Mercantilismo-Viner

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    Pensamento Econmico: Pensamento mercantilistaJacob Viner

    "Mercantilismo" o nome normalmente dado, hoje, s doutrinas e prticas dos Estados-naes, entre o sc. XV e XVIII, relativas natureza e regulao apropriada das relaes

    econmicas internacionais. Esta doutrina d nfase importncia de manter um excesso deexportao de bens e servios sobre as importaes como a nica forma de um pas semminas de ouro ou de prata obter um fluxo contnuo de metais preciosos, consideradosessenciais para a riqueza e fora nacionais. No sc. XVIII, Mirabeau e Smith aplicaram a estadoutrina os termos "sistema mercantil" e "sistema comercial" para enfatizar o contraste com adoutrina dos fisiocratas, que minimizavam a importncia do comrcio exterior, enfatizando aimportncia da produo agrcola. Na dcada de 1860, escritores germnicos introduziram otermo Merkantilismus; e termos correspondentes, como "mercantilismo" em ingls,gradualmente tornaram-se padro em todas as linguagens do mundo ocidental. O uso do termo, algumas vezes, objetado, por frequentemente ser visto como pejorativo ou porque, emborato usado, inadequado para representar os vrios contedos do pensamento econmicodaqueles sculos. Objees similares podem, claro, ser feitas contra a maioria dos termosterminados em "ism", mas no parece ser possvel ficar sem eles enquanto parece ser possvelus-los de forma disciplinada, com limitaes. Neste artigo feito um esforo para limitar aaplicao do termo no que se trata dos aspectos especiais e dominantes dos pensamentos edas prticas relacionadas s relaes econmicas internacionais entre o sc. XV e o sc. XVIII.

    A doutrinaA essncia da doutrina pode ser resumida em 5 proposies ou atitudes:

    1) as polticas devem ser enquadradas e executadas em termos deinteresse nacional;

    2) no relativo a qualquer elemento relevante da poltica nacional ou docomrcio internacional preciso dar peso ao estoque nacional de metaispreciosos ;

    3) na falta de minas domsticas de ouro ou prata, o principal objetivonacional deve ser obter maior excesso possvel de exportaes sobreimportaes, sendo este o nico meio de aumentar os estoques nacionais;

    4) uma balana comercial favorvel deve ser buscada atravs dapromoo direta, pelas autoridades, das exportaes e da restrio dasimportaes ou por outras medidas que operem no mesmo sentido;

    5) as polticas econmicas externas e a poltica externa devem serconduzidas com constante ateno a questo da abundncia e do "poder"(incluindo, aqui, a questo de segurana), como meios coordenados que dosuporte aos objetivos nacionais, alm de um ser meio de realizao do outro.

    Este o core da doutrina mercantilista, a partir do qual houve pouca dissidncia deescritores antes de 1750, mas que deixou espao para um amplo debate entre aqueles que aseguiram. Poderia haver grandes diferenas na fundamentao da adeso s proposies aquilistadas, assim como grandes diferenas de opinio quanto escolha dos meios pelos quais osobjetivos poderiam ser melhor alcanados.

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    O mercantilismo foi, essencialmente, uma doutrina popular que evoluiu luz dascircunstncias histricas e dos valores atravs de inferncias feitas a partir da aparncia dosfatos. Era a doutrina dos homens prticos, no dados a anlises sutis, alis, anlises que eram,de fato, pouco disponveis. Os filsofos pr-1750, os telogos e os universitrios nodesafiaram e nem deram importantes contribuies doutrina. No era uma rea de real

    interesse deles.

    Diferenas na doutrinaA principal divergncia dentre os mercantilistas sobre porqu a acumulao indefinida

    deve ser o principal objetivo nacional. Os termos "wealth", "treasure" e "riches" foram usadoscom considervel ambiguidade, algumas vezes num sentido de cobrir estoques de bensvaliosos de qualquer tipo - desde que comandassem preos -, mas mais frequentemente nosentido restrito de metais preciosos. Esse uso restrito era ocasionalmente estendido scommodities (outras que no metais preciosos) de grande durabilidade e grande valor unitrio,como pedras preciosas, estanho e cobre. A nfase no enriquecimento nunca se deu em termosde nvel de consumo, e quando estava em termos de nvel de produo ou de output,normalmente fazia referncia contribuio que a produo poderia dar, direta ouindiretamente, para a aquisio e reteno de riqueza. A nfase era na acumulao, e haviauma suposio generalizada entre os escritores mercantilistas do perodo de que a acumulaoa longo prazo poderia ser alcanada somente ou predominantemente via a acumulao [pilingup] de estoques de commodities de alto valor agregado, especialmente de metais preciosos.Muitas vezes a nica ligao com o consumo como objetivo econmico era o reconhecimentode sua conversibilidade em bens de consumo essenciais, e desta conversibilidade como ummotivo pelo qual deveria ser limitado o nmero de bens duradouros considerados comoconstitutivos da "abundncia nacional" ou de riqueza.

    A nfase na funo "reserva-de-riqueza" dos metais preciosos competiu, no entanto,

    com a nfase de outros escritores mercantilistas na funo de "circulao" dos metaispreciosos em sua faceta dinheiro, nfase que levou a uma hostilidade quanto ao uso de metaispreciosos como placas e jias. Estes escritores acreditavam que a produo e o empregovariava em volume fsico em estreita proporo s variaes da quantidade de dinheiro emcirculao. Assim, eles negligenciaram ou negaram que a principal consequncia de umaumento da quantidade de dinheiro em circulao seria um aumento generalizado de preos;talvez eles estivessem tomando como garantido que normalmente existem grandesquantidades de mo de obra e de recursos naturais desempregados. Ao menos para os ltimosmercantilistas a nfase tendeu a mudar da funo dos metais preciosos como reserva-de-riqueza para a funo da circulao. Mas quando o papel-dinheiro foi introduzido, ficou maisdifcil reconciliar a nfase na circulao com a contnua preocupao acerca da importnciados metais preciosos e da manuteno de balanas comerciais favorveis como meio deadquiri-los.

    Um mtodo usado foi negar as vantagens do papel moeda, outro, enfatizar aslimitaes do papel-moeda visando prevenir que ele agisse como um estmulo exportao eum impedimento importao de metais preciosos. Mas enquanto a nfase manteve-se nafuno de circulao dos metais preciosos, a falta de respostas bvias questo acerca doporqu o papel moeda no poderia desempenhar esta funo bem - e de forma mais barata -

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    tendeu a levar a nfase para a funo de estoque de riquezas dos metais preciosos e - quantoaos aspectos monetrios e de balana comercial favorvel - para uma relativa prostrao dasideias protecionistas, para argumentos no-mercantilistas e para uma nova receptividade sideias do livre-comrcio.

    Um motivo adicional e amplamente divulgado para a nfase numa desejvel e indefinida

    acumulao nacional de metais preciosos se baseava na observao de que a taxa de juros edisponibilidade do crdito variava de acordo com a quantidade de dinheiro em circulao, aprimeira em proporo inversa e a segunda, em proporo direta. Argumentava-se que o baixopreo e a abundncia de crditos promovia as empresas, o emprego e a produo eaumentaria a capacidade de competir no comrcio exterior, diminuindo os juros dos custos daproduo de bens domsticos. Antes de 1750, ningum havia apontado explicitamente que umdeterminado aumento do estoque nacional de dinheiro, por causar um aumento no nvel depreos, poderia tanto deixar a taxa de juros inalterada ou faz-la subir ao invs de cair,deixando inalterada tambm a verdadeira disponibilidade de crdito, quanto modificar os reaisvalores quanto ao valor monetrio. Com o advento do papel-moeda j no era necessrio teruma entrada lquida de metais preciosos para aumentar o estoque nacional de dinheiro.

    Escritores que viram um influxo de metais preciosos como um aumento na taxa deemprego dos recursos produtivos presumivelmente perceberam que isso resultaria em umaumento no consumo por parte dos proprietrios de tais recursos. Tambm foi difundida umaaceitao - de modo algum universal - de que um aumento populacional e de nmero depotenciais trabalhadores iria envolver um aumento no consumo. Mas a nfase na produo foibem mais voltada a contribuio que ela poderia dar a balana de negcios, e ao apoio que elapoderia dar ao aumento populacional, ao seu papel no alvio dos males morais do desempregoinvoluntrio, da vadiagem e da misria do que em uma aceitao do princpio de um desejvelmaior nvel de consumo per capita para o pblico em geral. Por exemplo, gastos de "luxo" porparte das classes trabalhadoras eram quase universalmente depreciados, e mesmo para os

    ricos eram muito mais desaprovados do que aprovados, excetuando-se quando se acreditavaserem estes gastos meios necessrios para o emprego de recursos ociosos ou para amanuteno do status e da dignidade adequada s classes superiores. Aumentos na produoforam procurados principalmente pela contribuio que poderiam dar para a acumulao deriqueza na forma de bens durveis e de commodities valiosas, se considerarmos aquilo que osescritores do perodo diziam expressamente.

    ImplementaoNos estgios iniciais do mercantilismo era comum a prtica de buscar objetivos gerais

    via regulao direta e particular dos detalhes de transaes comerciais individuais queenvolviam comrcio com estrangeiros. Assim, na Inglaterra, houve um tempo de regulao,pelo Royal Exchanger e outras agncias oficiais de transaes nos mercados de commodities,das transaes comerciais estrangeiras, visando ter certeza de que cada transao individualiria, tanto quanto possvel, fazer uma contribuio para o estoque nacional de metais preciosos.Comentaristas posteriores rotularam tais prticas como "bulionismo" ou "sistema de equilbriodos negcios (individuais)". Acreditava-se que a ateno deveria ser dada no s para o saldototal do comrcio, mas tambm para os saldos separados, relativos ao comrcio comdeterminados pases ou de determinados setores comerciais. Houve, por exemplo,

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    consideravel suspeita de que o o comrcio com as Indias Orientais era, para a Europa, umcomrcio "perdedor", isso , envolvia um dreno de metais preciosos da Europa para o Oriente.Thomas Mun formulou pela primeira vez uma defesa convincente de que o comrcio inglscom as Indias Orientais, levava, sim, em um primeiro momento, a uma fuga lquida de metaispreciosos da Inglaterra. Mas que esta fuga, ele defendia, no era o fim, pois atravs de

    reexportao - com preos maiores - das commodities trazidas da India, a Inglaterra mais doque recuperou os metais preciosos enviados India. A literatura mercantilista, entretanto,seguiu por muito tempo apoiando a discriminar as regulaes de acordo com o estado normaldos saldos comerciais entre os pases em questo ou como um incidente na barganha dastarifas ou como um instrumento de poder poltico.

    Os mercantilistas priorizaram a exportao de bens com alto grau de trabalho contido.Assim, a exportao de manufaturas foi favorecida sobre a exportao de produtos agrcolasprontas para o consumo; as exportaes de matrias primas como l crua ou minerais foiconsiderada prejudicial ou um desperdcio. A exportao de mquinas e ferramentas e aemigrao de trabalhadores qualificados era considerada especialmente prejudicial. Subjacentea estas posies estavam as crenas de que o trabalho era to abundante que era possveltrat-lo quase como um bem nacional livre, que a restrio de exportaes de matrias-primasou de mquinas no iria diminuir substantivamente sua taxa domstica de produo - resultariana sua reteno interna para processamento ou uso. Tais restries, assim, trabalhariam parafazer a balana comercial favorvel e para aumentar o emprego domstico.

    A posio mercantilista comum foi a de que a importao de bens e servios era, aprincpio, desejvel somente se:

    a) eles fossem essenciais e no pudessem ser produzidos, a qualquer custo, emcasa; ou

    b) fossem matrias-primas que no pudessem ser produzidas em casa nasquantidades necessrias sem retirar recursos escassos da produo para uso

    domstico ou para a exportao de bens com maior trabalho contido; ouc) que precisassem ser importados com um quid pro quo para outros pases,

    permitindo que estes importassem do pas em questo.O ideal mercantilista implcito era zero importao e exportao somente em troca de

    metais preciosos. Na Frana, Colbert e outros deram essa formulao ideal como resposta aobjees levantadas por franceses de que a severidade das restries de importaesfrancesas resultaria na proibio, pelos outros pases, da entrada de produtos franceses.Colbert afirmou que s a Frana tinha a potencialidade de produzir, em casa, toda a gama deprodutos necessrios para o pas, ao passo de que nenhum de seus vizinhos poderia dispensaras mercadorias da Frana.

    Uma variante da doutrina mercantilista, exposta principalmente - mas noexclusivamente - por escritores ingleses, substitui uma balana comercial favorvel em termosde valores monetrios por uma "balana do trabalho", em termos de trabalho contido relativonas exportaes e nas importaes - um excesso de trabalho agregado contido nasexportaes sobre as importaes era tratado como "favorvel". Isto foi tratado por algunscomentaristas modernos como um "refinamento" ou melhoria da doutrina da balana favorvel.Seria, no entanto, facilmente possvel para um certo comrcio que uma situao desfavorvelde acordo ao critrio de balana comercial fosse altamente favorvel de acordo com o critrio

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    de balana de trabalho, e vice-versa. Sob a balana de trabalho, alm disso, quanto menosunidades de commodities importadas eram obtidas, em mdia, por unidade de commoditieexportada - permanecendo as demais coisas iguais - o mais "favorvel" seria uma balana detrabalho.

    Objetivos polticosO mercantilismo teve tanto objetivos polticos como objetivos estritamente econmicos. Osobjetivos mnimos eram um equilbrio de comrcio e de poder. Mas, como era possvel umgrande excesso de exportaes sobre importaes, as grandes potncias procuraram mais doque um equilbrio de poder. Elas procuraram a superioridade de poder para "dar a lei" a outrospases, para permitir a conquista de um territrio adjacente ou de colnias ultramarinas, oupara derrotar seus inimigos nas guerras. A doutrina geral era de que a fora era necessriacomo um meio de proteger e de aumentar a riqueza, e esta era um recurso estratgico,necessrio para produzir fora e para apoiar seu exerccio. Com riqueza, era possvel financiare equipar exrcitos e marinhas, contratar mercenrios, subornar potncias inimigas e subsidiaraliados. O poder podia ser exercido para adquirir colnias, para conquistar o acesso a novosmercados e para fechar seus prprios mercados aos estrangeiros e para monopolizar as rotasde comrcio, as pescas em alto-mar e o comrcio de escravos vindos da frica. "Poder" foiclara e obviamente algo de importncia relativa: o que importava eram as relaes do poder,no seus termos. A geografia tambm teve grande importncia na determinao do que erarelevante - pases litorneos tinham poucas ocasies para se preocupar com um podermartimo distante, enquanto ser vizinho de um pas forte poderia significar estar em constanteameaa. Tambm foi uma caracterstica distintiva das relaes polticas o fato dascomparaes de fora relativa no ocorrem s entre pases, mas tambm entre os gruposaliados, reais ou potenciais. A nfase em comparaes internacionais, feita por "propores",era altamente relevante na esfera poltica em um mundo de poderes polticos, em que se

    esperava que o poder servisse a agresso ou a segurana nacional - mas quando transportadaa esfera econmica, teve pouca relevncia. Poderia levar e levou a confuses grosseirasacerca da natureza e do significado de riqueza nacional e de bem-estar econmico nacional.

    Colocar uma grande nfase foi posta, na esfera econmica, de acordo com a lgica dasesferas de poderes rivais, em um inerente conflito de interesses, trouxe graves consequnciastanto para as polticas econmicas quanto para a poltica internacional. Se fosse somente ouprincipalmente o status relativo que importasse, perdas de um pas rival poderiam ser,logicamente, tratadas como ganhos de outroo pas - e a fome exterior como colheitas em casa.Tal raciocnio abunda na literatura mercantilista, e foi mais uma repulsa moral ou sentimental aesse argumento do que anlises econmicas que levaram o Iluminismo a apoiar ideias de livrecomrcio. Mesmo entre seus escritores interessados principalmente em assuntos econmicos,esse "cime do comrcio" mercantilista promoveu, como reao, uma crena exagerada naharmonia e na reciprocidade dos interesses econmicos entre os pases.

    A doutrina de que os salrios reais baixos (sejam por hora, por dia ou por pea) era dointeresse nacional foi amplamente predominante na Inglaterra do sc. XVII e XVIII e tem sido,por vezes, rotulada como a "doutrina mercantilista do trabalho". Muitos escritores expuseramessa doutrina tendo um saldo positivo de consideraes comerciais em mente. Mas umsubstancial nmero de escritores negou a preposio em que a doutrina se baseia, a saber,

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    que os trabalhadores ingleses, tendo suas necessidades mnimas atendidas, preferiro aociosidade a mais (ou a superiores) commodities, ou, como foi expressado por um escritor dosc. XVIII: para os trabalhadores em geral "o luxo da indolncia sempre tende a inundar o luxode bens". Ou, mesmo aceitando a preposio como verdadeira e considerando a ociosidadevoluntria como um mal, propuseram, por razes humanitrias ou outras, a busca de solues

    menos opressivas para os pobres do que a baixa dos salrios reais. Parece difcil encontrar nocontinente qualquer vestgio de afinidade especial entre o pensamento mercantilista em geral ea doutrina de baixos salrios, talvez porque era, geralmente, quase impossvel para o pobreatingir um mnimo bsico de subsistncia sem trabalhar quase at os limites de sua resistncia,talvez porque em pases catlicos a frequncia de feriados religiosos, quando o trabalho proibido, tenha satisfeito seus desejos de descanso, lazer e consumo de tempo.

    Aspectos distintivos do mercantilismoO mercantilismo foi uma doutrina de extensa regulao estatal da atividade econmica

    visando o interesse nacional. Ele tomou como premissa um homem inerentemente auto-interessado, que buscaria seus prprios interesses sem preocupaes com as consequnciasde seu comportamento para os interesses da comunidade. aceito como axioma que se osindivduos fossem deixados livres para agir de acordo com seu comportamento econmico asconsequncias para a comunidade seriam desastrosas. No entanto, isso havia sidopraticamente universal na antiguidade clssica e, portanto, no distino entre pensamentopr-mercantilista e mercantilista.

    Substancialmente novo no pensamento mercantilista foi, no entanto, sua adaptaosistemtica concentrao de poder a monopolizao das lealdades pelos Estado-nao,que em suas relaes com outros Estados seguiam um cdigo "maquiavlico" ou amoral, ecujas relaes foram mais extensas em rea jurisdicional do que as das anteriores cidade-estados e feudos, mas menos extensas do que os Imprios da antiguidade clssica e do que

    da universal Igreja Catlica durante a Idade Mdia. Tambm era substancialmente novo nomercantilismo sua maior preocupao com questes econmicas como uma fase dasecularizao do pensamento e da prtica, da mudana do carter especfico dos objetivosexonmicos das autoridades polticas e os novos padres administrativos de regulao da vidacomunal. Estas novas caractersticas eram produtos do crescimento do comrcio e dasmudanas de organizao poltica, associadas com o colapso do Sacro Imprio Romano e dofeudalismo e de sua absoro da at ento autnoma cidade-estado pela nova nao-estado.O mercantilismo foi uma doutrina de interveno do Estado na vida econmica, mas de umEstado intervencionista de padres e certos objetivos especiais. Teve, portanto, um ntidocontraste com a doutrina posterior do laissez-faire. No entanto, tambm foi um forte constrastecom alguns sistemas atuais de intervencionismo estatal, como o socialismo, o comunismorusso e o Estado de Bem-Estar Social, pois, a princpio, estes no tem a acumulao de metaispreciosos, de saldos comerciais favorveis nem uma limitao nacional a obrigaes moraiscomo objetivos ltimos.

    Diferenas na prticaBuscar compatibilizar os objetivos gerais dos mercantilistas deixa um grande espao paradiferenas entre perodos e entre pases quanto a escolha dos mtodos usados na busca por

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    estes, assim como no grau de importncia conferido a esta busca. A prtica foi condicionadapor limitaes da capacidade administrativa; por objetivos nacionais conflitantes; resistnciadomstica decorrente de interesses regionais, de classe ou quanto ao trabalho; fraquezamilitar; as idiossincrasias, a apatia ou o entusiamo e a lealdade dos monarcas.

    As tcnicas adotadas podiam ser monetrias - envolvendo controle de mercados e a

    circulao de metais preciosos atravs das fronteiras nacionais. Podiam tomar a forma deregulaes das transaes comerciais individuais, ou de regulao das tarifas gerais,proibies ou restries quantitativas; podiam ser subsdios para exportaes, para asindstrias exportadoras ou para indstrias importadoras competitivas. Os governos podiam, porconta prpria, criar e operar produes para a exportao ou para a substituio deimportaes; ter e operar companhias de comrcio internacional; garantir privilgiosmonopolistas empresas privadas para que estas produzissem e vendessem, no mercadointerno, produtos especficos, para que atuassem no comrcio exterior com base em privilgiosespeciais e para que administrassem as colnias ultramarinas. Os governos podiam, ainda,incentivar a imigrao, restringir a emigrao ou promover casamentos precoces, na crena deque o crescimento populacional seria til aos objetivos mercantilistas. Salrios e taxas de jurospodiam ser limitados em um mximo, de acordo com a crena de que isso melhoraria acapacidade competitiva nacional no comrcio exterior. Guerras podiam ser promovidas porrazes mercantilistas. Entre todos estes assuntos, enquanto os objetivos poderiam serestticos dentro e uniforme entre os pases, a seleo dos meios diferia entre os pases e, aolongo do tempo, diferia dentro dos pases, de acordo com as circunstncias e opinies.

    Na prtica, sempre se era menos mercantilista do que o exigido pela doutrina. Talvez oudesvios mais relevantes na prtica fossem resultados das necessidades fiscais dos governos.Todos os governos da poca mercantilista encontravam dificuldades para financiar suasatividades gerais. Para aderir aos objetivos mercantilistas sem levar em considerao asquestes fiscais que geralmente envolveriam a iseno de taxas aduaneiras dada a

    importantes categorias exportadoras, a proibio de certas importaes e exportaes - com aconsequente perda de receitas - ou pela concesso de subsdios para determinadas indstrias,transportes, empresas pesqueiras ou colnias - todas essas medidas implicava em umaumento dos gastos ou em uma diminuio das receitas do governo.

    Restries s importaes podem, a partir de um ponto que incerto, levar os pasesatingidos a adotar medidas defensivas ou de retaliao, ainda assim a contribuio dessarestrio s importaes para a balana comercial favorvel pode, mesmo no curto prazo, sermais que compensado pelo efeito adverso sobre as exportaes.

    A maior parte das medidas mercantilistas envolvia algum fardo para certas regies ousetores profissionais. Tais setores, sem buscar desafiar os objetivos gerais do mercantilismogeralmente recorriam a todas as formas disponveis de presso e persuaso visando obter umrelaxamento das medidas ou uma reviso que levasse a carga para outro. Assim, na Inglaterra,os pecuaristas pressionariam por um relaxamento das restries exportao de l crua, e osmercadores independentes iriam protestar vigorosamente contra os privilgios dados sCompanhias de Comrcio. Mesmo durante o absolutismo os governos achavam necessriosfazer concesses a esses grupos dissidentes.

    Toda medida restritiva do comrcio trazia consigo a possiblidade de lucros a partir desua violao ou evaso, e nenhum pas foi capaz de impedir extensas violaes das medidas

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    de regulamentao, seja por parte de contrabandistas, de sonegadores de impostos, decomerciantes que operavam ilegalmente em setores restritos ou por suborno de agentes defiscalizao. A resistncia pblica a certas medidas restritivas, queles que buscavam seesforar para aplic-las e administraes superiores negligentes muitas vezes levou aexecues apticas de tais medidas. Quando Adam Smith, em 1778, iniciou seu trabalho como

    comissrio da algndega, ficou surpreso ao descobrir quantos de seus bens pessoais erammanufaturas estrangeiras no s de importao ilegal como tambm de porte ilegal, e avisou aum amigo que a esposa deste, sob investigao, provavelmente se revelaria uma criminosapior.

    Na Gr-Bretanha, em especial, embora houvesse uma aprovao geral - a princpio - domercantilismo, havia uma antipatia quase igualmente geral s instituies e s prticasnecessrias para uma administrao mercantilista eficaz. O pblico britnico no gostava que opoder fosse exercido pelo executivo nacional, pela administrao conduzida pelas autoridadescentrais em Londres, ao invs de ser exercido localmente, tampouco gostava dos agentes dogoverno central com poderes de fiscalizao e de priso. Embora sua legislao fosse maiscentralizada do que a da maioria dos outros pases, sua aplicao foi altamentedescentralizada e, em grande parte, deixada para ser feita por magistrados locais comconsidervel autonomia, que instauravam processos por iniciativa dos interessados ou deinformantes voluntrios, que eram remunerados atravs das multas impostas pelos prpriosmagistrados.

    Quanto mais altas as taxas aduaneiras e mais onerosos os regulamentos e asproibies, maiores os incentivos para evitar ou violar eles, de forma que, em muitos casos, adificuldade de aplicao levou a severidade da legislao ao abandono parcial ou total detentativas srias de execuo. Parece bastante plausvel, assim, que ao menos na Inglaterrado sc. XVIII, as medidas mercantilistas no fossem, na prtica, restries mais graves sobre ocomrcio exterior do que os custos de transporte da poca ou do que as tarifas normais de hoje

    em dia.Embora houvesse uma substancial unidade doutrinria no mundo ocidental quanto aos

    objetivos adequados de poltica comercial, as diferenas entre os pases quanto a organizaopoltica, estrutura administrativa e circunstncias geogrficas levaram a diferenas muitosubstantivas na intensidade e nos meios de perseguio desses objetivos. Nos pequenosestados germnicos, por exemplo, o mercantilismo era pouco mais do que uma doutrina vaga.Os principais interesses dos intelectuais alemes quanto a assuntos econmicos e polticos,conforme representado nos escritos cameralistas e universitrios, eram quanto a princpios degesto das finanas dos governos absolutistas, de organizao e de conduo daadministrao pblica profissional e de gesto das propriedades oficias, como balas, minas,florestas e fbricas ocasionais. Na Frana, apesar da administrao pblica ser centralizada deforma sem equivalente na Inglaterra, os impostos (incluindo taxas aduaneiras), os direitos depropriedades e as regulamentao das guildas foram, em grande parte, feitas pelasadministraes locais de acordo com padres e princpios diversos.

    O declnio do mercantilismoAs crticas aos mtodos comuns mercantilistas sempre foi comum em pases onde

    alguma discusso livre era permitida. No entanto, grande parte dessa crtica, qualquer que seja

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    seu mtodo analtico, era uma reinvindicao especial feita por porta-vozes de certa facopoltica, indstria, regio, cidade ou empresa particular.

    Na dcada de 1750 comearam a aparecer crticas abrangentes quanto aos princpiosbsicos do mercantilismo feitas por pessoas sem ligaes visveis com certos interesses. Umagrande fonte de crticas foi um envangelho do individualismo, que exaltava os mritos da

    libertao individual de tais regulaes estatais, tanto na tica e na poltica quanto naeconomia. Aqui destacam-se Adam Smith, na Gr-Bretanha, e o marqus d'Argenson, osfisiocratas e Turgot, na Frana. Importante tambm foi a repulsa generalizada entre osintelectuais das lembranas da guerra e da quase contnua preparao para guerras que era,em grande parte, normal ao mercantilismo. Na verdade, foi muita mais uma viso pacfica ecosmopolita dos filsofos e dos Iluminati, no continente, e de homens como David Hume e

    Adam Smith, na Gr-Bretanha, do que estritamente uma discusso econmica que primeirocolocou, entre os intelectuais, o mercantilismo na defensiva.

    Nos primeiros anos do sc. XIX, a escola clssica inglesa de economistas rejeitou omercantilismo via anlise econmica - a qual, alis, foi em parte originada com eles. A escoladefendeu que o comrcio feito por iniciativa individual e livre de regulaes oficiais levavainerentemente a um lucro mtuo, tanto para os indivduos envolvidos quanto para acomunidade como um todo, e eles aplicaram essa lgica tanto ao comrcio domstico quantointernacional. Desde 1750 eles tiveram uma srie de importantes predecessores.

    Acrescentavam uma justificativa a esta posio que era essencialmente nova: o princpio deque alocar os recursos produtivos de acordo com os custos comparativos poderia maximizar aproduo agregada e de que as operaes dos indivduos agindo de acordo com seus prpriosinteresses, num mercado livre e competitivo, iria confirmar esse princpio. Eles no negavamque isso era sujeito a avaliao feita pelos produtores quanto aos custos de produo quantodos preos de venda, mas defendiam ser evidente que os homens de negcio estavam melhorinformados - e poderiam fazer melhores avaliaes - sobre estas questes do que o governo

    poderia estar. Seguindo tal raciocnio, concluiram que a determinao de quais produtos e emquais quantidades estes poderiam ser exportados ou importados deveria ser deixada para osempresrios individuais, que buscam maximizar seus prprios rendimentos. Este foi um granderompimento com a nfase mercantilista na necessidade de regulao do comportamentoeconmico e de seu ranking da convenincia de importar e exportar determinadas

    mercadorias, segundo fossem bens manufaturados, produtos agrcolas ou matrias-primas -isso , de acordo com o trabalho contido. Com a escola clssica, as classificaes eram maisou menos arbitrrias, embora possa ser feita com classificaes de acordo com o princpio decusto comparativo.

    A escola clssica tambm rejeitou a nfase mercantilista na balana comercial favorvele na oferta nacional de metais preciosos. Alegavam que, na ausncia de regulamentaogovernamental, um mecanismo automtico de equilbrio internacional levaria a cada pas aquantidade monetria adequada s suas necessidades e circunstncias, evitando gravesdistrbios nos saldos comerciais. Aqui, eles tiveram antecessores no sc. XVIII, dos quais osmais notveis talvez tenham sido Issac Gervaise e David Hume.

    destacvel o fato de que nem os mercantilistas nem a escola inglesa distinguiam comclareza e sistematicamente os efeitos de curto e de longo prazo, e, na medida emque se pode

    julgar a partir do contexto histrico e das implicaes de seus escritos, os mercantilistas

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    seguiam um pensamento curto-prazista e os da escola clssica, em termos de efeito de longoprazo. Assim, avaliaes feitas por economistas quanto aos mritos analticos comparativosdos mercantilistas e de seus crticos da escola clssica devem dar ateno a distino entreanlise de curto prazo e de longo, caso eles considerem isso, assim como faz o escritor, umadistino crucial.

    A doutrina da escola clssica, no que diz respeito ao comrcio internacional, foi, por umtempo, predominante na Inglaterra e obteve um alto grau de aceitao em outros lugares.Seguiu-se, na Inglaterra, mais de meio sculo de livre-comrcio, e em outros lugares, houveuma liberalizao substancial da poltica de comrcio exterior. As restries sobre o comrcioexterior que seguiram a ser impostas eram suportados por motivos em grande parte de carterno-mercantilista, sendo muitas vezes concebidas para proteger a agricultura ao invs deproteger fbricas. A sobrevivncia do mercantilismo atualmente no , de forma alguma, rara.H, no entanto, diferenas importantes entre a doutrina mercantilista e as atuais regulaes docomrcio internacional, bem como grandes diferenas entre padres e tcnicas de regulao.O apoio ao mercantilismo conforme ele operava em seu auge, com uma expressa aceitaodos seus objetivos e de sua doutrina, bem como de suas prticas, parece ser algo confinado auma minoria de estudiosos, principalmente a historiadores econmicos. Os fundamentosanalticos em que o mercantilismo ou sua crtica se apoiaram so, s vezes, de mrito muitodiscutvel. Quando a poltica est em pauta, a avaliao final - aqui como nas cincias sociais -precisa lidar expressamente com valores polticos, ticos e socioeconmicos, bem como com algica abstrata das relaes como so e como deveriam ser. Precisa, assim, usar recursos detodas as principais disciplinas sociais.