dio, graas morte e ressurreio de Jesus. E, enquanto esta vitria do amor no impregnar todo o mundo, os Santos caminham connosco, que ainda somos peregrinos. Convicta de que a alegria no Cu pela vitria do amor FUXFLFDGRQmRpSOHQDHQTXDQWRhouver, na terra, um s homem que sofra e gema, escrevia Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja: Muito HVSHURQmRFDULQDFWLYDQR&pXRmeu desejo continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas (Carta 254, de 14 de Julho de 1897).

    Tambm ns participamos dos mritos e da alegria dos Santos e eles tomam parte na nossa luta e no nosso desejo de paz e reconciliao. Para ns, a sua alegria pela vitria de Cristo ressuscitado origem de fora para superar tantas formas de indiferena e dureza de corao.

    Em segundo lugar, cada comunidade crist chamada a atravessar o limiar que a pe em relao com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrdulos. A Igreja , por sua natureza,

  • 5MENSAGEM PARA A QUARESMAIGREJA VIVADirio do Minho QUINTA-FEIRA, 05 de FEVEREIRO de 2015

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    mas concreto da nossa participao na humanidade que temos em comum.

    E, em terceiro lugar, o sofrimento do prximo constitui um apelo converso, porque a necessidade do irmo recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependncia de Deus e dos irmos. Se humildemente pedirmos a graa de Deus e aceitarmos os limites das nossas SRVVLELOLGDGHVHQWmRFRQDUHPRVQDVSRVVLELOLGDGHVLQQLWDVTXHWHPGHreserva o amor de Deus. E poderemos resistir tentao diablica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos.

    Para superar a indiferena e as nossas pretenses de omnipotncia, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formao do corao, a que nos convidava Bento XVI (Carta enc. Deus caritas est, 31). Ter um FRUDomRPLVHULFRUGLRVRQmRVLJQLFDter um corao dbil. Quem quer ser misericordioso precisa de um corao IRUWHUPHIHFKDGRDRWHQWDGRUPDVaberto a Deus; um corao que se deixe impregnar pelo Esprito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmos e irms; no fundo, um corao pobre, isto , que conhece as suas limitaes e se gasta pelo outro.

    Por isso, amados irmos e irms, nesta Quaresma desejo rezar convosco a Cristo: Fac cor nostrum secundum cor tuum Fazei o nosso corao semelhante ao vosso (Splica das Ladainhas ao Sagrado Corao de Jesus). Teremos assim um corao forte e misericordioso, vigilante e generoso, que no se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalizao da indiferena.

    Com estes votos, asseguro a minha orao por cada crente e cada comunidade eclesial para que percorram, frutuosamente, o itinerrio quaresmal, enquanto, por minha vez, vos peo que rezeis por mim. Que o Senhor vos abenoe e Nossa Senhora vos guarde!

    Vaticano, Festa de So Francisco de Assis, 4 de Outubro de 2014.

    Mensagem para a quaresma do papa francisco

    missionria, no fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens.

    Esta misso o paciente testemunho dAquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A misso aquilo que o amor no pode calar. A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que a conduz a cada homem, DWpDRVFRQQVGDWHUUDFI$FW8). Assim podemos ver, no nosso prximo, o irmo e a irm pelos quais Cristo morreu e ressuscitou. Tudo aquilo que recebemos, recebemo-lo tambm para eles. E, vice-versa, tudo o que estes irmos possuem um dom para a Igreja e para a humanidade inteira.

    Amados irmos e irms, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas parquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericrdia no meio do mar da indiferena!

    3. Fortalecei os vossos coraes 7J&DGDXPGRVpLVTambm como indivduos temos a tentao da indiferena. Estamos saturados de notcias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para no nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotncia?

    Em primeiro lugar, podemos rezar na comunho da Igreja terrena e celeste. No subestimemos a fora da orao de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja mesmo a nvel diocesano nos dias 13 e 14 de Maro, pretende dar expresso a esta necessidade da orao.

    Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive prximo de ns como a quem est longe, graas aos inmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma um tempo propcio para mostrar este interesse pelo outro, atravs de um sinal mesmo pequeno,